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ano
12
ano
Biologia
Biologia
Biologia
12
ano
ano
Planeta com Vida
Cristina Carrajola, Maria José Castro e Teresa Hilário
Consultores Científicos: Henrique Cabral e Rui Gomes
BIOLOGIA
Biologia
MODELO DIDÁCTICO
Este manual de Biologia destina-se aos alunos de 12.º Ano.
Para mais facilmente perceber como poderá tirar partido deste manual,
fazemos agora uma breve apresentação da sua estrutura.
No manual são desenvolvidas cinco unidades, organizadas da seguinte
forma:
Produção de alimentos
4
INTRODUÇÃO
unidade e sustentabilidade No início do século XIX, Malthus, economista e demógrafo britânico, lança um alerta
para o mundo: o crescimento acelerado da população ultrapassava a capacidade de a Terra
A B C D E
nos proporcionar alimento. Desde então, e apesar de um aumento significativo na capacidade
de produção de alimentos, o problema continua actual.
Com efeito, ainda que de uma forma desacelerada, o mundo continua a vivenciar um
aumento demográfico. Se, actualmente, a taxa de produção e de conservação de alimentos
tende a aumentar, a teoria defendida por Malthus continua actual: crescemos a um ritmo maior
do que os nossos alimentos. Se a isso acrescentarmos o facto de, em média, cada cidadão comer
Que relação existirá entre estes microrganismos e os alimentos representados?
cada vez mais, torna-se inevitável admitir um espectro de fome a médio ou longo prazo.
Entrada de unidade
F G H
Se o problema da produção de alimentos pode estar relacionado com aspectos variados,
que vão desde a política até à economia, é óbvio que cabe à Ciência um papel fundamental,
na medida em que esta tem a capacidade de desenvolver tecnologias que visam ajudar a
resolver este problema. A fim de optimizar a produção e a conservação dos alimentos, a
Ciência pode produzir conhecimento que permita actuar em vários níveis:
— conservar e preservar os alimentos produzidos, evitando perdas, e separando o con-
sumo de alimentos do seu carácter regional e sazonal;
exploração de imagens e uma actividade de diagnóstico. A produção de alimentos (Fig. 1) para a população mundial, em crescente
avanço demográfico, é um dos grandes desafios da Biologia actual. Este desafio
deve ser encarado de forma sustentável, de maneira a não esgotar os recursos
que permitem esta produção, assegurando que as gerações vindouras não
que destaca ideias fundamentais para a exploração dos Qual é a melhor maneira de controlar o ataque de seres vivos às culturas?
A B
As injecções de testosterona durante a puberdade podem induzir
CURIOSIDADE
o desenvolvimento das características sexuais secundárias, favorecendo
Nos Estados Unidos existem a sua auto-estima.
cerca de 350 000 pessoas com
trissomia 21.
A B
Páginas informativas
Fig. 88 Cariótipo (A) e criança com trissomia 21 (B).
O texto informativo apresenta uma linguagem Estas pessoas são normalmente mais baixas do que a população
em geral, têm línguas grandes, o que implica que tenham muitas vezes
a boca aberta (Fig. 89). Podem ter má formação no coração, nos rins, no
Fig. 90 Cariótipo (A)
e pessoa com síndrome
de Klinefelter.
SITUAÇÃO OÓCITO
CONSEQUÊNCIAS DA NÃO DISJUNÇÃO
ESPERMATOZÓIDE CONSEQUÊNCIA
Síndrome de Turner
As mulheres com síndrome de Turner são mais baixas do
que a média da população feminina, são estéreis, pois possuem
Síndrome de Klinefelter
Os homens que têm esta síndrome são estéreis, altos e magros,
têm os membros inferiores relativamente longos (Fig. 90), hipogonadis-
mo (os testículos permanecem pequenos) e os caracteres sexuais
secundários são subdesenvolvidos. Têm níveis de estrogénio mais
elevados do que os de testosterona, o que leva ao desenvolvimento
Fig. 92 Cariótipo (A)
das glândulas mamárias. Podem ter problemas sociais e/ou de
e mulher com síndrome
aprendizagem. de Turner (B).
ACTIVIDADE três tipos de células assinaladas exibem nas suas superfícies mem- A RETER
branares moléculas distintas dos marcadores originais do próprio e Etapas da imunidade celular:
CLASSES DE ANTICORPOS são, por isso, identificadas como estranhas, dando origem a uma t apresentação do antigénio;
1. Conhecem-se cinco classes de anticorpos/imunoglobulinas. Estas caracterizam-se, entre outros factores, resposta imunitária celular. t selecção clonal;
t multiplicação clonal;
pela uniformidade entre si da região constante, que é distinta entre classes diferentes. Analise o quadro A evolução dos linfócitos T, tal como a dos linfócitos B, passa t diferenciação;
seguinte e responda às questões. por várias etapas. Uma vez depositados os linfócitos T naive nos t acção.
Páginas informativas
Quadro 3
órgãos linfóides secundários, ficam à espera que um antigénio lhe
PERCENTAGEM seja apresentado por uma célula apresentadora, condição essencial
CLASSE ESTRUTURA NO SORO/ LOCALIZAÇÃO FUNÇÃO para que estes comecem a funcionar, o que regra geral consiste na
/PERÍODO DE VIDA
produção de moléculas (proteínas) capazes de desencadear respostas
São os mais abundantes
nas respostas imunitárias. variadas nas células-alvo.
80-85% Livre
IgG Monómero Atravessam a placenta Existem diversas categorias de linfócitos T, nomeadamente os
21 dias no plasma. Antigénio Proteínas MHC
e conferem imunidade linfócitos T citolíticos (Tc), os linfócitos T auxiliares (Th) e os linfó-
ao feto. Célula
A imunidade celular está associada aos linfócitos T, que são induzir a célula a sofrer um processo de apoptose (Fig. 19). Receptor
de linfócitos T
produzidos na medula e maturados no timo, e tem como objectivo Os restos das células são posteriormente fagocitados por macrófagos.
Fig. 19 Os linfócitos T só reconhecem
destruir as células do indivíduo que tenham sido infectadas e as células Os linfócitos Tc não sofrem qualquer dano, podendo continuar a
antigénios se estes lhes forem
alteradas, quer as tumorais quer as adquiridas por transplante. Estes actuar sobre outras células infectadas. apresentados por outras células.
2
A RETER Na formação dos gâmetas, os cromossomas com genes em linkage Alelos múltiplos alelos múltiplos multiple alleles
Os genes que se encontram (ou ligação factorial), isto é, genes que estão localizados no mesmo A transmissão genética de todas as características já estudadas é
muito perto no mesmo cromossoma e muito próximos, transmitem, geralmente, os seus da responsabilidade de duas formas alélicas do mesmo gene. De
cromossoma dizem-se ligados
alelos em conjunto (Fig. 20 A). A formação de gâmetas onde ocorreu acordo com a relação que os alelos estabeleciam entre si, podemos
factorialmente.
crossing-over leva à formação de gâmetas recombinantes. Serão es- encontrar, na população, para cada característica, dois fenótipos (se
tes últimos que, ao combinar-se na fecundação, darão origem aos um alelo é dominante em relação ao outro) ou três fenótipos (se os
Páginas informativas
fenótipos recombinantes que são obtidos em pequena proporção na alelos são co-dominantes ou estabelecem entre si uma dominância
geração F2 (Fig. 20). incompleta). Existem, contudo, algumas características nas quais é
possível encontrar mais do que três fenótipos. É o exemplo da cor
A p p B p p
da pelagem em coelhos (Fig. 22).
P P P P
L L l Cromossomas L L l
l homólogos l
A B
L L l L L l
Separação
l
dos homólogos
C D
P
l
p
l
Separação dos
centrómeros.
P
L
p
L
Meiose II
P
l
p
l
Fig. 20 Genes em linkage (A); genes em linkage com crossing-over (B). Fig. 22 Diversidade de pelagem nos coelhos.
como forma de ajudar na realização de pesquisas e na A ligação factorial resulta do facto de o número de cromossomas
numa célula ser bastante inferior ao número de genes (várias ordens
de grandeza).
Nos coelhos podem existir, relativamente à cor da pelagem,
quatro fenótipos: o selvagem (cinzento-escuro), o chinchila (cinzento-
-prateado), o himalaia (branco com extremidades escuras) e o albino
Conceitos/Palavras-chave Conceitos/Palavras-chave
Necessários Essenciais Complementares Necessários Essenciais Complementares
Palavras-chave e síntese
t "OUJHÏOJP t "OUJDPSQPTNPOPDMPOBJT t #JPNBUFSJBJT t Policultura t Transgénico t Pesticida
t -JOGØDJUP# t )JCSJEPNB t "OUÓEPUP t Monocultura t Cultura de tecidos t Insecticida
t &QÓUPQP t .JFMPNB t "OUJTPSP t Rotação de culturas t Micropropagação t Herbicida
t *NVOJ[BÎÍP t #JPDPOWFSTÍP t Totipotência t Tecido caloso t Fungicida
t $MPOBHFN t Explante t Rodenticidas
t 5SBOTQMBOUFFFOYFSUP t Protoplasto t Agrobacterium
t %PFOÎBTBVUPJNVOFT t Equilíbrio dinâmico t Bombardeamento
t Ciclo reprodutor de partículas
t Esterilização t Aquacultura
ACTIVIDADES
Reprodução humana 3.1 A cada um dos termos que se segue faça corresponder um número da figura.
A — Folículo primário.
1. Construa um mapa de conceitos para cada um dos conteúdos seguintes: B — Folículo de Graaf.
a) morfofisiologia dos aparelhos reprodutores humanos; C — Corpo amarelo.
b) controlo hormonal sobre os aparelhos reprodutores humanos. D — Corpo amarelo degenerado.
Actividades
E — Folículo terciário.
2. Observe atentamente a imagem, que representa o aparelho reprodutor masculino, visto de perfil, 3.2 Identifique, recorrendo a números da figura, as estruturas típicas de um ovário em fase:
e responda às questões a ela associadas. a) folicular;
2.1 Considere as afirmações que se seguem. Analise-as e seleccione a opção que melhor b) luteínica.
as define. 3.3 Identifique o fenómeno que ocorreu no momento X.
3.4 Classifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações referentes a fenómenos
AFIRMAÇÕES que ocorreram no corpo da mulher no momento X.
Não há desenvolvimento
2.2 Identifique as letras que indicam órgãos anexos. 1 — Ablação dos ovários
da mucosa uterina.
III
4.1 Interprete os resultados relativos à experiência A.
4.2 Justifique a afirmação seguinte.
IV
Os ovários podem ser considerados glândulas endócrinas.
4.3 Qual é a hormona responsável pelo espessamento do endométrio uterino?
V
4.4 Imagine que se retirava a hipófise a um quarto lote de ratinhos-fêmea. Enumere os resultados
previstos para esta experiência.
U1P23H2
e CTSA
NFOUF EFWBTUBEPSFT
OFTUF DBTP QBSB B WJOIB EB GMBWFTDÐODJB EPVSBEB TVSHJV FN (BTDPHOF
1PTUFSJPSNFOUF QBTTB QBSB BT HMÉOEVMBT
$IBNBTFGMBWFTDÐODJBEPVSBEB '%
ÏQSPWPDB- OPTBOPT/FTTBBMUVSB
PJOTFDUPKÈTFUJOIB DVMUJWÈWFJTin vitro
PTFVFTUVEPUFNTFUPSOBEP
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TJUVBÎÍP " RVBOUJEBEF F EJTUSJCVJÎÍP EBT BQMJDB-
3
ÍNDICE
BIOLOGIA
A Biologia e os desafios da actualidade
1 1 Reprodução humana p. 12
1 1 1 Gametogénese e fecundação p. 12
1 1 2 Controlo hormonal p. 27
1 1 3 Desenvolvimento embrionário e gestação p. 34
ACTIVIDADES p. 48
1 2 Manipulação da fertilidade p. 51
1 2 1 Os métodos contraceptivos p. 51
1 2 2 Infertilidade
humana e procriação
medicamente assistida p. 62
ACTIVIDADES p. 76
JOGO DE SIMULAÇÃO p. 79
CTSA p. 80
2 1 Patrimómio genético p. 86
2 1 1 Transmissão de caracteres hereditários p. 86
2 1 2 Organização e regulação do material genético p. 133
ACTIVIDADES p. 147
4
unidade 3 Imunidade e controlo de doenças p. 188
3 2 Biotecnologia no diagonóstico
e na terapêutica de doenças p. 236
ACTIVIDADES p. 247
BIOÉTICA p. 248
DEBATE p. 249
CTSA p. 250
4 1 2 Conservação, melhoramento
e produção de novos alimentos p. 273
ACTIVIDADES p. 289
5
BIOLOGIA
A Biologia e os desafios
da actualidade
8 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Reprodução e manipulação
da fertilidade
1 1 Reprodução humana 12
1 2 Manipulação da fertilidade 51
C D
E F
10 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
INTRODUÇÃO
A reprodução é uma função inerente aos seres vivos e é fundamental na perpetuação das
espécies. Por isso, também no Homem é necessário conhecer este fenómeno para possibilitar o
estudo de toda a problemática que lhe está associada. À população humana surgem ainda
diversos problemas, entre os quais, o controlo de natalidade e o aumento do número de
casos de infertilidade.
A Biologia tem dado um grande contributo nesta área, pois os processos biotecno-
lógicos têm conhecido um enorme incremento em quantidade e qualidade, auxiliando a
Humanidade a ultrapassar muitos obstáculos neste domínio.
A D
Fig. 1 Desenvolvimento humano: embrião com 12 semanas (A); feto com 20 semanas (B);
feto com cerca de 30 semanas (C); recém-nascido (D).
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 11
gametogénese gametogenesis 1 1 Reprodução humana
testículos testes
espermatogénese spermatogenesis Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa; e, porque passa,
túbulos seminíferos seminiferous tubules morre.
Livro do Desassossego, Fernando Pessoa
1 1 1 Gametogénese e fecundação
Vesícula seminal
Canal deferente
Próstata Pénis
Prepúcio
Epidídimo
Glande
Escroto
Orifício urogenital
tante função de produzir testosterona. Esta hormona é imprescindível Fig. 4 Corte longitudinal do testículo.
para a manutenção dos caracteres sexuais secundários do homem e,
ainda, para a formação dos espermatozóides.
O outro órgão externo do aparelho reprodutor masculino é o
pénis — órgão copulador —, que permite o transporte dos esper-
matozóides para o aparelho reprodutor da mulher. O pénis é um
órgão de forma cilíndrica, coberto externamente por uma prega de
pele — prepúcio, que possui internamente três corpos, também Veia Artéria
cilíndricos, de tecido eréctil (Fig. 6). Corpo
cavernoso
Artéria
Células de Leydig
Células da linha
germinativa
Corpo
Células de Sertoli Uretra esponjoso
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 13
Na região dorsal do pénis (Fig. 7), encontram-se longitudinal-
Bexiga
mente dois corpos cavernosos. Nestes tecidos existem espaços entre
as células onde circula normalmente uma pequena quantidade de
sangue. Durante a excitação sexual, o afluxo de sangue a estes tecidos
provoca um aumento de pressão que origina a erecção. Este fenóme-
no deve-se à compressão das veias que, de outro modo, permitiriam
a saída de sangue desta região.
Vesícula Próstata Rodeando a uretra, existe o corpo esponjoso, que se alarga na
seminal
extremidade do pénis, formando a glande na qual coexistem muitas
Uretra
prostática terminações nervosas que dotam esta região de extrema sensibilidade.
Este tecido, quando erecto, assegura a manutenção da abertura da
Uretra Glândula uretra, permitindo a saída do esperma durante a ejaculação.
de Cowper
Corpo A uretra, que se prolonga no interior do pénis até à sua extremi-
esponjoso Corpo
cavernoso
dade, terminando no orifício urogenital, é um órgão comum aos
aparelhos urinário e reprodutor, pois permite a expulsão da urina
formada nos rins e acumulada na bexiga e também a saída de esperma
Orifício urogenital Glande durante a ejaculação.
Corte longitudinal do aparelho
Fig. 7 Além destes dois órgãos externos, existem ainda os epidídimos,
reprodutor masculino. onde os espermatozóides maturam e ficam armazenados, os canais
deferentes, que asseguram a ligação à uretra, e as glândulas anexas,
(vesículas seminais, próstata e glândulas de Cowper), fundamentais
ao bom desempenho deste aparelho.
ACTIVIDADE
Mitocôndrias
Cabeça
Flagelo
Cauda
e crescimento
Multiplicação
Espermatócito I (2n)
Lóbulos
Espermatócito II (n)
Meiose I
Espermatídio (n)
Acrossoma
Maturação
Meiose II
Núcleo
Tubo seminífero
Diferenciação Mitocôndrias
Trompa de Falópio
Pavilhão das Útero
trompas
Ovário
Ovários
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 17
ovário ovary Os órgãos reprodutores primários, as gónadas, são os ovários,
possuindo ambos dimensão e forma muito semelhantes às de uma
amêndoa. Estes órgãos produzem gâmetas — oócitos — e hormonas
femininas — estrogénios e progesterona. Cada um dos ovários está
ligado lateralmente à parede externa do útero e encontra-se encostado
ao pavilhão de uma das trompas de Falópio (ou oviduto).
As trompas de Falópio são dois finos canais, revestidos inter-
namente por cílios, que se iniciam de um e outro lado da parte
superior do útero e alargam na porção final (pavilhão), que termina
A RETER em franjas. É nas trompas de Falópio que ocorre o encontro dos
gâmetas: a fecundação.
Vias genitais
O útero tem uma dimensão semelhante à de uma mão fechada
Trompas e é achatado quando visto de perfil. No entanto, durante a gravidez,
de Falópio aumenta muito de volume graças à sua parede externa, o miométrio,
que é muscular e, por isso, elástico. Internamente, o útero é revestido
Útero por uma camada — o endométrio — formada por muitos vasos
sanguíneos e glândulas e cuja espessura varia ao longo do ciclo uterino
Vagina da mulher (Fig. 12).
Trompa de Falópio
Ovário
Útero
Colo do útero
Bexiga
Uretra
Púbis
Vagina
Clítoris
Orifício urinário
Orifício genital
Vulva
Cavidade
uterina
Útero Vagina
Vagina
Vulva
Fig. 13 Órgãos do aparelho reprodutor feminino (A): colo do útero (B); vagina (C).
Orifício urinário
Pequenos lábios
Orifício genital
Ânus
Grandes
lábios Pregas da pele com a função de protecção dos restantes órgãos
e pequenos externos.
lábios
ACTIVIDADE
muito elevado de folículos primordiais, estes não se vão manter to- Fig. 15 Folículos primordiais.
dos até ao final da gestação. Muitos degeneram (atresia folicular) e,
U1P21H1
no momento do nascimento, a recém-nascida poderá apresentar
nos seus ovários apenas 2 milhões destas células (Fig. 16).
Durante vários anos os ovários permanecem na fase de repouso:
Folículos primordiais
os folículos primordiais, encerrando os oócitos I, permanecem assim
até ao reinício da gametogénese, que acontecerá na puberdade.
Ovário
Entretanto, muitos dos folículos primordiais, presentes no
A
momento do nascimento, sofrem degeneração e, por volta dos
7 anos de idade, restarão apenas nos ovários cerca de 300 000 destes
folículos. A
Este processo de formação de gâmetas é cíclico na mulher e Fig. 16 Nos ovários de uma bebé
mantém-se até à menopausa, que ocorre cerca dos 50 anos de idade. recém-nascida encontram-se milhões
de folículos primordiais com oócitos I.
Os fenómenos cíclicos que ocorrem nos ovários estão relacionados
com o desenvolvimento de um oócito primário, que dá origem a um
gâmeta feminino pronto para ser fecundado — fase de maturação.
U1P21H2
Na fase de maturação, as células foliculares que envolvem o Oócito I
oócito desenvolvem-se, formando uma camada regular, e o folículo
primordial transforma-se em primário (Fig. 17). Mais tarde, as células
Células
foliculares continuam a sua proliferação, formando-se a granulosa. foliculares
Entre esta camada e o oócito surge um revestimento transparente Fig. 17 Folículo primário.
— a zona pelúcida —, que protege o gâmeta. Nesta fase, ocorre a
diferenciação de outra camada, externa à zona pelúcida, a teca. Está
Zona U1P21H2 Oócito I
assim formado o folículo secundário (Fig. 18). pelúcida
Entretanto, estas cavidades vão aumentando as suas dimensões Fig. 18 Folículo secundário.
até se unirem numa única, maior: cavidade folicular. O folículo
continua a aumentar as suas dimensões devido à multiplicação das Oócito I Células
células foliculares e à formação da cavidade folicular, e surge o folículo foliculares
(granulosa)
maduro ou folículo de Graaf. Também o oócito I, no interior do
folículo, continua a crescer e vai, então, retomar a meiose I, concluin- Zona
pelúcida
do-a e formando o oócito II e uma outra célula, o primeiro glóbulo Cavidade
polar, mais pequena devido à desigual repartição do citoplasma entre folicular
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 21
ovulação ovulation Após estes acontecimentos, o oócito II inicia a segunda divisão
corpo amarelo corpus luteum da meiose, mas esta apenas avança até à metáfase. O folículo de
Graaf (Fig. 20) posiciona-se junto da parede do ovário e, devido às
enzimas proteolíticas que possui, promove uma ruptura na camada
de células foliculares e na parede do ovário, permitindo a libertação
do oócito II para o exterior deste órgão — ovulação.
CURIOSIDADE
Oócito II Cavidade
Ao longo da vida, durante os anos folicular
reprodutivos (da puberdade à me-
nopausa), a mulher pode formar
de 400 a 500 oócitos maduros.
Como estas células permanecem
inactivas a meio de uma divisão
celular, durante um grande perío- Tecas
do de tempo, são das que possuem
Zona
um maior período de vida. pelúcida
Granulosa
ACTIVIDADE
FOLICULOGÉNESE E OOGÉNESE
1. A cada 28 dias, aproximadamente, inicia-se num ovário a maturação de um folículo primordial (Fig. 21 A).
À medida que o tempo vai passando, o folículo vai evoluindo, assim como o oócito que este contém,
passando por várias etapas (Figs. 21 B e C). Cerca de 14 dias mais tarde, o folículo maduro está pronto
para libertar o oócito II.
Mesmo que a maturação se inicie em simultâneo em mais do que um folículo primordial, normalmente
apenas um completa o processo, libertando um oócito II pronto para a fecundação.
A figura 22 mostra esquematicamente todas as estruturas que é possível visualizar num ovário ao longo
de um ciclo de 28 dias. Sabendo que o folículo se desenvolve no ovário, sempre no mesmo local,
responda às questões.
A B C
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 23
1.º glóbulo polar
Cavidade folicular
Zona pelúcida
B
C Oócito I
Oócito II
A
Ovulação
Degeneração
do corpo amarelo
Glóbulos
Corpo amarelo polares
(haplóides)
A B C
Glóbulo
polar
Mitose e duplicação
do material genético
Células
germinativas Oócito II
Espermatozóide
Oogónia Oócito I Óvulo
(haplóide)
Quadro 3
Fase Fase Fase Fase Fase
de multiplicação de crescimento de repouso de maturação de diferenciação
Aumento
Aumento Pausa
do número
do volume no fenómeno Divisão meiótica Especialização
de gónias
das gónias da meiose
por mitose
Espermatogénese
Dos
Especialização
A partir Não muito espermatócitos I
Não ocorre. dos espermatídios
da puberdade. acentuado. aos
aos espermatozóides.
espermatídios.
Espermatócito
Espermatócito
EspermatócitoI II Espermatócito
Espermatócito
EspermatócitoIIIIII Espermatídio
Espermatídio
Espermatídio Espermatozóide
Espermatozóide
Espermatozóide
Fig. 24 Fases da gametogénese masculina.
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 25
Quadro 4
Fase Fase Fase Fase Fase
de multiplicação de crescimento de repouso de maturação de diferenciação
Acentuado. Especialização.
Oogénese No decorrer do Conclusão
No decorrer do
desenvolvimento Do nascimento da primeira
desenvolvimento Não ocorre.
embrionário. à puberdade. divisão da meiose
embrionário.
Oócito I em e início
prófase I. da segunda.
(Prófase
(Prófase
I) (Prófase
I) I)
Nascimento
Nascimento
Nascimento Puberdade
Puberdade
Puberdade Fecundação
Fecundação
Fecundação
OócitoOócito
I Oócito
I I OócitoOócito
II + 1.ºOócito
II glóbulo
+ 1.ºIIglóbulo
+polar
1.º glóbulo
polar polar Óvulo Óvulo
+ 2.º glóbulo
+Óvulo
2.º glóbulo
+polar
2.º glóbulo
polar polar
Fases da gametogénese feminina.
Fig. 25
ACTIVIDADE LABORATORIAL
U1P26H1
U1P26H1
OBSERVAÇÃO DE CORTES HISTOLÓGICOS DEU1P26H1
TESTÍCULOS E OVÁRIOS DE MAMÍFEROS
Procedimento
1 — Observe, com diferentes ampliações, cortes de testículos e de ovários.
2 — Compare as imagens observadas com as fotografias do manual escolar (Figs. 5, 20 e 21).
3 — A presente um esquema, devidamente legendado, de cada uma das preparações
(utilize a ampliação que permita identificar um maior número de estruturas).
26 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
1 1 2 Controlo hormonal
Hipotálamo
Hipófise
posterior Hipófise anterior
A RETER
Os sistemas reprodutores,
masculino e feminino, são
controlados pelo hipotálamo
e pela hipófise.
ACTIVIDADE
U1P28H1
1. Observe a figura seguinte, que representa as inter-relações entre o sistema nervoso e hormonal e o funcionamento
das gónadas, tanto no sexo masculino, como no sexo feminino, e responda às questões.
B
A
Sexo feminino
Sexo masculino
Tubo seminífero.
1 Espermatogénese.
GnRH
LH FHS
FHS 3
2 Características
Testosterona sexuais secundárias.
LH 5
Progesterona
Glândulas mamárias.
Tubo seminífero
Tecidos somáticos. 4 Desenvolvimento e manutenção.
Espermatogénese
Crescimento.
Características
7
sexuais primárias.
Estrogénio
1.3 Refira as células-alvo das hormonas hipofisárias. Fig. 27 Relação entre sistema
1.4 Qual é a consequência da actuação da hormona LH no homem? nervoso, sistema hormonal
e gónadas, no homem (A)
1.5 Refira as funções da hormona testosterona. e na mulher (B).
1.6 Refira as funções da hormona progesterona.
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 27
hormona hipotalâmica hypothalamic A hormona hipotalâmica é a hormona de libertação da gona-
hormone dotropina, GnRH (gonadotropin-releasing hormone), que induz
hormona hipofisária pituitariy hormone directamente a hipófise a fabricar as suas hormonas sexuais: LH,
testosterona testosterone
hormona luteoestimulina, e FSH, hormona foliculoestimulina. Estas
estrogénios estrogens
hormonas hipofisárias são consideradas gonadotropinas, pois
progesterona progesterone
controlam o funcionamento das gónadas, tanto no homem como na
mulher.
Nas gónadas masculinas e femininas, por influência das hormonas
hipofisárias, existe também a formação de hormonas de natureza
esteróide: a testosterona, os estrogénios (sendo o estradiol o mais
CH3
comum) e a progesterona. Estas hormonas são fabricadas em dife-
rentes proporções no organismo masculino e feminino (a testosterona CH3
predomina no homem, a progesterona e os estrogénios predominam
na mulher). HO
O
CH2OH
CH2OH
C O
C O
CH3
OH
A CH3 B
CH3
CH3
O
O O HO
Progesterona Testosterona
OH
OH C D
OH
OH
CH3
O HO HO
O HO Estradiol Colesterol
O
Fig. 28 A progesterona (A), a testosterona (B) e o estradiol (estrogénio) (C) são hormonas
esteróides derivadas do colesterol (D).
OH
Controlo hormonal masculino
A RETER A principal hormona masculina é a testosterona, produzida pelas
A testosterona, principal hormona
células de Leydig, nos testículos, por acção da hormona hipofisária
masculina, é produzida pelas LH. Esta hormona inicia a sua produção durante o desenvolvimento
células de Leydig. embrionário e promove a diferenciação dos órgãos sexuais masculinos.
O HO
Durante a infância, os níveis desta hormona mantêm-se reduzidos,
não havendo, durante esta etapa da vida masculina, qualquer alteração
significativa a nível reprodutor. Durante a puberdade, os níveis de
testosterona elevam-se, tendo como consequência o desenvolvi-
mento dos órgãos sexuais primários (aumento do tamanho do pénis,
dos testículos, das vesículas seminais, da próstata e dos epidídimos),
o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários (aumento
da pilosidade, mudança de voz, aumento da massa muscular e
28 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
crescimento em geral) e o início da espermatogénese. Esta hormona retroalimentação feedback
será produzida a partir deste momento de forma contínua, sendo,
desta forma, a espermatogénese ininterrupta durante o resto da vida
do homem.
Apesar de a formação de espermatozóides ser constante, os níveis
de testosterona no sangue vão ser controlados pelo funcionamento
do hipotálamo e da hipófise, num mecanismo de feedback negativo
(retroacção ou retroalimentação negativa), controlando a produção
de GnRH e, por sua vez, a diminuição da libertação da FSH e da LH.
Os níveis elevados de testosterona em circulação inibem a produção
de GnRH, o que provoca a diminuição da libertação de LH e FSH.
A redução dos níveis sanguíneos destas hormonas faz diminuir a
secreção de testosterona, o que leva a um novo aumento de produção
de GnRH. Nas células de Sertoli é produzida uma outra hormona, a
inibina, que participa no controlo da produção das hormonas hipo-
talâmicas e hipofisárias. Os níveis elevados desta hormona inibem o
funcionamento do hipotálamo e da hipófise anterior, reduzindo a
produção de GnRH e de FSH. Quando o nível de GnRH diminui, há
uma inibição do funcionamento da hipófise, o que provoca uma
diminuição de produção das hormonas hipofisárias, diminuindo os
níveis de testosterona no sangue. Quando a testosterona atinge um
valor mínimo, um novo feedback negativo induz o hipotálamo a
produzir maiores quantidades de GnRH e o consequente aumento
de LH e FSH e de testosterona (Fig. 29).
Este mecanismo permite manter em níveis quase constantes a
produção das hormonas e o funcionamento equilibrado do sistema
reprodutor masculino.
Hipotálamo
GnRH
1
GnRH
Níveis elevados de testosterona em circulação
inibem a produção de GnRH e de LH
Hipófise anterior
inibem a produção de GnRH e FSH
Níveis elevados de inibina
1 1
LH FSH
1
Células 1
Células
de Leydig de Sertoli
1
Testosterona
A RETER
Espermatogénese
O sistema reprodutor masculino
Sistema reprodutor é controlado por feedback
e outros órgãos Inibina negativo da testosterona
e da inibina sobre o hipotálamo
Fig. 29 O funcionamento do hipotálamo e da hipófise é controlado por feedback negativo e a hipófise.
da testosterona e da inibina.
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 29
Controlo hormonal feminino
No organismo feminino, o desenvolvimento embrionário dos
órgãos sexuais primários, como o útero, os ovários e a vagina, é
estimulado pelos estrogénios. Quando um bebé do sexo feminino
nasce, já tem nos seus ovários um conjunto completo de oócitos.
Cada um destes está integrado num folículo ovárico e é capaz de se
desenvolver num óvulo. Durante a puberdade, os estrogénios são
responsáveis pelo desenvolvimento das características sexuais
secundárias, entre elas, o desenvolvimento e a manutenção das
glândulas mamárias, a estimulação do crescimento e a regulação do
ciclo sexual.
A RETER No funcionamento do sistema reprodutor feminino, temos a
O ciclo ovárico é influenciado
considerar a existência de dois ciclos: o ciclo ovárico e o ciclo uterino,
pelas hormonas FSH e LH. também designado por ciclo menstrual. Os ovários e o útero têm
O ciclo uterino é controlado um funcionamento cíclico e não contínuo, ao contrário do que se
pelas hormonas estrogénios
e progesterona.
passa no sexo masculino, pois no organismo feminino apenas será
formado um oócito, num período aproximado de 28 dias.
O ciclo ovárico compreende duas fases: a fase folicular e a fase
luteínica (Fig. 30), cada uma delas influenciada pelas hormonas
hipofisárias já referidas.
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 Dias
FSH
LH
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 Dias
30 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Na hipófise, é também produzida a hormona LH, que estimula
a teca interna a segregar estrogénios, aumentando os níveis desta
hormona.
Durante grande parte do ciclo, os estrogénios inibem a produção
das hormonas FSH e LH, por feedback negativo. A acção contrária
ocorre (estimulação, feedback positivo) quando os estrogénios atingem
o máximo da sua concentração, mesmo antes da ovulação.
A FSH acelera a maturação dos folículos em desenvolvimento,
mas só um deles completa a sua maturação. O pico de concentração
de LH promove a ovulação, ou seja, o rompimento do folículo ovárico
e a consequente libertação do oócito II. Como resultado dessa liber-
tação, ficam no ovário células foliculares que, sofrendo a influência da
LH, se transformam no corpo lúteo (ou amarelo). O corpo lúteo
segrega estrogénios e progesterona, que exercem feedback negativo no
hipotálamo, havendo uma diminuição de GnRH e, consequentemente,
de FSH e de LH. Quando não existe fecundação, o corpo lúteo atrofia,
acabando por ficar na parede ovárica uma pequena cicatriz.
O funcionamento do ovário influencia também as alterações
que vão ocorrendo em simultâneo no útero.
A diminuição do corpo lúteo provoca uma redução dos níveis
de estrogénios e de progesterona no sangue (Fig. 32), o que vai ter
como consequência a descamação da parede uterina — fase menstrual.
Nesta fase, verifica-se a destruição da maior parte do endométrio,
devido à ruptura dos vasos sanguíneos que irrigam o útero, provocando
uma hemorragia à qual se juntam os restos da mucosa: menstruação.
A degeneração do corpo lúteo induz ainda o aumento da secreção
de GnRH, de FSH e de LH, iniciando-se um novo ciclo ovárico, com
o desenvolvimento de um novo conjunto de folículos. Este mecanismo
é designado por feedback negativo dos ovários sobre o complexo
hipófise-hipotálamo.
Estrogénios
Progesterona
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 Dias
CURIOSIDADE
O aumento dos estrogénios durante a fase folicular provoca a
regeneração do endométrio uterino, que vai, sucessivamente, apre- A diminuição da secreção de estro-
génios pode causar osteoporose.
sentando uma maior espessura e maior vascularização. Esta etapa
do ciclo uterino, simultânea com a fase ovárica folicular, designa-se
por fase proliferativa. No final desta etapa, o endométrio atinge a
espessura de cerca de 3 a 4 mm (Fig. 33). U1P32H1
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 31
Ovulação Fase
Fase menstrual Fase proliferativa Fase secretora menstrual
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 Dias
Ciclo uterino.
Fig. 33
32 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
ACTIVIDADE
1. Observe com atenção o esquema seguinte, que representa as inter-relações entre o hipotálamo, a hipófise,
o ovário e o útero, e responda às questões.
Controlo
pelo hipotálamo
Inibido pela combinação
de estrogénio e progesterona.
Hipotálamo
Estimulado por níveis elevados
GnRH de estrogénio.
Hipófise anterior
FSH LH
O pico de LH provoca
Hormonas hipofisárias a ovulação e a formação
no sangue do corpo lúteo.
FSH LH
Ciclo ovárico
Corpo lúteo
Folículo em crescimento
Folículo Degeneração
maduro Ovulação do corpo lúteo
Fase folicular Fase luteínica
Progesterona
Estrogénio
e estrogénio
Hormonas ováricas
no sangue
Estrogénio
Progesterona
Progesterona
Estrogénio
e estrogénio
Ciclo menstrual
Endométrio
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 Dias
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 33
1.4 Apesar de, no controlo hormonal do ciclo sexual feminino, se considerar que existe uma retroacção
negativa, isso nem sempre acontece. Seleccione nos gráficos dados que evidenciam um mecanismo
de retroacção positiva dos ovários sobre o complexo hipotálamo-hipófise.
1.5 Refira o motivo e a consequência da diminuição do corpo lúteo.
Hipófise
Inibição — feedback negativo
anterior
1 Nos restantes dias do ciclo existe um mecanismo de feedback
negativo, em que quantidades muito elevadas de estrogénio e pro-
LH
e
gesterona actuam no hipotálamo, inibindo a secreção de GnRH.
FSH
Como consequência, ocorre a diminuição de FSH e de LH, provo-
cando a regressão do corpo amarelo, que por sua vez vai fazer diminuir
Ovário a produção das hormonas ováricas. A partir daqui inicia-se um novo
1 ciclo pelo incremento na secreção de GnRH e consequente produção
de FSH e LH.
Estrogénio
e
Progesterona
1 1 3 esenvolvimento embrionário
D
1 e gestação
Útero
O acto sexual
O funcionamento do hipotálamo
Fig. 36 O acto sexual, ou coito, permite a colocação do esperma na
e da hipófise feminina é controlado
por feedback positivo e negativo do
vagina da mulher. No entanto, antes que isso aconteça, terá de
estrogénio e da progesterona. ocorrer, no homem, a erecção do pénis. Durante a erecção, o pénis
aumenta de volume, fica intumescido e, posteriormente, ocorre a
ejaculação, ou seja, a expulsão do sémen através do orifício da
uretra.
Os acontecimentos fisiológicos que permitem a consecução do
acto sexual podem ser descritos como decorrendo em quatro fases:
a excitação, o patamar, o orgasmo e a resolução (Fig. 37).
A B
Orgasmo
Resolução
Patamar
Resolução
Excitação
Resolução Resolução
Fig. 37 A resposta sexual envolve quatro fases que, na mulher, pode ser muito variável (A),
enquanto nos homens é bastante mais previsível (B).
34 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Na primeira fase, o ritmo cardíaco, a pressão arterial e os movi- fecundação fertilization
mentos respiratórios intensificam-se e ocorre um aumento de circula- reacção acrossómica acrosomal
reaction
ção sanguínea a nível dos órgãos sexuais quer no homem quer na
mulher. Como resultado destes acontecimentos, no homem, o pénis
torna-se erecto, devido ao afluxo de sangue que chega aos corpos
erécteis e, na mulher, os órgãos da vulva ficam intumescidos. Ao mes-
mo tempo, as secreções de muco cervical aumentam, lubrificando a
vagina, no caso da mulher. Também no homem ocorre lubrificação
do pénis por acção da secreção lançada pelas glândulas bulbo-uretrais
ou de Cowper, que simultaneamente neutraliza a acidez da uretra.
Na segunda fase, os acontecimentos já iniciados intensificam-se
e ocorre a penetração do pénis na vagina, fenómeno que permite a
manutenção e o aumento do estado de excitação, devido à estimulação
mecânica produzida.
O orgasmo é atingido quando se inicia uma série de contracções
musculares reflexas, movimentos rítmicos que fazem com que os
neurotransmissores, presentes nos órgãos excitáveis dos dois sexos,
invadam o cérebro com sensações de prazer e bem-estar.
No homem, estas contracções atingem os canais deferentes, as
vesículas seminais e a próstata, levando à mistura dos vários compo-
nentes do sémen, que é, então, forçado a sair — ocorre a ejaculação.
Após o orgasmo, na fase de resolução, as funções fisiológicas
voltam, ao fim de alguns minutos, ao seu ritmo normal. A RETER
Embora no homem uma segunda ejaculação seja quase impossível O acto sexual decorre em 4 fases:
excitação, patamar, orgasmo
em menos de 20 minutos, na mulher poderá ocorrer quase imedia- e resolução.
tamente uma nova fase de orgasmo.
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 35
CURIOSIDADE
•Q
uando a secreção das glân-
dulas de Cowper é lançada
para a uretra, pode transportar
alguns espermatozóides, mes-
mo antes de ter ocorrido ejacu-
lação.
•E
xiste o mito de que a mulher
só pode engravidar se atingir o
orgasmo: esta é uma crença Reacção
completamente falsa. acrossómica Membrana de fecundação
Células
foliculares
Zona pelúcida
Grânulos
corticais
36 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
hidrofílicas aproxima-se do lado interno da membrana plasmática. desenvolvimento embrionário
embryonic development
Fica, assim, garantida a inviabilidade de entrada de outros esperma-
tozóides no óvulo.
A B
Dentro do óvulo, ocorre desta forma a fusão dos dois núcleos A RETER
— cariogamia (Fig. 40). A combinação dos dois núcleos haplóides
fecundação
repõe o número de cromossomas característico das células diplóides
da espécie (23 pares de cromossomas homólogos), e a nova célula Reacção
acrossómica
formada — o zigoto — pode então iniciar o seu desenvolvimento
através de mitoses sucessivas que vão permitir a multiplicação do Aparecimento
número de células e dar início ao desenvolvimento embrionário da membrana
de fecundação
(Fig. 41). A fecundação está agora completa.
Conclusão
da meiose II
Cariogamia
Oócito II
Fecundação
e conclusão da meiose
Primeira divisão
do zigoto Zigoto
Pronúcleos
U1P39H1
O zigoto originará um novo indivíduo com milhões de células
organizadas em tecidos e órgãos, que nascerá cerca de 266 dias, ou
9 meses, depois da fecundação. Este período de desenvolvimento
embrionário designa-se por gestação.
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 37
anexos embrionários extraembryonic Primeiro trimestre de gestação
membranes
embrião embryo
A primeira divisão da célula-ovo decorre cerca de 24 horas após
feto fetus
a fecundação e, nesta altura, inicia-se um processo designado por
nidação implantation
segmentação.
A segmentação ocorre no trajecto ao longo da trompa de Falópio
e corresponde a um processo de divisão mitótica, que se realiza nos
primeiros dias da gestação.
As células, em divisão, vão-se tornando sucessivamente mais
numerosas, mas a dimensão global da estrutura não se altera. Este
conjunto de células, semelhante a uma pequena amora, é designa-
do por mórula e chega à cavidade uterina com cerca de 16 células
(Fig. 42).
O trajecto através da trompa dura aproximadamente 3 dias e o
embrião permanece a vaguear no útero mais 3 ou 4 dias, continu-
À medida que as células se vão
Fig. 42 ando o processo mitótico. A mórula transformou-se numa estrutura
dividindo, o pequeno embrião vai designada por blastocisto: esta é constituída por uma cavidade
avançando ao longo da trompa de cheia de líquido uterino (blastocélio), uma massa de células que
Falópio.
dará origem ao novo ser (botão embrionário) e uma camada de
células externa — o trofoblasto (Fig. 43).
Trofoblasto
Botão
embrionário
Blastocélio
(cavidade
com fluido)
U1P40H1
As células do botão embrionário são consideradas células es-
taminais, pois são totipotentes, podendo cada uma delas dar origem
a um novo ser completo.
As células do trofoblasto produzem enzimas que permitem ao
pequeno embrião erodir o epitélio uterino, criando um espaço para
a sua implantação. Esta estrutura dá origem à maior parte dos anexos
embrionários que permitem que o embrião se desenvolva no
interior do organismo materno. O termo embrião emprega-se
desde a primeira divisão mitótica do zigoto até cerca das 9 semanas
de gestação, quando já se encontram formados os principais órgãos
do novo ser. A partir desta altura, o organismo passa a designar-se
por feto.
O processo de implantação do embrião no endométrio uterino
é designado por nidação (Fig. 44) e vai permitir que fique firmemente
inserido na parede uterina.
38 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Blastocélio
Trofoblasto
Vaso sanguíneo
do endométrio
U1P40H2
Como se formam os anexos embrionários?
Endométrio
Futuro embrião
Células do trofoblasto
em divisão
Trofoblasto
Cavidade uterina
U1P41H2
Âmnio
Ectoderme
Embrião
Alantóide Mesoderme
Endoderme
Saco vitelino
Fig. 47 Embrião de 16 dias. Possui três camadas e quatro anexos embrionários.
U1P41H3
A partir do trofoblasto e de parte do embrião forma-se o córion,
que será a porção embrionária da placenta. As células do trofoblasto
estendem-se e atingem os vasos sanguíneos maternos, fazendo com
que o sangue destes flua para espaços dentro do trofoblasto. Outras
células do trofoblasto estendem projecções semelhantes a dedos,
chamadas vilosidades coriónicas, para o endométrio. As cavidades
sanguíneas maternas continuam a aumentar o seu volume e envol-
vem as vilosidades coriónicas, que se ramificam, passando todo este
conjunto a designar-se por placenta (Fig. 48).
Vasos sanguíneos
maternos
A RETER Cavidade
Placenta amniótica
Córion
Placenta e cordão
umbilical Fig. 48 Embrião de 31 dias. A placenta já está formada.
40 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
A placenta, de forma discóide, começa o seu funcionamento cerca crescimento growth
da nona semana de gestação e é selectiva: deixa passar oxigénio, nutrientes diferenciação celular cellular
differentiation
e alguns anticorpos das lacunas maternas para o sangue fetal que circula
morfogénese morphogenesis
na veia umbilical. Em sentido contrário, passam produtos metabólicos
residuais, dióxido de carbono e excreções. O sangue materno nunca
contacta directamente com o sangue do feto, encontram-se separados
por uma barreira de células, que se forma na membrana coriónica exter-
na. A placenta comunica com o embrião através do cordão umbilical.
Trofoblasto
Blastocélio Endoderme
Ectoderme
Mesoderme
Fig. 49 Gastrulação. em desenvolvimento
42 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Segundo trimestre de gestação
Neste trimestre, o feto cresce e continua a diferenciação das
suas características humanas.
Às 14 semanas de desenvolvimento (Fig. 53), o feto apresenta
cerca de 16 cm de comprimento, e com 20 semanas de desenvolvimento,
mede cerca de 26 cm de comprimento e pesa aproximadamente
500 gramas.
No final deste trimestre, os olhos do feto já estão abertos e os
dentes em formação.
Ao longo deste período de gestação, o abdómen materno aumenta
bastante e a mãe já sente os movimentos fetais.
HCG
Ovulação
Fertilização Estrogénio
Concentração de hormonas no sangue
Progesterona
A RETER
A
0 4 8 12 16 20 24 28 32 36
Semanas de gravidez
A placenta começa
A B Placenta Cordão Útero em contracção —
a produzir prostaglandinas,
umbilical as contracções são muito
causando a contracção do útero.
fortes e, habitualmente,
dolorosas.
O hipotálamo
materno
estimula
a hipófise
posterior
a libertar
oxitocina.
C D
Placenta Placenta
Cordão umbilical Cabeça
— primeira Útero
parte do bebé
Útero em contracção a aparecer
durante
a expulsão.
Vagina dilatada
— os tecidos
flexíveis do
canal de parto Cordão umbilical
Ombros — o bebé estão agora
volta a face, na vagina, totalmente
em direcção ao ânus da mãe. distendidos.
Fig. 57 Etapas do parto: influência hormonal no parto — retroacção positiva provocada pela pressão da cabeça do feto (A); dilatação
do colo do útero (B); expulsão do feto (C); expulsão da placenta (D).
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 45
Alterações hormonais no aleitamento
Durante a gestação, é também produzida pela hipófise anterior
materna a hormona prolactina, que promove a produção de leite, o
primeiro alimento do recém-nascido. O efeito desta hormona é retardado
por níveis elevados de estrogénio e progesterona. Quando o bebé
nasce e a placenta é expulsa, os níveis destas hormonas baixam,
podendo a prolactina actuar sobre as glândulas mamárias, que come-
Amamentação.
Fig. 58
çam a produzir, inicialmente, colostro e, depois, leite.
O colostro é muito similar ao leite, possuindo concentrações
Nascimento elevadas de anticorpos que vão ajudar o novo ser a proteger-se
Concentração de hormonas
de infecções.
Prolactina
A sucção do mamilo (Fig. 58) induz a libertação de prolactina,
no sangue
Quadro 6
tecido
Hormona tecido alvo função
de origem
PESQUISAR E DIVULGAR
O período de gestação envolve enormes transformações do novo ser. Este recebe da sua mãe todas as substâncias
de que necessita e é através desta que elimina as substâncias de excreção que produz. A placenta impede também
que alguns microrganismos infectem o feto, mas permite que outras substâncias possam atravessá-la, provocando
algumas alterações no embrião/feto.
• Descubra alguns factores/agentes ambientais que possam provocar alterações por vezes graves no desenvolvimento
embrionário humano, recorrendo a bibliografia variada (jornais, revistas, livros) e/ou a páginas da Internet, como
as a seguir indicadas.
http://www.manualmerk.net/artigos/id270&cn=1959
http://www.mac.min-saude.pt/clinica/tabacoalcooldrogas.html
http://www.cnup.up.pt/cnup-toxicodependencia_txt.html
http://www.oficina.cienciaviva.pt/npw020/g/alcool.html
http://www.farmashop.pt/engine.php?cat=102
http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/article/007214.htm
http://www.who.int/topics/pregnancy/en/
• Apresente a sua pesquisa sob a forma de um póster, que poderá afixar fora da sala de aula.
46 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Conceitos/Palavras-chave
Necessários Essenciais Complementares
Síntese de conhecimentos
• O aparelho reprodutor masculino é constituído por órgãos externos, gónadas, vias genitais e glândulas
anexas e funciona continuamente a partir da puberdade.
• Os testículos produzem testosterona e espermatozóides — os gâmetas masculinos.
• Existe um mecanismo de retroacção negativa entre o hipotálamo-hipófise-testículos.
• O sistema reprodutor feminino é constituído por órgãos externos, vias genitais e gónadas (ovários),
onde se forma o oócito II, que dará origem ao óvulo — o gâmeta feminino.
• A gametogénese ocorre nas gónadas masculinas (espermatogénese) e nas femininas (oogénese)
e decorre por etapas, desde as gónias (diplóides) até aos gâmetas (haplóides).
• O funcionamento do sistema reprodutor feminino é cíclico. O ciclo ovárico compreende as alterações
que ocorrem nos ovários (fase folicular, ovulação e fase luteínica) e o ciclo uterino compreende as
alterações que ocorrem no útero (fase menstrual, fase proliferativa e fase secretora).
• Existe um mecanismo de retroacção negativa entre hipotálamo-hipófise-ovários na maior parte do ciclo
e um de retroacção positiva entre os dias 12 e 14 dos ciclos.
• O acto sexual decorre em 4 fases: excitação, patamar, orgasmo e resolução.
• A fecundação (nas trompas) compreende a reacção acrossómica, a formação da membrana
de fertilização, a conclusão da meiose no oócito e a cariogamia.
• O desenvolvimento embrionário compreende a segmentação, a gastrulação e a organogénese.
• A nidação é a implantação do embrião no endométrio uterino.
• Os anexos embrionários ajudam no desenvolvimento embrionário do novo ser e compreendem o âmnio,
o córion, o saco vitelino, o alantóide e a placenta que se formam a partir de células embrionárias e uterinas.
• A primeira hormona a ser produzida pelo embrião é a hCG (hormona detectada nos testes de gravidez),
que induz o corpo lúteo a produzir estrogénios e progesterona, que permitem a manutenção da gravidez.
• A placenta substitui o corpo lúteo na produção de progesterona e de estrogénios e produz prolactina,
hormona que prepara as glândulas mamárias para a lactação.
• O parto é induzido por prostaglandinas e oxitocina, num mecanismo de retroacção positiva,
e o aleitamento é controlado pelas hormonas prolactina e oxitocina.
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 47
ACTIVIDADES
Reprodução humana
1. Construa um mapa de conceitos para cada um dos conteúdos seguintes.
A — Morfofisiologia dos aparelhos reprodutores humanos.
B — Controlo hormonal sobre os aparelhos reprodutores humanos.
2. Observe atentamente a imagem, que representa o aparelho reprodutor masculino, visto de perfil,
e responda às questões a ela associadas.
2.1 Considere as afirmações que se seguem. Analise-as e seleccione a opção que melhor
as define.
AFIRMAÇÕES
CHAVE D
VII I
VI
II
III
IV
X
48 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
3.1 A cada um dos termos que se segue faça corresponder um número da figura.
A — Folículo primário.
B — Folículo de Graaf.
C — Corpo amarelo.
D — Corpo amarelo degenerado.
E — Folículo terciário.
3.2 Identifique, recorrendo a números da figura, as estruturas típicas de um ovário em fase:
a) folicular;
b) luteínica.
3.3 Identifique o fenómeno que ocorreu no momento X.
3.4 Classifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações referentes a fenómenos
que ocorreram no corpo da mulher no momento X.
A — O endométrio apresenta o máximo da sua espessura.
B — Os níveis de progesterona aumentam muito a partir deste momento.
C — O útero está na fase menstrual.
D — Ocorreu uma ligeira subida da temperatura corporal da mulher.
E — O fenómeno foi precedido de uma elevação significativa de LH.
F — A hormona que estimulou o fenómeno X foi segregada pelo hipotálamo.
G — Em X, foi libertado um óvulo.
H — Notou-se um ligeiro decréscimo dos níveis de estrogénios.
3.5 Com base nos dados da figura, é possível afirmar que houve fecundação?
Justifique a sua resposta.
Não há desenvolvimento
1 — Ablação dos ovários
da mucosa uterina.
2 — Tratamento
Ciclo uterino normal.
com extracto ovárico
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 49
ACTIVIDADES
A — 46, XX
B — 46, XY
C — 23, X
D — 23, Y U1P53H1
E — 46, X
6. O gráfico representado a seguir mostra as modificações nos níveis hormonais numa mulher
grávida nas semanas que antecedem e se seguem ao parto.
Níveis de Volume
hormonas Estrogénios de leite
no sangue segregado
Segregação de leite
Nascimento
0 0
29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44
50 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
1 2 Manipulação da fertilidade contracepção contraception
métodos contraceptivos contraceptive
methods
O problema do nosso tempo é que o futuro não é o que costumava ser.
Paul Valéry
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 51
Métodos que actuam a nível da gametogénese
Neste grupo de contraceptivos hormonais utilizados pela mulher,
encontram-se os contraceptivos orais, os implantes, os injectáveis,
os adesivos e o anel vaginal (Fig. 61).
Qualquer um destes métodos se baseia no fornecimento de hor-
monas ao organismo de modo a estabelecer um feedback negativo
no complexo hipotálamo-hipófise, impedindo a ovulação.
Os contraceptivos orais, muito utilizados, são vulgarmente
designados por pílulas e contêm hormonas que impedem o desen-
volvimento folicular e a ovulação e actuam ainda provocando um
espessamento do muco cervical. Assim, além de não se formar o
Anel vaginal.
Fig. 61 gâmeta feminino, necessário à fecundação, há ainda um impedi-
mento de acesso dos espermatozóides ao útero, por bloqueio da
entrada destes devido à secreção acumulada no colo do útero.
As pílulas combinadas possuem uma combinação de estrogénio
sintético e progestagénio (semelhante à progesterona), enquanto as
progestativas apenas possuem o segundo componente e são usadas
em caso de contra-indicação da toma de estrogénio, como por
exemplo na fase de amamentação. As pílulas devem ser tomadas
diariamente, podendo haver ou não um período de interrupção
conforme o tipo utilizado. Existe uma grande variedade de pílulas
no mercado, por isso, a escolha da mais adequada deverá ser feita
com o médico assistente, cabendo depois à mulher seguir as suas
instruções, de modo a cumprir as dosagens e as tomas indicadas.
Embora a eficácia deste método seja elevada, há que considerar que
o esquecimento de uma ou mais pílulas, a toma simultânea de
outros medicamentos e ainda algumas alterações de saúde, como
diarreias ou vómitos, podem pôr em causa o sucesso deste contra-
ceptivo.
Os adesivos semanais, que se mantêm aplicados sobre a pele
durante três semanas, seguindo-se uma semana de descanso, libertam
para a corrente sanguínea os mesmos componentes que os contracep-
tivos orais.
Quanto aos implantes, que são aplicados sob a pele, podem ter
uma eficácia até um período de 5 anos, verificando-se um modo
de actuação semelhante, já que contêm progesterona, que é libertada
lentamente para a corrente sanguínea.
As injecções contêm progestagénio e actuam de forma semelhante
aos dois métodos referidos anteriormente. Devem ser renovadas a cada
três meses.
O anel vaginal é um contraceptivo hormonal para uso vaginal
constituído por um anel flexível impregnado de hormonas (estrogénio
e progestagénio) que são lentamente libertadas e absorvidas para a
A RETER corrente sanguínea. É aplicado na vagina pela mulher e deverá per-
A pílula, os implantes, os manecer colocado durante cerca de três semanas consecutivas.
adesivos, as injecções e o anel Comparativamente aos contraceptivos orais, a utilização deste
vaginal são contraceptivos
método diminui o perigo de esquecimento de tomas, já que só deve
hormonais.
ser trocado uma vez por mês.
52 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Métodos que impedem a fecundação 1
2
3
Métodos contraceptivos naturais 4
5
Por meio de uma monitorização do período menstrual, da secreção 6
7
do muco cervical e da temperatura basal, a mulher tenta detectar a 8
data da ovulação e mantém-se em abstinência sexual durante os 9
10
dias que correspondem ao seu período fértil. 11
insucesso, pois é bastante difícil detectar com precisão a data da Fig. 62 É fundamental o conhecimento
ovulação. de alguns dados sobre a sobrevivência
• O método do ritmo ou do calendário baseia-se no cálculo dos gâmetas para se poder determinar
o período fértil da mulher.
do período fértil da mulher. Ao mais curto dos doze ciclos
U2 P5 5 H2
anteriores dever-se-ão subtrair 18 dias e ao mais longo apenas
8| 1 | 2
11 dias: obter-se-ão os dias em que deverá existir abstinência 27 | 2 | 3
6|
|2 |
sexual total (Fig. 63). 5
4
|2
|5
• O método da temperatura implica a medição diária da
| 24
| 6
| 22 | 23
| 7 | 8 | 9 |
acordar, de manhã, e antes de qualquer esforço). Como o
21
10
|1
1 |
8
1
detectar o dia em que este fenómeno ocorreu. A abstinência
1 | |1
| 17 2|
13 | 1
4 | 15 | 16
sexual deverá ocorrer durante o período de tempo que
decorre entre a menstruação até 48 a 72 horas após a ovulação Mulher com um ciclo regular
de 28 dias
(Fig. 64).
28 18 10
U1P56H1
28 11 17
O período fértil será entre o 10.º
e 17.º dias do ciclo, inclusive.
Mulher com ciclos menstruais
37,0 entre 25 a 30 dias
Temperatura (C°)
25 18 7
30 11 19
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 53
15-20 • O método da mucosidade ou do muco cervical baseia-se
cm
10-15 no cálculo do período fértil, que é estabelecido através da
cm
observação deste muco que, normalmente, se torna mais
elástico e abundante antes da ovulação (Fig. 65). Assim, a mulher
3-4
cm 1-3
poderá manter relações sexuais desde o final da menstruação
1-2
cm
cm até ao aparecimento de maior quantidade de muco. A abstinência
deverá manter-se até, pelo menos, quatro dias após observação
da maior quantidade de muco.
Fase secretora
Fase folicular Ovulação • O método sintotérmico é aquele que conjuga os dois anteriores
Para aplicar este método, além
Fig. 65 e os interpreta de acordo com os conhecimentos acerca do
de um bom conhecimento do seu
ritmo. Este será, provavelmente, o método natural mais eficaz,
corpo, a mulher não pode apresentar
negligências na observação diária embora esta avaliação seja muito relativa, já que, mesmo em
do muco cervical. mulheres com grande regularidade nos ciclos menstruais, todos
estes métodos apresentam baixo sucesso.
É importante salientar que o coito interrompido não deve ser
A RETER considerado um método contraceptivo. Neste caso, o homem retira
Os métodos do ritmo, da o pénis da vagina antes da ejaculação. Além de exigir um grande
temperatura, do muco cervical autocontrolo, esta atitude é bastante falível, já que, como foi re-
e sintotérmico U1P56H4
são métodos
ferido, pode ocorrer saída de espermatozóides da uretra durante a
naturais.
fase de excitação em que há lubrificação do pénis.
A B
A B
A RETER
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 55
Esterilização
A vasectomia e a laqueação das trompas são métodos cirúrgicos
que, embora possam ter a finalidade dos meios contraceptivos até
agora referidos, se distinguem destes por serem praticamente irre-
versíveis.
Na vasectomia (Fig. 71 A), é feita uma incisão em cada canal
deferente de modo que não possa ocorrer passagem de esperma
para a uretra. Este método é, por norma, definitivo.
Já na laqueação de trompas (Fig. 71 B), as incisões são feitas em
cada uma das trompas de Falópio para que os oócitos II libertados
do ovário aquando da ovulação não possam encontrar os esperma-
tozóides.
A RETER
A aplicação destas técnicas deve ser feita apenas em casos especiais,
A vasectomia e a laqueação são
devidamente ponderados, do ponto de vista médico e pessoal, dada a
métodos de esterilização.
sua possível irreversibilidade.
A B
Fig. 71 A vasectomia (A) e a laqueação de trompas (B) são dois métodos cirúrgicos
que, embora contraceptivos, são definitivos.
Contracepção de emergência
A pílula do dia seguinte não pode ser considerada um método
contraceptivo, já que apenas deve ser utilizada numa situação de
emergência devido a um incidente com o contraceptivo usado (por
exemplo, numa situação de ruptura do preservativo durante o acto
sexual) ou violação.
A pílula do dia seguinte deve ser
Fig. 72 As elevadas doses de estrogénio e progesterona vão impedir,
utilizada apenas como último recurso caso tenha ocorrido fecundação, a implantação do embrião no en-
para evitar uma gravidez não desejada.
dométrio.
Embora a Lei n.º16/2007 de 17 de Abril tenha introduzido a
«exclusão de ilicitude nos casos de interrupção voluntária da gravidez
(IVG)» até às 10 semanas e a pedido da mulher, não se pode consi-
derar o aborto como um método contraceptivo nem confundir os
A RETER medicamentos administrados para esse efeito com a pílula do dia
A pílula do dia seguinte não seguinte. Esta opção deve ser encarada de uma forma muito parti-
pode ser considerada um
método contraceptivo.
cular e implica decisões e discussões que ultrapassam o âmbito desta
disciplina.
56 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
ACTIVIDADE
1. Analise o esquema e o gráfico seguintes. O esquema é referente a algumas das etapas necessárias para
que ocorra a formação de um novo ser e, ainda, o modo de actuação dos métodos usados para impedir
uma gravidez; o gráfico corresponde à eficácia dos métodos contraceptivos. As percentagens baseiam-se no
estudo feito em 100 casais, que usaram correctamente os métodos durante 1 ano. Responda às questões.
A Espermatozóides Oócitos II
com vitalidade maduros Contraceptivos orais
Injectáveis
Vasectomia
Implantes
Esterilização Anel vaginal
Ejaculação Ovulação
Laqueação
Esterilização
Vagina, útero, Trompas
trompas de Falópio de Falópio
Fecundação
DIU
Pílula do dia seguinte
Emergência
Nidação
Preservativos
Diafragma
Métodos naturais
Contraceptivos orais Gestação
Parto
B
100% 99,6% 99% 98% 96% 95% 95% 94% 86% 84% 84% 82% 75% 74% 70% 10%
Ab Va Im DI In DI Pr Pí Pr Di M Es Es M Pr Se
sti se pl U jec U es lu es af ét pe pe ét e se m
nê ct an + çã er la er ra od rm rm od m
om te es o va va gm o o rv ét
nc sh pe ho tiv tiv a sin ici ici da at od
ia ia o o + to da da ivo
to or rm rm de de es té em em te de o
ta m ici on rm m co
l on da al bo lát pe es ge pe ba nt
ais a ex rm ico pu l, ra ixa ra
qu ici cr tu ce
ali da m em ra qu pt
da a ali ivo
de e da
ou de
+ óv
es ul
pe os
rm
ici
da
Fonte: Starr, C.; Evers, C., Biology — Today and Tomorrow,
2.ª edição, Thomson, Brooks/Cole, USA
Etapas necessárias para a formação de um novo ser (A) e eficácia dos métodos
Fig. 73
contraceptivos (B).
U1P60H1
1.1 Refira os três principais modos de actuação dos métodos contraceptivos.
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 57
1.2 Alguns casais utilizam métodos contraceptivos designados por naturais.
1.2.1 Quais são esses métodos?
1.2.2 Refira as desvantagens desses métodos.
1.3 Os contraceptivos orais são dos métodos mais utilizados.
1.3.1 Explicite o modo de actuação dos contraceptivos orais.
1.3.2 Apresente razões para o facto de serem muito usados.
1.4 Tanto o preservativo masculino como o diafragma impedem o encontro dos gâmetas. No entanto,
e considerando uma utilização correcta de ambos os métodos, um bom preservativo é mais eficaz
na prevenção da gravidez. Apresente uma explicação para esse facto baseando-se na forma como
actuam esses métodos.
1.5 Por que motivo o DIU é causador de alguma polémica ao ser considerado por alguns um «método
abortivo»?
1.6 Apresente hipóteses explicativas para o facto de se verificar diferenças na eficácia entre os implantes
e as pílulas (contraceptivos orais).
1.7 Compare o preservativo e a pílula e refira:
a) os aspectos semelhantes;
b) as diferenças a considerar.
Quadro 7
Infecção sexualmente
Agente infeccioso
transmissível
Tricomoníase Protista
Herpes genital Vírus
Gonorreia Bactéria
Sífilis Bactéria
Hepatite B Vírus
Candidíase Fungo
SIDA (Síndrome
Vírus
da imunodeficiência adquirida)
58 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Quadro 8
Vantagens
Método
contraceptivo Desvantagens
Protecção
gerais
das DST
Bastante eficaz.
Não tem efeitos secundários
nem contra-indicações. Em alguns indivíduos,
de barreira
Métodos
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 59
Possui as mesmas do preservativo
As mesmas do preservativo masculino.
Preservativo feminino masculinos, excepto Sim Difícil aplicação.
a eficácia. Possui menor eficácia do que
o preservativo masculino.
De difícil colocação e em
Diafragma secundários nem Não
momento anterior ao acto sexual.
contra-indicações.
Requer a intervenção inicial de
um técnico de saúde, para
aprendizagem de colocação
e escolha do dispositivo.
Fácil aplicação.
Geralmente sem efeitos
secundários. Pouco eficaz.
Espermicidas Não
Pode ser utilizado em Pode provocar reacções alérgicas.
simultâneo com outro
método.
impedem a nidação
CURIOSIDADE
Em Portugal:
• segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, em 10 anos ocorreram 47 178 partos em adolescentes dos 11 aos
17 anos.
• o número total de pessoas infectadas com VIH, notificado até 31 de Dezembro de 2005, era de 28 370 casos de infecção.
• os portadores assintomáticos da infecção VIH são predominantemente jovens entre os 20 e 39 anos.
• 43% dos portadores de VIH são toxicodependentes.
• 39% dos portadores de VIH são heterossexuais.
Fonte: www.roche.pt/sida/estatisticas/portugal.cfm
60 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
ACTIVIDADE LABORATORIAL
Procedimento
1 — Distribuir um copo por aluno, inclusive o copo com a solução de hidróxido de sódio (1).
2 — Proceder à partilha do conteúdo do copo. O aluno 1 verte o conteúdo do seu copo para o copo
do aluno 2.
3 — O aluno 2 agita o conteúdo do seu copo com a colher e de seguida verte metade do conteúdo para
o copo do aluno 1.
4 — Repetir a operação com tantos colegas quanto quiser, não esquecendo de anotar os seus nomes.
5 — Sujeitar o conteúdo final dos seus copos ao teste de fenolftaleína (colocando uma gota da solução
de fenolftaleína em cada copo).
6 — Fazer o mesmo teste aos copos A e B.
Resultados
1 — A
note a cor da solução do copo A e B.
2 — O
bserve e conte o número de copos com soluções de cada uma das cores.
Discussão
1 — O que pretende simular a solução de hidróxido de sódio?
2 — O que se pretende simular com a partilha de líquidos entre os copos?
3 — Justifique a utilização da fenolftaleína.
4 — J ustifique o aparecimento da cor rosa em alguns copos.
5 — P rocure estabelecer uma relação entre a actividade proposta e o modo de transmissão de IST.
6 — D e que modo se poderia ter evitado o aparecimento de copos com líquido cor-de-rosa.
7 — T ire conclusões sobre a actividade proposta.
(1)
Só o professor deverá saber quem foi o aluno ao qual foi atribuído o copo da solução diferente.
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 61
infertilidade infertility 1 2 2 I nfertilidade humana
e procriação medicamente assistida
ACTIVIDADE
1. Considere os dados disponibilizados nos documentos que se seguem, analise-os e responda às questões.
Doc. A Doc. B
taxa de fecundidade geral 1 De acordo com estudos realizados por
ano
em Portugal Carlsen e seus colaboradores entre 1940 e
1990 46,5% 1990, publicados em 1992, o número mé-
1995 41,7% dio de espermatozóides diminuiu nesses 50
2000 41,8% anos de cerca de 113 milhões para cerca
2005 41,8% de 50 milhões por mL.
2006 40,4% RFML 2005; Série III; 10 (4): 233-246
1.1 O que pode inferir sobre a evolução do número de nascimentos no nosso país?
1.2 Justifique a variação dos valores expostos no documento A.
1.3 Refira as causas que possam justificar os resultados explicitados no documento B.
(1)
taxa de fecundidade geral representa a relação entre o número de nados-vivos e o número de mulheres em idade fértil (15 a 49 anos) 3
A
1000 numa determinada área geográfica.
62 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Causa
Actualmente, sabe-se que as causas da infertilidade podem estar mista/desconhecida
Causa masculina
associadas a fenómenos de diferentes origens: ambientais, psicosso- 20%
40%
ciais e biológicas. Os dados científicos e estatísticos apontam para
um aumento crescente dos valores de infertilidade nos casais.
Se durante muito tempo a infertilidade foi vivida no feminino,
actualmente sabe-se que as causas da mesma podem situar-se na
Causa feminina
mulher, no homem, mais raramente em ambos e em determinadas 40%
situações que são identificadas como «causa desconhecida». Fig. 75 Causas de infertilidade.
Apesar de a comunidade científica não ser consensual quanto a
números, são apontados por muitos os seguintes valores: causa
masculina: 40% dos casos; causa feminina: 40% dos casos; e causas A RETER
mistas ou desconhecidas: 20% dos casos (Fig. 75). De todos os factores Causas de infertilidade:
que influenciam a infertilidade, está provado que a idade da mulher • masculinas;
é o factor que, em isolado, mais contribui para o decréscimo da • femininas;
• mistas;
fertilidade. Para facilitar o estudo, propomos uma divisão dos factores • desconhecidas.
em três categorias: factores psicossociais, ambientais e biológicos.
Factores psicossociais
Nas últimas décadas assistiu-se a uma alteração no estilo de vida,
que se reflectiu no aumento da infertilidade. Os casais, em particular
as mulheres, adiam o início da procriação, motivados por uma
crescente aposta na escolarização, na importância atribuída à carreira
profissional ou, muito simplesmente, devido à dificuldade em iniciar
uma vida independente estável.
Por outro lado, parece ser cada vez mais precoce o início da
vida sexual, à qual aparece associado, ainda que não obrigatoria-
mente, um maior número de parceiros sexuais, uma maior exposição
a doenças sexualmente transmissíveis, gravidezes indesejadas, abortos,
uso prolongado de contraceptivos — todos eles factores que podem
perigar a saúde reprodutiva.
Os estilos de vida actuais são marcados pelo consumo de tabaco,
álcool, estupefacientes e fármacos, sendo frequentes os estados de
ansiedade e de depressão desfavoráveis à fertilidade. Há a acrescentar,
ainda, pela forma como contribuem para a infertilidade, os compor-
tamentos e as disfunções sexuais de alguns indivíduos.
Factores ambientais
Apesar de não existirem dados científicos que comprovem segura-
mente a intervenção dos factores ambientais na esterilidade, ocorreram
já vastos estudos que indiciam a sua influência. A determinação do
contributo destes factores parece ser essencial para a alteração de
hábitos de vida, podendo contribuir, numa perspectiva preventiva,
para a saúde reprodutiva.
Podemos considerar dois tipos de factores ambientais: físicos
(calor, radiações ionizantes, radiações não-ionizantes, ruídos e vibra-
ções) e químicos (exposição prolongada a pesticidas, metais, solven-
tes orgânicos, agentes citotóxicos, dieta, álcool, drogas e gases
anestésicos).
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 63
Factores biológicos de origem feminina
Os factores de origem feminina podem ser físicos ou hormonais.
U1P67H1Endometriose
Considera-se que existe endometriose quando o tecido endo-
metrial cresce e descama fora do útero. Nestas situações, podem
surgir lesões em qualquer ponto da pélvis, e esta é uma causa fre-
quente de infertilidade feminina.
Disfunções uterinas
As malformações e alterações da posição do útero, bem como a
presença de quistos nas paredes do mesmo, podem dificultar ou
mesmo inviabilizar a gravidez (Fig. 77).
Trompa de Falópio
Problemas no colo do útero
O colo do útero está preenchido pelo muco cervical, que, como
vimos anteriormente, altera a sua textura ao longo do ciclo menstrual
segundo comando hormonal, facilitando ou dificultando a passagem
dos espermatozóides através dele. Se não existe coincidência entre
o estado claro e elástico do muco e a altura da ovulação, poderemos
Fibroma que cresce no
revestimento do útero estar perante uma causa de esterilidade.
Infertilidade imunológica
Vagina
Poderá ocorrer uma produção, por parte do sistema imunitário
da mulher, de anticorpos antiesperma, que reagem contra os esper-
O crescimento de fibromas no
Fig. 77
matozóides, destruindo-os, ou de anticorpos antifosfolipídicos, que
útero pode ser uma das causas de
infertilidade feminina. reagem contra o embrião, provocando abortos sucessivos (Fig. 78)
U1P68H1
64 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Óvulo
A RETER
Factores biológicos
de origem feminina
Muco cervical
Perturbações na
Colo ovulação/disfunções
Muco do útero
Ovário cervical hormonais
Útero Perturbações na
ovulação/disfunções
ováricas
Endometriose
Anticorpos
Disfunções uterinas
Abertura
do colo
do útero Esperma Problemas no colo
do útero
Fig. 78 Por vezes, pode ocorrer a produção de anticorpos que levam à aglutinação de
espermatozóides, impedindo-os de fecundar o gâmeta feminino. Infertilidade
imunológica
U1P68H2
Disfunções hormonais
As concentrações alteradas de GnRH, FSH, LH ou testosterona
poderão ter como origem o mau funcionamento dos órgãos que as
segregam, e levam, consequentemente, a uma deficiente produção
de um sémen saudável, com a quantidade e a qualidade de esper-
matozóides desejadas.
Disfunções metabólicas
Um mau funcionamento da próstata ou da vesícula seminal
pode levar à ausência ou diminuição de determinadas enzimas,
nomeadamente a fosfatase ácida e a fosfatase alcalina, alterando a
constituição do líquido prostático e/ou seminal. Pode ainda verifi-
car-se a ausência de produção de frutose. A constituição final do
esperma, incluindo o seu pH, será alterada, o que levará à inviabilidade
da sobrevivência dos espermatozóides.
Deficiências testiculares
As lesões testiculares, as malformações congénitas dos mesmos
e a presença de varicocelos (massa de veias dilatadas e tortuosas que
se localiza no escroto e que dificulta a drenagem do sangue neste
local, provocando aumento de temperatura) podem ser causas de
infertilidade masculina.
Factor tubárico
O bloqueio ou a ausência de vasos deferentes impede a circu-
lação dos espermatozóides do local de produção e maturação ao
exterior.
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 65
A RETER Disfunções sexuais
Factores biológicos A ejaculação retrógrada, em que o esperma é encaminhado para
de origem masculina a bexiga e não para a uretra e a disfunção eréctil ou a impotência podem
Disfunções
ser causas associadas a alguns casos de esterilidade masculina.
hormonais
Infertilidade imunológica
Disfunções
metabólicas Na sequência de traumas, infecções, ou mesmo vasectomias,
o sistema imunitário pode produzir anticorpos antiespermatozóides
Anomalias
testiculares que podem intervir na sua mobilidade e/ou na sua capacidade
fecundativa.
Factor tubárico
Valores-padrão de um espermograma
Hiposmolaridade . 50%
Vitalidade . 50%
Leucócitos , 1 milhão
66 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Que cuidados se devem ter no combate à infertilidade? reprodução assistida assisted
reprodution
Taxa de
Percentagem
30 nados-vivos
20
Taxa de
nascimentos
10 únicos
0
<23 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 >45
Idade (anos)
Fonte: www.cdc.gov/art/ART02/sect2_fig3-13.htm (2003)
Estimulação
Ovário hormonal
Oócito II Espermatozóides
Colo do útero
Vagina
Embrião
A B
C D
70 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Os riscos associados a esta intervenção são os que provêm da A RETER
estimulação hormonal, embora seja menos agressiva do que a FIV.
técnicas de pma
Apesar de a taxa de sucesso não superar a taxa de sucesso da FIV,
não está associada à formação de embriões excedentários, pois a Indução
da ovulação
fecundação decorre normalmente.
Inseminação
Transferência intratubárica de zigotos artificial
Fig. 85 Na ZIFT, o embrião conseguido por fertilização in vitro é colocado nas trompas
de Falópio, recria-se mais precocemente um meio natural para o desenvolvimento
do embrião.
O processo
U1P74H2 é em tudo semelhante à FIV. Contudo, o zigoto,
U1P74H1
formado também in vitro, é colocado numa fase mais precoce nas
trompas de Falópio, passando mais tempo do seu desenvolvimento
num ambiente natural.
Os riscos associados a esta técnica são muito semelhantes aos
riscos da FIV.
Técnicas acessórias
À medida que se desenvolveram as técnicas de PMA, também
foi sendo aperfeiçoado um conjunto de técnicas acessórias que,
aplicadas em conjunto, podem ajudar a resolver alguns problemas.
Crioconservação de embriões
Algumas técnicas de procriação medicamente assistida (Fig. 86)
envolvem a produção de embriões em número excessivo, relativa-
mente aos que podem ser implantados num único ciclo de reprodução.
Desta forma, é possível realizar o congelamento dos embriões exce-
dentários, colocando-os em meio próprio, obedecendo a uma descida
gradual da temperatura até se atingirem os 2196 ºC. Os embriões
são posteriormente colocados num tanque de azoto líquido, onde
ficarão armazenados até ao momento da sua implantação. Durante
este processo, há que ter em consideração o momento da congelação
— a desidratação deve ocorrer lentamente a fim de evitar a lise
celular — e o processo de descongelação — a reidratação também
deve ocorrer de forma lenta para obtenção de sobrevida celular.
O destino dos embriões excedentários constitui um problema
ético, legal e social que é necessário ter em conta. Podem ser utilizados
para posterior implante no casal que lhe deu origem, podem ser
doados a casais inférteis ou utilizados em investigação.
Fig. 86 Algumas técnicas de PMA levam à produção de embriões excedentários, pelo
que é necessário recorrer à sua criopreservação, a qual ocorre a temperaturas da
ordem dos 2196 ºC.
72 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Quadro 9
TÉCNICAS MÉDICAS ASSOCIADAS À PROCRIAÇÃO MEDICAMENTE ASSISTIDA
Recolha de ovócitos
(por estimulação ovárica).
Recolha de espermatozóides. Causas femininas:
Transferência • disfunção ovárica.
Processamento e selecção
intratubárica
de espermatozóides. Causas masculinas:
de gâmetas
Introdução de espermatozóides • esperma anómalo.
e ovócitos nas trompas de Falópio.
Fecundação in vivo.
Recolha de ovócitos
(por estimulação ovárica).
Recolha de espermatozóides. Causas femininas:
Transferência • disfunção ovárica.
Processamento e selecção
intratubárica
de zigotos de espermatozóides. Causas masculinas:
Fecundação in vitro. • esperma anómalo.
Transferência do zigoto
para as trompas de Falópio.
Recolha de espermatozóides.
Injecção Processamento e selecção Causas masculinas:
intracitoplasmática de um espermatozóide. • esperma anómalo;
de espermatozóides Introdução do espermatozóide no interior • vasectomias não reversíveis.
do ovócito através de uma micropipeta.
CURIOSIDADE
Em 2002, nasceu Daniel, um bebé saudável de 3,7 kg, na Grã-Bretanha.
Resultou de um processo de FIV com esperma congelado do seu pai há 21
anos. Então com 17 anos e antes de se sujeitar aos tratamentos de quimiote-
rapia e radioterapia para combater um cancro testicular, o seu pai procedeu
ao congelamento do esperma.
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 73
ACTIVIDADE
Relação
Casal normal Pai Mãe Útero materno
sexual
U1P78H1
U1P78H2
U1P78H6
Estimulação
Disfunções hormonais hormonal, FIV, Pai Mãe Útero materno U1P78H1
U1P78H4
GIFT, ZIFT U1P78H8
Anomalia na produção
de óvulos FIV Pai Dadora Útero materno U1P78H1 U1P78H5
U1P78H2
(útero funcional) U1P78H6
Útero materno
FIV, GIFT,
Mãe e pai estéreis Dador Dadora ou de mãe- U1P78H5
ZIFT U1P78H3
U1P78H2
U1P78H8
-de-aluguer
Pai (esperma
Pai falecido IA Dadora Útero materno U1P78H5
congelado) U1P78H3
U1P78H4
U1P78H7
Outras situações
Legenda: Mãe Pai Dadora Dador Mãe-de-aluguer Genes dos progenitores Genes dos dadores Genes de um progenitor ou do dador
U1P78H1
U1P78H4
U1P78H8
74 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Conceitos/Palavras-chave
Necessários Essenciais Complementares
Síntese de conhecimentos
• A contracepção é a prevenção intencional da gravidez e, para a conseguir, utilizam-se métodos
contraceptivos que podem actuar impedindo a gametogénese feminina e a ovulação, não permitindo
a fecundação ou, ainda, a nidação.
• Os contraceptivos orais, os implantes, as injecções e o anel vaginal são métodos hormonais que
impedem a gametogénese e a ovulação.
• Existem métodos naturais (do ritmo, da temperatura, do muco cervical e sintotérmico) e métodos
de barreira (preservativo masculino e feminino, diafragma e espermicidas) cuja finalidade é impedir
o encontro dos gâmetas e, portanto, a fecundação.
• O DIU é o único método que impede a nidação, apesar de evitar também a fecundação.
• A esterilização (vasectomia, no homem, e laqueação de trompas, na mulher) impede a ocorrência de
uma gravidez de um modo geralmente irreversível.
• Considera-se que existe infertilidade num casal quando não existe concepção depois de pelo menos
dois anos de relações sexuais não protegidas.
• A infertilidade pode ser atribuída a causas femininas (disfunções hormonais, disfunções ováricas,
anomalias nas trompas de Falópio, endometriose, problemas no colo do útero ou infertilidade
imunológica); causas masculinas (disfunções hormonais, disfunções metabólicas, anomalias
testiculares, anomalias tubáricas, disfunções sexuais ou infertilidade imunológica), causas masculinas
e femininas ou causas desconhecidas.
• Actualmente, a Medicina, mediante uma série de técnicas, possibilita a gravidez em muitos casais
inférteis, através de procriação medicamente assistida (PMA).
• As técnicas a que a PMA actualmente recorre são: estimulação da ovulação, inseminação artificial,
fertilização in vitro, injecção intracitoplasmática, transferência intratubárica de gâmetas e transferência
intratubárica de zigotos.
• A técnica a aplicar deve ter em conta o problema real de cada casal.
• As técnicas acessórias à PMA são o diagnóstico genético pré-implantatório e a crioconservação
de gâmetas e de embriões.
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 75
ACTIVIDADES
Manipulação da fertilidade
1. Elabore um mapa de conceitos relativo à manipulação da fertilidade.
2. Considere os seguintes dados sobre o ciclo menstrual de uma mulher que adoptou o método
do calendário como único meio contraceptivo:
• 1.º dia do último ciclo menstrual: 2 de Maio
•
Duração dos últimos 12 ciclos menstruais
25 26 27 26 29 25 27 28 29 26 27 28
2.1 Tendo em conta os valores de referência para o ciclo ovário, em que dia do mês se prevê que
ocorrerá a ovulação desta mulher?
2.2 Se o ciclo em curso durar 24 dias, quando surgirá novamente o período menstrual?
2.3 Entre que dias do mês deverá abster-se de manter relações sexuais a fim de evitar uma gravidez?
2.4 Apresente duas limitações decorrentes da utilização deste método contraceptivo.
coluna I coluna II
V. Método da temperatura E — Deve permanecer no corpo da mulher até 8 horas após o acto sexual.
5. Os espermicidas e o diafragma são métodos de barreira. No entanto, o primeiro também é considerado
um método químico, enquanto o segundo é um método físico. Justifique a utilização de cada uma
destas classificações.
76 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
7. Considere um casal que após dois anos de tentativas de engravidar não o conseguiu. Depois
de recorrer ao médico e de fazer um primeiro conjunto de exames, foi diagnosticada como causa
da esterilidade alterações no muco cervical. Responda às questões.
7.1 Enumere as razões que justifiquem associar alterações no muco cervical a uma possível causa
de infertilidade.
7.2 Seleccione a opção que completa correctamente a afirmação seguinte.
Foi recomendado a este casal que a mulher fosse submetida a um…
A — … tratamento com estrogénio ou inseminação artificial.
B — … tratamento com progesterona ou inseminação artificial.
C — … tratamento com FSH ou fertilização in vitro.
D — … tratamento com LH ou fertilização in vitro.
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 77
ACTIVIDADES
10. Observe atentamente a figura, que representa uma das técnicas aplicadas em PMA.
Obstrução tubárica
Gonadotrofinas e HCG
11. A figura representa uma técnica actualmente muito associada à procriação medicamente
assistida.
11.1 Identifique esta técnica.
11.2 Enumere as vantagens do recurso a este
método, quando comparado com os métodos
tradicionais de fecundação in vitro.
11.3 Refira as desvantagens associadas a esta
técnica.
11.4 Em que situações se recorre a este método
de procriação medicamente assistida?
12.1 De acordo com o que estudou acerca da espermatogénese, distinga «paragem de
maturação» de síndrome «Só células de Sertoli».
12.2 De que modo a ICSI (injecção intracitoplasmática de espermatozóides) pode resolver os
problemas de fertilidade destes homens?
78 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
bioética
«Nem tudo o que é tecnicamente possível é necessariamente desejável para a vida e para a
dignidade humana.»
Relatório — Parecer Sobre Reprodução Medicamente Assistida (3/CNE/93).
Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida
O desenvolvimento da PMA, se, por um lado, veio abrir portas de esperança a casais estéreis
e representa mais um desafio ganho pela Biologia/Medicina, de certo também deu início a
uma série de fenómenos que exigem uma reflexão ética, não podendo a discussão dos mesmos
ficar encerrada apenas na comunidade científica.
Todo o processo de PMA deve ser regido por princípios éticos, nomeadamente:
• a liberdade de escolha após informação prestada por entidade idónea de todas as opções
possíveis, sociais e médicas. Relativamente a cada tecnologia, o casal deve ser informado
de todos os riscos e consequências a ela associados;
• o consentimento informado, que deve ser posterior à informação e escolha em liberdade;
• a não instrumentalização da pessoa humana, não devendo em situação alguma o indivíduo
ser remetido para um processo em que é mero instrumento.
Mais do que dar respostas, é objectivo apresentar um conjunto de pontos de partida para
reflexão e discussão.
Relativamente à PMA:
1 — Será correcto violar o princípio de resignação às leis da Natureza, provocando
artificialmente uma gestação num casal onde naturalmente isso não aconteceria… ou,
não será a história de toda a Medicina uma luta contra a resignação às leis da Natureza?
2 — Será que ao dissociar a procriação do acto sexual, a PMA consegue garantir que estes
filhos sejam frutos da expressão de afecto e amor… ou será que ultrapassar todas as
etapas da PMA leva a uma longa caminhada em que há reforço do amor e da
intimidade entre o casal?
3 — Será lícito recorrer à reprodução heteróloga? Será que esta vence ou apenas mascara
a infertilidade?
4 — No caso do recurso a dadores, deverá a identidade dos mesmos manter-se no sigilo…
ou terá o futuro ser direito a saber a identidade do seu pai e/ou mãe biológica?
5 — Como encarar a maternidade de substituição, vulgo mães-de-aluguer? Egoísmo...
altruísmo... ou instrumentalização?
6 — E a crioconservação do esperma por tempo ilimitado? Solução para quem sofre de
tumores... possibilidade de adiar a paternidade, preservando a qualidade dos
espermatozóides… ou possibilidade de gerar crianças de pais falecidos?
7 — Como encarar a procriação entre homossexuais? Não terá um casal homossexual o
mesmo direito de um casal heterossexual de ver realizado o seu desejo de maternidade/
paternidade… ou estaremos a lidar mais uma vez com a máscara da procriação?
8 — E o que dizer da aplicação da PMA em situações exteriores à infertilidade? Não será
esta a única solução para a procriação segura em doentes infectados com VIH… terão
os indivíduos solitários direito a recorrer a estas técnicas?
9 — Será lícito recorrer ao diagnóstico pré-implantatório de embriões? Eugenia... ou direito
de nascer livre de doenças genéticas?
10 — Devem utilizar-se embriões humanos em investigação científica? Instrumentalização da
vida humana… ou porta aberta para a cura de doenças?
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 79
CiênciaTecnologiaSociedadeAmbiente
ACTIVIDADES
80 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
DOC. 2 Implicações éticas da investigação
em embriões humanos
Com o desenvolvimento das técnicas A decisão de fazer investigação em células
de PMA geraram-se embriões que, por não estaminais embrionárias tem de ser bem pon-
serem reclamados pelos progenitores nos tem- derada e relativamente a esta decisão encontra-
pos devidos, são considerados excedentários. mos três posições distintas.
Associado a esse facto, um novo fenómeno — Condição de plena pessoa: segundo os
emergiu no mundo científico — a utilização defensores desta ideia, o embrião humano é
dos embriões humanos em investigação cientí- moralmente igual a um ser humano adulto, pelo
fica. Este assunto rapidamente se envolveu em que qualquer investigação que o envolva é deci-
polémica e se, por um lado, podemos associar sivamente de renegar.
esta investigação à esperança de cura de inú- — Embrião enquanto propriedade: segun-
meras doenças, por outro lado, temos de lidar do os defensores desta ideia, o embrião é pouco
com problemas de natureza ética, dado que mais do que um bem de consumo, pelo que se
podemos estar na presença de uma violação justifica em nome da Humanidade a sua utiliza-
de um princípio moral fundamental — a vida ção para o progresso da Ciência.
humana. — Estatuto moral gradual: segundo os
A investigação em embriões permite futuras defensores desta teoria, o embrião humano adqui-
aplicações, nomeadamente ao nível de possí- re estatuto à medida que se desenvolve, pelo que
veis curas que envolvam transplante de tecidos, só serão admissíveis experimentações em fases
terapia do cancro, doenças neuromusculares, muito iniciais do mesmo. Considerando que aos
doenças ósseas, anomalias sanguíneas, testes 14 dias se delimita a linha primitiva e com ela se
de toxicidade de medicamentos e transplante inicia o processo de diferenciação celular, consi-
de órgãos, abrindo assim sinais de esperança dera a maioria dos investigadores que se enqua-
para a Humanidade. dram nesta perspectiva ser esta a data-limite para
A investigação com células estaminais a utilização dos mesmos em investigação.
embrionárias humanas pode ser feita recorrendo Obviamente que no meio de tantas pers-
a uma de três técnicas: pectivas devem os Estados decidir e regular as
— doação de tecido fetal, as células esta- suas decisões, pelo que se torna imperioso o
minais são extraídas de tecidos de fetos mortos aparecimento de legislação a propósito destes
resultantes de abortos (provocados ou espon- assuntos. Em Portugal surgiu em 2006 a Lei n.º
tâneos); 32/2006, que regulamenta no seu artigo 9.º a
— células derivadas do blastocisto, o investigação com recurso a embriões, a qual, de
que implica a destruição do embrião; forma controlada, permite a investigação com
— transferência nuclear de células somá- embriões, desde que os mesmos não sejam
ticas (TNCS), obtendo-se as células através de criados com esse fim.
clonagem. Como em outros assuntos de extrema deli-
As três técnicas são muito criticadas do cadeza, as decisões a tomar neste campo devem
ponto de vista ético, dado que na primeira se ser regidas pelo Princípio da Precaução, o qual
pode estabelecer uma relação causal com o obriga os investigadores a demonstrar a existên-
aborto, a segunda pode cair na tentação de cia de uma necessidade absoluta que permita à
criar embriões como um meio para atingir um sociedade tirar partido das investigações.
fim, e a última técnica, a da clonagem, também www.europarl.europa.eu/stoa/publications/studies/1999
é muito discutível. Lei n.º 32/2006 de 26 de Julho —
Procriação medicamente assistida
ACTIVIDADES
u n i d a d e 1 R e p r o d u ç ã o e m a n i p u l a ç ã o d a f e r t i l i d a d e 81
unidade 2
82 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Património genético
2 1 Património genético 86
2 2 Alterações do material
genético 152
Que responsabilidade
poderá ser atribuída
a esta molécula
na diversidade
de características Que processos levarão à formação de indivíduos tão bizarros?
e na sua transmissão? Com que finalidade serão criados?
D E F
84 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
INTRODUÇÃO
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 85
cromatina chromatin 2 1 Património genético
cromossoma chromosome
gene gene Uma mudança deixa sempre patamares para uma nova mudança.
genoma genome Nicolau Maquiavel
ACTIVIDADE
• O conjunto de todos os T A
86 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
1.1 Identifique, o mais pormenorizadamente possível, a localização da informação genética.
1.2 Relembre a molécula de DNA, especificando a sua constituição e estrutura.
1.3 Identifique o processo e as respectivas etapas, que permitem que a informação genética contida
na célula se materialize num determinado fenótipo.
RNA
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 87
heterossoma heterosome A meiose origina células com metade do número de cromosso-
autossoma autosome mas, herdando as células-filhas apenas um de cada par de cromos-
somas homólogos da célula inicial (Fig. 4). Por esta razão, a meiose
é o processo de divisão celular exigido a todos os seres vivos que se
reproduzem sexuadamente. Só a produção de células sexuais, com
metade do número de cromossomas, e cujo destino é a fecundação,
permite assegurar que o número de cromossomas de uma espécie se
mantenha constante ao longo do tempo.
A B C D
E F G H
A RETER
46, XX 46, XX
(feminino) (feminino)
23, X
46, XY 46, XY
(masculino) (masculino)
23, Y
Os trabalhos de Mendel
A Genética, ciência que estuda a hereditariedade, tem as suas
bases em trabalhos realizados, na segunda metade do século xix,
por Gregor Mendel.
Embora Mendel nunca tenha tido conhecimento da existência
de cromossomas, desenvolveu princípios que demonstraram a existência
de genes, de cromossomas e até dos processos da meiose, que são a
base física da hereditariedade.
Sabemos hoje que as características de um organismo diplóide
são determinadas pela interacção entre alelos (formas alternativas
de um gene), mas foi este experimentador que contribuiu para o
conhecimento da forma como os alelos se relacionam para permitir
a manifestação de uma determinada característica.
Fig. 5 Gregor Mendel.
Mendel escolheu como material biológico para os seus trabalhos
a ervilheira-de-jardim (Pisum sativum), planta monóica (a flor apresenta
os órgãos reprodutores masculinos e também os femininos) (Fig. 6)
e concentrou os seus trabalhos em sete características bem definidas
que apresentavam formas contrastantes, isto é, fenótipos diferentes
(ver quadro 2).
A B C
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 89
Quais são as vantagens da escolha
da ervilheira-de-jardim?
Quadro 2
caracterÍsticas seleccionadas por mendel
Fenótipos
características
A B
Púrpura Branca
Cor da corola
(conjunto
das pétalas)
Axial Terminal
Longo Curto
Comprimento
do caule
Lisa Enrugada
Forma da vagem
Verde Amarela
Cor da vagem
90 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Transmissão de informação genética
para uma característica
Mendel iniciou os seus trabalhos obtendo linhagens puras em
relação a cada uma das características em estudo.
Uma ervilheira é de linhagem pura quando, por autopolinização,
apenas origina descendentes, todos iguais entre si e ao progenitor.
Portanto, para os conseguir, Mendel procedeu a inúmeros processos
de autofertilização das plantas até poder garantir a pureza das estirpes
obtidas.
Seguidamente, deu início aos seus trabalhos de monoibridismo,
ou seja, analisou, em cada experiência, os resultados da transmissão
de apenas um único carácter hereditário.
Gregor Mendel
Gregor Mendel nasceu numa família humilde de camponeses da Silécia
(pertencente à Áustria) em Julho de 1822 e faleceu em 1884. Com 21 anos
entrou num mosteiro da Ordem de Santo Agostinho, em Brünn, no
Império Austro-Húngaro (actual República Checa). Estudou Física,
Química, Matemática e Botânica durante dois anos na Universidade
de Viena.
Apenas publicou dois trabalhos e as suas descrições sobre as
experiências feitas com as ervilheiras foram quase todas destruídas.
Mendel é ainda hoje um exemplo de como executar uma boa técnica
científica. De facto, destacou-se por ter adoptado procedimentos
metodológicos científicos e criteriosos:
• soube escolher bem o seu material de trabalho (ervilheiras-de-jardim);
• concebeu correctamente as experiências a realizar (analisou uma
característica de cada vez, trabalhou com progenitores de linhagens
puras);
• realizou grande número de cruzamentos, obtendo várias gerações
de indivíduos;
• recolheu, de forma metódica, um grande número de dados;
• utilizou a análise matemática para provar que os resultados confirmavam
as suas hipóteses;
• realizou cruzamentos recíprocos.
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 91
alelo dominante dominant allele Entretanto, realizou outro tipo de cruzamento. Para tal, procedeu
alelo recessivo recessive allele da mesma forma, mas trocando agora a planta dadora de pólen.
Ao serem cortados os estames à planta B, esta passa a desempenhar
o papel feminino e a A é a masculina. Estes dois tipos de cruzamentos
designam-se por cruzamentos recíprocos (Fig. 7).
A B A B
Remoção
de todas
as anteras
Primeira geração
(F1)
(F1)
Cruzamentos recíprocos.
Fig. 7
(F1)
Flor púrpura
Fig. 8 Ao cruzar duas linhagens puras com informação contrastante para a mesma
característica, obteve uma F1 100 % uniforme e igual a um dos progenitores.
Quadro 3
fenótipos da f2
Comprimento
2,84:1
do caule
Quadro 4
combinação dos gâmetas DA f1
acontecimentos possíveis
resultados
obtidos em f2 fenótipo
Factores Factores razão
(encontros da F2
da célula da célula
possíveis)
masculina feminina
P P PP 14 púrpura
P p Pp 14 púrpura
p P Pp 14 púrpura
p p pp 14 branco
P — letra maiúscula (inicial da palavra que designa a característica), que representa o alelo dominante
(cor púrpura).
p — letra minúscula, igual à escolhida para o alelo dominante, que representa o alelo recessivo (cor branca).
PROBABILIDADES
Cada planta da F2 tem três possibilidades, em quatro, de receber
Quando se lança uma moeda
ao ar, a probabilidade de esta pelo menos um alelo dominante (informação para a cor púrpura das
cair mostrando cara é de 50%, pétalas, por exemplo). Já a probabilidade de uma nova planta receber
havendo também 50% de os dois alelos recessivos (informação para a cor branca das pétalas) é
hipóteses de mostrar coroa. de um em quatro. Então, os resultados fenotípicos de F2 deveriam
No entanto, se lançarmos realmente mostrar uma proporção de 3 púrpura:1 branco (Fig. 9).
a moeda ao ar apenas algumas
vezes, a taxa de obtenção p p pfemininos
p
P P femininos
Gâmetas PGâmetas
P
de cara e coroa afasta-se A B
muito da razão de 1:1. P P p p P P p p
Quanto maior for o número P P P P
Gâmetas masculinos
Gâmetas masculinos
Gâmetas masculinos
P P p p P P p p
ou quadro de combinação P P Pp Pp P P PP PP Pp Pp
de gâmetas: método
de representar as P P Pp Pp P P PP PP Pp Pp
previsões de resultados p p Pp Pp pp pp p p Pp Pp pp pp
para cada cruzamento.
p p Pp Pp pp pp p p Pp Pp pp pp
94 BIOLOGIA A Biologia e os desafios da actualidade
Para minimizar os erros no cálculo das proporções obtidas,
Mendel efectuou um elevado número de cruzamentos, já que tinha
consciência de que só assim se poderia aproximar das conclusões
correctas.
Mendel e os genótipos de F2
Ao obter os resultados da F2, Mendel confirmou, em parte, as suas
suspeitas de que cada planta recebia dos seus progenitores dois
«factores» (alelos do mesmo gene) com informação para uma determinada
característica, sendo que um deles pertencia ao progenitor masculino
e o outro ao progenitor feminino. Considerou ainda que um destes
«factores» seria dominante e o outro recessivo. Mas o desejo de confirmar
completamente as suas suspeitas levou-o a continuar os cruzamentos,
promovendo a autopolinização de cada indivíduo da geração F2.
Percebeu que só assim poderia descobrir quais eram os indivíduos que
se apresentavam como linhagens puras (PP ou pp) e quais eram os
híbridos, ou seja, os indivíduos que possuiam dois «factores» diferentes
(Pp).
Destes cruzamentos, concluiu que à proporção fenotípica de 3:1 obtida
na F2 correspondia uma proporção genotípica de 1:2:1, tal como se
pode verificar no quadro seguinte.
Quadro 5
resultados obtidos em f3
fenótipos
genótipo fecundação fenótipos da f3
da f2
Cor púrpura
PP Autopolinização Cor púrpura das pétalas
das pétalas
Cor branca
pp Autopolinização Cor branca das pétalas
das pétalas
Genótipo: AA Genótipo: aa
A a
A a
Meiose I
A A a a
A A a a
Meiose II
A A A A a a a a
Gâmetas Gâmetas
A
a Fertilização:
obtenção de um ovo heterozigótico
(genótipo: Aa)
Fig. 10 Para a formação de gâmetas, ocorre a meiose, que garante a separação
dos alelos de cada par. Cada gâmeta possui apenas um dos alelos de cada gene.
96 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
A explicação dos trabalhos de monoibridismo de Mendel está
representada na figura 11.
pp
Pp Pp
Progenitor homozigótico dominante p p
P Pp Pp
PP
P Pp Pp Pp Pp
geração f2
Planta da F1 FENÓTIPOS E GENÓTIPOS
híbrida
Pp
Produção de gâmetas
e autopolinização
PP Pp
P p
P PP Pp
p Pp pp Pp pp
ACTIVIDADE
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 97
Como conhecer o genótipo de um indivíduo que
apresenta fenótipo dominante?
Cruzamento-teste e retrocruzamento
Quando no fenótipo de um indivíduo se manifesta o alelo domi-
nante, surgem dúvidas quanto ao seu genótipo (pode ser homozigótico
dominante ou heterozigótico). Neste caso, procede-se ao seu cruza-
mento com um homozigótico recessivo (por exemplo, no caso da cor
das flores da ervilheira: cor branca), pois os alelos recessivos, presentes
A RETER em todos os gâmetas formados, não se manifestarão, permitindo revelar
Um cruzamento-teste serve os alelos presentes no genótipo do primeiro — cruzamento-teste.
para descobrir o genótipo
de um indivíduo cujo fenótipo
No caso do retrocruzamento, o cruzamento é realizado com
revela o alelo dominante mas outro, cujo genótipo é igual a um dos progenitores (quando o
do qual não se conhece progenitor é homozigótico recessivo, o retrocruzamento é também
o genótipo.
um cruzamento-teste).
ACTIVIDADE
Cruzamento-teste
1. Considere que se pretende conhecer o genótipo, relativamente à cor das flores, de uma planta de ervilheira
cujas flores têm pétalas de cor púrpura (cor assegurada pelo alelo dominante P). Antes de se realizar
o cruzamento-teste, foram elaborados quadros de Punnett para prever os resultados e facilitar a sua
interpretação.
P Pp Pp P Pp Pp
PP Pp
P Pp Pp Pp Pp p pp pp pp pp
1.1 Suponha que após o cruzamento-teste se obtiveram 58 plantas com flores de cor púrpura e 52 com
flores de cor branca e identifique:
a) o genótipo da planta progenitora de flores de cor púrpura;
b) o genótipo das plantas da F1 de flores brancas e de flores de cor púrpura.
1.2 Qual é a situação, prevista na figura 12, que evidencia os resultados esperados no caso de o
indivíduo de genótipo desconhecido ser homozigótico dominante?
98 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Portanto, após o cruzamento-teste, a descendência apresentará alelo co-dominante codominant alleles
100% de fenótipo igual ao progenitor de genótipo desconhecido, se
este for homozigótico dominante. Se este for heterozigótico, obter-se-á
uma descendência em que 50% dos indivíduos apresentam o fenótipo
determinado pelo alelo dominante e os restantes 50% fenótipo de-
terminado pelo alelo recessivo.
Fenótipos intermédios
Mendel trabalhou com características nas quais existe uma do-
minância clara de um dos alelos de um gene em relação ao outro.
No entanto, existem situações em que tal não ocorre e em que, em
vez de existirem unicamente dois fenótipos possíveis, surgem três
fenótipos diferentes, embora continuando a tratar-se de casos de
monoibridismo.
Co-dominância
Nesta situação, nenhum dos alelos de um gene, presente num
indivíduo heterozigótico, apresenta dominância ou recessividade;
pelo contrário, ambos se expressam simultânea e completamente.
Na figura 13 pode ver-se que, do cruzamento de dois indivíduos
de linhagens puras, em que numa se manifesta a cor vermelha do
pêlo e na outra a cor branca, surge uma primeira geração uniforme,
mas diferente dos dois progenitores. Em F1, os indivíduos heterozi-
góticos possuem pêlos com cor branca e pêlos com cor vermelha.
A mistura de ambos vai manifestar-se como uma cor intermédia mas,
realmente, não o é. Assim, os dois alelos presentes no genótipo dos
indivíduos da F1 dão origem a um novo fenótipo que faz com que os
heterozigóticos sejam facilmente identificados como tal.
Esta situação, que também se verifica na pelagem de alguns
cavalos, é denominada co-dominância e resulta do facto de, qual-
XXX
X
quer um dos alelos co-dominantes se manifestar sempre que está
presente. Nestes casos, deve atribuir-se a mesma letra aos alelos de
um mesmo gene, distinguindo-se cada uma das variantes com letras
diferentes em índice (por exemplo, alelo CV e CB do gene CV/CB). XXX
X
X
Geração parental Primeira geração (F1) VVV
Segunda
V
geração (F2)
Pêlos de cor vermelha Pêlos de cor vermelha Pêlos de cor branca CV CB
X X VVV
VV
C
CVCV X CVCB
CVCV CVCB
3 3 V
Pêlos de cor branca X
CB
X XV
V CBCV CBCB
CBCB CVCB
V
A hereditariedade da cor do pêlo em algumas raças de gado bovino é um caso
Fig. 13
XV de co-dominância.
V
Griffiths, A; Wessler, S; Lewontin, R; Carrol, S., Introduction to Genetic Analysis,
V
New York: W. h. freeman and company, 2008.
Hartwell, L. H.; Hood, L. Goldberg, M. L.; Reynolds, A. E.; Silver, L. M; and Veres,
R. C., Genetics: From Genes to Genomes, mcgraw-hill international edition, 2008.
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 99
Dominância incompleta
Na dominância incompleta a interacção entre os alelos de um
gene origina, nos indivíduos heterozigóticos, um terceiro fenótipo.
Este caso de monoibridismo pode ser observado na planta
conhecida por bocas-de-lobo. Cruzando duas plantas homozigóticas,
uma para a cor branca e outra para a cor vermelha, obtêm-se muitos
indivíduos cuja cor das pétalas das flores é uniforme: rosa (Fig. 14).
Estes indivíduos facilmente se revelam como heterozigóticos não só
porque apresentam um terceiro fenótipo, distinto dos progenitores,
A RETER
mas também porque, ao realizarem a autopolinização, vão originar
A co-dominância e a dominância
incompleta não surgiram
descendentes com os três fenótipos para a cor das flores: pétalas
a Mendel quando este realizou com cor vermelha, pétalas com cor branca e pétalas com cor rosa.
os seus trabalhos, apresentando
resultados diferentes (por isso
A simbologia utilizada para representar a dominância incompleta
se dizem excepções). Embora é a mesma que é utilizada nos estudos de Mendel: uma letra para
não exista aqui dominância representar o gene, em que um alelo se representa por letra maiúscula
completa de um alelo, as bases
genéticas mantêm-se.
e o outro por minúscula, ficando o terceiro fenótipo representado
pelo híbrido.
VV vv
Genótipo
Autopolinização
Genótipo Vv
Fig. 14 A cor das pétalas das flores bocas-de-lobo é transmitida à descendência
segundo um mecanismo de dominância incompleta.
100 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Transmissão simultânea de informação para duas
características
Mendel estudou também a transmissão simultânea de dois genes
envolvidos na transmissão de duas características diferentes. Para
isso, desenvolveu linhas puras de ervilheiras que diferiam entre si Fig. 15 Ervilhas com fenótipos diferentes:
em duas características: plantas que produziam ervilhas amarelas verdes rugosas e amarelas lisas.
Quadro 6
geração parental (P)
ACTIVIDADE
Geração F1
AaLl AaLl
Fig. 17 Sementes obtidas na geração F1.
A RETER
Os resultados de Mendel mostram evidências de segregação
Num cruzamento de diibridismo
com segregação independente, independente dos alelos dos dois genes. Podemos considerar a exis-
os indivíduos duplamente tência de quatro gâmetas diferentes, uma vez que cada alelo relativo
heterozigóticos formam quatro
à cor das sementes pode combinar-se com qualquer um dos alelos
tipos de gâmetas.
relativos à textura das sementes.
102 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
É, assim, possível formar quatro tipos diferentes de gâmetas:
AL, Al, aL e al. Na análise da divisão meiótica e na observação da
segregação dos pares de cromossomas homólogos, é possível com-
preender a formação destes diferentes gâmetas (Fig. 18).
Célula diplóide
Diplóide
Haplóide aa
LL ll
Alternativa 1 Alternativa 2
AA
LL ll Metáfase I LL ll
AA aa aa AA
Meiose I
LL ll Metáfase II LL ll
AA aa aa AA
Meiose II
Gâmetas
AL AL al al aL aL Al Al
Fig. 18 Formação de quatro tipos de gâmetas por segregação independente dos pares
de cromossomas de uma célula diplóide.
AL
Combinações de alelos nos gâmetas masculinos
aL
Al
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 103
Na geração F2 são obtidos 9 genótipos diferentes que dão origem
a quatro diferentes fenótipos, na proporção 9:3:3:1.
Quadro 7
Geração f2
AALL 1:16
Plantas
aall 1:16 com sementes 1:16
verdes rugosas.
A RETER Mendel enunciou, com base nos resultados obtidos nestes tra-
A Segunda Lei de Mendel fala balhos, a Lei da Independência dos Caracteres — Segunda Lei de
da segregação independente Mendel:
de vários pares de alelos
na formação dos gâmetas. «Na formação dos gâmetas, a segregação dos vários pares
de alelos é realizada independentemente.»
Quadro 8
fenótipo dominante
Genótipo
104 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Quadro 9
cruzamento-teste
ACTIVIDADE
1. A maioria das características estudadas por Mendel nas plantas de ervilheira é determinada por genes que
se encontram em cromossomas diferentes. No entanto, no início do século xx William Bateson e R. C. Punnett
realizaram, com plantas de ervilheira, cruzamentos entre plantas homozigóticas com flores de cor púrpura
e grãos de pólen longos com plantas homozigóticas com flores vermelhas e grãos de pólen redondos. Todos
os descendentes deste cruzamento eram plantas com flores de cor púrpura e grãos de pólen longos.
1.1 Represente o genótipo dos indivíduos da geração parental.
1.2 Indique os alelos dominantes e os alelos recessivos. Justifique a sua resposta.
1.3 Elabore o quadro de cruzamento correspondente à autofecundação das plantas da geração F1
e refira a proporção de fenótipos que encontrou neste cruzamento.
2. Bateson e Punnett verificaram que neste cruzamento os fenótipos correspondentes aos fenótipos
parentais (flores de cor vermelha e grãos redondos e flores de cor púrpura e grãos longos) eram mais
abundantes do que inicialmente previsto, enquanto os outros fenótipos (flores de cor vermelha e grãos
longos e flores de cor púrpura e grãos redondos) eram menos abundantes do que seria de esperar.
2.1 Parece-lhe que neste caso existe segregação independente dos alelos dos genes que codificam as
duas características? Elabore uma hipótese explicativa do facto referido anteriormente.
3. Mais tarde foi elaborada a hipótese de que esta diferente proporção dever-se-ia à transmissão em bloco
dos alelos situados no mesmo cromossoma e que, consequentemente, não se separavam durante a
meiose. Estes genes ficariam, assim, localizados no mesmo gâmeta.
3.1 À luz desta hipótese, elabore um novo quadro de cruzamento correspondente à autofecundação
das plantas da geração F1. Refira a proporção de fenótipos que encontrou neste cruzamento.
4. Qual lhe parece ser a origem dos fenótipos menos abundantes (flores de cor vermelha e grãos longos
e flores de cor púrpura e grãos redondos)?
A P
p p B p
P p
P P
L L l Cromossomas L L l
l homólogos l
Meiose I Meiose I
P p P p P p P p
L L l L L l
Separação
l
l
dos homólogos
Meiose II Meiose II
P p P p Separação dos P p P p
L L l l centrómeros. L L l l
Formação
dos gâmetas
Parental Parental Parental Parental Parental Recombinante Recombinante Parental
Gâmetas
Fig. 20 Genes em linkage (A); genes em linkage com crossing-over (B).
frequência de recombinação
Na figura 21 observa-se uma porção de um mapa genético do cromossoma 1 do tomate (Solanum lycopersicum),
mostrando as posições relativas dos genes no cromossoma. À esquerda observa-se o fenótipo normal e à direita o
fenótipo alternativo. As distâncias entre loci (locais cromossómicos onde se situam os genes) são representadas em
unidades de mapa, unidades baseadas na frequência de recombinação por crossing-over entre genes. A frequência de
recombinação corresponde à fracção de indivíduos recombinantes no total de descendentes. Por exemplo, a distância
entre os loci que determinam a forma da folha (normal/mosqueada) e o tamanho da planta (alta/anã) é de 12 unidades
de mapa. Isto significa que, em cruzamentos,
Com «bico»
se obtém, para estes dois genes, cerca de 12 Mosqueada «Pêssego» Oblato Necrótico Muitos lóculos
recombinantes em cada cem descendentes.
Se dois genes estiverem afastados mais
de 50 unidades de mapa, a sua frequência de Anã
recombinação é de 50%, isto é, eles segregam
independentemente, como se estivessem 12 4 17 21 10 14
106 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Alelos múltiplos alelos múltiplos multiple alleles
A B
C D
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 107
ACTIVIDADE
Alelos letais
Do cruzamento de gatos Manx (Fig. 23) sem cauda é possível obter
uma descendência composta por cerca de 50% de gatos sem cauda; 25%
de gatos com cauda e 25% de indivíduos que morrem precocemente.
gatos manx
O gato Manx é natural da ilha de Mann, no mar da Irlanda.
Descendem, provavelmente, de gatos que nadaram
para terra firme ao escapar dos naufrágios dos galeões
espanhóis. A falta de cauda, uma mutação espontânea
que aparece raramente em gatos de todas as raças,
fixou-se como característica desta raça devido ao
isolamento. É muito resistente, embora alguns exemplares
possam nascer com malformações potencialmente
letais na bexiga e nos intestinos. Justamente por isso
só é vendido depois dos quatro meses, idade limite
Fig. 23 Gato de para o aparecimento destas malformações.
raça Manx. www.petfriends.com.br (adaptado)
108 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Nos seres vivos, existem vários genes que possuem alelos que alelo letal lethal allele
provocam a mortalidade do indivíduo, designando-se por alelos
letais. Se alguns alelos letais se expressam em qualquer ambiente, A RETER
impedindo inclusivamente o nascimento com vida, a expressão de Sempre que a presença de um
alguns outros depende das condições do meio onde o indivíduo se determinado alelo causa a morte
do indivíduo, diz-se que o alelo
desenvolve, permitindo a sua viabilidade nuns ambientes e provo- é letal.
cando a letalidade noutros.
Poligenia
Vários pares de alelos (dois ou mais), situados em loci diferentes
do mesmo cromossoma, ou de cromossomas diferentes, podem em
conjunto determinar uma única característica fenotípica.
Vejamos o exemplo da cor dos pimentos: existem pimentos de
quatro cores distintas (Fig. 24).
Esta característica é da responsabilidade de dois pares de alelos,
de dois genes (R/r e C/c), nomeadamente:
• R, que codifica a deposição de pigmento vermelho;
• r, que impede a deposição de pigmento vermelho;
• C, que codifica a remoção da clorofila;
• c, que impede a remoção da clorofila. Fig. 24 Diversidade de cores nos
Desta forma, é possível obter vários genótipos, responsáveis por pimentos.
Quadro 12
Genótipo Fenótipo
RR cc; Rr cc Púrpura
rr CC; rr Cc Amarelo
rr cc Verde
Quadro 13
Cruzamento entre pimentos duplamente heterozigóticos
RC Rc rC rc
RC
RR CC RR Cc Rr CC Rr Cc
Rc
RR Cc RR cc Rr Cc Rr cc
rC
A RETER
Rr CC Rr Cc rr CC rr Cc
Considera-se que há poligenia
quando mais do que um gene
rc contribui para a determinação
Rr Cc Rr cc rr Cc rr cc de uma única característica.
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 109
ACTIVIDADE
Interacção génica
A herança de algumas características segue regras muito próprias. Vejamos o caso da
hereditariedade da cor das pétalas da planta Collinsia parviflora. Existem plantas com
pétalas azuis, brancas e magentas.
Do cruzamento de plantas brancas e magentas, ambas homozigóticas, surge uma
descendência (F1) 100% azul.
Da autopolinização da F1 surge uma descendência (F2) com fenótipos azul, magenta
e branco na proporção de 9:3:4.
Consideremos o processo metabólico de produção de pigmentos da mesma planta,
representado no esquema seguinte.
ab
Aa Bb Aa bb aa Bb aa bb
110 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Os trabalhos de Morgan e a Teoria Cromossómica
da Hereditariedade
Em 1902, Walter Sutton e Theodor Boveri, trabalhando inde-
pendentemente, reconheceram que o comportamento dos «factores»
(alelos de um gene) referidos por Mendel se assemelhava ao dos
cromossomas durante a meiose.
Quadro 15
A RETER
Cromossomas Genes
A Teoria Cromossómica
Dados observados durante Hipótese baseada nos trabalhos da Hereditariedade, em 1902,
a meiose e a fecundação de Mendel e no estudo da meiose veio sugerir que os genes eram
entidades pertencentes aos
O número de cromossomas de uma O número de alelos de um gene
cromossomas.
célula diplóide (pares de cromossomas presente numa célula diplóide
homólogos) é o dobro do que se é o dobro do que se encontra
encontra nos gâmetas. nos gâmetas.
Durante a meiose, os dois
Durante a meiose, os dois alelos
cromossomas de cada par
de cada gene separam-se, de modo
de homólogos separam-se de modo
que cada gâmeta ficará com apenas
que cada gâmeta apenas ficará com
um representante de cada par.
um representante de cada par.
A separação dos cromossomas de
Durante a meiose, os alelos de genes
cada par faz-se de modo independente
diferentes separam-se de forma
e ao acaso e, por isso, podem surgir
independente e aleatória.
diferentes combinações genéticas.
Cada um dos cromossomas homólogos Numa célula diplóide, os alelos de
presente numa célula diplóide provém cada gene provêm: um do progenitor
de um dos progenitores. masculino e outro do feminino.
ACTIVIDADE
A B C
• • II III
112 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
CURIOSIDADE
Como procedeu Morgan para estudar a herança Thomas Hunt Morgan, nascido
da cor dos olhos em Drosophila? em 25 de Setembro de 1866 nos
Estados Unidos da América,
recebeu o Prémio Nobel da Fi-
Morgan iniciou os seus trabalhos estudando a hereditariedade siologia e Medicina em 1933,
da cor dos olhos das moscas-da-fruta, porque observou que, embora pelo seu contributo para o avanço
a cor vermelha fosse a mais frequente (por isso se diz que este é o da Genética, provando que os
fenótipo selvagem), existiam animais (mutantes) com olhos de cor cromossomas são os portadores
dos genes.
branca. Assim, tinha à sua disposição duas formas contrastantes
para uma mesma característica.
Começou por cruzar fêmeas de olhos vermelhos com machos
de olhos brancos. Como resultado, obteve uma F1 em que todos os
descendentes tinham olhos vermelhos, o que mostrava que o alelo
para a cor branca era recessivo (Fig. 30).
A RETER
Cruzou depois os indivíduos da F1 entre si: macho de olhos A maioria das moscas-da-fruta
vermelhos com fêmea de olhos vermelhos. Na F2, surgiu uma pro- possui olhos vermelhos, por isso
porção de 3:1 em que três indivíduos apresentavam olhos verme- se diz que este é o fenótipo
selvagem. Alguns mutantes
lhos e apenas um tinha olhos brancos. Embora pudesse parecer que possuem cores de olhos
estes resultados nada traziam de novo em relação aos de Mendel, alternativas, por exemplo,
havia uma situação muito particular a destacar: os indivíduos com a cor branca (ausência de
pigmentação). Nem sempre
olhos brancos eram todos machos e entre os de olhos vermelhos o alelo selvagem é dominante.
contavam-se duas fêmeas para cada macho.
• •
Geração parental
• • • •
Geração F1
(uniformidade
dos híbridos)
• •
Cruzamento
de híbridos da F1
• • • •
Geração F2
3 olhos vermelhos:
1 olhos brancos
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 113
Morgan efectuou então cruzamentos recíprocos, tal como Mendel
tinha feito (Fig. 31).
• •
Geração parental
• • • •
Geração F1
• •
Cruzamento
de híbridos da F1
A RETER • • • •
simbologia
Os trabalhos com Drosophila levaram à introdução de uma nova simbologia
para a indicação dos alelos. O alelo mais frequente numa população,
para uma determinada característica, é denominado normal ou
selvagem. Para o alelo que surge com menor frequência nos indivíduos
utiliza-se a designação de mutante.
A notação destes genes é dada pela letra inicial da palavra que refere
o primeiro alelo não selvagem (ou mutante) encontrado.
Assim, para a cor dos olhos em Drosophila, temos:
• alelo mutante — como determina a cor branca que em inglês é
«white», a letra usada é w;
• alelo selvagem — utiliza-se a letra do alelo mutante associada ao
símbolo (w +).
Representando-se a inicial do nome
do gene por letra minúscula, está
implícito que o alelo mutante
é recessivo em relação ao alelo
selvagem. Ao representar-se
o gene por letra minúscula, está
implícito que o alelo mutante
é recessivo em relação ao alelo w1 w
Olhos vermelhos Olhos brancos
selvagem.
114 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Como é que Morgan explicou os resultados obtidos?
Quadro 16
primeiro cruzamento
•
Fenótipo w+ w+
•
w+ w+ w
Genótipo w w+ w w+ w
XX XY
Gâmetas w+ w+ w w+ w+
Quadro 17
cruzamento recíproco
•
Fenótipo w w
•
w+
w w
Genótipo w+ w w+ w w+
XX XY
Gâmetas w w w+ w w
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 115
Quadro 18
cruzamentos primeiro cruzamento segundo cruzamento
Quadro 19
combinação de gâmetas
• •
Gâmetas w+ w w+ w
• •
w
w+ w+ w+ w+ w w w+ w w
Combinações
possíveis
w+ w w+ w
Quadro 20
relação genótipo-fenótipo F1
116 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
A interpretação de todos estes trabalhos, de acordo com a hipótese A RETER
colocada por Morgan (o alelo que determina a cor dos olhos nas Morgan concluiu que os genes
moscas-da-fruta encontra-se no cromossoma X), permitiu explicar se encontravam nos
cromossomas, estando alguns
todos os resultados obtidos. Por isso, começou a considerar-se que
deles nos cromossomas sexuais.
existem características cuja determinação é feita por alelos que se
encontram nos cromossomas sexuais, falando-se então em transmissão
de caracteres ligados ao sexo.
A continuação destes trabalhos permitiu confirmar a teoria
cromossómica da hereditariedade ao evidenciar que os genes se
encontram situados nos cromossomas.
ACTIVIDADE LABORATORIAL
Procedimento
1 — Prepare os frascos com meio de cultura conforme protocolo descrito no anexo I.
1 — Seleccione três machos de olhos brancos e três fêmeas de olhos vermelhos.
2 — Junte as moscas num frasco de cultura (A)(1). Mantenha a temperatura a 20-25 ºC.
3 — S eleccione três machos de olhos vermelhos e três fêmeas de olhos brancos.
4 — C oloque as moscas do cruzamento recíproco noutro frasco de cultura (B). Mantenha a temperatura
a 20-25 ºC.
5 — N o sétimo dia, retire os indivíduos adultos dos frascos (A) e (B) para que eles não se cruzem
com a descendência, que começará a eclodir da pupa no 11.º-14.º dias.
6 — No 14.º dia, retire as moscas do frasco A e anestesie-as conforme o procedimento descrito no
anexo II.
7 — C onte os machos e as fêmeas que apresentam cada um dos fenótipos e registe numa tabela.
8 — N o 14.º dia, retire as moscas do frasco B e anestesie-as (ver anexo II).
9 — C onte os fenótipos de machos e fêmeas e registe-os numa tabela.
10 — S
eleccione três machos e três fêmeas da geração F1 do frasco A e coloque-os num frasco
de cultura (C). Mantenha a temperatura a 20-25 ºC.
11 — S
eleccione três machos e três fêmeas da geração F1 do frasco B e coloque-os num frasco
de cultura (D). Mantenha a temperatura a 20-25 ºC.
12 — Q
uinze dias depois, retire as moscas do frasco C, anestesie-as e conte os machos e as fêmeas
que apresentam cada um dos fenótipos. Registe numa tabela.
13 — Q
uinze dias depois, retire as moscas do frasco D, anestesie-as e conte os machos e as fêmeas
que apresentam cada um dos fenótipos. Registe numa tabela.
Discussão
1 — Depois de observar com atenção os resultados destes cruzamentos, refira, justificando, se:
a) o alelo envolvido no fenótipo olhos brancos é dominante ou recessivo;
b) o gene envolvido na cor dos olhos das moscas é autossómico ou ligado ao sexo.
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 117
ACTIVIDADE LABORATORIAL
Segundo cruzamento
Material
• Frascos com meio de cultura (ver anexo I).
• Lote de moscas de linhagem pura de corpo cinzento
e asas longas.
• Lote de moscas de linhagem pura de corpo negro
e asas vestigiais.
• Funil.
• Algodão.
• Gaze.
• Frasco.
• Pincel.
Procedimento
1 — Seleccione três machos de corpo negro e asas vestigiais e três fêmeas de corpo cinzento e asas
longas.
2 — Coloque as moscas juntas num frasco de cultura (E)(1). Mantenha a temperatura a 20-25 ºC.
3 — S eleccione três machos de corpo cinzento e asas longas e três fêmeas de corpo negro
e asas vestigiais.
4 — Coloque as moscas do cruzamento recíproco noutro frasco de cultura (F). Mantenha a temperatura
a 20-25 ºC.
5 — N o sétimo dia, retire os indivíduos adultos dos frascos (E) e (F) para que eles não se cruzem com
a descendência, que começará a eclodir da pupa (sair do casulo) no 11.º-14.º dias.
6 — N o 14.º dia, retire as moscas do frasco E e anestesie-as (ver anexo II).
7 — C onte os fenótipos dos machos e das fêmeas e registe-os numa tabela.
8 — N o 14.º dia, retire as moscas do frasco F e anestesie-as (ver anexo II).
9 — Conte os fenótipos dos machos e das fêmeas e registe-os numa tabela.
10 — S
eleccione três machos e três fêmeas da geração F1 do frasco E e coloque-os num frasco
de cultura (G). Mantenha a temperatura a 20-25 ºC.
11 — S
eleccione três machos e três fêmeas da geração F1 do frasco F e coloque-os num frasco
de cultura (H). Mantenha a temperatura a 20-25 ºC.
12 — Quinze
dias depois, retire as moscas do frasco G, anestesie-as e conte os fenótipos dos machos
e das fêmeas. Registe numa tabela.
13 — Q
uinze dias depois, retire as moscas do frasco H, anestesie-as e conte os fenótipos dos machos
e das fêmeas. Registe numa tabela.
Discussão
2 — Depois
de observar com atenção os resultados destes cruzamentos, refira justificando, se:
a) os genes envolvidos se encontram em cromossomas diferentes ou ligados factorialmente
no mesmo cromossoma;
b) os genes envolvidos são autossómicos ou ligados aos cromossomas sexuais.
(1)
As culturas devem ser mantidas a cerca de 25º C e ao abrigo da luz solar.
118 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Árvores genealógicas
As árvores genealógicas são esquemas de famílias em que várias
gerações aparecem relacionadas através de simbologia própria. Embora
se utilizem também para o estudo de outras espécies, são particular-
mente importantes para a interpretação dos padrões de herança de
genes na espécie humana. No caso do homem, como não é possível
recorrer a métodos de análise de cruzamentos controlados para
estudar os modos de hereditariedade, recorre-se à construção de
árvores genealógicas, onde são representados os ascendentes e
descendentes de cada indivíduo, de modo a conseguir perceber a
origem de um dado fenótipo ou anomalia genética, bem como as
perspectivas de transmissão da mesma.
Através da análise de uma árvore genealógica, é possível deter-
minar se um certo alelo é recessivo ou dominante e ainda a sua
localização em autossomas (hereditariedade autossómica) ou em
cromossomas sexuais (hereditariedade ligada ao sexo).
Para elaboração de árvores genealógicas, utiliza-se uma simbo-
logia especifica, para que estas possam ser interpretadas em diferentes
situações por diferentes pessoas (Fig. 34).
Fêmea
Indivíduos normais
Casamento
Falecido
Pais e filhos:
Aborto ou nado-morto
(sexo desconhecido)
I Modo de identificação
1 2 de pessoas numa árvore
genealógica:
Gémeos verdadeiros neste caso — filho 2
(monozigóticos) II da 2.ª geração ou II-2
1 2 3
Sexo desconhecido
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 119
A árvore genealógica da figura 35 ilustra a transmissão de uma
anomalia genética e os indivíduos a negro são aqueles cujo fenótipo
manifesta a mesma. O fenótipo em estudo é determinado por um
alelo dominante (A): dois indivíduos afectados (II-6 e II-7) têm
filhos normais; se a anomalia fosse determinada por um alelo recessivo
só poderiam ter filhos afectados.
Neste caso, indicam-se ainda os genótipos dos indivíduos mas,
normalmente, estes não surgem explícitos nestes diagramas.
1 2
Aa aa
II
1 2 3 4 5 6 7
aa aa aa Aa aa Aa Aa
III
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
aa aa aa aa Aa aa Aa aa aa aa A– aa A–
ACTIVIDADE
1. Considere a árvore genealógica da figura 36, em que a negro se encontram representados os indivíduos
afectados por uma determinada anomalia. Analise-a atentamente antes de responder às questões.
1 2
1.1 Refira, justificando, se o alelo responsável pela anomalia em estudo é dominante ou recessivo.
1.2 Refira o genótipo de I-1, I-2 e II-1.
1.3 O indivíduo II-2 casou com uma mulher cujo genótipo é igual ao da sua mãe e teve um filho que
manifestava a anomalia em estudo e uma rapariga cujo fenótipo é igual ao da mãe.
1.3.1 Indique os genótipos deste casal e do filho.
1.3.2 Reescreva a árvore genealógica, incluindo este casamento e a respectiva descendência.
120 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Pela análise de uma árvore genealógica podemos perceber o
mecanismo de transmissão do gene responsável por uma determi-
nada característica, tendo em atenção alguns critérios decisivos.
I
1 2 3 4
II
1 2 3 4 5 6 7 8 9
III
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
IV
1 2 3
1 2 3 4
II
1 2 3 4 5 6 7
III
1 2 3 4 5 6 7 8 9
IV
1 2
V
1 2 3
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 121
Transmissão de um alelo dominante ligado ao cromossoma X
1 2 3 4
II
1 2 3 4 5 6 7
III
1 2 3 4 5 6 7 8 9
IV
1 2
1 2 3 4
II
1 2 3 4 5 6 7
III
1 2 3 4 5 6 7 8 9
IV
1 2
122 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Genética Humana
Já todos nos interrogámos porque somos parecidos com os nossos
pais e irmãos ou porque temos os cabelos lisos, encaracolados ou
ondulados. Algumas pessoas têm covinhas na face, outras no queixo,
algumas têm sardas, umas cruzam o polegar esquerdo sobre o direito
e outras são capazes de enrolar a língua em U. Todas estas caracte-
rísticas e outras, como algumas doenças metabólicas, são herdadas
através dos genes. Cada pessoa é um ser com combinações fenotípicas
únicas, pois a expressão génica assim o determinou e é resultado de
informação genética herdada dos seus antepassados.
O estudo da Genética Humana teve, ao longo do tempo, várias
limitações, como, por exemplo, o facto de o homem não poder ser
utilizado como cobaia em experiências, a taxa de fecundidade
humana ser baixa e o ciclo de vida longo. No decorrer dos últimos
anos, as técnicas de Genética e de análise molecular possibilitaram
o conhecimento de grande parte do genoma humano, permitindo a
descoberta e o estudo de doenças genéticas.
PESQUISAR E DIVULGAR
É possível, na comparação entre dois indivíduos, descobrir grande diversidade de fenótipos nas diferentes
características morfológicas. O aparecimento de um fenótipo em particular é determinado pela presença
de um par de alelos específicos.
Para algumas das nossas características morfológicas, são comuns os fenótipos:
• nariz aquilino/nariz curvado para cima;
• covinhas na face/ausência de covinhas na face;
• face oval/face quadrada;
• sobrancelhas separadas/sobrancelhas unidas;
• pestanas longas/pestanas curtas;
• olhos amendoados/olhos arredondados;
• lóbulo da orelha solto/lóbulo da orelha preso;
• queixo com covinha/queixo sem covinha;
• sobrancelhas largas/sobrancelhas finas;…
1 — Escolha algumas características e verifique na sua turma a frequência com que se manifestam os diferentes
fenótipos.
2 — Fotografe (se os colegas assim o permitirem) as formas alternativas (fenótipos) de cada característica.
3 — Informe-se junto dos seus colegas para saber como se manifesta a característica em estudo nos seus
progenitores.
4 — Descubra o alelo dominante para cada característica.
5 — Escreva o genótipo dos vários alunos (relativamente a essa(s) característica(s)).
6 — Organize toda esta informação num póster.
http://wapedia.mobi/pt/Gen%C3%A9tica_humana#4.
http://www.cienciaviva.pt/projectos/concluidos/genomahumano/artigos/
index.asp?lang=pt&accao=showTexto5&projecto=22
I
Polegar esquerdo
1 2 sobre o direito
Polegar direito
II sobre o esquerdo
1 2 3 4
III
1 2 3 4
1 2 Normais
II Com paramiloidose
1 2 3 4
III
1 2 3
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 125
Quadro 23 Dominância incompleta em genética humana
combinação de gâmetas
de indivíduos heterozigóticos
Os genes humanos não exibem sempre dominância ou recessi-
vidade. Um exemplo ilustrativo deste facto é o aspecto dos cabelos
• e E
• (Fig. 44). Por exemplo, um indivíduo com cabelo encaracolado e um
e ee eE indivíduo com cabelo liso terão filhos com cabelo ondulado e dois
E eE EE indivíduos de cabelo ondulado poderão ter descendentes de cabelo
E — alelo com informação para cabelo
liso, encaracolado e ondulado. Neste caso, os genótipos possíveis
encaracolado dos descendentes serão:
e — alelo com informação para cabelo liso
• 25% ee (cabelo liso);
• 50% eE (cabelo ondulado);
• 25% EE (cabelo encaracolado).
A B C
Fig. 44 Cabelo encaracolado (A); cabelo ondulado (B); cabelo liso (C).
hipercolesterolemia
A hipercolesterolemia familiar é uma doença caracterizada por elevadas
quantidades de colesterol total e LDL. Este aumento resulta da ausência
ou redução dos receptores das lipoproteínas de baixa densidade
(que permitem a eliminação do colesterol do sangue). Os indivíduos
homozigóticos possuem valores de colesterol entre os 600 e 1000 mg/mL
e os indivíduos heterozigóticos apresentam valores entre 300 e 500 mg/mL.
As consequências da existência de colesterol elevado (Fig. 46) são
aterosclerose precoce, doença coronária precoce e morte prematura.
Os indivíduos homozigóticos podem apresentar sintomas a partir dos
4/6 anos e os heterozigóticos a partir da adolescência.
A B
C D
A RETER
Fig. 45 Mãos (A e B) e olhos (C e D) com depósitos de colesterol em indivíduos
Na espécie humana existem com hipercolesterolemia.
características, em que se
verifica dominância incompleta O gene que codifica esta característica está situado no cromossoma 19 e
ou co-dominância, outras são um indivíduo heterozigótico apresenta metade dos receptores funcionais
determinadas por alelos
de um indivíduo normal; por isso, é considerado um caso de dominância
múltiplos, podendo ainda
ocorrer poligenia. incompleta.
126 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Alelos múltiplos em genética humana Quadro 24
Muitos genes humanos possuem mais do que duas formas alélicas, Grupo sanguíneo
ACTIVIDADE
Grupos sanguíneos
A P
3
Do cruzamento de dois indivíduos triplamente heterozigóticos
1
8
1
8
AaBbCc AaBbCc
genes cooperam aditivamente na produção de melanina.
1 1
8 8
B 1 1
8
C
8
1 1 1 6 15 20 15 6 1
8 8 64 64 64 64 64 64 64
1 1 20
8 8 64
1 1
8 8
1 1
8 8
1 1 15
8 8 64
1
Fracção da população
1
8 8
6
64
F2
1
64
Pigmentação da pele
AB AaBb
AB
AABB Ab
AABb aB
AaBB ab
AaBb
Ab
AB
(6/16)
fenótipos de fenótipos
AABb
AABB AAbb
AABb AaBb
AaBB Aabb
AaBb
(4/16) (4/16)
AaBb
AaBb aB
Ab AabB
Frequência de Frequência
(6/16)
(1/16) aaBb aAbB AAbb (1/16)
AaBB
AABb AaBb
AAbb aaBB
AaBb aaBb
Aabb
aabB aABb AAbB
(4/16) (4/16)
aAbb aaBB AaBB
AaBb
AaBb ab aabb Aabb AAbb aABB AABB
aB AabB
(1/16)
0 aaBb
1 aAbB
2 AAbb
3 (1/16)
4
AaBb
AaBB Aabb
AaBb aaBb
aaBB aabb
aaBb
aabBNúmero de alelos
aABb dominantes
AAbB
aAbb aaBB AaBB
Fig. 47
aabbVariações na
Aabbcor dos olhos.
AAbbCruzamento
aABBde gâmetas
AABB(A);
ab
curva
0
em sino, característica
1
de
2
poligenia aplicada
3
à cor4
dos
AaBb Aabb aaBb aabb
olhos (B). Número de alelos dominantes
128 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
doenças autossómicas
No quadro seguinte estão apresentadas mais algumas afecções do organismo
humano, herdadas de forma autossómica recessiva e dominante.
Quadro 25
doenças autossómicas
OMIM
designação Sintomas
(referência)
de capacidades motoras.
Deficiente produção de secreções,
Fibrose cística 219 700 infecções respiratórias,
ou quística
má digestão de lípidos.
Fenilcetonúria 261 600 Deficiência mental irreversível.
Movimentos descontrolados
Doença progressivos e mudanças
143 100
de Huntington na personalidade, com início
na meia-idade.
Intolerância
150 220 Incapacidade de digerir a lactose.
à lactose
Dedos extra nas mãos e/ou nos
Polidactilia 174 200
pés.
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 129
Os genes localizados no cromossoma X são transmitidos de pai
para filhas e de mãe para filhos e filhas. Os homens, por só possuírem
um cromossoma X, têm maior probabilidade de manifestarem os
alelos recessivos existentes neste cromossoma, uma vez que o
cromossoma Y não tem alelos homólogos a esses.
Os fenótipos determinados por alelos recessivos no cromossoma X
manifestam-se sempre nos homens que o herdaram e nas mulheres
homozigóticas recessivas. As mulheres heterozigóticas são portadoras
dos alelos. As mulheres afectadas têm pais afectados e mães portadoras
ou afectadas.
A ictiose grave é uma doença que é provocada por uma enzima
deficiente que bloqueia a remoção do colesterol das células da pele.
A camada superior não pode ser removida como normalmente, cau-
sando uma aparência acastanhada e ressequida (Fig. 49). Na figura
49 B observa-se uma árvore genealógica de um homem que transmitiu
o alelo ao seu neto através da sua filha, que é portadora, não apre-
sentando a doença; apesar disso, verifica-se que produz metade da
quantidade da enzima de uma pessoa que não apresenta a doença,
indicando que é portadora.
B I
1 2
II
1 2
III
1
II
1 2 3 4 5
III
1 2 3 4 5 6
IV
1
Fig. 50 Árvore genealógica de uma família que apresenta hemofilia.
XHXH XHXh
Alguns
Filha
dosFilha
hemofílicos mais famosos pertencem a famílias reais
Mulher não-portadora Homem normal
europeias,
normal cujoportadora
antepassado,Mulher
a rainha Vitória, era portador.
portadora Homem
A árvore
genealógica
XHY
mostra
XhY
a dispersão da doença entre as casas reais do
? Possível mulher portadora
hemofílico
Reino Unido,
Filho Alemanha,
Filho Espanha e Rússia. A rainha Vitória teve um
normal hemofílico
filho hemofílico e pelo menos duas filhas portadoras (Fig. 51).
Eduardo Vitória
A Duque Princesa de
I
de Kent Saxe-Coburg
II ?
Rainha Vitória
(descendentes
não afectados)
Leopoldo
III Duque Alice ?
de Albany Rei Eduardo VII Vitória Imperador Beatriz
Inglaterra Frederico III
Alemanha
Família real
inglesa
IV Alice
Alexandra Czar Nicolau II Irene Príncipe Henrique Rei Vitória
Rússia Prússia Afonso XIII
Espanha
V ? ? ?
? ? ? ? Alexis Família real alemã Afonso Gonçalo
Olga Tatiana Maria Anastásia Família real espanhola
Família real russa
VI ? ? B
II II ? ?
O alelo normal é representado por Rainha XH eVitória
oRainha
alelo que causa a
Vitória
h
hemofilia é representado por X . Para um homem apresentar esta
doença, basta possuir um alelo Xh ; para uma mulher ser hemofílica, (descendentes
(descendentes
não afectados)
não afectados)
tem de Leopoldo
apresentar
Leopoldogenótipo homozigótico recessivo (o seu pai tinha
Alice Alice
III III Duque Duque ? ?
de ser hemofílico e a sua mãe portadora).
de Albanyde Albany Rei Eduardo Eduardo VII Vitória Imperador
Rei VII Vitória Imperador
Beatriz Beatriz
InglaterraInglaterra Frederico Frederico
III III
AlemanhaAlemanha
Família real
Família real unidade 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 131
inglesa inglesa
Uma outra anomalia recessiva ligada ao cromossoma X é o dalto-
nismo, ou discromatopsia, cegueira para as cores. O tipo mais comum
desta alteração é a cegueira do verde-vermelho, em que os indivíduos
afectados não distinguem estas duas cores (Fig. 52). O alelo afectado,
localizado no cromossoma X, causa uma alteração nos cones — as
células fotorreceptoras responsáveis pela percepção das cores.
Existem também algumas anomalias provocadas por alelos
dominantes localizados no cromossoma X, como a incontinência
pigmentar ou síndrome de Bloch-Sulzberger. Nesta doença existem
lesões na pele e hiperpigmentação (Fig. 53), a que podem estar asso-
Teste ao daltonismo.
Fig. 52
ciadas a malformações oculares, dentárias, nas unhas, nos cabelos,
no sistema nervoso central e no sistema muscular e esquelético. Esta
doença é letal no sexo masculino.
A RETER Mulher
A B
XRXr heterozigótica
Na espécie humana, existem afectada
características/doenças cuja
herança está ligada aos
cromossomas sexuais. XR Xr Gâmetas
Homem
não afectado XRXr XrXr
Filha Filha não
Xr afectada afectada
XrY
Y XRY XrY
Gâmetas Filho Filho não
afectado afectado
Quadro 26
doenças ligadas ao cromossoma X
OMIM
designação Sintomas
(referência)
132 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
2 1 2 rganização e regulação
O
do material genético
ACTIVIDADE
O estudo do cariótipo humano é feito quando a célula se encontra em metáfase, já que nessa altura é
possível analisar o número, as formas e os tamanhos dos cromossomas. Neste estudo, a posição dos
centrómeros é também usada para comparar os cromossomas, agrupando os homólogos. Actualmente,
utilizam-se sondas coloridas que permitem reconhecer especificamente cromossomas ou determinadas
regiões cromossómicas.
1. Analise as imagens da figura 54 e os dados presentes no quadro 27 e responda às questões.
A B
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 133
Como se determina o sexo do indivíduo?
Início
do desenvolvimento Glande Orifício
F do pénis
G do pénis
H urogenital
Escroto Pénis
4 semanas 6 semanas
Cavidade
da uretra Ânus Escroto
Fig. 55 Os órgãos sexuais começam por ser idênticos em meninos e meninas (A e B).
A partir da sexta semana inicia-se a diferenciação. Na presença de hormonas
masculinas em circulação, os órgãos sexuais masculinos desenvolvem-se (F a H),
enquanto a ausência destas substâncias leva ao desenvolvimento de órgãos sexuais
femininos (C a E).
University Press
A masculinidade depende também de um gene localizado no
cromossoma X, que codifica o receptor do androgénio, e que, em
associação com a testosterona, é indipensável para a diferenciação
masculina. As mulheres, que apresentam um cariótipo 46, XY, Fig. 56 Mulher com síndrome
possuem órgãos genitais externos femininos — vulva —, mas não da insensibilidade aos androgénios.
apresentam útero. São estéreis e a sua situação é irreversível. Possuem
uma mutação que afecta o receptor de androgénio, tornando-o
insensível — síndrome da insensibilidade aos androgénios (Fig. 56).
Como consequência, o embrião desenvolve-se em consonância com
a falta de androgénios, diferenciando os órgãos genitais femininos.
DNA mitocondrial
mitocondrialhumano
humano CURIOSIDADE
(~17kb)
(~17 kb)
Em 1995, Greg Lemond, vencedor
por três vezes da volta à França em
bicicleta, foi obrigado a retirar-se,
devido a uma alteração ao nível da
capacidade dos seus músculos,
suspeitando-se que a doença tinha
por base uma mutação do DNA
mitocondrial.
Fig. 57 DNA mitocondrial.
Gene associado à respiração
Gene associado à respiração Gene para RNA ribossomal
celular
celular
Gene para RNA ribossomal u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 135
Gene para tRNA Gene sem expressão
Gene para tRNA Gene sem expressão
ACTIVIDADE
1. Analise atentamente a árvore genealógica seguinte, que representa o modo de transmissão de uma doença
na espécie humana.
I
1 2
II
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
III
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
1.1 Tente encontrar um padrão comum na transmissão do alelo responsável por esta doença.
1.2 Consegue explicar a transmissão deste alelo à luz dos padrões de transmissão hereditária já estudados?
1.3 Tente elaborar uma hipótese que justifique o modo de transmissão expresso na figura.
136 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
O alelo responsável pelo fenótipo siamês nos gatos é equivalente
ao alelo Ch, que determina a pelagem himalaia dos coelhos (Fig. 22).
Ambos codificam uma enzima que impede a produção de melanina a
baixas temperaturas.
Algumas características fenotípicas, em particular humanas, são
de expressão complexa, sendo determinadas por vários genes que
sofrem influências ambientais significativas. As características como
a altura e a cor da pele são exemplos de fenótipos que variam num
contínuo, entre extremos opostos (por exemplo, de muito claro a
muito escuro). Estas características designam-se por quantitativas,
porque a sua expressão está condicionada por múltiplos genes, cada
um deles com mais do que um alelo, e pela influência que o ambien- A RETER
te exerce sobre a expressão dos mesmos. A expressão dos genes depende
de vários factores, alguns deles
Por exemplo, a cor da pele resulta da expressão conjunta de vários ambientais.
genes, e é fortemente influenciada pela exposição à luz solar.
ACTIVIDADE
1. A Drosophila apresenta olhos constituídos por várias unidades receptoras de luz, as facetas. Os indivíduos
do tipo selvagem possuem olhos grandes, constituídos por muitas facetas (Fig. 59 B), enquanto os indivíduos
mutantes, infrabar (Fig. 59 C) e ultrabar (Fig. 59 D), apresentam um número menor de facetas. A expressão
dos alelos selvagens, infrabar e ultrabar, é influenciada pela temperatura.
A
1000
900
800 selvagem
700
600
500
N.º de facetas (receptores de luz)
400
300
infrabar
200
B C B3 100
90 ultrabar
80
70
60
50
0 15 20 25 30
Tiposelvagem
Tipo selvagem Infrabar
Infrabar Ultrabar
Ultrabar Temperatura ºC
1.1 A expressão fenotípica do alelo selvagem varia entre que número de facetas?
1.2 Comente a afirmação seguinte.
Os esquemas da figura 59 foram feitos a partir de animais que se desenvolveram a 15 ºC.
1.3 Comente a afirmação seguinte.
A expressão fenotípica da dimensão dos olhos em Drosophila não depende apenas do genótipo.
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 137
Regulação da expressão génica
A
As células não expressam todos os seus genes ao mesmo tempo;
tal fenómeno não só seria incomportável do ponto de vista energético,
como não revelaria a dinâmica própria dos seres vivos. A forma
como as células conseguem induzir ou reprimir a expressão dos
seus genes tem apaixonado os cientistas (Fig. 61) e será a resposta
para a compreensão de aspectos como a versatilidade da vida ou a
diferenciação celular. Os seres procariontes e eucariontes são capazes
de regular a expressão dos seus genes, ainda que sob formas diferentes.
Nos seres eucariontes, este fenómeno parece ser mais complexo, o
que poderá ser explicado tendo em conta os seguintes factores:
• há maior quantidade de informação genética nos seres euca-
riontes (as bactérias possuem um único cromossoma com um
B número de genes que não ultrapassa as centenas, enquanto,
por exemplo, as células humanas têm mais de 30 000 genes);
• a célula eucariótica é compartimentada, podendo a regulação
ocorrer em locais diferentes da mesma;
• nos seres eucariontes pode verificar-se a multicelularidade, obri-
gando as várias células a diferenciar-se em sentidos diferentes.
138 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
ACTIVIDADE
Interior
H OH H OH
Lactose
� Galactose
transacetilase
0 10 minutos � Galactosidase
Fig. 62 Variação da concentração enzimática. CH2OH
O
A — A E. coli é uma bactéria que vive no intestino HO H CH2
humano, estando sujeita a flutuações consideráveis OH H O
H H H H OH
de nutrientes disponíveis. Apesar de a glucose ser a
H OH OH H
sua fonte preferencial de energia, nem sempre este HO H
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 139
operão operon Nos seres procariontes, dois ou mais genes codificantes de prote-
promotor promoter ínas envolvidas numa mesma via metabólica, têm frequentemente
operador operator uma localização contígua no DNA e são controlados coordenadamente,
repressor repressor formando uma unidade estrutural — o operão (Fig. 64). Todos os
gene estrutural structural genes genes estruturais do operão são transcritos por um único mRNA.
gene regulador regulatory genes
indutor activators Operão
DNA
DNA
Repressor Repressor
activo activo
A RETER Triptofano
O operão é uma unidade
estrutural que permite o Repressor Repressor
controlo de genes codificantes inactivo inactivo
de proteínas que participam Operão da lactose Lactose Operão do triptofano
numa mesma via metabólica.
Fig. 66 O operão da lactose é do tipo indutível e o operão do triptofano é do tipo repressível.
140 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Como é regulado o operão da lactose (operão lac)?
DNA
B C
mRNA
A
Presença de lactose
DNA
RNA polimerase
C
mRNA
A
B D
Repressor
activo
Ausência de triptofano
DNA
Ptrp o e d c b
mRNA
mRNA transcrito
Tradução
vez activado,
Enzimas da via o repressor liga-se ao operador (Fig. 70 C), o que impede
metabólica
o do
funcionamento
triptofano
da RNA polimerase, não ocorrendo a transcrição
e d c b a
dos genes estruturais. Desta forma, sempre que há triptofano no
meio, o operão, que leva à produção das enzimas intervenientes na
via metabólica de síntese do mesmo aminoácido, é bloqueado.
Presença de triptofano
A DNA B C
Triptofano
co-repressor
DNA
mRNA
Ptrp o e d c b a
D
Repressor Repressor
inactivo activo RNA polimerase
A RETER
O operão do triptofano é do tipo repressível. A presença de
O operão da lactose é indutível
triptofano impede o operão de funcionar, não ocorrendo a produção
e o do triptofano é repressível.
das enzimas envolvidas na síntese do referido aminoácido.
142 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Em algumas situações podem ocorrer associações de operões regulão regulon
todos regulados de forma coordenada, por um mesmo regulador,
constituindo unidades designadas por regulão. Um exemplo de
Célula Células
regulão em bactérias é o que associa vários operões que metabolizam do embrionárias
açúcares, que podem ser metabolizados em glucose, como as moléculas pâncreas do cristalino Neurónio
de lactose e de arabinose.
• no processamento do mRNA;
Fig. 71 Esquema do processo
• na tradução; responsável pela diferenciação
• na pós-tradução. celular.
Núcleo
Proteína activa/inactiva
DNA
Controlo:
Controlo: transcrição tradução Controlo:
pós-tradução
mRNA inactivo
Controlo: processamento
pré-mRNA do mRNA
mRNA
mRNA
Controlo:
estabilidade
Controlo: transporte do mRNA
Fig. 72 Vários momentos onde pode ocorrer, em seres eucariontes, o controlo
da expressão génica.
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 143
O controlo da expressão génica pode ocorrer impedindo a
transcrição de determinados genes; tal pode dever-se a vários factores.
• Estrutura da cromatina — a modificação química de proteínas
constituintes da cromatina e o estado de compactação do
DNA podem dificultar o acesso à transcrição de alguns genes.
• Factores de transcrição — nos seres eucariontes, a RNA
polimerase só se liga ao promotor depois de outras proteínas
— os factores de transcrição (FT) — o fazerem. Os FT reco-
nhecem e ligam-se a determinadas sequências de DNA. Algumas
destas sequências são muito comuns (exemplo da TATA box,
pequena sequência de DNA composta pelos nucleótidos
timina e adenina), outras são específicas de um grupo restrito
de genes. Algumas destas sequências menos comuns são
reconhecidas por um número restrito de FT, os quais só
existem em determinados tecidos, controlando-se deste
modo a diferenciação celular.
• Sequências reguladoras — o promotor dos seres eucariontes
é composto por sequências específicas para a ligação da RNA
polimerase, de factores de transcrição e de outras proteínas
reguladoras (Fig. 73). Enquanto nos seres procariontes os genes
codificantes de proteínas envolvidas na mesma via metabólica
estão geralmente dispostos contiguamente num único operão,
nos seres eucariontes podem estar dispersos num ou em vários
cromossomas. Normalmente estes genes possuem sequências
reguladoras idênticas, pelo que são activados e inactivados
pelas mesmas proteínas reguladoras.
O controlo da expressão génica pode ocorrer ainda durante a
maturação do RNA pré-mensageiro. A um só RNA pré-mensageiro
podem vir a corresponder vários mRNA. Durante este processo,
ocorre remoção de intrões e ligação de exões. Seleccionando diferentes
exões, poder-se-ão obter resultados diferentes (Fig. 74). Este processa-
mento diferencial de um mesmo gene em células diferentes origina
um padrão de expressão específico de um determinado tecido.
PROMOTOR
Factores de transcrição
RNA polimerase
Proteína
reguladora
144 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Pré-mRNA para a 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
tropomiosina: 11 exões
Exão Intrão
Diferentes processamentos em diferentes tecidos
permitem formar mRNA diferentes
Músculo esquelético
Falta o exão 2.
1 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Músculo liso
Faltam os exões 3 e 10.
1 2 4 5 6 7 8 9 11
Fibroblastos
Faltam os exões 2, 3, e 10.
1 4 5 6 7 8 9 11
Fígado
Faltam os exões 2, 3, 7 e 10.
1 4 5 6 8 9 11
Cérebro
Faltam os exões 2, 3, 10 e 11.
1 4 5 6 7 8 9
S S S S
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 145
Conceitos/Palavras-chave
Necessários Essenciais Complementares
Síntese de conhecimentos
• Nos trabalhos de monoibridismo, Mendel estudou a transmissão, isoladamente, dos alelos responsáveis
pelas sete características da ervilheira-de-jardim com que trabalhou.
• A partir destes trabalhos, Mendel elaborou a Primeira Lei, que se refere à separação dos alelos durante a
formação dos gâmetas.
• Mendel usou os cruzamentos-teste para descobrir os genótipos desconhecidos.
• A co-dominância e a dominância incompleta são situações em que não se verifica dominância completa
de qualquer um dos alelos.
• Mendel estudou a transmissão simultânea de dois genes. A partir destes trabalhos, elaborou a Segunda
Lei, que se refere à segregação independente dos vários pares de alelos na formação dos gâmetas.
• Quando os genes se encontram no mesmo cromossoma, diz-se que se encontram ligados factorialmente
e são transmitidos em bloco, excepto se ocorrer crossing-over na região cromossómica que os separa.
• Muitas características genéticas são determinadas por mais do que um par de alelos — poligenia.
• Apesar de cada indivíduo diplonte possuir apenas dois alelos de cada gene, podem existir na população
mais do que dois alelos alternativos — alelos múltiplos.
• Alguns alelos, em homozigotia, podem provocar a morte do indivíduo — alelos letais.
• Os trabalhos de Morgan com Drosophila permitiram apoiar a Teoria Cromossómica da Hereditariedade,
que, basicamente, reconhece que os genes se encontram nos cromossomas.
• Morgan provou que existiam características cujos genes se encontravam nos cromossomas sexuais,
passando a referir-se a hereditariedade ligada ao sexo.
• Na espécie humana existem exemplos relativos à hereditariedade autossómica e aos cromossomas sexuais.
• As características fenotípicas são da responsabilidade de genes, porções de DNA que, conjuntamente
com as histonas, constituem a cromatina/cromossomas.
• Nos seres eucariontes existe material genético extranuclear — o DNA mitocondrial e o DNA plastidial
(este último, só nas células vegetais).
• A expressão de um gene depende da influência de outros genes e do meio ambiente.
• Nos seres procariontes, os genes que codificam enzimas da mesma via metabólica estão organizados
em operões, constituídos por genes estruturais, regiões reguladoras, promotor e operador. A expressão
génica dos operões pode ser indutiva ou repressiva.
• Nos seres eucariontes, a regulação da expressão génica pode ocorrer em qualquer etapa da síntese
proteica (antes da transcrição até depois da tradução).
146 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
ACTIVIDADES
Património genético
1. Elabore um mapa de conceitos relativo à transmissão de características hereditárias.
termos expressões
3. Nos dálmatas, a surdez é uma anomalia relativamente comum. Um animal surdo pode ser
descendente de dois progenitores com audição normal. Responda às questões.
3.1 Qual é o alelo dominante para esta
característica? Justifique a sua resposta.
3.2 Quais são os genótipos dos progenitores,
e do descendente referidos no enunciado?
3.3 Suponha que de um cruzamento entre
animais de audição normal surge um
único filho sem problemas de audição.
Poder-se-á definir, com absoluta certeza,
o genótipo do descendente?
3.3.1 Em que situação se poderia
conhecer o genótipo deste animal?
4. Em determinada espécie vegetal, a cor das flores pode ser branca, vermelha ou rosa. Num
cruzamento (A) entre duas plantas com flor rosa obtêm-se os resultados expressos na
imagem seguinte.
4.1 Com base na análise dos A B
resultados do cruzamento A,
indique:
a) o genótipo dos progenitores;
b) a proporção fenotípica da F1;
c) o tipo de dominância que Rosa Rosa
X Branca
se verifica entre os alelos.
4.2 Num outro cruzamento (B),
obtiveram-se 50% de plantas
com flores brancas e 50%
de plantas com flores rosa.
Qual deverá ser o fenótipo
e o genótipo da planta X?
4.2.1 Apresente um quadro de F1
cruzamento que explique
os resultados obtidos no
cruzamento B.
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 147
ACTIVIDADES
6. Em Drosophila, a cor dos olhos pode ser vermelha ou branca. Atendendo à figura, e sabendo que
as moscas fêmeas de olhos vermelhos têm descendentes machos sempre com olhos vermelhos,
indique:
Geração parental
Forma normal Forma mutante
Olhos vermelhos Olhos brancos
Geração F1
9. Comente a afirmação.
Se uma determinada doença humana é da responsabilidade de um alelo dominante situado
no cromossoma X, um homem doente terá sempre filhas doentes independentemente do genótipo
da mulher.
148 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
10. As prímulas são plantas que podem ser longas ou curtas e os estigmas das flores podem ser verdes
ou vermelhos. Plantas longas com estigmas verdes (linhagem pura) foram cruzadas com plantas
curtas com estigmas vermelhos (linhagem pura). Na geração F1, foram obtidas 100% de plantas
longas com estigmas verdes. Cruzando-se um indivíduo da geração F1 com um indivíduo homozigótico
recessivo obtiveram-se os descendentes descritos no quadro seguinte.
11. Nos ratos é possível encontrar duas cores de pelagem: escura e amarela. Depois de efectuados
vários cruzamentos, obteve-se um padrão comum:
A — Ratos escuros ratos escuros 100% de ratos escuros
B — Ratos escuros ratos amarelos 50% de ratos escuros 50% de ratos amarelos
C — R
atos amarelos ratos amarelos 67% de ratos amarelos 33% de ratos escuros
11.1 Da análise dos resultados indique, justificando,
qual é o alelo recessivo.
11.2 Justifique a afirmação seguinte.
O cruzamento B podia ser considerado um
cruzamento-teste e um retrocruzamento.
11.3 Utilizando a simbologia seguinte (A y — alelo
responsável pela cor amarela, e A — alelo
responsável pela cor escura), justifique os
resultados obtidos no cruzamento C, recorrendo a um quadro de cruzamento.
11.4 As proporções obtidas em C não seriam explicadas pelos trabalhos de Mendel. Justifique de que
forma este tipo de herança constituiu uma excepção aos trabalhos de Mendel.
12. Considere uma espécie hipotética de plantas para as quais é possível encontrar uma diversidade
de flores, com os fenótipos representados na figura.
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 149
ACTIVIDADES
12.1.2 Considere que se cruza uma planta de flor amarela com uma planta heterozigótica
de flor laranja. Que fenótipos são esperados na descendência e em que proporções?
Justifique a sua resposta recorrendo a um quadro de cruzamento.
12.2 Seleccione a opção que completa correctamente a afirmação seguinte.
O mecanismo genético de transmissão da cor nestas plantas é…
A — … monoibridismo, da responsabilidade de dois pares de alelos situados em cromossomas
diferentes.
B — … monoibridismo, da responsabilidade de dois pares de alelos situados no mesmo
cromossoma.
C — … diibridismo, da responsabilidade de dois pares de alelos situados em cromossomas
diferentes.
D — … diibridismo, da responsabilidade de dois pares de alelos situados no mesmo cromossoma.
2
31
30
3
de uma hipotética doença numa família,
4
29
III
estando os indivíduos doentes 5 24
28
1
representados a negro.
23
27
6
2
11
1
22
26
13.1 Com base em dados da figura,
10
II
25
justifique as afirmações.
21
9
3
2
A — A doença é da
20
8
7
responsabilidade
19
1 2
4
7
8
de um alelo dominante.
18
5
3
9
17
B — O alelo responsável por esta 4
5
6
6
10
16
doença não se situa no
24
7
15
8
cromossoma X. 9
14
13
23
C — O alelo responsável por esta 10 11 12
22
11
12
doença não se situa no
21
12
20
cromossoma Y. 14
19
18
D — O indivíduo I-1 é heterozigótico. 15 16 17
14. Analise a descrição seguinte e responda às questões. Uma mulher com sangue tipo 0 teve um filho
do cruzamento com um homem de tipo sanguíneo B, cuja mãe era de grupo sanguíneo AB e cujo
pai era de grupo sanguíneo 0.
14.1 Esquematize a árvore genealógica desta família.
14.2 Calcule a probabilidade de a criança ter grupo sanguíneo de:
a) tipo 0; b) tipo A; c) tipo B; d) tipo AB.
15. Observe a árvore genealógica seguinte, em que os indivíduos afectados se encontram representados
a negro, e responda às questões.
15.1 Seleccione a opção que completa correctamente a afirmação seguinte.
O tipo de transmissão representado é…
A — … autossómico recessivo. I 1 2
B — … ligado ao cromossoma Y.
C — … dominante e ligado
ao cromossoma X. II 1 2 3 4 5 6 7 8 9
D — … recessivo e ligado
ao cromossoma X.
III 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
IV 1 2
150 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
15.2 Explicite o raciocínio que desenvolveu para responder à questão anterior.
15.3 Seleccione a opção que completa correctamente a afirmação seguinte.
Esta árvore genealógica poderia representar um caso de…
A — … daltonismo.
B — … incontinência pigmentar.
C — … hemofilia.
D — … trissomia 21.
E — Nenhuma das opções anteriores.
16. Construa uma árvore genealógica de uma família hipotética, indicando os genótipos de todos
os elementos, com base nos dados fornecidos:
A — É transmitida uma anomalia com padrão de transmissão autossómica recessiva.
B — Os progenitores são ambos heterozigóticos.
C — Existem quatro descendentes (três rapazes e uma rapariga).
D — Só um dos filhos (rapaz) manifesta a anomalia.
E — A filha casou com um indivíduo homozigótico recessivo, tendo uma filha com a anomalia.
17. Observe atentamente a figura, que representa um mecanismo de regulação génica em bactérias.
A B
X Y Z X Y Z
R 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 DNA
Tradução
R R + I RI
1 2 3 4 5
Proteínas
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 151
mutação mutation 2 2 Alterações do material
genético
Pela primeira vez na história, tornamo-nos engenheiros da própria vida.
O Século Biotech, J. Rifkin
DNA
Gene 2
Gene 1
Gene 3
3’ 5’
A C C A A A C C G A G T
DNA
Transcrição Transcrição
RNA
U G G U U U G G C U C A
5’ 3’
Tradução
Proteína Trp Phe Gly Ser
Fig. 76 A síntese proteica ficará posta em causa se estes fenómenos não ocorrerem
correctamente.
2 2 1 Mutações
Mutações génicas
Estas mutações atingem apenas um ou poucos nucleótidos do DNA;
no entanto, isso pode causar a alteração da sequência de aminoácidos da
proteína que o mesmo codifica, o que pode ter consequências mais
ou menos graves para o ser vivo.
ACTIVIDADE
N UMC ÉUS EMS OLN EML UAN ÃOV ÊSC OR
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 153
Tal como na simulação referida na actividade anterior, também
o DNA pode sofrer, durante sua replicação, erros que resultarão no
aparecimento de uma nova sequência de nucleótidos e, portanto, de
um novo alelo mutante.
mutaçÕes
Originais UAC – A CC
mRNA CCA – GAG – ACU UUC – UGG – GCU UAC – ACC – ACG
– ACG – A
aa Pro – Glu – Tre Fen – Tri – Ala Tir – Tre – Tre Tir – Tre – Tre
ATG – C(2) TG
DNA GGT – CAC – TGA AAG – CAC – CGA ATG – GGT – GCT
Após mutação – GTG – C
de um UAC – GAC
nucleótido mRNA CCA – GUG – ACU UUC – GUG – GCU UAC – CCA – CGA
– CAC – G
do DNA
aa Pro – Val – Tre Fen – Val – Ala Tir – Pro – Arg Tir – Asp – His
(1) (2)
Saiu da cadeia de DNA; Entrou na cadeia de DNA.
154 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Alguns exemplos de mutações humanas
Existem vários exemplos de mutações na espécie humana. Muitas
delas, por conferirem malformações incompatíveis com a vida,
resultam na morte pré-natal dos indivíduos, enquanto outras resultam
em várias anomalias que podem limitar em diferentes graus a vida
daqueles que as possuem. Um exemplo: a anemia falciforme.
A causa deste problema está relacionada com a formação da
cadeia beta da hemoglobina (Fig. 77), que é uma proteína que faz Fig. 77 A hemoglobina é uma proteína
parte dos glóbulos vermelhos e é responsável pela fixação do oxigénio globular que constitui as hemácias.
que as hemácias transportam para as células.
Uma mutação génica no cromossoma 11 vai originar a formação
da hemoglobina S, diferente da A, que é a normal (Fig. 78).
3’ 5’ 3’ 5’
C T T C A T
mRNA mRNA
G A A G U A A RETER
5’ 3’ 5’ 3’
As mutações génicas podem
dever-se à substituição,
inversão, deleção ou inserção
Hemoglobina normal Hemoglobina mutante de nucleótidos na cadeia
Glu Val
de DNA em replicação.
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 155
alterações génicas
No quadro seguinte podem encontrar-se outras alterações que correspondem
a mudanças em proteínas essenciais ao funcionamento do organismo.
Quadro 29
Padrão
OMIM de transmissão Alguns sinais
Designação Proteína
(referência) alterações / e sintomas
/ cromossoma
Autossómica
Deposição de fibras
dominante;
de amilóide nas
Transtirretina substituição da
Paramiloidose 176300 células, o que
(TTR) valina por metionina
provoca morte
na posição 30;
celular.
cromossoma 18.
Autossómica
dominante;
receptores de LDL Colesterol elevado;
Hipercolesterolemia Receptores
143890 deficientes causam ataques cardíacos
familiar de LDL
acumulação de precoces.
colesterol no sangue;
cromossoma 19.
Autossómica
recessiva;
aminoácido
em falta altera
a conformação dos Infecções
Regulador
canais de cloro em pulmonares
Fibrose quística transmembranar
602421 certas membranas frequentes.
ou cística da fibrose
de células epiteliais. Insuficiência
quística
As secreções são no pâncreas.
espessas ou sólidas
e podem obstruir
as glândulas;
cromossoma 7.
Autossómica
dominante;
esta doença
está associada Disfunção
Doença a repetições progressiva
143100 Huntingtina
de Huntington exageradas motora, psicológica
do tripleto CAG e cognitiva.
no gene da
huntingtina situado
no cromossoma 4.
Autossómica
dominante; afecta
o tecido conjuntivo, Membros longos.
o que provoca Dilatação da aorta.
Síndrome
154700 Fibrilina alterações Dedos longos.
de Marfan
no esqueleto, Deformação
no sistema ocular torácica.
e cardiovascular;
cromossoma 15.
Recessiva ligada
ao cromossoma X;
factor de
Coagulação
coagulação ausente
Hemofilia A 306700 Factor VIII do sangue lenta
ou deficiente causa
ou ausente.
hemorragias
incontroláveis;
cromossoma X.
156 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Mutações cromossómicas duplicação duplication
translocação translocation
Também nos cromossomas podem ocorrer, ocasionalmente,
deleção deletion
mutações. Muitas destas mutações, ao contrário das que ocorrem ao
inversão inversion
nível dos genes, podem ser detectadas através de exames médicos e/ou
análises clínicas específicos.
Mutações estruturais
Este tipo de mutações corresponde a alterações na morfologia e
estrutura do cromossoma devido a porções (que incluem um número
variado de genes) que se repetem, que trocam de local ou que desa-
parecem. Embora em alguns destes casos não ocorra perda de genes,
já que estes apenas trocaram de local, isso não impede a manifestação
de problemas de gravidade mais ou menos elevada no indivíduo,
pois a expressão génica pode ficar comprometida.
Duplicação — Neste caso, produzem-se segmentos cromossó-
micos repetidos, uma ou várias vezes (Fig. 80).
Translocação — Nesta situação, ocorre a ligação de uma porção
de um cromossoma a outro cromossoma diferente, não homólogo.
Esta troca pode, ou não, ser recíproca (Fig. 81).
Deleção — Considera-se que ocorreu este tipo de mutação
quando é eliminado um segmento cromossómico (que pode incluir
um número de genes variado) do cromossoma (Fig. 82).
Inversão — Esta mutação não origina perda de material genético.
Uma sequência de DNA surge orientada na direcção oposta à que se
encontrava originalmente (Fig. 83).
A B C D E F G Cromossoma normal A B C D E F G H I J
Cromossoma K L M N
com um segmento
A B C D E D E F G
repetido
Translocação recíproca
A B C D E D E D E D E F G A B C D E F G N
Duplicação.
Fig. 80 Fig. 81 Translocação.
AA BB C DD EE F F G G H H I IJ J A B C D E F G H I J
Os segmentos G, H e I
Segmento
SegmentoC Csofreu deleção
sofreu deleção surgem em posição invertida
no cromossoma
A B D E F G H I J A B C D E F I H G J
A B D E F G H I J
Deleção.
Fig. 82 Fig. 83 Inversão.
158 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Mutações numéricas poliploidia polyploidy
haploidia haploidy
Durante a divisão celular podem também ocorrer fenómenos
polissomia polisomy
que levam a que as novas células sejam portadoras de um número
monossomia monosomy
anormal de cromossomas. Quando este fenómeno ocorre durante a
nulissomia nullisomy
meiose, formam-se gâmetas diferentes do que seria normal e, caso
os mesmos sejam usados na fecundação, a anomalia será herdada
pelo novo indivíduo.
A euploidia consiste na alteração numérica de todo o conjunto A RETER
cromossómico básico (n), gerando-se indivíduos ou células com As mutações cromossómicas
um número múltiplo daquele (2n, 3n, 4n, …). numéricas incluem as
aneuploidias e as poliploidias.
A poliploidia é uma situação em que, para todos os cromossomas,
a célula apresenta três ou mais cromossomas em vez dos pares de
homólogos normais. Esta alteração é letal para a espécie humana e
para muitos outros seres vivos. No entanto, em várias plantas, o
aparecimento de múltiplos do número básico de cromossomas pode
não representar um obstáculo à sobrevivência e, antes pelo contrário,
trazer vantagens, como, por exemplo, a produção de frutos de maiores
dimensões ou ainda, o aparecimento de novas espécies. Por isso,
através de trabalhos laboratoriais, o homem procede, actualmente,
com frequência, à indução deste fenómeno em espécies de plantas.
Pode ainda surgir um outro tipo de alteração a nível da ploidia
das células, levando a que apenas se encontre presente um repre-
sentante de cada par de homólogos — esta é uma situação de
haploidia (que não deverá ser confundida com a situação normal
existente em células haplóides como os gâmetas, os esporos, as per-
tencentes a estruturas como gametófito ou a machos de abelhas e
formigas que se desenvolvem a partir de ovos não fecundados).
Na aneuploidia, a célula apresenta alterações numéricas de um A RETER
ou mais cromossomas, mas nunca de todo o conjunto cromossómico
básico. aneuploidia
1. Considere a figura seguinte, que representa os acontecimentos numa célula, em algumas das etapas
da meiose (I e II). Sabendo que a célula inicial, diplóide, possui dois pares de cromossomas homólogos,
responda às questões.
n�1 A
n�1 B
n�1 C
1.1 Qual deveria ser o número de cromossomas em cada gâmeta desta espécie?
1.2 Se o gâmeta A fosse um espermatozóide e fecundasse um oócito II normal, qual seria o resultado
encontrado no ovo?
1.3 Como designaria a alteração cromossómica verificada nesse ovo?
1.4 O que aconteceria se o espermatozóide usado na fecundação fosse o C?
1.5 Qual é a designação a aplicar à situação aqui verificada?
Fig. 86 Cariótipo (A) e malformação (B) de uma criança com síndrome de Patau.
A B
Fig. 87 Cariótipo (A) e malformação (B) de uma criança com síndrome de Edwards.
Trissomia 21
Esta é a aneuploidia autossómica mais comum em nados-vivos.
Encontra-se descrita desde 1866 e desde 1959 que se sabe estar
ligada ao cromossoma 21 (Fig. 88).
O desenvolvimento das capacidades destas pessoas é lento, mas
um ambiente estimulador precoce é favorável ao desenvolvimento
do seu potencial intelectual máximo.
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 161
CURIOSIDADE
Nos Estados Unidos existem A B
cerca de 350 000 pessoas com
trissomia 21.
Quadro 30
Casal de indivíduos com
Fig. 89
consequências da não disjunção
trissomia 21.
situação Oócito espermatozóide consequência
Síndrome de Klinefelter
Os homens que têm esta síndrome são estéreis, altos e magros,
têm os membros inferiores relativamente longos (Fig. 90), hipogonadis-
mo (os testículos permanecem pequenos) e os caracteres sexuais
secundários são subdesenvolvidos. Têm níveis de estrogénio mais
elevados do que os de testosterona, o que leva ao desenvolvimento
das glândulas mamárias. Podem ter problemas sociais e/ou de
aprendizagem.
162 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
As injecções de testosterona durante a puberdade podem induzir
o desenvolvimento das características sexuais secundárias, favorecendo
a sua auto-estima.
A B
Síndrome do triplo X
As mulheres que apresentam esta síndrome são fenotipicamente
normais, pelo que desconhecem a sua doença. Estas mulheres podem
ter um grau de inteligência menor, são altas, férteis (em alguns casos
são estéreis), podendo entrar na menopausa precocemente. As
crianças que nascem com esta síndrome não evidenciam os sintomas
logo após o nascimento, mas podem apresentar baixo peso.
Síndrome de Turner
As mulheres com síndrome de Turner são mais baixas do
que a média da população feminina, são estéreis, pois possuem
ovários atrofiados e sem folículos, e podem apresentar pregas de Fig. 91 Cariótipo de uma pessoa
pele no pescoço (Fig. 92). Não desenvolvem caracteres sexuais com síndrome do triplo X.
secundários, pois apresentam baixos níveis de estrogénios. Podem
ter anomalias renais e cardiovasculares.
Têm desenvolvimento mental normal. A aplicação de estrogénios
pode melhorar as suas características sexuais secundárias.
A B
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 163
agente mutagénico mutagens Síndrome de Jacobs
Os homens com síndrome de Jacobs (Fig. 93) são altos, apresentam
distúrbios motores e na fala, níveis de testosterona elevados, o que
poderá justificar um aumento de agressividade. São geralmente
emocionalmente imaturos e têm dificuldades de relacionamento
interpessoal.
164 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Os agentes mutagénicos podem ser de natureza diversa. oncogene oncogene
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 165
Gene supressor tumoral A activação errada dos proto-oncogenes, por acção das mutações,
vai fazer com que, transformados em oncogenes, estimulem de forma
desregulada os factores de crescimento, levando à divisão celular
constante. Por outro lado, a activação dos que interferem na apoptose
Proteína inibidora vai fazer com que a impeçam, mantendo células, que deveriam ser
da divisão celular eliminadas, em divisão.
Foram também identificados genes que funcionam como inibi-
Divisão celular controlada dores da divisão celular e que, durante o processo de formação de
cancro, se encontram inactivos: são os genes supressores de tumores
(Fig. 95). Estes genes actuam normalmente através da regulação do
ciclo celular, codificando proteínas que o bloqueiam em determinadas
fases; por exemplo, existe um gene supressor dos tumores que se
localiza no cromossoma do par 17 e codifica a formação de uma
Mutação proteína p53, que detém a divisão celular na fase G1 da interfase,
impedindo a entrada prematura na fase S (Fig. 96).
No entanto, as mutações não actuam da mesma forma nestes
dois tipos de genes: a mutação de um alelo de um oncogene é suficien-
Proteína
inibidora te para que este se torne cancerígeno, no caso dos genes supressores
da divisão dos tumores é requerida a alteração dos dois alelos para desenvolver
celular inactiva
cancro (Fig. 97).
Os processos que levam ao desenvolvimento de uma célula
cancerosa a partir de uma normal são bastante complexos e resultam
da interacção entre o genoma e o ambiente.
Embora existam factores que actuam de modo a desencadear os
processos que levam ao início da formação do tumor, a informação
5 Os genes supressores de tumores
Fig. 9
expressa no genótipo do indivíduo é fundamental para levar, ou
inibem a divisão celular. Quando não, à formação do cancro. A duração da exposição aos agentes mu-
estes genes sofrem mutações, tagénicos e a intensidade da acção dos mesmos também influencia
podem tornar-se inactivos todo o processo de desenvolvimento de tumores.
(se em homozigotia).
A importância relativa da componente genética e da componente
ambiental é também diversa consoante o tipo de cancro considerado.
Por exemplo, no caso do melanoma, tipo de cancro que pode surgir
na pele, existe uma grande relação entre o aparecimento do mesmo
Rb (proteína retinoblastoma) actua
e a exposição excessiva às radiações ultravioletas do Sol.
Cancro
na transição G1/S , impedindo
X X X
a duplicação prematura de DNA.
A maioria das pessoas Se o outro alelo
nasce com 2 alelos normais sofrer mutação,
dos genes supressores Mutação o indivíduo deixa
dos tumores. de um dos alelos. de ser heterozigótico.
M
G2
Cancro
G1 X X X
S
166 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Cancro
X X
2 2 2 Fundamentos da Engenharia Genética
ACTIVIDADE
Enzimas de restrição
1. Analise atentamente a imagem e as informações que lhe são fornecidas e responda às questões.
A — Descobriu-se que algumas bactérias conseguem Local de restrição
resistir à infecção dos vírus que as parasitam 5' 3'
G A A T T C
(bacteriófagos). Estas bactérias defendem-se,
C T T A A G
produzindo enzimas — enzimas de restrição —, 3' 5'
as quais seccionam o DNA viral, fragmentando-o
em pequenas porções inofensivas. Estas mesmas
Eco R1
enzimas não atacam o DNA endógeno das
bactérias, dado que este se encontra modificado
por metilação em algumas partes. 5' 3'
G A A T T C
B — Cada enzima de restrição corta ligações entre C T T A A G G
o grupo hidroxilo 3’ de um nucleótido e o grupo 3' 5'
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 167
enzimas de restrição restriction enzymes As enzimas de restrição são das ferramentas mais importantes
DNA ligase DNA ligase usadas em Engenharia Genética. Elas reconhecem determinadas
transcritase reversa reverse transcriptase sequências nucleotídicas do DNA e fragmentam a molécula sempre
que encontrem essa sequência, produzindo extremidades coesivas.
DNA de diferentes origens sob a acção de uma mesma enzima
de restrição origina fragmentos de DNA, que, por possuírem extre-
midades coesivas complementares, poderão vir a unir-se, dando
espaço para a criação de moléculas com DNA de origens diversas.
A RETER Outra categoria de enzimas importantes em Engenharia Genética
As enzimas de restrição, a DNA são as DNA ligase. Estas enzimas promovem as ligações entre
ligase e a transcritase reversa nucleótidos de duas moléculas de DNA. Quando duas extremidades
são três das enzimas muito coesivas de dois fragmentos de DNA, obtidos sob acção das enzimas
usadas pela Engenharia Genética.
de restrição, são postas em contacto, elas tendem a emparelhar, devido
à complementaridade de bases, cabendo a ligação final dos frag-
mentos à DNA ligase. Desta forma, obtém-se uma molécula única
de DNA, com origem múltipla.
Um outro tipo de enzima fundamental em Engenharia Genética
é a transcritase reversa (Fig. 99).
mRNA
Transcritase
reversa Inicia-se a produção de uma cadeia de DNA
por complementaridade de um molde de RNA.
2—D
estruição da cadeia de mRNA.
DNA
Princípios Discussão
Conceitos Resultados
Procedimento (1)
1 — Corte três tiras de papel quadriculado com cerca de 30 cm de comprimento por 3 cm de altura.
2 — Na parte superior de uma tira construa um fragmento de uma cadeia 5’–3’ de DNA, escrevendo
uma sequência aleatória de 40 bases, tendo o cuidado de repetir, de vez em quando, a seguinte
sequência: AAG CTT.
3 — Na parte inferior da tira, construa por complementaridade a cadeia 3’–5’.
4 — Simule a acção da enzima de restrição Hind II (esta corta o DNA sempre que encontra a sequência
5’ AAG CTT3’) sobre a sua «molécula de DNA», recorrendo a uma tesoura.
5 — Tente unir os fragmentos de DNA obtidos por si aos do seu parceiro de grupo.
6 — Repita os passos 2 e 3, mas desta vez repita a sequência AAG CTT numa das moléculas de DNA
e a sequência GAA TTC na outra.
7 — Simule a acção da enzima de restrição Hind II (esta corta o DNA sempre que encontra a sequência
5’ AAG CTT3’) sobre a sua «molécula de DNA», recorrendo a uma tesoura, enquanto o seu
parceiro deve simular a acção da enzima de restrição Eco R1 (esta corta o DNA sempre que
encontra a sequência 5’ GAA TTC 3’) na sua «molécula de DNA», recorrendo a uma tesoura.
8 — Tente unir os fragmentos de DNA obtidos por si aos do seu parceiro de grupo.
9 — Na parte superior de uma tira construa um fragmento de uma cadeia 5’–3’ de DNA, escrevendo
uma sequência aleatória de 40 bases.
10 — Na parte inferior da tira, construa por complementaridade a cadeia 3’–5’.
11 — Simule a acção da enzima de restrição Eco R1 (esta corta o DNA sempre que encontra a sequência
5’ GAA TTC 3’) sobre a sua «molécula de DNA» recorrendo a uma tesoura.
12 — T ente unir os fragmentos de DNA obtidos por si aos do seu parceiro de grupo.
(1)
O trabalho deve ser efectuado aos pares.
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 169
vector vector Que vectores são utilizados
plasmídeo plasmid
em Engenharia Genética?
utilização como vectores (Fig. 102). Muito usados para este fim são Fig. 101 Esquema geral de um
plasmídeo (pBR322).
os vírus que infectam as bactérias — os bacteriófagos ou fagos.
Quando se pretende utilizar um fago como vector, começa por se
eliminar os genes virais que provocam a lise e a morte das células
A RETER
hospedeiras, substituindo-se por genes de interesse. Os fagos, rela-
tivamente aos plasmídeos, apresentam a vantagem de permitirem a Os plasmídeos, os fagos
inserção de fragmentos de DNA de maiores dimensões (no máximo e os cromossomas artificiais
são vectores muito usados
25 Kb), e são muito mais rendíveis na produção de bibliotecas ou
em Engenharia Genética.
bancos de genes (que abordaremos mais tarde).
Bactéria
Prófago
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 171
DNA recombinante recombinat DNA Quais são as principais técnicas usadas
em Engenharia Genética?
DNA
bacteriano
E. coli
T A CCG A
T
G G C
Plasmídeo
T
Enzima
C GA
A
Plasmídeo C T
G
B
T
A
C C T A G G
G G A T C C
C D
Célula A
humana Fragmento de DNA
com extremidades
Núcleo coesivas
G A T
A C
DNA
172 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Técnica do DNA complementar DNA complementar complementary DNA
Fig. 105 Técnica do DNA complementar. A partir de uma molécula de mRNA (A) consegue-se
sintetizar inicialmente uma cadeia simples de DNA (B e C) e, posteriormente, a cadeia dupla (D).
Quadro 31
número de moléculas
Número de ciclos
de Dna obtidas
1 0
2 0
3 2
4 4
5 8
… …
10 256
… …
20 262 144
… …
Segundo
ciclo 30 268 435 456
de PCR
… …
174 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Esta técnica apresenta, actualmente, muitas aplicações, nomea- A RETER
damente na clonagem de DNA, em estudos forenses, no diagnóstico A Engenharia Genética usa
de doenças hereditárias e infecciosas, em estudos moleculares de fundamentalmente três técnicas:
DNA recombinante, DNA
evolução e no mapeamento de genes.
complementar e PCR.
Bactéria X
Todo o DNA
do indivíduo
é isolado.
Utilizam-se enzimas
de restrição para obter
fragmentos de DNA.
B C D
A
E F G
H
Formam-se DNA
recombinantes juntando
os fragmentos ao vector.
Plasmídeos
(vectores)
A B C D
Plasmídeos
recombinantes E F G H
Introduz-se o DNA
recombinante em
células de E. coli.
D
B
A
C
A população de E. coli
contém, no seu total, todo
o genoma da bactéria X.
F
E G
H
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 175
A partir de um mesmo indivíduo, se forem utilizadas células
diferentes, ou de diferentes estádios de maturação do mesmo, obtêm-se
bancos genómicos idênticos, mas bancos de cDNA diferentes.
Uma das primeiras aplicações da tecnologia de DNA recombinante
foi a introdução de genes humanos em bactérias e a manipulação
destes organismos para produzir proteínas humanas para uso tera-
pêutico. Em 1979 foram produzidas as duas primeiras proteínas
humanas: a insulina (usada no tratamento de diabéticos) e a hormona
de crescimento (usada no tratamento de crianças que não a produzem
em quantidade suficiente, e que, por isso, apresentam problemas de
nanismo). Antes de 1982 as fontes destas proteínas eram porcos e
outros animais, cujas moléculas, embora sendo semelhantes às
humanas, causavam muitas vezes reacções secundárias nos doentes
que as recebiam, sendo este problema solucionado pela Biotecnologia.
No quadro seguinte podemos observar mais alguns dos produtos
obtidos pela técnica de DNA recombinante.
Quadro 32
produtos resultantes
176 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Uma outra técnica básica utilizada em tecnologia de DNA é a
electroforese em gel (Fig. 109), que é um método que permite separar
macromoléculas (proteínas, DNA ou RNA) por tamanhos. Este método
baseia-se nas cargas eléctricas existentes nestas moléculas.
As moléculas de DNA têm cargas negativas devido aos seus grupos
fosfato. Estas são colocadas nos poços do gel junto ao pólo negativo.
Quando a corrente eléctrica é ligada, estas moléculas tendem a
deslocar-se para o pólo positivo. Quanto maior for a molécula ou
fragmento molecular, maior é o seu retardamento na migração
pelos túneis criados pelas moléculas do gel (geralmente a agarose)
e, por isso, elas movimentam-se lentamente, as moléculas mais
pequenas atravessam facilmente os poros do gel e avançam rapida-
mente (Fig. 110).
Fig. 109 Aplicação de uma amostra
de DNA, que será sujeita a
Mistura de moléculas de DNA electroforese, no poço de um gel.
de diferentes tamanhos
– –
Moléculas
maiores
Fonte
eléctrica
Gel
Moléculas
Placas de vidro menores
Gel completo
+ +
Fig. 110 Electroforese em gel.
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 177
Através da técnica do DNA fingerprint, é possível estudar a
paternidade de um indivíduo. A existência de muitas bandas seme-
lhantes de dois DNA fingerprint significa que existe uma relação de
parentesco entre os dois indivíduos analisados.
A RETER
engenharia genética
178 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
ACTIVIDADE LABORATORIAL
Procedimento
1 — Identificar dois microtubos, um com «pGLO» e o outro com «2pGLO». Na tampa, identificar
o número do grupo (Fig. 114 A). Colocar os tubos no suporte.
2 — Com uma pipeta esterilizada, transferir 250 mL da solução de transformação para cada um dos
microtubos (Fig. 114 B).
3 — Colocar os tubos no gelo (Fig. 114 C).
B
1pGLO
2pGLO
250 mL
C
1pGLO
2pGLO
2pGLO
1pGLO
Gelo
4 — Recolher com uma ansa de inoculação esterilizada uma colónia de bactérias da caixa de Petri LB.
Colocar a ansa no interior do microtubo pGLO. Rodar nos dedos a ansa de forma a dispersar a
colónia na solução de transformação (Fig. 114 D). Colocar o microtubo no suporte. Com uma
nova ansa esterilizada, repetir o procedimento, mas agora para o microtubo marcado com 2pGLO.
5 — Examinar a solução de plasmídeo pGLO com uma lâmpada ultravioleta e registar o que observa.
Imergir uma ansa esterilizada na solução de plasmídeo. Retirar a ansa e verificar a existência de
um filme de solução de plasmídeo no anel da ansa (à semelhança de um filme de líquido quando
se fazem bolas de sabão). Colocar a ansa no interior do microtubo marcado com pGLO e misturar
(Fig. 114 E). Fechar o microtubo e colocar no suporte que está no gelo. (Atenção, o microtubo
2pGLO não recebe plasmídeo!)
D E
1pGLO
1pGLO
Plasmídeo 2pGLO
1pGLO
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 179
6 — Incubar os microtubos em gelo durante 10 minutos. A base do microtubo deverá contactar com
o gelo (Fig. 114 F).
7 — Durante o período em que os microtubos estão no gelo, identificar as caixas de Petri na base
(e não na tampa) (Fig. 114 G).
Suporte Gelo
I
250 mL
Banho-maria
1pGLO
2pGLO
10 — Homogeneizar os microtubos (pequenas pancadas com o dedo). Utilizando uma pipeta
esterilizada, retirar de cada microtubo 100 mL de solução e pipetar em cada uma das placas,
respeitando a identificação realizada previamente (Fig. 114 J).
11 — Espalhar a suspensão utilizando uma ansa esterilizada para cada placa (Fig. 114 L).
12 — Empilhar as quatro caixas de Petri, fixar com fita adesiva e identificar com o número do grupo
na base. Colocar as placas de forma invertida em estufa a 37 ºC até ao dia seguinte (Fig. 114 M).
Discussão J
1pGLO
2pGLO
(1)
s iões cálcio alteram as membranas da célula
O M
hospedeira, induzindo a abertura de poros. L
(2)
O meio LB, nutritivo para as bactérias, contém
bacto-triptona (10 g /L), extracto de leveduras
(5 g/L) e NaCl (10 g/L). Para fazer LB sólido,
é necessário adicionar bacto-agar a 1,5%.
(3)
O choque térmico induz alterações na permea-
bilidade da membrana e a absorção do DNA. Fig. 114 Etapas do procedimento experimental.
180 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Conceitos/Palavras-chave
Necessários Essenciais Complementares
Síntese de conhecimentos
• As mutações são mudanças súbitas e definitivas, a nível da informação hereditária de um indivíduo,
que implicam a alteração do seu genótipo.
• As mutações podem ocorrer por substituição, deleção, inversão ou inserção de nucleótidos.
• As mutações cromossómicas estruturais podem ocorrer devido a duplicação, deleção, inversão
ou translocação de fragmentos do DNA.
• As mutações cromossómicas numéricas podem resultar em aneuploidias, em que o número
de cromossomas de um determinado tipo é alterado, ocorrendo: trissomias, se surgirem três
cromossomas do mesmo tipo; polissomias, se surgirem mais do que três; monossomias, se só
aparecer um; ou nulissomias, se nenhum representante de um tipo de cromossomas estiver
presente.
• Existem aneuploidias autossómicas e outras ligadas aos cromossomas sexuais.
• As poliploidias são letais no homem e devem-se a situações em que todos os cromossomas aparecem
num número superior a dois.
• Nas haploidias existe apenas um representante de cada par de cromossomas.
• As mutações podem ser espontâneas ou induzidas por agentes mutagénicos.
• O cancro surge quando, devido a mutações somáticas, os oncogenes são activados ou os genes
supressores de tumores ficam inactivos e a célula inicia um processo de divisão celular descontrolado.
• A Engenharia Genética é o conjunto de técnicas que permite isolar, manipular e transferir genes entre
indivíduos de espécies diferentes ou da mesma espécie.
• Algumas das ferramentas mais importantes usadas em Engenharia Genética são: enzimas de restrição,
DNA ligase e transcritase reversa.
• A Engenharia Genética recorre a vectores (plasmídeos, fagos ou cromossomas artificiais) para
transferir genes entre indivíduos.
• Algumas das técnicas que a Engenharia Genética utiliza são:
— técnica do DNA recombinante;
— técnica do DNA complementar;
— PCR.
• A Engenharia Genética aplica actualmente algumas das suas técnicas ao nível da detecção de
doenças, estudos forenses, produção de medicamentos, produção de OGM e estudos de evolução
molecular.
• Os efeitos da aplicação da Engenharia Genética ainda não são consensuais.
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 181
ACTIVIDADES
ACTIVIDADES
2.1 Analise as afirmações seguintes e seleccione a opção da chave que melhor as define.
2.2 Seleccione a opção que permite preencher os espaços e obter uma afirmação correcta.
afirmações
A — Uma das causas da deficiência é uma mutação nas células da linha germinativa masculina.
B — Esta diabetes é um caso de hereditariedade ligada ao sexo, porque só é transmitida pelo pai.
chave
O DNT é causado por uma mutação (…) que pode estar relacionada com (…).
A — génica […] não disjunção dos homólogos
B — cromossómica […] não disjunção dos homólogos
C — génica […] duplicação
D — cromossómica […] translocação
E — Nenhuma das opções anteriores.
3. Classifique como verdadeiras (V) ou falsas (F), as afirmações relativas a um tumor maligno.
A — Estes tecidos têm capacidade de mudar de órgão dentro do organismo humano.
B — Um tumor maligno é um cancro.
C — A s células do tumor maligno não se distinguem das que fazem parte de um tumor benigno.
D — A s células deste tumor são capazes de invadir tecidos diferentes daqueles de onde tiveram
origem.
E — Nas células deste tumor, os genes supressores estão activos.
F — Os oncogenes das células do tumor estão inactivos.
G — A divisão celular está inibida nestas células.
H — O genoma destas células é igual ao de uma célula normal.
I — Todos os tumores malignos têm início em tumores benignos.
182 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
4. Comente a afirmação seguinte.
Nem todas as alterações que ocorrem no genoma se expressam no fenótipo.
1 2
mRNA DNA
Célula X
6.1 Seleccione a opção que permite preencher os espaços e obter uma afirmação correcta.
A enzima usada no passo 2 designa-se por (…) e o DNA sintetizado chama-se (…)
A — transcritase reversa […] DNA recombinante.
B — transcritase reversa […] DNA complementar.
C — enzima de restrição […] DNA complementar.
D — enzima de restrição […] DNA recombinante.
6.2 Comente a afirmação seguinte.
Esta técnica permite estudar todos os genes do genoma de um indivíduo.
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 183
bioética
• Que problemas de natureza bioética podem surgir com a manipulação genética?
184 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
JOGO DE SIMULAÇÃO
Questões centrais:
• Direito à privacidade e confidencialidade. • Direito à não discriminação.
• Direito a querer saber/a recusar saber. • Interesses das entidades patronais e seguradoras.
• Direito a construir família/responsabilidade sobre a saúde e bem-estar dos futuros filhos.
A — A rapariga A e a rapariga B têm 20 anos e são gémeas monozigóticas. O pai das gémeas
tem paramiloidose e começou a manifestar a doença aos 33 anos. A rapariga A sempre
recusou fazer o teste para determinar se é possuidora da doença. A irmã, contudo,
decidiu fazê-lo.
A rapariga A vem a tribunal pedir que este proíba a irmã de fazer o teste.
B — O indivíduo X descobre que é heterozigótico relativamente ao gene da anemia falciforme.
Sempre quis ser piloto e aproveita a abertura de um concurso de uma companhia
de aviação. Contudo, a companhia de aviação exige que o indivíduo X realize testes
genéticos para detecção de eventuais doenças genéticas.
O indivíduo X vem a tribunal pedir que este condene a companhia de aviação.
C — O
Manuel tem 9 anos. Sofre de fenilcetonúria e sempre viveu apenas com a mãe
(senhora D), a qual nunca procedeu ao seu tratamento. A tia de Manuel e irmã de sua
mãe, emigrante em França e bem informada, está revoltada com a situação.
A tia de Manuel vem a tribunal pedir que este condene a mãe de Manuel.
D — A senhora Y está grávida do seu primeiro filho. Depois de realizar uma amniocentese,
descobriu que o feto possuía a síndrome de Klinnefelter. Decidiu abortar, mas o seu
marido, senhor Y, opõe-se.
O senhor Y vem a tribunal pedir que este impeça a sua mulher de abortar.
E — O jovem E namora com a jovem F. Fazem projectos para casarem e terem muitos
filhos (grande sonho do jovem E). Entretanto, o jovem E descobre que quer o pai quer
a mãe da jovem F possuem a doença de Huntington e resolve abandonar a jovem F.
A jovem F vem a tribunal para que este condene o jovem E por discriminação.
F — O
senhor e a senhora W são casados e querem ter filhos. O pai da senhora W é hemofílico.
O casal quer recorrer a uma técnica de reprodução medicamente assistida que envolva o
diagnóstico pré-implantatório do embrião, dado que apenas querem ter filhas raparigas.
O casal vem pedir ao tribunal autorização para recorrer a esta técnica.
G — O senhor Z quer comprar casa e recorre ao empréstimo bancário. Este exige-lhe um
seguro de saúde. A seguradora contactada pelo senhor Z exige-lhe, entre vários
testes médicos, a realização de testes genéticos. O pai do senhor Z sofre de Alzheimer.
O senhor Z vem a tribunal pedir que este condene a companhia de seguros.
• Para cada uma das situações, as personagens deverão, após pesquisa cuidada da problemática
em causa, elaborar as argumentações e contra-argumentações a apresentar ao Tribunal de Ética.
• A sessão orientada pelo juiz decorrerá da seguinte forma: para cada situação, as personagens
expõem os seus argumentos e contra-argumentos ao tribunal. Este, depois de ouvidos os
intervenientes e de ter esclarecido todas as dúvidas, deve analisar as várias situações e, após
declaração e votação dos jurados, deliberar sobre a resposta a dar. O juiz deverá fazer julgar
as situações seguindo as opiniões do conselho de jurados.
Personagens:
O Tribunal de Ética deverá ser composto por: juiz.
O conselho de jurados deverá ser constituído por: um geneticista, um jurista, um religioso, um
político e um psicólogo.
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 185
CiênciaTecnologiaSociedadeAmbiente
ACTIVIDADES
1. Indique as vantagens para a vida humana que resultam da sequenciação do genoma humano.
2. Por que razão determinados indivíduos consideram que a descoberta do DNA deu início à transformação
da nossa sociedade?
3. Como encara a possibilidade de o Homem conseguir antever todo o seu futuro biológico? A possibilidade
de ocorrer discriminação genética é real e os países têm de agendar a elaboração de legislação acerca
deste tema. Em Portugal, em 2005, surgiu a Lei n.º 12/2005 de 26 de Janeiro — Informação genética
pessoal e informação de saúde. Analise-a e dê uma opinião acerca da mesma.
186 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
DOC. 2 ogm ou como se pode mudar a vida…
Desde muito cedo, na sua estadia na Terra, Em 1996, na Florida, foi lançado para o
o Homem iniciou o processo de manobrar e Ambiente o primeiro insecto OGM — um insecto
alterar a Natureza. Usou as outras espécies, predador que come gorgulhos que destroem
para fins que não só os alimentares, domesti- maciçamente culturas variadas.
cou-as e transformou-as, seleccionando carac- Já estão a ser cultivadas, em grande escala,
terísticas desejadas, hibridando outras. Foi plantas às quais foi adicionado um gene da bac-
fazendo tudo isto a um ritmo lento, limitado pela téria Bacillus thurigiensis (Bt). Este codifica a
velocidade de crescimento e de reprodução das produção de uma toxina que, quando consumida
espécies, bem como pela barreira que existia pelos insectos, e sob a acção do seu suco esto-
entre elas. macal ácido, os destrói.
Mas eis que, já no limiar do século xx, o Em 1996, Douglas Feith, secretário de
Homem, recorrendo à Engenharia Genética, Defesa dos EUA, falou assim acerca de uma
descobre a maneira de ultrapassar a barreira das utilizações que actualmente está a ser feita
das espécies, e os genes passam a poder ser da biotecnologia:
transferidos entre espécies, podendo vir a fixar-se «É agora possível sintetizar agentes de
em espécies anteriormente estranhas. guerra biológica adaptados a especificações
É a era da produção dos OGM (Organismos militares (…). Está a tornar-se simples produzir
Geneticamente Modificados). Espectacular e novos agentes, mas um problema desenvolver
as- sombroso… O que podemos mudar, como o antídotos. Os novos agentes podem ser produzi-
podemos fazer e qual será o preço a pagar no dos em horas; os antídotos podem levar anos.
futuro? Para aferir a magnitude do problema dos antí-
Uma pequena amostra do que já se fez: dotos, pensem nos muitos anos e milhões de
Em 1993, Chris Sommerville inseriu um dólares investidos, até agora sem sucesso, a
gene que codifica a produção de plástico biode- desenvolver um meio de contrariar um único
gradável (de uma bactéria) numa planta da agente biológico fora do campo da guerra bioló-
mostarda. A planta transformou-se numa «fábri- gica — o HIV.»
ca» de plásticos biodegradáveis. Rifkin, J. — O Século Biotech, 2001 (adaptado)
Na Universidade de Adelaide, na Austrália,
cientistas desenvolveram uma nova raça de
porcos geneticamente modificados, com um
processo de crescimento 30% mais eficiente —
crescem mais e entram no mercado, para abate,
em menos tempo.
Investigadores estão a usar fungos, bacté-
rias e algas produzidas por Engenharia Genética,
para transformarem substâncias ambientais
tóxicas em substâncias inócuas para o Ambien-
te.
The Institute for Genomic Research modifi- Fig. 115 Algodão geneticamente transformado,
cou um microrganismo com um gene que per- resistente a vários insectos.
mite absorver grandes quantidades de radioac-
tividade.
ACTIVIDADES
A Genzyme Transgenics, em 1996, desen-
volveu uma cabra transgénica com um gene
1. Indique quais são os campos em que a produção
que produz anticorpos monoclonais capazes de
de OGM pode ser utilizada.
combater o cancro.
2. Porque se pode afirmar que os OGM ultrapassam
Actualmente, a maior parte da insulina con-
a barreira da espécie?
sumida pelos diabéticos é insulina humana pro-
duzida por bactérias geneticamente modifica- 3. De que modo os OGM podem recriar a Natureza?
das. A insulina purificada de vacas e porcos, 4. Reflicta sobre esta temática e elabore um texto
que anteriormente era usada, foi praticamente argumentativo onde expresse a sua opinião.
toda substituída.
u n i d a d e 2 P a t r i m ó n i o g e n é t i c o 187
unidade 3
188 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Imunidade
e controlo de doenças
3 2 Biotecnologia no diagnóstico
e na terapêutica de doenças 236
D E F
G H
190 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
INTRODUÇÃO
A B
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 191
3 1 Sistema imunitário
A Ciência nunca resolve um problema sem criar pelo menos outros dez.
Bernardl Shaw
Fig. 2 A imensidão de combinações genéticas possíveis faz com que seja praticamente
impossível encontrar dois indivíduos iguais.
192 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
agentes
patogénicos
Protistas
RNA A transcritase
reversa forma
Integração do DNA viral DNA uma cadeia
no DNA do hospedeiro dupla de DNA
a partir de uma
DNA cadeia simples
de RNA.
Fig. 3 Esquema de infecção por um retrovírus (vírus de RNA). Ao contrário dos vírus
de DNA, os retrovírus necessitam inicialmente de produzir DNA a partir do molde
de RNA, o que conseguem devido à enzima transcritase reversa.
Vasos
linfáticos
Aglomerados Distribuição dos principais órgãos
Fig. 4
Medula de linfócitos e de alguns tecidos do sistema
óssea e macrófagos
Gânglio linfático imunitário.
194 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Os órgãos linfóides secundários — gânglios linfáticos, baço e linfócitos B B lymphocytes
tecidos linfóides associados às mucosas (por exemplo, amígdalas, linfócitos T T lymphocytes
apêndice, adenóides) — são locais onde ocorre a retenção de linfócitos
e de substâncias infectantes, favorecendo a ocorrência a este nível A RETER
de respostas imunitárias.
sistema
imunitário
Células
Primários
As células efectoras do sistema imunitário são glóbulos brancos Órgãos
ou células deles diferenciadas. Cada célula desempenha uma ou linfóides
Secundários
mais funções, e conseguem interagir entre si, coordenando e ampli-
Células
ficando a eficiência das suas respostas. efectoras
Quadro 1
Actuam ao nível
da imunidade
específica
humoral.
Formam-se Tecidos
Possuem Diferenciam-se
Linfócito B e maturam e sangue
receptores em plasmócitos.
na medula óssea. periférico.
membranares
específicos
para antigénios
nativos solúveis.
Produzem
substâncias
Tecidos
LTh que estimulam
e sangue
(auxiliares) Actuam ao nível a actividade
periférico.
da imunidade de linfócitos B
específica celular. e de macrófagos.
Possuem
Produzem
receptores
substâncias que
Formam-se
Linfócito T
membranares Tecidos
LTc destroem células
Linfócitos
Reconhecem
e destroem
espontaneamente
Formam-se células
São células aberrantes.
a partir Tecidos
NK (do inglês grandes com
de células Produzem e sangue
Natural Killer) citoplasma rico
progenitoras factores solúveis periférico.
em grânulos.
linfóides. que activam
outras células
do sistema
imunitário.
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 195
PRINCIPAIS CÉLULAS EFECTORAS DO SISTEMA IMUNITÁRIO
Células que
Formam-se
possuem
a partir Tecidos
extensas redes Produzem
Plasmócitos da diferenciação e sangue
de retículo anticorpos.
de linfócitos B periférico.
endoplasmático
activados.
rugoso.
Células grandes,
Formam-se
com núcleo em
a partir Diferenciam-se em Tecidos
forma de rim
Monócitos de células macrófagos ou em e sangue
ou ovóide
progenitoras células dendríticas. periférico.
e citoplasma
mielóides.
granuloso.
Na forma imatura,
Formam-se a captam antigénios.
partir de células
Apresentam Na forma madura,
Células dendríticas progenitoras Tecidos.
forma estrelada. apresentam
mielóides
ou linfóides. os antigénios
aos linfócitos.
Primeiras células
a serem recrutadas
Têm origem durante
o processo Possuem Tecidos
nas células
Neutrófilos inflamatório. a capacidade e sangue
progenitoras
de fagocitose. periférico.
mielóides. Tempo de divisão
curto
(24/48 horas).
Libertam substâncias
(por exemplo,
Contêm grânulos
Têm origem histamina e heparina)
citoplasmáticos Tecidos
nas células responsáveis pela
Basófilos ricos em e sangue
progenitoras vasodilatação
heparina periférico.
mielóides. e aumento de
e histamina.
permeabilidade
capilar.
Libertam substâncias
(por exemplo,
Têm origem Existem apenas histamina e heparina)
nas células nos tecidos responsáveis pela
Mastócitos Tecidos.
estaminais (e nunca vasodilatação
hematopoiéticas. no sangue). e aumento de
permeabilidade
capilar.
196 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Progenitor monócitos monocytes
Células
de células macrófagos T lymphocytes
dendríticas
dendríticas
eosinófilos eosinophils
basófilos basophils
neutrófilos neutrophils
Progenitor
Linfócitos NK
de células NK
Progenitor
linfóide
Linfócitos Th
Progenitor
Linfócitos T
de linfócitos T
Linfócitos Tc
Progenitor
Linfócitos B Plasmócitos
de linfócitos B
Progenitor
bipotente de
Macrófagos
linfócitos B
e macrófagos
Monócitos
Basófilos
célula
estaminal Progenitor de
hematopoiÉtica granulócitos
e monócitos
Eosinófilos
Neutrófilos
Progenitor Células
mielóide dendríticas
Eritroblastos Eritrócitos
Progenitor de
megacariócitos
e eritrócitos
Megacariócitos Plaquetas
Mastócitos
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 197
defesas não-específicas nonspecific A comunicação entre as células e o meio, e entre as próprias
defenses
células, é conseguida devido à existência de proteínas integrais, com
defesas específicas specific defenses
características específicas, nas membranas celulares das células do
sistema imunitário — receptores de membrana — que, ao reconhe-
cerem e se ligarem externamente a determinados compostos, sofrem
alterações na configuração da porção intracelular da proteína, o que
provoca alterações no comportamento das células; e também devido
à ocorrência de determinadas proteínas, como, por exemplo, as
citocinas, que são produzidas por células específicas e recepcionadas
por outras, que na sua presença modificam o comportamento,
podendo crescer, diferenciar-se, migrar ou suicidar-se.
O sistema imunitário desenvolve O sistema imunitário desenvolve uma série de mecanismos que
dois tipos de mecanismos contribuem para a defesa do organismo e que, classicamente podem
de defesa: ser divididos em dois grandes grupos, que ao invés de ocorrerem
— não-específicos; isolados, ocorrem em regime de íntima interacção: os mecanismos de
— específicos.
defesa não-específicos e os mecanismos de defesa específicos.
Defesas não-específicas/inatas
Os mecanismos de defesa não-específicos são também designados
por inatos. Têm como função impedir a entrada de agentes patogé-
nicos no organismo ou, se tal não for possível, visam a destruição
dos mesmos. Devido ao facto de não desencadearem respostas
personalizadas de acordo com o agente agressor, são designados por
não-específicos.
Quadro 2
secreções de defesa
designação Função
Lisozimas
nas lágrimas
Flora normal
Retenção de partículas
inaladas
Pele: barreira física,
ácidos gordos, suor Muco e cílios
e flora normal
Estômago: pH ácido
Alteração brusca
Flora normal
do pH, do estômago
para o intestino
Libertação rápida
da urina
Vagina: pH ácido
e flora normal
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 199
fagocitose phagocyosis Fagocitose
quimiotaxia chemotaxis
A fagocitose é a capacidade que algumas células apresentam de,
reacção inflamatória inflammation
após identificarem substâncias estranhas, as envolverem e as digerirem.
As células com capacidade fagocitária (fagócitos) identificam as
substâncias a fagocitar através de moléculas receptoras que possuem
na superfície das suas membranas. Estas células podem ser:
• eosinófilos, com fraca capacidade fagocitária;
• neutrófilos, que são células de vida curta, pois quando gastam
os seus grânulos morrem. Por não sofrerem diferenciação,
A RETER são as primeiras células a actuarem;
A fagocitose é a capacidade • macrófagos, que resultam da diferenciação de monócitos.
que algumas células têm Por regenerarem, os seus lisossomas podem durar entre algumas
de ingerir microrganismos
semanas a meses, apresentando, por isso, uma grande capa-
por endocitose.
cidade fagocitária.
A fagocitose inicia-se com a quimiotaxia; isto é, os fagócitos
são atraídos até ao agente infeccioso por estímulos químicos, que
podem ser produto do próprio microrganismo, ou então, proteínas
complemento (C5a e C3b), que serão abordadas mais adiante.
Uma vez junto do agente infeccioso, os fagócitos alteram a sua
configuração, emitindo pseudópodes. Ocorre, então, reconhecimento
e ligação ao agente estranho, que é de seguida envolvido numa porção
de membrana, formando-se um fagossoma. No interior da célula,
são mobilizados os lisossomas, que se fundem com os fagossomas e
colocam as suas enzimas digestivas em acção. Como consequência,
o microrganismo é digerido, sendo os seus restos posteriormente
exocitados (Fig. 8).
Pseudópode Receptores
Lisossomas C3b
Exocitose
Destruição Ingestão
e digestão
Reconhecimento
e ligação
Quimiotaxia
Fagócito
Proteínas
complemento C5a
Fagolisossoma — Fagossoma
fusão do fagossoma
com o lisossoma
Microrganismo
Resposta inflamatória
Quando ocorre uma lesão na pele (Fig. 9 A), o organismo desen-
cadeia uma série dwe respostas rápidas e coordenadas para destruir
os microrganismos, que tentam interiorizar-se. Ao conjunto dos
mecanismos dá-se o nome de reacção inflamatória.
200 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Algumas células dos tecidos lesionados — os mastócitos —, bem diapedese diapedesis
como alguns basófilos que se encontram nos capilares da zona afectada, histamina histamine
produzem histamina, molécula que vai provocar a vasodilatação.
Epiderme
Como consequência da vasodilatação, existe um aumento do A
afluxo de sangue ao local e diminuição da aderência entre as células
das paredes dos capilares, o que provoca um aumento da permea-
bilidade dos mesmos (Fig. 9 B). São estes fenómenos que explicam os Arteríola
Febre
A elevação da temperatura acima dos 37 ºC é um sintoma nor-
Diapedese
malmente associado a infecções, e é, por si só, um outro mecanismo
de defesa. Os macrófagos, células que têm um papel fundamental
na fagocitose, possuem nas suas membranas receptores que detectam
a existência de produtos do metabolismo microbiano. Quando esses
receptores são activados, os macrófagos reagem, produzindo citocinas, Fig. 9 Etapas da resposta inflamatória.
Sistema complemento
Foram identificadas, a circular no sangue e nos fluidos que banham
os tecidos, cerca de vinte proteínas inactivas, as quais, na presença de
indicadores de agentes infecciosos, sofrem uma rápida activação.
Na presença de um estímulo que identifique um agente estranho,
inicia-se a activação das proteínas complemento. Esta activação é
rápida, muito eficiente, e ocorre em cascata, o que significa que a
activação de uma proteína leva à activação de outra e assim por
diante, até estarem todas funcionais.
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 201
Uma vez activadas, as proteínas podem actuar em diferentes
frentes, nomeadamente:
• estimulam a resposta inflamatória, porque, por um lado,
contribuem para o aumento da permeabilidade capilar e, por
outro, estimulam a quimiotaxia, dado que os glóbulos brancos
se deslocam atraídos por algumas proteínas complemento;
• provocam a lise das células infectantes. Algumas proteínas
complemento organizam-se, formando poros nas membranas
das células infecciosas. Estes poros põem em causa o controlo
osmótico dessas células, que acabam por ser destruídas;
• facilitam o trabalho dos fagócitos, ligando-se aos infectantes
— opsonização. Deste modo, os fagócitos, que possuem nas
suas membranas receptores para as proteínas complemento,
identificam facilmente os microrganismos e destroem-nos.
ACTIVIDADE
1. Analise atentamente o esquema (Fig. 10), que demonstra a forma como ocorre activação das proteínas
complemento, bem como as suas várias vertentes de actuação. Responda às questões.
C3a C3b
C5b
C6
C7
C8
C9
Resposta inflamatória.
Fazem aumentar
a permeabilidade capilar
e funcionam como
substâncias quimiotóxicas.
202 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Interferão interferão interferons
Vírus RNA em
cadeia simples
Célula A Célula A
O interferão
O vírus infecta
difunde-se
as células
para as células
vizinhas.
vizinhas.
IFN
Quando as células
estão infectadas, o
A ligação ao que é detectado pela
interferão induz iAVP presença de RNA
a expressão do de cadeia dupla,
gene que codifica há activação das
a produção proteínas antivirais.
iAVP iAVP
de proteínas Estas vão destruir
antivirais, que são o mRNA e impedir
sintetizadas numa iAVP a sua tradução,
forma inactiva Induz a apoptose provocando a morte
(iAVP). celular e impedindo
os vírus de nelas
se replicarem.
Célula B Célula B
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 203
antigénio antigen
ACTIVIDADE
Interferão
Defesas específicas/adquiridas
Ao mesmo tempo que está a ocorrer a imunidade não-específica,
o organismo prepara uma série de intervenções a um nível mais
específico. Estas inserem-se na imunidade específica também
designada por imunidade adquirida.
204 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
A resposta imunitária específica está sempre a cargo de linfócitos,
células que, como vimos inicialmente, são produzidas na medula
óssea e que se diferenciam na própria medula — linfócitos B — ou
migram para o timo para aí se diferenciarem — linfócitos T. Apesar
de algumas diferenças, estes dois tipos de células apresentam carac-
terísticas em comum.
• Possuem grande diversidade, distinguindo-se entre si pelo tipo
de receptores membranares.
• Cada linfócito possui, nas suas membranas, receptores para
um único epítopo.
• Existe especificidade entre um linfócito e um epítopo.
• Necessitam de confirmação de outras células do sistema imu-
nitário para funcionarem.
• Sofrem processos de selecção negativa, que asseguram que
não actuam sobre células do próprio organismo (Fig. 13).
Imunidade humoral
O mecanismo de actuação dos linfócitos B durante uma resposta
imunitária humoral está representado na figura 14.
Na medula óssea são produzidos e amadurecidos inúmeros lin-
fócitos B, o que significa que adquirem receptores membranares
específicos de determinados epítopos. Antes de partirem para os
órgãos linfóides secundários, sofrem uma primeira selecção negativa,
sendo eliminados por apoptose todos os linfócitos B que possuam
receptores ineficazes ou que ataquem as células do próprio organismo.
Quando migram finalmente para os órgãos linfóides secundários, os
linfócitos designam-se por naive. Quando um antigénio, arrastado
pela corrente sanguínea ou linfática, passa por um órgão linfóide
secundário, permite que, de entre as várias populações de linfócitos
B naive presentes, aqueles que possuem o receptor correspondente
estabeleçam ligação com o antigénio, activando-se finalmente —
selecção clonal.
206 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
células B memória memory cells
Linfócito imaturo.
Ainda não apresenta
receptores de membrana.
Progenitor
de linfócitos B
Antigénio X
Degradação
do antigénio
Ligação
Linfócitos com receptores do receptor
para o antigénio X ao antigénio
Libertação
de citocininas
Exposição que estimulam
Linfócitos B activados. do antigénio o processo de
Já estiveram em contacto a um linfócito Th multiplicação
com o antigénio, mas
aguardam confirmação de
outras células relativamente
à perigosidade
do mesmo. Multiplicação
Plasmócitos. Resultam da
diferenciação dos linfócitos B
activados. São células Diferenciação
funcionais — produzem
anticorpos.
Linfócitos B memória.
Resultam de linfócitos B
activados. Possuem vida
longa. Se entrarem em Acção
contacto com o antigénio,
induzem respostas muito
rápidas e eficientes.
Núcleo
Retículo
endoplasmático
An
tig
s s
tig
oi
s s
s s s s
s s s s
Região
s s s s variável
Cadeia curta s s s s da cadeia
curta
s s s s
s s
Região constante
da cadeia curta
s s
Cadeia longa
s s
Pontes dissulfito Região constante
da cadeia longa
s s
Fig. 16 Os anticorpos são proteínas globulares constituídas por quatro cadeias
polipeptídicas: duas longas e duas curtas.
208 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
• São constituídos por quatro cadeias polipeptídicas: duas longas
e duas curtas.
• Apresentam uma estrutura em Y, o que é conseguido devido
ao facto de numa determinada zona as duas cadeias longas se
unirem por ligações dissulfito.
• Apresentam uma região constante (igual para todos os anti-
corpos da mesma classe), que de alguma forma permite a sua
identificação por parte de outros componentes do sistema
imunitário.
• Apresentam uma região variável, exclusiva de cada tipo de anti-
corpos e responsável pela sua especificidade.
• Apresentam dois locais de ligação a antigénios, mais concre-
tamente aos determinantes antigénicos, situados na região
variável.
A forma como os anticorpos actuam (Fig. 17) depende da classe a
que cada um pertence, podendo ser uma das seguintes:
• neutralização; CURIOSIDADE
A B C
Flagelo
Vírus
Toxina
Fagocitose Bactéria
Neutralização. A ligação anticorpo-antigénio Opsonização. A ligação do anticorpo ao Imobilização e prevenção da aderência. A ligação
impede o antigénio de actuar e/ou de antigénio «marca-o», para posteriormente do anticorpo a um local específico do antigénio
introduzir-se dentro das células. os fagócitos o fagocitarem. impede-o de se mover ou de se ligar a hospedeiros.
D E F Célula NK
Proteína do sistema
Aglutinação complemento
Bactéria
Precipitação
Moléculas
solúveis
Bactéria
Inflamação.
Morte
Lise de células estranhas.
da célula
Opsonização.
estranha
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 209
ACTIVIDADE
Classes de anticorpos
Quadro 3
percentagem
Classe Estrutura no soro/ Localização Função
/Período de vida
São os mais abundantes
nas respostas imunitárias.
80-85% Livre
IgG Monómero Atravessam a placenta
21 dias no plasma.
e conferem imunidade
ao feto.
São importantes
,1% Superfície dos
IgD Monómero na activação de outros
3 dias Linfócitos B.
linfócitos B.
Secretado por
plasmócitos Estimulam a activação
da pele de mastócitos e plasmócitos
,0,01% e mucosas na produção de histaminas.
IgE Monómero
2 dias gastro- Têm um papel importante
intestinais na resposta inflamatória
e vias e nas respostas alérgicas.
respiratórias.
1.1 Quais lhe parecem ser os anticorpos que promovem uma protecção mais duradoura?
1.2 Justifique o facto de, sendo os IgA os anticorpos mais produzidos pelo organismo, existirem em tão
baixas quantidades no soro.
1.3 Justifique a abundância de IgE nos tecidos e órgãos periféricos.
1.4 Durante uma reacção alérgica, quais são os anticorpos que existem em valores aumentados,
relativamente aos valores padrão?
1.5 Baseando-se em dados do quadro, justifique uma vantagem da amamentação materna
em detrimento do aleitamento com leites artificiais.
Imunidade celular
A imunidade celular está associada aos linfócitos T, que são
produzidos na medula e maturados no timo, e tem como objectivo
destruir as células do indivíduo que tenham sido infectadas e as células
alteradas, quer as tumorais quer as adquiridas por transplante. Estes
210 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
três tipos de células assinaladas exibem nas suas superfícies mem- A RETER
branares moléculas distintas dos marcadores originais do próprio e Etapas da imunidade celular:
são, por isso, identificadas como estranhas, dando origem a uma • apresentação do antigénio;
resposta imunitária celular. • selecção clonal;
• multiplicação clonal;
A evolução dos linfócitos T, tal como a dos linfócitos B, passa • diferenciação;
por várias etapas. Uma vez depositados os linfócitos T naive nos • acção.
órgãos linfóides secundários, ficam à espera que um antigénio lhe
seja apresentado por uma célula apresentadora, condição essencial
para que estes comecem a funcionar, o que regra geral consiste na
produção de moléculas (proteínas) capazes de desencadear respostas
variadas nas células-alvo.
Existem diversas categorias de linfócitos T, nomeadamente os
Antigénio Proteínas MHC
linfócitos T citolíticos (Tc), os linfócitos T auxiliares (Th) e os linfó- Célula
citos T supressores (Ts). Apesar de indistintos ao microscópio, apresentadora
de antigénios
desempenham funções diferentes e são identificáveis em laboratório
devido à presença de diferentes marcadores. Por isso, os linfócitos
Linfócito T
Tc, por abundância de marcadores CD8, são vulgarmente assim
designados, enquanto os linfócitos Th são designados por CD4
devido à abundância destes marcadores.
Receptor de linfócitos T
Os linfócitos Tc são aptos a destruírem células infectadas e
Fig. 18 Os macrófagos, tal como
células cancerosas, enquanto os linfócitos Th libertam «pedidos de
as células dendríticas, são também
socorro» capazes de activar outros elementos do sistema imunitário, células apresentadoras de antigénios
nomeadamente linfócitos B e macrófagos. a linfócitos T; contudo, só o fazem
com linfócitos T de memória e não
Os linfócitos T em geral, tal como os linfócitos B, possuem nas
com linfócitos T naive.
suas membranas receptores específicos que reconhecem apenas
um tipo de determinante antigénico. Ao contrário dos linfócitos B,
não os reconhecem na forma livre, tendo de lhes ser apresentados
(Fig. 18).
As células dendríticas situam-se nos tecidos periféricos. Quando
detectam agentes infecciosos, incorporam-nos por fagocitose. Uma
vez no interior do citoplasma, degradam as suas proteínas, formando
pequenos fragmentos peptídicos.
Posteriormente, associam-nos às suas proteínas MHC de super-
fície, exibindo deste modo os resíduos daquilo que pode ser perigoso.
Migram depois para os órgãos linfóides secundários, onde residem
linfócitos naive.
Célula
Se um dos linfócitos possuir receptores específicos para aquele apresentadora
de antigénios
antigénio, liga-se a este, ocorrendo o processo de selecção. De
seguida, ocorre multiplicação clonal e o «batalhão» de linfócitos Linfócito T
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 211
De notar que durante o processo de activação diferenciaram-se
linfócitos T memória, que numa segunda infecção pelo mesmo
antigénio desencadearão respostas mais potentes e rápidas.
Fig. 20 Os linfócitos T não reconhecem células que exibam proteínas próprias
do indivíduo, respeitando, desta forma, o que é próprio.
O linfócito Tc reconhece
o antigénio apresentado.
A célula infectada pelo vírus exibe
o produto da digestão das proteínas
do mesmo.
Secreção de citotoxinas.
Fig. 21 Quando a um linfócito é apresentado um antigénio, para o qual ele possui
receptores específicos (A), este actua produzindo citotoxinas que promovem
a apoptose da célula infectada (B).
212 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Infecção (antigénio)
• Barreiras
• Secreções Os macrofagos e as células dendríticas migram
para o local da infecção.
• Flora normal
• Fagocitose
• Resposta
inflamatória
• Febre
• Sistema
Os macrofagos e/ou células dendríticas fagocitam
complemento
o antigénio e apresentam fragmentos da digestão
• Interferão à superfície, apresentando-os aos linfócitos T.
• Células NK
Linfócitos Th
Os linfócitos T Os linfócitos B
multiplicam-se multiplicam-se
e diferenciam-se. e diferenciam-se.
Macrófagos
Linfócitos Th Linfócitos T
Linfócitos B
Linfócitos T citolíticos Plasmócitos memória
Os linfócitos T memória
são estimuladas em futuros Produção Estimuladas em futuros
contactos com o antigénio. de anticorpos contactos com o antigénio.
Fig. 22 Relação entre os vários mecanismos de defesa do organismo e a forma como
cooperam entre si.
Memória imunitária
À medida que o organismo contacta com novos antigénios, a
resposta imunitária adaptativa evolui, criando condições de protecção
contra todos esses antigénios agressores (Fig. 23).
Segunda exposição
ao antigénio X e primeira
exposição ao antigénio Y
Resposta imunitária
para o antigénio Y
Anticorpo Anticorpos
para X para Y
0
Tempo
0 7 14 21 28 35 42 49 56 (dias)
Fig. 23 Memória imunitária. A resposta imunitária secundária é mais rápida, mais intensa
e de maior duração. A memória imunitária é específica.
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 213
Como resultado de um primeiro encontro, desenvolve-se a chamada
resposta imunitária primária, na qual os linfócitos B activados se
multiplicam e originam clones de células efectoras, que produzem
os anticorpos específicos. Esta resposta pode demorar algum tempo
a efectivar-se e o pico de síntese de anticorpos atinge-se cerca de
duas semanas após o primeiro contacto.
Algumas células B, depois de activadas, formam células-memória
(linfócitos B memória), de longa duração, pois podem persistir no
organismo humano durante vários anos.
As células-memória promovem, no organismo, uma resposta
imunitária secundária. Quando entram em contacto com o mesmo
antigénio, estas células são estimuladas e passam a multiplicar-se
rapidamente, produzindo um grande número de clones de linfócitos B
(Fig. 24).
Primeiros clones
Segundos clones
Linfócitos B
Receptor
de antigénios
num linfócito B
Antigénio ligado
Crescimento celular, ao linfócito B
divisão e diferenciação
Clones Linfócitos B
de células — memória
plasmócitos
Exposição ao mesmo
antigénio
Resposta secundária
(tempo indeterminado)
Crescimento celular,
divisão e diferenciação
Clones
de células —
plasmócitos
Linfócitos B
memória
Anticorpos
A RETER
Imunização
Como consequência da resposta imunitária secundária, o organismo
fica imune à acção do antigénio, ou seja, o organismo não desenvolve a
doença. O estado de imunidade do organismo também pode ser
atingido através da vacinação, ficando os microrganismos impedidos
de causar doenças para as quais o organismo foi vacinado.
Uma vacina é um preparado que inclui microrganismos mortos A RETER
ACTIVIDADE
1. Analise os textos seguintes, que relatam procedimentos e resultados experimentais, e responda às questões.
Doc. A
Edward Jenner (médico rural inglês) constatou, após um inquérito aplicado na sua região a todas
as pessoas que tinham contraído varíola bovina (cowpox)(1), que estas não contraíam a forma humana
da varíola (smallpox)(2).
1.1 Que hipótese é possível colocar no sentido de explicar os factos verificados por Jenner?
1.2 Sugira linhas de investigação.
Doc. B
Edward Jenner retirou posteriormente material de uma pústula de uma doente com varíola bovina e injectou-a
num rapaz saudável. O rapaz contraiu varíola bovina e curou-se. Seguidamente Jenner colocou no mesmo
rapaz pústula de varíola humana. O rapaz não desenvolveu a doença — estava imune à varíola humana.
1.3 Que conclusão pôde Jenner tirar da sua experiência?
1.4 Discuta o procedimento adoptado por Jenner, tendo em conta, por um lado, a necessidade
do avanço do conhecimento científico e, por outro, os direitos humanos.
(1)
Doença que produz úlceras nos úberes das vacas e que pode transmitir-se aos humanos, não sendo normalmente fatal.
(2)
Doença infecciosa, com alta taxa de mortalidade, que afecta essencialmente a espécie humana.
Quadro 4
TIPOS DE VACINAS
216 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
O processo de vacinação desencadeia um mecanismo de imunidade
activa, mas é lento, uma vez que depois da inoculação da vacina o
organismo pode levar semanas para desenvolver anticorpos sufi-
cientes e células-memória para combater a doença. Em algumas
situações em que é necessária uma protecção rápida, pode utilizar-se
a imunidade passiva.
Na imunidade passiva são transferidos anticorpos ou antitoxinas
directamente para o organismo que necessita de protecção. Esta
imunidade é temporária, pois não são formados anticorpos ou células-
-memória. Um exemplo deste tipo de imunidade é a injecção de
antitoxinas em pessoas mordidas por cobras. Os anticorpos específicos
injectados na vítima ligam-se às toxinas da cobra, inactivando-as e
prevenindo os danos. Uma vez que o organismo utiliza ou elimina estes
anticorpos, eles não estarão disponíveis numa segunda mordedura.
Os recém-nascidos têm também um tipo de imunidade passiva,
conferida pelo organismo materno, pois existem anticorpos (da
classe IgG) que conseguem atravessar a placenta. Estes anticorpos
mantêm-se activos nos primeiros meses de vida, pelo que só a partir
dos 3 a 6 meses é que as crianças são afectadas por doenças infecciosas
(Fig. 26). A amamentação contribui também para a imunidade passiva
dos bebés, uma vez que os anticorpos da classe IgA, presentes no
leite materno, protegem o sistema digestivo da criança.
lgM
100
IgG maternos
Nível de imunoglobulinas
na fracção do soro
lgG
lgA
0
Concepção -6 -3 Nascimento 3 6 9 1 2 3 4 5 Adulto
meses anos
A imunidade passiva é um
Os viajantes que se deslocam para países cuja salubridade é baixa estado protector que resulta
são injectados com anticorpos específicos de microrganismos que da inoculação de anticorpos
ou antitoxinas.
se encontram nesses países.
Algumas particularidades
do sistema imunitário humano
Enxertos e transplantes
Na Medicina actual, em algumas situações de falência de órgãos
ou em queimados, recorre-se, sempre que possível, à realização de
um transplante (por exemplo, de rim ou de coração) ou de um
enxerto (por exemplo, de pele).
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 217
Os transplantes e os enxertos realizam-se entre humanos gene-
ticamente não idênticos, o que causa um grave problema: a possibi-
lidade de o transplante ou enxerto ser rejeitado. A causa de tal rejeição
encontra-se no MHC, pois as células recebidas do dador não são
exactamente iguais às do receptor, fazendo actuar mecanismos imu-
nitários celulares. As células estranhas do transplante/enxerto são
reconhecidas pelos linfócitos Th que se ligam a elas e segregam
citocinas. As citocinas activam as células NK e os fagócitos, que
atacam e destroem as células dos órgãos transplantados ou dos
enxertos. Activam ainda os linfócitos B, que participam também na
rejeição, com a produção de anticorpos específicos.
Na prevenção da rejeição, é realizado um estudo histológico do
receptor e de vários possíveis dadores, sendo escolhido o mais
semelhante. A situação ideal seria a doação ser feita por um gémeo
univitelino, pois desta forma os receptores celulares seriam iguais.
O receptor do transplante/enxerto é por toda a sua vida medicado
com drogas imunossupressoras, que permitem a sobrevivência das
células do tecido transplantado, pois impedem ou minimizam a
resposta imunitária. Um imunossupressor bastante usado é a ciclos-
porina A (produto de um fungo), que interfere na expressão génica
das células Th, que assim não têm expansão clonal e não fabricam
citocinas, o que impede a resposta imunitária, pois não há comunica-
ção para as células efectoras. É de referir que pacientes tratados com
estas drogas imunossupressoras ficam muito susceptíveis a todos os
tipos de infecções, designadas por oportunistas, e também têm
maiores probabilidades de desenvolver cancro.
Incompatibilidades sanguíneas
As hemácias têm diferentes antigénios à superfície. Quando um
indivíduo recebe uma transfusão de sangue com hemácias antigenica-
mente diferentes das suas, ocorre lise celular imunitária. Esta reac-
ção ocorre quando os antigénios envolvidos são os do sistema AB0.
Na determinação do grupo sanguíneo do sistema AB0 estão
envolvidos três alelos que determinam a presença/ausência de anti-
génios na membrana das hemácias. Uma característica do sistema AB0
é a presença/ausência de anticorpos no plasma sanguíneo (contra o
antigénio em falta). Estes anticorpos são denominados naturais,
pois estão presentes sem ocorrer qualquer estímulo para a sua
síntese. Provavelmente, resultam de exposições múltiplas a substân-
cias similares aos antigénios sanguíneos (em bactérias ou alimentos).
Quadro 5
218 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Os anticorpos plasmáticos são da classe IgM e são capazes de se
ligarem ao sistema complemento e de provocarem lise nas hemácias.
Antes de realizar uma transfusão sanguínea, é necessário conhecer
o grupo sanguíneo do paciente, para que não haja incompatibilidade
entre os anticorpos presentes no plasma e os antigénios presentes
nas hemácias do dador.
ACTIVIDADE LABORATORIAL
Conceitos Discussão
1 — J ustifique os resultados obtidos,
relacionando-os com os constituintes
sanguíneos que determinam
o sistema AB0.
Conceitos Resultados
Soro Soro Soro
Soros
anti-A anti-B anti-AB
Simulador A
Simulador B
Simulador AB
Simulador 0
Procedimento
1 — A
gite levemente os frascos contendo os simuladores dos grupos sanguíneos.
2 — N
uma placa, coloque em cada coluna respectivamente uma gota de soro anti-A (1.ª coluna),
anti-B (2.ª coluna) e anti-AB (3.ª coluna).
3 — N
a mesma placa, junto à gota colocada anteriormente, coloque na 1.ª linha uma gota de
antigénio A, na 2.ª linha, uma gota de antigénio B, e na 3.ª linha, uma gota de antigénio AB.
4 — C
om a ajuda de um palito, misture as duas gotas de modo a cobrir a maior área em cada círculo
negro. Utilize um palito diferente em cada operação.
5 — O
bserve a reacção ao fim de dois minutos.
Notas: Esta actividade pode ser realizada utilizando sangue recolhido na aula. Neste caso, exigem-se cuidados especiais: lancetas
descartáveis e recipiente hermeticamente fechado para colocação dos materiais manipulados. Recomenda-se a solicitação
deste material ao centro de saúde da área e a sua posterior devolução ao mesmo centro.
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 219
ACTIVIDADE
1. Na espécie humana existem outros sistemas sanguíneos, entre eles o sistema Rhesus, que é complexo
e envolve vários antigénios. Se um antigénio Rh está presente nas hemácias de um indivíduo, diz-se que
é Rh1 (positivo) e, se não existir, é Rh2 (negativo). Os indivíduos Rh2 não têm naturalmente anticorpos
anti-Rh no seu organismo. Analise a figura seguinte com atenção e responda às questões.
Mãe Rh2
Destruição
das hemácias
do feto
1.1 Relativamente ao sistema Rhesus, indique o grupo sanguíneo da mãe e dos dois fetos.
1.2 Refira duas razões que expliquem a existência de anticorpos anti-Rh no corpo da mãe.
1.3 O que se verifica na figura relativamente ao comportamento que os anticorpos anti-Rh
têm durante a gravidez?
1.4 Qual é a consequência do relatado na questão anterior?
1.5 Qual é a previsão que pode fazer relativamente a um feto com grupo sanguíneo Rh2
em desenvolvimento numa gestante Rh1?
1.6 Sabendo que esta mulher é de grupo sanguíneo A e imaginando que durante o parto ela necessita
de uma transfusão sanguínea, quais são os grupos sanguíneos que poderão ser utilizados?
Justifique a sua resposta.
220 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
É de notar que as respostas imunitárias que ocorrem nas situações alergia allergy
protectoras são exactamente iguais àquelas em que existe malefício alergénio alergen
para o organismo. histamina histamine
Alergias
As reacções de hipersensibilidade a substâncias não-patogénicas
são chamadas alergias e os antigénios que as provocam são desig-
nados por alergénios. As alergias podem desenvolver-se em resul-
tado da exposição ao pó, pólen (Fig. 28), ácaros, pêlos de cães e ga-
tos, e da ingestão de alguns alimentos, como morangos, marisco e
amendoins.
A RETER
A B
As alergias são reacções
de hipersensibilidade
a substâncias não-patogénicas.
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 221
Quando, mais tarde, o organismo for sujeito ao mesmo alergénio,
este liga-se aos anticorpos dos mastócitos, o que causa a libertação
da histamina e de outras substâncias químicas que se encontram
nos grânulos (Fig. 30). Estes podem provocar comichão (urticária),
congestão nasal, falta de ar, lacrimejar constante e, inclusive, choque
anafiláctico, entre outros sintomas.
Os antigénios Libertação
ligam-se aos de histamina,
anticorpos que causa a
dos mastócitos. reacção alérgica.
Fig. 31 Testes a vários alergénios. Pode observar-se vários resultados positivos.
222 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Se a pressão baixar demasiado, não é mantida a renovação do auto-imunidade autoimmunity
oxigénio e de nutrientes nas células de tecidos vitais do corpo, o que
pode ser fatal para o organismo.
Hipersensibilidade de contacto
As alergias de contacto são mediadas não por anticorpos mas
por células T, que ficam sensibilizadas a um determinado antigénio
e libertam citocinas quando entram novamente em contacto com o
mesmo. As citocinas causam reacções inflamatórias que atraem
macrófagos ao local. Os macrófagos libertam mediadores, que
aumentam a resposta inflamatória, resultando numa dermatite alérgica.
Estas reacções podem ser causadas por veneno do carvalho (Fig. 32),
veneno da hera, níquel presente em jóias, sais de crómio de alguns
produtos de couro, componentes de cosméticos e látex, entre outras. A RETER
O látex, produto da árvore-da-borracha, contém uma proteína
A hipersensibilidade de contacto
vegetal que induz a hipersensibilidade. Esta substância existe em é mediada por linfócitos T.
muitos produtos, como elásticos, brinquedos, preservativos e luvas.
As lesões na pele
A B
aparecem depois de
24 horas, atingindo
o seu máximo 48 a
72 horas depois da
exposição à planta.
Exposição
ao veneno
do carvalho.
Doenças auto-imunes
Normalmente, durante o processo de maturação, quer dos
linfócitos B, quer dos linfócitos T, são eliminados aqueles que apre-
sentam alterações e que poderiam actuar sobre células do próprio
organismo.
Existem, contudo, casos em que o sistema imunitário destrói
células do próprio organismo como se elas fossem estranhas. Estas
reacções, designadas por auto-imunidade, podem actuar sobre
um tipo específico de tecido, como, por exemplo, doença de Graves
(forma de hipertiroidismo que provoca uma anomalia no funciona-
mento da glândula tiróide), diabetes de tipo 1 (destruição das célu-
las b do pâncreas por linfócitos T) e glomerulonefrite. Também podem
actuar de uma forma sistémica, atingindo vários tecidos e órgãos
do organismo, como, por exemplo, lúpus eritematoso sistémico
(doença crónica auto-imune, que causa inflamações em várias A RETER
partes do corpo, especialmente na pele, articulações, sangue e rins), A auto-imunidade é a destruição
artrite reumatóide (doença caracterizada pela inflamação das articu- de células do próprio organismo,
como se fossem estranhas.
lações) e miastenia grave.
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 223
Glomerulonefrite
É uma inflamação nos glomérulos renais que tem origem num
fenómeno imunológico. As causas mais comuns de glomerulonefrite
são infecções provocadas por vírus ou bactérias que têm como con-
sequência a formação do complexo antigénio-anticorpo e a sua
precipitação no rim. Os linfócitos B diferenciam-se e produzem
anticorpos que atacam os glomérulos renais (auto-imunidade).
A destruição dos glomérulos pode levar à perda progressiva das
funções renais, deixando o sangue de ser filtrado, com todas as con-
sequências que isso tem para o organismo (Fig. 33).
Arteríola aferente
Glomérulo
normal
Glomérulo
inexistente
Glomérulo em degenerescência (a arteríola
(formação de um canal largo não sofre
Arteríola eferente na arteríola). capilarização).
A B
Fig. 35 Mão (A) e pés (B) afectados por artrite reumatóide.
Miastenia grave
A miastenia grave (Fig. 36) é uma doença crónica, auto-imune,
que impede a comunicação natural entre o sistema nervoso e o
muscular, devido à destruição, por anticorpos, dos receptores da
acetilcolina, neurotransmissor responsável pela transmissão do
impulso nervoso. Como consequência, existe fraqueza e fadiga
generalizada no organismo.
A terminação nervosa não se apresenta alterada, contudo, há
um número reduzido de receptores de acetilcolina, pelo que o
impulso não é recebido de forma normal na célula muscular (Fig. 36 B),
ao contrário do que ocorre numa sinapse normal, onde se encontram
receptores da acetilcolina na célula muscular.
Receptores Local
de acetilcolina de libertação
Miastenia grave.
Fig. 36
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 225
imunodeficiência immunodeficiency Imunodeficiências
As imunodeficiências são situações em que o sistema imuni-
tário não funciona devido à eliminação de um ou mais dos seus
componentes, o que leva à susceptibilidade elevada a diversas infec-
ções. Estas dependem da parte do sistema imunitário que está ausente
ou a funcionar mal.
Considera-se a existência de dois tipos de imunodeficiências: a
primária ou congénita, que pode resultar de uma alteração genética
ou de anomalias no desenvolvimento, e a secundária ou adquirida,
que resulta de infecções ou de stress do sistema imunitário (como
malnutrição, por exemplo).
Imunodeficiências congénitas
Estas imunodeficiências são raras e podem afectar quer os linfó-
citos B, quer os T, ou ambos, podendo também afectar as células
NK, fagócitos ou componentes do sistema complemento.
A imunodeficiência congénita mais nociva é a imunodeficiência
combinada severa (SCID), na qual não existem nem linfócitos B,
nem linfócitos T funcionais. Tem uma taxa de ocorrência muito
baixa (1/500 000), e uma vez que não existe qualquer tipo de células
protectoras, as crianças que possuem esta imunodeficiência morrem
de doenças infecciosas em idades muito precoces, a não ser que vivam
em ambientes totalmente assépticos ou sofram um transplante de
medula óssea.
As crianças com SCID têm geralmente falta de uma enzima
importante na proliferação de células B e T (adenosina desaminase
— ADA). Estas crianças respondem bem a tratamentos que incluem
a administração da enzima em falta. Pode também ser utilizada uma
terapia génica que introduz em linfócitos T deficientes, retirados da
criança, o gene da ADA. Neste tratamento utiliza-se como vector
um retrovírus, que é colocado nos linfócitos T, sendo estes poste-
riormente reinseridos na criança. Esta alteração genética não dura
para sempre, pois as células acabam por morrer, sendo necessário
repetir o tratamento.
Imunodeficiências adquiridas
Estas imunodeficiências resultam de factores do meio e não de
factores genéticos. Existem vários factores que levam a estas imuno-
deficiências, como a idade avançada, a existência de tumores malignos
e algumas infecções (virais, em especial), drogas imunossupressoras
ou inclusive malnutrição.
Muitas vezes, uma infecção pode levar à perda de certas células
do sistema imunitário. Por exemplo, o vírus que causa a rubéola
replica em células linfóides, matando muitas delas, o que provoca
vulnerabilidade a outras infecções. Os agentes da lepra e da malária
afectam os linfócitos T e os macrófagos, causando alterações na
imunidade celular.
A malnutrição também pode causar uma diminuição da resposta
imunitária, em especial, a celular.
226 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Os tumores malignos que envolvem o sistema linfático fazem,
muitas vezes, diminuir a imunidade humoral.
Uma das mais conhecidas e a que origina maior número de casos
é a SIDA (síndrome da imunodeficiência adquirida), provocada pelo
VIH (vírus da imunodeficiência humana). Estes vírus, do grupo dos
retrovírus (que possuem RNA), infectam e destroem em especial os
linfócitos Th, deixando as pessoas afectadas muito susceptíveis a
infecções provocadas por agentes oportunistas.
Glicoproteína Cápside
RNA
Enzima Membrana
transcritase reversa viral
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 227
Existem dois tipos de VIH: o VIH-1 e o VIH-2, sendo o primeiro
o mais virulento, o que tem elevada transmissibilidade e o que causa
a maioria das infecções a nível mundial. O VIH-2 é menos virulento
e tem menor capacidade de transmissão, estando confinado à África
Oriental.
No processo de infecção, replicação e transcrição, o vírus contacta
com a membrana celular de um linfócito T CD4, entrando a cápside
viral na célula. De seguida, a enzima transcritase reversa liberta a
cadeia de RNA das suas proteínas virais e copia-a numa cadeia com-
plementar de DNA, sintetizando depois a cadeia complementar desta,
o que dá origem a uma molécula dupla de DNA viral, transportada
em seguida para o núcleo da célula. Esta molécula é integrada no
Novos vírus a abandonar uma
Fig. 39 genoma da célula através da enzima integrase viral, passando a ser
célula. designado por provírus. O provírus pode ficar em estado latente,
necessitando da presença de factores de transcrição celular para ser
activado. Na sua replicação, o provírus dá origem a mRNA, cortado
em pequenos pedaços, que codificam as proteínas virais, e que vão
posteriormente unir-se, dando origem aos novos vírus.
VIH
Maturação
Entrada E
do vírus CD4 DNA
Criação
Transcrição reversa
D de novos VIH
Proteínas
A virais
Enzimas Integração
virais RNA viral
Fusão
Entrada Provírus
B C
da cápsula
Linfócito T Núcleo
DNA
hospedeiro Transcrição RNA viral
Fig. 40 Ciclo de replicação do vírus VIH. A enzima transcritase reversa sintetiza DNA
a partir do RNA viral (A); a enzima integrase integra o DNA viral no genoma da
célula (B); o RNA viral abandona o núcleo (C); tradução (D); a enzima protéase
corta a proteína (E).
(moléculas/mL)
(célualas/mm3)
Aparecimento 105
600 de sintomas
104
300
103
Período de latência
0 102
0 3 6 9 14 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Semanas Anos
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 229
No quadro seguinte podemos ver alguns dados relativos ao ano
de 2007, segundo o Programa Comum das Nações Unidas contra o
VIH/SIDA.
Quadro 6
infecção por vih no mundo
Caraíbas 230 m 17 m 11 m
Oceânia 75 m 14 m 1200
PESQUISAR E DIVULGAR
230 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
ACTIVIDADE
IMUNOGLOBULINA E
IgE – Imunoglobulina E Total 200 Ul/ml Adulto ‹ 150
IgE – Específica: penas de periquito
Classe II Ul/ml
Ul/ml 2,1 Classe O: 0,00 – 0,29
Classe 0/I: 0,30 – 0,34
Classe I: 0,35 – 1,49
Classe II: 1,50 – 2,99
Classe III: 3,00 – 14,9
Classe IV: › 15,0
Velocidade de sedimentação 1h 40 ‹ 20
SEROLOGIA
ANTIHIV 1 Positivo
ANTIHIV 2 Negativo
Linfócitos T4 (CD4) 300/mm3 › 500/mm3
Linfócitos T8 (CD8) 1500/mm3 ‹ 1000/mm3
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 231
Conceitos/Palavras-chave
Necessários Essenciais Complementares
Síntese de conhecimentos
• O sistema imunitário é constituído, além dos vasos linfáticos, por órgãos linfóides e por células efectoras
e tem como função defender o organismo de agentes patogénicos externos e eliminar as células próprias
alteradas, desenvolvendo dois tipos de mecanismos de defesa: não-específicos e específicos.
• A pele, as mucosas e as respectivas secreções, bem como a flora normal, tendem a evitar a entrada
de microrganismos no nosso corpo.
• A fagocitose, a resposta inflamatória, o sistema complemento, a febre e o interferão são mecanismos
de imunidade inatos ou não-específicos.
• As defesas adquiridas são específicas, apresentam memória e são capazes de distinguir o próprio
do não-próprio. São da responsabilidade dos linfócitos e desencadeadas pela presença de antigénios.
• A imunidade humoral, da responsabilidade dos linfócitos B, actua sobre os antigénios que circulam
na linfa ou no sangue.
• A imunidade celular, da responsabilidade dos linfócitos T, actua sobre as células que exibam
marcadores diferentes dos originais (células infectadas, tumorais ou de transplantes).
• As células memória são células que permanecem no organismo como resultado de um primeiro
contacto com antigénios. Estas células promovem a resposta imunitária secundária, que é mais
rápida, duradoura e intensa do que a resposta primária.
• As vacinas protegem o organismo, pois estimulam respostas imunitárias específicas (imunidade activa).
A imunidade passiva é a transferência de anticorpos ou antitoxinas para um organismo não imunizado
e que necessita de imunidade rápida.
• As hipersensibilidades são respostas imunes que causam alterações em tecidos do organismo, como
as alergias (reacções de hipersensibilidade a substâncias não-patogénicas) e as doenças auto-imunes
(destruição de células do organismo).
• As imunodeficiências podem ser congénitas ou adquiridas.
• O VIH é o vírus que provoca a SIDA e existe no sangue, no esperma e nas secreções vaginais de
indivíduos infectados, podendo transmitir-se para pessoas que contactem com estes fluidos. Este vírus
enfraquece o sistema imunitário, tornando-o vulnerável a doenças oportunistas, que podem ser fatais
e levar à morte.
232 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
ACTIVIDADES
Sistema imunitário
1. Elabore um mapa de conceitos relativos ao sistema imunitário.
2. Para cada conjunto de termos, identifique aquele que está menos relacionado com todos
os outros, justificando convenientemente a sua resposta.
A — Sistema complemento I. Baço
B — Produção de anticorpos II. Gânglios linfáticos
C — Fagocitose III. Adenóides
D — Interferão IV. Timo
3. Durante a resposta inflamatória ocorrem vários fenómenos, alguns dos quais estão descritos na
lista seguinte. Ordene os acontecimentos de forma a reconstruir a sequência correcta dos mesmos.
A — Fagocitose
B — Vasodilatação e aumento da permeabilidade capilar
C — Reparação dos tecidos
D — Aumento do fluxo sanguíneo
E — Produção de histamina
termos descrição
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 233
ACTIVIDADES
234 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
11. A Francisca teve rubéola quando tinha 4 anos. O seu irmão teve rubéola dois anos depois, mas
a Francisca não teve novamente a doença. Explique porquê.
13. Observe com atenção o gráfico, que ilustra a evolução de casos de papeira por 100 000 habitantes, nos
EUA, entre 1973 e 2001. A papeira é provocada por um vírus e a vacina contra a papeira foi introduzida
no plano de vacinação dos EUA em 1967, sendo inoculada em cada bebé duas doses virais atenuadas.
40
N.º de casos por 100 000
30
20
10
0
1973 1978 1983 1988 1993 1998 2002 Anos
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 235
3 2 Biotecnologia no diagnóstico
e na terapêutica de doenças
A ciência de hoje é a tecnologia de amanhã.
Edward Teller
desenvolvimento
por exemplo, por exemplo,
de tecnologias
236 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
anticorpos policlonais polyclonal
ACTIVIDADE
antibodies
A B C D E F G
Linfócitos B
I II III IV
Antigénios
Imunização
A
Teste de anticorpos
Cultura
de células
Linfócitos B
extraídos do baço
Selecção
dos hibridomas
com interesse
B
Anticorpo
monoclonal
Fusão Hibridoma
Congelamento
do hibridoma
Fotografia de microscopia óptica
Fig. 45
para uso futuro
de mieloma (A) e de microscopia
electrónica de linfócito B normal (B). Fig. 46 Produção de anticorpos monoclonais a partir de hibridomas.
238 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
ACTIVIDADE
A actuação dos anticorpos monoclonais passa pela sua ligação aos marcadores proteicos
das células-alvo, cancerígenas, pois estas apresentam antigénios específicos nas suas
membranas celulares. Além de detectarem especificamente as células procuradas
(reconhecem apenas células de um determinado tipo de tumor), e promoverem, após
ligação, a sua destruição, desencadeiam ainda uma resposta imunitária por parte das
restantes células do sistema imunitário.
Esta forma de tratamento, reconhecida como imunoterapia passiva, pois os anticorpos não
Tumores são produzidos pelo doente, traz muitas vantagens, já que elimina os efeitos secundários da
quimioterapia e radioterapia que atingem também as células normais.
Neste caso, os efeitos secundários são menos agressivos, normalmente passageiros
e mais facilmente controlados, mas actualmente ainda continua a ser feita em associação
com a quimioterapia, por ainda estarem em estudo as dosagens ideais
e os intervalos de aplicação, entre outros aspectos.
O rituximabe é um exemplo de um anticorpo monoclonal (primeiro a ser usado
em tratamento do linfoma B).
Nesta situação, os anticorpos monoclonais têm como função ligar-se aos receptores
membranares produzidos pelas células T e impedirem que estas detectem o órgão
Órgãos transplantados transplantado ou o enxerto.
ou enxertos
No entanto, neste caso, não se conseguiu ainda resolver a desvantagem inerente a esta
actuação: redução da capacidade de defesa do organismo.
Os venenos de alguns animais, como serpentes, aranhas, escorpiões e peixes, actuam nas
suas presas em importantes alvos fisiológicos no sistema nervoso ou no sistema circulatório
(incluindo o coração), entre outros, e podem provocar reacções inflamatórias que levam à
necrose. Por isso, as toxinas dos venenos têm vindo a ser isoladas pelo Homem (Fig. 48)
e até produzidas por Engenharia Genética de modo a poderem ser utilizadas posteriormente
Venenos como terapia em diversas situações.
As toxinas são também estudadas a fim de ser possível a produção de anticorpos
monoclonais visando a terapia nos casos em que, por acidente, o homem é atacado
(picadas, mordeduras). É devido a esta técnica que, actualmente, existem antídotos
(soros antiveneno) extremamente eficazes.
240 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
A B A B C
Fig. 48 Extracção de veneno de serpente (A) e de aranha (B). Fig. 49 Teste de gravidez com utilização
de anticorpos monoclonais.
1 G
Amplificação 212 pb
por PCR
115 pb
Mutado 97 pb
2 A
Insulina
Durante muito tempo, a insulina (Fig. 51), para administração
aos doentes com diabetes mellitus tipo 1, era extraída do pâncreas
de animais, o que, além da dificuldade de obtenção de quantidades
consideráveis e do elevado custo, levantava problemas por causar,
com frequência, alergias no receptor. A Engenharia Genética veio
permitir a sua produção em E. coli, ajudando a ultrapassar os referidos
obstáculos.
Hormona do crescimento
Esta hormona tem sido produzida também através de técnicas Fig. 51 Preparação da injecção
da Engenharia Genética utilizando E. coli ou S. cerevisiae, que são de insulina por um doente com
sujeitas posteriormente a lise para a libertação da hormona. diabetes mellitus tipo 1.
Outras substâncias
CURIOSIDADE
O factor VIII anti-hemofílico, o factor de crescimento da
epiderme, a relaxina (auxilia no parto) ou o interferão, usado, por Para obter 4,5 kg de insulina,
era necessário sacrificar 250 000
exemplo, no tratamento de alguns tipos de tumores malignos porcos e obter 27 toneladas de
(sangue e cólon), são algumas das muitas substâncias que a pâncreas.
biotecnologia põe à disposição do Homem através do recurso à
Engenharia Genética.
Produção de biomateriais
Outro campo onde tem existido uma grande evolução nos últimos
tempos é o da produção de biomateriais, que resultam, mais uma
vez, da coordenação de trabalhos de Engenharia e Biologia.
Estes materiais destinam-se a uma utilização íntima com sistemas
biológicos, permitindo a substituição, o tratamento, o aumento ou
apenas a avaliação de um tecido, órgão ou função de um organismo
(Fig. 52).
Os metais, os polímeros e as cerâmicas são biomateriais usados
para substituir pele afectada por queimaduras, elaborar próteses
ósseas, lentes de contacto, vasos sanguíneos, entre outros.
A B
A RETER
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 243
bioconversão bioconversion Qual é o papel dos microrganismos na biotecnologia?
Antibióticos
Estas substâncias são capazes de impedir o desenvolvimento de
organismos e, por isso, são muito usadas no combate a infecções.
No entanto, os antibióticos só foram descobertos acidentalmente
no século xx, em 1928, quando um médico escocês, Alexander
Fleming, viu as suas culturas de bactérias contaminadas por um
fungo do género Penicillium, que as destruiu.
Após a análise da substância libertada pelo fungo, que se desig-
nou por penicilina, percebeu-se que a mesma podia ser utilizada
para eliminar bactérias que afectavam o Homem.
No entanto, a caracterização e o isolamento da penicilina dos
meios de cultura não foi tarefa fácil e só mais tarde, com o apareci-
mento da cromatografia e espectrofotometria, foi possível avançar
com os trabalhos de forma a tornar viável a utilização desta desco-
berta.
244 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Sabe-se hoje que a eficácia desta substância na eliminação das
bactérias se deve ao facto de inibir a síntese da sua parede celular e
de estimular a produção de autolisinas bacterianas.
Actualmente, além da penicilina G, que se obtém de forma
natural a partir de Penicillium chrysogenum, muitos outros antibióticos
são conhecidos e produzidos.
Uma grande parte dos antibióticos existentes actualmente no
mercado é, no entanto, resultado da modificação enzimática, de
produtos sintetizados artificialmente, realizada por um microrganismo
(bioconversão). Estes derivados semi-sintéticos têm revelado
propriedades terapêuticas mais eficazes, como é o caso da ampicilina
e amoxicilina, penicilinas semi-sintéticas formadas pelo método
enzimático, que, tal como a penicilina natural, apresentam largo
espectro de acção, ou seja, actuam sobre um grande número de
microrganismos. No entanto, estes antibióticos apresentam a vantagem
de poder ser administrados oralmente por serem resistentes a um
pH baixo, como o do estômago. Assim, ao contrário da penicilina
G, que é geralmente injectável, o doente pode tomar as suas doses
de antibiótico muito mais facilmente e à hora mais conveniente, de
acordo com a posologia indicada, sem estar dependente de um
técnico de saúde que lhe administre a injecção.
Vitaminas
Estas moléculas são essenciais ao bom funcionamento do orga-
nismo, mas a sua síntese química é muito complexa, pelo que a sua
produção por microrganismos é muito vantajosa.
Esteróides
CURIOSIDADE
A síntese de esteróides, como a cortisona, descoberta no início
da década de 1930 e cujas propriedades têm permitido bons resultados • Para produzir uma dose de va-
cina contra a hepatite B, eram
no combate à artrite reumatóide, é também feita por bioconversão necessários 40 litros de soro
associada à via química. O facto de algumas etapas da síntese passarem humano infectado.
a ser realizadas por microrganismos proporcionou uma diminuição
do preço do produto, pois foi possível uma redução substancial no
número de reacções necessárias. No caso da síntese de hidrocortisona,
por exemplo, a bioconversão conseguiu uma redução de 30 para 13
no número de reacções em cadeia.
Hormona de crescimento
Passou, de há um tempo para cá, a ser produzida por E. coli,
livrando-se assim dos contaminantes que se lhe associavam quando
a sua obtenção era feita a partir de animais. A RETER
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 245
Conceitos/Palavras-chave
Necessários Essenciais Complementares
Síntese de conhecimentos
• A biotecnologia é uma actividade em que as ciências
biológicas e a Engenharia se unem para dar
consecução a diversos produtos necessários ao
Homem.
• Existem várias aplicações da biotecnologia no campo
da Medicina e da saúde.
• Os anticorpos policlonais são os anticorpos que se
formam quando o organismo é confrontado com
a presença de um antigénio, e serão tão diversos
quanto o número de diferentes epítopos que este
apresente.
• Os anticorpos monoclonais são os que tiveram origem
em células clonadas a partir de um determinado tipo de
linfócito B diferenciado.
• Os tumores dos linfócitos B (mielomas) são usados
em biotecnologia para, em conjunto com
os linfócitos B com os quais são fundidos, formarem
hibridomas, células híbridas que produzem anticorpos
monoclonais.
• Os anticorpos monoclonais são usados no tratamento
de tumores e doenças auto-imunes, impedindo a
rejeição de órgãos transplantados ou enxertos, em
testes de gravidez e nos antídotos de venenos.
• Outros procedimentos de biotecnologia usados para
diagnóstico e terapêutica de doenças são os
que se relacionam com a detecção de doenças
genéticas, a produção de substâncias para tratamento
de doenças (insulina, hormona de crescimento,
factor anti-hemofílico) e até com o fabrico de
biomateriais.
• Os microrganismos têm sido usados nas actividades
da biotecnologia, já que conseguem realizar,
de modo rápido e eficaz, processos que permitem a
produção de substâncias como antibióticos,
esteróides, vitaminas, hormonas e até vacinas.
246 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
ACTIVIDADES
Biotecnologia no diagnóstico
e na terapêutica de doenças
1. Construa um mapa de conceitos relativo à biotecnologia no diagnóstico e na terapêutica
de doenças.
chave afirmações
2
3
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 247
bioética
• Doentes com SIDA e a utilização de cobaias animais e humanas para experimentação
farmacêutica são problemas actuais e que se relacionam com o tema desta unidade.
248 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
debate
Experimentação biomédica
Questões centrais:
• Será lícita a utilização de animais em experimentação biomédica?
• Serão fiáveis e eficazes para o Homem os resultados das experiências noutros animais?
• Existem métodos não-animais alternativos?
• Estarão a ser cumpridas as directrizes éticas, há muito estabelecidas, sobre pesquisa
em seres humanos?
• Como ponto de partida para o debate, sugere-se a leitura dos textos seguintes.
Doc. A Procedimento
O projecto de lei de autoria do vereador de Três grupos de pesquisa (cada um com
Florianópolis, Deglaber Goulart (PMDB), que pro- 500 mulheres grávidas infectadas com VIH):
íbe o uso de animais como cobaias no municí- 1.º grupo — R
ecebiam tratamento com AZT
pio, é reflexo da falta de educação científica no durante o trabalho de parto.
país, de acordo com o biólogo Luiz Eugênio
2.º grupo — R
ecebiam uma única dose de
Mello, presidente da Federação de Sociedades
neviparina durante o trabalho
de Biologia Experimental (Fesbe).
de parto.
O vereador afirma que a sua lei se aplica a
3.º grupo — Recebiam um placebo.
todos os animais que ele chama «de porte»,
como cães, macacos e ratos. Questionado sobre Após o parto não recebiam qualquer trata-
se os cientistas da cidade poderiam continuar a mento anti-retroviral (o que nunca receberiam
fazer pesquisas com animais como moscas-de- quer estivessem ou não no programa de estudo)
fruta e outros invertebrados, ele disse que acre- e continuavam a amamentar (o que, atendendo
dita que sim. «Não falo nada especificamente à pobreza extrema, não era de estranhar).
sobre moscas, estou a falar de animais gran- Considerações
des», afirmou. A—S
egundo os cientistas, para estas
Jornal Globo 1, 14 de Dezembro de 2007 mulheres, receberem um placebo não
era pior do que a sua realidade — não
Doc. B
receber nenhum tratamento — e
Realidade do Uganda em 1994: 4 mil mulhe- deste modo sempre contribuem para
res/ano infectadas com VIH davam à luz crian- a evolução da Medicina.
ças, das quais um terço acabava infectada pelo
B—S
e já estão disponíveis tratamentos
VIH.
eficazes, não existe obrigação ética de
Ponto de partida: Uma única dose potente os fornecer, quer alterem ou não os
de um anti-retroviral (nevirapina) que actuasse dados?
imediatamente e que tivesse uma acção muito Shah, S., Cobaias Humanas — Os Testes
mais prolongada tinha igual efeito e metade dos de Medicamentos no Terceiro Mundo, 2006 (adaptado)
custos do que a administração prolongada de Nota: A
nevirapina tinha deixado de ser usada porque
anti-retrovirais de efeito lento (AZT). se tinha chegado à conclusão de que fomentava
o desenvolvimento de estirpes resistentes.
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 249
CiênciaTecnologiaSociedadeAmbiente
ACTIVIDADES
250 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
DOC. 2 Alergias
• Uma alergia é uma resposta imunológica aos seis anos cerca de 9000 crianças já incluídas
a uma determinada substância que se considera em dois estudos alemães de investigações sobre
nociva para o organismo, quando não o deveria alergias.
ser. O nosso sistema imunológico possui uma Os investigadores submeteram os pais a
memória prodigiosa; logo, assim que cataloga o questionários muito completos e fizeram análises
inimigo, reage com rapidez a qualquer incursão de sangue a mais de 3000 crianças para procurar
que este realize, segregando anticorpos especí- anticorpos específicos de uma «sensibilização
ficos. Esta hipersensibilidade define a alergia. alérgica», uma resposta imunitária diferente de
É verdade que o número de alergias tem uma alergia declarada.
aumentado porque hoje em dia existe mais
Os cientistas constataram que ter um cão
higiene?
durante a primeira infância não estava associa-
Este argumento é defendido pela corrente
do «a uma sensibilização específica aos pêlos
higienista moderna, que diz que quanto mais
de cão», pois «a presença de um cão em casa
protecção e cuidado se tem em relação aos
estava claramente associada a uma taxa signi-
parasitas e microrganismos, mais aumentam os
ficativamente mais fraca de sensibilização aos
casos de reacções alérgicas. Por exemplo, havia
pólenes e às alergias inaladas». O efeito protec-
menos crianças alérgicas aos animais quando
tor não foi observado em crianças que contac-
viviam nas quintas, em contacto directo com
tavam regularmente com cães, mas que não os
eles. Contudo, outros especialistas apontam
tinham em casa. Os investigadores também não
como factores causais: as mudanças nos hábi-
encontraram correlação entre ter um cão (uma
tos de consumo, a introdução de novos alimen-
família em dez) ou contactar com eles regular-
tos, o uso de corantes e conservantes e, ainda,
mente e o desenvolvimento de doenças ou sin-
as consequências da cada vez maior contami-
tomas alérgicos (asma, eczema, rinite alérgica).
nação do meio ambiente.
Os autores do estudo abstêm-se, no entanto,
http://www.saudeactual.com/home/alergias/index.html
de recomendar aos pais a aquisição de um cão,
por não conhecerem ainda claramente o meca-
• As crianças que tenham um cão em casa
nismo explicativo dos resultados encontrados.
são menos susceptíveis de desenvolver doenças
respiratórias, conclui um estudo de investigadores Segundo Joachim Heinrich, a protecção
alemães divulgado por uma revista europeia de poderá ser indirecta, nomeadamente pela forte
pneumologia. exposição dos pequenos donos de cães a um
certo número de germes que os seus compa-
A questão das vantagens, em termos de
nheiros de quatro patas recolhem no exterior e
protecção contra alergias, do contacto desde
trazem para casa nos pêlos. A exposição precoce
tenra idade com um animal doméstico com
a múltiplos agentes infecciosos poderia assim
pêlos (cão ou gato) tem sido levantada ao longo
estimular a maturação do sistema imunitário.
dos anos sem que tenham surgido respostas
definitivas. Para verificar se esta influência benéfica
sobre a sensibilização aos alergénios respiratórios
Agora, a edição de Maio do European Res-
se mantém ao longo da vida, os investigadores
piratory Journal dá conta que uma equipa dirigida
prevêem fazer novas análises quando as crianças
por Joachim Heinrich, do Helmholtz Zentrum,
incluídas no estudo chegarem aos 10 anos.
de Munique, seguiu desde o nascimento e até
http://www.cienciahoje.pt/index php?oid=26148&op=all
ACTIVIDADES
1. Que factores são apontados no primeiro texto, por diversos especialistas, para a origem das alergias?
2. Que mensagem do segundo texto parece confirmar alguns dos conceitos referidos no primeiro?
3. A que conclusão se pode chegar relativamente aos conhecimentos científicos sobre alergias?
4. Enumere razões socioeconómicas que justifiquem a enorme preocupação com as alergias.
u n i d a d e 3 I m u n i d a d e e c o n t r o l o d e d o e n ç a s 251
unidade 4
252 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Produção de alimentos
e sustentabilidade
4 1 Microrganismos
e indústria alimentar 256
F G H
Quais são as vantagens, para o Homem, da obtenção destas espécies de forma artificial?
I J K
254 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
INTRODUÇÃO
Fig. 1 A produção de alimentos deve assegurar uma grande quantidade destes
sem esgotamento dos recursos naturais.
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 255
4 1 Microrganismos
e indústria alimentar
Todo o progresso se baseia num desejo inato e universal de viver além dos
seus próprios meios.
Samuel Butler
A B
Produtos
Reagentes
Quantidade Quantidade
Energia
Energia
de energia de energia
libertada consumida
Produtos Reagentes
Fig. 3 Reacção exergónica: os produtos possuem menor quantidade de energia do que
os reagentes (A); reacção endergónica: os produtos contêm maior quantidade de
energia do que os reagentes (B).
Reagente
ATP Produto
Reacção endergónica
Reagente
Energia Energia
das reacções para reacções
exergónicas endergónicas
ADP + P
Energia
Fig. 5 O ciclo da molécula de ATP.
Produto
As reacções químicas nunca se iniciam espontaneamente,
excepto esporadicamente; para que uma reacção comece, é necessá- Reagente
rio fornecer uma quantidade inicial de energia, denominada energia Fig. 4 A energia libertada nas reacções
exergónicas é utilizada nas reacções
de activação. Essa energia é requerida em reacções exergónicas e em
endergónicas.
reacções endergónicas. Ajuda a quebrar ou desestabilizar ligações
químicas existentes nos reagentes, o que tem de ocorrer antes da
formação dos produtos, ou fornece energia para que os reagentes se
movimentem e colidam para conseguirem reagir entre si (Fig. 6).
A energia de activação é fornecida através de calor. Quando as
moléculas são aquecidas, movem-se rapidamente e podem interagir A RETER
entre si.
As reacções exergónicas
Nos seres vivos, o aumento de temperatura destrói as estruturas libertam energia.
celulares, o que implica que o metabolismo celular deva ocorrer a As reacções endergónicas
consomem energia.
temperaturas moderadas.
A B
Estado de transição
Energia
Barreira Energia de activação
de activação
energética
Reagentes Produtos
Energia Energia
libertada a fornecer
Produtos Reagentes
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 257
catalisador catalyst Como é que os seres vivos conseguem realizar
biocatalisador biological catalyst
o seu metabolismo celular a temperaturas
enzima enzyme
compatíveis com a vida?
centro activo active site
substrato substrate
Nas células, à semelhança do que acontece em muitos processos
químicos industriais, existem moléculas que actuam como catali-
sadores, facilitando a interacção entre as moléculas dos reagentes.
Os catalisadores biológicos (biocatalisadores) são designados
A RETER por enzimas e permitem diminuir a barreira energética da energia
A energia de activação é a de activação, possibilitando o aumento da taxa da reacção (Fig. 7).
energia que é necessário
fornecer para que uma reacção
As enzimas, descobertas há mais de 100 anos, são moléculas
se inicie. proteicas com composição e sequência de aminoácidos próprias. A sua
As enzimas diminuem a energia estrutura é terciária; ou seja, apresentam forma globular. Nas enzimas,
de activação necessária a uma
reacção de metabolismo celular.
existe uma depressão designada por centro activo, local onde se
vai(ão) ligar o(s) reagente(s) — substrato(s) da reacção.
Reacção catalisada
Ea
ACTIVIDADE
Actividade enzimática
1. Analise a figura seguinte, onde se observa o modo de actuação de uma enzima (Fig. 8 A) e um modelo
tridimensional da enzima e do substrato (Fig. 8 B e C). Responda às questões seguintes.
Substrato
A B C
Complexo Libertação de produtos
enzima-substrato
Enzima
Centro
activo
Enzima
258 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
As enzimas podem ainda possuir outros locais de ligação a outras complexo enzima-substrato enzyme-
-substrate complex
moléculas que podem ajudar ou impedir o seu funcionamento.
especificidade absoluta absolute
Entre uma molécula de substrato e uma enzima formam-se specificity
muitas ligações fracas e não covalentes, ou seja, o denominado com- especificidade relativa relative
plexo enzima-substrato (Fig. 9). specificity
Substrato Produtos
H2O
Centro
activo CURIOSIDADE
A classificação das enzimas foi
uniformizada pela Enzyme Com-
Enzima
mission da União Internacional de
Bioquímica.
Fig. 10 Reacção de hidrólise da sacarose pela sacarase.
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 259
A tripsina, enzima que actua na hidrólise de proteínas (protéase)
dos nossos alimentos, actua em qualquer ligação peptídica (no grupo
carboxilo) sempre que um dos aminoácidos arginina ou lisina esteja
presente, independentemente da sua posição na cadeia polipeptídica.
Esta enzima tem assim especificidade relativa.
As enzimas podem actuar em reacções exergónicas e em reacções
endergónicas. Numa reacção de síntese, as moléculas de substrato
ligam-se ao centro activo da enzima (se isto não acontecesse, esta
reacção só teria lugar quando os reagentes colidissem por acaso).
A enzima modifica ligeiramente a sua forma para que as moléculas
de substrato possam ter uma orientação favorável à sua ligação.
A libertação do produto permite que a enzima retome a sua forma
inicial.
Enzima
D Centro activo
Complexo
enzima-substrato
C B
O produto A enzima permite O centro
é libertado a ligação entre activo orienta
e a enzima os substratos. os substratos.
retoma a sua
forma normal.
ACTIVIDADE
260 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Qual é a finalidade dos cofactores e das coenzimas? cofactor cofactor
coenzima coenzyme
apoenzima apoenzyme
Algumas enzimas só catalisam reacções quando se encontram
holoenzima holoenzyme
ligadas a moléculas não-proteicas, chamadas cofactores. Muitas
enzimas associam-se a iões metálicos, como o zinco, ferro ou cobre.
Estes iões têm como função atrair electrões da molécula de substrato,
o que vai facilitar a sua transformação em produto. Muitos elementos
químicos reguladores são importantes para a nossa saúde, pois ajudam
as enzimas desta forma.
Quando o cofactor é uma molécula orgânica, é designado por co-
enzima. Todas as coenzimas transferem substâncias de um composto
para outro. Algumas permanecem ligadas às enzimas durante o pro-
cesso de transferência, enquanto outras se separam da enzima e levam
a substância a ser transferida. As coenzimas são, tal como as enzimas,
recicláveis, mas é de notar que a mesma coenzima pode associar-se Cofactor
ACTIVIDADE
I II
Factores que afectam o funcionamento enzimático A
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 261
Cada espécie de ser vivo possui, para as suas enzimas, uma tem-
peratura óptima que corresponde à temperatura em que se verifica
a maior actividade enzimática. As enzimas existentes no Homem
funcionam melhor entre os 36 ºC e os 38 ºC, temperaturas próximas
da temperatura ideal do corpo. Da mesma forma, as enzimas dos
outros seres vivos actuam melhor na amplitude de temperatura
específica do organismo em causa.
As temperaturas superiores ou inferiores à temperatura óptima
influenciam as ligações entre os aminoácidos que constituem as
enzimas, o que altera a forma do centro activo e causa a diminuição
da actividade enzimática, podendo até levar à sua paragem.
As temperaturas baixas impedem o funcionamento das enzimas
mas não as destroem — inactivação —; quando a temperatura se
eleva, elas voltam a ser funcionais. As temperaturas altas levam à
destruição da estrutura proteica — desnaturação (Fig. 15); neste
caso, as enzimas não voltam a ser funcionais.
Ruptura
Ligações das ligações
Aquecimento
Fig. 15 No processo de desnaturação das enzimas, quebram-se ligações químicas que
não voltam a refazer-se, impedindo o funcionamento definitivo da enzima.
b c
(Enzima) (Substrato)
Fig. 16 Velocidade de uma reacção Fig. 17 Velocidade de uma reacção
enzimática em função da concentração enzimática em função da concentração
da enzima. do substrato.
Centro alostérico
Enzima Enzima
Centro
Inibidor
alostérico
alostérico
Centro activo Substrato Substrato
Centro activo
Fig. 18 Esta enzima possui um centro activo e um centro alostérico. A molécula que
se liga ao centro alostérico induz uma alteração no centro activo que, neste caso,
impede que o substrato se ligue à enzima.
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 263
via metabólica metabolic pathway Esta capacidade da célula é bastante utilizada na regulação de
inibidor inhibitor vias metabólicas, ou seja, em conjuntos de reacções químicas que
inibição competitiva competitive inhibition funcionam em cadeia.
Existem vias metabólicas que são controladas pelo produto final,
capaz de actuar como inibidor alostérico de uma enzima da cadeia
de reacções. Esta enzima, ficando inactiva na presença do produto
final, não permite a formação deste por feedback negativo (ou retro-
acção). A existência de produto de reacção suficiente significa que
não é necessário prosseguir com a sua produção (Fig. 19).
Substrato
Fig. 20 Inibição enzimática. A inibição pode ser competitiva (A) ou não-competitiva (B).
264 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
A sulfanilamida (sulfa) é um medicamento antimicrobiano que inibição alostérica allosteric inhibition
inibe a via metabólica microbiana da síntese do ácido fólico, blo-
queando uma das suas enzimas por ser muito semelhante ao seu
substrato, o ácido paraminobenzóico (PABA). Quanto maior é a
quantidade de moléculas de sulfanilamida em relação às de ácido
paraminobenzóico, maior é a probabilidade de o centro activo da
enzima estar ocupado por esta molécula e não pelo ácido paramino-
benzóico. Quando não existe sulfanilamida, a enzima continua funcio-
nal. Esta substância química não afecta o metabolismo humano,
pois os homens não sintetizam ácido fólico: este tem de ser fornecido
pela alimentação.
A B
Diferenças estruturais
Diferenças estruturais
PABA PABA
(substrato) (substrato)
H H H H
N N HO O HO
S S C
Sulfa Sulfa Sulfa Sulfa
(inibidor) (inibidor) (inibidor) (inibidor)
N N N
Sulfanamida SulfanamidaPABA P
C D
Diferenças
Diferenças
estruturais
estruturais
H HH H
N N HO HO O O
S S C C
ulfaSulfa SulfaSulfa
bidor)
(inibidor) (inibidor)
(inibidor)
N N N N
zima
Enzima Enzima
Enzima H HH H H HH H
Sulfanamida
Sulfanamida PABA
PABA
Fig. 21 Inibição competitiva. O inibidor competitivo compete com o substrato pelo
centro activo da enzima: quanto maior é a quantidade do inibidor, maior é a
probabilidade que este tem de inibir o funcionamento da enzima. O inibidor
competitivo tem, geralmente, estrutura química muito semelhante à do inibidor.
Conceitos Discussão
1 — Justifique os resultados obtidos nas
várias caixas.
2 — Justifique a diferença de resultados
entre as caixas A e B.
Conceitos Resultados
Procedimento
1 — Prepare previamente uma gelatina, seguindo as instruções da embalagem.
2 — Verta o conteúdo do preparado para três caixas de Petri, deixe solidificar e identifique as caixas
(caixa A, B e C).
3 — Sobre a gelatina da caixa A coloque uma rodela de ananás cru e amadurecido.
4 — Sobre a gelatina da caixa B coloque uma rodela de ananás de lata, ou previamente fervido,
durante cerca de 20 minutos.
5 — Aguarde, no mínimo, 4 horas(1) e observe os resultados.
266 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
ACTIVIDADE LABORATORIAL
enzimas
1 — Elabore um protocolo experimental que contribua para o estudo laboratorial das enzimas.
• Após uma pesquisa bibliográfica, seleccione uma determinada enzima e um factor da mesma que
queira estudar (especificidade, influência da temperatura, pH, concentração de substrato ou
enzima, desnaturação enzimática, etc.)
• O protocolo experimental será para executar futuramente, pelo que deve ter em conta se o
material que necessita existe na escola ou é de fácil aquisição.
• Na construção do protocolo experimental, tenha em atenção:
a) a selecção e utilização de uma determinada enzima, para a qual, teoricamente, deve conhecer
as condições óptimas de actuação;
b) a utilização de substrato;
c) a utilização de um dispositivo de controlo;
d) a manipulação de variáveis;
e) um processo para evidenciar os resultados obtidos.
• Na construção do seu protocolo, siga a seguinte estrutura:
I. Objectivo da actividade prática.
II. Lista de material necessário para a execução da actividade prática.
III. Listagem de procedimentos a efectuar.
IV. Sugestão de registo de resultados.
V. Sugestão de tópicos de discussão.
2 — Execute o seu protocolo.
3 — Elabore um relatório da actividade experimental que sugeriu.
4 — Faça uma apresentação do seu trabalho à turma, onde evidencie todo o percurso, da pesquisa
bibliográfica à concretização final.
Fermentação
Desde há milhares de anos que o Homem utiliza a capacidade
de certos microrganismos modificarem alimentos para seu proveito.
Os alimentos fermentados são actualmente utilizados pelo Homem,
que os manipula, melhorando as suas características e propriedades
com o objectivo de obter melhor cheiro, sabor, aspecto e aumento
do período de conservação.
O processo da fermentação é anaeróbio, ou seja, não utiliza
oxigénio. É uma via metabólica complexa que se realiza em diversos
passos, com a intervenção de enzimas em cada um deles. Como
produtos finais são obtidos vários compostos de alto valor, nutritivo e
comercial, que são aproveitados com sucesso pelo Homem que os
consome. Contudo, o objectivo da realização deste processo pelos
diferentes microrganismos é a obtenção de energia para a realização
das suas actividades vitais. Qualquer processo de fermentação ini-
cia-se pela glicólise, etapa comum à respiração.
Glicólise
A glicólise é a primeira via metabólica de obtenção de energia,
que é utilizada pela generalidade dos seres vivos, em que uma
molécula de glucose é convertida, em 10 passos, em piruvato,
molécula utilizada nas vias fermentativas.
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 267
A glicólise (Fig. 22) decorre num conjunto de reacções, sendo
cada uma delas catalisada por uma diferente enzima, originando
compostos intermédios e no final duas moléculas de piruvato a partir
de uma de glucose. A célula produz duas moléculas de ATP e reduz
duas moléculas de NAD, obtendo duas moléculas de NADH.
Considera-se que as duas moléculas de ATP contêm unicamente
cerca de 5% da energia contida na molécula de glucose e que as
duas moléculas de NADH contêm cerca de 16% da energia da
molécula de glucose. No entanto, esta última energia, na ausência
de oxigénio, não se encontra disponível para a célula.
Os três produtos finais da glicólise — ATP, NADH e piruvato
— são continuamente formados, desde que a glucose se encontre
disponível. A glucose é disponibilizada pelo alimento e o ADP é
fornecido continuamente pela quebra das ligações do ATP quando
este fornece energia para as actividades vitais da célula.
As células contêm apenas uma quantidade reduzida de moléculas
de NAD, que rapidamente se esgota, salvo quando ocorre a oxidação
do NADH, que cede o seu ião hidrogénio e os electrões a um outro
receptor de electrões, reciclando desta forma a molécula de NAD.
Quadro 1
Processo da glicólise
268 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Glucose
ATP Passo 1
ADP
Glucose
6-fosfato
Passo 2
Frutose
6-fosfato
Passo 3
ATP
ADP
Frutose
1,6-bisfosfato
Passo 4
Didroxiacetona
fosfato
Passo 5
Gliceraldeído
3-difosfato
Passo 6
NAD+ NAD+
NADH + H+ NADH + H+
1,3-difosfoglicerato
ADP Passo 7
ATP
3-fosfoglicerato
Passo 8
2-fosfoglicerato
Passo 9
H2O H2O
Fosfoenolpiruvato
ADP
Passo 10
ATP
Piruvato
Piruvato
Propionibacterium Streptococcus
Lactobacillus
Ácido propriónico
Ácido acético
CO2 Ácido láctico
Fig. 23 Produtos finais de várias vias fermentativas. Dado que cada microrganismo utiliza
um determinado tipo de fermentação, os produtos finais podem ser usados para
identificar o seu género. Alguns produtos finais têm valor comercial.
Fermentação alcoólica
Este tipo de fermentação origina como produto final o etanol ou
álcool etílico. A partir do piruvato é inicialmente libertada uma
molécula de dióxido de carbono, produzindo-se acetaldeído, o qual
é utilizado como aceitador final de electrões. Os produtos finais
deste tipo de fermentação são o etanol (álcool etílico) e o dióxido de
carbono (Fig. 24).
Estes produtos são de grande importância para o Homem, apli-
cando-se este processo na produção de pão, vinho ou cerveja, mas
são tóxicos para os organismos que o realizam. As leveduras libertam
para o meio o álcool produzido, o qual provoca a sua morte quando
atinge percentagem elevada. O vinho possui cerca de 12% de álcool
— valor que provoca a morte das leveduras em fermentação.
CO2
NADH + H+ NAD+
O O O OH
H3C C C O– H3C C H H 3C C H
H
Piruvato Acetaldeído Etanol
Fig. 24 Via fermentativa alcoólica.
270 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
As leveduras, estirpes do género Saccharomyces, fermentam os
açúcares simples, produzindo etanol e dióxido de carbono, sendo
utilizadas na produção de bebidas alcoólicas, como a cerveja e o
vinho, e também de pão (as estirpes são seleccionadas de acordo
com a indústria).
Na produção de vinho, as uvas são o alimento usado, tendo
como objectivo a obtenção de um produto com o teor alcoólico
geralmente inferior a 14%, libertando-se CO2 para o meio, resultando
desta forma um vinho sem gás.
Na produção de cerveja usam-se grãos de cereais, sendo o teor em
álcool de 3,4% a 6,0%, o que leva a que, por vezes, haja necessidade de
enriquecer a cerveja em CO2 para substituir aquele que se evaporou.
Na produção de pão, o CO2 produzido aumenta o volume da
massa, provocando a textura alveolar do mesmo, o etanol evapora-se
durante a cozedura, ficando o pão fofo e leve.
Fermentação láctica
Neste tipo de fermentação o produto final é o ácido láctico, sendo
o piruvato que recebe o ião H e os electrões do NADH (Fig. 25).
Existem várias espécies de bactérias que são consideradas bacté-
rias ácido-lácticas (algumas dos géneros Lactobacillus, Lactococcus, Glucose
Fermentação acética
Este processo designa a transformação do etanol em ácido acético
por bactérias ácido-acéticas dos géneros Acetobacter ou Gluconobacter,
não se tratando de uma verdadeira fermentação mas de um processo
de oxidação do etanol em ácido acético. A substância obtida é o vina-
gre, solução aquosa com aproximadamente 4% de ácido acético.
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 271
ACTIVIDADE LABORATORIAL
Procedimento
1 — Identifique 4 gobelés: A, B, C e D.
2 — Prepare os gobelés da seguinte forma:
A — 50 g de farinha 50 mL de água(1), cubra com papel de alumínio e de seguida coloque
na estufa;
B — 50 g de farinha 50 mL de suspensão de levedura(1), cubra com papel de alumínio
e de seguida coloque na estufa;
C — 50 g de farinha 50 mL de suspensão de levedura(1), cubra com papel de alumínio
e de seguida coloque no frigorífico;
D — 50 g de farinha 50 mL de suspensão de levedura(1), cubra com papel de alumínio
e de seguida coloque num local à temperatura ambiente.
3 — C
om o auxílio de uma régua, meça durante 90 minutos, a intervalos de tempo de 15 minutos,
o volume da massa em cada gobelé, registando esses valores.
(1) Uniformize bem a mistura, calcando para que a altura ocupada no gobelé seja uniforme em toda a superfície.
Resultados
1 — Apresente os resultados sob a forma de tabela e de gráfico.
2 — Anote o cheiro dos vários gobelés no final da experiência.
Discussão
1 — Justifique a utilização de farinha de trigo sem fermento.
2 — Identifique o papel da farinha e da suspensão de leveduras durante a experiência.
3 — Refira a função do gobelé A.
4 — Identifique o factor responsável pelo aumento da massa nos gobelés.
5 — Justifique o cheiro registado nos vários gobelés.
6 — Mencione a temperatura óptima para a produção do pão, apresentando uma justificação científica.
7 — Proceda à elaboração do relatório desta actividade.
ACTIVIDADE LABORATORIAL
272 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
4 1 2 onservação, melhoramento
C
e produção de novos alimentos
A B C A RETER
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 273
Quais são os objectivos das técnicas de conservação
dos alimentos?
274 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
De acordo com a facilidade com que os alimentos se alteram
(Fig. 28), podem ser classificados em estáveis ou não-perecíveis —
não se alteram com facilidade (por exemplo, arroz e açúcar); semi-
perecíveis — permanecem longos períodos sem se deteriorarem
(por exemplo, batatas, amêndoas sem casca) e perecíveis —
alteram-se com facilidade (por exemplo, ovos, leite e hortaliça).
A B C
Fig. 28 O arroz (A) é um alimento estável, as amêndoas sem casca (B)
são semiperecíveis e os legumes (C) são perecíveis.
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 277
No quadro 2 pode analisar-se a variação do teor em água em
alguns alimentos sujeitos a um tratamento de redução de humidade.
Quadro 2
Humidade (%)
Alimento
Antes do tratamento Após o tratamento
Leite 87 5
Ovo 74 2,9
Figos 78 3,6
Fonte: http://www2.mauajr.com/alunos/listas/Controle_MOs_Secagem.doc
Fig. 34 Fábrica de salga romana. Este é Fig. 35 A adição de açúcar é um método
um método de conservação ancestral de conservar frutas e geleias.
dos alimentos.
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 279
Conservação por controlo do pH — o pH é um dos factores
que influenciam a actividade enzimática. Quando o pH se torna
muito baixo (ácido), a maior parte dos agentes patogénicos fica
inactiva. A acidificação do meio, técnica ancestral de conservação
de alimentos, é conseguida quer por fermentação láctica, quer pela
adição directa de um ácido ao alimento, como são o exemplo das
conservas em vinagre.
Conservação por controlo da atmosfera — a atmosfera pode
influenciar alterações nos alimentos relacionadas com o aumento da
população microbiana, com as reacções oxidativas de algumas
moléculas ou com o processo de maturação, no caso de frutos e
legumes. A utilização de uma atmosfera controlada no transporte
ou embalagem de alimentos ajuda a aumentar o seu período de
A adição de vinagre é um
Fig. 36 estabilidade.
método de conservação de legumes.
Actualmente, é comum recorrer a embalagem em atmosfera
controlada ou a embalagem a vácuo, retirando-se a quase totalidade
do ar e consequentemente do oxigénio, o que impede a sobrevivência
de microrganismos e anula as reacções de oxidação destruidoras de
algumas moléculas, nomeadamente dos lípidos, que, quando
oxidados, dão sabor típico a ranço. No caso de atmosfera controlada,
aumenta-se o teor de dióxido de carbono e diminui-se o teor de
oxigénio. A alteração combinada destes dois gases permite diminuir
a taxa respiratória de células de legumes e vegetais, retardar o seu
amadurecimento, aumentar a retenção de vitaminas e clorofilas e,
como tal, aumentar a capacidade de resistência do alimento em boas
qualidades.
ACTIVIDADE
Quadro 3
Cogumelos embalados sem tampa Cogumelos embalados com tampa
Característica
(atmosfera não controlada) (atmosfera controlada)
1.1 Compare os resultados obtidos no armazenamento de cogumelos com dois tipos de atmosferas.
1.2 Justifique os resultados obtidos quando se controla a atmosfera.
280 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Conservação por defumação — a defumação é uma técnica
ancestral de conservação de alimentos que chegou até aos nossos
dias. É aplicada a carnes, pescado e enchidos (Fig. 37). Este processo
consiste na exposição do alimento a conservar ao calor e ao fumo
provenientes da queima incompleta de madeiras seleccionadas.
Como consequência, o produto perde água, fica com a superfície
ressequida e com a coloração estabilizada.
A perda de água, conjuntamente com o depósito de substâncias
antimicrobianas resultantes da queima da madeira (aldeídos e
fenóis), que, ao condensarem, se depositam na superfície do
alimento, conferem a este barreiras químicas e físicas de resistência
a microrganismos e à consequente deterioração.
Conservação por irradiação — a utilização de energias ioni-
zantes é um método de conservação de alimentos recente, com um Fig. 37 Enchidos conservados por
início envolvido em polémica, mas também numa criteriosa avaliação defumação.
dos seus efeitos, que actualmente é aplicado essencialmente a ali-
mentos muito sensíveis à temperatura. O princípio da aplicação das
radiações visa a quebra de ligações em moléculas, nomeadamente
em moléculas vitais para a sobrevivência dos microrganismos, ou
moléculas do próprio alimento envolvidas em processos de maturação
ou senescência do mesmo, sem tornar o alimento radioactivo.
Como os alimentos são sistemas moleculares diferenciados, é
necessário estudar e aplicar a dose ideal de radiação para cada um
dos casos. A dose certa será aquela que alia a capacidade de aumentar
o período de conservação do alimento, reduzindo ao mínimo as
perdas do teor nutritivo do alimento e das suas propriedades
organolépticas.
A utilização de radiações ionizantes como método de conservação
de alimentos iniciou-se em polémica, receando-se quer a aquisição
de radioactividade, quer o aparecimento de substâncias cancerígenas
nos alimentos. Estudos criteriosos e intensivos vieram demonstrar
que, ainda que este método apresentasse algumas desvantagens, era
inócuo em relação aos temores iniciais.
Em 1997, a OMS aprovou e recomendou a irradiação de ali-
mentos como processo de conservação dos mesmos, exigindo que
as doses de radiações não comprometessem as suas propriedades,
considerando ainda que alimentos sujeitos a doses iguais ou inferiores
a 10 kGy (0,001 kGy 5 1 joule de energia absorvida por quilograma
de alimento radiado), não necessitavam de ser submetidos a testes
toxicológicos. As doses actualmente utilizadas ficam muito aquém
deste valor.
As desvantagens associadas à conservação de alimentos por
irradiação, além do facto de exigir equipamentos dispendiosos,
assentam no facto de as radiações destruírem algumas moléculas
nutritivas, nomeadamente proteínas, lípidos, glúcidos, pectinas e
vitaminas (C, B1, B2, B3 e B6). O valor destas perdas não ultrapassa,
contudo, as perdas das mesmas moléculas quando o alimento é
sujeito a outras técnicas de conservação, como, por exemplo, as que
recorrem a altas temperaturas.
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 281
aditivo alimentar food additive Algumas das aplicações das irradiações são:
• retardar a maturação e a senescência de frutos e legumes
(Figs. 38 e 39);
• inibir o desenvolvimento de gemas em tubérculos;
• reduzir o teor de microrganismos em carne, frutos e legumes;
• eliminar parasitas de cereais, grãos, frutos e especiarias;
• esterilizar alimentos prontos para serem conservados à tempe-
ratura ambiente.
Morangos
não irradiados
Morangos
irradiados
Cebola Cebola
não irradiada irradiada
Aditivos alimentares
Categoria Função
282 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
A manipulação dos alimentos, como consequência do recurso a
aditivos, tem vindo a ser alvo, por um lado, de fortes críticas de
alguns que os consideram desnecessários e potencialmente perigosos
para a saúde e, por outro, de um forte acompanhamento científico
e legislativo. Após estudos minuciosos, a OMS adoptou directivas
rigorosas sobre o consumo de aditivos, a que se seguiram directivas
da União Europeia e de adaptações legislativas em cada país. Em
Portugal, existe legislação sobre a aplicação de aditivos, que tem
vindo a ser reformulada à medida que os conhecimentos científico-
-tecnológicos têm evoluído.
De acordo com a legislação portuguesa (Decreto-Lei n.º 192/89)
a utilização dos aditivos alimentares nos géneros alimentícios deve
obedecer aos seguintes princípios:
• n ão acarretar perigo para a saúde do consumidor, na dose
ministrada; A RETER
• não provocar diminuição do valor nutritivo dos géneros
Métodos de conservação
alimentícios; de alimentos
• não dissimular os efeitos da utilização de matérias-primas
defeituosas ou de técnicas incorrectas de preparação, Fermentação
fabrico, tratamento, acondicionamento, transporte ou arma-
Temperatura
zenagem;
• não induzir o consumidor em erro quanto à natureza, genui- Humidade
nidade ou qualidade do produto; pH
• não ser possível obter o efeito desejado por outros métodos
inócuos, e que sejam exequíveis económica e tecnologicamente. Controlo
da atmosfera
Os aditivos alimentares utilizados devem estar explícitos nos
rótulos das embalagens dos alimentos que os possuem e, nor- Defumação
malmente, são designados pela letra E seguida de três números Irradiação
que os identificam, permitindo assim ao consumidor a escolha
de consumi-los ou não. Aditivos
Métodos de melhoramento
e produção de novos alimentos
Com o objectivo de produzir novos alimentos, ou de melhorar
a qualidade de outros, quer a nível nutritivo, quer a nível das suas
características, a Ciência e a tecnologia têm efectuado uma longa
escalada. É possível englobar o processo de produção de novos
alimentos em três categorias, que envolvem recurso a microrganismos
(capazes de efectuarem fermentação), recurso a enzimas e recurso a
manipulação genética.
Melhoramento e produção de novos alimentos com recurso
a microrganismos — desde os tempos mais remotos que o
Homem, de forma empírica, descobriu que alguns alimentos sofriam
transformações que permitiam obter novos alimentos, mais duradou-
ros e com características organolépticas melhoradas. A base científica
destes processos é hoje conhecida, o que permite uma maior mani-
pulação por parte do Homem.
O recurso a microrganismos para transformação de alimentos
assenta na capacidade de estes realizarem um tipo de fermentação.
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 283
A São muitos os alimentos que actualmente são produzidos, de
forma artesanal ou industrial, com recurso à fermentação.
Quadro 5
C
As vantagens da utilização da fermentação para produção de ali-
D mentos são: aumento do período de conservação dos alimentos, o
que pode ser explicado pelo facto de alguns dos produtos fermentati-
vos serem tóxicos para a maioria dos microrganismos patogénicos;
aumento da disponibilidade energética nos alimentos fermentados;
aumento do valor nutritivo dos alimentos fermentados, dado que os
microrganismos, além de reacções de catálise, como a fermentação,
Alimentos que resultaram de
Fig. 41
processos de fermentação: pickles procedem também a reacções de síntese, produzindo substâncias
(A); pão (B); vinho (C); queijo (D). muito úteis ao Homem, como é o exemplo de algumas vitaminas.
ACTIVIDADE
produção de pickles
0 - - - - 7,0
2 3
1 6 x 10 - 2 x 10 0,05 5,2
4 3 3
3 7 x 10 3 x 10 5 x 10 0,34 4,0
6 7 x 106 9 x 103 1 x 104 0,51 3,3
8 5 3
9 1 x 10 7 x 10 3 x 10 0,19 3,2
8 6 3
15 2 x 10 3 x 10 7 x 10 0,04 3,0
6 7 4
21 7 x 10 4 x 10 5 x 10 0,03 3,1
7 7 5
27 1 x 10 5 x 10 2 x 10 0,02 3,4
Lima & Mota, 2003 (adaptado)
284 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
1.1 Justifique a diminuição de bactérias lácticas a partir do décimo quinto dia.
1.2 Qual foi a evolução da população de bactérias não-lácticas e de leveduras ao longo do processo?
1.3 Relacione e justifique a evolução das populações de bactérias lácticas e não-lácticas.
1.4 Elabore um gráfico da variação do pH ao longo do processo.
1.5 Justifique a variação do pH entre os dias:
a) 0 e 15; b) 15 e 27.
1.6 Justifique o facto de a fermentação dos pickles não poder ultrapassar os 15 dias.
1.7 Por que razão o prazo de validade dos pickles, vulgarmente comercializados, é de vários meses?
Quadro 7
A B C
Alguns dos seres vivos dos quais se extraem enzimas usadas na produção
Fig. 42
de alimentos: Sacharomyces cerevisae — invertase (A); cardo — cardosina (B)
e ananás — bromelaína (C).
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 285
As enzimas, tal como outras moléculas, podem desencadear
reacções alérgicas em indivíduos com maior sensibilidade que
consumam estes alimentos.
ACTIVIDADE
286 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Melhoramento e produção de novos alimentos por recurso A RETER
a transformação genética — apesar de aparentemente muito actual,
Melhoramento e produção
o recurso à transformação genética já é uma técnica antiga da de novos alimentos
Humanidade. A selecção artificial, com a escolha de parceiros pre-
ferenciais nos cruzamentos, tem sido amplamente usada pelo Recurso
a microrganismos
Homem e aplicada quer à agricultura, quer à pecuária. Desta forma,
o Homem tem vindo a manipular e transformar, ainda que de forma Recurso
muito lenta e limitada à espécie, as características das espécies que a enzimas
ACTIVIDADE
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 287
Conceitos/Palavras-chave
Necessários Essenciais Complementares
Síntese de conhecimentos
• As reacções exergónicas libertam energia e as endergónicas consomem energia.
• A energia de activação é a energia que é necessário fornecer para que uma reacção se inicie.
• As enzimas são biocatalisadores que diminuem a energia de activação das reacções.
• Os substratos ligam-se ao centro activo das enzimas para se formarem os produtos.
• As enzimas que só se ligam a um substrato possuem especificidade absoluta e as que se ligam
a grupos de substratos semelhantes possuem especificidade relativa.
• Os cofactores são moléculas não-proteicas que tornam algumas enzimas funcionais.
• As coenzimas são cofactores orgânicos.
• A temperatura e o pH são factores que afectam a actividade enzimática.
• A ligação de substâncias ao centro alostérico da enzima provoca alteração no seu centro activo.
• A inibição enzimática pode ser competitiva, quando o inibidor ocupa o centro activo da enzima,
ou não-competitiva, quando o inibidor ocupa o centro alostérico.
• A fermentação é uma via metabólica anaeróbia e pode ser alcoólica ou láctica.
• O primeiro conjunto de reacções da fermentação é a glicólise, onde, a partir de uma molécula de
glucose, se obtêm duas moléculas de piruvato, duas moléculas de ATP e duas moléculas de NADH.
• Os produtos finais da fermentação alcoólica são o dióxido
de carbono e o álcool etílico.
• O produto final da fermentação láctica é o ácido láctico.
• A fermentação acética origina ácido acético.
• As principais causas de alteração dos alimentos são:
— crescimento e actividade microbiana;
— autólise celular enzimática;
— oxidação não-enzimática por contacto com o oxigénio
atmosférico.
• Existem diversas técnicas de conservação de alimentos,
nomeadamente, fermentação, defumação, irradiação,
uso de aditivos e manipulação da temperatura, da
humidade, do pH e da atmosfera.
288 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
ACTIVIDADES
3
1 2 4 5
E — enzima
P — produto
ES — complexo enzima-substrato P
Concentração
ES
ES
E
0 Tempo
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 289
ACTIVIDADES
Glucose Piruvato
1 2 3 4 6
4
6. Sabendo que as leveduras são organismos aeróbios e anaeróbios, suponha que uma levedura é
transferida de um meio aeróbio para um meio anaeróbio e continua a produzir ATP à mesma taxa.
Como será a evolução do consumo de glucose comparado com o consumo desta molécula num
meio aeróbio. Justifique a sua resposta.
Doc. B
A investigação para a agência de segurança alimentar britânica, cuja conclusão foi publicada na
revista científica The Lancet, acompanhou dois grupos no total de 297 crianças com idades
compreendidas entre os três e oito anos.
A um grupo foi dado um cocktail com aditivos alimentares normalmente presentes na alimentação
e ao outro apenas sumo de fruta, sendo possível observar que as crianças que receberam o cocktail
manifestavam mais hiperactividade.
Os cientistas destacaram os comportamentos impulsivos e as dificuldades de concentração em
especial na leitura, cujos efeitos desfavoráveis não foram apenas constatados em crianças com
hiperactividade, mas também «na população em geral», afirma um dos intervenientes do estudo.
Os aditivos utilizados são o conservante benzoato de sódio, identificado na lista da União Europeia
(UE) como E211 e alvo de um alerta também por uma pesquisa realizada na Grã-Bretanha, além
de diferentes corantes alimentares, todos autorizados pela UE.
Os componentes em questão são utilizados para melhorar a conservação, o gosto e aspecto dos
alimentos, ou ainda para alterar a cor.
http://www.confagri.pt/ (adaptado)
290 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
7.2.1 Comente esta alínea da legislação portuguesa sobre consumo de aditivos, recorrendo
a dados da notícia publicada no Público.
designação
A — Liofilização E — Refrigeração
B — Irradiação F — Defumação
D — Pasteurização H — Esterilização
descrição
V. Método que provoca gradientes osmóticos que levam à circulação da água para fora da célula.
VI. P
rocesso que recorre a altas temperaturas e que visa combinar a destruição de microrganismos
com manutenção do valor nutritivo do alimento.
VII. Método de conservação por recurso a temperaturas baixas.
VIII. Método que consiste na quebra de ligações em moléculas essenciais ao metabolismo bacteriano,
por recurso a radiações.
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 291
4 2 Exploração das potencialidades
da biosfera
Como é fecunda a mais pequena propriedade, quando se sabe cultivá-la
bem.
Johann Goethe
Percentagem da
população total
> 35%
20-35%
5-20%
< 5%
Sem dados
OCEANO
OCEANO
PACÍFICO
OCEANO
OCEANO
292 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
ACTIVIDADE
1.1 Como explica que a dimensão da barra na figura 45A, relativa à Índia, não seja das mais elevadas
e que na figura 45B seja este o país a apresentar um valor mais alto?
1.2 Em que região do mundo se verifica a situação mais problemática de malnutrição? Justifique a sua
resposta.
1.3 Que factores poderão explicar essa situação?
1.4 O que entende por malnutrição?
Rússia 54%
Alemanha 50%
Colômbia 41%
Brasil 36%
Fig. 46 Em países mais
China 15%
desenvolvidos existem
0 10 20 30 40 50 60 70 muitas pessoas em risco
Adultos com excesso de peso (percentagem) por comerem demasiado.
Fonte: Worldwatch Institute, 2001.
1.5 A China surge em segundo lugar na figura 45B; no entanto, este país é também referido na figura 46.
Apresente uma explicação para esta situação.
1.6 Após a análise destes dados, que conclusão pode tirar sobre a situação mundial da alimentação
humana?
294 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Erosão do solo
A erosão (Fig. 48) é um processo geológico natural que contribui
para a destruição, mas também para a formação de solos, redistri-
buindo os materiais à superfície da Terra. No entanto, os agentes
erosivos, como a água e o vento, ao contribuírem para a erosão do
solo, põem por vezes em causa a sua produtividade por o empobre-
cerem em nutrientes, diminuírem a sua espessura, impedindo a
fixação das raízes, ou, em situações mais extremas, arrastando grandes
quantidades de material e até as próprias plantas.
Quando esta movimentação de componentes do solo, especial-
mente os da superfície, faz com que o desgaste seja superior à formação,
fala-se em degradação do solo e o conceito de solo como recurso
natural renovável começa a ser posto em causa.
A B Terrenos agrícolas
Cerca de 3 milhões de hectares
de terreno agrícola, a nível
mundial, são arruinados,
anualmente, pela erosão;
4 milhões de hectares
transformam-se em deserto
e 8 milhões de hectares são
convertidos em zonas
edificadas e com diversos tipos
de infra-estrututas.
Fig. 48 A erosão, provocada por diferentes agentes naturais, é responsável pela
degradação do solo.
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 295
Desertificação
A conversão de terrenos com potencial agrícola em deserto
designa-se por desertificação e pode ser gerada pela incapacidade
de o solo suportar o desenvolvimento de qualquer cultura, devido
à seca ou à falta de nutrientes, ou ainda por invasão de partículas
de areia que, transportadas pelo vento, vão cobrir os campos agrí-
colas.
As pressões económicas que levam à necessidade de aumentar
a produção e que conduzem à sobrecultura e ao sobrepastoreio; a
desflorestação, os incêndios e a salinização levam à erosão que,
associada às alterações climáticas, e sobretudo no caso de solos
áridos e em regiões onde a chuva escasseia, originam rapidamente
desertificação (Fig. 50).
A RETER
A B
O excesso de culturas e de
pastorícia, a desflorestação,
os incêndios e as alterações
climáticas conduzem à erosão
do solo que leva à desertificação.
C D
Água
A água é fundamental para uma evolução positiva das culturas
e, por isso, a irrigação deve ser eficiente (Fig. 52). Se em algumas
regiões do mundo, a rega é escassa devido à falta de água, muitas
vezes agravada pela elevada evaporação, noutros locais as culturas
morrem por excesso de água, sobretudo por falta de sistemas eficientes
de irrigação (por exemplo, a rega gota-a-gota). O excesso de água
impede o acesso do oxigénio às raízes das plantas e, assim, estas
acabam por morrer.
Por vezes, surge como agravante a salinização do solo quando, Fig. 52 A distribuição de água por
aspersores perto do solo é mais
devido ao excesso de sal na água de rega, este se deposita no solo
eficiente do que se estes se
após evaporação da água, o que é letal para as plantas. encontrarem mais altos.
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 297
CURIOSIDADE
Fertilizantes
Em 1950, eram aplicados, em
média, cerca de 20 kg/ha de fer- Devido ao facto de o pousio e de a rotação de culturas terem
tilizantes nos campos de cultu- sido praticamente abandonados por necessidade de aumentar a
ra. Em 1990, o valor subiu para produção, surgiu a necessidade de fertilizar os solos.
91 kg/ha.
O azoto, o potássio, o fósforo, o cálcio e o enxofre são, entre outros,
alguns dos elementos químicos necessários ao desenvolvimento das
plantas. Se o solo está saturado de culturas, não há reposição destes
elementos que lhe vão sendo subtraídos e a única maneira de continuar
a manter estas práticas é com a aplicação de fertilizantes que os forneçam.
Os fertilizantes inorgânicos apenas cedem os elementos químicos em
falta, enquanto os orgânicos (estrume — dejectos de animais e restos
de plantas) fornecem matéria orgânica que é também necessária ao
solo. Por isso, o ideal é a mistura dos dois tipos de fertilizantes, com
precaução, já que o uso excessivo dos mesmos acaba por ter um
efeito contrário, destruindo as culturas.
O cultivo de leguminosas que possuem nas suas raízes nódulos
onde albergam bactérias fixadoras de azoto é uma boa alternativa ao
uso de fertilizantes.
Energia
A RETER
Também a energia é um recurso indispensável na prática agrí-
A preservação do solo passa
pela utilização de técnicas cola. Nos países industrializados, a grande maioria das tarefas, nos
adequadas de cultivo, irrigação campos, é feita por máquinas que utilizam combustíveis fósseis.
de forma racional e aplicação
correcta de fertilizantes. Posteriormente, o processamento, a distribuição, o armazenamento
e a preparação dos alimentos também dependem do uso de energia.
Actualmente, tem sido implementada a produção de biofuel:
biodiesel e etanol. Estes combustíveis são obtidos através de óleos
provenientes de animais ou plantas, mas estas últimas têm sido as
mais usadas (Fig. 53). No entanto, o argumento de que este combustível
ajudaria a resolver a crise relativa às alterações climáticas e também
a dos combustíveis fósseis está longe de ser consensual. Efectiva-
mente, além dos efeitos da combustão destes produtos que, segundo
muitos, em nada beneficiam o Ambiente em relação aos combustíveis
fósseis, surge ainda o problema da cultura de plantas destinadas a
este fim. O esgotamento do solo com estas culturas, que, por questões
económicas, começam a ser muito pretendidas, poderá dificultar os
planos de combate à fome no Mundo, diminuindo a quantidade e,
consequentemente, aumentando o preço
18
Produção na Indonésia dos alimentos. A polémica em torno deste
16
Produção na Malásia assunto está longe de ter um fim, mas
14
entretanto alguns países, como o Brasil,
12
Milhões de toneladas
0
Fig. 53 Produção de óleo de palma na Indonésia
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
e na Malásia.
298 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Como tem sido praticado, ao longo dos tempos,
o cultivo de plantas para a alimentação humana?
Técnicas ancestrais
Desde que o Homem começou a praticar a agricultura que
selecciona e cruza plantas (cruzamentos selectivos), procedendo
assim ao melhoramento genético das espécies.
Sem a intervenção do Homem, provavelmente muitas das
variedades de plantas que hoje conhecemos teriam sido eliminadas
por selecção natural. Por exemplo, a partir da espécie Brassica oleracea
A RETER
foram obtidas as variedades de couve, couve-flor e brócolos de que
Desde há muito tempo que
hoje dispomos (Fig. 54). Também no caso do milho (Fig. 55) se pode o Homem pratica cruzamentos
verificar que a variedade actualmente muito comercializada é selectivos de plantas e técnicas
resultado de aplicação de métodos tradicionais de selecção de artificiais de reprodução para
obter exemplares de melhor
variedades em que os cruzamentos foram estabelecidos entre os qualidade.
exemplares com as características desejadas.
A B
C D
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 299
reprodução selectiva selective reproduction Além da reprodução selectiva em que é usada a reprodução
cultura de tecidos tissue culture sexuada, o Homem tem desenvolvido também, ao longo dos tempos,
técnicas artificiais de reprodução com base na reprodução asse-
xuada. É o caso da estacaria, da alporquia e da enxertia (Fig. 56),
entre outras. Como já foi estudado, os objectivos essenciais destas
técnicas são a obtenção de novas plantas, mas também de plantas
com melhores características.
ACTIVIDADE
1. A figura seguinte mostra quatro fases da micropropagação: tecido caloso num meio estéril e com hormonas
vegetais (Fig. 57 A); início do desenvolvimento de novos caules (Figs. 57 B e C); desenvolvimento de raízes
(Fig. 57 D).
A B
C D
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 301
ACTIVIDADE LABORATORIAL
Procedimento
1 — Esterilize todo o material, embrulhado
em papel de alumínio, na estufa (170 ºC,
2 horas).
2 — Coloque uma folha de violeta em álcool
a 70% durante 10 minutos.
3 — Retire-a do álcool e lave-a na água
bidestilada, passando-a em seguida para um
recipiente com a lixívia, onde permanecerá
mais 10 minutos.
4 — Volte a passar a folha por água bidestilada
5 vezes, deixando-a durante 5 minutos
no recipiente de cada uma das vezes.
5 — Proceda, junto da lamparina acesa, ao corte Fig. 58 Violeta-africana, Saintpaulia ionantha.
de vários quadrados, com cerca de 1 cm de
lado, do limbo da folha (evitando as margens e as nervuras).
6 — Junte à solução de Knop os 15 g de agar, um pouco de sacarose e de leite de coco, dissolvendo
completamente, a quente, cada substância antes de adicionar a seguinte.
7 — Verta o meio de cultura para os vários copos de precipitação antes de o mesmo arrefecer e solidificar
(cerca de 30 mL em cada copo).
8 — Proceda à inoculação dos tecidos: faça um pequeno golpe no meio de cultura e introduza aí um dos
explantes que preparou.
9 — Tape os copos com algodão envolvido em gaze e envolva toda a parte superior do copo em papel
celofane aderente.
10 — Coloque na estufa a 25 ºC, durante pelo menos 3 semanas, e com uma exposição de cerca de 12 horas
à luz.
11 — Aguarde a formação do tecido caloso, observando regularmente e registando os resultados.
Resultados
1 — Elabore uma tabela com os registos dos resultados observados ao longo das 3 semanas.
Discussão
1 — Apresente uma explicação para o facto de o material necessitar de esterilização.
2 — Explique a razão por que o procedimento indicado em 5 deve ocorrer junto da lamparina acesa.
3 — Discuta o papel dos produtos utilizados: solução de Knop, agar, sacarose e leite de coco.
4 — Caracterize as plantas obtidas relativamente à planta-mãe.
5 — Aponte vantagens deste processo relativamente àqueles que são tradicionalmente usados na
agricultura.
(1) Ver preparação da solução da Knop no anexo III.
302 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Produção de plantas híbridas a partir de protoplastos protoplasto protoplast
transgénico transgenic
As células vegetais possuem, além da membrana celular, uma
parede que lhes garante rigidez e permite a adesão às outras células
adjacentes. A pectina é a substância que assegura esta manutenção das
células e, se for removida através de enzimas pectinolíticas, as células
de um tecido separam-se. Se, por fim, a parede celular for removida
A RETER
com enzimas celulolíticas, obtêm-se protoplastos — células vegetais
sem parede celular e isoladas (Fig. 59). A fusão de protoplastos e o
melhoramento de plantas por
Os protoplastos, que habitualmente são formados a partir de Engenharia Genética visam a
células do mesófilo foliar, foram usados inicialmente para regeneração obtenção de espécies vegetais
que reúnam as características
de plantas, utilizando uma técnica semelhante à já descrita na desejadas.
micropropagação.
Actualmente obtêm-se híbridos, promovendo a fusão de proto-
plastos de espécies próximas. Esta fusão é promovida por adição de
determinados agentes químicos, ou por choque eléctrico, e o híbrido
obtido comporta uma combinação da informação genética das duas
populações parentais devido à cariogamia e à união dos citoplasmas
(com o DNA mitocondrial e cloroplastidial). Esta técnica tem sido
usada, por exemplo, entre espécies de batateira para obter um híbrido
que reúna as características favoráveis das duas espécies.
Híbrido resistente
ao vírus
que provoca
enrolamento das folhas
Fig. 59 Protoplastos.
Uma desvantagem desta técnica é que grande parte dos híbridos
obtidos são estéreis.
A B C
D E F
Plantas transgénicas. Exemplar de Brassica napos vulgar (nabiças) (A) e exemplar transgénico resistente ao herbicida
Fig. 60
glufosinato de amónio (B). Se o gene que promove a recepção do etileno for mutante, o tomate tornar-se-á resistente a este gás:
frutos transgénicos ao fim de 100 dias de terem sido colhidos (C) e frutos não transgénicos com o mesmo tempo de colheita (D).
A planta do tabaco Nicotiniana tabacum, com um gene que codifica a síntese de uma hormona vegetal que atrasa a senescência
das folhas, ao fim de vinte dias após transferência para o solo (E) e planta não transgénica nas mesmas condições (F).
304 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
De entre as técnicas mais utilizadas para este fim salientam-se a
transferência mediada por Agrobacterium tumefaciens ou Agrobacterium
rhizogenes e a transferência directa de DNA. Nesta última técnica,
que não requer a presença de vector, a transferência de genes é feita
directamente para as células ou tecidos através do bombardeamento
de partículas, uso de protoplastos ou, ainda, por microinjecção e
microbombardeamento.
lência), vai integrar-se no DNA das células da planta e, uma vez aí,
os seus genes tornam-se activos, ocorrendo o desenvolvimento do T-DNA
tumor. Produção
Produção de citocinina Produção
de auxina de opina
O conjunto de genes do T-DNA inclui, além dos oncogenes, Limite Limite
esquerdo direito do
genes para a síntese de hormonas vegetais que induzirão a multipli- do T-DNA T-DNA
Célula E. coli
Preparação do gene que
Plasmídeo se pretende transferir.
geneticamente
Crescimento
Plasmídeo modificado
em cultura para
produção de cópias
Gene com DNA
interesse
A. tumefaciens
DNA
inserido
DNA
da célula
da planta
DNA é inserido nas
células da planta Desenvolvimento
Novo DNA
Divisão celular de plantas modificadas
da célula da planta
das células por Engenharia Genética.
transgénicas.
Tecido caloso
306 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Transferência de genes por protoplastos
Uma vez que o obstáculo da parede celular é, no caso dos proto-
plastos, inexistente, torna-se assim mais fácil transferir genes de
interesse. Obtendo-se protoplastos modificados de uma certa
população, poder-se-á posteriormente promover a regeneração da
planta, obtendo as plantas transgénicas. Este método é usado em
gramíneas (arroz, aveia e milho, por exemplo), já que não são infec-
tadas por A. tumefaciens.
A RETER
A introdução nas células vegetais dos genes pretendidos pode ser feita
por bombardeamento de partículas, protoplastos, microinjecções ou
microbombardeamento ou por Agrobacterium tumefaciens.
OGM e AGM
Aparecimento de ervas
Melhor sabor.
resistentes aos herbicidas.
Diminuição no uso dos Danos em insectos
pesticidas convencionais. benéficos.
Tolerância das plantas a
Menor diversidade genética.
maiores níveis de herbicidas.
Aparecimento de espécies Algodão transgénico resistente aos insectos.
Maior produtividade.
invasoras.
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 307
ACTIVIDADE
Tomate transgénico
100 25
Desembarque por pessoa
(quilogramas por pessoa)
(milhões de toneladas)
80 20
60 15
Captura
40 10
20 5
0 0
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Anos Anos
Fig. 67 Comparação entre o volume anual de peixe capturado e o desembarcado por
pessoa.
Aquacultura
4 2 2 Controlo de pragas
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 311
equilíbrio dinâmico dynamic equilibrium Nos ecossistemas naturais e nos campos agrícolas em que
predomina a policultura, as espécies que potencialmente poderiam
originar pragas não chegam, normalmente, a causar problemas, já
que existe um equilíbrio dinâmico entre estas e os seus inimigos
naturais, predadores, parasitas e outras espécies causadoras de doenças.
Roedor
Parasita vegetal
Pequena ave
granívora
Cereal
Fig. 69 Nos ecossistemas naturais verifica-se um equilíbrio dinâmico entre os indivíduos
que integram as cadeias alimentares. Cada um tem um papel bem definido no
ecossistema.
Pesticidas
Com a prevalência das monoculturas, a biodiversidade diminuiu
drasticamente e, consequentemente, diminuíram as interacções entre
as várias espécies, tornando-se mais frequente o aparecimento de
CURIOSIDADE
pragas.
• Nos Estados Unidos, mais de As pragas não são, no entanto, um exclusivo dos tempos
250 000 pessoas adoecem, anu- modernos. Sabe-se que desde muito cedo o Homem tentou repelir
almente, devido ao uso de pesti- os insectos das suas culturas com o uso de sal, fumo, cinzas, plantas
cidas em casa. Estes são também
repelentes e até mercúrio e arsénico, estes últimos aplicados pelos
a maior causa de envenenamen-
to e de morte em crianças. Chineses há cerca de 2500 anos. Também a queima no final das
•R
achel Carson (1907-1964) colheitas, para eliminar doenças, e até a introdução de predadores
foi uma bióloga americana que foram utilizadas há muitos séculos.
contribuiu para a compreensão Em 1828 foi formulado o primeiro insecticida vegetal, um pó
dos malefícios dos pesticidas e
de outras acções do Homem,
obtido das flores de piretro (Chrysanthemum marschalii e Chrysanthemum
nos ecossistemas. roseum).
•A
s cerca de 30 000 espécies de Já no século xx, em 1939, foi descoberto o primeiro pesticida
aranhas conhecidas matam mais sintético orgânico: o DDT (dicloro-difenil-tricloroetano). Desde
insectos por ano do que os insec-
então, para controlar as pragas, têm sido desenvolvidos muitos
ticidas.
outros pesticidas (produtos químicos que controlam ou eliminam
312 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
organismos vivos indesejáveis e que tomam várias designações conso- agentes biocidas biocides
ante o ser vivo que destroem: insecticidas se actuam sobre insectos, espectro de acção action spectrum
herbicidas se eliminam ervas prejudiciais às culturas, fungicidas se ata- persistência persistence
cam fungos e rodenticidas se matam roedores como ratos e ratazanas).
Apesar de o Homem estar a usar, desde meados do século xx,
uma técnica já utilizada há milhões de anos por algumas plantas,
produtoras de substâncias químicas repelentes ou mesmo mortíferas
para alguns herbívoros, existem grandes diferenças nos produtos
químicos por ele utilizados. O que acontece é que a especificidade
do pesticida para a espécie-alvo é muito difícil de alcançar e a sua A RETER
aplicação acaba por ter efeitos nefastos noutros seres vivos, por vezes Os pesticidas são produtos
nos próprios predadores ou parasitas da praga (e até mesmo no químicos utilizados no combate
Homem), o que põe ainda mais em causa o equilíbrio do ecossistema às pragas. O seu espectro
de acção e persistência
afectado pela praga. Por eliminarem organismos vivos, estes produtos no ambiente são variáveis.
químicos são designados por agentes biocidas.
A B C
Fig. 70 As pragas, mais frequentes quando diminui a biodiversidade, podem destruir
completamente as culturas.
muita controvérsia no que respeita às suas vantagens e desvantagens. Outros (químicos usados nos repelentes
Com efeito, nos finais dos anos 40 do século anterior, o uso de DDT de insectos, controlo de traças, …)
6,2%
no combate aos insectos causadores de malária e tifo acabou por ter
Distribuição percentual dos vários
Fig. 71
muitos efeitos nefastos em variados organismos dos ecossistemas
pesticidas e respectivas aplicações
(assunto que será abordado na próxima unidade), originando muitas utilizados anualmente nos Estados
reacções adversas à sua utilização. Unidos.
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 313
A RETER O consumo de pesticidas em Portugal
Os pesticidas convencionais de uso agrícola representam 98% dos pesticidas
pesticidas totais utilizados na União Europeia (Eurostat 2001).
A venda destes pesticidas distribui-se do seguinte modo:
Insecticidas • 43%, fungicidas;
Herbicidas • 36%, herbicidas;
• 12%, insecticidas;
Fungicidas • 9%, outros pesticidas.
Em Portugal, tal como nos restantes países da União Europeia, tem
Rodenticidas
aumentado o uso de pesticidas, em particular de fungicidas, segundo
o Relatório de Estado do Ambiente de 2003.
Índice (1991 = 100)
225
Fungicidas
Venda total de pesticidas
200
Herbicidas
175 Insecticidas
150
125
100
75
50
91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02
Fonte: Relatório de Estado do Ambiente de 2003, http://www.confagri.pt/Ambiente/
AreasTematicas/Residuos/Documentos/doc126.htm (adaptado)
Fig. 72 Evolução relativa da venda dos principais pesticidas convencionais
em Portugal continental.
314 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
CURIOSIDADE
No entanto, as desvantagens destes mesmos produtos devem
• Segundo a OMS, anualmente,
também ser ponderadas: pelo menos 3 milhões de tra-
• como nunca eliminam 100% dos indivíduos, aceleram o balhadores agrícolas de países
desenvolvimento de resistência genética das pragas a pesticidas: em desenvolvimento tem graves
intoxicações por pesticidas.
no caso dos insectos, que se reproduzem rapidamente, podem
• Calcula-se que, desde 1945,
desenvolver imunidade e ressurgir ao fim de alguns anos ainda
cerca de 1500 espécies de
mais resistentes; serão necessários novos pesticidas e com insectos, ervas infestantes e
maior toxicidade; roedores desenvolveram resis-
• podem originar novas pragas ao eliminar predadores (sobretudo tência genética a um ou mais
os de largo espectro actuam em níveis tróficos mais altos) e pesticidas.
parasitas que auxiliariam no combate à própria praga e a outros • As quantidades aplicadas, por
hectare, de muitos dos novos
insectos que, sem a acção dos seus inimigos naturais, podem herbicidas são cerca de 1/100
começar a proliferar exageradamente; em relação aos antigos.
• apenas uma pequena percentagem é utilizada no organismo-
-alvo, o que significa que o resto se dispersa pelo ar, água
superficial e subterrânea, solo, alimentos, outros organismos
(incluindo o Homem); podem permanecer muito tempo no
ambiente, dependendo da sua persistência e surgir longe do
local de aplicação;
• ao atacar espécies não-alvo, podem interferir também em
funções destas no ecossistema, como sejam a polinização;
esta falta de distribuição de pólen assegurada por alguns
insectos pode pôr em causa a reprodução e a produção de
sementes de plantas que dela dependem;
• tendem a acumular-se em seres vivos de grandes dimensões
que se encontram em altos níveis tróficos (predadores como
as águias, ursos-polares, baleias e homem, entre outros);
• alguns são muito nocivos para a saúde humana, podendo
causar efeitos agudos, como envenenamentos provocados
por exposição acidental a elevadas doses, ou efeitos crónicos,
como cancro, doenças degenerativas, distúrbios no sistema
imunológico ou neurológico, entre outros.
ACTIVIDADE
As pragas e os pesticidas
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 315
ACTIVIDADE
1. Analise atentamente as imagens seguintes, que evidenciam os efeitos de um insecticida sobre uma praga
de insectos.
A B
Fig. 74 A resistência das espécies aos pesticidas é um dos graves problemas da sua
utilização.
1.1 Apresente uma explicação para a sobrevivência de um insecto após a aplicação do insecticida.
1.2 O que acontecerá, ao fim de algumas gerações, se for aplicado o mesmo insecticida para combater
estes insectos?
1.3 Justifique a sua resposta.
500
400
Fig. 75 A resistência aos pesticidas tem vindo 300
a aumentar. Tendo começado nos insectos, 200
uma vez que os insecticidas foram os primeiros
100
pesticidas usados, detectou-se actualmente
que também outros seres vivos se têm tornado
insensíveis a estes químicos. 1900 1920 1940 1960 1980 2000
Anos
Controlo biológico
Este controlo envolve a introdução de inimigos naturais, como
predadores, parasitas ou bactérias e/ou vírus patogénicos, que
eliminem ou reduzam uma população animal ou vegetal que
represente uma praga (Fig. 76).
Este tipo de acção apresenta muitas vantagens, já que não é
dispendioso, actua apenas sobre a praga por ter preferências específicas
e é menos perigoso por causar menos impactos ambientais, em geral,
e, particularmente, na qualidade da água.
No entanto, existem também desvantagens na aplicação desta Fig. 76 Através do controlo biológico das
medida. O controlo biológico requer planeamento e controlo rigorosos pragas — as larvas de vespa (brancas)
(evitando que os próprios se transformem em pragas), implica um —, é possível eliminar a praga que
bom conhecimento da praga e dos seus inimigos naturais e, como tal, ataca a planta do tabaco.
biocidas vegetais
Repelente de insectos
Cucurbita pepo Folhas e caules
e insecticida
Nicotiana tabacum Folhas Insecticida
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 317
esterilização sterilization A bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) é por vezes usada, já que
ciclo reprodutor reproductive cycle elimina larvas de borboleta, mas é inofensiva para os mamíferos.
Existem plantas que produzem naturalmente substâncias repelentes
de insectos. Também animais como as galinhas, os patos e os gansos,
que desde sempre é frequente observar deambulando pelas quintas,
têm um papel importante na limpeza dos campos de cultura
comendo insectos e ervas daninhas.
Esterilização de insectos
Esta é também uma prática que pode ser adoptada para a eliminação
de pragas e que consiste na esterilização de machos de insectos da
respectiva praga, em laboratório, por aplicação de radiações, sendo
posteriormente colocados no local. A esterilização dos machos vai
impedir a reprodução da espécie e levar à sua eliminação, ou pelo
menos redução, naquela área.
Este processo apresenta, no entanto, algumas desvantagens: é
demorado, dispendioso, requer meios adequados e implica uma acção
contínua de modo a manter os resultados.
Utilização de hormonas
A aplicação de hormonas pode ser outra das formas de combater
as pragas. No caso dos insectos, a aplicação de reguladores de
crescimento, como hormonas juvenis, inibidores da postura de ovos
ou da muda, em determinados períodos do seu ciclo reprodutor,
podem alterá-lo e impedir o desenvolvimento normal (Fig. 76).
Insecticida
Adulto Ovo
Ovicida
Hormona juvenil
Bacillus thurigiensis
Pupa Larva
Fig. 77 Diferentes modos de controlar a praga por actuação em diversas etapas do seu
ciclo reprodutor.
A B
Fig. 78 Recipientes com feromonas: simples (A); com armadilha (B).
Engenharia Genética
Actualmente, é possível transferir genes de umas espécies para
outras, permitindo obter nas últimas resistência às pragas. É também
possível a introdução de genes que tornam a planta resistente aos
pesticidas (Fig. 79).
Algumas variedades
de batata, algodão e milho
foram as primeiras plantas
a ser introduzidas no mer-
cado com genes modifica-
dos capazes de codificar a
produção da toxina insec-
ticida produzida pela bac-
téria Bacillus thuringiensis.
Quando o gene Bt é trans-
ferido para as plantas, as
células desta começam a
produzir a toxina e tor- Fig. 79 Algodoeiro geneticamente
nam-se resistentes às la- modificado com um gene
gartas, que morrem ao de resistência ao herbicida,
não apresenta danos após a exposição
alimentar-se da planta.
a esta substância química.
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 319
Estas plantas transgénicas revelam uma resistência às pragas
(Fig. 80) devido à produção de um biopesticida que permite, além
de uma diminuição dos gastos com insecticidas convencionais, uma
boa produção e sem danos para o meio.
320 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
ACTIVIDADE
A experiência da Indonésia
Controlo Controlo
de pragas de pragas
com pesticidas por acção
convencionais biológica
Número de vezes
que usaram insecticida
4,5 aplicações 0,5 aplicações
por cada época
de cultura de arroz.
Produção de arroz
6 toneladas 7,5 toneladas
por hectare.
Fonte: Tolba, et al., World Environment, 1972-1992, p. 307,
Chapman & Hall, UNEP 1992
322 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Conceitos/Palavras-chave
Necessários Essenciais Complementares
Síntese de conhecimentos
• Os solos deverão ser preservados, protegendo-os da erosão, a desertificação e promovendo um racional
aproveitamento da água, possibilitando o fornecimento de alimentos de origem agrícola.
• Para aperfeiçoar as plantas, o Homem começou por usar a reprodução selectiva, mas hoje utiliza a fusão
de protoplastos, a micropropagação e já obtém plantas transgénicas.
• A transferência de genes para as plantas a modificar pode ser feita por bombardeamento de partículas
ou através de bactérias vectores, entre outras técnicas.
• Os OGM são muito polémicos por se recear os seus efeitos sobre o ser humano e o Ambiente.
• O Homem também melhorou os animais através de cruzamentos selectivos, mas hoje em dia o
melhoramento das espécies animais tende a ser feito através de técnicas de Engenharia Genética
(injecções hormonais, criação de animais transgénicos, etc.).
• A aquacultura é hoje muito usada para permitir fazer face às necessidades de pescado, no entanto
o seu contributo é ainda muito reduzido.
• As pragas são conjuntos de organismos indesejados que afectam as actividades do Homem.
• Os ecossistemas naturais ou os agrossistemas com policultura são mais resistentes às pragas devido
à sua biodiversidade.
• Os biocidas são produtos químicos que eliminam seres vivos.
• Os pesticidas podem ser chamados insecticidas, se atacam insectos, herbicidas, se eliminam ervas,
fungicidas, se actuam nos fungos, ou rodenticidas, quando têm como objectivo matar roedores.
• Os pesticidas têm diferentes espectros de acção e, se este for largo, será tóxico para muitas espécies.
• A persistência de um pesticida é o tempo que se mantém tóxico no Ambiente.
• Os pesticidas têm impedido, na espécie humana, muitas mortes por doenças causadas por insectos
e têm permitido salvar muitas culturas dos efeitos das pragas.
• Muitos pesticidas são tóxicos para seres vivos diferentes da espécie-alvo e até para o Homem.
• Os seres vivos podem tornar-se resistentes aos pesticidas, o que originará a necessidade de aumentar
a sua toxicidade e/ou quantidade para combater a mesma praga.
• Existem alternativas ao uso de pesticidas para controlo de pragas: alteração das práticas de cultivo,
controlo biológico, esterilização de machos, uso de hormonas e plantas transgénicas.
• A luta integrada no controlo de pragas implica o uso de técnicas naturais e de poucos pesticidas.
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 323
ACTIVIDADES
3. Considere as afirmações I, II e III. Analise-as e seleccione a opção da chave que melhor classifica
as afirmações seguintes.
afirmações
chave
4. Foram obtidas batatas que, devido ao seu alto teor de amido, absorvem menos óleo durante a
fritura.
4.1 Qual será a vantagem da produção destas batatas?
4.2 Como terão sido obtidas?
4.3 Que técnica de transferência de genes poderá ter sido utilizada neste caso?
324 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
O período de monitorização vai desde o afilhamento até ao início de maturação do grão, sendo
o método de amostragem a observação das plantas ocupadas, considerando-se ocupada a planta
que possui mais de cinco indivíduos. A unidade de amostra é de 25 plantas, devendo efectuar-se
quatro amostras por cada 10 hectares. É susceptível de existir no arrozal um complexo de insectos
auxiliares passíveis de dar o seu contributo para a limitação das populações de afídeos, entre eles
os mais importantes são Coccinella septempunctata, Chrysopa vulgaris e Aphidis colemani.
http://www.arbvs.pt/ASSOR/index.php?sid=6.1&pragadoenca_id=1 (adaptado)
afirmações
III. A rotação de culturas é uma proposta para acabar com as pragas de afídeos nos arrozais.
chave
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 325
DEBATE
Organismos geneticamente modificados
Questões centrais:
• Quais são as potencialidades dos OGM para a resolução do problema da alimentação
humana, num mundo cada vez mais povoado?
• Quais são as potenciais consequências, para o Ambiente e para a saúde, da plantação
e consumo de OGM? Os OGM acabarão com a fome no mundo?
• Quais são os riscos que a sociedade está disposta a enfrentar? Devemos ter medo do progresso?
• Existe informação e estudos científicos suficientes para a introdução dos OGM? Estarão os
cidadãos conscientes da introdução dos OGM?
• Não estará a introdução dos OGM a ser dominada pelas multinacionais, estando os agricultores
a perder poder de decisão?
• Tendo como base todos os conhecimentos adquiridos e pesquisas que poderá efectuar,
propomos-lhe que:
• organize um debate sobre OGM, onde deve, depois de investigar sobre esta temática,
reflectir sobre ela, tomar uma decisão e argumentar a sua opinião com os seus colegas;
• no final, deverá elaborar um texto de opinião, que deverá ser de uma página A4, a entregar
à professora.
Doc. A Doc. B
A investigação sobre organismos genetica- Com alimentos GM, a maioria das autoridades
mente modificados (OGM) na agricultura começou nacionais considera ser necessária uma avaliação
nos anos 80, mas a sua comercialização só teve específica. Foram criados sistemas específicos
início nos anos 90, exclusivamente nos EUA. para uma rigorosa avaliação dos organismos e
Desde 1996, verificou-se um rápido cresci- alimentos GM tanto em relação à saúde humana
mento destas culturas a nível mundial e, em 2006, como ao Ambiente. Geralmente, os alimentos tradi-
a área cultivada com culturas geneticamente modi- cionais não são submetidos a avaliações similares.
ficadas (CGM) atingiu os 100 milhões de hectares Portanto, há uma grande diferença no processo de
para 10 milhões de agricultores em 22 países. avaliação para estes dois grupos de alimentos antes
Em 2005, a soja representou cerca de 62% de serem comercializados.
da área com CGM e cerca de 60% da área mun- http://www.frigoletto.combr/GeoRural/transgenicosOMS.htm
dial de soja é transgénica. O milho representa a (adaptado)
segunda mais importante cultura transgénica
Doc. C
(22%) e cerca de 14% da área mundial de milho é
transgénico. Os produtos criados por Engenharia Genética
também se reproduzem, crescem e migram (…).
Apesar do desenvolvimento das CGM a nível
Sempre que um organismo criado por Engenharia
mundial, o desenvolvimento na UE é relativamente
Genética é libertado, há sempre uma pequena
diminuto.
hipótese de se descontrolar porque, como as espé-
Em 21 de Abril de 2005, Portugal transpôs a cies não indígenas, foi artificialmente introduzido
legislação europeia sobre a libertação em meio num ambiente complexo que desenvolveu uma
ambiente de CGM. A regulamentação então apro- teia de relações altamente integradas durante longos
vada permite a coexistência dos diferentes modos períodos da história evolutiva. Ou seja, embora só
de produção, implicando a manutenção de uma exista uma pequena hipótese de ele originar uma
distância mínima de 200 m entre culturas GM e explosão ambiental, se o fizer, as consequências
não-GM, a monitorização das culturas e acções de poderão ser significativas e irreversíveis.
controlo de todo o processo. Rifkin, J., O Século Biotech — Dominando o Gene
http://www.esac.pt/cernas.pt/ogm.htm (adaptado) e Recriando o Mundo, 2001 (adaptado)
326 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Doc. D Doc. I
(…) As companhias químicas criaram culturas Cientistas da Universidade do Nebrasca testa-
transgénicas que toleram os seus próprios herbici- ram soro sanguíneo de nove indivíduos que eram
das. (…) Por exemplo, as novas sementes resis- alérgicos às castanhas-do-maranhão contra um
tentes aos herbicidas da Monsanto, devidamente extracto de feijões de soja alterado geneticamente
patenteadas, resistem ao seu herbicida químico contendo um gene da castanha-do-maranhão e
mais vendido, o Roundup. um extracto de feijões de soja convencionais. Todo
Rifkin, J., O Século Biotech — Dominando o Gene o soro reagiu aos feijões de soja contendo o gene
e Recriando o Mundo, 2001 (adaptado) da castanha do Maranhão e nenhum reagiu aos
feijões de soja não alterados.
Doc. E
Rifkin, J., O Século Biotech — Dominando o Gene
(…) Existem plantas transgénicas que pro- e Recriando o Mundo, 2001 (adaptado)
duzem insecticida em todas as células de cada
planta (…) a maior parte delas contêm um gene Doc. J
de Bacillus thuringiensis, a qual produz uma Mais de 100 países reunidos numa conferên-
toxina que quando activada pelo ácido dos insectos cia internacional em Kuala Lumpur chegaram
os destrói. (…) oito importantes espécies de ontem a um acordo quanto à regulamentação estrita
insectos destruidores desenvolveram resistência das exportações de organismos geneticamente
à toxina Bt, tanto em situações laboratoriais modificados — OGM.
como no ambiente (…) Depois de cinco dias de trabalho foi apro-
Rifkin, J., O Século Biotech — Dominando o Gene vado um sistema rigoroso com vista a regular
e Recriando o Mundo, 2001 (adaptado) a manutenção, transporte, empacotamento e
identificação das colheitas, alimentos e outros
Doc. F
produtos transgénicos, apesar da oposição dos
(…) os cientistas plantaram batatas genetica- Estados Unidos e de outros países exportadores
mente modificadas, contendo um gene resistente de OGM.
aos antibióticos. Foram então plantadas batatas
O novo sistema obriga a todos os transportes de
vulgares a várias distâncias da cultura transgénica.
colheitas de OGM, destinados ao consumo humano
Trinta e cinco por cento das sementes recolhidas
e animal, ou a serem transformados, como a soja e
de batatas que cresciam a 1100 metros das batatas
o milho, ou a serem rotulados como tal, segundo o
transgénicas continham o gene resistente.
Programa da ONU para o Ambiente (PNUE).
Rifkin, J., O Século Biotech — Dominando o Gene
e Recriando o Mundo, 2001 (adaptado) Os nomes comuns, científicos e comerciais dos
organismos, assim como o seu código de modifi-
Doc. G cação genética, devem sempre ser identificados.
Os alimentos GM são desenvolvidos — e Igualmente devem ser indicadas as regras de manu-
comercializados —, porque há uma certa vanta- tenção e armazenagem.
gem para o produtor ou para o consumidor As exportações de OGM destinadas a ser intro-
destes alimentos. Isto deve ser entendido como duzidas directamente no meio ambiente, como peixes
um produto com preço reduzido, maior benefício e sementes, devem referir que se destinam a uma
(em termos de durabilidade ou valor nutritivo) ou determinada zona, fornecer o contacto em caso de
ambos. urgência, identificar a natureza da categoria em
http://www.frigoletto.combr/GeoRural/transgenicosOMS.htm risco e ainda como deve ser utilizado o OGM.
(adaptado)
http://www.ciencia.pt.info/pt/index.php? (adaptado)
Doc. H
Doc. L
(…) Muitos dos genes que são transferidos Segundo a Professora Doutora Margarida Oli-
para o código genético de culturas alimentares veira (Instituto de Tecnologia Química e Biológica
vêm de plantas, microrganismos e animais que da Universidade Nova de Lisboa), os OGM são não
nunca fizeram parte da dieta alimentar. só seguros, mas também mais fiáveis comparati-
Rifkin, J., O Século Biotech — Dominando o Gene vamente aos alimentos convencionais.
e Recriando o Mundo, 2001 (adaptado)
http://gaia.org.pt/node/2660 (adaptado)
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 327
bioética
• Actualmente somos, no mundo, cerca de 6,7 mil milhões de humanos a braços com
problemas de ordem alimentar.
• Devemos ou não usar aditivos nos alimentos? • Não deveremos, no mínimo, exigir que cada
Se, por um lado, nos asseguram uma maior alimento que chega até nós traga consigo
conservação dos mesmos, não estão também o seu bilhete de identidade/rótulo, que nos
associados a uma crescente onda de alergias permita ter acesso à sua história desde a pro-
na população humana? dução até ao momento em que é consumido?
• Devemos ou não recorrer a pesticidas para • Ou, pelo contrário, será que estamos a trans-
combater as pragas que competem pelos formar o acto de comprar comida num exercício
nossos alimentos? faraónico?
328 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
CiênciaTecnologiaSociedadeAmbiente
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 329
DOC. 2 Flavescência dourada — uma doença das videiras
Vinhas do Norte ameaçadas por praga que A sua detecção na videira não é fácil, uma vez
pode ser devastadora (17/07/2008 — Pedro que a coloração amarelada das folhas que a
Garcias) caracteriza se confunde com outras pragas.
• Depois da doença do nemátodo do pinhei- Na Europa, o Scaphoideus titanus […] foi
ro, o Ministério da Agricultura tem pela frente identificado pela primeira vez no Sul de França,
uma nova praga com efeitos também potencial- na região de Armagnac, mas a primeira epidemia
mente devastadores, neste caso para a vinha. da flavescência dourada surgiu em Gascogne,
Chama-se flavescência dourada (FD), é provoca- nos anos 50. Nessa altura, o insecto já se tinha
da por um fitoplasma que tem como transmissor estabelecido em todo o Midi de França, no Norte
um insecto da família das cicadelas, o Scaphoideus de Itália e no Tessin, na Suíça.
titanus. Este organismo, além de originar uma No nosso país, o insecto foi capturado pela
diminuição gradual do rendimento das vinhas, primeira vez em 1998, em Arcos de Valdevez, e
pode levar à morte das videiras em apenas três em 1999, em Vila Real. A partir de 2003, a Asso-
anos. A situação está a causar algum alarme, ciação de Desenvolvimento da Viticultura Duriense
sobretudo na região dos vinhos verdes, onde já (ADVID) começou a fazer o acompanhamento do
foram detectados vinhedos infectados. O risco ciclo biológico do Scaphoideus titanus na vinha
da praga é tal que, anteontem, a Câmara de de Vila Real, onde o insecto está instalado, com o
Amares reuniu-se com alguns viticultores. Num objectivo de monitorizar as diferentes fases de
outro quadro, reuniram-se ontem as associa- desenvolvimento do insecto na região, para
ções do sector vitivinícola, em Lisboa, para ana- apoiar futuras estratégias de controlo. Actual-
lisar a situação. […] mente, a associação está a realizar uma amostra-
gem mais alargada em toda a região.
[…] Era, ainda, aconselhado o tratamento
de todas as vinhas dos concelhos de Mondim
de Basto, Penafiel, Barcelos, Monção, Ponte da
Barca, Arcos de Valdevez, onde, em 2007, foi
confirmada a presença do insecto.
[…] há alguns produtos que podem com-
bater ou atrasar a doença. Mas o método mais
eficaz é o arranque puro e simples das vinhas
afectadas ou então a pulverização maciça atra-
vés de meios aéreos de toda a região afectada.
Mas este método de combate da doença
nos vinhedos, além de muito dispendioso, acar-
reta graves consequências para o meio ambiente
e para as próprias vinhas. O problema é que
Fig. 81 Aspecto das videiras atacadas por flavescência os mesmos produtos que podem eliminar o
dourada (FD). Scaphoideus titanus também eliminam outros
insectos benéficos no controlo de outras pragas.
• A flavescência dourada transmite-se, natu-
ralmente, de uma cepa a outra por intermédio do http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1335692
330 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
• Os fitoplasmas são organismos perten- Embora o insecto fique logo infectado quando
centes ao Reino Monera, Classe Mollicutes, mas se alimenta de uma planta doente, só começa a
que diferem em muitos aspectos das bactérias infectar as plantas sãs ao fim de um mês, tempo
mais conhecidas. De facto, estes organismos de incubação do fitoplasma.
não possuem parede celular e dependem das O fitoplasma atravessa a parede do intestino
plantas para sobreviverem, alojando-se no seu do insecto e multiplica-se na sua hemolinfa.
floema e causando-lhes doenças. Como não são
Posteriormente passa para as glândulas
cultiváveis in vitro, o seu estudo tem-se tornado
salivares, onde continua a reproduzir-se.
bastante difícil.
Ao picar uma nova planta, o insecto introduz
Sabe-se, no entanto, que a transmissão deste
o fitoplasma, juntamente com os fluidos salivares,
parasita vegetal é feita por insectos-vectores. No
no floema da nova hospedeira.
caso em análise, o insecto, Scaphoideus titanus,
que tem a videira como hospedeiro exclusivo Os tratamentos não só são aconselhados
(passa todo o seu ciclo biológico nesta planta), como são obrigatórios, dada a gravidade desta
ingere-o quando se alimenta de plantas infec- situação. A quantidade e distribuição das aplica-
tadas. ções de insecticidas são variáveis e podem passar
por atacar as larvas, os insectos adultos ou ambos.
A De qualquer modo, nesta situação, os princí-
pios da protecção integrada são difíceis de respei-
tar, já que os insecticidas que são eficazes contra
esta praga são prejudiciais à fauna auxiliar.
http://www.drapn.min-agricultura.pt/drapn/
/cen_documentos/ (adaptado)
Glândulas salivares
Aquisição Insecto-vector
durante a Período
B Planta alimentação de latência
doente
Multiplicação
Planta saudável
Infecção
sistémica
Multiplicação
u n i d a d e 4 P r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s e s u s t e n t a b i l i d a d e 331
unidade 5
332 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Preservar e recuperar
o meio ambiente
5 1 Poluição e degradação
de recursos 336
5 2 Crescimento da população
humana e sustentabilidade 381
F G
334 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
INTRODUÇÃO
Fig. 1 Se o estado actual da Terra tem origem no Homem, o seu futuro está nas mãos da Humanidade.
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 335
5 1 Poluição e degradação
de recursos
Proteger o Ambiente custa caro. Nada fazer custará muito mais caro.
Kofi Annan
ACTIVIDADE
1. Imagine o seu dia desde que se levanta até que se deita (situação A). Faça o mesmo exercício, mas agora,
imaginando que é um homem pré-histórico (situação B), vivendo da recolha de alimentos da Natureza.
1.1 Elabore a listagem de recursos utilizados:
a) na situação A;
b) na situação B.
2. Compare as listagens efectuadas, relacione o número de homens existentes na Terra em ambas as épocas
(consulte a página 384) e infira sobre possíveis consequências para o futuro da Humanidade.
336 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Consumo de recursos
Tudo aquilo que o Homem retira da Natureza para suprir
as suas necessidades é considerado um recurso: ar, água, alimento,
materiais e energia necessária para a produção de roupa, habitação,
computadores, entre outros, são recursos utilizados.Todos os seres
vivos que existem sobre a Terra retiram dela recursos e libertam
para a mesma produtos não aproveitados ou alterados (resíduos)
após consumo dos primeiros. A utilização de recursos e a produção
de resíduos não torna a nossa espécie única, o que a torna única
é o volume e a velocidade a que o faz.
A persistência de um recurso depende da relação entre a taxa da
sua produção e a taxa do seu consumo/degradação. Segundo este
critério, podemos classificá-los em três categorias.
A taxa
Energiade produção ou reposição do recurso é muito inferior à taxa do seu consumo.
Não-renováveis A quantidade do recurso tende a diminuir, podendo atingir níveis de depleção. Carvão
Resíduos
Água
Bens de
consumo
Países "em
O modo de vida moderno elevou as desenvolvimento"
taxas de consumo de recursos A RETER
e de produção de resíduos ao mais alto nível. Uma das formas de Tipos de recursos:
avaliar estas mesmas taxas é a pegada ecológica (Fig. 2), a qual nos
• não-renováveis;
dá um valor médio do território exigido por um dado indivíduo,
Países pobres • renováveis;
num determinado país, para suprir as suas necessidades. Contas • perpétuos.
feitas ao número de indivíduos que existem sobre a terra,
e às dimensões desta última, podemos concluir que estão disponíveis,
para cada cidadão do mundo, cerca de 1,8 hectares da Terra. Acontece
que, em média, as nossas necessidades estão a ultrapassar este valor,
o que leva a concluir que, mantendo a Humanidade a taxa de consumo
actual, em 2030 seriam necessários dois planetas Terra, para nos
satisfazerem (segundo o relatório Bianual Planeta Vivo 2008, divulgado
em 28 de Outubro de 2008).
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 337
poluição pollution Produção de resíduos
contaminação contamination
Uma das consequências da acção humana sobre o Ambiente é a
poluente pollutant
produção de resíduos. Estes, ao serem acumulados, podem provocar
reciclável recyclabe
o que vulgarmente se designa por poluição (Fig. 3) ou contaminação.
biodegradável biodegradable
Apesar de os termos serem, em linguagem corrente, utilizados
toxicidade toxicity
como sinónimos e de não serem consensuais na comunidade cien-
tífica, os seus significados — poluição e contaminação — não cor-
respondem obrigatoriamente ao mesmo fenómeno. Assim, conside-
ramos que a poluição corresponde à introdução ou remoção pelo
Homem de substâncias ou energia no Ambiente, susceptíveis de
causar efeitos nocivos aos organismos vivos e sistemas ecológicos.
A contaminação é o fenómeno que se caracteriza também pela
introdução ou remoção pelo Homem de substâncias ou energia no
Ambiente, mas que podem ou não causar efeitos nocivos aos orga-
nismos vivos e aos sistemas ecológicos.
Qualquer resíduo capaz de provocar poluição ou contaminação
será identificado como poluente ou contaminante, respectivamente.
Os resíduos podem ser classificados de acordo com o facto de
se poderem vir a transformar, ou não, de novo em recursos. Se essa
transformação for possível, denominam-se recicláveis. Exemplos
de alguns resíduos que já podem ser reciclados são o papel, o vidro,
o plástico, entre outros.
Os resíduos que não são transformáveis em materiais que
possam ser de novo utilizados são designados por não-recicláveis.
Exemplos de alguns destes resíduos são o chumbo e o arsénico.
Há ainda resíduos que podem ser transformados, de forma
natural, geralmente por bactérias, em compostos posteriormente
utilizáveis, sendo designados por biodegradáveis. A velocidade a
que este fenómeno ocorre pode variar consoante o resíduo em ques-
Os fumos libertados por fábricas
Fig. 3
são uma das fontes de poluição tão, sendo mais rápido para compostos orgânicos e mais lento, por
atmosférica. exemplo, para o plástico.
338 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
• Solubilidade da substância tóxica — algumas substâncias bioampliação biomagnification
são solúveis em água e circulam com facilidade quer entre os
vários substratos, quer no interior dos organismos. Outras
substâncias que se dissolvem em gorduras, apresentando mais
dificuldade em circular, conseguem com alguma facilidade
penetrar nas células, acumulando-se aí. Desta forma são mais
dificilmente eliminadas, tendendo a aumentar a sua concen-
tração em determinados órgãos dos seres vivos, o que vai
provocar um fenómeno designado por bioacumulação.
Quando um ser vivo com toxinas acumuladas nas suas células
e órgãos serve de alimento a um outro ser vivo, este último
acumula essas mesmas toxinas, tendendo a ampliar a sua
concentração, dado que se alimenta de vários seres contami-
nados. Este fenómeno — bioampliação — tende a verificar-
-se ao longo de cadeias alimentares em ecossistemas conta- bioampliação
DDT em peixes
grandes 2 ppm
DDT em peixes
pequenos
0,6 ppm
DDT no zooplâncton
0,04 ppm
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 339
sinergismo synergism As toxinas podem ainda interagir entre si, podendo verifi-
dose letal letal dose car‑se fenómenos quer de sinergismo, quer de antago-
nismo. No primeiro caso, o efeito somado de duas toxinas,
quando actuam em conjunto, é superior ao efeito somado
das duas toxinas agindo isoladamente. Um exemplo de
sinergismo é o que acontece aquando da exposição con-
junta a dois poluentes aéreos: dióxido de enxofre e pó de
carvão. No segundo caso, o efeito conjunto da actuação de
duas toxinas é inferior à soma dos efeitos isolados de cada
uma delas, podendo mesmo anular os efeitos uma da
outra.
• Características do organismo exposto ao tóxico — a forma
como um organismo reage a uma determinada quantidade
N.º de indivíduos
A RETER
340 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
ACTIVIDADE laboratorial
Material
• Fermento de padeiro. • Erlenmeyers (100 mL). • Balões de encher.
• Sacarose. • Amónia pura. • Balança.
• Sal de cozinha. • Água destilada. • Pilhas.
• Comprimidos de ácido • Água gaseificada. • Pipetas e pró-pipetas.
acetilsalicílico. • Refrigerante tipo cola. • Vidros de relógio.
Procedimento
1 — Proceda à preparação dos balões seguindo a informação presente no quadro 2.
Quadro 2
balão 1 balão 2 balão 3 balão 4
100 mL de água
100 mL de água 100 mL de água 100 mL de água
destilada
destilada destilada destilada
0,2 g de fermento
0,2 g de fermento 0,2 g de fermento 0,2 g de fermento
A de padeiro
de padeiro de padeiro de padeiro
3 g de sacarose
3 g de sacarose 3 g de sacarose 3 g de sacarose
1 comprimido de ácido
1 pilha 3 mL de amónia pura 3 g de sal de cozinha
acetilsalicílico
100 mL de água
100 mL de água 100 mL de água 100 mL de água
gaseificada
gaseificada gaseificada gaseificada
0,2 g de fermento
0,2 g de fermento 0,2 g de fermento 0,2 g de fermento
B de padeiro
de padeiro de padeiro de padeiro
3 g de sacarose
3 g de sacarose 3 g de sacarose 3 g de sacarose
1 comprimido de ácido
1 pilha 3 ml de amónia pura 3 g de sal de cozinha
acetilsalicílico
100 mL de refrigerante
100 mL de refrigerante 100 mL de refrigerante 100 mL de refrigerante
tipo cola
tipo cola tipo cola tipo cola
0,2 g de fermento
0,2 g de fermento 0,2 g de fermento 0,2 g de fermento
C de padeiro
de padeiro de padeiro de padeiro
3 g de sacarose
3 g de sacarose 3 g de sacarose 3 g de sacarose
1 comprimido de ácido
1 pilha 3 mL de amónia pura 3 g de sal de cozinha
acetilsalicílico
2 — Prepare o balão (D) com 100 mL de água destilada, 0,2 g de fermento de padeiro e 3 g de sacarose.
3 — Tape, logo que possível, os erlenmeyers com balões de encher.
4 — Coloque os dispositivos em local com temperatura ambiente durante 24 horas.
5 — Observe os resultados, dando especial atenção ao volume alcançado pelos balões.
Resultados
1 — Apresente os resultados sob a forma de esquemas ou recorrendo a fotografias.
Discussão
1 — Justifique a utilização da sacarose.
2 — Identifique as variáveis que foram avaliadas.
3 — Discuta a importância do dispositivo D.
4 — Discuta o processo de leitura de resultados.
5 — Justifique os resultados obtidos em cada um dos dispositivos montados.
6 — O que conclui sobre a sensibilidade das leveduras aos vários poluentes em estudo?
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 341
ACTIVIDADE
Toxicidade
1. Na tentativa de avaliar os efeitos tóxicos de determinadas substâncias, fizeram-se vários estudos,
alguns dos quais estão ilustrados nos gráficos seguintes. Analise-os juntamente com a informação
contida no quadro.
A B B C
N.º de indivíduos
Benefício
para a
vida
Maioria A D
Muito da Pouco Concentração Danos
sensíveis população sensíveis Prejuízo visíveis
para a vida E
0 10 20 30 40 Tóxico F
Dose (unidades hipotéticas) Morte
D 100
C
B C
Benefício
sensibilidade dos
A D 50 organismos aos tóxicos
1 2 4 6 8 10 12 (A); variação do efeito de
25
Prejuízo
Quadro 3
DDT 135
Cafeína 127
Nicotina 24
Sulfato de estricnina 3
Fonte: H. B. Schiefer, D. C. Irvine, S. C. Buzik, Understanding Toxicology, N. York, CRC Press, 1997.
1.1 A reacção a uma determinada quantidade de uma substância é uniforme para todos os indivíduos?
Justifique com base nos dados fornecidos.
1.2 Que concentração de flúor recomendaria para consumo da população? Justifique a sua resposta.
1.3 Da análise do gráfico D tente inferir o conceito de LD50.
1.4 Comente as seguintes afirmações, baseando-se em dados expressos na figura.
A — Só a dose faz o veneno.
B — Qualquer substância química, natural ou sintética, pode ser prejudicial ao organismo
se ingerida em excesso.
1.5 A estricnina já foi utilizada várias vezes em crimes que terminaram em morte de indivíduos.
Um indivíduo injectado com uma dose de estricnina de 5 mg/kg não morrerá necessariamente.
Indique duas razões que possam explicar a sobrevivência do indivíduo em questão.
1.6 Comente a utilização de roedores para testes de sensibilidade aos tóxicos.
342 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
De acordo com a forma como actuam, podemos dizer que um efeito agudo acute effect
tóxico tem um efeito agudo ou um efeito crónico. No primeiro efeito crónico chronic effect
caso, verificam-se respostas rápidas resultam de exposição a doses agentes mutagénicos mutagens agents
de tóxicos. As respostas podem ter espectros muito variados, agentes cancerígenos carcinigens agents
podendo mesmo causar a morte do indivíduo. Caso isso não aconteça, agentes teratogénicos teratogens agents
A RETER
EFEITOS DOS
TÓXICOS NA SAÚDE
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 343
AR FONTES
Fotólise Indústria
Oxidação
Oxi ão Agricultura
Precipitação
Pre Usos domésticos
SER VIVO
Metabolismo
Acumulação
Excreção
ÁGUA
Hidrólise
SOLO
OLO Oxidação
Fotólise
tólise Degradação microbiana
Metabolismo
etabolismo Evaporação
Evaporação
aporação Sedimentação
Poluição atmosférica
A atmosfera pode ser definida como um imenso oceano de ar,
que se estende até cerca de 500 km de altitude, acima da superfície
terrestre. Em parte, determina o clima dos vários locais do planeta.
A atmosfera sofreu ao longo do tempo várias modificações.
A primeira camada a seguir à superfície terrestre, que se pode
estender até aos 8 quilómetros (nos pólos) ou aos 18 quilómetros
(no equador) é a troposfera, camada onde o ar se desloca continua-
mente, redistribuindo o calor e os gases dessa camada. Nesta camada
encontram-se cerca de 75% dos gases da atmosfera.
U5P364H1
Actualmente, na composição da camada mais baixa da atmosfera,
existe principalmente azoto e oxigénio. Existe uma quantidade variável
de vapor de água (0% a 4%) que depende da temperatura do ar e da
mistura disponível (Fig. 9).
He
N2 O2 0,000524 %
78,084 % 20,946 % CO2 Ne
0,035 % 0,001818 % CH4
Ar 0,0001745 %
0,9340 %
Kr
0,000114 %
H2
0,037680 % 0,000055 %
344 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
A camada seguinte, estratosfera, estende-se até cerca dos 50 km, ozono atmosférico atmospheric ozone
é bastante mais diluída do que a troposfera, mas tem uma composição
semelhante, à excepção de não ter vapor de água e de ter cerca de
mil vezes mais ozono (O3). O ozono é produzido quando as moléculas
de O2 se combinam entre si, utilizando a energia das radiações
ultravioletas.
3O2 UV 2O3
Exosfera
400 km de altitude
Termosfera 300 km
Mesosfera 50 km
Estratosfera 40 km
Troposfera 10 km
A atmosfera pode ser alterada por causas que podem ser consi-
deradas naturais, como a emissão de gases e poeiras por um vulcão
(Fig. 11), ou a dispersão de pólenes, esporos, vírus, bactérias e outras
pequenas partículas de compostos orgânicos. Também as tempestades
em regiões áridas provocam o transporte de substâncias por vezes a
milhares de quilómetros.
A RETER
346 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Quadro 4
principais fontes e principais efeitos dos poluentes
POLUENTES EFEITOS
É um gás incolor e inodoro. Cerca de 90% deste gás na atmosfera tem origem natural,
sendo os restantes 10% emitidos principalmente pelo sector dos transportes. Este gás
é proveniente de combustões incompletas de fuel, incêndios e oxidação do metano.
Monóxido de carbono
É um gás muito tóxico, mesmo em concentrações muito reduzidas, ligando‑se
irreversivelmente à hemoglobina e impedindo desta forma o transporte de oxigénio
até às células, o que pode ter como consequência mais grave a morte do organismo.
Gás incolor, com um ligeiro odor doce. Na troposfera, o ozono é produzido na queima
de combustíveis fósseis e processos industriais que produzem dióxido de azoto
Ozono e compostos orgânicos voláteis. É um componente do smog fotoquímico.
Provoca danos na vegetação e, nos animais, afecta os olhos e o sistema respiratório.
Partículas e gotículas pequenas e variadas (amianto, sulfatos, nitratos, Cu, Zn, As, Pb, etc.),
que, devido às suas dimensões, se mantêm em suspensão na atmosfera.
Têm origem predominantemente nas emissões do tráfego, em particular nos veículos
Partículas em suspensão a gasóleo, indústrias e construção civil. Podem contribuir para a chuva ácida.
(PM2,5(1), PM10(1),
As partículas finas são facilmente inaladas, podendo causar bronquite, e até podem ser
entre outras)
absorvidas pela corrente sanguínea.
Partículas de chumbo, cádmio e dioxinas podem causar mutações e, como consequência,
cancro. Provocam danos na vegetação.
(1)
PM10 corresponde a partículas inferiores a 10 mm de diâmetro e PM2,5 corresponde a partículas inferiores a 2,5 mm de diâmetro.
Qualidade do ar
1. Observe o gráfico seguinte retirado do Relatório do Estado do Ambiente de 2006, que diz respeito ao
número de dias incluídos em cada uma das classes do IQAr, por zonas e aglomerações e por anos.
348 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
O sector dos transportes e o sector da indústria são as fontes chuva ácida acid rain
que mais contribuem para a poluição atmosférica (Fig. 14).
100
Fontes estacionárias de combustão de fuel
90 Processos industriais
80 Resíduos sólidos
Transportes
70
Outros
60
50
40
30
20
10
0
Monóxido Óxidos Hidrocarbonetos Óxidos Partículas
de carbono de enxofre de enxofre
o que reflecte o efeito da legislação sobre a limi- Fig. 15 Tamanho de algumas partículas e a sua relação com
tação de poluentes atmosféricos. alterações pulmonares.
Chuva ácida
O valor de pH da chuva é de cerca de 5,6, ou seja, ligeiramente
ácida. Esta característica resulta da reacção que as moléculas de
água têm com o dióxido de carbono existente na atmosfera, produ-
zindo um ácido carbónico fraco.
Sempre que a precipitação tem um pH inferior a 5,6, considera-se A RETER
que se trata de chuva ácida. A expressão «chuva ácida» aplica-se Os sectores dos transportes
quer a depósitos húmidos, como a chuva, a neve e o nevoeiro, quer e da indústria são as fontes mais
à deposição de partículas ácidas a seco. poluentes para a atmosfera.
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 349
Os depósitos ocorrem em zonas próximas ou influenciadas
por ventos que passam em zonas onde a queima de combustíveis
fósseis liberta grandes quantidades de dióxido de enxofre (SO2) e
de óxidos de azoto (NOx) (Fig. 16). Estes gases poluentes são emi-
tidos, principalmente, por fábricas com chaminés altas, o que
minimiza o problema da poluição no local, mas agrava o problema
em locais afastados e sujeitos a ventos dominantes que passam nos
locais emissores.
Oxidação e reacção com a água
(os poluentes formam ácidos
na presença de água)
Óxidos de azoto Ácido nítrico
(NO, NO2) (H++NO3–)
Dióxido de enxofre Ácido sulfúrico
–
(SO2) (2H++SO4 )
Deposição húmida
(chuva ácida)
120
110
100
Fig. 18 Evolução relativa
90 das emissões
80 de substâncias
acidificantes em
70
Portugal (adaptado
60 do Relatório do Estado
1990 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 2005 do Ambiente de 2006.)
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 351
Smog — nevoeiro fotoquímico
Uma inversão térmica (Fig. 19) ocorre quando as condições
atmosféricas aprisionam uma camada de ar frio e denso por baixo
de uma camada de ar quente. As inversões térmicas permitem que
os poluentes permaneçam na mesma área sem se deslocarem,
contribuindo para o smog. Este é um termo utilizado desde 1905
que se refere a uma mistura de fumo e vapor de água, pouco saudável
para os seres vivos. Pode considerar-se a existência de dois tipos de
smog: o fotoquímico (Fig. 20) e o industrial.
DIA
Mais
DIAfrio
Mais
Friofrio
Frio
Altitude
Quente
Altitude
Quente
Temperatura
Temperatura
N TE
E
NOITE
N
NOITE
M
Mais TE
Eio
fr
frio
M
Mais fr io
frio
Altitude
Quente
Altitude
Quente
Frio
Temperatura Frio
Temperatura
Fig. 19 Uma inversão térmica ocorre quando o ar junto ao solo arrefece mais depressa
do que o ar em níveis mais elevados.
Radiação
U5P372H3
NOx (óxidos
SOL solar em
área urbana de azoto) U5P372H3
Com a presença
Smog fotoquímico
de inversão térmica,
1 os poluentes ficam
concentrado
retidos (ar castanho)
Compostos
orgânicos voláteis
0,12 NO
0,10
0,08
Alterações
Fig. 21
(ppm)
0,06 NO2
HC – 10 diárias dos gases
0,04
numa cidade
0,02
Ozono com formação
0 6 12 18 0 (horas) frequente de smog.
352 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
O desenvolvimento do smog fotoquímico está directamente
relacionado com o tráfego urbano. Pela manhã, os veículos começam
a libertar gases, em especial compostos orgânicos voláteis (hidrocar-
bonetos) e monóxido de azoto, que aumentam a sua concentração.
Ao mesmo tempo há um decréscimo da quantidade de dióxido de
azoto, pois através da luz solar existe quebra de ligações químicas
A RETER
(NO 1 O). O oxigénio atómico pode assim combinar-se com O2 e
produzir O3, tendo como resultado o aumento do ozono. Os hidro- O smog fotoquímico é originado
por uma inversão térmica e
carbonetos oxidados combinam-se com o monóxido de azoto para por fumo de veículos, o que
aumentar a quantidade de NO2; esta reacção causa a diminuição do tem como consequência
NO e permite o aumento do ozono. À medida que o smog vai aumen- a acumulação de ozono,
provocando problemas de saúde
tando, a visibilidade vai diminuindo, pois a luz é disseminada pelos graves.
poluentes (Fig. 22).
O smog industrial, de cor acinzentada, é fundamentalmente
originado pela queima de carvão e petróleo pesado em centrais
termoeléctricas. Este é originado pela libertação de óxidos de enxofre
(em especial SO2) e partículas que ficam em suspensão, dando
origem a smog sulfuroso concentrado.
Em 1952, em Londres (Fig. 23), ocorreu durante cinco dias um
smog deste tipo que matou milhares de londrinos.
PACÍFICO
OCEANO
OCEANO
PACÍFICO AT L Â N T I C O ÍNDICO
0 1500 km
Poluição atmosférica
Áreas com chuva ácida significativa Áreas com poluição atmosférica e chuva ácida significativa Pluma de poluição atmosférica: direcção
Áreas com poluição atmosférica significativa Áreas com poluição atmosférica secundária e força do vento médias
O vento sopra na direcção do final estreito da pluma e a força do vento está indicada pelo tamanho da pluma
40
radiações ultravioletas UVC que quebram as ligações entre os
Estratosfera átomos da molécula de oxigénio (O2). Por seu lado, o ozono também
20 pode ser destruído pelas mesmas radiações em reacção inversa. Até
não há muito tempo, as reacções de formação e de quebra da molécula
Troposfera
0 de ozono encontravam-se em equilíbrio, o que provocava valores
0,4 4 40 400
Concentração de ozono (1000 ppm) constantes de ozono (O3) na atmosfera. Em 1985, foram publicados
Distribuição do ozono na
Fig. 25 os primeiros dados que sugeriam a diminuição da concentração de
atmosfera à latitude de 60º Sul. ozono sobre a Antárctida.
354 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Os dados são medidos em Outubro (Primavera na Antárctida) e O3
UVC
O O2
300 DU, de 1957 a 1970, e que declinaram para cerca de 200 DU
em 1983, 150 em 1986, tendo o valor mais baixo ocorrido em 1995: O2
90 DU (Fig. 27). O2 2O
O O2
A depleção do ozono estratosférico, em especial sobre a Antárc- O + O2 O3
O3
tida, permite que doses crescentes de raios UV atinjam a superfície
terrestre, aumentando assim o risco de queimaduras, cancro de Fig. 26 Processo de formação do ozono.
pele, cataratas e danos no sistema imunitário. O ozono estratosférico
impede também que o oxigénio troposférico seja convertido em
ozono fotoquímico, um poluente do ar bastante prejudicial.
Em 1974, Sherwood Rowland e Mario Molina
indicaram que a presença de CFC (clorofluorcar- 200
bonetos) diminuía a quantidade de ozono na
180
estratosfera. Esta hipótese foi inicialmente muito
contestada, mas as conclusões a que os investiga- Concentração de O3 160
(1) Cñ O3 → CñO 1 O2
(2) CñO O → Cñ O2
CURIOSIDADE
O ozono é produzido por O ozono é destruído por
A concentração de ozono é me-
fotodissociação da molécula reacções catalíticas em
de O2 por UVC do Sol. dida em unidades Dobson (DU),
cadeia do C#O. Há reacções
ções
Um átomo de oxigénio Resultado final assim denominada em honra de
semelhantes com óxidoss
combina-se com O2 de azoto e bromo. G. M. B. Dobson, que analisou
para produzir O3. o ozono atmosférico entre 1920
e 1960.
Sol
Uma unidade Dobson equivale
C# + O3 C#O + O2
O +O2 O3 O + O3 2O2 à concentração de 1000 ppm de
O2 C#O + O C# + O2
O3.
O O ozono é destruído.
Brometo
Os agentes catalíticos
N2O CFC de
a são produzidos a partir
er metilo
de fontes gasosas de vida
f
os
longa, libertados na
rat
ra troposfera e transportados
Est
fe
para a estratosfera.
s
Emissões da Terra
Tro
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 355
Estas duas equações definem um ciclo químico que contribui
A RETER
para a depleção do ozono. O átomo de cloro pode depois entrar
A camada de ozono na noutro ciclo de destruição de outra molécula de ozono e assim
estratosfera é muito importante,
pois absorve as radiações
sucessivamente. Estima-se que um átomo de cloro possa destruir
ultravioletas prejudiciais aos cerca de 100 000 moléculas de ozono, durante um período de um
seres vivos. Esta camada ou dois anos, após o qual é removido, entrando noutras reacções
encontra-se em destruição
desde há alguns anos.
químicas. Estas reacções têm significado quando se pensa nas toneladas
de CFC que foram emitidas para a atmosfera.
Uma vez registada a diminuição da concentração de ozono na
estratosfera, vulgarmente designada por buraco do ozono, na Antárc-
tida, em 1985, verificou-se que a espessura da camada tem vindo a
diminuir desde a década de 1970 e a área geográfica coberta pelo
buraco tem vindo a aumentar.
O buraco do ozono aumentou de aproximadamente um milhão
de km2, nos finais da década de 1970 e princípio da década
de 1980, até cerca de 25 milhões de km2 na actualidade (o que
excede a área da América do Norte) (Figs. 29 e 30).
30
25
Dimensão (milhares de km2)
20
15
10
0
1980 1985 1990 1990 2000
Anos
Média dos anos de 1970, 1971, 1972 e 1979 Média dos anos de 1992, 1993, 1994 e 1995
100
500
Total DU
–6
100% radiação 1000 800 600 400 200 0
Milhares de anos antes da actualidade
infravermelha reflectida
(brilho da Terra)
100% de radiação
solar que chega à Terra 30% reflectida para o espaço B
(ºC)
(25% da atmosfera e 5% da 2
superfície terrestre) 15 ºC
0
–2
70% de calor perdido –4
–6
45% absorvida para o espaço
–8
pela superfície terrestre (da atmosfera e da
25% absorvida –10
superfície terrestre) 160 140 120 100 80 60 40 20 10
pela atmosfera Milhares de anos antes da actualidade
C
(ºC)
Período quente medieval
2
15 ºC
0
Calor reabsorvido pela Terra Pequena
(CO2, CH4, etc.) –2
Idade do Gelo
–4
18 16 14 12 10 8 6 4 2 0
Fig. 31 Balanço da energia total que chega à Terra. Milhares de anos antes da actualidade
U5
U5P377H2
U
U5P3
5P
P337
77
7H2
H2
Ao longo do tempo, sabe-se que a temperatura no planeta Terra (ºC)
D
se modificou bastante (Fig. 32). Houve períodos de temperaturas 1
mais elevadas na generalidade do planeta (períodos interglaciários) 0,5 Período quente medieval
15 ºC
e períodos de temperaturas mais baixas (períodos glaciários). Nos 0
Renascimento Pequena Idade do
Gelo
últimos 180 000 anos houve vários períodos, uns mais quentes e outros – 0,5
–1
mais frios, que afectaram grandemente os seres vivos do planeta. 900 1100 1300 1500 1700 1900
Anos
O período quente medieval (Fig. 32 D) correspondeu à expansão
de alguns povos na Terra, como por exemplo os Vikings, que colo- (ºC)
E
0,6
nizaram a América nesta época. No entanto, na Pequena Idade do
Gelo, esses locais foram abandonados. 0,4
15 ºC
Na figura 32E observa-se em pormenor as modificações que ocorreram 0
– 0,6
A RETER 1860 1880 1890 1920 1940 1960 1980 2000
Anos
Actualmente, verifica-se, no planeta Terra, um aumento global de temperatura
(aquecimento global). Fig. 32 Alterações na temperatura da Terra
ao longo dos últimos milhares de anos.
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 357
Qual será a razão deste aquecimento?
350 300
Os principais gases com efeito de
350 350estufa aumentaram bastante
300 300
1 1
1800 1900 2000
as suas quantidades na atmosfera.
1800 1900
Muitos cientistas pensam que1 as
2000 1800 1900 2000
Anos Anos Anos
300
quantidades
300
de dióxido de carbono 300
existentes actualmente na
0
atmosfera devem-se à queima0 de combustíveis fósseis, uma vez que
0
o seu incremento começou com a Revolução Industrial.
250 250 250
2000 2000 2000
Quadro 5
Forçamento radiativo (Wm–2)
(1000 ppm)
1500
CONCENTRAÇÃO ATMOSFÉRICA 350
1500
ANOS 1000-1750 ANO
1500
2000
1500 1000
0,4 1500
350 1000
0,4 1500 1000
0,4
de carbono
300
1 280 ppm 368 ppm
500
1800
CO2 2000
1900
500 500
1800 1900 2000 1800 1900 2000 1800 1900 2000
Anos 0,2 Anos
Anos 0,2 Anos 0,2
7001000
ppb 1750 ppb
Metano
1000 1000
300
CH4
Dióxido
–2) –2
330 2000
330 330
(ppm)
(Wm
Forçamento radiativo (Wm–2)
350
1500
(Wm
300 1000
300 270
10,1 300 270 0,1 300 270 0,1
de (1000
radiativo
500
1800 1900 2000 240 240 240
1800 1900
Anos 2000 1800 1900 2000 1800 1900 2000
Anos Anos 0,2 Anos
Forçamento
nitroso
ÓxidoMetano
300 1000
Forçamento
Dióxido
0
500
250
2000 330
10 000 5000 0 10 000 5000 0 10 000 5000 0
Forçamento radiativo (Wm–2)
2000
Tempo (antes de 2005) Tempo (antes de
3302005) Tempo (antes de 2005)
Forçamento radiativo (Wm–2)
Metano (1000 ppm)
1500
300
Fig.
150033 Alterações nos gases1000
com efeito
0,4de estufa a partir de dados e testemunhos de gelo e dados modernos. Concentrações
atmosféricas de CO2, CH4 e N2O ao longo dos300 últimos dez mil anos (gráficos
270 0,1 e desde 1750 (gráficos inseridos). As medições
grandes)
500
são obtidas
1800 a
1900
Anos
partir
2000 de testemunhos de gelo (símbolos com diferentes
0,2 1800 1900 2000
240 cores para os diferentes estudos) e amostras atmosféricas
Anos
1000(linhas vermelhas). Os forçamentos radiativos (contribuição para o aquecimento global) são mostrados nos eixos do lado direito dos
gráficos grandes. 270 0
0
500
358 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
330
10 000 5000 0
330
As fontes antrópicas de metano incluem a queima de biomassa,
a produção de carvão e gás natural e as actividades agropecuárias.
O óxido nitroso aumenta devido à queima de combustíveis fósseis
e às actividades agrícolas (aplicação de fertilizantes).
Segundo o relatório referido projecta-se, para as próximas
duas décadas, um aquecimento de cerca de 0,2 ºC por década.
A RETER
Mesmo que as concentrações de todos os gases de efeito de estufa
e aerossóis se mantivessem constantes nos níveis do ano 2000, Metano, dióxido de carbono,
óxido nitroso e vapor de água
seria esperado um aquecimento adicional de cerca de 0,1 ºC por são gases com efeito de estufa.
década (Fig. 34).
Forçamento radiativo
O forçamento radiativo é uma medida da influência de um factor na alteração
do equilíbrio da energia que entra e sai do sistema Terra‑atmosfera e é um
índice da importância do factor como possível mecanismo de mudança do
clima. O forçamento positivo tende a aquecer a superfície, enquanto
o forçamento negativo tende a arrefecê-la, e é usado para comparar
a forma como os factores humanos e naturais provocam o aquecimento ou
o arrefecimento do clima global. No relatório referido anteriormente, os valores
do forçamento radiativo são, para 2005, relativos às condições pré‑industriais
definidas em 1750, e são expressos em watts por metro quadrado (Wm-2).
CURIOSIDADE
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas foi estabelecido em
1988 pela organização Meteorológica Mundial e pelo Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
EUROPA
Anomalia da temperatura (°C)
1,0
AMÉRICA DO NORTE ÁSIA
Anomalia da temperatura (°C)
0,5
Anomalia da temperatura (°C)
1,0 1,0
0,0
0,5 0,5
1900 1950 2000
0,0 0,0
Anos
0,5
1,0 AUSTRÁLIA
0,0
Anomalia da temperatura (°C)
0,5
1,0
0,0
1900 1950 2000
Anos
Fig. 34 Mudança na temperatura nos vários continentes. Comparação das mudanças observadas em escalas continental e global
na temperatura da superfície com resultados simulados por modelos climáticos, usando-se forçamentos naturais e antrópicos.
As médias decenais das observações são apresentadas para o período de 1906 a 2005 (linha preta), relativas à média
correspondente para 1901 a 1950.
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 359
Quais são as consequências das alterações climáticas?
2 7
8 13 14
10 3
6
7 9 5 4
12
11
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 361
A concentração média de várias substâncias é maior no interior
de edifícios do que no seu exterior (Fig. 37).
Compostos
Formaldeído orgânicos
Benzeno Produtos
de combustão
Diclorometano
Clordano Concentração
média interna
Clorofórmio
Concentração
Partículas respiráveis média externa
Dióxido de azoto
Dióxido de enxofre Dióxido de
Fig. 37 Concentração carbono
de poluentes do ar Monóxido de carbono
interior comparada com
concentrações externas 1 10 102 103 104 105 106 107
(escala logarítmica). Concentração no ar (mg/m3)
Compostos orgânicos Concentração média interna
Produtos de combustão Concentração média externa
A RETER Para controlar a poluição interior, deve incrementar-se a venti-
O ar interior pode encontrar-se lação, com acesso a janelas e luz natural, e a restrição ao uso do
mais poluído do que o exterior. tabaco em zonas interiores e junto a portas e janelas. No exterior,
dever-se-á ter cuidado nos materiais utilizados para a construção
e no mobiliário e utilizar filtros de partículas e mecanismos de renova-
ção de ar, devendo ainda fornecer-se informação actualizada sobre
produtos e materiais e os seus efeitos na saúde, permitindo assim
escolhas mais saudáveis pela população.
Poluição aquática
Sendo o nosso planeta constituído maioritariamente por água,
e sendo esta um recurso que se renova constantemente através
do ciclo hidrogeológico, por que razão se fala cada vez mais na falta
de água e se vive assombrado com tal perspectiva no futuro?
Vários são os factores que justificam tais receios. Um deles
é a escassez de água doce. Apenas 2,5% do total da água do planeta é
água doce, e dessa, alguma está cativa, inacessível para a circulação e
consumo dos seres vivos. Por outro lado, a qualidade da água está a ser
alterada, dado que no decorrer dos seus múltiplos usos (especialmente
agricultura, indústria e consumo doméstico) (Fig. 38 B), lhe são adicio-
nadas substâncias que alteram, por vezes de forma irreversível, as suas
propriedades, deixando-a contaminada e imprópria para consumo.
A B Consumo de água
Água Doméstico
salgada 10% superficial
97,5%
Água
doce
Industrial
2,5%
21%
Água Gelo
subterrânea 1,979% Agricultura
0,514% Rios e lagos Atmosfera 69%
0,006% 0,001%
Fig. 38 Distribuição dos tipos de água no planeta (A); alguns dos processos que mais
contribuem para o consumo de água (B).
362 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
A acrescentar aos factores atrás mencionados, há ainda que
referir o facto de ocorrer uma distribuição muito desigual de dispo-
nibilidade de água no planeta (Fig. 39), bem como hábitos de consumo,
essencialmente das populações mais desenvolvidas, pautados pelo
desperdício de água.
OCEANO OCEANO
OCEANO
OCEANO
PACÍFICO AT L Â N T I C O ÍNDICO
Stress sobre
as bacias
hidrográficas
Alto
0 1500 km
Ausente
Fig. 39 Stress sobre as principais bacias hidrográficas mundiais (comparação entre a quantidade de água disponível e a quantidade
de água usada pelos seres humanos).
A RETER
Pequena quantidade
Distribuição
de água doce Contaminação Desperdício
desigual de água
relativamente da água de água
no planeta
à água salgada
PESQUISAR E DIVULGAR
Um dos desafios que a Humanidade tem tentado ultrapassar prende-se com o aumento das reservas de água
doce. Para tal, tem recorrido a várias estratégias, nomeadamente:
— construção de represas/barragens;
— transporte de água de locais com maior abundância para locais de maior escassez;
— sobreexploração das águas subterrâneas;
— transformação da água salgada em água doce;
— redução do desperdício de água.
• Elabore, a propósito de uma das estratégias referidas, uma pesquisa, sempre que possível nacional, tentando
fazer um levantamento dos prós e contras associados à estratégia em causa.
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 363
Sempre que se verifique qualquer alteração na qualidade da
água, quer a nível físico, quer químico ou biológico, que a torne
imprópria para consumo, ou prejudique os organismos vivos que
com ela contactem, consideramos que a água está poluída.
ACTIVIDADE
1. No quadro seguinte estão representados alguns dos poluentes mais frequentes da água, as suas fontes
e os efeitos que podem vir a provocar. Analise-o com atenção e responda às questões a ele associadas.
Quadro 6
POLUENTES DA ÁGUA
Excrementos humanos
Agentes infecciosos Bactérias, vírus e parasitas.
e de outros animais.
de problemas
Causadores
Químicos orgânicos
detergentes e plástico. de limpeza doméstica.
Efluentes industriais, produtos
Químicos inorgânicos Ácidos, sais, metais.
de limpeza doméstica.
Radiações Urânio, césio, radão. Extracção mineira, centrais nucleares.
ecossistemas
364 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Poluição dos mares e oceanos
A grande capacidade de diluição, dispersão e degradação dos
mares e oceanos levou a Humanidade, durante muito tempo, a
pensar que estes ecossistemas eram imunes à poluição, usando-os
em muitos casos como reservatórios dos lixos continentais. Apesar de
actualmente não se conseguir prever com segurança qual é o limite de
tolerância dos oceanos, sabe-se, contudo, que os mesmos já começam
a emitir sinais de poluição, em alguns casos, bastante desastrosos.
Os dois maiores problemas associados à poluição dos oceanos
prendem-se com a poluição associada ao petróleo e com o fluxo
excessivo de matéria orgânica às zonas costeiras (Figs. 40 e 41).
CORVO AÇORES
GRACIOSA
TERCEIRA
Viana Braga
FLORES
SÃO JORGE do Castelo
Angra do Heroísmo
FAIAL Porto
Jacob Maersk
SÃO MIGUEL (1975)
PICO
Porto de Leixões: Aveiro
13.ª maior maré
0 20 km Ponta Delgada negra mundial
SANTA MARIA Coimbra
DESERTAS Lisboa
Funchal
0 10 km
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 365
carência bioquímica de oxigénio Os efeitos da adição de petróleo aos oceanos são vastos:
biochemical oxygen demand
• morte de organismos marinhos;
• alteração do isolamento térmico de aves e mamíferos (penas
e pêlos), o que diminui a capacidade de regulação térmica
corporal e a capacidade de flutuação destes animais, podendo
provocar-lhes a morte;
• contaminação das populações animais dos fundos oceânicos
(por exemplo, bivalves);
• prejuízos para as pescas e para o turismo das regiões costeiras.
8 ppm
Oxigénio
dissolvido
sol
Carência
ê ia bioquímica
0-2 2-5 5-10
de oxigénio (CBO)
366 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Após uma descarga de poluentes, o rio vive uma dinâmica de
recuperação que tende a reinstalar o equilíbrio do mesmo.
Se uma dada zona de um curso de água sofrer a descarga
de poluentes, eleva-se de imediato a CBO, isto é, estabelece-se uma
zona de decomposição, onde a quantidade de O2 necessária para
a transformação dos poluentes é elevada.
Como consequência deste mecanismo, as bactérias aeróbias ini-
ciam os processos de decomposição, consumindo oxigénio. Em
resultado deste processo, o nível deste gás diminui e espécies mais
sensíveis desaparecem da zona, verificando-se mesmo uma zona
anóxia, onde só subsistem espécies resistentes a águas pouco oxige-
nadas.
À medida que os contaminantes vão sendo transformados, por
decomposição, a CBO volta a diminuir, pelo que o nível de oxigénio
volta a subir. Lentamente, a jusante vai-nos aparecer, primeiro, uma
zona de recuperação e, finalmente, uma zona não poluída, onde
o nível de CBO é mínimo e o nível de O2 elevado, permitindo assim
a existência de espécies variadas.
ACTIVIDADE
A B
Rios — situação dos Rios — situação dos
esgotos urbanos (%) esgotos industriais (%)
Douro Ave
17 7
83 93
Ave Cávado
21 8
79 92
Cávado Vouga
21 24
79 76
Tejo Douro
28 26
72 74
Vouga Tejo
30 53
70 47
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 367
eutrofização natural natural Poluição nos lagos e lagoas
eutrophication
Os lagos e as lagoas, por apresentarem fluxos de água muito
eutrofização cultural cultural
eutrophication lentos e uma estratificação que permite poucas misturas verticais, são
mais sensíveis à poluição, ultrapassando-a com mais dificuldade.
Frequentemente, ocorrem fenómenos de enriquecimento de
SEQUÊNCIA DE ETAPAS DURANTE
UM PROCESSO DE EUTROFIZAÇÃO nutrientes nos lagos — eutrofização (ou eutroficação). Esta pode
ocorrer de forma natural — eutrofização natural —, acentuando-se
O escoamento a partir de zonas em períodos de seca, mas pode também ser fortemente influenciada
diversas e algum depósito
de azoto atmosférico… pela intervenção humana — eutrofização cultural —, quando o
Homem promove uma agricultura intensiva, recorrendo a adubos,
é responsável pelo
ou implementa estações de pecuária nas zonas limítrofes do lago, ou
aumento da concentração de simplesmente permite o escoamento de resíduos urbanos até estes
nitratos e fosfatos nas águas do
lago. ecossistemas, acelerando os processos de eutrofização.
Como consequência,
O enriquecimento das águas do lago em nutrientes, desde que
estes ultrapassem determinados valores, pode ser uma causa de
as populações
de microorganismos aquáticos
poluição dos mesmos. Durante um processo de eutrofização existe
aumentam, localizando‑se um conjunto de alterações que um lago pode sofrer (Fig. 46).
algumas delas à superfície
do lago, formando películas
Fraco aporte Vento
contínuas, Fraco aporte Vento Água límpida
de nitratos
Fraco e fosfatos
aporte Água límpida
de nitratos e fosfatos Azoto DióxidoVento
de carbono Oxigénio Água límpida
o que faz de nitratos e fosfatos Azoto Dióxido de carbono Oxigénio
Azoto Dióxido de carbono Oxigénio
aumentar a turbidez da água,
dificultando o acesso da luz
a zonas mais profundas,
Algas Nutriente
Algas Nutriente
o que leva à Nutriente
AlgasSedimentos
Sedimentos
diminuição da capacidade Sedimentos
de sobrevivência do fitoplâncton
e morte de algas. Ecossistema não poluído
Ecossistema não poluído
Ecossistema não poluído
Como consequência, Crescimento
Vento Crescimento
das algas
Vento Crescimento
das algas
aumenta a quantidade
Azoto DióxidoVento
de carbono Oxigénio das algas
de material que serve de base Azoto Dióxido de carbono Oxigénio
à decomposição por bactérias Azoto Dióxido de carbono Oxigénio
aeróbias,
o que provoca
368 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Ao longo do processo de eutrofização, a água vai ficando cada vez
menos transparente. A transparência da água é um bom indicador do
estado de poluição da mesma e a sua perda resulta da acumulação de
sedimentos, de substâncias químicas e da abundância de organismos
fitoplanctónicos. A eutrofização cultural pode ser evitada ou combatida
recorrendo-se a algumas medidas preventivas ou a medidas de
tratamento, sendo estas últimas mais dispendiosas.
Medidas preventivas no combate à eutrofização cultural:
• diminuição do consumo de detergentes e produtos de limpeza
doméstica com fosfatos;
• diminuição da utilização de fertilizantes na agricultura;
• desvio dos efluentes agrícolas e pecuários da zona dos lagos;
• controlo dos processos de erosão dos solos;
• criação de sistemas de limpeza, de extracção de nitratos e fosfatos
dos efluentes, antes de estes atingirem os lagos.
Medidas correctivas no combate à eutrofização cultural:
• bombeamento de ar nos lagos;
• controlo do crescimento de algas nos lagos por recurso a algicidas
ou por remoção mecânica.
A B Boa
Boa Duvidosa
Ribeiras do Algarve
Duvidosa Em risco
Ribeiras do AlgarveGuadiana
Em risco
Guadiana Sado/Mira
Sado/MiraTejo/Ribeiras do Oeste
Tejo/Ribeiras doVouga/Mondego/Lis
Oeste
Vouga/Mondego/Lis Douro
Douro Cávado, Ave e Leça
Fig. 47 Análise da qualidade das
Cávado, Ave e Leça
Minho/Lima massas de água superficiais (A)
0 20 40 60 80Minho/Lima
100 % 0 20 40 60 80 100 % e subterrâneas (B) em Portugal
0 20 40 60 Massas
80 de água
100 % 0 20 40 60Massas80 de água
100 % continental.
Massas de água Massas de água
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 369
CURIOSIDADE
A maior área desflorestada no
Poluição do solo
período de 2000 a 2005 encon- O solo é uma camada que se encontra à superfície da grande
tra-se no Brasil: 30 mil milhões maioria dos terrenos e é um recurso natural, renovável, e de imensa
de quilómetros quadrados.
importância para a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas ter-
restres. Efectivamente, nos ecossistemas em equilíbrio existe um
reaproveitamento de materiais sem formação de «lixos» e isso é
garantido, em boa parte, pelo solo. Os organismos decompositores
do solo asseguram a transformação de matéria orgânica complexa
em nutrientes inorgânicos que as plantas voltarão a utilizar, e, assim,
os ciclos biogeoquímicos (do azoto, do carbono, do fósforo, entre
outros) mantêm o seu bom funcionamento.
Consequentemente, o solo é a camada responsável pela interco-
municação entre a hidrosfera e a atmosfera, o que significa que as
alterações que lhe são infligidas vão afectar, directa ou indirecta-
A RETER mente, a água e o ar.
A poluição do solo é causada, Nos últimos tempos, o solo tem sido alvo de inúmeras agres-
directamente, pelas actividades
agrícola, industrial e mineira,
sões: erosão acelerada devido à desflorestação para construção de
e ainda pelas lixeiras. Mas habitações ou vias de comunicação, salinização por excesso de irri-
a poluição da água e do ar gação, introdução de contaminantes vindos da prática agrícola (pes-
também contribuem para a
poluição do solo.
ticidas e fertilizantes com fosfatos e nitratos), lixeiras domésticas e
industriais, escombreiras, entre muitas outras (Fig. 48).
ACTIVIDADE
Tanques enterrados
com gasolina e solventes
Pesticidas
e fertilizantes
Bomba de gasolina Ch vas ácidas
Chu
Chuvas
Aplicação
de sal na estrada
para derreter o gelo Inje
e
Injecção
de rresíduos
peri
per
perigosos
Escombreiras
370 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
1.1 Estabeleça uma relação entre a poluição atmosférica, a poluição do solo e a poluição da água.
1.2 Exemplifique, com dados da figura, a afirmação: «A poluição das águas e a do solo estão
estritamente relacionadas.»
1.3 Por que razão se pode afirmar que o uso de combustíveis fósseis causa poluição do ar e do solo?
5 1 2 Tratamento de resíduos
CURIOSIDADE
A Sociedade Ponto Verde S.A. é
uma entidade privada, sem fins
lucrativos, constituída em Novem-
bro de 1996, com a missão de
promover a recolha selectiva, a
retoma e a reciclagem de resíduos
de embalagens, a nível nacional.
Vidro Papel
Sacos de plástico
Lixos orgânicos
para o compostor
Lixo
Embalagens
Madeira
27 161
Reciclar implica separar os resíduos para que possam ser
Metal
35 568 processados em novos produtos.
Plástico Vidro No gráfico da figura 50, é possível observar a quantidade de
33 396 151 111
resíduos recolhidos em Portugal, no ano 2007, pela Sociedade
Papel/cartão Ponto Verde (o sistema ponto verde abrange actualmente 99,7%
217 343
da população portuguesa).
Segundo a Sociedade Ponto Verde, a percentagem de lares onde
Quantidade de resíduos
Fig. 50
é feita a separação de resíduos tem aumentado ao longo do tempo:
recolhidos em Portugal pela
Sociedade Ponto Verde, em 2004, 48% dos lares fazia separação de resíduos, enquanto em
no ano de 2007. 2007, já 63% dos lares portugueses a promoviam, pelo menos
parcialmente.
Reciclar tem inúmeras vantagens, podendo salientar-se: a dimi-
nuição da procura de novas matérias-primas, a redução do consumo
de energia e de água, da desflorestação e da poluição atmosférica.
Um aspecto interessante da reciclagem diz respeito à compos-
tagem, onde se simula o processo natural de degradação orgânica.
Os resíduos que podem ser sujeitos a este método, pela acção
A RETER de microrganismos normalmente já presentes nos próprios resí-
A compostagem é um processo duos, são os produtos orgânicos biodegradáveis que produzimos.
de reciclagem de compostos
O produto obtido por este processo biológico é designado por com-
orgânicos.
posto e pode ser utilizado como fertilizante orgânico.
Este processo pode ser realizado num canto do jardim ou em
instalações comunitárias centralizadas, como a que existe em Setúbal,
cidade que valoriza cerca de 50% dos resíduos que aí dão entrada,
segundo a página da Internet da Câmara Municipal desta cidade.
Os resíduos que não podem ser reutilizados ou reciclados
devem ser encaminhados para locais onde a contaminação ambiental
seja mínima, como os aterros sanitários (Fig. 51).
372 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Cortina arbórea biogás biogas
Báscula
Unidade de queima ETAR sewage treatment plant
de pesagem
Plataforma de biogás
de armazenamento
incineração incineration
de recicláveis Unidade de lavagem Geotextil
de rodados e viaturas não-tecido
Estação de triagem Tela de PEAD
de papel/vidro/ (polietileno
metal/plástico Lixo não-
de alta
-reciclável
densidade)
Efluente
tratado
ETAR
Vedação
periférica
Ecocentro Camada
Terra
Lixo Instalações de cobertura drenante
Ecoponto técnicas Células
diárias Drenagem
Instalações administrativas de biogás
e Centro Ambiental
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 373
tricidade
Electricidade
Guindaste
Depurador
purad
dor húmido
Turbina Gerador
Chaminé
Precipitador
electroestático
Poço de
resíduos
Forno Caldeira
Adição de água
Transportador
Cinzas pesadas Água
Aterro
Percurso suja
convencional
das emissões
Tratamento
gasosas
de resíduos Aterro
Percurso Poeira de de resíduos
das cinzas cinza perigosos
Sedimentação primária
Arejamento
Sedimentação secundária
Tratamento terciário
u9 p225 h1
através do qual são eliminados materiais sólidos grosseiros que
ficam retidos nas grades utilizadas. De seguida, as águas entram
numa câmara onde ocorre a sedimentação de areias e pequenas
pedras e, no final, em tanques de sedimentação onde se depositam
as partículas mais pequenas e se removem as gorduras. Por vezes,
estes processos são facilitados com a adição de substâncias químicas.
As lamas obtidas são removidas e transportadas para câmaras
digestoras para processamento posterior.
No tratamento secundário, a água proveniente do tratamento
primário entra num tanque, onde ocorre o bombeamento de ar e a
mistura com algumas das lamas do tanque de sedimentação final.
As lamas contêm bactérias aeróbias que degradam o material orgânico
existente na água. Para concluir este processo, a água entra no
tanque de sedimentação final, onde as lamas se depositam. Algumas
destas lamas são reutilizadas, mas a maioria é transportada para o
digestor. O tratamento no digestor, que também inclui as lamas do
tratamento primário, é um tratamento com bactérias anaeróbias,
que as digerem. Esta digestão anaeróbia produz metano, que pode
ser aproveitado para produção de energia.
No tratamento terciário, a água resultante do tratamento
secundário sofre uma desinfecção (com cloro ou raios ultravioletas)
para eliminação de organismos patogénicos. Pode também haver
necessidade de remoção de alguns nutrientes, como azoto e fósforo,
que podem contribuir para a eutrofização das águas. As águas trata-
das são posteriormente lançadas em cursos de água. As lamas
obtidas são secas e colocadas em aterro ou aplicadas em solos. Esta
última aplicação não pode ocorrer nos casos em que as lamas pos-
suem poluentes, como metais pesados, não podendo ser utilizadas
como fertilizantes.
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 375
As águas residuais podem também ser tratadas com sistemas
ecológicos alternativos que utilizam seres vivos diversificados na
sua purificação. O biólogo Jonh Todd e colaboradores desenvolveram
um conjunto de tratamentos a que chamaram de «máquina viva».
A «máquina viva» é uma tecnologia ecológica desenvolvida para
limpar águas poluídas, à semelhança do que acontece na Natureza. São
usadas diversas comunidades de bactérias e outros microrganismos,
algas, plantas, árvores, caracóis, peixes e outros seres vivos (Fig. 54).
A B C
Fig. 55 A «máquina viva» localiza-se numa estufa onde a temperatura é mantida constante.
Síntese de conhecimentos
• O crescimento acelerado da população humana levou a um consumo excessivo de recursos
e/ou à degradação da qualidade dos mesmos, bem como à produção de resíduos em excesso.
• A poluição corresponde à introdução ou remoção pelo Homem de substâncias ou energia no Ambiente,
susceptíveis de causar efeitos nocivos aos organismos vivos e sistemas ecológicos.
• A toxicidade é a medida dos efeitos prejudiciais que uma substância pode provocar num organismo.
• Os resíduos insolúveis podem acumular-se nos órgãos de alguns animais (bioacumulação); ao longo
de uma cadeia alimentar a quantidade de tóxicos tende a aumentar (bioampliação).
• Os principais poluentes da atmosfera são monóxido de carbono, óxidos de enxofre, óxidos de azoto,
ozono e partículas em suspensão.
• Os transportes e as indústrias são os sectores que mais contribuem para a poluição do ar.
• A chuva ácida contém ácido sulfúrico e/ou ácido nítrico, que são poluentes secundários.
• O smog fotoquímico é originado por fumo de veículos quando se verifica uma inversão térmica, o que
tem como consequência a acumulação de ozono, provocando problemas de saúde graves.
• A camada de ozono absorve as radiações ultravioletas prejudiciais aos seres vivos. Esta camada encontra-se
em destruição, tornando-se, por isso, mais fina — «buraco do ozono».
• O aumento global de temperatura é provocado pelos gases com efeito de estufa.
• Os ecossistemas aquáticos podem resistir à poluição através da diluição e da biodegradação de recursos.
• A CBO mede a quantidade de oxigénio necessária para as bactérias aeróbias procederem à decomposição
de determinada quantidade de matéria orgânica.
• O enriquecimento de nutrientes nos lagos pode provocar eutrofização. Esta pode ocorrer de forma
natural — eutrofização natural —, ou ser fortemente influenciada pela intervenção humana —
eutrofização cultural.
• A poluição do solo tem consequências na qualidade da água e, por sua vez, pode ser causada
por contaminantes que se encontrem na atmosfera ou na própria água.
• A solução para os resíduos envolve a redução da produção dos mesmos, a reutilização e a reciclagem
de materiais.
• Os aterros sanitários são locais de armazenamento de resíduos não-recicláveis e as ETAR são estações
onde se procede ao tratamento das águas residuais.
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 377
ACTIVIDADES
B C
Benefício
A D
1 2 4 6 8 10 12
Prejuízo
Concentração E
de flúor (ppm) Excessiva
formação óssea
Tóxico
F
3.1 Com base na análise do gráfico, classifique as afirmações que se seguem como verdadeiras (V)
ou falsas (F).
A—Q uantidades de flúor no organismo entre 1 e 2 ppm são prejudiciais para o mesmo.
B—O valor máximo de flúor que traz benefício para o organismo é de 6,8 ppm.
C—O flúor pode ser considerado um veneno.
D—O flúor, em concentrações de 3 ppm, contribui para um correcto desenvolvimento ósseo
do indivíduo.
E — Quanto mais flúor o indivíduo consumir, melhor é a saúde dos seus dentes.
F—C oncentrações de 6,8 ppm de flúor não são benéficas nem prejudiciais ao organismo.
378 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
3.2 A representação gráfica anterior poderá ser aplicada a todos os indivíduos?
Justifique a sua resposta.
360
160 120 80 70 0
Milhares de anos Presente
800
700
(mg/m3)
600
500
Concentração média
400
300
200 Qualidade
standard do ar
100
da Organização
Mundial da Saúde
0
Cidade Pequim, Xian, Jillin, Calcutá, Nova Jacarta, Bangue- Tóquio, Nova
do México, China China China Índia Deli, Indonésia coque, Japão Iorque,
México Índia Tailândia EUA
6. Refira três razões que justifiquem o facto de as águas subterrâneas recuperarem mais dificilmente
de contaminações.
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 379
ACTIVIDADES
7. Analise o gráfico, que mostra a forma como um determinado curso de água reagiu a uma
descarga de poluentes, e resolva as questões seguintes.
8 ppm
Oxigénio
dissolvido
Coluna A
A — Incineração
B — Compostagem
C — Aterro sanitário
D — ETAR
E — Reciclagem
Coluna B
VIII. Local onde o solo é impermeabilizado para evitar poluição nos lençóis de água freáticos.
380 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
5 2 Crescimento da população
humana e sustentabilidade
“O desafio que nos espera mais não é do que assegurar a sobrevivência
da humanidade”
M. Gorbatchev
ACTIVIDADE
1. Analise a figura seguinte e reflicta sobre as questões apresentadas. Recorra aos seus conhecimentos
multidisciplinares e apresente propostas para responder às questões que se seguem.
Fig. 56 Desde o aparecimento do Homem até à actualidade, a população humana tem sofrido muitas transformações.
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 381
mortalidade mortality Que factores têm condicionado o desenvolvimento
da população humana ao longo do tempo?
1999 6
Datas População
(milhar de milhão)
10 000 anos 0,5 5
(estimativa)
Número de indivíduos (milhar de milhão)
1804 1
1927 2 1975 4
1960 3
1974 4
1987 5 3
1999 6
2050 (projecção) 8,9
2
8000 a. C. Sociedades
(11 000 anos atrás) urbanas Início das revoluções
Domesticação baseadas científica e industrial
de plantas e animais na agricultura 1
a. C. d. C. 0
Anos 14 000 13 000 12 000 11 000 10 000 9000 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 1000 2000
382 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Em meados do século xviii, o Homem inicia a exploração dos Demografia Demography
combustíveis fósseis (carvão), dando início às sociedades industriali- natalidade birth
zadas, e, assim, dispondo de fontes de energia e controlando muitas
das doenças que anteriormente o eliminavam, consegue dar um
grande passo em frente na sua luta para controlar os factores que
limitavam muito a sua existência.
CURIOSIDADE
De então para cá, as práticas de Medicina, cada vez mais avançadas,
a melhoria dos cuidados de higiene, o controlo de organismos • A cada segundo que passa nas-
cem no mundo 4 ou 5 crianças
causadores de doenças e, em geral, a melhoria da qualidade de vida e morrem duas pessoas.
têm vindo a diminuir a taxa de mortalidade e a acelerar o crescimento
• No Bangladeche a cada habi-
da população. tante cabe uma área correspon-
Actualmente, este contínuo crescimento da população, associado dente a 0,13 ha. Na Mongólia,
às questões relacionadas com a degradação da qualidade para cada pessoa existe uma
área de território equivalente
do Ambiente (depleção de recursos, mudanças climáticas globais, a 80 campos de futebol.
diminuição da biodiversidade, poluição, pobreza, entre outras), tem
vindo a levantar muitas preocupações, originando inúmeros debates,
onde as opiniões nem sempre são consensuais quanto ao futuro do
planeta e do Homem.
A Demografia, ciência que se dedica ao estudo da dinâmica
das populações humanas a nível quantitativo e qualitativo (dimensões,
estatísticas, estrutura, etc.), é fundamental para o tratamento desta
problemática.
A população humana distribui-se por todos os continentes, mas A RETER
as condições de vida (económicas, políticas, sociais e ambientais) A Demografia é a ciência que
que possui levam a que se encontrem muitas diferenças a nível estuda as populações humanas,
da densidade populacional (relação entre o número de indivíduos dedicando-se à avaliação da
densidade populacional, entre
da população e a área de território) (Fig. 58) e das diversas caracte- muitos outros factores.
rísticas dessas mesmas populações.
OCEANO
PACÍFICO
OCEANO
OCEANO
PA C Í F I C O
Densidade da OCEANO
população AT L Â N T I C O ÍNDICO
(hab./km2)
> 100
25 a 100
1 a 25
<1 0 2000 km
(1)
população Tempo de duplicação
datas
(milhões) (anos)
Desde o aparecimento
5000 a. C. 50
do Homem
1965 3200 65
2005 6400 40
(1)
empo que uma população, crescendo a uma determinada taxa, demora a duplicar o seu
T
número de indivíduos. De notar que estes valores são difíceis de estabelecer, já que o número
de indivíduos está em constante mudança e também porque em alguns locais não são feitas
sondagens para determinar esses números, ou estão desactualizados. Podem ainda surgir
manipulações menos correctas destes números por interesses de várias ordens.
Mundo
9
21 A taxa de natalidade refere-se habitualmente ao número de
Países 11 nascimentos por cada mil indivíduos, por ano, e é fortemente con-
desenvolvidos
10
(total)
Países em
dicionada por questões culturais e religiosas e inclusive de educação.
23
desenvolvimento
(total) 8 A avaliação da taxa de mortalidade pode dar indicações sobre
38 a qualidade de vida em geral, o desenvolvimento dos cuidados
África
15
médicos e condicionantes biológicos (Fig. 59). Sobretudo quando se
América 22
Latina 6 fala em mortalidade infantil, há ainda a assinalar os avanços alcançados
Ásia
7
20 nos últimos anos a nível mundial: o decréscimo destes valores deve-se,
Oceânia
17 entre outros factores, à imunização das crianças contra doenças
7
infecciosas, já que uma das razões para a elevada mortalidade infantil
Estados 14
Unidos 8 é, a par de problemas de carências alimentares, uma forte incidência
América
do Norte 8
14
deste tipo de doenças.
Europa
10 No entanto, embora as taxas de natalidade e mortalidade tenham
11
vindo a baixar, globalmente, a segunda tem sofrido uma maior
Taxa de natalidade média
Taxa de mortalidade média
diminuição e, por isso, a população continua a crescer em termos
mundiais, embora com taxas que diferem em vários locais.
9 Valores médios das taxas de
Fig. 5
mortalidade e natalidade em 2005, Relativamente à taxa de crescimento de uma população, poder-se-ão
em várias regiões do mundo. considerar duas análises:
• a taxa de crescimento anual natural de uma população é dada
pela seguinte expressão:
384 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
CURIOSIDADE
A emigração e a imigração são também aspectos a considerar
• O VIH/Sida, a malária e as
no estudo da população, sendo fortemente condicionadas por
doenças respiratórias e diar-
questões sociais, económicas e políticas. Assim, depreende-se que reicas são as que mais mortes
a evolução quantitativa de uma população é também o resultado da causam nas regiões mais pobres
acção conjunta dos muitos factores que actuam numa sociedade. do mundo.
Consequentemente, quando o somatório do número de mortes • Nos países ricos são as doen-
ças cardiovasculares e o cancro
com o número de emigrantes é superior à soma de nascimentos e de
que mais matam.
imigrantes, a população diminui o seu número.
• Os bebés nascidos em 2025
As taxas de fertilidade são também necessárias para uma deverão ter uma esperança
avaliação da evolução de uma população. Esta taxa representa uma média de vida de 73 anos.
estimativa, indicando o número médio de filhos esperado para
cada mulher de uma população durante toda a sua vida reprodutiva.
O custo da educação e da saúde das crianças, o nível de educação
e as oportunidades no mundo do trabalho para as mulheres, assim
como a idade em que estas têm o seu primeiro filho e os meios
contraceptivos a que têm acesso, são alguns dos factores que condi-
cionam as taxas de fertilidade.
Estas taxas têm vindo a diminuir, em termos gerais na maioria
dos países, e as projecções indicam que esta tendência continuará
a verificar-se (Fig. 60). No entanto, embora esta taxa influencie o
crescimento populacional, o seu decréscimo não significa, por si só,
uma diminuição da população mundial (Fig. 61). Actualmente, na
União Europeia, o valor médio da taxa de fertilidade é de 1,5, o que,
associado a uma esperança de vida elevada, se irá traduzir num
envelhecimento da população.
Segundo alguns analistas, esta tendência prevista para a evolução
da população europeia preconiza problemas de falta de mão‑de‑obra
e declínio do sistema social (insuficiente número de indivíduos a
pagar impostos), que, provavelmente, terão de ser combatidos pelos
países com o recurso à imigração — atraindo imigrantes jovens que
possam ultrapassar estas falhas no sistema social.
A estrutura etária de uma população reflecte a proporção de
indivíduos em cada grupo etário e influencia as taxas antes referidas.
Os diagramas das estruturas etárias de uma população podem
apresentar-se com aspectos muito diferentes, que resultam do número
(ou percentagem) de indivíduos que existe em cada faixa etária.
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 385
A RETER Estes diagramas apresentam uma linha vertical de modo
A estrutura etária de uma a representar os valores referidos, separados consoante o sexo.
população pode revelar que As três cores assinalam três categorias etárias: pré-reprodutivas
esta apresenta um crescimento
(0-14 anos) — verde-escuro; reprodutivas (15-44 anos) — verde;
rápido, lento, que está estável
ou em declínio. e pós-reprodutivas (acima dos 45 anos) — verde-claro.
Os diagramas gerais da estrutura etária permitem deduzir o tipo
de dinâmica populacional de um país:
• crescimento rápido (1,5-3%): apresentará muitos jovens e uma
taxa de mortalidade elevada em todos os grupos (Fig. 62 A);
• crescimento lento (0,3-1,4%): terá uma população que cresce
lentamente, porque as taxas de natalidade e de mortalidade
são baixas e a esperança de vida é elevada (Fig. 62 B);
• estável (0-0,2%): os elementos de população terão uma espe-
rança de vida elevada e uma baixa taxa de fertilidade (Fig. 62 C);
• em declínio: a maioria dos indivíduos pertencerá à categoria
pós-reprodutiva (Fig. 62 D).
Idade (anos)
A B C D 851
80-84
75-79
Homens Mulheres 70-74
65-69
60-64
55-59
50-54
45-49
40-44
35-39
30-34
25-29
20-24
Fig. 62 Diagramas 15-19
representativos 10-14
5-9
de várias estruturas 0-4
etárias. Crescimento rápido Crescimento lento Estável Em declínio
ACTIVIDADE
30 26,9
21,0 70 %
20 64,7
da população
13,1 59,2
60 54,6 55,5 mundial
10 10 7,4 1800 1900 2000 2100
5,2 4,7 2,9
0,7 50
0 0
Estados Unidos Europa 40
e Canadá e União Soviética
30
30 26,1 20
20 10
13,9
10,9 9,0
20 10 0
Ásia
10 8,6 7,6 0
2,5 4,0 África
0 10
América Latina 0,2 0,4 0,5 0,4
0
Oceânia
00 2000
386 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
ACTIVIDADE
1000 1200 1400 1600 1800 2000 1950 2000 2050 2100
Anos Anos
Fig. 64 Aumento da população humana Fig. 65 Evolução da população total actual nos últimos anos
no último milénio. e estimativa até ao final do século xxi.
800
600
400
200
0
África Subsariana 2005
Médio Oriente
e Norte de África 2005
Médio Oriente
e Norte de África 2025
Europa 2005
Europa 2025
China 2005
China 2025
Índia 2005
Índia 2025
Rússia 2005
Rússia 2025
Fig. 66 Valores da população no ano de 2005 e estimativas para 2025, por faixas
etárias e em diferentes países e regiões.
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 387
Mais importante do que falar em termos de população mundial
que, de acordo com estimativas, atingirá os 7,9 mil milhões de indi-
víduos em 2025, importa referir diferentes grupos populacionais
A RETER que apresentam evolução distinta por possuir condicionantes bem
Embora as taxas de mortalidade
diversas.
e de fertilidade tenham vindo Efectivamente, os parâmetros que são usados para caracterizar
a diminuir a população
continua a aumentar.
uma população apresentam enormes discrepâncias consoante se
trate de países desenvolvidos ou de países em desenvolvimento.
A transição demográfica
Baseados na observação das taxas de natalidade e mortalidade
verificadas em países da Europa que passaram pela Revolução
Desenvolvimento económico Industrial, os demógrafos desenvolveram
Antes da transição Fase de transição Depois da transição
modelos explicativos da relação entre o
Tn crescimento populacional e o desen-
Tm
População
Natalid
ade volvimento económico (Fig. 67).
Crescimento natural
M
o rt
ali
da
de
388 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
CURIOSIDADE
Este modelo teórico pode auxiliar na interpretação dos dados
• A população que compõe os
observados quanto à evolução de uma população e permite que países pobres apenas detém
sejam feitas algumas previsões. 1% das riquezas mundiais.
Numa sociedade pré-moderna, em que não existe ainda indus- • Cerca de 3 mil milhões de pes-
trialização, verificam-se altas taxas de mortalidade devido às condições soas no mundo vivem, actual-
mente, com menos de 2 euros
de vida marcadas por carências alimentares, por vezes malnutrição,
por dia.
deficientes cuidados médicos e de higiene, elevado número de
acidentes, etc (Fig. 68). Numa tentativa de compensar estas mortes,
e também por falta de planeamento familiar e de métodos contra-
ceptivos e baixos níveis de educação, os indivíduos têm maior
número de filhos e as taxas de natalidade são elevadas.
Boas condições
2,4 mil milhões (37%)
sanitárias
Energia suficiente para
aquecimento e preparação 2 mil milhões (31%)
de alimentos
Cuidados de saúde
1,1 mil milhões (17%)
adequados
Comida suficiente
1,1 mil milhões (17%)
para uma boa saúde
CURIOSIDADE
Em muitos países está já a travar-se uma luta para a estabilização
• No Sudão, menos de 50% da
da população e alguns têm obtido grande sucesso (por exemplo, a população em idade escolar
Tailândia conseguiu descer a taxa de fertilidade para metade do está inscrita no ensino ele-
valor em apenas vinte anos) e muitos demógrafos pensam que mentar.
a população tende a estabilizar no próximo século. • No Afeganistão, a literacia dos
homens é de 43% contra os
No entanto, também há quem afirme que a transição demográfica
13% das mulheres.
só poderá ter sucesso quando, independentemente do número de
• Actualmente, o território mais
pessoas, exista justiça social que leve a uma distribuição equitativa densamente povoado do mundo
dos bens, já que consideram que os recursos existentes são suficientes é Macau, com 25 000 habi-
para todos mas estão deficientemente distribuídos. tantes/km2.
Além das diferentes opiniões, algumas interacções são efectivas
e verificáveis: existe relação entre o crescimento populacional,
o desenvolvimento económico, a degradação do Ambiente e o esta-
tuto social da mulher.
Os países mais pobres têm altas taxas de crescimento; na gene-
ralidade, as mulheres apresentam um baixo nível de escolaridade e
cultural e não existem condições de preservação do Ambiente.
Nestes países gera-se uma retroacção positiva, em que uma maior
população implica maior crescimento e este, por sua vez, mantém o
aumento do número de indivíduos.
Já nos países em que as populações possuem melhores condições
de vida, devido às melhores condições económicas, verifica-se que
as mulheres detêm um estatuto mais elevado, existe mais saúde e
A RETER
menores taxas de crescimento.
A sustentabilidade deve ser
Portanto, uma das grandes questões a que o Homem necessita, uma preocupação do Homem,
actualmente, de responder é a da sustentabilidade; ou seja, qual para garantir que as futuras
será o número máximo de indivíduos que o sistema Terra tem capa- gerações humanas e os restantes
seres vivos possam sobreviver
cidade de suportar, permitindo uma existência com boas condições no planeta.
de vida e sem compromisso dos recursos para as futuras gerações.
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 391
Provavelmente, as soluções passarão pela diminuição do cresci-
mento populacional e, para isso, é necessário adoptar medidas
económicas, sociais e políticas, que foram já apontadas há alguns
anos pela Conferência das Nações Unidas sobre População e
Desenvolvimento (1994), e que visem contribuir para:
• um planeamento familiar eficaz (apesar das questões políticas
e religiosas que por vezes podem dificultar esta medida);
• um melhor estatuto da mulher (com maior nível de edu
cação);
• uma redução da pobreza;
• um maior envolvimento dos homens na educação dos filhos
e no planeamento familiar;
• uma melhoria da assistência médica;
• uma alteração dos padrões de produção e uma redução do
consumo.
Muitas destas medidas relacionam-se intimamente com outros
temas que abordámos e que se prendem com os avanços da Biologia,
da Medicina e da tecnologia: a manipulação da fertilidade com
melhores métodos contraceptivos, por exemplo, a biotecnologia no
diagnóstico e na terapêutica de doenças, a produção de alimentos e
a sustentabilidade.
No entanto, todas estas medidas só se tornarão eficazes se aplicadas
conjuntamente, criando, também, áreas mais sustentáveis.
O problema dos grandes centros urbanos, para onde as populações
tendem a acorrer por lhes darem mais possibilidades de emprego,
de educação e de saúde, entre outros aspectos, deve ser encarado
com vista a uma mudança, já que representam zonas com fortes
impactos negativos no Ambiente (Fig. 70).
Pequim
Nova Iorque Cairo Xangai
10,8 milhões
16,8 milhões 10,5 milhões 12,8 milhões
11,7 milhões
17,9 milhões 11,5 milhões 13,8 milhões
Fonte: National Geophysics Data Center, Oceanic and Atmospheric
Daca Tóquio
13,2 milhões 26,5 milhões
16,2 milhões 27,2 milhões
Los Angeles
13,3 milhões
24,5 milhões Osaca
Deli 11,0 milhões
Cidade do México 13,0 milhões 11,0 milhões
16,3 milhões 20,9 milhões
Lagos
20,4 milhões Manila
Administration, e Nações Unidas.
12,2 milhões
10,1 milhões
24,4 milhões
Buenos Aires 11,5 milhões
Bombaim
12,1 milhões
16,5 milhões
13,2 milhões
São Paulo 22,6 milhões
Jacarta
18,3 milhões
Calecute 11,4 milhões
Maiores cidades do Mundo 21,2 milhões
2004 13,3 milhões 17,3 milhões
2015 (projeccção) 16,7 milhões
0 Cerca de 48% da população mundial vive nas zonas urbanas que se encontram,
Fig. 7
maioritariamente, no litoral.
392 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
CURIOSIDADE
A melhoria da qualidade de vida do Homem passa por um
• Segundo estimativas da ONU
Ambiente em equilíbrio, e para isso há que criar cidades mais em 2030, 3,2 mil milhões de
sustentáveis (Fig. 71), em que se incentive: pessoas viverão no meio rural
• a prevenção da poluição e dos desperdícios; e 4,9 mil milhões no meio
urbano.
• a utilização eficiente dos recursos, nomeadamente
• A China plantou, em 2005, 71
os energéticos;
milhões de hectares de floresta.
• a reciclagem, a reutilização dos resíduos;
• o uso dos recursos renováveis;
• a protecção e o incremento da biodiversidade.
Entradas Saídas
Fig. 71 As cidades raramente são sustentáveis. Estas dependem das áreas não urbanas
para obterem matéria e energia e para enviarem o lixo e o calor aí gerados.
U5P414H1
O Homem deverá aprender com a Natureza compreendendo
os princípios que esta utiliza para manter o equilíbrio e terá de ter
presente que tudo está relacionado no sistema Terra. Deverá também
recordar que é apenas uma espécie entre muitas outras que o planeta
acolhe.
Por isso, deve procurar que a sua qualidade de vida melhore,
mas garantindo que os impactos causados aos outros seres vivos
sejam de tal modo mínimos que não ponham em causa a sua
sobrevivência.
Manutenção
da biodiversidade
A RETER
Aproveitamento Princípios Reciclagem
da energia solar da Sustentabilidade de nutrientes O Homem só garantirá a sua
qualidade de vida se assegurar
Controlo um equilíbrio ambiental.
da população
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 393
SAÍDA DE CAMPO
Material
• Caderno de campo. • Cartolina plastificada. • Frascos de vidro.
• Disco de Secchi. • Rede de plâncton ou meias de nylon. • Álcool.
• Fita métrica. • Sensores de pH e de oxigénio.
Procedimento
1 — Seleccione um ecossistema aquático(1) aonde se possa deslocar com facilidade.
2 — Seleccione algumas estações de amostragem, atendendo aos seguintes critérios:
a) proximidade de efluentes, montante e jusante do efluente;
b) outros aspectos que considere relevantes.
3 — Desloque-se ao local pelo menos uma vez por mês, durante o maior período de tempo possível.
4 — Proceda à caracterização(2) global das estações de amostragem, considerando os seguintes critérios:
a) tipo de substrato (areia, lodo, seixos, etc.);
b) tipo de vegetação terrestre junto às margens.
5 — Determine e registe, se possível, a largura do leito do ecossistema considerado.
6 — Determine a transparência da água, mergulhando o disco de Secchi no meio aquático e registe
a profundidade à qual deixa de visualizar o disco. Efectue 5 a 6 determinações em diferentes locais
e considere um valor médio. Registe-o.
7 — Registe os cálculos e determine o valor da velocidade da corrente, procedendo da forma seguinte:
a) delimite, com a ajuda da fita métrica, uma secção do curso de água de 3 metros de comprimento;
b) coloque a cartolina plastificada na água, a montante da secção delimitada, e cronometre
o tempo que demora a atingir o ponto a jusante da secção;
c) repita o procedimento várias vezes e calcule um valor médio de tempo;
d) determine a velocidade da corrente recorrendo à seguinte equação:
394 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Conceitos/Palavras-chave
Necessários Essenciais Complementares
• Taxa de mortalidade
• Depleção de recursos • Demografia
• Taxa de mortalidade infantil
• Mudanças climáticas • Mortalidade
• Taxa de natalidade
• Densidade populacional • Natalidade
• Taxa de fertilidade
• Emigração/imigração • Sustentabilidade
• Tempo de duplicação
• Recursos naturais
da população
• Recursos renováveis
• Taxa de crescimento
• Reciclagem de materiais
da população
• Reutilização de materiais
• Estrutura etária
• Resíduos sólidos
• Esperança de vida
• Poluição do ar
• Transição demográfica
• Poluição da água
Síntese de conhecimentos
• A população humana distribui-se por todos os continentes e tem tido um crescimento exponencial
nos últimos dois séculos.
• A Demografia é a ciência que estuda a dinâmica das populações humanas a nível quantitativo
e qualitativo (dimensões, estatísticas, estrutura, entre outros).
• A densidade populacional estabelece a relação entre o número de habitantes de uma região
(ou país, ou mundo) e a superfície de território.
• As taxas de mortalidade (geralmente expressa como número de mortes por cada mil pessoas de uma
população, durante um determinado ano) têm vindo a diminuir no mundo.
• A evolução da Ciência e da tecnologia têm contribuído para o aumento da esperança média de vida.
• A taxa de natalidade refere-se ao número de nascimentos expressa habitualmente por cada mil
indivíduos, por ano.
• A taxa de crescimento anual natural de uma população relaciona as suas taxas de natalidade
e mortalidade.
• O crescimento efectivo de uma população é influenciado pela mortalidade, natalidade, emigração
e imigração.
• A taxa de fertilidade representa uma estimativa do número médio de filhos esperado para cada
mulher de uma população, durante toda a sua vida reprodutiva, e tem vindo a descer, em termos
globais, em todas as regiões do mundo.
• A estrutura etária de uma população é uma representação da percentagem de indivíduos em cada
grupo etário.
• Existem quatro tipos de diagramas de estrutura etária que reflectem diferentes dinâmicas populacionais:
crescimento rápido, crescimento lento, estável ou em declínio.
• Os países mais jovens e com crescimento rápido são os mais pobres, enquanto os que apresentam
crescimento lento, estável ou em declínio são países mais ricos.
• A transição demográfica é um dos modelos explicativos da relação existente entre o crescimento
populacional e o desenvolvimento económico.
• A sustentabilidade corresponde ao número máximo de indivíduos que o sistema Terra tem capacidade
de suportar, permitindo uma existência com boas condições de vida e sem compromisso dos recursos
para as futuras gerações.
• A criação de cidades sustentáveis pode permitir ao Homem um aumento da qualidade de vida
em coexistência com um Ambiente em equilíbrio.
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 395
ACTIVIDADES
Taxa de natalidade
Período
REgião A Região B
Fonte: http://esa.un.org/unpp/p2k0data.asp
2010-2015 21,3 10,8
3. Refira, e explicite, duas medidas que poderão ser adoptadas por um país para diminuir
o crescimento populacional sem interferir com a liberdade individual.
Esperança
de vida 78 an
Esperança
4. Os dados que se seguem referem-se a três países (I,deIIvidae III). Analise-os e responda às questões.78 anos 44anos
71 anos
Esperança
44anos
71 anos
de vida
78 anos 44 anos 2,0
Esperança Taxa de
71 anos 2,0 2,4
de vida Taxa de fertilidade
44 anos 2,0 2,4
Taxa de fertilidade
2,4 5,9
fertilidade
2,0 Percentagem 5,9 21%
Taxa de de população com 21% 29%
2,4 Percentagem
fertilidade
Percentagem de população commenos de 21%
15 anos
5,9 29%
de população commenos de 15 anos 29% 43%
menos de 15 anos
21% Percentagem 12%
43%
Percentagem
de população com Percentagem
29% de população com 12% 6%
menos de 15 anos de população com mais de 65 anos
6% 3%
Percentagem 12% 43%
de população commais de 65 anos
6% 3%
Percentagem
mais de 65 anos
12% 3% Ia b c
de população com 6% a IIb c
mais de 65 anos 3% a b III
c
396 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
4.2 Seleccione a opção que permite completar correctamente a afirmação seguinte.
A taxa de mortalidade do país III deve ser (...), enquanto a de (...) do país I deve ser mais (...)
do que a do II.
A — elevada […] natalidade […] alta
B — baixa […] mortalidade […] alta
C — elevada […] natalidade […] baixa
D — baixa […] natalidade […] baixa
4.3 Relativamente aos três países referidos foram feitas algumas afirmações. Classifique-as como
verdadeiras (V) ou falsas (F).
A — O país III deve apresentar o rendimento per capita mais baixo dos três representados.
B — O país I é o que apresenta um crescimento populacional mais acentuado.
C — As mulheres do país I apresentam um nível de instrução superior às do III.
D — A taxa de mortalidade infantil mais elevada é a do país II.
E — O país III é considerado um país jovem.
F — Os métodos contraceptivos são, certamente, muito utilizados em III.
G — Um diagrama da estrutura etária do país III deve revelar uma pirâmide invertida.
H — O país II é o que apresenta o crescimento mais lento dos três indicados.
7. A esperança de vida da população portuguesa tem vindo a aumentar. Indique alguns factores que
sejam responsáveis por esta alteração.
termos designações
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 397
bioética
Muitos defensores do Ambiente consideram que a focagem da ética no ser humano constitui
a causa básica dos problemas ambientais.
Rosa, H., 2004
Quando se fala de teorias ambientalistas, uma de forma ímpar, tem vivenciado. Porque a Terra
das questões que tem gerado controvérsia é é só uma, e não cresce, tem uma capacidade
definir a quem, na Natureza, deverá ser dado máxima (biocapacidade). Esta parece ter atingido
valor moral. o seu limite, pelo que parece consensual a
Será que o Homem, única identidade capaz de necessidade de atingir um objectivo — o cres-
tomar decisões, deverá, por isso, ser o único cimento zero da população humana. Tal objecti-
valorizado, como defendem as teorias antropo- vo será conseguido, a par da redução da taxa de
cêntricas? Desta forma, plantas, animais, rios e mortalidade, através da diminuição da taxa de
solos serão importantes porque servem as natalidade. Ora, tal fenómeno levanta problemas
necessidades humanas, proporcionando-lhes éticos significativos, dado que toca num princípio
alimento, energia ou simplesmente o prazer fundamental, que é o da liberdade reprodutiva
estético de apreciar uma bonita paisagem. Será dos casais. Será que em nome de um bem
que a Natureza só deve ser preservada pelo social os casais devem rever os seus interesses
Homem, porque se este o não fizer põe em risco pessoais?
a sua própria qualidade de vida? A acrescer a este, surge um outro problema: o
Ou será que os animais, pelo menos os mais Mundo não está a viver a crise demográfica de
desenvolvidos, que também experimentam dor modo uniforme. Enquanto nos países ocidentais
e sensibilidade, devem ser também tão valoriza- e «mais desenvolvidos» se vive uma crise de
dos quanto o próprio Homem, como defendem quebra de natalidade, pelo que os nascimentos
as teorias ciencientistas? deveriam ser estimulados, nos países «menos
desenvolvidos», a taxa de natalidade é grande e
Desta forma, com que direito a Humanidade
deveria ser reduzida.
utiliza indiscriminadamente animais em experi-
ências laboratoriais que só trarão benefício para Se no Ocidente se vivem problemas característi-
o próprio Homem? cos de populações com pirâmides etárias inver-
tidas — excesso de pessoas idosas relativamen-
Ou será que todos os seres vivos, desde as bac-
te às pessoas jovens e socialmente activas —, o
térias até ao Homem, passando por fungos,
que levanta problemas que tocam a esfera indi-
plantas e animais, deverão ser igualmente valo-
vidual (por exemplo, como cuidar dos idosos) e
rizados, em nome da complexidade da vida que
a esfera social (como garantir as reformas), nos
representam, e em nome da sua importância no
países subdesenvolvidos trabalhar para controlar
equilíbrio ambiental, como defendem as teorias
a natalidade pode levantar questões éticas diver-
biocentristas?
sas. Se, por um lado, este controlo é imposto
Ou será que, tal como defendem as teorias eco- pelo poder económico veiculado pelos países
centristas, o todo é maior do que as partes e, desenvolvidos, por outro, controlar a natalidade
como tal, a preservação da Natureza tem de ser implica entrar em choque com valores e tradi-
encarada na perspectiva de que o todo tem de ções culturais destes povos, alterações no esta-
ser valorizado, porque só este faz sentido, e cada tuto social da mulher e, consequentemente, do
parte só pode existir em equilíbrio se o mesmo homem, chocando com níveis de instrução
acontecer às outras partes? maioritariamente baixos.
Outro problema que muito tem preocupado a Como deverá a Humanidade ultrapassar este
Humanidade nos tempos actuais prende-se com problema?
a evolução demográfica que a espécie humana,
398 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
JOGO DE SIMULAÇÃO
Questões centrais:
• Será que a Terra irá suportar os 9 mil milhões de habitantes previstos para 2050?
• Dever-se-á travar o crescimento populacional, aplicando medidas drásticas de controlo
populacional como as já aplicadas, por exemplo, na China?
• Até que ponto os sistemas sociais, económicos e políticos são responsáveis pela incorrecta
distribuição dos recursos e, consequentemente, pela «aparente falta de recursos para
todos»?
Personagens:
• representante de países pobres (com grande falta de recursos e elevadas taxas
de natalidade);
• representante de países ricos desenvolvidos (com um bom nível de vida e com uma
população predominantemente idosa);
• representante de um país com elevado crescimento da população (onde são tomadas
medidas que reduzem as taxas de natalidade e fertilidade);
• defensor da ideia do crescimento populacional (pensa que pode trazer benefícios
à humanidade);
• defensor das ideias de Malthus («O poder do crescimento populacional é infinitamente
maior do que a capacidade da Terra para produzir recursos»);
• defensor de política de justiça social (com partilha equilibrada de bens por todos).
• Conselho de População e Desenvolvimento (constituído por um economista do Banco
Mundial; um(a) médico da OMS, um(a) ambientalista, um(a) religioso(a), um(a) político(a)
conservador(a), um(a) político(a) liberal e um(a) defensor(a) dos direitos humanos).
Cada personagem deverá sugerir, para serem aprovadas, duas ou três medidas a adoptar
mundialmente para dar um rumo ao crescimento populacional no Mundo. Para enquadrar
a sua proposta, deverá:
a) expor o caso do país/ideologia que defende;
b) comprovar a sua exposição com dados;
c) apresentar as medidas que propõe;
d) propor estratégias de implementação das medidas referidas.
Fontes bibliográficas:
Para construir a sua personagem, recorra às informações que se encontram no manual
escolar e pesquise na biblioteca da escola. Poderá ainda consultar os seguintes sítios:
• http://en.wikipedia.org/wiki/Malthusian_catastrophe
• http://en.wikipedia.org/wiki/Julian_Lincoln_Simon
• http://esa.un.org/unpp/p2k0data.asp
• http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-dh/tidhuniversais/cidh-dudh.html
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 399
CiênciaTecnologiaSociedadeAmbiente
ACTIVIDADES
400 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
DOC. 2 Cidades sustentáveis
As cidades sustentáveis (ecocidades ou Sams e Friburgo são pioneiras, mas não
cidades verdes) poderão ser uma das soluções estão sozinhas. Por todo o mundo, há comuni-
para o problema da urbanização que tanto tem dades a aderir ao esforço de estabilização do
preocupado os ambientalistas. clima. Nos Estados Unidos, cerca de 780 cidades
Nestas cidades, orientadas para as pessoas assumiram o compromisso de cumprir os objec-
e não para os veículos, são criados locais agra- tivos de redução das emissões de gases com
dáveis para caminhar e andar de bicicleta, os efeito de estufa consignados no protocolo de
transportes públicos são eficientes e garantem a Quioto, apesar de o presidente George W. Bush
maioria das deslocações dos habitantes, os ter recusado assinar o acordo. De Los Angeles a
resíduos são, na sua maioria, reutilizados ou Miami, os presidentes dos municípios promete-
reciclados, cultivam-se muitos alimentos e ram reduzir as emissões das suas cidades para
protege-se a biodiversidade, entre muitas outras um valor 7% abaixo dos níveis de 1990 até
medidas que levam à protecção do ambiente. 2012. Representam mais de um quarto da
Existem já muitas cidades no mundo que população do país. […]
se tornaram locais mais sustentáveis e habitáveis: […] As cidades são sorvedouros de energia,
Leicester, Inglaterra, Waitakere, Nova Zelândia, mas são também uma esperança. A concentração
Portland, Oregon, Davis, Califórnia, Olympia, das actividades humanas própria das cidades
Washington, nos Estados Unidos, entre muitas reduz os impactos noutras áreas e proporciona
outras. laboratórios de experimentação de inovação.
Numa Edição Especial de 2008 da revista Em Little Rock (EUA), a nova sede da Heifer
National Geographic, «Alterações climáticas», lnternational consome metade da energia de um
pode ler-se um texto de Michelle Nijhuis, autora edifício convencional graças a uma utilização
premiada de obras de divulgação científica, eficiente da luz solar. A empresa teve em conta
sobre a «Aldeia verde», do qual se seguem o meio envolvente: o local, uma zona húmida
alguns excertos. antes altamente poluída, encontra-se agora
[…] Não podemos viver todos em Sams, a limpo e reabilitado. Em Curitiba, no Brasil, os
minúscula ilha dinamarquesa que utiliza a responsáveis urbanísticos conceberam sistemas
energia solar e eólica para se libertar das emis- de autocarros capazes de transportar com eficiên-
sões de gases com efeito de estufa. E a maioria cia milhões de pessoas. Os veículos que os
das pessoas diariamente forçadas a deslocações passageiros aguardam nas paragens de aspecto
pendulares não pode fazer mais do que sonhar futurista são concebidos de forma a permitir
com uma cidade como Friburgo, na Alemanha, que as entradas e saídas se processem com
onde uma excelente rede de transportes colecti- rapidez, reduzindo os tempos mortos, os custos
vos e arruamentos propícios à circulação em de combustível e, em última análise, as emis-
bicicleta tornam os automóveis supérfluos. Além sões. […]
disso, os omnipresentes painéis solares contri-
buíram para reduzir as emissões produzidas na
cidade em 10% ao longo da década passada.
ACTIVIDADES
1. Em Curitiba, os prédios de vários andares apenas são autorizados nas imediações das paragens de
autocarros e devem possuir, nos dois primeiros andares, estabelecimentos comerciais. Qual lhe parece
ser a vantagem desta medida?
2. Nesta cidade, os automóveis não podem circular nas ruas numa área de cerca de 49 quarteirões.
Que resultado, em termos ambientais, será de esperar desta proibição?
3. Faça uma reflexão sobre a área onde vive e refira se:
a) é sustentável do ponto de vista ambiental, justificando a sua resposta;
b) podia tornar-se mais sustentável e que medidas deveriam ser adoptadas.
u n i d a d e 5 P r e s e r v a r e r e c u p e r a r o m e i o a m b i e n t e 401
AnexoS
Anexo I
Meio de cultura para Drosophila melanogaster
Material
Mistura I — 2,5 g de agar.
30 mL de melaço.
14 g de levedura de cerveja.
150 mL de água.
Mistura II — 35 g de farinha de milho.
100 mL de água.
Procedimento
1 — Prepare a mistura II em água quente para que a farinha de milho dissolva melhor enquanto se agita.
2 — Noutro recipiente, e com ajuda de uma placa térmica ou de um microondas, dissolva bem os ingredientes
da mistura I, agitando com frequência até levantar fervura.
3 — Adicione nesta altura a mistura II e leve a ferver, agitando sempre, até ficar moderadamente
pastoso.
4 — Retire do lume e adicione 25 mL de uma solução de Nipagin (fungicida) a 10% em etanol a 70%.
5 — Misture bem e, antes que o meio de cultura solidifique, verta em cada tubo de cultura, previamente
esterilizado, um volume que ocupe cerca de 1-2 cm de altura.
6 — Veda cada tubo de cultura com uma rolha de algodão cardado.
7 — Deixe secar durante dois dias e faça embutir um pequeno pedaço de papel de filtro com 2,5 cm de
altura para remover a humidade formada à superfície do meio de cultura.
8 — Conserve os tubos de cultura a 4º C bem embrulhados num saco de plástico, se não forem utilizados
no prazo de uma semana.
9 — Caso o meio de cultura fique ressequido, adicione uma a duas gotas de água para reidratar.
Anexo II
Anestesiar Drosophila melanogaster
Para anestesiar exemplares de Drosophila melanogaster, sujeitam-se os indivíduos a uma breve anestesia
(durante 30 a 40 segundos) com os vapores de éter sulfúrico.
Como eterizador, pode ser usado um frasco de compota contendo no fundo um pedaço de algodão embe-
bido num pequeno volume de éter sulfúrico. Os insectos não podem contactar directamente com este
líquido, pois seria fatal. Para que fiquem apenas sujeitos à atmosfera saturada de vapores etéricos, os
insectos ficam retidos num funil de plástico cuja extremidade fina foi vedada com um pouco de gaze (ou de
collant de senhora), de forma a permitir a passagem dos vapores. O eterizador tem de estar sempre bem
vedado com uma tampa para se formar uma atmosfera saturante, pelo que é apenas aberto no momento
da anestesia.
Para remover os insectos dos tubos de cultura, convém dar umas pequenas pancadas para que os indivíduos
se afastem da rolha e, num movimento rápido e decidido, inverter o tubo de cultura sobre a boca larga do
funil. Para que os insectos caiam sobre a gaze, é conveniente percurtir repetidamente o conjunto tubo-funil
de forma a impedir as tentativas de fuga da extremidade fina do funil introduzida no eterizador. Os insectos
anestesiados são colocados sobre um azulejo branco ou um pedaço de papel adequado ao seu transporte
e manipulação.
Rui Artur P. L. Gomes — Utilização de Drosophila em Genética: Parte I, 2001
(adaptado)
402 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Anexo III
Solução de Knop
Material
1L de água destilada.
1,0 g de nitrato de cálcio (Ca(NO3)).
0,25 g de nitrato de potássio (KNO3).
0,25 g de fosfato de potássio (KH2PO4).
0,25 g de sulfato de magnésio ((MgSO4).
Vestígios de fosfato de ferro (FePO4).
Procedimento
1 — Dissolva sequencialmente os nutrientes em 600 mL de água destilada, certificando-se de que cada
um está completamente dissolvido antes de adicionar o seguinte.
2 — Perfaça até ao volume de 1L adicionando água destilada.
Anexo IV
Preparação da transformação bacteriana com o plasmídeo pGLO
Introdução
A bactéria que vai ser transformada, neste trabalho, é a E. coli, estirpe HB101, ser procariante, unicelular,
com ciclos de vida de 20 minutos, não patogénico e que não sobrevive fora dos laboratórios.
Precauções
• É de notar que para a realização deste trabalho as bancadas de trabalho devem ser descontaminadas
antes do início do mesmo e podem ser mantidas limpas trabalhando à chama, se for possível.
• Todos os desperdícios devem ser descontaminados antes de serem colocados no lixo.
• Os participantes devem lavar as mãos depois de manipularem os organismos com DNA transformado
e antes de deixarem o laboratório.
• Deve pipetar-se utilizando pipetas e nunca com a boca.
• É proibido comer, beber ou aplicar cosméticos na área de trabalho.
• É recomendado usar óculos protectores.
• Se não existir um autoclave, todas as soluções e material manipulado, que esteve em contacto com
as bactérias, devem ser colocados em solução de lixívia a 10% (solução de esterilização), pelo menos
durante 20 minutos, para serem esterilizados. Esta solução deve ser colocada em recipientes em todas
as bancadas de trabalho.
• Todas as ansas e pipetas devem ser colocadas na solução de esterilização.
• As caixas de Petri devem ser também colocadas em solução de esterilização pelo menos durante uma
hora.
• O material, depois de esterilizado, pode ser tratado como lixo.
• Devem usar-se óculos protectores quando se manipula a solução de lixívia.
• Deve ter-se cuidado quando se manipula a lâmpada ultravioleta, pois pode causar danos nos olhos e na
pele. A lâmpada recomendada é de ondas longas. Se possível, devem usar-se óculos protectores contra
radiação ultravioleta.
ANEXOS 403
AnexoS
Material
• Agar.
• Ampicilina.
• Erlenmeyer de 1 L.
• Caixas de Petri.
• Água destilada e esterilizada.
• Solução de transformação: 50 mM CaCl2, pH 6,1.
• Arabinose.
• Câmara de incubação a 37 ºC.
Procedimento
1 — Identifique as caixas de Petri da seguinte forma: 16 caixas LB, 16 caixas LB/amp e 8 caixas
LB/amp/ara.
2 — Prepare o agar deitando 500 mL de água destilada e esterilizada no erlenmeyer de 1L. Adicione
depois o agar nutritivo.
3 — Aqueça em microondas até ferver, espere um pouco e agite. Repita este procedimento mais três
vezes até o agar estar dissolvido.
4 — Deixe arrefecer até aos 50 ºC. Enquanto o agar arrefece, prepare a arabinose e a ampicilina.1
5 — Com uma pipeta estéril, pipete 3 mL de solução de transformação directamente para o frasco para
reidratar o açúcar. Homogeneíze em vórtex (a arabinose necessita de pelo menos 10 minutos para se
dissolver).
6 — Com uma pipeta estéril, pipete 3 mL de solução de transformação directamente no frasco para
reidratar o antibiótico.
7 — Inicialmente, deite o agar nas 16 caixas identificadas com LB. As caixas devem estar sobrepostas em
pilhas de 4 a 8. Comece com a caixa inferior retirando com uma mão a tampa e as restantes caixas
sobrepostas, enquanto com a outra mão verte o agar até um terço a um meio da capacidade da caixa.
Coloque a tampa e continue este procedimento. Deixe arrefecer as caixas empilhadas.
8 — Adicione a ampicilina ao restante agar que se encontra no erlenmeyer e agite para misturar. Verta
seguidamente nas 16 caixas identificadas com LB/amp, utilizando a mesma técnica do ponto anterior.
9 — Adicione a arabinose ao restante agar nutritivo que se encontra no erlenmeyer e que contém a ampi-
cilina. Agite para misturar e verta nas 8 caixas de Petri identificadas com LB/amp/ara, utilizando a técnica
já descrita anteriormente.
10 — As caixas permanecem durante dois dias à temperatura ambiente, sendo depois armazenadas inver-
tidas em frigorífico até à utilização.
1
O calor excessivo (. 50 ºC) destrói a arabinose e o antibiótico, mas o agar com solução de nutrição solidifica a 27 ºC, pelo que é necessário
monitorizar o arrefecimento do agar.
11 — Reidrate bactérias liofilizadas (E. coli HB101). Com uma pipeta estéril, adicione 250 μL de solução de
transformação. Tape o frasco e deixe a suspensão de bactérias à temperatura ambiente durante 5
minutos. Depois, agite para homogeneizar.
12 — Realize seguidamente a inoculação de 8 caixas de Petri LB com E. coli.
13 — Após a inoculação, recoloque a tampa na caixa de Petri para evitar a contaminação. As caixas são
invertidas e conservadas overnight em estufa à temperatura de 37 ºC. A E. coli forma colónias circula-
res e esbranquiçadas.
14 — Com uma pipeta esterilizada, adicione 250 μL da solução de transformação no frasco que contém o
plasmídeo liofilizado.
15 — Conserve no frigorífico.
404 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Análise e discussão (questões prévias)
1 — De que tipo lhe parece ser o operão da arabinose?
2 — Quais são as características dos seres vivos que são utilizados em laboratório para estudos de mani-
pulação genética?
3 — Observe as colónias originais de bactérias E. coli à sua disposição (caixa LB).
3.1 — Registe a cor das colónias, o seu número e a disposição que apresentam na caixa de Petri.
3.2 — Poderá dizer apenas por observação se as bactérias que existem nesta caixa são resistentes à
ampicilina? Justifique a sua resposta.
3.3 — Planifique uma experiência onde possa determinar se estas bactérias apresentam resistência à
ampicilina.
4 — Quais são as caixas de Petri que são utilizadas como controlo? Qual é o interesse da existência destas
caixas?
5 — Em qual das caixas esperará encontrar bactérias geneticamente transformadas?
6 — Quais são as caixas que deverão ser comparadas para verificar se ocorreu transformação genética?
Fontes:
http://docentes.esa.ipcb.pt/lab.biologia/disciplinas/bcm/transforma.pdf
http://www.caam.rice.edu/~cox/lab1.pdf
http://biotecnologia-na-escola.up.pt/index.html
ANEXOS 405
GLOSSÁRIO
U Aditivos alimentares
Anexos embrionários Autossomas
Órgãos formados durante o desenvolvi- Cromossomas que não apresentam
Substâncias, com ou sem valor nutritivo, mento embrionário e que asseguram diferenças nos dois sexos.
que, não fazendo parte original do funções vitais para o adequado desen-
alimento, lhe são adicionadas intencio-
nalmente, em qualquer fase da obtenção,
volvimento do embrião.
U Basófilos
tratamento, acondicionamento, transporte Antagonismo Glóbulos brancos que contêm grânulos
ou armazenagem do alimento. Efeito conjunto da actuação de, por citoplasmáticos (ricos em heparina e
exemplo, duas toxinas, quando este é histamina, que coram com corantes
Agentes biocidas inferior à soma dos efeitos isolados de básicos) e que são responsáveis pela
Produtos químicos que destroem, neu- cada uma das toxinas. vasodilatação e pelo aumento de perme-
tralizam, impedem ou previnem a acção abilidade capilar.
dos seres vivos indesejáveis ao Homem. Anticorpos
Proteínas globulares, produzidas pelos Bioacumulação
Agentes cancerígenos plasmócitos, envolvidas na imunidade Fenómeno que explica o aumento da
Substâncias que podem provocar alte- humoral, que reagem especificamente concentração de tóxicos insolúveis em
rações nos ciclos celulares de algumas com um determinado epítopo (o mesmo determinados órgãos de um ser vivo que
células, ficando a sua multiplicação fora que imunoglobulina.) os ingeriu.
de controlo, dando origem a tumores.
Anticorpos monoclonais Bioampliação
Agentes mutagénicos Anticorpos com especificidade para um Fenómeno que se caracteriza pelo
Substâncias químicas e algumas radia- único epítoto. aumento da concentração de um deter-
ções que podem provocar alterações ao minado tóxico ao longo de uma cadeia
nível do material genético. Anticorpos policlonais alimentar.
Anticorpos formados pelo organismo
Agentes teratogénicos quando em contacto com antigénios Biocatalisador
Tóxicos que actuam durante o desenvol- com vários epítotos. Catalisador biológico, também designado
vimento embrionário, aquando da exposi- por enzima, que diminui a energia de
ção aos mesmos e que afectam o normal Antídoto activação da reacção química.
desenvolvimento do embrião, podendo Soros anti-veneno que são utilizados por
gerar lesões mais ou menos graves. possuírem anticorpos que atacam as Bioconversão
substâncias com valor tóxico (veneno). Técnica de biotecnologia em que são
Agrobacterium usados microrganismos para transformar
Género de bactéria existente no solo. Antigénio um substrato num produto de interesse
Uma das espécies deste género foi o Qualquer molécula que reage especifi- comercial, mas com redução do número
primeiro vector utilizado na transformação camente com um anticorpo ou com um das reacções em cadeia.
genética de plantas e é fitopatogénica. receptor de um linfócito T, desencadeando
nestas situações respostas imunitárias Biodegradável
Alelos co-dominantes específicas. Resíduo que pode ser degradado por
Alelos, que, quando presentes num seres vivos.
indivíduo heterozigótico, não apresen- Anti-soro
tam dominância ou recessividade, Líquido correspondente ao plasma, sem Biogás
expressando-se os dois simultânea e factores de coagulação, e onde se Gás produzido pela decomposição de
completamente. podem encontrar anticorpos formados compostos orgânicos e constituído
pelo organismo como resposta à inocu- essencialmente por metano e dióxido de
Alelo dominante lação de antigénio. carbono.
Alelo que se exprime sempre que está
presente no genótipo. Apoenzima Biomateriais
Enzima não ligada ao cofactor e, como Substâncias obtidas por biotecnologia,
Alelos letais tal, não funcional. que podem ser utilizadas para substitui-
Alelos que provocam a morte precoce ção, tratamento ou avaliação de um teci-
do indivíduo. Aquacultura do, órgão ou função de um organismo.
Criação, em ambiente controlado, de
Alelos múltiplos organismos aquáticos (peixes em geral, Biossólidos
Considera-se a existência de alelos múl- bivalves e crustáceos) para alimentação. Lamas originadas numa estação de
tiplos quando existem na população tratamento de águas residuais, após
mais do que duas formas alélicas do Árvore genealógica estas terem sido sujeitas a tratamento
mesmo gene, embora cada indivíduo Representação dos fenótipos para uma biológico para redução de organismos
possua apenas dois alelos. determinada característica genética patogénicos.
numa família em que várias gerações
Alelo recessivo aparecem relacionadas através de simbo- Bombeamento de partículas
Alelo que só se exprime no fenótipo logia própria. Técnica de transferência de DNA para
quando está em homozigotia. células vegetais que utiliza um canhão
Aterro sanitário de partículas, revestidas anteriormente
Alergia Local, devidamente controlado, onde com o T-DNA.
Resposta imunitária exagerada do orga- são depositados os resíduos sólidos que
nismo a antigénios não-patogénicos
(alergénios).
não podem ser, ou não foram, reutilizados
nem reciclados. U Cariótipo
Conjunto de todos os cromossomas de
Aneuploidia Auto-imunidade uma célula ou indivíduo, geralmente
Alteração do número cromossómico Quando o sistema imunitário desencadeia obtido por microfotografia dos cromosso-
normal, podendo envolver um ou mais reacções de ataque a antigénios espe- mas mitóticos, e sua posterior ordenação
cromossomas. cíficos do próprio organismo. por tamanho, forma e número.
406 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Catalisador Complexo enzima-substrato Defesas não-específicas
ubstância que facilita a interacção entre
S Conjunto formado entre a enzima e o(s) Mecanismos de defesa que visam impedir
os reagentes de uma reacção química. substrato(s), mantido temporariamente a entrada ou a destruição de agentes
por ligações químicas fracas. patogénicos no organismo, não desen-
CBO
cadeando respostas personalizadas de
Carência bioquímica de oxigénio; medida Complexo major de
acordo com o agente agressor.
da quantidade de O2 necessária para as histocompatibilidade humana
bactérias aeróbias procederem à Conjunto de genes situado, na espécie Defumação
decomposição de determinada quanti- humana, no braço curto do cromosso- Processo de conservação dos alimentos
dade de matéria orgânica libertada num ma 6, do qual fazem parte, além dos que consiste na exposição destes ao
ecossistema. genes codificantes dos marcadores, calor e ao fumo proveniente da quei-
uma série de outros com funções ma incompleta de madeiras seleccio-
Células de Leydig variadas. nadas.
Células intersticiais dos testículos respon-
sáveis pela produção de testosterona. Compostagem Deleção
Processo artificial onde se simula o pro- Mutação em que é removido um seg-
Células-memória cesso natural de degradação orgânica. mento do cromossoma (que pode incluir
Linfócitos de vida longa produzidos após
um ou vários nucleótidos).
exposição a um antigénio. Células Congelação
responsáveis por respostas imunitárias Processo de conservação dos alimentos Demografia
rápidas em situação de segunda expo- em que os mesmos são sujeitos a Ciência que se dedica ao estudo da
sição ao antigénio. temperaturas inferiores a 218 ºC. dinâmica das populações humanas.
Células de Sertoli Contaminação Desnaturação
Células dos tubos seminíferos que, além Fenómeno que se caracteriza pela intro- Alteração da estrutura de uma proteína
de assegurarem a nutrição das células dução ou remoção pelo Homem de (no caso das enzimas torna-as irreversi-
da linha germinativa, desempenham substâncias ou energia no Ambiente, velmente não-funcionais) ou quebra das
também funções na fase final da produção mas que podem ou não causar efeitos ligações de hidrogénio responsáveis pelo
de espermatozóides. nocivos aos organismos vivos e aos emparelhamento da dupla cadeia do
sistemas ecológicos. DNA.
Células foliculares
Células ováricas que constituem o Contracepção Diagnóstico genético
folículo, envolvendo o oócito. Prevenção deliberada e consciente da pré-implantatório
gravidez. Teste que consiste numa biopsia à zona
Células NK pelúcida do embrião, num estado ante-
Células tipo linfócitos com citoplasma Corpo amarelo rior ao da implantação no útero (normal-
rico em grânulos que têm a capacidade Estrutura resultante de um folículo mente quando o embrião se encontra no
de reconhecer e destruir espontanea- maduro após a ovulação, que segrega estado de seis a doze células) para pro-
mente células aberrantes e de produzirem progesterona e estrogénio. ceder a estudos genéticos, permitindo
factores solúveis que activam outras
Crioconservação de embriões identificar mutações cromossómicas.
células do sistema imunitário.
Método que permite preservar embriões, Diapedese
Centro activo a temperaturas muito baixas. Capacidade que alguns glóbulos brancos
Local de uma enzima onde se ligam os
Crioconservação de gâmetas apresentam de modificar a sua forma e
substratos de uma reacção química.
Método que permite preservar, a tempe- de atravessar as paredes dos vasos
Chuvas ácidas raturas muito baixas, os gâmetas. capilares.
Depósitos húmidos, como a chuva, a
Cromatina DNA complementar
neve e o nevoeiro, ou deposição de
Estrutura relativamente pouco compac- DNA de dupla cadeia formado a partir
outras partículas cujo pH é ácido (em
tada, formada por DNA e proteínas de um molde de RNA.
geral, inferior a 5,6).
associadas (histonas). DNA ligase
Ciclo ovárico Enzima que promove as ligações fosfo-
Conjunto de etapas sofridas pelo ovário Cromossoma
Estrutura formadas por proteínas (his- diéster entre nucleótidos de duas molé-
durante um ciclo sexual.
tonas) e por DNA, fortemente con- culas de DNA, permitindo a formação
Ciclo uterino densada. de DNA híbrido.
Conjunto de etapas sofridas pelo útero
Cruzamento recíproco DNA recombinante
durante um ciclo sexual.
Cruzamentos entre dois indivíduos de DNA formado por cadeias nucleotídicas
Codominância uma espécie e cujo fornecimento de de origens diferentes.
Situação em que nenhum dos alelos de gâmetas masculinos é da responsabili- Dominância incompleta
um gene, presentes num indivíduo hete- dade, num primeiro cruzamento, de Na interacção de um par de alelos con-
rozigótico, apresenta dominância ou um dos progenitores, e, num segundo trastantes de um mesmo gene, surge,
recessividade, expressando-se os dois cruzamento, do outro progenitor. Se no nos indivíduos heterozigóticos, a expres-
alelos simultânea e completamente. cruzamento se cruzaram machos A com são de um fenótipo intermédio.
fêmeas B, neste cruzamento os machos
Coenzima serão B e as fêmeas A. Dose letal
Cofactor de natureza orgânica necessário
para o funcionamento de uma enzima. U Defesas específicas Quantidade de uma qualquer substância
química, sintética ou natural, capaz de
Mecanismos de defesa que se caracte- provocar a morte a um indivíduo.
Cofactor rizam pela sua especificidade (uma
Molécula não-proteica que se liga a uma
dada célula/molécula actua sobre um
enzima, activando-a.
único agente patogénico).
GLOSSÁRIO 407
GLOSSÁRIO
408 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Folículos secundários Hipersensibilidade Inactivação
Folículos que resultam da evolução dos Resposta exagerada do sistema imuno- Impedimento reversível da actividade de
folículos primários. lógico a uma substância estranha ao uma enzima.
organismo que causa alterações em
Folículos terciários células e tecidos. Incineração
Folículos que resultam da evolução dos Processo de tratamento de resíduos que
folículos secundários, apresentando já Hipofertilidade envolve a sua queima.
cavidade folicular. Tipo de infertilidade em que as causas
não são definidas, podendo em determi- Indutor
Fungicida nadas situações ser ultrapassadas por Molécula que acciona a transcrição do
Substância química que controla ou terapêuticas clássicas. operão.
elimina fungos indesejáveis.
Histamina Infertilidade
U Gametogénese Molécula produzida por células do Ausência de concepção depois de, pelo
sistema imunitário e que promove a menos, dois anos de relações sexuais
Processo de formação de gâmetas. não protegidas.
vasodilatação.
Gene Inibição alostérica
Holoenzima
Sequência de nucleótidos com infor- Quando o inibidor não se liga ao centro
Enzima activa ligada ao cofactor.
mação para a síntese de uma proteína activo da enzima mas a outro local (centro
ou RNA. alostérico).
Homozigótico
Genes estruturais Inibição competitiva
Diz-se de um indivíduo que possui dois
Genes que fazem parte de um operão, Quando o inibidor se liga ao centro activo
alelos iguais para o mesmo gene.
codificantes de proteínas envolvidas da enzima, competindo com o substrato.
numa mesma via metabólica. Hormonas hipofisárias
Hormonas segregadas pela hipófise Inibidor
Gene regulador Molécula que se liga a uma enzima e a
(por exemplo, FSH e LH).
Gene responsável pela produção de impede de funcionar.
uma proteína reguladora da função dos Hormonas hipotalâmicas
genes estruturais. Hormonas segregadas pelo hipotálamo Injecção intracitoplasmática
(por exemplo, GnRH). Técnica de procriação medicamente
Genoma assistida que consiste na injecção do
Totalidade do material genético de um
U Imunidade adquirida
espermatozóide directamente no cito-
indivíduo. plasma do oócito II.
Imunidade específica, apresenta memória
Genótipo Insecticida
e é capaz de distinguir o próprio do não
Composição alélica específica que o
próprio, sendo da responsabilidade de Substância química que controla ou
indivíduo apresenta para um ou mais
linfócitos e desencadeada pela presença elimina insectos indesejáveis.
genes.
de antigénios.
Glândulas bulbo-uretrais Inseminação artificial
ou de Cowper Imunidade celular Processo de procriação medicamente
Glândulas anexas do aparelho reprodutor Imunidade associada aos linfócitos T assistida que consiste na colocação
masculino, responsáveis pela produção que tem como objectivo destruir células de espermatozóides no útero, depois
de líquidos lubrificantes do acto sexual. que tenham sido infectadas e células de previamente colhidos.
distintas das células originais do indivíduo,
Irradiação
U Haploidia quer as tumorais quer as adquiridas por
transplante.
Conservação dos alimentos com recurso
a energias ionizantes.
Presença de um único representante
de cada par de cromossomas homólogos Imunidade humoral
Interferão
no núcleo de uma célula. Imunidade da responsabilidade dos lin-
Proteína produzida por células atacadas
fócitos B e que tem como objectivo eli-
Herbicida por vírus e que têm como função
minar antigénios que se encontrem nos
Substância química que controla estimular as células vizinhas a produ-
fluidos corporais (sangue e linfa), e que,
ou elimina ervas nocivas às culturas. zirem proteínas anti-virais.
como tal, ainda não tenham entrado em
células. Inversão
Heterossomas
Cromossomas sexuais, isto é, presentes Mutação em que uma sequência de
Imunidade inata
diferencialmente em cada sexo, são DNA surge orientada na direcção oposta
Imunidade não-específica.
responsáveis pela determinação do à que se encontrava originalmente.
sexo do indivíduo. Imunodeficiência
Heterozigótico
Alteração do sistema imunitário que não
desenvolve as acções esperadas, devido
U LD 50
GLOSSÁRIO 409
GLOSSÁRIO
U Oncogenes
Linfócitos T Ozono atmosférico
Glóbulos brancos, maturados no timo, Molécula de O 3 que, na estratosfera,
que actuam na imunidade específica Genes com capacidade de estimular a tem capacidade de protecção contra as
celular, possuem receptores membra- divisão celular mas, que existem radiações ultravioletas e na troposfera
nares específicos de antigénios que naturalmente inactivos na forma de pode ter efeitos nocivos para o sistema
sofreram processamento e são apresen- proto-oncogenes a desempenhar respiratório.
tados à superfície de outras células. funções celulares básicas.
410 B I O L O G I A A B i o l o g i a e o s d e s a f i o s d a a c t u a l i d a d e
Poluição Reprodução assistida Testículos
Fenómeno que corresponde à introdução Técnicas médicas actuais que facilitam Gónadas masculinas, órgãos responsáveis
ou remoção pelo Homem de substâncias a reprodução humana. pela produção de espermatozóides e
ou energia no Ambiente, susceptíveis de testosterona.
causar efeitos nocivos aos organismos Reprodução selectiva
vivos e sistemas ecológicos. Cruzamentos manipulados pelo Homem, Testosterona
tendo em vista a selecção de seres vivos Hormona sexual masculina produzida
Praga com fenótipos desejados. nos testículos.
Conjunto de organismos indesejados
que interferem, directa ou indirectamente, Retroalimentação Toxicidade
com as actividades do Homem, atacando Controlo de um determinado processo Medida dos efeitos prejudiciais que uma
as culturas, competindo pelo alimento, induzido, directa ou indirectamente, determinada substância (tóxico) pode
difundindo doenças ou invadindo os pela presença ou ausência do produto provocar (ferimentos, doenças ou inclu-
ecossistemas. do próprio processo. sivamente a morte), num determinado
indivíduo.
Progesterona Retrocruzamento
Hormona produzida pelo corpo amarelo. Cruzamento entre um indivíduo e um Transcritase reversa
dos seus progenitores. Pode coincidir Enzimas que promovem a síntese de
Promotor com um cruzamento-teste se o indivíduo DNA a partir de moldes de RNA.
Porção de DNA, constituinte de um for heterozigótico e for cruzado com um
Transferência intratubárica
operão no caso dos procariontes, ou a progenitor homozigótico recessivo.
de gâmetas
montante de cada gene no caso dos
Rodenticidas Técnica de procriação medicamente
eucariontes, à qual se liga a RNA poli-
Substâncias que controlam ou eliminam assistida que consiste na colocação de
merase, dando início à transcrição dos
roedores indesejáveis ao Homem. oócitos e espermatozóides (após recolha
genes.
prévia) nas trompas de Falópio.
Protoplasto
Células vegetais isoladas sem parede
U Salga Transferência intratubárica
de zigotos
Processo de conservação de alimentos
celular. Técnica de procriação medicamente
que visa o movimento da água do ali-
mento para o exterior e, em simultâneo, assistida que consiste na colocação de
U Quadro de cruzamento a entrada de sal para o seu interior. um zigoto (após fecundação in vitro) nas
trompas de Falópio.
Método de representação das previsões
de um cruzamento genético. Seca
Processo de conservação de alimentos Transgénico
Quimiotaxia que tem por base a desidratação dos Organismo que contém DNA de prove-
Atracção de células do sistema imunitá- mesmos. niência externa integrado no seu material
rio, até ao agente infeccioso, por estímu- genético.
Segregação independente
los químicos.
dos alelos Translocação
Quando, na formação dos gâmetas, a Mutação em que uma porção de um
U Reacção acrossómica separação dos vários pares de alelos é cromossoma é transferida e ligada a
Reacção que ocorre entre as enzimas realizada independentemente. outro cromossoma diferente, não
do acrossoma (do espermatozóide), as homólogo, ou a outra região do mesmo
quais vão digerir uma zona da camada Sinergismo cromossoma. Esta troca pode, ou não,
gelatinosa que protege externamente o Diz-se do efeito somado de, por exemplo, ser recíproca.
oócito. duas toxinas, que, quando actuam em
conjunto, é superior ao efeito somado Tubos seminíferos
Reacção inflamatória das duas toxinas agindo isoladamente. Túbulos que constituem as unidades
Conjunto de respostas rápidas e coorde- funcionais dos testículos, locais onde
nadas do sistema imunitário com vista a Sistema-complemento ocorre, de forma centrípeta, a esperma-
destruir os agentes infecciosos. Conjunto de proteínas plasmáticas que togénese.
desempenham funções importantes nos
Reciclável
U Vacina
mecanismos de defesa do organismo.
Resíduo, que, por tratamentos próprios,
pode vir a transformar-se de novo num Soro Preparado de vírus, bactérias ou proteínas
recurso. Fracção correspondente ao plasma derivadas, previamente sujeito a atenua-
sem factores de coagulação. ção, cuja função é, depois de inoculado
Refrigeração no corpo, induzir a imunização.
Processo de conservação dos alimentos Substrato
em que os mesmos são sujeitos a Reagente de uma reacção química cata- Vector
temperaturas entre os 0 ºC e os 7 ºC. lisada por uma enzima. Estruturas que assegurem a transferência
de genes de um ser vivo para outro.
Regulão Sustentabilidade
Conjunto de operões regulados de forma Conceito relacionado com a continuidade Via metabólica
coordenada por um regulador. dos aspectos económicos, sociais, Conjunto de reacções químicas de uma
culturais e ambientais da sociedade célula que funcionam em cadeia.
Repressor humana.
Molécula de origem proteica que, na
U Zona pelúcida
forma activa, se liga ao operador repri-
mindo a transição das proteínas-
U Tecido caloso Conjunto de células foliculares que
Tecido vegetal indiferenciado, prove- envolvem o oócito II.
-alvo.
niente de um explante.
GLOSSÁRIO 411
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Biologia
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