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mica

11.º ANO / ENSINO SECUNDÁRIO


quí
FÍSICA E QUÍMICA A
.º ano
11 revista em
EQUILÍBRIO QUÍMICO
1 | Aspetos quantitativos das reações químicas 2
2 | Equilíbrio químico e extensão das reações químicas 8

REAÇÕES EM SISTEMAS AQUOSOS


1 | Reações ácido-base 15
2 | Reações de oxidação-redução 25
3 | Soluções e equilíbrio de solubilidade 30

carla rodrigues

A
carla santos
lúcia miguelote
paulo santos
DOMÍNIO
EQUILÍBRIO QUÍMICO
ASPETOS QUANTITATIVOS DAS REAÇÕES
SUBDOMÍNIO

1.

QUÍMICAS

EQUILÍBRIO QUÍMICO E EXTENSÃO DAS


SUBDOMÍNIO

REAÇÕES QUÍMICAS

1.1 REAÇÕES QUÍMICAS

Uma reação química é uma transformação através da qual uma ou mais substâncias são convertidas
em uma ou mais substâncias diferentes através do rearranjo dos átomos dos reagentes com forma-
ção de novas combinações químicas que individualizam os produtos da reação.

As substâncias consumidas ao longo de uma reação química designam-se reagentes e as substâncias


formadas como resultado da reação química são os produtos da reação.

De acordo com a Lei da Conservação de Massa ou Lei de Lavoisier, em qualquer reação química a
soma das massas dos reagentes e dos produtos da reação mantém-se sempre constante. Por conse-
guinte, o número de átomos de cada elemento químico existente no início da reação tem que ser
igual ao número de átomos desse elemento no fim da reação.

Equações químicas
Uma reação química é vulgarmente representada por meio de uma equação química, representação
abreviada de uma reação química onde os reagentes e os produtos são representados pelas respetivas
fórmulas químicas ou símbolos químicos, precedidas pelos coeficientes estequiométricos que esta-
belecem a proporção em que os reagentes se combinam e se formam os produtos.

​​  a A(s) +   b B(ℓ) 


 ​​ → ​​  c C(ℓ)
   +  d D(g)   ​​
 

Reagentes

Produtos da reação

(Nota: As letras A, B, C e D não correspondem aos símbolos químicos dos elementos.)

Além de garantir que o número total de átomos de cada elemento químico é igual nos reagentes e
nos produtos da reação, os coeficientes indicam a proporção em que cada substância participa na
reação.

QUÍMICA 11.º ANO EM REVISTA

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1 Aspetos quantitativos das reações químicas

NOTA

O número de átomos de um elemento químico 2 moléculas


numa equação química pode ser calculado multipli-
cando o coeficiente estequiométrico pelo índice do
elemento na fórmula química.
2 C3 H8 O3
contêm

6 átomos de 16 átomos 6 átomos


carbono de hidrogénio de oxigénio

Quando uma reação envolve substâncias iónicas ou ionizadas em água, além da equação química
global, a equação que mostra todos os reagentes e produtos na forma não dissociada, pode escrever-
-se a equação iónica completa, a equação que mostra separadamente todas as espécies (tanto iões
como átomos ou moléculas) tal como estão presentes em solução.

EXEMPLO

1.º Acerto da equação química:


​​​NH​3​ ​(g)​  +  ​O2​ ​ (​ g)​  →  ​N2​ ​ O ​(g)​  +  ​H2​ ​ O ​(ℓ)​
Balanço:

Reagente Produtos
1 N (× 2) 2N Acerto dos átomos de N: ​2 NH​3​ ​(g)​  +  ​O2​​ ​(g)​  →  ​N2​​ O ​(g)​  +  ​H2​​ O ​(ℓ)​

2×3H 2 H (× 3) Acerto dos átomos de H: ​2 NH​3​ ​(g)​  +  ​O2​​ ​(g)​  →  ​N2​​ O ​(g)​  +  ​3 H​2​ O ​(ℓ)​

2 O (× 2) 1O+3×1O Acerto dos átomos de O: ​2 NH​3​ (​g)​  +  2 ​O2​​ ​(g)​  →  ​N2​​ O ​(g)​  +  ​3 H​2​ O ​(ℓ)​

2.º Acerto da equação iónica:


​Mg ​(s)​  +  ​H​ ​ ​(aq)​  →  ​Mg​​ ​ ​(aq)​  +  ​H2​ ​ ​(g)​
+ 2+

No acerto de uma equação iónica deve não só garantir-se que o número total de átomos de cada elemento
químico é o mesmo nos reagentes e nos produtos, mas também verificar que a carga total se mantém.
​​​​Mg ​(s)​  +  2  ​H​ ​ ​(aq)​  →  ​Mg​​ ​ ​(aq)​  +  ​H2​ ​ ​(g)​
+ 2+

Relações estequiométricas
Através da leitura de uma equação química é possível conhecer as substâncias envolvidas na reação
(informação qualitativa) e as quantidades relativas em que os reagentes se combinam e se formam
os produtos da reação (informação quantitativa).
De acordo com a Lei de Proust ou Lei das Proporções Definidas, em qualquer reação química, a pro-
porção em que os reagentes se combinam entre si, bem como a proporção em que se formam os
produtos, é sempre a mesma e é diretamente proporcional aos respetivos coeficientes estequiométri-
cos da equação acertada.
Essas relações permitem calcular as quantidades de reagentes necessárias para obter uma quanti-
dade desejada do produto da reação química ou prever as quantidades de produto que se vão formar
a partir das quantidades iniciais de reagentes. Também pode ser usada para prever a quantidade de
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reagente necessária para se combinar completamente com um outro reagente.

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1 Aspetos quantitativos das reações químicas

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Estratégia para Resolução de Problemas de Estequiometria
Etapa 1: Escrever a equação química acertada.
Etapa 2: Exprimir os valores relativos às substâncias de partida em quantidade de matéria.
Etapa 3: Identificar a razão molar entre as substâncias referidas e efetuar os cálculos respetivos.
Etapa 4: Exprimir o resultado nas unidades solicitadas no enunciado.
m=nM
Massa ou V = n Vm Massa ou
volume de A volume de B

Etapa 3
Escrita da equação Quantidade de Quantidade de
Etapa 1 Etapa 2 Etapa 4
química acertada matéria de A Razão molar matéria de B

Átomos ou Átomos ou
moléculas de A N = n NA moléculas de B

EXEMPLO

O alumínio obtém-se fazendo reagir alumina, ​A ​ℓ2​ ​ O3​ ​   ​(M = 101,96 ​g mol​​ ​)​, com carvão, como mostra a se-
− 1

guinte equação química:


​​​​2  A ​ℓ2​ ​ O3​ ​ (​ s)​  +  3 C ​(s)​  →  4  Aℓ ​(s)​  +  3  ​CO​2​ ​(g)​
A estequiometria da reação permite concluir que são necessários 108 kg de carbono para reagir completa-
4
mente com ​612​kg de alumina e que, nessas condições, são produzidos ​1,20  ×  ​10​​ ​mol de alumínio, como
se comprova seguidamente.
1.° Massa do reagente carbono que reage com o reagente alumina:
3
​​​​m = n M ⇒ n(A ​ℓ2​ ​ O3​ ​ ) = ​ _________
612 × ​10​​ ​
= 6,00 × ​10​​ ​  mol​
3
  ​  

101,96
Como a razão molar é 2 mol ​A ​ℓ2​ ​ O3​ ​: 3 mol C, então:
3
2  mol  A​ℓ2​ ​​​O​3​​ 6,00  ×  ​ 10​​ ​ mol   A​ℓ​2​​​O3​ ​​ 
​​  ___________ = ​  __________________
 ​  ⇔  n ​(C)​   =   6​,00  ×  10​​ ​​ mol  A​ℓ​2​​​O​3​​​   ×  ​ ___________
3 mol  C
 ​ ​ ​⇔  ​
3
 ​              
3 mol  C n(C) 2​ mol  A​ℓ2​ ​​​O3​ ​​ ​
​⇔  ​​n(C) = 6,00 × ​10​​ ​ × ​ __ ​ = 9,00 × ​10​​ ​  mol​
3 3 3
2
− 1
​M(C) = 12,01​g mol​​ ​
​m = n M ⇒ m(C) = 9,00 × ​10​​ ​ × 12,01 = 108 kg​
3

2.° Quantidade de matéria de alumínio que se obtém:


Como a razão molar é 2 mol ​A​ℓ​2​​​O3​ ​​​: 4 mol A​ℓ​, então:
​n(Aℓ) = 6,00 × ​10​​ ​ × ​ __
4 ​ = 1,20 × ​10​​4​mol​
3
2

1.2 REAGENTE LIMITANTE E REAGENTE EM EXCESSO

Os cálculos estequiométricos permitem determinar a quantidade de cada reagente que é necessária para
que todos os reagentes se combinem entre si completamente. Contudo, em termos práticos, nem sempre
é possível determinar rigorosamente esses valores e, por vezes, é mesmo desnecessário. Em termos in-
dustriais, por exemplo, é impraticável gastar tempo e dinheiro de modo a assegurar que os reagentes es-
tejam presentes em quantidades estequiométricas. Aliás, é até frequente a adição do reagente mais barato
em excesso, de forma a assegurar a maior conversão possível do reagente mais dispendioso.
O reagente que apresenta a menor quantidade de matéria em relação à proporção estequiométrica
de uma mistura de reagentes e, consequentemente, limita a quantidade de produtos formados
numa reação química é designado reagente limitante. Pelo contrário, denomina-se reagente em ex-
cesso o reagente presente em quantidade superior à necessária para reagir com a quantidade de
reagente limitante presente.

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1 Aspetos quantitativos das reações químicas

EXEMPLO

O reagente limitante está para uma reação, assim como as fatias de pão estão para a preparação de sandes de
queijo no exemplo seguinte.
Admitindo que para fazer uma sande de queijo são necessárias duas fatias de pão e uma fatia de queijo,
quantas sandes de queijo se podem preparar com 6 fatias de pão e 5 fatias de queijo?

A quantidade de queijo é suficiente para preparar 5 sandes, no entanto, só existem 6 fatias de pão. Conse-
quentemente, apenas se poderá preparar 3 sandes de queijo. As fatias de queijo estão, assim, em excesso e
as fatias de pão limitam o número de sandes que se podem preparar.

(reagente limitante) (reagente em excesso) (produto) (excesso de reagente)

Uma vez identificado o reagente limitante, é possível determinar:


• a quantidade de matéria em excesso dos outros reagentes, pela diferença entre a quantidade de
matéria inicial e a quantidade de matéria estequiométrica necessária para consumir todo o rea-
gente limitante;
• a quantidade de matéria máxima de produto que pode ser formado, a partir da razão molar.

EXEMPLO

O cloreto de prata pode ser obtido numa reação traduzida pela seguinte equação química:
ZnCℓ2(s) + 2 Ag+(aq) → Zn2+(aq) + 2 AgCℓ(s)
− 2 − 1
Quando ​6,00 × ​10​​ ​mol de Ag+ reagem com 12,3 g de ZnCℓ2 (​​M = 136,31 ​g mol​​ ​) verifica-se que o reagente
limitante é…:
​​​​m = n M ⇒ n( ZnC ​ℓ​2​ ) = ​ ______  ​  
12,3 − 2
= 9,02 × ​10​​ ​  mol​
136,31
Como a razão molar é 1 mol ZnCℓ2: 2 mol Ag+, então:
n ​(​Ag​​ ​)​  =  ​2  × n(ZnC​ℓ​2​​)  = 2 ×  ​9,02×10​​ ​​ ⇔
+ − 2

⇔  n ​(​Ag​​ ​)​  =  ​1,80 × 10​​ ​  m


+ − 1 − 2
​ ol > 6,00 × 10​​ ​  mol 
Como a quantidade de matéria de Ag+ disponível é inferior à quantidade de matéria estequiométrica neces-
sária, então o Ag+ corresponderá ao reagente limitante.

E a quantidade de matéria de reagente em excesso que ficou por reagir é…:


Como a razão molar é 1 mol ZnCℓ2: 2 mol Ag+, então:
​​​​n( ZnC ​ℓ2​ ​ )r​eagiu​ = ​ __1 ​  n( ​Ag​+​ ​ ) = ​ __
1 ​  × 6,00 × ​10​​− 2​ = 3,00 × ​10​​− 2​  mol​
2 2
− 2 − 2
​​​​n( ZnC ​ℓ2​ ​ )e​xcesso​ = n( ZnC ​ℓ2​ ​ )i​nicial​ − n( ZnC ​ℓ2​ ​ )r​eagiu​ ⇒ n( ZnC ​ℓ2​ ​ )e​xcesso​ = 9,02 × ​10​​ ​ − 3,00 × ​10​​ ​ ⇔​
− 2
​⇔​ n(ZnCℓ2)excesso = ​6,02 × ​10​​ ​​mol
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1 Aspetos quantitativos das reações químicas

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1.3 GRAU DE PUREZA DE UMA AMOSTRA

O grau de pureza corresponde ao quociente entre a massa da substância (pura) e a massa total da
amostra.
​m​substância (pura)​
​​​​Grau de pureza = ​ ____________     ​ 
​mamostra
​ ​

O grau de pureza é tradicionalmente expresso em percentagem. Varia entre 0% (que significaria que
a substância em causa não estava presente na amostra) e 100% (que corresponde a uma amostra
exclusivamente constituída por essa substância).

EXEMPLO

Se uma amostra de nitrogénio é 99% pura significa que, em cada 100 g de amostra, 99 g são de nitrogénio e
1 g será de outras substâncias, as impurezas, o que também é equivalente a dizer que a amostra apresenta
1% de impurezas.

Os reagentes podem apresentar diferentes graus de pureza, devendo ser escolhidos consoante as fi-
nalidades de uso e custo.

Nos cálculos estequiométricos deve começar por determinar-se a massa de reagente puro que existe
na amostra, a partir do grau de pureza, uma vez que apenas a parte pura da amostra é consumida na
reação em estudo.

1.4 RENDIMENTO DE UMA REAÇÃO QUÍMICA

Por uma questão de simplificação, os cálculos estequiométricos são, geralmente, efetuados admi-
tindo reações completas, ou seja, reações em que pelo menos um dos reagentes (o reagente limi-
tante) se esgota completamente.

No entanto, a maioria das reações que ocorrem em sistema fechado são reações incompletas, em
que nenhum dos reagentes se esgota, mesmo quando misturados em proporções estequiométricas.
No fim da reação, reagentes e produtos coexistem na presença uns dos outros.

O rendimento da reação avalia a conversão de reagentes em produtos da reação e pode ser determi-
nado pela razão entre a quantidade realmente obtida de um produto e a quantidade do mesmo pro-
duto prevista estequiometricamente ou comparando a massa ou o volume de um produto realmente
obtidos com a massa ou o volume, respetivamente, previstos estequiometricamente.

​no​ btida​ ​mo​ btida​ ​Vo​ btido​


​​​η ​(%)​  =  ​ ______    
​  ×  100​ ​η ​(%)​  =  ​ ______    
​  ×  100​​ η ​(%)​  =  ​ ______    
​  ×  100​
​nprevista
​ ​ ​mprevista
​ ​ ​Vprevisto
​ ​

O valor do rendimento pode variar entre 0% (se não se forma produto nenhum) e 100% (se se tratar
de uma reação completa, com conversão total do reagente limitante no produto pretendido).

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1 Aspetos quantitativos das reações químicas

EXEMPLO

O tricloreto de fósforo pode ser produzido pela reação de fósforo e cloro:


​​​​​​​​P​4​ ​(s)​  +  6  C ​ℓ2​ ​ ​(g)​  →  4 PC ​ℓ3​ ​ (​ s)​

Quando a reação se realiza com um rendimento de 92,8%, da mistura de 4,99 g de P4 (M = 123,88 g mol- 1)
com excesso de cloro, obtém-se 20,5 g de PCℓ3 (M = 137,32 g mol- 1), como se comprova pelos cálculos se-
guintes:

1.° Determinar a quantidade de matéria de P4 que reagiu:

m = n M ⇒ n(P4) = ______
4,99
​  = 0,0403 mol
  ​​ 
123,88

2.° Determinar a quantidade de matéria e a massa de PCℓ3 prevista estequiometricamente:


Como: 1 mol P4: 4 mol PCℓ3
n(PCℓ3)prevista = 4 n(P4) = 4 × 0,0403 = 0,161 mol
m(PCℓ3)prevista = n M ⇒ m = 0,161 × 137,32 = 22,1 g

3.° Determinar a massa de PCℓ3 obtida a partir do rendimento:


​mo​ btida​ ​mo​ btida​
η ​​​​(%)​  =  ​ ________  ​  ×  100​ ⇒ 92,8 = ​ ______ ​ 
    × 100 ⇔​ ​​m​obtida​​ = 20,5 g
​mprevista
​ ​ 22,1

1.5 ECONOMIA ATÓMICA E QUÍMICA VERDE

A Química Verde visa a criação, o desenvolvimento e a aplicação de produtos e processos químicos


com a finalidade de reduzir ou eliminar o uso e a produção de substâncias nocivas à saúde humana
e ao ambiente, minimizando, assim, o impacto ambiental.
De acordo com a Química Verde são, agora, três os objetivos complementares para se conseguir um
processo de síntese eficiente:
• produto final, com um rendimento máximo;
• maximização da incorporação dos átomos dos reagentes no produto final;
• minimização da formação de resíduos.

A economia atómica percentual avalia o impacto ambiental de um processo. Corresponde à razão


entre a massa de átomos de reagentes que são incorporados no produto desejado e a massa total de
átomos nos reagentes, expressa em percentagem. O processo mais eficaz é o que maximiza a incor-
poração de átomos dos reagentes no produto final.
massa  de  átomos  de  reagentes  incorporados  no  produto  desejado
​​​​AE ​(%)​  =  ​_____________________________________________________________________
      
          ​  ×  100​
massa  total  de  átomos​​  nos  reagentes

Elevada economia atómica Baixa economia atómica

+ + +

Resíduos
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Para se conseguir um processo eficiente, deve ainda atender-se à perigosidade e toxicidade do produto
obtido ou dos reagentes utilizados, ao consumo de energia e à utilização ou não de solventes orgânicos.

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EQUILÍBRIO QUÍMICO
ASPETOS QUANTITATIVOS DAS REAÇÕES
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QUÍMICAS

EQUILÍBRIO QUÍMICO E EXTENSÃO DAS


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3.

REAÇÕES QUÍMICAS

2.1 REAÇÕES INCOMPLETAS E EQUILÍBRIO QUÍMICO

Numa reação completa, em que pelo menos um dos reagentes se esgota na reação, o símbolo usado
para separar os reagentes dos produtos da reação na equação química é uma única seta (​→​).

Uma reação química incompleta é uma reação onde nenhum reagente se esgota ao longo da reação.
Uma reação química incompleta de equilíbrio é uma reação que, em sistema fechado, ocorre nos
dois sentidos, isto é, não só os reagentes se combinam entre si para dar origem aos produtos da rea-
ção, como estes também se combinam entre si regenerando os reagentes. A ocorrência simultânea
das reações direta e inversa conduz à formação de alguns produtos, mas impede que os reagentes se
gastem completamente. O resultado final é uma mistura de reagentes e produtos da reação e o sis-
tema acaba por atingir um estado de equilíbrio.

Para indicar a ocorrência de duas reações opostas a ocorrer em simultâneo, o símbolo que separa os
reagentes dos produtos da reação, numa equação química de uma reação incompleta de equilíbrio, é
a dupla meia seta (​⇌​).

Numa equação química que traduz uma reação incompleta de equilíbrio:


• a reação direta identifica-se com a transformação que ocorre no sentido da formação dos produtos,
onde se considera como reagentes as espécies que se encontram à esquerda da dupla meia seta (​⇌​);
• a reação inversa identifica-se com a transformação que ocorre no sentido da regeneração dos rea-
gentes, onde se considera como reagentes as espécies que se encontram à direita da dupla meia
seta (​⇌​).

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2 Equilíbrio químico e extensão das reações químicas

NOTA

Análise de gráficos c = f (t)

1. A + 2B → 3C 2. A ⇌ 2B
c c
C B
A

A
B
t1 t t2 t

A reação 1 é completa: um dos reagentes A reação 2 é uma reação incompleta de equilí-


(reagente limitante) esgota-se completa- brio: nenhum dos reagentes se esgota, atin-
mente (reagente B) em t1. gindo o estado de equilíbrio em t2, quando as
concentrações dos reagentes (A) e dos produtos
(B) permanecem constantes.

A variação da concentração de cada substância depende do seu coeficiente estequiométrico na equa-


ção química acertada. Na reação 2, por exemplo, a quantidade formada de B é o dobro da quantidade
consumida de A.

O estado de equilíbrio químico é qualquer estado de um sistema em que as propriedades macroscó-


picas mensuráveis do sistema reacional (cor, pressão, concentração, temperatura, volume, densidade
e outras) não se alteram com o tempo. Contudo, as reações, direta e inversa, continuam a ocorrer só
que com a mesma rapidez – diz-se, por isso, que o equilíbrio químico é um equilíbrio dinâmico.
Velocidade de reação

Reação direta
Concentração

Reação inversa

0 te Tempo 0 te Tempo

Gráficos da variação da concentração dos reagentes e dos produtos da reação e da velocidade das reações, direta e
inversa, ao longo do tempo.

O equilíbrio químico diz-se homogéneo se todos os reagentes e produtos se encontram na mesma


fase (os reagentes e os produtos formam uma mistura homogénea).

Para qualquer sistema em equilíbrio químico, conhecendo a quantidade inicial dos reagentes e a
quantidade de uma das espécies no equilíbrio (reagente ou produto), é possível calcular a quantidade
de todas as outras espécies presentes no estado de equilíbrio atendendo aos coeficientes estequiomé-
tricos da reação.

Pode criar-se uma tabela “iVe” (inicial, Variação, equilíbrio) para ajudar a organizar a informação.
Numa tabela “iVe” os sinais “−” e “+” na linha da variação indicam, respetivamente, as substâncias
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consumidas e as substâncias formadas.

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2 Equilíbrio químico e extensão das reações químicas

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EXEMPLO

Considere-se a reação de decomposição do tetróxido de dinitrogénio, em sistema fechado a 25 ºC.


N2O4(g) ​⇌  ​2 NO2(g)

Se num recipiente com o volume de 1,00 dm3 se introduzirem 0,750 mol de tetróxido de dinitrogénio e a
quantidade de dióxido de nitrogénio presente no estado de equilíbrio for 0,058 mol, é possível determinar a
quantidade de reagente nesse estado de equilíbrio.

n / mol N2O4(g) ⇌ 2 NO2(g)


inicial 0,750 0
Variação -x + 2x
equilíbrio 0,750 - x 2x = 0,058

A partir da quantidade conhecida de NO2 no estado de equilíbrio é possível determinar “​x ​”:

​​​n (​ ​NO​2​)​ ​ =  0,058  mol  =  2 x ⇔  x  =  ​_____
0,058
      ​   =  0,029  mol
2

Sabendo ​x​, pode calcular-se a quantidade de N2O4 no equilíbrio:


​​​​n ​(​ ​N2​ ​ O4​ ​)​ ​ =  0,750  −  x ⇔  n ​(​ ​N​2​ O4​ ​)​ ​ =  0,750  −  0,029  =  0,721  mol​

2.2 EXTENSÃO DAS REAÇÕES QUÍMICAS

Constante de equilíbrio
A constante de equilíbrio (Kc) é uma grandeza adimensional e a sua expressão é igual ao produto das
concentrações de equilíbrio dos produtos de reação, elevadas aos respetivos coeficientes estequiomé-
tricos, a dividir pelo produto das concentrações de equilíbrio dos reagentes igualmente elevadas aos
respetivos coeficientes estequiométricos:

c d
​​  [C] ​​​ ​ ​​  [D] ​​​ ​
aA+bB⇌cC+dD ​​ ​c​​ = ___
K ​  a b   ​​ 
​​  [A] ​​​ ​ ​​  [B] ​​​ ​

Esta expressão matemática traduz a Lei da ação das massas ou Lei de Guldberg-Waage - para siste-
mas químicos suficientemente diluídos, o valor da constante de equilíbrio não depende das concen-
trações iniciais da mistura reacional. Para uma determinada reação incompleta de equilíbrio a tem-
peratura constante, o valor da constante de equilíbrio é sempre o mesmo para todos os estados de
equilíbrio.

Embora a constante de equilíbrio seja um valor que caracteriza o equilíbrio de uma reação química
e não dependa das concentrações das substâncias inicialmente presentes, depende da temperatura.

Conhecendo as concentrações de todas as substâncias do sistema químico no estado de equilíbrio é


possível determinar o valor da constante de equilíbrio de uma dada reação incompleta de equilíbrio,
à temperatura a que o sistema se encontra. Uma vez conhecida a constante de equilíbrio, o seu valor
também pode ser usado para prever a composição quantitativa do sistema no estado de equilíbrio a
partir das concentrações das substâncias presentes inicialmente.

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2 Equilíbrio químico e extensão das reações químicas

Constante de equilíbrio e extensão da reação


A extensão de uma reação corresponde ao grau de conversão dos reagentes nos produtos de reação,
uma vez atingido o estado de equilíbrio. Depende da temperatura a que é atingido o estado de equi-
líbrio e das concentrações das substâncias inicialmente presentes.

Assim:
• Se a constante de equilíbrio for elevada (Kc >> 1), isso significa que, no equilíbrio, a concentração
dos produtos da reação é maior que a concentração dos reagentes. Os reagentes têm grande ten-
dência para reagirem entre si e a reação ocorre extensamente no sentido direto. As reações em que
Kc é maior do que 1010 são geralmente consideradas completas.
• Se a constante de equilíbrio for pequena (Kc << 1), isso significa que, no equilíbrio, a concentração
dos reagentes é superior à concentração dos produtos da reação. Os reagentes não têm grande ten-
dência para reagirem entre si e a reação ocorre em pequena extensão no sentido direto.

Considera-se que praticamente não há reação para sistemas com Kc menor do que 10–10.

Para qualquer reação química incompleta de equilíbrio, o valor da constante de equilíbrio da reação
direta é o inverso do valor da constante de equilíbrio da reação inversa.

​K​c​​, direta = ___


​  1   ​ 
​K​c, inversa​​

Deste modo, quanto mais extensa for uma reação, menos extensa é a sua reação inversa, ou seja:
• Se Kc, direta << 1 ⇒
​ ​ Kc, inversa >> 1 • Se Kc, direta >> 1 ​⇒​ Kc, inversa << 1

EXEMPLO
− 2 − 2
Num reator com capacidade de 1,00 L, foram inicialmente introduzidas 9​ ,00 × ​10​​ ​mol de SO2 e ​5,00 × ​10​​ ​​
− 2
mol de O2, à temperatura de 600 ºC, tendo-se formado ​4,50 × ​10​​ ​ mol de SO3, de acordo com a equação
química seguinte:
2 SO2(g) + O2(g) ​⇌​2 SO3(g)

O valor da constante de equilíbrio da reação, à temperatura de 600 ºC é…:

1.° Calcular as concentrações iniciais e de equilíbrio conhecidas:


− 2 − 2
​​​​​​​​c​S​ O​​ ​ = ​ __ ​ = ​ __________ ​c​O​ ​​ ​ = ​ __ ​ = ​ __________
n 9,00 × ​10​​ ​ − 2 − 3 n 5,00 × ​10​​ ​ − 2 − 3
=  9,00 × ​10​​ ​   ​mol dm​​ ​
  ​  
  =  5,00 × ​10​​ ​   ​mol dm​​ ​
  ​  

2
V 1,00 2
V 1,00
− 2
​ [​SO​3​] ​ = ​ __ ​ = ​ __________
n 4,50 × ​10​​ ​ − 2 − 3
=  4,50 × ​10​​ ​   ​mol dm​​ ​
  ​  

V 1,00

2.° Usando uma tabela “iVe” e representando por 2x a concentração de SO2 que reagiu, obtém-se:

c / mol dm-3 2 SO2(g) + O2(g) ⇌ 2 SO3(g)


inicial 9,00 × 10 - 2
5,00 × 10- 2 0
Variação - 2x -x + 2x
equilíbrio 9,00 × 10- 2 - 2x 5,00 × 10- 2 - x 2x

− 2
4,50​​ ×  ​10​​ ​
​​​​​​​​ [​SO​3​] ​ = 2  x = 4,50​​ ×  ​10​​ ​ ⇔ x = ​ _______________
− 2 − 2 − 3
= 2,25 ×  ​10​​ ​ mol dm​​ ​
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​  
2

QUÍMICA 11.º ANO EM REVISTA

11
2 Equilíbrio químico e extensão das reações químicas

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3.° Sabendo o valor de x, pode calcular-se a concentração de todos os intervenientes no equilíbrio e a cons-
tante de equilíbrio:
− 2 − 3
​​​​​​​​ [​SO​3​] ​ = 2  x = 4,50​​ ×  ​10​​ ​ mol dm​​ ​
− 2 − 2 − 2 − 2 − 3
​ [​O​2​] ​ = 5,00​​ ×  ​10​​ ​ − x = 5,00​​ ×  ​10​​ ​ − 2,25 ×  ​10​​ ​ =  2,75 ×  ​10​​ ​ mol dm​​ ​
− 2 − 2 − 2 − 2 − 3
​ [​SO​2​] ​ = 9,00​​ ×  ​10​​ ​ − 2 x = 9,00​​ ×  ​10​​ ​ − 2 × 2,25 × ​10​​ ​ = 4,50 × ​10​​ ​ mol dm​​ ​

​ [​SO​3]​ ​ ​ ​(4,50 × ​10​​ ​)​ ​


2 − 2 2

​ ​c​ = ​ ___________
K     ________________________
 ​ ⇔ ​   
    ​ = 36,4​
​ [​SO​2]​ ​ ​ × ​ [​O2​ ]​ ​ ​(4,50 × ​10​​ ​)​ ​ × ​(2,75 × ​10​​ ​)​
2 − 2 2 − 2

Como Kc, direta > 1, trata-se de uma reação extensa no sentido direto.

Quociente da reação
Um modo de determinar se um sistema está ou não em equilíbrio e, caso não esteja, prever o sen-
tido de evolução da reação até atingir o equilíbrio, consiste em comparar a constante de equilíbrio,
Kc, com o chamado quociente da reação, Q c. O valor do quociente de uma reação é obtido a partir de
uma expressão idêntica à da constante de equilíbrio, utilizando concentrações que podem ou não ser
as concentrações em equilíbrio.

O sistema evoluirá sempre de modo a que o valor de Q c se aproxime do valor de Kc, pelo que podem
ocorrer três situações:
• Se Q c < Kc, o sistema não está em equilíbrio. Para atingir o equilíbrio, a reação deve evoluir no
sentido direto, convertendo reagentes em produtos da reação (o denominador na expressão de Q c
diminui e o numerador aumenta) até Q c igualar o valor de Kc.
• Se Q c = Kc, o sistema está em equilíbrio e, portanto, as concentrações não variam (a reação direta e
a reação inversa ocorrem com a mesma velocidade).
• Se Q c > Kc, o sistema não está em equilíbrio. Para atingir o equilíbrio, os produtos da reação devem
formar reagentes, ou seja, a reação deve progredir no sentido inverso (o denominador na expressão
de Q c aumenta e o numerador diminui) até Q c igualar o valor de Kc.

EXEMPLO

A equação química seguinte traduz a reação de formação do trióxido de enxofre:


2 SO2(g) + O2(g) ⇌ 2 SO3(g)
A constante de equilíbrio dessa reação, a uma dada temperatura, é 7,8 × 105. Num dado instante, estão pre-
sentes 0,013 mol dm- 3 de SO2, 0,015 mol dm- 3 de O2 e 0,097 mol dm- 3 de SO3.

Nessas condições a reação irá progredir no sentido…:


1.° Determinando o valor de Q c, obtém-se:

​ [​SO​3​] ​ ​ ​ ​(0,097)​ ​
2 2

​​​​​​​​Q ​c​ = ​  _____________ ​ ______________


 ​ =      ​= 3,7 × ​10​​ ​
3
  
​ [​SO​2​] ​ ​ ​ × ​ [​O​2​] ​ (​ 0,013)​ ​ × 0,015
2 2

2.° Como Q c < Kc, para atingir um estado de equilíbrio o sistema irá deslocar-se no sentido direto aumen-
tando a concentração de produtos e diminuindo a concentração de reagentes de forma a aumentar Q c até
igualar o valor de Kc.

QUÍMICA 11.º ANO EM REVISTA

12
2 Equilíbrio químico e extensão das reações químicas

2.3 FATORES QUE ALTERAM O EQUILÍBRIO QUÍMICO

Sempre que se provoca uma perturbação no estado de equilíbrio a reação vai evoluir, num ou noutro
sentido, até que um novo estado de equilíbrio seja novamente estabelecido. Os fatores externos que
podem provocar perturbações ao estado de equilíbrio são:
• alteração da concentração de uma ou mais substâncias envolvidas no equilíbrio;
• alteração da pressão total de um sistema em fase gasosa;
• alteração da temperatura do sistema.

A alteração da concentração pode originar as seguintes perturbações:

Adição de reagente Remoção de produto Adição de produto Remoção de reagente


(denominador do (numerador do (numerador do (denominador do
Qc aumenta) Qc diminui) Qc aumenta) Qc diminui)

Qc passará a ser menor que Kc no momento da Qc passará a ser maior que Kc no momento da
perturbação e a reação evoluirá no sentido direto, ou perturbação e a reação evoluirá no sentido inverso, ou
seja, no sentido da formação dos produtos e do seja, no sentido da regeneração dos reagentes, até que Qc
consumo dos reagentes, até que Qc iguale o valor de Kc. iguale o valor de Kc.

Princípio de Le Châtelier
O Princípio de Le Châtelier afirma que se um sistema fechado em equilíbrio for submetido a uma
perturbação o equilíbrio desloca-se de modo a contrariar o efeito dessa perturbação.

Efeito da concentração:
• a adição de reagentes ou de produtos da reação desloca o equilíbrio no sentido de os consumir
parcialmente (tendendo a minimizar o efeito da adição) evoluindo, respetivamente, no sentido di-
reto ou no sentido inverso;
• a remoção de reagentes ou de produtos da reação desloca o equilíbrio no sentido de os repor par-
cialmente (tendendo a minimizar o efeito produzido) evoluindo, respetivamente, no sentido in-
verso ou no sentido direto.

Efeito do volume e da pressão:


As variações de volume afetam significativamente o estado de equilíbrio químico apenas quando um
ou mais reagentes ou produtos se encontram no estado gasoso e a reação ocorre em sistema fe-
chado. Os sólidos e os líquidos são praticamente incompressíveis. Quando o volume de um sistema
é alterado, é acompanhado de uma variação de pressão da mistura gasosa:
• um aumento de pressão, por diminuição de volume (aumento de número de choques), favorecerá
o sentido da reação que conduz a uma diminuição do número total de moléculas gasosas de forma
a contrariar a perturbação;
• uma diminuição da pressão, por aumento de volume (diminuição do número de choques), favore-
cerá o sentido da reação que aponta para o maior número total de moléculas gasosas, pois dessa
forma opõe-se à alteração introduzida.

NOTA

O estado de equilíbrio de um sistema químico descrito por uma equação química onde a soma dos coefi-
cientes estequiométricos das espécies gasosas é igual nos reagentes e nos produtos não é afetado por varia-
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ções de pressão.

QUÍMICA 11.º ANO EM REVISTA

13
2 Equilíbrio químico e extensão das reações químicas

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Efeito da temperatura:
• se a temperatura diminuir, a reação evolui no sentido de compensar essa diminuição, libertando
energia – favorece a reação exotérmica;
• se a temperatura aumentar, a reação evolui no sentido de compensar esse aumento, absorvendo
energia – favorece a reação endotérmica.
Nas modificações da posição de equilíbrio devido a variações da concentração ou da pressão, o valor
da constante de equilíbrio mantém-se, pois, a temperatura, a grandeza que afeta o valor da constante
de equilíbrio, permanece constante.
Quando um sistema químico em equilíbrio é perturbado por uma variação de temperatura, a evo-
lução do equilíbrio é acompanhada, simultaneamente, pela alteração do valor de Kc da reação.

Reações Reações
Kc endotérmicas Kc exotérmicas

O valor de Kc O valor de Kc
aumenta com diminui com
o aumento da o aumento da
temperatura. temperatura.

T T
Variação de Kc com a temperatura para reações endotérmicas e exotérmicas.
EXEMPLO

O dióxido de carbono pode ser utilizado para produzir metano, de acordo com a equação química seguinte:
CO2(g) + 4 H2(g)  ​⇌​  CH4(g) + 2 H2O(g) ∆H = - 165 kJ
Como aumentar a quantidade de metano produzido?
De acordo com o Princípio de Le Châtelier:
• uma diminuição da temperatura favorece a reação exotérmica, assim, sendo a reação direta exotérmica, a
diminuição da temperatura deslocará o equilíbrio no sentido direto, favorecendo a formação de metano,
logo o valor de Kc aumenta com a diminuição da temperatura;
• um aumento da pressão, deslocará o equilíbrio no sentido direto pois é o que conduz a uma diminuição do
número total de moléculas gasosas, favorecendo a formação de metano;
• a utilização de excesso de dióxido de carbono faz deslocar o equilíbrio no sentido direto, uma vez que a
adição de um reagente desloca o equilíbrio no sentido de o consumir parcialmente, assim é possível obter
uma maior quantidade de metano.

Equilíbrio químico e otimização de reações químicas


A implementação de um processo a nível industrial implica um estudo pormenorizado dos fatores
que afetam o grau de conversão dos reagentes nos produtos da reação, de forma a maximizar a pro-
dução da substância pretendida.

EXEMPLO

Em 1904, Fritz Haber conseguiu produzir amoníaco (NH3) à escala laboratorial, por combinação direta de
nitrogénio, N2, e hidrogénio, H2.
N2(g) + 3 H2(g) ⇌ 2 NH3(g) ∆H < 0
• Sendo uma reação exotérmica, a diminuição da temperatura favorece a formação de amoníaco, aumen-
tando a constante de equilíbrio da reação de síntese, no entanto, diminui a velocidade da reação;
• O uso de um catalisador de óxido de ferro permite otimizar o processo à temperatura de 500 ºC;
• Uma vez que a formação de amoníaco se traduz numa redução do número de moléculas gasosas, a reação
é também favorecida por um aumento de pressão - o processo de Haber-Bosch ocorre geralmente para
valores de pressão entre 2,0 ​×​ 107 Pa a 2,5 ​×​ 107 Pa, pois pressões mais elevadas tornariam o processo de-
masiado dispendioso.

QUÍMICA 11.º ANO EM REVISTA

14
DOMÍNIO
REAÇÕES EM SISTEMAS AQUOSOS
REAÇÕES ÁCIDO-BASE
SUBDOMÍNIO
4.

REAÇÕES DE OXIDAÇÃO-REDUÇÃO
SUBDOMÍNIO

5.

SOLUÇÕES E EQUILÍBRIO DE SOLUBILIDADE


SUBDOMÍNIO

6.

1.1 ÁCIDOS E BASES

Evolução histórica

Os ácidos e as bases começaram a desper- Lavoisier concluiu que o oxi- Ao analisar as soluções aquosas de
tar o interesse da comunidade científica a génio era o “elemento acidifi- um conjunto alargado de ácidos e de
partir de meados do século XVII com os cante” das substâncias ácidas, bases, Arrhenius concluiu que os áci-
trabalhos do químico alemão-holandês tendo sugerido que o oxigénio dos apresentavam um ião comum, H+,
Johann Rudolph Glauber. Reconheceu era o elemento comum a to- enquanto as bases apresentavam um
que os ácidos diferiam entre si pela força dos os ácidos. Acabou por anião comum, OH-. Desse modo, foi
com que o caráter ácido era manifestado e combinar duas palavras gregas possível propor uma definição para os
que os sais eram constituídos por duas oxýs + génos para formar o ácidos e bases tendo em consideração
partes, uma proveniente de um ácido e a nome oxigénio, que significa a composição química das substân-
outra de um metal ou de um óxido metá- “gerador de ácidos”. cias e o seu comportamento em água.
lico (alcali).

Johann Glauber Robert Boyle Antoine Lavoisier Humphry Davy e Pierre Dulong Svante Arrhenius Brönsted e Lowry
(1604-1670) (1627-1691) (1743-1794) (1778-1829) (1785-1838) (1859-1927) (1879-1947) (1874-1936)

Boyle enunciou, pela primeira vez, as ca- Davy e Dulong propuseram, Em 1923, Brönsted e Lowry
racterísticas de identificação de um ácido e ainda que vagamente, que apresentaram uma teoria
de uma base. Os ácidos, além do seu sabor fosse o hidrogénio o elemento mais ampla e baseada no
azedo, tinham excelente poder de solubili- acidificante, mas como nem facto da reação de ácido-
zação, apesar de corrosivos, e uma extraor- todos os hidrogénios são áci- -base envolver a transferên-
dinária capacidade para avermelhar a solu- dos, como acontece com o cia do ião hidrogénio entre
ção azul de tornesol. Por sua vez, as bases, metano (CH4), a proposta não duas substâncias.
além de serem amargas, eram escorregadias foi aceite.
ao tato, exibiam excelente poder de disso-
lução de óleos e gorduras, mudavam a cor
vermelha que o tornesol adquiria em meio
ácido para azul e podiam combinar-se com
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os ácidos, neutralizando-os.

QUÍMICA 11.º ANO EM REVISTA

15
1 Reações ácido-base

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Segundo a teoria de ácido-base de Arrhenius:
• Um ácido é uma substância que contém hidrogénio na sua composição e se dissocia em água para
formar o ião hidrogénio, H+.
• Uma base é uma substância que contém o anião OH– na sua composição e se dissocia em água
para formar o ião hidróxido, OH–.

EXEMPLO
​H​2​ O ​H​2​ O
     ​​  H+(aq) + Cℓ–(aq)
HCℓ(g) ​​ ⎯ →      ​​  Na+(aq) + OH–(aq)
NaOH(s) ​​ ⎯ →

De acordo com Arrhenius, a neutralização ocorre quando o ião hidrogénio, H+, proveniente do ácido,
e o ião hidróxido, OH–, proveniente da base, se combinam para formar a água, H2O.
H+(aq) + OH–(aq) → H2O(ℓ)

Segundo a Teoria de Brönsted e Lowry uma espécie ácida apenas doa o protão, H+, na presença de
uma base aceitadora desse protão, e vice-versa, de tal modo que as reações ácido-base são reações de
transferência de protões:
• Um ácido de Brönsted e Lowry é toda a espécie química (molecular ou iónica) capaz de ceder pro-
tões a uma outra.
• Uma base de Brönsted e Lowry é toda a espécie química capaz de captar protões.

EXEMPLO
+ +
​​H​   ​  ​​ ​​H​   ​  ​​
+ - - +
+ ​​​H​2​​O(ℓ)​​ ​​ ⇌ ​​NH​  4​ ​​(aq) + O​​H​​ ​​(aq)
​N​H​3​​(aq)​​ ​  + ​​​H2​ ​​O(ℓ)​​ ​​ → ​​Cℓ​​ ​​(aq) + ​​H3​ ​​​​​O​​ ​​(aq)
​HCℓ(g)​​ ​ 
Base Ácido Ácido Base
​  (aceitador
  ​​
​   (dador de​
​   
​  ​  (dador de​
​   
​  ​  ​  (aceitador
  ​​
​  
de protões) protões) protões) de protões)

1.2 ACIDEZ E BASICIDADE DE SOLUÇÕES

Autoionização da água
A autoionização da água é o processo pelo qual a água forma espontaneamente iões H3O+ e OH–, em
extensão reduzida, por transferência de um protão de uma molécula de água para outra.

A água atua como


ácido e como base

-
​​​H2​ ​​O(ℓ)​​ ​​ + ​​​H2​ ​​O(ℓ)​​ ​​ ⇌ H​
​​ 3​​​O​​ ​(aq)​ + O​​H​​ ​​​(aq)​ ∆H > 0
+

Ácido Base
(dador de​
​   
​  ​  ​  (aceitador
  ​​
​  
protões) de protões)

O produto iónico da água é o produto das concentrações dos iões H3O+ e OH-, a uma dada tempera-
tura. Corresponde à constante de equilíbrio da reação de autoionização da água.
Kw = [H3O+] [OH–] = 1,0 × 10–14, a 25 ºC

QUÍMICA 11.º ANO EM REVISTA

16
1 Reações ácido-base

De acordo com a estequiometria da autoionização da água (1:1), no caso em que a água é a única
fonte de proveniência dos iões, as concentrações dos iões H3O+ e OH– são iguais, o que permite a
determinação de cada uma delas no equilíbrio através de Kw.
_________
​Kw​ ​ = ​​ [​H​3​ O​ ]​  ​ ​ ⇔ ​ [​H3​ ​ O​ ]​  ​ = ​√
+ 2 + − 14 − 7 − 3
  1,0 × ​
  10​​ ​   = 1,0 × ​10​​ ​  mol ​dm​​ ​

​ [​H​3​ O​ ​] ​ = ​ [​OH​​ ​] ​ = 1,0 × ​10​​ ​ mol ​dm​​ ​  (a  25 ºC)


+ − − 7 − 3

Em soluções aquosas de ácidos ou de bases, as concentrações de equilíbrio dos iões H3O+ e OH– são
diferentes e inversamente proporcionais, pois o seu produto continua a ser igual a Kw.

Sendo a autoionização da água um processo endotérmico, segundo o Princípio de Le Châtelier, o


aumento de temperatura favorece o sentido direto, isto é, o sentido da formação dos produtos e con-
sumo dos reagentes, pelo que o produto iónico da água (Kw) aumenta com o aumento da tempera-
tura, aumentando também a extensão da reação.

Valores de Kw a diferentes temperaturas

T/ºC 0 10 20 25 30 40 50 60

Kw/× 10–14 0,11 0,29 0,68 1,01 1,47 2,92 5,47 9,61

Escala de pH de Sorensen
O pH de uma solução corresponde ao simétrico do expoente da potência de base 10 da concentração
de H3O+, expressa em mol dm–3, também designada concentração hidrogeniónica:
[H3O+] = 10-pH ⇔ pH = – log [H3O+]
Quando a concentração de H3O+ aumenta o pH diminui.
Tal como acontece com a concentração de catião oxónio, a concentração do anião hidróxido pode ser
expressa por notação logarítmica através do cálculo do pOH:
pOH = – log [OH–-]
Para qualquer solução aquosa:
pKw = pH + pOH
E à temperatura de 25 ºC, obtém-se:
pH + pOH = 14,00

Partindo dos valores de pH ou pOH, é possível calcular a ​ [​H​3​ O​ ​] ​ou ​ [​OH​​ ​] ​encontrando o antiloga-
+ −

ritmo do simétrico do pH e do pOH, pelo que, em conclusão:

[H3O+] [OH–] = 1,0 * 10–14


H3O+ OH–
pOH = – log[OH–]
pH = – log[H3O+]

[OH–] = 10–pOH
[H3O+] = 10–pH

pH pOH
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pH + pOH = 14,00

QUÍMICA 11.º ANO EM REVISTA

17
1 Reações ácido-base

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Na água, os catiões H3O+ e os aniões OH– apresentam a mesma concentração e um valor de pH e
pOH igual a 7,00 (a 25 ºC). Noutras soluções aquosas, quanto maior a [H3O+], menor a [OH–], menor
é o pH, maior é o pOH e mais ácida é a solução. Pelo contrário, o aumento da basicidade de uma
solução é acompanhado por um aumento da [OH–], pela diminuição da [H3O+], pela diminuição no
valor do pOH e por um aumento do valor de pH.

Assim, a 25 ºC:

Solução ácida Solução neutra Solução básica ou alcalina

pH < 7,00 pH = 7,00 pH > 7,00


pOH > 7,00 pOH = 7,00 pOH < 7,00
[H3O+] > [OH–] [H3O+] = [OH–] [H3O+] < [OH–]
+ -7 -3
+ –7
[H3O ] > 1,0 × 10  mol dm –3
[H3O ] = 1,0 × 10  mol dm [H3O ] < 1,0 × 10- 7 mol dm- 3
+

Aumento de acidez Neutro Aumento de basicidade

pH 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

[H3O+] 1,0 10–1 10–2 10–3 10–4 10–5 10–6 10–7 10–8 10–9 10–10 10–11 10–12 10–13 10–14

Uma vez que o produto iónico da água aumenta com o aumento da temperatura, aumentando as
concentrações dos iões H3O+ e OH- em solução, o aumento da temperatura origina uma diminuição
no valor do pH da água, embora esta continue neutra, uma vez que as concentrações dos iões H3O+
e OH- permanecem iguais entre si.

1.3 ÁCIDOS E BASES EM SOLUÇÕES AQUOSAS

Dissociação e Ionização

Dissociação Ionização
É o processo que ocorre quando uma substância iónica, É a reação de uma substância molecular (ácido ou base)
um sal ou uma base de Arrhenius se dissolve em água, com a água da qual resulta a formação de iões por transfe-
quebrando a sua estrutura cristalina e se separa em rência de protões.
catiões e aniões individuais rodeados por moléculas de
água.
Exemplos: Exemplos:
​H2​​ O(ℓ)
NaCℓ(s) ​​ ⎯  →  ​  ​ Na (aq) + Cℓ (aq) HCℓ(g) + H2O(ℓ) → Cℓ–(aq) + H3O+(aq)
+ –
  
​H​2​ O(ℓ)
NaOH(s)  ​​ ⎯ →  ​  ​Na (aq) + OH (aq) CH3COOH(aq) + H2O(ℓ) ⇌ CH3COO–(aq) + H3O+(aq)
+ –
  

Alguns ácidos, chamados ácidos polipróticos, podem transferir mais do que um protão quando se
ionizam. É o caso de uma solução aquosa de ácido sulfúrico em que o ácido cede dois protões à água:
2− +
​​​​​​​​H2​ ​ SO​4​ (ℓ )  + 2 ​H​2​ O(ℓ) ⇌ ​SO​ 4​  ​ (aq) + 2 ​H​3​ O​ ​ (aq)​

QUÍMICA 11.º ANO EM REVISTA

18
1 Reações ácido-base

A base amoníaco, substância molecular, sofre ionização quando dissolvida em água, formando os
iões amónio e hidróxido:
Par conjugado ácido-base

H+ ácido 2 H+ base 2

NH3(aq) + H2O(L) — NH4+(aq) + OH–(aq)


base 1 ácido 1

Par conjugado ácido-base

As duas espécies que na reação química estão relacionadas pela perda e ganho de um protão consti-
tuem um par conjugado ácido-base. No caso do exemplo anterior, os pares conjugados ácido-base
envolvidos são:
+ −
​​​​​​​​NH​ 4​   /  ​NH​3​  e H​2​ O / OH​​ ​

Note-se que na representação do par conjugado ácido-base (​ HA / ​A​ ​)​surge primeiro a forma ácida​


HA​e só depois a forma básica ​A​ ​, que resulta da primeira por perda de um protão.

Uma espécie química anfotérica é uma espécie que, segundo a teoria de Brönsted e Lowry, tanto
pode funcionar como ácido ou como base, por ter a capacidade de ceder ou captar protões, depen-
dendo do comportamento ácido-base da partícula com que reage. A água é um exemplo de uma es-
pécie anfotérica.

Força de ácidos e bases


Para a ionização de um ácido genérico ​HA​, representada pela equação química:
​​​​HA(aq)  + ​H​2​ O(ℓ) → ​A​−​ (aq) + ​H​3​ O+​ ​ (aq)​

a constante de equilíbrio, designada constante de acidez, Ka, é dada por:


​  [​A​​ ​] ​​  ​  [​H3​ ​​​O​​ ]​  ​
− +

​​ ​a​​  = ​  _
K  ​​   
​  [HA] ​
O valor numérico de Ka é uma medida quantitativa da força do ácido.

Solução aquosa de um ácido forte Solução aquosa de um ácido fraco


As concentrações de equilíbrio de H3O+ e da base con- As concentrações de equilíbrio de H3O+ e da base conju-
jugada são muito superiores à concentração de equi- gada são muito inferiores à concentração de equilíbrio do
líbrio do ácido e, por isso, o valor de Ka é muito ácido e, por isso, o valor de Ka é muito pequeno. A ioni-
elevado. Nestes casos, a reação que ocorre no sen- zação do ácido é parcial e a reação direta é pouco extensa
tido direto é tão extensa que a ionização do ácido é estando todas as espécies presentes num equilíbrio repre-
considerada completa ou total, pelo que a respetiva sentado na equação química pela dupla meia seta ​(⇌)​​.
equação química deve ser escrita com uma única seta
para a direita ​(→)​​.

Exemplos: HBr; H2SO4; HCℓ; HNO3 Exemplos: HCN; CH3COOH; HF; HNO2

EXEMPLO

Extensão da
Ionização do ácido Ka Força do ácido
ionização
HCℓ(g) + H2O(ℓ) → Cℓ-(aq) + H3O+(aq) Elevado Forte Muito extensa
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CH3COOH(aq) + H2O(ℓ) ⇌ CH3COO–(aq) + H3O+(aq) 1,8 × 10–5 Fraco Pouco extensa

QUÍMICA 11.º ANO EM REVISTA

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1 Reações ácido-base

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Tal como os ácidos, as bases também podem ser fortes ou fracas, conforme se dissociam ou ioni-
zam total ou parcialmente em água. Para a ionização da base genérica B, representada pela equa-
ção química:
B(aq) + H2O(ℓ) ​⇌​ BH+(aq) + OH–(aq)

A expressão da constante de basicidade, Kb, será:


​  [​BH​​ ]​ ​​  ​  [​OH​​ ​] ​
+ −
​​Kb​ ​​  = ​  ___________  ​​   
​  [B] ​

EXEMPLO

Extensão
Dissociação/ionização da base Kb Força da base
da reação
​H​2​O(ℓ)
NaOH(s) ​​ ⎯ →
     ​ ​ Na+(aq) + OH–(aq) Elevado Forte Muito extensa

NH3(aq) + H2O(ℓ) ⇌ ​​NH​  +4​ ​​(aq) + OH–(aq) 1,8 × 10–5 Fraca Pouco extensa

• Um ácido ou uma base são considerados fracos quando se verifica que Ka << 1 ou Kb << 1, respe-
tivamente.
• Os termos forte e fraco não estão associados à reatividade química do ácido ou da base, mas apenas
à extensão da sua ionização ou dissociação. Por exemplo, um ácido fraco também pode ter efeito
corrosivo se a sua concentração for elevada pois, nessas circunstâncias, o pH da solução pode ser
suficientemente baixo.
• As soluções de ácidos fracos têm valores de pH mais elevados do que os das soluções de ácidos
fortes de igual concentração.

Cálculo do pH de soluções aquosas de ácidos fortes ou de bases fortes


Ácidos e bases fortes possuem elevados valores de Ka e Kb, pelo que sofrem uma ionização/dissocia-
ção quase total em água e, por isso, as quantidades de equilíbrio de catião oxónio ou de anião hidró-
xido são iguais, respetivamente, às quantidades iniciais de ácido ou de base.
EXEMPLO

Cálculo do pH de uma solução aquosa de hidróxido de sódio, NaOH, 0,136 mol dm- 3, a 25 ºC:
​H​2​ O(ℓ)
  →
NaOH(s) ​​ ⎯    ​ ​ Na+(aq) + OH–(aq)

Como, em água, o hidróxido de sódio é uma base forte a dissociação é total dando origem a OH– numa pro-
porção de 1:1.
n(OH–) = n(NaOH)

Assim, desprezando o efeito da autoprotólise da água, a concentração obtida de anião hidróxido para a solu-
ção diluída é numericamente igual à concentração de hidróxido de sódio nessa solução:
[OH–] = [NaOH] = 0,136 mol dm–3
pOH = – log [OH-] ⇒ pOH = – log (0,136) = 0,866
14,00 = pH + pOH ⇒ pH = 14,00 – 0,866 = 13,13

Cálculo do pH de soluções aquosas de ácidos fracos ou de bases fracas.


O pH de uma solução de um ácido fraco ou de uma base fraca a uma dada temperatura pode ser
determinado desde que se conheça a constante de acidez ou a constante de basicidade a essa tempe-
ratura e vice-versa. Como se trata de equilíbrio químico, este tipo de problemas pode ser resolvido
recorrendo às tabelas “iVe”.

QUÍMICA 11.º ANO EM REVISTA

20
1 Reações ácido-base

EXEMPLO

Cálculo do pH de uma solução aquosa de amoníaco, NH3, 0,136 mol dm–3, a 25 ºC:


Desprezando o efeito da autoprotólise da água:
+
c/mol dm-3 NH3(aq) + H2O(ℓ) ⇌ ​​NH​  4 ​​(​  aq) + OH-(aq)
inicial 0,136 – 0 ≈0
Variação -x – +x +x
equilíbrio 0,136 – x – x x

​ [​NH​ 4​ ] ​ ​ [​OH​​ ​] ​
+ − 2
​​​​​​​​Kb​ ​ = ​ ___________  ⇒  1,8  ×  ​10​​ ​  = ​ _________
− 5  x ​ ​ ​ − 5 − 6
⇔ ​x​  ​ + 1,8  ×  ​10​​ ​ x − 2,4  ×  ​10​​ ​ = 0 ⇔
2
     ​      ​  
​ [​NH​3​] ​ 0,136 − x 
− 3 − 3
⇔ x = − 1,6  ×   ​10​​ ​ ∨ x = 1,5  ×  ​10​​ ​

Note-se que apenas o valor positivo tem significado, pois não existem concentrações negativas.
− − 3 − 3
​​​​ ​ [​OH​​ ​] ​ = x =  1,5  ×  ​10​​ ​  mol  ​dm​​ ​
− 14
​ ​  =  ​ [​H3​ ​ O​ ​] ​ ​ [​OH​​ ​] ​  ⇒  ​ [​H3​ ​ O​ ​] ​  =  ​ ____________
+ − + 1,0  ×  ​10​​ ​ − 12
​KW − 3
 ​ 
  =  6,7  ×  ​10​​ ​
1,5  ×  ​10​​ ​
​pH  =  −  log ​ [​H3​ ​ O​ ​] ​  ⇒  pH  =  −  log (6,7  ×  ​10​​ ​ ) = 11,17​
+ − 12

O pH desta solução é inferior ao pH da solução de NaOH do exemplo anterior pois, apesar de possuírem a
mesma concentração, sendo o hidróxido de sódio uma base mais forte origina uma maior concentração de
anião hidróxido em solução.

Relação entre o Ka de um ácido e o Kb da sua base conjugada


Para uma dada temperatura, o produto da constante de acidez de um ácido pela constante de basici-
dade da sua base conjugada é igual ao produto iónico da água:
​​​​​​​​Ka​​  ​Kb​ ​= ​KW
​​

Quanto mais forte é o ácido (maior Ka), mais fraca é a base conjugada (menor Kb) e vice-versa. Assim:
• A base conjugada de um ácido muito forte será muito fraca, não apresentando qualquer tendência
para reagir com a água;
• A base conjugada de um ácido muito fraco será muito forte, reagindo de forma completa com a
água, pelo que não existe em solução aquosa;
• A base conjugada de um ácido fraco será igualmente fraca, mas, dentro dos fracos, quanto mais
forte for o ácido mais fraca será a base conjugada.

1.4 ACIDEZ E BASICIDADE EM SOLUÇÕES AQUOSAS DE SAIS

Sal constituído por Exemplo Solução aquosa de caráter


Catião de uma base forte/
NaCℓ(s) → Na+(aq) + Cℓ–(aq) Neutro
anião de um ácido forte
+
Catião de uma base fraca/ NH4Cℓ(s) → ​NH​ 4​ (aq) + Cℓ–(aq)
+ Ácido
anião de um ácido forte ​​​​​​​​NH​ 4​ ​(aq) + H2O(ℓ) ⇌
​ ​  NH3(aq) + H3O+(aq)
Catião de uma base forte/ NaCH3COO(s) → Na+(aq) + CH3COO–(aq)
Básico
anião de um ácido fraco CH3COO-(aq) + H2O(ℓ) ​⇌​ CH3COOH(aq) + OH–(aq)
+
​NH​4​ HCO​3​ (aq) → ​NH​ 4​  (aq) + ​HCO​ −3​ ​ (aq)​ Neutro, se Ka = Kb
Catião de uma base fraca/ +
​NH​  ​ ​(aq) + H2O(ℓ) ⇌
​ ​ NH3(aq) + H3O (aq) +
Ácido, se Ka > Kb
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4
anião de um ácido fraco
​​​​​​​​HCO​ −3​ ​​(aq) + H2O(ℓ) ​⇌​ H2CO3(aq) + OH–(aq) Básico, se Ka < Kb

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1 Reações ácido-base

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EXEMPLO

• KBr, NaCℓO4 e Ca(NO3)2 são exemplos de sais que originam soluções aquosas neutras.
• NH4Cℓ, NH4Br e N2H5Cℓ são exemplos de sais que originam soluções aquosas ácidas.
• NaNO2, Ca(CH3COO)2 e KF são exemplos de sais que originam soluções aquosas básicas.
• NH4F, NH4CH3COO ou NH4NO2 são exemplos de sais em que o catião é um ácido conjugado de uma base
fraca e o anião é uma base conjugada de um ácido fraco, pelo que ambos reagem com a água dependendo
o caráter ácido ou base da extensão dessas reações.

1.5 TITULAÇÃO ÁCIDO-BASE

Reações ácido-base
Da reação, em meio aquoso, entre um ácido e uma base, em proporções estequiométricas obtém-se
um sal e água (no caso de se tratar de uma base de Arrhenius).

EXEMPLO

Solução aquosa + Solução aquosa → Solução aquosa + Água


de um ácido de uma base de um sal
HCℓ NaOH NaCℓ H2O

A neutralização corresponde à reação entre os iões H3O+ e OH- durante uma reação ácido-base.

Quando se misturam quantidades estequiométricas de uma solução aquosa de um ácido forte com
uma solução aquosa de uma base forte obtém-se uma solução aquosa neutra de um sal e água, logo
pH = 7, a 25 ºC.

Das reações de neutralização entre ácidos e bases de forças diferentes, em condições estequiométri-
cas, resultam soluções aquosas de sais com pH diferente de 7, a 25 ºC:

Reação ácido fraco – base forte Reação ácido forte – base fraca Reação ácido fraco - base fraca
– ocorre a neutralização com – o corre a neutralização com – o corre a neutralização com
formação de H2O; formação de H2O; formação de H2O;
– forma-se uma solução aquosa de – forma-se uma solução aquosa de – forma-se uma solução aquosa de
um sal com carácter básico. um sal com carácter ácido. um sal, que poderá ser ácida,
básica ou neutra.

Titulação ácido-base e determinação do ponto de equivalência

Uma titulação ácido-base é um procedimento de análise química que permite determinar a concen-
tração desconhecida de um ácido (ou base) em solução através da reação de neutralização com outra
solução de uma base (ou ácido) e cuja concentração é rigorosamente conhecida. A solução de con-
centração conhecida, que é adicionada em pequenos incrementos a partir da bureta, designa-se titu-
lante e a solução à qual se adiciona o titulante e que está contida num balão de Erlenmeyer, designa-
-se titulado.

O ponto de equivalência, numa titulação ácido-base, atinge-se quando as quantidades de ácido e base
estão nas proporções estequiométricas da reação de neutralização, evidenciadas pela respetiva equa-
ção química. Numa titulação ácido forte - base forte corresponde a pH = 7, a 25 ºC.

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22
1 Reações ácido-base

O ponto final de uma titulação é o ponto de interrupção de uma titulação ácido-base e que é assina-
lado pela mudança brusca de cor do indicador. Em geral, difere do ponto de equivalência, mas é
imperativo que sejam tão próximos quanto possível. Um indicador ácido-base é um indicador colo-
rimétrico constituído por um ácido fraco ou uma base fraca em que o par conjugado ácido-base
apresenta cor diferente.
par conjugado

+ H2O(ℓ) ⇌ ​​H3​ ​​​O​​ ​(aq)​ + ​In-(aq)​


+
​HIn(aq)​
​ ​  ​ ​ 
cor 1 cor 2

Registando o pH da solução titulada em função do volume de titulante adicionado no decorrer de


uma titulação ácido-base é possível construir um gráfico que evidencie a variação do pH designado
curva de titulação.

Tipo de
ácido forte – base fraca ácido forte – base forte ácido fraco – base forte
titulação

pH no ponto
de <7 =7 >7
equivalência

Entidade que
origina o pH ácido conjugado base conjugada do
autoionização da água
no ponto de da base fraca ácido fraco
equivalência
pH
pH pH
13 13 13 Ponto de
equivalência
Ponto de
equivalência
Exemplo de
7 7 7
curva de Ponto de
titulação equivalência

1 1 1
0 5 10 0 5 10 0 5 10
Vtitulante / mL Vtitulante / mL Vtitulante / mL

O ponto de equivalência corresponde, mais exatamente, ao ponto de inflexão da curva de titulação,


que é o ponto onde se observa a mudança do sentido da concavidade da curva de titulação. Junto ao
ponto de equivalência, a curva de titulação apresenta uma variação bastante brusca de pH. O valor
das ordenadas do ponto de equivalência corresponde ao valor de pH da solução do sal resultante da
reação de neutralização, enquanto o valor das abcissas corresponde ao volume de titulante necessá-
rio para que ocorra a neutralização nas condições estequiométricas. É esse valor que permite deter-
minar a concentração desconhecida numa titulação ácido-base.

EXEMPLO

Para titular 20 cm3 de uma solução de um ácido forte genérico HA, consumiu-se 25 cm3 de uma solução
padrão de hidróxido de sódio, NaOH, 0,096 mol dm- 3.
Para determinar a concentração desconhecida do ácido HA na solução aquosa inicial deve-se:
1.° Escrever as equações químicas que traduzem a ionização do ácido HA, a dissociação do NaOH e a reação
de neutralização:
HA(ℓ) + H2O(ℓ) → H3O+(aq) + A–(aq) H3O+(aq) + OH–(aq) → 2 H2O(ℓ)
NaOH(s) → Na+(aq) + OH–(aq)

2.° Calcular a quantidade de matéria de NaOH consumida:


c = __
n
​   ​ ⇔ ​n(NaOH) = 0,096 × 25 × 10–3 = 2,4 × 10–3 mol
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23
1 Reações ácido-base

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3.° Calcular a quantidade de matéria de OH–:
n(OH–) = n(NaOH) = 2,4 × 10–3 mol

4.° C
 alcular a concentração de HA na solução aquosa inicial:
n ​(HA)​ ___________
− 3
​​​​​​​​ [HA] ​ = ​ ______
2,4 × ​10​​ ​
n(H3O+) = n(OH–) = 2,4 × 10–3 mol     = ​ 
​   − 3

 ​ 
V 20 × ​10​​ ​
- 3​​
n(HA) = n(H3O+) = 2,4 × 10–3 mol ⇔ ​ [HA] ​ = 0,12  mol  ​dm​​ ​

1.6 ASPETOS AMBIENTAIS DAS REAÇÕES ÁCIDO-BASE

A chuva normal apresenta um valor de pH de cerca de 5,6, devido à dissolução do dióxido de carbono
presente na atmosfera, que origina ácido carbónico em água.
CO2(g) + H2O(ℓ) ​⇌​  H2CO3(aq)
O ácido carbónico é um ácido fraco que se ioniza parcialmente em água, provocando o aumento da
concentração de H3O+ na água da chuva.
H2CO3(aq) + H2O(ℓ) ​⇌​ ​​HCO​ −3​ ​​(aq) + H3O+(aq)
A reação global é traduzida pela equação:
CO2(g) + 2 H2O(ℓ)  ​⇌​ ​​HCO​ −3​ ​​(aq) + H3O+(aq)
A chuva ácida é caracterizada por apresentar um valor de pH inferior a 5,0, devido à presença de
poluentes antropogénicos na atmosfera.
Os principais poluentes, de origem natural ou antropogénica, responsáveis pela chuva ácida são os
óxidos de nitrogénio (NO e NO2), que dão origem ao ácido nítrico, e os óxidos de enxofre (SO2 e SO3),
que dão origem ao ácido sulfúrico, ácidos fortes que se ionizam completamente em água aumen-
tando a concentração de catiões oxónio.

A emissão destes gases poluentes pode ser reduzida:

• utilizando conversores catalíticos nos gases de • instalando filtros nas chaminés das indústrias e
escape dos veículos motorizados, que convertem centrais produtoras de energia, humedecidos com
cerca de 90% dos gases nocivos libertados a gases substâncias alcalinas que fazem a retenção química
menos prejudiciais através de reações químicas dos gases prejudiciais emitidos:
catalisadas por metais:
CaO(s) + SO2(g) → CaSO3(s)
CO(g) + ​__
​ 1 ​​ O2(g) → CO2(g)
2 Ca(OH)2(s) + SO2(g) → CaSO3(s) + H2O(ℓ)
2 NO2(g) → N2(g) + 2 O2(g) CaCO3(s) + SO2(g) → CaSO3(s) + CO2(g)

Os monumentos de calcário e mármore, materiais essencialmente constituídos por carbonato de


cálcio, são facilmente atacados pelos ácidos nítrico e sulfúrico presentes na chuva ácida, uma reação
ácido-base em que se liberta dióxido de carbono.

• Equações químicas que traduzem a ação do ácido sulfúrico sobre o calcário:


H2SO4(ℓ) + H2O(ℓ) → ​​HSO​ −4​ ​​(aq) + H3O+(aq)
CaCO3(s) + ​​HSO​ −4​ ​​(aq) + H3O+(aq) → CaSO4(s) + CO2(g) + 2 H2O(ℓ)

• Equações químicas que traduzem a ação do ácido nítrico sobre o calcário:


HNO3(ℓ) + H2O(ℓ) → ​​NO​ −3​ ​​(aq) + H3O+(aq)
CaCO3(s) + 2 H3O+(aq) → Ca2+(aq) + CO2(g) + 3 H2O(ℓ)

QUÍMICA 11.º ANO EM REVISTA

24
DOMÍNIO
REAÇÕES EM SISTEMAS AQUOSOS
REAÇÕES ÁCIDO-BASE
SUBDOMÍNIO
7.

REAÇÕES DE OXIDAÇÃO-REDUÇÃO
SUBDOMÍNIO

8.

SOLUÇÕES E EQUILÍBRIO DE SOLUBILIDADE


SUBDOMÍNIO

9.

2.1 CARACTERIZAÇÃO DAS REAÇÕES DE OXIDAÇÃO-REDUÇÃO

Oxidantes e redutores
Inicialmente, o termo oxidação significava “combinação com o oxigénio” e o termo redução signifi-
cava “remoção do oxigénio”. Após a descoberta dos eletrões, concluiu-se que o que está em causa é a
perda e o ganho de eletrões. Assim:
• a oxidação corresponde a um processo no qual uma espécie química cede eletrões;
• a redução corresponde a um processo no qual uma espécie química ganha eletrões.

Uma oxidação é sempre acompanhada de uma redução, uma vez que uma espécie química só pode
captar eletrões se existir outra que os ceda. Por isso, uma reação de oxidação-redução ou, mais sim-
plesmente, reação redox, pode ser definida como uma reação de transferência de eletrões de uma
espécie para outra.

Durante uma reação de oxidação-redução:


• a espécie que tem tendência para ganhar eletrões sofrendo redução designa-se espécie química
reduzida. Ao captar esses eletrões à outra espécie, provocando a sua oxidação, a espécie reduzida
atua como agente oxidante;
• a espécie que tem tendência para ceder eletrões, sofrendo oxidação, é a espécie química oxidada
que, provocando a redução da outra espécie, funciona como agente redutor.

EXEMPLO
Redução
Reação entre o zinco e o cloro com formação
de cloreto de zinco. reduzido a
Pares de oxidação-redução:
(Cℓ2/Cℓ–) e (Zn2+/Zn). Zn(s) + C’2(g) Zn2+(aq) + 2 C’–(aq)
Semiequação de redução:
Cℓ2(g) + 2 e– → 2 Cℓ–(aq) oxidado a
Semiequação de oxidação:
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Zn(s)  → Zn2+(aq) + 2 e– Oxidação

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25
2 Reações de oxidação-redução

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A semiequação de oxidação e a semiequação de redução apresentam, de forma explícita, os eletrões
envolvidos. As semirreações ocorrem em simultâneo durante o processo e a sua soma é igual à rea-
ção global.
Cada uma das semiequações evidencia também um par conjugado de oxidação-redução, represen-
tado na forma oxidante/redutor.

Números de oxidação
O estado de oxidação é uma medida do grau de oxidação de um átomo de um elemento químico
numa substância, quantificado pelo número de oxidação desse átomo na referida substância.
O número de oxidação (n.o) é um número inteiro, positivo ou negativo, atribuído a um elemento de
uma molécula ou ião e que representa a carga que o átomo desse elemento teria se os seus eletrões
compartilhados fossem atribuídos ao átomo que os atrai mais fortemente.

Regras para atribuição do número de oxidação:

Regras Gerais Exemplo

1. Para os elementos em substâncias elementares n.o. = 0 Zn → n.o.(Zn) = 0;


O2 → n.o.(O) = 0;
Cℓ2 → n.o.(Cℓ) = 0;
P4 → n.o.(P) = 0
2. P ara os elementos em iões monoatómicos n.o. = z, em que z é a carga Li+ → n.o.(Li) = + 1;
do ião. Ba2+ → n.o.(Ba) = + 2;
Aℓ3+ → n.o.(Aℓ) = + 3;
Br- → n.o.(Br) = - 1;
3. A
 soma dos números de oxidação dos átomos de uma molécula ou H2S → n.o.(H) = + 1
qualquer unidade estrutural neutra é igual a zero. n.o.(S) = - 2
2 × n.o.(H) + n.o.(S) = 0

​SO​  4​  ​​ → n.o.(O) = - 2


2-
4. A
 soma dos números de oxidação dos átomos de um ião poliatómico é
igual à carga do ião. n.o.(S) = + 6
n.o.(S) + 4 × n.o.(O) = - 2

Regras específicas para alguns elementos e grupos da Tabela Periódica

1. 
Para os elementos do grupo 1, excetuando o hidrogénio:
n.o. = + 1, em todas as substâncias compostas
2. Para os elementos do grupo 2: n.o. = + 2, em todas as substâncias compostas
3. Para os elementos do grupo 17 (à exceção do flúor):
n.o. = - 1, em todas as substâncias compostas, com exceção dos compostos onde se combinam com o oxigénio
ou com outros halogéneos de número atómico inferior
4. Para o flúor: n.o. = - 1, em todas as substâncias compostas
5. Para o hidrogénio:
n.o. = - 1, em combinação com metais e boro, formando hidretos
n.o. = + 1, nas restantes substâncias compostas
6. Para o oxigénio:
n.o. = - 1, nos peróxidos
n.o. = - 2, nas restantes substâncias compostas, com exceção dos compostos onde se combina com flúor

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26
2 Reações de oxidação-redução

O estado de oxidação e as reações de oxidação-redução


Uma reação química em que se observa uma variação dos estados de oxidação de um ou mais ele-
mentos é uma reação que envolve uma transferência de eletrões entre os reagentes, sendo designada
por reação de oxidação-redução.

EXEMPLO

• Agente redutor (elemento hidrogénio): Redução


o seu n.o aumenta → perde eletrões → sofre reduzido a
oxidação → é a espécie oxidada → provoca a
redução do agente oxidante.
• Agente oxidante (elemento oxigénio): 2 H2(g) + O2(g) 2 H2O(g)
o seu n.o diminui → ganha eletrões → sofre n.o. (0) (0) (+1) (–2)
redução → é a espécie reduzida → provoca a Agente Agente
oxidação do agente redutor. redutor oxidante

oxidado a

Oxidação

2.2 FORÇA RELATIVA DE OXIDANTES E REDUTORES

Série eletroquímica
Para que uma reação de oxidação-redução ocorra com uma extensão apreciável terão que estar presen-
tes, entre os reagentes, o redutor mais forte e o oxidante mais forte de dois pares oxidante/redutor.

EXEMPLO

Colocando fita de magnésio numa solução de


Redução
sulfato de cobre(II), ocorre uma reação que pode
ser traduzida por: reduzido a

Mg(s) + Cu2+(aq) Mg2+(aq) + Cu(s)


n.o. (0) (+2) (+2) (0)
Agente Agente
redutor oxidante

oxidado a

Oxidação

Conclui-se que:
• O catião Cu2+ é um oxidante mais forte do que o catião Mg2+, ou seja, o catião Cu2+ aceita mais facilmente
eletrões que o catião Mg2+.
• O Mg é um redutor mais forte do que o Cu, o que significa que o magnésio cede mais facilmente eletrões
do que o cobre.

Colocando fio de cobre numa solução de cloreto de magnésio, não se observam alterações - não ocorre reação.
Conclui-se que:
- O oxidante Mg2+ não tem força suficiente para oxidar espontaneamente o Cu.
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- O Cu não é um redutor capaz de reduzir espontaneamente o catião Mg2+.

QUÍMICA 11.º ANO EM REVISTA

27
2 Reações de oxidação-redução

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A série eletroquímica é uma tabela onde se encontram ordenadas diversas espécies químicas em
função do seu poder oxidante/redutor. É um instrumento útil pois permite prever se uma determi-
nada reação de oxidação-redução ocorre de forma espontânea sem ser necessário proceder à sua ob-
servação experimental.

Um redutor é mais forte quando apresenta


maior tendência para ceder eletrões.

Oxidante mais fraco Redutor mais forte

2e– + Sn2+ Sn

Quanto maior o
2e– + Pb2+ Pb
poder oxidante
menor é o poder
redutor do seu 2e– + 2 H+ H2
conjugado e
vice-versa.
2e– + Cu2+ Cu

Oxidante mais forte Redutor mais fraco

Um oxidante é mais forte quando tem


maior tendência para aceitar eletrões.

As setas coloridas sobre o extrato da série eletroquímica indicam o sentido em que se prevê a ocor-
rência espontânea da reação de oxidação-redução. Por exemplo, o estanho, Sn, sofrerá oxidação na
presença do catião cobre, Cu2+, que, simultaneamente, sofrerá redução.

Reação ácido-metal
Uma reação ácido-metal, é uma reação de oxidação-redução, em que o agente redutor é o metal e o
agente oxidante é o ião hidrogénio, H+, proveniente do ácido. Quando um metal é oxidado pelo H+,
há libertação de hidrogénio, H2.

A série eletroquímica permite identificar os elementos metálicos que podem ser oxidados pelo ião
H+ de um ácido. Apenas os metais que exibem um poder redutor superior ao do H2 são capazes de
reagir espontaneamente com os ácidos, reduzindo o H+ a H2 ao mesmo tempo que são oxidados ao
respetivo catião metálico.

Poder redutor aumenta

Reatividade aumenta

Au < Hg < Ag < Cu < H2 < Pb < Sn < Ni < Fe < Cr < Zn < Aℓ < Mg < Na < Ca < K < Li

Não reagem Reagem


com ácido com ácido

QUÍMICA 11.º ANO EM REVISTA

28
2 Reações de oxidação-redução

EXEMPLO

Mergulhando um fio de cobre e uma fita de magnésio em dois tubos de ensaio diferentes, contendo cada
um uma solução aquosa de ácido clorídrico, verifica-se que apenas o magnésio reage com o ácido. Além da
corrosão do magnésio, que provoca o seu consumo, observa-se a formação de pequenas bolhas de hidrogé-
nio à superfície da fita.
Redução
reduzido a
Mg(s) + 2 H+(aq) Mg2+(aq) + H2(g)
n.o. (0) (+1) (+2) (0)
Agente Agente
redutor oxidante
oxidado a
Oxidação

Corrosão de metais
A oxidação dos metais, pela ação conjunta de diversas substâncias existentes no meio ambiente, é
vulgarmente conhecida por corrosão. Conforme se pode constatar através da série eletroquímica, são
poucos os metais que escapam à forte ação oxidante do oxigénio, a segunda substância mais abun-
dante na atmosfera terrestre. Além disso, como são vários os metais com um poder redutor superior
ao hidrogénio, também a chuva ácida favorece a corrosão dos metais, causando prejuízos incalculá-
veis em muitas estruturas metálicas.

EXEMPLO

A corrosão (enferrujamento) do ferro e das suas ligas é uma transformação química que depende das condi-
ções ambientais e que culmina na formação de um composto iónico com coloração castanho-avermelhado,
o óxido de ferro(III) hidratado, vulgarmente designado de ferrugem.
A formação de ferrugem só ocorre na presença do ar em meios húmidos, podendo ainda ser favorecida em
meios ácidos.
A equação química global que pode, de forma muito simplificada, representar a corrosão do ferro evidencia
o processo de oxidação-redução que ocorre:
Redução

reduzido a

4 Fe(s) + 3 O2(g) 2 Fe2O3(s)


n.o. (0) (0) (+3) (–2)
Agente Agente
redutor oxidante

oxidado a
Oxidação

São várias as técnicas que inibem ou previnem a corrosão:

Galvanoplastia Proteção anódica Proteção catódica


Consiste em revestir o metal a O metal é intencionalmente O metal é colocado em contacto
proteger com um filme metálico oxidado para que se forme uma com outro de maior poder redutor,
impenetrável, de outro metal com camada fina e aderente de óxido na que sofre a oxidação.
menos tendência para se oxidar. sua superfície, que vai impedir a
continuação da corrosão.
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Exemplo: Ferro em banho de ouro. Exemplo: Alumínio anodizado. Exemplo: Ferro coberto com zinco.

QUÍMICA 11.º ANO EM REVISTA

29
DOMÍNIO

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REAÇÕES EM SISTEMAS AQUOSOS
REAÇÕES ÁCIDO-BASE
SUBDOMÍNIO

10.

REAÇÕES DE OXIDAÇÃO-REDUÇÃO
SUBDOMÍNIO

11.

SOLUÇÕES E EQUILÍBRIO DE SOLUBILIDADE


SUBDOMÍNIO

12.

3.1 MINERALIZAÇÃO DAS ÁGUAS

Composição química da água do mar


A composição química atual da água do mar resultou da dissolução de inúmeras espécies químicas,
ao longo do tempo, nomeadamente, sais e gases.

A água do mar é salgada devido à quantidade relativamente elevada de sais minerais dissolvidos
(mais de 3%), em especial cloreto de sódio.

Além do cloreto de sódio, os principais sais dissolvidos na água do mar são o cloreto de magnésio, o
sulfato de magnésio, o sulfato de cálcio e o cloreto de potássio.

Chama-se salinidade à massa de resíduo seco, expressa em gramas por quilograma de água do mar.
Nos oceanos é aproximadamente igual a 35 g kg–1, o que significa que existem cerca de 35 g de sais
dissolvidos por cada kg de água do mar.

Os principais gases dissolvidos na água do mar são o oxigénio e o dióxido de carbono. Embora o ni-
trogénio seja o gás mais abundante na atmosfera, a quantidade dissolvida na água do mar é muito
reduzida porque é pouco solúvel em água.

A solubilidade do dióxido de carbono em água é superior à da generalidade dos gases pelo facto de
reagir quimicamente com a água de acordo com a equação química seguinte:
CO2(aq) + 2 H2O(ℓ)  ​⇌​ ​​HCO​ −3​ ​​(aq) + H3O+(aq)
ou
H2CO3(aq) + H2O(ℓ)  ​⇌​ ​​HCO​ −3​ ​​(aq) + H3O+(aq)

Processo de dissolução
O processo de dissolução corresponde à mistura espontânea de duas substâncias distribuídas por
duas fases distintas, o soluto e o solvente, com a formação de uma fase única homogénea, a solução.

QUÍMICA 11.º ANO EM REVISTA

30
3 Soluções e equilíbrio de solubilidade

A água, de uma maneira


geral, dissolve facilmente
substâncias iónicas.

Durante o processo de dissolução em


água ocorre a formação de novas intera-
ções entre o soluto e o solvente. Os ca-
tiões são atraídos pelo átomo de oxigé-
nio da molécula de água e os aniões
+ pelos átomos de hidrogénio. Cada ião
atrai várias moléculas de água que se
H d+
O H
congregam em seu redor, estabelecendo-
d–
H
-se novas interações entre os iões e a
d+
H O
d–
água suficientemente fortes para que-
brar as ligações de hidrogénio entre as
– Na+ moléculas de água e separar os iões do
CL– cristal, o que faz com que a substância
iónica se dissolva.

A solvatação é o processo pelo qual um ião ou uma molécula fica rodeado por moléculas de solvente,
em consequência do estabelecimento de novas interações soluto-solvente, suficientemente fortes e
estabilizadoras, que mantêm as partículas do soluto afastadas. Quando o solvente é a água, a solvata-
ção é também designada por hidratação.

Para tornar mais rápida a dissolução de um sólido num líquido deve proceder-se:
– à redução previa do tamanho das partículas do sólido (o ideal é que esteja em pó);
– à agitação da solução (para facilitar a dispersão do soluto por toda a solução).

3.2 SOLUBILIDADE DE SAIS EM ÁGUA

As soluções de um dado soluto podem ser classificadas em:

Solução saturada Solução não saturada Solução sobressaturada


Solução que possui a mesma Solução que contém uma Solução que contém uma concentra-
concentração de soluto que uma concentração de soluto menor do ção de soluto maior do que a de uma
que se encontra em equilíbrio com que a concentração de uma solução solução saturada para uma dada
um excesso de soluto não saturada, a dada temperatura e temperatura e pressão. É uma
dissolvido e cuja concentração pressão, podendo ainda dissolver solução instável em que o soluto
permanece constante no tempo, a soluto adicional até se tornar uma tende a precipitar numa extensão
uma dada temperatura e pressão. solução saturada. que a transforme numa solução
saturada à temperatura e pressão
consideradas.

É possível obter uma solução sobressaturada quando uma solução saturada sob certas condições é
colocada a uma diferente temperatura na qual o soluto é menos solúvel, sem que ocorra a sua preci-
pitação imediata, retendo assim mais soluto do que reteria se a solução fosse originalmente prepa-
rada a essa temperatura.
Chama-se solubilidade, S, à quantidade de uma substância que se dissolve numa dada quantidade
de solvente, a uma dada temperatura e pressão. Pode exprimir-se como concentração ou em massa
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de soluto dissolvido em 100 g de solvente.

QUÍMICA 11.º ANO EM REVISTA

31
3 Soluções e equilíbrio de solubilidade

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Tendo em conta a sua solubilidade, os sais podem dividir-se em:
• solúveis, quando têm uma solubilidade em água, a 25 ºC, igual ou superior a 0,1 mol dm–3;
• pouco solúveis, quando têm uma solubilidade em água, a 25 ºC, inferior a 0,1 mol dm–3.

Compostos iónicos solúveis e pouco solúveis em água, a 25 ºC.

Iões que, em geral, originam compostos iónicos solúveis Exceções


+ + +
Catiões sódio, Na , potássio, K , e amónio, NH 4 Perclorato de potássio, KCℓO4
- - -
Aniões cloreto, Cℓ , brometo, Br , e iodeto, I Sais dos catiões prata, Ag+, chumbo(II),
Pb2+ e dimercúrio(I), Hg2+
2

2-
Anião sulfato, ​SO​  4​  ​​ Sulfatos diversos: de cálcio, CaSO4; de
estrôncio, SrSO4; de bário, BaSO4; de
chumbo(II), PbSO4; de prata, Ag2SO4, e de
dimercúrio(I), Hg2SO4

Aniões nitrato, N​​O​  -3​  ​​, clorato, Cℓ​​O​  -3​  ​​, perclorato, Cℓ​​O​  -4​  ​​, e acetato, CH3COO- Perclorato de potássio, KCℓO4, acetato de
dimercúrio(I), Hg2(CH3COO)2

Iões que, em geral, originam compostos iónicos pouco solúveis Exceções


-
Anião hidróxido, OH Hidróxidos de metais alcalinos
e de estrôncio e bário são solúveis
3- 2-
Aniões fosfato, ​PO​  4​  ​​, e carbonato, ​CO​  3​  ​​ Sais dos catiões de metais alcalinos
e de amónio são solúveis

Aniões sulfureto, S2- Sais dos catiões de metais alcalinos,


alcalinoterrosos e de catiões amónio são
solúveis

Efeito da temperatura na solubilidade


A dependência da solubilidade com a temperatura pode ser visualizada com a ajuda de uma curva de
solubilidade, um gráfico da solubilidade em função da temperatura, como os representados na fi-
gura seguinte.

E m geral, a solubilidade de sais aumenta Pelo contrário, a solubilidade dos gases


com o aumento da temperatura. diminui com o aumento da temperatura.

100
S / * 10–3 mol dm–3

CH4
S / g de sal em 100 cm3 de H2O

3
NO
80 Na 2,0
O2
2
3)
O
2

7
C’

O
(N

r2
Pb
Ca

KN

2C

60
K

CO
KC’ 1,0
40 NaC’

’O
3
He
20 KC

Ce2(SO4)3
0
0 20 40 60 80 100 0 10 20 30 40 50
T / ºC T / ºC

Efeito da temperatura na solubilidade em água de alguns sais (A) e de compostos gasosos (B).

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32
3 Soluções e equilíbrio de solubilidade

Para uma determinada temperatura, quando se adiciona a 100 g de água uma quantidade de soluto:
• igual ao valor da curva de solubilidade, a solução resultante fica saturada (a concentração é igual à
solubilidade), obtendo-se uma mistura homogénea;
• inferior ao valor da curva de solubilidade, a solução resultante estará não saturada e a mistura é
igualmente homogénea;
• superior ao valor da curva de solubilidade, a solução resultante fica saturada (a concentração é igual
à solubilidade) com sólido em suspensão, obtendo-se uma mistura heterogénea.

3.3 EQUILÍBRIO QUÍMICO E SOLUBILIDADE DE SAIS

O equilíbrio de solubilidade é um equilíbrio químico que se estabelece entre um sal e uma sua solu-
ção saturada. É um equilíbrio químico heterogéneo em que se distinguem duas fases: a fase sólida
do sal e a fase líquida da solução.
Este equilíbrio é atingido quando as velocidades de precipitação e de dissolução do sólido se tornam
iguais:

A concentração de um
Velocidade

soluto numa solução


corresponde à solubilidade
Dissolução quando se estabelece um
equilíbrio dinâmico entre
dois processos opostos – a
dissolução e a precipitação.
Precipitação

t Tempo

Constante de produto de solubilidade


A constante de produto de solubilidade, Kps, é o produto das concentrações molares dos iões que
resultam da dissolução do composto iónico em condições de saturação, elevadas aos respetivos
coeficientes estequiométricos da equação química que traduz o equilíbrio de solubilidade desse
composto.

EXEMPLO

Equilíbrio de solubilidade do hidróxido de cálcio:


Ca(OH)2(s) ​⇌​ Ca2+(aq) + 2 OH–(aq)

​​​​​​​​K​ps​ ( ​Ca(OH)​2​ ) = ​ [​Ca​​ ​] ​ ​ [​OH​​ ​] ​ ​


2+ − 2

O valor de Kps é constante para cada substância, para uma dada temperatura e para um dado sol-
vente.
Recorrendo a uma tabela “iVe” com a equação química que traduz o equilíbrio de solubilidade de um
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sal, pode estabelecer-se a relação entre as concentrações de equilíbrio e as iniciais para todas as espé-
cies envolvidas no equilíbrio de solubilidade.

QUÍMICA 11.º ANO EM REVISTA

33
3 Soluções e equilíbrio de solubilidade

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EXEMPLO

Equilíbrio de solubilidade do hidróxido de cálcio:

c/mol dm-3 Ca(OH)2(s) ⇌ ​​Ca​   ​  ​​(aq) + 2 OH-(aq)


2+

inicial constante 0 0
Variação ———— +S +2 S
equilíbrio constante S 2S

A relação entre a constante de produto de solubilidade e a respetiva solubilidade é estabelecida por:


​​​​​​​​Kp​ s​ ( ​Ca(OH)​2​) = ​ [​Ca​​ ​] ​  ​​ [​OH​​ ​] ​ ​ = 4  ​S​  ​
2+ − 2 3

Pode, assim, concluir-se que:


• Existe uma relação direta entre a solubilidade e a constante do produto de solubilidade, pelo que se
for conhecido o valor de uma destas grandezas é possível calcular o valor da outra.
• A expressão que relaciona o Kps com a solubilidade depende da composição estequiométrica do sal.
• A constante de produto de solubilidade permite determinar a solubilidade de um sal pouco solúvel,
podendo mesmo ser diretamente utilizada para comparar as solubilidades de sais com uma com-
posição estequiométrica idêntica (o sal menos solúvel é o que tem um menor valor de Kps).
• Não é possível comparar a solubilidade de sais com composições estequiométricas diferentes a
partir dos seus valores de Kps.

Reações de precipitação
No contexto da solubilidade, o quociente da reação permite averiguar se uma dada solução está ou
não saturada e, além disso, determinar se, nas condições consideradas, haverá formação de um pre-
cipitado. Assim:
• Se Q < Kps → solução não saturada ⇒ não há formação de precipitado
• Se Q = Kps → solução saturada
• Se Q > Kps → solução sobressaturada ⇒ A remoção dos iões da solução é assegurada pela preci-
pitação do composto iónico.
Uma situação comum, que envolve o estudo das reações de precipitação, surge quando se misturam
duas soluções de sais solúveis. Nessa situação poderá suceder que alguns dos iões em solução rea-
jam entre si com a formação de um composto iónico de baixa solubilidade – precipitado.

EXEMPLO

O nitrato de chumbo e o iodeto de potássio são sais bastante solúveis. Como resultado da dissolução, pas-
sam a existir em solução aquosa apenas os iões hidratados desses sais.
Pb(NO3)2(s) → Pb2+(aq) + 2​​ NO​ −3​ ​​(aq) 
KI(s) → K+(aq) + I–(aq) 

Para certas condições experimentais, a mistura das duas soluções aquosas forma um precipitado de iodeto
de chumbo, PbI2, sal pouco solúvel. A reação de equilíbrio químico que traduz o equilíbrio de solubilidade
do iodeto de chumbo pode ser descrita pela equação química seguinte:
PbI2(s) ​⇌​ Pb2+(aq) + 2 I–(aq)
Assim, haverá formação de precipitado se as concentrações dos iões Pb2+ e I– em solução forem tais que:
Q = [Pb2+] [I–]2 > Kps(PbI2)

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3 Soluções e equilíbrio de solubilidade

3.4 ALTERAÇÃO DA SOLUBILIDADE DOS SAIS

Além da temperatura, há outras condições que podem afetar a dissolução de um sal e o valor da so-
lubilidade desse sal em água, a uma dada temperatura, sem que a constante de produto de solubili-
dade seja alterada. O Princípio de Le Châtelier permite uma análise qualitativa desses efeitos, uma
vez que se trata de alterações a um equilíbrio químico.
• Efeito do ião comum: origina a diminuição da solubilidade do composto uma vez que, tendo em
conta o Princípio de Le Châtelier, o aumento da concentração de um dos iões em solução faz o equi-
líbrio evoluir no sentido da diminuição da concentração desse ião, isto é, no sentido da precipitação.

EXEMPLO

Considere-se a equação que traduz o equilíbrio de solubilidade do sulfato de bário:


BaSO4(s) ​⇌​ Ba2+(aq) + ​SO​ 4​  ​​(aq)
2−

Se uma solução de BaSO4 for preparada numa solução de sulfato de potássio, K2SO4 (sal bastante solúvel,
que provoca o aumento da concentração de K+ e ​SO​ 4​  ​em solução), o anião sulfato participa no equilíbrio de
2−

solubilidade dos dois sais (efeito do ião comum). O aumento da sua concentração em solução de acordo com
o Princípio de Le Châtelier, faz deslocar o equilíbrio de dissociação do sal BaSO4 no sentido inverso, de
forma a contrariar a perturbação, diminuindo a solubilidade do composto comparativamente à sua solubili-
dade em água.

• Solubilização em soluções ácidas: de acordo com o Princípio de Le Châtelier, se um sal apresenta


caráter básico o aumento de acidez da solução, pelo aumento da concentração de catião oxónio e
diminuição do pH, aumenta a solubilidade do sal.
EXEMPLO

Considere-se a equação que traduz o equilíbrio de solubilidade do fluoreto de cálcio:


CaF2(s) ⇌ Ca2+(aq) + 2 F–(aq)
Com a dissolução do fluoreto de cálcio passa a existir em solução anião fluoreto, que é uma base fraca (a
base conjugada do ácido fraco HF). Sendo uma base o ião F– reage com ácidos. A diminuição de pH, acom-
panhada do aumento da concentração do catião oxónio, origina assim a diminuição da concentração do
anião fluoreto em solução.
F-(aq) + H3O+(aq) ⇌ HF(aq) + H2O(ℓ) 
De acordo com o Princípio de Le Châtelier, essa diminuição, desloca o equilíbrio de solubilidade do CaF2 no
sentido direto de forma a contrariar a perturbação, provocando um aumento da solubilidade do sal.

• Formação de iões complexos: A formação de iões complexos provoca o aumento da solubilidade de


um sal pois, tendo em conta o Princípio de Le Châtelier, o equilíbrio de solubilidade desloca-se no
sentido direto (sentido da dissolução) de modo a compensar a diminuição da concentração do ião
envolvido na formação do ião complexo.
EXEMPLO

Considere-se a equação que traduz o equilíbrio de solubilidade do iodeto de prata:


AgI(s) ⇌ Ag+(aq) + I–(aq)
A adição de uma solução aquosa de cianeto de potássio, KCN, a uma solução saturada em equilíbrio com
AgI(s), origina a formação do ião complexo estável, [Ag(CN)2]-, que diminui a concentração de catião prata
em solução, como pode ser constatado pela equação química que traduz a formação do ião complexo:
Ag+(aq) + 2 CN–(aq) ⇌ [Ag(CN)2]–(aq)
De acordo com o Princípio de Le Châtelier, e para contrariar a perturbação provocada pela diminuição da
concentração de Ag+, o equilíbrio de solubilidade do AgI desloca-se no sentido direto, sentido da dissolução,
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aumentando a solubilidade do sal.

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3 Soluções e equilíbrio de solubilidade

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3.5 DESMINERALIZAÇÃO DE ÁGUAS

A dureza total de uma água corresponde à soma das durezas temporária e permanente da água e
equivale à concentração total de catiões Ca2+ e Mg2+ presentes na água.

Atendendo à sua dureza, as águas podem ser classificadas como macias, moderadamente duras,
duras ou muito duras:

Classificação Dureza total / mg dm– 3 de CaCO3


Água macia < 75
Água moderadamente dura 75 - 150
Água dura 150 - 300
Água muito dura > 300

Para minimizar a dureza de uma água é possível recorrer a processos como sistemas de permuta
iónica, adição de agentes precipitantes e aditivos anticalcário.

Além dos iões metálicos, como Ca2+ e Mg2+, que provocam a dureza da água, muitos outros poluen-
tes são encontrados nas águas residuais, quer municipais quer das empresas, nomeadamente iões
fosfato e iões de metais pesados, que podem ser removidos recorrendo a reações de precipitação.

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