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DOSSIÊ DO PROFESSOR – RUMO À FÍSICA 11

EXPLORAÇÃO DAS ATIVIDADES LABORATORIAIS

111Equation Chapter 1 Section 1ATIVIDADE LABORATORIAL PÁG. 124 DO MANUAL

MOVIMENTO DE UM CORPO QUANDO SUJEITO A UMA RESULTANTE DE FORÇAS NÃO NULA E NULA

APRENDIZAGEM ESSENCIAL
Investigar, experimentalmente, o movimento de um corpo quando sujeito a uma resultante de forças
não nula e nula, formulando hipóteses, avaliando procedimentos, interpretando os resultados e
comunicando as conclusões.

SUGESTÕES METODOLÓGICAS
Na elaboração da montagem deve ter-se em atenção que o corpo suspenso atinja o solo antes do
carrinho completar o seu trajeto na calha de forma a determinar a velocidade do carrinho quer quando
o fio o está a puxar, quer quando o fio deixa de estar em tensão.

A utilização de um eletroíman controlado remotamente permite garantir que o carrinho parte do repouso.

QUESTÕES PRÉ-LABORATORIAIS
Para melhor se compreender esta atividade laboratorial, convém fazer uma análise prévia, dando
resposta a um conjunto de questões pré-laboratoriais.

1. Que tipo de movimento se prevê que um corpo adquira quando sujeito a uma resultante de
forças não nula e nula?
Sir Isaac Newton, melhorando as ideias de Galileu, enunciou as leis fundamentais do
movimento, mais conhecidas por Leis de Newton. De acordo com a Segunda Lei de Newton
existe uma relação entre a resultante de forças e a aceleração a que um corpo está sujeito, que
se traduz matematicamente pela expressão: .

Assim, existindo uma resultante de forças não nula um corpo está sujeito a uma aceleração que
provoca a alteração da velocidade do corpo que apresentará movimento variado, acelerado ou
retardado consoante a aceleração apresente o mesmo sentido ou o sentido contrário à
velocidade do corpo. Se a resultante das forças for constante, o módulo da aceleração adquirida
pelo corpo é também constante, o que significa que o movimento é uniformemente variado.
Se a resultante de forças que atuam num corpo for nula, a aceleração do corpo é nula, o que
permite concluir que não há variação da velocidade:

Por outras palavras, quando a resultante das forças é nula, se um corpo estiver em repouso
continuará em repouso, mas se estiver em movimento, manter-se-á em movimento com a
velocidade constante apresentando um movimento retilíneo uniforme.

2. Como se poderá proceder experimentalmente para investigar o movimento de um corpo quando


sujeito a uma resultante de forças não nula e nula?
Para investigar o movimento de um corpo quando sujeito a uma resultante de forças não nula e
nula é necessário criar um procedimento que possibilite as duas situações.

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A utilização de um conjunto de atrito reduzido em que um carrinho, C, colocado numa calha


horizontal é ligado por um fio que passa pela gola de uma roldana a um corpo suspenso, P, pelo
fio possibilita esta investigação. O fio deverá apresentar um comprimento adequado para que o
carrinho ainda não tenha percorrido toda a calha quando o corpo suspenso embate no solo.
Assim, o corpo suspenso em queda puxa o fio que por sua vez aplica uma força que provoca o
movimento do carrinho, situação de resultante de força não nula. Depois de o corpo suspenso
embater no solo, o carrinho deixa de estar sujeito à força aplicada pelo fio criando-se uma
situação de resultante das forças nula, caso as forças de atrito sejam realmente desprezáveis.
A utilização de um sistema de aquisição automática de dados capaz de obter dados referentes
ao movimento do carrinho que permitam traçar o gráfico da componente escalar da velocidade
do carrinho em função do tempo, possibilita analisar o movimento apresentado pelo carrinho em
cada situação.

3. Esboce um esquema da montagem referida na questão anterior e represente os vetores que


possam representar as forças que atuam nos corpos nas situações em análise.

Carrinho sujeito a uma resultante de forças não nula. Carrinho sujeito a uma resultante de forças nula.
Nota: os esquemas não estão à escala.

Força que:
– a mesa exerce no carrinho: – a Terra exerce no carrinho: – a Terra exerce no corpo suspenso:

– o fio exerce no carrinho: – o fio exerce no corpo suspenso: – o solo exerce no corpo suspenso:

EXPLORAÇÃO DA ATIVIDADE LABORATORIAL

A. REGISTO DE DADOS
Exemplos de valores obtidos na realização da atividade.
TABELA I – Registos da massa dos corpos.

Massa dos corpos


mc: (162,11 ± 0,01) g Mp: (5,17 ± 0,01) g

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B. TRATAMENTO DE RESULTADOS
1. Com base nos dados adquiridos e/ou com as funções do sistema de aquisição automática de
dados obtenha o gráfico da componente escalar da velocidade do carrinho em função do tempo.

t/s v / m s–1 t/s v / m s–1 t/s v / m s–1 t/s v / m s–1


0,00 0,00 0,90 0,23 1,80 0,41 2,70 0,39
0,10 0,02 1,00 0,25 1,90 0,41 2,80 0,39
0,20 0,05 1,10 0,28 2,00 0,40 2,90 0,40
0,30 0,07 1,20 0,31 2,10 0,41 3,00 0,39
0,40 0,10 1,30 0,34 2,20 0,41 3,10 0,40
0,50 0,12 1,40 0,37 2,30 0,40 3,20 0,39
0,60 0,14 1,50 0,39 2,40 0,40 3,30 0,39
0,70 0,17 1,60 0,41 2,50 0,40 3,40 0,39
0,80 0,20 1,70 0,42 2,60 0,40 3,50 0,39

2. Utilizando a calculadora gráfica ou uma folha de cálculo e partindo dos dados recolhidos e da
análise do gráfico anterior, obtenha as equações das retas de ajuste correspondentes,
respetivamente, à parte do movimento em que a resultante das forças é não nula e a parte em
que a resultante das forças é nula.

Para realizar esta tarefa deve começar-se pela introdução, na calculadora gráfica ou na folha de
cálculo, dos valores do tempo e do respetivo módulo da velocidade, em duas colunas distintas,
depois construir-se o gráfico de dispersão com esses pontos e, posteriormente, adicionar-se a
reta de ajuste ao conjunto dos pontos experimentais.

t/s 0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90 1,00 1,10 1,20 1,30 1,40 1,50 1,60
v / m s–1 0,00 0,02 0,05 0,07 0,10 0,12 0,14 0,17 0,20 0,23 0,25 0,28 0,31 0,34 0,37 0,39 0,41

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Enquanto o carrinho está sujeito a uma resultante de forças não nula a equação da velocidade
que traduz o movimento do carrinho é:
v = 0,26 t − 0,0076 (m s–1)

0,26 corresponde à aceleração em m/s por segundo e a ordenada na origem corresponde à


velocidade inicial, que pode considerar-se zero.
t/s 1,80 1,90 2,00 2,10 2,20 2,30 2,40 2,50 2,60 2,70 2,80 2,90 3,00 3,10 3,20 3,30 3.40 3,50
v/ms –1
0,41 0,41 0,40 0,41 0,41 0,40 0,40 0,40 0,40 0,39 0,39 0,40 0,39 0,40 0,39 0,39 0,39 0,39

Enquanto o carrinho está sujeito a uma resultante de forças aproximadamente nula a equação
da velocidade que traduz o movimento do carrinho é:
v = − 0,012 t − 0,43 (m s–1)

A ordenada na origem corresponde à velocidade terminal em m/s e o declive, que corresponde à


aceleração em m/s por segundo, como seria de esperar, é praticamente nulo.
Nota: O ponto (1,70; 0,42) não está incluído em nenhum dos gráficos pois pertence a um intervalo de tempo que
corresponde à transição entre os dois tipos de movimento, não sendo conveniente/correto ou fácil associá-lo à
primeira ou segunda fase do movimento.

3. Com base nas equações das retas obtidas, obtenha as componentes escalares da aceleração e
da resultante das forças para cada umas das diferentes fases do movimento do carrinho.

Na primeira fase do movimento, como a velocidade aumenta de modo praticamente linear com o
tempo podemos considerar que o módulo da aceleração é constante, logo:

De acordo com a expressão anterior, a componente escalar da aceleração corresponde ao


declive da reta do gráfico , ou seja, .
De acordo com a Segunda Lei de Newton:

Na segunda fase do movimento, de acordo com a equação da reta de ajuste ao gráfico ,


.
De acordo com a Segunda Lei de Newton:

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C. ANÁLISE DE RESULTADOS
Comunique ao professor os resultados obtidos, destacando, entre outros aspetos:
✓ a análise do gráfico da componente escalar da velocidade em função do tempo;
✓ os tipos de movimento apresentado pelo carrinho quando sujeito a uma resultante de forças
não nula e nula;
✓ a qualidade das retas de ajuste ao conjunto de pontos experimentais;
✓ os valores obtidos para a componente escalar da aceleração e da resultante de forças do
carrinho quando sujeito a uma resultante de forças não nula e nula;
✓ a adequação dos procedimentos efetuados aos objetivos a alcançar nesta atividade.

A análise do gráfico da componente escalar da velocidade em função do tempo permite concluir


que, até o corpo suspenso embater no chão, o módulo da velocidade do conjunto aumenta
linearmente com o tempo, o que está de acordo com o facto de o conjunto estar sujeito a uma
resultante de forças constante na mesma direção e sentido do movimento, o que origina uma
aceleração constante também no mesmo sentido da velocidade. Assim, na primeira fase, o
conjunto adquire movimento retilíneo uniformemente acelerado. Depois de o corpo suspenso
embater no solo, a análise do gráfico v = f (t) permite concluir que o módulo da velocidade
permanece praticamente constante, o que está de acordo com a facto de o conjunto estar sujeito
a uma resultante de forças nula, passando a mover-se com movimento retilíneo uniforme.

Na primeira fase do movimento do carrinho a reta de ajuste aproxima-se bastante do conjunto de


resultados experimentais, o que pode ser comprovado pelo facto de o coeficiente de correlação
ser muito próximo de um. A equação da reta obtida comprova que o carrinho está sujeito a um
valor de aceleração positivo e a uma resultante das forças não nula no mesmo sentido do
movimento. O módulo da aceleração é reduzido porque a massa do corpo suspenso é pequena.
Aumentando a massa do corpo suspenso, a aceleração do conjunto seria superior e o declive da
reta de ajuste ao conjunto dos pontos experimentais da componente escalar da velocidade em
função do tempo seria superior.

Na segunda fase do movimento do carrinho, a velocidade permanece praticamente constante.


A reta de ajuste apresenta um declive bastante pequeno, mas negativo o que significa que passa
a existir uma resultante das forças no sentido contrário ao movimento, a força de atrito, mas de
intensidade quase desprezável. Para a distância percorrida pelo carrinho nesta fase do
movimento, pode considerar-se que o carrinho esteve sujeito a uma resultante de forças nula. O
valor do coeficiente de correlação para a reta de ajuste dos pontos experimentais da segunda
fase do movimento indica que há uma dispersão dos pontos relativamente a uma reta de declive
quase nulo. Este declive não é nulo, indicando que efetivamente o movimento uniforme é
aproximado. Assim, só se pode considerar um movimento uniforme durante um curto intervalo
de tempo porque quando a força que o fio exerce no carrinho, de intensidade muito superior à do
atrito, deixa de atuar, o atrito passa a ser dominante e a sua influência começa, efetivamente, a
ser observada.

Os resultados obtidos para o movimento de um corpo sujeito a uma resultante de forças não
nula e nula permitem concluir que o procedimento experimental foi adequado. Deve, no entanto,
salientar-se novamente a necessidade em selecionar um conjunto de atrito reduzido e um
comprimento de fio apropriado de forma a ser possível analisar o movimento do carrinho sujeito
a uma resultante de forças nula.

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QUESTÕES PÓS-LABORATORIAIS
1. Compare os resultados obtidos experimentalmente com as leis apresentadas por Aristóteles,
Galileu e Newton sobre o movimento dos corpos.

Os resultados obtidos permitem concluir o que Galileu, e mais tarde Newton, afirmaram, ou seja,
que para que um corpo continue em movimento não é necessário que uma força esteja a atuar
sobre esse corpo. Um corpo em movimento continua com movimento retilíneo uniforme se a
resultante das forças que sobre ele atuam for nula. Ao contrário do que afirmava Aristóteles, se na
prática um corpo parar isso deve-se à atuação da força de atrito no sentido contrário ao
movimento.

2. Mostre que, sendo o atrito desprezável, o valor da aceleração do carrinho pode ser determinado
a partir das massas do carrinho e do corpo suspenso.

Sendo o atrito desprezável, as forças que atuam no carrinho e no corpo suspenso são:

- Força que a Terra exerce no carrinho

- Força que a mesa exerce no carrinho

- Força que o fio exerce no carrinho

- Força que o fio exerce no corpo suspenso

- Força que a Terra exerce no corpo suspenso

Pelo que a resultante das forças aplicadas em cada um é dada por:

A soma da força normal com a força gravítica do carrinho corresponde a um vetor nulo porque o
carrinho não tem aceleração nessa direção. Logo, pela Segunda Lei de Newton, a resultante das
forças aplicadas deve ser nula nessa direção. No entanto, estas forças não constituem uma par
ação-reação.

Considerando o sentido positivo o sentido do movimento do conjunto, e designando por T as


intensidades das tensões que o fio faz sobre o carrinho e que o fio faz sobre o corpo suspenso,
que são iguais, uma vez que a tensão no fio é igual em todo o fio pois se considera um fio ideal
(i.e. sem massa e de comprimento constante) e uma roldana ideal (i.e., considera-se um ponto
que apenas altera a direção do fio), obtém-se:

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Aplicando a Segunda Lei de Newton, e tendo em conta que os corpos se movem em conjunto
com a mesma componente escalar da aceleração obtém-se:

Pelo que:

Conclui-se, assim, que a componente escalar da aceleração depende apenas da massa do


carrinho e do corpo suspenso: quanto maior a massa do carrinho menor a intensidade da
aceleração e quanto maior a massa do corpo suspenso maior a intensidade da aceleração.

3. Determine o valor da aceleração através da expressão obtida na questão anterior e compare-o


com o valor obtido experimentalmente.

De acordo com a expressão anterior:

O valor da aceleração obtido experimentalmente (a = 0,26 m s−2) é próximo do valor obtido


indiretamente a partir das massas, mas ligeiramente inferior o que pode significar que a força de
atrito não é completamente desprezável.

4. Que diferença(s) se verificaria(m) no perfil do gráfico da componente escalar da velocidade em


função do tempo se o efeito da força de atrito não fosse desprezável?

Se a força de atrito não fosse desprezável, enquanto o corpo suspenso estava em queda:
– a aceleração adquirida pelo carrinho seria inferior pelo que o declive no gráfico v = f(t), que
corresponde à componente escalar da aceleração, seria inferior;
– o módulo da velocidade máxima atingida também seria inferior;
– o tempo que o corpo suspenso demoraria a atingir o solo seria superior de modo que a área
definida pela linha do gráfico v = f(t) e o eixo das abcissas continuasse o mesmo pois
corresponde à distância do corpo suspenso ao solo.

Se a força de atrito não fosse desprezável, depois de o corpo suspenso embater no solo:
– o carrinho ficaria sujeito a uma resultante das forças não nula, com a mesma direção, mas
sentido contrário ao movimento pelo que a aceleração passaria também a ser negativa,
levando a uma diminuição linear do módulo da velocidade no gráfico v = f(t);
– o tempo que o carrinho demoraria a chegar ao final da calha também aumentaria.

Gráfico v = f(t), sem atrito, a vermelho, e com atrito, a verde.

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