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Por meio dos seus elementos constitutivos dos âmbitos formal, vocabular e
temático, quais sejam metro, rima, ritmo, “comparações, símiles, metáforas,
jogos de palavras, paronomásias, símbolos, alegorias, mitos, fábulas” 4, a
poesia consegue expressar, tanto em forma quanto em conteúdo, o que
nenhuma outra manifestação de conhecimento consegue expressar, daí que
(para citar outra vez Aristóteles) o sábio autor da Poética costumava dizer o
seguinte: “A poesia é mais profunda e mais filosófica que a história.” 5 E de fato
é, pois ao passo que as ciências humanas e naturais abordam o mundo como
ele é, a poesia, como bem observou o filósofo grego citado, revela o mundo
não apenas como ele é, mas como ele poderia ser também. Daí a sua
peculiaridade e importância no que tange à forma de apreendermos a nossa
experiência individual e coletiva, bem como no guiar de nossas condutas
cotidianas.
Certo, mas em relação à teologia, o que a poesia possui que a distingue e a
eleva em face da ciência da religião? Em outras palavras, o que faz com que o
fazer poético se torne uma atividade tão reveladora e sublime quanto – ou até
mais do que – a expressão teológica? Recorramos, para responder à tal
pergunta, ao exemplo de Dante.
Assim, surgem, a partir dos anos 50 no Brasil, poemas cada vez mais
sugestivos, unindo a forma e as palavras de uma maneira original, provocativa
e, sobretudo, concisa. Pode-se mencionar, como exemplo, um poema do
Marcelo Moura, em que, por meio das letras da palavra “giro”, ele vai formando
uma estrutura circular em que as letras que formam tal palavra vão ocupando
as camadas da estrutura, até ela se formar num círculo perfeito.
Outro tipo de composição poética que também tem a concisão como uma de
suas características principais é o haicai, analisado por Otávio Paz em mais um
de seus interessantes ensaios, A Consagração do Instante11.
Por fim, não podemos deixar de lembrar também da nossa poesia de cordel,
tão identificada com o Nordeste brasileiro, bem como com a poesia medieval e,
inclusive, com a poesia de autores consagrados da Literatura portuguesa,
como Gil Vicente, por exemplo.
Por meio de uma estrutura bem delimitada, com estrofes de seis versos
(estes hepta ou pentassílabos), e com rimas bem ritmadas e carismáticas, o
cordel teve suas influências nos saudosos cancioneiros medievais, e foi
desenvolvido no sertão nordestino durante séculos, inclusive com contribuições
europeias. Sua expressão máxima veio com o poeta Leandro Gomes de
Barros, autor do famoso Romance da Donzela Teodora, de 1905, que narra a
luta de uma mulher em busca de sua libertação, num cenário extremamente
opressor para as mulheres como era o cenário medieval.
Além disso, é curioso notar também que, assim como a poesia épica, o
cordel é uma narrativa em versos que se destina a um ideal coletivo, identitário,
que geralmente narra as histórias de um herói – como a Donzela Teodora – ou
de um povo, de uma cultura, de uma região. Note-se também que essas
narrativas geralmente são feitas em terceira pessoa, centrada nos eventos dos
protagonistas da história, e não necessariamente nos fenômenos subjetivos
que se passam no íntimo do narrador (preocupação essa que se encontrava no
centro da poesia homérica, como bem destaca Donald Schuller em seu ensaio
A Produção da Ilíada)12.
REFERÊNCIAS: