Você está na página 1de 130

FACULDADE DE FILOSOFIA

eee ee ete * cd
LA POESIA - Introduzione alla critica e storia
Titulo do original:
della poesia e della letferatura.

A Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do


do Sul expressa seus agradecimentos a
Rio Grande
desta
ALDA CROCE, filha do eminente autor
alee
obra, por ceder os direitos autorais da presente edi¢ao.
BENEDETTO CROCE

A POESIA
INTRODUGAO
A CRITICA E HISTORIA DA POESIA
E DA LITERATURA

Traducao de
FLAVIO LOUREIRO CHAVES

Supervisdo e revisdo de
ANGELO RICCI

LLL - Livraria Lima Lid.


Porto Alegre
Av. Barges do fveceiros, 539
Rua Riachuelo, 902/904

EDICOES DA FACULDADE DE FILOSOFIA DA


UNIVERSIDADE FEDERAL DO R. G. DO SUL
Pérto Alegre - 1967
PREFACIO A EDICAO BRASILEIRA
Livro ja famoso e consagrado, A Poesia de Benedetto
Croce, publicado pelo autor em 1935, vem agora a ser
apresentado em lingua portuguésa, traduzido pela Ca
deira de Teoria da Literatura da Faculdade de Filoso-
fia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
dentro de um plano de publicagées em trabalho de
equipe, que procura fornecer um acervo bibliografico fun-
damental para estudos de critica literdria. Na traducao,
procuramos manter a maxima fidelidade ao texto origi-
nal, ainda que, para isso, nos reservassemos o direito de
fugir a certas normas gramaticais.
A obra original divide-se em duas partes: a primeira,
como ja indica o subtitulo do volume, é uma “introdu-
¢do a critica e 4 historia da Poesia e da Literatura’; a se-
gunda, as Postille, pretende apenas documentar e exem-
pliticar o “discurso doutrinal” anterior, pois éste é de-
senvolvido de forma tao cerrada e intensa que nao ad-
mite insercao de referéncias bibliograficas. Assim, o fluir
da argumentacao permanece unitario, permitindo que o
leitor o acompanhe com vivo interésse e compreensao.
Na Adverténcia, Croce evidencia ésses dois aspectos
da obra, ressaltando a importancia capital da primeira
parte, onde define uma posigéo essencial, destinada a
fixar nado apenas uma teoria, mas um comportamento
critico diante da literatura. Por ésse motivo, reproduzi-
mos, na presente edicao, somente o “discurso doutrinal”,
No seu discorrer filosdfico-estético nao encontraremos a
frieza do dialético, mas a “idéia” vivificante, o amor cria-
dor de quem privou, por muitos anos, com a poesia dos
maiores génios da humanidade e sdbre a qual escreveu
ensaios de profunda inteligéncia critica, num clima de
alta correspondéncia artistica.

VII
Pareceu-nos extremamente valiosa a divulgacao désse
excerto da obra em questao, pois nos leva a considerar
& poesia em sua mais pura e livre maneira de ser e apre.
sentar-se. O “discurso doutrinal’, embora denso, é sufj-
cientemente claro e organico, fugindo a problematiza.
cées estéreis e inuteis. Examina e expoe principios fun.
dantes, segundo os quais estabelece uma distincao entre
as manifestacdes poéticas e nao poéticas, sem, contudo,
pretender definir a poesia. Com efeito, para Croce, é
fundamental evitar confusdes acérca do que entende
por momento teorético supremo da atividade humana,
ou seja, a atividade poética. Podera a poesia fazer parte
de uma historia literaria em que se reunem indiscrimi-
nadamente tédas as produgées escritas? Surge, pois, a
necessidade de delimitar o campo da literatura e inda-
gar se “a célula que é a expressao literaria” se identifica
de fato “com um dos outros quatro modos de expressao
de que se soi falar, e que sao a expressao sentimental
ou imediata, a poética, a prosaica e a pratica ou oratéria”.
Praticamente desde os sofistas, téda espécie
de ex-
pressao verbal escrita foi incluida nos dominos
da res-
publica litterarum, em que as diversificagdes
eram agru-
padas por categorias nos géneros literarios que delimi-
tavam com rigor apenas o aspecto formal da
producao,
fixando-lhe normas e preceitos compositivos
e interpre-
tativos. Nao havera, porém, uma distingao
mais profun-
da, essencial, que evite confusdes ou identificagdes
em
matéria tao complexa e importante? A resposta
nos é
fornecida na primeira parte de A Poesia: descer
as raizes
do problema e procurar descobrit as origens das diver-
Sas expressoes literdrias.
O leitor 6 solicitado a uma “indagacao metddica”
conhecimentos
dos
e Principios tradicionais, que fornecem
uma resposta satisfatéria e levam, antes, a
repeticées e
divagacées superticiais em relacao a obra literaria. “O
omem, contrariamente aos animais e aos deuses - como

VII
diz o proprio Croce ~ esta condenado a pensar’. Dai
justifica-se nao sd a recolocacao do problema da expres-
sao poética e nao poética para esclarecer a teoria dés-
ses dois atos do conhecimento, mas também a demons.
tracao da importancia dos conceitos dos quais essa teo-
tia constitui o desenvolvimento. “Conceitos cujo signifi-
cado se tem identificado com a compreensao do essen-
cial dos atos da criagao e de reevocacao artistica e com
a obra de reevocagao e de compreensao da historia hu-
mana’”.}
Nao é, pois, admissivel também na respublica litte-
rarum, a desordem, que inevitavelmente leva a confun-
dir o ato estético com o ato Id6gico, o momento intuitivo
ainda carregado de matéria sentimental com a transfi-
guracao do sentimento, Tais proposigoOes poderao ser
coerentes e belas em sua formulacao, mas ineptas para
qualquer eficdcia artistica verdadeira. Em ultima andli-
se, faz-se necessario distinguir o que é realmente poéti-
co do que é simples sentimento ou copia do sentimento.
E a poesia nao é sentimento “nem pode copiar o senti-
mento”, afirma Croce, “porque ésse nao tem forma an-
terior a dela. Anteriormente a ela nada ha de determi-
nado: ha o caos, e como o caos é um simples momento
negativo, ha o nada”. “A poesia”, continua, “6 a transfi-
guracao do sentimento” e possui universalidade justa-
mente porque nela a expressaéo dos sentimentos é eleva-
da da particularidade a universalidade da natureza hu-
mana. Trata-se de um carater de cosmicidade que a
obra poética assume enquanto forma de conhecimento
apoiada na unidade da imagem e nao na unidade dia-
lética das categorias ou dos conceitos.
Croce reconhece que o sentimento constitul para a
poesia a “matéria necessaria”. Diferencia-se dela, contu-
do, porque a expressao poética é “uma teorese”, um Co-
a, zio cn fe ai di
poetica e giudi storico , in Rivista
1-G. Grasselli, “Espressione p. 318.
Filosofia, “Milono, 8. XXIX, no 4, ottobre-dicembre 1938,

TX


nhecer. O sentimento “adere ao particular (...), move-
se necessariamente na unilateralidade da paixao, na an-
do so-
tinomia do bem e do mal e na ansia do gozar e
frer’. Por outro lado, “a poesia recoloca o particular no
universal, acolhe, separando-os, dor e prazer e, pairando
partes
acima do choque das partes, coloca a visao das
no todo, a harmonia sébre o contraste, a imensidade do
infinito sébre a angustia do finito, Esta propriedade de
universalidade e de totalidade é o seu carater”. A natu-
reza intuitiva da poesia permite essa transformagao dos
sentimentos em imagens, dando-se assim “uma verdadei-
ra sintese a priori estética de sentimentos e imagem na
intuigéo; sintese na qual, repetimos, o sentimento sem
imagem é cego e a imagem sem sentimento é vazia”,
como Croce afirma em outra das suas obras.
E licito perguntar: — Terao as demais expressdes que
se reunem e convivem na respublica litterarum ésse ca-
rater de universalidade e totalidade? Serao essa “sintese
a priori estética’? Uma elaboragao literaria do senti-
mento, por exemplo, nao serd poesia porque foi feita
com a “mediacao da reflexao”, diz o autor, “a qual des-
liga um determinado sentimento da fantasia (...), re-
coloca-o na realidade (...), fora do imediatismo do
sentir. Trata-se de um “modo de expressao efusivo-lite-
rario”, nao de poesia, expressao imediata.
Na mesma ordem nao poética encontram-se as demais
espécies de expressdes literdrias: a oratdria, a de entre-
tenimento, a didatica, etc., etc. A poesia tem, pois, uma
natureza propria inconfundivel e inalienavel.
Salientada, assim, a autonomia da expresséo poética
frente as demais, néo se deve deduzir implicitamente
que essas ultimas formas de literatura se identifiquem
sic et simpliciter com o feio e o desvalor. “Nao sao ne-
gativas, mas positivas”, assevera Croce. A determinacao

1 - Nuovi Saggi di Estetica, Laterza, Beri, 1948, p. 33.

x
dos valéres sera tarefa da critica, tarefa, por sinal, bas-
tante difictl e complexa. Eis porque o autor dedica uma
larga parte désse seu “discurso doutrinal” aos problemas
da interpretacao, os quais implic am numa ampla série
de instancias e consideragoes para chegar a uma for-
mulagao de juizos criticos.

Pérto Alegre, setembro de 1967.

ANGELO RICCI

XI
A MEMORIA
DE

FRANCESCO DE SANCTIS
E
GIOSUE CARDUCCI
ADVERTENCIA
A idéia déste livro e sua relagao com as consideracées
da Filosofia da Arte ou Estética, estao claramente defi-
nidas na pagina que o encerra.

A segunda parte do volume, que contém as apostilas, é


como uma conversacao que sucede 4 tensao do discurso
doutrinal e se detém em algumas afirmacdes a fim de
documenta-las, particulariza-las e exemplifica-las. Pare-
ceu-me que pudesse tornar-se util para os estudiosos, e
por isto a inclui,
Ao escrever éste livro estiveram-me sempre presentes os
ensinamentos que, desde a primeira adolescéncia, colhi
nos livros de Francesco de Sanctis e Giosué Carducci —
dois mestres que, por caminhos diferentes e com dife-
rentes maneiras, concorreram para dar acs italianos uma
consciéncia mais reta e severa do que é a poesia - e, dai,
a dedicatoria 4 sua memoria se féz espontanea. No curso
do trabalho, me pareceu voltar-me a éstes dois, interro-
gando-os, e receber a sua aquiescéncia aquilo que estava
escrevendo, inclusive naqueles pontos em que abordava
|
f
problemas nao considerados por éles ou me afastava de
| alguns dos seus juizos criticos.
|
Meana di Susa, setembro de 1935.
| - A POESIA E A LITERATURA
Na consciéncia estética atual vem incidindo, cada vez
mais profundamente, entre Poesia e Litera-
a diferenca
tura, ja muito sentida na época romantica, embora per-
cebida apenas em alguns aspectos particulares nas épocas
precedentes, inclusive a antigilidade greco-latina. Hoje,
esta diferenca em geral assume a forma de contraste, com
certo desprézo para com a “literatura”, que sé encontra
defensores entre os destemidos que sentem uma espécie
de prazer em parecerem retrogrados e reacionarios. O
contraste e o desprézo nao encontram uma justificativa
légica e os motivos que conduzem a propria distincao
nem sempre saéo bons, fazendo com que a diferenca nem
sempre corresponda a verdade. No entanto, ela persiste
substancialmente, e, vigorosamente afirmada nos dias
atuais, se mostra necessaria e Util para ajuizar e desfazer
confusdes que, de outro modo, continuariam a nos ator-
mentar.

Mas que é a literatura? Qual a sua definigao, isto é, a


sua natureza, seu nascimento ou génese no espirito
humano? Em decorréncia disto, qual a sua funcgao? Pro-
curei em muitos livros, em quase todos os de estética,
poética e retérica, e (certamente por nao ter procurado
bem) nao encontrei resposta para a pergunta ou achei-a
insatisfatéria. Eu mesmo, que ha tanto tempo estudo
poesia e literatura, me apercebi de nunca ter assumido
a resolucgdo de penetra-la a fundo, nem de estar a altura
para responder tédas as dificuldades e objecoes que agora
me proponho. Uma coisa é possuir um conceito e outra
ter consciéncia déle, ou melhor, redescobri-lo renovada-
mente e defini-lo em fungdo das dificuldades surgidas e

5
das objecgoes propostas. E, no entanto, isto é o que o de raiva. Nestes casos as particulan-
séo” de pudor ou
homem sempre se vé obrigado a fazer, pois, ao contra- indicios de certos fatos, mas,
dades notadas servem como
tio dos animais e dos deuses, esta condenado a pensar, também concorrem para constituir éstes
na realidade,
Assim, resolvi submeter 0 conceito fatos e nao sao separaveis ou distinguiveis déles. Tam-
a uma investigacao
metddica, e, a fim de que ela se atenha ao essencial e bém assim, para o observador, a expressdo sentimental
mn&o se perca na vastidao das obras literarias em sua ou passional que se estrutura em sons articulados é sin-
complexidade e magnificéncia, concentrarei a atengao toma de um sentimento ou de uma paixfo, mas, para
principalmente na célula origindria de onde surgem e quem a sofre, é 0 préprio sentimento, do qual a chamada
crescem éstes maiores e mais complexos organismos — a expressao é parte integrante.
expressao literaria, que cada um podera ilustrar com Reduzindo também a expressao sentimental @ sua for-
exemplos que thes paregam claros e faceis, sem limi- ma ou célula mais simples e elementar, ela se apresenta
tar-se exclusivamente aos que eu vier a indicar. Por ou- como interjeicao, exemplificavel em “oh!”, “ah!”, “ai!”,
tro lado, a fim de que a investigacao se desenvolvesse “uh!” e similares. No entanto, n&o se trata da interjeicao
com a devida cautela e corregao, comecei perguntando- que ressoa nas poesias, considerada pelos gramaticos co-
me se a expressdo literaria se identifica com algum dos mo “uma das partes do discurso”, que se tornou expres-
outros quatro modos dz expressao de que se costuma s8o teorética ou palavra, mas sim daquela interjeicao
falar: a expressao sentimental ou imediata, a expressao que deveriamos chamar de “natural”, que sai do peito e
poética, a expresso prosaica, e a expressdo pratica ou da garganta de quem é tomado de admiracao, ddio,
ale-
oratéria. gria, fastio ou terror: afetos e sentimentos
que, tudo agi-
tando, extravasam em som articulado.
Quando se tenta
I - A EXPRESSAO SENTIMENTAL OU IMEDIATA suprimir estas manifestagdes vocais com a
férca da ini-
A expresso sentimental ou imediata se chama “expres- bigdo, que a prudéncia ou a boa educacdo
poem em
sao” na linguagem comum, mas nao o é nem em sentido funcionamento, Nao se consegue mais que reprimi-las, e
pratico nem em sentido teorético, quer dizer, nao é ex- entao o sentimento reprimido abre outros caminhos,
transforma-se
pressao no sentido ativo e criador, que é 0 unico valido, em outros tons de sentimento, mais ou
ja pelo préprio fato de ser imediata. Dizemos que trinta menos afins, que se exprimem pelo
gesto, pela mimica,
Pela contracdo dos musculos faciais,
e oito graus no termémetro séo “expressao” de febre, pelo préprio esfér-
que o céu carregado é “expresséo” de chuva iminente, Be ede, ee aamente da
inibicéo. Entéo os la-
que a alta do cambio é “expressao” da menor férga aqui- as rapidas interjeigdes dadas co-
noe
sitiva da moeda, que um certo rubor do rosto é2 u “expres: - mo exemplos, mas em torrentes
de frases bem mais

6
7

cil
as pronunciadas a J
targidas e precipitadas do que pelo
o, ao ser surpreendi fa com Baudelaire e Flaubert,
lia do Don Juan byronian po-
e éste, numa defesa exage-
entes de sons articulados tada, propés a paradoxal
marido no leito. Estas torr
doutrina da “impessoalidade”
escri ta e este nder -se por volu- da arte; (para apontar
dem canalizar-se para a
apenas alguns nomes e episédios
obstante, ec'8 sua origem da acesa e prolongada guerra
mes e séries de volumes, e, 120 entao desenvolvida). Ao
tal, per manecerao_ sempre in recordarmos esta guerra
for uma comogao sentimen
e os homens que ai por vézes
nao expressao teorética adotaram o partido da paixao, do sentimento e
terjeicdes, isto , sentimento, e do co.
ica névo ato espiritual e nova ragao, convertidos pelos seus afetos ternos ou sublimes
do sentimento que impl
in, apesar de natu- em rebeldes ao freio da arte, A severidade da poesia
forma de consciéncia. Charles Darw e
afir mar a dive rsidade de ambas & idéia da beleza, e que nao eram espiritos vulgares,
ralista, nao hesitou em
do, esperando en- experimentamos algo entre vergonha e enfado quando,
as coisas, oculta na homonfmia, quan
es subsidios para agora,
contrar nas obras de pintores e escultor
nos constrangem novamente a ouvir esta mesma
to nos homens doutrina da poesia como sentimento emasculada nos po-
o estudo sébre a expresséo do sentimen
& nos anim ais, no obte ve nada ou quas e nada, porque bres sofismas de académicos e professéres fechados para
principal a arte e inexperientes no desenvolvimento histérico das
evidentemente “nas obras de arte a finalidade
com a qual é incompa tivel a contrag éo vio- doutrinas artisticas, Entretanto, convém advertir que
é a beleza, o
argumento por éles empregado, de que o sentimento nao
lenta dos misculos faciais”, como escreveu.
é matéria informe mas algo que tem forma e se expres-
Os romAnticos manifestamente incorreram em equivoco
sa, abre uma porta ja aberta. Entende-se perfeitamen-
diante da expresso natural (= nao expresso) e da
te — e j& o reconhecemos — que o sentimento, como
expressdo poética nas suas teorias e juizos, que corres- qualquer outro ato ou fato, como a propria intuicao poé-
pondiam, senfo as suas obras, as suas ilusdes. Nisto tam- tica que jamais existe sem a expressio, nado é espirito
bém incorreram algumas escolas pés-romanticas e atuais, sem corpo, mas, ao contrario, alma e corpo, interior e
com uma dnica diferenca: talvez estas nao oferegam
exterior, divididos na abstracéo naturalista, mas uma
manifestagées passionais tao nobres e de tao humana
s6 coisa na realidade, onde o verbo se faz carne. Mas
comogao como as que encontramos nas obras dos ro-
éste argumento nao abre a outra porta, para éles fecha-
mAnticos, Na Itélia, a verdadeira consciéncia poética
feagiu a esta tendéncia com Giosué Carducci que, re- da, a porta da expressdo poética notériamente diferente
cusando a usual idolatria ao “coracéo”, como génio da da pseudo-expressao do sentimento. William Shakespea-
poesia, proferiu invectivas e sarcasmos contra éste “mis- te, éste grande homem que por muito tempo tornou-se
culo vil nocivo a grande arte pura”. Na Franca, reagiu quase o simbolo da paixfo desenfreada na arte, nao sé
foi o contrario disso em suas obras, como também nio se
8
9
algumas de
o sentimento a0 insinuar mento das estatuas de céra colorida, que dao a ilusao
deteve na paixao en a poesia como uma
viogdes tedricas: definiu da realidade, mas nem por isso so pintura ou escultura.
da
suse son ja na qual o poeta, volvendo os olhos Reproduzir com perfeig&o, como fazem alguns, os lati
, atrib ui figur a, lugar e no. dos, mugidos e rugidos, dos animais também nao é fazer
ee a0 *,C Te dov0 cecéu & terra
terra artistas nao o
‘ts ares, e recomendou aos
me, a “nadas
poesia ou arte. A poesia nao pode copiar ou imitar o
mas a “tem pera nce” e a “smooth- sentimento porque éste, que tem forma por si mesmo,
desafogo na violéncia,
mei io & temp esta de e ao torvelinho em sua esfera, nao tem forma diante dela e, ai, nao é
ness”, ainda que em algo determinado mas o cos, e, sendo o cd4os um sim-
dos afetos.
ples momento negativo, é o nada. Como qualquer outra
e no pré-
° a que© 0 Oesucede
elaciona’ do a expresso poétic
ne
atividade espiritual, a poesia cria, ela mesma, com a
Rprio ato que 0 sucede, o sentim
; ento ja nao é forma senéo
solucéo o problema, com a forma o contetido, que nao
esp! iritual pela qual, na dia-
matéria, em virtude da lei é matéria informe mas formada. Antes que brilhe a fa-
a num
lética viva do proprio espirito, o que era form gulha poética nao ha figuras reveladas na luz ou na
no grau ulterior, rece.
grau anterior regride B matéria sombra, mas apenas trevas; e somente esta fagulha irra-
a Paixéo,
bendo outra forma; (assim como ocorre com dia a luz: uma luz pela qual o nascimento de Homero
no homem apaixonado e regride
que tem a sua forma foi comparado ao nascer do sol sébre a terra, e, por
reflexao que a torna
A matéria quando néle penetra a isto, a “clareza homérica” ainda hoje é atributo de téda
cessa rio dizer que a rela-
seu objeto proprio). & desne verdadeira poesia.
matér ia e forma nao é uma relag ao naturalista de
ao de Entretanto, a treva nao é 0 inexistente, como o nada é
form a de pretericéo,
causa e efeito, nem mesmo como o nada, mas um momento negativo, que, como tal, se
e tamb ém nao é uma relac do entre origi nal e cépia, co-
m comum, origina de um momento positivo; e, se o sentimento
mo poderiam sugerir as metaforas da linguage informe ndo tivesse atras de si o positivo, a poesia nfo
se fala da palav ra que “rep rodu z” ou “rep resenta”
onde surgiria, pois 0 espirito nfo é uma abstracado e as formas
o sentimento e da arte que é “imagem” ou “mimese” ou do espirito nao sao irrelacionadas entre si (“nulla ars in
‘imitacao” da natureza e da realidade. A ingénua teoria
se tota versatur”), mas, ao contrario, cada uma delas vive
do conhecimento como copia (“Abbild”), que € a pro-
da vida das outras, Também incorrem em excesso de
mocao destas metaforas a relacao légica, refutada pe-
defesa as proposicgdes freqitentemente encontradas em
la gnoseologia com a facil demonstragaéo de que ela subs-
criticos, poetas e até em bons entendidos, segundo as
titui inutilmente o ato do conhecimento pela duplica-
quais a pocsia é criacao de beleza mas nao possui qual-
¢ao da coisa a conhecer, recebeu, ha muito tempo, a re-
quer conteado e nada significa, como se a beleza nao
futagio popular em questdes de arte, mediante o argu-
1
10
fésse em verdade a transf
: iguragao do sentimento na qual o alegrava e atormentava, ou de qualquer modo o ocupa-
sicut so: 1, vestimenta facta sunt alba
“resplendet facies va, tudo transformando em “imagem” mediante o ato
a outra trans: formagao narrada no Evan- teorético que, no relacionamento da poesia com as pai-
ut nix”, segundo

wee
gelho de Sao Mateus. x6es, foi designado como “catarse”.

Se o desconhecimento do que é arte e poesia nao fésse


tao grande, e se, por outro lado, nfo perdurasse a tenaz Il - A EXPRESSAO POETICA

concepgao do conhecimento como copia e o da criacgio Que é, pois, a expressdo poética que aplaca e transfigu-
como criagao no abstrato, nao haveria esti- ra o sentimento? EF, como dissemos, ao contrario do sen-
espiritual
ulo para argumentar e demonstrar que a poesia é dis- timento, uma teorética, um conhecer, e, por isso mesmo,
tinta do conhecimento, que éste é a sua matéria neces- a esfera onde o sentimento adere ao particular. Por mais
saria, que a poesia é a transfiguracéo do sentimento, e alta e nobre que seja a sua origem, a poesia se move,
tédas estas concepgdes vigorariam indiscutiveis e paci- necessariamente, na unilateralidade da paixfo, na anti-

ficas. De fato, cada um de nés observa em si préprio a nomia do bem e do mal, na ansia de gozar e sofrer; vin-

génese das expressdes poéticas que, por mais ténues que cula o universal ao particular, e acolhe, superando-os
sejam, surgem sempre duma comocdo que foi vivida e ambos, a dor e 0 prazer. Por sébre o conflito das partes,
86 na palavra se reconhece e determina a si mesma. contra as partes, ela realca a visao das partes no todo,
Por estas experiéncias somos levados a supor que o por sébre o contraste a harmonia, por sdbre a angustia
mesmo ocorre aqueles que séo por exceléncia e especi- de infinito a amplitude do infinito. Esta marca de uni-
ficamente poetas, e, embora a sua vida passional nos versalidade e totalidade é o seu carater. Quando éste
seja desconhecida, imaginam-se facilmente novelas e carater é débil ou insuficiente, embora apesar de tudo
dramas de amor e heroismo, desgracas e catastrofes, pareca existirem imagens, se diz que falta a plenitude
transformam-se os poetas em seus protagonistas e viti- da imagem, a “imaginagéo suprema”, a fantasia criado-
mas, e, mediante tais imaginagées, efabula-se a ligagao ra, a genuina poesia. E, uma vez que, como qualquer ou-
da fantasia com o sentimento, Goethe nao cansava de tra formag&o, a poesia nao se realiza sem a luta do espi-
repetir que téda poesia é “poesia de circunstancia” e a rito consigo mesmo, e, no presente caso, com o senti-
realidade s6 lhe pode fornecer o “incentivo” e a “maté- mento que, ao oferecer-Ihe o assunto, também Ihe opde
ria”. Chegou a escrever que considerava a sua obra, téo © péso e o obstaculo do assunto, a vitéria pela qual a
vasta e variada, - constituida de idilios, liricas, tragé- matéria resistente se converte em imagem é assinalada
a Dinogwee fea duma grande confis- pela serenidade alcangada, onde a comogao ainda tre-
ata ou purificara de tudo que mula como uma lagrima sob o sorriso que a clarificou,

12 13
que € a alegria da
e pelo névo e catartico sentimento preendidas e materializadas ao restringirmo-las exclusi-
beleza. vamente a um tom particular da poesia, ou, pior ainda,
vel . e quase mila- para que nao se transformem no programa de uma poe-
A agao da poesia pareceu tao admira
aos antigos gregos que éles a consideraram como sia a realizar e de uma escola que iria adota-lo, é con-
grosa
um sopro sagrado, um furor, um entusiasmo, uma divina veniente traduzirmos estas palavras em outras que nao
mortais, hon- se prestem a semelhante equivoco. Diremos, pois, que
mania, e distinguiram os aedos dos demais
pelos deuses, discipulos diletos esta universalidade e a variada sinonimia que a acom-
rando-os como inspirados
céu. Nem mesmo panha nada mais é que a humanidade integral e indi-
da Musa cujo canto alcancga 0 amplo
e, de visivel de sua visao. Diremos ainda que uma visdo desta
os modernos negam éste preito de homenagem,
cercar os poetas de unanime admiragéo espécie, qualquer que seja o lugar em que se forme,
fato, costumam
nao qualquer que seja o seu contetido particular, encontra
€ quase reverente protecao, e é a éles em especial, se
exclusivamente, que reservam o privilégio da “inspira-
neste mesmo contetido particular a universalidade, sem
e a que seja necessdria a intervengaéo do infinito, do cosmos
cao” e o dom da “genialidade”. A rigor, a inspiracdo
em todo # ser e em téda obra ou de Deus mediante imagens diretas, como no Coeli
genialidade se encontram
que, de outra maneira, nao seria verdadeiramen- enarrant ou nas Laudes Creaturarum. De resto, nfo ape-
humana
te humana. Mas o relévo que éstes dois caracteres pa- nas esta mas também qualquer outra distingao entre
matérias poéticas e matérias nao poéticas, que foram no
recem assumir na criacdo poética provém, justamente,
passado a fadiga inutil de tratadistas e fildsofos, e que
da referéncia do finito ao infinito, que n&o ocorre, ou
nao ocorre assim, na praxis e na paixdo, onde tem atualmente parecem nfo ser sequer tentadas, reduzem-
se a procurar na matéria da poesia aquela poeticidade
lugar 0 movimento inverso, que é primordial no pensa-
mento e na filosofia, mas secunddrio e mediato na poe- que s6 existe, e nao pode deixar de existir, na propria
sia. Em comparacdo com o conhecer da filosofia, o da poesia, Nao apenas Heitor e Ajax, Antigone e Dido,
poesia pareceu diferente, e. mais que um conhecer, se Francesca e Margherite, Macbeth e Lear sao poéticos,
apresentou como produzir, um forjar, um plasmar, um mas também o SAo Falstaff, Dom Quixote e Sancho Pan-
xotetv, - dai o nome que conserva em nossas linguas — e, ga. Nao apenas Cordélia, Desdémona e Andrémaca, mas
no que se refere & poesia, foi abandonado pela primeira também Manon Lescaut e Emme Bovary, as condessas
vez 0 conceito do conhecer como receptivo e substituido e os Cherubini do mundo de Figaro. Nao apenas o sen-
pelo do conhecer como um fazer. timento de um Foscolo, de um Vigny ou dz um Keats,
Entretanto, para que a universalidade, a divindade e a mas também o de um Villon. Nao apenas os hexame-
cosmicidade que se lhe atribuem nao sejam mal com- tres vergilianos soam poéticamente, mas também os he-

14 15
an
psixio de amor: o ocaso do amor na eutanasia da re-
Cocai, que tém tracos
xAmetros mecarrénicos de Merlin cordacgao. Um véu de tristeza parece envolver a beleza,
de fresca humanidaede, e nao apenas os sone-
belissimos e no entanto nao é um véu mas a prdépria face da Beleza.
mas até mesmo os sonetos burlescos e
tos de Petrarca,
pedantes de Fidenzio Glottocrisio. O mais humilde can- WI - A EXPRESSAO PROSAICA
to popular, quando iluminado por um raio de humani- Que a poesia seja a esfera da imaginagao, do sonho, do
dade, é poesia e pode defrontar-se com qualquer outra irreal, 6 uma convicgao comum, mas que nao deve pas-
sublime poesia. Geralmente uma ostentacéo de falsa sar sem reparo ou correc&o, pois ela deve ser definida
gravidade nos torna arredios a reconhecer tais coisas mais exatamente como algo acima da distingéo entre
ante obras de que se desprendem o riso e a jovialidade, real e irreal, e por isto nao pode ser qualificada por
enquanto nos faz propensos a reconhecé-las ante obras
nenhuma destas duas categorias opostas. E uma esfera
em que se condensam 0 solene, 0 tragico, o doloroso e o de pura qualidade, sem o predicado da existéncia, isto
aterrador. Entretanto, nao raro acontece que ésses Ul- é, sem o pensamento e a critica que, discernindo, con-
timos tons se apresentem rigidos, crus, violentos, nfo vertem o mundo da fantasia em mundo da realidade. A
poéticos, enquanto a jovialidade e o riso oferecem, a expressio prosaica distingue-se da poética como a fan-
quem souber observa-los, a filigrana da dor e a com- tasia do pensamento, o poetar do filosofar. Qualquer
preensio da humanidade. Para reproduzir a impressaéo outra distingao fundada na ‘distincao fisica dos sons ar-
que a poesia deixa nas almas aflorou espontaneamente ticulados e de suas diversas colocacGes, seqiiéncias, rit-
aos labios a palavra “melancolia”. Realmente, a conci- mos, metros, nao conduz e nao podera jamais conduzir
liaco dos contrarios, em cujo embate palpita a vida, a qualquer resultado, tanto para esta como para qual-
0 esvanecimento das paixdes que, juntamente com a dor, quer outra das formas de expresséo que estamos exami-
nos trazem nao sei que tibieza voluptuosa, o abandono nando. Tédas elas, tomadas exteriormente, apresentam
da morada terrestre que nos torna ferozes e nfo obstan- os mesmos sons, a mesma espécie de colocagao e seqiién-
te é a morada do nosso gézo, sofrimento e sonho, éste cia, ou apenas ténues e ilusérias diferencas. Alids, pode-
alcar-se da poesia ao céu, é simultaneamente um olhar se dizer que a questao da diferenga entre a expresso
para tras que, embora sem nostalgia, ainda guarda algo poética e a prosaica foi encerrada quando Aristételes
de saudade. A poesia tem sido colocada ao lado do amor, mostrou a sua insubsisténcia, observando que existem
quase como irma, fundida e unida com o amor numa filosofias em discurso métrico e poesias em discurso li-
Gnica criatura que guarda um pouco de um e um pouco vre, Nos tempos modernos jamais foi possivel reabrir a
de outra. No entanto, a poesia é, mais exatamente, 0 questo com a esperanca de uma conclusdo diferente.
ocaso do amor, quando a realidade téda se consome em
17
16
ee

A luz da relacao estabelecida entre poesia e filosofia,


sem um freio interno, “sibi imperiosa” (para
govérno,
vése logo, e quase com espanto, a grande incoeréncia horaciana), sem acolher e rejeitar,
adoter a expressao
das teorias que. se nao identificam a poesia com a filo- operando “tacito quodam sensu”
sem provar e reprovar,
sofia, submetem aqu:la a esta, que enderecaria a pri-
até que venha a satisfazer-se na imagem expressa pelo
meira a um fim e lhe daria o ordenamento racional das a todo fazer do homem que
som. Nisto ela é semelhante
partes. A filosofia nao sé nao tem poder algum sébre que
sempre traz consigo o sentido do que é atil e do
a poesia (“Sorbonae nullum ius in Parnasso”), que nas-
é nocivo. Ou acaso chamaremos de “teoria e critica eco-
ce sem ela e antes dela, como, quando dela se aproxi- de quem torce e retorce O seu
némica” o movimento
ma, ao invés de dar-lhe nascimento ou infundir-lhe vi-
corpo sdbre a cadeira até encontrar a posicao adequada,
gor, traz-lhe a morte, pois a morte do mundo da poesia com a cadeira, e, resclvido o problema, se aco-
o acérdo
é justamente a sua transladagaéo para o mundo da cri- moda? Ou acaso chamaremos de “critica obstétrica” os
tica e da realidade. Apesar de sua incoeréncia e de to- esforcos, as tréguas e os recobros da parturiente? Re-
dos os seus erros, estas teorias contém elementos vivos corramos a esta segunda comparacao, porque justamen-
de verdade, quando nao se esterilizem entre académicos te se costuma falar das “déres de parto do génio”. Os
e professéres, degenerando em repeticdes maquinais de verdadeiros poetas certamente nado tém um parto facil,
férmulas. Um déles é a justa exigéncia de afirmar, con- mesmo porque a facilidade de logo transformar tudo
tra o selvagem desafégo passional e a dispersao do sen- em versos ja nao é um bom sinal e “piget corrigere et
timentalismo e do sensualismo, o carater ideal e teoré- longi terre laboris onus”, como Ovidio confessava de si
tico da poesia e a sua teorética tarefa. Observando bem mesmo, e nao em honra sua.
e définindo mal, afirma-se, nessa relacdo, que na poesia
N&o é que os juizos prépriamente ditos néo possam in-
deve trabalhar e trabalha a critica, sem a qual nao se
terferir no curso, ou, mais exatamente, nas suspensdes
conseguiria a perfeicao e a beleza. Entretanto, neste caso,
e nos intervalos do trabalho poético, mas, se sao refle-
“critica” é simplesmente uma metdfora que, como em
x6es e€ juizos, certamente serao Gteis para descartar pre-
Outros casos ja assinalados ou que assinalaremos, se des-
conceitos tedricos, poéticamente estéreis, porque a vir-
gasta num jégo de palavras ao ser confundida com o tude fecundante pertence inicamente ao ato sensivel de
concsito que originou a metafora e com a critica ver- Teger-se e corrigir-se, que nunca é inconsciente ou ins-
dadeira e prépria, a qual, consistindo na distingdo entre tintivo, mas, ao contrario, ativo e consciente, ainda que
© real e o irreal, descolore e faz morrer a poesia, A ou- nao seja auto-consciente e légicamente distintivo como
tra, a critica metaforica, a0 contrario, néo é sendo a © juizo da critica. Por esta razao, refutando a estranha
Prépria poesia, que néo perfaz a sua obra sem auto e ineficaz intervencao da critica na criagéo da poesia,

18 19
nee

e advertindo que a quem “a natureza nao quer dizer”


de outro pensamento que
a palavra da poesia nem “mil Atenas e Romas” a dirao, ocorte, resta a impossibilidade
minag ao do juizo que nao
rejeita-se o contraditério conceito do génio carente de nao o juizo, nem outra deter
real e histérica. Mesmo quando pensa-
gésto e consolida-se, por outro lado, a unidade e a iden. a da existéncia
;
categorias puras do juizo
tidade de génio e gésto (a menos que se queira entender mos as i déias puras, ou seja, as
ser e ndo ser, verda deiro e falso, . bem e
um génio desigual e intermitente). (real ou irreal,
nos fatos, » median te o
mal), as pensamos individuadas
me
Um outro motivo concorria pata dar aparéncia de ver.
colocar e resolver pro blemas formados histéricamente
dade & falsa relacZo entre poesia e filosofia: a concep. em térno delas, as quais, por si, nfo sao outra coisa se-
¢ao da filosofia como contemplacdo das idéias puras, as nao o pensamento, que é sempre sujeito e nunca objeto
quais, passando da abstragéo a imaginacdo, apresenta- do conhecimento.
vam-se como divindades e forjavam uma espécie de mi-
Ora, se 0 pensamento nao tem outro oficio que o de
tologia primitiva e popular, mas substancialmente nao
distinguir as imagens do real das do irreal, e n@o cria
menos fantasiosa. Sendo fantasioso, éste mundo supre-
as imagens - que, como tais, so a matéria que a poesia
humano de esséncias ideais tomava também o aspecto
e a fantasia lhe apresentam — a expressao prosaica, di-
de um mundo de criaturas humanas, com atitudes e
ferentemente da poética, nao consistiré na expressao de
transformagées humanas, um névo Olimpo semelhante afetos e sentimentos mas na determinacaéo do pensamen-
ao dos deuses homéricos, e assim parecia oferecer-se A
to; nao consistira em imagens mas em simbolos ou sig-.
poesia como qualquer outra realidade natural e também, nos de conceitos,
como julgavam seus contempladores e visionarios, como
Esta maneira de ser é evidente na prosa das ciéncias
© mais alto e digno dos fundamentos. Entretanto, bem
abstratas, evidentissima
nas matematicas, um pouco me-
diversamente daquela abstrata ou mitolégica contempla-
nos na fisica, na quimica e nas classificagdes das cién-
¢ao, o verdadeiro filosofar é julgar e pensar, ou seja,
Cas naturais e nas exposigdes especializadas da filoso-
pensar idéias, categorias e conceitos, mas unicamente ao
fia, que s6 por artificio didatico sio separadas dos fatos
julgar os fatos; e julgar importa em qualificar, distin-
em que se fundam. Mas esta maneira de ser nao é menos
guindo o real do irreal, coisa que a poesia, ciosa de si
efetiva e certa na prosa histérica, que constitui o
mesma, nZo faz, nao pode fazer e nao procura fazer. exem-
plo fundamental, porquanto ela é o ato
Se alguém por acaso conhece outra definigaéo de filoso- originério do
juizo na sua concretitude e inteireza e o
lugar onde os
far e pensar, faca-nos o favor de comunicdé-la para po- signos mais parecem ocultar-se na espessu
ra das ima-
dermos corrigir e ampliar o nosso horizonte, por enquan- tens. Tanto é assim que os antigos oradore
s sustentavam
to encerrado nesses limites insuperdveis. Mas se tal nao que a histéria haveria de diferenciar-se
das outras pro-

20
21

renee
o->
i ma poetisi ¢ qi uodamm
bria, porque “proxi tar .um” de um sol que, no ocaso, deixa sdbre o horizonte um
utum”, compos
ta “verbi ferme poe parélio consolador ainda que palido e inanimado. A ver-
0
do carmen sol € @ con fro ntar.
ance
ma pagina de rom dade é que a alma da prosa é realmente distinta da
¢€ noutra encon-
Sh ead
agina de historia, numa alma da poesia e, no seu fazer-se apresenta-se como
semelhante
oe coed a iguais ou semelhantes, oposta, pois diverso e oposto é o ideal que o prosador
me evocadas, de
semelhantes imagens cultiva e que nao se dirige a sensitividade da imagem
.sintaxe 6 ou ritmo, e e
a_rele-
parece
haver nenhuma diferenc
nao mas a castidade do signo. Tanto é assim que mais de
eira as imagens
maneira que
Entretanto, na prim
vante entre ambas. nidade intuitiva que
uma vez ja se tentou construir sébre éste ideal a utopia
da reducao de téda expresso prosaica & semiética-ma-
do t
sent imento,
sent enquan-
a um t om part icul
rticul arar tematica, e nao sé Spinoza e outros filésofos escreveram
for! a
deu u form
sao movidas por um fio Oe emt
to que na segunda de maneira geométrica ou tentaram as formas do cal-
e nie p ‘a me
,
apenas pensado e pensavel, pelo qual culo, mas inclusive um historiador nada vulgar como
é . P
obtém unidade e coer
ao e pela fantasia, ela os, Signos las
Vincenzo Cuoco sonhou a substituicgéo dos nomes dos
sao conc eito s real izad personagens da narracgao histérica pelas letras do alfa-
te imagens, mas
arn am e dive rsif icam , gue
veins operantes que se enc -
beto. Dissemos utopia porque neste procedimento os no-
te, nos pers
se contrapoem ¢ desdobram dialéticamen mes, os niimeros e as letras algébricas sao, uns e outros,
r
Na primeira ha um calo
gens e nas acoes da historia. signos, e nfo ha conveniéncia nem maneira de transpor-
nde por todas as suas part es; na outa tar a uma disciplina os signos préprios de outra.
central que se difu
ou reduzir qualquer cha-
ha uma frieza pronta a apagar Enquanto simbolo e signo, a expressdo prosaica ndo é
se acender, pronta a manter
ma d= poesia que possa
palavra, como, por outro lado, nao é palavra a manifes-
que estende, amatta,
imunes e a salvo os fios mentais tacéo natural do sentimento, pois sé a expressao poética
a amarrar para atingir seu intento.
desamarra e torna é verdadeiramente palavra. Isto revela o sentido profun-
> o drama
Também isto é, de certo modo, um drama do da antiga afirmacéo de que a poesia é a “lingua ma-
é um ardor
do pensamento, a dialctica: e aquela frieza terna do género humano” e “os poetas surgiram no mun-
e con-
contido, que parece frio apenas porque s€ defend do antes dos prosadores”. A poesia é a linguagem em
tra um estranho ardor. Algum esteticista da velha escola, seu ser genuino. Por isso, quando se tentou ir a fundo
daqueles que gastavam o tempo construindo classifica- no problema da natureza da linguagem (ainda na forma
goes ¢ sistemas para as diversas artes, nao conseguia ex- semi-mitolégica em que era colocado, a da origem da
cluir completamente a dialética do reino da Beleza, e linguagem, como se ela fésse um fato que tivesse origem
(como o nosso Tari) colocava-a na “fronteira”, & guisa no tempo), foi necessério abandonar uma a uma as teo-

22 23
rjeigao ee ou sen-
rias que a explicavam pela inte Iv - A EXPRESSAO ORATORIA
ou ii acgaéo das
tumento), pela onomatopela (a copia A atividade vale-se de sons articulados para suscitar es-
dos
social (o estabelecimento
coisas), pela convengao o (a ané- tados de animo particulares, e isto constitui a expressao
pens amen to refl exiv
signos), ou pela obra do ive oratéria. Atendo-nos as formas mais simples, assim como
lise Idgica). Recorreu-se, enfim, a0 Princip1o explicat para a expressdo sentimental exemplificamos com as ex-
assim , Vico indi cou “no inte-
oferecido pt ela poesia. E, 7 clamagées, para a oratéria podemos exemplificar com
. ros
das linguas”,ve e outros, como
rior da poesia a origem para
os imperativos: “Vamos!”, “Depressa!”, “Anda”, “Ja!”, e
0 processo da criagao poética
Herder, descreveram similares. Mas a oratéria se vale delas como sons e nao
iro homem que for-
representar dramaticamente 0 prime como palavras ou signos conceituais, e nao submete ou
a: primei ra palavra que nao foi
mou a primeira palavr “escraviza” a seus fins as palavras ou expresses poéti-
ssao acabada
um vocal bulo de dicionério mas uma expre cas, como se diz e se pode continuar a dizer, mas ape-
um broto, a primei ra poesia . Pensou-se
em st e, como nas como modo de dizer.
depois houves
; se ra-
degeneas
que esta primeira linguagem
pratica e instrumento utilita- Isto é importante de notar, porque nas velhas estéticas
do, reduzindo-se 4 lingua
as vé- e filosofias da arte havia a classe das “artes nao liberais”,
rio, e que sé por um milagre de génio ela fésse
faziam exatamente as que se subordinavam a fins estranhos,
zes reencontrada por uns poucos eleitos que
entre as quais, junto com as designadas estranhamente
novamente aflorar e brilhar ao sol o limpido regato.
como “artes nao liberais da percepcao”, isto é, de obje-
Mas a linguagem jamais se perverteu e jamais perdeu
tos e utensilios como uma casa, um jardim, uma copa,
(pois seria contra a natureza) a sua natureza poética,
A imaginaria lingua utilitaria nao é sendo o complexo um colar (que seriam ambivalentes servindo tanto para
das expressées nao poéticas, isto é, sentimentais e pro- © uso pratico como para o g6zo estético), contavam-se
saicas, oratorias enfim, sdbre as quais iremos discorrer. as “artes nao liberais da fantasia” como as da palavra,
Se atentarmos bem, mesmo no expressar-se quotidiano isto é, a oratoria, que submeteria a série das imagens
é possivel notar como, ao longo de seu curso vivaz, con- poéticas as utilidades praticas. Mas, assim agindo, peca-
tinuamente se renovam e inventam imaginosamente as va-se, sem querer e sem saber, contra o Espirito, acei-
palavras e floresce a poesia, poesia dos mais variados tando e legitimando filosoficamente um modo de escra-
tons, severa e sublime, terna, graciosa e sorridente. vizacgéo da fantasia ao pensamento, duas coisas que nao
podem ser jamais escravizadas e nem mesmo escravizar-
se a si mesmas, pois jamais podem calar inteiramente
a sua voz. Quando muito podem emitir uma outra voz,

24 25
TT
ressoante g
disfarce © como tal, torna mais Andrios um estado de 4nimo, mas jamais imprimir-ihes
que é uma voz e maisi pungente a ferida do remorso.
verdadeir persuaséo e vontade: ato de liberdade que cada um
A expressao oratéria, que é pratica em sua constituicao perfaz“em liberdade. Em suma, a prdpria intengio de
empiricamente das outras es. preparar e provocar volicées deve ser abandonada por-
intima, distingue-se apenas
pécies de pratica, e nao por qualquer caréter substan. quanto arbitraéria restricao do ambito da oratéria, que
des em que
cial E quase engracado observar as dificulda se caracteriza apenas por suscitar estados de animo, co-
ano qua ndo pro cur a atr ibu ir-lhe um mo se vera pelas consideracées posteriores.
mergulha Quintili
re-o em
carater verdadeiramente diferenciado e descob Os antigos retéricos, além da persuasaéo, propunham co-
primero lugar na tarefa de “persuadir”, mas ja em seu mo tarefa do orador também o “docere” e o “delectare”.
ser exe- pode
proprio ato vé-se que 0 persuadir também Tratava-se de um “docere” nao teorético e verdadeiro,
as que n@o os sons art icu lados:
cutado com outras cois mas sim de um “persuadere” sdbre certas crencas com
toritas di-
“yerum et pecunia persuadet et gratia et auc atrativos praticos e de um “delectare” que no mais das
voce,
centis et dignitas postremo aspectus etiam ipse sine vézes estava igualmente subordinado e outras vézes era
ua
quo vel recordatio meritorum cuiusque vel facies aliq entendido como algo subsistente por si, com fins inde-
miserabilis vel formae pulchritudo sententiam dictat”, pendentes. Esta é a compreensdo corrente, pois éste “per-
exemplificando com Hiperides que desnuda o belo seio suadere” é entendido como um circulo pratico particular
de Frinéia e Anténio que rasga as vestes de Aquilio des- junto ao outro que tende a preparar volicdes. Trata-se
cobrindo as cicatrizes das feridas gloriosas. Nem mesmo de um circulo pratico que, mais prépriamente definido,
a determinacao que éle acrescenta do persuadir “dicen- versa sébre 0 suscitar comocées para entretenimento,
do” o satisfaz, porque “persuadent dicendo..., vel du- qualquer espécie de comocdes e ndo apenas as agradé-
cunt in id quod volunt, alii quoque, ut meretrices, adu- veis, porque o agrado e o deleite provém do préprio fato
latores, corruptores” - uniao que ndo agrada ao severo de serem suscitados para entretenimento. Isto responde
e digno orador, De fato, nao é possivel distinguir in- a uma necessidade do espirito humano que jamais pode
trinsecamente o persuadir mediante a voz e os gestos permanecer inerte, pois é éle, e nao a natureza huma-
do ato de operar sébre a vontade de outrem através ma, que se recusa a permanecer no vazio. Com efeito, o
dos fatos. Assim, as duas deusas que Temistocles dizia homem, quando nao quer ou nao pode continuar um
levar em sua companhia para que os homens de Andros trabalho, entrega-se logo a outro que Ihe pareca mais
Pagassem os tributos, Peitho e Anankaia, a Persuasaéo cémodo, ou, para manter-se no exercicio de sua huma-
e a Forca, eram substancialmente uma sé, a qual, quer nidade, fantasia e faz desfilar as varias situagoes de vida
das emocdes que lhes correspondem e
com palavras quer com fatos, 86 poderia suscitar nos acompanhadas

26 27
E77 ea”

que séo também fantasticas, pois nascem da fanta. ai s:; dramaturgos, romancistas, atéres, mimicos,

corvettes Fava’ histrides,


compan bufdes, funambulos,‘
a a pel ten éri par. es,
ee oesee oe sinematograticas,
EM
i a comogao,
st eeenquanto
mogéo € hia bastante heterogé-
a mae en tus. materia °
das meretrizes e
ao “_ ve e certamente nada melhor que a
imaginacgao;
Se eepor outro eeeae
lado, aidistingue-se
eee ina do jégo com 9 mufides que afastear
, o bom Quintiliano nado conseguia
qual é freqiientemente confundido, (e como a arte e q j de suas preocupagoes. Companhia e rivalidade, porque
poesia também foram blasfematoriamente confundidas!), nao é raro que os que nao so escritores, entre os de-
pois o jogar é um conceito mais compreensivel € nao se miurgos de emocées, vengam os escritores, como ocorreu
refere a um fazer especial mas ao préprio ato de passar com Teréncio, que por trés vézes — uma por causa dos
de um fazer a outro para aliviar 0 cansago produzido fundmbulos, outra por causa dos pugilistas e outra por
pelo primeiro. Isto pode ser observado na maneira pela causa dos gladiadores viu a multidéo abandonar o
qual os homens diligentes escolhem os seus jogos, pro. teatro onde se representava a sua bela comédia Hecyra.
curando sempre obter alguma utilidade, realizando em Em nossos dias isto mostra que a vitéria do prepotente
certa medida aquilo que o laborioso Muratori realizava “sport” sdbre a arte e a literatura, contristadora em qual-
plenamente quando prescrevia a si mesmo num sonéto; quer parte do mundo para os que estavam acostuma-
“que o trabalho seja o préprio descanso —- Nao a quie- dos a outras formas de hierarquia, poderia coroar-se com
tude mas a mudanca de trabalho”. O entretenimento é a meméria de semelhantes triunfos nos tempos passa-
uma necessidade de caréter hedonistico, utilitario ou eco. dos. A duplice e oposta atitude que se observa nos poe-
némico, e a consciéncia moral nada tem a objetar-the, tas e nos literatos para com o teatro, atitude de repulsa
salvo corrigf-lo quando de indispensavel repouso o en- e desconfianga por um lado, de atracéo por outro, pro-
tretenimento se transforma em perda de tempo e ha- vém justamente do temor de serem superados por uma
ac
ae bito de perder tempo, como pode ocorrer quando se férca nao poética, anti-literaria e histriénica, e também
4 troca um trabalho penoso por outro menos penoso e pelo desejo de alcancarem a vitéria nesse campo, isto
esta troca representa a fuga a um dever urgente. 6, de obterem a vitéria para a literatura e a poesia.
/ 4 Quando a ampliagao da oratéria reine o fim de per- Os antigos retéricos insistiam, com razao, em que a arte
aa & suadir com o de entreter, coloca juntos o orador dos da poesia nao deveria ser julgada “ab eventu”, ou seja,
¢ tribunais e assembléias e os suscitdadores de emogées pele circunstancia de obter o efeito procurado no caso
pelo entretenimento desde as mais graves e tragicas as particular, a persuasao, como se pudéssemos julgar os
mais leves e jocosas, das mais elevadas as mais baixas, médicos pela habilidade demonstrada e nao pelo fato
das sis as malsas, mérbidas ou mesmo licenciosas e li- da morte ou cura do doente. Mesmo as obras de entre-

28 29
—__
em sébre o Papa, que afinal era apenas um bom
tenimento devem ser julgadas sdmente pelo modo cao nao s6
por motivos opos-
que se dispdem os meios adequados e nao pelo
seu efeito, frade ingénuo, mas também, e talvez
o caso
que a obra esteja bem estruturada, © autor tos, sobre espiritos literariamente refinados: Tal é
Uma vez s
ou enfas. de Sevigné pelos fomance
nfo tem culpa se o receptor permanece frio da atracao que sentia Mme.
bles” ®, nao
invés de simplesmente entreter-se, éle de La Calprenéde, que ela julgava “detésta
fantasiosas para outras de {n- présa por éles como por algo viscoso.
on fe eee obstante, sentia-se
do ator apedrejado ao re. Passados os séculos, mudado o publico, é dificil com-
dole pratica, como foi o caso
mais de uma livros puderam suscitar interésse
presentar um papel odioso, como aconteceu preender como éstes

vez nos teatros populares e como féz Dom


Quixote ates. e fanatismo, como o Calloandro Fedele pide multipli-
tando com éste ato o seu generoso impeto. zm todo o car-se em edigdes e traducdes em tédas as linguas, o
pratica e nfo mesmo ocorrendo com o Juif Errant e similares. E, ngo
seu dominio, a arte oratéria é de natureza
estética, e, por isto, coloca-se na medida das qualida. obstante, descendo na escala social ou na das idades do
les das pessoas sdbre as quais atua. O orador das cha. homem, observa-se que estas obras encontram ainda hoje
(que outrora se denominavam “plebe”) leitores que se deleitam com elas.
madas “massas”
recorreré a palavras e atos que “falsificam a honestida-
O carater pratico da oratéria estéve muito vivo na men-
de de qualquer ato”, e, nado obstante, o orador decoroso
te dos antigos retéricos (a cuja autoridade nos apraz
des-
e prudente que se comportar diferentemente diante recorrer preferentemente, pois foram éles que melhor
ta massa sera um mau orador, advogedo que nao molda
estudaram e explanaram esta arte). Dai a exclusao que
o seu oficio aos objetivos da causa.
convenientemente faziam das “quaestiones infinitae”, ou seja, meramente
Da mesma forma, as Ana Radcliff, os Eugéne Sue, os tedricas e cientificas, restringindo seu trabalho apenas
Paul de Kock, os Gaboriau, os Ohnet e os Montépin, os as “quaestiones finitae” ou “hipdteses”, As “contentiones
compositores de histérias alegres, de “romances amare-
causarum”, que haviam oferecido a primeira ocasiao pa-
los”, de dramas de circo e similares, serao dtimos en fa compor os seus tratados e constituiam o seu princi-
tretenedores para um publico que atente, chore e ria, pal objeto. Freqiientemente manifestaram inclusive, mes-
diante de imagens esquematicamente desenhadas e co- mo ao assinalar certas afinidades, a sua desconfianca
loridas de modo singelo. Serao étimos entretenedores, Para com a leitura ou imitac&o dos poetas, os quais in-
ao ponto de contar-se que o Papa Gregério XVI, leitor troduziam interésses estranhos ao interésse pratico e
apaixonado de seus romances, perguntoy a um visitan- operavam, como disse Cicero, “aliam quamdam linguam”
te francés: “Como vai o senhor Paul de Kock?” Freqiien- com © que, como afirmava Quintiliano, poetas e orado-
temente os livros desprovidos de arte exerceram atra- res prejudicam-se mituamente se nao levam sempre

Kt] 31
em conta que “sua cuique proposita est lex, suus cuique m ais ha a acrescentar,
a nao ser talvez
decor”. Devido a éste carater pratico a teoria da forma to tensa. Nada que anatematiza-
de que 4 propria Igreja,
yacao
do falar ou da elocugéo ocupou uma parte secundaria ada a fundar ou permi-
va o teatro, se viu depois obrig
a obs
nos antigos tratados, e s6 pouco a pouco vem-se desta.
os representar as comogées
para
tir a fundagao de teatr edi-
cando como disciplina auténoma, destaque que se reali. das repr esen tagdes sacras ou dramas
dos misté rios,
za plenamente nos tempos modernos, Em compensacio, s” e vidas de santo s, todos éles con-
ficantes, de “auto
os antigos livros de retérica tratavam ampla e parti. matéria profana e insepa-
tendo necessariamente muita
cularizadamente dos “costumes” e dos “afetos” humanog nao dizer que o teatro
ravel da matéria religiosa, para
que o orador necessitava bem conhecer e para éste fim
esté intimame nte ligad o ao dram a litargico e a santa
a teoria vinha em auxilio da pratica.
missa do unico ator.
Assim como a oratéria de entretenimento teve advers4. bastam as
Entretanto, para justificar a oratéria nao
rios que nao apenas Ihe condenavam éste ou aquéle as. obrigagdes morais, “omnes animi virtutes ” que Cicero e
pecto, mas negavam-lhe o préprio direito de existir, — e Quintiliano impunham ao orador. Para ela, como para
neste sentido so famosas as perseguigoes contra o tea- a expressao precedente, a justificacao deve ser intrin-
tro pela Igreja que chegou a negar sepultura cristé aos seca, deve provir de seu préprio fim, que nao é senao
atéres, - também a oratéria de persuasao foi criticada a utilidade, a prudéncia, a politica, em suma uma for-
e definida como “fallendi ars”, nao orientada pela “bona ma espiritual e pratica que Emanuel Kant procura sem-
conscientia” mas sOmente pela almejada “victoria liti- pre ignorar, quase que por austero recato, deixando uma
gantis”. Um pensador da estatura de Emanuel Kant de- perigosa lacuna no “inventério do espirito humano” que
clarou-lhe total desprézo, enquanto arte que se regozija procura ampliar. Uma forma que, como éle, muitos ou-
com as fraquezas humanas, coisa sempre ilicita ainda tros fildsofos preferiram nao enfrentar ou nao soube-
que boa quanto & inteng&o e ao fato, acrescentando que tam aprofundar, talvez por falta de experiéncia e do
o florescimento da oratéria coincidira com a decadéncia correlativo estimulo. Assim como a politica, toda ora-
do estado e das virtudes patriéticas em Atenas e Roma. téria de persuasao que em tal forma se contém pode
A esta arte éle contrapés a bem diversa atitude do ho- ser refutada com palavras, mas é algo que se impde de
mem dotado de um claro e seguro conhecimento das fato aqueles mesmos que a refutam. Os primeiros escri-
coisas, de coragaéo amplo e generoso, que fala com efi- tores cristaéos, que primeiramente haviam demonstrado
cAcia mas sem arte. Para a justificacao da oratéria de averséo as escolas dos retéricos, terminaram por envol-
entretenimento ja foi aduzido um argumento que no ver-se nelas e logo tiveram os seus Basilio, Nazianzeno
fundo é o mesmo simbolizado no apélogo da corda mui- e Jo&o Criséstomo. Em seu Diério, Tolstoi diz que “para

32 33
1.

; ;
as mulheres a palavra é apenas um meio para obter um y - 0 "RECURSO"
fim e elas deturpam o seu sentido fundamental que é ao centro do circulo pra-
A expressio oratéria levou-nos
© de exprimir a verdade”. Mas, neste caso, as mulheres que atingimos por um pro-
seo da vontade e da acéo,
de sua expressao
veo ldogico: partindo do sentimento e
expres.
sao todos os homens, pois todos éles empregam
sées oratérias quando é oportuno, isto é, no dizem prd_ ° assando pel la intuic gfo ou fanta sia que lhe da
mas emi. transfigu-
priamente palavras enunciadoras da verdade,
forma "ie imagem e correspondente palavra
articulados a que se seguem acoes, sem que dai ao pensamento que
tem sons rando-o em poesia, passando
por isto incorram em culpa de falsidade ou de mentira, o mundo das imagens, e do pen-
existencializa € julga
Maurice Barrés, que talvez nunca tivesse considerado que vai além do mundo assim conhe-
samento 4 agao
a natureza propria dessas expressdes, ao buscar certa para criar um nédvo mundo de realidade.
cido
vez o significado ldgico de um famoso lema de Gam-
Chegados & acao criadora é possivel ir adiante? Que ou-
betta, teve por um momento consciéncia desta natureza
tra forma espiritual a sucede?
e escreveu: “Sera mesmo necessaério que combinagées de
significado? Sera que A acao, chegando a cumprir-se, volta-se s6bre si mesma,
palavras como estas tenham um
parece retroceder, volta a ser sentimento e como sen-
nao basta terem elas produzido a impressdo obtida?”
de sentido légico timento recomeca um névo ciclo constante em seu rit-
Certamente nao foi para dizer coisas
e batalhas, foram mo e, ndo obstante, crescente em si mesmo num inces-
ou poético que, durante as guerras
sante enriquecimento e aperfeigoamento. A vida do es-
emitidos alguns famosos sons articulados que a historia
pirito nao pode ser concebida como uma série de com-
recorda: a resposta do comandante helénico ao ser in.
partimentos estanques, que outrora foram denominados
formado de que as fércas inimigas eram superiores as
“faculdades da alma”, nem como um desenvolvimento
suas dizendo que nao se tratava de saber o numero do
linear do minimo ao maximo que, nao obstante a apa-
inimigo mas onde poderiam encontra-lo; 0 grito de Fre-
réncia de movimento, é uma suspensao, ou seja, nossa
derico II da Prissia aos soldados em fuga, perguntando-
abstrata posigao de uma forma unica e por isso mesmo
ihes se alguma vez haviam pensado sériamente em per- estatica. & singular que, enquanto se aceita e celebra
manecer sébre a terra, o que féz com que se detivessem, como insigne descoberta a “circulatio sanguinis” do or-
arremetendo contra o inimigo; ou a palavra que o ge- ganismo fisiolégico, ainda haja relutancia em telagao a
neral Cambronne, entdo figura da alta sociedade e ma- idéia da circularidade do espirito, uma das mais antigas
rido duma senhora inglésa, jamais admitiu ter pronuncia- que ja resplandeceram na mente humana, e que um
do em Waterloo. @tande filésofo italiano elevou a Principio de explica-
G0 do espirito e da histéria como “corso” e “ricorso”.

35
Como @ acao se faz novamente sentime libertar-
sentimento que postulamos ao inicio de nae Que ¢ ° sta lhe € po
ssivel
nte mercé de ns a derando
eran
¢ao como pressuposto necessario poesia, pois some quando, co
e da fadiiga
e shatdeie ah MVestigg. &
enquanto se da va preocup' agao ta r do esp irito
tal, matéria informe a que elemen
toda a Poesia e, 0 o fato mais a € se € xi-:
mos forma e concretitude por si, antes men, Teconhecg, i , S¢ proc
matérias
ur
a mais po bre das a, mais
em relac&o com a poesia? Smo que entre por isto, le sua di gnidade e honr
ia , dos atutores d , na hi storia,
ge da poes na mora 1, na politi
ca
Pois bem, o sentimento em sua auton matéria en riqueci-
omia rica e€ grave ns or es do
nao € senéo a propria vida pratica tra-poéticg n@ filos ofia, Estes defe
, a qual ~ na religifio e idiosos pelo contraste en-
zer, € por isso mesmo um padecer fe © um fa. tormam-s! e fast
(para é MSErvarm, mento da poesia li ca € 0 efe' tivo e tot
al desen-
as duss categorias aristotélicas), e €,3 ¢g ao ap os té
ao mesmo tempo,
Os
tre a sua presun
e discorrem.
agao e sentimento de acao; acao, prazer tendiment o sobre 0 qu
e dor. EB a pra. Ihe adicio-
tica chama-se
sentimento apena Ss one sua Passagem A matéria do sentimento n:
Ro necessita que se
a ra ela conflui
matériaia dede teorese quando, nao sendo mais por que pa
atuali nem coisas magnas, exatamente que éa
de aco, é sentida e considerada a mais elementar,
em seu exclusi onde toda a vide pratica, tanto ,
pecto de paixdo. e sua dor
ve ae propria alegri a de viver com seus contrastes
do amor, os afetos do lar
Esta aparéncia de dualidade, que nasce da como os sonhos e€ 0s trabalhos
mencionad: guerra, 0 entusias-
relagao, faz
e da pAtria, as lutas da politica e da
com que o térmo “sentimento” continu do heroismo e as devogées
, mo pelos ideais, os impetos
ser aplicado a poesia mesmo por aquéles que o ne a
do sacrificio. Afinal, de que se lamentam éstes que men-
radicalmente como terceira forma do espirito, ediocad
s digam migalhes 4 moralidade para introduzi-las na poe-
no inicio ou no meio, entre a teorese e a pratica. Alias, sia, se a lei moral vive no sentimento porque é o centro
os filésofos do século XVIII foram induzidos a inven- de téda a vida pratica? Afinal, o que inventam sébre o
tar esta terceira forma por naéo terem apreendido as pensamento que deveria ter parte na poesia (e parece-
duas formas fundamentais na integridade de sua natu. Ihes que nao a tem), se a vida pratica surge do pensa-
reza e de seus processos, pois se o fizessem nao teria mento) (e tudo aquilo que 0 homem pensa na _filosofia
havido necessidade desta hipotética terceira forma. ene ciencia, tudo aquilo que néle se torna férca de fé,
7 resolugao do conceito de sentimento no de vida pra- Participa da poesia? E, ainda mais, se com o pensamento
entram também ai as criagSes da fantasia humana que
tica fecha o circulo espiritual, e esta é a sua importan-
J4 surgiu das almas, téda a arte que ja se criou, que se
cia para a concepcao geral da realidade. Contudo maior transfere ao sentimento e, por isso, 4 nova
poesia? Em
e particular importancia lhe corresponde em relagéo & outros os térmos,
té o passado e o presente, a histéria
da hu-
36
37
imanentes ao
manidade e es aspiracoes do futuro, so
apropriado para de e como Enéias, é “multa passus” e, nao obstante, o que
sentimento. E, se éste fésse o lugar
que na é que Friedrich Schiller admirava em Wolfgang Goethe,
volver a indagacao, poderiamos demonstrar
“realidade” (“Wirklich. téo experimentado nas paixées, tao intelectual e refina-
poesia também se encontram a
de que sem- do em cultura, senéo exatamente a ingenuidade, o “der
keit”) de que falava Gcethe e a “natureza”
devem retorna r os poetas e og naive Genius”?
pre se falou, e & qual
os temores de que © poeta eo
artistas, desvanecendo
e falsificar a rea. VI - A EXPRESSAO LITERARIA
artista possam arbitrariamente alterar
si, em seu sangue, e
lidade e a natureza que trazem em No levantamento que fizemos das formas da vida espi-
realidade resi-
que é a sua alma. Com a natureza e a titual e suas cofrespondentes expressdes, nao se encon-
sabedoria, tan-
dem, no poeta, a cultura, a doutrina e a
tra a expresso literaria que, sem divida, nao é a poé
Tor-
to quanto Ihes sejam elas necessarias em cada caso. tica, nem a prosaica, nem a oratéria e nem a sentimen-
a-las ao poe- tal ou passional.
na-se uma vaidosa arrogancia querer ministr
uma igno-
ta ou exorté-lo a procura-las, tentando curar Nao seria possivel encontré-la, pois a expressao litera-
jamais existe néle. Certamente o poeta nao
rancia que tia pertence a outro plano que nao o daquelas formas
a cultura e as outras coi.
possui a praxis, o psnsamento, fundamentais. Com efeito, é possivel conhecer e operar
e, o
sas do mesmo modo que © guerreiro que combat sem que se passe necessariamente através da literatura
que
politico que age, 0 heréi que se sacrifica, o filésofo ou da “bela literatura”, como foi denominada durante
isto é, no ato de sua produgao, pois ai éle seria algum tempo. Os antigos retéricos admitiam isto ao re-
indaga,
guerreiro, politico, filosofo, heréi, e nao poeta e artista. conhecerem, com Cicero, que a histéria pode ser escrita
fle as possui no sentimento, caladas no sentimento; o “sine ullis ornamentis”, como faziam os analistas, bas-
seu génio as desperta e aquéle mundo submerso emerge, tando que “intellegatur quid dicat” e, bem entendido,
semelhante e no entanto diverso, névo e primitivo, ja “sine mendacio”, e, por isto, os historiadores, enquanto
nao mais pensado e atuado, mas ainda nao submetido simples historiadores, sao “non exornatores sed tantum-
novamente ao trabalho do pensamento nem mergulhado modo narratores”. Também admitiam que A filosofia e
nas lutas da ac¢ao: contemplado. “Inventus mundi” @ ciéncia nao se exigem os “ornatus”. Admitiam, mais
que é a eterna juventude ou infancia do poeta, juven- ainda, com Quintiliano, a eficacia da persuasio mesmo
tude e infancia m:taféricas, que nado se confundem com sem a palavra.
as manhas e balbucios com que os maus pcetas imitam A expressao literaria nasce de um ato particular de eco-
a juventude e a infancia reais. O poeta, como Ulisses nomia espiritual que se configura em particular dispo.

38 39
uma misséo, ou num sonho de arte, induz a um de-
co @ instituigéo. as& formas
sigao € espirituais,
necessério considerar que os mo-
do espirito, indivisiveis na sequilibrio semelhante, quase uma fixagao e mania,
for-
mentos eSP! , 5 wgszce mou-se a sentenca que “nullum grande ingenium est sine
cifica m-se em cada individuo
av
cretitude do fato, espe’ mixtura dementiae”, a qual, nos candidos tempos do po-
mas por uma espécie de
2 uma diviséo abstrata, sitivismo, traduziu-se na teoria de que “o génio é lou-
no i aden
SS preva 12rament
por nergiapal ouo desdob ncia e por haébito e virtude
o do homem uno em cura”, sem que se evitasse a conclusao inversa de que
os Joucos séo génios.
o, poeta
‘ e filésofo,
acea" e hi omem contemplativ
ativo‘ Ora, a expressao literéria é uma das partes da civiliza-
poli tico e apés tolo , e assim
orale matematico, que nao G@o e da educacaéo, semelhante A cortesia e A etiquéta,
variadas especificacoes
sucessivamente nas mais na harmonia entre as expresses nfo poéticas
. Tal procedimen-
e consiste
erar e exem plif icar
vem ao caso enum e, por isto, (passionais, prosaicas, oratérias ou excitantes) e as ex-
& consecucéo da obra
to é necessario pata humani- pressdes poéticas, de maneira que as primeiras em seu
homem uno, pela
permitido e postulado pelo se conv erta em
curso, sem renegarem a si mesmas, nfo ofendam a cons-
cifi caga o nao
dade, contanto que 4 espe egra- ciéncia poética e artistica. Por isto, se a poesia é a lin-
ferenga, que seria o desr
separacao e reciproca indi © pare que
gua materna do género humano, a literatura é a sua
ria especificacao,
mento do espirito € da prép condutora na civilizacdo, ou, pelo menos, uma de suas
‘dimiati viri” — nfo
cial is tas nao se conv ertam em condutoras para tal finalidade. A voz da poesia se ma-
os espe
. A economia espiritual deve man- nifesta mesmo nos tempos rudes e agrestes, e inclusive
mais homens inteiros o
rsas especificagdes de mod
ter o equilibrio entre as dive hA quem afirme nao existir outra condigéo propicia
m acol hida s na soci edad e e a0 mesmo & poesia sendo a barbarie. Entretanto, ali nao floresce
que todas seja s
ira presentes e operante a literatura, pois, se florescesse, esta época teria alcan-
tempo estejam de certa mane
chama num primeiro mo- gado, juntamente com ela, a condicéo oposta a da ci-
no proprio individuo. Isto se
momento, educacao vilizagao,
mento civilizagéo e, num segundo
er harm énic o e uni versal que
_ a educacao em seu carat O equilibrio das duas ordens de expresso nao se obtém
a. Uma vez que a eclcs ao das grandes mu- com o sacrificio de uma & outra, numa subordinacgio
é a cultur
e obras, no pa-
dancas e progressos, das grandes agdes cuja idéia até aqui excluimos, mas tendo presentes a
vime nto da vida civil, nfo ocorre ambas em seu equilibrio e adotando a nova forma de
cato e normal desenvol
ou meno r deseq uilib rio das forca s sociais expressfo, que é pratica, conceitual ou sentimental, num
sem um maior
e inevitdveis destruigées, elas sempre contém algo de fe seus momentos, e poética no outro. Poética no sen-
ou até mesmo de barbaro. tido de uma poesia que assume os motivos extra{poéti-
revolucionério, de violento, s
Como também nos individuos a fixagéo numa idéia,
1
40
Ce ———————

eitando-os em sua manej-


cos aos seus pressupostos, resp “paixfo amorosa” proyé imentaridade. Somen-
de tal modo que uma cai-se novamente na primitiva rud
ra de ser,
beleza o amor (“jn. atinge-se 0 Ol bjetivo de
o “engenho” para testemunhar em te evitando ésse duplo obstaculo
e realistas sem
a facit”); nos poemas
busca-se dar curso & is expresses néo poéticas
genium nobis ipso puell amada (“ad ou desagr adar a consci éncia é stética.
r ao cora gao da ofender
um caminho para chega e um des. polémicas acérca da
per carmina quaero”), Em minhas primeiras indagagées e&
dominam faciles aditus contra tudo o ei de seus dominios
dém, uma “indignatio”,
que infla o peito ciéncia da Estética refutei e expuls
t “ornato”
homem e na sociedade, “faci da forma como “veste” da beleza,
que nao d everia existir no o conceito
”, belos e vitais, mas n&o ainda trando sua
que se acrescenta 4 expressio “nua”, demons
versus”, Dizemos “versos do menciona-
suspensao e éxtase poético, contraditoriedade e absurdo. Como prova
intuigao e contemplagao, se re-
aquéles motivos se dissipariam e re. do absurdo mostrei o expediente dualista a que
porque neste caso éncia”, trazida a maneira de
m de outr a mane ira. SAo versos e modos de corria como a uma “conveni
solver-se-ia no seio da prépria forma.
forma que se distin. remédio, e que nao nascia
dizer bem e com beleza, isto é, uma Certamente cabia-me grande razio em tudo isto, uma
gue do contet ido e que do contet ido é apena s a “veste”,
vez que aquéle conceito de uma combinacao pratica
o “in ipsa oratione quasi
Esta veste era 0 ciceronian para satisfacéo de duas exigéncias diversas havia sido
cere”, o “dicere ex-
quemdam num erum versumque confi mal interpretado pelos escritores de Retéricas e Poéticas,
illuminate et idest ornate”; e a for-
plicate, abundanter, esteticistas e criticos, e fora colocado em lugar do concei-
ou xécpo¢,
ma literéria era definida entao como “ornatus”, to de forma poética, desfigurando e corrompendo a pré-
bastante
a forma “elegante”, adjetivo por si mesmo pria natureza desta. Entretanto, ainda jovem em meu
“ornatus”
estranho & forma poética. Mas, uma vez que 0 radicalismo, nao me perguntei se nao haveria um lugar
na sua
era apenas um dos elementos que entravam onde aquilo que era entao inaceitavel em poesia ja fésse
composicéo, e por si sd poderia exorbi tar e tender aceitavel: um lugar que deveria existir, pois, de outro
a constituir-se no todo, comprometendo assim o tacito modo, © préprio érro néo teria nascido, visto que o érro
. acérdo e alterando o desejado equilfbrio, contrapu- s6 nasce da transferéncia de uma ordem de conceitos
nha-se-Ihe como freio o outro princip io do “aptum ”, ou a outra diversa. Corrigindo 0 juvenil radicalismo, como
é, o atentar para o contetdo, ao qual sempre Procurei fazer em todos os meus estudos e em
4 xeéney, isto
minha prépria vida, agora encontrei éste lugar que nao
sempre seria necessério dirigir o olhar, estudando o que
Ihe fésse conveniente. Se isto nao for observado, a eX- é senaéo a “expressao literaria”.
pressdo cai na variada afetacggo do preciosismo, da pe- Assim como ocorreu com o conceito da forma, modifi-
* danteria, como por outro lado, ao descuidar do ornato, ca-se também, no dominio da literatura, o significado

43
TO,

da pelavra “peleza”, que nao é mais a deusa que infund,


tempo doloroso — — a soli-
um sentido dulcissimo e a0 mesmo mas nao Ihe é estranha uma outra inspiragao
O
gundo a definicao de amor de Euripides, mas uma gen. para com as coisas a dizer, o afeto para com
citude imento,
til e graciosa pessoa que mitiga e enobrece o impeto pensamento, para com a agéo, para com o sent
de,
voz pacifica e har. ém calor e €5; ontaneida
dos outros interpretando-o com sua que é nosso € reclama tamb
moniosa. Bem assim, modifica-se 0 conceito de arte, aia & literatura, mesmo sen-
o “escrever com veia”. Ademais,
concilia com a pratica nem
nao mais se identifica com a elaborag&o poética da ex. do oposta & poesia, nunca se
‘pressdo, mas distingue-se dela como elaboracdo da ex, oficio, porque, se perder a sua con-
se transforma em
torna-se vazia e por
‘pressio literdria, razao pela qual as vézes “arte” e Doe vicgao, ou seja, a sinceridade, ela
osa, ma literatura
_sia” se opoem. Também modifica-se 0 conceito de gdsto, isso fria, cansativa, estridente, pomp
m ser bem
que nao é mais a consciéncia da poesia que se faz e ~ enfim. Os literatos profissionais as vézes pode
pagos mas serao semp re desp reza dos. Trata -se da con-
vigia em seu fazer-se, mas algo que se refere a pratica prende o espirito e pefso-
vicgio das coisas a dizer, que
e que afirma o atributo da “raz4o” ou da “racionalidade”
naliza-se no “estilo”: conceito mais propriamente lite-
necessdria 4 pratica: algo que se chama gésto mas que
rério porque em literatura os estilos sao tantos quantos
também pode chamar-se, numa referéncia mais direta os individuos e as coisas (dai a disputa sdbre se
sejam
a pratica, o “tato”. Foi com éste carater de oscilacao 0 estilo é “o homem” ou “a coisa”), e na poesia, por
entre a faculdade poética e a faculdade pratica que o mais infinitamente variada que ela seja, o estilo é um
conceito de gosto pela primeira vez apareceu doutrina- s6 — o acento eterno e inconfundivel da poesia que res-
riamente no século XVII com os criticos e tratadistas ita- ‘soa nos mais diferentes tempos, lugares e temas.
lianos e com o espashol Gracian. Modifica-se, também,
Kant vislumbrou a indole da literatura ou eloqiiéncia
0 “génio”, atribuindo-Ihe outro nome de igual etimologia (‘Beredsamkeit”), como também se costuma designa-
“ingenium” ou engenho, que também sugere mais di- la, ao dizer que ela é “a arte de tratar uma obra do
retamente a combinacao dos elementos. Também nao se intelecto como livre jégo da imaginagéo”, definicéo por
exige mais aquéle abandono que era téo caro & poesia, demais insuficiente, piorada ainda pela que a segue, a
0 abandono ao universal, mas, ao contraério, se lhe re- mu analégica € antitética definigfo da poesia: “jogo da
comenda ter sempre presente 0 objetivo pré-fixado, nao imaginacao tratado como obra do intelecto”.
Ja Baum-
gerten mais acertadamente qualificara as “raepresenta-
perdendo-o jamais de vista, e nado perdendo também de
tiones oratoriae” como “imperfectae” em comparacgao
vista os homens aos quais se dirige —- 0 seu auditério.
som a poesia que é “raepresentatio perfecta”.
mania”, a “inspiragao” do Entretan-
O “furor sagrado”, a “divina to, éle nfo desenvolveu as determinagées
génio, sio estranhos a literatura e n@o a agradariam, positivas que a

44 45

ee
Ree

caracteristica de imperfeicaéo escondia, a limitaga,


no assunto maken da ode de Goethe que,
as expressées literdrias encontram m-se com 0 passaro
vem, pa: rece mas ja nao é mais
0
pelos camp os,
o qual, limitando-as, limita-se a si mesmo, Limitaga, Ista, tendo fugido, voa a
qe pois traz uma correntinha présa
ciproca e indissolubilidade dos dois momentos mesmo de outrora,
& costume di.
a forma literari —- pertenct eu a alguém.
possibilitam tomar separadamente perna, sinal de qué
li vros liter arios, de histéria, de
frui-la como poesia porque esta forma, em qualquer pa. zer-se acérca de belissimos como umn
autobiogréaficas: “se 1é
vra, em qualquer inflexdéo, em qualquer titmo, em qual filologia, de confissdes
assunto realists, um poema”, “soa como um drama’ x
revela a presenca do romance”, “parece
quer colocagaéo, enfaticas, reduzidas
mas trata-se sempre de expresses “ “como”.”
e sua conveniéncia reside nessa relac&o. Leia-se a fie: pelos “parece” e pelos
& sua exata significacao
sagem em que Cicero, na segunda Verrina, expée mag-
nificamente os pensamentos, afetos, memérias e espe. A literatura, assim como a oratéria, possuiu e possui os
rancas, que a estatua da deusa Diana, perfeita em arte, seus negadores: sobretudo entre os homens praticos que
Segesta, a qual foi trans. diretamente aos seus objetivos sem resguardar, e€
simbolizava para os cidadaos de véo
portada para Cartago, apés a vitdéria dos cartagineses, mesmo desprezando, qualquer cuidado de ordem esté-
depois restituida 4 cidade com grande alegria pela vito. tica e “florzinhas literdrias”. Estes negadores encon-
tram-se também entre os magoados e os enamorados,
ria de Cipiao, sendo colocada sébre outra base com as
ou entre os conturbados, que nao conseguem sair da
setas nos ombros, o arco na m@o esquerda, a tocha parecer
estreiteza de suas paixdes e aos quais poderia
na direita, e a amargura e o pranto déstes cidaddos quan-
uma profanagéo da sinceridade o fato de buscarem
do ela foi novamente levada por Verres. Nesta passa.
belas palavras para expressdé-la. Eles encontram-se, en-
gem se encontra todo o material para uma balada fim, entre os pensadores e cientistas, entre éstes in-
histérica A maneira de Platten. Entretanto, Cicero nao sipidos e insocidveis inimigos das Gracas. Outros, ain-
escreve a balada e esta passagem, em qualquer de suas da, estéo entre os maus leitores que preferem as expres-
partes, evidencia a marca do advogado acusador que a s6es extra-literérias e a oratéria convulsa, a expressao
escreveu. Leia-se, também em Cicero, uma outra pas- desordenada, o esbéco cientifico, a pagina confusa, en-
sagem famosa, do Pro Archia, onde com comovidas pa- contrando ai um contato mais facil com a realidade vi-
vida, Sao, também, os pesquisadores de documentos his-
lavras éle celebra o beneficio incomparavel trazido pelos
téricos Para quem, como é natural, a elaboracao literé-
estudos, a companhia que sempre significam, © animo
que elevam acima das vicissitudes da sorte: uma pagina tia sobreposta nfo é senéo um obstdculo dificultando
a boa viséo. Este prazer do documento é tamanho que
que parece quase um movimento lirico e todavia nao
&s vézes confunde-se com comprazimento estético
Estas expressdes, na medida em que sé ele- e tor-
é lirica.

46 47
po

s de
caso, por Sample
distinguir. B o
nase dific il de
acabamos admita
ndo
B. Cellini onde e atua, embora ainda hoje nao
autobiografia de ist ico nas vent. do decéro literario existe
de désse esp iri to art bui como pode para con-
nao sO 4 genialida mbém os period
os literd, muito amplamente, e contri
ia viva mas ta servar as formas da civilizagao.
ras de sua histor va e de que teria se
proprio se enreda
rios em que éle eir a de esc rever. A literatura nao esta entre os advers
arios da poesia, ao
sse uma melhor man
libertado se possui quando nao quis lado da qual ela se coloca como amiga de menor en-
andou acertado
Evidentemente Varchi nao porque sua colaboracio vergadura, que nao se eleva até a sua cabeca
e nem
nesses escritos, porque igualando-se a ela decre-
colaborar eequer tenta elevar-se,
, trabalhando dois cérebrog dade seria
fosse indesejavel, mas porque taria a sua propria morte. Que outra proximi
uma me sm a coisa, a0, ‘mesmo tempo melhor e mais adequada que esta? Sob o nome de “artes
tao diferentes sobre ées surgiria a med
iocri-
orr egd
que se consertas
sem as inc da escrita” ou de “instituigdes literarias”, de maneira es-
ponténea, nos mesmos livros, a teoria da poesia e a
dade opaca.
pré- teoria da literatura sempre foram tratadas juntas; sob
literatura defende-se por si, pelo
Seja como f6r, a em qualq uer o nome de “histéria da literatura”, “histéria da poesia
de ser culti vada
prio fato de que nao cessa e da literatura” ou “da poesia e da eloqiiéncia” sao
-
Na Europa,a desde que os sicilia
parte do m undo civil. las de litera - narradas juntas, entrelagando-se, as suas duas histdrias.
abriram esco
nos Cérax, Tixias € Gérgias, rinas, Aristételes notou a falta de um nome comum para am-
ega ndo @ for m ulé-la em preceitos e dout
tura, com , nem mesmo nos bas, mas éste nome jamais poderé existir, porque poesia
ais int err omp ida
a tradicao n&o foi jam a s necessiti a- e literatura, embora tocando-se, permanecem sempre
ia, talvez muito mai
séculos da Idade Méd sia em seus iso- duas coisas diferentes.
érica do que de poe
dos de literatura e ret ao humanis-
que se che gou
ura, até
fados centros de cult Vit - OS DOMINIOS DA LITERATURA
nascimento que foi a
e do pés-re
mo do renascimento Até mesmo Segundo a génese que apresentamos, as obras da litera-
literatura e dos literatos.
grande época da
e.9 tura distribuem-se em quatro categorias, a primeira das
tante o racionalismo
nos ultimos séculos, nao obs pala vras , ao quais é a elaboracao literaria do sentimento. Esta ela-
m cois as e nao
iluminismo que reclamava do- boragéo ocorre mediante a reflexdo, que liberta um de-
o roma ntis mo que reclamava gemidos, estri
obsta nte terminado sentimento da fantasia, ja nela contido e idea-
res, frenesis, e nfo é: xpressoes
estudadas € compostas (¢ lizado, e restabelece-o em sua realidade, uma realidade
ria expressao de “arte
que por isso deu ma fama a prop delicadeza ¢
que quer permanecer fiel & recordacgfao em sua verda-
da a escassa@
retérica”), e nao obs tante ain s, A virtude
deira fisionomia, fazendo-lhe assim um retrato real. Com
imos de no isto saimos por completo
urbanidade dos tempos mais préx da imediateza do sentimento,

48 49

Oe ee
oe

da embriaguez da alegria, da vontade de chorar e da com o autotbiografismo,


Esta literatura nao se identifica
melancolia do gemer, tao caras as almas sensiveis e sen. uma vez que na autobiografia submete-se iow procura-

timentais, completando-se a passagém ao artistico tra. 0S préprios sentimentos e as agoes ao juizo


alguma parte desta se submeter
balho da expressao literéria. Se em moral e histérico, e aqui, ao contrario,
se os representa
persiste a expressao imediata e selvatica, ou se 6 cop. julga-los, apenas emprestando-Ihes belas palavras.
o préprio sem
para realcar
taminada com algo de pratico No lirismo deve ser incluida grande parte da chamada
e © semibconsciente his. ece na esfera doi
ela nao permanece
efeito mediante os fingimentos poesia religiosa quando
observam nes manifestagdes PUblicas a religiao, ao contra-
trionismo que se sentimento imediato. Com efeito,
do sentimento, tudo isto é imediatamente percebido pelo rio do que alguns costumam afirmar, nao s6é nao é poe
que precisa sia (e por isso mesmo é religido) como também nao é
gésto como inconveniente e feio, mancha
ser apagada da expresso literaéria num trabalho pos. décil & poesia e, a menos que se humanize, nao se torna
terior. Existem escritores famosos como Byron, Lamar- jamais poesia. Os ascetas nao se equivocaram ao exor-
alguns), cujas
tine e De Musset (para citar apenas cizar a poesia, a pintura e qualquer espécie de beleza
obras pertencem em grande parte a éste modo de ex- como tentagdes demoniacas. Enquanto sistema doutrina-
_pressao efusivo- literari a, no qual os homens nfo se saem rio e teologia, a religidéo, em suas manifestacdes praticas,
as mulheres, que talvez nao tenham outro certamente oferece matéria & literatura didascdlica, a
tao bem como
para o qual sejam tio aptas, a ponto de ter sido chama- literatura de efusdo e 4 oratéria (entre as quais pode-
da de homem a unica dentre elas que, na antiguidade, mos enumerar pecas tao belas como a De Imitatione
a Safo”. Christi, os escritos de Santa Catarina de Siena e de Santa
conseguiu elevar-se ao céu da poesia — a “mAéscul
Val- Teresa, e os sermées
Como Sainte-Beuve comentou acérca de Desbordes
de Bossuet). Entretanto, nao obs-
de mélodie s feur tante a piedosa uncio e as artificiosas exaltacdes, a poe-
more, as mulheres sabem “envelo pper
de espirito ar- sia que reina em nossa recordac&o e vive em nossa cons-
souffran ce”, e até mesmo uma mulher
seus roman- ciéncia nfo comeca com os livros da Biblia
guto e forte, Mme. de Stéel, enredou-se em (onde nao
negamos que possam existir alguns tracgos
Assim é, subs- poéticos), mas
ces nas vicissitudes pessoais e sentimentais. com Os poemas homéricos, daquele
toda a fertilis sima literatu ra do lirismo Homero tao pouco
tancialmente, religioso quanto William Shakespeare.
(do “lirismo” e nao da “tirica”), das efusdes, das con- efusio poderd ser ma, mediocre,
A literatura de
memorias, boa ou 6tima, mas
fissdes, em versos e epistolas, em diérios e
e poemas, insinua- tins ¢ ea —_, na mais organizada e decorosa,
ou mascaradas em romances, dramas
disés a urinsu tale
das filosofias ou mesmo de si préprio enquanto in-
da até mesmo em certas passagens Ividuo, tenazmente préso
e pseudo-filosofias. a sua individualidade prati-
tomando corpo em pseudo-histérias

50 St

ee
ca; e, por isso, até mesmo nesta n&o pal:
Baudelar
Pita o Teverente walmente as de caracteres (segundo “panfleto”)
Tesptito do individuo ante o todo, do homem
frente a dias, esPeCr so 6 uma comédia mas um
humanidade que ao mesmo : tempo eleva-o e Supera re o Tartuffe ne abertamente suas teses, nos roman
(em
e as que OF ivion Hugo, a Guerazzi ou a Zola
-o,
Ai escasseia o pudor, Cuja necessidade ja nao era
sen
tida pela romana Sulpicia que chegav
a a desafié-Jo (4 ces. 2 Sau a nas odes parenéticas (como sio mui
casse juvat, vultus componere fanae taedet
”) e que ne te Se i as fabulas e nos epigramas, e, ainda
teratura feminina é ainda mais gravemente ia que nao séo historia
violado que a ° ‘ = enon livros de histér
es de BOE
Se on aparéncia. Os primeiros versejador
fa masculina. Entenda-se, entretanto, o Pudor
nao ape.
nas neste sentido particular, mas em geral, como pudor entre a alta poesia, a
sa literatura sentiam @ diferenca
de nao exibir as préprias vicissitudes sentimentais
as simpl es efusd es da alma, e, modes:
, 0 oratéria mitida, e
que apontamos nao é tanto um vicio da literat que falam em rima >
ura de tamente, denominavam-se “pessoas
efusio mas, mais ainda, o seu carater necessério, que da oratéria literaria
Muitas obras, grandes e pequenas,
devemos sempre ter presente para nao pretendermog
cam a excelé ncia, mas n&o seria correto exigir de
alcan
a Cabana
aquilo que ela néo pode, nao quer e nao deve dar. qualquer delas 0 que Flaubert exigia da famos
vidao dos
Mais rica e variada é talvez a literatura de assunto ora- do Pai Tomés, arma de guerra contra a escra
-
torio que, mais ainda que a precedente, assume qualquer negros americanos, isto é, que @ obra nao fésse condu
zida, como o é, “au point de vue moral et réligi eux”,
espécie de configuracio abrangendo téda a nomenclatu-
ra dos géneros e subgéneros literarios. Apenas uma pe- mas “au point de vue humain”, devendo superar “l’actuel”
quena parte dela é constituida pelas chamadas “oracdes” e transcender as paixdes da época. & claro que, se éste
dos tribunais, dos parlamentos, dos pilpitos ou das co- romance tivesse sido concebido e trabalhado desta ma-
lunas de
neira, em vez de um livro de batalha teria surgido uma
jornais; o restante deve ser procurado nos poe-
mas que celebram as glérias dos povos, das cidades e serena poesia, 0 que nao se adequava ao caso. E verdade
dos estados, que exortam os filhos a manterem e eleva- que, entendendo-o e tratando-o como romance polémico,
rem mais alto a obra dos pais, nos hinos
poderiamos exigir que néle houvesse uma melhor arte
nacionais e pa-
tridticos (“allons enfants de la patrie...”) ou partida. de composigaéo, de representacao e de estilo, mas o fato
trios (o “hino dos trabalhadores”), nas sdtiras violentas é que nesta forma de literatura nem sempre € possivel
ou ingénuamente burlescas e irénicas, nas invectivag a originalidade de Manzoni no Promessi Sposi, que é
(como os versos iémbicos de André Chénier e Auguste todo éle uma estéria de exortacaéo moral firmemente
Barbier), nas tragédias (como o Mahomet de Voltaire, estruturada e dirigida a éste objetivo, e, no entanto, apre-
© Tell de Schiller e o Arnaldo de Nicollini), nas comé. senta-se espontaneo e natural, tanto que os criticos ain-

53
OGD, SSS

da obstinam-se em analisa-lo como romance de inspira.


go e feitura poéticas, entrando em contradicdes inex. donzelas e daminhas de todos os tempos, pots tédas de-
tricaveis e tornando obscura uma obra que é por sj leitam-se com isto que, gracas a elas, tomou 0 nome de
tao clara. “ijteratura amena”. Também aqui, junto € contra 6s
A terceira categoria obras literariamente torpes (ainda que muito eficazes
é a das obras de entretenimento, de leitores, como
para o entretenimento de certa espécie
onde se incluem as comogdes do horror, como as tra. como chama-
ja assinalamos), estéo as obras decorosas,
gédias chamadas “dos erros” que os italianos, inspiran. Jules Sandeau e
riamos os romances de George Ohnet,
do-se em Séneca, desenvolveram no século XVI e que e também as obras agradave is e como-
Ottave Feuillet,
todos os outros povos europeus imitaram. Trata-se de como algu-
ventes que revelam graca e férga de estilo,
tragédias que, como as representacdes horripilantes do nos contos de Edgar Allan Poe.
mas narragoe s policiais
Grand Guignol e certos romances causadores de cala-
Todavia, mesmo as obras perfeitas, no que diz respeito
frios, quase se aproximam das comocées procuradas por
a seu objetivo, mostram a marca que as diferencia da
aquéles que acorrem aos espetaculos das execucdes ca- dela, que é individualidade
poesia, porque, ao contrario
Pitais. No outro extremo desta categoria estao as como- no uno, estas tendem ao que é pe-
e universalidade
gées da hilaridade e do riso, de um riso que ora voa e
culiar nas varias maneiras de comocao. Em suas tragé-
brinca pelos altos cumes, ora se expande pelas planicies. dias (e ndo nas de Séfocles ou Shakespeare) movern-se
Entre essas duas espécies, formando um grande capitulo os “tipos tragicos”, em seus romances os “tipos romanes-
da literatura, situam-se as Tepresentacoes das proezas cos”, em suas comédias os “tipos c6micos” ou as “mAésca-
e
as representagdes do amor, a “materia di Francia” e a ras” da “comedia dell’arte”. Neste campo, e nao no campo
“materia di Bretagne”, como se poderia d ina- da poesia, encontra-se 0 significado de certas disputas
que configuram-se
eres em
‘ poemas, novelas, dramas, mnmelo- ic sobre se € ou nao necessatio que nos dramas e roman-
d
dramas, epin
epinicios, Sirventes, sonetos, cancé
es, madrigais, ces a virtude triunfe sdbre o vicio recebendo o prémio
éclogas, idilios, odes, odezinhas anacr
eénticas, , e em ou- da boa fortuna e da justica divina, ou se os dramas e
tras formas menores que enche
m livros inteiros de prosa os romances terminam bem apenas quando apelam para
© verso, alimentando diari
amente as tipografias, Me.
diante a leitura ou a recitacéo a alegria do “final feliz’. & um debate mantido pelos
nog teatros, elas entre.
tém o dcio do povo, como amantes das comocdes enquanto tais, como meras co-
a ja entretivera;
mM Os cida-
daos de B
Grécia
e Roma, a sociedade feud mogoées de qualquer espécie e grau, e pelos que introdu-
os habitantes das ‘al :
al e Cavalier
zem no entretenimento um interésse diverso, hedonista ou
Tesca, republicas comunais
abl ,i og Rentis-
homens das cértes e os burgueses. diligente i epicurista, do comprazimento pela imaginagao, e, por
s, as dam.
as,
isso, exigem um final feliz ou moral para as tragédias.
54
55

aX
espera, deses-
sentime! nto, sonha,
Estes Ultimos, a fim de nao voltarem para casa com 9 empen ha todo o seu o grit o de triunfo,
il ma-se € 5 olta
final infeliz das tragédias na imaginacao, correndo o pera-se, enerva-se, rean nu C' omo Arquim
edes nas
3 aia a correr
risco de nao conseguirem dormir bem, impdem ou im. mesmo que nao mem, no qua
l
de Siracusa. E tal drama d ho e
puseram a pratica teatral a norma de que & téda tra. estradas ento, é cer
tam ent
dra ma de pensam

s
gédia feita para chorar deve suceder imediatamente uma se desenvolve seu me m nao apena gs sen
te,
fist e ho
matéria de literatura. com os
farsa feita para rir. Tudo isto é muito simples de enten. soci edade consig o me sm o €
mas, vivendo em tagao para operar
der e fazer entender. Mas um pouco menos simples é ens , exp erimenta a solici
outros hom
© processo que se realiza na Gltima das quatro catego. to dos outros a fim
to & sobre o espiri
Porque aqui a sdbre o seu espiri a0 seu proprio
rias das obras literarias: a didascdlia. abertos os cam inh os
de abrir e manter tac ulos, reaviva
literatura acompanha e equilibra o pensamento e a cién- combate 08 obs
pensamento. Por isto éle iri za; e tudo isto
cia que se expressam, como j& mostramos, em signos ou rta, inf lam a, sat
as forcas inventivas, exo o ora toria. As
em imagens-signos. Mas seré possivel que a severa cién- ratura nquant
é também matéria de lite tist a colo ca-se ©
cia nao permaneca isolada operando com seus signos? e sobre © cien
sim, sobre © historiador
Sera possivel que aceite entrar em contato com a lite seu tempo e a seu povo,
escritor: o escritor que fala a
ratura? De fato, entre os cientistas e filésofos, ha os aos que cham am de antigo ésse tem-
e simultaneamente
que nao aceitam-na, defendendo-se em téda a linha, e, de linguas diferentes que
po. Fala também aos povos
se acaso sdéo obrigados a aceité-la, fazem-no o menos e procu rar os meios para ler suas pagi-
deverfio pensar
possivel, de forma que ela néo seja notada e se anule. na antigiiidade chama-
nas. Trata-se de escritores que
Sao fildsofos “monasticos” que, conforme o momento , Tucid ides e Livio; nos tempos
ram-se Plato e Cicero
o de Roterdam
e o humor, tornam-se dignos de admiracao ou de com- modernos Francesco Petrarca e Erasm
paixéo e desprézo. Entretanto, também existem os ou- ao escola stica e trataram hu-
que puseram fim a tradic
tres kad The so contrarios, e éstes participam nao s6 ente de moral e religi ao, ou Galile o que ex-
manisticam
las historias da filosofi: iénci é e em
pés suas grandes descobertas em nobre prosa
histéria da literatura, onde fe een oe pe
argutos didlogos, ou Voltaire que, com seus ageis
grande renome. Mas s§ di de que maneira,
ae indo
anna
ao encontr a, livrou a grand e ba-
riodos e sua gfaciosiss ima malici
da literatura, podem uni-la com as imagens-s; °
talha contra as supersticGes, difundindo por todo o mun-
so as expressées préprias e adequadas ao pene ate
do as luzes da razdo. Todos sabem quao grande e justa
A maneira faz-se evidente ao considerarmos que nto?
sador nao é abstratamente pensador mas um ee ™
giéria cabe a Franca - o pais da escolastica na Idade
que, no trabalho do pensamento, coloca todo o seu oe
Média e do racionalismo matemético em nossa época

$7
56
ee |
- por sua prosa literdria. Outros paises, que por
my;
tempo nao a possuiram, como foi o caso e de culto do amor, send
o tratada nBo
da Alecanie or
objeto de am mo cois:
a que se procura
deram um grande suspiro de satisfacéo e eplaudi lomo expr essao mas CO!
mais costuma dizer.
quando finalmente surgiu um Lessing. O dieatties ex arte, como se
em si, arte pela o
os pensadores continuam manifestando para com tem por fundament
qualquer outro,
= ste amor, como nes te cas o, a : expres= sao
teratura” nao merece crédito porque neste despréz, ¥ . real, que &
uma necessidade amor, vai além, ain
incluem a literatura artificial e ma e, por vézes nie , com o qualquer
poétic a. Mas
de ori gin ari a € mesmo
bém a sonhadora poesia, Calvino pode ter sido cian. o da necessida
que sem @ satisfaga alos, OS caes, as
te injusto para com a poesia ao dizer que a lingua que amamo' 3 os cav
contra ela. '& assim a cava lo, empunhar
mo sem ani dar
nao é dada ao homem “pour faire réver les auditewr
s armas e os livros, mes! faze r nenhuma
mo sem querer
et pour les laisser en tel état”, mas, acrescentando ite armas ou ler livros, e mes © seu ouro,
que 0 ava ro ama
Gostava de escrever “avec rondeur et naiveté”,
e de fato dessas coisas. & assim es, sem sequer
s as comodidad
escrevendo desta maneira, éle foi um dos
essbee cr meio para alcangar toda Ass im amea-
em com odi dad e.
Prosa literéria francesa. A literatura didascéli
ca, ca: pensar em conv ertélo os nen hu-
heres que nao tem
ohana formas de literatura, nao se realiza
apenas ne mos, e amamos a sério, mul sse mos
indo que s e as pos sui
eae aie isto é na “oratio soluta”, e todas as ma vontade de possuir, sent
suas ou todo éle e o encan-
iC esde as obras para a elevada e restrita perder-se-ia 0 melhor do amor
gs0-
cieda ide dos filési ofos e cient i istas até as obras “divulga- tamento rompet-se-ia.
twas” © as que se ditigem corresponde, ainda,
ql as damas e crian Certamente em seu ir além o amor
garam a ser escri‘tas cas (pois ssid ade de um refigio ideal
até geometrias par: as damas a uma necessidade, a nece
ments livrinhos de ptuo sida de superior a qualquer
filosofia para i: “joaozinhoa”). onde se alca nce uma volu
la se realiza também a a voluptuosi-
= ifi
cient
em rom ‘ances (histéricos,
a sociais, outra, que nao deixe desejos de outr
weea € filos
iloséfdfico
di s), em Comédias e e. Entr etan to, uma vez que
out; TOS d dade e o repo uso da beat itud
wee ee © epigramas, nag -se uns nos
descrigdeg versifi
ine die a vida incendeia-se de desejos que imbricam
le na verdade sao repo uso, negando
“didascéticos” e ni outr os e é trab alho inex auri vel, e nao
0 eepoéticos,
.
to de vo-
assim a beatitude a cada passo, éste sentimen
VII - A “ARTE PELA ARTE” uoso aban dono é tam bém o sent imen to do dissol-
lupt
A expresso poética, que de ver-se e morrer. Dai o nexo entre o amor e a mort
e e
tia, fundindo-se com a: 8 formasu lugar aa ex, Pressio litera.
3
os do poet a que, quan do pela prim eira vez nasc e
extra. Poetic: os vers
ticular combinacgao “P 48 numa par. o
Prética, pode
Passar diretamente um afeto amoroso no coracgaéo profundo, “languid e stan-
a co insiem con esso in petto — un desiderio di morir si
58
59
sente”. Mas apesar de tudo, ésse sonho retorna icas como Se fossem
insiste
88 ex) pressdes poét
temente compondo, também
éle, um momento necesss, Amar e procurat procurat asas: imagens oe de
fora
tio no tecido da vida, de tal maneira que igag ou pessoas significa
coisa: admira: las,
o verdlidire e abstratas; significa
tormento, o tormento infernal, é nao mais
amar
se uu nexo, 2 destacadas art icu lad os cui dando
_ s
aridez do coracao, como dizem os versos de outro ~ acaricia-las encerra-las nos son
: Isto € 0 que se vé nas —
menor lamentando a perfeicao de cada uma.
esta desolacao: “Ahi, grave, e arte, a perfeitas em ca
dos virtuosos da arte pela
aman.
ti, @ la sventura mia: - pietd di me, non amo!” Latte ia e o abo r-
suscitarem a impacienc
ce Sterne, em tom jocoso mas falando sériamente particular a0 ponto de
Sen poé tic o, o qua l est ara pronto a
fessava ter sempre uma Dulcinéia no pensam recimento dum espirito m perfei-
ento potiiue a poder exprimir-se “se
assim sua alma se “harmonizava”, tendo vivido jogé-las tédas fora par ), tirando a
sempre per fei gao dif ere nte
ao”, (isto é: com uma
enamorado “ora de uma princesa ora de
outra” e espe- bamento e procurando que
tando viver assim até o momento de encom cada uma oO excesso de aca
gens e palavras a fim
endar seu cada uma perca o péso de ima
espirito a Deus, ' o de acabamento de
Se de que possa fluir e voar. No excess
.
estendermo-nos mais na teoria‘ do amor, ma de arte, falha o fun-
atendo-nos cada imagem é que, nesta for
ili braria a tédas, 0 unico_
amor Nas expressdes poéticas, diremo
s que éste, como damento que reuniria e equ
stich a mda tient busca a capaz de inf und ir- lhe s a vid a poé tica e dar-lhes medida
Presenca e 0 contato do
a mado, fazendo-se assim ¢ ulto e exercicici e proporcao. Ai falta no ape nas o fundamento poético
io dest
expressOes, sem ter nada di @ mas tam bém o out ro séb re o qua l a literatura se forma
épri
proprio i
“em beleza e asem ser movido - © variado conteido extra-poétic
o que sempre nos é
Por ‘ill
qualquer
us dos
dee contned. s sin-
Os extratpoéticos que enco
ntramos na literatura de ‘u- familiar. Ai permanecem, 80 contrério, as imagen
ef ra.
a na de entretenime: nto, | na oratéri
so,
1a Ou na didas
i calia, gulares como idolos que o artista constréi e ado
Podemos encontrar algo
analogo no Campo do pe:
same
nsam n
en- Uma vez que se trabalham e desfrutam estas imagens __
como coisas, também os sons articulados que as expri-
mem podem destacar-se e tornar-se coisas, sendo ama-_
agu e sutileza
multiplicar, dos e procurados em si, sem qualquer relagao com qual-
das Precisas e | ongas fate
argu nos sereda
quer funcdo diretamente expressiva. Assim, aos virtuosos
mentacd
a
fluas que nos agrada desenvolver em
cias,
i fruindo nossa propria mestria, as ming.tédas eee UE das belas imagens retinem-se os virtuosos dos belos sons,
5 quando bastaria
dir e passar adiante, alu. belos por causa da associacao de imagens e recordagées:
os sons que ja ressoaram nas grandes poesias e que se
amam como se ama uma luva ou um cinto que adorna-

> 61

tam a pessoa amada, = ~


da historia, um home
os sons arcaicos de linguas estran.
geiras, os que se combinam em novas maneir
as e scam experiéncia da vida e r senio falar mal dos
fundo nada tinh a para dize
como novos, e assim por diante. O “immag
xander Pope, iam
literatos. Veja-se 0 Boileau inglés, Ale
inifico” (in.
ventor de imagens) freqiientemente redne-s inais, que recolhia os
e numa s6 orig
bém éle desprovido de idéias
pessoa com o amante, o procurador e o cunhador no senso comum
de conceitos de seu “Essay on Criticism”
palavras, como se pode ver em Victor Hugo, e, rica, que catava
melhor e nos livros comuns de poética e reto
ainda, em D’Annunzio. Assim compreende-s idianas os elernen-
e, inclusive nos moralistas e nas observacdes quot
como se vem constituindo uma espécie de
teoria da “atte e 0 hom em - On Man. O verda-
tos de seu ensaio sdbr
pela arte” para uso daqueles criticos que preten es era o de escul-
dem en. deiro objetivo de ambos os escritor
contrar e explicar a beleza de um verso, evia sdtiras, mas nada
que é beleza pir versos perfeitos. Boileau escr
espiritual, pelos sons em si, pelos acentos eir ame nte as debilidades, os er-
, pelo ritmo, the imp ort ava m ver dad
Pela “misica”, como dizem, demonstrando ari ame nte afetam os indivi-
pouca estima ros e os vicios que necess
nao tanto para com a poesia mas para es. dad e sait he da béca, invo-
com a prépria duos e as soci edad A ver
musica, convi-
luntariamente talvez, quando responde aos que
Isto nao quer Sizer que nos riza r: “Et sur quoi donc faut -il
“estilistas”, “estetizantes”, davam-no a nao mais sati
Parnasianos”, ‘alexandrinos” ou “decadentistas” que s’exefcent mes vers?” A reprovacéo dos vicios hu-
como e essa
tem sido denominados os artistas
da arte pela atte, esteja manos era para éle um “pretexto”, e é justament
completamente ausente a matéria
que sirva de ponto palavra que encontro agora num recente estetizante ou
de apoio € © assunto para
o trabalho. A matéria existe, estilista, Moréas, para quem o mundo nao existia senao
por vezes semelhante a
um coméco poético e “pour servir de prétexte a ses chants”. Procura-se permi-
outras
vézes semelhante a algum
dos conteidos extra-poéticos tir a entrada désses escritores na cidade da poesia fa-
que conhecemos. No entanto, zendo-os passar pela porta de alguma outra arte — a pin-
ela existe como um cabide
onde se penduram espléndid: ‘as tura, a escultura ou a musica. Assim, Théophile Gautier
vestes e preciosas
peles;
aquéle comégo poético per ma mie 5 foi definido como “pintor de versos”, D’Annunzio como
assenhorear- se da alma; o Guten
en tal, conceitual,
ah core “autor de sinfonias”, Herédia como “medalhista” ou “en-
ou qualquer que e seja, é 6bvio
, comum, de: sprovido talhador de camafeus”. Entretanto, para que éste argu-
de in-
terésse, Para nao comprometer
o intelecto € a paixg mento fésse admissivel, conviria provar que estas outras
que seriam : um obst ixdo
dculo :ao desdobrar-se
do virtuos;Osi artes nao sao poesia, isto é, que nao tém alma, pois é
mo e da arte pela arte. Veja
-se um famoso estilista fr, bem da falta de alma que aqui se trata. Pior ainda
2 - sos
cés, Boileau, paupérri = .
mo nao sé em fantasia com, a
~ ocorre quando éstes virtuosos, esquecendo que 0 sao,

62 a 63
esforcam-se para converter seus desfiles de ;
poesia de fato, porque entio mergulham imagens em cultorées distingue
m-se
1 Sensualismo
’ s que entr e os seus
assim, orr eto s, 05
e no hedonismo. Com isto néo os inc
queremos izer Tine indbels, os corretos ¢
alguns déstes escritores, e em mais de
que em
de torea -se
narts
arte po
um dentre °8 que os. A arte pela
citamos, nao tremulem raios de poesia sérios € OS nao séri nos mos tra m os proven¢al
ou nao se encon, com o
um artificio cansativo ter
trem por vézes poesias acabadas.
il”; pode tormar-e Exe
Lon?
classico no género, o seiscentista eran
P go “trobar clus”, “escur”, “sut bar roq uis tas ita lianos e nao
Gan
i
= ie o nos
ee hans cio funambulesco com ns
em sua primeira fase como da de tempo inatil gomo
jtalianos; ou também per
autor de teh
as baladas (Servia en Oran al Rey, cos” , “ri mas equi voca s’,
Amarr, “acrésti
a Banco, La Mas Bella Nifia), meen
= princadeiras de “ecos”, s”, ver sos “cor re-
monias “mitativa
a sent ae aracteristica fase
em waa “enn “pimas idénticas”, har figuras de
na escrita formam
das Soledades, na qual en lativos” e até versos que e
interiors canaia em enigmas
pode ser também fria imitagéo
a ncional
e numa obscuridade
utensilios e animais; ser canhestro
omo estilista e cultor da icas, como pode
: new
arte pela arte centdes de formas poét amor e,
sutilizou a tradicional fraseologia poética s éste s caso s falt a o
Se esférgo icstico. Em todo dade e
ca, Teavivando-a também e de dar as obras a ver
gorosas visdes de aspectos
com estu; com o amor, & capacidad da es-
ham dest a man eir a ain
oman tes da form
aman
da natureza Em rates outros a beleza que os que trabal
forn a Pela forma © proc
esso as vé uir. Tud o isto é com o gui rlandas e co
cn le a t&o longe de poss
intimo, desenvolvendo dao sempre algo extrinseco
lar ( (“un desiderio vano
um sentim ot m Jares de imagens que um cor
della sustenta e enrosca. Que m nao se comprazeria por vézes
Carducci) com o qual i ca’, i
dir
a sua arte ws as sdltas, versos ¢ he-
numa espécie de “poe
ganha ‘gu
algum’ m calorcates em repetir para si mesmo palavr
sia da poesi, a”, E& se sens ual, ou em cantarolar
arte pela arte, claro que na mistiquios, num prazer qua
c omo ni:
ns, “nu gas cano ras” , que tod avia sao “canorae?”
nadas, bobage
: ven gra nde deleite ao escutar
Santo Agostinho recordava seu
s pala vras , “ver bis eius ” (diz) “suspen-
um orador a cuja
rios us et contemptor
debar intentus, rerum autem incu
aba r suav itat e serm onis ”. A arte pela
astabam et delect
fa especifica, sa-
arte cumpre, pois, também ela uma tare
A . prépr
opiei categoriai da arte Pela de. £& um enamora-
arte tem tisfazendo uma especifica necessida
as ee € precisamente valo mor ame ntos, uma servidao de
r de Poesia nee men to entr e outr os ena
iteratura, mas que nem
Por isso di Sika
‘ a de Be amor entre outras serviddes de amor.
exista
; ir,
64

65
IX - A “POESIA PURA” psicologismo, do utilitarismo, e assim por
A chamada poesia Pura terialismo, do P mente estéticas 880: a inte-
as falsas
apresenta-se Precedid
a de um diante. Especifica! a poesia com
grande Prdlogo teérico e,
Para dize: T a verdad ceitualista, que confunde
e, somente ou com
este relaciona-se com as
nossas indagacées, " fectualista
g prosa literaria; a sentimentalista, que a confunde com
poi
tivagao pratica que o Segue literaria do sentimen-
, naquilo que nde
ae timento ou com a expressdo
Prio e origin° al, > sai completa: mente for: que a confu nde com a expressao lite-
on
to; a pragmatice,
templativo e teorético, a confunde com a
que
ms etipe “one raria da oratoria; a hedonista,
Neste prélogo teérico é ura amena ; e, por altimo , a formalista, que a con-
rejeitada qualquer concess& literat
o d, la da arte pela arte. Sao falsas
poesia enquanto expressa
o de um contetido senti funde com os diletantismos
e a duas ou trés, co-
tal, conceitual, oratério Ou
comovedor, isto é, vot stae estéticas que as vézes combinam-s
e dulci, delect ando pariterque mo-
contra a confusao da poesi
a com a literatura, Ent nin mo no “miscere utile
e entre si, consideran-
e Justifica-se & oportunidade
e a énfase dies nendo”, e outras vézes misturam-se
votes como a verdad eira e completa idéia
avendo considerawe que
éle teve origem num pals do-se a soma obtida
a renga que, mais do que “come da poesia, A determinacao do caréter proprio da poesia
qualquer outro e muito fi-
que a Italia, foi o gtande nas tem uma longa e fatigante histéria e raros foram os
pais da literatura, a qual
ainda hoje, como nos te mpos lésofos que souberam capté-to. A Poética amadureceu
de Brunetto Lati
senta-se “plus délitable” em depois da Retérica e permaneceu muito tempo na sua
sua lingua nor spree
fame dependéncia. Entretanto, o mal pior nao é tanto que a
Protest chegasse a desenvolver com corr
ecao chamada critica nao seja, neste prélogo tedrico, enqua-
» com Profundidade filos6fica
to da historia das dout
e com conheci drada na filosofia e na histéria, mas sim o fato de que
rinas (de que os seus se persiste em interpretar a verdadeira poesia - a que
estao muito distantes), tores
os conceitos implicito: vm viveu no mundo desde Homero até Goethe, Ibsen ou
negativa, obteriamos enté san
o uma Critica de Bde
sae estéticas, pois tédas ae fab Tolstoi, thda a poesia histdricamente existente como
Provém da confusao ire uma forma literaria revestida de contetido pratico, afe-
a
araatura, isto é, entre a verdadei:
e liter
ra expressa o, » ie
eae que é&é tivo ou conceitual. E nisto os rebeldes a tradicao li-
Poética, ; e ass outras,
2 que se chamam “expresn teraria francesa reafirmam, ao contrario, no proprio
na realidade n&o o sao. seGe ” e
HA falsas estética: S materialistas tradicaio racionalista e in-
Positivistas, psicoldgicas, i esférco de suas negagoes, a
utilitaristas e si milares, telectualista, que ja em Descartes e Malebranche mos-
tas sfo as que Participam mas es-
das erradas filosofias para
siologias e
e gno- trou-se tao pouco amiga e t#o pouco compreensiva
so refutadas Pela refutaca Oo geral do ma. com a poesia e a fantasia,
66
67
SS

Assim, a poesia de que falam e, que seria a um daqueles tedricos e, assim, foram estimulades as mais
Poesia in.
ciada por éles, nao pretende ser literatu
ra, mas também estranhas praticas ou programas de poesia pura, cujos
nao é poesia, identidade de contetrdo e titulos e gritos de guerra hoje se espalham nos grupos
forma, expres,
séo de plena humanidade, visio do Particu e jornais literarios, mas que aqui podemos omitir por-
lar no unj
versal, esclarecida ao coméco da presente investigacao que logo serdo esquecidos.
& qual fornece o principio diretivo, Ela
6 antes, a ne Entretanto, entre éstes tedricos hé os que néo se satis-
Bacéo da poesia como expressiio e a substit os
uicao déste fazem com esta maneira de divertirem-se e divertir
conceito Pelo da “sugestao”: a Bugestéo que se exerce outros e querem, ao contrério, aprofundando-se em si
mediante sons articulados que nada significam
ou (0 mesmos, atingir a Alma universal e perder-se nela co-
que é o mesmo) nao significam nada mo misticos mais orientais que europeus, renunciando
de determinado
levando o leitor a entendé-los como
melhor lhe apron. a qualquer efetivo operar e fazer, que parece-lhes dua-
ver e convidando-o a formar, por
si e por sua conta, lista ao romper, com a distincao, a inerte unidade. Par-
imagens que 0 agradem e Corre
spondam aos seus senti- ticipando désses supra-realismo, misticismo, orientalis-
mentos,
mo, ocultismo e magia, 0 poeta puro faz-se grave e sério,
Ora, uma vez que todas as coisas e assim aparece aos que o observam, de tal maneira
que nos todeiam em
qualquer momento, sao Motiv que a sua pessoa parece mergulhada em mistério, sua
os e estimulos para ima.
gens © pensamentos, e até mesm fronte coroada com um nimbo, sua palavra soa como
o para desejos e acces,
€ por isso tédas elas “suge profética em obscuras acentuacdes ou mediante o si-
rem”, faz-se evidente a abso-
uta vacuidade déste conce léncio prudentemente distribuido admiraveis inova-
ito da Sugestdo, que prete
deria assinalar a finalidade n-
da obra da poesia pura. En- coes no mundo e, em todo caso, uma nova maneira
quanto esférgo espasmédic de sentir 0 mundo e comportar-se diante déle. Mallarmé
o ou industrioso, mag
Pressivo, esta obra nfo inex.
pertence nem A inspiragéo foi tido por seus fiéis quase como sacerdote de uma
a nenhum Processo conte nem
mplativo e Cognoscitivo, divindade invisivel. Quando se 1é o que os discipulos de
unicamente 4 vontade que, mag
Tefletindo e calculando, for. Stephan George escreveram sobre éle, termina-se por
34 sons e ritmos, construindo nao saber se discorrem sobre um poeta ou um fundador
um objeto em que seu
autor
se compraz, mas aos de religiao, pois a éle atribuem ter anunciado a idéia do
leitores, como vimos, nao
mais que um estimulo cego Oferec e
e acidental em seus efeit homem “total”, do homem que resiste e afirma-se con-
Neste fazer ha o divertimen tra todo o progresso, fechando-se em si e encontrando
to, exclusivamente par,
ou para propagar-se em a
térno de si. A expressao em si mesmo a propria satisfacao. Também chegam a
@ arte néo é senao “dive de que
rtimento” foi Pronunciada afirmar que com ésse gesto éle inaugurou uma nova era
ton
68 69
lyr
histérica acompanhada do simbolo que lhe cabe: nao
e admiramos, nos agra-
mais o da antiguidade que consistia em um “disco”, ry, nés ouvimos, entendemos
mente. Estas nao perten-
nem o da Idade Média que se amparou numa “cipula”, dam e permanecem em nossa
suas teorias, mas 4 oculta obra
cem A poesia pura ou as
nem o da idade progressista que se moveu em “linha
poesi a expre ssiva € “impura”, ou melhor, da
reta”, mas o simbolo da “radiosa esfera das fércas”, Tam. da velha
que no finito colhe o
perpétua poesia sem adjetivos,
bém Arthur Rimbaud teria sido a seu modo um vidente
infinito.
procurando obter a nova viséo e a nova ética do mundo
ao renegar a logica e a moral, abandonando-se a selva-
X - A POESIA, A NAO POESIA E A ANTI-POESIA
gem e desordenada fuga de todos os sentidos e 4 reali- s, e mesmo ©
As formas de literatura até aqui descrita
zagao do perfeito vagabundo (“voyou”) para atingir, de anti-
virtuosismo da arte pela arte, nao sao formas
através duma experiéncia desta espécie, o fundo Ultimo sao negativ as mas
poesia, de coisa feia, de desvalo r; nao
da realidade. Podemos colhér estranhas informacdes e
positivas, uma vez que cada uma delas, como sempre
escutar curiosos juizos ouvindo os fiéis remanescentes
tivemos o cuidado de mostrar, dialetiza-se no positivo
das novas igrejas criadas em térno désses novos santos.
e no negativo, no belo e no feio, particulares a ela. En-
Do venerado Mallarmé, por exemplo, que cercavam com
tretanto, é importante insistir nesse ponto, pois nao é
grandes expectativas e de quem bebiam avidamente ca- raro ocorrer que o reconhecimento da verdade de que
da palavra que se dignasse pronunciar, dizem que o a literatura ndo é poesia se expresse por irreflexao como
segrédo de seu comportamento residia em sua dolorosa um juizo de desvalor e coincida com a disposicao de
condicéo de criador impotente, de “raté” ou falido, o espirito daqueles que, ou por desmedido afeto 4 poesia
que de certa maneira jé se poderia suspeitar lendo im- ou por afetagio désse afeto, manifestam pouca estima
parcialmente suas paginas. para com uma tao grande e nobre parte da cultura
Por tudo isto, como dissemos, o que h& de original e humana e da civilizagaéo como é a literatura. Devido a
proprio na efetivacdo da poesia pura esta fora do cam- essa espécie de preconceito acredita-se muitas vézes que
Po teorético e contemplativo, e nao acrescenta nenhu- uma determinada obra est&é condenada, ou pelo menos
ma nova categoria expressiva as que ja apresenta diminuida, quando a critica demonstra que ela é oraté
mos e
esclarecemos, ainda que se espraie pelas tia ou didascalica em seus motivos e, em suma, nao
categorias, para
nos longinquas, da magia e da taumaturgia. fundamentalmente poética. Mas o que se diminuiria
O que, ao contrario, nao the Perten ao fomance Promessi Sposi (pata retomar um exem-
ce sao os versos ori-
@nais, as estrofes originais, algum plo ja citado) ao dar-se relévo a preocupacéo moral
as Pequenas compo-
sigdes que, mesmo nos Mallarmé, nos que © originou e o anima em tédas as suas partes?
George, , nos Valé-

70 7h
file permanece como todos sempre o entenderam e ama.
ram; apenas passa a ser melhor entendido que antes e, esta falsa ver-
seria nada mau encoraja-los a abandonar
se alguma coisa fica diminuida, esta referir-se-4 antes constrangimento.
gonha e 0 conseqiiente
gos juizos dos intérpretes e dos criticos de Manzoni que
sao outra coisa, e consistem na
A sua obra. & necessdrio, pois, conservar intacta a admi- A anti-poesia e © feio
os seus objetivos
‘ragio pelas obras literdrias, mesmo pelas nao poéticas interferéncia da vontade, que projeta
artistica,
ou poéticas apenas a seu modo de poesia misturada com praticos para dentro do processo da formagao
assim como a mesma interfer éncia no processo do pen-
outras coisas, Estas obras sfo n&o apenas as oracdes de
samento é o éfro ou O falso. Trata-se de um momento
Deméstenes, as histérias de Tacito e Maquiavel, os en-
dialético que aqui nao poderd ser devidamente ilus-
saios de Montaigne, 0 Discurso sébre o Método de Des.
trado, sendo pois conveniente que voltemos a conside-
cartes, as Provinciales de Pascal, mas também as epis-
ragéo da contrariedade e a teoria geral do mal, da rea-
tolas, as oragdes e as odes de Horacio, as comédias di- lidade e irrealidade conjuntas do negativo, da realidade
vertidas, satiricas e admonitoras de Aristéfanes, a epo- @ irrealidade da morte na vida. Assim, o feio, por um
péia do Homére Bouffon que foi Rabelais, as comédias lado, é aquilo que a obra poética em seu fazer-se con-
do grande Moliére e as comédias menores de Goldoni, tinuamente afasta e elimina e, por isso, nao se realiza;
os romances de Fielding e Walter Scott, algumas par- e, por outro lado, é aquilo que se realiza nas obras que
tes da gnémica de Goethe, as satiras de Alfieri, e assim chamamos negativamente de feias, e que efetivamente
por diante. Todas séo coisas belas que, no entanto, no sao negativas mas positivas, praticas, e sempre iteis
nao poderemos chamar prépriamente de poesia se nelas a alguma finalidade pessoal do seu autor. No processo
nao reinar a “divina melancolia’,
poético a interferéncia da vontade, que se transforma em
(como De Sanctis ter-
minou por reconhecer acérca das comédias de Goldoni, arbitrio, sé se concretiza através das expressdes nfo poé
que éle amava e prezava bastante). De minha parte, ticas e literarias colocadas em lugar da nao alcancada
expresso poética.
no sinto o rubor dos que sentiriam incendiar-se-lhes a
cara ao dizer que realmente me agradam, e acho-os Assim também ocorre com a obra literaria quando nela
estruturados com grande brio e mestria, os Trés Mos. se introduzem expressdes poéticas nfo mediatas e re-
queteiros de Alexandre Dumas pai. Ainda hoje solvidas ou se transferem as expressdes didascalicas ou
muitos
os léem e apreciam sem que isto traga qualquer ofen- patéticas ao lugar das oratorias e as oratérias ao lugar
Sa para a poesia, mas, no entanto, escondem das didascalicas ou patéticas, e assim por diante — (os
éste com-
prazimento como “nervos et aculeos”, advertia Cicero, quando se escreve
se fésse um delito ilicito, De fato, no
“docendi causa non capiendi”). Nada disso, entretanto,
72 determina a anti-poeticidade em si das expressdes nZo

73

aa
poéticas e nem das literdérias, Nao existem Palavra
© s conceitos € a8 tendéncias, in-
tas ou feias por si; elas sio belas ou feias Zeunda ne feréncias biograficas, a sua forma mas
tejam ou nie em seu lugar proprio. A maté ria. Nao estudam
clusive em sua
nao poesia a
as meta foras e os esquemas que os
éa anti-poesia, isto é, 0 feio poético, do mesmo mains os seus voca bulo s,
e voca bu laristas dai extraem. Se
como a poesia é 0 nao literario, mas nao o antilite gramaticos, retéricos
rérin, mult idao que corre para as obras da
observarmos esta
Possuindo a literatura junto com sua propria é necessario ali-
beleza t, ” poesia veremos que, para entretéla,
bém sua propria feiura ou “anti-literatura”. “m as obras e seus autores
menté-la com anedotas sobre
relacionamentos destas com as
Seria o caso de considerar a relagéo entre
poesia e ji ou com extravagantes
nto. Mesmo quando pa-
teratura sob um outro aspecto: a relativ
a Taridad 7 paixdes e os interésses do mome
estejam voltados exclu-
verdadeira poesia, que nasce apenas
de um “estads mn rece que a atencZo e 0 gosto
ocorr e, freqiientemente, que ela
Braga”, e a relativa abundancia da literatu
ra, que i < sivamente para a poesia
corrida por atitudes mais comuns lida em seu simpl es e no entanto dificil sen-
e que é de “iso mele nao seja
hoe a one ane tido de poesia, mas interpreta da como oratéria, didas-
caso de reconhecer nos con-
mo ou autob iogra fia, apro ximando-se assim
€ das epocas histéricas que a calia, liris
grande do ela se
S
poesia, a co:ome a grande filosof
1 ia,
ia, éé quase exclusivamente do espirito dos nao poéticos leitores. Quan
luta ment e nao se prest a a isto,
uropéia? (Refreando, assim,
os impetos cosmopolitas presta pouco ou abso
observacao
e corrigindo a exagerada
exaltaca 0 das coisas orientais, pois é pura e simples poesia, ouvese a
e uma ironia
devida alias a propria novi
dade e a dificuldade de de que ela “nado tem substancia”. Parec
a. berta). Em correspondéncia
descol s ua esso “juiz o popul ar” e “cons enso geral” pa-
usar a expr
com a raridade di: poe- ramen-
ambém os seus entendedores ra distinguir, elevar e assinalar as obras verdadei
dq, evem ser, e sdo, “ mais “juizo
Faros que os entendedores te poéticas. Entre tanto nfo o é, desde que por
de liter, atura. Portanto,
como de, 0
popular” e “consenso geral” entenda-se, na verda
nao leva
juizo ideal e o consenso formados pelos espirites eleitos
que os transmitem apenas aos seus semelhantes mais
dignos, os que sao aptos a recebé-los, os quais por sua
vez os impéem a “communis opinio”, isto é ao lingua-
nao devemos jar comum. Dizemos ao linguajar e nao aos espiritos,
n os enganar com tantos outros
; 7
que cercam pois (para sermos sensatos) como poderia 0 povo atender
epi he e estudé-la, 4 Poesia pa.
pois a grande Mai
oria déleg seus afazeres diligentemente, como poderia conduzir
estuda a poesia mas ag alusdes histé: ric
as e as re. com perfeig&o habilidosa a industria e 0 comércio, se
74
75
fosse sempre perseguido e agitado pelas almas d,
e Shakespeare? & providencial, partanto, que
le Dante
como a filosofia, na sua forma especifica e mai: | Poesia,
S intensa
seja obra e culto de uns poucos.
A propria vida do individuo nos mostra isto: 4s crian-.
gas tém muito mais imaginacao que fantasia, Os joveng
mais paixdo e curiosidade, e por
isso amam de Prefe.
réncia as obras _passionais, comoventes
, excitantes, oy
mesmo conceituosas e paradoxais.
Assim, freqiientemen.
te ocorre que essas coisas Sejam
consideradas Poesia,
Pois somente com a experiéncia
e o amadurecimento
do gésto conquista-se o seu
sentido delicado e austero,
A passagem dantesca do Inferno,
onde nas trevas e entre
as chamas ardem as paixdes,
para o “dolce color d'orien.
tal zaffiro” do Purgatorio, pode
ria representar simbéli-
camente éste progresso, I) - A VIDA DA POESIA

76
POESIA
1 - A REVOCAGAO DA INTERPRETAGAO
os SUBSIDIOS DA
a formou re-
tica, aquéle que
Formada 4 expressao poé si me smo, alguns
ou 4 relé par a
pete-a ™ entalmente meses, alguns dia
s,
mais tarde, alguns
ou muitos anos qua ndo , pel a div ersi-
s horas depois,
ou apenas alguma a das con-
po, isto é, pel a relativa mudanc
dade do tem que era antes.
homem diferente do
dicdes, éle ja é um tem pos em tem-
tica renasc e de
Ora, se a expressao poé e ren e nos
asc
ifica, ela igualment
pos no “ey” que se mod de comum, iden-
ido & huma ni da
outros homens que, dev poraneos e
e sao seu s co nt em
tificam-se com ésse “ew”
séculos. Isto é o eterno re-
seus pésteros através dos
sia .
nascer; é a revocacao da poe
como um névo percor-
A revocacéo sé pode efetuar-se
oficio que se Ccos-
rer © processo criativo da expresso,
Mas, saben do-se que gésto e
tuma atribuir ao gésto.
sao indivi siveis , isto 6, nfo dois mas um unico
génio
no seu sentir,
ato em seu fazer-se, que é um sentir, e
um fazer- se, a revoc acao deve ser relac ionada ao
que é
a expre ssao e que @
génio-gésto, ou ao génio que criou
recria perpétuamente.

Bisse génio que a criou nfo é o génio déste ou daquele


individuo, concebido e limitado naturalisticamente, mas
0 génio da humanidade, que foi acrescida desta criacao
espiritual, que com ela cresceu, e agora guarda-a em
seu seio como forca indestrutivel. Poderia nao retornar
ao mundo pelos labios de nenhum individuo e, nao obs-
tante, viveria. Seria algo semelhante a lampada soli-

79
e e quer movimentar-se
taria da Narragao de Mori
ke, que pendia Quando ela procura desprender-s itos
corrente num quarto que de uma fing vé-s e para lisa da e detida peles preconce
féra outrora nin livremente, o e vole
ho de Praze. pelo espi rito dist raid
mente,
Tes e agora estava aban
donad lo. Sua bor que obstaculizam a O pro
da Ornada de s paixdes prepotentes.
tado para outros fins, pela outr a or
rpoe obst acul os de
prio curso das coisas Ihe inte
cha mam acid enta is, como , por exemplo, nao
dem, que se
serviria para 8 recorda-
jubilante de si mesma
em si mesma. E qua encontrarmos mais & pagina que
ntas belas -la mal cons erva da e pouco legivel. Sao
Poesias também nao Per
maneceram assim, por ¢&o ou encontré
emen te ocorrem com @
séculos, sem que alguém
tornasse a canté-las!
longos males e dificuldades que frequent
Quantas oa que form ou a expr essd o originéria, com 0
ainda nao se ac prépria pess
o atendimento de
jamais veiornens dn cein
a: dex aoe ‘ore Sone as autor da poesia que, voltando-se para
alvez nece ssid ades , qua ndo a ela retor-
no obstante, no reino
das sonthican sitse poetis outras vicissitudes ou
e atuam. Delas provém os g ante perc ebe que ja nfo cons egue reno va-l a em si ou em
sentimentos na,
genti . no
mentos fortes, os impeto
s generosos que eure sua integridade porque retornaram-lhe diminuidas,
que possamos explicd-los. todo ou em parte, as condicées subjetiva s e objetivas
Provém dessas criatura
ee das een s ‘ima criacao.
sempre nos S80 visiveis que possuia no momento da
eet , e que este
undo da fantasia dos poet
as, da mente dos EntZo o autor esforca-se para reencontrar a fétha per-
Os, das almas Avidas
de bem, filhas imortai dida, para reavivar os signos e decifra-los, ou para des-
homens imortais. Ocorre,
no entanto, que a hom pir-se das paixdes frementes, descartar-se das distracdes,
também se interessa Por aniede
outras obras, pois ela nao concentrar-se em si mesmo, perscrutar a meméria, excitar
é 36
arti . a fantasia, e assim, com engenho e esférco, vai pouco a
Particular. Por isto,
0 processo da revocaca
universal em :seu caréter o, 5 ainda que pouco reencontrando e recriando a poesia que ja fora
: intri nseco, tanto pod criada. Durante ésse trabalho éle é, por vézes, levado a
Zaf-se como nao
e 9 i-
realizar-se,
meeat dificuldade. Os
ora com
r maio
e ora com = fazer conjeturas, e pode ocorrer que, quando pensa ter
homens 4no S80 semp
to re e nem revocado esta ou aquela palavra da poesia original, na
Poetas, e, quando
absorvidos nas coisas
nos trabalhos
prati verdade substituiu-a por outra. S6 mais tarde, quando
de meditacao, mostram-se até na. sua meméria se faz mais clara, ou quando interpreta
desdenhosos e intolerantes Para co; mM qualquer a
Por outro lado, a necessér poesi melhor aquilo que escreveu, ou encontra uma cépia me-
ia variedade do senti
operar humanos interpée obsta re deiO Ihor, éle apercebe-se da substituicéo, que pode ser uma
culos a Fevocacio poéti, ica,
81

|
debilitagao da palavra originaria, mas que também
Ser, por acaso, uma correcéo e um acréscimo
pod,
de Herculano sem que se esfarelem ao serem tocados.
. @ leitura dos antigos caracteres é uma ar-
Também
O que sao ésses esforcos do autor na reconqu
ista d, te - a paleografia, é ha tantos paledgrafos quantos
texto de sua prépria obra? O que sao lado,
ésses esforcos . sao os alfabetos e as formas de letras. Por outro
Sua pequenez senao aquilo mesmo ou som articula do
que a humanidade a restituigao do fonema origindério
faz em grandeza e se chama “filolog oferecidas pe-
ia”? Germes e an mediante escolha entre as varias versdes
bustos uns, arvores, bosques, jardins e
campos cultivados las varias copias de um Unico texto, e mediante a in-
Os outros, mas todos da mesma qualidade. de lacunas,
troducéo de corregdes e 0 preenchimento
Na filologia, o desaparecimento ou a a critica de texto, que requer a reconst rugao
dispersao dos do. constitui
genea-
cumentos poéticos nos remetem a heurist
ica, 4s buscas das familias de manuscritos, das edigdes e suas
os dos
aos achados e “descobertas”, que com muito logias. A esta arte adicionam-se, ainda, glossari
mérito so
realizados por homens disciplinados e
preparados sons e das formas para cada autor e para cada obra,
par.
isto. Ai, alias, residiu a gléria dos humani e léxicos da lingua de um povo ou de varias linguas
stas fale
nos que empreenderam longas viagens pelo reunidas nos quais os vocabulos sao registrados segundo
Oriente e
por tédas as regides da Europa, vasculhando a sua mitua correspondéncia, e ainda morfologias, sin-
cada canto
das vetustas abadias para encontrar cddices taxes, métricas e outros instrumentos semelhantes, bem
gregos e
latinos e “libertar” (como diziam) “os pais como comentarios literarios e histéricos que determinam
da servidado
dos barbaros”. & nesta emprésa que, também © significado dos vocébulos e das frases relacionando-os
hoje, estao
engajados os estudiosos de qualquer parte com noticias de coisas, fatos e idéias. Deixamos de enu-
do ra
que, se fern sempre libertam os pais merar os tipégrafos e os editéres, que cuidam da im-
da servidio de
povos barbaros, ao menos libertam Safo, Baquili pressao nitida dos textos e os fazem circular; os biblio-
des, Me-
nandro e Heronda do macabro contato com tecarios que vigiam pela conservacéo de impressos e
os rolos de
papiro que envolviam as mimias egipcias manuscritos; os bibliégrafos que fazem os catdlogos das
, trazendo-as
de volta Para a luz e o calor do sol.
A técnica da res- edicdes; todos éles personagens que nao se costuma in-
tauracao é a arte de tornar legiveis as
escritas, e a ela cluir entre os fildlogos, mas que sao igualmente bene-
trazem auxilio a fisica e a quimica no
tratamento dos méritos por tornarem possivel ou facilitarem a comu-
palimpsestos através de descolorantes nicacgio da poesia.
e da fotografia
Tetirando as escritas sobrepostas sem destrui
r as ue Ante esta enorme carga de trabalho da filologia, os di-
estao em baixo, tornando estas visiveis parce-
letantes de poesia e literatura, temendo que uma
sem apagar as
sobrepostas, ou entio fixando os papiros
la recaia sobre éles, alegam a desnecessidade de tantas
carbonizados

82 83
az&éfamas e Preocupagées
, pois a poesia “fala
Sem divida isto é uma por si”
verdade. Entretanto, Para
se ouca falar a poesia, é nece
ssdrio que nos neat
wie pre mais verdadeiramente “filologia’, amiga do “logos”
a e da poética “palavra”.
dela que fala, e é para
isto que a filologia nos
minhos. Os diletantes ‘teen Como vimos, oS obstaculos a revocacéo nao se consti-
retrucam ainda que a
nao nos proporciona a filologi, tuem apenas pela auséncia, deterioracéo ou obscuridade
capacidade de Sentir a
e que, nesse sentido, os poesia dos textos poéticos, mas também pelo espirito contur-
préprios filélogos sao infer
aos ignorantes e &s alma ior, bado nas paixdes que procuram arrastar para a sua Of-
s simples, pois em geral
descontiados, n&o curi xo bita os sons da poesia, interpretando-os e tratando-os
osos e quase hostis para
prépria forma de expresso com como manifestagGes do que se ama e se odeia, pela men-
espiritual em térno da te imersa em falsas e confusas doutrinas que tendem a
passam a vide. Dizem qual
que éles Passam a vida procurar nestes sons, sob 0 nome de poesia, expressdes
e nao dentro da Poesia, em térn o
satisfeitos com as placidas
ale de qualidade bem diversa - prosa, oratéria, efusao ou
Srias das buscas extrinseca
s, nao desejando emog comogao.
mais intensas ou alegr éeg
ias Mais altas. Mas Oocor
finalidade da filologia re que Trata-se, substancialmente, dos mesmos obstaculos que
nao 6, absolutamente, prop
nar esta capacidade de atice também a poesia encontra no seu fazer-se, e que aqui
Poesia, nem substitui-la
sua obra, mas inicamente com a reaparecem em Cifcunstancias diferentes. Os remédios
preparar uma capacidade aplicdveis, também aqui, resguardadas as convenientes
modesta; a de atingir mai:
o limiar da Poesia supl adaptacées, sao substancialmente os mesmos. No que
as dificuldades e Temo antando
vendo os obstéculos diz respeito as paixdes e aos interésses estranhos nada
dade, infelizmente, que Se é ver.
os fildlogos, pela forma hé a fazer senfo esperar que se acalmem ou procurar
de sua mente ou em pecuiigg
conseqijéncia de sua excl acalmé-los em busca da serenidade de espirito convenien-
Pecializagio, em geral usiva
néo sentem a poesia espe te A recepcdo da poesia. Quanto as confusas e falsas
que dentre éles os que remos
puderem salvar-se déita doutrinas, preconceitos teéricos e mas filosofias, convém
a Salvem-se como defi ‘én.
Puderem. Esperemos que oe ‘am afasta-las com a critica ou com melhores doutrinas, con-
ee is: Para nao perm
anecerem na grotesca i vane trapondo a filosofiasuperior a filosofia inferior ou de-
do asinus Portans mysteria
” (o que diria fespe teriorada. Ainda aqui os diletantes habituais protestam
seu aperfeicoamento ita an
Pessoal), e também que a filosofia é estranha ao caso e acham necess4rio
da prépria Mol Para benefia6
filologia, para evitar
que ela se perc, ane evitar que ela obstrua as mentes, que devem estar aber-
excesso, no indtil, no
inepto, © para que tas inicamente para receber a poesia. Também neste
se torn
wie e semween -
84 caso estao afirmando uma proposicéo indiscutivelmente

85

L A
we

i...
verdadeira, Mas esta proposicado de
que as mentes ,:
devem ser jamais embotadas CRTICAS A POSSIBILIDADE
pela ma filosofia deve ~ nm - AS OBJEQOES
tomada ao pé da letra. Quando DA REVOCAGAO
a ma filosofia sia,
(como de fato existe quase sempr e ne o ate
e), e nao basta a Srp. mais é que preparacao,
A preparacao nada mere
tagdo para expulsa-la ou para fazer esquec
é-la (pois as com o qual se revoca & recria a poesia. Quer
se esquece sob pressao), devemos cotocar ara © espirito, mas nao
em aco preparacao purifica e prep
espon-
boa filosofia. Esta é tio séria e tio
boa que nao prete; : que deve manifestar-se
confere o calor poético
de tornar-se fastidiosa, ou Persistir
Ela restitui materialmente ou aproximada-
com seus probleme, taneamente.
© argumentacées diante da poesia assim como o autor os ex-
, nem penetrar no mente os sons articulados
campo desta, mas, ao contrario, a pos da a palavra viva
expulsar a intrusa pressou e criou, mas com isso nao nos
discretamente se despede, obedec poesia .
endo a propria teoria, pronunciada por éle - a sua
e, cumprida sua missio de poli
ira vista
Aqui deparamos com uma dificuldade, a prime
ciamento ou de limpeza
deixa o espirito numa condicad
_ 2 o afiloséfica de “docta insuperavel, reviver a palavra do poeta, os
pois, para
ignorantia” ou, como se diz, .
Preparado para acolher a os ao seu significado original
pura “s “impressao”
i sons devem ser recon duzid
da poesia. ja
recarregando-se do sentimento e da vitalidade que
Esta os“impressaoao”
”, que De Sanctis5 consider
ava © momen- foram a sua matéria. Por outro lado, o sentimento e a
to sagrado do critico «
recomendava n ao deixar escapar realidade s6 devem ser reencontrados na transfiguracao
ou esfriar porque com e, portanto, nos
ela se operada pelo poeta, no conteido-forma,
ciéncia da obra poética, perderia a prépria cons.
nao é uma impressao sons em que éle os expressou, apenas nestes e nunca
como a entende o impr ual
essionismo vul em outros.
Pria impresséo estética. gar, mas Pie
é a kry
pré-
Quer dizer: nao é nem mais
nem Menos que a capa Se refletirmos bem, é uma ilusdo pueril procurar o con-
cidade de aco:
de viver com ela, mpanhar a Poesia, tevido fora déles, na realidade, como tentam alguns que,
de refazer 5 seu
E, como tal, é Semp nao enxergando a diferenca entre a filologia e o pro-
re adquirida, me:
Casos mais felizes, sMO quando, nos cesso interpretativo-estético a cumprir num névo ato,
Parece ser algo n,
qualquer Preparacao atural e alheia a fazem o inventario da vida do poeta para atingir a sua
cultural, Porque
nao ha nada no
poesia. & a mesma coisa que empreender o inventario
do universo por estar todo o universo resumido e con-
densado no sentimento e na intuigéo do poeta, isto 6,
abrir uma progressao viciosa ao infinito, Com efeito,
mesmo quando arbitrariamente se restringe a execugao
86

87

= LARD
do inventario aquilo que parece tocar mais de as intet-
perto ; Sao semelhantes,
estas,
pessoa do poeta, como os acontecimentos Politicos a mo Leopardi. Sa & outras
encontram na
Te: lativista e douta “li-i
ape ce
seu povo e de sua época, seus améres e seus retagoes que

ddios, c chamados “positivistas.
que tentou fazer e o que féz em sua criticos
vida Publica rerature” dos sons
fugirmos daqueles
privada, suas fortunas e seus infortunios, néo é possivel
aS pessoas . Entretanto, ; s€ seu signi-
onheceu, os livros que leu e prefe inicio), e se todavia o
(de que falavamos ao
conhe riu, tudo isto semp~re e ae
sentimento e na realidad
ficado reside apenas no
significa muito e, ao mesmo temp
o, muito Pouco, Qual. bém , tam
quer um pode constatar a incongru sfigurou, nao terlamos
éncia e a volun: a fantasia do poeta tran tado junta-
deveria ser afas
taria ironia de tais indagacdes que
sao divulgadas como ai, um circulo vicioso que
que the deu ori gem - &
interpretacdes da poesia em inum
erdveis ensaios e tra. mente com 0 pressuposto
tados, e através das quais, depoi poes ia? Com efeit o, existem intelec-
s de se abandonar o revocabilidade da se
nao hesitam em agarrar-
campo da poesia, vagando Por
regides que nada tem a tos simplistas e rudes que
do, sust enta ndo que cada re-
ver com ela, se declara que
a poesia foi “explicada”, jmediatamente a ésse parti
Na verdade, @ poesia, (se fér criagéo 6, de fato, uma nova e diferente poesia. Cada
licito Personificé-la) a0
astica e a imagem
ouvir éste amontoado de estra
nhas informacées insig- feitura de uma poesia é a escrita fant
nificantes e divagadores, Permanec ato da leitu ra, floresceu no espi-
e silenciosa, com o de uma outra que, no
es palavras.
semblante maravilhado, Ou assum
e aspecto de esfinge. rito do leitor e ressoa em novas e peculiar
aderindo a éste partido nfo se
Esta espéci
st spécie de expliicagéo Ocorre, no entanto, que
cacio sésé pode satisfazer
q consideram a Poesia como aqueles nega apenas a revocabilidade, mas a propria essenciali-
alguma coisa pratica entre
Outras coisas praticas, como dade da poesia, que fica rebaixada a ato pratico, sem-
ila Gao légica entre outr
i = , s logica
ilagdes as e diferente, porque sempre novo e diferente
légi s, e, conseqiien
i temente, consideram pre novo
a “Co.
m 4a" como uma simples
continuagao das facanhas 60 curso das coisas e as maos nunca séo lavadas dua
ante como homem Politico; d.
o “Cancioneir ‘o” de Pet vézes nas mesmas aguas.
ca como uma série de rar.°
recados amorosos sol de todo ceticismo estético reside, enfim, na
favores de “madonna Laur icitando os A natureza
a”; H © “Furioso” com
tracao igual a qualquer o uma dis- confusdo da poesia com o fazer pratico e com o prazer
outra, com a qual
traia-se aos pesados enca Ludovico sub. pratico - passional, a comecar pelo ceticismo estético
rgos de cortesiio
dor que lhe impunham e administra- tradicional entrincheirado no aforisma - “os gostos (isto
os senh ores d'Este;
Villaggio” e a ode “A o “Sabato del é, 0s prazeres) nao se discutem”. E. Kant pés fim a isto
Silvia” como sintomati
tagdes de hidropsia cas manifes- demonstrando que no espirito humano ha uma especial
e outros males que
afligiam Giaco- qualidade de prazer que certamente se discute, pois tem
88
89

1 SATO
carkter universal e absoluto e é imune a qual coisas
: é composta de
terésse pratico, ainda que seja distinto ant o, & realidade nao sim
atos. Também as
da a one = coisa 5, No ent
que se da ao pensar por conceitos segund ma s unicamente de co ns-
o a =a e sentimentos Nao ha atos que
no
Atualmente a afirmativa da “relatividade € a fantasia. rea liz ar 0
do gosto” ae o sentimento ure za.
conforme a sua nat
nesta formula rebaixava a poesia e a beleza gam realizar-se @, pretenso desacérdo
a fate i
que seja éle. O
donistico, ia nao é mais objeto de ataques e kh ne seu fim qualquer , em seus ideais
conceitos € juizos
seus
ou de aceitagées e negacdes, pois ja esgotou des homens em e do feio, este des
a-
com fore nimento do belo
mente a funcdo histérica que exerceu morais, 9° discer men te mo nt ad o
no século x rth alha alegre
de bat
ao tornar urgente para a filosofia a eordo que € 0 cavalo lidade e
indagacao dos va
smo , pod e ter uma aparéncia de rea
blemas da poesia e da arte.
A afirmativa Sovaricnsee pelo cetici mas na
er, rea lidade
podemos mesmo deixd-lo corr
até
. necurso 7 Propria indagacao. mos de¢ perto éstes
Assim, quando, depois bsist e. Ao anal isar
Slonistee ei ieee por alguns Positivistas, associa. do fato éle nao sul rim os que nao
da poesia, des cob
Goes ut ristas e evolucionistas, desacordos no campo de atos, e que
ja nao foi con- mas de dive rsid ade
We se trata de desacordos pequeno
. eoria mas soma um simples si. Tomemos um
atestado éles nado se chocam entre
, mea Lesbia, atque ame-
ne ura. verdade que as vézes ela reapare
ee ae sleun literato, como
ce nag poema de Catulo: “Vivamus oas que,
em Jules Lemaitre, o apenas algumas pess
Oana mus”. Diante déle haveré
a “n sempre os literatos sabem
refletir mul tid a 0, © julg arao belo ou feio. Uma distincao
numa
anto é assim que Lemaitre, abe l: lecida nesta multidao de pes-
“a: edor e arguto ° Juiz
tend
bom en- preliminar deve ser est
jui de poesia, desfaazia
zi a s ou mui tos de se us compo nentes nao o acha-
; tica com seus juizos efeti i soas: alguns
vos, ainda que aparentasse, ape nas repetem palavras
fo contrario,
wrentaree ram nem bi elo nem feio, e
desfazer og juizos co; pafa assumire m ares
teoria » quase por alheias ou dizem palavras vaziaS
exibicao, como quem muito fa
ne mostrarem entusias-
muituito dando oe dar nada zendo diz nad
diz nao de inteligentes e sabidos, para
que valha a al . entam quais-
apres
mo ou desprézo. Estes, portanto, nao
pois sao simple s vocife ra-
quer discordias em seu sentir,
experi éncia diaria, o grande lugar
dores. Sabemos, pela
se instala
que ocupam no reino da conversa fiada, onde
artes,
© seu sentir é a feira das vaidades com a poesia e com as outras
er outra coisa, Se-
wens fa realidade,
por nao col Mseguirem agir do cir como a filosofia, a politica ou qualqu
iva eleva- los a oposit ores e sorri-
lo dos sentimentos,
jamais al Cancam a ria uma honra excess
verdade das rsem fiado
mos do que dizem ou deixamos que conve
90
91
sem darmos Ouvidos
nem as suas admiracde:
do qu e é belo.
Be E, 3 assim, o espée-
vituperacdes. Restam, a beleza as
os acerca das obr
asssim, m
os outros que sente:
ee
ec és stay tim entos contraditori lo.
taculo dos sen nece como se fésse um pes
omente experimentaram ade
inuene on um sent
de poesia se esvel
cor ancia = Frazer
“es que realmente : <2 mesmo
wen Pine s” para que,
iscordancia e€ desprazer. as human! generi
Mag “= taria a “auctorit 0 con sid era ssea‘-
aie pee ne & belo, € nstragao metédica,
impossivel que o espirito
, Be m recorrer a de!mo Bas tar ia a con ti.
| “ 08 olhos abertos.
_ um sonhar com
a fg¢ao com a beleza, 4 constante
:
nao
o partici e poe sia ,
aleg
oe ria e nao a louve, Portanto a entre bel eza
nua e Viva disput
mi
r , p: ara og gue
que real an ote em © (se mais
. imen taram um sentimento Oposto, gao sob re os principios que a reg
nao bil bore medita hos filologicos co-
nsa gama de trabal
=
i icacao
expl .
possivel ssendo a de que '
nao entrara: mae nao fosse) esta ime cres ce e sé aperfeicoa
sem pre
tn mente em relacgio com
a poesia enquanto oesie locados a seu servico, que
alexandrinos e 0s
gramaticos
incessantemente desde
asnai
sim co m a sua matéria, os
éri que foi confundida oe la siciliana
a ( " ca de Pisistrato a esco
no exemplo do poema de
Catulo) co: ordenadores da épo and esa, ale-
fra nce sa, hol
do Renascimento, as esco! las
0 res ae
cho de um . “e moral. Julgando
reprovavel 0 ato oe ana —
nea la olas européia e americ
senate. e16 © poem
a porque celebracéo ma, inglésa e as atuais esc
terete nate da alegri l néo se fur tar am de participar e
@ esquecer, no torvelin um trabalho ao qua -
ho das a elo Poliziano, autor das Mis
0S, as meditacdes do: S promover poetas como Ang -
quatro novissi: téo extensa, tao mil
Catecismo, meditando
os quais nfo se peca cellanee. Sem divida uma terefa
nu; wine
ve nao seri a emp ree ndida e continuada
Tudo isto @é confirma tipla e tao gra
i do pel lO que obser: perde tempo em sua
i
tememen “h ii pelo género humano, (que nao
nte: o: $ que afii rmam
ario empreender
evolucao), se, a0 contrario, fésse necess
@ exisi téncia do iifeioss
ia na eles
oe
a Por “s vituperada, de quali-
recitando-a de manei a reproducao, alids impossivel, dos prazeres
son, seen ©el ehchegando a tocar :
a
as suas fibra
i s estéti-
i. dade prdtica. Por exemplo: a tentativa de recolocar os
, pee “Sim, como forma r e dis-
oeset cue ela’,
é bela, » mas com: homens em determinadas condicdes de palada
: Ou qualquer coisa seme erir
fee lhante. . Tambén, posicao estomacal para que pudessem provar e dig
a Pensam e respondem epas-
‘adeiras legiées,
assim, : as bolotas e as carnes cruas com que os seus ant
mas também am prazeirosamente, ou
mos ao
& grau de Opositores,
nao os ; elev
lon are.
e sados mais remotos se alimentav
Vamos s, ou fazer
entdo digerir a “sopa negra” dos espartano
chama-los
d e mora.
' com que degustass em, alt ern ada men te, a cul inaria atual
2 80 e de f
a iev al (ou mes mo a de 150 0 e 1600).
Pols, como residuo da anilise, 2 apenas @ a culinéri med
0 caso daqueles cer ia se esta s culi naérias fés-
$6 Deu s sab e o que aco nte
92
93
sem “revividas”, pois jé nos assu
stamos 56 se nao
receitas lermos tues desagregados e inertes
nos antigos tratados, Certamente og permaneceriam l de
lissimos, fundam ent al e esse ncia
ria algo melhor do que com os inertia, dada a cond igdo de lin-
Dacier, quando, ssentece, nos fosse
bem como a do noss o inte rloc utor
segundo a anedota ou a lends geres falantes, ogé -
serviu justamente
, ee
a comofalante, e de serem hom
sef
a “sopa negra”. Parece ‘a estrangeil comum humani-
. & douve vibracdes de
senhora descobrira, com sabedoria filolégica,a os ingre neas as nossas € 4S suas
simpatia, que as
dientes desta iguaria e sua receita, 0 que permite, por consenso ou
transformar também em esto mas esqueceu-se de sendo perc ebid as pelo outro.
magos espartanos og estg, um terminem
de
Magos dos académicos que sfo apenas as que
convida ra. estrangeiras nao
Linguas novas ¢ que isto,
nosso falar usual. Mais
m - A INTERPRETACAO assim denominamos em e no rigor
dade do fate:
HISTORICO-ESTETICA (para permanecermos na reali
ia amos e uma lingua
do conceito), téda palavra que escut
Uma ve: 2 que nao
a se pode afastar o circulo vicioso
pronunciada antes
ata
“ 2 :
s foi
nova e estrangeira, porque jamai
ogee
tae me oe .
da poesia, s6 nos Testa sem
observd-lo
See
thor
n i Tceber das que ja foram pro-
que
qu ésse circul o nao
culo ng é de maneir,A e nao se identifica com nenhuma
meee ane pela primeira vez,
ms magico. Ele é const
ituido da mesma nunciadas, e porque nés, ouvindo-a
oon = media nte um déstes atos de
a todo momento nés
nos entendemo; a compreendemos somente
ee
i n
uns utros, vivemos e pensa tia que recon hecem os como fundamen-
m: 08, Porque os outri consenso e simpa
: e sao pre-
Pensam conosco,
e nesse Proprio tais e essenciais. Atos de consenso que sempr
Pessoais e sociais is, individ
indivi, ato somos o filolégica” ma-
: . cedidos de esforcos, de uma “preparaca
humanidade. ucs € universais, homens ¢ , manif esta ou velad a e quase invisivel,
ior ou menor
sa €
E por obr ‘a desta magia ee haurida nos livros ou na propria memoria, custo
i que d taniamente : rapida , tao facil, rapid a e dbvia
milagre de aprendermos realiza-se o lenta ou facil e muito
que nao podemos evitar um certo assombro quando a
vemos, agora, qualificada com o nome solene de “filo-
tumes, os logia”. Téda a poesia criada e que recriamos em nés
acontecimentos e
se fala; nao é@ senfo a expressao de uma nova lingua, pois a
ilusdo de que os poetas e os fabuladores se sirvam dos
sons articulados como signos que ja encontram pron-
tos e que precisam apenas dispor nesta ou naquela or-
dem, nao passa de uma mitologia dos lexicografos e dos
gramaticos que nao nos preocuparemos em refutar. De
94
95

<a ene
r ;

aii a afirmativ: a de que
téd. la noy.
guagem, pertence 4
experiéncia ea : a uma Pi cesia que existe e ¢
ionada for
uma vez q' ue;
nada existe fora
nte existente,
pistoricame Esta interpretagao his tér ica sempre existlu,
ga his tor ia. ret anto, @ clara
outra forma. Ent
poderia ser de meto-
m particularizada
ci dés se pon to tedrico e 8 do mais
® ema uma conquista
ogi a tra cad a 4 partir dai é am ad ur ec en do
dol téria; que veio
of un do co nc eit o da his rac ao foi con tinua-
pr cuja el abo
culo XVII, o
dente (semethante 3 lendaria através do sé e ulo XIX, e para cuj
Assim, im, 2 e da, com av
an go s recu os, no séc
ers ari os oS Tre
j tamente
Jun i us adv
com o som je s e trabalha. Sao se
fim ainda ho
rti culed,
tout atua-
feno menistas e os
ado, Penetr
epeakes)
no gen tis tas , OS
sta s, 0S Com ! tin
arte con-
lativi espe cif ico da poesia e da
campo
Jistas, que 0
onistas.
vertem-se em hed acao da
histérico da interpret
entendimento,
devemos solicita
r
(no sen.
Mas, situando © carter
tido em comum
um ponto que ela tem
amplo e estr ito
em que empreg
subsidios que amos o ter mo)
Novos poesia, determina-se a das chama-
clarifiquem de qualqu er outr
com a interpretagao
a obscur idade
e Preencham
ana lis amo s e€ defi nimos: a pro-
ja
das expressdes, que to e 4 lite-
ratura de entretenimen
sa, a oratéria, a lite sera o compre-
obras tam bém nao
ratura efusiva, cujas for em sen-
idio da filologia, nao
ensiveis se, com © subs hist éric a. Mes-
em sua exis ténc ia
tidas e compreendidas o, exige esta
, ou ndo- expr essa
mo a expressao imediata emos, ela
uma vez que, como sab
interpretagao histérica, com a imagi-
deve ser inte grad o
A interpretac&o é um indicio que nao da rea-
assim ervacao e a medita gao
reali 1.macezada 6 é his
térica: ; Mas nao nacio mas sim com a obs o © mé-
a da mes ma for ma com
fara que nos reitictes lidade de que é indicio,
is diag nést icos .
meee
Mees fan da Poesia, dico que elabora seus
no sentido de e nem que
fil rece Pos a o, mas um fato histérico
me é€ historia e
aqui tem
filologia por gi A poesia é um fato histéric da dos demais
‘ meramente ins idade, diferente
). B histérica no sen trumep_ tem a sua propria qual ela parte
tido € que nao 6 Cri e, se com o todos os demais
agio mag fatos hist éric os,
96
97
da realidade existente, indo além dessa Fealidade g. to era a interp aca
das pocsia
ret s ooso
terminada, o seu ir além & criar como oratéria e outras cotsas
prosa,
consnsis
i te na Conjugacao s
intuitiva e na fusao do
Particular com © univ vézes encontravamrse nas poesia
ersal, do vezes nao
individuo com o cosmos, e as e nao poéticas e outras
(como Goethe disse uma pro-
da arte em geral) seu ponto vez mas introduzidas pela
de Partida é o “caracteris. er ai encontradas
endo e alte-
tico”, mas seu resultado @é
a “beleza”. Por isso, as imaginava, mal entend
a sua escola ostentava ee.0
enn
interyrpretacdo histérica é, no
préprio ato, interpretacio ia: eacola ™ posticas. A segunda
5 partes éti
estética, que nao é negac: a0
da historicidade ou acrés. rando jm Restética” mas, por seu lado, mer F
cimo a historicidade, mas «ciativo de pois contrapunha a
“estetizante”,
sua verdadeira historicidade, fino
_ ane
Assim, da no mesmo chamar essa interpreta
cao de “his. Sete da interpretacao historica da
térica”, entendendo-se “interpretagao histé falsificagao interpretacao estética;
da
rica da poe- waa tea
caricatura. Os graves e
sia”, ou “estética”, entendendo-se “da Poesia Se eeatura contrapunha outra
histdri- s, intérp retes 7 poesia oo
camente existente”. Apenas por questao de Securing porém ingénuo
clareza dida- as
, mas ja mene
tica, e nao por combinacao eclética, nés a deno
minamos mo nao poesia, bem como 0s alegres
substit uidores ° Powe
aqui de “histérico-estética”, formando um vocaébulo que génuos e um tanto charlataes,
ou por ext ise ee
exprimisse mais categoricamente a fusdo dos dois ele. dos poetas por sua propria poesia
como person agens carical
Mentos, que, alias, sfo dois na andlise abstrata, mas, falsa poesia, surgiam todos
como dissemo s, essa batalh a ia foi esque-
na realidade, consituem um inico ato. Na Italia,
e a importancia
Com isto nos é dado entender as razdes, e também cida, e sao muito reduzidos o numero
a to que os da se-
irracionalidade, das duas escolas
dos adeptos da primeira escola, enquan
que se opdem no cam- aspecto,
po da interpretacéo gunda quase nao sao mais vistos. Sob ésse
da poesia e que muito atuaram na nao
uma clarificacao dos espiritos. Entretanto,
ocorreu
Italia, especialmente nos primeiros anos déste século tao
férteis em vida intelectual. De certo essas duas escolas podemos dizer o mesmo de outros paises de cultura onde
o debate ainda nao ocorreu ou nao se desenvolveu de
nao batalharam imitilmente se, consumindo-se nessa ba- cio
talha ilogica (e nao poderia acontecer diferente), termi- maneira tao intensa e tadical, e, portanto, 0 benefi
déle proveniente tem sido menor e mais fraco.
naram cedendo o lugar a adversaria de ambas: a inter-
Pretacéo cujos térmos foram expostos acima e que é a Entretanto, observar que, se essas teorias his-
devemos
tnica legitima e verdadeira. Uma dessas escolas osten- toricistas e estao ultrapassadas enquanto
estetizantes
tava o titulo de “histérica”, quando deveria ter sido as- teorias, a ponto de hoje as encararmos apenas como fatos
sinalada com o estigma depreciativo de “historicista”, histéricos ¢ nao mais ccmo objetos de dispute, uma

99
coisa bem diferente é con
siderarmos as te
elas representavam: a ndénciag que —— eram
de historiciza T erréneamente com tédaé i e de que
a real! idad
Poesia e a de substitui-la a sentimentos, j , ns
port anto , =
Por imagin igurraados na; po! esia e,
soais. Estas dues ten aces novas ¢ pes. ransfigu
am om mar
déncias séo fontes Per e unilateral para ree
pétuas de t’ mndt ics
ier ce multilateral. O ‘sédio es de* Heitor ¢ Am
€rros € perigos que desvia par
ram 4 mar
m até mesmo aquéle
s que tes. soe
we
ricamente pensam e
Professam a teoria sic a na ilha geer feaof ~
ceados
ater-se a ela em seus juiz
; ne OU o deDNau
noa,
drémac
a e
os, a
senvolvem na to especifico do tempo, mas n die
Dois exemplos Servirao
para demons trar ésses Perigos
© Os Erros que engend
ram. Um déles é evidenciado pela Iideal eenum num tetempo eterno.0. A lingua grega, 0 conhect-
Controvérsia tet e e tédas as
sébre dos fatos historicos
dos costumes,
o modo de inter, Ppretar a poesia an.
istori

tiga, (entendendo-se i q' ue a filologi


it a nos oferece
Por poesia outras coisas
antig
mana, ainda que fésse convenien a a poesia greco-ro. tendimento, nao séo mais ue oe
te englobar ai téda a
Poesia, pois téda ela é
Mais ou menos e. i. im iZo em que ésses degraus j& nao s 5
Passado, e esta ao mes antiga, pertence ao Sn i qual a terra esté ausente. Se quiser-
mo tempo sepai rada e ligada a nés,
como também téda g a atatat esta verdade sensivelmente basta que, ao
Poesia que nao
mento e que, por isso seja criada no mo orn otomero lancemos os olhos sébre one we
mesmo, exige a interpre
siste-se, Oportunament tacdo), In- tree ‘ igd ue sao extraidas
e, na necessidade de
ta-la com conceitos nao interpre. otean, ee cine de guerreiros em carves
e sentimentos contem
modernos. Isto
porineos ou eae divindadles arcaicas, sacerdotes mitrados gente
nos levaria, de fato,
tagao mas a uma nova
nao
a uma interpre.
sulca os mares em naves de 7 etusta
fantasia, idéntica aque
Cesarotti nos apresento la em que ms experimentaremos, mais que fastio, dese ne
u um Homero de Peru
traje floreado e espa ca, colete, — Afinal o que fazem ésses pobres diabos, éss
dim, como hoje o apr
talvez mais facilmente, esentariamos, ‘ iis 1 4rbaros, essas obras de batalha e navegacho, em
sob a imagem do dec
século XIX em lugar adente do oe vn il : Aj Atena e Afrodite, em meio as
do gentilhomem do sécu
Quer dizer: asse Proced lo XVIIL batalhas wavar
reattes travad as na
ien na 2 Iliada
i dos na
Bados
e os mar es navega na
imento nos faria retornar
do esteticismo que crit 4 mania quiser mos record ar ili uma our s
icamos, Entretanto, qua Odisséia? Se
mos ésse esteticismo ndo rejeita- ee
mediante o conceito periéncia sensivel, lembremos a aversao que
sia greco-romana deve de que a poe-
ser interpretada com i dos poetastros), man
etas (ao contrério a
tos Breco-romanos, inci sentimen-
dimos no €tro oposto boon mio de seu retrato nos volume s de suas po
Ticiamo, pois estamos do histo.
esquecendo que ésseg soa on a desilusdao dos leitores que nao encontram
conceitos e
non tetraten reais nem o seu peeta, nem a origem de
100
101
seus retratos ideais. (E tanto é assim que og que na realidade re-
Poetastrog “conceito” i ento
ito” do sentim
freqite ntemente nenhum que
se fazem retratar com a Cabelei
ra Certamente nao sera possivel sustentar
dulante e cs olhos voltados Para o
céu, colhendo a ha eta rr.
presentara avei uma € outra
i pensavels
sao indis oul coisa, Miisto é,
piracao). E bem conhecido o cuidado com em orador e triplique em filosofo.
que os ad "° Oe se duplique
escondem as noticias acérca dos fatos e das pessoas i les que, entre 06 poe-
jes a verdade é que mesmo aquéindo
thes proporcionaram a inspiraco e a matéria, finalidades e con
= .
ae tas, so oradores € filésofos, possu
bem aoe
quao odiosas e estipidas sao as Tevelacdes
© sabemos
mi-los (porque
espécie (com as quais os eruditos acredi
dessa
ceitos, enquanto poetas nao podem expri
tam iluminar as finalidades e 08 conceitos s6 se exprimem na orat o-
poesia), e quao grande era o desprézo de Goethe obra,
sua
qin. ria e na prosa), e, por isso, no curso criativo de
do, zando-os ape-
colocam-nos de lado ou destacam-nos, utili
aindaem vida, fizeram-no Pfovar ésses torment
ogs
numa antecipacio da gloria de seu nome. Que mento despidos de
vanta. nas como tons particulares de senti
gem poderiamos obter, que consolaco poderi idade e de sua dura praticidade. E
amos usu. sua fria conce itual
fruir, com o conhecimento pessoal de dia grega a idéia do
Lésbia e Cintia uma ilusdo de 6tica ver na tragé
de Beatriz e Laura, de Carlota e Fanny, um poeta cristé o a idéia da provi-
de Aspasia, fado ou na obra de
Nerina e Silvia, da “donna bruna” e da “donna velata” por-
. déncia, pois “fado” e “providéncia” sao conceitos e,
senao talvez, e mais uma vez, a confusio repre senta veis. Aquil o que
entre as ima. tanto, sao pensdveis mas no
ginagdes humanas do enamoramento e a realida
de do se representa sera tao somente e sempre, sob o nome
fato, tao distanciadas uma da outra, e entre
o enamo. de fado, um sentimento de terror e resignaco, e, sob
Tamento e a poesia, ainda mais distanciados?
E que o nome de providéncia, um sentimento de confianca e
vantagem haveria em verificar a suspeita de um
es- esperanca: luzes e sombras mas nao conceitos. Quando
critor cujo nome n4o recordo: que t6édas essas
mulheres os interrogam sébre o que pensam do fado e da provi-
eran feias e, por seus sentimentos,
palavras e gestos, déncia, da justica e da injustica, das leis divinas e hu-
néo diferiam muito de simples empregadas?
manas, sendo sempre acusados de impiedade em tais
Um outro exemplo é a insisténcia com coisas, os poetas deveriam responder como Paolo Vero-
que se continua
a indagar sobre as finalidades dos nese quando compareceu ante o tribunal da Inquisicao
Poetas e seus con-
ceitos, considerando-os indispensdveis
para o conheci. por ter introduzido num de seus quadros uma figura
mento e o entendimento da sua Poesia,
Seria 0 caso de que contrariava a histéria sagrada em que se inspirara.
perguntar, preliminar e metddicament
e, como fariamos, fle disse que fizera a pintura “com a consideracao que
ent&o, para entender a poesia daqueles
poetas que nao seu intelecto podia conceber”, que a figura pela qual o
se propuseram a nenhuma “finalidade” e
nao Possuiram acusavam fora ali colocada “por enfeite, como se costu-

102
103

Aa
ma fazer”, apenas , o oO Sufeno figurado por
porque necessitava de uma certa 6; et ur ‘bi anus”, com
stu! s et dii cax cr ev ia vers os “unus caprimulgus
ou de um certo tom de cdr, existisse ou nao na “his, quan do es
téria”, e que, afinal, os pintores Catulo, que do escr eve versos é um vef-
“assumem as liberdades
aut fossor videtur”. Quan
aquéles que
dos poetas e dos loucos”. ouvido e da fantasia, e
dugo, torturador do a-lo . Mas o
m e pro cur am evit
tam cultura e £08! to foge
IV - O ODIO PELO FEIO, A INDULGENCIA PELAS ontrario, procu ra-0, acaria cia-o, corteja-o
IMPERFEICOES E A INDIFERENCA PELAS mau poeta, a0 ¢ com louvores
alimente a sua ilusao
e adula-o pata que A satira
PARTES ESTRUTURAIS
umente o comprazimento de sua vaidade.
r-se do mau poeta, ne
O leitor de uma poesia identifica-se com o seu autor e, e a comédia procuram vinga
para o tormento que éle
ampliando e conformando sua alma & alma déste, ele- nenhuma vingan¢a é suficiente
va-se, como éle, acima dos interésses e afetos particulares se mostr a mais importuno e tenaz que
inflige e onde
(aquéles que Ihe sao particulares nas condicdes dadas), zumbidor e mordedor. Se os poe-
qualquer mosquito
os mediocres ou
purifica-se, como éle, numa catarse anéloga, e abre-se, tas péssimos sfo menos odiados que
ificados e
como éle, a alegria da beleza, maus € porque, sendo mais facilmente ident
meno s temiv eis. Se ésse édio
No entanto, ocorre-lhe exatamente 0 contrério diante das repudiados por todos, so
ating e os fabri cante s de coisa s feias, é just amente
poesias falsas, que surgem com pretensaio e pobreza de nao
poesia, mas que depois, no ato de recriar e fruir, mos.
porque éles nao incomodam a quem no os procura, e
sabendo o que vale a sua obra, éles nos dizem com
tram ser apenas coisas préticas e por causa de tais en-
ganos e desenganos sio chamadas de “feias”. Com essa
modéstia e inteligéncia: - “N@o deveis ler o meu
romance, nao é coisa pata vés” — ou entao imitam a
descoberta o leitor experimenta desgésto e desprazer,
acertada cautela do empresario de Nand que, quando
enquanto aquéle que as produziu experimentou alegria,
falavam do seu “teatro”, interrompia secamente: - “Nao
Experimentou alegria; e nem poderia ser de outra ma
o chameis de teatro; dizei o meu prostibulo”.
neira porque, ao fabricar essas coisas, que para o outro
sdo feias, éle cultiva a crenca e a ilusdo de estar exe- O édio pelo feio nao deve, entretanto, induzir ao extre-
cutando obras de beleza e, assim, satisfaz a sua pré- mo de transformar-se no “odium auctoris” com seus con-
pria ambicao, alimenta a sua prépria vaidade de aparecer seqiientes prejuizos, impedindo a fruigio da poesia, pois,
aos outros e a si mesmo como figura de homem genial, assim camo ela as vézes floresce solitaria em dridos ro-
artista e criador. O mau poeta “gaudet in se et se ipsa chedos intelectuais e lugares indspitos, também pode flo-
miratur” e, por causa désse contentamento, freqiente- rescer entre as coisas feias, “Parmi son fatras obscur,
mente se apresenta cortés e amével na vida social, “ve. souvent Bréboeuf étincelle”, dizia Boileau, e “tarde non

104 105
a mes ma
fur mai grazie divine”, dizia, noutro
sentido, Francesco damente, mas aii jaja nao é
Petrarca. Existem os que apés anos servar mais. demoraece tanto m as palavras luminosas
e anos d fe mé lite. co: . talvez
rman invocam.
ratura, quando menos se espera e 0 poeta PE acas, que esperam ©
, produzem uma novela arifique
ou um drama genialmente concebidos, co! mo com a8 OP de luz que as clarifique.
tornando-se, ¢o.
mo sabemos, poetas de um obtendo-o ete? — scaia "eloVergi lio para nao perdera
unico sonéto belo. beim re inimo, resignave-se
Conforme relata seu
Se Sufeno esta contente consigo mesmo, Vergilio no \ ‘dum
esta, pois sente continuamente o vado pels ee ss imperfeitos ou provisérios
as imperfeicdes de sua quae dam imper -
propria obra, que o Preocupa sempr ea alguns ie tum moraretur,
e: Procura remover velut i fulsit ”) e con-
os
a,~
Te Liquit imis
oe ssims ;
alia laevi versi s ‘ s. emig
essas imperfeicdes, nem sempre o conse
gue, e o seu
descontentamento pode chegar ao eas tando em brincadeira com
ponto de ordenar, ng
hora da morte, que sejam queimados ee rion “andaimes” (“Tibicines”) que set-
os originais da
Eneida. A obra que contém imperf SE eie
eeusten a atéé que pu desse subs-
tare a construcao
eicdes nao é uma poleait
obra feia, pois esta nao nasce como ven a solidas colunas. O poeta sofre com —
poesia e, se vive,
vive por outros meios; ela é uma ais Ses: aspiraria corrigi-las e, nO entanto, por na
outra coisa, nascida a em ec
Poeticamente, criatura celeste que ec yeréncia pelo mistério ocorrido, hesit
traz em sua vesti.
menta as marcas da passagem pela terra. ae teme ndo tudo perde r, pois a mente fria
O Poeta (como =

homem moral por sua agéo que jamais
esta isenta de — é mais a férvida fantasia e a lima é um
mas tame eel
impurezas) sofre pelas manchas que ‘oan que pode a
percebe em sua Ce e
to é,
obra e gostaria de apagar até o minim
o vestigio. Con. terere”, como dizia Quint ano,
(4
forme a imagem que Jacopone aplico
u a Alma, éle sem- jo sé the resta pedir indulgéncia, cone
s & am
Pre sonha entregar a sua obra ao
mundo como o Rei vaphcitamente, confessando que muitas vire
7 movers
de Franca entregou a propria filha,
sua Gnica herdeira nao se adapta a intencao da arte “porque
muito amada: “vestida com uma tdnica em sua respo sta”. Goet he pedi a essa ind ee ‘
branca”, resplan- surda
decente em sua candura aos olhos expressamente, soticitand’ ave ae end dusivonen
dos obser rvadores ;
de “todos os lugares”. Mas ocorre a ofrigi r ou admoe :
que a poesia visita
“quem
os espiritos como o fulgor do telam
pago e o trabalho 3 moinho is poeta quando estivesse girando, pois
humano segue-a atraido e fascin nos compreen de tamb ém sabe perdo ar-no s”.
ado por ela, colhe
aquilo que pode, e indtilmente pede
que se detenha e Os espiritos poéticos, os homens de verdadeiro gésto, os
se deixe rever em tédas as linhas de 3
espiritos abertos e os coracdes generosos, concedem pro! n-
sua face, pois ela
logo se extingue. Por vézes ela retorn indulgénc i
ia tanto em poesiai como em mo
a e se deixa ob. tamente esta

106 107
ral, atentando Par
a 0 que é substanci impoéticas e mesmo
al numa obra, nu « ativo,
aco, numa vida. Enqu
anto i880, 0 Zoi ma mento criativo,
mas também coisas
=
despertam no leitor,
época, (que na esf los de qualquer entretanto, mao
era moral sao éss que, ovacao,
0S quais nao ha es “mordomos” ig?givels
incorrrri autor, desprazer e repr .
“grandes t
enci
.
onai s ou
as part es conv
pélo da foupa dos patrée indiferen¢a. Sin
s ), Mostram "se mas simples ética,
ica, ora
Taveis, catalogam acres e inexg. rais, que exis'4 tem
e! em qualquer obra poét
minuciosamente A e nas obras de
Poeta, as negligénc a 8 imperfeicd 3mais: ora mvenos visiveis, especial
es do
ias, os €rros, e
quan do querem elo a complexidade. mentUm exemplo a uito a
consultam o cat giar
alogo dos mérito acrescim
s e das belezas, ee Eni truturais sdo os
conseguem entend E Nao ase
er que os defeit de; “cheviiles”,
OS francese: . chamam
os podem estar Miintar.
funcdo dos Mérito em °e a a Bea
coed ‘ jue Tian
s, as incertezas
e og €rros particula saliavios
ar que Galileo denominave
’ : ee
Tes em funcdo da .
forca impetuosa que
todo, e por isso, sem movimenta 9 Gino Capponi ae
ico cio”,
de Um ie Foes, :
pre é necessério part . a
siatur! stcas,
nunca permanecer ir do centro e com as poéticas. eam wat Sd
na Periferia, Alfieri i
zas e abstracdes int apresenta dure. engenho poético “consegue evitar’, ped
electualistas em abu a
ndancia e, apesar se pode “humanamente ee
escape’ ‘new
disso, é Poeta, muito
mais poeta que 0 poli de a que no
oeito” te
do, e num certo aie em so
sentido perfeito, Met
astasio, O Cinque Mag wvens palevres se reconhece, no entanto, que
gio de Man. pois se saan? Be.
zoni tem sido censur
ado muitas vézes, ver dpriamente de defeitos e vicios,
so Por verso, ned
frase por frase, as véz
es acertadamente, e th n evitaveis, Onde reside, de fato, a anal
grande obra lirica. contudo éuma as partes a coe.
5 idade de d manter a : unidade
na necessida
Ante os intérpretes ai
side
Tiam e sao louvados que se vanglo- ificando em algum: ‘Ps
40, mesmo sacrifica: pat;
como “refinados” e
“sutis” por des.
tacarem as imperfeicdes
© Os pontos fracos dos vancia de uma imagem a um som, que & ee pe oe
como se fossem glor Poetas,
oe imagem que responde ao motivo ma Records
iosas descobertas de
dade e argicia, o hom sua sensibili- iravei
admiraveis versos com que A;
em de verdadeir, ©
7 ‘aes i e a consternacao de Flor de Lis ao ere
tico leitor experimen gésto e o po&
tam uma sensagio =
de impaciéncia ne dois barées
e enfado, como se
dissessem: — Muito sentarem-se
tava ‘diante dela, s6s6 e taciturnos,
i
eu também percebera bem! Estas coisas no com :
, antes de vés que acompanhavam Brandimarte
&, no entanto,
queria destaca_ las e nao
sublinha-las, Porque
nao devia fazé-lo,
0 se encontram apen Tosto che entraro, ed ella loro il viso
as imperfeicdes, que
por definicéo SHO corrigiveis, vide di gandi in tal vittoria privo, no
e na maioria so de 5
corrigidas no curso do
trabalho ou no reté
fato senz’altro annunzio sa, senz'altro a
rno ao mo. te non 6 pit vivo!...
che Brandimar
108
109

YN
Podemos perceber que, no terceiro verso
, “annunzio” » Na verdade, as cunhas
“avviso” séo dois vocabulos defeitos’
que repetem a mesma finidas como “amavels . e ‘ = .
talvez nenhum déles com coiga, an avei
belas nem feias, pois sao sim-
sao nem
muita propri iedade,
e que dos
in poetastos 7 dea0 apoioio para o efeito poético.
“avviso” foi escolhido Por P
causa da rima. No entanto, o ples pon
ritmo acelerado que se obtém pela
seqiiéncia dos dois umentos tao delicados, vem a mente
vocaébulos, Separados e logo ligados
pela cesura, é Ao abordarne™ “ tre Eckardt que, depois de ter dito
como m
9 palpitar precipitadodo coragéo de Flor de Lis,
cria
ume palevea ct sas é o préprio élho com que o home
uma imagem poética se, 0 homem néo,
homer
superior, e a rima ao oe ei
a a Deus e que, se D Deus nao : existisisse,
final do
verso reconduz éste palpitar
ao aspecto de consterna. Yad i as também Deus nao existina se © ho
gao ante a presenca dos dois,
reconduz aquela “face” ee ve ase se espantou de sua propria afirma-
sem luz de alegria, i sa mente heréti se apres-
seeca, ecolese que
ade.
0go profun da, weporém perigo
ia, estas nao sao u
Em geral se diz que a culpa dessa s escentar: “Todav
s supostas falhas cabe mente sao
a “rima” , Stande sedutora e corru ee nike necess iladl de saber, pois freqi iente
ptora, e para eliminar e
essa tentacéo que nos expde
ao risco de sucumbir se cpakentedititd e sd conceitualmente podemos entent
Prope 0 verso sem rima, o “verso Jas”. As nossas coisas s&o verda deira mente news
sélto”, ou com rimas
colocadas onde se queira, sem
lugares pré-determina- ao saber do filésofo, do intérprete & do critico. * Poe
dos. Outras vézes, a culpa é
atribuida ao préprio verso tas, entretanto, farao bem se as ignorarem, * seh.
métrico e a estrofe fechada, e e permanecerem na sua santa ~
detiverem nelas,
se Propde o uso do cha-
mado “verso livre”, sem igualdade cidade de descontentes, de incessant: oe
perpétuos
ou correspondéncias
na medida e nas estrofes, Entre feicoadores, e, quando nao puderem fazer menos, < ia
tanto, se éstes versos
soltos, estas estrofes abertas e éstes mildes entalhadores a servico da prépria perfeigao.
versos livres, forem
movidos pelo sépro poético, se bém os intérpretes e os criticos farao bem se ‘erem
Possuirem sua prépria
necessidade e sua prépria lei, sempr apenas ao redor dos poetas, guardando o recato ¢ a » a
e chegaréo ao ponto
de terem de aceitar redundanci educacéo que proibe insistir no fato de que um jomem,
as, cunhas e embutidu-
tas. Se forem, ao contrério, frias vivo e atuante, usa éculos para enxergar direito ou um
cogitacées intelectue-
listas, como manifestamente sdo bastéo para amparar-se ao caminhar.
os versos livres, é de
se esperar que, ainda assim, Temos outro caso anflogo de expedientes convencionais
recorram as cunhas, com
a Gnicta diferenca que ai serao
feias cunhas de feias ou estruturais quando ocorre a ligacao de duas an
coisas e entdo ninguém sorriré com
indulgéncia ou con- poéticas. Para dar um pequeno exemplo, ja que cita-
sentimento como se faz com as
dos Poetas, que so de. mos Ariosto numa de suas mais belas oitavas, podemos
citar uma passagem de Dante num de seus episédios
110
111
fe enhas ¢
ais res
ia grega, as
des do coro
ox na tragédi
e as reflex colégicas nos
ic a, as explicagoes psi
ias da ép as poéticas,
as genealog for mas de obr
em todas essas
rom anc es, &
nas tém a funcao
sonagens que ape
a introdugao de per e, por isso mesmo,
nao podem
dat seqiiéncia & aco Assim, se
ida de poét ica.
ar 4 integr
o° 0 devem alcanc um) nao
ida (para citar apenas
Ma dimmi, al tempo de’ dolci sospiri, 5 "ile Aeneas” da Ene a ‘gemo
e © coragao tao o n
a che © come concedette amore nos prende @ fantasia
nao é por que seja “plus mo-
éle,
che conosceste i dubbiosi desiri? Dido abandonada por ta,
te concebido, como se acredi
ralmente e religiosamen
rer que essa insistente interrogacaéo? Talvez por curio- r nao falam ao coragao
ou porque os traidores do amo
A lateroUsGgs call tote ligar aa primeira
para lier
pen ceka ke fundamentalmente 0
poético, (pois é possivel sustentar
contrério). Na verdade, isto ocorre porque éle foi con-
parte da poesia com
a segunda, onde Francesca, arre- resentar a historia de
cebido com a finalidade de rep
batada e plangente, recordaré o momento em que os
Roma, e nao é por outr o mot ivo sendo o de introduzir
dois foram vencidos e arrastados pela paixao. Esses ver- longa e cruenta guerra com Car-
no poema a origem da
sos sa0 como uma ponte de madeira que conduz a outra nada rainha
tago que éle é obrigado a abandonar a apaixo
margem verdejante. Ninguém percebe a ponte e cada da “Gerus alemme ” é “piu” e,
cartaginesa. O Godofredo
um, tendo contemplado o primeiro espetaculo, imerge é poético, ou pelo menos mais poético que
no entanto ,
totalmente na contemplacio do segundo. Também aqui sa mul-
Enéas, que é mais “construido”. Nao nos interes
a parte convencional serve para dar & poesia de Fran- cées,
tiplicar aqui os exemplos de tais ligagdes e constru
cesca a integridade que Dante nao poderia obter de que sao coisas obvias; basta repetir, também aqui, que,
outra maneira, devido a prépria linha do seu poema embora essas coisas sejam poéticamente indiferentes, os
constituido por encontros de alma, perguntas e respostas. maus poetas as executam torpemente e os bons poetas
Da mesma natureza déstes versos dantescos sao as par- com garbo e gra¢a.
tes informativas e glosadoras dos poemas, dos dramas
Como no caso anterior, esta espécie de expedientes é,
e dos romances, as enumeracdes dos antepassados que pois, adotada para que o rio da poesia possa fluir em
normalmente sao colocadas na boca de um dos perso- téda a sua plenitude e para que no se perca a harmo-
nagens, as narracGes de acontecimentos nao assistidos e nia superior de seu complexo e dos complexos de suas
atribuidos a um “mensageiro”, por vézes os comentarios partes, como ocorreria se éste rio se disseminasse por

112 113
pequenos riachos, laguinhos e fontezinhas, Nao por te-
como
se t a Corneille, Calderon, Apostolo Zeno e outros,
pensava Chatea! ubriand, do cansaco que a, para a comé-
por vex ne para a tragédi a frances
envolve 0 poeta, pois neste caso éle repous rem ¢ ncontrado for-
aria e tg: m-- para o melodrama nan’no e outras
italia
bém deixaria repousar o leitor que Ihe ficaria dia espanhola,
agrad, e um artificio que se trans-
mas de obras, uma estrutura
cido, também éle cansado pela férgca da raed poetas. Também
teaubriand acrescentava ainda que, por éle,
Gee mitiram a seus sucessores, poetas e néo
jamais ae. que acresc entou o segundo
sejaria que as belas passagens do Cid e do Horace por isto celebra-se Esquilo,
ina grega, € se atribui grande mérito ao
sem ligadas entre si “par des harmonies élégante ator a tragédia
bem como ao in-
travaillées” em vez de seus pobres porém honestos
s inventor da oitava rima e do sonéto,
i esquem as entre outros povos. A con.
trodutor désses
games. Por outro lado, as antologias de “trechos imento da
esco. seqiiéncia disto é que, devido ao mau entend
Ihidos”, ainda que tteis e indispensaveis a certos
fins qualidade do elemento estrutural, a poesia passa a ser
didaticos, nao satisfazem plenamente os amantes de arti-
entendida como uma seqiiéncia de convengées e
Poesia porque apresentam, justamente, trechos isolados ores de tais coisas:
e ficios, e consideram-s e poetas os invent
dissonantes, privando-nos das “partes estruturais” que
as “invencdes” e as “habilidades”, quase astiicias e agu-
os relacionam entre si.
dezas, que éles formam, passam a ser objeto de inda-
A justa aceitacdo dessas “pecas estruturais” nao deve, gacées peculiares, cheias de maravilha e admiragao.
no entanto, Perverter-se em sua aceitacZo como poesia, Torna-se muito necessério reprimir éste devoramenta
que seria injusta. Este 6, alias, voraz que nao distingue entre as coisas digeriveis e as
o érro cometido pelos
intérpretes Ppouco entendedores, seja porque se deixam nao digeriveis, pois dai surgiu, por reacao, a oposta e€
dominar por uma espécie de supersticiosa reveréncia igualmente nefasta teoria que naéo admite numa obra
para com o poeta de grande fama (ao qual, no entanto, de poesia senfio as “partes” poéticas. Essa teoria assu-
nao aa faz nenhuma honra ao colocar lado a lado sua miu duas formas: uma afirma que poéticas s6 podem
Poesia e istas operagoes de artifice), seja por fre- ser as poesias breves, lidas de sépro, no maximo em
qiente ininteligéncia e insensibilidade estética. Ja com- quinze minutos, e nunca as tragédias que exigem varias
Parei cata maneira de agir com a dos Troianos quando, horas ou os poemas e romances que exigem varios dias:
nao satisfazendo a fome com o pio, puseram-se a Hoe a outra afirma que a poesia nao existe senfo em
der os quadrados de ferro que thes serviam de mesa.
“trechos” ou “fragmentos” e todo o resto € massa
Mas 0 pio é © pao e as mesas sdo as mesas, os” que
assim emg inerte onde est&o incrustados ésses “fragment
os ganchos “aplicadas” as
é preciso “desencrustar” e onde estao
e demais acessérios de um quadro n§o cons-
tituem a pintura. Partem Na primeira for-
desta confusio os louvores partes singulares que é preciso destacar.

114 115

rN
———qqa

-
ma se introduz, com uma grave falha de légica, mediant r escala.
ou menodeve Ainda aqui, a atitude do intér
um processo ideal, 0 conceito de tempo,
e mei0 1postico ge
ser de indiferenga para com a trama
como se a com- re’ . .
Posic¢ao de uma poesia e a sua leitura, durem um minuto P de_ interésse exclusivo pelo que Ihe foi sobreposto.
e
de relégio ou varios anos, néo se desenvolvessem num ores
Nao obstante, mesmo neste caso os maus entended
ritmo ideal que arrebata 0 autor e o leitor transportan. e 0s pouco poéticos leitores confundem a trama com °
do-os para fora do tempo. Esta afirmacao é falsa que Ihe foi sobreposto @ logo passam a consideré-la em
de fato,
Porque a poesia dos poemas, dos dramas e dos romance
s si mesma como substanciosa poesia ou como motivo de
poéticamente inspirados, nfo reside apenas em algumas ia. Dai todas as dissertagdes que ja surgiram sdbre
partes singulares, mas circula no todo, ¢ existem obras o modo em que conviria tratar, conforme a idéia e os
das quais nio se pode destacar qualquer parte consi modos em que sao tratados pelos respectivos autores, os
tada bela, colocando-a em antologias, sem que entio se temas de Prometeu e Orestes, de Lucrécia e Sofonisba,
sinta a poesia infusa e difusa. Esta considerac&o serve pa- de Fausto e Don Giovanni, e assim por diante. No en-
fa refutar a teoria também em sua segunda forma. Talvez tanto, ja deveria estar claro que o poeta jamais se faz
nem valha a pena observar que esta segunda forma deu presente nessas vicissitudes e nessas pessoas, mas apenas
origem & escola dos chamados “fragmentistas”, que pro- naquilo que Ihes acrescenta e lhes infunde de seu e de
positadamente escreveram fragmentos para se assegu- universal. Uma vez que ésse tipo de trama encontra-se
rarem de que escrevem exclusivamente poesia sem li- inclusive em Shakespeare, que muitas vézes impulsio-
games e acréscimos espirios; (e podemos imaginar bem nou-se suavemente nos contos e fabulas populares para
quanta insipidez nfo é produzida com tal objetivo. . +). dai lancgar-se em altissimos véos, tem sido exercida uma
Um terceiro caso, que merece ser lembrado, na telagéo insistente critica sébre as incongruéncias, as contredi-
entre estrutura e poesia é aquéle em que o poeta toma gées e as puerilidades shakespeareanas. Um dos ultimos
uma fabula, seja tradicional ou invengio sua, no para entre ésses criticos foi Leon Tolstoi, que confundiu a
trama do Rei Lear com a poesia do Rei Lear.
fundi-la em sua poesia ou transfiguré-la em imagem de
seu sentimento, mas porque ela lhe agrada ou agrada aos Um iltimo caso, que é uma variante do terceiro, me-
seus leitores, aficcionados dessa espécie de ag6es e pai- rece nao apenas ser lembrado, mas particularmente sa-
x6es, dessa histéria, désses personagens, désses lientado, pois se faz representar por pelo menos dois
nomes,
Servindo-se da fabula como de uma trama, éle sobrepée- grandes poetas do nosso mundo europeu. Nao se trata
-The a sua poesia, que as vézes encobre a trama, de Homero ou Shakespeare, mas de Dante e Goethe, que
termi-
nando por elimin4-la totalmente, mas outras
vézes néio foram, além de extraordinarios temperamentos poéticos
a cobre de todo e permitelhe subsistir por si, em (“Natur”, como Goethe disse de Dante), homens de vi-

116 117
goroso pensamento na forma do pensamento e espiritos blema, mas também é muito natural que, colocado nesses
para og
plenos de afetos religiosos e morais, voltados térmos, éle se mostre insolivel. Seria mais acertado que,
destinos humanos e para o govérno humano da vida,
tendo presente a génese das obras e reportando-nos ao
Em suas mentes ésses conceitos e afetos desenvolviam. conceito do que é e do que n4o é poesia, procurassemnos
to.
se junto com os fantasmas poéticos, participavam distinguir numa e noutra obra a estrutura da poesia. En-
dos de seus poemas, e ambos devem ter desejado con.
téo seria necessario apenas advertir que a estrutura, para
sé podiam
verté-los todos em poesia. Mas, na verdade, @stes dois espiritos tao enérgicos nao sé poéticamente,
senti.
converter em poesia aquilo que se Ihes tornara mas também intelectual e moralmente, nao era apenas a
mento e nunca aquilo que em suas mentes se formara e trama insignificante que vimos em outros poetas exclusi-
e filo.
permanecia como forma conceitual (de ciéncia vamente poetas, mas uma parte vital de seu espirito, ao
Assim,
sofia) ou forma pratica (oratéria, satira, etc.). mesmo tempo diferenciada e conjunta 4 poesia que lhe
as
Dante e Goethe, na Comédia e no Fausto, tecolheram fornecia alimento numa unidade ja nao estatica mas dia-
suas conviccdes doutrinarias, suas exortac6es, suas admo- lética. A estrutura nao nos pode ser indiferente quando
nicdes e o canto de seu sentimento. Dai nasceram duas procuramos entender sua alma e a fisionomia de sua
obras bastante estruturadas e fortemente desarménicas poesia; mas deve ser indiferente, como tédas as outras
em seu intimo. A Comédia quase geometrizada em sua estruturas, quando nelas nao canta a poesia.
aparéncia externa, com o relato duma viagem pelos trés
reinos do além, a cada um dos quais correspondiam uma vO INTRADUZIVEL DA REVOCACAO

“cantica” de trinta e trés cantos em tercetos, precedidas A interpretagao historico-estética, ao recriar a poesia, faz
por um canto introdutério que completava o nimero re- reviver as imagens dos poetas nos sons articulados em
dondo de cem. O Fausto, ao contrario, resultou uma obra que se expressaram pela primeira vez e que sao elas
onde nem sequer existe a preocupacéo com esta ordem proprias na sua concretitude. Todo o esfarco déste va-
externa. Duas obras cujos diversos elementos ora se en- tiado trabalho se dirige a ésse Unico e supremo fim.
trelagam, ora se separam, ora contrastam entre si, e que,
Pergunta-se, entaéo, se a poesia seria traduzivel em ou-
no entanto, estéo entre as maiores que o espirito hu-
tros sons articulados ou em outras ordens de expressdes,
mano ja produziu. como, por exemplo, nos tons musicais, nas linhas da
A respeito destas obras os intérpretes suscitaram o cha- escultura ou nas céres da pintura. Mas esta pergunta é
mado problema da “unidade”: se ela deve manifestar-se quase impossivel, pois ja traz consigo a resposta negativa
num ou noutro elemento ou na sintese de todos. Devido que a inibe. A impossibilidade da traducéo é a propria
& génese das duas obras, é natural que surja éste pro- tealidade da poesia em sua criagao e recriacao.

118 119
As questGes a serem levantadas sdbre éste pento sig
outras, ndo estéo incluidas nesta pergunta, e, embora economia de fércas nem um andamento mais facil do que
obscuramente percebidas, ainda nao foram formuladas, no indagar e no apreender. A ciéncia e a filosofia tendem
Pergunta-se: onde foi haurido éste conceito de “traduco” A unificagao dos signos ou, como se diz, da terminologia,
uma vez que a sua fonte nao se encontra na esfera dg e também a uma espécie de lingua internacional (uma
poesia? Pergunta-se ainda: - que s&o, verdadeiramente, douta “lingua franca”), sendo ja impossivel voltar acs
estas coisas chamadas “traducdes de obras poéticas”, as séculos em que os membros da “respublica litteraria”
que se fazem e as que ainda estio por se fazer? se valiam da veneranda lingua latina, No entanto, em-
bora essas tentativas de unificacao tenham alcancado
Nao resta divida que a esfera onde se cumpre a tra-
certa efetividade pratica nas ciéncias abstratas, embora
ducéo € a da expresso prosaica, que se realiza por
as ciéncias naturais se socorram do latim e do grego, e
simbolos ou signos. Esses signos so permutaveis segundo
embora a interpretagao das culturas confira 4s linguas
a conveniéncia; e nao apenas os signos da matematica,
nacionais um uso internacional que muito diminui a
da fisica e das outras ciéncias, mas também os da filo-
urgéncia de unificacoes artificiais, a variedade dos signos
sofia e da histéria. Assim, podemos dizer: — Aquilo que
os alemé&es chamam “Begriff” nés chamaremos “conceito”;
e a conseqiiente necessidade de traducdes permaneceraéo
sempre, pois sempre surgirao novos conceitos, se nao na
aquilo que chamam de “Pflicht” nés chamaremos “dever”;
diversidade dos povos e de suas linguagens, nos indi-
@ com ésses vocébulos pensaremos as mesmas
categorias viduos que, junto com os novos conceitos, criam novos
espirituais que éles pensam com aquéles
, Da mesma ma- signos.
neira, no Ambito da lingua italiana,
o que Vico chamava
“o certo do direito” nés moder & possivel, pois, traduzir a prosa. Mas esta afirmacao
namente chamaremos
“momento do império ou da férca se restringe 4 prosa que é simplesmente prosa, prosai-
politica”, e o que éle
chamava “o certo do conhecimento” cidade da prosa, pois se a estendéssemes a prosa lite-
(que distinguia »
contrapunha ao “verdadeiro”) raria, como inadvertidamente fizeram alguns, ela j4 nao
nés chamaremos “Gntui.
cao”, distinguindo-a do “conce setia verdadeira. A prosa literaria, como qualquer outra
ito”. Assim procedendo,
nés nos faremos entender forma de literatura, possui uma elaboracao de carater
Mais facilmente e isto 6, ds
fato, “traduzir”: estabelecer estético que opdz A traducdo o mesmo obstaculo da poe
a equivaléncia dos signos vi-
sand o a compreensao sia. Platao e Santo Agostinho, Herddoto e Tacito, Gior-
e a inteligéncia Teciprocas. Uma
equivaléncia que visa elim dano Bruno e Montaigne, a rigor nao sao traduziveis
inar os equivocos da varie
dade, a qual, neste Caso, Porque nenhuma outra linguagem pode reproduzir 0 co-
certamente nao consegue
uma
lorido e a harmonia, 0 som e o ritmo, de suas proprias
120

121

>
linguagens. Assim como os poetas, também éles, enquan-
subsiste mesmo nas
to escritores, exigem uma re-criagéo que os faca reviver isto se diz que 4 verdadeira poesia
we ges literai s e em prosa. Ela subsiste e transmite a
No seu intraduzivel tom pessoal. Ecce, mas é como a alma de Adio, invisivel entre os

Que sao, pois, as traducdes das obras poéticas e literdrias, 0 envolviam, ou melhor, como o animal a que
raios que
cujo direito j4 reconhecemos implicitamente? Sao, antes ia”, isto é, agita-se no
Dante a comparava, que “brogl
che I’affe to, convien che
de mais nada, duas coisas diversas, segundo possuam ou pano em que foi envol . vido: “si . 5 ta”
néo autonomia, segundo sejam apenas meios para alcan- si paia, - per lo seguir, che face a lui, la’nvoglia”.
car outros fins ou coisas completas em si mesmas. No pri- o tipo:
ja muito diferentes s#o as tradugées do segund
meiro caso, sao simples instrumentos para o entendimento , Estas, partind o da re-criaga éo da
as traducodes poéticas
dos originais, que através delas so praticamente anali- a retinem aos sentimentos daquele que
poesia original,
sados e esclarecidos em seus elementos verbais, prepa-
a recebe e, devido a um condicionamento histérico a
rando assim a sintese posterior que s6 deve ser procurada
ferente e a uma personalidade individual diferente, é
na palavra original. Movidos por um certo exagéro de diferente do autor da poesia. Sébre esta nova situacao
sensibilidade estética, podemos lamentar e amaldicoar surge a chamada tradugao, que € o poetar
sentimental
a deturpacdo que as escolas fazem, ou faziam, ao verter
duma alma antiga numa alma nova. Se fésse um poetar
Os poetas em prosa; mas na verdade nao é possivel apren-
da propria alma do poeta de quem se recebem os im-
der a leitura de Hordcio e Pindaro sem antes passar por pulsos, ela nao poderia expressar-se senfo nos sons em
estas versdes literais em prosa, as vézes necessarias inclu-
que ja se expressara, e a traduc&o poética nfo nasceria.
sive ao entendimento dos poetas nacionais, ou de certas
Assim Vincenzo Monti traduziu a Iliada e obteve uma
composigces do século XIII, ou talvez até mesmo de al-
obra prima; assim outros tradutores (nao muitos), poé-
guns trechos de Foscolo, Leopardi e Carducci, que sdo
ticamente inspirados, produziram belas obras portadoras
oitocentistas. Estas traducdes literais e prosaicas, ou mes-
de valor artistico em si mesmas, que sdéo incluidas in-
mo ritmicas e imitadoras do ritmo original, nao isentas de
esforcos e distor¢cdes, necessitam ser complementadas pela justamente nas histérias literarias ao lado das traducdes
leitura do original. Quando assim procedemos, porque nfo poéticas e prosaicas e das traducées que confundem
no se quer ou nao se pode aprender a lingua do original, os dois tipos e acabaram por tornar suspeitas as tra-
como ocorre freqiientemente no caso das linguas orientais, dugdes em geral. Usando uma gtaciosa e signifi-

estas traducdes nao nos proporcionaréo o conhecimento cativa imagem, os italianos chamam as traducées do
verdadeiro e exato das obras em sua fisionomia indivi. Primeiro tipo de “feiuras fiéis” e as do segundo de “bele-
dual, mas poderéo nos dar uma vaga percepcao déle. Por zas infiéis”, enquanto as dos tradutores mediocres per-

122 123
rencem
tenc ao terceiri o e insupor
i a
tavel i
tipo e radical negacao da traduzibilidade
das “feiuras in.
Esta raciocinade
da até o préprio autor
poesia — levadi a
e ao timbre dis-
la em sons
As traducdes de obras artisticas que quando procura traduzi-
se desting : cordante de sua v0? tra a inanidade de uma teoria, ado-
fidelidade da beleza nao sao apenas jculados — demons
as que ‘mde qual
ae hoje, segundo a
uma lingua para outra, como vimos
até agora, hem ae wie + mais de um na Italia de
iva que nao podemos ler
weducio é uma coisa tao efet
que Procuram traduzir as obras poéticas em waiaese
g
a linguagem, nem
musicais, pictéricas, esculturais, ou naquela
s “ilustragdes” uma poesia sem traduzi-lia em noss sem
que adornam ou enfeiam as edicdes dos Poetas, e falar uma lingua estrangeira
mas tam, podemos entender
nossa. No entanto, tam-
bém aquelas traducies que parecem tornar
mais viva traduzi-la, no proprio ato, para a
o contrario, porque F ler uma
€ concreta a expressdo: as representacées
teatrais de bém aqui o fato demonstra
dramas compostos Por poetas. Para sermos ver dad eir ame nte , e no exer citar-se =m sole-
exatos, seus poesia (ler
a receber exclusivamente
autores nao sao William Shakespeare
mas Garrick e tré-la para 1é-la depois) signific
Salvini; nao sao Alfieri, mas os sons orig inai s. Ent end er e falar uma lingua estran-
Gustavo Modena; nado sdo
ua, sem o qué ela
Dumas filho, ou Sardou, mas Eleonora Duse. S6 podemos geira 6 imaginar e conceber nesta ling
sentir a poesia dos dramas Iendo-os a sés; éles sido apre ndid a. Mas trad uzi-la é um ato
podem ainda nao tera
emos uma frase
ser artisticamente Superiores ou inferiores A
sua repre. tao diverso que freqiientemente entend
emos tra-
sentagao, mas seraéo sempre diferentes dela.
A propria em lingua estrangeira e, apesar disso, nfo pod
an-
declamagao ou recitagao de uma poesia n&o
é a poesia, duzi-la, e por isto se incluem vocabulos e frases estr
mas uma outra coisa, bela ou feia, segundo ma naci onal . A nece ssid ade de tudo tra-
a julguemos geiras no idio
nder
om seu ambito. Os poetas mal suportam os declam
adores duzirmos em nossa linguagem para podermos ente
e éles préprios no gostam de declamar os ia mas & filo sofi a, seg und o
seus versos; no deve ser referida A poes
(mas, também aqui, os Suffenos, com aquéle a qual ente nder o pen sam ent o de outr o hom em ou o dos
carater que
Ja descrevemos, estao sempre prontos filésofos de outras épocas significa inclui-lo no nosso,
e ansiosos para
recitar). Quando chegam a !élos em
voz alta, nao ges- isto é, nao prépriamente traduzi-lo na nossa “linguagem”
ticulam,
(como se diz por metafora), mas no nosso “pensamento”
nao dramatizam, nado entoam, nao
eum
cantam: pre-
ferem dizé-los em
.
tom baixo, presente. No fundo desta falsa teorizagao acérca da tra-
,
com certa Monotonia, > pro-
curando apenas a boa pronincia das
palavras e a mar. dug&o se esconde, sempre, o fenomenismo ou contingen-
¢
cacao do ritmo, Pois sabem que a poesia
é uma voz tismo que, no Ambito estético, conduz inevitavelmente
interior que nado pode ser igualada a
nenhuma voz hu. ao praticismo e ao hedonismo, e, no ambito da logica e
mana ~ “un cantar che nell’anima si sente”.
da verdade, a inutilidade de todos os pensadores e de

125
todos os seus pensamentos, resolvendo-os num chamado
névo pensamento que nao se distingue
de qualquer outro
movimento vital. Na necessidade do nosso Pensamento
para entender o pensamento alheio e na do pensamento
alheio para entender o passado, os conceitos dos
filésofos
de outras épocas sdo conhecidos na sua legitim
a reali.
dade através do nosso pensamento Presente, como
Platio
e Aristételcs, momentos eternos da histéria do Pensa-
mento, Entretanto, para o fenomenismo e o conting
en.
tismo Platao e Aristdteles sao apenas aquilo
que cada
individuo forja de quando em quando a seu
modo, e,
fora desta imaginacéo puramente individual,
nZo pos.
suem nenhuma realidade. Segundo esta observ
acao su-
perficial e esta maneira sofistica de filosofa
r, a poesia
nao possui, igualmente, nenhuma realidade, pois,
negan-
do-se a constancia de sua fevocagéo, tornan
seqiiéncia perpétua de variacdes e tradugdes,
do-a uma
il - A CRITICA E A HISTORIA DA POESIA
nega-se-Ihe
© carater ideal e conserva-se-lhe apenas
0 nome para
atribui-lo aos movimentos vitais, sempre
novos porém
sempre irracionais.

126
SINTESE DE
y-oOJ yizo DA POESIA COMO
AMENTO
SENSIBILIDADE E PENS
aqui desenvolvido todo ago o proces ‘ so / da
19 raciocinio até
bem como o pe da recria cao,
1 0 , foi mantido
xcriagao da poesia,
onde unicamente se
rigorosamente na esfera intuitiva
isto é, 0 pensamento, nao
realiza e da qual a reflexao,
participa. Mesm o quand o parec e que a reflexao ai inter-
vém, condu zindo as indag acoes da filologia ou elimi-
nando prejuizos e preconceit os tedric os, na verdade nao
atua sébre a poesia mas sébre os obstaculos de natureza
o
conceitual que eventualmente dificultam o andament
e a compr eensa o, e, por isso, ela cai sempr e no exter ior
da poesia.
Somente com o juizo ou critica da poesia, com a ver-
dadeira critica, distinta da consciéncia imediata do belo
e do feio, passamos a esfera do pensamento e da ldgica.
Os conceitos que estabelecemos e os que estabeleceremos
mais adiante, e em geral todos os conceitos da filosofia,
indteis ao poeta, ao revocador e ao amante de poesia, tor-
nam-se entao essenciais e vitais, pois nao é possivel julgar
sem as categorias que formam o juizo.

Entretanto surge a objegéo: - Porque julgar a poesia?


Nao basta crid-la e senti-la? A melhor maneira de res-
ponder a essa objecao é representd-la ampliada na que
ja The é implicita: . Porque julgar as coisas? Porque o
homem pensa? Assim, determinada légicamente a ques-
tao, podemos prescindir da resposta, que equivaleria a
Perguntar porque o homem é homem e a realidade é
realidade.

129 ler
nr

Por outro lado, nao podemos sequer conced sdo aquilo


ey
que nao gostam de pensar e julgar a poesia Perma, justo conceder aos poetas por vocagao e profis
Ne 08 S40 poe-
encerrados no fazé-la e frui-la, e isto que é privilégio de todos os homens, pois co
pela simples tae fato” para con-
tas no sentido universal. De resto, se 0
que ‘Ainguém estaria em condigdes de aproveitar
. — ser elaborado mental.
cessio, Todos, poetas e amantes de poesia, formam ; hi verter-se em “yerdadeiro” deve ow pior que os
sdbre o que foi feito por uns e outros, todos mente, 0s poetas nao o elaboram trelhor
— se os outros as veres tem contra
algum conceito sébre a matéria e se valem outros homens, porque,
délecna résse, éles freqiiente-
Julgamentos. Alguns parecem encontrar uma a poesia a obtusidade do desinte
ifesgoties se pessoal, que os faz
fonte de prazer e satisfacdo em vituperar mente tém a obtusidade do interés
a critica ae sua OU a que é afim @ sua.
nindo-a como “a poténcia dos impotentes”, sentir como poesia apenas a
cha: wid vermos o que aconteceria se a
criticos de “eunucos” Nao é 0 caso de descre
(como fazia Victor Hugo), . pois seria o mesmo que
critica nao existiss e no mundo,
curando afasta-los do mundo como formas es-
supor a inexisténcia de qualquer das outras
gente inutil ‘e ieee
gradavel. Estas pessoas sao iguais aos que
vilipendian . : pirituais necessdrias; quer dizer: nao acontec
eria nada,
denigrem a medicina, e gostariam igualm
ente de aboliie, 1 porque hipdteses dessa espécie sao improcedentes.
mas, a0 menor pontaco num dedo, correm
a consultar Entretanto podemos supor 0 que ocorreria, ou melhor,
© médico. em
observar o que ocorre, quando os espiritos se distra
Tanto é impossivel dispensar a critica que a
pretensao e 0 oficio da critica passa a ser exercido débilmente ou
de elimina-la do mundo freqiientemente
se transforma no se exerce livremente. Ai as coisas belas permanecem
numa outra pretensio, visando ja
nao mais elimina-la sem louvor e reconhecimento do seu modo de ser; as
a Teserva-la aos préprios poetas, que coisas feias permanecem sem condenagaéo, o templo da
seriam os unicos
juizes na matéria porque sao éles poesia se enche de vendentes et ementes que ninguém
que a produzem.
Embora Seus defensores néo o expulsa. Os espiritos sentirao o belo e o feio e sofrerao
saibam, esta exigéncia
teria a seu favor a verdadeira por um e por outro, como quando se sente o bem e o
e Profunda doutrina
Bnoseolégica de que sé se conhec mal, a justiga e a injustica, mas falta ao sentimento a
e © que se féz (“
et factum reciprocantur”), sangéo moral e juridica do juizo e da sentenca. Assim
“un
como a consciéncia moral, a consciéncia estética nao tem
No entanto, se a Poesia nao é
apenas criada pelo t armas e néo pode combater: somente a critica esta ar-
mas recriada por todos os
outros homens, isto in ‘o mada e combate. Os impulsos de gésto e desgésto, por
génio da humanidade, e o Prépr
io poeta enor. ‘some vivazes que sejam, podem realizar tudo menos o
qualquer outro homem, diante mais
da Poesia ja criads, kare
, ato Gnico que é realizado pelo juizo e consiste, simples-

131
mente, em dar nome as coisas, abrin
do caminho a
substitui-lo por ne-
neira de encaré-las. me pa 1 éste testemunho, ja nao podera
semelhante a voz da
Dar nome 4s coisas é a conclusdo nhum outro: é um testemunho
altima de uma traba, pode conferir certeza, que
Mhosa elaboracdo ea critica litera consciéncia moral, a anica que
ria também foi co; ‘ vigilante e ativa, e da qual
derada dificil pelo mais forte critic precisa ser mantida sempre
o da antigiiidade, nsar nenh uma palavra, nenhuma nuang¢a.
autor desconhecido de O Subli nao se pode dispe
me. Ela Pressupée, om de todos os jugares ten-
primeiro lugar, que se passe Pela Para desviar-nos déle acorrem
necesséria, Begiente reuni das, procuram impedir a voz
mente lenta e penosa, Preparacéo tacdes e& insidias que,
filoldgica, e, depois a voz daqué le bom modo de julgar que é (para
disso, se proceda a interpreta do gosto,
cdo da poesia, que, quand que de PEcole des
realmente existe é alegrement usar as palavras de Moliére na Criti
e recebida e siGpeteds r prend re aux chose s e de n’avoir
pelo espirito contemplante, Femmes) “de se laisse
mas quando, ao cantrlsta ce affectée ni délica-
evidencia-se mentirosa e inexi ni prevention aveugle ni complaisan
stente, desilude-o e irrita : acao, estas ten-
pela semelhanca tesse ridicule”. Para efeito de exemplific
com a feiura. Nisto reside a te ou a amea ca para nao nos
“sensibilidade”
cham, de tagdes e insidi as sao: o convi
que se exige do critico e sem ncas dos
a cul : afastarmos das opinides, das crencas e das sente
critica, além de sair defeituosa s istas , das
, talvez nem Possa sur, tn outros, das impos igdes e das hipoc risia moral
Pois falta-lhe a matéria sébre
a qual se exerceria. De ni tendéncias da moda, do clamor do povo; o sentimento de
sobre © qué refletiria o critic
o se a poesia nao fisea
en. reveréncia para com uma autoridade exterior; a tendéncia
fda, € portanto possuida,
por éle? Havera criticos sen- para considerar belas tédas as coisas feitas por quem
Sivels a certas poesi
P as e nao a outras, criticos
de gésto outrora ja féz coisas belas, ou, ao contrario, presumir feias
Testrito‘ ou de géstos amplo e variado (e, por mais
ampl
. o as de quem outrora incorreu num pecado humano e agora
€ : variado que seja, ningu guém
é pode garantiri A se redimiu; o médo de comprometer-se ao afirmar ou
cur
Sivel wena tédas
n as poesias ou a qual
quer Poesaia
ia emEmr .-
qual negar pela primeira vez, sobretudo ao afirmar a beleza das
nto da vida). Havera os
criticos escassament coisas belas; a falsa vergonha quando nos induzem a acei-
dotados de sensibilidade, mas,
paralelamente, també: . tacao daquilo que na verdade nao tem valor mas algum
sero €scassamente dota
dos Para a critica, pois
Julzo, mesmo o mais simp wank - mal intencionado apresenta astuciosamente como algo
les, é concebivel sem
damento da sensibilidad oo fur que s6 os espiritos privilegiados podem sentir e com-
e. A mente do critico
terse Para a imagem deve - prender; o generoso, porém incauto, impulso a ver nos
que a Tevocacao lhe ofer
ece cong outros a realizagaéo dos nossos melhores ideais, que leva
© unico testemunho que Ihe Ginii
é dado interrogar,
que fornece elementos Para ao mal-entendido ou (como ocorreu com Goethe em re-
o seu juizo. Se deixar esca-‘econ, lacio ao jovem Byron) ao exagéro da desconfianca para
132

cies 133

é
SSS
com o névo por excessivo afeto para com © ve
icos de um povoe
desprézo do velho por excessivo afeto Para co
tho, °u ao
Lusiadas, s40 panegiricos polit
MO névo; ae Os 74 : outras, como Os Nibe lung enlied, que pro-
a atracao exercida pelas imagens que respon
de ™ €0s nog,
gee Se ised e umano canto, e sao efetivamente
sos mais Caros e gentis sentimentos; e tud lO ee es pe nagoes e estirpes como 0 seu canto
isto sem
falarmos dos motivos mais vulgares, in
Provenientes de
rtam do Se i ae
améres, ddios pessoais, politico
s ou teligiosos, pois certa, es na realidade nao se libe nn eine
atro zes so] i
mente nao iremcs repetir aqui as muito gar dos casos maravilhosos ou s q
Obvias recomen. nos anun ciam na a meno
dacoes e os conselhos de honestidade estruturam; outras, ainda, com *
que Alexander Pope e do homem, iluminam-se
dirigiu ao critico no seu j4 mencionado a historia de Deus
Essay. nomes de seus autores, corn a admiracao de
grandes
Outras insidias surgem, ainda, , evidenciam-se, como o
das proprias obras exami. muitos séculos, e, nao obstante
nadas que nao trazem na capa e humanismo em ver-
a designacdo da Sctercig Paraiso Perdido, trabalhos de nobr
a que pertencem ou, freqiientemente
, trazem designacées sos elegantes, e por vézes poéti cos. També=1 os romances,
ilusérias e enganosas. Por exemp
lo: um poema didatico, que se apre sent am sob a masc ara de poesia, evidenciam-se
Que pode existir de mais desac ao historica,
reditado poéticamente afinal monografias histéricas ou de divulgac
que um poema didatico? No
entanto, ésse poema po- ensaios de tipologia socia l, infl amad as aren gas, lanternas
dera ser a Geérgica de Vergilio, ura-
isto é - poesia. Ou entao magicas para divagacoes, confiss6es de espiritos tort
uma comédia. Se lhe faltasse “acer
spiritus ac vis” nas dos, provas de estilo artistico. Enquanto estrofes despc-
Palavras © nas coisas, ela seria
diferente da prosa? Nao jadas, de andamento modesto, sao por vézes lirica pu-
seria, talvez, “sermo merus”, rissima que nos transporta ao sonho, outras ricamente
ainda que tivesse “pede
certo” e estivesse revestida
pel lo verso? No entanto, esta adornadas, soberbas e altissonantes, como as dos poetas
comédia podera ser © Mariage “pindaricos” italianos, franceses, ingléses e alemaes, dos
de Figaro, que é poesia,
ou pelo menos est4 cheia
de poesia. A fabula serve para séculos XVII e XVIII, deixam-nos insensiveis. Num mes-
ilustrar uma maxima moral
ou prudencial. No entanto, mo autor podem entrechocar-se duplas ou miultiplas ati-
as fabulas de La Fontaine
freqiientemente superam
a tudes, reflexivas e liricas, criticas e poéticas, patéticas e
de Esopo e Fedro, sao Pequenos dramasem si perfeitos austeramente tragicas, e por isto varia 0 juizo e variam as
ou até mesmo argutos
Tegistros dos sentimentos vicissitudes de sua fama, ora elevando-o ao céu, ora re-
reflexdes do autor. Um e day
tercéto de contetido escolastico baixando-o ou incluindo-o em alguma suspeita, tornan-
teolégico do Paraiso alcanca :
o sublime e um Spruch
Goethe ilumina-se “ do-o assim objeto de renovadas controvérsias, como é o
ui de gtaciosa beleza. Ao contrario,
Sumas epopéias composta al-: caso de Euripides. & preciso ter cautela ante o que dizem
s em ageis e elegantes
Oitav; aS, de si mesmos os criadores das belas obras, porque fre-

134
135
quentemente se enganam e nos enganam com og fins a juizos sobre as
; & pronunciar
que se propdem e nos quais acreditam, mas que con. moral se fa z coincidéncia
tradizem a realidade do fato. E sabemos que a mente onsciéncia escrupulosa.
obras de poesia requer ¢
deve dirigir-se somente ao fato, porque — comands :
propria como
a Poesia tem g si
Essa escrupulosidade de consciéncia, lo gosto, x
Unico fim. As vézes os prdéprios cria. alta auscultacao da sensibilidade ¢
mais ines *
dores se obstinam das
em valorizar as piores obras de seu manda também a mais rigorosa meditacao
engenho, as mais equivocadas, e inclusive sentem do juizo, ae eq
-se me. que constituem © outro elemento
findrados quando alguém elogia suas obras belas, Isto nao pode rea izar-se ae
Outras Ihe é proprio e constitutivo.
vézes éles se divertem caluniando-se e impedindo a unicamente da filosofia, e nao
des. nao mercé da filosofia,
coberta da sua verdadeira face, como féz Baudelaire, com uma de suas partes, como a filosofia da arte
apenas
opondo obstaculos a que o reconhecessem como um dos ou estética, que nao é verdadeiramente compreensivel
maiores poetas do século XIX. E assim por diante. em relagao
pensavel fora do todo de que é parte, ou seja,
A sensibilidade nunca erra. O gdsto, ou seja, a alegria com a filosofia de tédas as outras formas do espirito.
pela beleza, existe ou nfo existe. A alegria pelo feio nem Pode parecer que esta carga imposta ao critico de poesia
Sequer engana, a seu modo, porque é alegria por qual- seja excessiva. Dir-se-4, entdo, que sem divida o critico
quer coisa que agrada e, por si, nao é feia. No entanto, nao deve ter idéias erréneas, deve saber o que é poesia,
© juizo que da nome As coisas, que afirma a sua verdade, o que é contrario a ela e o que é diferente dela, mas nem
éste esta & beira do érro. E se erra, se afirma por isso deve tornar-se filésofo e a mente esclarecida ou
o falso,
falta com o seu dever de. distinguir a realidade da irrea- o bom senso sao suficientes para o seu objetivo, como
lidade, a qualidade das diferentes e varias tealidade demonstram tantos excelentes juizos emitidos por ho-
s, e,
Portanto, a poesia da anti-poesia e a poesia da literatura mens equilibrados, embora incapazes de sustentar uma
,
que possui a sua prépria beleza mas no é Poesia, discussao filoséfica. Certamente, em muitos casos, o bom
Assim,
nao serve A justica e favorece a injustiga. senso é€ suficiente (e é uma grande sorte que seja assim).
Os autores
dessa espécie de juizo nao chegam a arruinar Mas que é 0 bom senso, a adogao de critérios justcs, sendo
ou tor- o resultado histérico do filosofar, as conclusdes filosé-
turar os génios poéticos, (que nao se deixam
arruinar e
se permitem a tortura é porque ja esto dispostos ficas fixadas em sentencas que se tornaram premissas
a isto,
como Torquato Tasso), mas certamente indiscutiveis do juizo? Apesar disto, elas nem sempre
impedem o co-
nhecimento da beleza por algum tempo sao suficientes e, de tempos em tempos, encontramos di-
e para alguns
setores nacionais e sociais. Por isto, na unidade do ficuldades em relac&o a seu significado e seus exatos li-
espi-
Tito, a relacdo de analogia mites; outras vézes, elas nao bastam para rebater os novos
entre o juizo e a consciéncia
sofismas ou os que sempre ressurgem. Ai nés nos con-
136 , . my 4 Piast | 137

a
-
nnn,

fundimos, tentamos raciocinar ada beleza e, segundo


a teoria em toda goria indivisivel
extensio e uma unica ¢ ate pela fantasia como
nao conseguimos, e, entao ue a 3 obras revocadas
na ou poe-
correr a sua fonte a filcsofia. Na Itilie, crite &
ela, denomi
feias’; distin
te oiae”, gue-as em “plenamente
“pelas” ou esta s ltimas
poesia e da belas”, e a
s” € “Ijterariamente
literatura,
apdés muitas contramarcha, . “e
lagoes, tomou um impulso que a condu tical mente bela sentimen tal, inte lect ivo, ou
ziu a uma fo
distingue, segundo o con tedado obras de
mais madura que em outros paises, de belas formas, como
gracas a De Sancti que 1 evestem
volitivo de literatura
que, embora nao fdsse um filésofo ascalia, de oratoria,
efusao, de prosa ou did
exato edisciplines
possuia mente especulativa, e fora educa s bastante deli-
do no culto om pela arte”. Distincoe
biente napolitano fortemente especulativo amena, ou de “arte nem faceis, e
por codices nao se pod em tornar mecanicas
cadas, que necidas pela
Proxima e remota, adverso as abstra
cdes do intelectas. as distincdes tedricas for
lismo, aferrado a concretitude da histér as quais as propri or, na medida
efa cada vez mai
ia e & idealid, fea filosofia impoem uma tar
sensorialidade conjuntas da poesia. O os inst rume ntos nece ssarios: a ta-
srseftichameni de em que lhes oferecem
critica na Italie desenvolveu-se paral bem, isto é, de nao abusar.
elamente ao da oti refa e a obrigacao de usa-las
a e de téda a filosofia metédica. Para sermo ivo por indiscretos e inexpe-
s mais ftis O seu uso erroneo e abus
a verdade: critica e estética, assim como
histéria efilosofie, a lame ntac es desc abid as contra os prdéprios
rientes leva
vém se aperfeigoando conjuntamente ecid a a afirmacao de
ao apresentareen jnstrumentos. Nao deve ser esqu
uma & outra os problemas e as solucd
es que nao sao inteli- ocasi do seme lhan te: aquil o de que nao se
Jacobi numa
giveis sem 4 experiéncia da poesia usar.
e da arte. Fora da Ttali pode abusar nao é bom sequer para
Cee tile é€ mais freqiente, ora
tendendo a mera sen. beleza, ainda
i le, que facilmente se perverte Unica e indivisivel é, pois, a categoria da
em impressioni ser agru-
€ psicologismo, ora tendendo a intel que suas manifestagées sejam infinitas e possam
izaca aa classes, alias empiricas, como todas as classes,
que teoriza de maneira racionaliste padas em
¢ pecitvme ieee do
rando ou esquecendo a realidade e sem nada em comum com as distingdes especulativas
da poesia oie tivo, Mesmo quando analisa mos as va-
conceito especula
Il - A BELEZA, UNICA CATEGORIA
rias formas que se acredita poder distinguir especulati-
DO JuIzO
vamente na beleza, outrora chamadas pelos esteticistas
ESTETICO
Grande
de “modificagées do belo” — o “sublime”, o “tragico”, 0
e variado é, Pois, o trabalho, a Ponderacio, a
ascese, a que devemos nos subme
ter Para “dar “cémico”, o “humoristico”, 0 “gracioso”, etc. — niio encon-
&s coisas”, ds coisas da poesia
e da literatura: os nomen tramos sendo abstracées de grupos isolados de belas obras,
que, em suas formas exponenciais, ja utilizamos vine referiveis a matéria destas e nado & forma, que é unica-
vezes no curso desta dissertacao, O
juizo da poesia pean mente a beleza. Se qualquer um désses conceitos em-
138 139

Mx
piric os fér depurado e Sutilizado liriciza
e o poeta dramatico
i
e: m
sentim ento
espec ivo.
fican do-se a sua matéria a 0 se u im, ser a um
éri Particul
i ar, como Ocor, dramatiz co nao fizer ass
o poeta liri
atv ‘
do “h umorismo reu com i ”
ismo
”” (que alguns tedri a ag ao : se nao fiz er ass im,
cos imag inar ,
°
a su 0 dramaturgo
ao um lirico; se
um:
na especie de sintese do
sos .
coe i A tri nda de das
tragico, do subi a
um poe ta.
mico,
nico, do gracioso, etc. ), estare a
eal — de teatro e nao lid ade de
mos nos aviavizi
in uzida, pois, a dua
vvcessario’ fica red
zin han de
sinonimo da beleza, que ae tin gao e opo sic ao.
abarca todos os ag; Pec reduzida a dis
Pirito e por isto é resolucdo tos endo es. formet deome e esta fica ao a relacao da
tramos no fundo sen
dos con trastes na
unidade »
das visdes unilaterais na plen
itude da humanidad en, o qué ‘encon sentimento com @
e. poética, do
cnatéeia com a expressao
Chegamos @ mesma con .
clusao ao examina: rmos
sistema de grupos formad um outro intuicao?
o também empii Ticament
e, num também na famosa distin-
Primeiro momento, pela
abstracdo de ce ttos con A mesma relagao se encontra
tica, que: teve,
de certas formas de alg tet idos e co entre poesia classica e poesia roman
umas obras. Tr ata-se
lexic ograf ico para designar,
ou tem, um uso empirico e
dos trés géneros supremos do sistema
e fundame ntais - © poesia greco-romana e,
pico e 0 dramatico ~ que, lirico, 0 com o primeiro adjetivo, a antiga
depois foram elev e moderna, mas que tam-
Poténcia de eternas Cate ados 4 com o segundo, a poesia crista
gorias da oa esia. Se vo para distinguir ca-
teoria, 0 poeta ou canta
gundo esta
bém teve, e tem, um uso especulati
os seus se: primeiro e involuntario
ou narra as acdes dos out tegorias poéticas diferentes. O
ros tiimews, on faa sentido, foi Goethe,
agoes de uns sejam Te uae autor desta dicotomia no seu segundo
presentadas por ou tros no conceito
éle! i intervenha como narrador. sem
se m acque
e que depois muito se arrependeu. Esta cisdo
Ele ha de eguir, nece cada por éle, utiliz ada por
:namente, um désses ssa- da poesia tnica foi provo
trés caminhos e deve
Ppercorré-lo sem exageraram.
Mveredar por nenhum Schiller, e firmada pelos romanticos, que a
dos outros dois. Entret ram a ne-
thor considerados. anto, me-
Cisio tao intole ravel que os romAn ticos passa
cis-
gar como “fria”, isto é, nfo poética, a poesia do classi
ram a negar como “info rme”,
; unindo-o co; mM oO prim mo, e os classicistas passa
rimeeiro
i ”.
isto é, nao artistica e nao poética, a poesia “romantica
POrque y a simples nafr ou abolindo
i -o
. acao nao é nem can
" bivel neste caso nao é
sentacao, Outros cons
ideram o Primeiro
: No entanto, a tinica divisdo conce
ann ae uma antin omia — o con-
prépr iamen te uma divisa o, mas
s,
traste entre o belo e o feio. Quando éstes dois térmo
romantismo e classicismo, forem aprofundados e elabo-
tados especulativamente, seremos teconduzidos, através
déles, & relacéo de “dramatismo” e “lirismo”, intui¢éo e sen-
140
141
vatiicag

timento, forma e matéria, isto 6, dois térmos ormada em ete


suem verdade em sua sintese, a qual
que s6 pos- tivo e todavia foi transf ,
e da litera’
n&o pode ser obtida
mente titude particular da poesia
na exclusdo de uma das duas abstracdes brev e, num _
pela outra, mas portanto, que muit o
sim na resolucéo de uma na outra, conser — een
da el
vando e supe-
ee ae ente ainda, uma outra forma : a
rando ambas. E por isto que a classicismo também isto cons-
€ romantismo titer
e e literariéria,
a se decl
ec! are que
se contrapée a palavra classicidade, Me ética
e é
palavra a que se a' o espiritual. Certament
atribuiu o demérito, que é também o meat ama particular 3disposic
meérito, de “nado formag 4o e acei taca o por lucro
significar nada” e, efetivamente, nao disso mesmo que se trata:
possui nenhuma de. por isto mesmo,
terminacao conteudistica ou abstrata, de aparéncias mentirosas, ainda que seja,
porque significa vice também
simplesmente a exceléncia da expressao, a negacao da poesia.
a ex Pressdo per-
feita, a beleza. transformagao da poesia em ee. mia me
Esta
ia em si as divisdes politi Es
Poderiamos apresentar, ainda, outras
divisoes menos fa- formas pseudo-estéticas tendiam a perma
mosas que alteram ligeiramente a nat uae, a
precedente, como a de ideais, afirmando-se como gener =
arte € poesia primitivas e arte e necer inteiramente
Poesia cultas, com as dai a invencao de um fomantisrn
Preferéncias dispensadas ora a mente humanas, (e
primeira forma ora a mas “grego” ou “romano”, n “
segunda, que afinal sao Pedac nao s6 “moderno”
os da unica arte, que é “barroquismo” nao sé da Europa do aéculo XV: can .
sempre primitivismo e cultura.
No entanto, o perigo da “clas
ciséo introduzida no conceito da “tardia grecicidade” ou “romanidade”, de um
de beleza, (e que constitui
© verdadeiro pecado espiritual sicismo” nao s6 da idade aurea de Grécia e Roma mas
da Alem anha no ambito “alemao”). Por outro lado, tendiam
estético), nao reside na enfad tembém “francés” e
onha di isputa entre dois con-
ceitos vazios, © abstrato classicismo a fixar-se como particulares, préprias de povos
formas
e o abstrato roman-
tismo, © abstrato primitivismo e racas particulares. A poesia classicista foi entao iden-
e a abstrata culture, nem
na conseqiiente logomaquia tificada como a forma poética dos povos romanicos e
e Perda de tempo, mas sim na
conversao déstes conceitos néo-latinos; a poesia romantica (apesar do nome que
Pseudo-estéticos em
praticas, passando-se a considerar atitudes Parecia indicar o contrério) como a dos povos germa-
essas form as de poesia nicos, hoje, ao que parece, substituida pela barréca 5
como determinacées Praticas
ao Praticizar a
como fizeram os hedonistas Poesia, assim que alguns teéricos consideram como o mais grandicso
e Os utilitaristas,
Pecto, é notéria uma nova Sob ésse as. e viril atributo dos germanicos.
Agora, sem passar mais
forma ideal que Surge
mente na Alemanha e se acres atual- pela mediacéo dessas ideais, os povos, ragas e
formas
centa as duas Primeiras;
barroco, Esta forma ideal o classes sociais, foram dotados de formas de poesia in-
deriva dum conc eito estatica-
teiramente préprias de cada um e profundamente sepa-
142
143
Eh

E O FECHO
radas uma da outra, desconhecendo-s DA POE SIA
4
entre si da mesma =
€ combatendo-se i - A CARACTE RIZAGAO CO
maneira como os Povo: S, aS EUTICO-CRITI
Tacas e pO PROCESSO HERM EN
as classes, na esfera da real ta 0 feio; o juizo
idade pratica A Ssim,
existj. acoll he o belo e afas
fla agora uma poesia “ger O gasto pela poesia sido fator de surpré-
manica” Que seria pro um € outro. Tem
pelos germanicos e sé Por
eo duz ida estético qualifica térmos distintiv ft os
,
éles p oderia ser sentid seja tao po bre em
julgeda, ou uma poesia “prol a e sa que, a0 fazé-lo, ciar 0 feio , e
etari a” (especi e tao rico ao eviden
wea) a), que s6 os prolet
Rissi ao assinalar o belo poss ui cem
arios tude cm condi igni dade natural que
pr uzir e entender, e séb ie logo se pensou na mal e fechado,
re a qual os burgueses is s aber tos para 0 mal e apenas um, quas
deveriam olho
manifestar-se nem mesm
o para elogia-| oh enta nto, isto nao é mais que uma con-
beleza deixa de ser unica para o bem. No
e indivisivel, - & as cuss di ist nstramos até agora: nao
ja nao s&0 mais as de dra isGeshe seqiiéncia natural do que demo
matica e lirica, classica _ e ro. e divisd es do belo enquanto belo.
mantica, ingénu- a e sentim se fazem distingdes
ental de pobre a termino-
de arbitrarias, ‘a0 universalmen
(divisdes que, apesar Nao deveriamos sequer qualificar
te : humanas na intengao) pois é uma conti-
As el divisdes sa ‘© agora estabeleci logia do belo, mas sim de monétona,
das segundo os Povos e ras como “harmonia”, “ver-
poesiaz = com cujas vicissitud‘ les nua sinonimia na qual palav
se ident
i ifi
ifica a obra da ade”, “unid ade na varie dade”, “natura-
. * » Portanto, a categoria dade”, “simp licid
de juizo passa a ser, al “intensidade
emma amente, “Alemanha”, lidade”, “sinceridade”, “vigor da fantasia”,
“Franca” “Inglaterra”, “Re de”, repe-
sia”, yyy “Italia”, ou entdo “burguesia lirica”, “delicadeza”, “sere nidad e”, “subl imida
” ’ “A emocracia”, .
:
“foi
“foice
‘acia”, scio
€ martelo”,1 “cruz gamada”, n
tem © conce ito Gnico de “expr essio bela”. O conceito
» € assim por diante. ncia
do feio, ao contrario, nascendo da ruptura da coeré
estética por fim pratico ou acomodagao, especifica-
um
se por tédas as manei ras em que a incoeréncia se ma-

genero humano, como nifesta com variada extenséo e segundo variadas cir-
as cunstancias. Estas mane:ras séo inimeras e dao origem
Propria humanidade
encerra-la em circulos ao
estanque ‘Ss, inimigos a uma terminologia que se enriquece continuamente com
wreconciliaveis, perpétuos e
novas variantes: “incorreto”, “redundante”, “descuidado”,
“desajeitado”, “mesquinho”, “empolado”, “declamatério”,
“charlatanesco”, “afetado”, “bufao”, “barroco”, “sentimen-
tal”, “sensual”, “frivolo”, “obceno”, “rude”, “cru”, “violen-
to”, “indecente”, “vulgar”, “plebeu”, “languido”, “rastei-
144 145

7 ~
aments, aquilo ane av
Esta parte que falta nao é, cert
ro", “convencional”, “mecanico”, “banal”, “duro” “Desa
: . , =
sa °
do”, “preciosista”, “retorcido”, “requintado”, e assim in.
teorias exigiram do critico: procurar, mal
gumas 4
finitamente.
refazer e recompor esteficam
o juizo estético, it:
como um “artifex a
Ao qualificar
as atracdes e as fepugnancias do gosto, obra formada pelo poeta, quase
refazer e recompor nao
© juizo estético permanece restrito a éle, inseparavel tus artifici”. Embora semelhante
izante que se aplica erro-
déle, como é prdprio de todo verdadeiro e concreto
juizo, seja a desprezivel orgia estet
de arte (um indiscreto
identificagao de intuicdo e categoria, de sujeito intuitive neamente a celebracao das obras
panha ou atrapalha
e predicado conceitual, e nunca se constitui em relacao cantar por conta propria que acom
abstrata de conceitos, exceto na aparéncia e na superficie, do poeta ), sera cert amen te uma “traducao”, no
c canto
ja dete rmin amos. E a tradu-
Isto é claramente evidenciado pela forma didatica em sentido e nos térmos que
que o critico expée o seu juizo, pois, assim como o cri- do anali tica e prosa ica, perte nce a prepara-
go, quan
poesia, Nao
tico de artes figurativas sempre Pressupde a visao da cdo filolégica da leitura e nao a critic da a
nem mesm o quan do é sinté tica e artistica,
pintura ou da escultura originais e auxilia a exposicao lhe pertence
ca, e a
de seus juizos mediante desenhos e reproducées foto- porque, neste caso, é uma variagaéo da obra poéti
@rdficas, o critico de poesia se socorre de parafrases e e
critica se prend exat amen te 4 indiv idual idade da obra
citagGes de trechos da poesia examinada. A exposicao poética: dela naéo pode se separar sem deixar de ser
torna-se vazia para o leitor que nao se relacione com a critica.
Poesia, e também para o préprio critico quando éle a Esta metade que falta também nao consistira, como que-
perde de vista dispersando-se em generalidades ou su- rem alguns, em fornecer um “equivalente” da poesia,
tilezas. equivalente nao ja intuitivo (que se reconhece impossi-
Mas a obra do critico nao se resume apenas vel), mas “légico”. Se isto fésse possivel, a poesia nao
em quali- teria surgido no mundo, ou logo teria sido banida como
ficer © belo e€ 0 feio no ato em que so
sentidos como coisa supérflua, pois sempre poderiamos obter o seu
tais. Nos permanecemos insatisfeitos quando
éle se res- “equivalente logico” como se fésse uma soma de dinhei
tringe a enumerar e assinalar com
o Tespectivo nome ro em ouro no lugar de dinheiro em papel. Esta argu-
as partes belas e as feias; e entao dizemo
s que éle nao mentag&o pode parecer um tanto caricata, mas, no fundo,
é prépriamente um critico mas um
homem de gésto, contém uma resposta séria: um equivalente logico do
pois, como critico, oferece uma critica
pela metade que intuitive contrasta com a natureza ldgica do juizo por-
sempre precisa ser completada
com o acréscimo da me. que anula um dos térmos da relagéo que é a sua pro-
tade que falta.
: Pria vida,

146
147

Ma,
O critico, ao complementar o seu juizo, ou unido materialme inte & obra, esta
no oferece re do poeta
Pr ocura colhér e definir o
construgées intuitivas ou equivalentes pessoa
légicos da peedis, excluido da indagacao que
mas sim uma coisa muito diversa - uma poesia, a! quéle momento que con
caracterizacio, momento gerador da
Pelas razdes expostas acima, esta determ
inacao do ca. figura e ani ma téda s as suas partes.
rater nao pode se referir a forma da poesia, e huma
Pois esta objeto desta ulterior indagagao ¢ a realidad
O s deter-
forma é una, indivisivel e idéntica em todos nita
OS poetas, na em sua plenitude, em todas as suas infi
porque é a forma da beleza. Assim, ao dizerm
os que uma
minacées que, de tempos em tem pos, s° erguem como,
Poesia nos agrada por éste ou aquéle carater s poéticas. Dai a obri-
Particular, motivos geradores de expressde
ou incorremos numa iluséo ingénua, atribui
ndo a tha critico conhecer 0 coragao humano; dai a
gagao de o
particularidade abstrata e morta o que pertenc conhecem nao s6 a be-
e ao todo estima para com os cfiticos que
concreto e vivo, ou repetimos tautologicam “og vicios humanos e 0
ente, embora leza e a forma mas tam bém
de diferentes maneiras, que a beleza é a beleza. tagé contra os que falam
o
terminacao do carater também nao pode
A de- valor”, Dai, ao contrario, a irri
consistir no is ter ama do, sonhado e experimen-
trabalho hibrido de certos fildlogos positivistas de poesia sem jama
ido as suas lutas,
entre o tado a tempestade das paixdes e€ sofr
estetico e o gramatical, o retérico e o léxico, r rién cia com a inteli-
que é ab- ou nao procuram amp lia a expe
solutamente estéril como todos os hibridismos, o cont ra os “normaliens”,
Esmiu- génc ia e a simp atia . B a irri tagé
gando as formas da poesia em vocabulos, s arti stas e poetas,
metaforas, como sio chamados em Fra nca pelo
comparacées, figuras, nexos sintaticos e esquem os na Ital ia. Por isto
as vitmi- ou “pro fess éres ”, com o os cha mam
cos, nao se obtém o carater da Poesia, que rio
so é revivido se diz com acertada intengéo, embora com imprép
e contemplado na intuigéo Unica e total, ia deve traz er
mas apenas conc eito , que o ver dad eir o crit ico de poes
um miserdvel monturo de fragmentos
inanimados que em si um “moralista”. De fato, o critico deve trazer em
80 serve para jogar fora como lixo
initil, si néo prépriamente um moralista, mas um fildsofo que
Na verdade, a caracterizacéo se a
refere ao contetdo da j& meditou sébre as variacdes, os conflitos e a dialétic
Poesia, a0 sentimento que a poesia da alma hum ana . Nao se trat a do filé sofo enq uan to
expressou no pré-
prio ato, ampliando-o e transferindo atualiza os seus conceitos em juizos de filosofia, de cién-
-o ao seu clima, e
que, agora, prescindindo desta
idealizagio, é ieconsi: cia, de politica, de moral, etc. mas sim enquanto ordena
derado na sua fisionomia, na sua © vasto material dos juizos constituidos em classes ou
“catacteristica”, que
o-
e © ponto de partida do “belo”
(conforme o tied 4a tipos do variado sentir e fazer da alma, transformand
citado de Goethe). Tudo aquilo se, assim, em psicélogo. Caracterizar uma poesia implica
que nao se tornou con.
teido da poesia, tudo o que fica em determinar o contetido ou motivo fundamental, re-
fora dela, pertinente a

148 149

: A . my ee
ferindo-o a uma classe ou tipo psicolégico, ao tipo eg
classe mais proxima, e @ ai que o critico exerce sey co que conhece
! o seu mister ;
usspr' liche”). O criti e€ per-
talento, demonstrando sabe como isto ocorre,
sua fineza e delicadeza. Nesta oea teol a do seu mister
tarefa, éle so se satisfaz quando,
e
a coin inci a
aim aauia
ia,nm que,Gil emae
lendo, relendo « con.
cebe que 4 formula nao
siderando, consegue finalmente captar o traco funda.
mental e defini-lo com uma formula, a qual indica passa ETF es intuitivos, e que, “effabile”,
ue eo
nova relagao.
inclusao do sentimento de cada poesia na classe mais aaa a i ‘a torna-se “inefavel” na
préxima que éle conhece ou encontrou naquele moment osirE incansa vel em seu trabalho,
o, ‘Car ae
assim agindo, cumpre uma obra neces.
No entanto, a classe mais préxima é sempre uma oe ake que,
clas. mais prox
se, isto é¢, um conceito geral, e a Poesia, ao contrario, a se dedica a encontrar classes sempre
das on
nao é o geral mas o individual-universal, o finito-infinito, seit poesia original, embora sempre separa
s6 pode ser transpo sto de um .
por um interva lo que
Assim, a formula, por mais aproximada que seja da poe.
r que os Outros, ao
sia evocada, nunca coincide com ela, e entre as duas O que desgosta o critico é observa
em que o
sempre permanece uma distancia abismal. Comparada invés de retomarem o trabalho no Ponto
com a poesia, a formula da sua caracterizacao sempre deixou para levarem-no adiante, limitam-se a classes
heterogéneas ou muito genéricas, classes que éle ja
parece mais ou menos rigida e destoante. Dai a insa-
tisfacdo que, apds a satisfacdo Momentanea, experime excluira de seu proprio trabalho, substituindo-as por Gtr
n-
tamos ante as mais elaboradas formulas criticas, tra mais préxima. O que Ihe repugna e atormenta €
mesmo encontrar as suas formulas na béca de pessoas que as
as nossas, produzidas com tanto esférco da mente,
com dogmatizaram e enrijaram, ao invés de acolhé-las com
tanto trabalho do intelecto, com tanto escripulo
de de- © sdbio ceticismo exigido pela propria coisa e em be-
licadeza. Dai a vontade de voltar-Ihes
as costas imer-. neficio dela propria. Quando o critico discute com al-
gindo novamente na poesia viva e
individua. Goethe
dizia que nao é possivel falar de Shakespe guém, (e certamente sempre discute com um ou com
are, que qual-
quer dissertacao muitos), éle esta discutindo com outros criticos, e nunca
é insuficiente, e que é@le o tentara no
Meister mas nao concluira Grande com a poesia. Ble sabe que a critica, chegada ao seu
coisa. Do mesmo
modo, Wilhelm von Humboldt, épice, & caracterizac&o, é, por natureza, “critica da cri-
falando exatamente das
obras de Goethe e descrevendo tica”, e, neste trabalho, o que se vem aperfeicoando
algumas de suas carac-
teristicas, declarou que “queria apenas
sempre mais nao é a poesia, que é “definitiva”, mas a
acenar para estas
coisas, pois falar ou escrever formacao das caracterizagdes, que sempre é “indefiniti-
sobre um Poeta é vagar
em térno do inefavel” ( “als ein va”. Sempre “indefinitiva’, porque o movimento do es-
Herumgehen um das
pirito humano sempre propde novas dificuldades, sempre
150
151
num trecho famoso e tal-
suscita éste beneficio,
novos problemas. O critico
a forjou um j
instry. Referindo-se a proprio poderia supor,
le
fundo do que él ensinar
vez mais Pro’
heacon melhor que os que existiam antes, e deseja ape
q ua e “a critica é a arte de
eicod-lo ainda, ou que outro i
o a perfeicoe, poi * i -Beuve disi se
Sainte o que dev e mos a todos
é exatamente tas.
seu valor e uso. er zen sal a ler”. Pois isto icaram a ler os poe
sé ded
os grandes criticos que raria-
Podemos perceber ésse valor quando refletimos abs urd o mundo nao nos encont
naquele produto dltimo, naquela férmula, encerra-se to Em que confuso € s em mei o ao canto
de repente, jog ado
mos se fossemos, falsos can-
do o longo processo percorrido na apreensao da poesia lavras dos nao poetas, aos
da Preparacéo filolégica & revocag&o intuitiva, e sedis dos poetas, as pa a crit ica pud ess e orde-
que
tos dos maus poetas, sem , dis tin guindo
7 juizo que a qualificou. Assim, ainda que a férmula em nossas mentes
né-los de algum modo e das fal-
nao seja éste processo vivo, ela 6 o meio mais eficaz as das nao poé tic as
as varias vozes, aS poétic nas de serem
para auxiliar a repetigao sem repetir novamente as fa. as mai ore s (e mai s dig
samente poéticas, icado de
digas anteriores, antes aproveitando-as e economizando determinando o signif
ouvidas) das menores,
forcas para as fadigas futuras. Ante uma expressao poé- nao oco rre ria se a crit ica nao houvesse
cada uma! O que
fica a interpretar e julgar, o critico que jA a estudou, ar como a nossa casa, &
tornado aquéle mundo famili
9 critico que exerceu sua particular e natural disposigao aga o e da nos sa fantasia! Pois foi isto
casa do nosso cor
de engenho na interpretagao, que nela colheu uma pe trabalho secular. No en-
que a critica operou com seu
culiar cultura e submeteu-se a uma peculiar disciplina, emente colhe: mos os seus frutos e
tanto, nés freqiient
oa a palavra e indica 0 ponto de vista em que é ne- ingratos para com ela
nos mostramos indiferentes ou
ceasério observé-la, isto é, comunica a caracterizagéo
que nos dé ésse bem.
contida na formula por éle alcancada. Assim, éle tira
os outros da inércia e da incerteza de nao sider por ESTETICO COMO HISTORIA DA POESIA
Iv - 0 jutzo
onde comecar (incerteza muito freqiiente ante as novas poesia, para
expressées), eximindo-os Se reexaminarmos agora 0 juizo estético da
de vagar no érro com férmulas ao his-
inferiores e por classes verificar a relacdo com a proposigao ou afirmag
muito distantes ou muito gené- historia mais com-
torica, célula origina nte de qualque r
ricas em relagéo aquela mais préxima da poesia. confronto
plexa que se pense ou escreva, o exame e o
(Este trabalho do critico produz, sem duvida, u: id juizo néo
nos levarao ao reconhecimento de que éste
beneficio, ainda que nao possa produzir o ‘ i, ee Ble nos
© gosto da poesia, pois éste 6 um ato que <5 tin rgoce é sendo uma perfeitissima afirmagao histérica.
: nado momento , inse-
podemos realizar. Se nao o realizamos e, a SA "dia af diz exatamente que, num determi
na seqiiénci a dos aconteci mentos, surgiu um a4,
recebida, persistimos na inércia, entéo aculpe é rindo-se
_—
153
152
que é uma obra de poesia, caracterizada desta
ou da.
obra da poesia, fato e
quela maneira. Mas nao é de outra forma que também sesperada & inutil. Entretanto, na
se constréi qualquer outra historia onde -se num a unida de, como
7 ort , alias, em
ocorre
éste 4, 80 invés lor fundem-se
de ser uma obra de poesia, sera um filosofema, a hum ana : o valo r nao se adiciona ao pen-
um ing. valualquer obr . Ro fieca
tituto, uma agéo guerreira, uma crenca religiosa e nao ficcao de pen-
, e assim Jeeneot3 > pois, se éste € pensamento
também a aca, quan-
por diante. Isto é suficiente Para concluirmos com se. samento, € 0 proprio valor: como
guranca que, juntamente com o juizo estético de do é agéo e nao veleidade de acao. Conseqiientemente,
uma
poesia, nos é dada a sua histéria, ou, para falar é 0 propr io juizo do fato, e, desde que
mais 0 juizo do valor
Proce sso do fazet-se
exatamente, que éste juizo é esta histéria. um fato nao é pensavel senao como
histér ia, é tamb ém juizo histérico. No
Sobre a clara evidéncia desta verdade langa sua e, portanto, como
sombra a génese da obra se faz presente
a concep¢ao da realidade dividida em “fatos” e “valéres” juizo da poesia téda
, néle se inclui e do
segundo a qual ha histéria sem valéres e valéres e pensada através da revocacao que
sem
historia. Assim, primeiro se deve consolidar incluso processo da interpretacao.
a realidade
de um fato e, depois, determinar se éle Possui valor
ou Pode parecer que a identificacio do juizo com a his-
nao, se o seu “ser” corresponde ao seu “dever ser”. téria da poesia decomponha a histéria, resolvendo-a
Tra-
ta-se de uma concepcao metafisica que reveste
numa multiplicidade de histérias particulares colocadas
com ter-
minologia filoséfica o modo superficial e vulgar uma ao lado da outra, destruindo a ordem de sucesséo
de apre-
sentar dualisticamente a relacéo entre o fato indispensavel ao pensamento histérico. Mas o juizo da
e€ o valor,
Sendo superficial e vulgar, no surpreende poesia nao nega esta ordem, nem mesmo prescinde dela,
que a encon-
tremos mesmo fora das sistematizacées severa mas, ao contraério, a pressupde e a reafirma em cada
mente ra-
Ciocinadas (como é, por exemplo, a de Herbart movimento, Haveria alguém capaz de compreender e
), no posi-
tivismo e no psicologismo, e que a vejamos pensar sériamente a Divina Comédia se a colocassemos
comumente
aceita nas escolas. Em muitas ainda ao lado ou antes da Iliada? E o Orlando Furioso se 0
vigora a distincaio
entre “le développement”, ou desenvolvime
nto histérico
colocéssemos ao lado ou antes da Chansson de Rolland?
da Poesia, que seria matéria de
ciéncia, e “le jugement”, Qualquer obra sé é bem interpretada e bem revocada
Ou juizo, que seria uma reacéo subjeti quando mantida em sua colocacaéo histérica, na qual
va e Pessoal com
a qual a ciéncia nao deve se ocupar, tédas as obras precedentes, junto com téda a histéria
permitindo-a apenas
ao fim das austeras e sdlidas indagacdes
precedente de que sao parte, convergem para ela.
sébre o desen.
volvimento histérico como perdoavel Esta resposta, embora apropriada, ainda nao satisfaz
desafégo do sen-
timento, brinquedo da fantasia, plenamente os recalcitrantes das concepcgdes caducas,
tentativa um tanto de-
Porque no fundo de seu pensamento reside a idéia de
154
155
" Itima analise, uma in
uma historia da poesia que nado pense apenas cada uma rios ss
limites 6, em wi)
am semelhangas € Coin.
.

das obras em sua sucessd0, mas estabeleca seus prop que ;


entre elas fildlogos bras poéticas, , encadeiam-
Se ogto dos
uma lgacao direta, fazendo-as derivar umas das Outras,
s ab st ra tas entre as ul‘
diante da qual a sucessdo por nés estabelecida parece videnc ia ; por élesa constr
cadeia
uma: as outras, &, na e que
uma série descontinua e extrinseca. Ora, se as obras uma “vis gen era tiv
da a2 fi , nae ter insuflado _
poesia derivassem umas das outras, formariam um tnico a ord em bib lica de geragoes. 7
trai amd num
processo e nao existiria sendo uma dnica obra de poesia, er a historia
etam que, 80 conceb
que na verdade no existiria, pois estaria sempre em Alguns ainda obj cada ja, se perde
Sprio jut
processo de elaboracao. Esta obra nica jamais seria poesia como ° Pe theta -o ronceito de Pro-
compreensivel e evocavel no seu todo, como fazemos ‘bra de traria em Si @
poesia
™ ——
com cada uma das obras (que sdmente assim podem e teriaia o seu prop6prio progress
: oaex-
ite owae
spria perfeiga
Se
constituir objeto de fruicao e inteligéncia). Certamente vir a Ser. 0 en’
ie! ente na elaboracao do seu
amamos e abracamos individualmente as mulheres. Mas humana, porque
como fariamos para amar e abracar a mulher tinica em mee que ocorre com qualquer obra
uma boa agao que * ae
perpétua formacao, a “muliebridade” num infinito “fieri”? ma verdade que se pense,
o e a propria - fee
Basta isso para demonstrar a impossibilidade dessa pre- pra, traz em si oO proprio Progress
Ss Anegized-
tensa historia; e a origem de seu érro é evidente quando O progresso histérico geral nao éo
is, que san i
i formas espiritua
consideramos que o nexo entre cada uma das obras constanc ia oe
on Soe seriam se n&o possuis sem
certamente existe, mas reside na totalidade e concretas, verd
gerassem sempre belezas definidas
da historia,
e nao numa conexéo direta que os fatos de determinada o =
e atos morais. O progress o é, antes, 0 movimento
qualidade manteriam entre si, Como se nascessem E este a
cessem
e cres-
pirito na dialética de tédas as suas formas.
fora das relagdes com outros fatos éste cresciment
de outras éste perpétuo enriquecimento,
gresso,
qualidades. A poesia nao Gera poesia, como « possis
no gera filosofia, nem a agao gera ac&o,
a filosofia espiritual, nao escapa & nenhum entendedor
sem que cada de Homero a Dante, de Dante a Shakespe are,
que passe
uma destas formas passe por tédas as nte om
outras. Assim é, de Shakespeare a Goethe. Ele percebe clarame
porque a nova acao tem como condic¢ Dante
&o necessaria novas Shakespeare nao poderia compreender Goethe,
fantasias e novos conceitos; a po-
fantasia, nova filosofia, nao poderia compreender Shakespeare, nem Homero
novos fatos e novas agoes; a nova entanto, Dante acolheu
poesia, Novos pensa- deria compreender Dante; e, no
mentos, novas acées e, portanto, um névo
sentimento, Homero, ao chamé-lo de “soberano poeta”, e Goethe
Uma historia da poesia que se desenvolve no circulo cuja obra tinha diante de si como
acolheu Shakespeare,

156 157
« ores, conforme
sua cres-
‘oO. enor; me livro i aberto do destino”. A ore 5 e as men
obra poétioetica de damentais, as mai o d est aca um ou varios
cada
: uw m déles
éles éé perfeita i em si, e, enquanto jdade. Cada pov
i cente complex ia, ao encerrar-se
é aperfeigoada pela obra os outros, € 4 Ital
do sucessor, poesier no s sdbre to dos a 1700, elegeu
de 1200
o que va j
whal
Estaes reafi eee a da perfeicé igao de cada obra em o pe riodo literari iormente, a Europa
si Parece uatro poetas”. Poster
det 5 ene i outro Principio das quatro — 08 “q iderados os maiores
she ee
construgées his.
elegeu quatro 0
u cinco que sao cons
. da Telagao de impo povo s. Portanto, nao
rtancia entre ag s os seus
ores: oie dentre os filhos de todo as
Se esta hierarquia nao diminuir a beleza das cois
crite. Gus tee ‘ sem
a submissaéo das obras
Pudes-
vem os razao para negar ou reza , medindo-as
a um ou distorcer a sua natu
moral, Gaeane estranho e repugnante que sao belas com a
(filoséfico, , que nada tem a ver
move bene on qualquer com um critério estranho obte r uma
que seja), entdo seria juiz o, a fim de
owen car lefinitivamente a ela. No proprieda' de e a seriedade do
entanto, sem que se form a por si, e que até se
ope ieee estranhos, a importancia ordem hierarquica
de ‘cada dere éste ou aquéle in-
oe gist espontaneamente, e espo modifica por si, segundo prepon
ntaneamente terésse espiritual.
cede uma ae Tarquia segundo o préprio
carater de da poesia assume
ee sat hea " espirito do leitor semp
re assume o O caréter monografico que a histéria
rion, (pele Sones outro, Falando em com o juizo de cada obra de poesia
sentido gené. ao identificar-se
henna esséncia légica, e nao suben-
aon ne oven) wee Para as obras a deve ser entendido na sua
caus ee nas formas literarias didaticas dos tratados de
» vemos que as obras tendido
cones rosie oe liberdade e sao
ass de literatura pela cona histéria da poesia, onde reina a maior
cute a mee viéncia, a oportunidade, as mais
Ne © que uma permitidas, conforme o gésto e
coisa é a literatura e
finhe, emton aN Ai os poetas sao agrupa-
Proprio circulo da poesia variadas etiquetas ou rétulos.
ha uma (historia da poesia
uOsa, que separa a Poesi dos segundo os povos e as linguas
a elementar os séculos
grega, romana, italiana, alema, etc.), segundo
divisées cronoldgicas (histéria da poesia da
e outras
XVII, etc.), se-
Idade Média, do século XVI, do século
dessas duas ordens (histéria da
gundo as combinacdes
francesa
poesia francesa medieval, histéria da poesia
afinidades ideais (Dante, Goe-
seiscentista, etc.), segundo
the, Shakespeare, etc.), segundo os contrastes (Shakes-
peare e Corneille, Boiardo e Ariosto, ete.), segundo cer-

158 159
ae finalidades tedricas (“historia da ciéncig as.
poesia popular”, da histéria e das
téria da Poesia barréca”, etc.), a da filosofia,
a Por qualquer prosa li teréri ram os, por VEZES,
ure motivo. O que realme
outro belas obras encont
; nte impo. » NO enta: é Mesmo entre as car ate r lit erario, que
q porém de
tratamento da poesia seja intrinsecamente es feias ou belas, critica.
: meono.. lidas pelo gosto ou pela
grafico , referindo-se .
sempre 4 concretitude ago imediatamente repe. de mod o impro-
da ri
obra in.
a e stas part es, e
Sémente em relagao poesias oferecem
r que também as
prio, podemos dize doc umentos justa-
dizer: ofe rec em
documentos. Quer
V- AS FALSAS HISTORIAS DA POESIA exemplos sao
ni Zo sao poesias. Os
Certamente a poesia re é mente naquilo em que a quase supér-
i ébvi os que se torn
historia da humanidade, ie to abundantes e tao pelo ultimo caso,
weus poets ea “a para come¢: ar
docamenre a eembrecnaivel mas nao oferece athe fluo aduzi-los. Todavia, a oratoria, al-
conh ecem a poesi
plo, we Para ae extra-poéticas, como sao, por exem- lembri aremos que todos na Comé-
ntra na Divi
Mean, onde tissima oratéria alias, que se enco
ilosofia, da politica e da vida moral.
a inve ctiv a apés o encontro
rai tidings °. nos fixamos no conteid dia, como, por exemplo,
o da poesia ou
lto. Ning uém pode esqu ecer 0 grito patriético
mais com Sorde
Innamorato, documento do
qe ne ° ariter Psicolégico, nao encontramos
lees mt To tom do; sentimento, que interrompe 0 Orlando
e é impossi- m os mais nobres espi-
is tutes © desprézo e da dor que invadira
bee ns do sentimento aos pensamentos, rdad e da Itali a foi tolhida e sua
een, oe es) Praticas que os precederam. ritos quando a libe
pelo avancgo da solda-
oman on
Pelo
‘sario aprender diretamente estas coisas florescente civilizagéo ameacada
Cons ulta ndo edigdes recentes, po-
p Para alcangar os tons do sentimento desca de Carlos VIII.
ro Manz oni maculou o
8a0 as suas repercussées, demos verificar que Alessand
cant o do Adel chi com algumas infe-
“ poético primeiro
Entretanto, nao devemos esquecer que, pelo fervor patridtico, cortadas
lizes estrofes ditadas
Sias, €xistem as anti-poesias, da poesia. Saindo da
a isto é, as oemcoisas Sas
feias, e: pela censura austriaca para sorte
também as Mdo-poesias, isto & que corre de mfo e
as obras literarias, Estas literatura italiana para uma obra
sim, oferecem documentos Tolstoi carregou
4 historia extra-poética. As m4o, qualquer um pode obse rvar que
Primeiras porque configura mo que, embora
feio em virtude da in- Guerra e Paz de dissertagdes filoséficas
terferéncia dos interésses P raticos
‘ 5
eragdes par-
ou intelectuais; nas suas consid
gundas Porque
as se- nao carecam de importancia
nao resolvem nem dissolvem em Si éstes estran has 4 beliss ima linha poétic a do ro-
interé
n eresses, ticulares, sdo
mas os revestem com como simpl esmen-
mance. Quanto as obras consideradas
a bela forma
toria, na
n. a ora-
literatura de entretenimento
» nas efusdes, na basta olhar as citagdes e notas désses livros
te feias,
160 161

Ses
de histéria que descrevem historia de poesia a hist6-
OS costumes da Itali é e apresenta como
posicoes morais,
ensamentos ou de certas
centista Ou a origem e o curso
incluem Poemas, novelas, nms ‘AL, - de Riotme pape do espirito ex-
comédias e romances, rmplo as varias condigdes
ue ‘io ri oe ee ou
9° contrario da poesia,
“somantismo” e “classicismo”,
versos que nao sao vers
es eeune eee ais alavras S undo
porque cheios de erros o gre; ga dos terceiro e seg
tedavia expoem convin
de métrica © gramatica,
sre os eeC miicies dp civili: zaga
as
nomi a entre
o evid enci adas na anti
centemente as wesilidad
es: og séculos antes de Crist
desejos, os Propésitos, as lo “atico”, ou, ainda, a idéia do
aspiragdes e as agdes daquel
es o estilo “asiano” e o esti as
tempos. Quanto ao caso das desde a Fedra de Euri-
obras de literatura, nao nos amor passional desenv lvida
i o
deteremos Sequer para a Did o de Ver gil io.
esclarecé-lo com um exem
plo, pides e a Medéia de Apolénio até
e légica em si
Nestes casos, se a obra for perfeitament
POis os discursos Politicos, as arengas forenses, as
satj- tem” a sua
Tas, as diversas formas de com
ogao da literatura amena mesma, se propuser wu m tema que realmente .

as apologias, as confissdes e trata-l o de modo apropr iado, nao vale


autobiograficas, se situam razao de ser
de-
entre os mais conspicuos tmat
eriais da histéria politica a pena discutir as palavras do titulo. Também nao
e moral. Por outro lado, as prosas literarias, considera-
vemos discutir 0 titulo de uma histéria da “lingua” fran-
das em seu carater literario pela cesa ou alema onde, ao contrario, se encontre a histé-
histéria da literatura,
se incluem, devido ao seu cont
eido, na histéria da fi- ria do sentimento, da tradicgfo e da civilizagfo francesa
losofia e da ciéncia. Para serm ou alema através de sua expressio em sons articulados,
os exatos, em todos éstes
Fasoe Serta mais conveniente
nao falar de documentos literéria ou nao. Ai nao se trata propriamente de uma
Poeticos e literarios das histéria histéria da lingua, historia da “palavra” (que nao vive
s extra-poéticas, mas de
fatos praticos e Pensamentos
que ja Pertencem, por si concretamente senaéo na poesia e na bela eloqiiéncia),
mesmos, a estas histérias. Fica,
mas sim de uma histéria de grande importancia e ins-
portanto, Particularmen-
te demonstrada, e explicada trucao. Certamente o melhor seria evitar o equivoco dos
em seu sentido, uma pro-
Posicao que o autor enunciou titulos, mas o bom entendedor néo se deixa confundir
muitas vézes em seus tra-
balhos historicos e escandal por éles e sempre sabe o que pensar.
izou os que preferem o es.
candalo irrefletido ao esférco O equivoco se torna mais perigoso quando estas histd-
de compreender e refle-
tir: — “as obras feias e as obra Tias 640 misturadas com a histéria da poesia numa unica
s Nao poéticas sio muito
mais documentais que as obra exposigao didatica, como se fdssem histérias do mesmo
s belas e poéticas”, Se ha
alguma coisa a corngir, sera objeto. Isto ocorre quando se intercala uma histéria da
o fato de se ter usado um
comparativo ao invés do abso lingua francesa (segundo a acepcao adotada) numa his-
luto, e nao se ter dito que
apenas estas obras, e nao a: téria da poesia francesa, ou uma histéria da filosofia

162
alema, ainda que suméria (de Leibniz a Hegel,
plo), numa histéria da poesia ja acharam e afirmaram, que
e da literature iar lem acha: r, como
Mas, aqui, as duas histdérias diferentes Alguns pod os poetas € as poesia s seja
correm apresentar
em seus desenvolvimentos,
ne esta maneir a de que os apre-
e, embora haja fis ee que a do critico de arte
gruéncia literéria de tratamento (que mais dramatica Mas para
pode ser, amen olhar fri io do conhecedor”.
lado, uma congruéncia divulgativa e senta através “do vemos necessi-
eaccillsting os teatros, e nao
‘tate os espetaculos existem
nao ha propriamente uma falsa histéria dai para os “templa serena” do
da poesia anes dade de transferi-los
A falsa histéria da poesia surge, ao pensamento.
contrario, quand
a histéria extra-poética, politica, moral te a poe: sia a um crité-
ou filoséfica : A historiografia também subme
torna critério judicativo da histéria Poétic néo incorre nessa especie
a, redusiads rio extra-poético. No entanto,
a Poesia a representante de povos e partidos e parti daris mo desu mano , pois se restrin-
ou polé. de violéncia
mica, grito de revolta ou de guerra, industria que nao esquece a@ con-
e asticia, ge a uma espécie de ecletismo
arma de combate e até exposicio de idéias, éo dos puros valéres estétic os. Tornan do-se mais
sistemas e siderac
na concepgao
crencas. Assim, se reduzem os poetas a fildsofos, poli. humana e mais estética, ela se configura
e da his-
Hicos, Guerreiros, apédstolos, Predicadores, atribu
indo-lhes da literatura como “expressao da sociedade”
como espelho da vida civil, moral, reli-
colsas que Ihes sio estranhas, emprestando-lhes téria literéria
uma fi-
sionomia inflamada pela paixdo ou contrariada pelo es- giosa e intelectual. Este tipo de historiografia se estru-
f6rco da indagacao, a fisionomia que nenhum turou no grande avango que os estudos histéricos tive.
poeta ja-
mais Possuiu: o poeta que, como Ludovico Ariosto ram entre 1700 e 1800. Foi um avanco em relacao a
, “nell’
ampia fronte e nel fiso occhio e tardo — historiografia puramente extrinseca, biografica e biblio-
lo stupor dei
gran sogni anco retiene”. Um significativo grafica, e A historiografia que julgava a poesia e a li-
exemplo da teratura segundo modelos fixos, sem interpreta-las his-
Srosseria destas histérias 6 constituido pelas
histérias toricamente. Entretanto, hoje ela esta definitivamente
construidas segundo critérios nacionalistas ou variada- superada e nao pode mais sustentar-se ante os concei-
mente classicistas, ou, ainda, segundo critéri
os de certas tos mais precisos que ja se formaram acérca do que é
crengas ou seitas religiosas. Sem divida
hé pessoas que poesia e do que é literatura, ou ante o progresso me-
acolhem semelhantes abortos Para ai
projetarem a pré- tédico da historiografia. O érro que se aninha em seu
Pria incapacidade de entender e compre pressuposto é tanto mais insidioso, e portanto merece.
ender a possia,
= como a capacidade de participacdo dor de correcéo, quando se encontra numa obra de sa-
Politica, de fa-
Natica adesio ao condenar e absolv lutar eficdcia sbre a nova critica italiana, mas que, ela-
er eclesiasticamente.
borada na metade do século XIX, num ambiente he-
164
165
geliano e romantico, incorporou substancialmente éste também obra,
;
. agdes
caracteriz de cada
tipo de historiografia: a Histéria da Literatura Ttaliana Assim com o as
um tra-
al ODbtidas, mediante
ais
de De Sanctis. O vigoroso conceito da originalidade poé. as representagoes ger versas obras poétic as de
sdb re as di
tica, o frescor das impressées ai colhidas, 0 vivo sentido balho de abstracdo
ou época, nfo servem como
da individualidade da obra poética, nem sempre foram um determinado povo, pais,
de conservacao e reproducao dos resulta-
defesa suficiente e segura contra as conseqiiéncias do instrumento
tica para
dos da interpretagao e da critica histérico-esté
Pressuposto que De Sanctis adotou. Assim, ocorreu-the mesmo quando conseg uem
a finalidade da revocacao,
qualificar 0 Decamerone como a antitese moral da Di. efeito, se analisarmos
fixar certos tragos comuns. Com
vina Comédia, 0 Orlando Furioso como expressio do poesia,
cada obra singular, Gnico objeto da historia da
esgotamento de todos os ideais na Italia (afora o da comuns, ou, sé Os en
néo encontraremos éstes tragos
arte pela arte), a musica de 1600 e 1700 como a disso. com uma configuragao
contrarmos, éles se apresentaréo
lug&o do pensamento e do sentimento na vacuidade do diferente, do maximo ao minimo, e até mesmo com uma
som, Carlo Goldoni como o iniciador do realismo me- configuracao oposta, pois o sentimento da obra singular
derno, Giuseppe Parini como o primeiro névo tipo do os contraria e repele. Quer dizer: torna-se necessario
Ressurgimento italiano, Vincenzo Monti como o sobre- voltar a caracteristica de cada obra. Constata-se. pois,
vivente italiano da decadéncia politica e moral, a lite que estas classificacées, ainda que sejam manejadas com
ratura do século XIX como o contraste da escola libe- prudéncia e n&o se percam em generalidades vazias ou
ral com a escola democratica, e assim por
construcées imaginarias, s6 servem a histdria politica,
diante com
outros autores e obras. Embora em De Sanctis tais in- civil e moral, ao lado das caracterizagées da vida de um
terpretac6es fossem incidentais e superficiais, apenas res- povo, de um pais e de uma época, e, pensando bem,

quicios de um pensamento ultrapassado e, em parte, a tudo isto ndo passa de esquemas abstratos das histé-
marca da prepoténcia exercida sdbre o critico pela rias concretas. Isto também é facil de constatar nos
fun-
g&o de educador civil, que éle cumpria condignamente, caracteres gerais de cunho negativo ou Himitativo que
elas nos confirmam
se costumam fixar ao distinguir épocas de progresso e
a necessidade e a urgéncia de cor-
rigir radicalmente épocas de decadéncia, ou de progresso em certos aspec-
o érro que as originou.
tos e de decadéncia em outros (época “racionalista” mas
Outra ordem de questdes que igualmente contrast
am “impoética”, época “guerreira” mas “inculta”), ou ao es-
com a natureza do assunto tratado é constituida
pelas tabelecer a distinc@o entre povos filoséfioos mas nao ar-
indagagGes sébre o cardter da poesia déste
ou daquele tisticos, povos religiosos mas nao politicos, povos supe-
povo, déste ou daquele pais, desta ou daquela
época. riores e povos inferiores. Em suas express6es mais in-
tensas, a poesia pode surgir em qualqu
er um, cia, mas no
nenhuma destas épocas, em qualqu forga' s estranhas &
experiéncia e & conscién
er um ou em. ie fisica, esta histo-
déstes povos, assim como a consci me! tafisica. Sendo meta
a elocubragao eiras,
éncia e a atin se manifesta de varias man
Ga liberdade podem se manifestar riografia transcendente rial ista
vivas e coneretan des pos sua m ori gem mate
Periodos de opressdo, embora de
maneira diferente ne segundo suas elocubra¢: ncia da histéria”
o o nom e de “cié
Periodos de liberdade. Em ou idealista, tomand € de
qualquer dos casos ce histéria”, no primeiro caso,
bem aqui estas caracteristicas negati
vas ou limitatives
ou “ciéncia das leiss da No que concerne
a” no segu ndo caso.
= Servem, se acaso servirem, a histéri “fjlosofia da histori
a moral e politi eiro caso derivam as explica-
mas nunca 4 a historia da poesia, do prim
histéri i : r atra vés de entidades naturalis-
“revolucdes da soe gdes que se procura obte
", oda 4 poesiaaeja 6, =por itsi,
Ss ae cas na substancia e, portanto,
uma pequena revolucéo, criagfo de tas no aspecto mas metafisi
um “novus ordo”; © “amb iente geografico”, o “mo-
as chamadas revolucdes se referem sempre fantasiosas: as “ragas”,
aos conipir.
ment o”, 0 “aco ntec imen to”; do segundo caso derivam
tamentos praticos e sero chamadas mais
sGroprisde ante enti dades metafisicas cha-
mente de “revolucées do gésto”, isto é, outras explicagdes medi
das predilecdes do “infinito”, de
que determinam a moda. O Fidipo das madas idéias: a idéia do “finito” e
Nuvens, jovem do “amor”, da “romani dade”, da
“Deus”, do “Estado”,
e obcecado Pela novidade, repelia tanto o idéias inspira-
velho Esquilo “germanidade”, e assim por diante. Estas
rude, incoerente e Tumoroso, o suas
riam os poetas e falariam pela sua béca, tornand
como o velho Siménides,
a Poeta. Repelindo-os e a velha poesia, dessas
bém muites outras coisas enumeradas
repelia tam. obras verdadeiras “alegorias”. A uma e outra
dos
porque nao correspondiam & nova
por Aristéfanes, concepcées, e por vézes a ambas, devem ser atribui
que
por tais indagacdes consiste, como
moda. O érro gerado os pequenos prejuizos e os maus habitos do juizo
no caso das histé- levam a dizer que certa poesia é “verdadeiramente fran-
Tias pseudo-poéticas, em transferir
as categorias assim cesa” ou “verdadeiramente alema”, que uma outra nao
formadas no ambito da histéria politic
a e moral, onde poderia nascer sendo entre “as brumas setentrionais” ou
Podem ter algum uso, para o
&mbito da poesia, onde
s6 podem originar um abuso. sob o luminoso céu da Itdlia, que outra nfo teria nascido
, téo vigorosa se nao fdsse a repercussao de certo movi-
Finalmente, uma terceira forma das falsas histérias da mento revolucionario ou de certa vitoria militar, que tal
poesia corresponde & subversao
da historiografia em ge. poema possui um recéndito significado que 0 proprio
tal. Consiste em transcender desca
bidamente a histéria autor ignorava e é revelado pelo intérprete vigilante,
concreta para substitui-la por
outra, que seria a Teali-
1 como se fésse teofania de alguma idéia. Tanto na “cién-
dade na aparéncia da primeira conceito de causa,
e se realizaria mediante cia da histéria”, que trabalha com o

168 169
que tal
como na “filosofia da histéria”, que trabal
ha jtou afi rmar, declarando mesmo
cert de fim ou, mais exatamente
, de “finatide i — missa, nao hes: mara. A estas doutrin: as
dev em ser atri-
ae onde ocorre a mesma passagem fim ja se consu ss comuns que des-
de uma : Outra,
rn se tos juizos € prejuizo:
.‘ae ue buidos, ainda, cer da mesma quali-
oon de desenvolvimento ou “evo derivarem ou ser em . .
ee conhecem delas nas épocas racio-
nao a hipotese imaginéria, 0 Mito por exemplo, que
dade, , como dizer,
fo ese ou que as histérias
vimento ideal e histérico unido
ao mi nao pode surgir,
; nalistas @ poesia os, ou que
} \ssim, — circularidade do espirito, em circulos necessari
o seu “ nee da literatura se movem pratica, a poesia
nicorso”, se mitifica na eterna sucess época da acao e da
io de é cas hie na época moderna, iu dos homens
oe ae vao da barbarie a civili a fazer e ja se des ped
zacao e da Elica nao tem mais nada asp itar véla no
‘e pari om eters passagem de um grau a outta seq uer pod em
para sempre, e éles nem e sen sivel como
fore Rs ucessao temporal das épocas, cada ana mente sensitiva
uma céu porque, tao hum
: Presenta € exaure um grau do espirit encontrar ia luga r.
o. T; é, também ai ela nao
ta-se das duas mitologias em que Vico ca re-
e Hegel envsl, tér ias que analisamos tém pou
‘s ‘am Suas vigorosas
ver: i Tédas as falsas his o é na-
especulacdes constituidas pela “his. se man ife ste m, com
Man
Oria ideal . eterna” e pela “dialética” » conqui percussao na Italia, embora
stas perpé sas sobre vi ven cia s dev idas ao hé-
Simone a tural, algumas espar xando as
ere a0 _Pensamento filosdfico, de renovacao. Dei
bito ou a frageis tentativas
a susie oo to
‘ da histéria da poesia, a das obras a cargo dos manuais
Teo imine oe we istoria, a teoria dos circulo
como no exposicdes gerais acére
s histé- sticos , 0 melho r traba lho histérico e critico da Ita-
eaiiite eae entenda © perpétuo cresci escola
s histérico-estéticas sobre
oe or
mento do lia atual reside nas monografia
ne e @ presenca dos “corsi e ricorsi”, Em Franca, as metafisicas
os autores individualmente.
(“race, millieu, mom-
naturalistas & maneira de Taine
cadamomento particule. no cnve esto quase esquecidas.
curso rige
uni ati n
istéri ment”) ndo fizeram escola e hoje
ia 9 enriquecimento da moet conservam Oo grande
conn *s entigueel As historias literdrias 14 escritas
a : moriainaacee humana. Por personalidade dos au-
outro lado, a teoria mérito de dar um vivo relévo a
S, segundo a qual cada época a nao disti ngam perfe itamente os proble-
realiza uma tores, embor
parte tanto , na Alemanha,
mas estéticos dos biograficos. Entre
veaslmment
do ot e 6
todas j
juntas © completam, assinala
ae ‘im da politica, da vida ética do sécul o XVII I impri miu o maior im-
e da pré- que até o final
Prat , renovando-as
oe la que entaéo alcanca o seu térmo
ideal, bem pulso & estética € a histéria da poesia
im ou a reina hoje a maior confusao neste setor,
morte da poesia que entio profundamente,
esgota a
Sua miss&o, » c como o proprioi Hegel, “corruptio
coerente com sua Ppre- a ponto de nos aflorar aos labios o ditado da

171
optimi pessima”. La cult
iva-se como histéria da Poesig E A PERSONALIDADE
uma “Geisteschichte”, isto é, uma histéria vi- A HISTORL ‘A DA POESIA
; ; sande
espirituais extraidos de Problemas POETA
das obras poéticas; ou entéo da poesia q'
“Stilgeschichte” que
consiste
uma
Que dev: a. r
ee e faze o critico e historiador
na histéria do espirito de documentos e noti-
amontoado
“classico”, do espirito
“romantico”, do espirito “barroco”, se encontra ante um semp' re faz
ou de outros €spiritos,
? fle deve fazer o que
e sua alternancia os dc-a
do; ou entao uma “Gen face do mun.na
ee Imente ed conhe hece o seu oficio: afastar ;
erationslehre” que proc exclusivame .
ura ex. que se referem
plicar as mudangas da
literatura mediante a Pas acme € noticias .
seonomis
de uma Geracgéo a outr sagem Ce 4 do poeta (suas vicissitudes
a e através das Person i Ss! as relagoesoe gue
Produzidas por cada uma alidades ' ‘Shon seus
abitos : prazeres € sofrimentos,
delas; ou entéo uma “his an ©
e' ‘
tia dos paises e das esti té. oom ais, com a mulher, com os filhos,
rpes”, ou seja, uma histéria i
vida ublica
pub i (supost
eee
Poesia enquanto reflexo dess da sese veferem ¢
referem exclusivamente a sua
as coisas. Assim, freqiiente. n om
mente se incorre nos delirios ha alcancgado alg tum destaque c
do nacionalismo, do racismo, inistro,
mint: , P' prefeito, gov!
do anti-semitismo, e Por ai a partido,
de ida, agitador, deputado,
se arrasta a poesia, gritando concerne exclu-
que para nador, > etc.), )» e também tudo a qd uilo q que fil
os alemaes a tnica medida deve ser a “deutsche mo
Dichtung” e a “deutsche Kuns sivamente aos seus estudos de boten + vec alivedin
t”, e que éles nado pro- também ten!
curam o “belo”, como os corr sofia ou histéria (caso éle
ompidos e débeis latinos, aoe
mas o “titanico” (que alids campo da ciéncia). O critico e historiador
muito nos tenta a um jégo se referem a poe ia san
de palavras com “tetanic sdmente os docume ntos que
o”...), Sn se
O conceito da histéria da terial excluido, junto com todos os demais, se
Poesia que coincide com conside racdo pelos histori adores das cares ariplen
juizo da poesia esta muit o em
oi oo,
dos cultivadores de uma
o distante de tudo isto.
Um vida. Quem narrar, por exemplo, os fatos
e me.
literatura que enumeramos
dessas formas de histéria
da florentina falaré da batalha de Campaldino
acima declarou, com su- que estava entre os combatentes; aotecd waa, "WelFonsg
Perioridade de cientista, i
que nao se ocupa sengo ao-ducado de Weimar
trabalhos historicos e de
nZo lhe importa saber seu ministro da guerra ou qual cous
Poetas que produziram belos quais os Goethe. gue foi
versos. Esta afirmacdo nos quem escrever a historia da botanice e
obriga, léogi parecida;
camente, a concluir que uma Poesia en aa ana mics
to tal nao é, de fato, um acon
enquan- tomia e da fisica, trataré ae
tecimento histérico i ,
ldogicamente, ela nao e que, e, de suas ideias
subsiste. Esta é a conc O historiador da
epeao sub- oe a 6tica newtoniana.
entendida ou implicita ecnie
em tédas as falsas ocupar-se
-se com
histérias da no entant 0, nfio ti tem mot tiivo para
literatura , Pp joesia,

172 173

L
estas coisas, E indtil objetar undo
que cada a e 0 primeiro e 0 seg
i mogt eneidade entr
“ ue cmon cade experiéncia, elk, po comtrar a ho vari as part es.
a de suas
Pes oe rashie letem de alguma manei Faust ou 2 coerénci:
ra na sua éstes recursos,
_ * am pliar a filologia com
ne i saa itimos que na poesia
se reflete nado A esperan¢ga de ilm ent e certos as-
me: Jhor e mais fac
mente aides an autor mas a de todos a fim de entender serios a indagaa ¢goes
leva os espirito: s
os outros ho.
ou seflesls iginas a ise pectos da poesia,
universo inteiro, Esta objecao Cer tam ent e nao lhes
a dos poetas.
ras, eager cae ne ne leva muito adiante ao pro- acerca da vida pratic a diversao
levianos, buscando
cabe culpa se oS espiritos
am
todos os meios possiveis, transform
dos para
a interpretagdo oo. ou a fama por
ner selectone- os de lixo
exto para jogar montur
lb shear “referéncia @ poesia” significa tais indagagoes em pret que todos
poetas. Isto é algo
merei nents
exatamente erudito sobre as obras dos
necessarios, ou pelo menos uteis, m pode impe dir, tant o mais que fre-
deploram e ningué o.
o culto supersticioso do géni
Tia= a interpretagio ra oma dete qientemente ai se inclui
ermin
rs ada
fae ean
poesia. "aces surg em muit os desv irtu amentos da poe-
Assi , Dai, certamente,
ParaSoe obscura alusao, no décimo canto térno de histériazinhas,
e disputas em
sia, bisbilhotices e
maine wake an quais Guido Cavalcanti, o “pri- vra de tal modo que quase
fedot na gene quase irmaéo de Dante que cortam ou abafam a pala
, nao estava a seu se saiba pouco ou nada sé-
ue Danes eee talvez no fésse indtil recor nos sentimos alegres de que
dar are e sua vida pratica, ou que te-
easly oe ee Os governantes que o enviaram para bre William Shakespe
o nome do autor em algu-
tio oera net nham esquecido de colocar
no do qual Guido morreu. Tamb
fone eons Mt eto saber que Goeth
ém
mas belas obras, como no Lazarillo de Tormes, pequena
e Organizava suas romances picarescos.
oe conned i‘ eas bastante divers obra de arte e tronco de inimeros
as daquelas com que a poesia pelo conhe-
wines a levers Na verdade, as vantagens trazidas
(como ficou demonstrado, em
s nao séo muitas, nem
cimento da vida pratica dos autore
”Ur-Meister
af ), e possufa usoe ee indif
biteereng
neea wane insubstituiveis, nem incompenséveis.
oe
secuioee a sua poesia. Afir-
O poeta nao é, pois, nada mais que
tex me eae te (a0 ponto de eatienec ou ie
a aos que desengavetasse um parad oxal se consi derarmos que
caderno d macgao que nao sera
© incluisse nos Wanderjahre nao é mais que a sua filosofia,
o
. também o fildsofo
tar o volume). Alias, estas infor é mais que a sua agéo € criagao
macées Stee tua homem de estado nao
to com ia e da politica tra-
politica, e os historiadores da filosof
que manipulava a forma externa de ‘vue chee
lem servir de aviso para nao nos trapaca s de Bacon ou das coisas
obstinarmos oy im tam disto, e néo das

174 175
que os soldedos atribuliam ente e as outras nao
#40
0 exp rimem plenam
a Nicomedes, ancfier aan sits itn ou algumas isto obse rva- se que
mais qu e esbo
cos & prenancios. Por estado
Quando um poeta néo compde mais que uma alca ncar a plen a expresso do seu
poesi o poeta, apés ou s€ repete de
Duis colniae coneerva @ coracteristica que lhe 6 att ndamental , logo se cala
de espirito fui neiradamente. No
en-
eo ula oe ‘ato, com a@ sua Gnica poesia. Mas a inf eli z, trabalhando ama
ma ne ir
réri o, que cada poes ia seja
r, ao cont
tanto, pode ocorre do de espirito em
ou totalidude vito cme nec smo mo’ tivo ou esta
" oni oe tee irradiagao do me suindo cada uma
tréi, para ulém da considera io de a la pe ia B as diversas , pos
rae, situagoes € circunstanci qua to Tasso é um
teraticn do nutor, a Sefaciotiation as ie tee za prop rias . Tor
sua autonomia e bele
one ae do primeiro caso ; Petrarca e Leo-
ee exclui de consideracio, antes de exemplo aproximado exemplos do
ées juve nis) sao
ain ‘ne ° ras imperfeitas ou feias a que éle foi pardi (excluidas as canc
segundo.
poetas iulte itentn a elu em seu trabalho de ca-
Thani
ambicéio ie ar-
tentar an
de tentar Mas pode ocorrer que 0 critico,
gumentos estranhos no seu ou mais diferentes estados
oritnangrse.

i dois
j racterizagao, depare com
negacées, nio forneceriam reget Cato que se sucedem no poeta, como
te . de espirito fundamentais
ieee do “dolce stil nuovo” para
uma consideraciio posterior, em Dante, ao passar da lirica
Geiden ave tle subsidiéria, a obros niio poéticas e@ li- Goethe, ao passar do Werter e do
a Comédia, e em
on peta comnton, to dee (e, de fato, quase todos diferentes estados de ex
Fausto para a Ifigénia. fstes
, vézes em mai tamb ém pode rao alternar-se, como
pirito fundamentais
pow misturando-as indiferentemente coments mos dramas sor-
no caso de Shai kespeare onde encontra
ninth oe fabs igunlmente vélidas do seu tragicos: os primeir o$ aparece nas
ridentes e dramas
retornam nas dltimas obras.
obras da juventude ¢ depois
te do eritica concontrase aunte amen gt entéo, um estado de espirito mais
8 mete O critico procura,
pelos eat de procurar desenvolvimentos e mes-
ftina buen que onige multe profundo, suscetivel de grandes
aaa ee ferent ene ee observucées do que as surpreendentes, ¢ assim unifica, dia-
mo de reviravoltas
= ov de espirito. Se, depois
rere “in porma considerada isoladamen- letizando-os, os diversos estados
pirito fundamental do autor, obra em particular ainda resiste a ésse
disto, alguma
encontrar @ sua
Cada obra cdo poenia isoladamente
° po: I processo construtivo e nao é possivel
Conmmivan tontativas ¢ aprcalinnetes fica @le passa a consideré-la como
ligagdo com as outras,
seal ‘to
reulizacho uma se-
nascida de
dévae estado de ospirito fundamental , mas
;apenos uma “excecéo”, isto 6, obra esporddica,

176 177
mente que 0 vento jogou no deol
entrete-
campo, em contos
hipdtese de que,
DAO excluindo a xemplo, iIhac - Halévy), ou na tam
mais tarde, éle ou Chatrian). Também
uma Outros, mediante nie
busca mais acurada, consigam reduzir
nimanito (Erckmann 108 mais propriamente a ae
éticas,
@ regra e encontrem a excecio olabora¢goes
a ligagdo que num Prim Goncourt, onde, embo: ae
mento escapou aos olhos eiro mo. como o caso
a a d los irmaos
e 0: oul
da mente. i
arquitetar e 1i maginari
asse i
O objetivo déste trabalho o sobrevivente Got
lizar, feamo
itieay,
Ce € esti afirmou
— © mais alto que o criti ‘
escr ever tral a-
pode alcancar e Para o qual co . 2 ue ambo 5 fundiam-se num unico
os bons c Titicos das poes
ias dois), é claro a yemplo das diversas tendéncias ¢ a
singulares séo muitas vézes
ineptos - € forjar um ins. Xenia
te
indivi Oe s
trumento andlogo ao da inte
rpretag: ao de cada Poesia, a aera *: na mente dum mesmo individwo.
que sirva para nos orientar de Goet * eince ne
sébre a totalidade da obra sam ublicados a sob os nomes
de um poeta. & facil notar quails os : veritado:
que tam! bém éste sucessivo ee i os curiosos perguntavam
im ace:
trabalho de Caracterizacéo tem a um e outro, Goethe respondia
7
sido acusado de impos- > naben ‘1am
ee
sivel e abstrato, e nado vale a algum valor! Como nao
5 se com
pena repetirmos explica- Seammo sé isso tivesse i

au Nos . np seme
¢Ges j4 apresentadas e Tefutac6
es j4 procedidas. Os en. we apenas aquéles disticos estarem
saios ou monografias sébre os disticos. As: vézes eu: dava ee: ateas
poetas atingem sua fina- juntos muitos
i isti
lidade quando nao sao simples ocorria O es * oven
compi lagdes de informa- : Schiller o verso; as vézes
ces abstratas escreviat um verso e Een eu © ib
e comentarios estéticos das diversas poe-
vézes Schiller
i
sias, e conseguem dar a Caracteristi Como é possivel, entao, falar do q
ca do motivo ou do
estado de espirito fundamental é teu?”
do poeta, corrigindo ou
enriquecendo de alguma maneira aquilo ainda, 0 caso em que arias
vari obras se re-
pos- que ja se Pode ccorrer,
suia sébre o assunto. fundament tal e,
lacionem a © mesmo estado de espiriito
Se luos diversos.
ncaa ds
A relacéo que se estabelece
entre a personalidade poé- nao obstante, tenham por autores
tica e a vida Ppratica do Sa n te a.
homem- poeta é a mesma que Ai surge a dificuldade ae
se estabelece entre a Poesi bial
a e a vi da pratica; quer dizer: ela nao es indiscutivelmen'
nao é uma telacéo de ident e e a autori a por taz6es —
idade nem de dependéncia. Présas quando, 7 eil
E, embora a uma Personal estilo,ae unificadas as ol
idade co: Tresponda geralmente nas, isto é, de entonaga o ee
um tnico individuo Ppratico, ja con! ; een erta de
, *a descob
fisicam: lente distinto, também na pessoa de um autor
se conhecem que & as, pe neem eea outro
casos em qué os individuos fis icos corres- documentos nos comprova *
i
pondentes sao dois ou mais.
Nao é rara a colaboracao Embora isto tenha ocorrido mui
de dois individuos na elab cinco séculos devido @ arte
oracao de obras te eatrais os titerenora
na litera’ dos Ultimos
(por
178 179
impress&o e As leis sébr
e propriedade literari nos vers S08“s €
Muito freqiiente na lite a, suas mulheres, exaltada
ratura dos séculos XI. é um fato atos: a virtude de
nas cartas privadas; a cor
cheios de rimas anéni Te xiv, desmentida ou ne gada
Onde os cédices estao
outros,
autoria duvidosa, Reflet a, que nos ! versos inflamou-os e aos
indo bem, constatamos masque, ounew.de civil e guerreir
i da nos fatos da eee. vida; a
tas indagacdes acérca da i vi dencia
autoria, © que efetivamente, s que,
ainda que inconsciente ae
celebracao, vce
ao, na poes ia, ie homens e feito
mente, se busca, o am ou mal suportarem:
mente se desc que efetiya. rezaram, abom inar
obre, o que realmente e cerim oni ae
tem
algum valor ag essario citar a afgut a
Para a histéria da Poes cae
ia, nao é um nome ao rei Carlo s II, quando ‘ste
numa poesia, mas o valo Para colocar See ie pate Walle r
r e © carater da Prépria es que o poe
poesia, ee Prende inferioridade das cangd
E necessério manter cios do 4s que comp usera “
amente separadas a pers ceapanha oh éle em relag
onal ida-
de poética e a Personalidad s, somos melhor ~
e pratica, bem como as
duas Cee el “Ma jestade, ndés, os poeta
vidas diferentes do homem-po Quem conhe ce a poesi a e © corag
eta, excluindo religiosamen main eu fieeao !” e
te qualquer deducéo de . cedido:
it!
cante aq) il 0
uma a Partir da outra, acha te
muito natural que o h homem
para hu mano
evitar a seqiiéncia dos erros i que niani ae ter * an quan-
de juizo que nascem todos deseja e nao possui, aquilo
da confusao entre as duas e condig6 es para tanto, ¢ tenbem
Personalidades e as duas vidas
. db the faltam fércas
A imagem da Personalidad vézes,
. é do contras aoe
e pratica, quando sobrepos
ta i. i ito natural que, mu itas i
4 da poesia, falsifica-a, como a e : o ideal: que Preocupupss ¢ .
também a imagem da poe- vida ‘imagen e pecador
iia
sia falsifica a da vida prati poesia mais pura e pobre hae
ca, atribuindo a esta, que enta, surja uma
realidade pratica, o sonho é “.
oins: nes nae
da poesia, e aA outra, que a poesia
a

ia, como j4 se disse, : nasce do “desejo d
Tealidade poética, os afeto é ne as pe
s € as emocoes do hom e nao do desejo satisfeito, do qual me
Pratico. Dai certos Protesto em . TSO-8>
s dos poetas como: “Lasciva Muitoi necessario 4rio 0 observar o limite imi en! e waea a io
est nobis pagina, vita Prob porque os pe m™ aaah ean
a”. As vézes se engrande nalidades distintas
uma poesia transferindo-lhe ce nho mat:
o esplendor da vida prati
- maus, € mesmo a Iguns que possuem, ,

cujo espirito é pouco fino, tentam impressions


de atos singulares, i
bizarros ou es losos,
bicdes
versos um interésse que nao pos-
pr ‘ocuram dar aos seus
snes “jen”
suem ou diferente do que poderiam
etas, mediante se chama a personalidade poética de ,
a compara- 1
exaltaram em suas poesias ie com a person alidad e pratica , que seria
€@ 0s que
oa oe
nutriram na a para
“veal” mae 8 primeira é tao real quanto a segund
Pratica como motivacdes de seus
180 181
quem afirma a realidade dos poetas como o Esta idéia verdadeiramen-
apé tinto d le rapina.
afirmou a de Cristo ao dizer que nada queria sehen de sexo € ins festa ou veladamente
se faz
ta , que mani
Cristo “segundo a carne”. Os poetas sao pessoas
tes ‘e te decadentis , na Aleman ha prop orci o-
o o mun do atual
que nao habitam um supra-mundo mas o nosso m notar por tod orde m (“Pe rson lich keit ”)
e 4 pa javra de
vivas e operantes na pura humanidade, as quais nou o principio éria literaria que,
ped
um a esc ola de historia politica e hist
mos e obtemos a docura do consélo. Giosue a dos particulares
Carducci tos particulares
(permitam-me recordar éste trago duma de suas liricas, nao obstante Os méri igur a uma falsa
, promov e e conf
pois confesso que sempre me comove) pedia-Ihes tite trabalhos que produziu 4s que ja
que dev emo s acre scen tar
leza e resignacéo para sustentar e aceitar o inti histéria da poesia 0 pato-
uma falsa histéria que traz
supremo da morte, que éle sublimava e suavizava, con foram mencionadas: mente
s com por ta pa tolo gica
siderando-o como “o vau que o Homero helénico e ° légico nos seus principio e se
ret agd es e rep res ent aco es.
Dante cristao atravessaram”. em muitas de suas interp
Ante: éste elevado sentimento, ante esta legitima inte. vit - A POETICA EMPiRICA
ligéncia da personalidade poética, nao podemos evitar
se forma em virtude das categorias
O juizo estético, que
uma certa aversao ao ver que o sentimento e a idéia
puros, é substancialmente
de Brande parte da literatura, da critica e da historia mentais, isto é, dos conceitos
empiri co, como filosdf ica e nao empirica
atuais, transformaram-na em outra coisa: um mérbido
filoséfico e nao
e ciéncia da cate-
espasmo de nervos excitados, objeto de uma atracgao é a Estética, metodologia déste juizo
sonham uma
igualmente morbida, igual & turva comocdo que o Santo goria do belo. Nao se entendem os que
Anténio de Flaubert exprimiu ao ver o enorme a empir icame nte por indugo es e ge-
Cato- Estética que proced
blepas que se alimentava devorando inconscie acées, fixand o leis semelh antes as da fisica ou,
ntemente neraliz
as proprias extremidades (“sa stupidité ientemente,
m’attire ”) talvez, as férmulas matematicas, e, conseq
Nestes espasmos de substancia nervosa a nature za do juizo estétic o. De resto,
tudo se eiivels, querem modificar
© se transforma em frémitos, espasmos avelmente
e contracé : tentativas dessa espécie tém falhado miser
voluptuosas, dolorosas e libidinosas, interés se que
A cestnalitiad e, inclusive, tém despertado tao pouco
ae ms we pela obra, mas, ao contrario, a trar quaéo sim-
oticn quase ninguém se preocu pa em demons
inida pelo fundo anima! em observar
indivi ida plista era o seu proposi to, nem se detém
sameree e se perde. E cutie a poctia execugio,
(an om por passatempo as varias ridicularias de sua
a falar em poesia), cad. m de meé-
i = embora ela se deva a homen s que no carece
bém se contenine e trazariite as, de Fechne r.
Sana oesiay
repugnant tae:
e cheiro rito sob outros aspecto s, como é o caso

182 183

——— |
das
numa evidente metaéfora
Tudo isto néo impede a legitimidade tanto do juizo “arcadismo”, originados form as
ado certa s
em.
épocas cae em ue parecem ter predomin
Birico do belo como de uma Estética ou de uma que, depois, pas-
Poética deformacdes estéticas, mas
empiricas, compostas de conceitos empiricos e com a verb almente, psi-
ene definidos, mentalmente ou
sua funcao especifica, que é classificatéria e nao cog. mais hist oric amen te, segundo
sol i me te e ja nao
Noscitiva ou judicativa. Entretanto, essa Estética (bem nos. Inve rsam ente , ocorre
como os seus correspondentes juizos) nao pode substi- ee neres rcaractoren huma
seu:
désse s conc eito s seja usado , sempre
; fa que ‘elt
tuir a Estética especulativa; pelo contraério, quando é
nte a mesm o proc esso metaforico, para caracteri-
aplicada apropriadamente, ela a pressupde e toma coma eaii
exemplo, o conceito
épocas histdricas. Assim, por
fundamento, se é verdade que a psicologia (a psicolo- se de ; na “o barroTe -
momi
as forma particular do feio que
gia e nao o psicologismo, que é mé filosofia e metafi- design ar, na Itali a 7 em en ae
co”, o qual passo u a
sica) pressupde a filosofia. (até ei
parte da Europa, a literatura e a arte
menos, s Mane
Estes juizos e conceitos empiricos ou representativos ja costumes) da época que vai, mais ou
nos s&o conhecidos e familiares, pois ja vimos que éles peniltimo de 1600. A ver ade, m0
quartel de 1500 a0
atuam de duas maneiras na obra da poesia: auxiliam é que éste século nao produziu apenas
entanto,
© juizo estético no reconhecimento do feio e no negativo, mas também obras respe!
registro feias ou de valor
algumas que
de suss miltiplas formas, e facilitam, mediante ésse taveis pela eficacia literaria, inclusive
juizo estético-histérico, poética, cujo carater ¢€ mérito =
a interpretagio e a revacacaéo suem virtude
da poesia, ndica dos em nossos dias contra criter tos muito
mercé da Caracterizagao. sido reivi
palavra come -
Uma poética empirica nao subsiste estreitos de juizo, nao 36 nas artes da
e€ nao é mais que justamente daq'
a série, continuamente aumentada artes figurativas e arquitet6nicas. Mas
por especificagéo pro as, contra es que
@ressiva, de duas ordens de conceitos partem as objecdes, alias pouco argut
representativos: negativo origina’
@ primeira restauram e sustentam oO significado
pode ser denominada de valoracgéo, ou mais que é 0 dnico tedricamente correto - © ae
ezatamente de comprovacio, do térmo,
e a segunda de qualificagiio, wales quando
ou mais exatamente uma forma do feio. objecdes one
Estas
de Caracterizacao,
afirmam que algumas obras “barrécas sso belas e, por
Como tais, estas duas ordens
se constréem com elem é uma “forma de arte”, isto & quan
lo
tes universalmente humanos, en- tanto, o barroco
referentes a alma humana. io do
£ necessario passam irreflexivamente do uso cientifico e propr
quese atente nisto Porque entre desig nar
éstes ele. térmo a metéfora usada histo ricam ente para
mentos se encontram alguns que,
Por vézes, assume
m um complexo ou uma série de obras
que, sob 0 aspecto
nomes histéricos como “alexandri:
smo”, “seiscentism
o”,
185
184
estético, pelos tratadistas
devem ser consideradas e julgadas aton”, catalogados
tethon” e do “aschem i to tempo nossa perce pcao e ca-
em sua ii.
dividualidade.
Ha mu
greco-romanos. mails agud, a, mais
profun-
Ass elabor aco
rages idati as que possuimos da Poét;
didatic feio tornou-se
racterizacao do tic a (na ac epcao
Pirica
varias séo pouco satisfatéri enciada; a nossa casuis
Orlas, exatamente pelaa ce esca: da e mais difer rica.
sonscienei" lo seu propri|o mod tornou-se extraordinariamente
odo de ser, pois, 2 ao inyé
invé:- positiva da palavra) complicados,
cmpitien os mais variados,
r {see deveriam) num plano tigorosament. Analisamos e apontamos de desvio
joeiee de Noes fugidios e reconditos, modos
mos problemas e conceitos Pa freqiientemente e bnilhan-
os mais engenhosos
:
de anteioa s la: Estética4 ! e da Poétié ticaBre e, » POr isto,
i a chi elas
estao i " da simplicidade poética, entre ©
nen eas teoréticas, de definigdes confusas 2s mais sutis separagdes
e arbi. tes intelectualismos, os mais habeis
0 ritmo dos sons,
as Alen ane beleza, da poesia e das formas da ritmo da intuicao e de repeticGes ou
através
Poesia,
thedidia weem isto, ja
j4 se mostram terrivelmente enve- fingimentos de novas intuigdes existentes. ja
de expressdes ja
mene » A
mesmo em suas Pp artes me ramente i combinagées extrinsecas “morbidas”
chamadas formas
que poderiam ser de alguma utilidade. conhecemos inclusive as
=
origem moral, é muito grave
Estas4 elaboracd da expressao, cujo vicio, de
clecivan ragdes didaticas
: : se fund: l|amentam, quase ex- da alma, mas nao é vulgar, pois
pee porque atinge as raizes
Na antiga tripartic&éo da poesia em lirica, por vézes, a aparéncia
he
< ; e
cconei dramatica, ' e Nas faz com que as obras assumam,
e antigas
i divisé
isdes da retéric:6ri Mais profunda e aguda, mais
ei ep ‘amente transferidas para a_ poesia, de uma beleza doentia.
po a nossa indagacao atual acér-
: fina e elegante, tornou-se
‘ ando a antiga
fiers wea r elacao a dos viclos
vici em que: para com 0 cristianismo
a »feaforma ca dos impulsos do sentimento
ieee aoe oe incidir, da
: Ainda : nao se aperceberam d. le que para com 4 introspeccao
e seu sentido de pecado,
ek a - Poesia, especialmente a dos tltimos cin- moderna que procura conhecer o homem
ci consciéncia
da alma,
videdes ne vm elaborando Por suas préprias neces- e penetra cada recanto
em sua plena realidade
que, slém te ween caracterizacoes e as MO-
série de conceitos empiricos de tal forma que as modernas
soe, colocens : " stituirem da poesi a estar recer iam um antigo,
a quase inteiramente os anti = dernas categorias
a medida do imenso pro-
rextaeeipmese Stincoes que a idade média,
a renas enquanto a nos proporcionam
mento .
biéem sequer g Oo e€ 7 0 néo-classici Ssicismo nao percebi inae gresso alcancgado pelo pensa
derac goes, seria convenien-
ceitos n egativos
: ‘uspeltavam. No que diz respei con. Como decorréncia destas consi
e Teprobatoérios
vemos que pene compi lacao dos novos conceitos de cate-
bem hoje 808
éles Con
sao te tentar uma
diferentes do “pleonasmo”, léxico terminoldgico
Peinose”, da “macrologia”
da “tautologia”, da “to- goria, ordenando-os na forma dum
, da “cac e literér ia, ou entao (e isto seria me-
, ozelia”, do “cacosyn- da critica poética
186 187
as
lhor) na forma de uma
sistematica empirica que og : i
Para Rosenkranz, por a
agrupasse por afinidades. princi ipio de ordem.
sacpi nao so “ in
Mas, nesse segundo caso, Feio er m constituidas
necessario prevenir cautelos é categorias do ¢
pelo “informe” e outroseo
amente o Perigo de apertar
pelo “ d
6ni
rménico”,
demais os fios da sistematic correto”, pelo ee 5
a empirica ao ligd-los com oes formals, mas também
Os seus principios filoséficos, melhantes desvio pelo “repugnante,
Pois, se assim Ocorresse, a pela “malvadeza”,
Poética empirica flutuaria, se pelo “criminal”, q ue the su-
confundiria, e, finalmen. ou qualquer outra ail
“diabélico”, er samente
te, se dissiparia. de a .
reprovagao orror.
me ‘um sentimento
Restringimo-nos a esta adverténci empirica é i re
a por considerarmos ; finalidade de uma Poética
desnecessério expor e refutar os de um instrum a
tratados especulativos pratico: consiste na obtengao
svities
e dialéticos que se Produziam
até pouco tempo atras, concreto que encerra
apr eender o contetido cons’tituida por
Principalmente na estética alema, ologia até at agora
a cujo elenco de ca- ite
¢ ofreti ‘amente
rmin
a term ino
tegorias psicolégicas extraidas das feio e caf:
poesias particulares juizos negativos do
se dava o nome pomposo, alids eniente que, nos tra’ta-
veni
j4 lembrado, de “Dou- ; jas poesias.
i Poi 1 isto, » seria com
trina das modificacdes do Beio”, enqua dos et itosee
féssem
nto o elenco dos dos, as definicdes nominalistas See lini,
conceitos negativos era chamado iaiaeanene
de “Fenomenologia do acrescidas de exemplos pial
Feio”. Os fildsofos que os produ mesmo tempo, seu On
ziam assumiam séria- mostrassem, ao com
mente a inutil fadiga e, com herdic déles f° a gies
o pedantismo, supor- a aproximacgao que através eenere Be
tavam tormentos infernais, dignos constante de amp iar oe
de Sisifo, de Issiao a necessidade Ge
e das Danaides, ao obstinarem-se 7 Se aad
em deduzir especula- © discernimento, e, também, se ttiplow
tivamente e desenvolver dialé a agement 7 . ower
ticamente os conceitos em- manece entre
Piricos, que sao nominais q _se eeae ae
e nao se desenvolvem, mas i intar éste
e cultura a nae * seteedis ®ve
se justapoem e, Por isto mesmo, sempre escapavam aos Sees SE
s€us sempre renovados esforc
os. E necessdrio acrescen- sae
tar, ainda, que os Prépr nie S- Um: opera spon iti trabalho
ios conceitos empregados ;
eram hauridos nao e histéria da poesia, pois pre
na critica da
Poesia e da arte, ek “ ta
mas nas oud
confusSes vulgares do do por exercicio e experiencia,
belo artistico com todas as outras SS
poe umee guer wl
coisas a que ésse nome © no cére
ecco bro i dos 0}vatros mas no nosso proprio
€ atribuido Por metafo: nfo mais criagao aes
éles filosofaram e diale
tizaram sdbre o que
ra, Assim,
@o é apenas um trabalho de
pra ico
losofavel _e sébre cérebre. Nao de intelectiva, mas de equilibrio
uma mixérdia inadmigsi sempre atingi
vel mesmo nem
numa Poética empirica,
que possui, também ae sabedoria,te, al uma sabedoria
ela, o seu esforcos mentais.
pe Jos grandes
188 189
POETA
IV-A FORMAGAO DO
TI ST IC A
EA PRECEI
E DISCIPLINA
- ESPONTANEJDADE
histéria
mo do poeta encerra @
Como o sentimento inti ia dos sé-
to, ai frem e a poes
e, junto com © pensamen
e transfigura em sua nova ex-
culos que se transfunde
éle simultaneamente s0-
é
pressao, entende-se porque
de cria gdo original e pela ne-
licitado pelo jmpeto
da poesia que 0 antecedeu,
cessidade de seguir a voz se
coro. Antes que
respondendo-lhe como se fésse um
ce dizer ta-
fagam ouviras exortagoes alheias, éle pare
tu mesm o!”, “Sé fiel a na-
citamente a si mesmo: “Sa
os gran des mode los! ”
tureza!”, “Segue
contraditorias, e, no en-
Estas exortagdes podem parecer
convergentes num unico ato
tanto, sao concorrentes e
dade e necessidade,
que 6, simultaneamente, ato de liber
lina, tao indivisivel que, se
de espontaneidade e discip
um térmo sem 0 outro, 0 térmo isolado de-
tomarmos
Que signif ica, por si s6,
saparecera por entre as méaos.
da natur eza”? Sera, talvez , as tals “cépias”
“imitacio
s naturais, que nado
ou duplicatas dos fatos e dos objeto
a arte nem ao conhe cimento e se fazem
pertencem nem
? Que significa, por si
por mera diversfo ou habilidade
Talvez a repeticao da
sé, a “imitagao de uma poesia”?
a multi plica géo das escrit as e das impressdes
poesia,
talvez o plagio, que é um
graficas que a contém, ou
e indife rente a arte? Que é, por si 50, @
fato estranho
origi nalid ade absoluta ou
tao falada “originalidade”, a
mund o se inicia, por inicio absoluto,
abstrata? Acaso 0
o névo poeta ? E em que momento da sua vida ocor-
com
abrindo um vacuo entre
reria semelhante cataclisma,
circu ndant e que 0 precede?
le e a realidade

193
é, que,
Na verdade, tais extravagancias
jamais passaram pela poesias nunca sao originais, isto
mente daqueles cujas palavras Parec ventam que a subsi stem enqua nto poesias. En:
e, ndo
em inculcar qual. em ultima analis
quer uma dessas exigéncias mediante sagacidade e 4 sua argucia esta
a exclusao dag i ginjnam que 4 sua
fo ima
tao ssoas, demonstrando
outras, e tanto é assim que, se os interr de alertar as pe!
ogarmos, respon. reservada a honra r
deréo que falam de uma originalidade eis que oS poetas costumam vende
“telativa”, de com provas irrefutav
uma imitagao roub ada.
“nao material” da natureza, de uma imi-
ce mo legitima 4 mercadoria
tacgao “nao servil” dos modelos Poéticos. a
E se buscar. o dessa imprudente neem
mos os motivos especificos de suas exorta O unico efeito obtid a
cgGes, encon- extrinse cas ap a
um registro de semelhancas
traremos, concretamente, uma referéncia o descrédito la pesq ise
‘uizo intrinseco e estético foi
de censura a
uma ou mais obras carentes de imaginacao ulo, tanto =e
e, por isso a-la em ridic
mesmo, no originais, sem raizes na vida e na Tealid ie fontes e o convite a coloc ~
ade, oges pelas a imagi narie s
que o afeto déstes fildl
até mesmo incorretas. destoantes e arbitrarias, nas quais em obses sa0 e fants
cobertas, tran sfor mand o-se
as imagens se fazem incoerentes e a elaboragao formal incidéncias e coinci ~
vou-os a ver as mais naturais
se mostra insuficiente. Até a antiga Poética, apds pro- e furtos . Cire unscrita aos seus
cias como empr ésti mos
por e debater longamente se para formar o poeta é nancias € rem ;
limites racionais, a pesquisa das resso
Necessaria a natureza ou a arte (“natura an arte”), ter- ou salie ntes na nova obra pate a
niscéncias fundi das
minava concluindo que uma nada pode sem a otitra; indag acao filolo gica, me *
itil, como qualquer outra
nem o estudo sem a rica veia, nem o rude engenho sem extravagante ideo!
tia melhor que abandonasse a sua
0 afinamento da disciplina, pois as duas forcas conspi- de fonte s” com que se en-5
gia e o titulo de “pesquisa
Tam para um mesmo fim (“coniurant amice”). A “fonte
galanou e que ja traz consigo essa ideologia.
Provavelmente os chamados “pesquisadores de fontes” a alma do poeta e nunca as
de uma poesia é sempre
840 os Unicos que tém aquéle procedimento como certo palav ras e 08 versos , nascid os noutra alma.
coisas, as
e acreditam sériamente que os poetas nao fazem sendo a a duplo e “nee
A formacdo do poeta se elabor
imitar, isto é, roubar dissimuladamente um ao outro, a sua _liga gao com a tradicao
movimento: encontrar
© sucessor ao predecessor, e assim sucessivamente na na propri a voz 0 motivo “ne
poética, retom ando
seqtiéncia dos tempos até o ponto em que ladrio & desen tranh ar a propri a " —
e vi- cantado pela poesia,
a propria missao, fe
tima se perdem nas trevas da pré-historia. Assim pro- lidade, a prépria personalidade,
cedem os fildlogos que, procurando observar certos tra- zendo soar pura a prépri a voz. Mesm o o poeta m:
cos da poesia precedente na conseqiiente, em determi- to, se é verda es
deira mente poeta, procura ¢ conse-
incul
esta uniao, frequ
entemente pelas maneiras
nado momento, por deficiéncia de senso poético, in gue realizar

195
mais singulares e insdlitas, e a posse. Alguns logo alcancam esta Profundidade, 0ou-
mediante alguma leitura
ocasional tros necessitam longos anos e 66 numa estacao { ie
e acidental, alguma palavra colhida
a esmo,
alguma vibracdo captada no ar ao conversar. a alma faz com que a flor desabroche na superficie, Ha
Mais fre.
quentemente, seu intermediério é um poeta aquéles que durante muito tempo se ocupam come neu
pelo qual litera-
todos os outros se guiam, ao qual éle se afeicoa falso eu e 0 apresentam aos outros e ao mundo
e que
se Ihe torna familiar. Esta regra do tinico poeta-modélo rio; depois percebem a ilusZo que on envolveu e expul
eta, inclusive, sam o intruso. Fala-se muito das coisas que os poetas
colocada pelos tratadistas italianos do
século XVI que escreveram sébre a imitagao poética, escrevem “por exercitacdo”, mas também isto éum modo
@ sua observancia era considerada um de dizer, pois ninguém escreve por exercitacao, a frio,
indicio de sélida
formagéo, ao contrério da pratica da versatilidade nem mesmo as criancas nas suas composigées escolares.
em
muitos e variados modelos. No entanto, o intimo Nem mesmo a “arte pela arte” é exercitagao, salvo co-
colé-
quio que se estabelece entre o velho e o ndévo poeta mo modo de dizer, pois, como vimos, ela é efeito de
Permanece misterioso, pois ai se aprende e se ensina amor. As obras que surgem como exercitacgaéo sao obras
que foram escritas com intengées sérias, embora equi-
© segrédo das almas: certamente ndo se trata apenas
vocadas ou fracassadas de fato. Quando, mais tarde, sur-
de caminhos a seguir, mas também de caminhos
a nao
seguir; nfo apenas fazer o dissimil do que o velho gem as obras vivas e originais, e se descobre que as
ja féz, mas também o contr4rio, um contrario que haure primeiras eram caminhos necessérios para chegar as se-
gundas, projeta-se adiante esta necessidade, transfor.
fércas em seu contrario. Em que medida Vergilio foi
mando-a em intengdo consciente e atribuindo as primei-
Mestre e autor de Dante? Qual é o “belo estilo” que
ras obras o nome de “exercitagdes”. Por outro lado, se
deixou roubar? Ninguém sabe, jamais alguém soube,
diz que certos autores foram, mais que poetas, instruto-
mas ninguém ousou e ninguém ousa duvidar da grati-
res de poetas, pois ensinaram aos seus sucessores voca-
dao expressa por Dante. E quantas vézes aquéles poetas
bulos, ritmos, metros, colocag6es, cesuras e outros mo-
imitados nas primeiras tentativas, tao calorosa e super-
ficialmente amados, sao depois abandonados e se tor- dos e formas que éstes transformaram em palavras poé.
nam motivo dum aborrecimento freqiientemente injus- ticas. No entanto, éles nao quiseram ser e na realidade
to, mas caprichoso 86 na aparéncia! nao foram instrutores; foram poetas, embora mais ou
menos intensos, mais ou menos acabados, e com wus
Igualmente complicado e vaério é 0 Processo
pelo qual simples centelhas poéticas conseguiram inflamar o gé-
se alcanca a profundidade do eu, da qua! ja se tinha e
o nio de outros. O poeta forma-se assim, trabalhando
pressentimento (a consciéncia de dever dizer
a0 mundo errando, buscando o belo e caindo no feio, entre remor-
uma palavra prépria), mas nao ainda o conhec
imento
197
196
sos e arrependimentos. Qual o poeta que nio
se enver. no versejar, mas
gonha e desejaria eliminar do mundo, (e por isto obrigava -o ndo so a instruir os alunos
éle proprio, por encome nda e ordem,
procura que sejam silenciadas, esquecidas ou rejeita- também a compor,
em latim pa
das), muitas de suas composigdes que, nao obstante, centenas de sonetos em italiano e carmes
origem de
exigiram todo o empenho de suas fércas no momento ra celebrar as mais diversas ocasides. Na
humanis-
em que as escreveu? O poeta, como todos na vida, apren. certas lamentacées sébre o carater nao mais
io nas escolas atuais reside o saudo-
de o seu oficio 4s préprias custas, ndo o aprende gra. tico do ensino literar
tuita, facil ou deleitosamente, como sismo por estas usancas do tempo antigo. Uma certa
se o fizesse median-
instrugao no versejar talvez ainda possua o seu mérito,
te seguras exercitacdes, como se aprendesse a nadar
n@o s6 em relacéo A prosa, mas também para sentir,
sem ir ao mar e provar a agua salgada.
mediante esta experiéncia, a distancia entre os versos
Naéo é possivel reduzir o autodidatismo do poeta a dis- concebidos com habilidade, porém mecanicamente, e os
ciplina escolar, nem auxilid-lo e complementd-lo com versos alados dos poetas. Mas a verdade é que o méto-
a disciplina escolar. A escola serve para a literatura do através do qual modernamente se léem as poesias
mas nao para a poesia, e, na propria literatura, ja nao nas escolas é o unico legitimo, porque esta conforme ao
serve pata formar o escritor, que sO se forma por si e principio segundo o qual elas nZo podem ser interpre-
quando movido por um pensamento ou por uma pai- tadas, revocadas e julgadas, sendo histéricamente, isto
x€o que se faz estilo, mas para ensinar aquilo que se é, estéticamente. Se isto nem sempre é ensinado nas
pode ensinar: aplainar e polir a rudimentaridade da escolas, o pecado pertence aos professéres, eruditos em
expressdo imediata, dando-lhe forma estruturada e cor- filologia e faltos em gosto, e isto nao é uma coisa na-
reta. Outrora havia escolas de poesia e, ainda hoje, tural. Parece que agora foram abertas escolas de poe-
deve haver a catedra de “poetry” nas universidades in- sia na Rissia. Isto, ao contrario, é uma coisa natural.
glésas, mas tanto as primeiras como a segunda sao, de porque, entendida a poesia como manifestacao das ne.
fato, escolas de versificacio, porque o costume social, cessidades da classe proletaria e instrumento de sue
© seu cerimonial, as suas solenidades, os seus jogos, pre- propaganda, torna-se perfeitamente possivel aplicar um
tendiam que se aprendesse a fazer composigdes em me- adestramento metédico para exprimir necessidades e fa-
tro e praticamente nfo havia quem no fésse capaz de zer propaganda. No entanto, 0 qué nao nasce do ades-
tramento é uma pagina de Tolstoi ou de Dostoiewski;
escrever um sonéto ou compor um madrigal. O filésofo
© qué no se ensina é a espontaneidade e a liberdade
Vico, talvez o primeiro a pensar o sublime conceito de
do génio que, exatamente por ser génio, sabe encontrar,
poesia correspondente aos tempos modernos, lecionava
pelo préprio trabalho, o eu na profundidade do eu e
Retérica na Universidade de Napoles e sua funcao
ligé-lo ao génio da humanidade através da disciplina.

198 199
Disciplina implica em vontade, e 0 génio poético & vol.
tivo, tenaz, paciente: vence qualquer resisténcia, supe. n-A PRECEITISTICA

ra qualquer obstéculo. Nao é volitivo como os poetas Os dicionarios e livros de gramatica nunca ensinaram
da “poesia pura” que, usando a vontade e dispensando ninguém a falar ou escrever, pois estas coisas s6 se
& inspiragao, fabricam brinquedinhos e coisinhas Para aprendem conversando e lendo os escritores. Nisto todos
divertimento préprio ou sugestéo alheia, mas como uma estado de acérdo, mas, ao mesmo tempo, todos consultam
genitora cujo organismo todo considera sagrado o ger- os dicionarios e, embora com menor freqtiéncia, as gra-
me que traz no ventre, uma mae que nao mede esfor- miticas. Todos os consultam porque ai encontram justa-
¢os para que a sua prole cresca bela e forte. Neste ato mente a finalidade para a qual estas coisas foram feitas
© poeta é moral, mas nao se trata da moralidade im. e que fica claramente indicada pelo préprio modo em
posta de fora, quando ihe impdem o argumento e os que foram feitas. O dicionério extrai dos periodos vivos
sentimentos que deve exprimir em sua obra, compri- da conversacéo e dos escritores os sons articulados, ou
mindo-a com esta prepoténcia indtil e corrompendo vocabulos, que assim se tornam sons abstratos esvazia-
@ propria moralidade, que entéo se perde na insin- dos do significado proprio e individual que conferiam
ceridade. Trata-se, antes, de uma moralidade que é ao complexo de que eram elementos. Estes sons, assim
submissao a uma tarefa supra-individual da qual o in- esvaziados, imediatamente assumem um significado gené
dividuo sabe que nao deve ser senao um instrumento. rico, obtide por abstracdo, acima dos significados que
Por isto, antes de lutar com o mundo o poeta sustenta possuiam nos periodos de que faziam parte. Freqiente-
muitas lutas consigo mesmo, renuncia a muitas como- mente ésses significados so tao diversos e divergentes
didades e a muitas ambicées, torna-se cioso da dignidade que néo se prestam a uma generalizagéo unica e, nesse
de sua poesia, que mantém cuidadosamente incontami- caso, mediante o mesmo método, se formam muitas ge-
nada, “virgem de encdmios servis e ultrajes covardes”. neralizacées que sao atribuidas ao vocdbulo Unico. As
Poder ser culpado noutras relagdes de sua vida, mas na gramaticas se comportam de modo semelhante no que
telagdo com a alta Musa é sério e severo, sustero e deli- se refere as funcdes vocabulares e 4s variagdes apresen-
cado, Ent&o ja nao é éle que fala, homem com homem, tadas pelos vocdébulos ao se articularem em proposicGes
mas através de sua voz, como da de Homero, “canta e periodos, Estas fungdes e variagées sao abstraidas pe-
a Deusa”. las graméticas nas chamadas partes do discurso, indecli-
nfveis, declindveis e conjugaveis, acrescentando-se ain-
da os abstratos significados funcionais do genitivo, do
vocativo, do dativo, do presente, do passado, do futuro,
do imperativo, do subjuntivo, tudo isto acompanhado de

200 201
muitas “excecdes”, A anal
ogia e a anomalia enco 4 . 56 sérex i
se juntas no berco das Prim ntram- elas sdo séres indepen-
eiras gramaticas. Nao obsta entre pais e filhos, pois também
te, estas
n.
e outras abstracdes semelhantes dentes € novos.
utadag sao exec
sébre um falar determin que impele o
ado e um escrever histéricg. fiste direito e dever, ao mesmo tempo
mente existente, e, por isto, semp a i
agirem por si,
i , éé confi irmado
re se referem a éles. falante e 0 escreve nte
Ainda que se estabeleca que o “com
uma diferenca entre dicio
na- pelo sentido de responsabilidade estética
Trios “histéricos” e dicionarios abilida de que os leigos em “a .
“das linguas vivas”, entre panha, uma respons
gramaticas “histéricas” e Bram de lamenta rem 0 es! ao
aticas do “falar usual” consideram tao pesada a ponto
nao é dificil perceber que “viva idade em que ficam ante as a
s” e “usual” sdo térmos de perplex
que apenas designam uma histé quais
ria mais vizinha e mais dicionarios e ay regras dos gramaticos, as
préxima de nds, mas que é, semp riam ser rigidas e seguras e, no entanto, se mostram
re, um momento his.
térico, E dai que decorre exatamen elasticas e méveis, sempre cheias de gaehegnanl
te a utilidade pratica
ore
das gramaticas, uma vez que serv
em para indicar e didas, e, por isto, inadequadas enquanto apoio.
destacar, conforme a necessidade, éste aqui, a liberdade é muito pesada pee °
ou aquéle traco que, também
tam! ms
de determinado falar e escrever histéric
amente existen- vulgo, que procura algo que the sirva, mas
te, e, assim, nos colocam em contato com isente do incémod o de pensar e do esférco de reso ve a
a tradicao
s ¢
estética. Por isto mesmo as definigdes dos
diciondrios e Nao é de outra maneira que se constréem oa tratado
Os esquemas gramaticais devem ser entendid de métrica, de instituigdes literarias e poet
os com dis- retérica,
crigdo, nao como uma ordem mas como um lemb abstraem expressdes particularmente mee
cas, que
rete ou e cole
uma adverténcia a indicarem que certas expr
essdes de- sas, esquemas de versos, estrofes e composigoes,
que signi
terminadas existem e a sua realidade nao pode ser
es- cam em evidéncia os contetidos particulares
es expri-
quecida. Ao aceita-las, modifica-las, substitui- ficavam, dizendo: as metaforas e as hipérbol
las ou re- paixao; o hexame tro é feito a
jeita-las, aquéle que fala ou escreve deve proc mem a comoca o e a
eder con. nobres afetos sm no
forme seu proprio génio e gosto. Mas as nova a narracdo épica; a cancao para os
s ex- s; 0 sonéto para 0 dito cone cor
Ppressdes, que nascem livres diante destas j@ sos ou politico
existentes, uma acgao que se ese! ove
nao guto; a tragicidade exige
nascem, no entanto, sem elas; e, embora ‘ermine
te nao encontrem
certamen-
no periodo de um dia, num mesmo lugar,
no passado, que elas préprias desper- interva los € cineo atos €
uma catastrofe, tenha quatro
tam, as leis a que em verse,
seja versificada; a comédia deve ser escrita
devem obedecer, ai encontram im-
pulsos e freios e dai trazem coroada
nao Propriamente uma mar- porém em tom humilde, ou em prosa, sendo
ca mas um ar de parentesco, semelhante ao que existe por uin final alegrs; a historia, ao contraério da cronica,

202 203

Gy Zar aa
se ornamenta com reflexées e, através da Narrac&o, lho que exerce, colheria a sugestao
- tom ex. Em relagao a o traba ssao
ou outra das formas de expre
poe as palxoes € os pensamentos dos
Personagens ’
his. de atentar para uma
téricos sob a forma de oracées ou discur repro duzi- las? Certa -
Para
sos,
histo ricamente existentes. se fazem, nao
Observagées desta acées , que de fato
mente nao. As ma
espécie enchem os tratados que di- caque
o. Para deixar que ouem
videm, subdividem e definem, as metaforas,
os versos, entram na presente dissertagd .
a certo sentido?
as formas estroficas, as formas das composi
cées, Mas, sobre 0 espirito e 0 disponham se
desta prati ca e discip lina
ainda assim, se fundamentam nas Ppoesias
e literaturag tamente sim. A auséncia
tores, mas, por outro lado,
existentes, As quais se referem expressa ou
tacitamente faz notar nas falhas dos escri
mais livres § e originais dentre éles
mantendo-as sempre presentes. Atualmente
éstes tre. podemos notar que os
de réthorique”, como di-
tados ja sfio bastante menos publicados que no passa- também fizeram o seu curso
do e menos consultados que as gramaticas. Isto ocorre zem os franc eses.
em parte porque um melhor é€ aquilo que muitos denominam e
conceito de arte faz com Esta “preceitistica”
que se prefira a leitura direta ando-a necessaria a0
dos escritores, e, em parte, apontam como “técnica”, consider
porque, como ja dissemos, as e, de fato, pode ter
escolas de retérica e ver- escritor e ao artista em geral,
sificagao n&o corresponderam aos costumes sociais. En- bém aqui nao valer ia a pena dis-
a sua utilidade. Tam
tretanto, os velhos neste como em outros casos, a
tratados nao cairam totalmente no cutir ai s denom inacé es se,
esquecimento, nem o oficio que cumpriam tornou-se to- asse em confu sées e, conse qiienjes -
a sua escolha nao implic
talmente supérfluo, embora as vézes nfo se manifeste falsas. A precei tis-
temente, em dedugées e conclusées
deve ser reservado
na forma grave de tratado mas em modos mais Ageis, tica nao é a técnica, pois ésse nome
es praticas, as chama-
esparsos e aforisticos. Os romanticos negavam a pre- mais propriamente as modificacé
e dos corpos naturais,
ceististica sob sua forma antiga, mas engendravam novas das manipulacdes das matérias
formas, ali4s menos prezaveis porque menos acuradas e fins, como por exemplo a fixagao,
a servico de certos
icacao, das expressoes
finas. Nao ha poeta ou escritor que, de quando em quan- para fins de conservacéo e comun
e, no caso que nos interessa, de
do, nao dirija a atencéo a éstes nexos de formas e con- que ja foram formadas
relagdo se pode falar, 7
tetidos abstratos e ai nfo aprenda alguma coisa. Apren. certos sons articulados. Nesta
ca das artes”. Para a poesia
deria alguma coisa mesmo se abrisse os livros de Aris- se fala, de uma variada “técni
a escrita , a tipogr afia e, talvez, o fond-
tételes, do pseudo-Longino, de Cicero e Quintiliano, ou, a técnica sera
id eravel impor tancia que podem,
para citar apenas um dentre os italianos modernos, os grafo: coisas de cons
sua beleza particu lar, como ocorre
livros do grande dicionarista, gramAtico, retérico, pre- inclusive, adquirir
um Bod oni conf ere roupagem tipogréfica aos
ceitista enfim, que 6 Nicolo Tommaseo. Que aprenderia? quando
205
204
at

um Petrarca, um Boccac-
poetas gregos, latinos, italianos e franceses. A preceitis. seguidores ¢ discipulos quanto
um Manzoni ou um Leopardi. Os pré-
tica nao é apenas diversa da técnica; ela nao é sequer cio, um Tasso, se-
andloga a esta, pois nao fornece formulas de execucao romanticos, que se diziam tao individualistas,
prios
que eram Shakespeare, Goethe
ou receitas como: “Mistura éstes materiais e teras as guiam os seus mestres,
bem menores (Schiller, Wal
céres a Gleo, ou éstes outros e teras as céres da aqua. e, freqiientemente, homens
grandes poetas nao
rela”. A prsceitistica foi contestada em sua utilidade, ter Scott ou Victor Hugo), pois os
ou melhor, foi reprimida em seus excessos, exatamente os unicos a serem exaltad os como mestres das es-
sao
pouca poesia com
quando se apresentava como formadora de novas recej- colas, mas também os que misturam
charlataes de
tas ou como técnica - o qué constitui 0 motivo justo muita literatura, e, por vézes, até mesmo
ramen to, como era o cavalhei ro Marino.
da exagerada e mal intencionada rebeliao dos roman. certo tempe
sao
ticos contra ela. Dai surgiu a discussao sébre se a téc. Mas, permanecendo com 0s chefes de fila que
deira mente génios poétic os, vemos que mesmo esta
nica é necessdéria ao poeta ou nao. No que se refere verda
go ato criativo de sua imaginacaéo e express&o, certa- forma de preceitistica que se cumpre mediante perso-
das
mente ela nao é necessaéria e lhe é até mesmo estranha; nalidades, “per exempla”, e “escolas poeticas” forma
-
mas, sob qualquer outro aspecto, perguntar se ela é mais livremente que nas aulas escolasticas, nao funcio
necessaria equivale a perguntar se as tintas e os instru. na senio como recordacéo e Jembranca de expresses

mentos de pintura sao necessarios ao pintor ou se o existentes que devem ser acolhidas e superadas por uma
expresséo. Assim, os meros receptores desta re-
marmore e o cinzel sao necessarios ao escultor. Até mes- nova
mo nos tempos em que nao havia a poesia escrita e a cordacéo, privados ou parcos de disposicao pessoal e
sua transmissao era feita pela meméria, foi necessaria genial, que repetem e combinam superficialmente ou va-
uma técnica a mneménica. riam mecanicamente as obras geniais dos chefes de
A eficacia da preceitistica nao é a de uma lei estética, fila, n@o contribuem em nada para a historia viva da
nem a de uma receita técnica, e, nao obstante, é uma poesia. A conseqiiente estagnagéo sé é rompida, tanto
eficacia a eficacia do histéricamente existente, além em poesia como em filosofia ou em qualquer outra coisa,
do qual é necessdério passar, mas s6bre o qual nao é pelo chamado “discipulo infiel”, pelo fidelissimo disci-
possivel saltar. Ela nao se exerce apenas através de pulo infiel, pelo que tem algo de proprio a dizer, o unico
formulas tedricas mas através dos homens: dos homens digno do mestre (que com a sua forga queria gerar f6r-
ga e nao ceder lugar 4 inércia). As escolas chefiadas
de notavel carater, escritores e poetas originais que sao
chamados de mestres ou chefes de escolas. Nenhum li- pelos nao poetas, por aquéles a quem falta até mesmo
vro de instituicdes jamais possuiu tantos e tao ardentes a particular e charlatanesca genialidade dos charlataes, se

207
206
te
= ——
‘orca de lei em que se formula a precei-
apéiam em programas, isto é, em preceitisticas, e com as regras sem f
tistica. O prudente Quintiliano, percebendo o perigo,
isto estfo apoiando a sua nulidade, pois nem no sey scripto-
protestava contra os “praecepta” que “plerique
chefe nem nos seus sequazes se nota a presenca dum r “quasi quasdam leges
res artium” costumavam ministra
névo poeta, isto é, de uma nova obra poética. Existem contra os que cha-
jmmutabili necessitate constrict as”,
atualmente muitas dessas aparéncias de escolas, com universal ia vel perpetualia”,
mava de preceito s “xafodtx d,
titulos, palavras de ordem, programas especiais, muita
pois “raro reperitur hoc genus, ut non labefactari parte
gente que se agita com muito barulho e alarido. & muito
aliqua aut subrui possit”.
facil despaché-las com uma modesta pergunta: - Indicaj
uma tnica poesia entre as coisas que j4 produzistes, uma Justamente por n&o observarem éste sAbio preceito s6-
poesia bela que ande de béca em béca, que eu possa bre os preceitos, os dicionaristas e graméaticos ervora-
admirar e conservar na mente, como se faz com as ram-se soberba, porém incautamente, em legisladores
belas poesias. Em resposta, éles vos sufocam com pro. das linguas nos vocaébulos e nas conexées vocabulares a
gramas e promessas futuras, “inania verba”, pois nada empregar, e os autores de retéricas e poéticas se arvo-
mais podem fazer. ram em legisladores da prosa e da poesia, Como o con-
tetido dos seus preceitos é histérico e, como vimos, a
I - O ENRIJAMENTO DOS GENEROS LITERARIOS histéria se movimenta evolutivamente, sem obedecer
sea

E SUA DISSOLUGAO as ordens de ninguém, éstes legisladores, armados de


O érro de uma proposicéo, o mal de um ato, nao de- seus preceitos absolutos, imediatamente entram em lu-
correm do que tais coisas sio em si, mas do que nio ta com o vivo falar e o livre poetar, e gritam por téda
so, querem e fingem ser. Assim como a preceitistica parte: “Nao se passa!”, “Nao pode!”, “E proibido!”
moral e a preceitistica légica se desvirtuaram, uma no Este espetaculo é cémico, freqiientemente tém sido vis-
juridicismo casuistico e outra no escolasticismo, geran- to e sentido cémicamente, e éstes dicionaristas e reto-
do a rebeliao dos Pascal e dos Galilei, também a precei- ricos do “pode e nao pode” tém sido escarnecidos como
tistica literaria se desvirtuou na Doutrina dos géneros pedantes, maniacos, tiranos ridiculos, aos quais a reali-
literarios. O desvirtuamento consiste em transformar dade d& as costas prosseguindo em seu caminho, desde-
em definicdes rigidas e categorias filosdficas as referén- nhosa de suas proibicdes. O riso e 0 escérneo nos mos-
cias histéricas apresentadas nos registros e nas defini- tram o que estA errado, mas nfo nos afastam do érro,
vida e
gdes dos dicionarios, nos esquemas das gramaticas, das pois permanece intacto o principio que Ihe da

retéricas, das instituigdes poéticas e literdrias. Isto sig-


confere persisténcia. Os erros nao so apenas ridiculos,
mas também fastidiosos, dolorcsos e, inclusive, trégi-
nifica transformar em determinacgdes e leis absolutas
[Ea

cos, porque quem os vé ri, mas quem os comete o faz as corregdes que alteraram a Gerusalemme Liberata na

a sério, procede mal e causa danos. Assim é em qualquer Conquistata, bem como as que foram imtroduzidas por
Manzoni na segunda edicao do Promessi Sposi, em obe-
coisa da vida; e assim, guardadas as devidas proporcdes
e variagées, ocorreu em literatura e poesia por causa da diéncia 4 teoria (ou extravagancia) da norma unica da
linguagem florentina, mostram éste carater extrinseco,
erronea doutrina dos géneros literarios.
éstes sinais duma servidao que nem por ser volunta-
Basta trazer como exemplo o constante obstéculo que
ria deixa de ser servidao. Se, assim como sao represen.
ela coloca aos poetas e escritores ao inibir o uso de
tados os processos febris e os tremores de terra, pudés-
cérias palavras estrangeiras ou dialetais, neologismos
semos representar graficamente as preocupacdes, os es-
nao registrados nos dicionérios, ou certas flexdes de pa.
crapulos, as angistias, os desesperos, os esforcos inuteis,
lavras nao acolhidas pela morfologia e pela sintaxe, ou
as sacrificios injustos, que as regras literarias impdem
certas formas do drama, da comédia e da lirica, que
aos poetas e escritores, ficariamos ainda uma vez es-
contrastam com os géneros admitidos e formas corres- tarrecidos ao ver como os homens se deixam atormen-
pondentes ja estabelecidas. Isto concorria nao apenas tar por outros homens a tréco de nada, e, cada vez mais
para caluniar e desacreditar, em maior ou menor me
ddcilmente, se autoflagelam, transformando-se em “heau-
dida, as belas obras junto aos leitores, mas afligia as
tontimoroumenoi” ou (como traduzia Alfieri) “verdu-
consciéncias dos préprios escritores e poetas que respei-
gos de si mesmos”. Em geral se acrescenta, quase como
tavam a autoridade déstes codificadores e acreditavam
defesa, que a éste pedantismo feroz é devida uma gran-
nestas regras, embora a experiéncia direta lhes demons-
de parte da férca e da fineza que brilham nas prosas
trasse o contraério (mas éste é um dos muitos casos em
e nos versos e desaparecem quando esta tirania nao foi
que ter um fato sob os olhos nfo significa necessaria-
exercida ou permitiu escrever e versejatr como bem se
mente vé-lo, isto é, percebé-lo). A ilusdo de culpas, das de-
entendia. Mas ocorre que éste efeito positivo nao €
cuais seriam réus, levava os escritores e poetas a bus-
vido a pedanteria, pois 4 ruindade e a estupidez como
carem a paz com os implacaveis censores e com a fra-
tais nunca se deve qualquer beneficio positivo, e sim
queza da prépria consciéncia, aceitando suas deter-
& boa critica estética que, por vézes, se reune a ela nas
minagoes, purgando o léxico pessoal e eliminando os ele- certos casos se condena um voca-
mesmas pessoas. Em
mentos peculiares, reformando os periodos e diminuin-
bulo arcaico ou exdtico, um dialectismo ou um neolo.
do-lhes a vivacidade, mutilando ou esticando os desen- gismo, n&éo porque seja arcaico, exdtico, dialectal ou
volvimentos naturais da imaginagaéo e do pensamento, névo (e, se assim fésse, nao haveria obra de poesia e
a fim de fazé-los coincidir com os esquemas estabeleci- literatura que a critica admitisse), mas porque é um
dos para a tragédia, o romance e a historia. Quase todas
aui
210
som mecanicamente repetido ou combinado desajeita. emocionaram com as obras irregulares, ignorando ou
damente, sem necessidade e propriedade expressivas. bocejando ante as obras regulares; mas a critica, aferra-
Outras vézes se condena um afastamento das tradicdes,
da ao critério dos géneros, estava surda ao canto das fas
nao porque seja afastamento, pois téda nova prosa e
cinantes sereias e se dedicava, de forma inexoravel, as
téda nova poesia sao afastamentos, mas porque, neste
suas altas funcgdes de executora da justica em obedién-
caso, néo é mais que um preconceito intelectualista da cia a raz&o, parodiando inconscientemente Plato que
novidade pela novidade, uma extravagancia ou uma pesaroso porém inflexivel, excluiu os poetas da sua re
superficialidade. Nio ha razfo para nos apoiarmos num publica, porque a isto 0 obrigava o “logos”.
despropésito a fim de obtermos uma justa reprovacao. uma t)
Como a critica da poesia é histéria da poesia,
De resto, depois que esta pedanteria foi expulsa, os bons decorrer, e efetivamente de-
tima conseqiiéncia deveria
efeitos, 'talvez os melhores, tém sido obtidos gracas a o prota-
correu, do enrijamento dos géneros literarios:
severidade da critica que estuda cada caso individual- @ Poesia mas
gonista da historia da poesia ja nao seria
mente, pois os castigos exemplares so os individuais. Géneros. Era uma conseqiién-
o Género, ou melhor, os
Os danos ocasionados pelo enrijamento dos esquemas os géneros como categorias
cia légica, pois, concebidos
Preceitisticos séo mais notéveis exatamente na critica e os ver-
da literatura, onde fizeram prevalecer, por um tempo estéticas, éles se tornam os efetivos operadores
sujeitos da sua histéria. Assim, a historia da
dadeiros
mais'ou menos longo, os seus juizos de louvor ou repro- através dos géneros,
poesia passou a ser desenvolvida
vagao, atuando sébre a opinido comum e oficial das e repartindo
despedacando as personalidades poéticas
pessoas letradas e dos livros, embora nao tenham con- membra” pelos géneros a que pertenciam,
os “disiecta
seguido atuar sébre o'efetivo prazer e desprazer, sébre houvesse cultivado mal
examinando o poeta segundo
© gésto e desgésto estético, que continuaram ase movi- leis. Um pedaco
cu bem os géneros € observado as suas
mentar livremente e se manifestaram ora velada de Dante, Ariosto, Tasso ou Alfieri, era incluido na his-
ore
heréticamente, ‘conforme Os casos e as pessoas. da satira, outro na da
Os poe- téria do género lirico, outro na
e o
mas homéricos, o poema de Dante, os dramas
de Sha- épica, outro na da tragédia, outro na da comédia, ca-
om a eados com uma maior ou menor seu conjunto em nenhum lugar. Nesta distribuicao,
ou-
por terem pecado ‘contra da um déles era colocado nao so na companhia de
ignoré-las, De outro lado, foram stiitlen oy aiatee tros grandes poetas. mas também na de pobres coitados,
que tal vez tenham
: sido Z mais louvados
‘ que éles, pois os
as séries de rimas dos petrarquistas e os poemag égissa
bem regrados dos Bracciolini, dos Graziani, dos Carac. poetas se atreviam a@ violar os géneros quando arreba-
tados pela fantasia, aO passo que ésses pobres coitados
cio, e outros que tais, Os leitores se apaizonaram e se
213
mente na divisio, sob
se submetiam e conviviam casta elas eram consideradas heterdclitas e histéricamente in-
tutela das leis e da doutrina. A exigéncia histérica, ao
significantes. Uma obra genial que, apesar disto, nao
se tornar mais intens a no século XIX, penetrou nesta
Ocupasse o seu lugar no desenvolvimento do género, pa-
a sua adaptagao
forma de histéria da poesia e forgou recia um fruto fora de época que nao deveria ser levado
conceito do desenvolvimento, isto é, da historicidade.
ao em conta no grande curso da histéria do género. Per-
os géneros
Ndo obstante, esta exigéncia esbarrou com vertendo-se, pois, o conceito histérico da filosofia idea-
e vigoro sos naque la forma de histdéria
literérios fortes lista em evolucionismo positivista, houve quem tentasse
tan-
e, por nao saber como destrui-los, até mesmo respei aplicar & poesia a evolugéo das espécies de Darwin, e
volvi mento foi enten dido nao como de logicista como era, imaginou, e tanto quanto possivel
do-os, o desen
surgi-
senvolvimento da poesia mas dos géneros. Entéo executou, uma histéria literaria em que os géneros pro-
da lirica e do épico, da tragédia e do ro- liferavam e se multiplicavam sem necessidade do sexo
ram histérias
lugar a
mance, e, como os géneros literarios davam oposto, lutavam entre si e se suplantavam, havendo os
espéci es, nfo surgi ram apenas histér ias que desapareciam e os que saiam vencedores na luta
subgéneros ou
do
da lirica em geral, mas também da ode, da elegia, pela existéncia. Tudo isto ocorria, por assim dizer, em
, do madrig al, do “Lied” , e assim por plena via publica, e, se uma obra produzida no século
sonéto, da can¢ao
diante; nao sé histérias do drama nas suas duas formas XVII, como as cartas de Mme. Sevigné que permane-
ceram inéditas por muito tempo, néo estivesse a altura
fundamentais, mas também da tragi-comédia, da farsa,
cdes de participar da grande luta de sua época, era logo des-
da écloga, da pastoral, da piscatéria, das representa
sacras e vidas de santos , dos “autos ”, do melod rama, da prezada por éste tipo de histéria, ou entao relegada 4s
comédia lacrimosa, da comédia social, da comédia de preocupagées do século seguinte (como, alids, ocorreu
s, os que sé entéo foram impressas e inicia-
tese, e assim por diante. Nestas historias os género
com estas cartas
ram sua vida superior e sua luta). Esta historia por
subgéneros e os sub-subgéneros, despontam, nascem,
da maturidade e também “géneros” é a ultima das falsas histérias que nos convi-
crescem, atingem a perfeicfo
nha lembrar e qualificar.
envelhecem e morrem, pois, assim como parece exis-
tirem astros apagados no céu, entre as categorias eternas A critica desta espécie de historiografia, dos enrijados
da poesia havia os “géneros mortos”, como a épica que, esquemas da preceitistica, e, portanto, dos géneros lite-
segundo se dizia, perdera as suas condicdes de vida nos rarios elevados a categorias estéticas e suas correspon
tempos modernos, e a tragédia, que féra suplantada pe- dentes realidades, sistematizados e dialetizados, bem co-
empiricas elevadas a gra-
lo drama. Quando entre os géneros se encontravam mo a critica das gramaticas
maticas filoséficas, dos vocAbulos admitidos nos dicio-
obras particulares e irredutiveis, acima ou fora déles,

215
214
narios da Academia e considerados como os tnicos de e”, da
juizo referente a natureza propria do “romanc

Ano
boa procedéncia, tem sido longa e bastante lenta, pois , do “drama historic o” ou do “drama simbdlico”.
“novela”
completamente
durante muitos séculos se restringiu 4 mera critica dos Em compensacao, ja se pode considerar
limites excessivamente estreitos e acanhados prescritos o aquéle outro modo de critica abstrata que to-
superad
a obra do chefe
pelas regras dos géneros literarios. Isto se evidencia, co- mava como referéncia nao o género, mas
mas segundo
mo caso tipico, na critica de Lessing, que quer retornar de fila, e nao julgava segundo a poesia,
Certas sobrevi vencias désse tipo
das poéticas classicistas francesas para a poética mais Vergilio ou Petrarca.
remane scem mediant e 0 uso incauto dos
ampla de Aristételes. Foi assim que se combateu, por de critica ainda
tam duas obras
exemplo, a regra das trés unidades na tragédia (tempo, “paralelos literarios”, nos quais se confron
o confronto ex-
lugar e acao), procurando reduzi-la a uma sd; ou contra cu dois autores, e, 20 invés de utilizar
ualidade de cada
@ regra que vetava o “enjambement” nos versos, procu- clusivamente para salientar a individ
por perder de vista
rando que a sua permissdo fésse concedida em alguns 2S um através das diferencas, se acaba
‘ ora um ora outro ou ambos.
casos; ou contra as regras gramaticais deduzidas a par-
nas dos géneros lite-
tir de uns poucos autores; ou, finalmente, contra os di- Com a decisiva rejeicao das doutri
cionarios baseados nos chamados “textos de lingua”. Ra- evide nteme nte nao se rejeita @ discreta preceitis-
rarios
s e que reside no seu fun
ramenite © érro foi percebido em sua origem, em seu tica cuja indole descrevemo
seu uso na historia da
Sie POP

proprio principio, e, mesmo quando foi entrevisto, a do; com a decisi va tejeic ao do
deracao na histéria cul-
observagaéo nao foi aprofundada, a tal ponto as mentes poesia nao se rejeita a sua consi
porqu anto as suas regras, estetica-
MAES.

estavam apegadas ao pressuposto de que a poesia se tural, social e moral,


eee onsite ne chemados géneros literérios. Na istent es, representavam neces-
mente arbitrarias ¢ insubs
ica ja se libertaram por de nature za divers a. Assim, por exemplo, a res-
Spat Se MRR

sidades
s no Renas cimento, median-
completo e é de esperar que nfo se tornara a cair tauragao dos géneros antigo
vntia oe pou alguns Pequenos deslizes por inexpe- se proc urou por térm o A rudimentaridade e &
te a qual a
assim, sob outro aspecto,
oO Perspicacia. Entretanto, nas Estéticas e elementaridade medievais;
icao a tragédia
nas Poéticas que se produzem algures, s . concepcao do drama burgués em opos
reinam com dominio quase absol es i eros ainda um dos aspec tos da transforma-
uto, e, na critica efetiva da cérte, que constit uiu
dos
XVIIL A pr épria doutrina
da poesia, embora ja nao tenham o poder de outrora,
1% ¢&o ocorrida no século e ao
ainda se fazem sentir,i pois,i freqiientemente disto rcao de sua indol
aquilo que géneros, embora seja uma
deveri safen: diincd categ orias estét icas, também assina-
ath transforma-los em
pelo intrins
o juizo
ati uidoser ora
substit iui eco de uma ob fa poética é
foi um primeiro esforco,
embora
juizo, ora pelo Taciocinio séb
sébre o lou um progresso, pois

216 217
Sei venuto in parte
mal orientado, para
entender cientificamente e filosdfi. non discerno.
dov’io per me pit oltre
camente a poesia. N&o foi sem motivo que, sob um certo inge gno e con arte; .
Tratio t'ho qui con

iba
aspecto, as Poéticas precederam as Estéticas e as Gra. to tuo piacere omai prendi per duce:
filoséficas precederam a Filosofia da Linguagem. fuor sei de larte!
fuor sei de lerte vie,
Abt a ae ia Sore “ata
miaticas
Convém que se faca esta justiga a doutrina dos géne-
OUTRAS ARTES
ros literarios porque, durante todo o desenvolvimento IV -— A POESIA E AS
da presente dissertagéo, sempre tivemos o cuidado de pois, fora dos
ingremes ¢ dos cami-
caminhos
Estamos,
nfo passar de uma critica necessdria e polémica para isto a Razao humana, que
é
nhos estreitos. Vergilio,
as conclusdes violentas e paradoxais, isto 6, unilaterais, guia na viage m, nao foi a Poética mas
nos serviu de
a filos ofia em que = enquadra.
e, mesmo onde nossa negacdéo se féz mais tadical, cui- a Estética com téda gao
abordado, nem proposi¢
2 ae lance

damos nao jogar fora a 4gua do banho com a crianca N&éo ha problema por nos
da matéria, que nao cons-
dentro, Apontamos os perigos do filologismo na revo- por nés pronunciada acérca
geral. Assim é para @
cacao da poesia, mas também reivindicamos os direitos titua uma proposigaéo estética
da filologia na preparacao hermenéutica da poesia. Apon- para as outra s artes: a teoria acerca
poesia e também
leis propr ias (que eleva a
nee 0 erro Gas interpretacoes histéricamente materiais das artes particulares com
as disti ngdes mera mente fisicas) foi
ser rent naSdea e. taseeun demonstramos que a in- categoria estét ica
e,
peremptoria argumentagao
site on cet oe é historica e nao pode deixar de derrubada mediante uma
nenh uma refut acaéo lhe foi oposta até
Gloactin ea ome _ ato. Rejeitamos a intervencao da ao que se sabe, da
poesia,-o que @ distingue
agora. O fundamental na
bém afirmamos a sua necessidade ‘. nities ee aus essa o imed iata e, atrav és da poesia, s€
arritmica expr esséo
utilidade, embora indireta para eo é o ritmo, a alma da expr
sino. _ Seto transmite 4 literatura, intu iczo
sejam livres, integros e isch ifusin 0 eee eo expressao poética,
poética e, portanto, a propria to é
deriamos aduzir para o melhor vamos tudo 9; que BO assim como o pens amen
mas sempre nca apercebemes mento da poesia, ou ritmagaéo do universo, arte
0 cara cter isti co de toda
dar ao génio e ao gosto que dev que nada poderiamos a sistematizacao. O ri tmo é com
se manifesta, com éste ou
tanto, ao fim desta dissertaca eae Por Be Pt e em cada uma das artes inh os
¢a0, gostariamos de dizer delas toma os seus cam
e ao am ante outro nome; em cada uma
a poesia © que Vergilio disse
a0 poeta A enco ntra 10
€ a prep arag ao que
& Dante: segundo a disposigao caminhos
08 cinco
individuo (e éstes nao sfo spenas
pelos tratadistas das cinco artes, mas indame-
apontados
219
218
sempre transcende
os caracteres fisicamente determina-
ros, como sao as variedades de condigdes em
inumeras ar-
abstracionistas das chamadas
que a arte é produzida). As disposicdes tendem ora dos e separados pel os
para o som articulado, ora para a Cér, ora para o re- tes particulares.
r
artes, (e aqui, para facilita
lévo, ora para as linhas arquiteténicas. Todavia, nao Mas, se para cada uma das
emo s acei tar o seu agr upamento mas
tendem para um som articulado em abstrato, mas pare a dissertacao, pcd
nais), 0s problemas e os com
uma expressao livre ou amarrada, para esta ou aquela cinco principais e tradicio
os mes mos, numa ou noutra éles
forma duma e doutra, segundo as infinitas possibilida- ceitos estéticos sao
ntam sob formas e palavras
des dos sons articulados; (hd poetas que so conseguem freqiientemente se aprese
imed iata identificagao, ou com uma
poetar num tipo de metro e nunca em outros, s6 em dia- que nao permitem a
e uma urgéncia que nao sao
leto e nunca na lingua nacional, e assim por diante). O extensao, uma importancia o,
nas outras. Que é a distinga
mesmo se pode afirmar em relacdéo aos infinitos jogos maiores numas do que pin-
nas disse rtacg ées sobre
le luz e sombra, as infinitas nuancas de céres, e assim colocada com muito proveito de-
ilustrative” e o “elemento
para outros casos. No entanto, quando a expressio é tura, entre o “elemento a entre
a que se faz em poesi
computes quando a revivemos na sua totalidade, viven- corativo”, senféo a mesm € @
ainda, entre a “estrutura”
> nela e dela, esquecidas as circunstaéncias externas a “fabula” e a “lirica, ou, utas em
macaio polémica, nas disp
d os ouvidos, dos olhos e de todos os chamados sentides, “poesia”? Que é 4 ‘afir sent imen tos
nela no exis tem
Jéve od podemos chama-la de som, tom, cér, linha, re- térno de misica, de que a mesma
“indefinidos”, senfo
‘aa lor, sabor, ou qualquer outra coisa, pois ela é “definidos” mas apenas ofe-
a, afirmando que ela nao
ler oa coisas em conjunto e nenhuma em parti- que se coloca para 4 poesi mas puramente
idade “historica”
° ir. at a tendéncia a transferir para uma arte rece imagens de real a as idéias
ou “hum anas ”? Que é a polémica contr
mos préprios de outras, o “pictérico” “escul 1” ideais
musi ca, sena o 4 correspondente da
© “arquiteténico” , i
“ “o musical” na_ poesia,» 0 “esculte em pintura ou em
ico”, poesia? Que
s ou “conceitos” em
contraério. Algum poeta, ao se debrucar sdbre» @ também
si © polémica contra as idéia diversas persons-
pinto r sena o as
analisar-se,
:
j4 percebeu, Sobre si mesmo ©
no proprio momento siio as “fases” de um a? (Guer-
ou alternadas, de um poet
a poesia se apresenta em sua alma * om ~ lidades, subseqiientes m © qua-
seus clien tes se dese java
cilagao inicial e perplexidade d Se ne cino perguntava aos fase) . Que

“primeira” ou “segunda
. . le do ritmo ra
a cor, a plastica, e a palavra. Seja o - som o:tom, dro pintado em sua o por Be-
fér, (pois as genialmente inve ntad
ilusdes e fantasias se introduzem Roles é 0 “amigo de Sandro”,
os mente nessas de- comp rova da por nenh um
nao é
licadissimas analises do fugidio)
renson, cuja existéncia do de
porta é a im » & Unica coisa que im
r, senao 0 mito do “esta
agem formada e seu cararater estético, que ° documento ou historiado
22%
220
espirito”, do “motivo poético fundamental” a que ja as obras originais e belas, tao raras nestas artes como
nos referimos e pode expressar-se
através de varias pes- na poesia. Mas ficaremos por aqui, nesta enumeracaéo
soas fisicamente distintas? E as atuais disputas acérca e demonstragéo de coincidéncias, sernelhancgas e dife-

ae BLY
de uma “pintura pura”, sem assunto, sem sentimento e rengas, que poderia tornar-se bastante extensa e exigi-
sem expresso, com signos fornecidos por uma desco- ria um tratamento especial.
nhecida férga magica, acaso nao sao exatamente as mes-
O que dissemos é suficiente para demonstrar 2 opor-
mas apresentadas pelos inventores da “poesia pura”?
tunidade de se escreverem livros tedricos sGbre cada
Por outro lado, nas artes figurativas e arquiteténicas, as
uma das artes, nao porque se devam raciocinar conceitos
questdes de autoria se apresentam incomparavelmente
estéticos particulares em cada uma delas, mas, ao con-
mais freqiientes e numerosas que na ‘poesia e na lite- trario, para fazer valer em cada uma os proprios con
ratura, pois a estas nfo falta o auxilio duma providen- ceitos da Estética (“quasi cynosura quaedam artium
cial reparticgao das obras segundo as pessoas fisicas dos specialium”, segundo a palavra de Baumgarten), me-
seus autores, Mas, mesmo assim, nas artes figurativas e diante a diversidade das terminolegias, dos habitos men-
arquiteténicas a busca do nome da pessoa fisica do ar- tais, da variada importancia e urgéncia, e do material
tista cede ou deve ceder lugar a busca do valor e do exemplificativo. Considerando que os amantes de poe.
caraéter da obra, ‘quaisquer que sejam as maos de que sia, seus criticos e seus historiadores, estao em certa
coi-
saiu. Nestas artes a impaciéncia para com as “escolas” medida especificados e possuem maior prética nas
© os discipulos é bem menor que na poesia, onde ‘os poesia e nas suas dificuldades do que nas das
sas da
imitadores tém sido logo desprezados como “servum outras artes, surgiu éste livro da parte de um escritor
Pecus” e aos poetas mediocres'tem sido negado qualquer as artes,
que ja tratou da Estética em relacao a todas
inexpe-
direito de existéncia e aceitacao. Isto se explica, sobre- mas, na qualidade de velho e (quero crer) n&o
e historiador, possui, também éle, maior
tudo, porque qualquer um pode possuir as obras ‘ primas riente critico
da poesia em volumes impressos, mas, no que diz res- familiaridade com a poesia e a literatura.
ei
peito as outras artes, ‘para enfeitar
casas, igrejas e edi-
ficios publicos, seguidamente temos
de nos , contentar
com aquilo que os mediocres
Podem oferecer. Isto nado
impede, no entanto, o desej
o de diminuir as histérias
das artes figurativas e
arquiteténicas (que aind
a con-
servam muita coisa dos Cataé
logos de m ee 3
gdes de cidades), a fim de dar
€spacgo as obra
ae s Primas,
222 223

=a Ar
INDICE
PREFACIO A EDICAO BRASILEIRA Vil

ADVERTENCIA ....-. cere 2

1 A POESIA E A LITERATURA
I. A expressio sentimental ou imedista .. 6
Il A expressao poética 13
III A expresso prosaica eee ere
eee-6.
.....- 17

IV. A expressdo oratéria ...-...--- 52ers 25


Vv -O “recurso” 35
VI - A expressio literaria 39

VII Os dominios da literatura ....-..-..-+-+-- 49


- A “arte pela arte” .........---+- opesovencnsssace 58
VIII
cece ener ees
IX - A “poesia pura”... ..5.5eerese 66
a nio poesia o a anti-poesia eee 7
X - A poesia,

Tl A VEDA DA POESIA
1 - A revocacgio da poesia. Os subsidios da inter-
eee eer eet eeeettte 79
Pretagho ....eeee

As objecdes céticas A possibilidade da revocagao = 87


Il_—
histérico-estética ......-.- 94
Ilt A interpretag&o

IV __ 0 Adio pelo feio, a indulgéncia pelas imper-


9 a indiferenca pelas pertes estru-
feicdes
turais 104
O intraduzivel da revocagio .......+-.-+-+- 119
V_—

Ill - A CRITICA EA HISTORIA DA POESIA


1 - © juizo da poesia como sintese de sensibi-
lidade e pensamento 129

IJ - A belera, Gnica categoria do juizo estético .. 138


m-A caracterizacao da poesia e o fécho do pro-
cesso hermenéutico-critico
145
~ O juizo estético como historia da poesia 153
V - As falsas histérias da Poesia 160
VI - A histéria de Poesia e a personalidade do
poeta
VII - A Poética empirica

IV-A FORMACAO DO POETA E A PRECEITISTICA


I. Espontaneidade e disciplina
..............
IE - A preceitistica -. 20.2... ......0.0.000005
TH - © enrijamento dos géneros literdrios e sua
dissolugio 6... een ee eee
IV - A poesia e as outras artes ..............2..5

Publicado com 8 colaboracaéo


do Cénsul Geral da Italia
no Rio Grande do
$ ul, Dr. Alfredo di Mattei.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
DO SUL

Prof. José Carlos Fonseca Milano - Reitor

FACULDADE DE FILOSOFIA
Prof. Angelo Ricci - Diretor

COMISSAO DE PUBLICACOES
Prof. Guilhermino Cesar - Presidente
Professéres: Ary Nunes Tietbdhl, Gerd Alberto
Bornheim, Pedro Ignacio Schmitz, Silvio Gomes
Wallace Duncan e Stella Ribeiro Maya

Secretario da COMISSAO DE PUBLICAQOES


Blasio H. Hickmann

Enderégo:
Comissio de Publicacdes da Faculdade de Filosofia
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Av. Paulo Game s'n.° - Pérto Alegre - RS - Brasil
ACABOU-SE DE IMPRIMIR EM PORTO
ALEGRE, NA GRAFICA EDITORA A
NAGAO S.A.. EM DEZEMBRO DE 1967,
$OB A RESPONSABILIDADE DA COMIS-
SAO DE PUBLICACOES DA FACULDADE
DE FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE FE.
DERAL DO RIO GRANDE DO SUL
litica italiana @ européia. Bese Escritos dis
tribuem-se em quarenta e quatro volumes: I,
Ensaios sébre literatura italiana de 1600; U,
A revolugdo napolitana de 1799; II-VI. A
literatura da nova Italia. Ensaios criticos (vols.o
I-IV); VII, Os teatrcs em Népoles, desde
Renascimento até o fim do século décimo oi-
tavo; VILL, A Espanha na vida italiana du-
rante a Renascenca; 1X-X, Conversagées cri-
ticas (série I ¢ I); XI, Histérias ¢ lendes na-
de
politanas; XII. Goethe; XUI, Uma iamilia
patriotas ¢ outros ensaios histéricos e criticcs;
¢ Corneille ; XV-
XIV, Ariosto, Shakespeare
XVI.
XVI, Historia da Historiografia italiana;
‘A poesia de Dante; XVIII, Poesia e nao poesia;
- XXI,
XIX, Histéria do reino de Né&poles; XX
Hie
Homens e coisas da velha Itdlia; XX,
1915; XxXIU,
téria da Itélia desde 1871 até i
Histéria da idade barréca na Talia;
de 1600;
Novos ensaios sébre literatura italiana I
XXV-XXVI, Conversacées criticas (série
no século
e IV); XXVII, Historia da Europa
popular ¢ poe-
décimo nono; XXVIII, Poesia
gia de arte; XXIX, Variedades de historia
XXX, Vidas de
literéria e civil (série Di litera
aventura, de fé e de paixio; XXXI, A (vol. Ws
ture da nova Itélia. Ensaios criticos V);
gces criticas
Conversa (série
XXX, Ensaios
A literatura da nova Italia.
XXXIII,
antiga ¢ mo-
criticos (vol. VI); XXXIV, Poesia ¢ eacritores
derna; XXXV-XXXVI, Poetas
e I); XXXVIL A
do Renascimento (vcls. I
italiana de 1700. Notss criticas;
literatura literaria
XXXVI, Variedades da Histéria
Leituras de pcetes;
civil (série 11); XXXIX,
© sscritores do Renascimento
XL, Poetas de literatura
TH); XLI-XLIV, Episddios
(vol.
varia. de uma cole-
a) Escritos diversos. Trata-se estudos sébre
reunindo
tanes, em doze livros,
dentro do grande campo
vérios temas, sempre
que constitui © interésse
filosdfico-literério,
autor: 1, Primeiros en-
geral das atengoes do
e vida moral; Ul, Paginas
omer

saios; IL, Cultura inas esparsas;


sobre a guerra; IV- 1
~

paginas XI-XII
VILVIIt, Novasesparsas; 1X-X, e Ter.
esparsas;Escritoe dix
coiras paginas
cursos politicos.
Qa

Você também pode gostar