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ESTADO DE GOIÁS

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E ESPORTE


COLÉGIO ESTADUAL DA POLÍCIA MILITAR DE GOIÁS
GILVAN SAMPAIO
Língua Portuguesa 2ºSérie E. Médio Segunda semana
Leia atentamente o texto abaixo:

Soneto: CAMINHO
Tenho sonhos cruéis; n’alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...

Saudades desta dor que em vão procuro


Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...

Sem ela o coração é quase nada:


Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.

Porque a dor, esta falta d’ harmonia,


Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d’agora.

Camilo Pessanha. Biblioteca Ulisséia de Autores Portugueses, p. 37.

Entendendo a poesia:
1- Os quartetos do soneto de Camilo Pessanha são construídos com base em antítese. Anote –as presente na
primeira estrofe:

2- Como o eu lírico define a dor?

3- Essa definição de dor é objetiva, precisa? Explique:

4- O soneto de “Caminho” apresenta uma das marcas a ambivalência de sentimentos(bipolaridade). Embora


queira afugentar a dor que atormenta, o eu lírico tem consciência de que ela é tudo o que possui, por isso
precisa vivê-la. Porém, a partir do texto acima, percebemos que:

a) Exaltam o caráter subjetivo da poesia.


b) Apresentam uma predileção pela forma do soneto.
c) Expressam o pessimismo e a dor do poeta pela existência.
d) Retomam elementos da tradição romântica.
e) Privilegiam o misticismo e a religiosidade.

02 – O caráter lírico da poesia lido advém sobretudo da exposição dos sentimentos do eu lírico. Observe
algumas das imagens do poema: “sonhos cruéis”, “alma doente”, “medo”, “saudades do presente”, “véu
escuro”, etc. Como se sente o eu lírico diante da vida e do mundo?

03 – O tempo predominante na poesia é o presente, como se verifica pelas formas verbais “tenho”, “sinto”,
“vou”, “alumia” e outras. No entanto, na primeira estrofe, o eu lírico faz uma projeção para o futuro, nestes
versos:
“Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...”

a) Que contradição reside nas “saudades” sentidas pelo eu lírico?

b) Logo, o futuro representa uma perspectiva para o eu lírico?

04 – A dor, a angústia e o sofrimento são elementos constantes na poesia de Camilo Pessanha. Não se trata,
contudo, de uma dor de natureza amorosa.
a) Qual é a natureza da dor vivida pelo eu lírico?

b) De acordo com as ideias da poesia, que interpretação pode ser dada ao verso “Sem ela (a dor) o coração
é quase nada”?

Soneto: Acrobata da Dor

Gargalha, ri, num riso de tormenta,


Como um palhaço, que desengonçado,
Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
De uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,


Agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche, salta clown, varado
Pelo estertor dessa agonia lenta ...

Pedem-se bis e um bis não se despreza!

Vamos! retesa os músculos, retesa


Nessas macabras piruetas d’aço...

E embora caias sobre o chão, fremente,


Afogado em teu sangue estuoso e quente,
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.
Cruz e Sousa

Gavroche: garotos de Paris, figuradamente artista.


Estertor: respiração anormal própria de moribundos.
Fremente: vibrante, agitado, violento.
Estuoso: que ferve, ardente, febril.

Entendendo o soneto:

01 – Fazendo uma análise mais detalhada do soneto, assinale a afirmação incorreta:


a) ao longo do texto, constata-se que o acrobata da dor, desempenhando o papel de um triste e sofrido
palhaço, é metáfora do próprio coração.

b) o acrobata precisa acolher a manifestação da audiência e seguir desempenhando seu papel, mesmo que o
leve à morte.
c) essa espécie de clown, que vive de agradar às multidões, paga um preço alto: a ocultação de sua dor
interior.
d) cena grotesca, o bis é a sedução da plateia que acaba conduzindo o acrobata para a tragédia.
e) a plateia pedindo bis corresponde à elite política que exige do cidadão, em sua luta diária, as maiores
acrobacias.
02 – Ainda sobre o soneto, assinale a afirmação errônea:
a) há uma alusão ao fato de o palhaço, interiormente dilacerado, mascarar seus sentimentos para transmitir
alegria.
b) a fachada de alegria e o sofrimento interior compõem a natureza conflitante do coração do poeta,
sensibilizando o público.
c) há um vocabulário sugestivo, remetendo ao coração: “gargalhada sanguinolenta”, “convulsionado”,
“retesa os músculos”.
d) o poema pode ser visto também como uma metáfora da condição do artista, em que se revelam as relações
entre arte e poeta.
e) a condição do artista se espelha na do palhaço, sendo este forçado a rir, numa espécie de tortura interna e
eterna.

03 – Assinale o item em que a expressão utilizada possui uma carga semântica que destoa das demais:
a) “riso de tormenta”
b) “gargalhada atroz, sanguinolenta”
c) “agonia lenta”
d) “Pedem-se bis”
e) “macabras piruetas”

04 – Assinale a alternativa em que a indicação entre parênteses não está de acordo com o verso:
a) “Gargalha, ri, num riso de tormenta,” (pleonasmo vicioso)
b) “salta, gavroche, salta clown, varado” (assonância)
c) “Da gargalhada atroz, sanguinolenta,” (sinestesia)
d) “nessas macabras piruetas d’aço...” (metáfora)
e) “afogado em teu sangue estuoso e quente,” (aliteração).

POEMA HAICAI

Primavera
A chuva me obriga
Na manhã de primavera
A deixar o sono!
--- Desperta, desperta,
Borboleta que dormes
Serás minha amiga.

Nada mais gracioso:


Pela estrada da montanha
Uma violeta silvestre.
Verão
Chuvas de verão.
Nas águas flutua um ninho.
Vou apreciá-lo.
Cena venerável!
Folhas verdes, folhas tenras
Aos raios de sol!
De sabor poético
As cantigas que há nos campos:
Plantação de arroz!
Outono
De ressaca, espirro:
Pressinto o tempo do outono
Que está chegando.
Matinal orvalho.
No chão molhado, o melão
Enlameado e fresco...
Um cabelo branco
No travesseiro que esconde
Por debaixo... um grilo!
Inverno
Cebolinha branca
Bem limpa e recém-lavada
- sensação de frio!
Nem sempre bem visto,
Como é belo o corvo
Nas manhãs de inverno!
Nas trevas da noite,
Galhos que rangem, caindo
Ao peso da neve!

Seleção e tradução de Mons. Primo Vieira.


Bashô, palhas de arroz, São Paulo:
Aliança Cultural Brasil-Japão, 1994.

Venerável: respeitável.
Atividade
1- Quais elementos da natureza mencionados nesses haicais fazem parte do ambiente em que você vive?
2-Copie dos haicais palavras que se referem a elementos da natureza com os quais você nunca teve contato.
3-Leia esta afirmação:
Nos haicais, há elementos da natureza bem diferentes daqueles presentes no ambiente em que vivemos.
Por que isso acontece?
4-Copie um dos haicais lidos em que os elementos da natureza estejam relacionados:
a) À percepção de que uma nova estação vem chegando;
b) À afetividade entre o ser humano e um elemento da natureza;
c) A um ser da natureza que surge no cotidiano e na intimidade de uma pessoa.
5-Releia este haicai: Cebolinha branca
Bem limpa e recém-lavada:
- sensação de frio!
a) Por que o eu poético diz que tem sensação de frio?
6-Em algumas culturas, é comum relacionar alguns animais com a má sorte, o azar. No haicai a seguir, isso
também acontece? Por que?
Nem sempre bem visto
Como é belo o corvo
Nas manhãs de inverno!
7-Ainda sobre o haicai da atividade 6, assinale a alternativa que complementa o enunciado a seguir: Para
chegar a essa visão profunda, apurada desse ser da natureza (o corvo), o eu poético:
--- revela uma visão de indiferença em relação aos elementos da natureza.
--- revela uma visão preconceituosa a respeito do corvo.
8- No haicai apresentado na questão 6, há ideias que se opõem? Quais são?

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