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Correção da Ficha de Trabalho - A Lírica Camoniana

I. Poema 1:
Lê e/ ou ouve o poema que segue em https://www.youtube.com/watch?v=2QRYEAGj4vk,
recitado por Ary dos Santos)

Mote (Verso ou pequeno conjunto de versos usados como tema e ponto de partida para o desenvolvimento
do poema.)
Descalça vai para a fonte
Leanor pela verdura;
vai fermosa e não segura.

Voltas (Espécie de glosa: poesia feita sobre um mote, em que o glosador escolhe e distribui à sua vontade as
palavras do mote.)
Leva na cabeça o pote,
o testo nas mãos de prata,
cinta de fina escarlata,
saínho de chamalote;
traz a vasquinha de cote,
mais branca que a neve pura;
vai fermosa, e não segura.

Descobre a touca a garganta,


cabelos d’ouro o trançado,
fita de cor d’encarnado,
tão linda que o mundo espanta;
chove nela graça tanta
que dá graça à fermosura;
vai fermosa, e não segura.

CAMÕES, Luís de – Rimas

1. No poema acima transcrito, assinala a vermelho todos os vocábulos e expressões que


caracterizam Leanor fisicamente e a verde os que se referem ao aspeto psicológico.

2. Identifica, no quadro abaixo, a vertente correspondente aos versos selecionados.

Visão popular Visão renascentista


“Descalça vai para a fonte” X
“Leva na cabeça o pote” X
“O testo nas mãos de prata” X
“saínho de chamalote” X
“Tão linda que o mundo espanta” X
“Chove nela tanta graça” X
“Cabelos d´ouro o trançado” X

3. Risca as afirmações erradas.


Em termos formais, este poema insere-se dentro da corrente tradicional/ renascentista. É
um soneto/ uma redondilha menor/ uma redondilha maior, pois os seus versos são
pentassílabos / heptassílabos, e correspondem à medida velha / medida nova.
II. Poema 2:

Lê e/ ou ouve o poema que segue em https://www.youtube.com/watch?v=hH3Qyy53t1w,


interpretado por José Afonso.

Endechas1 (Composição poética, fúnebre ou triste, geralmente em quadras de cinco ou seis sílabas.)
a ũa cativa com quem andava d’amores
na Índia, chamada Bárbora2

Aquela cativa, onde o povo vão


que me tem cativo, perde opinião
porque nela vivo que os louros são belos.
já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa Pretidão de Amor,
em suaves molhos, tão doce a figura,
que para meus olhos que a neve lhe jura
fosse mais fermosa. que trocara a cor.
Leda mansidão
Nem no campo flores, que o siso acompanha;
nem no céu estrelas, bem parece estranha,
me parecem belas mas bárbora3 não.
como os meus amores.
Rosto singular, Presença serena
olhos sossegados, que a tormenta amansa;
pretos e cansados, nela enfim descansa
mas não de matar. toda a minha pena.
Esta é a cativa
Ũa graça viva, que me tem cativo,
que neles lhe mora, e, pois nela vivo,
para ser senhora é força que viva.
de quem é cativa.
Pretos os cabelos,
CAMÕES, Luís de – Rimas

Endechas1: noutras edições da obra de Camões, surge apenas a referência “Trovas”, ou seja, cantiga ou canção;
Bárbora2: nome próprio; bárbora3 (adjetivo): rude, brutal, feroz, desumano, grosseiro, cruel.

1. Apesar desta composição poética pertencer à corrente tradicional, contém, no retrato da


amada, traços da mulher renascentista. Assinala-os, no poema acima transcrito, a
vermelho.

2. Classifica as características de Bárbara evidenciadas em cada expressão

Aspeto físico Aspeto psicológico


"leda mansidão" X
"pretos os cabelos" X
"presença serena" X
"olhos (...) pretos" X
"olhos sossegados (...) e cansados" X
"o siso acompanha" X
III. Poema 3:

Um mover d’olhos, brando e piadoso,


sem ver de quê; um riso brando e honesto,
quase forçado; um doce e humilde gesto,
de qualquer alegria duvidoso;

um despejo quieto e vergonhoso;


um repouso gravíssimo e modesto;
ua pura bondade, manifesto
indício da alma, limpo e gracioso;

um encolhido ousar; ua brandura;


um medo sem ter culpa; um ar sereno;
um longo e obediente sofrimento;

esta foi a celeste fermosura


da minha Circe, e o mágico veneno
que pôde transformar meu pensamento.

CAMÕES, Luís de – Rimas

1. Assinala, a vermelho, a opção correta.


O tema deste soneto é…
a) o retrato de Circe.
b) o retrato convencional e predominantemente psicológico da mulher amada.
c) o retrato físico da amada.
d) o sentimento amoroso provocado pelo afastamento da amada.

2. Completa o seguinte enunciado, selecionando o vocábulo correto na seguinte listagem:


doce, fria, convencional, louros, clássica, tradicional, revolta, ideal, branca, sonetos,
cantigas, perfeição, claros, XVI, interior

A obra lírica de Camões condensa as tendências que representam o século a) XVI , conciliando
uma corrente b) tradicional que se caracteriza pela espontaneidade e pela graciosidade, bem
como pela utilização da redondilha maior e menor; e uma c) clássica ou renascentista, dos d)
sonetos.
Ambas as correntes utilizam a natureza de forma estética e metafórica, tratam o objeto da
paixão evidenciando influências petrarquistas – a mulher é idealizada numa e) perfeição física,
espiritual e moral. Os olhos f) claros , os cabelos g) louros , a face h) branca e rosada, a serenidade
que emana e o riso i) doce sempre presentes tornam este retrato j) convencional o de um ser que
encarna o amor k) ideal e inacessível.
Os sonetos camonianos refletem, igualmente, a vida pessoal do poeta, o seu conflito l) interior,
as suas angústias e a sua m) revolta profunda.
IV. Outros:

Poema 4 Poema 5

O dia em que nasci moura e pereça, Alegres campos, verdes arvoredos,


Não o queira jamais o tempo dar; Claras e frescas águas de cristal,
Não torne mais ao Mundo, e, se tornar, Que em vós os debuxais ao natural,
Eclipse nesse passo o Sol padeça. Discorrendo da altura dos rochedos;

A luz lhe falte, o Sol se [lhe] escureça, Silvestres montes, ásperos penedos,
Mostre o Mundo sinais de se acabar, Compostos em concerto desigual,
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar, Sabei que, sem licença de meu mal,
A mãe ao próprio filho não conheça. Já não podeis fazer meus olhos ledos.

As pessoas pasmadas, de ignorantes, E, pois me já não vedes como vistes,


As lágrimas no rosto, a cor perdida, Não me alegrem verduras deleitosas,
Cuidem que o mundo já se destruiu. Nem águas que correndo alegres vêm.

Ó gente temerosa, não te espantes, Semearei em vós lembranças tristes,


Que este dia deitou ao Mundo a vida Regando-vos com lágrimas saudosas,
Mais desgraçada que jamais se viu! E nascerão saudades de meu bem.

Poema 6

Esparsa (Pequena composição lírica.)


Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.

1. Para cada um dos temas camonianos, abaixo enumerados, indica o título de um poema
ilustrativo, transcrito ou não nesta ficha de trabalho.

a) A idealização da mulher amada: “Um mover d’olhos, brando e piadoso”


b) A reflexão sobre o amor e avida amorosa: “Amor é um fogo que arde sem se ver”
c) A reflexão sobre a vida pessoal: “O dia em que nasci moura e pereça”
d) A representação da natureza: “Alegres campos, verdes arvoredos”
e) A mudança: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”
f) O desconcerto do mundo: “Os bons vi sempre passar”

Bom trabalho!

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