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Almeida Garrett

João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett, o iniciador do romantismo português, nasceu
no Porto (1799) e faleceu em Lisboa (1854); foi um dos mais radicais componentes da primeira
geração romântica. Suas produções literárias revelaram, na forma e no conteúdo, as
contradições ideológicas em que ele se debateu: era de personalidade conservadora e, ao
mesmo tempo, um defensor das ideias liberais – pelas quais foi exilado duas vezes de Portugal.
Garrett formou-se dentro do Arcadismo, identificando-se com as ideias iluministas e com a
poética defendida por seu mestre neoclássico, Filinto Elíseo. Suas primeiras obras – Lírica de
João Mínimo e Retrato de Vênus – atestam essa filiação ao Arcadismo. Cursou Direito na
Universidade de Coimbra, formando-se em 1821, nesse tempo já aderira ao liberalismo, tendo
defendido ardentemente os liberais da Revolução do Porto de 1820. A publicação do poema
Retrato de Vênus no mesmo ano de sua formatura trouxe-lhe notoriedade, embora
proveniente de um escândalo. Setores reacionários, ligados à igreja, acusaram Garrett de
materialista e de obsceno e levaram-no a um julgamento, no qual foi absolvido. Pouco antes
desse acontecimento, encenou a tragédia Catão, com algumas menções ao movimento
revolucionário liberal português. Foram acontecimentos que precipitaram a decisão
governamental de exilar o poeta, por razões políticas, após o golpe de Estado de 1822, que
baniu o liberalismo de Portugal. Em 1823, junto com sua esposa, Luísa Midosi, esteve exilado
na Inglaterra. Lá, ele tomou contato com as tendências do romantismo inglês – principalmente
com a obra de Walter Scott, o autor medievalista de Ivanhoé. Também leu muito Shakespeare,
o dramaturgo mais prestigiado pelos românticos. Em 1824, esteve na França, vivendo no Havre
e escrevendo dois livros, Camões, com base na vida do mais célebre poeta português, e Dona
Branca, em torno de uma figura medieval do século XIII. Quando regressou a Portugal, os seus
dois livros Camões e Dona Branca já haviam sido publicados (em 1825 e 1826
respectivamente). Entretanto, novo exílio obrigou Garrett a voltar à Inglaterra: as forças
absolutistas de D. Miguel tinham vencido a luta pelo trono português. Passou o ano de 1828
em terra inglesa, depois transferiu-se para a França, e de lá para o norte da África, onde
engajou-se no exército de D. Pedro IV (ou D. Pedro I do Brasil). Em meio a essa vida
aventuresca e complicada, produziu as obras que haveriam de consagrá-lo como um escritor
em definitivo. Em 1832, participou do cerco à cidade do Porto – um empreendimento dos
liberais –, e enquanto isso escreveu O Arco de Santana, um romance histórico. Dois anos
depois, quando o país já estava em situação menos caótica e sob o domínio liberal, Garrett
retornou a Lisboa. Separou-se da esposa e assumiu a tarefa de fundar o teatro nacional,
empreendimento que seria dos mais importantes de sua vida. A primeira peça romântica é de
sua autoria: Um auto de Gil Vicente. A mais importante também leva a assinatura de Garrett:
Frei Luís de Sousa. Em 1841, uniu-se a Adelaide Deville, que lhe deu uma filha. Dois anos
depois, iniciou a publicação de Viagens na minha terra, um retrato-reportagem. Novos amores,
entretanto, ocuparam-lhe a imaginação. O falecimento precoce de Adelaide foi logo esquecido
quando aconteceu a paixão pela Viscondessa da Luz, Maria Rosa de Montúfar, a quem dedicou
uma de suas obras primas, o livro Folhas Caídas, de 1853. Faleceu em 1854.

(Fonte: CAMPEDELLI, Samira Youssef. Literatura História e Texto 2. São Paulo: Saraiva, 1994, p.
22-4)

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