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XXI Encontro Internacional de Reflexão e Investigação

UTAD - 2017
“O Labirinto da Saudade de Eduardo
Lourenço: um modo de repensar Portugal”
ADRIANA CRISTINA DUARTE DE CARVALHO
UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO-UTAD
PATRÍCIA ISABEL DIMAS GARCIA DE MATOS FERNANDES
UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO-UTAD

MARIA LUÍSA DE CASTRO SOARES (coord.)


UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO-UTAD
CECH- UNIVERSIDADE DE COIMBRA
Índice
 Nota Introdutória  1º momento
 Eduardo Lourenço  2º momento
 O Labirinto da Saudade  3º momento
 Retrato da Obra  4º momento
 Objetivos Primordiais do autor  5º momento
 Capítulos  Conclusão

 Psicanálise mítica do destino  Psicanálise de Portugal


português  Breve Introdução
 Breve Introdução  Análise
 1º traumatismo  Conclusão
 2º traumatismo  Conclusão
 3º traumatismo  Referências Bibliográficas /
 Da literatura como interpretação eletrónicas
de Portugal
 Breve Introdução
Nota Introdutória

 O estudo que aqui se propõe tem como objetivo geral a


abordagem da obra O Labirinto da Saudade, de Eduardo
Lourenço.
 Após uma breve apresentação do ensaísta, segue-se a análise da
obra e dos capítulos propostos, onde o autor reflete sobre a
realidade nacional, fazendo uma revisão do percurso português
até ao fim do império salazarista e questionando os discursos sobre
Portugal.
 Ao discursar sobre o que somos e não sobre o que fomos, ainda e
sempre, visa repensar a realidade portuguesa.
Eduardo
Lourenço
 É um professor, ensaísta e filósofo
português.
 Nasceu em São Pedro de Rio Seco
(Almeida) a 23 de maio de 1923.
 Licenciou-se em Ciências Histórico-
Filosóficas, na Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra.
 Foi, a 7 de abril de 2016, designado
Conselheiro de Estado pelo Presidente da
Republica Marcelo Rebelo de Sousa.
 Ao longo da sua carreira escreveu
inúmeras obras e foi homenageado com
vários títulos.
O Labirinto da Saudade

 O livro O Labirinto da Saudade é um conjunto de nove ensaios,


apresentados em revistas, jornais ou conferências, compilados pelo
próprio e escritos entre 1968 e 2000, a data da primeira edição.
 É de salientar que a maioria dos textos foram expostos em torno da
Revolução dos Cravos (o 25 de abril de 1974), alguns antes, alguns
depois, e grande parte criticam o antigo regime.
 Nesta obra, Eduardo Lourenço retrata Portugal enquanto “indivíduo”
único, definido por mitologemas inerentes, mas, principalmente, revela
a imagem do ser português.
O Labirinto da Saudade – Objetivos
Primordiais do autor

 Refletir sobre a identidade portuguesa.


 Debater sobre o que somos, e não o que fomos, enquanto povo.
 Ponderar sobre a nossa realidade (presente e futura).
 Considerar opiniões de diversos autores acerca de Portugal.
 Questionar o leitor sobre o percurso histórico do povo português,
principalmente relativo ao Salazarismo.
O Labirinto da Saudade – Capítulos

 Para uma revisão improvável (11-15)


 Breves esclarecimentos (17-21)
 Psicanálise mítica do destino português (23-66)
 Repensar Portugal (67-79)
 Da literatura como interpretação de Portugal (80-117)
 A emigração como mito e os mitos da emigração (118-126)
 Somos um povo de pobres com mentalidade de ricos (127-135)
 A imagem teofiliana de Camões (136-147)
 Camões no presente (148-157)
 Sérgio como mito cultural (158-172)
 Psicanálise de Portugal (173-180)
3º Ensaio: Psicanálise mítica do
destino português
 Um dos ensaios que retrata melhor a
questão da Identidade, a obsessão dos
portugueses pelo passado e a esperança
messiânica de um futuro melhor é a
“Psicanálise Mítica do Destino Português”,
com base em 3 traumatismos:
Psicanálise mítica do destino
português – Os 3 traumatismos
 1) A Formação de Portugal
 Uma formação que acreditamos ser ligada a uma força divina, um
povo prometido pelos céus.
 Isto dá-se porque, de acordo com Eduardo Lourenço, esta nossa
crença cumpre a função de esconder de nós mesmos a nossa
intrínseca fragilidade, definindo-nos como pobres com
mentalidade de ricos.
Psicanálise mítica do destino
português – Os 3 traumatismos
 2) O Domínio Filipino
 O autor considera que durante o domínio Filipino, nós
Portugueses esperámos por um milagre divino.
 Vivemos num ciclo sebastianista, que o autor considera
o sinal da nossa maior fraqueza e carência nacional.
 No fundo, foi aquilo que permitiu que sentíssemos na
carne que éramos um povo “naturalmente” destinado
à “subalternidade”.
Psicanálise mítica do destino
português – Os 3 traumatismos
 3) O Ultimatum Inglês de 1890 – “traumatismo resumo”

 Segundo o autor, “o Ultimatum não foi apenas uma


peripécia particularmente escandalosa das
contradições do (nosso) imperialismo europeu, foi o
“traumatismo resumo” de uma existência nacional
traumatizada”.
 Foi um dos marcos históricos que nos fez ver que somos
um povo mais pequeno do que aquilo que na realidade
sentíamos.
Psicanálise mítica do destino
português
 O império a que o autor se refere (que acaba com o 25 de abril de 1974 e a
posterior descolonização) é, no século XX, aquele que foi mantido pelo
Estado Novo. É um tempo que ele considera ser de alguma contradição,
onde queríamos mostrar acima de tudo a nossa modéstia, mas não
abdicávamos de terras que não eram nossas, as colónias.
 O autor declara que o excesso de repreensão na época do salazarismo e as
tentativas em nos tornarmos um povo modesto, transformou-se numa
lusitanidade excessiva que escondeu a realidade do país através de uma
fixação ideológica, sociológica e cultural: “O Salazarismo foi o preço forte
que uma pequena nação agrária, desfasada do sistema ocidental a que
pertence, teve de pagar para ascender ao nível de nação em vias de
industrialização”.
5º Ensaio: Da literatura como
interpretação de Portugal
 No ensaio “Da literatura como interpretação de
Portugal”, Eduardo Lourenço assinala cinco momentos
relevantes, induzidos pelas gerações mais marcantes do
século XIX e princípios do século XX, concentrando-se,
por isso, entre Almeida Garrett e Fernando Pessoa.
Da literatura como interpretação
de Portugal – 1º momento
 O primeiro momento é, para o autor, a inserção
do Modernismo de Fernando Pessoa “num
contexto e num processo mais antigo e vasto”
(Lourenço 2012: 81) que começou com Almeida
Garrett e Alexandre Herculano.
Da literatura como interpretação
de Portugal – 1º momento
 A primeira revolução industrial da burguesia francesa altera a
relação indivíduo-pátria; o que antes era mera terra paterna
transforma-se, com as revoluções liberais, em nação.
 Será Garrett um dos primeiros, entre muitos outros, a
consciencializar literariamente, em Portugal, essa questão.
 Para os românticos, esta nossa nação era frágil, vulnerável e
permanentemente ameaçada pela sua própria
mediocridade, levando-os, por isso, a enfatizá-la como
“grande”.
Da literatura como interpretação
de Portugal – 2º momento
 O segundo momento é representado pela célebre Geração de 70, em que
os seus mais ilustres membros, Eça de Queirós, Antero de Quental, Teófilo
Braga e Oliveira Martins, atentos às alterações causadas pelo modernismo
na Europa, manifestaram um interesse em ligar Portugal a esse movimento,
tentando nutri-lo dos elementos vitais de que a humanidade civilizada
precisa.

 “Cabia-lhes recuperar, pensavam (…) esse atraso demencial”, e por isso,


“havia que pensar, havia que imaginar e, mais custoso ainda, havia que
inventar. Tínhamos sobretudo de nos inventar outros”(Lourenço 2012: 91)
Da literatura como interpretação
de Portugal – 2º momento
 Esta geração de autores e pensadores convive com o sentimento de
declínio de um povo que recebe influências passivas do movimento
designado por “Civilização”.
 “Nunca uma geração se sentira tão infeliz (…) por descobrir que pertencia a
um povo decadente, marginalizado ou automarginalizado na história e
recebendo passivamente do movimento geral do que chamam, extasiados,
a civilização, não só máquinas, artefactos, modas mas sobretudo ideias”
(Lourenço 2012: 90).
Da literatura como interpretação
de Portugal – 3º momento
 O terceiro momento é marcado pela Geração de 90,
que vai contestar este declínio, com Guerra Junqueiro e
António Nobre.
 “Todavia, para o mesmo Nobre, para Junqueiro,
sobretudo para Cesário, Portugal tem, apesar de tudo,
um presente porque tem uma presença da qual cada
um escolhe a face simbólica idealizante ou
denunciadora” (Lourenço, 2012: 98).
Da literatura como interpretação
de Portugal – 4º momento
 O quarto momento interpreta em profundidade o
imaginário saudosista de Teixeira de Pascoaes,
explicando a relação do escritor com a sua pátria, uma
pátria a ser feita e não apenas já feita.
 “[O] poeta das Sombras [Pascoaes] evoca a realidade
pátria como Pátria-Saudade, elevando ao universal a
particularidade com que somos supostos viver a nossa
relação com o tempo, ou, se se prefere, a sua
tonalidade «saudosa»” (Lourenço, 2012: 101).
Da literatura como interpretação
de Portugal – 5º momento
 O quinto momento termina com a Mensagem de
Pessoa, em que a desnacionalização e o
cosmopolitismo permitem esperar tudo do Portugal
navegador.
 “De Portugal enquanto realidade presente não espera
Pessoa nada. Do Portugal como nauta de si mesmo,
como história-profecia de que Mensagem interroga os
anúncios e signos sucessivos, tudo” (Lourenço, 2012:
114).
Da literatura como interpretação
de Portugal
 O que todos eles têm em comum é a preocupação de
apontar Portugal como estando demasiado preso ao
passado , não conseguindo olhar para o futuro.
 Estes escritores desejaram transformar o País, ambicionando
recriá-lo ora à imagem de nações europeias fortes, ora
proclamando o renascimento do Império com a vinda do
Desejado.
 Os discursos identitários por eles criados fundam o nosso
património cultural.
9º Ensaio: Psicanálise de Portugal

 Neste capítulo, Eduardo Lourenço “dialoga”


com Fernando Namora sobre a literatura em
Portugal, nomeadamente, sobre Eça de Queirós
e Fernando Pessoa, fazendo uma análise do
que é ser português.
Psicanálise de Portugal
 De acordo com Eduardo Lourenço, Fernando Namora
acreditava que, sempre que os autores nacionais, seus
contemporâneos, discutiam temas ou figuras da cultura
ocidental, nunca diziam nada de novo e que repetiam
ideias já tratadas.

 Essa questão, levantada em Diálogo em Setembro,


originou, segundo os críticos, uma problemática cultural
generalizada, que consistia num “velho complexo de
inferioridade” (Lourenço 2012: 174).
Psicanálise de Portugal
 Foge a essa regra cultural, Eça de Queirós que é, para Namora e
Fernando Pessoa, a exceção, devido ao facto de, através dos seus
trabalhos, nos tentar convencer de que Portugal se poderia
encontrar culturalmente em pé de igualdade com as outras
sociedades.
 Isto dá-se por Eça sofrer de uma certa «distância», criada pela
sátira e pela desenvoltura, entre a realidade cultural das suas
personagens e respetivas ações. No entanto, para Pessoa, essa
«distância» é enganosa.
 De acordo com o autor, essa «distância», ou melhor, esse
europeísmo, que Eça tenta incutir em nós de forma a nos tornar tão
«cultos» como o estrangeiro, não é apoiada pelos os seus
contemporâneos.
Psicanálise de Portugal
 Esse europeísmo, que eventualmente se incutiu em nós, foi
particularmente natural em Garrett, embora seja Eça, com a sua
superioridade inalcançável, o epitome literário para muitos
autores nossos provincianos.

 Devido ao avançar dos tempos, nós, o povo português,


“começamos pisando esse mítico salão da cultura rica com uma
naturalidade crescente e, alguns, com perfeito à-vontade”
(Lourenço 2012: 177) e, por isso, começamos a achar que nós
não somos menos comparados com os outros. Este fenómeno é
uma verdadeira “revolução cultural”.
Psicanálise de Portugal
 Eduardo Lourenço conclui este capítulo, dizendo que
Diálogo em Setembro é uma brilhante crónica, indispensável
para os portugueses melhor se conhecerem e poderem fazer
uma autognose.
 O autor apoia fortemente as considerações de Fernando
Namora. No entanto, apercebemo-nos que existe uma
discussão relativamente ao escritor Eça de Queirós.
 Para Eduardo Lourenço, Diálogo em Setembro é a obra em
que se nota que está a decorrer uma revolução cultural, no
sentido em que os portugueses começam lentamente a
questionar-se sobre a sua identidade.
Conclusão
 Todos estes escritores, escolas e movimentos
pretenderam, com as suas limitações, transformar um
país sonhador numa imagem real.
 Uns desejaram recriá-la à imagem de nações europeias
fortes, outros anunciando o renascimento do império
com a vinda de um Desejado.
 Os discursos identitários por eles criados formam o Ser
português. É isto o nosso património mítico-cultural,
porque os escritores, ao tentarem transformá-lo,
também contribuíram para o defini-lo e enriquecê-lo.
Referências Bibliográficas / eletrónicas
 Lourenço, Eduardo (2012): O Labirinto da Saudade, Lisboa: Edições Gradiva.
 http://www.bmel.pt/eduardo-lourenco/vida
(Eduardo Lourenço - A Vida | BMEL – Biblioteca Eduardo Lourenço)
 http://www.eduardolourenco.uevora.pt/sobre_eduardo_lourenco/biografia
(Projeto Eduardo Lourenço / Sobre Eduardo Lourenço / Biografia)
 http://www.eduardolourenco.uevora.pt/obras_completas/node_258
(Projeto Eduardo Lourenço / Obras Completas / Volume I - Heterodoxias)
 http://www.eduardolourenco.com/distincoes/premios.html
(CNC Eduardo Lourenço)
 http://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=1841
(Eduardo Lourenço - Portal da Literatura)
 https://pt.scribd.com/doc/24177895/O-Labirinto-Da-Saudade
(O Labirinto da Saudade)

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