Você está na página 1de 22

Organização do

Trabalho Docente
Educação e Métodos de Ensino no Saber-Fazer Docente

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Kethlen Leite de Moura

Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Educação e Métodos de Ensino
no Saber-Fazer Docente

• Educação e Métodos de Ensino no Saber-Fazer Docente.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Identificar as abordagens teórico-metodológicas do processo de ensino e a atuação
do professor.
UNIDADE Educação e Métodos de Ensino no Saber-Fazer Docente

Educação e Métodos de Ensino


no Saber-Fazer Docente
Iniciamos os nossos estudos buscando o conceito de educação em Simone de Beau-
voir. Essa filósofa francesa contemporânea reflete, em seu livro intitulado O ­segundo
sexo, sobre o ser mulher nos dias de hoje. Tal discussão apresenta, também, uma re-
flexão sobre o próprio processo de educação que esboçamos aqui. Nessa obra há uma
citação fundamental para iniciarmos a discussão sobre a importância da educação:
Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico,
­psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio
da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto [...].
Somente a mediação de outrem pode constituir um indivíduo como um
Outro. (BEAUVOIR, 1967, p. 9)

Este excerto destaca a importância da educação em nossa sociedade. A discussão


exposta pela filósofa evidencia o valor da educação em nossa cultura. Não nascemos
mulheres, assim como não nascemos homens. Para além da questão de gênero, o
que fica explícito, nesta discussão, é o fato de que não nascemos humanos, mas
tornamo-nos humanos por meio da vivência em sociedade.

Quais ações nos diferenciam dos animais? E o que nos torna homens e mulheres? Pense
sobre isso para além da questão biológica.

De acordo com Beauvoir (1967), tornamo-nos homens e mulheres por meio da


cultura em que estamos inseridos. Aprendemos, pela educação, ou seja, pelo pro-
cesso educacional, advindo de nossas famílias, das escolas e, por fim, de nossa
­sociedade, a sermos mulheres ou homens. Há inúmeros exemplos que “[...] podemos
citar com relação a essa divisão de gênero e a educação que nossa sociedade impõe
a nós, seres humanos” (BEAUVOIR, 1967, p. 15).

Figura 1 – Simone de Beauvoir


Fonte: Sharaf Maksumov/123RF

8
Mais uma vez, ressaltamos que o foco de nossa análise não é o gênero, mas a edu-
cação que nos ensina, por meio da sociedade e cultura em que estamos inseridos, a
sermos humanos – homens ou mulheres.
Se pensar em seu próprio processo de educação, perceberá que tanto a família
quanto as escolas – núcleos sociais de educação – interpõem modelos de educação
para nos ensinar a viver em sociedade. Aprendemos a ser sociáveis, solidários, res-
peitosos, a ter bons modos, além de toda uma gama de valores e atitudes que nos
permitem ser humanos, diferenciando-nos dos animais por meio do uso de nossa
racionalidade e da educação de nossa vontade.
[...] o ser humano não nasce humano, mas que se humaniza por meio
da cultura e da sociedade, por meio do processo de mediação, dado
via sociedade. Em cada tempo histórico, o homem a ser construído é
diferente porque responde às expectativas da sociedade. Esse é um pres-
suposto fundamental para compreendermos a importância da educação:
pois é por meio dela que nos tornamos humanos. A grande questão é que
o ser humano é visto de forma diferente, dentro do processo de desenvol-
vimento das sociedades. (LIMEIRA; PUZIOL, 2017, p. 50)

Nesse sentido, a educação é responsável por tornar-nos humanos. Embora nasça-


mos seres humanos, tornamo-nos humanos a partir da nossa inserção na sociedade
e por meio da cultura que nos é apresentada. Significa que os seres humanos são
construídos social e culturalmente.
Portanto, quando olharmos para a formação humana de nossos pais e avós, vere-
mos que a sua visão de mundo e os seus princípios são completamente diferentes dos
nossos, tendo em vista que a sua forma de criança e o tempo de criação eram outros.
Traremos um pequeno excerto sobre o que é cultura, possibilitando compreender
como a cultura influencia no processo de desenvolvimento humano:
A cultura é duradoura embora os indivíduos que compõem um determi-
nado grupo desapareçam. No entanto, a cultura também se modifica
conforme mudam as normas e entendimentos. Quase se pode dizer que
a cultura vive nas mentes das pessoas que as possuem. Mas as pessoas
não nascem com ela; adquirem-na à medida que crescem, suponha que
um bebê húngaro recém-nascido seja adotado por uma família residente
nos Estados Unidos, e que nunca digam a essa criança que ela é húngara.
Ela crescerá tão alheia à cultura húngara quanto qualquer outro americano.
Assim, quando falo da cultura egípcia, refiro-me a todo conjunto de en-
tendimentos, crenças e conhecimentos pertencentes aos antigos egípcios.
Significa, por exemplo, tanto suas crenças sobre o que faz o trigo cres-
cer, quanto sua habilidade para fazer implementos necessários à colheita.
Ou seja, suas crenças a respeito da vida e da morte. Quando falo de cultu-
ra, estou pensando em algo que perdurou através do tempo. Se qualquer
egípcio morresse, mesmo que fosse o faraó, isso não afetaria a cultura
egípcia daquele determinado momento. (BRAIDWOOD, 1985, p. 41-42)

Ao esboçar o seu entendimento sobre o termo cultura, esse autor corrobora com
a ideia de que cada tempo histórico e cada sociedade possui a sua cultura. Assim, a

9
9
UNIDADE Educação e Métodos de Ensino no Saber-Fazer Docente

cultura reflete as crenças e os valores de uma determinada nação em um determina-


do tempo histórico.
O termo cultura envolve, nesse sentido, aspectos morais e éticos de uma sociedade.
No Brasil, por exemplo, no período da ditadura militar, a atriz Leila Diniz, ao ser
fotografada grávida, em trajes de biquíni na praia do Rio de Janeiro, causou alvoroço
na opinião pública (ARANHA; MARTINS, 2009).

Você pode se perguntar: o que há de mais em uma pessoa ser fotografada de biquíni
e grávida?

Obviamente que não há nada de mais. Contudo, no período em que isso acon-
teceu houve “ebulição” de opiniões a respeito do fato, e isso resultou no Decreto
n.º 1.077/70, que dizia não ser tolerado “[...] publicações e exteriorizações contrárias
à moral e aos bons costumes quaisquer que sejam os meios de comunicação”. Con-
segue perceber que a cultura e os meios sociais de uma determinada época ou pe-
ríodo histórico influenciam em todas as decisões de uma sociedade, sejam políticas,
legais, éticas, sociais e, até mesmo, educacionais?

O exemplo apresentado sobre a fotografia da atriz Leila Diniz traz discussões


acerca do que era valorizado naquele período e essa valorização tem relação com
o educar das famílias, bem como os pressupostos teóricos a serem ensinados nas
escolas, isso porque a cultura tem fundamentos atemporais e tanto regiões quanto
países detêm sua própria construção social e histórica.

O pesquisador Antônio Severino (2006, p. 45), em seu artigo A busca do sentido


da formação humana: tarefa da Filosofia da Educação, auxilia-nos a compreender
essas mudanças a partir da perspectiva da educação e de sua relação com a ética e
política; afirmando que, desde a Antiguidade e por toda a Idade Média,
[...] estes conceitos aparecem ligados à ideia de formação humana e, por-
tanto, à ideia de educação. Para este autor, a educação considera os
aspectos éticos e políticos que aparecem dentro de cada sociedade, justa-
mente porque a educação reflete os ideais políticos e éticos que balizam
cada cultura.

No contexto que temos aqui apresentado, compreende-se o homem como uma


construção social, política, histórica, cultural e temporal, já que, em cada tempo
histórico, o processo da educação humana reflete as questões de seu tempo. Como
veremos nos próximos tópicos, em cada tempo determinado, por exemplo, a G ­ récia
Antiga, a Idade Média ou a Idade Moderna, deve ser entendido a partir de sua
­influência na educação e, principalmente, nos embates educacionais que trouxe
para o processo educacional.

Fernández (2001) discute o conceito de educação e cultura apoiando-se nos escri-


tos tanto de Freud quanto de Piaget. De Freud utiliza os conceitos de consciente, pré-
-consciente e inconsciente. Na consciência está aquilo que se sabe; no pré-consciente

10
aquilo que está antes de saber. Podemos pensar nos conhecimentos prévios que cada
um de nós possui, mas que precisam tornar-se conscientes para que façamos assimi-
lações; por fim, no inconsciente fica aquilo que não se sabe, mas que pode, sim, ser
conhecido por meio dos sonhos, medos e traumas (FERNÁNDEZ, 2001).

Essa autora chama a atenção para o fato de que, enquanto professores, não uti-
lizamos o pré-consciente de nossos alunos como deveríamos. Trazer à tona aquilo
que talvez nem mesmo o aluno saiba que sabe é um dos fatores que garantem uma
aprendizagem significativa.

Quando fazemos os nossos planos de aula e preenchemos itens como a contex-


tualização ou problematização, é exatamente isso que estamos fazendo: trazendo à
tona conceitos, ideias, fatos e ações, a fim de que os conteúdos que pretendemos
trabalhar tenham significado para o aluno. No entanto, o estudante e os conteúdos
curriculares a serem abordados em sala de aula precisam fazer parte da realidade
dos educandos.

Embora o pensamento tenha sido associado à não ação e ao não sentimento, não é assim
que devemos compreender o pensamento e o próprio processo de aprendizagem: pensa-
mento e aprendizagem são ações. Você já pensou sobre isto?

Por isso, a aprendizagem supõe duas características: a primeira é a escolha, pois


o aprender decorre do desejo, ou seja, da escolha em aprender e do poder fazer uso
deste saber. O pressuposto fundamental da abordagem da aprendizagem decorre de a
ação de poder usar os próprios saberes (enquanto estudante/educando) para aprender
o novo; trata-se de ponto-chave sobre a aprendizagem (FERNÁNDEZ, 2001).

A segunda característica intrínseca à aprendizagem é a inteligência. Para


Fernández (2001, p. 81) inteligência não é adaptação ao meio; “[...] se a inteligência
é adaptação ao meio, as baratas seriam os seres mais inteligentes”. Significa que para
aprendermos precisamos de um ensino que seja criativo, que dê significado às infor-
mações passadas pelos educadores. A aprendizagem passiva, sem questionamentos
ou autorias, não é, de fato, aprendizagem, pois, segundo Fernández (2001), “[...] a
aprendizagem criativa é um interjogo constante entre o incorporar o real externo a
esquemas já existentes e modificá-los: assimilação e acomodação.”.

Portanto, entendemos que a aprendizagem criativa recorre aos princípios de assi-


milação e acomodação. Esses termos ganham nova “roupagem” na teoria piagetiana:
caso do aluno motivado pelo desejo de aprender justamente porque o professor
conseguiu que a informação (que, para o docente, é conhecimento) tenha significado
ao aprendente.

A acomodação e aprendizagem desse conhecimento pressupõem que o aluno res-


signifique a informação, o que pode ocorrer de formas diversas, haja vista que cada
ser humano possui a sua singularidade, as suas próprias vivências e experiências.
É partindo dessa singularidade que o aluno cria os seus próprios conhecimentos.

11
11
UNIDADE Educação e Métodos de Ensino no Saber-Fazer Docente

Para exemplificar, a assimilação é aquele momento em que o estudante come-


ça a experimentar coisas novas e, no instante de experimentação, o educando já
tem a capacidade de entendimento suficiente para compreender que aquilo é algo
novo em seu “mundo”. Trata-se do momento em que o aluno passa a incorporar
novos esquemas em seu pensamento e na sua linguagem, tal como no momento
em que a criança entende que gato é um animal, logo, todos os animais que ti-
verem quatro patas e forem peludos, para essa criança, serão “gatos” – é dessa
maneira que a criança concebe todas as novas experiências de sua vida, por meio
da assimilação.

Já na acomodação, o aluno começa a fazer ajustes em seu processo matura-


cional para incorporar novas experiências. Continuando no exemplo do “gato”; no
momento em que a criança associa um animal peludo e de quatro patas a um gato,
chama-o de “gatinho”; no entanto, se houver um adulto que a corrija e lhe diga que
aquele “gatinho” é um cão, a criança aprenderá que o esquema criado para animais
peludos e de quatro patas não funciona para todos os bichos.

Assim, podemos dizer que esta ação, segundo Fernández (2001), “[...] é a condi-
ção da autonomia da pessoa e, por sua vez, a autonomia favorece a autoria do pen-
sar. À medida que alguém se torna autor, poderá conseguir mínimo de autonomia.”.
Trata-se do processo e ato de produção de sentidos, de reconhecimento de si como
protagonista ou participante da aprendizagem, justamente porque a aprendizagem
não é mais vista de forma passiva, mas supõe ação e criação, o que torna os alunos
autores – e não somente receptores.

O processo de criação ocorre enquanto se aprende; enquanto se cria. Portanto,


ao se pensar na ação do professor em sala de aula, enquanto este ensina os con-
teúdos curriculares, deve-se pressupor uma ação que seja, também, inquieta, pois,
enquanto se está conhecendo, está questionando-se.

A aprendizagem, do ponto de vista que apresentamos, deve partir da inquieta-


ção, da atividade criativa tanto do aluno quanto do professor. Dar voz e espaço para
que cada um de nossos estudantes tenham autonomia de pensamento sugere, por
um lado, uma nova metodologia e postura do professor: não mais a de detentor do
­saber, mas aquele que possibilita a interação e o espaço necessário para que o ­sujeito
aprendente o seja não somente de conteúdo, mas também aprendente e autor de
suas próprias ações e, portanto, de sua própria vida. Há que se distinguir, então, o
trabalho do professor nesse campo de aprendizagem, afinal, segundo Fernández
(2001), “[...] a pedagogia trabalha­fazendo com que as coisas sejam pensadas. Isso
significa que suas intervenções estão direcionadas a abrir espaços subjetivos e objeti-
vos onde a autoria de pensamento seja possível.”.

A fim de compreender esta citação, torna-se necessário distinguir três campos do


pensamento: aquilo que é pensável, aquilo que é não pensável e aquilo que é impensável.

O impensável possibilita o pensar, porque se trata de fatos que não são pensados,
não porque não queremos, mas porque, simplesmente, não pensamos nisso ou não
fomos instigados a pensar sobre determinado assunto.

12
Um exemplo que podemos dar a respeito de fatos não pensados e impensados
é a incorporação de filmes como recursos didáticos: os filmes podem ser ótimos
recursos capazes de representar situações educativas dentro da sala de aula e, poste-
riormente, realizar discussões ou intervenções com os educandos.
Os filmes são ótimos recursos educacionais para fazer pensar, gerar no educando –
e até mesmo no docente – o impensável no pensamento; uma maneira de suscitar
problemas sociais, culturais e buscar respostas para essas questões “impensáveis”.

Importante!
Não podemos fazer pelos outros aquilo que não fazemos por nós mesmos: autorizarmo-
-nos a pensar e termos autoria de pensamento é fundamental, se quisermos possibilitar
a autoria em outros. Isso implica saber que o pensamento ação. Segundo Fernández
(2011): “[...] quando digo que eu penso, estou dizendo que estou construindo algo novo
ainda em relação ao que pensava antes.”.

Inicialmente, você deve compreender que a aprendizagem não ocorre somente


dentro de um contexto determinado, como o escolar, por exemplo. O processo de
ensino-aprendizagem se dá ao longo de nossas vidas. Desde o nascimento, apren-
demos a comer, andar, escrever, ler, relacionarmo-nos e tantas outras aprendizagens
que podemos pensar. Contudo, nem sempre esse processo ocorre de forma sistema-
tizada, como na escola. Por isso, é necessário saber que sempre estamos em proces-
so de ensino-aprendizagem, ainda que não percebamos imediatamente.

Neste momento, as nossas discussões abarcam o processo de ensino-aprendiza-


gem proposto por Libâneo (1994), em seu livro intitulado Didática. Esse educador
brasileiro apresenta cinco propostas de processos de ensino, distintas entre si e que
possibilitam que tal processo seja desenvolvido.

Os processos de ensino, ou métodos de ensino, são utilizados como aportes teó-


ricos para que o professor consiga desenvolver os seus planos de trabalho e de aula;
os métodos de ensino são: processo de exposição, de trabalho independente, de
elaboração conjunta, de trabalho em grupo e atividades especiais.

O primeiro é o método de exposição que consiste na apresentação dos conteúdos


a serem aprendidos de forma verbal, seja falando sobre o tema, seja demonstrando
por meio de ilustrações e exemplificações, entre outras formas. A ideia é que o con-
teúdo seja exposto pelo professor para que o aluno possa aprender. Nessa forma de
aprendizagem, a participação discente é nula, pois é o professor quem transmite o
conhecimento. Tal metodologia é encontrada nas escolas tradicionais, cuja pedago-
gia centra o professor no processo de ensino-aprendizagem. O método expositivo
de ensino é amplamente utilizado nas salas de aula e este não favorece o desenvolvi-
mento das competências e habilidades dos alunos, servindo para expor o conteúdo
a esses.

O segundo é o método de trabalho independente, que consiste em um estudo


dirigido ou na solução de problemas, de forma individual, sendo desenvolvido na sala

13
13
UNIDADE Educação e Métodos de Ensino no Saber-Fazer Docente

de aula. É um recurso pedagógico em que professor e aluno trabalham juntos. Nesse


caso, o estudante recebe um estudo a ser realizado ou um problema a ser resolvido
e trabalha individual ou coletivamente, mas conta com a orientação do professor
sempre que possível. Esse método pode ser trabalhado a partir de estudos de caso,
de modo que a criatividade e o pensamento lógico são fundamentais.

O terceiro método de ensino proposto é o da elaboração conjunta. Baseia-se no


diálogo entre professor e aluno ou entre aluno e aluno, a fim de que a aprendizagem
ocorra. Por meio de perguntas, o professor incentiva a reflexão e o processo de ela-
boração das respostas. Esse método visa que o aluno obtenha novos conhecimentos,
atitudes e habilidades.

O quarto é o método de trabalho em grupo, que propõe, por meio de debate,


seminário ou outras formas de execução coletiva, o estudo sobre determinado tema
e a apresentação de elementos que afirmam a aprendizagem sobre o qual. No caso
do seminário, por exemplo, um grupo de alunos é convidado a apresentar e deba-
ter deter­minado tema, mostrando domínio sobre este em sua argumentação. Esse
­método de ensino estimula o trabalho em grupo, o debate e a reflexão conjunta
sobre um aspecto específico. Ademais, esse método estimula a aprendizagem coo-
perativa, autônoma e de elaboração do conhecimento coletivo.

O último método consiste nas atividades especiais, que seriam, por exemplo, o
estudo do meio ou as atividades práticas. São realizadas fora do contexto escolar,
servindo para explorar, elaborar e refletir sobre o conhecimento.

Diante dos métodos de ensino expostos, é necessário questionar acerca de sua


utilização, por exemplo: é possível utilizar o mesmo método sempre e para todos
os conteúdos a serem elaborados pelo aluno?

Como aqui tratamos do processo de ensino-aprendizagem sistematizado, é preciso


pensar que a organização e eleição dos métodos a serem utilizados mantêm relação
direta com os objetivos da aula e organização do trabalho pedagógico. Por exemplo:
se o objetivo, como docente, é alfabetizar o aluno, qual desses métodos trará
a melhor resposta para o seu cumprimento?

O conteúdo e os objetivos a serem realizados na aula são determinantes para a


escolha do método. Além disso, essa escolha depende, ainda, do conhecimento do
professor sobre os alunos com os quais trabalha e dos fundamentos teórico-metodo-
lógicos que transmitirá aos estudantes. Por isso, é importante saber como cada alu-
no aprende, além de o professor compreender que existem inúmeros métodos que
auxiliarão em seu processo de ensino. Se há estudantes inquietos, por exemplo, os
métodos de trabalho em grupo podem ser melhores do que os de trabalho individual
ou de exposição docente.

Um último ponto é importante para pensarmos: a escolha do método de ensino-


-aprendizagem depende, ainda e primordialmente, de como o professor compreende
a educação e aprendizagem. As suas crenças nesses conceitos definirão o modo
como atua em sala de aula e como realiza o processo.

14
Portanto, é necessário pensar sobre a educação e ter uma definição, ainda que
prévia, pois sempre podemos – e devemos – repensar sobre a qual; isto é fundamental
em sua caminhada nesta área, assim como pensar a educação, aprendizagem, as
práticas e os ensinos que são desenvolvidos.

Leia o artigo intitulado Abordagens do processo de ensino e aprendizagem, sobre o


processo de ensino-aprendizagem e como este mecanismo está associado à cultura.
Disponível em: https://bit.ly/3hpV8QF

Nos dias atuais, há consenso sobre a importância de se utilizar o computador e a


internet na educação e no saber-fazer docente, tendo em vista que o seu uso deve
ser realizado de maneira que o aluno ou, até mesmo, o professor seja auxiliado por
essa tecnologia, empregando recursos que visem melhorar, cada vez mais, a eficácia
da construção do conhecimento e as suas relações com a sociedade.

Para Tajra (2012) os professores precisam tomar posse dos softwares educacionais e
serem capacitados para utilizá-los como instrumentos pedagógicos. A partir do momen-
to em que a instituição disponibiliza instrumentos para o professor, tal como a internet,
para auxiliar em suas aulas, é necessário que o docente tenha capacidade de avaliar, de
forma adequada, no que essa pode contribuir para a sua necessidade didática.

Importante!
A internet é mais um canal de conhecimento, de trocas e buscas. Não substitui, mas
facilita e aprimora as relações humanas, elabora novas formas de produção, estimula
uma cultura digital, libera tempo, une povos e culturas e gera uma nova sociedade.
A internet não se resume a um conjunto de backbones que interliga fisicamente os
países e as informações. A tecnologia não está isolada de seu contexto histórico e
de suas relações sociais – quando se menciona internet, trata-se da complexa rede
hipertextual de lógicas e conhecimentos inter-relacionados (TAJRA, 2012, p. 145).

Assim, o professor deve refletir a respeito da nova realidade do ensino existente,


além de repensar a sua prática e desenvolver novas maneiras de ação para alcançar
melhorias. De acordo com Sanches (2008, p. 11), “[...] o professor não pode fechar
o olhar para essa realidade, mas deve agregar esse recurso à sua didática de ensino,
pois deve ser o mediador entre ambientes tecnológicos e alunos.”.
Demonstramos a clara necessidade de capacitar os professores para atuarem com
e por meio da internet, além de saberem lidar com recursos tecnológicos por essa
proporcionados como aliados ao ensino. Para Tajra (2012) esta nova realidade edu-
cacional precisa integrar a tecnologia com a proposta de ensino docente. Mesmo que
o uso das tecnologias auxilie no processo de ensino-aprendizagem, o professor deve,
ainda, atuar como mediador e coordenador desse fluxo.
Para Magedanz (2004, p. 6) é extremamente importante que o professor se valha
de ambientes informatizados, que empreguem softwares educativos, que busquem
sempre a didática construtiva e educativa.

15
15
UNIDADE Educação e Métodos de Ensino no Saber-Fazer Docente

O professor representa uma figura fundamental, uma vez que as suas experiên-
cias pedagógicas são essenciais para ampliar o campo de conhecimento dos alunos.
A partir do momento em que o professor tem acesso e conhece as técnicas que
envolvem as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), as suas atividades
desenvolvidas em sala de aula, tais como debates, exercícios e provas, passam a
assumir um novo significado de construção do conhecimento.

A internet traz muitas vantagens para o docente no processo de ensino-aprendi-


zagem, quando utilizada de maneira adequada. No entanto, existem alguns proble-
mas e limitações quando a utilização é incorreta e despreparada, podendo gerar até
transtornos no processo educacional.

Para que os professores passem a utilizar a internet como recurso pedagógico, é


necessário que estejam capacitados e conscientes sobre as suas implicações no pro-
cesso de aprendizagem: positivas e negativas, além de conhecerem os seus serviços
e que saibam, de fato, utilizar essa ferramenta para fins pedagógicos.

Sabemos que alguns professores, por não possuírem pleno domínio da utilização
da informática, apresentam certo receio quanto à sua introdução e manuseio no
ambiente educacional. É compreensível tal insegurança, mas é importante que as
­escolas realizem capacitações eficientes e possíveis para que tragam maior segurança­
ao professor, consequentemente, proporcionando-lhe, segundo Moran (2001): “[...]
confiança em desenvolver trabalhos que envolvam o uso dos computadores, e os
tornem aptos a fazerem uso da informática e da internet em sala de aula.”.

Há situação dicotômica no âmbito educacional: o professor vem ganhando cada


vez mais direitos de utilizar essa ferramenta em suas aulas, mas, infelizmente, ainda­
não sabe como utilizá-la; por isso da necessidade de se capacitar docentes, já que as
capacitações quebram barreiras e geram maior compreensão da evidente necessidade­
de inovar nas aulas.
Uma capacitação eficiente envolveria toda a comunidade educacional,
sendo­­necessário um investimento [...] em projetos que favoreçam essa
­mudança, possibilitando a implantação bem como sua aplicação, de acordo
com as necessidades e a viabilidade educacional. (MORAN, 2001, p. 19)

Por isso, existe a necessidade de os espaços educativos investirem cada vez mais
em projetos que incluam informática e internet em seus currículos. Contudo, é
­necessário considerar as características individuais de cada professor, nos aspectos
pedagógicos e sociais, sendo conservadas mesmo diante das transformações ocorri-
das no âmbito tecnológico.

Logo, a formação de professores e o ambiente educativo devem objetivar a edi-


ficação da aprendizagem do aluno, favorecendo a construção de um ser humano
completo nos aspectos didáticos e sociais. Significa que todas as medidas devem
favorecer o aluno, sendo que este é o centro de todo esse processo; assim,
[...] educar é levar o aluno ao conhecimento, ou seja, aprender a gerenciar
um conjunto de informações e torná-las algo mais significativo para si, e

16
não simplesmente absorver informações, pois estas são possíveis de serem
esquecidas e de se perderem. Além de gerenciar a informação, é importante
aprender a gerenciar também todo o universo das emoções. O processo de
educar é complexo, e não envolve somente o processo de ensinar ideias,
ensinar também a lidar com as sensações e emoções que ajudam a manter
o equilíbrio e a viver com confiança. (MORAN, 2001, p. 19)

A aplicabilidade da internet pode ser definida, essencialmente, como um recurso


que seja capaz de viabilizar o processo de comunicação e transmissão de informa-
ções. Devido ao seu formato dinâmico, a atual internet é considerada como uma das
ferramentas mais completas na área da comunicação. Atrativa, ágil e dinâmica quan-
do bem empregada, a internet pode se tornar aliada no processo de ensino-apren-
dizagem, por isso é fundamental que o professor saiba o básico sobre informática.

No Brasil, 73% dos professores usam a internet em sala de aula, isso quer dizer que, aproxi-
madamente, 3 entre 4 docentes no Brasil usam a internet em sala de aula e 93% das escolas
estão conectadas à internet. Apesar da alta taxa de conectividade, boa parte dos professores
não consegue aproveitar o potencial dessa tecnologia no ensino.

Sabemos o quanto é difícil utilizar ferramentas tecnológicas na educação, pois há


perfis bem diferentes, e a formação tradicional de professores acaba não incluindo,
no currículo docente, o uso e conhecimento de ferramentas tecnológicas. Isso resulta
na exclusão desses recursos na sala de aula, por serem considerados, por alguns,
desnecessários ao processo de aprendizagem. Assim, apresentamos algumas estra-
tégias para facilitar a adoção do uso de tecnologias pelos docentes, vejamos:

• Busque capacitação, fora da


Comece pequeno instituição, se autoestimule a
pesquisar mais sobre tecnologias.

• Use a tecnologia todos os dias, e


Complemente
pesquise sobre as ferramentas para
suas práticas se trabalhar em sala de aula.

• Realize os treinamentos
Treinamentos
propostos pela escola.

Figura 2 – Estratégias da Era Digital para professores

Diante de tantas possibilidades, a internet é uma ferramenta valiosíssima para


mudar o processo de ensino; mas, para isso, os professores precisam de capacitação
e estarem atentos ao ritmo de cada aluno, a fim de que a curiosidade seja despertada
não somente pelo uso da internet.

17
17
UNIDADE Educação e Métodos de Ensino no Saber-Fazer Docente

Assim, compreendemos que, até mesmo para o processo didático, as novas tecno­
logias são imprescindíveis em nossa atuação pedagógica; por isso do seguinte infográfico
com elementos conceituais, os quais estão envoltos ao processo didático da educação:

Figura 3 – Elementos conceituais do processo didático

Este infográfico traz as principais conceituações que envolvem o processo da edu-


cação, do fluxo educacional, da organização do trabalho pedagógico e utilização das
tecnologias educacionais. Os conceitos de escola, aluno, professor e ensino-apren-
dizagem são fundamentais para empreendermos sobre os objetivos educativos que
intencionamos desenvolver em nossa prática, tendo em vista que esses conceitos
permeiam todas as ações a serem elaboradas no processo de ensino-aprendizagem,
estando envoltos nos pressupostos culturais, sociais, políticos e históricos.

Assim, nesta Unidade resgatamos o processo de construção da educação e influ-


ência da cultura nesse movimento; salientamos os pressupostos de como a aprendi-
zagem acontece e os métodos que proporcionam o ensinar, a fim de que a aprendi-
zagem, de fato, concretize-se na ação docente.

18
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Didática
Livro Didática, de José Carlos Libâneo: escrito por um renomado educador
brasileiro, discute acerca da didática e de seus processos de ensino. Como ensinar?
Quais são os métodos? O que é processo de ensino-aprendizagem? O que é
didática? Estes e outros temas são abordados neste livro, que é essencial à formação
de professores.
Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão docente
Livro Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão
docente, de José Carlos Libâneo: organizado por Libâneo, visa discutir ações sobre
o papel do professor, a importância desse profissional aproximar-se e compreender
o funcionamento das novas tecnologias em sua atuação, não desvinculando os
textos sobre a importância da qualidade da educação e formação de professores.

Filmes
Como estrelas na Terra, toda criança é especial (2007)
Retrata a história de uma criança disléxica, mas que é tarjada de incapaz de aprender
por falta de conhecimento dos pais, professores e médicos, até que um professor,
igualmente disléxico, cruza o seu caminho
https://youtu.be/kpxumrZ7phU
Piratas da informática – piratas do Vale do Silício (1999)
É uma história baseada no processo de construção das empresas norte-americanas
de software, Apple e Microsoft. A película apresenta, a partir do viés de seus
criadores, como foi esse momento; o ponto máximo do filme é o momento que
retrata que alguém se apropria indevidamente de um sistema operacional para
beneficiar a empresa de Bill Gates.
https://youtu.be/qma8YVHev0c

19
19
UNIDADE Educação e Métodos de Ensino no Saber-Fazer Docente

Referências
ARANHA, M.; MARTINS, M. Filosofando: introdução à Filosofia. São Paulo:
­Moderna, 2009.

BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1967.

BRAIDWOOD, R. Homens pré-históricos. Brasília, DF: UnB, 1985.

BRASIL. Decreto n.º 1.077. Brasília, DF, 1970. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1965-1988/Del1077.htm>. Acesso em: 18/08/2017.

FERNÁNDEZ, A. O saber em jogo: a psicopedagogia propiciando autorias de pen-


samento. Porto Alegre, RS: Artmed, 2001.

GOUVEIA, G. Educação a distância na formação de professores: visibilidades,


potencialidades e limites. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2006.

LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

LIMEIRA, N. B.; PUZIOL, J. K. P. Fundamentos históricos, filosóficos e socioló-


gicos da educação. Santa Maria, RS: Unipar, 2017.

MAGEDANZ, A. Computador: ferramenta de trabalho no ensino (de Matemática).


2004. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ensino de Matemática) –
Centro Universitário Univates, Lajeado, RS, 2004.

MARTINELLI, S. C. Os aspectos afetivos das dificuldades de aprendizagem. In:


­SISTO, F. F. et al. Dificuldades de aprendizagem no contexto psicopedagógico.
3. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998.

MORAN, J. M. Novos desafios na educação: a internet na educação presencial e


virtual. Pelotas, RS: UFPel, 2001. Disponível em: <http://www2.eca.usp.br/moran/
novos.htm>. Acesso em: 19/01/2019.

MOREIRA, M. A. Los medios y las tecnologías en la educación. Madrid: Pirámide,


2004.

SANCHES, V. J. C. Tecnologia para inovações na didática do ensino: um estudo


de caso. [S.l.]: Lousa Eletrônica, 2008.

SEVERINO, A. J. A busca do sentido da formação humana: tarefa da Filosofia da


Educação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 32, n. 3, p. 619-634, set./dez. 2006.

SISTO, F. F. Dificuldades de aprendizagem. In: ________. et al. Dificuldades de


aprendizagem no contexto psicopedagógico. 3. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998.
p. 19-39.

TAJRA, S. F. Informática na Educação: novas ferramentas pedagógicas para o


professor na atualidade. 9. ed. São Paulo: Érica, 2012.

20

Você também pode gostar