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da ou perdida. Ela tornou-se politizada. este capítulo farei um esboço da descri-
Esse processo é, às vezes, descrito como ção, feita por alguns teóricos contem-
constituindo uma mudança de uma po- porâneos, das principais mudanças
lítica de identidade (de classe) para uma na forma pela qual o sujeito e a identi-
política de diferença. dade são conceptualizados no pensamento
Posso agora esquematizar, de forma moderno. Meu objetivo é traçar os estágios
breve, o restante do livro. Em primeiro lugar, através dos quais uma versão particular do
vou examinar, de uma forma um pouco mais "suje iito humano" — com certas capacidades
profunda, como o conceito de identidade humanas fixas e um sentimento estável de
mudou: do conceito ligado ao sujeito do Ilu- sua própria identidade e lugar na ordem das
minismo para o conceito sociológico e, depois, coisas — emergiu pela primeira vez na idade
para o do sujeito "pós-moderno". Em seguida, moderna; como ele se tornou "centrado", nos
o livro explorará aquele aspecto da identidade discursos e práticas que moldaram as socie-
cultural moderna que é formado através do dades modernas; como adquiriu uma defi-
pertencimento a uma cultura nacional e como nição mais sociológica ou interativa; e como
os processos de mudança — uma mudança que ele está sendo "descentrado" na modernidade
efetua um deslocamento — compreendidos no tardia. O foco principal deste capítulo é con-
conceito de "globalização" estão afetando isso. ceitual, centrando-se em concepções mutan-
tes do sujeito humano, visto como uma figura
discursiva, cuja forma unificada _e identidade
racional eram pressupostas tanto pelos dis-
)4ALL S 4 cursos do pensamento moderno quanto pelos
processos que moldaram a modernidade,
sendo-lhes essenciais.
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A IDENTIDADE CULTURAL NA PÓS-MODERNIDADE NASCIMENTO E MORTE DO SUJEITO MODERNO
Tentar mapear a história da noção de qual erigiu-se uma nova concepção do sujeito
sujeito moderno é um exercício extremamente individual e sua identidade. Isto não significa
difícil. A ideia de que as identidades eram ple- que nos tempos pré-modernos as pessoas não
namente unificadas e coerentes e que agora se eram indivíduos mas que a individualidade
tornaram totalmente deslocadas é uma forma era tanto "vivida" quanto "conceptualizada"
altamente simplista de contar a história do de forma diferente. As transformações asso-
sujeito moderno. Eu a adoto aqui como um ciadas à modernidade liberiaram o indiví-
dispositivo que tem o propósito exclusivo de duo de seus apoios estáveis nas tradições e
uma exposição conveniente. Mesmo aqueles nas estruturas. Antes se acreditava que essas
que subscrevem inteiramente a noção de um eram divinamente estabelecidas; não estavam
descentramento da identidade não a susten- sujeitas, portanto, a mudanças fundamentais.
tariam nessa forma simplificada. Deve-se ter O status, a classificação e a posição de urna
essa qualificação em mente ao ler este capí- pessoa na "grande cadeia do ser" — a ordem
tulo. Entretanto, esta formulação simples tem secular e divina das coisas — predominavam
a vantagem de me possibilitar (no breve es- sobre qualquer sentimento de que a pessoa
paço deste livro) esboçar um quadro aproxi- fosse um indivíduo soberano. O nascimento
mado de como, de acordo com os proponentes do "indivíduo soberano", entre o Humanismo
da visão do descentramento, a conceptualiza- Renascentista do século XVI e o Iluminismo
ção do sujeito moderno mudou em três pontos do século XVIII, representou uma ruptura
estratégicos, durante a modernidade. Essas importante com o passado. Alguns argumen-
mudanças sublinham a afirmação básica de tam que ele foi o motor que colocou todo o sis-
que as conceptualizações do sujeito ~dam tema social da "modernidade" em movimento.
e, portanto, têm uma história. Uma vez que o Raymond Williams observa que a histó-
sujeito moderno emergiu num momento par- ria moderna do sujeito individual reúne dois
ticular (seu "nascimento") e tem uma histó- significados distintos: por um lado, 43, sujeito é T'
ria, segue-se que ele também pode mudar e, "indivisível" — uma entidade que ennificada
de fato, sob certas circunstâncias, podemos no seu próprio interior e não pode ser divi-
mesmo contemplar sua "morte". dida além disso; por outro lado, é também urna
E agora um lugar-comum dizer que a entidade que é "singular, distintiva, única"
época moderna fez surgir uma forma nova (veja Williams, 1976; pp. 133-5: verbete "indi-
e decisiva de individualismo, no centro da vidual"). Muitos movimentos importantes no
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pensamento e na cultura ocidentais contribuí- ficado como essa forma de descrevê-lo parece
ram para a emergência dessa nova concepção: sugerir (veja Forester, 1987). Descartes acer-
a Reforma e o Protestantismo, que libertaram tou as contas com Deus ao torná-lo o Primeiro
a consciência individual das instituições reli- Movimentador de toda criação; daí em diante,
giosas da Igreja e a expuseram diretamente aos ele explicou o resto do mundo material intei-
olhos de Deus; o Humanismo Renascentista, ramente em termos mecânicos e matemáticos.
que colocou o Homem (sic) no centro do uni- Descartes postulou duas substâncias
verso; as revoluções cientificas, que conferiram distintas — a substância espacial (matéria) e
ao Homem a faculdade e as capacidades para a substância pensante (mente). Ele refoca-
inquirir, investigar e decifrar os mistérios da lizou, assim, aquele grande dualismo entre
Natureza; e o Iluminisnio, centrado na imagem a "mente" e a "matéria" que tem afligido a
do Homem racional, científico, libertado do Filosofia desde então. As coisas devem ser
dogma e da intolerância, e diante do qual se ,
explicadas, ele acreditava, por uma redução
estendia a totalidade da história humana, para aos seus elementos essenciais à quantidade
ser compreendida e dominada. mínima de elementos e, em última análise,
Grande parte da história da filosofia oci- aos seus elementos irredutíveis. No centro
dental consiste de reflexões ou refinamentos da "mente" ele colocou o sujeito individual,
dessa concepção do sujeito, seus poderes e suas constituído por sua capacidade para racioci-
capacidades. Uma figura importante, que deu nar e pensar. "Cogito, ergo sum" era a palavra
a essa concepção sua formulação primária, foi de ordem de Descartes: "Penso, logo existo"
o filósofo francês René Descartes (1596-1650). (ênfase minha). Desde então, esta concepção
Algumas vezes visi pai da Filosofia do sujeito racional, pensante e consciente,
moderna", Descartes foi um matemático e cien- ah-liado no centro do conhecimento, tem sido
tista, o fundador da geometria analítica e da conhecida como o "sujeito cartesiano".
ótica, e foi profundamente influenciado pela Outra contribuição crítica foi feita por
"nova ciência" do século XVII. Ele foi atingido John Locke, o qual, em seu Ensaio sobre a
pela profunda dúvida que se seguiu ao desloca- compreensão humana, definia o indivíduo
mento de Deus do centro do universo. E o fato (sameness) de umemtrosda"ie
de que o sujeito moderno "nasceu" no meio ser racional" — isto é, uma identidade que
da dúvida e do ceticismo metafísico nos faz permanecia a mesma e que era contínua com
lembrar que ele nunca foi estabelecido e uni- seu sujeito: "a identidade da pessoa alcança a
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exata extensão em que sua consciência pode ir individual do homem com Deus, em oposição a
,
para tras, para qualquer ação ou pensamento esta relação mediada pela Igreja. Mas foi só ao
passado" (Locke, 1967, pp. 212-213). Esta final do século XVII e no século XVIII que um
figura (ou dispositivo conceitual) - o "indi- novo modo de análise, na Lógica e na Matemá-
víduo soberano" - está inscrita em cadaiim tica, postulou o indivíduo como a entidade maior
dos processos e práticas centrais que fizeram (cf. as "mônadas" de Leibniz), a partir da qual
o mundo moderno. Ele (sic) era o "sujeito" da outras categorias (especialmente categorias cole-
modernidade em dois sentidos: a origem ou tivas) eram derivadas. O pensamento político do
"sujeito" da razão, do conhecimento e da prá- Iluminismo seguiu principalmente este modelo.
tica; e aquele que sofria as consequências des- O argumento começava com os indivíduos, que
sas práticas - aquele que estava "sujeitado" a tinham uma existência primária e inicial. As leis
elas (veja Foucanit, 1986 e também Penguin e as formas de sociedade eram deles derivadas:
Dictionary of Sociology: verbete "subject"). por submissão, como em Hobbes; por contrato
Algumas pessoas têm questionado se o ou consentimento, ou pela nova versão da lei
capitalismo realmente exigiu uma concepção natural, no pensamento liberal. Na economia
de indivíduo soberano desse tipo (Abercrom- clássica, o comércio era descrito através de um
bie et alli, 1986). Entretanto, a emergência de modelo que supunha indivíduos separados que
uma concepção mais individualista do sujeito [possuíam propriedade e] decidiam, em algum
é amplamente aceita. Raymond Williams sin- ponto de partida, entrar em relações econômi-
tetizou essa imersão do—s-ujeitO niode— rno nas cas ou comerciais. Na ética utilitária, indivíduos
práticas e discursos da modernidade na se- separados calculavam as consequências desta
guinte passagem: ou daquela ação que eles poderiam empreender
(Williams, 1976, pp.135-6).
A emergência de noções de individualidade, no
sentido moderno, pode ser relacionada ao colapso Ainda era possível, no século XVIII, ima-
da ordem social, econômica e religiosa medieval. ginar olgrandes processosda vida moderna
- .,
No movimento geral contra o feudalismo houve como estando centrados no individun "stúdto
uma nova ênfase na existência pessoal do homem, da razão". Mas à medida em que as sociedades ■>,
acima e além de seu lugar e sua função numa modernas se tornavam mais complexas, elas o ,J," /
rígida sociedade hierárquica. Houve uma ênfase adquiriam uma forma mais coletiva e social.,»
similar, no Protestantismo, na relação direta e As íe-Orias clássicas liberais de governo, basea-
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rr
(veja Frisby, 1985, p.109). Estas imagens mos- novos intérpretes leram isso no sentido de
traram-se proféticas do que iria acontecer ao que os indivíduos não poderiam de nenhuma
sujeito cartesiano e ao sujeito sociológico na forma ser os "autores" ou os agentes da his-
modernidade tardia. tória, uma vez que eles podiam agir apenas
com base em condições históricas criadas por
Descentrando o sujeito outros e sob as quais eles nasceram, utili-
zando os recursos materiais e de cultura que
Aquelas pessoas que sustentam que as lhes foram fornecidos por gerações anteriores.
identidades modernas estão sendo fragmenta- Eles argumentavam que o marxismo,
das argumentam que o que aconteceu à con- corretamente entendido, deslocara qualquer
cepção do sujeito moderno, na modernidade noção de agência individual. O estruturalista
tardia, não foi simplesmente sua desagregação, marxista Louis Althusser (1918-1989) (ver
mas seu deslocamento. Elas descrevem esse Penguin Dictionary of Sociology: verbete
deslocamento através de uma série de ruptu- "Althusser") afirmou que, ao colocar as rela-
ras nos discursos do conhecimento moderno. ções sociais (modos de produção, exploração
Nesta seção, farei um rápido esboço de cinco da força de trabalho, os circuitos do capital) e
grandes avanços na teoria social e nas ciências não uma noção abstrata de homem no centro
humanas ocorridos no pensamento, no período de seu sistema teórico, Marx deslocou duas
da modernidade tardia (a segunda metade do proposições-chave da filosofia moderna:
século XX), ou que sobre ele tiveram seu princi- • que há uma essência universal de homem;
pal impacto, e cujo maior efeito, argumenta-,se, • que essa essência é o atributo de "cada
foi o descentramento final do sujeito cartesiano. indivíduo singular", o qual é seu sujeito
A primeira descentra ão importante real:
refere-se as tra ações o Rensamento mar- _
xista. Os escritos de Marx pertencem, natu- Esses dois postulados são complementares e indis-
,/ 1"-^girrente, ao século XIX e não ao século XX. solúveis. Mas sua existência e sua unidade pressu-
Mas um dos modos pelos quais seu trabalho põem toda uma perspectiva de mundo empirista-
foi redescoberto e reinterpretado na década -idealista. Ao rejeitar a essência do homem como
de sessenta foi à luz da sua afirmação de que sua base teórica, Marx rejeitou todo esse sistema
os "homens (sic) fazem a história, mas apenas orgânico de postulados. Ele expulsou as categorias
M sob as condições que lhes são dadas". Seus filosóficas do sujeito do empirismo, da essência
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NASCIMENTO E MORTE DO SUJEITO MODERNO
ideal, de todos os domínios em que elas tinham rei- ceito do sujeito cognoscente e racional provido
nado de forma suprema. Não apenas da economia de uma identidade fixa e unificada — o "penso,
política (rejeição do mito do homo economicus, log-o existo", do sujeito de Descartes. Este
isto é, do indivíduo, com faculdades e necessida- aspecto do trabalho de Freud tem tido tam-
des definidas, como sendo o sujeito da economia bém um profundo impacto sobre o pensamento
clássica); não apenas da história; ... não apenas da moderno nas três últimas décadas. A leitura
ética (rejeição da ideia ética kantiana); mas tam- que pensadores psicanalíticos, como Jacques
bém da própria filosofia (Althusser, 1966, p. 228). Lacan, fazem de Freud é que a imagem do eulif -
-
corno inteiro e unificado é algo que a criança 1;
Essa "revolução teórica total" foi, é ób- aprende apenas gradualinente, parcialmente, /
vio, fortemente contestada por muitos teóricos e com grande dificuldade. Ela não se desen-
humanistas que dão maior peso, na explicação volve naturalmente a partir do interior do
histórica, à agência humana. Não precisamos núcleo do ser da criança, mas é formada em
discutir aqui se Althusser estava total ou par- relação com os outros; especialmente nas
cialmente certo, ou inteiramente errado. O fato complexas negociações psíquicas inconscien-
é que, embora seu trabalho tenha sido ampla- tes, na primeira infância, entre a criança e as
mente criticado, seu "anti-humanismo teórico" poderosas fantasias que ela tem de suas figu-
(isto é, um modo de pensar oposto às teorias ras paternas e maternas. Naquilo que Lacan
que derivam seu raciocínio de alguma noção de chama de "fase do espelho",a criança que não
essência universal de Homem, alojada em cada está ainda coordenada e não possui qualquer
sujeito individual) teve um impacto considerável autoimagem como uma pessoa "inteira", se vê
sobre muitos ramos do pensamento moderno. ou se "imagina" a si própria refletida — seja
°segundo dourandes -"deseentramen- literalmente, no espelho, seja figurativamente,
) tos"nopensamento ocidental do século XX no espelho" do olhar do outro — como uma
vem da descoberta do inconsciente por Freud. "pessoa inteira" (Lacan, 1977). (Aliás, Althus-
1tteoria de Freud de que nossas identidades, ser tomou essa metáfora emprestada de Lacan,
nossa sexualidade e a estrutura de nossos 1 ao tentar descrever a operação da ideologia).
desejos sáo feriádas com base em processos Isto está próximo, de certa forma, da concep-
psíquicos e simUlicOS do incOnsciente, que ção do "espelho", de Mead e Cooley, do eu
funciona de acordo com uma "lógica", muito interativo; exceto que para eles a socialização
diferente daquela
, da Razão, arrasa com o con- é uma questão de aprendizagem consciente,
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A IDENTIDADE CULTURAL NA Pós-MODERNIDADE
NASCIMENTO E MORTE DO SUJEITO MODERNO
ideal, de todos os domínios em que elas tinham rei- ceito do sujeito cognoscente e racionalprevido
nado de forma suprema. Não apenas da economia de uma identidade fixa e unificada — o "penso,
política (rejeição do mito do honro economicus, logo existo% do sujeito de Descartes. Este
isto é, do indivíduo, com faculdades e necessida- aspecto do trabalho de Freud tem tido tam-
des definidas, como sendo o sujeito da economia bém um profundo impacto sobre o pensamento
clássica); não apenas da história; ... não apenas da moderno nas três últimas décadas. A leitura
ética (rejeição da ideia ética kantiana); mas tam- que pensadores psicanalíticos, como Jacques
bém da própria filosofia (Althusser, 1966, p. 228). Lacan, fazem de Freud é que a imagem do eulit
corno
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Essa "revolução teórica total" foi, é ób- aprende apenas gradualmente, parcialmente, ! /
vio, fortemente contestada por muitos teóricos e com grande dificuldade. Ela não se desen-
humanistas que dão maior peso, na explicação volve naturalmente a.. partir do interior do
histórica, à agência humana. Não precisamos núcleo
u do ser da criança, mas é formada em
discutir aqui se Althusser estava total ou par- relação com os outros; especialmente nas
cialmente certo, ou inteiramente errado. O fato complexas negociações psíquicas inconscien-
é que, embora seu trabalho tenha sido ampla- tes, na primeira infância, entre a criança e as
mente criticado, seu "anti-humanismo teórico" poderosas fantasias que ela tem de suas figu-
(isto é, um modo de pensar oposto às teorias ras paternas e maternas. Naquilo que Lacan
que derivam seu raciocínio de alguma noção de chama de "fase do espelho", a criança que não
essência universal de Homem, alojada em cada está ainda coordenada e não possui qualquer
sujeito individual) teve um impacto considerável autoimagem como uma pessoa "inteira", se vê
sobre muitos ramos do pensamento moderno. ou se "imagina" a si própria refletida — seja .,
O segur tramen- literalmente, no espelho, seja figurativamente,
tos" no ensamento ocidental do século XX no "espelho" do olhar do outro -- como uma
vem da_encoberta do inconsgenteporFnd. "pessoa inteira" (Lacan, 1977). (Aliás, Althus-
oriade Freud de que nossas identidades,
Ar-t—e— 1 ser tomou essa metáfora emprestada de Lacan,
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nossa sexualidade e a esir u-iur . ao tentar descrever a operação da ideologia).
deilejoSsiofermidas coniliiiieem processos Isto está próximo, de certa forma, da concep-
psíquicos e simbólicos do inconsciente, que ção do "espelho", de Mead e Cooley, do eu
I I funciona de acordo com uma "lógica" muito
diferente daquela da Razão, arrasa com econ-
interativo; exceto que para eles a socialização
é uma questão de aprendizagem consciente,
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enquanto que para Freud, a subjetividade é o sempre algo "imaginário" ou fantasiado sobre
produto de processos psíquicos inconscientes. sua unidade. Ela permanece sempre incom-
A formação do eu no "olhar" do Outro, pleta,
P. está sempre "em processo", sempre
de acordo com Lacan, inicia a relação da "sendo formada". As partes "femininas" do
criança
_ com os sistemas simbólicos fora dela eu masculino, por exemplo, que são negadas,
m esma e é, assim, o momento da sua entrada permanecem com ele e encontram expressão
'nos vários sistemas de representação simbó- inconsciente em muitas formas não reconhe-
lica - incluindo a língua, a cultura e a dile- cidas, na vida adulta. Assim, em vez de falar
rença sexual. Os sentimentos contraditórios e da identidade como uma coisa acal-a&“-e-v- e-
não 'reioividos que acompanham essa difícil ríamos falar de identação, e vê-la como üm
1
entrada (o sentimento dividido entre amor e processo em andamento. A identidade surge
ódio pelo pai, o conflito entre o desejo de agra- n--áo----"tanto da plenitude da identidade que já
, dar e o impulso para rejeitar a mãe, a divi- está dentro de nós como indivíduos, mas de
são do eu entre suas partes "boa" e "má", a uma falta de inteireza que é "preenchida" a
negação de sua parte masculina ou feminina, de nosso exterior, nelas formas através
e assim por diante), que são aspectos-chave das quais nós imaginamos ser vistos por outros.
- ,
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T
• Aquilo que começou como um movimento endo descrito as mudanças conceptuais
dirigido à contestação da posição social das pelas quais os conceitos de sujeito e
mulheres expandiu-se para incluir a for- identidade da modernidade tardia e da
mação das identidades sexuais e de gênero. pós-modernidade emergiram, me voltarei,
• O feminismo questionou a noção de que os agora, para a questão de como este "sujeito
homens e as mulheres eram parte da mes- fragmentado" é colocado em termos de suas
ma identidade, a "Humanidade", substi- identidades culturais. A identidade cultural
tuindo-a pela questão da diferença sexual. particular com a qual estou preocupado é a
Neste capitulo, tentei, pois, mapear as identidade nacional (embora outros aspectos
mudanças conceituais através das quais, de estejam aí implicados). O que está aconte-
acordo com alguns teóricos, o "sujeito" do Ilu- cendo à identidade cultural na modernidade
minismo, visto como tendo uma identidade fixa tardia? Especificamente, como as identidades
e estável, foi descentrado, resultando nas iden- culturais nacionais estão sendo afetadas ou
tidades abertas, contraditórias, inacabadas, deslocadas pelo processo de globalização?
fragmentadas, do sujeito pós-moderno. Descrevi No mundo moderno, as culturas na-
isso através de cinco descentramentos. Deixem- cionais em que nascemos se constituem em
-me lembrar outra vez que muitas pessoas não uma das principais fontes de identidade
aceitam as implicações conceituais e intelec- cultural. Ao nos definirmos, algumas vezes
tuais desses desenvolvimentos do pensamento dizemos que somos ingleses ou galeses ou
moderno. Entretanto, poucas negariam agora indianos ou jamaicanos. Obviamente, ao fa-
seus efeitos profundamente desestabilizadores zer isso estamos falando de forma metafóri-
sobre as ideias da modernidade tardia e, par- ca. Essas identidades não estão literalmente
ticularmente, sobre a forma como o sujeito e a impressas em nossos genes. Entretanto, nós
questão da identidade são conceptualizados. efetivamente pensamos nelas como se fos-
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