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MAXWEBER

ECONOMIA
E SOCIEDADE
fUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA COMPREENSIVA

VoLUME2

Tradução de
Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa
(a partir da quinta edição, revista, anotada e
organizada por Johannes Winchelmann)

Revisão técnica de
Gabriel Cohn

EDITORA

~EJ B Universidade de Brasília ~


~
501962
2012

UnB
EQUIPE EDITORIAL

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Preparação de originais : Gilvam Joaquim Cosmo e Wilma G. Rosas Saltarelli
Revisão : Cecília Shizue Fujita dos Reis
Editoração eletrônica : Fernando Kuis Oliveira Brandão
Projeto gráfico de capa : Marcus Polo Rocha Duarte
Supervisão gráfica : Elmano Rodrigues Pinheiro e Luiz Antônio R. Ribeiro

Título Original: Wirtschaft und Gesellschaft: Grundriss der


verstehenden Soziologie, 2. Halbband

Copyright © 1972, by J. C. B. Mohr (Paul Siebeck) Tübigen

4• edição, Universidade de Brasília- 1a reimpressão, 2000 .


4• edição, Universidade de Brasília- 2• reimpressão, 2009.

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(Câmara Brasileira do Livro - SP /Brasil)
Weber, Max, 1864-1920
Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva I Max Weber; trad. de
Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa; rev. téc. de Gabriel Cohn, 4• ed. 3• reimpressão - Brasília :
Editora Universidade de Brasília, 2012.

464p.

Tradução da quinta edição, revista, anotada e organizada por Johannes Winckelmann.


ISBN 978-85-230-0390-6 (volume 2)
ISBN 978-85-230-0743-0 (obra completa)

1. Economia. 2. Sociedade. 3. Assuntos. II. Título.

91-1205 CDU - 330


- 301

Índice .para catalogação sistemático


1. Economia 330
2. Sociedade 301
ECONOWA E SOC IEDAD E 517

muito diferente da retórica política dos demagogos áticos. A tradição e a experi-


ência elos anciões, sobretud o dos ex-funcionários, determinavam a política. A
idade e não a juventude era decisiva para o tom elo trato e a natureza elo sentimento
de dignidade. O decisivo na política eram as considerações racionais e não a vontade
ele saquea r elo demos, estimulada por discursos, ou a excitação emocional elos jovens
guerreiros . Roma permaneceu sob a direção ela experiência, ela ponderação e elo
poder feudal ela camada ele notáveis.

Seção 8

A INSTITUIÇÃO ESTATAL RACIONAL E OS MODERNOS PARTIDOS POLÍTICOS E


PARLAMENTOS (SOCIOLOGIA DO ESTADO)

§ 1. O nascimento do Estado racional

O Estado, no se ntido elo Estado racional, somente se deu no Ocidente.

A luta constante, e m fo rma pacífica e bélica, e ntre Estados nac ionais concorrentes
pelo poder c riou as maiores oportun idades para o moderno ca pitalismo ocidenta l. Cada
Estado particular tinha que concorrer pelo cap ital , que estava livre de estabelecer-se em
qualquer lugar e lhe ditava as condições sob as quais o ajudaria a tornar-se pode roso. Da
aliança forçada entre o Estado nacional e o ca pital nasce u a cl asse burguesa nac ional- a
burguesia no sentido moderno da palavra . É, portanto, o Esta do naci o nal fechado que
ga ra nte ao capita li smo as possibilidades ele sua subsistê nci a e, enqua nto não cede lugar a
um impé ri o uni ve rsa l, subsistirá também o capita lismo.
No ancien régime chinês existia acima elo poder incólume elos cl ãs, elas guildas e
das corporações uma fina camada ele chamados fun cionários, os mandarins. O manclarim
é, em primeiro luga r, um lite rato de formação humanística que possui uma prebe nda, mas
não está nada preparado para fun ções admini strativas e nada e ntende de jurisprudê ncia,
sendo, sobretudo, um ca lígrafo que sabe fa ze r poesias, co nhece a literatura chinesa milenar
e sabe interpretá-la. Com seu rendimento políti co ninguém se importa. Um fun cionário
deste tipo não administra pessoalmente: a administração está nas mãos de seus funcioná-
rios. O mandarim é transfe rido de um lu ga r para outro, para não cri ar raízes e m seu
distrito adm inistra tivo, e não pode ser ocupado em sua província natal. Uma vez que
nun ca e nte nde o dialeto ele sua província, não pode relacionar-se com o público. Um
Estado com seme lhantes funcionários é algo diferente do Estado ocidental. Na verdade,
tudo ne le se baseia na idé ia mágica de que a virtude elo imperador e dos funcionários, isto
é, sua perfeição na formação li te rária, baste para manter tudo em ordem em tempos
no rma is. Sobrevindo uma seca ou out~o aco ntecim ento desagradável, promulga-se um
ed ito , no sentido de aumentar as exigê ncias nas provas de versificação ou de ace lerar os
processos, porque de o utro modo ficariam agi tados os espíritos. O re ino é um Estado
agrário, por isso mantém-se totalmente incó lume o poder dos clãs camponeses, sobre os
quais descansam nove décimos da economia e ao lado dos quais ai nda ex istem gu ildas e
associações corpora tivas. Quase todas as coisas fi cam e ntregues a si mesmas. Os funcio-
nários não gove rnam , mas somente interferem em tumultos e inciden tes desagradáveis.
518 i\!AX WEBER

A situ ação é difere nte no Estad o racional , o único em qu e p o de fl o rescer o


ca pitalismo mo d e rno. Este descan sa sobre um funcion alismo especiali zado e um
dire ito racion al.
Já n os sécu los VII e XI, o Estad o chinês passou p a ra um a administra ção
mediante um fun cionalismo especiali za do, e m vez d o hum a nisti ca me nte form a-
d o. Mas some nte co nseguiu im pô-la te mpo ra riame nte; e ntão aconteceu o habi-
tu al eclipse da Lua, e tudo ve io ab aixo. Não se p o d e afirm a r se ri ame nte qu e a
alma elo povo ch in ês o u algo el o gê ne ro não tivesse sup o rtado o fun cionalismo
esp ecia li za do. O q ue imp ediu a asce nsão deste (e, com isso, a el o Estado ra cio-
nal) foi a inco lum id ade el a magia . Pela mes ma razão nun ca pud e ram se r ro mpid as
as assoc iações el e cl ã, co mo aco ntece u no Ocide nte, e m virtu de el o d ese nvo lvi-
me nto urba no e elo c ristiani smo.
O dire ito rac iona l elo Estad o oc ide ntal mode rno , segu nd o o qua l d ecide o
fun cio nalismo esp ec ia lizad o, o rig in a-se e m se us asp ec tos fo rm ais, mas não no
co nteú d o, no direito ro ma no. Este fo i, inicialm e nte , um p rodu to el a cicl acle-esta-
cl o ro man a, q u e nunca viu chega r ao pod e r a d e mocracia, no se ntido ela cidade
grega, e, junto com e la, sua ju stiça . Um tri bunal grego ele heliastas exe rcia uma
justi ça ele cá di ; as pa rtes impressionava m os juízes com efu sões emoc io nais, lág ri-
mas e insul tos el o adversá rio. Este p roce dime nto e ra adota do e m Ro ma, co mo
mos tra m os d isc ursos ele Cíce ro, també m no p rocesso po líti co, mas não no pro-
cesso civil, no q ual o pretor instituía um i u dex, cl a ncl o- lh e instru ções estritas
refe rentes aos pressup ostos el a co nd e na ção elo ré u o u ao ind e fe rime nto el a quei -
xa. A burocracia bi zantin a, sob justiniano, p ôs e ntã o o rde m neste dire ito racio-
nal, em virtud e d o n atural inte resse dos fun cion á rios e m disp o r el e um d ire ito
siste matizad o, definiti vame nte fixa d o e, p o r isso, fácil de e nsi nar. Com a d eca-
dê ncia elo Impé rio Ro mano no Ocidente, o dire ito chegou às mãos el os notá ri os
ital ia n os. Estes, e e m segun do lu ga r as unive rs id ad es, são resp o nsáve is p e la
ressuscitação do dire ito ro mano. Os notá ri os conse rva ra m as a nti gas fó rmul as
contratuais elo dire ito ro mano, adapta ndo -as às n ecess idad es atu ais; paralela-
me nte, foi-se co nstituind o nas un ive rsidad es um ensin o juríd ico siste máti co. Mas
o decisivo el o d ese nvo lvimento fo i a racio nalização elo processo. Como to dos os
processos primitivos , ta mbé m o a ntigo processo germânico e ra um procedime nto
estritame nte fo rmal. A parte qu e falava uma única p alavra e rrada na fó rmu la per-
dia o processo, p o rqu e ela tinh a um signifi ca do mágico . O fo rmalismo má gico elo
processo ge rmâni co co mbinava com o form alismo d o dire ito roma no e foi sub-
me tid o a uma n ova inte rpretação no se ntido deste último. Nesta muda nça, parti-
cipo u ini cialme nte a rea leza fr a ncesa me d ia nte a cri ação d a institu içã o d os
inte rcesso res (a dvoga dos), cuj a ta refa consistia , sobre tudo, e m fala r corre ta me nte
as fó rmul as judiciais; e , de p ois, esp ecialme nte o direito ca nô ni co . A grandiosa
orga nização administrativa ela Igre ja precisava p ara seus fin s discipliná ri os, dia nte
elos le igos e p ara sua própria disciplina inte rna, de formas fi xas. Assim como a
burgu esia , a Igre ja não conseguiu familia ri zar-se co m o juízo ele De us elo dire ito
ge rmâ nico . Do mesmo modo qu e a prime ira não p o dia admitir qu e a disputa ele
dire itos me rca ntis fosse decidida p o r um du elo , e por isso solicitava por toda
parte a ga ra nti a da libe rdad e , e m face da obrigação ao du elo e , e m ge ral, ao juízo
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d e De us , ta mbé m a Ig reja, d epois ele vacil ar inicialmente, chegou à conclu são d e


qu e semelha ntes me ios processu a is e ram pagãos e não d evia m ser to le rados,
dando ao processo ca nô nico, na me did a do possíve l, uma forma racional. Esta
dupla racion alização d o processo, por parte secular e e cl es iásti ca, estendeu -se
sobre todo o mundo oc ide nta l.
Tem-se atribuíd o à recep ção elo direito romano (v. Below, Die Ursachen der
Rezeption) ta nto a decadência elo estame nto ca mponês quanto o surgi mento elo
ca pita lis mo. Se m dúvida , houve casos e m que a aplicação d e princípios elo dire ito
ro mano foi prejudicia l aos camponeses; por exe mp lo, a nova inte rpretação el os
antigos d ire itos d a comu nid ade loca l ca m ponesa co mo se rvidões sig nifi cava q ue
o che fe desta comunid ad e e ra cons id e rado o proprietário , no se ntido do direito
ro ma no, e que as propri e dades dos me mbros d a com unida de estavam suje itas a
se rv id ões. Mas, por outro lado, a rea leza ela França dificultou extrao rdinariamen-
te a desapropria ção dos ca mponeses, pelos sen hores territoriais, precisame nte
pe la atua ção dos se us juristas ve rsa d os no direito romano . Do mesmo modo, o
dire ito romano não constitui e m si a ca usa elo s urgimento do capita lismo . A Ing la-
te rra, o berço d o capita lismo, nun ca adotou o direito ro mano, po rqu e a li ex istia
em co nexão com o tribuna l rea l um estame nto d e advogados q ue não d e ixava
nin gu é m tocar nas in s titui ções jurídicas n ac io na is. Dominava o ensino jurídico,
recrutavam-se de le (e a inda se recrutam) os juízes, impe dindo e le, por isso, que
as unive rsid ad es ing lesas e nsi nasse m o dire ito romano, para n ão ver a posição de
juiz ocup ada por pessoas que não fazia m parte de le .
També m todas as instituições ca racte rísticas d o capi talismo moderno pro-
vêm de o utras fonte s, e não do dire ito romano : o título de renda Co títul o de
dívidas e o e mprést imo de gu e rra) provém elo d ire ito me dieva l, influ e nciado por
co ncepções jurídicas ge rmâ nicas ; também as ações origi nam-se no direito me die-
va l e no mode rn o, se ndo desconhecidas n a Antiguidade; o mesmo se ap li ca à
letra ele câmb io , have ndo contribuído p a ra sua co nstituição o direito á rab e, o
ita li a no, o a lemão e o ing lês; a sociedade me rca ntil é um produto da Id ad e Mé-
dia , conhe ce nd o a Antiguidade somente o e mpree ndimento por commenda; tan-
to a hipoteca co m regist ro no cadastro ele imóve is e o título hipotecário quanto a
represe ntação tê m su a origem na Id ad e Média, e n ão n a Antiguidade . Decisiva
tornou-se a recepção do dire ito romano some nte na me dida em que crio u o
p e nsa me n to forma l-jurídico. De acordo com s ua estrutura, todo direito orienta-se
ou por princíp ios fo rma l-jurídicos ou por princípios m ateriais, signifi ca ndo os
últimos o princípio utilitá rio e o do se ntime nto natural de justi ça, aplicados, por
exe mplo , na jurisdição elo cácli islâmico. A justiça de toda teoc racia e de todo
absoluti smo o ri enta-se e m se ntido m ate rial, e a de toda burocracia, ao contrário ,
em se ntido fo rmal-jurídico. Fred erico, o Grande, odiava os juristas porqu e ap lica-
vam constantemente seus e ditos materialme nte orientados à sua man e ira forma lista,
coloca ndo-os, deste modo, ao serviço ele fin s , elos quais e le nada queria saber. O
dire ito romano fo i aqui (como ta mbé m por outra p arte) o meio para extirp ar o
direito mate ria l, e m favor do formal.
Este direito forma lista, poré m, é previsíve l. Na China, pode acontecer que
um homem que vendeu a o utro uma casa vo lte depois ele um tempo e peça
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acolhida porque ficou na m1sena. Se o comp rador deixa de observar o antigo


ma nda me nto chinês da ajuda fraternal, os espíritos se agitam; por isso, acontece
que o vendedor empobrecido volta para a casa como inquilin o compu lsório, sem
pagar a lu guel. Com um direito deste tipo, o cap ita li smo não pode operar; o que
precisa é de um direito previsível como o funcionamento ele uma máquina, sem
inte rferirem aspectos ritual-religiosos e mágicos. A cri ação ele um direito deste
tipo foi conseguida, ao aliar-se o Estado moderno aos juristas, para impor suas
pretensões ele pode r. No sécu lo XVI , o Estado tentou , temporariamente, empre-
gar os humanistas, e os primeiros ginásios gregos foram criados com a idéia ele
que um homem ali formado estaria apto a ocupar cargos púb li cos; pois a luta
política consistia , em parte cons id eráve l, no inte rcâmbio de documentos oficiais,
podendo ser realizado some nte por um homem com conh ecimentos de latim e
grego. Esta ilusão durou pouco tempo; logo se percebeu que os produtos elos
ginásios, puramente como tais, não estava m capacitados a exerce r funções políti-
cas, e somente restavam os juristas. Na Chin a, onde o mandarim com formação
humanista dominava esta á rea, o monarca não dispunha ele juristas, e a disputa
entre as diversas esco las filosóficas sobre a questão ele qual delas formava os
melhores políticos prolongou-se até, por fim, triunfar o confucion ismo o rtodoxo.
Também a Índia conhecia os escri bas, mas não os juristas formados. O Ocid ente,
ao contrário, dispunha ele um direito formalmente aperfeiçoado, produto elo gê-
nio romano, e os funcionários formados na base deste direito e ram supe riores a
todos os demais como técnicos adm inistrativos. Do ponto ele vista da história
econômica, este fato tornou-se importante porque a a lian ça entre o Estado e a
jurisprudência formal favorecia indiretamente o capita li smo.
Uma política econôm ica estata l que merece este nome, isto é, que é contí-
nua e conseqüente, somente surgiu na Época Moderna. O primeiro sistema que a
produz é o do chamado mercantilismo. Mas, antes de constituir-se este último,
existiam por toda parte duas coisas: a política fiscal e a política elo bem-estar, e
esta última no sentid o ele garantir, na medida h abitu a l, o sustento.

No Oriente, foram essenc ia lmente razões rituais, ao lado da constitu ição em castas
e clãs, que impediram o desenvolvimento de uma política econômica planejada. Na Chi -
na, havia mudanças extraordinárias de sistemas po líticos . O país vive u uma época de
comércio exterior muito intenso, indo até a Índia. Mas depois limitou-se a política econô-
mica ao fechamento, em relação ao exterior, de modo que todas as importações e as
exportações estavam nas mãos de apenas treze empresas e passavam por um único porto,
o de Cantão. No interior, a política o rientava-se, excl usivamente, por idéias religiosas;
somente quando se davam acontecimentos naturais terríveis procurava-se detectar defici-
ê ncias admini strati vas. Mas quase sempre se levava em cons ide ração, nestes momentos, a
opinião pública nas prov ín cias, e constituía um problema principal a questão de se se
de via satisfazer as exigências do Estado na forma de impostos ou na de serv iços compu l-
sórios. No Japão, a constituição feudal produziu o mesmo efeito e conduziu ao fechamen-
to completo em relação ao exterior; aqu i, o fim e ra a estabilização dos estamentos . Temia-
se qu e o comércio exterior pudesse conduzir a uma outra distribuição dos patrimônios.
Na Coré ia, motivos rituais foram decisivos para o isolamento. Se estranhos (isto é, ímpios)
e ntrasse m no país, seria de temer a ira dos espíritos. Na Idade Média indiana, encontra-
mos comerciantes gregos e romanos (e também mercenários romanos), imigração e privi-
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légios de jude us; mas estas possibilidades não chega ra m a dese nvolve r-se porque tudo
acabou este reotipado pe la ordem de castas, que torna va impossível uma política econômica
planejada . A isto se acrescentava o fato de que o hinduísmo conde nava viage ns ao exte rior.
Quem via java ao exterior tinha qu e ser novamente admit ido e m sua casta na volta .

No Ocidente, até o sécu lo XIV, somente podia d ese nvo lve r-se uma política
econômica planejada na medida em que estivesse m e nv o lvidas as c idad es.

També m aqui e ncontramos dife renças fund amen tais e ntre o dese nvo lvim e nto da
An/'iguidacle e o da Idade Méd ia e da Época i\locl e rna. Na Antigu id ade , a libe rdade da s
c idad es desa pareceu e m favor de um im pério uni,·e rsa l buroc rati ca me nte o rga nizado,
de ntro do qua l não havia mai s lugar para um cap itali smo políti co. Vemos que os impe ra-
dores, inic ialmente de pe nd e ntes do capital finan ceiro do estame nto cava le iroso, vão e man-
cipando-se cada ve z mais d esta de pe nd ê ncia , ao excluíre m os caval e iros do arre ndam e n-
to de impostos e sep ará -los , assim , ela font e mai s abundante da riqu eza, de mo do se me-
lh a nte aos reis eg ípcios, qu e també m so ube ram acabar co m a de pe ndê nc ia de seu Estado
aos poderes cap italista s na sati sfa ção das necess idades políti cas e militares , conseguindo
qu e o arrendatário el e impostos se tornasse um fun cionário ela receita es tatal. Por toda
parte , rec uo u na época imp e rial o arrendamento el e propriedades estata is e m favor ela
apropriação he reditá ri a pe rman e nte. Em luga r da e ntrega de o bras estatai s a empresários,
mediante submi ssão, surge m liturgias e se rvi ços compul só rios elos súditos; as diversas
cla sses da p op ula ção são clivicliela s segundo os ofícios, e a estes novos estamentos profis-
s io nai s atribu e m-se os g ravames públicos, com res po nsa bilidad e solid á ria. Este desenvol-
vimento s ig nifi ca o estrang ulame nto do cap ita li smo ela Antig uidade. Em lu ga r elo exé rcito
me rce nário, aparece a co nscri ção; para os navios, ex iste a obrigação de pô- los à disposi-
ção do Estado; toda a safra de ce re ais, desde qu e ven ha de reg iões co m excedentes, é
distribuída , segundo a necess idade, e m vá rias cidades, excluindo-se o comé rcio privado ;
a o bri gação de construir estradas e todos os gravames qu e não este jam comple tamente
fora de cog itação são colocados nos ombros de de te rminada s p essoas hereditariamente
vinc ulada s à g le ba e à profissão . Por fim , as co muna s urban as romanas corre m atrás de
se us prefe itos, um pou co como os camponeses qu e persegue m o touro comunitá rio fora-
g ido , e ameaça m os conse lhe iros ricos com ações re ivindicatórias, porqu e todos os habi-
tantes são so l iclariam e nte responsáveis pelos tributos e se rviços a serem prestados ao
Estado . Dec is ivo para todas estas prestações e ra o princípio ela origo, que segue, por sua
vez, o mod e lo da idia do Egito ptolomai co: os deveres de súdito somente pod em se r
cumpridos na comunidade de origem. Mas, uma vez estab e lec ido este sistema, acabam
e liminada s as poss ibilid ades lu crativ as políticas para o cap ita lismo: nã o há mais lu ga r para
e le no Estado de liturgias da época romana tardia , tampouco quanto no Estado egípcio
dos se rviços compu lsóri os.
De forma comp letamente diferente, desenvolve u-se o destino da cidade da Época
Mod e rna . Também aqui perdeu e la, gradativamente, a autonomia administrativa. A cidade
ing lesa dos séculos XVII e XVIII nada mai s era que uma aglomeração de gu ildas, cujas
fun ções se limitavam ao setor financeiro e ao estamental. As cidades a lemãs da mesma
época, com exceção das cidades autônomas do impé rio (Reichsstaclte), e ram cidades
rurai s, onde tudo e ra decretado por parte do soberano. Nas c idades francesas, este desen-
volvimento já havia começado mais cedo. As cidades espanh o las foram submetidas por
Carlos V na re belião elos Comuneros, as italianas encontravam-se nas mãos da signo1·ia, e
as russas nunca haviam ascendido à liberdade elas cidades ocidentais. Tirou-se às cidades
a soberania militar, a judicial e a industrial. Formalmente, não se mudou nada, em regra,
nos direitos antigos, mas de fato as cidades foram privadas ele sua liberdade, na Época
lvlt\X WEBER

. fodema, do mesmo modo que aconteceu na Antiguidade, ao estabelecer-se o domínio


roma no . lvlas, diferentemente daque la época, caíram sob o pode r dos Estados nacionais
que se e nco ntravam numa luta de concorrência incessa nte .

Certamente existia, em germe, uma política econômica principesca. Na épo-


ca caro língia, encontramos taxas d e preços e uma política de b e m-estar em diver-
sos se ntidos; a maior parte , porém, ficou no papel e, com exceção ela reforma
mon etária e do sistema ele pesos e medidas ele Carlos, o Grande, tudo eles a pare-
ceu se mde ixa r rastros na época seguinte. A política mercantil com o Oriente, qu e
e le te ria gostado ele realizar, e ra impossível por falta ele uma frota.
Enquanto falhava o Estado princip esco, a Igre ja inte rferia na área da viela
econômica, tentando introduzir na eco nomia um mínimo ele hon estidade , retidão
e é tica eclesiástica. Uma ele suas medidas mais importantes foi o apoio à paz
pública, pela tentativa, primeiro, de es tabel ece r assembléias ele paz pública e, por
fim, ele impor a observação geral desta paz . Além disso, as grandes comunidades
el e bens eclesiásticas e ram portadoras ele uma eco nomia muito rac ional, que,
e mbora não se pudesse chamar el e economia capitalista, era a mai s ra cional da-
quela época. Mais tard e , estas iniciativas caíram e m d escrédito, à medida que a
Igre ja rea nimava seus antigos ideai s ascéticos, adaptando-os à é poca. Entre os
impe radore s encontramos d e novo algumas poucas inici ativa s d e política mer-
cantil sob Frederico Barba-Roxa: taxas de preços e um aco rdo aduaneiro com a
Inglate rra, que prete ndia favorecer os comerciantes alemães. Frederico II impôs a
pa z pública, mas praticava, el e resto , uma política purame nte fiscal que favore cia
somente os comerciantes ricos e proporcionava-lhes privilégios, sobretudo adua-
neiros . A única medida político-econômica dos re is alemães foi a luta contra as
taxas aduaneiras no Re no, que, no entanto, quase não trouxe resultado , e m face
elos inúme ros p equenos senhores a li estabelecidos. Fora disso, não havia nenhu-
ma política econômica sistemática. Medidas qu e dão a impressão ele semelhante
política - como, por exemplo, o bloqueio de Veneza por parte elo imperador
Siegmund ou os bloqueios ocasionais do Reno (na luta contra Colônia) - são
apenas ele natureza política . A política acluáneira estava nas mãos elos príncipes.
Também a ela falta, com poucas exceções, o fomento sistemático ela economia.
Seus aspectos dominantes são: favorecimento do tráfico regional, em oposição ao
tráfico a distância, a fim de fomentar o intercâmbio entre a cidade e os arredores;
os direitos ele exportação sempre têm que ser mais altos do que os ele importa-
ção; favorecimento elos comerciantes na alfândega; taxas diferenciadas para as
estradas, porque o príncipe deseja favorecer determinada estrada para explorá-la
fiscalmente com maior facilidade, objetivo para cuja realização ele até recorria ao
uso compulsório desta estrada e à sistematização elo direito ele armazenagem; por
fim, privilegiamento dos comerciantes urbanos, vangloriando-se o duque Luís, o
Rico, da Baviera (1450- 1479) de haver suprimido os comerciantes rurais. Direi-
tos protecionistas são desconhecidos, com poucas exceções, constituindo um
exe mplo os direitos tiroleses sobre o vinho, para impedir a concorrência elas
importações italianas. Toda a política aduaneira orienta-se por aspectos fiscais e
políticos de sustento. O mesmo se aplica aos numerosos tratados aduaneiros que
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re mo ntam ao século XIII. O que mudo u foi a técnica elas taxas. Originalmente,
existiam direitos sob re o valor, de sexagésima parte deste; no sécul o XIV, h avia m
subid o à duod écima parte, porque os direitos tinham qu e fun cio nar ao mesmo
te mpo como imp osto de co nsumo. Em lu ga r de nossas mode rnas medidas da
política me rca ntil, como os direitos protecion istas, havia p ro ibi ções indiretas d e
co mé rcio, dec re tadas co m muita freqüência quando se tratava de protege r o sus-
te nto elos a rtesãos loca is e, mai s tard e, elos e mpresá ri os ex ploradores d e indús-
trias case iras. O u e ntã o se pe rmitia some nte o comércio po r ata ca do e proibia-se
o co mércio a va re jo .
O prime iro indício de uma política eco nô mi ca p rin cipesca ra cio nal apa rece
na In glate rra , no sécul o XIV; trata-se elo fe nô me no que , desde Ada m Smith , se
chama me rcantilismo .
Mercantilismo sig nifi ca a tra nsfe rê ncia do e mpree ndim e nto aqui siti vo ca pi-
talista para a á re a po lítica . Trata-se o Estado como se es te se comp usesse exclus i-
va me nte de e mpresá ri os cap ita listas; a po líti ca eco nô mi ca e m re lação ao exte ri o r
base ia-se no prin cípio de passa r para trás o adversá ri o, d e comprar o mai s barato
p oss ível e d e vender muito mais caro . O fim consiste e m fortale ce r o pode r d a
direção do Estado e m re lação ao exte ri o r. Me rca ntili smo signifi ca, portanto, a
form ação d e uma potência es tatal mod e rna, e isto diretame nte mediante o au -
me n to elas rece itas prin cip escas, e indireta me nte medi a nte o a um e nto ela capaci-
dade tributária da população .
O press uposto el a política me rcantilista e ra a c ri ação elo maior núme ro pos-
síve l de font es de rece itas mo ne tárias no própri o país. No e ntanto, é e rrô neo
ac red itar que os teó ricos e políticos merca ntilistas te nham co nfu nelid o a posse ele
meta is nob res com a riqu eza ele um país. Sabiam muito be m qu e a ca pacid ade
tributá ri a é a fo nte d esta riqu eza, e para aume ntá-la faziam tud o para manter no
país o dinh eiro qu e ameaçava d esapa rece r ela circu lação. Outro po nto programá tico
elo me rca ntili smo, e m co nexão direta e concre ta com a po lítica d e p o de r elo siste-
ma, e ra o maior aumento possíve l da popu lação e , para ali me ntá-la, apesa r d este
cresci mento, a cria ção de um máximo ele possibilidad es ele ve nd a ao exterior,
tra ta ndo-se, de preferê ncia, de possibilielacles de venda p a ra pro dutos qu e com-
preendiam um máximo ele trab alho nacio nal, isto é, pa ra produtos acabad os, e
não pa ra maté rias-primas. Por fim , pre tendia-se rea li zar o comé rcio, na med ida
do possível , p o r inte rmédio dos comerciantes, para aprove ita r elos ga nh os a capa-
cidade tributá ria elo país. Teori ca me nte , apoiava-se este sistema na teoria elo b a-
lan ço come rcial, que e nsin a qu e um país e mpobrece logo que o valo r el as impo r-
tações exce de o das exportações; esta teoria foi prime iro desenvo lvida na Ingla-
te rra, no século XVI.
De todo modo, a Inglaterra é o país ele origem do sistema merca ntilista . Os
primeiros indícios ele sua aplicação e nco ntramos ali no a no 1381. Quando, sob o
fraco rei Ricardo li, aparecera m dificuldades finance iras, o Parlame nto nomeou
U\11a comissão investigado ra, a primeira que o perou com o conceito elo b alanço
co me rcial, com todas as suas ca racte rísticas esse nciais. Inicialme nte, promulgou
ap e nas leis ocasionais : proibição elas importações e favorecimento elas exp o rta-
524 ~ IA X \X'EBER

ções, se m qu e to d a a p o lítica in glesa tivesse toma d o um rum o me rca ntilista.


A mud ança d ecisiva costuma-se data r de 144 0. Neste a no, e leva ram ao níve l ele
p rin cípi o ( me di ante um el os nume rosos statutes oj employm.ent, p ro mulga dos p a ra
comb ate r as d ificuldad es me ncio nadas) du as medid as q ue já hav ia m s ido apli ca-
das a ntes, mas a p e nas ocasio nalme nte : co me rcia ntes estran ge iros q u e trazem
me rca do ri as pa ra a Inglate rra têm que a plica r to do o d in he iro obti do po r estas em
me rca do ri as in glesas, e come rcia ntes ingleses q ue vão ao exte ri o r tê m q ue traze r
d e vo lta p a ra a In glate rra , e m dinh e iro, pe lo me nos um a p a rte el e se us ganh os .
A es tas du as me di das seguiu -se o dese nvo lvim e nto g rad ativo el e todo o siste ma
me rca ntili sta, a té a le i de navegação de 165 1, q ue excl u iu toda a navegação
estra nge ira .
O me rca ntil is mo , co mo ali a nça el o Esta do co m in te resses ca pi ta lis tas, a pre-
se nto u-se so b du p lo as pecto : 1) Uma d e suas fo rma s d e ma ni fes tação e ra a de um
me rca ntilismo es tame nta l-mo nopo li zaclo r, tal co mo se ap rese nta, de fo rma típ ica,
na po lítica el os Stu arts e d a Ig reja Angli cana, pa rti cul a rm en te na elo bis po La ud .
Este sistema p re te ndi a a criação el e um a divisão esta me ntal el a p opul ação inte ira
e m sentido c ri stão-social , uma esta bili zação el os esta me ntos, pa ra pode r volta r ao
siste ma el e fra te rnidad e cristão-social. Em opos ição radi ca l ao p urita ni smo, qu e
via e m tod o pobre um p reg u içoso o u c rimi noso, tinh a um a a titud e co mp ree nsiva
dia nte ela p ob reza . Na p rática, o mercanti li smo el os Stua rts es tava p redo mina nte-
mente o rie nta d o pa ra inte resses fisca is, co m to das as ind úst ri as novas so me nte
pod e nd o impo rta r e m virtu de el e um mo no p ó li o co nce di do p e lo rei e p e rm a ne-
ce nd o co nsta nte me nte so b o co ntro le e a ex pl o ração fiscal d o re i. Pa rec ida , aind a
qu e me nos co nseq üente, e ra a po lítica el e Colbe rt na Fra nça . Este p re te ndia um
fo me nto a rtifi cia l, ap o iado em mo no p ó li os el a indú stri a. Esta intenção e le tinh a
e n1 comum co m os hu gue no tes, ve ndo, por isso, co m ma us o lhos sua pe rseg ui-
ção. Na Inglate rra, a p o líti ca rea l e a a ngli ca na fracassa ra m no Pa rl ame nto Lo ngo,
cl eviclo aos purita nos . A lu ta d estes contra o re i rea li zava-se, dura nte d éca d as,
sob o le ma "contra os mo nopó lios", q ue, e m pa rte, fo ra m co n ce didos a estrange i-
ros, e m parte, a cortesãos, e nqu anto as colônias estavam nas mãos ele favo ritos el o
re i. O esta mento d os peq ue nos emp resá rios qu e neste me io te mp o se havia fo r-
mad o, prin cipalme nte d entro d as co rpo rações, mas, e m parte, ta mbé m fo ra de las,
lu tava co ntra o reg ime mo nop oli zado r elo rei, e o Pa rl ame nto Lo ngo dec re tou a
in ca p acidad e e leito ral d os mo nopo listas . A obstin ação extraordin ári a com qu e o
esp írito econ ô mi co d o p ovo inglês resistiu a to d os os ca rté is e mo nop ó lios ma ni-
fes tava-se nestas lu tas puritan as . 2) A segund a form a el o me rca ntili smo e ra a el o
me rca ntilismo nacio nal, qu e se limitava a p ro tege r s iste mati ca me nte indústrias
nacio nais já ex iste ntes, não c ri adas p o r mo nop ó li os.
Qu ase ne nhuma elas indústrias cri adas pelo me rcantilismo sobrevive u à é poca
mercantilista ; as cri ações elos Stu arts fracassa ra m do mesmo mo d o q ue aqu e las
elos Estados co ntin e ntais el o Oc ide nte e as mais rece ntes el a Rú ssia. Ta mbé m o
me rca ntilismo nacio nal n ão co nstitui o p o nto ele p a rtid a do dese nvo lvime nto
ca pita lista, mas este aco nteceu inicialme nte, na Inglaterra, p a ral elame nte à p olíti-
ca monopolizaclo ra fi sca l do me rca ntili smo, e isto ele tal modo qu e uma ca mad a
ECOl\O~llA E SOC IEDADE 525

ele empresanos, que havia ascendido ind epe nde nteme nte do poder estatal, e n-
controu, após o fra casso ela política mon opo li zac!o ra fi sca l elos Stuarts, no século
XVIII, o apoio sistemático do Pa rl a me nto. Pela última vez, enfrentaram-se aqui
numa luta o capitalismo irracional e o racional: o capi talismo orientado para opor-
tunidades fi sca is e co loniais e para monopó li os estatais e o capita li smo orientado
para oportunidades el e me rca do qu e resulta va m, au to maticam ente , se m medida s
impostas de fo ra , das próprias transa ções comerciais. O ponto em que co lidi am
foi o Banco ela Ingla te rra. Este fora c riado pe lo escocês Paterso n, um aventureiro
capitalista do tipo c riado pe los Stuarts, mediante a co ncessão de monopólios.
Mas també m participava m do banco ho me ns el e negóc ios puritanos. A última
ocasião em que o banco reca iu no cap italismo aventureiro fo i o caso da So uth
Sea Company. Mas , presc indindo-se deste caso, podemos observar em ca da passo
de sua gestão que foi recuando a influ ê ncia de Paterson e de seus igua is e m favor da
influê ncia ela ca tegoria ra cio nal de membros do banco, que e ram todos eles, direta
ou indire tame nte, de origem puritana ou se encontravam so b influência puritana.
O mercantilismo continu o u desempenhando o papel conhecido ela história
da economia. Na Ing laterra, esgotou -se d efiniti va me nte esse pape l com a introd u-
ção do comé rcio _livre, ob ra dos dissenters puritanos (Cobclen e Bright) e de sua
ali ança com inte resses industriais, qu e já podiam presc indir do apoio me rca ntilista .

§ 2. O Estado racional como grupÔ de dominação institucional com o


monopólio da violência legítima

Do p o nto de v ista da consideração soc iol óg ica, uma associação "po lítica", e
particularme nte um "Estado ", não pode ser d efinida p e lo co nte údo d aq uilo que
faz. Não há quase ne nhuma tarefa qu e alguma associação política, e m algum
momento, não tivesse tomado em suas mãos, mas, por outro lado, também não
há nenhuma da qual se poderia dizer qu e tivesse sido própria, em todos os mo-
me ntos e exclusivame nte, daqu elas associações qu e se chamam po líticas (ou hoj e:
Estados) ou que são historicamente as precursoras do Estado moderno . Ao co n-
trário, somente se pode , afinal , definir socio log ica me nte o Estado mode rno por
um meio específico que lhe é próprio , como também a toda associação política: o
da coação físi ca . "Todo Estado fund ame nta -se na coação", disse em se u te mpo
Trotski, em Brest-Litovsk . Isto é de fato co rre to. Se existissem apenas co mplexos
sociais que d esconh ecessem o meio da coação, teria sido dispensado o conceito
de "Estado"; ter-se-ia produzido aquilo a qu e cab e ria o nome ele "a narquia ", nes-
te sent ido específico do termo. Evidentemente, a coação não é o meio normal ou
o único elo Estado - não se cogita disso - , mas é seu meio específico. No
passado, as associações mais diversas - começando pelo clã - con hec iam a
coação física como meio perfeitamente normal. Hoje , o Estado é aque la comuni-
dade humana que, d e ntro de determinado território - este, o "território ", faz
parte da qualidade característica - , reclama para si (com êxito) o monopólio da
coação física legítima , pois o específico da atualidade é que a todas as de mais
526 1\lr\X WEBER

a ocia ções ou p essoas individu ais somente se atribui o direito de exe rce r coação
fí ica na medida em qu e o Estado o permita. Este é conside rado a única fo nte do
.. di re ito " ele exe rcer coação.
"Política" significaria para n ós, porta nto , a te ntativa de particip a r no pod e r
o u el e influ e ncia r a distribuição elo pode r, seja entre vá rios Estados, seja d e ntro
d e um Estad o e ntre os grupos de pessoas que este abrange. Isto co rrespo ncl e,
esse ncialme nte, ao uso d a palavra na lin gua ge m co rre nte. Quando se di z d e uma
questão q ue é uma qu estão "política ", ele um ministro o u funcionário q ue é um
funcionário "político", el e uma decisão que é "politicamente" con dicio nada, se m-
pre se te m e m me nte qu e inte resses el e distribui ção, co nse rvação ou d es loca me n-
to ele poder são d ecisivos para a so lu ção daqu e la questão, co ndi cio nam aqu ela
decisão o u d e termi n am a esfe ra ele ação daquele fun cio ná ri o. Quem pratica po lí-
tica, recla ma poder: p o de r como meio ao se rviço de outros fin s - ideais o u
egoístas - , ou p ode r "pelo próprio poder", para de le itar-se co m a sensação el e
prestígio que proporciona.
O Es tado, elo mesmo modo que as associações políticas hi sto ri ca me nte pre-
ce de ntes, é uma rela ção d e dominação ele ho me ns sobre ho me ns, apoiada no
meio el a coação legítima (q u e r di ze r, cons id e rada legítima) . Para que e le subsista,
as pessoas d o minada s têm que se submeter à au to ridad e invocada pelas que
do min am no mo me nto dado. Quando e por qu e fazem isto , some nte p ocl e1'n os
co mpreende r conhecendo os fund a me ntos ju stifica tivos inte rn os e os me ios ex-
te rnos nos quais se apóia a dominação .
Ju stifi cações inte rn as, isto é, fundamentos ela legitimidade el e uma domina-
ção - para começa r co m estes - , ex iste m três, e m princípio. Primeiro, a auto ri-
dade do "ete rn o onte m", elo costume sagra do p or va lidade ime mo ráve l e pe la
disposição habitu al ele respe itá- lo: dominação "tradi cio nal ", ta l como a exe rcia m
o patria rca e o príncipe p atrimonial ele antigamente. Segundo, a autoridade do
do m de graça pessoa l, extracotidia n o (carisma) : a e ntrega pessoa l e a co nfi an ça
pessoa l e m reve lações, heroísmo ou outras qualidad es ele líder ele um indivídu o :
do mina ção, "ca rismáti ca " , tal como a exe rcem o profe ta ou- na área po lítica -
o prín cipe gue rre iro e leito o u o sob e rano plebiscitário, o gra nd e de ma gogo e o
chefe de um partido político. Por fim, a domina ção, em virtude ele "lega lidade", ela
cre nça n a va lid ad e ele estatutos legais e ela "competência" o bj e tiva, fund a mentada
e m regras racionalme nte criadas , isto é, e m virtude d a dispos ição de obediência
ao cumprimento ele deve res fi xados nos estatutos: uma dominação co mo a exer-
ce m o moderno "se rvido r público" e todos aqueles portadores el e pode r que com
e le se parece m n este aspecto. - É óbvio que, na rea lidade, a obediência é co n-
di cionada por motivos muito pode rosos de medo e espera nça - medo ela vin-
ga nça de pode res mágicos oü do dete ntor do pod e r, esp e ra nça ele obter uma
recomp e nsa no Aquém ou no Alé m - , alé m de interesses de natureza ma is
dive rsa. Logo vo ltaremos a este aspecto. Mas pe rguntar-se p elos fundamentos
"legítimos" desta obediência conduz a estes três tipos "puros". E essas idéias d e
legitimidade e seu fundam e nto inte rno são de importância conside ráve l para a
estrutura ela dominação. Certamente, é raro encontrar os tipos puros na realida-
d e . Não prete nde mos, contudo, expor aqui, detalhaclamente, as modificações,
ECOl\Oi\llA E SOC IEDAD E 527

form as inte rmédias e co mbinações alta me nte co mplica das d esses tipos p uros;
isto faz p a rte dos proble mas da "teo ri a ge ral d o Estad o" .
Neste lu ga r, nos inte ressa, sobretud o, o segundo destes tipos: a d o mina ção
e m virtude da e ntrega d os suj e itos ao "ca ri sma" purame nte p essoa l d o "líd e r".
Aqui radi ca a id éia d a vocação e m sua forma sup re ma. A e ntrega ao ca risma d o
p rofeta o u d o líde r na gu e rra o u do g rande de magogo na ekklesia o u no Pa rl a-
me nto signifi ca qu e este é co ns ide rado , pessoa lme nte, o "líd e r" dos h o me ns, e m
v irtude d e uma "vocação" inte rn a, e qu e estes não se subme te m a ele e m virtude
d o costum e o u d e estatutos, mas sim po rqu e ac reditam ne le. Ele pró pri o , se é
algo mais do q u e um a rri vista e fê me ro , limitad o e p resunçoso, vive p a ra su a
ca usa, "aspira reali zar sua obra". J á a e ntrega d e se u séquito , dos di scípul os, elos
sequazes e dos pa rtid ári os pessoais refe re-se à su a pessoa e às su as qu ali dades .
Nas fi guras mais impo rta ntes elo passa do - a d o mago e p rofeta, p o r um lad o, e
a d o príncip e gue rre iro ele ito , do c he fe d e b ando e d o condottie1·e, p o r outro ,
o p ap el d e líde r existiu e m todas as reg iões e e m tod as as é p ocas histó ri cas. Mas
p ró prio do Oc ide nte é o pape l ele líder político, prime iro na fi gura do "de magogo"
livre, qu e te m sua orige m na cidade-es tado, específi co do Ocidente , sobretudo da
civilização medite rrâ nea, e depois na do "chefe de p artido" parlame nta r, que te m sua
orige m no Estado constitucional, ta mbém desenvolvido apenas no Ocide nte.
No e ntanto, esses p o líticos el e "p rofissão", no se ntid o de vocação, não são
e m lu ga r algum as úni cas figuras dec is ivas na s ma no bras el a luta pe lo pode r
p o líti co . Alta me nte d ecisrva é antes a natureza d os recursos el e qu e dispõe m .
A qu es tão d e co mo as po tê ncias poli tica me nte do min antes vie ram a mante r-se n o
p o de r ap li ca-se a todos os tipos de do minação p o lítica, e m todas as suas fo rm as,
tanto a tradic ional qu a nto a lega l e a ca rismáti ca .
Toda o rga ni zação ele domi nação qu e ex ige uma administração co ntínua re-
qu e r, po r um lado, a atitude ele obedi ê ncia d a ação huma na di a nte d aque les
se nho res qu e reclamam se r os po rtad o res d o p o de r legítim o, e, p o r o utro lado ,
medi a nte essa ob edi ê ncia, a di spos ição sobre aqu eles b e ns co ncre tos qu e eve n-
tu alme nte são necessá ri os para ap li ca r a coação físi ca: o qu adro admini strativo
p esso al e os recursos admini strativos mate ri ais.
Po r sua vez , o qu adro admini strativo, qu e re prese nta a fo rma de manifesta-
ção exte rn a ela o rga ni zação de d o minação p o lítica , b e m co mo a de qu alqu e r
o utro e mpree ndime nto , n ão está liga d o à ob e diê ncia di ante do d e te ntor do p o-
de r, àqu e la idé ia d e leg itimida d e el a qu al acabamos ele falar, mas sim p or d o is
me ios qu e a p elam ao inte resse pessoa l: reco mp e nsa mate rial e ho nra soc ial. O s
fe udos elos vassalos, as pre b e nclas dos fun cion ários p atrim oni ais, o sa lá ri o dos
mo d e rnos se rvido res públicos - a ho nra d e cavaleiro, os privilég ios estame ntais
e a h o nra d o fun cio ná rio - constitu e m a re co mp e nsa , e o med o d e p e rdê-los é o
últi mo funda me nto d ecisivo da solidari ed ad e do quadro ad ministrativo com o
d ete nto r do p od e r. Isto se aplica també m à dominação do líde r ca rismáti co: honra
militar e esp ó lio, sp oils, para o séquito gu e rre iro, e exploração d os dominados,
medi ante monopó lios de ca rgos, lu cros p o liticame nte condicionados e prê mi os
lisonjeiros p ara o sé quito d emagógico.
Pa ra a manute nção de to da dominação b aseada e m coaçã o, precisa-se, alé m
di sso, d e ce rtos b e ns mate riais exte rnos , do mesmo modo qu e numa e mpresa
!\IAX WE BER

econô m ica . To d as as ordens esta tais p o d e m ser cl ass ificadas seg undo se funda-
me n te m no princípio de qu e aque le qu a dro d e pessoas - func ionários ou outro
tipo d e pessoas co m cuj a obediência prec isa poder contar o d e te nto r elo pode r -
são jJrojJrietários dos me ios adm ini strativos, consistam estes e m dinh e iro, pré di-
os, mate ri a l bé lico, ca rros, cava los ou o utras co isas quaisq ue r, o u e ntão no prin-
cíp io el e que o quadro administrativo está "se parado" el o s me ios a dminis trativos,
no m es mo se ntid o qu e atualme nte o fun cio nário e o proletário na e mpresa cap i-
tali sta estão "separa dos " d os me ios el e produção mate ri a is. Isto é, se o d e te ntor
el o p ode r em a a dminis tração e m s uas próprias mãos, o rga ni zan d o-a e exe rce n-
d o-a medi ante serv idores pessoais, funcionários co ntratad os o u favo ritos e ho-
me ns ele co nfia nça pessoais que não são propri e tá rios (o u seja , d o nos p o r dire ito
próprio) elos me ios mate ri ais elo e m p ree ndime nto , mas estão subme tid os à dire-
ção elo se nh o r, o u se acontece o co ntrá ri o . A dife re nça atravessa todas as o rga ni -
zações admini strativas elo passa d o .
Uma assoc iação p o lítica, e m que os me ios administrativos mate ri ais se e n-
con tram integra l o u parcia lm e nte no p o d e r pró pri o elo q uadro admini strativo
dependente, é uma assoc iação o rg a ni za d a "es ta me nta lme nte ". Na assoc iação fe u-
d a l, por ex e mpl o, o vassa lo pagava el e se u pró pri o bolso a ad mini stração e a
jurisd ição elo di strito qu e cons titu ía se u fe udo , a lé m el e eq uipar-se e abastecer-se
para a g u e rra; se us s ubvassa los faziam o mes mo. Isto tinha co nseq üê n cias consi-
deráveis p ara a posição el e poder el o se nh o r, que so me nte d e sca nsava sobre o
víncul o pessoal el e ficl e licla cl e e sob re o fato ele qu e a posse el o feudo e a honra
so cia l el o vassa lo d e ri vava m el o se nh or sua "leg itimidad e ".
Ma s ta mbém e ncontram os po r to da parte, d esd e os co mplexos políticos
mais antigos, a direção próp ri a el o se nh o r: por me io el e esc ravos, funcion á ri os
d omé sticos, se rvidores e "favo ritos " p essoa is dep e nd e ntes d e le, e ele prebenclados,
re mun e rad os co m e molume ntos e m es péc ie o u e m dinh e iro provindos de s uas
rese rvas, e le procura toma r a admini s tração em s u as p róp ri as m ãos, pagar as
d espesas el e seu pró prio b o lso, elos produtos ele seu p atrim ô nio, e criar um exé r-
cito p essoa lm e nte d e pe nde nte , p o r eq uipar-se e abastecer-se d e seus celeiros,
arm azé ns e arsenais d e armas. Enquanto na associação "esta me nta l" o se nhor
gove rna com a ajuda ele um a "aristocracia" autônoma, diV1:dindo, p o rtanto, co m
e la a domin ação, apóia-se aqui e m d e pend e nte s domésti cos ou e m pl ebeus: ca-
madas se m pro pri e dade e sem ho nra socia l própri a, qu e d ep e nd e m material -
me nte p o r co mpl eto dele e n ão disp õe m el e ne nhum p o d e r próprio concorrente .
To da s as fo rm as ele dominação p atriarca l e patrimonia l, el e despotismo su ltan esco
ou el e o rde m estata l buroc rática p e rte n ce m a este tipo. Isto se a plica, particular-
me nte, à ordem estatal buro crática, o u seja, à que em su a variação mais racional
é ca racte rísti ca, ta mbé m e precisa me nte, do Estado mode rno .
Por toda parte inicia -se o d esenvo lvime nto elo Estado moderno, pela tenta-
tiva ele d esapropria ção, por pa rte do príncipe, dos portadores "particulares" ele
poder administrativo qu e existem a se u lado, isto é, daqu e les proprietários de
recursos administrativos, bé licos e financeiros e ele be ns politicame nte aproveitáveis
de todos os tipos. Todo o processo constitui um paralelo perfe ito ao desenvolvi-
mento ela e mpresa capitalista, me diante a desapropriação gradativa elos produto-
res autô nomos. No fim vemos qu e no Estado moderno ele fato há a concentração
ECOI'\0:\IIA E SOCIEDADE 529

e m um ponto supremo da disposição sobre todos os recursos da organização


políti ca, qu e mais nenhum funcionário é proprietário pessoal do dinheiro qu e
desembolsa ou elos prédios, das rese rvas, elos instrumentos ou ela maquinaria
b éli ca de qu e dispõe. No "Estado" atual, está, portanto, comp le tam e nte realizada
- e isto é esse ncial para o co nceito - a "se paração" e ntre o quadro administra-
tivo, os fun cionários e trabalhadores administrativos, e os me ios materiais ela
organização.
Para nossa consideração, ca be, portanto, constata r o purame nte conceitual:
que o Estado moderno é uma associação el e dominação institucional, que dentro de
determinado território prete ndeu com êx ito monopolizar a coação fís ica legítima
como meio da domina ção e reuniu para este fim , nas mãos ele seus dirige ntes, os
me ios mate ri ais de organização, depois de desap ropriar todos os funcionários
estame ntai s autônomos qu e antes disp unham , por direito próprio, destes meios e ele
colocar-se, ele próprio, e m seu lu ga r, rep rese ntado por seus dirigentes sup remos .

§ 3. O empreendimento estatal de dominação como administração.


Direção política e domínio dos funcionários

Em um Estado mod e rno , o d omínio efe tivo , que não se manifes ta nos dis-
cursos pa rl a mentares nem e m d eclara ções de monarcas, mas sim no cotidiano ela
administração, e ncontra-se, necessária e in ev itave lm e nte, nas mãos elo func iona-
lismo , tanto elo militar quanto elo civi l, pois também o oficia l sup e rior modern o
dirige as bata lh as a partir elo "esc ritór io". Do mesmo modo qu e o c hamado pro-
g resso em direção ao cap italismo , desde a Idad e Média, é o c rité rio unívoco ela
modernização da economia, o progresso e m dire ção ao funcionalismo burocráti-
co, baseado e m contrato, salário , pensão, ca rreira, treinamento especializado e
divisão ele traba lho, competências fixas, doc umenta ção e ordem hi erá rquica, é o
crité ri o igua lme nte unívoco ela mod e rnizaç ão do Estado, tanto do monárquico
quanto do de mocrático. Pelo menos é assim quando o Estado não é um peque no
cantão, com reveza mento na administração, mas um grande Estado ele massas.
A democracia, elo mesmo modo que o Estado absolu to, elimina a ad ministra ção
mediante notáve is feudais , p atrimoniai s, patrícios ou outros que a exe rcem como
cargo h onorífico ou he reditário , e m favor ele funcionários contratados. Estes de-
cid e m sobre todas as necess idades e recla mações da viel a cotidian a. Neste aspec-
to, aqui decisivo, o portador elo d o mínio militar, o oficial, não se distingue elo
funcionário adm inistrativo civil. Também o mode rno exército ele massas é um
exé rcito burocrático, e o oficial represe nta uma categoria especial ele funcioná-
rios, em opos ição ao cava leiro, condottiere, caciqu e ou herói homérico. A força
combativa fundamenta-se na disciplina elo serviço. De modo seme lh ante, realiza-
se o avanço ela burocracia na adm inistração municipal. E esta avança tanto mais
rapidamente quanto maior é o município e quanto mais este é in evitave lmente
ciespojaclo, pe la constituição ele associações com fins específicos e técnica ou
eco nomicamente concl icionaclas, de seu orgânico caráter local autóctone. E, na
Igreja, o resultado fundamental do Concílio Vaticano de 1870 não foi o muito
discutido dogma de infalibiliclacle, mas o episcopado universal. Este criou a
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-cape làoc racia " e, e m o posrçao à Id ad e Mé d ia, fez el o bi sp o e elo p ároco um


im p les fun cio n ári o elo p o d e r curia l ce ntral. E o mes mo se a pli ca às grand es
e m presas priva d as d a atu a lidad e, qu an to maio res ta nto ma is. O número d e e m-
pregad os privad os cresce estatisticame nte mais rápido elo que o el e trabalhadores, e
é e rrô neo supo r qu e o trabalh o intelectu al na administração d e uma e mpresa se
d istinga, ele alguma ma ne ira, d aqu ele na administração púb lica .
Os d ois são, e m su a essê ncia fund ame nta l, co m p letame n te ig uais. O Esta d o
mod e rn o, d o po n to de v ista soc io lóg ico, é um a "e mp resa ", el o mesmo mo d o qu e
urna fáb rica : prec isa m e nte esta é su a qu a li dade histo ri ca me n te específi ca. E e m
a mbos a re lação d e d o minação d e ntro ela e mp resa está ta m bé m co ndic io nad a
pe los mes mos fato res . Do mesmo modo q ue a re lativa au tono mi a el o artesão o u
traba lh ador ele uma indú s tria casei ra , el o ca mpo nês co m te rras p róp ri as, elo pa rti-
cipante e m um a commenda, elo cava le iro e el o vassa lo se fund a me ntava n o fato
el e q ue e le mes mo e ra p ro prietá ri o el os instrume ntos , d as rese rvas, d os recursos
mo ne tá ri os o u el as a rmas, co m cuj a ajuda exe rcia su a fun ção econô mica, po líti ca
o u milita r e d os q ua is v ivia d ura n te este exe rcício, a d epe nd ê ncia hi e rá rq ui ca elo
trab alh ad o r, elo e mprega d o d e escritó ri o, el o fun cio ná ri o téc ni co, el o assis te nte ele
um inst itu to unive rs itá ri o e ta mbé m a el o fun cio ná ri o e so ldado esta ta l baseia-se
unifo rm e me n te no fato d e q ue aq ue les instru me n tos, rese rvas e recursos mo ne-
tários, in d ispe nsáveis à empresa e à existência econô mica, encontra m-se concentra-
d os no poder el e d ispos ição, nos p rime iros casos, elo e m p re sá ri o, e nos ú ltimos
casos, elo sen ho r po lítico . Este fun da mento econôm ico d ec isivo - a "se p aração"
el o traba lh ad o r elos me ios mate ri a is el o e mpree ndime nto: el os me ios ele p ro du ção
na eco no mi a, el os me ios bé li cos no exé rcito, elos m ei·os adm in istrativos m ate ri a is
na adm inistração públi ca, elos me ios el e pesquisa no insti tuto univers itá rio e no
labo rató rio, e el os me ios mo n e tári os e m to dos es tes casos- é co mum à mo d e rna
o rga ni zação estata l, n a á rea p o lítica, cultural e militar, e à eco no mia cap ita lis ta
priva d a . Em a m bos os casos, a d isposição so bre esses me ios está nas m ãos elo
po d e r ao q ua l obedece d ire tamente o aparato ela burocracia (ju ízes, fun cioná-
rios, oficiais, cap atazes, fun cio nários de escritório, sarge ntos) o u à cuja d isposição
este se co loca ao se r chama d o . Tanto a existê ncia qu an to a função d esse a p arato
estão insepa rave lme n te co ncate nad as, como causa e como e feito, à "co nce ntra-
ção dos me ios mate ria is el a e mpresa", send o e le a fo rma ele ma nifestação d esta
co nce ntração. In evitave lme n te , "socialização " cresce nte sign ifi ca ho je ta mbé m
burocrati zação cresce nte.
També m his to ri came nte o "progresso" e m direção ao Estad o burocrático,
qu e se nte ncia e administra n a base ele um dire ito racio nalme nte esta tuído e ele
regul ame ntos racion a lme nte co nce bid os, e ncontra-se e m co nexão muito ín ti ma
com o d ese nvolvime nto ca pitalista mo d e rno . A e mpresa ca pita li sta mo d e rn a fun-
d ame n ta-se inte rn am e nte, sobre tud o, no cálcul o. Para sua existê ncia , e la re qu e r
uma justi ça e uma administração, cuj o funcio na me nto, p e lo me nos e m princípio,
possa se r rac io nalme nte ca lcul ad o p o r no rmas ge rais fi xas , elo m esmo mo d o que
se calcul a o re ndime nto prováve l ele uma máquina. Ele p o d e con te nta r-se tão
pouco com a ch am ad a "jus tiça ele cácli" (isto é, com sente nças qu e se base iam no
se ntime nto ele justiça elo juiz, e m ca d a caso) o u com o utros me ios o u princípios
irracio na is d e ave riguação elo dire ito , tais como existiam no p assad o por toda

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