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do Brasil Urbano
/iflTRO P O LO G ifc S O C I A L
Hnthony Leeds e Elizabeth Leeds
ogia
T r a d u ção d e
M ari a La u ra V i vei ros de C astr o
R ev i são T é
cn i ca d e
A pr esent ação d e
T h a les de Aze ve do
ZAHAR EDITORES
RIO DE JANEIRO
Copyright © 1977 by Anthony Leeds and Elizabeth Leeds
capa d e
J a n e
1978
Impresso no Brasil
índice
A nthony L eeds
ções dessas
uma de ideologia
coisas reais, menos
ao longo ainda as mudanças em qualquer
do tempo.
Meu próprio trabalho envolveu de modo crescente a tentativa
explícita de desenvolver, no interior de um quadro de referência do
materialismo histórico marxista e da lógica das multiplicidades de
“forças sociais” (o termo é de Durlcheim, com seu modelo implícito,
indesejável, newtoniano de interação física, mas servirá de momen
to), abordagens substantivas e teóricas inais refinadas_e detalhadas
I ntrodução 15
na verdade, trata dos vários atores, seus recursos, suas jogadas po
líticas para obtenção de maiores recursos ou para restringirem uns
nos outros o acesso aos recursos. A utilidade do modelo é vista nos
últimos trabalhos.
O Capítulo III faz muitas coisas: articula nós sociais (ver
Leeds 1967), que vão de indivíduos a sistemas de classes num
único quadro de análise; estabelece como os limites de classe são
gerados e mantidos numa dada sociedade e uma categoria de socie
dades e como as próprias classes são constituídas de unidades so
ciais menores; argumenta que os traços característicos encontrados
no Brasil são genéricos de um tipo de sociedade que representa
uma fase na evolução social geral —- posição que não mais sustento.
O aparato central de tomada de decisão e de organização do
sistema de classe e seu s co nstituintes local izn-se nas cida des — o
locus concentrado da maioria dos recursos de poder. Assim, o tra
balho é também um estudo da natureza da sociedade urbana (ver
Leed s, 1 9 6 7 a ), Alguma s co nsi der açõ es d o Capí tul o Í II — parti
cularmente o caráter das panelinhas- e suas. funções.— junto com as
considerações do Capítulo II, levaram ao extenso trabalho de campo
sobre populações proletárias, especialmente aqueles segmentos lo
calizados nas favelas, com os quais o restante dos trabalhos se preo
cupa.
0 Capítulo IV é talv ez o mais etnográf ico d os trabalho s, mas
levanta ainda alguns problemas teóricos colocando em questão in
terpretações, modelos e teorias, especialmente a rejeição do concei
to e da existência de uma “cultura da pobreza” (mais forte e siste
maticamente rejeitada em Leeds, 1971); sua rejeição da conçep-
íção de “imaturidade”, “passividade”, “fatalismo”, “continuidade
tdos valores rurais” e coisas semelhantes que, como se argumenta,
jsSo interpretações amplamente etnocêntricas dos cientistas sociais
(de classe média urbana (especialmente norte-americanos) que nun-
ca participaram das estratégias e tomadas de decisão reais dos pro
letários nem avaliaram suas bases reais de julgamento nas situa
ções políticas e outras (ver E, Leeds, 1972).
Capítulo V generaliza os achados do Capítulo IV relativos
às favelas
geral, c moradores
mostrando das processo
como um favelas para o proletariado
de organização urbano em
e ideologia de
fi a ss e é " formado em fu nção das estratégias de vida e deci sões to-
;mndas aob^os con jun tos de res tri çõe s estabele cidos co nt ra eles pela
j“ classe superio r” . Es ta últim a também é discutida, remetendo ao
Capítulo III em termos tanto de sua organização como de seu fra-
cionam cnto competitivo inter no. As conseqüênci as em termos de
comportam ento político para ambas as classes — em suas tentativas
I ntrodução 21
dos
mim,deque
significado
vai alémpara
dos nós ambos
pálidos e um renascimento
agradecimentos pessoal para
em palavras.
I
Bibliografia
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I ntrodução 23
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li
A nteôny L eeds
Introdução
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1958; Poppino, 1953; Stein, 1957.
P oder L ocal e P oder S up r alo ca l 31
totalm ente independente das bases locais. P or exe mplo , econo mista s,
tratam do imposto, mas eu não sei áe ocasião alguma em que a mo
bilização da organização social local para lidar com problemas de
imposto, engendrados por uma dada política nacional de taxação,,
tenha sido explora da. Apresento o caso ext rem o, mas n o essencial
a afirmação é verdadeira.
Desde que parece ser axiomático entre os antropólogos que eles
devem tra tai ' de sociedades totais ou sistemas in teir os, eles têm te ra
tado e conseguiram realmente, descrições do macrocosmo.9 Mas não,
fora m capazes de tr at ar adequadamente das instituições supra lo
cais em si mesm as. Menos adequadam ente ain da, se não de forma
totalmente inadequada, foraiãi eles capazes de tratar das inter-rela-
ções entre essas instituições e as comunidades ou localidades especí
ficas com as quais elas se articula m. Ex iste m poucas descr ições de*
tais relações na literatura, com a possível exceção do material Si~
nológico (cf, também Lopes, 1964, 1968), e praticamente nenhu
ma proposição geral, hipóteses, ou modelos acerca da natureza de
tais inter-relaçÕes (cf, todavia, Adams, 1967). A seguir, proponho
um modelo geral.
A Localidade
9 Cf. Adams, et cã.s 1960; Benedict, 1946; Em bree , 1945; Lowie, 1945;.
Mead, 1942, 1955; Steward, org., 1956; Wagley, 1949; e muitos outros..
Ä S ociologia do B rasil U rbano
52
e prerrogativas dos status , pap éis , suas redes e seus be ne fic iár ios ,
pela aplicação de sanções, não importa como estas tenham sido
formuladas.
À observação e a mensuração do poder envolvem, então, por
um lado, a„descrição de situações nas quais controles estejam sendo
exercidos e para as quais os recursos envolvidos possam ser especi
ficados, e por "ou tro , os^síãí us,~jmpeis e redes de status e papéis
cujos atributos são direitos e privilégios ou aposições tatica s (v er
MillsQuando
," 1 9 5 6 ). tais direitos são diferencialmente
...............distribuídos entre
dois (ou mais) grupos, cada um deles concordando com o direito de
um dos grupos de exercer sanções, existe um arranjo estável, pací
fico. Onde cad a grupo define s eu próprio direito de sanções, é pro
vável que exista conflito e oposição, e que exista constante tensão e
oscilação de poder entre eles, Se posições táticas são diferencialmcn-
te distribuídas entre dois (ou mais) grupos, as relações podem ser
pacíficas ou antagônicas, conforme o grupo que controla as posições
e o grupo que não controla reconheçam ou nao a posse da posição
tática. Onde o último não reconhece e sua existência, as relações ten
dem a ser pacíficas. Onde ele a reconhece, as relações tendem a ser an
tagônicas, a não ser que não sejam possíveis direitos ou posições tá
ticas eqt^valentes.
Comnos
podemos relação
referiraos recursos
aqui dejpoder,
a~Bierstedt (1967),como ponto de que
que argumenta partida,
o
poder T em_três fontes principais: ( a ) o controle d e recursos ma
teriais ( b ) o uso de organização e ( c ) massas d e pessoas mobi lizá
veis, El e a rgu m en ta que essas três fontes de poder ^geralmente co r
respondem a três grandes classes, respectivamente: uma alta, a clas
se controladora dos recursos; uma classe média, caracterizada por
infindáveis conjuntos de associações de grande e pequena escala;
uma classe baixa, representada simplesmente pela quantidade de
pessoal — as massas.
Não é preciso refutar aqui esta argumentação para dizer que
estas três fontes de poder existiam muito antes que o sistema de três
classes emergisse na sociedade, e também que é óbvio que cada
classe, num sistema de classes, possui algum grau de controle sobre
cada fonte, embora uma delas possa predominar. Assim, os grupos
de pessoas que controlam recursos estratégicos são também altamen
te organizados (por exemplo, a Associação Nacional de Manufatu-
reiros; a Câmara de Comércio, o Ministério da Fazenda), provavel
mente o são necessariamente. As “classes” médias, organizadas pelo
menos, nos Estados Unidos, são também extremamente numerosas,
talvez ultrapassando as próprias “massas”, isto é, aqueles níveis 60-
33 A S ociologia do B rasil U rbano
de localidades,
Como loci e de
assim por elas
poder, diante.
podam, por conseguinte, estabelecer
vários tipos de _inter-rela ções com outros, loci de pojjer, caracteriza
dos por diferentes_conju nturas de lon tes de poder. Essas relações
podem ser muit o dinâm icas e de vários tip os — cooperativa s, hos
tis, competitivas, autônomas ou várias destas ao mesmo tempo.
As inter-relaçÕes reais observadas entre uma localidade e ins
tituições supralocais sao geralmente de vários tipos ao mesmo tem
po. As modalid ades de interação reinan tes num dado mom ento de
penderão dos vários interesses de ambas as partes quanto à relação
e à estrutura da relação mesm a. Onde várias loca lidad es diferentes,
especialmente de tipos diferentes, estão interagindo com vários tipos
diferentes de estruturas supralocais de várias maneiras diferentes, a
situação real pode tornar-se complexa e sua descrição, extremamente
difícil.
I nsti t ui ções e Es t ru t ur as S upr al ocais
do
suase interações
suas relações^ genéricas
hostis, commais
voltando as localidades, especialmente
adiante a outras em
instituições
supralocais, como as organizações de negócios e os partidos nacio
nais.
0 Estad o e seu s organis mos, como sist emas ou cor pos soc iais ,
exercem formas de controle sobre sua própria situação e especifica
A S ociologia do B rasil U rbano
neiro, como partes da área Sul de Copacabana, com cerca d e 3000 habi-
tantes por hectare ( cedug , 1965:152, 153). O que s e aplica às favelas do
Rio aplicase também às barriadas de Lima (ver Mangin, 1967; Turner e
Mangin, 1963) e áreas ocupadas por posseiros em outras regiões da Amé-
rica Latina.
44 A S ociologia do B rasil U rbano
11 O cortiço já não existe no Rio , com poucas exceções. Era uma casa
de cômodos, construída por especuladores imobiliários para aluguéis de
baixo rendimento» numa dupla fileira com um conjunto banheiros em um
dos extremos ou no centro do pátio onde se encontravam também tor-
neiras
Grande e parte
tanques
da de
vidalavar que serviam
comunitária a todo nesses
centravase o conjunto
locais de quartos.
comuns da
casa de cômodos e em torno das torneiras e tanques. Os moradores do
cort i ço parecem ter sido um dos focos a partir do qual as populações das
favelas começaram a se formar, por volta da passagem do século e pos-
teriormente, na medida em que os cortiços decadentes eram gradualmen-
te destruídos, sendo a maioria substituída por habitações de aluguel mais
elevado. Com relação à questão da urbanidade dos moradores da favela,
ver Leeds e Leeds, no prelo.
P oder L ocal e P oder S üp r al oc al 45
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III
A n t h o n y L eeds
1. importação de pessoal;
2. criação interna de pessoal novo mais ou menos ao acaso,
especialmente por auto-instrução ou “ autodidatismo” , até
que o treinamento seja curricularizado;
3. a multiplicação das posições ocupadas por qualquer dado
indivíduo.
III
tre organizações,
terna das classes as ligações através
mantêm-se entre oligarquias e a organização
de vários tipos de conexões in
pes-
5 Teixeira» 1953, 1957, I960, 1962; também conversas, 3951-2, 1961,
1962. Cf* também Leeds, 1957. O termo “massas” é tomado de Teixeira,
mas o de “classes” é meu. "Classe” talvez descrevesse melhor a situação,
pois não há clara separação em subdivisões.
6 Os Estados Unid os têm ambas as situações, contribu indo para extre
mas tensões dos dois sistemas que se atravessam um ao outro, em con-
• flito.
C arreiras B r asi l ei ras e E strutura S ocial 63
A Ev o lu ç ão d o Tr ei n am en to e dos
Objetivos das Carreiras
**
*
Y/
*
'
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É
s
s
*
A K
A
jutixlidata
sT
mÊÊÍk T
sT = semttrcinado
T = crcinado
T * utilização de treinamento para objetivos extrínsecos ao treinamento
] ~ ufjlização de mudança
rreinamento para objetivos
idealizada, atravésintrínsecos
do tempo,aodetreinamento
distribuição
'a partir do autodidatismo com objetivos extrínsecos
em relação ao.treinamento com objetivos intrínsecos
C arreiras B rasi l ei ras e E strutura S ocial 65
IV
VI
VII
mais
dicato,baixos” das classes,
trabalhadores entre os quais
especializados incluo presidentes
e equivalentes. de sin
Em vista dos
indicadores da existência de uma organização semelhante àpaneli
nha nas massas e níveis mais baixos das classes, e em vista de con
versas exploratórias com pessoas das massas, com líderes sindicais,
e assim por diante, é praticamente certo que as entrevitag sobre
carreiras seriam praticamente tao produtivas com eles como com
os carreiristas em posição de controle. Uma pesquisa deste tipo,
a julgar por um rápido olhar inicial, seria muito reveladora no
que diz respeito à estrutura social, barreiras sociais, mobilidade so
cial, e no que diz respeito aos mecanismos da organização social
de, e além de, qualquer tipo de localidade.
Com efeito, a técnica pode, para muitas características impor
tantes, ser_utilizada na descrição qualitativa dos sistemas sociais
das cidades de qualquer tamanho — as operações internas da eco
nomia e da política da cidade, bem como seu sistema de estratifi
cação correspondente, e asgim por diante. De fato, o resultado da
técnica é o de traçar uma espécie de genealogia de todos os gru
pos de parentesco, significativos ou nao, da população da cidade,
bem como de muitos dos indivíduos em questão. Descobre-se quem
se relaciona com quem (por laços de parentesco e de qualquer
outro tipo importante) na tessitura social. E, ainda mais, no de
correr desse mapeamento descreve-se também como tais “ genealo
gias” nascem, isto é, a dinâmica da organização social. Ë impor
tante observar que ele revela estruturas em geral visíveis aberta
mente e não acessíveis à observação, que utiliza as categorias co
muns de coleta de informações, como a demográfica, a estatística, a
ocupacional e outras rubricas de estratificação.
C abreiras B r asi l ei r as e E strutura S ocial 81
VIII
industrialismo
ra organizaçõesbastante
a longo rudimentar
prazo atravéscriam grandesdistâncias.
de longas dificuldades
Em pa
tais
condições, a autonomia relativa e o atomismo geográfico e social
das unidades sociais de todos os tipos são funcionais porque permi
tem às unidades, qua unidades, ter muitas séries de respostas,
0 tjpo ,de_ jmnjãinha. aqui -descrito..autarquia_se^ÜpÚb]jça.
semiprivada; . oligarquia, semi^ojada; ps_estados o _ mcsino, hs
vezes, os municípios consideravelmente autônomos, e até órgãos
como as universidades, escolas e algumas, igrejas^— têm notável fle
xibilidade por causa de sua autonomia e atomismo,
Elas podem ser contrastadas com a ossificada e monolítica bu
rocracia. As unidades sociais flexíveis que descrevi aqui podem mo-
ver-se rapidamente, aproveitar oportunidades, reformular políticas,
mudar estratégias e assim por diante, sem que elas mesmas mudem
muito. Em suma, este tipo bastante atomizado, livre de organiza
ção, sem um fundamento jurídico, é altamente adaptativo para so
ciedades onde está ocorrendo uma justaposição de seu próprio pas
sado estático-agrário e de um futuro expansivo-industrial.
Em quarto lugar, hipoteticamente, o caso aqui descrito for
nece um modelo para todas as sociedades semelhantes. Assim, de
modo geral, esperar-se-ia que países do Oriente Médio, Sudeste
Asiático, alguns africanos e outros latino-americanos fossem confor
mes ao modelo, exceto na medida em que os fatores variáveis se
jam mais ou menos influentes em cada caso. Assim, a justaposição
da sociedade expansivo-industrial ao estático-agrário Haiti foi mí
nima, situação mantida pela virtual ausência de recursos a serem
desenvolvidos segundo modelos industriais naquele país. Seria de
se esperar, entao, uma sociedade muito mais próxima do ideal-tipo
de uma sociedade estático-agrária*
Esperar-se-ia também uma competição mais aguda pelos pou
cos recursos, mas uma competição que se limita às posições mais
altas de poder. A ausência de uma estrutura de oportunidades em
expansão, a extrema pobreza de recursos, a limitada absorção de
novos status levariam a esperar uma intensa luta pelos poucos
status existentes que têm poder, riqueza e ganhos de prestígio.
C arreiras B rasi l ei ras e E strutura S ocial 83
contro como
cípios das condições esperadas tenderia a confirmar tanto os prin
as variáveis.
Em segundo lugar, o uso do modelo permite que se façam
previsões razoáveis sobre os estados futuros da sociedade em consi
deração e, mesmo, de acontecimentos específicos. Do modelo e de
seus elementos variáveis se pode derivar logicamente modelos va
riantes conseqüentes, pela descrição de relações diferentes das va
riáveis. Tais modelos constituiriam uma série de trajetórias e con
seqüências possíveis para uma sociedade sob diversas condições.
Onde uma dada conseqüência não correspondesse às expectativas
do modelo construído na base de variáveis cujos valores para a
sociedade sao conhecidos, estaríamos obrigados a, e em condições
apropriadas para, extrair novas variáveis significativas dos dados,
assim redefinindo e tornando mais poderosa a teoria.
Finalmente, pode ser assinalado que o modelo que estive dis
cutindo foi moldado principalmente nos termos de uma justaposi
ção de uma já existente estrutura expansivo-industrial a uma estru
tura estático-agrária. Cabe a nós perguntar que tipo de modelo de
veríamos construir para estruturas intermediárias entre as duas,
quando uma estrutura expansivo-industrial ainda não existe. Isso
diz respeito, é claro, ao desenvolvimento puro da sociedade expan
sivo-industrial a partir da estático-agrária. Seria o modelo muito di-
A Sociologia do Brasil Urbano
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O Brasil e o Mito da Ruralidade Urbana: Experiência
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do Rio de Janeiro e de Lima * 1
Introdução
3 Infelizmente, Oscar Lewis não nos deu pratica mente qualquer so cio lo
gia urbana das entidades de que está tratando na cidade do Méxicc. Não
parecem ser equivalentes às favelas e barriadas, mas antes os callejones
e cortiços (ver abaixo), sobre os quais praticamente nada é conhecido.
Todavia* Lewis parece estar dizendo coisas semelhantes às que disse sobre
as vecindades e também sobre as entidades de Porto Rico que parecem
ser equivalentes às favelas (cf Lewis, 1966a) Bonilla (1961) é também
citado regularmente. Os trabalhos muito mais cuidadosos e perspicazes de
Pearse praticamente nunca sâo citados na discussão geral. Mesmo Pearse
. 1958, 62 ), todavia , com ete erros d e ênf ase, co m o por exem plo,
acerca da importância da família, porque ele não consegue ter em mente
(a) que à família é importante em toda a sociedade brasileira, não ex
clusivamente
mais restrito nas
na favelas,
proporçãoe (b)
do que a família
número total desempenha
e variedade um
de papel
formasmuito
de
interações do que ele representa.
Observe-se a passagem que se segue de Goldrich (1965:368), baseada
fundamentalmente em O. Lewis e Carolina de Jesus (1962): “A orienta
ção para a margem (sic) se deve à tendência do pobre urbano da Améri
ca Latina de não manter nenhum trabalho regular, mas sim um conjunto
de trabalhos irregulares, ou de mudar de trabalho para trabalho, como
um ‘nômade do trabalho*. Se uma pessoa não se consegue se identificar
com um papel ocupacional bastante integrado, então será menor a proba
bilidade de se desenvolver uma orientação estável para a política com
base em seu status ocupacional, fator que retardaria o desenvolvimento
de um sentido de grupo ou consciência de classe, e um conjunto de in
teresses relacionados.” Ou de novo: “Foi observado por Lewis e outros
que trataram da cultura d a pobre za q ue sob Qigssão da p riv aç ão , os
moradores das áreas pobres têm pouca capacidade de adiar a gratificação
e exigem um senso de fatalismo e resignação. Assim, relata-se que os
favelados jre sp on deosm candidatos
tusiasmo porque às campan has
vêmpolà ític as com
favela espe rançacomida,.,
distribuindo e relativoroupa
en
ou dinh eiro — é talvez a únic a ép oca em que os po líticos demonstram
qualquer interesse por essas pessoas. Mas, exceto nessas raras ocasiões, a
vida é tão próxima do. limite do desastre que não é provável que se de
senvolva uma perspectiva com relação ao futuro. O processo eleitoral
não parece ter significado para os pobres porque sua própria natureza é
.gradual e abstrata e . . . é po uco prováve l que o s pobres percebam o
constitucionalismo como um todo como tendo relação com as suas vidas”
(p. 369).
SS A S ociologia do B rasil U rbano
pendente:
popu lações a)
que as pessoas e instituições urbanas são externas às
em qúestão; b ) qiíe es ta s pop ulações não foram , de
modo algum, efetivamente integradas na sociedade urbana.
(1953). Para o Brasil: Cate (1961, 1962, 1967), Estado de Minas Gerais
(396 6), Goulart (19 57), Magal hães (1939)., Medina (1964 ), Pendrell
(1967) e Silva (I960). Para El Salvador, existem materiais manuscritos
pelo Sr. Alistair Whit e, da Cambridge University; par a a Guatemala, R o
berts (1966, 1967); Para a Nicarágua, ver O. Toness (1967) e K. Toness.
O B rasil e o M i t o d a R uralidade U rbana 93
0 l\aseido na Cidade
Assim acontece ocm as ruralidades; voltemo-nos para o extre
mo oposto: os residentes em favelas ou barriadas que nasceram na
cidade. No Rio, estes constituem elevada percentagem da popula
ção da favela. A fonte não citada de Pearse para 1948 ( L958) dá
20% da população-amostra como nascidos no Rio. Ele observa, to
davia, que o Esqueleto, a favela em questão, era recente, ao passo
que favelas mais antigas tinham em média 3 8% de cariocas, Não
sabemos certamente, quantos vieram para o Esqueleto como crian
ça,« e foram desta forma socializados no Rio, seu “ lugar de sociali
zação” , a segunda categoria de Browning e Feindt ( 19 6 7 ). Deve-se
lembrar que os informantes eram adultos. Se fosse feito um cálculo
por cabeça das pessoas nascidas no Rio, a percentagem provavel
mente seria maior, porque muitas das crianças seriam cariocas. O
trabalho Estudos Cariocas (Estado da Guanabara., 1965, Vol. 5 ) 10
permite o cálculo das seguintes percentagens:
Os dados para esta tabela foram calculados a partir dos dados forne
cidos nos Estudos Cariocas (Est ado da Guanaba ra, 1 965) N.Q 5, sobr e
•"População por Naturalidade e Grupos de Idade” nas tabelas para a po
pulação da favela e para o Estado da Guanabara como um todo. Não
há paginação.
96 A Sociologia do Beasil Urbano
Nesta última conexão, deve ser observado que a área que com
preende os Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande
do Sul e Guanabara área que supre mais de 8,5% dos moradores
das favelas do Rio,14 é amplamente coextensiva à área do Primeiro
Exército brasileiro, cujo centro para treinamento militar é o Rio
de Janeiro. Todos os homens de 18 anos de idade estão sujeitos a
um ano de serviço militar, que, sendo no Rio, significa muitas coi
sas. Contribui
estrutura para a maior
institucional migração
cujo para
loeusa central
metrópole; acultura
é não apenasnuma
a ci
dade, mas neste caso o cosmopolita e urbano Rio de Janeiro; des-
trdi o localismo e o regionalismo; geralmente ajuda a dar treina
mento especial para pessoas que depois voltam à vida civil e se tor
nam especialistas; e, ocasionalmente, dá a alguns, experiência in
ternacional.
Assim, nosso amigo Sócrates passara alguns meses em São Do
mingos no contingente do Exército brasileiro e algumas semanas
com um grupo do Exército no Vietnã, examinando as possibilidades
de participação brasileira. Sócrates era de uma pequena cidade do
Ceará onde sua família possuía um rancho de gado e tinha um ne
gócio (ilegal) de venda de água mineral. O próprio Sócrates havia
trabalhado no Jornal do Brasil como tipógrafo antes de voltar a ser
quitandeiro e vendedor de galinhas na favela porque podia ganhar
mais dinheiro com essa operação tanto lícita como ilícita ( ver Schultz,
1966).
Também encontramos pessoas que serviram na Marinha e na
Marinha Mercante. Alguns destes haviam visitado muitas partes
do mundo, e uma surpreendente proporção dos mais velhos estivera
na Itália com a Força Expedicionária Brasileira na II Guerra Mun-
de aluguel, recibos de água, recibos de luz, recibos de pagamento de
esgotos, carteiras de identidade, títulos de eleitor, certificado de reser
vista, carteiras de posto de saúde, cartões de seguro social, cartões de
clubes, igrejas, etc., escritura de venda, notas de pagamento de casas, cer
tidões de nascimento, certidões de casamento, testamentos, títuíos de terra
e outros papéis relativos à propriedade, Diários Oficiais
tam anúncios oficiais impressos, e assim por diante,
dos quais cons
ad infinitum. Quase
todas as casas têm uma gaveta ou caixa onde essas gigantescas coleções
de papel são guardadas. Os moradores sentem-se completamente à von
tade para puxá-los e mostrar ao pesquisador seu status legal acerca de não
importa que questões. Esta marcante preocupação com o jurídico, o
oficia l, é nitidamente uma ênfase cul tural geral no Brasil , o “ Estado Car-
torial” como alguém o chamou, ênfase intensificada na favela por causa
do status ilegal da favela como tal. Presumivelmente, este é um esforço
dos moradores para se protegerem contra todas as forças que podem (e
o fazem) usar qualquer minúcia ou irregularidade contra eles. Essa ênfase
"cartorial” é também claramente urbana.
14 Ve r, anteriorm ente, nota 10.
102 A S ociologia do B rasil U rbano
A. Vontade
Vejamos alguns casos típicos. Aqueles do relojoeiro e do con-
tí.dnr já foram citados. Ambos preferem viver nas favelas. Eles
gostam de lá. Há_uma_atmosfera de liberdade (ver último capítulo)
O B rásil é o M i t o d a R uralidade U rbana 107
B. Fazer Economia
A utilização da favela como um lugar para morar de modo a
economizar é exemplificada em inúmeros casos. Em geral, os mo
radores das favelas, por serem posseiros, são “ proprietários” que
construíram suas próprias casas — sejam elas barracos, chalés ou
palacetes — ou locadores que pagam aluguéis relativamente bai
xos (embora este padrao tenha começado a se alterar com a cres-
vendo, a longo prazo, mais segurança para eles e para ele na edu
cação. Então, mudou-se para uma favela para poder economizai
nos custos de aluguel, e alocar seus recursos no que ele julgava
mais importante. Será observado que nesta escolha há ao menos
uma análise e uma compreensão implícitas de como a sociedade da
cidade funciona, e nela, ele está tentando maximizar os ganhos para
sua família transgeneracionalmenle.
C. Pressão
Hélio nasceu na cidade propriamente dita. Tornou-se um
trabalhador de fábrica qualificado, mas foi involuntária e defini
tivamente aposentado pelo Instituto de Serviço Social dos Traba
lhadores Industriais (I A P I) quando, com 31 anos, um acidente
lhe quebrou as pernas. Ele recebeu uma quantia para compensa
ção. Calculando seus recursos e custos a curto e longo prazo, deci
diu que o melhor que tinha a fazer era comprar uma casa barata,
um barraco, na favela do Jacarezinho, um vez que, mesmo sem
melhorias, ela se valorizaria e ao mesmo tempo lhe forneceria um
lugar para morar livre de taxas e aluguel, e esta valorização seria
proporcional às sempre presentes taxas de inflação brasileiras.
Além disso, era concebível que, com o tempo, ele fosse capaz de
melhorar
troca de aoutra
casa,casa
e o que a valorizaria
de melhor ou a tornaria
localização negociável
(mais valiosa). em
Poste
riormente, sua família — mãe, irmãs e respectivos esposos — mu
dou-se para a favela, criando entre eles séries de propriedades en
trelaçadas em sistemas de água, esgoto e nas próprias casas. Uma
das irmas, que havia casado há pouco e se mudado da favela, ven
deu seus interesses ao resto da família. Todos esses cálculos e ope
rações mostram uma forte familiaridade com as instituições da ci
dade — na verdade, nacionais — e uma clara habilidade em lidar
com elas. 0 caso também ilustra a relação, no nosso continuum,
entre uma situação de pressão aguda e de fazer economia para
manter um certo padrão de vida, e mesmo, a longo prazo, maximi
zar os ganhos. Ele adquiriu, depois disso, através de uma comple
xa série de barganhas e favores, uma casa quase que luxuosa.
D Marginalização
O espaço permite-nos apenas um exemplo, um caso ein que
uma família tentou economizar, mas foi empurrada para o limite
da marginalização por uma série de pressões. 0 marido imigrara,
aparentemente, de um interior verdadeiramente rural rural — uma
pequena cidade do Espírito Santo — algum tempo antes de sua mu*
O B r asi l e o M it o da R ural i dade U rbana XII
sua móveis
de loja é para
reconstruída,
a loja, ecuidando das diante.
assim por crianças, construindo peças
Valores Urbanos
Nesta parte final do trabalho, voltamo-nos para os valores ur
banos dos moradores da favela. Muitos destes foram mencionados
nas partes precedentes, mas convém aqui nos referirmos a eles
novamente, no contexto de uma discussão geral de valores.
Primeiro, entre a maioria dos moradores da favela, especial
mente os homens, é expressa uma preferência generalizada pela
cidade. O campo é atrasado, triste, paralisado, sem nenhuma atra
ção especial como lugar para morar. Exceto algumas mulheres,
muitas pessoas dizem, quando perguntadas, que não querem voltar.
Por quê? Porque é melhor aqui. A vida é melhor, a pessoa se sente
melhor, economicamente é melhor, não é atrasado ou parado, etc.
Em outras palavras, a atmosfera e o ambiente da cidade são, de
uma maneira incipiente, quase que sensorial, sentidas como dese
jáveis e, para aqueles que têm familiaridade com as áreas rurais,
mais desejáveis ainda.
Traços específicos da situação urbana são valorizados. O am
plo e variado mercado de trabalho é valorizado em termos de
“ oportunidade” , as possibilidades de ganhar dinheiro através do
trabalho para viver melhor. Para aqueles que vêm do interior, a
vida da roça, a vida na Mãe-Terra, não era tão adorada a ponto
i de superar seus sentimentos negativos com relação aos seus sem
pre crescentes rigores econômicos ou com relação ao fato de serem
parceiros, trabalhadores assalariados ou mesmo pequenos proprie
tários endividados. Não valia mais a pena, mesmo que ainda
fosse possível. Entao eles vieram para a cidade que, mesmo com
a difícil situação econômica atual, é melhor do que o campo. Há.
sempre, tanto para o migrante quanto para o trabalhador pobre ci
tadino, alguma oportunidade, alguma possibilidade de sobreviver
economicamente, na pior das hipóteses, na melhor, pode-se ganhar
bem e aprender a ganhar ainda mais. Muitos podem obter treina
mento especial no trabalho, no senac o u no s e n a i , em escolas
profissionais e, mesmo, em pequenas lojas. Algumas das organiza
ções de Previdência e programas de desenvolvimento comunitário
têm também, ocasionalmente, projetos de treinamento.
A S oci ol ogi a do B rasil U rbano
Há, além disso alguns interesses que são servidos pela orga
nização, especialmente por organizações voluntárias. Assim, o fu
tebol, uma preocupação central de todos os brasileiros, gera muita
organização na favela. Uma favela do tamanho de Tuiuti tem trio
ou quatro clubes de futebol, cada um com seu equipamento pró
prio, seu uniforme único, geralmente cora uma sede, e com seu
calendário
ou externos.deAlguns
jogos com times pertencem
dos clubes da mesma a oufederações
de outrasde favelas,
clubes.
Os membros são orgulhosos, não apenas do seu futebol, ma3 da
próprio qualidade de organização e direção.
O samba é um interesse tão difundido como o futebol c tem
uma gama e uma complexidade de organização que provavelmente
excedem em muito às do futebol. Moroceo relata isto (1966; cf.
Cate, 1962, 1963, 1964). Os interesses no samba tornaram-se for
malizados em escolas de samba, blocos e cordões, bem como em
clubes sociais, festas e assim por diante. As _egcolas_e blocos estão
complexamente ligados a importantes indústrias têxteis, de cerveja
e de bebidas não alcóolicas, ao amplo negócio do jogo do bicho, ao
comércio "turístico, ao Departamento de Turismo do Governo esta
dual, inêsmo a instituições de bem-estar social e escolas estaduais e
privadas, possivelmente também a rodas de prostituição, interesses
imobiliários e cultos afro-brasileiros. Para compreender as ramifi
cações dos grupos de samba, é preciso ter assistido às inúmeras
reuniões da diretoria de uma escola de samba, observado as brigas
internas pelo poder, observado os coups d’état que ocorrem, apren
dido as trapaças, observado a organização dos ensaios, o desfile
aiiual e as festas. É preciso ter, observado a escola desamba re
presentada na Federação^de Escolas de_ Samba e na suposta confe
deração, bem como suas manobras com os representantes do Es
tado. É preciso ter visto o súbito aparecimento e saída de candi
datos, deputados, funcionários estatais (corno Lutero Vargas, filho
de Getúlio, no Jacarezinho e na Mangueira, e o Governador Ne*
grão de Lima e a secretária da Secretaria de Serviços Sociais do
Estado da Guanabara, Hortência Abranches, também na Manguei
ra) em ensaios, cerimônias e festas das escolas de samba.
tíãcT é apenas o samba e a sua execução propriamente dita
que são _vflknâzfldos, jn as _a própria organização é, ao menos ver
balmente, concebida como uma coisa boa, algo que trará benefí
cios à favela eomo um todo, que da (através do samba, é verdade)
uma orientação moral para a juventude, fornece um lugar adequa
do para recreação, um ambiente familiar . Que isso não correspon
da exatamente à realidade é_ outra coisa. Estes são_ os valores aber
tamente expressos. Mesmo para interesses ocultos, tais como su
O B rasil e o Mrro da R ur al i dade U rbana 127
dia” Os valores em
aparecem relativos
muitos àcontextos.
liberdade Um
das dia,
restrições
quandoda jáclasse “ mé
moráva
mos no Tuiuti há algum tempo, fomos chamados a um pequeno
bar por pessoas que nao conhecíamos, embora elas depois se tor
nassem nossos melhores amigos em Tuiuti. Quase que imediata
mente a conversa se voltou para a gíria. “ 0 senhor conhece a
nossa gíria?” Não, eu não conhecia. Seguiu-se meia hora de ins
trução sobre termos da gíria da favela. Perguntei se eles usavam
estas palavras lã embaixo. Maria Àntônia disse que não. Pergun
tei por quê. Ela disse: “ Por vexam e!” Ela não queria dizer que
eles ficariam embaraçados, mas antes que esta linguagem nao tem
lugar lá e que eles também, conseqüentemente, não teriam lugar
“ lá embaixo” . A linguagem da gír ia da favela é uma impropri e
dade para a maçante e apática classe média que define aqueles
que a utilizam como brutos, assassinos, ladrões, maconheiros, ma
landro,s.
No morro, eles sao livres para usar essa linguagem rica, en
graçada, irônica, alusiva e totalmente incompreensível para estra
nhos. Com ela, eles podem gozar o sistema que traz tantas encren
cas e privações. Alguma coisa aparece vez por outra nos sambas
que os moradores das favelas escrevem (baseados, observe-se, em
em temas pesquisados em bibliotecas!) e que o resto da cidade es
cuta e dança. Eles gostam da linguagem, gostam de usá-la, e po
dem apreciá-la como observadores da linguagem, com sofisticação.
No morro, há também liberdade muito grande para escolher
e manter relações com muito menos atenção para as formalida
des. Para muitos, o ato legal do casamento não é tao terrivelmente
importante, especialmente se a pessoa experimentou um casa
mento e achou-o desejável. A liberdade para casar-se na “ igreja
verde” (ou seja, estabelecer um casamento consuetudinário), a lua
de mel no “hotel das estrelas ” (isto é, na rua) estabelecer ou ao
menos tentar uma vida decente sem os cuidados e requintes — e
custos e dificuldades — das bodas e casamentos formais são de
finitivamente valorizados. Valorizados como humanos numa socie
dade que ainda não tem o divórcio. Em geral, sentimos que os
moradores da favela vêem e valorizam uma grande liberdade para
estabelecer relações e liberdade na qualidade daquelas relações —
130 A S oci ol ogi a d o B rasil U rbano
um muitocampo
primeiro maior,dea estudo
compreensão da sociedade
foi uma plantation>totàI“no‘ Brasil.
uma área de Meu
lati
fúndio da zona monocultora no Sul da Bahia; o segundo estudo
envolveu o trabalho em uma série de cidades, o estudo de elites,
e o terceiro foi nas áreas da classe trabalhadora urbana. Em outras
palavras, trabalhei em vários setores da sociedade tentando obter
diferentes perspectivas da estrutura institucional total, escolhendo
vários pontos do sistema^total. “— —
* A fílha de Flexa Rib eiro é casada com um dos filhos de Carlos Lac er
da. (N . da R .)
O B rasil e o M it o da R ural i dade U rbana 131
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V
A nthony L eeds
paia o Rio referente a este tipo,12 e não sei de nenhum para outros
países. Nem mesmo estou certo de que se pague aluguel, embora te
nha a impressão de que, oficialmente, o aluguel deve ser pago, mes
mo que, na prática, freqüentemente não o seja. Não vi nenhuma
estimativa do número de pessoas nos parques proletários. As unida
des habitacionais, como nas favelas, são ocupadas principalmente por
grupos familiares, mas entrar nelas é um problema complexo que
envolve
uma a solicitação
unidade a burocratas
habitacional — um ou instituiçõesmuito
procedimento para amais
cessão
consde
trangedor do que entrar para uma favela, embora não se exija cnpi-
taL
Um quarto tipo chama-se, no Rio, conjunto , com termos equi
valentes em outros países. Há vários tipos de arranjos habitacionais
chamados conjuntos , mas o termo sempre se refere a um estabeleci
mento multiunitário de algum tipo. Restringi-lo-ei aqui a um único
edifício de muitos andares ou um conjunto de edifícios compostos de
múltiplas unidades alugáveis como as unidades vacinales de Lima
ou os famosos (ou infames) superhloques de Caracas — o equiva
lente dos altos projetos habitacionais urbanos norte-americanos cons
truídos pelas companhias de seguro. Ao outro sentido do termo con
juntoúnica
uma —- tipo de habitação
família multiunitária,
— voltarei cada(ver
mais adiante unidade
vila). ocupada por
Os conjuntos no Rio, Lima, Caracas e outras cidades têm algu
mas características que os tornam particularmente interessantes e,
freqüentemente, levam à fusão como categoria para análise, embora
aqui, novamente, exista muito pouca literatura além do estudo finan
ciado pelo Banco Obrero de Venezuela (1959). A primeira é que o
termo conjunto é sociologicamente bastante enganoso, porque o pes
soal morador é muito diverso no que se refere a qualquer categoria
sociológica padrão, como classe, estrato, grupo étnico, ou salário,
quando se observa o universo dos conjuntos. Os conjuntos, como tal,
podem abrigar qualquer tipo de categoria social e o termo factual
mente nada denota em termos sociológicos. Um estudo dos conjuntos
teria que diferenciá-los segundo categorias sociologicamente relevan
tes. Interessam aos objetivos deste estudo os conjuntos de baixo
nível dc renda do Rio, espalhados aqui e ali, basicamente na Zona
Norte, industrial, da cidade.
Uma característica importante dos conjuntos habitados por pes
soas de baixo nível de renda no Rio e, como eu vejo, em outros lu
gares, é a sua especialização ocupacional, porque cada um foi cons
truído separadamente por um órgão, sindicato, associação ou outro
12 Caldas de Moura (19 69 ); ela também er a estudante de Antropolog ia
do Museu.
A S oci ol og i a d o B rasil U rbano
são descontínuos,
conjuntos de baixoentremeados nao parques
nível de renda, apenas por favelas, etc,
proletários, avenidas,
mas
também por conjuntos de nível médio, áreas residenciais de alto ní
vel, áreas de negócios, indústrias e assim por diante. Hoje, há ape
nas uma área inteiramente de alto nível no R io — Ipanema-Le-
blon, na parte mais nova da Zona Sul — e mesmo ela tinha, até
1968-1969, quando remoções em larga escala, foram iniciadas pelo
governo, um número significativo de favelas. A mundialmente
famosa Copacabana — um playground internacional de elite e um
centro do comércio chique de boutiques? galerias de arte, modernas
lojas de móveis, e coisas semelhantes — mesmo depois das remo
ções iniciadas em 1968, permanece uma área de tipos de moradia
diversificados, incluindo duas importantes favelas, dois ou três edi
fícios de apartamentos conjugados de má reputação,16 prédios su
fi?1 Estes são conhec idos no R io com o Jks. Trata-se de um trocadilho:
JK. são as iniciais de Juscelino Kubitschek, que estava tentando construir
o Brasil às pressas com resultados por vezes grandiosos, mas pouco sóli
dos; também significam “Janela e Kitchinette ’*, expressão que descreve
ironicamente o tamanho e vantagens dos apartamentos. O mais famoso
(ou mal-afamado) é conhecido como Barata Ribeira, 200 — o endereço
de um edifício que abriga muitas centenas de tais apartamentos, com
extrema densidade de ocupação, um constante fluxo de prostitutas, al
coviteiros, “ cabeleireiras” , jogado res, e policiais à procura cie um ou
outro. O lugar estava sob vigilância constante da polícia. Os dados pro*
M oradia , A rranjos de V i d a , P r ol etari z açã o 155
outros
de fatoresmovendo-se
familiar, importantes. Primeiro:
através diferentes
do ciclo estados
doméstico da unida
determinamne
cessariamente diferentes avaliações dos fins. Segundo: diferentes
níveis absolutos de renda e capital disponível, relativos ao custo de
vida num dado momento, tendem a determinar diferencialmente
padrões de fins — por exemplo, quanto mais baixo o nível absoluto,
maior a percentagem atribuída à alimentação e ao custo do traba
lho.18 Ambos, além dos mecanismos externos de manutenção de
18 Numa amostra bastante grande de entrevistas para entrada no Plano
doa Pais Adotivos em Niterói, descobrimos que, na época das primeiras
m A S oci ol og i a do B rasil U rbano
21 Os nomes
Recreativo dos de
Paraíso grupos de com
Tuiuti, Carnaval
o qualindicam isso claramente:
tive contato Grêmio
contínuo durante
minha estadia lá; Unidos (referindo-se a dois ou três grupos anteriores
menores, bom co m o a seu próp rio pessoal) do Jacaré, do qual fui sócio
e no qual desfilavam dois colegas próximos; Acadêmicos do Salgueiro;
Império Serrano; Mangueira. Com exceção das duas primeiras, essas
agremiações competem pela fama, reconhecimento, honras nacionais, ex
cursões, etc, em cada Carnaval. Suas sortes, sucessos e fracassos suà po
liticagem dentro e fora das favelas» sua relação com outros grupos sociais
e políticos dentro e fora das áreas de moradia são seguidas de perto por
grande número de populações locais. Grupos semelhantes, embora menos
famosos, são encontrados nos parques, vilas, conjuntos e alhures, e evi
dentemente em ouíras cidades, sendo a mais famosa Recife, um centro de
difusão de danças nacionalmente populares como o baião e o frevo.
M oradia , A rranjos de V i d a , P r o l et ari z aça o 163
relativamente
ao Peru em graumais tão
elevado. Os dois primeiros não se ligam ao Brasil ou
significativo.
20 Etstes dados baseiam-se nos salários e preços de 1968* mas foram cor
rigidos para os aumentos que ocorreram em ambos desde então e confron
tados com os dados de Salmon (1971) e Rush (1974) que, em 1973, fize
ram um trabalho de campo de verão num survey de uma amostragem de
pessoas removidas de favelas. Deve ser lembrado, no último caso, que as
pessoas de mais baixa renda não são de modo algum enviadas para os
conjuntos, de modo que os dados de Rush são bem mais elevados que
os meus.
M oradia , A rranjos de V i d a , P roletarização 169
BS
tipos,D igincluindo
o “ supõe-se” porqentrevistas
algumas ue em vistcom
a depessoal
evidências etnográficas
administrativo de de
fábrivários
cas que realizei em 1968, não fica absolutamente claro que muito do
mercado de trabalho tipo trabalho-intensivo precise de elevadas qualifi
cações; não está claro que as qualificações aprendidas nas pequenas ci
dades, povoados e em fazendas, as quais os imigrantes trazem consigo,
não sejam as qualificações mais comumente necessárias (por exemplo,
habilidades de construção e serviços); conseqüentemente, não está claro
que os empregadores queiram realmente trabalhadores qualificados por
que, dada a unicidade técnica de cada fábrica, a falta de outras fábricas
semelhantes e a ausência de padronização entre as instalações industriais
brasileiras, eles devem treinar e retreinar seus trabalhadores para as exi
gências técnicas únicas e específicas dos empregos específicos, adequan
do-se aos arranjos usualmente únicos das características de cada fábrica.
A evidência sugere, pelo contrário, que a “não -qualifica çã o” é um estra
tagema retórico, útil para a desvalorização dos salários, para a manuten
ção de um elevado nível de competição entre os trabalhadores, para a
cooptação de alguns
assentimento trabalhadores
“generoso*’ paratreinamento
em dar-lhes obrigações de clientela
interno. através
Muita do
evidên
cia indica que esta é a forma em que o sistema trabalha, não que seja
conscientemente organizada e manipulada desta forma pelas elites. De
qual quer m odo, o procedi mento é de dista ncia mento — contri buindo p ara
a prole tarizaçã o e manuten ção dos l imites de clas se. Incidentalmente,
ocorre nos Estados Unidos — contrariando muito da discussão entre aca
dêmicos quanto ao credencialismo, a necessidade de educação para ò
treinamento de uma habil idad e e alguns tópicos relaeionados — que
grande parte do treinamento para trabalhos qualificados é feita no pró
A S ociologia do B rasil U rbano
33 Este era o caso de G eraldo M oreira, que det inha vários cargos no
Distrito Federal, especialmente o de vereador; ver Leeds (1972:50-52).
M oradia , A rranjos de V id a , P roletarização 17 7
pessoas de
exemplo, fama nacional
o novelista são convida
mundialmente famosodas, e de
Jorge fat o que
Amado, comparecem — por
controla (ou
controlava antes de 1964) uma linha de patronagem nas artes, a qüal
se liga a postos de embaixadores e adidos culturais e coisas semelhantes.
Pessoas de importância equivalente em outras área são também procura
das.
35 Os velhos partidos tentar em fazer com que o go vern o militar re co
nhecesse os grupos de interesse no interior do sistema bi-partidário sob
a rubrica de “sub-legendas”; estas eram essencialmente os velhos parti
dos tentando se reagrupar,
im A S ociologia do B rasil U rbano
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VI
I n t r od u ção
âos anos 60, com suas raízes no século passado, pode ser encon-
trãda átravés do exame de um certo conjunto de políticas, linhas
He pensamento e instituições através das quais essas políticas foram
implementadas ao longo dos últimos 80/90 anos.
Subjacente a essa continuidade nos anos 60 encontra-se uma
"estrutura societal brasileira cuja ordem básica foi mantida e irre
gularmente reforçada ao longo desse período, desde que a primeira
favela surge, por uma série de instituições variando em formas*
mas Umsemelhantes em objetivos
de tais conjuntos e efeitos.é o que se refere à popu
de políticas
lação urbana de baixo nível de renda, em grande parte, mas não
totalmente proletária, e especialmente, mas não exclusivamente,
àquele seu segmento que reside em áreas invadidas por posseiros»
ou favelas1. As favelas do Rio fornecem uma amostra especialmen
te interessante da população urbana de baixo nível de renda, não
apenas por causa de seu grande número, ampla variedade e grande
população, mas particularmente pelo fato de que elas se localizam
no que é, ainda hoje, o centro significativo da tomada de decisões
no Brasil, o Rio de Janeiro.
Neste estudo, mostramos que, nos anos 60, a política relativa
à favela, apesar de marcada por variações externas na forma, é
j essencialmente a continuação de uma política de controle, que re-|
monta,
se pelo menos,
de adornos aos anos —
mais populistas 30.
porPqe_ vezes,naesse
exemplo, controle
forma reveste-
de. “urba
nização”2 in loco das favelas, mas em outros momentos aparece
sob uma forma mais repressiva, como, por exemplo* a remoção to
stai das favelas e rigorosa supervisão administrativa das unidades
habitacionais governamentais de “emergência”, chamadas “ parques
Jproletários”. À natureza da solução política particular varia direta
mente com relação à ideologia nacional reinante e à ordem polí
tica. Assim, quando um regime mais populista controla a comuni
dade política, então tende a surgir uma política relativa à favela
mais comprometida com soluções “sociais” e “humanas”, ao passo
que o regime militar e outros regimes elitistas tenderam a pro
duzir políticas mecânicas, administrativas e repressivas. Ambos os
conjuntos de política, todavia, podem ser vistos como objetivando
um controle governamental sobre as massas. Ainda_ mais,_ a polí
1 Favela é a pala vra usa da para áre as invadi das por posseiros no R io
de Janeiro e outras cidades do Brasil, Para uma discussão detalhada, ver
A . Le ed s, 1969.
2 O term o “ urbaniza ção” , a não ser quando indicado, será usado neste
trabalho no sentido espanhol e português de fornecimento de serviços
urbanos e infra-estrutura para uma área da cidade.
F avelas e C omunidade P olítica 189
■8 Para di scussão mais exte nsa da Administração Dodsw orth, ver P arisse,
1969.
F avelas e C omunidade P olítica 193
b . '‘ Co m rela
que predominam çãoeles,
entre ao stem
favelados e especialmente
havido um às pessoadifun*
preconceito amplamente s de cor
dido e profundamente enraizado de que se tratava de uma população primi
tiva, não dotada de qualquer estrutura mental, seja por natureza ou por
conseqüência do deslocamento a que esta população se submeteu.
Nada mais errôneo! O favelado, como o sabemos agora, não tem
uma mente virgem. Pelo contrário, seu subconsciente carrega não ape
nas as tendências provenientes de seu substrato étnico, mas também aque
las nascidas através dos séculos e milênios de uma vida ancestral rica em
formas psíqu icas, sempre muito pecu liar es e> freqüentemente contraditó
rias. E em sua débil consciência criativa preponderam tradições e hábi
tos herdados de um passado familiar e freqüentemente pessoal no campo.
Desta forma, o favelado tem uma mente anquilosada por automatismos,
poucos, mas muito poderosos. É evidente que não por acaso, mas por
razões raciais, os nordestinos são mais beíicistas que os outros; não é
por acaso, mas por causa da pressão subconsciente do animismo ances
tral que os negros produzem duas vezes mais macumbeiros que os bran
cos
uma ouapreci
mulatos; e não é devidodeàsfavel
ável percentagem
contingências
ados, anteri
sociais o fato de que ou
orm ente cam poneses
filhos de camponeses, conseguiram, apesar de sua miséria, converter-se
em pequenos proprietários.
Assim , a vida mental d o favelado é dominada alternativam ente po r
um subconsciente anquilosado e por uma consciência maleável. Em ambos
os casos, ele é um inadaptado” . ( ipeme , 1958: 31)
c . “ A s fav e la s. .. apresentam as mais precárias condições de habi
tação e higiene, expondo seus moradores a situações de promiscuidade e
F avelas e C omunidade P olítica 19 5
das ção
pula favelas participam
brasil eira) com profundamente do inúmeros
inúmeros clubes, futebol (como
gruposo resto da po l (ver -
de carnava
Morocco, 1966), e outras recreações. Finalmente, cerca de 20-30% das
populações das favelas, em nossa experiência, são protestantes e grande
parte do restante relativamente devota à religião católica. Que tal quadro
dos moradores da favela seja pintado em 1969 por um órgão dessa es
pécie pode se dever apenas à má-fé, a motivos políticos, ou a ambos. Não
pode ser ignorância (Fundação, 1969).
10 Gostaríamo s de agradecer a Maria Coeli de Moura, R io, por su a
cooperação em ceder-nos os arquivos de seu pai sobre favelas, os quais
incluem correspondência, artigos de jornais,, fotos, memórias e confe
rências dadas por Victor Moura.
F avelas e C omunidade P olítica 197
11 Outra
das declaração
de M oura: “ D ev od iro àadmini strad
Europa emormaio
numadoenpróxim
trevistao ano,
co m nã
M o.F posso
. Cal
deixar de ir à Alemanha . Aque les são os super-homens” (M F Caldas de
Moura, 1969:4).
12 N o ve rão de 196 8, os Leeds fizeram um survey em três favelas do
Rio. Como resposta à pergunta sobre que personagens políticos os indiví
duos mais admiravam, Vargas foi mencionado em 60% dos casos. Deste
grupo de entrevistas, quase todos tinham mais de 35 anos. Aqueles abai*-'
xo de 35 mencionavam mais freqüentemente Kubitscheck. Muitas casas
têm quadros de Vargas na parede, junto com santos como São Sebastião,
São Jorge, Iemanjá. Na favela Tuiuti, no Rio* há um busto de Vargas
sob a bica dágua, e um busto na casa de um de nossos informantes mais
pobres.
A S ociologia do B rasil U rbano
£0 O D eput ado Sega das Viana apres entou à Câmara dos Dep utado s uma
lei solicitando apo io federal pa ra a “ Batalha” : “ O prefeito da capital J á
manifestou seu apoio, convém que o Governo Federal colabore porque o
problema das favelas não é um problema local, Grande parte dos mora
dores das favelas é composta de trabalhadores que vêm para esta capital
em busca de melhores condições de vida” (Correio da Manha),
'204 A S ociologia do B rasil U rbano
21 Skidmore
encontre diz: UA positiva
resposta classe a naclasse
é qualtrabalhadora
é mais certourbana.
que o apelo nacionalista
O entusiasmo
geradopela íetüíobrás foi, com certeza, entre os assalariados urbanos. A
linguagem do nacionali smo econômico parecia serde mais fácil entend i
mento para eles do que a idéia do conflito de classes doméstico.” Também
em oposiçãoà maioria dosrelatos sobre a ignorância da classe baixa em
relação aos objetivos nacionais, encontramos moradores de favelas muito
conscientes osd efeitos da polí tica econômica e a d política nacional em
suas próprias vidas diárias. Inúmeras entrevistasmostraram um agudo
senso analítico.
206 A SOCIOLOGIA DO tíRASIL URBANO
22 Para a discussão da rela ção entre polít icos e favelas, ver E. Leeds.
1966; Machado, 1967; Rios, 1960; e sagmacs , 1960,
F avelas e C omunidade P olítica 207
vimento Democrático
finitivamente Brasileiro),
subordinado ao atualo menos conservador,
Governo menos de
dos dois partidos polí
ticos atuais do Brasil. Evidentemente, os motivos para que cada
lima das partes cortejasse a outra eram políticos. As vantagens
calculadas pelas respectivas partes eram a possível eliminação da
ameaça de remoção para a favela e o possível futuro apoio eleitoral
para o administrador.
F avelas e C omunidade P olítica 209
que mais
meiro, como
tarde
umé elo
capaz
importante
de beneficiar-se
nas relações
de suas
favela/administração
atividades no cargo
administrativo oficial para ganhar apoio eleitoral substancial, e en
tão continua a cortejar, embora genuinamente, seu eleitorado atra
vés dos meios abertos aos legisladores eleitos —alocação de fun
dos legislativos paia serviços urbanos limitados em favelas selecio
nadas, assistência para conseguir registrar legalmente as associações
da favela. Segundo, a popularidade e relativa (embora limitada)
eficácia de um Geraldo Moreira nos últimos anos da década de
1950 e primeiros da de 1960 expressaram um certo tom dos tempos
de Kubitschek que prosseguiu nos anos de Goulart. A ideologia
de desenvolvimento nacionalista do período implementada nos mais
elevados níveis do Governo trouxe consigo a receptividade geral a
apelos
gas.5 populares
15 Isso que ao
refletiu-se haviam marcado
longo dos o segundo
anos de período
Kubitschek numadeexVar
pansão do voto proletário urbano, em parte devido à alfabetização
ampliada, à melhoria no sistema eleitoral, à abertura de canais para
a participação política relativa das massas urbanas,
à sua
e participa
ção através do trabalho e consumo no grande surto econômico na
cional e nacionalista daqueles anos. Este voto ampliado deve ser
lembrado no exame dos acontecimentos dos anos 1960.
Em 1956, foi aprovada uma lei autorizando o Ministério da
Justiça e do Interior a alocar fundos a órgãos que lidassem com
favelas em 4 cidades brasileiras — Rio, São Paulo, Recife, e Vitó
ria —^para a melhoria das condições habitacionais nas favelas da
quelas cidades. Mais específicos para o Rio eram dois dos artigos
( 5 e 6 ) (favelantes)
radores que davam proteção aos moradores
que os ameaçavam comdas favelas dara
expulsão contraextor
explo
quir dinheiro.20 Nos dois anos que se seguirama data de publica
ção da Lei, todas as expulsões de favelas do Distrito Federal esta
vam proibidas. Aos favelados, era garantida a continuidade da
25 C om o men cionam os na nota 12, a maioria da s pessoas abaixo de 36
anos citou o nome de Kubitschek.
26 Lei n.o 2875, 19 de setembro, 1956» publicada no Diário Oficial (Fed),
seção 1, ano XCV. no 220, 24 de setembro de 1956. Para uma discussão
da seção d» lei específica do Rio, ver Meuren (então advogado do ser-
p h a ) , 1959.
F avelas e C omunidade P olítica 211
( 20J R ios, 196 1, A palavra “ mutirão” , de aco rdo com Rio s, vem do B rasil
rural e significa solidariedade de vizinhança e ajuda mútua. E. Leeds assis
tiu a dois dess es enco ntr os em 1961. A ansiedade dos representantes (p re
sidentes) das associaç ões das favelas em particip ar da organ iza ção de suas
próprias vidas e adquirir conhecimento útil pra fazê-lo era notável. Foi,
obviamente, graças à dedicação de Rios e de alguns membros de sua
equipe que Leeds fez suas primeiras visitas às favelas, assistindo a reuniões
d&jima associação de favela e ao mutirão em funcionamento.
30 Co mo exem plo de tipos de problema s resolvidos, ver Ò Mu ti r ão (Bole
tim Informativo do serfha, n.° 1-4 de outubro, 1961. Era um boletim
informativo distribuído em todas as favelas para ampliar as comunicações.
F avelas e C omunidade P olítica 213
36 Na maior fav ela do Rio , com cerca de 80.000 hab itantes, a lac are -
zinho, planos para urbanização em larga escala foram implantados (ver
GB, cohab , 1963-65:78), incluindo a instalação de redes de água, esgotos
e galerias de águas pluviais. Na época em que a cohab deixara a favela,
parte de uma das ruas principais havia sido ampliada às expensas de algu
mas casas ao longo da rua, cujos proprietários viram o nível da rua tor
nar-se mais alto do que as suas portas de entrada e janelas, impedindo a
entrada, a ventilação e a luz. Milhares de metros de canos de água, arma
zenados em 1965, esperando para ser em instalados, usados co m o play-
grounds pelas crianças, ainda estavam nas ruas da favela em dezembro
de 1969, quatro anos e meio depois de nossa ú ltima visita lá. A urbani
zação da Favela Vila da Penha foi amplamente completada em 1965 {ibidT
p. 12). Na mesma época, as remoções das favelas prosseguiram apressa
damente como se segue (até junho, 1965; remoção total: T; parcial: P;
família: F; uma família, cerca de 5 pessoas): Vila da Penha (P, 180F);
Bom Jesus (T, 510F); Vila do Vint ém (P ); Álvaro Ramos (T, 25F );
Ponta do Caju (T, 30F); ccpl (T, 118F); Timbó (P, 104F); Morro São
Carlos (P, 253F); Avenida Brasil (P, 15F); Moreninha (T, 35F); Que
rosene (P, 210F);(T,
1961. Pasmado Morro dos Getúlio
911F); PrazeresVargas
(P, 10F);
(T, todas
113F);asMaria
precedentes
Angu em
(Tt
460F); João Cândido (T, 665F); Maneta (T, 41F); Conjunto São José
(P, 20F); Vila do sàse (T, 11F); Macedo Sobrinho (P, 14F); Del Casti
lho (P, 9F); Marquês de São Vicente (P, 32F); Ladeira dos Funcionários
(P, 8F), todas em 1964. Brás de Pina (P, 366F); Turano (P, 34F); Rio
Joana (T 23F ); M orro do Quieto (P, 46F); Pra ia do Pinto (P, 20F );
Favela do Esqueleto (2027F, 800 dos quais em 1961). Total 6290F ou
cerca de 31.000 pessoas ( g b , oohab , 1963-65, pp. 12-18).
F avelas e C omunidade P olítica 221
As eontas
bunal do Banco
de Contas da do EstadoAonão
União. precisam
exigir serfundos
que os processadas no Tri
de manuten
ção fossem depositados no Banco do Estado, o Estado tinha o uso
38 Os moradores e a Ass ociaçã o da Favela Maced o Sobrinho rejeitaram
as proposta da c e e de construção de um sistema elétrico, com base no
fato de que isso dividiria a comunidade e quebraria a autonomia da asso
ciação. Esta última, eles o disseram, já tinha tido muitos problemas de
facções sem que acrescentasse à arena política da favela outra base de
poder independente e competitiva, controlada de fora. Eles julgaram pre
ferível manter as linhas de eletricidade privadas freqüentemente explo
radoras a perder a autonomia arduamente conquistada.
F avelas e C omunidade P olítica 2 29
te em termos
tratégias dos custos
de vida de construção
geral entre maisdas
os usuários do casas
que emdetermos
baixo de es
custo.
Dessa forma, uma série de custos dos usuários é caracteristicamente
não calculada na decisão de projetos habitacionais em larga escala
com casas anteriormente construídas para ocupação e sem a contri
buição do trabalho, projeto ou material do comprador-proprietário.
Tais custos incluem os custos — sobre e acima da amortização -—
de serviços; de transporte para o trabalho, difícil e comulativa-
mente caro; de tensão física e mental proveniente da pressão dos
horários e condições salariais, conseqüentemente crescentes índices
de doença e, a partir daí, de pagamentos de Previdência Social; de
aumentos nos índices de criminalidade, como ocorreu notavelmente
na segunda metade da década de 60; da deterioração do novo esto
que habitacional, pois os custos incluídos não permitem a manuten
ção ouO despesas
plano da de condomínio/5
codesco
e assim por diante.
está intrinsecamente em contradição com
as suposições subjacentes e com os interesses imanentes nos tipos de
cálculos envolvidos nas abordagens monetaristas do Governo fe
deral, como representado pelas políticas e ações do b n h , com rela
ção à “ habitação” ou ao “ problema da favela” . Tal plano, basean
do-se em grande medida nos recursos e julgamentos dos moradores
das favelas, nao é um programa que favoreça os interesses da in
dústria de construção civil, nem do b n h , embora este último tenha
financiado em parte a codesco , nem das companhias de finanças,
^poupanças e créditos.
Agente
“ No( 1969,
Rio 3de[9 ]Janeiro,
:17 ) : 47 existem 283 favelas, a maioria delas —
36 (sic !) — localizada na 6.a Região Administrativa (isso está er
rado; havia apenas 16 nessa região — (ver cedug , 1963, Apêndice
4«, p. 60), que abrange os bairros de Ipanema, Leblon, Lagoa* Jar
dim Botânico e Gávea, precisamente a região mais aristocrática da
Guanabara, onde se situam as casas mais luxuosas, as terras mais
valorizadas e os clubes mais finos ( . . . )
Mais adiante apresentamos um artigo de Gilberto Coufal, di
retor do BNH e coordenador da chisam , no qual são estudadas as
discussões sobre urbanização e remoção, e que conclui afirmando
que a política seguida pelo Governo tornará possível a modificação-
do programa físico e estético das áreas faveladas, integrando terras-
por elas ocupadas aos bairros em que se situam, e transformando a
do Pinto-llha das Dragas, incluindo o Centro Social Habitacional de lá,
2 são da Macedo Sobrinh o. Tod as essas favelas (a ) eram na Zo na Sul,
(&) estavam sob ameaça de remoção, de modo que os moradores evita
vam investir nas casas. Conseqüentemente, a vista aparente é a de barra
cos. Não é mostrado nenhum quadro dos interiores (com móveis, refri
geradores, etc.). Nenhuma foto de favela da Zona Norte, nem também
daquelas da Zona Sul com casas melhoradas (como o Parque da Cidade
ou a Barreira do Vasco, respectivamente). Finalmente, há uma foto de
parte da favela da Babilônia que se situa sobre a entrada do Túnel Novo,
que liga Botafogo a Copacabana. Os túneis, 30-40 pés abaixo, são corta
dos da foto de modo que se vê apenas um pedaço do muro, mas não o
túnel. A legenda diz: “ Vi&ta parcial da linha ou muro imagi nário que
impede a expansão territorial da favela.”
Embora ,da mesma forma que o braço de pesquisa do bnh, o Cen-
p h a , aparentemente um órgão independente, Agente ê de fato um órgão
do Banco. A maioria de seus artigos significativos é de um dos cinco
diretores do Banco, do seu pessoal técnico, ou do pessoal intimamente
ligado aos interesses e pontos de vista do Banco. Pontos de vista contrá
rios nunca aparecem. Agente , o meio proselitista do Banco, descrevè-se
na primeira página da seguinte maneira:
“Agente: um jornal que visa dar orientação técnica e difundir méto
dos e processos do Plano Nacional de Habitação, é enviado aos agentes
iniciadores e financeiros do b n h , a representantes dos Três Poderes da
República (Exec utivo, Legislativo, Judiciário), à in dústria de constrüçã o
civil, a instituições financeiras, à Bolsa de Valores e aos líderes finarlceiros
mais significativos dó mundo eco nô mico e financeiro do País.” J
A S ociologia do B rasil U rbano
ação policial
denação paraque
queincluiu sua anterior
a pressão localização
de nas
um favelas e grandeaos
não permitisse coorou
tros escapar. Estava bastante claro que a polícia estava muito bem
informada com relação às identidades dos líderes (nunca oculta
das), suas atividades e localização em momentos específicos. Ob
viamente, os líderes foram mantidos incomunicáveis por alguns
dias, sendo ameaçados de severas conseqüências caso a oposição
continuasse.53 Os homens foram soltos por causa da pressão da ala
mais liberal da Igreja Católica no Rio que, com outros setores ori
entados para a ação social da Igreja por todo o Brasil, só começaram
a ser severamente reprimidos pelo Governo Federal em 1969.
Desde a prisão em massa, as atividades públicas da fafeg
praticamente cessaram e nenhuma tentativa foi feita para impedir
as remoções em andamento das favelas da Zona Sul. Se tal esforço
tivesse sido feito, aquelas tentativas de impedir tal remoção seriam
enfrentadas por soldados armados com revólveres, como foi o caso
em 1964 quando o pessoal da fafeg tentou impedir a expulsão do
Morro do Pasmado, a primeira favela a ser removida pela €OiiAB
(contado nos jornais da epoca ). (
Conclusões
“Goulart);
elitismo ode“elitismo nacionalista”
favorecimento (a presidência
dos interesses de Dutra);
estrangeiros” e o os
(todos
governos desde 1964), essas mudanças têm seu paralelo a nível
local, como mostramos.54
Conforme a orientação do Governo central exigiu mais ou me
nos controle sobre as massas, assim se manifestou essa exigência mu
tável em várias formas e operações de política e de ação com rela
ção às favelas. Ainda, qualquer que seja o Governo, por mais po
pulista e “ democrático” , um forte elemento de controle e manipula
ção foi sempre importante por pelo menos três razões. Primeiro, em
pequena escala, o controle e a manipulação foram necessários por
simples razões de táticas políticas, isto é, eleitorais; segundo, o con
54 Para indicar que esta conclusão não é apenas algo que se deveria
esperar como automaticamente evidente, podemos apontar a história con
trastante (que precisa ser documentada detalhadamente em outra ocasião)
do Peru. Seu Governo, muito mais centralizado, também experimentou
dramáticas mudanças na form a, ideologia e modalidades operacionais,
tanto que se poderia esperar mudanças violentas correspondentes na polí
tica e ação relativas a suas áreas invadidas, as barriadasj ou, hoje em dia,
pueblõs jóvenes. Isto, na verdade, não foi o que realmente ocorreu, mas,
antes, pode-se demonstrar uma progressão ou direção bastante regular na
política relativa à barriada pelo menos de 1945 até hoje.
F avelas e C omunidade Po l í ti ca 247
A Coordenação se abriga a:
1. Fortalecer a associação da favela e a nada fazer nas fa
velas ou vilas operárias sem anúncio ou acordo prévio.
2. Desenvolver um plano permanente de bem-estar para a
favela com relação a melhorias no local, suas habitações e a situa
ção de seus habitantes.
3. Supervisionar a utilização dos recursos recolhidos pela as«
sociação e aplicados para melhorias na favela.
4. Substituir progressivamente os barracos por construções
mais 5.
adequadas coma amelhoria
Autorizar ajuda dosdospróprios favelados.
barracos existentes, tendo &ido
os reparos aprovados pela associação.
6. Dar assistência às necessidades e reivindicações da favela,
procurando a ajuda de outros organismos, mas sempre em coopera
ção com as associações.
7. Impedir qualquer violência da parte dos detentores de
falsos títulos de propriedade contra os favelados.
8. Impedir a exploração dos favelados sob qualquer forma,
especialmente com relação ao aluguel de barracos e ao fornecimen
to de eletricidade.
A S ociol ogia do B rasi l U rbano
Rio de Janeiro,
Assinado
J o s é A rtur R io s
Cinco membros da Diretoria
Press Release de usis sobre o Acordo do Fundo do Trigo
Acordo assinado entre os Estados Unidos e o Brasil para
a Urbanização das Favelas do Estado da Guanabara
A Crise Habitacional
A necessidade de habitações de baixo custo no Estado da Gua
nabara é da ordem de 23.500 por ano, resultando num déficit anual
de 11.500 habitações de baixo custo.
Conseqüentemente, 500,000 pessoas na Guanabara vivem hoje
em habitações com precárias condições de conforto, higiene e segu
rança. O objetivo do projeto, a ser desenvolvido com o auxüio da
Aliança para o Progresso, é resolver, ao menos em grande parte, o
problema das favelas no Rio de Janeiro.
De acordo com o Ato de Bogotá e com a Carta de Punta dei
Este, que fala em medidas de auto-ajuda, o Governo do Estado da
Guanabara, em maio do corrente ano, delegou à Fundação Leao XIII
a responsabilidade do planejamento urbano, reconstrução de habita
ções, administração e aplicação das linhas do orçamento, atividades
A S ociologia do B rasil U rbano
O Projeto
As partes do acordo assinado no Palácio Guanabara são o Exe
cutivo carioca, representado pela Fundação Leao XIII, a C eapa
(Comissão Especial para Acordos sobre Produtos Agrícolas) e a
Agência para o Desenvolvimento Internacional, o órgão criado pelo
Governo americano para executar os projetos da Aliança para ©
Progresso,
Conforme os termos do acordo, os Estados Unidos contribui
rão para a sua execução com a soma de um bilhão de cruzeiros pro
venientes da venda de produtos agrícolas no Brasil. Os itens prin
cipais do projeto incluem a urbanização parcial e reconstrução das-
favelas, a reacomodação dos seus moradores, a urbanização da fa
vela de Vila da Penha e a construção de uma clínica de saúde em
Madureira, região que possui 21 favelas com um total de 82.620
moradores.
O Estado da Guanabara, de sua parte, dotará a Fundação Leão-
X III, para a execução do projeto, de 3% de suas rendas anuais de
impostos, ou o equivalente a um bilhão de cruzeiros.
O Governador Fala
Convidando um delegado de cada um das duas primeiras fa
velas designadas para os benefícios da assinatura do acordo para in
tegrar a mesa que presidiu os trabalhos, e na presença de várias de
legações de favelas cariocas, o Governador Carlos Lacerda indicou os
principais pontos do projeto de renovação urbana da Guanabara,
que dará melhores condições de vida para a enorme população fave
lada do Rio de Janeiro. Disse o governador em um trecho de seu
discurso: “ Conforme as reformas estatutárias e graças à compre
ensão do Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara, o Estado pode con
fiar a execução do projeto a uma instituição privada, como a Fun
dação Leão XIII, sob a supervisão do Estado. Os primeiros pro
jetos beneficiarão 43 favelas e 325.000 pessoas. Cerca de 124.000
favelados receberão assistência medica e 18.750 terao a oportuni
dade de comprar suas casas próprias, por pequenas que sejam. Os
projetos são de quatro tipos:
1. Completar a urbanização da Vila da Penha;
2. A construção de 2.2 50 casas de baixo custo em Bangu
e 1.500 em Botafogo;
3. Melhorias em 35 favelas do Rio de Janeiro;
F avelas e C omunidade P olítica 253
viços —Sociais
Comunicar ao Serviço
as moradias Social Regional da Secretaria de Ser
desocupadas.
Artigo 3 — 0 Secretário de Serviços Sociais nomeará uma
junta para dirigir a Associação de Moradores, com a finalidade de
realizar novas eleições de diretoria:
a) quando não for depositada, no Banco do Estado da Gua
nabara, numa conta aberta em nome da Associação representativa
de cada favela, toda a arrecadação;
b) quando não for apresentado o balancete trimestral ao Ser
viço Social Regional da Secretaria de Serviços Sociais, relatando o
movimento financeiro da associação;
c ) quando não for cumpr ido qualquer dispositivo dos esta
tutos por parte da diretoria;
d ) quando for apurado qualquer ato que desvirtue a fina
lidade da Associação de Moradores.
Artigo 4 — As associações já existentes nas comunidades fa
veladas vilas proletárias e centros de habitação social, deverão pro
ceder de acordo com os parag. 2.° e 3.° do artigo 1.°, a fim de que
possam continuar a representar os moradores.
Parag. único — Será reconhecida e inscrita em cada comu ni
dade aquela que congregar maior número de moradores ou que me
lhores condições apresentar, a critério da Secretaria de Serviços-
Sociais.
A S ociologia do B rasil U rbano
CRFbara
— Departamento de Recuperação de Favelas ( “ departamento”
é abreviado “ C” na g b )
e g b , g b — Estado da Guanabara, Guanabara
fafeg — Federação das Associações de Favelas do Estado da Gua
nabara
1DB ou BID — Inter-American Development Bank; Banco I nter-
Americano de Desenvolvimento.
1 PEA — Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (posteri
ormente tornou-se o Escritório)
PSD — Partido Social Democrát ico
F avelas e C omunidade P olítica 2 57
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Diário Oficial (Guanabara) (abrev. g b ) ? Rio.
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pôs um projeto de remoção de favelas federal, enviando os mo
radores para colônias agrícolas em seus estados de srcem.
1956 Decreto n.° 13.3 04, 28 de agosto; Diário Oficial ( d f ) ,
seção II, ano XIX, n.° 197, pp. 7, 55-56; criou o serfha .
1956 Lei n.° 2.8 75, 19 de setembro; Diário Oficial (Fed.) seção I,
ano XCV, n.° 220 ; conhecid o como a Lei das Favelas — alo-
cou fundos federais a favelas de quatro cidades; deu também
proteção aos moradores das favelas contra expulsões.
F avelas e C omunidade P olítica 261
1962 Decreto n.° 1.0 41, 7 de jun ho; aprovou modificação dos
estatutos da diretoria da Fundação Leão XIII, de modo que
ela pudesse mais tarde ser incorporada ao Estado e desenvol
ver a urbanização, a construção de habitações de baixo custo,
e a remoção de favelas.
1962 Decreto n.° 1.2 81, 25 de jun ho; Diário Oficial (Fed); cria
ção do Conselho Federal de Habitação.
1962 Decreto n.° 1.1 62, 30 de agosto; Diário Oficial ( g b ) , 23
de setembro, pp. 19, 627-628; aboliu o serfha e transferiu
suas obrigações e propriedades para o Departamento de Serviço
Social da Secretaria Geral de Saúde do Estado; o Serviço de
Vilas e Parques passou ao Serviço Social de Favelas sob as
Administrações Regionais; a Fundação Leão XIII passou a
realizar urbanizações, remoções e desenvolvimentos habitacio
nais, especialmente daquelas favelas sob sua égide.
1962 Lei n.° 263, 24 de dezembro; Diário Oficial ( g b ) , 3 de se
tembro, pp. 26,907-914; reorganizou extensivamente toda a
administração do Estado da Guanabara; criou a cohab para
assumir as atividades de habitação e urbanização da Fundação
Leão XIII, deixando a Fundação com um órgão auxiliar li
vremente vinculada a ela.
1964 Lei n.° 4.380, 21 de agosto; criou o b n h .
1967 Decreto n.° 870, 15 de jun ho; Diário Oficial ( g b ) , ver
Apêndice III.
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1965 (“ Guanabara Housing and Urban Development Program —
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Development Team” . Rio: a i d (mimeo).
V . Arquivos e coleções pessoais de documentos de instituições ou
pessoas selecionadas que, em algum momento, colecionaram
considerável material primário, que foi colocado à nossa dispo
sição. A todas somos muito gratos. Estão listados pelo nome
da(s) pessoa(s) que os coletou(aram).
Albano, Maria Josephina Rabello; Matérias da cohab; recortes,
1963-65; puc, Escola de Serviço Social; cenphà (Rio),
bemdocs boletins; Semana de Estudos; material de survey, etc.
(todo o material do bemdoc foi transferido para a Fundação
Leão XIII).
Brown, Diana: recortes, 1968-69 (Nova York.
Departamento de Recuperação de Favelas: fichário sobre 210 fave
las, incluindo material estatístico, mapas, algumas fotos, mate~
riais legais, etc, (todo material do CRF foi transferido para à
Fundação Leão XIII, que tambépi tem extensos fichários le
gais e outros tipos, de material) (R io ).
Leeds, Anthony e Elizabeth Leeds;» jornais e recortes, 1965-69; en
trevistas e falas gravadas; documentos, fotos; cópias de outros
arquivos e coleções (Aústin)_. '* 1
Modesto, Hélio: recóríes dps anps’60 ÇRxó). ’ ’/
Moura, Vítor Tavares de: recortes, relatórios, discursos, fotos, toclos
de por volta de 1941-4r5 (Rio:-de posse de Maria Coeli-Tava
res de Moura): ; --inr-Tvr ;
Rio, José Arthui* Rios: recorfôs dò'f]nal dá década de 1950 e iní
cio da <Je Í960;. dot s e i } f h £ (OgqraçãÒ Mutirão);, relátçs, fefc
(R io ). ' Ji ’ *
:gand, Sílvia Peréirá, recortes, 1964’65t; materiais ' da' c o H fAN .
. 1 l• I <‘t . »' * • ••í i .• ''tt ii •.*.K • •*•**-.)»> "I l
• . . : i, ?»'*•» / ? V. •t * •• *. v
• ir-.'! ..‘i I ' • :iG : "/ * ’ "* 1 1- • ’ •• ,*.* » "i O C Í»T * Jv> '
em sua área de moradia como tal. Paralelos a esses tipos são encontrados
no Peru (a) barriadas tugurisaãas(ver Delgado, 1968), (b) o que hoje
é chamado pueblos jóvenes (estas duas ca tegoria s subdivididas em seu
status com o “ reconhec idas” e “ não-reconhec idasw pela Junta Nacional de
la Vivienda), (c) projetos de conjuntos habitacionais de baixa renda,
(d) corralones, e, possivelmente, {e) as unidades vecinales . Paralelos bra
sileiros seriam ( a) as favelas, (b) as vilas e (c) os parques proletários (ver
Leeds e Leeds, 1970, A. Leeds, 1974a). A ausência de uma gama comple
ta de paralelos no Brasil está nitidamente relacionada à natureza do esta
do político e da ação e estrutura política, como se esclarece no texto.
Por causa dos traços comuns desses vários tipos e da dominância numé
rica no conjunto de posseiros e de áreas invadidas, bem como do fato de
os outros tipos envolverem parcialmente posse e invasão, empregamos o
termo áreas invadidas por posseiros, genericamente, para todos eles neste
trabalho, reconhecendo que algumas variações no comportamento política
ficam com isso inevitavelmente atenuadas. As diferenças entre eles pare
cem mais significativas no Chile.
2 Além de nossa próp ria pesquisa e de nossas visitas, lem os a litera
tura sobre áreas invadidas e habitações de baixa renda relacionada (ver
"Leeds e Leeds, em elaboração), particularmente àquela que Jida com a
política e a organização social, não apenas para o Peru, Brasil e Chile,
que são melhor documentados, mas também para a Venezuela, Colômbia*
Guatemala, Nicarágua e México, que vêm em seguida em qualidade de
material. A esta deve ser acrescentada a literatura comparativa sobrft
Hong-Kong, Deli, Lusaka Lisboa e Manila.
M Sociologia do Brasil Urbano
A L it er atu r a so br e a Po li ti zaçao :
Al ega ções d e Não Pol i ti zaçao da s Ár ea s I n va d i d a s
ções
metidosimilares, que provêm
com a idéia essencialmente
de desenvolvimento do pensamento
e que compro
parecem pensar que
a vida política é uma invenção recente na evolução cultural. As
noções são definidas de tal modo que elas se adequam apenas a este
tipo de orientação central.7 0 que estes termos significam é que al
guma população de pessoas, individual ou coletivamente, atraves
sa um processo por meio do qual aprende a “ participar” do “ pro
cesso polític o” e das “ instituições políticas” etnocentricamente con
cebidas pelo cientista social que observa tais fatos, supõe que antes a
população n ão era politicamente envolvida, mesmo de forma dife
rente, Esses conceitos carregam consigo as suposições de que ser po
litizado, participar, estar integrado nas formas de organização po
lítica anglo-americanas “ é mais racional” , mais “ maduro politica
mente ” , mais “de
demonstrativo estável” — e, conseqüentemente,
“ progresso” também
e “ desenvolvimento” “ melhor”
— que as for ,
mas de comportamento “ mais tradicionais” realmente observadas
com tanta freqüência. Estas últimas são vistas isoladas do contexto,
de modo portanto indeterminado, nao sendo, conseqüentemente,
entendidas, ao passo que a irrelevância dos modelos anglo-ameri
canos com relação aos contextos nos quais estariam ajustados esca
pa totalmente a esses observadores.
Característco de tais análises, desde que as noções de “sub
desenv olvimento ” , “ nações emergentes” , “ áreas do Terceiro Mun
do” e idéias semelhantes viraram moda no final dos anos 50 e iní
cio dos 60, é a expectativa de que os países “ em desenvolvimento” ,
natural e necessariamente, evoluirão ou adotarão certas práticas
políticas,
medida em e que
que suas populações
tais países adotarão
alcancem determinadas
os níveis exaltados atitudes, na
do “ desen-
7 A no ção de “integração” , por exemplo, significa apenas a vinculação
de populações de várias espécies ao tipo de participação e organização
pojítica e social característica da política ocidental. O fato de que outras
formas de integração sejam igualmente válidas, viáveis e valorizadas é
excluído de maior consideração científica por definição com a conseqüên
cia de que especialmente os observadores de ciência política foram inca
pazes de perceber modos de integração alternativas. Apesar disso, ver
Payne (1965) e E.J. Powell (1970) que são claros acerca das alternativas,
ásto é, não limitados por uma definição tautológica.
27 4 A S ggxologia do B rasil U rbano
ii
A S ociologia do B rasil U rbano
Brasil, nenhum dos partidos tem (ou teve) base de massa, embora
muitos votos de massa possam ter sido mobilizados nas eleições. A
organização essencial, as escolhas pessoais e as articulações de inte
resse se davam, todas, intra-elite. No segundo, o Peru, apenas um
partido ( apra ) tem (ou teve) base de massa, basicamente nos sin
dicatos, tanto rurais como urbanos. No terceiro, o Chile, muitos
partidos têm uma base de massa, ou seja, têm unidades subsidiá-
irias operantes no interior das massas populares que funcionam po
liticamente, fazem escolhas locais do pessoal, articulam interesses
locais à hierarquia partidária. 0 jogo político nas três comun ida
des políticas, argumentamos, varia para todos os níveis sociais e se
tores da sociedade, conforme a variação nos sistemas partidários e
conforme a interaçao partidária com as burocracias, sindicatos e
vários ramos do Governo, especialmente o Executivo e os milita
res.
Brasil
observação participante.
opinião, altamente A pesquisa
carregada de suposições a prioritambém
CastelIs-ciDU é, em
sobre classe nossa
e ideolo
gia, típicas do marxismo francês, que prefiguram suas interpretações (ver
sumário detalhado do último em Handelman, 1975). Excluímos a Vene
zuela como exemplo, embora ela se adequasse aos critérios comparativos»
porque as fontes (por exemplo, Karst, Schuartz e Schwartz, 1973) são
por demais dispersas por diferentes cidades e setores para permitirem uma
análise adequada. Também o período de sua organização multipartidária
foi bastante pequeno.
O leitor levará em conta, no nosso tratamento do caso chileno, o
fato de ser ele provisório, até que mais materiais etnográficos, tais como
os Teunidos, mas não publicados, de James C lift on se tom em disponíveis.
C onsiderações sobre D iferenças C omportamentais 279
pareceu Brasileiro
balhista pretender —ser foi,
umanaorganização do povo
verdade, criado pelo—Presidente
o PartidoGetií-
Tra
lio Vargas, em 1943, para formar uma massa seguidora manipulá
vel, controlável, que ele dirigia, essencialmente, no jogo político jd
antecipado que deveria emergir com as eleições prometidas para
1945, e o conseqüente fim necessário de seu status ditatorial. O p t b
foi construído a partir de uma coalisão dos sindicatos sob dominação
total do Governo e de outras forças “ progressistas” que apoiavam
programas de industrialização, nacionalização e previdência social
— programas que pretendiam, no seu lad o unicamente político, forta
lecer cada vez mais o poder de uma das importantes facyões de elite
da sociedade brasileira (ver Leeds, 1975). O p t b objetivava, então,
conquistar como curral eleitoral a população urbana, que havia au
mentado em muito durante a ditadura de Vargas, com o rápido
crescimento da indústria, especialmente em São Paulo. Basica
mente, ela era um fenômeno relativamente novo na sociedade bra
sileira, que precisava ser considerado nas estratégias políticas de
vários atores, na comunidade política, que tentavam ter acesso ou
acumular mais poder. Na época do maior crescimento inicial des
sas populações urbanas, Vargas era o único numa posição política
que permitia sua incorporação numa estratégia política, enquanto
todos os outros partidos permaneciam elitistas em eleitorado e con
trole, muito embora o Partido Social Democrático (PSD — nem so
cial nem democrático) freqüentemente drenasse o curral eleitoral
de massa do p t b nas eleições nacionais, quando trabalhavam em
eoalisão. Deve-se observar, de passagem, que mesmo essa massa se
PTB
guidora não Estados
alguns dos existia para o em todas
esmagadoramente as partes
agrários do país —o p em
do Nordeste, t b
não tinha seguidores na massa; seus eleitorados, diretorias e orien
tações serviam totalmente às aristocracias territoriais e comporta-
vam-se de modo quase idêntico à direitista União Democrática Na
cional ( u d n , ainda menos democrática que o p s d ) na metade Sul
do país.
0 único outro partido que tinha ampla base popular, em
grande parte entre as classes trabalhadoras tanto urbanas como
rurais, era o Partido Comunista, p c , que, entretanto, exisetiu como
A S ociologia do B rasil U rbano
280 »
4
Consi der açõ es ^ sob re D if ere n ça s Com portam entai s 28 1
vistas pelo Governo militar como uma ameaça direta (ver A . Leeds,
1973b).
A ausência de canais partidários, sindicais e burocráticos (in
clusive militares) para os posseiros extraírem retribuições, bens e
serviços do sistema tanto limita como solapa, em grande parte, os
tipos de opção abertos aos moradores das áreas invadidas brasilei
ras e as formas mais efetivas de tirar vantagem dessas opções para
as quais nos voltamos agora.
A Re spos ta da Fa ve l a — Dado esse quadro esquemático da ordem
política nacional no interior de cuja estrutura o proletariado urba
no é obrigado a operar — ou talvez, mais precisamente, é impe dido
de operar — , pode-se entender melhor suas formas de resposta
com relação ao aspecto do estado exterior ao segmento favelado da
proletariado. Essas respostas são, em grande parte, ditadas pela na
tureza do sistema através do qual prêmios, bens e serviços são dis
tribuídos e pelos muito limitados meios de acesso à sociedade exter
na politicamente organizada. Confrontadas com os tipos de barrei
ras acima discutidos, as populações das favelas foram forçadas a
operar de modos e através de canais que lhes possibilitassem alcan
çar mais efetivamente os poucos bens que pudessem.11
11 Um a diferença fundamental entre o mode lo de moradia d as áreas
invadidas nos três países deveria ser aqui observada. As favelas são, em
sua maior parte, estabelecidas por acréscimo, com quase nenhuma pré-
organizapão da invasão. A o que nos const a, apenas uma favela no R io
foi estabelecida de modo vagamente semelhante a uma invasão organiza
da, e o período de invasão prolongado por um ano, nada semelhante ao
processo descrito para cerca da metade das áreas invadidas de Lima e
para muitas daquelas de Santiago. Para descrições de invasões em Lima»
ver Mangin, 1963; Collier, 1971; Diets, 1969; para Santiago, Giusti, 1971;
Castells, 1974. A elevada freqü ênci a de oco rrência de tais invasões noturnas
tem, em Lima e Santiago, o sentido de criar como conseqüência partici
pantes solidários da invasão que então agem de modo relativamente unifi
cado para assegurar e melhorar seus ganhos, ao menos até que as priori
dades básicas sejam encontradas. Essa oportunidade para unificação, dessa
forma está amplamente ausente no Rio.
CONSrDERAÇÕES SOBRE DlFERENÇ AS COMPORTAMENTAIS 287
Peru
A. Comu n i d ad e Políti ca
sistema multipartidário —comA base
comunidade política
de massa peruana
em apenas umtem um
partido,
a Alianza Popular Revolucionária Americana (conhecida como
apra, e seus membros como apristas ). Os outros partidos, com a
possível exceção do pc, são todos mais ou menos representantes es
tabelecidos de duradouras cliques de elite ou partidos bastante per
sonalistas de exígua viabilidade (como a Ação Popular, ou AP, de
Belaimde Terry). O Partido Comunista paTece ter genuíno apoio
popular, especialmente entre trabalhadores industriais urbanos, mas
nunca representou significativamente uma potência eleitoral como
a APRA, nem teve jamais o apoio de massa na escala deste último.
C onsiderações sobre D iferenças C omportamentak 289
vezes partidário
tema virtualmente inexistente.
significa que osAeleitores
própria tiveram
imprevisibilidade do sis
que desenvolver
estratégias políticas alternativas para obter os prêmios que deseja
vam. Um conjunto de estratégias fazia uso de qualquer Governo
em exercício; outro conjunto manipulava as burocracias relativa
mente estáveis; outros conjuntos ainda trabalhavam através dos
militares, da Igreja, de instituições autônomas e dos sindicatos. A
seguir, tentaremos mapear o que está envolvido por meio de um
breve relato histórico dos arranjos políticos mutáveis que apresen
tavam um quadro móvel ou um conjunto de parâmetros para a
ação das áreas invadidas, cada fase envolvendo uma estrutura dife
rente de opções com relação aos canais utilizáveis de resposta das
áreas invadidas.
Embora as barriadas tenham existido por décadas, o rápido
crescimento na formação das áreas invadidas peruanas começou
em 1945, época em que a apra , depois de um período de ilegalida
de durante o primeiro regime do Presidente Manuel Prado (1939-
1945), recuperou seu status Zegal e buscou formalmente reingres-
sar na arena política nas eleições de 194514 Collier (1971:60)
sugere que os grandes sucessos do congrèsso da apra e seu conse
qüente acesso aos recursos governamentais lhe permitiram tentar
ativamente ampliar sua base partidária e sindical, especialmente
através de seu envolvimento com as invasões de terras, um dos
meios usados para estabelecer aquela' base.
No Governo do Presidente Bustamante (1945-1948), o então
Ministro
creditar adoapra
Governo, Gal. Manuel
, tornou-se Odría,engajado
ativamente numa tentativa de desa
na contenção do
seu crescente apelo popular. Odría, como a APRA, tomoú medidas
que abrangiam a proteção das áreas invadidas contra sua extinção
pela polícia,15
i
282 A S oci ologi a do B rasi l Urbano
no extremo
vos, receptor
totalmente das ofertas,
manipulados. ou éa negligenciado
O que tratá-los como
é osujeitos
fato de passi
que
■os moradores das áreas invadidas geralmente reconhecem as tenta
tivas da cooptação e astutamente acompanham o jogo enquanto é,
lucrativo fazê-lo, e dentro das vantagens limitadas representadas
pelas ofertas. O resultado é o contínuo fluxo de bens, serviços e
■ outros recursos, o que levou as barriadas a se tornarem pu ebl os j ó
venes , e estes a se tornarem, pouco a pouco, plenamente incorpora
dos à cidade e ao Estado, tanto em termos físicos quanto em termos
político-administrativos, como municípios com plenas funções le
gais. Tal incorporação nao ocorreu nem no Brasil nem no Chile.
Chile
28 Este tipo de organ ização é citad o para o sistema polít ico partidário
italiano, incluindo o p c — e constitui o modo característico d e controle
interno sobre o partido pela liderança, Darwin (comunicação pessoal,
1975) for nece algumas passagens que sugerem paralelos na organizaçã o
chilena de controles partidários internos, embora sua intenção não seja
a mesma, de modo algum. As “áreas invadidas no Chile são desenvolvidas
por um partido. A toma é estabelecida pelo partido X . A neg ociaç ão para
títulos infra-estrutura e organizações comunitárias, juntas de vecinos, cen
tros de madres, etc. é mantida pelo partido junto com escritórios gover
namentais — M inistério de l a Vivienda, etc ” . “ Na maioria dos caso s, as
áreas invadidas continuam sob a dominação do partido descobridor e de
seus representantes nelas.” “Durante os últimos anos, 1971-1973, de
Allende, as j a p s tornaram-se mais e mais ativas e decisivas... determi
nando, segundo o nível de organização e atividade, o acesso dos poblado-
res à comida, querosene, etc. segundo níveis de participação.”
Con si deraç ões sobre D i ferenças Com por tamentai s 307
29 Note-s e que Talton Ra y (1969) com efeito descreve essas duas ten
dências para as áreas invadidas da Venezuela sem compreender suas impli
caç ões, Ele lamenta o fa to de que algumas áreas de moradia não partici
pem mais plenamente do processo democrático, tornando-se mais vin
culados a partidos políticos e eleições. Por outro lado, ele observa que
são precisamente as áveas invadidas que não são tão comprometidas —
contrastando com aquelas diretamente vinculadas, na invasão srcinal e
na vida política subseqüente, a um partido particular — que obtem o
maior número de bens do sistema político externo.
308 A S ociologia do B rasi l U rbano
Conclusões
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