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Gestão Geo-ambiental e Econômica

de Bacias Hidrográficas e de
Propriedades Rurais
Soluções Integradas em Ecologia Energia
Economia Ética Gestão – 4EG

Martins Jr., P.P.; PaulM


Carlos Sidnei Coutinho
Vitor Vieira Vasconcelos
João Álvaro Carneiro,
in memoriam

Nome da Série:

Soluções Integradas em
Ecologia Energia Economia Ética
e Gestão de Bacias Hidrográficas
e Propriedades Rurais
Gestão Geo-ambiental e Econômica de Bacias
Hidrográficas e de Propriedades Rurais

Apoio e agradecimentos

MCT / Fundo Setorial CT-Hidro / FINEP


Fundação de Amparo a Pesquisa de Minas Gerais – FAPEMIG
São instituições que permitem a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico terem continuidade de
modo a se poder apresentar resultados de pesquisas e produtos viáveis para a aplicação nas
atividades sociais e econômicas.

Ficha Bibliográfica
ÍNDICE

Capítulo 01 – FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS ÉTICA, ECOLOGIA, ENERGIA,


ECONOMIA – 4Es

Capítulo 02 – CLASSIFICAÇÃO dos TERRITÓRIOS em ÁREAS HOMOGÊNEAS – Gestão


de Bacia Hidrográfica –

Capítulo 03 – VARIÁVEIS e FATORES de CLASSIFICAÇÃO de TERRAS – Gestão de Bacia


Hidrográfica –

Capítulo 04 – ZONEAMENTOS ECOLÓGICOS – Gestão de Bacia Hidrográfica – Primeira


Fase de Auxílio à Decisão sobre o Uso da Terra

Capítulo 05 – SISTEMAS GEOLÓGICOS – Gestão de Bacia Hidrográfica – Segunda Fase de


Auxílio à Decisão sobre o Uso da Terra

Capítulo 06 – ZONEAMENTOS ECONÔMICOS – Gestão de Bacia Hidrográfica – Quarta Fase


de Auxílio à Decisão sobre o Uso da Terra

Capítulo 07 – DEGRADAÇÃO e PLANO para REVITALIZAÇÃO – Gestão de Bacia


Hidrográfica – Quinta Fase de Auxílio à Decisão sobre o Uso da Terra

Capítulo 08 – IMPACTOS AMBIENTAIS e DECLÍNIO ECONÔMICO – Gestão de Bacia


Hidrográfica – Sexta Fase de Auxílio à Decisão sobre o Uso da Terra

Capítulo 09 – DESENHO de USO OPTIMAL dos TERRITÓRIOS – DUOT – Gestão de Bacia


Hidrográfica – Sétima Fase de Auxílio à Decisão sobre o Uso da Terra

Capítulo 10 – CERTIFICAÇÃO da QUALIDADE da PRODUÇÃO – Gestão de Bacia


Hidrográfica – Nona Fase de Auxílio à Decisão sobre Consequências do Uso da
Terra

Capítulo 11 – DESENVOLVIMENTO GEOAMBIENTAL E ECONÔMICO – Gestão de Bacia


Hidrográfica –
Gestão Geo-ambiental e Econômica de Bacias
Hidrográficas e de Propriedades Rurais
Soluções Integradas em Ecologia Energia Economia Ética
Gestão – 4EG

Atos dos Apóstolos 17:28.


Porque n’Êle vivemos, nos movemos, e existimos.

Nossos trabalhos na

Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas, Departamento de Geologia


Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais – CETEC
1
FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS
ÉTICA, ECOLOGIA, ENERGIA, ECONOMIA – 4Es
Palavras-chave: Desenvolvimento eco-sustentável, ecologia-economia, arquitetura de saberes,
fundamentos para a Ética na Natureza, Teoria da Idéia Cosmonômica.

INTRODUÇÃO

O tetranômio – 4Es – deste título introdutório coloca a questão da interdisciplinaridade de modo


inequívoco para aqueles que queiram buscar as inter-relações entre estes domínios de
conhecimento da Natureza, do homem como Natureza e do homem como cultura. Neste último
sentido trata-se do homem moral e entende-se por moral [Latim, morus] como o conjunto de
hábitos comportamentais consensuados em um grupo humano. Por sua vez o hábito consensual
se manifesta tanto pelos caminhos dos acordos tácitos não-escritos entre os seres humanos, quanto
pelo sistema de leis estudadas, votadas e estabelecidas como normas de organização de uma
cultura.

A Ética enquanto tema da Filosofia, do saber, da atividade legislativa humana, tanto civil como
religiosa, não se constituíra, até nossos tempos, como um saber para resolver as questões do
homem com a Natureza. Até tempos recentes as questões éticas eram somente tratadas para as
relações intra e entre grupos humanos. Só mais recentemente é que se esboçaram questões éticas
sobre a questão ambiental. A questão é historicamente nova, em particular ante a dimensão que a
questão ecológica ganhou no decurso da Modernidade.

O homem, que é Natureza, na Tradição judaico-cristã é visto como “semelhante ao seu Criador”,
que por sua vez é visto como Superior e Transcendente à Natureza, isto é, não se trata de um
similar ao demiurgo grego. Cogita-se naquela Tradição sobre uma hierarquia estrita nas relações
Natureza / Homem que leva à independência de ação para que esse Homem possa operacionalizar
o domínio dessa mesma Natureza. Isto foi acentuado, ou assim interpretado na revolução
burguesa. Desse modo o Homem seria um intermediário de Deus para com a Natureza, sendo ao
mesmo tempo uma parte da Natureza. Preponderou assim o interpretado conceito religioso de
dominar e sujeitar a Natureza, em particular como interpretado mais recentemente pelo projeto
burguês e acentuadamente pelos Modelos capitalista e comunista, em quaisquer das versões. Bem
entendido que o conceito de  dominar implica em duas questões [1] o porquê se deve dominar
e [2] de que modo se deve dominar.

A resposta mítico-religiosa original foi dada com a metáfora do jardim e do jardineiro, o que é
uma metáfora elegantemente ecológica. Distintamente, a metáfora do mito arquetípico de
fundação da alma ocidental, com origem dentro da alta Idade Média, nos é dada pelo mito de
Fausto, que é bem distinto da metáfora do jardim. Mefistófeles propõe ao Dr. Fausto a vida eterna,
isto é, o domínio sobre a matéria em troca de sua alma, o que foi aceito (Spangler, 1917).

Mefistófeles apresenta uma cilada porque a alma é a vida, a alma do Latim anima é a palavra para
animado, ou o que tem vida. Como é que se “dá a vida” e se pede a alma em troca? Onde jaz essa
cilada? Ora numa leitura atual a cilada jaz “no domínio da matéria” com a destruição do
ecossistema - o jardim - que mantém a vida.
Assim, a ganância humana e o afã de viver ao modo consumista, como se vive na atualidade,
levam o próprio homem a destruir o seu substrato, o que equivale a dar sua alma, já que o homem
está perfeitamente encerrado no ecossistema. Tira-se-lhe o substrato, e nada sobrará para sustentar
a civilização. Alcança-se o conhecimento, e dele se faz o uso que se segue fazendo, e nada nos
restará. A biodiversidade se tornará apenas “memórias fotográficas, livrescas e cinematográficas”
enquanto durarem esses produtos tão descartáveis. Ao se pensar as propriedades de permanência
no tempo, por certo que as pedras dos antigos são notavelmente mais resistentes, assim como os
tabletes de terracota usados pelos sumérios.

A Natureza é criadora, mas também destrutiva. Ela mantém, dá, toma, sustenta e suprime. Ela é
ambivalência e paradoxo por excelência, porque é assim que conduz a vida em seu processo
evolutivo. Este é o próprio modus operandi de empurrar a evolução para níveis cada vez mais
complexos. As dualidades, o ruído, a flutuação dos sistemas, o aprendizado, as transformações, a
complexificação e a ruína são “personagens especiais do drama da história da vida” junto com as
próprias espécies. A situação do Homem diante da Natureza, que é sempre dificultosa para
oferecer à humanidade as condições ideais de vida, obriga a todos os povos em todos os tempos
a buscarem soluções para resolver a questão da sobrevivência, sempre de algum modo se
inserindo ou “domesticando a Natureza”.

A perspectiva surgida na civilização judaico-cristã em convergência com a Tradição grega,


traduzida como um projeto de mundo pela cultura burguesa emergente da Idade Média, após o
fracassado projeto universalizante da Igreja Católica Romana, criou os tempos Modernos. Nesses,
o domínio da Natureza vai se realizar pela techné, com tripla autorização religiosa:  [1] dominar
a Natureza, [2] liberar o homem do jugo do mundo natural pelo uso do princípio de sua imagem
e semelhança para com Seu Criador e [3] imitar ao Deus como um co-criador. Eis aí a autorização,
arquetípica, metafísica e psicológica profunda para o homem, e em especial o homem ocidental.
Não importa que a civilização ocidental tenha se tornado majoritariamente atéia e materialista,
mas o arquétipo mítico-religioso, que deu origem à ciência moderna, permanece fornecendo élan
ao inconsciente coletivo ocidental, quer entendam disso, ou não, os materialistas.

Notável é que Ticho Brahe, astrônomo dinamarquês da época do Renascimento, que contribuiu
significativamente para ciência junto com Kepler tenha dito da atividade científica - “Eu penso
os pensamentos de Deus após Ele”. Tal expressão não é negligenciável e parece ser lapidar para
descrever o quadro religioso que fundou a ciência moderna, ainda que essa viesse a se libertar da
idéia de um Criador, em tempos ainda recentes de seu processo de maturação. Como dizia Laplace
“nous n’avons pas besoin de cette hypothèse là”, isto é, da hipótese de um Criador.
A própria liberdade de pensamento científico é um tento que muito se deve à mentalidade do
protestantismo na qual a relação de base do homem com seu Criador, direta e sem intermediários,
é apreendida como a única legítima. Nisto a ciência lucrou como atividade, já que a licença era
dada também para o acesso direto à Natureza, a um modo não mítico, isto é, pela observação
empírica. René Descartes soube muito bem traduzir isso em seu Discours de la Méthode. Deve-
se ter em conta que o movimento do humanismo foi radical também nesta questão da relação
liberdade versus Natureza, como dois pólos antinômicos desse movimento cultural. O pólo
Natureza veio a se expressar como o modo de acessar a Natureza pelas vias matemática e
empírica, para enfim dominá-la (!?!). Tal movimento subsidia a revolução burguesa e a tecnologia
emergente bem como a tecnologia contemporânea.

O choque cultural da Europa com os outros povos, que não viviam os mesmos mitos, que não
conheciam uma licença religiosa para dominar a Natureza, que não viveram historicamente uma
revolução tecnológica, afora os chineses em outro contexto, portanto, é tão grande, que as esses
mesmos povos só sobraria a condição de dominados, condição esta que permanece com
“variações em torno do mesmo tema” até a nossos dias. Atualmente com uma reviravolta
completa no tabuleiro de poderes geopolíticos e econômicos planetários.

Restam sem solução as questões das classes sociais, seja entre brancos tanto quanto entre não-
brancos. Povos tão civilizados como os chineses e hindus vieram a ser submetidos ante a nova
organização tecnológica e militar do Ocidente, mas não mais atualmente. O mundo tem mudado,
mas restam desequilíbrios muito complexos e amplos ainda.

UMA DIALÉTICA ESPECIAL

Herman Dooyeweerd (1960) foi bem a fundo na questão da pseudo autonomia do pensamento
teórico, questão tácita ou explicitamente aceita desde a Antiguidade grega. Essa questão, que pode
parecer inócua ou mesmo simplória, à primeira vista abarca justamente uma das questões mais
negligenciadas durante os últimos 2.500 anos. Enfim, o que esteve em questão no Ocidente,
civilização essa que é um encontro renovador da Grécia com a tradição hebreia?

Na Grécia surgiu no decurso do período pré-socrático ao período da polis, uma tensão entre dois
modos de se fazer Filosofia cuja repercussão ressoa até hoje. A antiga tradição grega fundava-se,
quer o quisessem reconhecer ou não, em um processo religioso cujos mitos se articulavam em
uma absolutização (ou deificação) dos processos vitais, isto é, da vida. Sua religião e divindades
representavam exatamente a absolutização desses tipos de processos sob a insigne de Dionísios.

A evolução de uma sociedade fundamentalmente rural para uma sociedade urbana, juntamente
com o aparecimento do ego-solar racional na história humana (Neuman, 1973 e Wilber, 1983)
levou a Filosofia grega a surgir, de fato, como uma expressão refinada dos processos cognitivos
racionais e lógicos, então em plena evolução. Tais processos, todavia fundaram-se na Grécia com
a absolutização da razão como um processo autônomo, isto é, praticamente como auto-referente.
Ainda que tal situação não fosse alvo de defesa específica era um pressuposto implícito que
fundava a Filosofia, e toda a episteme a ela agregada e que veio posteriormente impregnar a
ciência moderna. O processo tinha sua ambivalência e tensões já que a razão como toda atividade
humana não é autônoma, embora tenha sua economia própria. Nada que o ser humano produza
é, a propósito, destituído de alguma relação com outros aspectos que estejam fora do âmbito
específico daquela atividade ou produção, quaisquer que sejam as atividades.

A permanência das duas absolutizações de aspectos da realidade na história grega  a dionisíaca


(o princípio vital), e a apolínea (aspectos da organização da pólis)  estabelece-se como uma
tensão que Dooyeweerd (1958) denominou de dialética religiosa. Propagou-se no Ocidente, com
o encontro dos dois caudais culturais, grego e hebraico, como a criação de tensões equivalentes
nos pensamentos medieval e moderno de tal forma que vai desaguar no Humanismo também sob
a tensão do “ideal de ciência versus ideal de personalidade” (Figura 1.1; Dooyeweerd, 1960). A
questão é até de simples entendimento.
Figura 1.1 – O humanismo como a mais considerada verdade do Tempo Moderno mostrou-se não
condutor a plena justiça, em parte alguma dessa Terra, ainda que com os sucessos da social
democracia. Em tempo pós-moderno será engolido pelo inimigo tecnocrata vindouro e em
exposição e o temor dos Românticos se verá realizado. Não há lugar para a absolutização das
coisas relativizáveis correlatas, pela absolutização de aspectos da Realidade e nem para a
absolutização do Homem – o Humanismo. O fracasso será recoberto pela inteligência artificial
e pela robótica. Isto é uma dialéctica religiosa incontornável (Dooyeweerd, 1958) (org. Martins
Jr., 2020). O que acontecerá com a população no mundo que se avizinha claramente?

O ser humano tem sempre buscado referências absolutas, por assim dizer. Tais referências se
apresentam no pensamento teórico como a base para a própria autonomia deste, seja reconhecida
ou não essa suposta condição.

A dinâmica entre o processo de comparação e a necessidade de uma referência absoluta para


comparação estabelece-se como um dos processos fundadores da identidade humana, permitindo
desde tempos imemoriais a evolução dos pensamentos dos tipos “razão mágica”, “razão mítica”
e depois “a razão solar” (Neuman, op.cit.; Wilber, op.cit.), fundando-se em um processo religioso
da psique profunda, e sendo base para as relações inter-individuais tanto no processo de convívio,
quanto de aprendizado e nos conflitos miméticos, como por exemplo, a guerra, a vítima
expiatória, a origem do rei e do sacerdócio (Gérard et al., 1978).

Tomás de Aquino, como mestre maior da Filosofia Escolástica, procurou realizar uma tentativa
de conciliar dois absolutos, que antiteticamente se querem como referência por um e outro grupo
de homens da cultura ocidental, mas que são irreconciliáveis  a saber, a razão e a revelação,
assim traduzido por Aquino como natura et gratia. Estas duas correntes de pensamento têm
fundamentos diferentes, uma se apoia numa função do ego comum à psique humana e a outra se
funda como uma função transpessoal, tratando-se da revelação, não importa como interpretada.

Uma advém das relações das funções de observação e da lógica, e a outra advém de funções
profundas da psique humana. Uma dá base para a ciência positiva outra para a expressão da
intuição, e para a consciência moral no qual o ego se funde ao seu contexto cósmico de modo
muito mais expressivo. Isto foi descrito por diversos homens que experienciaram tais processos,
por sinal, inerentes ao ser humano embora pouco comum em nossas condições atuais comuns.
Deve-se notar que as funções transcendentes da psique necessitam de serem adequadas aos
conhecimentos dos fatos da Natureza sem o que a realidade das coisas pode vir a ser distorcida.
A função da intuição é, portanto orientativa e necessita do burilamento da razão. Um ser humano
que saiba usar corretamente as duas funções têm uma psique mais ampla em face aos demais
humanos.

Da ECOLOGIA à ÉTICA

A ecologia, enquanto tal é a ciência que busca o entendimento das relações que constituem o
meio-ambiente tanto inorgânico quanto orgânico e entre ambos. A Natureza evidentemente segue
leis de funcionamento, bem como possui estruturas que evoluíram, evoluem e se transformam no
tempo, sejam com aumento em complexidade sejam se desfazendo com aumento de desordem. A
descoberta de tais leis é a base das atividades científica e filosófica que, a todo o momento,
buscam simetrias e dessimetrias na Natureza, como parte dos próprios processos de
transformação. Tais coisas são não somente aspectos e expressões da percepção intelectiva
humana, mas dizem respeito à Ordem do mundo, logo ontológicas.

O pressuposto de que o mundo real funcione com simetrias e dessimetrias, mesmo que isso
obrigue a abstrações que atendam muito mais ao processo lógico-cognitivo, faz-se imperioso
como modo do homem se relacionar com seu meio. Aprender de seu meio para saber usá-lo é
uma alternativa, por certo, melhor do que querer alterar o meio para dele obter-se o que se queira
num processo de dominação. A questão tem seus matizes que não podem ser negligenciados. No
mais das vezes sempre se tem caído nestes dois extremos no qual o pólo alterar para dominar é
o que tem predominado culturalmente. Esta questão é muito clara na disputa entre as técnicas
agrícolas à base de insumos e as técnicas bio-agrícolas como, por exemplo, a Permacultura
(Mollison & Holmgren, 1983). Todavia, essa questão tem diferentes níveis de complexidade pela
predominância do fato econômico e do poder derivado deste.

A ética dita ambiental, entre geólogos, denominada geoética, com suas particularidades, necessita
passar de uma ética comportamental entre cidadãos a uma ética em que a Ontologia dê bases para
uma estruturação condizente do comportamento, que recebe seus fundamentos da percepção dos
seres e de seus processos de sustentação.

Nas questões éticas sempre se estabelece uma tensão entre aquilo que se poderia reconhecer como
um direito natural [direito do que é natural] e aquilo que é fruto das convenções e acordos sociais,
que serão sempre em última instância característicos de uma dada civilização. A Ética, tanto
quanto a ciência, necessitam de seus invariantes, i.e., de seus princípios fixos tanto para o
processo de valoração quanto para o de avaliação, que antecede a valoração e que a sucede no
processo de revaloração e/ou de reafirmação. Princípios fixos permitem a realização da “tensão
entre universais e particulares” e das relações de prioridade entre estes últimos.

A ciência contemporânea vem em socorro à questão dos invariantes, introduzindo outra questão
sobre a relatividade das coisas nos sistemas naturais. Isto foi particular e notadamente apreendido
na ‘Filosofia da Ideia Cosmonômica’ (Dooyeweerd, 1936 e 1958). Mas enquanto um sistema em
sua história sofre os efeitos do acaso, da necessidade, da complexificação bem como da desordem,
o próprio sistema está regido por leis intrínsecas, que não são mais do que as próprias leis naturais,
determinando as questões específicas do dito sistema (Prigogine & Stengers, 1979 e 1988).

São muitos os modos como os corpos e as estruturas, a energia e a informação se organizam num
dado ecossistema e o organizam, em particular em suas áreas homogêneas, que funcionam como
subunidades sistêmicas. Em verdade tais princípios de funcionamento da Natureza vão se
expressar em contextos de tamanho, domínio próprio, funções e/ou processos, taxas próprias de
energia dos processos, tendências a respostas específicas ante o stress e as diversas configurações
sistêmicas específicas. Assim, dois imperativos são comuns à Ética e à ciência, a saber, a busca
e o reconhecimento dos invariantes. Dessa forma ética e ciência podem caminhar juntas,
distintamente da concepção moderna que pretendia uma pseudo-neutralidade do projeto da
ciência face “a subjetividade da ética”. Ora, tal neutralidade baseava-se justo na subjetividade de
que a Natureza não tem valores, melhor dito, que não permite fundamentar uma abordagem de
valores, justo porque se entende que valor é uma coisa específica e restrita ao campo da moral.
No entanto definimos valor como:

 As referências relacionais tomadas como verdades ou também como absolutos, que mantêm
sistemas sociais em coesão, fundando-se seja em instâncias tanto bióticas quanto em instâncias
comportamentais socialmente convencionadas, bem como em funções transcendentes e
transpessoais”.
(Princípio 1).
Se a instância biótica tem algum fundamento para estabelecer valor esse só pode ser de natureza
ontológica, isto é, denota e aponta para a sustentação orgânica e sistêmica aos níveis da
permanência das estruturas e da manutenção das funções vitais dos indivíduos e dos ecossistemas,
de que o homem tanto depende e faz parte.

De outra forma, se valores fossem somente sociais e comportamentais, implicando as relações


dos homens entre si, dado que os Si-mesmo dos homens (em preferência ao selbst alemão e ao
self do inglês, termo cheio de complexas conotações) (Martins Jr., 2004) é biótico em sua base
material, mutatis mutandis, o comportamento do homem deve ser, por razão ôntica, preservador
das estruturas e funções da Natureza em geral, portanto, de sua própria natureza.

Eis aí, como o argumento pode se entrelaçar, estabelecendo as bases ônticas e psico-
comportamentais. Desta forma qualquer argumentação restringindo a ética tão somente às
relações entre-humanos perde sua força, logo a expansão aos ecossistemas se faz não somente
possível como imperiosa. Assim, Natureza e cultura se entrelaçarão nessa perspectiva
paradigmática na qual a ciência será preservada em sua neutralidade possível, mas não se
ideologizando essa neutralidade, e ao mesmo tempo colocando-se o pesquisador ante a questão e
o uso dos resultados da ciência e da tecnologia sob uma Ética geral humanitária e global
planetária.

VALORES SOCIAIS e NATUREZA  A PONTE e como ATRAVESSÁ-LA

Muitos questionam que não existem valores na Natureza, que esta é amoral e que qualquer
trabalho com a mãe Natureza deva ser dirigido pela intenção humana de uso de seus recursos,
exclusivamente. Quais seriam, portanto alguns dos critérios para se estabelecer relações de valor
dos homens para com a Natureza, e de como se extrair dessas, as bases para uma teoria de valores
naturais?

Uma ponte parecer ser indicada por Dooyeweerd (op.cit.) com os conceitos de antecipação e
retrocipação no seio do processo analítico, em especial para o pensamento analógico. Em
particular, aponta-se para as várias relações de interdependência entre as diversas modalidades
de manifestação do cosmos.

A questão da retrocipação e da antecipação sob a perspectiva ontológica dá bases notáveis para


se explicitar valores na Natureza sob diversos aspectos: [1] utilitário, [2] simbólico, [3] religioso,
[4] social, [5] de sobrevivência, [6] econômico financeiro, [7] ecológico-econômico e [8] de
afetos. Esses oito aspectos são intrinsecamente humanos, e situam com precisão o quanto o
Homem é dependente da Natureza, e assim permitem transitar das qualidades [qualia] naturais
para o mundo das relações. Tal trânsito é sempre possível porque existem relações de antecipação
entre os objetos da Natureza, que guardam propriedades tais que podem representar
antecipadamente a possibilidade de trânsito de um aspecto da relação natural para o campo da
complexidade social.

A antecipação é uma forma de se ver o mais simples suportando o mais complexo e de se ver o
mais complexo apoiado no mais simples, embora mantenham distinção de seus modos de ser.

Os valores humanos, embora sejam construtos das relações sociais, baseiam-se nas relações de
trocas entre humanos, quando estes reclamam a si os bens materiais e atribui-se-lhes algum valor.
A noção de antecipação advém do fato de que em Modalidades da Existência como “a Física e a
Biótica”, por exemplo, são essas mais anteriores ou básicas na sequência de complexidade entre
as várias Modalidades de manifestação do cosmos como, por exemplo, a Social e a Econômica.

Então, entre as Modalidades Física e Biótica, uma estrutura ou mesmo algumas funções são
antecipadoras de funções mais complexas, que surgiriam mais tarde no processo evolutivo. A
função antecipadora é menos complexa, menos operacional, mas é a base mesma para as funções
mais complexas de novas ordens emergentes no tempo evolutivo. Não são funções idênticas, mas
são equivalentes em cada Modalidade e eventualmente aquela função na Modalidade anterior é a
que possa ter evoluído para a equivalente em outra Modalidade posterior, mas essa possibilidade
não é uma certeza, mas percebe-se equivalência. Há certo aspectos que são diretamente mais
interligados na evolução.

Do ponto de vista tanto do Ser quanto do pensamento sobre o Ser, pode-se dizer que, por exemplo,
a irritabilidade antecipa sistemas sensoriais mais complexos em seres mais altos na escala
taxonômica. Em contrapartida a retrocipação permite olhar-se de uma função mais complexa a
outra menos complexa equivalente, e assim se estabelecer as relações de fundamentação de uma
função, ou mesmo de uma estrutura, sobre outra que lhe antecede, seja na própria ontogênese seja
na filogênese. Esses conceitos de antecipação e retrocipação de Dooyeweerd passam, por
exemplo, na sustentação da noção de recapitulação da filogênese na ontogênese.

Por vezes o valor natural, isto é, a qualidade [qualia] é tão explícito que tem valor pecuniário
imediato; por vezes o valor está totalmente no campo simbólico, o que não tem significado
universal entre as várias culturas, mas que é não menos apreensível por qualquer homem de
qualquer cultura, quando entra em contacto com outra cultura diferente da sua.

É fácil compreender-se o valor do ouro, da sílica e do diamante. A Natureza, por propriedades


antecipativas, mais precisamente por uma que é a alta estabilidade química derivada da
capacidade calorífica, determinável por uma lei de Einstein, permite que esses elementos e
substâncias tenham alta estabilidade em vários ambientes. Isto lhes confere valores de referência
não somente para uma referência econômica, como no caso do ouro como base de sustentação da
moeda, mas como no caso da sílica que permite alta tecnologia em telecomunicações e
informática. Essa percepção tão realista de valor que possuímos funda-se na própria natureza
dessas coisas e estende-se sobre a sociedade e sua economia física e financeira.

Valor na Natureza não tem o mesmo status de valor na sociedade humana, por certo! É uma
situação antecipativa aos valores sociais. Assim galhos secos que podem ser objetos para um
pássaro fazer seu ninho (Dooyeweerd, 1958) apresentam-se de modo antecipativo e simples como
 o pré-sentido de valor utilitário para uma espécie não-racional que goza de “certa inteligência”
para criar um significado ou relação nova para um tipo de objeto [os galhos secos] que foram
elementos bióticos vivos, portanto partes de um sujeito biótico no sentido da Teoria das
Modalidades Cósmicas de Dooyeweerd (1958). Os galhos são transformados como objetos
bióticos utilitários pela espécie de pássaro. O sentido de valor é assim “antecipado na Modalidade
biótica” com o pássaro, embora esse valor seja em seu próprio significado intrínseco ‘muito tosco’
em relação a um valor qualquer entre-humanos, mas valor assim mesmo.

Os conceitos de antecipação e de retrocipação subsidia-nos com uma ponte entre os valores


próprios antecipativos na Natureza, e os valores enquanto construtos próprios ao homem. De um
mesmo modo pode-se reconhecer que a cadeia trófica, em qualquer ecossistema tem o seu valor
que se desdobra para cada espécie e fecha a clave sistêmica para a totalidade do dito sistema,
permitindo assim a sua manutenção dinâmica, isto é, sua própria existência. Portanto, pode-se
dizer que existe um valor natural ontológico reconhecível por nós humanos com nossa função
lógico-analítica, que é intrínseco aos ecossistemas e aos seres não racionais, portanto
independente de nosso querer – cabe-nos reconhecer apenas.

Mesmo em nível simbólico é possível encontrar-se no mundo animal aspectos de valor


antecipativo. Entre algumas aves ocorre o macho servir-se de objetos coloridos e brilhantes
coletados “escolhidamente” para fazer um corredor que termina em um ninho que serve para atrair
as fêmeas. Obviamente, os objetos são usados de “um modo simbólico antecipativo”, porque
estimulam os sentidos da fêmea no período da reprodução, e assim a função biótica é cumprida
pelo viés de “um proto-símbolo antecipativo” aos símbolos humanos (talvez seja melhor a ideia
de proto-signos). Ou seja, no mundo dito natural já se percebe que existem proto-símbolos ou
proto-signos que por quaisquer meios de sensibilização de uma dada espécie são utilizáveis para
uma função de acasalamento. Não parece tão distante do comportamento humano.

Nos povos animistas a Natureza é dotada de espíritos, isto é, a função profunda da psique que
trata da unidade entre-homens e entre esses e a Natureza, isto é, com o próprio numinoso natural,
já está apropriada na própria Natureza. As forças das relações percebidas o são como espíritos, o
que é um mundo de energia e de significados percebidos nas relações de interdependência entre
os seres vivos e o substrato, tanto quanto com a atmosfera. A lembrar que alma é pneuma em
grego, isto é, ligada ao ar, bem como em sânscrito é atma, que é a comum raiz hindo-européia
para atmosfera.

O valor não é assim um atributo arbitrado discriminatoriamente pelo Homem. Um estágio


primário de valor se insere nos campos de relações pré-humanas. O próprio homem veio se
hominizando e humanizando ao longo do tempo e, portanto, podendo fazer evoluir o sentido
semiótico e simbólico dos valores antecipativos do campo etiológico animal, que aparecem
mesmo em espécies inferiores, de especial interesse os primatas e os hominídeos. Tal coisa se dá
porque valor, enquanto um atributo de relações sociais, só ocorre no contexto de relações com
coisas materiais, ainda que em alguns casos as instâncias mais propriamente psíquicas sejam as
dominantes. Em suma, o humano não é tão distante do animal como muitos pensam, ainda que
distante.

Assim, o valor se apresenta como dois campos de relações próprias com as coisas naturais  o
campo antecipativo e o campo social retrocipativo sobre a Natureza. Em ambos os campos as
relações são de dependência e de interdependência de quaisquer tipos e de quaisquer intensidades
que sejam.

Assim, a máxima da Filosofia Cosmonômica de que  a Realidade é significado  passa a ser


clareada pela avaliação das antecipações acima consideradas. Significado quer traduzir que todas
as coisas só existem e se identificam umas em relação às outras, ainda que estas relações sejam
tão remotas quanto algo que tenha se originado num passado longínquo da história do Cosmos e
da Terra.
Nota-se que H. Dooyeweerd, quando inquiriu sobre a coerência do mundo real e descobriu os
conceitos de antecipação e de retrocipação, o fez tendo perfeitamente claro o processo cognitivo
analítico e as relações intermodais entre diversos processos da Modalidade lógico-analítica,
própria unicamente do humano, e as outras Modalidades que são não-analíticas. Estendemos esse
conceito também a um modo ontológico (Martins Jr, 2000), visando justamente apreendê-lo sob
a óptica da interdependência na Natureza, sendo a própria Natureza a doadora do ‘primordial
sentido de justo valor’. Nesses casos, a relação primeva de valor indica a própria possibilidade de
manutenção das relações ecossistêmicas, logo de manutenção dos seres  portanto, ôntica e
lógico-analítica ao mesmo tempo no que nos diz respeito.

No que diz respeito a uma antecipação do sentido de valor no mundo inorgânico sub-atômico
poder-se-á, tão aparentemente longínquas que pareçam ser, ainda evocar as relações de não-
localidade como um exemplo e fenômeno notável. Isto não é forçar nenhum sentido esdrúxulo à
Natureza, mas assumir o próprio conceito de antecipação. Para tal pode-se assentar as
argumentações, a seguir apresentadas, em cima do conceito de antecipação.

Sob a perspectiva da Modalidade espacial (Dooyeweerd, 1958), ao se inquirir sob a possibilidade


de alguma antecipação do conceito de valor nesta modalidade, pôde reconhecer que nessa
Modalidade o valor só pode ser dado por um sentido dominante de conexão no espaço, estando
as partes imediatamente ligadas ou não.

No caso das dimensões quânticas basta terem estado ligadas duas partículas uma única vez para
que respondam instantaneamente a estímulos de modo idêntico, a não importa qual distância e
qual velocidade uma esteja se afastando da outra, isto é, a interação entre as mesmas é instantânea,
ou não-local. Assim se pode descrever a condição de não-localidade dos fenômenos quânticos em
contrapartida à localidade da modalidade espacial, isto é, no espaço extensão, do senso comum.
Esse fenômeno denominado EPR de Einstein-Podolsky-Rosen foi demonstrado empiricamente
por Alain Aspect et al.

As partículas subatômicas, de modo geral comportam-se de modo clássico no que diz respeito a
todas as suas propriedades físicas (exceção dos neutrinos). Com a propriedade do spin os eléctrons
se comportam como se um fator de coesão espaço-comportamental existisse, não importa se a
grandes distâncias e a grandes velocidades de separação entre os dois eléctrons, que alguma vez
estiveram em interação.

O efeito de não-localidade permite que um evento que aconteça com uma partícula seja imediata
e instantaneamente absorvido e respondido pela outra, desde que já tenham estado em contacto.
Assim os spins se ajustam com sinais contrários a grandes distâncias. Isto é um valor de relação
essencial em uma série de fenômenos no cosmos, e em especial para a existência da consciência
que parece ter propriedades não-locais.

A consciência parece ser um dado fundamental do cosmos (Clarke, 1995). A não-localidade é


reconhecível pelo experimento EPR [Einstein, Podolski e Rosen] no qual se elabora uma operação
para medir variáveis complementares de um sistema. Esses três autores escolheram originalmente
a posição e o momentum.

Em experimentos mais recentes utilizou-se o spin de eléctrons que ocupam dois estados Sz = ±(h/
2), onde h é a constante de Planck. Assim se Sz do primeiro eléctron for +(h/ 2) o valor de Sz do
segundo será -(h/ 2). Tal coisa é possível porque pelo “Princípio de incerteza” de Planck é possível
medir-se simultânea e precisamente ST (S total) do sistema dos dois eléctrons, e alternativamente
ou Sz ou Sx, onde Sx é o componente do spin na direção x (Barrow & Tipler, 1985). A ideia é de
que, se se medir Sz ou Sx seja do eléctron ⊕1 ou do eléctron ⊕2 alternadamente, saber-se-á o valor
do outro, porque o ST (S total) permanece constante. Isto se dá de modo alternativo, isto é, quando
se obtém um resultado positivo, para um, o outro será negativo e vice-versa. Tal coisa é verdade
a não importa qual distância os dois eléctrons estejam entre si, mesmo a distâncias astronômicas
(Barrow & Tipler, 1985).

Ora, Einstein não queria admitir que ao medir-se a propriedade, seja do e- ⊕1, ou a do e-⊕2
possam emergir as propriedades do outro eléctron não-medido. O experimento EPR demonstra
que ocorre a interferência recíproca, isto é, contrariando o senso comum, o eléctron medido
permite emergir as propriedades do eléctron não-medido. Isto pode significar que a informação
entre os dois tenha caminhado a velocidade instantânea, portanto maior do que a velocidade da
luz já que existe instantaneidade de comunicação entre as duas partículas. Isto é o efeito de não-
localidade confirmado por J.S. Bell (1964, apud Barrow & Tipler, 1985). Tal efeito demonstra
que a relação - sujeito / objeto da Física clássica, descrita pelo “Princípio de neutralidade” de
Descartes, não atua no mundo das partículas fundamentais.

A denominada interpretação de Copenhagen de Niels Bohr estava certa, a saber,  um


observador que interfira na medida das propriedades de um eléctron faz aparecer as propriedades
do outro eléctron-par, mesmo à distância. Parece que isto seja um fato que não esbarre na escala
racional de incerteza, assim denominada por Myron Tribus. Dessa forma o sujeito medidor
interfere na medição e traz à luz do dia a expressão das propriedades do objeto medido e daquele
que foi não-medido, mas que fora uma vez associado ao objeto medido.

O efeito EPR apresenta-se como a mais radical subversão dos valores da ciência moderna e
introduz o mundo da complexidade como visto pela ciência contemporânea. Parece que tal fato
ainda não foi devidamente aproveitado e explorado em outros setores do conhecimento.
Estabelece de algum modo que o sujeito e sua atuação no cosmos determinam algumas
propriedades do cosmos.

O assunto é polêmico e alguns autores dariam outra interpretação, mas uma coisa é sabida, o
efeito EPR não é apenas um construto teórico, é evidenciado experimentalmente. Esta é, a nosso
entender, a mais primária antecipação, própria das “Modalidades espacial, cinemática e física”
(Dooyeweerd, idem) (Tabela 1.1). Pode, portanto, assentar no mundo natural, o sentido de valor
que emergirá nos fenômenos mais complexos das “Modalidades social, estética, econômica,
histórica, ética jurídica e pística” e que funda, assim, a relação de inserção da Ética na Natureza
e não simplesmente como um negócio entre humanos.

É fato que o conceito de valor é social, isto é, está inserido e é criado num corpo social. Pode
assim ser percebido como traduzindo uma relação de significado no qual o núcleo significante de
Valor se funda na relação de “interdependência entre os seres humanos”. Por extensão, sobre as
bases do Princípio de antecipação, tomado pelos aspectos ontológico e cognitivo-lógico, o núcleo
significante de Valor será também válido entre os homens e os outros seres não-humanos, bem
como entre o homem e o mundo inorgânico.

Assim, pode-se fundar o conceito de valor sobre bases naturais em perfeita consonância com os
conceitos lógico-cognitivos como tratados por Dooyeweerd (1953). Fundar o conceito de valor
ético em bases naturais é a nosso entender explicitar a responsabilidade humana, por um lado, e
por outro indicar que independente de um acordo social a Natureza pode, como que, reclamar seus
direitos, direitos estes que denominaremos doravante de direito à existência pelo simples fato de
existir.

O efeito EPR é um indicador inconteste de que o ser humano como observador determina e
interage com o observado criando realidade. Este é por certo um conceito que ultrapassa toda a
concepção clássica da Modernidade e dá as bases para reintroduzir a responsabilidade humana
enquanto cidadão e como parte da Natureza, isto é, uma cidadania que é parte da Natureza. 
Paradoxo?!

Assim, esse Princípio de Inserção da Ética na Natureza, sobre o qual nos interrogamos, se funda
também na própria condição de manutenção do sistema social, portanto, da espécie humana. Não
é uma argumentação antropocêntrica, isto é, voltada para os interesses humanos exclusivos, mas
é uma argumentação que estabelece e reconhece que na Natureza existem dimensões de relação
de dependência e interdependência de carácter ontológico, independentes da vontade do
observador humano, e às quais, esse observador deve respeitar se quiser vir a continuar a ser
observador em gerações vindouras. O observador-interventor é inseparável da realidade, criando-
a segundo sua visada-intervenção. Isto deve ser entendido como cada vez mais consequente, tanto
mais quanto se progrida na observação das Modalidades cósmicas, das mais básicas às mais
complexas (Tabela 1.1).

Tabela 1.1 – As Modalidades cósmicas são reconhecidas não apenas como um construto lógico,
mas como aspectos fundamentais da Realidade empírica do Cosmos. Nesse sentido cada
Modalidade é reconhecida como irredutível a qualquer outra, tanto pelos aspectos dos
sujeitos e dos objetos que as constituem como também pelos processos.
ASPECTOS MODAIS ou NÚCLEOS-SIGNIFICANTES ou
MODALIDADES PRINCÍPIOS
1. numérica quantidade discreta (números)
2. especial extensão contínua
3. cinemática movimento
4. física energia e matéria
5. biótica vitalidade (vida)
6. sensitiva (psíquica) sentir / sentimento
7. lógica (analítica) distinção
8. histórica poder formativo da cultura
9. lingüística significado simbólico
10. social intercurso social
11. econômica frugalidade em gerenciar recursos
escassos, ou poupança
12. estética harmonia
13. jurídica justa retribuição
14. moral amor nas relações temporais
15. pística fé, firme segurança, firmeza, (*)
confiança intrínseca (*) por
interpretação desse autor.

As antecipações, tanto ontológicas quanto lógico-analíticas, permitem assim estabelecer-se as


‘Leis de coesão da Natureza’, tanto inorgânica quanto orgânica, com o mundo psico-social, moral,
estético e jurídico-político. Essas leis partem da Lógica natural e não primeiramente de algumas
das lógicas intrínsecas à associatividade humana. Uma lógica natural pode ser uma descoberta
humana tanto quanto uma lógica de associatividade entre outras.

Algumas observações quanto à questão da consciência (Clarke, 1995; Seager, 1995) se fazem
pertinentes. Considerando-se o campo dos fenômenos quânticos pode-se considerar que o campo
dos fenômenos de matéria e o campo qualificável, como o Newtoniano, sejam colapsos do campo
quântico, e não vice-versa. Tal posição vem em concurso à ideia de que a consciência seja
primeira um dado fundamental da Natureza e seja não-local.

Clarke (op. cit.) considerou que neste sentido a consciência extrapola o crânio e estende-se para
todos os lados ou sistemas em que esteja em interação, ou com o qual tenha estado em interação,
sendo que sistema é tudo aquilo que está em interação. Neste sentido retorna-se ao argumento de
Dooyeweerd de que a Realidade é significado, isto é, todas as coisas que existem, existem em
relação umas com as outras, e só assim podem ser percebidas e se dão significados
reciprocamente. Isto é, significado ontológico tanto quanto lógico em nosso entender.

Assim, para a pergunta se podemos exterminar com tal espécie e/ou com tais espécies, ou o quanto
será possível destruir ou transformar-se um ecossistema específico, o quanto é tolerável que o
direito ao uso da propriedade ultrapasse os limites toleráveis de intervenção naquele pedaço da
Natureza  existe resposta.

A resposta óbvia é de que, a partir daqueles argumentos fundadores, deve-se buscar mediante
judicioso estudo da Natureza, de suas leis, processos, taxas de troca de energia / massa /
informação e de suas configurações sistêmicas, os indicadores de limites e de estilos para a ação
e interação humanas de modo a manter a unidade e a coesão dos sistemas naturais e da própria
vida do homem. Desse modo pode-se estabelecer limites para o Homem e determinar-se um
caminho para a continuidade do processo de humanização.

Da ÉTICA à ECONOMIA

Quais alguns princípios básicos que estabeleceriam, portanto, ligação consistente entre Ecologia,
Energia, Economia e Ética? Por certo que:

 as leis naturais primariamente, o reconhecimento de valor e do direito antecipativo próprio à


integridade dos ecossistemas, bem como a adequada valoração das relações de produção,
enquanto transformação de energia, matéria e informação, quando os recursos são extraídos da
Natureza.

Observemos que não há sentido do Homem fora da Natureza, e a rigor o Homem é Natureza, e
no intrínseco de sua Humanidade ultrapassa a Natureza, paradoxalmente continuando como parte
da Natureza.

Inclui-se nesses o caso dos recursos renováveis e dos não-renováveis, ou ainda aqueles em
estágios avançados de produção cultural, como é o caso da produção virtual. Este é o trajeto para
se discutir a questão crucial das relações de Ética, Ecologia e Economia.

O outro eixo da discussão sobre Ética, Ecologia e Economia diz respeito à circulação da riqueza,
sua poupança e distribuição entre todos os homens, considerando-se essencial nessa discussão
uma premissa fundamental pelo menos para os homens, as sociedades industrializadas e também
as sociedades ainda em fases pré-industriais fortemente rurais (as sociedades tribais têm outra
perspectiva organizacional com equivalentes antecipativos da fase de evolução transpessoal da
consciência coletiva em que esteja existindo):

 Todo ser humano tem por direito fundamental tornar-se participante efetivo como cidadão(a)
do corpo social, integrando-se como agente econômico responsável em qualquer escala da
sociedade, e com direito a sustentação mínima necessária em casos de defeitos da ordem social
e de crises maiores.
(Princípio 2)
O Quadro 1.1 apresenta uma série de assertivas obedecendo à lógica  lei natural, dever técnico
e condicional antecedente, baseadas em Rolston (1989) e modificado segundo a lógica de
argumentação que se desenvolve neste estudo com o apoio da Idéia Cosmonômica (Dooyeweerd,
op.cit.). No Quadro 1.1 se estabelecem relações seqüenciais justas e equilibradas nas quais as
relações naturais e antropológicas se fazem perceber ajustáveis, coerentes, co-evolutivas e
consistentes, sendo possível equilibrar as exigências de umas com as outras instâncias  natural,
ética e economicamente.

Quadro 1.1 – Relações lógicas das interrelações entre Lei natural, Dever ético e Opções
antecedentes de sustentação da realidade com algumas modificações a Rolston (1989).

Nível próprio de relação deontológica:


Se opcional,
Lei natural Dever técnico
antecedente
As leis naturais de ecossistemas Não se deve quebrar as relações que Se se quizer mantê-lo
descrevem seus funcionamentos sustentam qualquer sistema operante

Nível prévio de relação ética:


Bases do valor
Dever moral próximo Relações com a lei natural
moral
Para se manter uma dada ordem, Porque as leis de relação descrevem as Deve-se tomar a lei
não se deve quebrar as suas leis de condições de existência sine qua non natural como valor de
relação dessa ordem referência de relação
social com a Natureza

Nível lógico-ético:
Dever moral
Dever moral Relação com o ecossistema
conseqüente
Se o homem quer
manter sua vida deve
É dever do homem deixar ser tudo conseqüentemente
Porque o ecossistema ou mantém o seu
aquilo que o deixa ser, i.e., a manter os eco-sistemas,
processo de reciclagem ou então morrerá
Natureza e seus ecossistemas estabelecendo suas leis
sociais em consonância
com as leis naturais

Nível lógico, econômico e ético:


Dever lógico-econômico Relação ecológico-
Relação ética prévia
prévio econômica
As relações econômicas devem A relação correta
respeitar seu princípio fundamental respeita a condição de
de frugalidade em gerenciar As relações ético-econômicas devem máxima coerência
recursos escassos, ainda com seguir o duplo princípio da parcimonia e ontológica
posterior poupança do superávit do da justa retribuição como conceitos de compatibilizada e
trabalho direito natural e social compartilhada entre os
dois sistemas natural e
sócio-econômico.

Rolston (1989, p.17) declarou que:  “The claim that morality is a derivative of the holistic
character of the ecossystem proves more radical, for the ecological perspective penetrates not
only the secondary but also the primaries qualities of the ethic. It is ecological in substance, not
merely in accident; it is ecological per se, not just consequentially”.
A conclusão de Rolston (1989) aparece como integralmente consequente com a argumentação de
que a Realidade é significado. Neste caso o esforço pelo entendimento do sentido de Ética
deveria, portanto lançar suas próprias raízes nas bases ecossistêmicas (Realidade). Pode-se assim
sugerir um terceiro princípio a nos autorregular:

 Por reconhecermos a realidade sistêmica encontramos bases para relações éticas fundadas na
realidade dos seres e na manutenção dos processos mais fundamentais que sustentam a
totalidade da existência.

(Princípio 3)
Por outro lado, os ecossistemas devem ser reconhecidos como de carácter tão abrangente quanto
holístico para prefigurar a necessidade imperiosa de uma ética de conduta científico-econômica
no trato com a Natureza, enquanto fonte de recursos e fonte da própria vida. Dessa forma fecha-
se uma clave cíclica que reitera as respostas às perguntas sobre os limites da interação entre os
humanos e a Natureza, enquanto fonte de recursos  a lei natural e a lei social compatibilizadas
segundo os princípios de frugalidade, parcimonia, justa retribuição, poupança e imitatio naturae
(imitação da Natureza).

DENSIDADE POPULACIONAL e PRESSÃO sobre os ECOSSISTEMAS

Deve, contudo, ficar claro que para que os princípios que conduzem às – frugalidade, parcimonia,
justa retribuição e poupança - sejam atendidos, a comunidade humana deve por sua vez
administrar-se em consequência de sua capacidade de exercer auto-controle do ponto de vista
biológico. Assim a reprodução humana necessita ser controlada ao limite de sustentabilidade da
organização social e desta com os ecossistemas. Eventualmente, a humanidade poderia ir
crescendo em número, desde que soubesse gerenciar seus ecossistemas e ser possível receber os
nascituros.

O controle de natalidade deve ser pensado e praticado, buscando-se atingir uma homeostase entre
as duas potencialidades, tanto a da sociedade quanto a dos sistemas naturais, nos quais aquela
sociedade está inserida. A primeira instância dá conta da possibilidade do homem criar novas
fases de homeostase, mas a segunda fornece a condição limítrofe da qual não convém uma
sociedade ultrapassar, ao custo de vir a sofrer os efeitos da cega seleção natural e cultural por não
menos {fome, peste, sede, violência, devastação dos ambientes naturais etc.}. Pode-se estabelecer
uma relação de valor nada trivial, porque complexa entre população e ecologia / economia com
um enunciado de um princípio como:

 A população para ser condizente com sua economia interna, com sua economia cultural e com
sua economia ecossistêmica deve oscilar entre termos de valores absolutos no tempo, tais que
as três relações de sustentação sejam ao mesmo tempo reciprocamente homeostáticas para os
sistemas social, econômicos e ecológicos.

(Princípio 4)
É uma declaração axial de valor e ao mesmo tempo um princípio com o qual pode-se trabalhar
qualquer tipo de projeto de governo e de discussão sobre a auto- regulação social tanto do ponto
de vista político quanto educacional. O conceito de homeostase assegura a largura em que esse
processo possa se estender dado que as formas de produção, alterando-se para maior virtualidade,
com altos acréscimos de ordenamento e informação, aumentam os graus de liberdade de eventuais
crescimentos populacionais, salvaguardado o Princípio 4.
INSTRUMENTOS CONCEITUAIS para a PRÁTICA do TETRANÔMIO
ECOLOGIA-ENERGIA-ECONOMIA-ÉTICA

Toda visão econômica não escapa do sentido último que um autor e/ou uma cultura atribuam a
sua posição no mundo ou sua weltanschaung (o termo mundi-visão, passa a ser doravante
utilizado neste texto em lugar de weltanschaung). Em assim sendo, essa assertiva é um ponto de
partida para se assumir uma mundivisão com a qual operar em estudos de ética-ecologia-energia-
economia.

Pode ocorrer a um leitor que qualquer mundivisão econômica seja necessariamente arbitrária, o
que em nosso entender não é um fato a priori. Se existe arbitrariedade ela aparecerá em escolhas
e modos de justificar em como deve o sistema econômico ser encarado. Tal coisa é notável no
sentido da ideia sobre mercado. “O Mercado” parece, ele mesmo, ser entendido quase que como
uma “entidade inteligente, auto-reguladora”, ocupada de fazer “o que é certo”  porque é óbvio
no discurso neo-liberal, que, o que “O Mercado” faz  é o que é - portanto é o que pode ser feito,
é um dado com o que se lidar e sobre o qual se deve correr atrás. Isso é um discurso óbvio e a
midia o pratica sem nenhum pudor. Não é assim, todavia, o espírito científico e filosófico que nos
deve guiar.

O esboço de alguns instrumentos conceituais ético-energético-ecológico-econômicos, que aqui se


busca elaborar, parte de alguns pontos de vista que são defensáveis nos âmbitos das ciências
naturais, de uma lógica para uma referência ética consequente e de uma teoria econômica
conveniente, que seja também matematicamente defensável, bem como de uma lógica maior de
convívio-em-dignidade entre os humanos.

Os enfoques que acima se vinham desenvolvendo tiveram, ao final das contas, o objetivo de se
mostrar que se pode pensar um projeto ético fundado e inserido na própria fenomenologia da
Natureza, o que seria um bom sinal que nos permitirá fugir de qualquer convenção arbitrária.

Assumamos que a verdade é um compromisso que se deve ter enquanto filósofo, ou cientista ou
político, embora “a razão” desse último tenha peculiaridades próprias. Escapar do erro e do auto-
engano é um pré-requisito sério para se fazer Filosofia e Ciência. Traduzir um pensamento
econômico não é tão somente estabelecer um método para se discutir sobre “o que aí está”, porque
“o que aí está”, não está por uma obra da Natureza, não é um dado inevitável, mas é em todos os
aspectos um construto humano.

Os critérios para qualquer uma teoria econômica devem ser baseados em diversos aspectos de
como os sistemas econômicos tendem a propriamente a evoluir seja com intervenção ou sem
intervenção do Estado, dado que todo sistema econômico é necessariamente um sistema sob
intervenção de agentes econômicos, que detêm maior ou menor margem de poder de intervenção.
Por intervenção aqui se entende qualquer ação do agente-econômico seja ela individual ou
coletiva, seja ela um movimento espontâneo seja um movimento de grupos oligárquicos, seja a
intervenção de um governo, sejam intervenções racionais, sejam intervenções sem razão aparente
ou mesmo “causadas por momentâneo pânico coletivo”.

Existem critérios de entendimento de como ao mesmo tempo se espera que os agentes econômicos
hajam de modos consistentes, isto é, sem que venham a desencarrilhar todos os sistemas. Situando
a relação complexa entre a liberdade relativa dos agentes econômicos e a liberdade de ação
também relativa dos governos, como parte da função única do Estado, esta deve regular as ações
do campo econômico, para que haja uma boa andança dessas mesmas atividades econômicas em
geral. No sentido acima parte-se de um a priori que pode ser defendido, obviamente, desde um
ponto de vista da observação filosófica:

 Não é possível pensar-se e nem existe qualquer sistema econômico que não seja intimamente
correlato e coextensivo com outros sistemas sejam éticos, jurídicos, científicos, tecnológicos,
sociais e históricos.
(Princípio 5)
Em assim sendo, temos também por princípio, que os agentes públicos devam ocupar duas
posições éticas e políticas importantes em face ao sistema econômico:

[1] como agentes reguladores, de modo a não permitir que o sistema evolua de modo antinômico
e,

[2] como fomentadores de oportunidades tanto para os agentes que já detêm poder econômico
como para os agentes marginais que precisam ser inseridos como agentes de fato.

(Princípio 6)
Estes dois princípios parecem ser não-intervencionistas e nem com os defeitos dos princípios
neoliberais, sendo ambos amplos, mas não vagos. Assim pode-se trabalhar com os mesmos como
fatores normativos para a pesquisa e desenvolvimento de um pensamento ético, ecológico e
econômico.

Um aspecto complementar importante é o de que o pensamento econômico renovador deva ser


aberto a todas as correntes de pensamento dentro da própria ciência econômica, tirando delas com
clara distinção: 
[1] as descobertas,
[2] as premissas de cada teoria a serem aceitas e/ou a serem rejeitadas,
[3] as próprias teorias,
[4] a epistemologia de cada teoria,
[5] uma epistemologia crítica (que é a aplicação de um estudo epistemológico crítico à produção
científica),
[6] uma epistemologia que coloque cada teoria em seu lugar relativo,
[7] os seus métodos,
[8] uma metodologia crítica,
[9] os modelos matemáticos que já sabidamente descrevam realidades dinâmicas dos processos
econômicos e
[10] toda uma metodologia de integração interdisciplinar, já eventualmente existente para
economia, ecologia, termodinâmica, ética, desenvolvimento eco-sustentável, regulação (métodos
e agentes), políticas de fomento, políticas de inclusão social, políticas de inclusão econômica,
adequação jurídica e outros fatores que permitam desenvolver uma sociedade mais justa para com
o coletivo e necessariamente sustentável ecologicamente.

Na discussão desses instrumentos conceituais éticos, ecológico, econômicos podemos de abordar,


por exemplo, a questão da gestão de bacia hidrográfica: 

[1] com a conservação de recursos hídricos,


[2] com as atividades agrícolas,
[3] as questões de ordenamento do território,
[4] a conservação dos ecossistemas,
[5] a proteção de zonas de recarga de aquíferos e outros corpos d’água importantes,
[6] o planejamento dos projetos agrícolas e florestais,
[7] os projetos energéticos que entrem em consonância com estritas visões conservacionistas e
econômicas integradas  eis uma perspectiva ética geo-ambiental (CETEC/ FINEP, 2003 a
2005).

PERSPECTIVAS AXIOLÓGICAS para uma ÉTICA AMBIENTAL

Com os princípios acima especificados, que parecem amplos o suficiente para recobrirem o
desafio de uma Ética que se queira consistente com um princípio ontológico básico, deve-se
enunciar ainda:

 Todo sistema vivo tem direito a continuar a viver simplesmente pelo fato de que a vida nos
possui a todos, e a ela devemos o tributo de nos auto-mantermos como ecossistemas e como
espécie integralmente parte da biosfera.

(Princípio 7)
Por uma ARQUITETURA de SABERES

Um primeiro e fundamental saber é que tanto a Natureza quanto as atividades culturais, e entre
elas, as atividades econômicas seguem leis típicas e leis modais (Dooyeweerd, op. cit.). Introduz-
se a noção de lei típica como um conceito para nos servirmos dele ao longo de toda essa proposta
de teorizar sobre alguns dos instrumentos conceituais do tema em questão.

Por lei típica entende-se que: “existem para todos e quaisquer sistemas naturais e culturais - leis,
que são reconhecíveis exclusivamente para ditos sistemas, não permitindo assim que se reduza
um sistema em relação ao outro, como, por exemplo, sendo um sistema apenas o somatório dos
subsistemas que o componham”.

No caso do sistema sócio-econômico suas leis típicas permitem que subsista tanto em auto-
manutenção (stasis) quanto em criação de poupança, de modo que o próprio grupo cultural possa
obter força para a expansão de seu próprio mandato cultural interno, à luz de seus valores já
existentes, ou à luz de novos valores renovadores.

Ora a própria noção de lei se reporta a algo intestino aos sistemas em geral e aos sistemas
econômicos em especial, isto é, algo próprio aos sistemas em seus mais variados níveis de
atualidade e níveis de complexidade, tal que o aumento de organização dos mesmos seja possível,
sem que necessariamente o obrigatório aumento de entropia (do 2º princípio da Termodinâmica)
afete destrutivamente partes do sistema, tanto no espaço interno quanto no espaço da Natureza.
Neste sentido o que se está afirmando é a necessidade de internalizar a Natureza no pensamento
econômico, levando em consideração todo o trajeto da produção cultural:  do meio-ambiente,
à matéria prima, às transformações sequenciadas, aos resíduos ao longo de toda a cadeia
transformativa e à destruição final dos produtos ao fim de um prazo de uso dos mesmos, que é o
prazo dos diferentes tempos de durabilidade.

É sabido que não existe aumento de ordem sem aumento de entropia, e assim um aspecto radical
da produção cultural está em como lidar com a entropia a um modo imitatio naturae. Este é um
aspecto ético radical aqui defendido, e no mais não desconhecido em seus aspectos maiores,
embora pouco praticado. Assim é o que ocorre no mundo contemporâneo, que pese a grande
contribuição normativa das leis das várias nações e da Agenda 21.

Sabido é que toda atividade cultural ocorre com base em produção de troca de energia, massa e
informação. Estas três entidades são intercambiáveis, mas evidentemente não redutíveis uma à
outra. Para a massa e a energia, já bem conhecidas, a transformação se descreve pela lei de
Einstein E = mc2.

A informação é mais perceptível pela formulação da própria teoria da informação de Shannon na


qual a informação aparece como: I = - k ln P no qual P é a probabilidade de um evento. A variação
da entropia de Boltzmann é ∆S = k ln P. São opostas com a entropia no 1º quadrante e a
informação no 4º quadrante (Stonier, 1990).

As duas formulações obviamente indicam que a conversão de informação e da entropia ça va de


soi. Ora esta é a questão essencial da criação, manutenção, renovação e atualização da atividade
econômica. Se por um lado entropia e informação se opõem, mas não se excluem, por outro lado,
dado que as fórmulas são idênticas e de sinais contrários indicam que o processo de acréscimo de
informação forçosamente aumenta e produz entropia no meio-ambiente ou na vizinhança, dado
que isto é também básico pelo 2º princípio da Termodinâmica.

O que parece interessante, todavia, é que enquanto a informação aumenta de um modo logarítmico
a entropia aumenta, mas em uma quase paralela e assíntota ao eixo dos x. Isto indica que a entropia
tende a uma produção constante mesmo quando a informação cresce e passa de um determinado
ponto de inflexão da curva e progride também assintoticamente, segundo (1 - ln y). Esse aspecto
interessa, porque aponta para a possibilidade de que as sociedades possam crescer em ordem, mas
manterem uma produção de entropia constante, sobretudo se a produção mais importante for por
meio de sistemas informacionais, isto é, sistemas organizacionais.

De resto, toda produção de entropia deve ser mediada pelo processo que denominamos imitatio
naturae em virtude mesmo da Natureza, pelo processo da evolução, ter desenvolvido processos
de transformações criando nichos dentro de nichos em que espécies várias executam as tarefas de
fazer de toda entropia  insumos para suas próprias existências. Essa noção permite internalizar
de modo definitivo em todo modelo econômico as relações com a Natureza, e elimina toda
“dicotomia opositiva cultura x Natureza”.

CONCEITOS FUNDAMENTAIS - ARQUITETURA de SABERES


ECOLÓGICOS e ECONÔMICOS

Antinomia – É mister apropriar-nos dessa palavra para se ter um conceito poderoso para todo
esforço de teorização, de planejamento e de avaliação. A palavra é antiga e provém do campo
filosófico (Kant, 1781; Dooyeweerd, 1958). Podemos entendê-la como uma distorção cognitiva,
que por força distorce a própria lógica com suas leis intrínsecas ou à realidade observada. É
também a geração de dois pensamentos que se antagonizam, supondo-se que sejam ao mesmo
tempo válidos. Podemos utilizar a noção de antinomia tanto do ponto de vista da cognição quanto
de um ponto de vista ontológico, e isto é uma tese que defendemos. Assim se for do ponto de
vista da cognição, a antinomia é identificável sempre que se lança o pensamento teórico em algum
tipo de contradição, e se de um ponto de vista ontológico, necessariamente, temos de identificar
que o pensamento conduza a conclusões que podem levar a ações que são contrárias a valores
fundamentais do Homem, da Natureza e da realidade.

Não reconhecemos que existam valores fundamentais do Homem, tão somente porque se criou
um acordo mundial, embora acordos sejam bons e necessários, mas porque se pode comprovar
que existem muitos bons fundamentos na Realidade para que tais acordos existam. Ou seja, deve-
se procurar como os valores se enraízam na Realidade e, bem entendido, em um Princípio de
simetria entre os seres humanos e os outros seres da Natureza, que não é, a primeira vista na
prática histórica, uma coisa evidente para a humanidade.
A opção levantada nessa pesquisa e proposição é de que devemos reconhecer que partimos de
alguns princípios, e que esses princípios, esperamos, suportem resultados desejáveis, mesmo que
vicissitudes conduzam alguns dos esforços por desvios, afastando-nos das intenções e de nossas
previsões. Isto vale para todo e qualquer ser humano, para todo e qualquer teorista, para todo e
qualquer político e cidadão, é parte da existência. Difere essa posição de outra, a neoliberal, cuja
confiança exclusiva no mercado de capitais escamoteia práticas dos fortes agentes econômicos
cujos resultados testemunhamos em tempo atual, a saber,  excessiva concentração de riqueza
nas mãos de poucos e exclusão de expressiva maioria de seres humanos, que não podem, por
quaisquer motivos históricos, ter ingresso a fim de participarem do processo.

Não se nega a possibilidade de auto-regulação legítima dos agentes financeiros e dos agentes de
produção, pois afinal de contas a inteligência é um bem comum e todo sistema complexo pode se
auto-regular, em princípio, o que é uma característica da complexidade. É fato histórico que a
auto-regulação nas bolsas não seja tão notável, a não ser que se considere a especulação como
processo legítimo e as quebras como processos de auto-regulação. Não se deve, por isso deixar
sob total laissez faire a ação dos agentes no mercado. O Estado e governos devem ter meios de
serem agentes indutores e fomentadores de modelos que regulem os agentes e o mercado, em
busca de um contexto de soluções desejáveis para os excluídos, os não-possuidores bem como
para um projeto de desenvolvimento nacional. Isto vale igualmente para as regiões do País dado
que nelas também se estabelecem os programas e projetos.

É ilusório, por outro lado, crer que as regras dos sistemas de tecnologia intensiva sejam
includentes. Não o são por uma impossibilidade histórica, a saber, a humanidade não está toda
ela em um mesmo estágio de evolução transpessoal da consciência coletiva. Imensos grupos
humanos estão em fases arcaicas, o que é plenamente compreensível face às condições ambientais
e formadoras do ego transpessoal (Dooyeweerd, 1958; Neuman, 1973; Wilber, 1977, 1983).

Irredutibilidade – Esta noção é fundamental a toda atividade científica. Nela se situa uma das
bases para o sucesso das pesquisas filosófica e científica, e para as atividades de gestão
econômica. A irredutibilidade é uma característica única de todos os sistemas e Modalidades de
organização do cosmos e das relações humanas (Dooyeweerd, op.cit.) ainda que sistemas de
diferentes elementos e critérios de ordenação tenham propriedades semelhantes, fato esse que
permitiu o desenvolvimento da Teoria Geral de Sistemas de Von Bertallanfy.

Cada Modalidade é em si um micro-cosmos, e nesse sentido suas leis de evolução interna são
irredutíveis, e qualquer tentativa de reduzir um fenômeno a outro coloca o pensamento teórico
em antinomia, em contradição ou mesmo no absurdo. A qualidade de reconhecer que em um dado
modelo não se esteja cometendo reducionismo implica no reconhecimento e respeito às leis que
devem reger todos os sistemas conheçamô-las ainda, ou não tenhamos bases conceituais para vir
a conhecê-las ainda. O fato é que todo sistema evolui no âmbito de leis típicas, e isto permite não
somente se reconhecer as peculiaridades únicas de um sistema, como as possibilidades de inter-
relações e codependências mútuas com outros sistemas.

Irreversibilidades toleráveis – a noção de tolerância a um processo gerador de entropia, e


portanto, de eventual irreversibilidade, advém da total impossibilidade do ser humano agir sobre
a Natureza sem que produza algum tipo de irreversibilidade. A noção de irreversibilidade
tolerável advém de um balanço possível entre as necessidades culturais e as possibilidades da
Natureza, ressalvado que nunca os ecossistemas venham a sofrer em todos os seus processos
condições que os afastem de toda possibilidade de auto-regeneração. A noção de abando de algum
sistema local, coisa comum no Brasil, advém da perda de sustentação de um dado tipo de sistema
local para a produção, como foi o caso da produção de café no Vale do Paraíba do Sul, ou advém
de irreversibilidade total de recomposição no sistema natural que se vinha usando.
Sustentabilidade – Conceito que pode ser explicado como a condição de todas as possibilidades
de exploração dos ecossistemas e/ou de uso e ocupação do território, com ou sem substituição
parcial de espécies e/ou com obras, sem que o ecossistema seja levado a uma condição de
irreversibilidade total. Outra exigência é a de que as irreversibilidades toleráveis não
comprometam as espécies que fazem parte do sistema, deixando espaços de ocupação e de troca
de material genético. Essa definição estabelece uma condição ótima que longe está das condições
reais que hoje se reconhece para os ecossistemas remanescentes, em especial as florestas úmidas
e as savanas.

Mercado – se de um modo um tanto irônico reportamo-nos a “O Mercado” foi no sentido da


quase antropomorfização dessa entidade modal da modalidade econômica (Doyeweerd, op.cit.)
que os representantes políticos, repórteres e agentes econômicos referem-se a ele.

Por certo, o mercado existe, mas não é uma entidade tão coerente, consistente, suficientemente
racional, mas sim um corpo social detentor de muito poder financeiro que decide segundo grupos
fortes de interesse. No seu aspecto saudável a lógica do mercado de capitais existe para dar suporte
à produção e dessa receber parte da mais-valia justamente por tê-la possibilitado progredir.
Todavia, isto não se dá desse modo em nossos tempos atuais. Vale mais a especulação financeira
do que o suporte à produção. Tal constatação conduz-nos necessariamente a perceber que ocorre
uma hipertrofia do valor do mercado de trocas financeiras em relação à produção, ou seja, gera-
se uma antinomia entre o sentido da produção, como meio de sustentação do processo cultural,
substituindo o meio-financeiro como um fim em si mesmo, ou seja, ganhar, lucrar, transacionar
de modo que o lucro advenha do próprio fluxo de capitais – é legítima situação ganhar-se. Isto é
uma antinomia face às leis internas da Modalidade econômica na qual a produção de riqueza se
faz em seu todo a partir de duas fontes – as matérias primas, quaisquer, e a informação como o
conjunto total da inteligência e habilidades humanas que transforma a matéria e lhe dá novos
sentidos.

Embora o fluxo de capitais seja informação não é, ele mesmo, base necessária e suficiente para
sua própria sustentação, como é notório em face da antinomia que surge entre pagar dívidas, que
crescem com uma política de juros altos, e não poder desenvolver um próprio excedente da
produção, para pagar as dívidas e ainda manter a inclusão social. Este é um caso típico de
antinomia cognitiva, ontológica e política, como aqui definimos.

Livre empresa – Esse é um conceito irredutível do sistema econômico. Sua irredutibilidade


pressupõe sociedades simples ou complexas e a forma que possibilita o aumento da complexidade
produtiva pela livre associação, invenção, organização e lançamento dentro do circuito de
produção e comércio. A livre-empresa enquanto tal é toda atividade que permite a auto-
organização ainda que esta seja e deva ser regulada pelos critérios normativos maiores de uma
sociedade.

A livre-empresa não se opõe à empresa pública, porque em primeira instância uma empresa
pública é gerada pela liberdade do agente-econômico – governo – no exercício da função de
Estado que lhe é concedida pelo povo, que por pressuposto é livre. A oposição não aparece entre
empresa estatal e empresa privada, mas na não-regulamentação, ou nos entraves gerados pelo
sistema de administração pública. Os oligopólios e os monopólios, do mesmo modo, são
obstáculos à livre-empresa apesar de terem sido, em dada fase de suas evoluções, também livres
empresas.

Regulação – A regulação é um conceito irredutível retrocipativo analógico à evolução dos


sistemas imunes, em biologia evolutiva. Inegável é que toda sociedade, por aberta que seja,
necessita de regulação de suas atividades econômicas dado que qualquer sistema pode vir a ter
uma evolução antinômica uma evolução contraditória em seu fim, ou uma evolução a partir de
um cenário inicial de antinomia, ou mesmo uma evolução que possui antinomias em seus
processos. Tal fato advém de, em parte os agentes serem pouco perceptivos ao sistema como um
todo.

A regulação é tanto um processo auto-regulatório quanto um processo retro-regulatório em que a


autoridade pública age a favor da manutenção de uma ordem saudável, ou a favor de uma ordem
maior que se queira atingir, ou ainda resolvendo conflitos entre os agentes das várias instâncias
sociais e econômicas. Em todos os casos de auto-regulação e de retro-regulação, ou ainda de
regulação antecipativa e retrocipativa pelo agente público, como para todo sistema regulatório
pressupõe-se que o sistema econômico possa experimentar algum tipo de homeostase.

A regulação é ao mesmo tempo a intenção e o ato para regular segundo uma homeostase desejada
e possível. A regulação é também o reconhecimento de que o sistema não é totalmente auto-
regulável para algum determinado aspecto, e se o for, os agentes mais poderosos podem
desconsiderar necessidades de outras partes do sistema maior, ou poderão produzir
irreversibilidades em quaisquer partes do sistema natural ou do sistema social.

Marcos regulatórios – São conjuntos de normas que permitem que os agentes econômicos atuem
tal que se lhes garanta o sucesso e o respeito de seus direitos como investidores, por um lado, e
ao agente público o seu direito de ser a todo tempo um regulador, inclusive com o direito de mudar
as regras quando a regulação anterior não tiver sido suficientemente larga para abrigar novidades
na evolução do sistema econômico, ou ainda, para mudar, salvaguardando ao máximo direitos já
estabelecidos, conforme a noção de direito se defina dentro do campo jurídico. Ressalva-se ainda
as exceções catastróficas ou de ruptura que possam ocorrer na ordem social.

Poupança – Parte do superávit que um agente econômico e o conjunto de agentes não utilizam
para si mesmos de modo imediato, permitindo um tempo entre a produção do superávit e seu
eventual uso posterior; a poupança é o fundamento para os investimentos que sustentam outros
agentes econômicos que precisam de suporte em face da condição de não possuírem ativos iniciais
ou para expansão.

Internalidade – todo sistema possui por força a sua internalidade no sentido de que seus
subsistemas, que o compõem, permitem a sustentação do sistema maior; os sistemas são
complexos entre os aspectos materiais e virtuais que o compõem, como é no caso do sistema
econômico, não importam em qual grau de complexidade estejam organizados.

A internalidade coloca como condição – que se pense a organização econômica como uma
internalidade à biosfera e às sociedades. Justamente evita-se desse modo pensar em externalidades
a um sistema econômico, por fácil que isso seja para lidar com a organização analítica de um
subsistema, isolando suas variáveis paramétricas, e assim, talvez, seus processos internos serem
mais facilmente reconhecíveis. Considerar um sistema econômico é considerá-lo ao mesmo
tempo tendo suas formas básicas internas de evoluir, tanto quanto sendo influenciado por outros
sistemas, a que necessariamente pertença.

Externalidade – A rigor não existem externalidades, mas para fins práticos, tendo-se a devida
prudência pode-se pensar em externalidades. Assim por externalidade define-se tudo aquilo que
não faz parte intrínseca de um subsistema, mas que é, todavia, parte de um sistema maior que
inclua o dito subsistema, como o econômico, por exemplo. Toda externalidade só o será para um
dado subsistema. Em particular considere-se o sistema econômico total como uma internalidade
ao sistema geral do planeta, das sociedades e das nações. Isto é óbvio.

Análise - Síntese – Qualquer trabalho filosófico e científico para ser possível de ser devidamente
realizado deve partir da análise. Neste sentido a análise obriga a divisão do mundo real em
subsistemas, e em processos, os quais devem então ser objeto de estudo. Em se tratando de estudos
ambientais, sociais e econômicos a noção de análise e a noção de neutralidade da observação,
como Descartes a propôs, não é de fácil tarefa dado que os estudos sociais e econômicos podem,
sobretudo, em propostas de projetos e programas serem viesados por opiniões que são sempre
baseadas em uma mundi-visão específica. Aqui nossa análise parte de uma perspectiva ecológica,
isto é, interpretamos que o Homem é parte do ecossistema e não o reverso, ou que o ecossistema
seja alguma espécie de coisa externa – que está lá.

Partindo-se do princípio de que a atividade econômica está totalmente internalizada nos


ecossistemas, embora distinta desses, reitera-se a importância de se reconhecer teoricamente e na
prática que a Modalidade econômica tenha leis próprias típicas e seja um “mundo próprio”.

A Economia Física obedece às leis gerais da Física, como as de conservação da massa/energia,


da entropia e outras. Essa soberania relativa não implica, todavia, que mesmo as atividades mais
ricas em informação e, portanto, menos demandantes de matérias primas sejam possíveis sem
matérias primas e energia. Nesse sentido todas as atividades são pelo menos em longo termo
poluentes. Assim, se reconhece que estamos inseridos nos ecossistemas e fazemos a entropia de
nossas atividades crescerem sobre eles. Toda análise deve ter a noção do ciclo da matéria e dos
serviços como parte de seu campo analítico.

Quanto à síntese, que é também parte da Filosofia e da Ciência, de certo modo a menos lembrada,
pode-se dar mediante três abordagens. Foram formalizadas por Martins Jr. (2000). Trata-se das
Abordagens pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. Essas permitem diversos modos
de sínteses, que ao fim oferecem uma visão caleidoscópica da Realidade. Essa visão
caleidoscópica é indispensável para que a complexidade das decisões seja apreendida e expressa
nas próprias decisões. A síntese é em suma a tentativa de reunir o que se havia sido separado. Não
é uma tarefa trivial, todavia não é impossível.

Sistema(s) e Sistema de sistemas – a noção de sistema é hoje consagrada e não apenas como
uma imagem biológica. Todas as partes constituintes do todo - Terra - são sistemas ou mais
propriamente subsistemas. Pode-se, todavia definir um subsistema como um sistema, mas aí
novamente necessitar-se-á de reintegrá-lo aos sistemas maiores a que está efetivamente ligado. O
reconhecimento de sistema é mais complexo do que os conceitos de zoneamentos, de
classificações das terras, e ainda mais se essas classificações forem realizadas à luz de uma única
ciência – estudos disciplinares. Efetivamente a noção de sistema envolve, por força, a noção de
processo – de trocas de energia, massa e informação. Envolve ainda a noção de ordem interna e
de desordem, bem como as noções de estabilidade, sustentabilidade e sensibilidade.

Análise sistêmica – Toda análise de um ou mais sistemas deve envolver a noção de evolução ou
transformação. Toda intervenção humana é uma intervenção sistêmica dado que ela afeta pelo
menos um sistema na Natureza ou mesmo na sociedade. A análise deve ser estruturada em [1]
análise de estrutura [2] análise de processos internos [3] análise de transformações sob
intervenção [4] análise de sensibilidade [5] análise prospectiva ou de construção de cenários [6]
análise de perdas toleráveis e [7] análise de impactos sobre outros sistemas.

Ordenamento do território – retoma-se aqui a definição anterior (Martins Jr., 2003) sobre
Ordenamento do Território, como:

 A arte de intervir no território e na paisagem, buscando conservá-la ou mesmo aperfeiçoá-la


ao modo de um jardim regional com vistas a manter a dinâmica ecossistêmica, e permitir ao
homem suas atividades econômicas de modo consistente com os princípios de conservação e
de preservação.
A noção de uso optimal é equivalente à noção de sustentabilidade de uso, e é assim a noção crucial
para o planejamento regional. Ela só terá efetividade se houver ética, isto é, conhecimento
científico e práticas conforme. A própria noção de sustentabilidade só pode praticada se for
estudada caso a caso em face das diferenças regionais e sistêmicas.

Critérios normativos ecológico-econômicos-sociais – A noção de planejamento regional


ambiental voltado para o desenvolvimento eco-sustentável só é possível se admitir-se que
ocorrerão algumas perdas, definidas neste trabalho como perdas toleráveis. Não há possibilidade
de se realizar um grande programa de desenvolvimento eco-sustentável sem algumas perdas
toleráveis, e sem um estrito sistema de se lidar com o ciclo completo da matéria – da matéria
prima ao descarte tanto sólido e líquido quanto gasoso.

A noção de critérios normativos deve a todo tempo fazer parte de um programa de


desenvolvimento, e não somente assumir-se que as leis já deem trato à questão e que sejam
suficientes. Nesse sentido chama-se a atenção para a especificidade de cada ecossistema, de cada
região e dos modos e intensidades, ou taxas, em que ocorram as trocas de energia, massa e
informação dentro de um sistema. Um elenco de critérios, que é a rigor definido em nosso País
como o plano diretor, deve de fato tratar com muita precisão da área sob intervenção ou que virá
a sofrer intervenção.

Fomento – O conjunto de critérios acima permite então reimplantar a noção de fomento como
uma noção básica fundada na noção de sustentabilidade. Tal coisa não é trivial, porque em muitas
partes da biosfera a intervenção humana está produzindo impactos irreversíveis sobre sistemas
regionais. Essa reflexão é também um esboço preliminar ao desenvolvimento regional, servindo,
todavia, para abrir perspectivas de trabalhos futuros em pesquisa e desenvolvimento de uma
filosofia de tecnologia da informação e da decisão com inteligência artificial, que exigem forte
viés de enraizamento em questões éticas e legais.

Normatização – A normatização deve obedecer a alguns critérios maiores: [1] servir a tudo que
diga respeito aos sistemas locais e regionais [2] servir para todo tipo de intervenção que se realize
ou se queira realizar [3] permitir a previsibilidade e monitoramento das intervenções realizadas
sobre os sistemas naturais e culturais e [4] quanto aos cenários futuros o controle e os limites à
ação humana.

Investimento – A noção de investimento deve ser atrelada às noções de adequadibilidade


ambiental e de praticabilidade econômica, partindo-se de outra noção fundamental que é a de
inclusão social. Assim deve-se observar como objetivo específico tratar-se de uma política de
investimentos, partindo das noções de normatização explicadas anteriormente.

O USO do CONCEITO de ANTINOMIA nos ESTUDOS ECONÔMICOS

A noção de antinomia, como conceito delimitador é sobremodo útil por se poder com ele operar
nos estudos teóricos e nos modelos. Deve-se admitir não somente uma antinomia cognitiva, mas
também uma antinomia ontológica na qual a antinomia vem para indicar que o pensamento teórico
e sua prática podem levar eventualmente os sistemas a irreversibilidades, quando se explora
indevidamente o patrimônio que a Natureza fornece ao modo sistêmico. Em geral a percepção de
uma antinomia no pensamento pode ser algo nada trivial. A antinomia é, sem bem usada, um
conceito maior para a avaliação crítica de modelos de desenvolvimento e ela, necessariamente,
permite a interdisciplinaridade como um modo de construção cognitiva integradora.

A noção de antinomia e sua aplicabilidade evita e/ou diminui a probabilidade de:

[1] atribuir peso demais a alguma ação com detrimento de estruturas e funções,
[2] projetar de modo simplista em torno de poucas ou de uma única variável,

[3] reduzir um único aspecto de um sistema complexo ao centro de tudo, fazendo o resto do
mundo girar em torno desse aspecto do processo natural e/ou produtivo, e

[4] produzir conclusões díspares, sobretudo aquelas que são de difícil percepção por se
apresentarem como obedientes às regras da lógica, embora sejam derivadas de premissas que
escondam algum aspecto antinômico. A noção de antinomia permite ao longo de todo o processo
observar-se se o pensamento não está produzindo contradições, para alguns tipos de aspectos e
processos nos sistemas em estudo e sobre os quais se queira intervir.

Herman Doyeweerd [1958] estabeleceu o principium exclusae antinomiae que traduz uma regra
para se decidir se um dado pensamento está sendo conduzido a uma antinomia, qualquer que ela
seja. A condição de reconhecimento de entrada em antinomia exige, portanto que se reconheça a
singularidade e irredutibilidade dos vários conceitos, dos aspectos dos vários sistemas das várias
Modalidades cósmicas, como assim as denomina Dooyeweerd. O reconhecimento da
singularidade e irredutibilidade de um aspecto de uma modalidade, como a econômica, não
permite desconhecer-se essas duas mesmas condições para todas as outras modalidades, sem que
novamente corra-se o risco de se fazer o pensamento entrar em antinomia.

Dado que nas condições humanas e nos sistemas humanos existe possibilidade de evolução,
portanto de transformações, as normas podem e devem também evoluir tanto quanto mais
complexos se tornem os sistemas. De todo modo pode-se reconhecer que independentemente da
complexidade de um sistema sócio-econômico e de seu estágio evolutivo existem leis que, ao fim
e ao cabo, traduzem a viabilidade de qualquer sistema. Assim, sistemas humanos têm algumas
folgas, isto é, a condição ontológica de poderem evoluir dá-lhes condições de transformar suas
regras a um modo auto-organizador.

A cada nível de auto-organização novamente, ou os antigos aspectos guardam sua veracidade


quanto a serem irredutíveis e singulares, ou novos aspectos emergem para permitir novos
significados, eliminando ou não antigos aspectos. Trabalhar com os conceitos singulares e
irredutíveis torna o trabalho desafiador e permite, por certo, que o pensamento teórico e a
modelagem de uma ação se façam mais adequada com o funcionamento das entidades modais
que são a sociedade e a atividade econômica.

CONCLUSÕES

Tomando-se os sete princípios acima explicitados e a arquitetura de saberes, as conclusões são


apresentadas como alguns critérios metodológicos a se trabalhar para um modelo de
desenvolvimento ecológico-econômico de uma bacia hidrográfica, quando com fortes bases em
agricultura e que poderá, eventualmente, evoluir para um sistema totalmente sofisticado e
ecológico como a Permacultura (Mollison & Holmgren, 1983) e não menos com a agricultura
sintrópica de Ernst Götsch.

[1] toda ação e decisão para escolha de áreas a se aplicar a Permacultura devem obedecer a
critérios geo-ambientais devidamente reconhecidos como realidade,

[2] toda ação e decisão de investimentos devem atender a mais de uma instância econômico-
social, a saber:
[2.1] promoção das classes mais desfavorecidas que não possuam conhecimentos técnicos
suficientes para a produção agrícola, silvicultura e zoocultura,
[2.2] atendimento àqueles que possuam alguma tradição,

[2.3] promover o surgimento de empresas rurais,

[2.4] promover o surgimento de cooperativas para atingir um suporte de escala à produção,


e

[2.5] comercialização e suporte aos grandes produtores com o condicionante de aplicarem


todas as medidas corretivas ou mitigadoras que serão instados a fazê-lo para retornar à função
as partes críticas dos sistemas geo-ambientais que tenham sido danificadas, como as veredas,
por exemplo,

[3] estabelecer critérios de viabilidade econômica para as dimensões do mercado interno à bacia,

[4] estabelecer os critérios de viabilidade econômica para o mercado externo à bacia tanto para
importação quanto para exportação,

[5] buscar estabelecer os critérios de consistência para as decisões no campo da macroeconomia


com aqueles do campo da microeconomia,

[6] estabelecer os critérios gerais de uma política de desenvolvimento regional e de modos de


monitorar seus efeitos para confirmação e/ou correção de rumos,

[7] avaliar periodicamente o sucesso das políticas ambientais e

[8] criar processos cada vez mais sofisticados de produzir ganhos econômicos com as atividades
de manutenção dos ecossistemas, aqui denominadas atividades ecológico-econômicas.

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1983, 371p
2
CLASSIFICAÇÃO dos TERRITÓRIOS em ÁREAS HOMOGÊNEAS
– Gestão de Bacia Hidrográfica –

Palavras-chave: Território, classificação de terras, áreas homogêneas, complexidade dos


territórios, zoneamentos, teoria fundamental.

As temáticas dos zoneamentos são revisitadas no sentido de se estabelecer regras lógicas mais
precisas para os procedimentos dos vários tipos de zoneamentos. Longe está de ser uma tarefa
completa. É um bom ponto de partida, todavia. Entende-se que todo tema, ainda em
desenvolvimento, deva ser tratado do ponto de vista epistemológico e somente após entrar-se nas
questões metodológicas, que fazem parte daquele, uma vez definidos todos os contextos. Todavia,
os produtos de tal tema devem ficar claramente definidos de modo a se ter condições de identificar
suas aplicabilidades. Isto deve ocorrer logo de início como proposições do campo cognitivo dos
zoneamentos, em si.

Muitas questões metodológicas para os zoneamentos foram em parte já bem estabelecidas em


várias ciências e técnicas como o geoprocessamento, a Botânica, os vários campos das
Geociências e das Engenharias. Não foram, contudo, estabelecidas com aquele fim precípuo, por
isso deve-se fazê-lo como ponto de partida. De fato, os métodos das técnicas, ciências e
engenharias são específicos desses campos de conhecimentos, mas não recobrem os conceitos dos
zoneamentos. Cabe ainda ressaltar que não existem consensos estabelecidos sobre os
zoneamentos e assim esse trabalho é mais um entre outros, que não são necessariamente
fundamentados de modo epistemológicos claro. Por outro lado, existem trabalhos de zoneamentos
que não são ecológicos stricto senso, mas correspondem a zoneamentos. A rigor um mapa
pedológico é um zoneamento, assim como o mapa lito-estratigráfico, o de vegetação e outros,
cada um em seu tema especialista.

As noções sobre zoneamentos ecológicos, zoneamentos econômicos e zoneamentos ecológicos-


econômicos colocam, portanto, diante do pesquisador a necessidade de definições claras,
caracterizações do que sejam os problemas ligados a esses três temas, as questões que devem ser
reconhecidas, bem como as formas de expressar isso em cartas, textos e sistemas de auxílio à
decisão. O texto segue uma macroestrutura na qual se colocam em sequência:

(1) a introdução de cada tipo de zoneamento com problemas e objetivos


(2) questões das relações dos zoneamentos ao se observar os sistemas naturais e culturais
(3) definições de cada tipo de zoneamento
(4) aplicações, e
(5) produtos.

As questões sobre decisão são discutidas de modo sucinto já que esse tema merece, em si, um
amplo tratamento (Huang, S-L; Ferng, J-J. 1990; Martins Jr, P.P. & Rosa, S.A.G, 1994, in Projeto
MDBV / FAPEMIG).
CLASSIFICAÇÃO das TERRAS em UNIDADES HOMOGÊNEAS

PRINCÍPIO

O zoneamento cartográfico de uma região baseado em múltiplas disciplinas torna-se uma


atividade de carácter interdisciplinar se envolver o tratamento conjunto de múltiplas variáveis
mesuráveis provenientes daquelas diversas ciências no contexto de um modelo unificador.

As técnicas clássicas usuais, se provenientes de disciplinas isoladas como a Geologia


estratigráfica, por exemplo, são inerentes aos objetos desta mesma disciplina tais como as
Formações geológicas, os Grupos, os Supergrupos, portanto um campo de conhecimentos
específicos e disciplinar.

Se, ao se utilizar imagens de satélite ou imagens aerotransportadas o alvo é medido em pixel, e


nesse sentido todo o processo é de se extrair a informação disciplinar apresentada de modo
integrado entre os vários sistemas em visualização.

Se contemplarmos as bacias hidrográficas, como uma bona fidae medida de segurança é assumir
que o conjunto de sub-bacias de todas as ordens constituem efetivamente as unidades naturais de
estudo e de classificação do território das bacias, todavia, estas mesmas sub-bacias podem se
agregar em diferentes desenhos em função de como se queira ver a classificação das terras em
unidades sistêmicas.

Tratar de unidades homogêneas na Natureza sempre exige algum nível de abstração, já que os
recortes de homogeneidade são sempre amplos e variegados. O pressuposto de unidades
homogêneas de terra pode parecer um pouco contraditório com o fato da existência das sub-
bacias, a não ser que a unidades homogêneas venham a se constituir como conjunto de sub-bacias,
que não serão todos necessariamente contínuos no espaço, isto é, podem ser unidades comuns,
mas espaçadas entre as mesmas. Esse aspecto é próprio do fato disciplinar em que as unidades
homogêneas, por exemplo, da geomorfologia sejam unidades geomórficas que integram, cada
uma, diversas sub-bacias relativamente não notórias sob o conceito de geoformas.

Pode acontecer, e deve acontecer, que uma sub-bacia tenha em si mesma heterogeneidades
significativas, questão essa que fica aberta, por um lado ao próprio uso da sub-bacia, e por outro
à possibilidade de uso de unidades de malhas com maior resolução no terreno, a fim de se obter
dados mais justos, bem como pela validade intrínseca de se vir a entender as próprias sub-bacias
no contexto da totalidade da bacia englobante.

SIGNIFICADO da CLASSIFICAÇÃO por UNIDADES HOMOGÊNEAS

A simples aplicação da ideia de classificação de terras em áreas homogêneas a partir da divisão


natural em sub-bacias, o que de fato vem a ser a classificação das sub-bacias em grupos
homogêneos, coloca algumas questões sobre a classificação e o entendimento do conceito de
homogêneo.

A rigor todo estudo disciplinar com que se mapeia algum aspecto da Natureza como
geomorfologia, pedologia, drenagem, circulação hídrica, lito-estratigrafia, relevo, vegetação e
outros são a rigor classificações de homogeneidades em referência ao tema disciplinar. Quando
se considera as sub-bacias parte-se, todavia, de uma peculiar divisão natural que reflete de modos
diversos as influências daquelas características mapeáveis pelas disciplinas clássicas acima
citadas. A pergunta que se coloca, portanto, é ‘qual é a vantagem de se usar as sub-bacias’? A
resposta é simples pelo fato mesmo de que as sub-bacias apontam para os processos geodinâmicos
superficiais, mesmo que uma sub-bacia possa ter muitos mais aspectos heterogêneos em seu
espaço.

Com efeito, todo mapeamento do território em áreas homogêneas é

 um esforço de se apreender como conjuntos de características estruturais e dinâmicas se


articulam naqueles espaços.

Esse é o sentido efetivo da noção de áreas homogêneas. E nesse sentido a noção de


homogeneidade se reveste de certo grau de complexidade, porque envolve diversos sistemas
justapostos bem como a geodinâmica atuante sobre todos esses sistemas.

Para se resolver essa questão da justaposição de diversos níveis de homogeneidade e


heterogeneidades dos sistemas separados pelas disciplinas o que se propõe são as noções
metodológicas dos zoneamentos ecológicos, econômicos e ecológicos-econômicos, todos no
plural, como se apresentam neste texto.

As UNIDADES HOMOGÊNEAS

Algumas definições predeterminam as diretrizes metodológicas bem como conceituam o domínio


de validade do método e o modo de se contextualizá-lo no gerenciamento de bacias hidrográficas
e de propriedades rurais. No que diz respeito ao uso do termo propriedade rural considera-se que
nesse termo se incluam:

01 – propriedades agrícolas, agropastoris, pastoris e silviculturais.


02 – rodovias, estradas locais e vias vicinais.
03 – conurbação.
04 – barragens de quaisquer tipos.
05 – canais de irrigação.
06 – canais de navegação.
07 – ferrovias.
08 – jazidas em mineração e esgotadas.
09 – indústrias rurais de qualquer tipo de produção.
10 – conjunto de máquinas de vento para produção de energia eólica.
11 – postes e linhas de transmissão.
12 – postos de combustíveis.
13 – termoelétricas.
14 – polos industriais.
15 – condomínios rurais.
16 – áreas de lixão e outras de resíduos tratados.

Em assim sendo, as áreas homogêneas pressupõem que existam nos ambientes naturais conjuntos
de situações que possam ser consideradas homogêneas, tanto pela interação dos próprios
processos naturais vigentes quanto pelas respostas que possam dar às interações antrópicas. Desta
forma, algumas premissas emergem necessariamente do sentido da classificação:

1 – unidades de terras são segmentos do território completamente integrados nos quais os


componentes são funcionalmente inter-relacionados uns com os outros.

2 – unidades de terra são segmentos completamente integrados nos quais os fluxos da água
funcionam inter-relacionados com os outros processos telúricos.
3 – as ligações funcionais são identificáveis mais efetivamente pelos processos que ligam os
componentes entre os mesmos e em Geologia são denominados de processos da ‘geodinâmica
externa ou supergênica, isto é com origem na parte externa do planeta.

4 – a lógica por trás da classificação é a noção fundamental de integração funcional dos


componentes ambientais, separadamente entre os mesmos, dentro de uma área delimitada no
espaço.

5 – a lógica da circulação hídrica é mais fundamental do que os processos de fluxo que resultam
em quantidade e qualidade da água; a questão da circulação hídrica inclui os vários tipos de
aquíferos subterrâneos, as zonas de recarga e as áreas precisas de recarga, as áreas de exsudação
e os corpos d’água tais como:  os lagos, as áreas de inundação periódica e permanentes, os
pântanos, os cursos d’água e também os solos profundos armazenadores.

ENTENDIMENTO de ÁREAS HOMOGÊNEAS – MUNDI-VISÃO

As áreas homogêneas são unidades complexas nas quais, se, tomar-se as sub-bacias como
unidades a priori os agrupamentos dessas mesmas sub-bacias podem vir a constituir
distintos tipos de áreas homogêneas. Portanto, essa homogeneidade deve ser entendida
como unidades de áreas que apresentam características dominantes que as definem como
equivalentes, logo homogêneas no sentido dessas características partilhadas em comum.
Pelo fato dessas considerações existem várias possibilidades de se realizar zoneamentos
geo-ecológicos e de uma sub-bacia aparecer em distintos grupos de zoneamentos, isto é,
em dois ou mais tipos de zoneamentos geo-ecológicos (Quadro 2-1). Particionam-se os
zoneamentos em:

(1) os vários geossistemas e modos de expressar suas associações entre rochas, geoformas
do relevo, solos e formações superficiais no sentido da Geotecnia,

(2) das sub-bacias segundo a morfometria,

(3) do uso dos potenciais ideais da terra para fins agroflorestais e pastoris e outros,

(4) da Geotecnia para fins de segurança, de mitigação e de construções de engenharia,

(5) da circulação hídrica, da quantidade e qualidade das águas subterrâneas e superficiais,

(6) da vegetação e áreas de e para projetos agrícolas, de silvicultura e pecuária intensiva,


e

(7) da capacidade assimilativa dos cursos d’água na qual a questão do potencial de


depuração natural das águas superficiais ante a poluição se faz questão.
Quadro 2-1a – Classificações de terras e os sistemas a observar os quais devem ser usados para
distintas classificações em áreas homogêneas em função da articulação desses sistemas no
mundo real.

Classificações Sistemas a observar

geossistemas rochas, solos e geoformas; geotecnia


variáveis mensuráveis das várias formas do
morfometria
terreno
solos, água, relevo, declividade do terreno,
potenciais ideais de usos
formações superficiais
geotecnia solos, rochas, saibros, formações superficiais
variáveis hidrométricas diversas em estações bem
quantidade da água distribuídas; áreas dos vários corpos d’água em
superfície e subterrânea
aptidão agrícola variáveis dos solos e água, geoformas
capacidade assimilativa de geoformas, métrica dos corpos d’água,
cursos d’água hidrometria dinâmica, solos

Quadro 2-1b – Classificações de terras e condicionantes a observar os quais devem ser usados
para classificações de áreas para usos diversos em amplas extensões.

Classificações Condições e condicionantes a observar

sistemas áreas potencialmente favoráveis, sistemas


Uso racional das terras áreas preservadas, sistemas áreas de sustentação
crítica da geodinâmica superficial
função da agroclimatologia, aptidão dos solos,
Uso das terras para agricultura propriedades geotécnicas contínuas, conservação
intensiva da circulação hídrica, áreas de exsudação, áreas
precisas de recarga
caracterização dos trechos de cursos d’água,
Maximização do potencial tipificação dos potenciais dos trechos, seleção de
hidroelétrico localidades para pequenas centrais, maximização
dos trechos para centrais flutuantes
Situação da vegetação nativa e cartas da vegetação atual, cartas da vegetação em
usos para industrialização muitos anos passados, áreas de restrição, áreas de
florestal uso contínuo, áreas para reflorestamento
mapas das áreas existentes em função das licenças
Áreas circum minerações para de mineração, caracterização pedológica hídrica e
usos agrícolas, florestais e condições naturais, classificação de usos ideais,
zooculturas potenciais humanos existentes, condicionantes
microeconômicas.
Quadro 2-1b – Continuação de Classificações de terras e condicionantes a observar os quais
devem ser usados para classificações de áreas para usos diversos em amplas extensões.

Classificações Condições e condicionantes a observar

áreas degradadas, mapas dos estados de degradação


eD, delimitações do eD, classificação dos tipos de
Áreas para recomposições
recomposição, cartas de ganhos ecológicos
ambientais
econômicos possíveis, áreas de recomposição
ecológica total necessárias
áreas ideais para o gado, áreas preferenciais para
semi-estabulamento, áreas de plantios para
Áreas para zoocultura
alimentação, condições hídricas de sustentação do
gado
chuvas máximas e mínimas anuais, chuvas estações
Mapas de descrição da chuvosas e estações menos chuvosas,
pluviosidade sobre bacias de 2ª temporalidade de chuvas e de secas, taxas de
ordem relações entre chuvas ao ano, pluviosidade mensal
média – cartografias
Mapas de densidade do fluxo distribuição de áreas de isso DFRS, áreas de iso
de radiação solar DFRS e de intervalos de ventos em força, direção e sentido
ventos
mapas de evaporação, de evapotranspiração, de
Balanço hídrico de bacias DFRS, vazões específicas, relações precipitações x
hidrográficas vazões, mapas de transportes de sedimentos pela
turbidez de cursos d’água.

PROPÓSITOS e APLICAÇÕES da CLASSIFICAÇÃO

Muitos são os propósitos e aplicações da classificação no contexto do gerenciamento de


bacias hidrográficas, gerenciamento de terras e do uso da água. O mais importante é de
que os três enfoques são indissociáveis e se associam ainda aos diagnósticos das
atividades e dos impactos de origem antrópica, neste caso pela análise do - ‘estado da
conservação eC’ e do ‘estado da Degradação eD’ (Martins Jr, 2012, Projeto SACD).

Todavia, há algumas exigências fundamentais para se comparar situações ao longo do


tempo. Pode-se medi-las e avaliar os sucessos e/ou insucessos de ações de conservação e
de mitigação, a saber:

1 – Os estudos devem seguir o mesmo método em anos sucessivos de revisão dos estudos
básicos para atualizá-los a luz da evolução dos processos em dada região.

2 – As escalas de observação devem ser sempre as mesmas, e quando se quiser aprofundar


em detalhes sempre se retoma a escala anterior e comparam-se situações com aquela, e,
com os estudos em escala de maior detalhe busca-se a percepção necessária no detalhe.
Pode-se enumerar diversos propósitos de aplicações para a atividade de classificação,
tendo a água como um elemento do sistema o mais crítico e sensível.

1 – Delinear zonas homogêneas próprias para o gerenciamento de terras.

2 – Delinear zonas homogêneas para o gerenciamento e enquadramento de cursos d’água.

3 – Identificar áreas críticas e/ou sensíveis para o controle e/ou prevenção rigorosa sobre
os agentes poluentes, inclusa a poluição difusa.
4 – Prover bases para se estabelecer sistema de estações de monitoramento de qualidade
de águas.

5 – Extrapolar resultados de pesquisas e de experiências de gerenciamento entre sub-


bacias com propriedades similares.

6 – Definir o uso potencial da terra por meio da classificação da capacidade da terra em


consonância com a integridade daquela e dos recursos hídricos pertinentes.

7 – Valorar o potencial das terras expresso por meio da produção biofísica natural e/ou
antrópica em consonância com as limitações de impactos permissíveis e a preservação
das qualidades gerais de produção do sistema natural.

8 – Deve-se para as atividades de gerenciamento e efetivação do enquadramento de cursos


d’água levar em consideração as consequências dos efeitos das características das terras
para a capacidade assimilativa dos cursos d’água.

9 – Deve-se levar em conta as prioridades relativas do gerenciamento da qualidade da


água para a sociedade humana e para os ecossistemas, privilegiando a compatibilização
entre sociedade em relação com ecossistemas.

ASPECTOS SIGNIFICATIVOS para a REALIZAÇÃO das CLASSIFICAÇÕES

Todo e qualquer zoneamento que vier a ser realizado de modo interdisciplinar não pode,
por certo, contemplar todas as variáveis que são atuantes nos sistemas avaliados, a saber
mesmo, que algumas são mais relevantes e outras de pouca influência. Esses métodos em
apresentação já contemplam a priori pelo menos variáveis que são reconhecidamente
significativas nestes tipos de sistemas concernidos, a saber: os geo-sistemas, os hidro-
sistemas e os bio-sistemas. O modo de abordar as variáveis é o de identificá-las quanto a:

 forma e dinâmica de curto e longo prazo dos sistemas.


 capacidade de suporte de cada tipo de sistema.
 processos telúricos e hídricos.
 processos termodinâmicos reversíveis e irreversíveis quanto a manutenção e
transformação das interações da biomassa com o meio ambiente.
 processos climáticos mais interativos e iterativos no tempo cíclico.
TEORIA para a CLASSIFICAÇÃO em ECO-UNIDADES

A definição de unidade de terra é distinta notoriamente da definição de sub-bacia, já que


esta última é dada simplesmente pelos divisores de água, por conseguinte, uma unidade
de terra pode abranger uma ou mais sub-bacias contíguas ou não, ou mesmo uma parte
de uma sub-bacia, não obstante em ambos os casos a interdigitação dos dois conceitos e
usos na cartografia seja extremante útil.

Algumas definições dadas para unidade de terra são muito antropocêntricas tais como
“um complexo de atributos da superfície e subsuperfície significantes para o homem”
(Mabbut, 1968). Ainda outra “terra refere-se a todas aquelas características físicas e
biológicas da superfície terrestre que afetam a possibilidade de uso da terra” (Gardiner,
1976). Poder-se-ia tentar assim uma definição não antropocêntrica da seguinte maneira:

 Unidade de terra é toda unidade espacial (espaço Euclidiano e espaço topológico de


Euler) da superfície e subsuperfície terrestre cujas características físicas e bióticas,
embora em condição de sistema aberto, guarda atributos e funções unificadas
compondo um subsistema.

Esta última definição atende melhor à intenção com a qual se propõe trabalhar com os
zoneamentos do território com base nas condições naturais. A abordagem é
fundamentalmente lógica, buscando-se apreender os verdadeiros atributos do meio,
associando-os aos componentes físicos e identificando aqueles que são mais ativos,
menos ativos, ou mesmo menos significantes.

Assim é, que os focos da pesquisa devam ser sempre centrados em diversos aspectos tais
como os bióticos, os termodinâmicos das interações ambientais, os de morfometria do
terreno, o de capacidade assimilativa de cursos d’água, o fundo hidrogeoquímico, as
características geotécnicas, a caracterização agroecológica e os sistemas hídricos,
incluindo-se a circulação hídrica, a quantidade e qualidade da água bem como a
climatologia como fator envolvente.

Em se focalizando os componentes bióticos do ambiente deve-se dar preferência com


ampla margem de representatividade à cobertura vegetal, a fração orgânica dos solos, o
balanço químico dos solos, a retenção de umidade e a lixiviação de nutrientes entre outros
aspectos.

A determinação de padrões na biosfera deve ser baseada principal e mais


significativamente no fluxo de energia e na ciclagem de nutrientes, esta última sendo
muito difícil de encontrar dados regionalizados disponíveis.

Assim, os objetivos que devem balizar o enfoque para uma classificação em eco-unidades
são os seguintes:

1 – Sugerir como podem dados ambientais disponíveis, para os quais existam coberturas
generalizadas serem usados como preditores dos processos de ciclagem de nutrientes para
os quais faltem dados em espaços vizinhos.
2 – Propor mais forte integração do ambiente físico no padrão de ciclagem de nutrientes,
de tal modo a incrementar a utilidade dos ciclos biogeoquímicos na biogeografia
(Meentemeyer & Elton, 1977).

Gersmehl (1976) e Meentemeyer & Elton (op. cit.) apresentam bases para uma premissa
efetiva ao enfoque biótico:

 a de que o conhecimento das variações espaciais das entradas e saídas de nutrientes e


das taxas de transferência podem permitir a constituição de um modelo de ciclo de
nutrientes a fim de servir como um conceito unificador em estudos biogeográficos.

Inclui-se essa indicação para todos os tipos de estudos de zoneamentos ecológicos.

São fenômenos significativos no ciclo de nutrientes os múltiplos aspectos da


produtividade primária de florestas nativas, bosques plantados e campos agrícolas, a
decomposição orgânica, o ciclo dos nutrientes, a perda universal de solos, a erosão dos
solos, a ocorrência de deslizamento entre outros fatores.

O balanço da umidade da área, que é ‘o balanço de energia / umidade’ reflete os processos


do ciclo biogeoquímico desde o ponto de vista termodinâmico / termoquímico. Moss
(1984) declara que “os dados dos inventários clássicos como perfis de solos, e dados de
comunidades vegetais podem ser mais plenamente utilizados e apreciados dentro de um
quadro funcional ou de processo, porque as diferenças nestes atributos visíveis da terra
podem ser ambos justificados, ou abandonados como insignificantes, quando os valores
para a eficiência dos diferentes processos forem localizados dentro do quadro espacial
das unidades de terra identificadas” (fim cit., p. 300).

Os inventários clássicos de perfis de solos e de comunidades vegetais são mais comuns


no País, mas aqueles das variáveis com valores termodinâmicos são raros e em nível
regional, possivelmente inexistente, apresentando-se como excelentes potenciais para
desenvolvimento de pesquisas de máxima importância para esses temas, agrário e
ambiental.

Os inventários clássicos têm, por certo, limitações conceituais efetivas porque neles se
assumem algumas relações entre as formas da terra e os perfis de solos que podem ou não
ter alguma função de fato relevante.

Uma abordagem que coloque mais ênfase em trabalhos de percepção ecológica, isto é,
relações planta / ambiente, do que no tradicional enfoque sin-ecológico, isto é, relações
planta-planta (taxonomia e listagem da comunidade) terá, por certo, maior significância
para o entendimento da dinâmica do sistema e de suas partições no espaço. Moss (1984)
aponta para o fato de que “o caso crítico é o de definir processos relevantes nos
componentes que são termodinamicamente ativos no domínio dos impactos antrópicos”.
O que significa, por necessidade, enfocar sobre os componentes do solo e da vegetação
do sistema ambiental e dos processos operativos dentro destes componentes.

O ‘modelo de compartimento-e-transferência’ de Gersmehl (1976) é um bom caminho de


entendimento das questões dinâmicas na biota. Trata-se de uma simplificação operacional
do modelo do ciclo mineral do ecossistema, que pode provar uma ligação entre os
processos num ecossistema, de local a local. O modelo confere o seguinte:

1 – “a quantidade total de nutrientes minerais dentro do ecossistema depende da razão do


monitoramento dos nutrientes para dentro e para fora do sistema”,

2 – “as quantidades de nutrientes dentro da biomassa vivente, húmus e componentes do


solo de um sistema são uma função das taxas de transferência destes nutrientes entre os
componentes” (Meentemeyer, 1974; Meentemeyer, 1977).

3 – “com o tempo um ecossistema tende à condição de equilíbrio no qual a quantidade de


nutrientes dentro de cada sistema e dentro de cada compartimento permanece a mesma”
(Meentemeyer & Elton, op.cit.).

No contexto desses tipos de estudos deve-se articular a associação do modelo de


compartimento-e-transferência com o de morfometria, capacidade assimilativa de cursos
d’água, qualidade das águas, fundo hidrogeoquímico, visando melhor mapear essa
biogeodinâmica nos ecossistemas em um amplo território. Ao fim, as relações com dados
antrópicos mapeáveis pode ser de grande relevância para se mapear a conservação e os
impactos.

ASPECTOS do MODELO de COMPARTIMENTO-e-TRANSFERÊNCIA

As transferências e suas regulações são, em grande medida, uma função da exergia ou da


emergia, como se queira medir e computar ou uma ou outra dessas duas variáveis, e da
umidade do ambiente físico. A temperatura e a precipitação, neste contexto, não são bons
preditores da qualidade dos ecossistemas.

Um dos processos mais significativos, enquanto processo sistêmico é o da transferência


da biomassa viva para o húmus. Este é o processo, por excelência, predominantemente
mantenedor do ciclo vegetal e da composição dos solos. O modelo de modo simplificado
de um sistema (Figura 2.1) em equilíbrio ou estado permanente implica em:

Figura 2-1 – Transferência da biomassa viva para o húmus (org. Martins Jr.2013).
 transferência de nutrientes do folhedo para o solo deve ser equivalente à transferência
desde os solos à biomassa para o folhedo, mais adições da precipitação ou alteração
de rocha, menos qualquer perda por escoamento superficial, desconsiderando-se as
trocas gasosas com a atmosfera” (Meentemeyer & Elton, op. cit.).

No contexto, a evapotranspiração real é de grande valor para implementar a variabilidade


espacial do ciclo de nutrientes. Seria nesse contexto importante como linha de pesquisa e
de levantamentos desenvolver o conhecimento da variabilidade geográfica do tempo
cronológico requerido para alcançar adequada definição de uma variável, com a
finalidade de medi-las para mapear.

TEORIA para CLASSIFICAÇÃO APLICATIVA de UNIDADES de TERRAS

A CLASSIFICAÇÃO por SUB-BACIAS

A bacia hidrográfica é uma unidade fisiográfica natural da crosta terrestre recente que
tem em sua evolução traços marcantes de variáveis das dinâmicas de longo e de curto
prazo, determinadas por estruturas, processos geológicos e biológicos os mais diversos.

A escolha de bacias e sub-bacias com vistas à determinação de áreas homogêneas de


terras e da interação terra-água, distintamente da determinação em eco-unidades, trata
mais especificamente dos aspectos estruturais geo-hidrodinâmicos que podem vir a serem
integrados com os processos ecodinâmicos, conforme descrito na etapa anterior.

A bacia hidrográfica e as sub-bacias são, portanto, unidades significativas em virtude


desta subdivisão ser natural e representar aspectos próprios aos sistemas telúricos de
geodinâmica com mais longa duração junto com aqueles de mais curta duração, esses
como ciclos internos àqueles de longa duração.

Fator de máxima significância e necessidade é o da determinação das variáveis egressas


das várias disciplinas que tenham significado próprio para caracterizar alguns tipos de
classificação que represente a estrutura e a dinâmica das terras e das águas. A escolha das
variáveis é de fato predeterminante aos próprios resultados. Para descrever esses sistemas,
no espaço e no tempo e de modo geodinâmico pode-se fazê-lo com as variáveis
adequadas, e deve-se reconhecer que as mesmas:

1 – Devem delinear áreas homogêneas para o gerenciamento de terras com e para os


diversos tipos de usos possíveis.

2 – Identificar áreas críticas para o controle de fontes de poluição difusa.

3 – Prover bases para se estabelecer sistemas de monitoramento.

4 – Prover bases para o zoneamento de recursos hídricos que permitam os vários tipos de
ações como a outorga de água, enquadramento de cursos d’água, mitigação, ajustamento
de conduta, conflitos entre partes e não menos o planejamento do futuro.
O propósito da classificação dos sistemas geo-hidrodinâmicos e por derivação os sistemas
econômicos dentro das bacias devem atingir objetivos bem precisos que são ainda parte
daqueles acima considerados, a saber:

1 – Determinar as consequências dos efeitos das características das terras na capacidade


assimilativa dos cursos d’água,

2 – Determinar o impacto das atividades antrópicas nos processos telúricos que afetem a
qualidade das águas em virtude de gerenciamento inexistente ou mal adequado das
terras,

3 – Estabelecer as prioridades classificatórias dos cursos d’água em função da capacidade


assimilativa dos mesmos e do uso real e potencial por comunidades humanas (este assunto
é ainda não praticado e não devidamente tratado em nosso País), e

4 – Classificar segundo os vários de conjuntos de variáveis para obter classificações


voltadas para temas relevantes para o auxílio à decisão.

É sempre oportuno reenfatizar a necessidade de se abordar de modo integrado as


características ecossistêmicas, os recursos hídricos e as características das terras para fins
de gerenciamento. A integração da totalidade destas informações é que forma – o todo –
que permite decisões compatíveis com a realidade, diminuindo, por certo, o nível de
arbitrariedade e de ineficiência entre as intenções da lei, a efetivação de sua aplicação, e
as correções necessárias de serem realizadas.

O enfoque metodológico básico foi trazido por Huang & Ferng (1990), mas o sentido de
aplicação para zoneamentos é o que se desenvolveu como inovação e se apresenta nesse
estudo.

A classificação para ser eficiente deve diminuir o grau de opiniões subjetivas, viesadas
pela mentalidade especialista, visando aumentar o grau de eficiência na espacialização
covariante dos diversos parâmetros que apresentem quaisquer tipos de sinergia dentro do
sistema (Figura 2.2). As obtenções de tais resultados no âmbito dos sistemas geo-
hidrodinâmicos provêm dos seguintes dados aplicativos mensuráveis:

1 – Morfometria de bacias
2 – Capacidade assimilativa de cursos d’água
3 – Circulação hídrica, da quantidade e da qualidade das águas
4 – Condições geotécnicas regionais e locais
5 – Realidade e potencialidades eco-agroflorestal
As UNIDADES FINAIS de CLASSIFICAÇÃO

A lógica de se agrupar sub-bacias em unidades homogêneas está baseada no fato de que


os rios traduzem toda a convergência dinâmica de uma área sistêmica. Embora o recorte
de sub-bacias não coincida, necessariamente ou mesmo muito raramente, com o recorte
de eco-unidades a integração perspectiva de ambos os recortes permitirá em expectativa
a apreensão das verdadeiras unidades ecológico-funcionais que compartilham
semelhanças em diferentes graus, a partir da dinâmica de variáveis idênticas e mesmo das
variáveis diversas.

Figura 2.2 – O gerenciamento de bacias hidrográficas exige o conhecimento das unidades de


classificação do território, das caracterizações dos sistemas naturais, das formas de trocas de
massa, energia e informação e bons bancos de dados para se chegar à cartografia de usos
optimais (org. Martins Jr., 2013).

ESCALAS de OBSERVAÇÃO e REPRESENTAÇÕES

Dado que o recorte de terras homogêneas é distinto do recorte para eco-unidades tanto
quanto para o recorte dos sistemas hídricos aconselha-se, todavia, conforme haja a
integração das duas tendências de pesquisa a se adotar de modo diferenciado a
nomenclatura canadense de Moss (1983, 1985):

 ecoprovíncia escala 1:3.000.000


 eco-região escala 1:1.000.000
 ecodistrito escala 1:120.000 a 1: 150.000
 eco-secção escala 1:50.000
 eco-sítio escala 1:10.000
 eco-elemento escala 1:2.500

As informações descritivas e os critérios vão ser distintos de escala para escala,


envolvendo sejam os processos ecológicos termodinâmicos, os processos telúricos, os
processos hídricos e os processos climáticos. Tudo isto implica em se identificar critérios
rigorosos para as diversas situações, sem negligenciar as variáveis sensíveis dos vários
sistemas para todos os tipos de impactos específicos a serem estudados e controlados.

A escolha de escala, ademais, contempla o grau de acurácia com que alguma decisão
gerencial deverá ser tomada seja no enquadramento de cursos d’água, para os usos das
terras, para outorga, na mitigação, nos planos regionais, sobretudo e os vários outros
documentos de auxílio à decisão (Figura 2.3).

Figura 2.3 – Da dinâmica ambiental como centro dos sistemas naturais e produtivos às condições
de capacidade assimilativa de cursos d’água, morfometria das sub-bacias, o fundo
hidrogeoquímico, às eco-unidades reconhecidas, planejadas e implantadas em sistema de
informação que suporta os sistemas de decisão dentro das atividades do sistema de gestão para
os seis níveis de escala de observação e de auxílio à decisão de eco-elemento a eco-província
(org. Martins Jr, 1993).
REFERÊNCIAS

Gardiner, V. 1976. Land Evaluation and Numerical Delimitaion of Natural Regions. Geogr.
Polonica 34. p. 11-30.
Gersmehl, P.J. Na Alternative Biogeography. Annals Association American Geographers. V. 66.
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Huang, S-L; Ferng, J-J. 1990. Applied Land Classification for Surface Water Quality Mangement:
II Land Process Classification. Journal of Environmental Management. 31. p.127-141.
Huang, C.T. S1978. Studies on the Rainfal Erosion Index in Taiwan: (4) The Erosion Index in the
North Area of Taiwan. Journal of Chiese Soil and Water Conservation. 7. p.67-74.
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REFERÊNCIAS RECOMENDADAS

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3
VARIÁVEIS e FATORES de CLASSIFICAÇÃO de TERRAS
– Gestão de Bacia Hidrográfica –
Palavras-chave: variáveis disciplinares, agregação de variáveis, utilidade da agregação,
significado das variáveis na dinâmica sistêmica.

A metodologia adotada é um conjunto de métodos provenientes de várias ciências que


tratam dos vários sistemas. Em função dos vários sistemas e das interações entre os
mesmos o que se deve ficar atento é de que algumas variáveis são mais ou menos
sensíveis, outras traduzem aspectos estruturais, outras traduzem aspectos geodinâmicos e
aspectos ecodinâmicos (Huang, S-L; Ferng, J-J. 1990). Na totalidade são variáveis
indispensáveis como descritoras dos enfoques aplicativos considerados como de primeira
instância (Tabela 3.1). As ramificações destes enfoques aplicativos são em si mesmos
verdadeiros sistemas cartográficos, tais como:

01 – Pesquisa de uso hídrico ecodirecionado


02 – Pesquisa de uso agrícola ecodirecionado
03 – Pesquisa tipológica de terrenos com vista sobre as condições geotécnicas
04 – Pesquisa de processos geológicos dinâmicos
05 – Zoneamentos integrados das eco-unidades.
06 – Zoneamentos integrados pelas características dos geo-sistemas (rochas, solos e
geoformas)
07 – Zoneamentos geotécnicos dos terrenos para as obras de engenharia
08 – Proteção de geo-recursos
09 – Determinação da vulnerabilidade geo-ambiental
10 – Adequabilidade optimal dos manejos da vegetação natural e da distribuição eco-
espacial de projetos agrícolas
11 – Adequabilidade de uso optimal das terras
12 – Adequação do uso optimal dos recursos hídricos
13 – Estabelecer quadros matriciais para a decisão sobre enquadramento de cursos d’água
em função das unidades de áreas homogêneas, além das demandas locais,
considerando a susceptibilidade efetiva daquelas áreas e as propensões a respostas
dinâmicas específicas de cada área.
14 – Estabelecer o quadro de sensibilidade das áreas homogênea em função dos vários
fatores naturais e apontar medidas mitigadoras que eventualmente se façam
necessárias.

Com as caracterizações e definições acima estabeleceu-se quais devem ser os passos


necessários para se articular um programa de adequação do uso da terra mesmo em bacia
com ocupação intensiva. Um programa desse tipo não tem por objetivo tornar-se uma
camisa de força, haja vista a complexidade de situações no campo e das resistências que
os proprietários rurais podem oferecer por quaisquer motivos que sejam.
Assim é, que os procedimentos de orientação para uso da terra em áreas já muito ocupadas
têm o aspecto de ser um modo de induzir a uma ordenação do território o mais cabível
entre os aspectos de conservação da bacia hidrográfica e de sustentabilidade futura de
todos os tipos de atividades econômicas rurais.

A sequência de estudos que se deve estabelecer deve seguir uma ordem lógica de decisões
sucessivas que deixem claro o processo de se decidir mesmo em situações de difícil
contexto, que sejam operacionais ou mesmo sociais e dependentes da mentalidade dos
atores, ou ainda por motivos financeiros, especialmente em situações em que se tenham
estabelecido condições de custo irrecuperável.

PROBLEMAS

Alguns problemas característicos de bacias hidrográficas já ocupadas, ou com baixo nível


de ocupação, envolvem os mesmos raciocínios e perguntas gerais:

1 – Quais são as condições mais sensíveis após o conhecimento das relações dos geo-
sistemas “rochas/ geoformas/ solos/ formações superficiais” que se apresentam como
mais críticas para a busca de soluções de planejamento do futuro, mitigações e de
reorientações das condições atuais?

2 – Em que medidas outros estudos podem afirmar situações prévias já estabelecidas e


situações inadequadas à sustentabilidade operacional econômica no futuro breve e
longínquo?

3 – Quais são condições geotécnicas que favorecem a agricultura, silvicultura e pastoreio


em condições ótimas, médias superiores, médias inferiores, críticas e péssimas em uma
escala realizada pelas condições de estabilidade para uso, em função de parâmetros
geotécnicos de sustentabilidade?

4 – Quais as condições edáficas mais propícias a partir do a priori das condições


agroclimatológicas e da carta de aptidão de solos?

5 – Quais culturas são mais recomendáveis para se atuar com elas em face das condições
hídricas reinantes e da “preservação / conservação” das condições de circulação hídrica?

6 – Quais as condições do relevo para as áreas reconhecidas como passíveis de uso


sustentável, obviamente no entorno, considerando as técnicas de uso e de conservação
com seus custos operacionais?

Essas seis perguntas são genéricas, mas evidente o como se deve conduzir questões de
uso da terra.

CONDICIONANTES COMUNS às VÁRIAS BACIAS

São condições óbvias para todos os tipos de bacias. Todavia, a simples condição de
facilidade para a agricultura, sobretudo intensiva, não é condição plena para se decidir
agir como se tem agido no bioma Cerrado que será doravante a área de estudo de caso
nesse livro. Há alguns aspectos que são críticos e devem ser Temas, considerados
determinantes para a tomada de decisões:

1 – As zonas de recarga de aquíferos e as áreas precisas de recarga – onde estão, quais os


tipos em função dos tipos de aquíferos, quais os tipos de condições de infiltração etc,

2 – Os solos sensíveis a erosão,

3 – As áreas de inundação periódica e permanente,

4 – Os vários níveis de declividades e as técnicas a serem usadas ante a erodibilidade das


rochas e solos e erosividade pluvial,

5 – A efetiva conservação da circulação hídrica de montante a jusante, mesmo com


atividades econômicas no em torno,

6 – A interconectividade de todos os tipos de comunidades de vegetação natural,


remanescentes ou a serem intocadas dentro da bacia.

Estes são assuntos críticos a priori.

CLASSIFICAÇÃO e ZONEAMENTO da BACIA em ÁREAS HOMOGÊNEAS

Algumas variáveis sensíveis e críticas para se aplicar em um modelo de zoneamento da


bacia em função das condições de circulação hídrica podem ser articuladas de diversos
modos:

1 – Reconhecimento dos tipos de aquíferos subterrâneos e suas localizações nas rochas e


solos, para os aquíferos profundos e rasos.

2 – Mapeamento dos aquíferos superficiais na em todas as ordens de sub-bacias.

3 – Declividades em relação aos vários tipos de aquíferos.

4 – Estudo de maturidade do relevo de bacias para avaliar as áreas com maiores


geopotenciais e maiores condições de erodibilidade em função da declividade e das
condições líticas e edáficas.

5 – Avaliação da capacidade de assimilação de cursos d’água vistos no conjunto das sub-


bacias, preferencialmente as sub-bacias de 3ª ordem definidas de montante a jusante.

Outros temas de interesse são vários, mas os enumerados acima têm as características de
se tratar com temas sensíveis.

A Tabela 3.1 (Huang & Ferng, 1990) apresenta um conjunto de variáveis próprias para os
diversos tipos de zoneamentos de tipo geoecológicos como acima descritos para serem
estudados em todas as escalas de acordo com a proposição de Moss (1985).
São três os métodos amplos de zoneamento em áreas homogêneas do ponto de vista
ecológico (Martins Jr., 2008).

(M-1) O método de zoneamento das sub-bacias em áreas homogêneas ZSAH


(M-2) Método integrado de zoneamento das sub-bacias e de temas focais ZSTF
(M-3) Método de zoneamento de áreas geo-ecológicas regionalizadas ZAGR

Desses três, o método M-1 é o que se trata nesse capítulo e se subdivide-o em seis sub-
tipos de zoneamentos ecológicos com a classificação em sub-bacias como perspectiva, a
saber (Tabela 3.1).

Tabela 3.1 – Temas e variáveis por sub-bacias ou sub-regionais selecionadas para os diversos
tipos de zoneamentos ecológicos de bacias (Huang & Ferng, 1990).
Contexto Variáveis Classificação de terras / Zoneamentos
Capacidade Eco-
Circula- Eco-
Morfo- assimilativa Geo- Agro-
ção unida-
métrico de cursos tecnia florestal
hídrica des
d’água pastoril

Área de drenagem. x x
Comprimento axial x
Métrico e de de bacia.
configuração Fator de forma.
x x
Coeficiente de
compacidade. x x x
x

Áreas de tipos de x x x x x
solos.
Drenagem de solos. x x x x x x
Textura de solos. x x x x x
Pedológicos Capacidade de x x x x
acumulação
potencial de
umidade.

Altitude máxima. x x x x
Altitude média. x x x x
Altitude mínima. x x x
Áreas de intervalos x x x x x
de declividades.
Índice de x x x x
diversidade do x
terreno.
Fisiográfico Índice morfo- x x x
litográfico.
Índice x
pedogeomórfico. x
Direções angulares x x
de drenagem. x
Índices de x x x
rugosidade de x
superfície.
Evapotranspiração x x x x x
potencial.
Evapotranspiração x x x x x
Clima real.
Precipitação anual x x x x x
total.

SAR – taxa de x x
absorção de Na.
Irrigação
CSR – NaCO3 x x
residual.

pH x x
Eh x x
Condutividade em x x
µS/cm.
Temperatura oC. x x
Hidrogeo-
Oxigênio x
químico
dissolvido.
Vazões x
específicas.
Índices de x
qualidade da água

Tabela 3.1 – continuação


Classificação de terras / Zoneamentos
Variáveis por Capacidade
Circula- Eco-
Contexto sub-bacias e/ou Morfo- Assimilativa Geo- Eco-
ção unidade
sub-regionais métrico de cursos
hídrica s
tecnia agrícola
d’água

Medida anual de x x
decomposição como
% da produção de
folhedo.
Produtividade
primária potencial x
líquida não ajustada. x
Produtividade
primária valor
ajustado.
Índice de
performance dos x x
solos.
Produtividade
Ecodinâmica primária líquida x x
potencial média.
Produtividade anual
líquida acima do x x
chão.
Escoamento
superficial x x x x x
acumulado. x
Capacidade de
acumulação. x x x x
Áreas de x
assembléias
vegetais. x x

x
Tabela 3.1 – Continuação

Classificação de terras / Zoneamentos


Variáveis por Capaci-
sub-bacias dade
Circu-
Contexto Morfo- assimi- Eco- Geo- Eco-
e/ou sub- lação
métrico lativa de unidades tecnia agrícola
regionais hídrica
cursos
d’água

Índice de x x
saturação de
Langelier. x
Índice de x
Larson. x
Nível freático. x
Direções x x
angulares de
fraturas.
Fontes e x x x x
nascentes – x
áreas de
segurança.
Áreas de erosão x x
atuais.
Geologia Profundidade de x
aplicada / nível freático.
Geotecnia Áreas de
empréstimos.
Áreas de x
instabilidade. x
Taxa de x
progressão da
erosão.
Áreas potenciais x
de recursos
minerais.
Vulnerabili-
dade às várias
fundações. x
Zonas de
recarga de
aquíferos. x
1 - Morfométrico
2 - Capacidade assimilativa de cursos d’água
3 - Qualidade da água
4 - Quantidade da água, que pode efetivamente ser dividido em três sub-tipos de zoneamentos para água
superficial, para água subterrânea e também para ambas em um único zoneamento.
5 - Eco-unidades do bioma na bacia reconhecidas em cada sub-bacia.
6 - Geotecnia e obras de engenharia.
7 - Eco-agroflorestal pastoril

Acrescenta-se a Tabela 3.2 com as variáveis próprias para a cartografia do lidar com a
erodibilidade dos solos tema este também tratado no livro Certificação da Qualidade da
Produção Geo-ambiental e Econômica de Bacias Hidrográficas e de Propriedades Rurais
(Martins Jr., 2012, inédito). Essa Tabela 3.2 ao incluir o aspecto da erodibilidade permite
mapear como uma forma específica de classificação de terras e sub-bacias.
Tabela 3.2 – Variáveis para se estruturar as variações dos solos no território do ponto de vista
da erodibilidade (org. Martins Jr., 2019).
Classificação de terras / Zoneamentos
Variáveis por sub- Erodibi- Eco-
Circu- Eco-
Contexto bacias e/ou sub- Morfo- lidade x Unidades Geo-
lação agrí-
regionais métrico Erosi-
hídrica
pedo- tecnia
cola
vidade lógica

Porosidade η - x x x x
é a relação entre o
volume de vazios e o
volume total da amostra
η = Vv / Va
x x x x
Índice de vazios é
o volume de vazios pelo
volume de sólidos
e = Vv / Vs
x x x x
Teor de umidade
w - massa de água e
massa sólida
w = MH2O / Ms
Massa específica x x x x
natural γ -
é a relação entre a
massa da amostra e seu
volume
γ=M/V x x x x
Grau de saturação
Sr - relação entre o
Erodibi- volume de água e o
lidade local volume de vazios.
e regional Sr = Vw / Vv
cartográfica Limite de x x x x
liquidez é a fronteira
entre o estado líquido e
o plástico; medido
experimentalmente pelo
no de golpes dados pelo
aparelho próprio.
Limite de x x x x
plasticidade LP -
é o teor de umidade que
determina a fronteira
entre o estado plástico e
o estado semi-sólido;
medido.
Índice de x x x x
plasticidade IP -
mede maior ou menor
plasticidade do solo;
fisicamente representa a
quantidade de água
necessária acrescentar a
um solo para a mudança
do estado plástico para o
estado líquido.
Tabela 3.2 – Continuação das variáveis para se estruturar as variações dos solos no território do
ponto de vista da erodibilidade (org. Martins Jr. 2019).

Classificação de terras / Zoneamentos


Variáveis por sub- Erodibili- Eco-
dade Circula Unida- Eco-
Contexto bacias e/ou sub- Morfo- Geo-
versus -ção des agrí-
regionais métrico
Erosivi- hídrica pedo-
tecnia
cola
dade lógica

Índice de x x x x
consistência é a
consistência do solo em
função do teor de
umidade.
Erodibili- Ic = (LL - w) / (LL
dade local e - LP) x
regional Coesão reflete a x x x
cartográfica relação entre as partículas;
é experimental.
x
Ângulo de atrito ϕ x x x
- é relativo ao arranjo dos
grãos de dada substância. x x x x
Erosividade pluvial

Para uma cartografia de bacia hidrográfica desde o ponto de vista da erodibilidade sobre
um mapa de pedologia pode-se articular o mapa de erodibilidade articulado com o mapa
de elevação digital do terreno e em integração com os remanescentes de vegetação nativa
de modo a se poder salientar as áreas entendidas como disponíveis e/ou em uso do ponto
de vista da sensibilidade a erosão. A articulação com um mapa de pluviosidade pode-se
ainda entender as áreas mais sensíveis sob a relação ‘erodibilidade x erosividade’ tal que
permita se estabelecer um amplo programa de boas práticas e de mitigação de áreas em
processo de degradação.

Todos esses métodos já são caracterizados como métodos próprios para os zoneamentos
geo-ecológicos, e não implica que em um projeto de estudo se deva realizá-los todos, nem
mesmo que se realize algum deles, haja vista o fato de que existem dois outros métodos
distintos como se apresentam em seguida.

Nesses três casos os resultados são diversos. Em M-1 apresenta-se uma cartografia com
o qual se pode agrupar sub-bacias segundo o tema que foi escolhido entre os seis temas
específicos acima citados. Em M-2 o zoneamento deve ser apresentado segundo algum
tema focal, como por exemplo, a agricultura intensiva de oleaginosas. Em M-3 o enfoque
é voltado para os vários sub-sistemas naturais do bioma dentro da bacia maior e também
as relações entre a vegetação, a circulação hídrica e distribuição da água, altitudes e
eventualmente micro-climas, visto por exemplo pela pluviosidade nas várias sub-bacias.

Entende-se que os zoneamentos devam ser realizados em número mínimo e voltados para
as questões reconhecidas em diagnósticos, ou por objetivos, de modo que as respostas
dos zoneamentos possam atingir o objetivo central de auxiliar as decisões de quaisquer
ordens.
Em todos os três casos M-1, M-2 e M-3 pode-se aplicar o método para o conjunto da
bacia como um todo ou para as várias sub-bacias, neste caso classificando-as em grupos
de homogeneidade segundo as variáveis determinantes do tema (Tabela 3.1). A
recomendação que se faz é a de aplicar o método M-1 para sub-bacias de 3ª ordem cujas
áreas permitem uma melhor apreensão da complexidade da questão enquanto as bacias
de 2ª ordem se mostram de modo geral muito grandes para tratar em uma única carta de
zoneamento.

Todos esses tipos de zoneamentos ecológicos são, a rigor, feitos por temas e por isso são
de utilidade para se montar modelos de gestão da bacia não mais voltados unicamente
para questões biológicas, ecológicas e geológicas de modo genérico, mas com um apoio
na geo-ecologia e na aplicabilidade de zoneamento como um documento de auxílio a
decisões. Trata-se de documentos de ciência aplicável.

VARIÁVEIS NECESSÁRIAS para MÉTODOS de ZONEAMENTOS ECOLÓGICOS

As variáveis apresentadas na Tabela 3.1 acima são apresentadas com as definições,


métrica e dimensionais das mesmas. Na Tabela 3.2 já se indica as variáveis com as
fórmulas. Quanto ao uso das mesmas para bem representar a distribuição da erodibilidade
recomenda-se agregar às informações de erodibilidade dos vários tipos de solos e
complementar com uma análise completa e em cada tipo de solo, e em caso de haver
dúvidas de representatividade recomenda-se crescer o número de amostras com o apoio
de decisão aplicando-se a análise de variáveis regionalizadas em conjunto com os dados
de pluviosidade, de elevação digital do terreno, e de ocorrência de áreas com vegetação
nativa remanescente.

CONTEXTO da FISIOGRAFIA

São as seguintes variáveis:

(1) altitudes máxima, média e mínima


(2) índice de diversidade de terreno
(3) índice morfo-litográfico
(4) índice de rugosidade pela força vetorial do terreno
(5) índice de rugosidade de superfície pela área
(6) índice pedogeomórfico
(7) direções angulares da drenagem (Figura 3.1).

Para o cálculo de índices necessários há que especificar todas as áreas por rochas,
geoformas, solos e em seguida rochas/ geoformas, rochas/ solos, geoformas/solos e
rochas/ geoformas sejam no total da bacia seja em cada sub-bacia, de jusante a montante
(Figuras 5 a 15).
Figura 3.1 – Variáveis do contexto fisiográfico necessárias para vários métodos de classificação
de áreas homogêneas do terreno, tendo-se a fisiografia como referência.

ALTITUDES MÁXIMAS, MÍNIMAS e MÉDIAS

A importância dessas variáveis serve para contribuir que se possam agregar áreas de
bacias ou sub-bacias em áreas homogêneas com distribuição de altitudes expressivas no
contexto.

ÍNDICE de DIVERSIDADE do TERRENO

Importância:
A diversidade do terreno ao ser indicada por sub-bacia e ao se classificar o conjunto de
sub-bacias de uma grande bacia pode-se ver grupos que se agregam por semelhanças.

Recomenda-se usar o índice de diversidade de terreno de Shannon

H = -ni / N log (ni / N)


onde

n representa o número de unidades de malha do tipo i-ésimo de terreno;


igualmente pode ser usado como medida de áreas totais de cada tipo de terreno.
N é o número total de unidades de malha da bacia também podendo ser expresso
por área.

ÍNDICE MORFOLITOGRÁFICO

Importância:
As diferentes Formações, Grupos e Super Grupos têm diferentes condições líticas que
produzem formas de relevos próprias. Embora formas diversas possam ser expressas por
diferentes litossomas a relação forma-substrato expressa uma peculiaridade de uma área
e/ou de uma sub-bacia.
Equações do índice morfolitográfico

Iml = - mi / N log (mi / N)


mi representa o número de unidades de malha do morfotema i-ésimo.
N é o número total de unidades de malha dos substratos litossomáticos que
sustentam a forma; se houver mais de uma unidade litossomática caberá ao juízo
do geólogo decidir a unidade estratigráfica ideal bem como as rochas intrusivas
a serem ou não tratadas em separado conforme for o caso.

ROCHAS

O mapeamento de rochas é o clássico litoestratigráfico, onde para as questões superficiais


e subsuperficiais as rochas são o suficiente já que não se entra em consideração sobre
questões como as formações, grupos e supergrupos, como também atitudes e espessuras
eventualmente mensuráveis de pacotes de rochas (Figura 3.2).

As rochas são importantes pelo fato de que se deva pesquisar as relações rochas /
geoformas / solos, que são as relações superficiais que contam para as questões da
geodinâmica externa e dos planos de uso da terra.

GEOFORMAS

Em quaisquer vales de bacias a pesquisa das formas do modelado é importante pelo fato
de que essas formas em parte condicionam o relevo, em parte são condicionadas pelas
rochas subjacentes e condicionam em parte os solos, já que esses têm mais de um fator
como causação dos mesmos (Figura 3.3).

ROCHAS e GEOFORMAS

As condições ambientais entre rochas/geoformas em qualquer bacia devem ser descritas
pelas relações espaciais de associatividade entre as mesmas. As relações rochas e
geoformas são consideradas de ambos os pontos de vista da Geomorfologia estrutural
e/ou climática de relações espaciais entre rochas e geoformas; as medições de áreas
podem ser em km2 ou hectares, conforme melhor convier.

NÚMERO de ÍNDICES MORFOLITOGRÁFICOS

Cada sub-bacia pode ter uma variável que indique o número de índices Iml necessários
para descrever a sub-bacia e as eco-unidades.

Imlij (área) = - Si / Ss log (Si / Ss)


onde:
Imlij advém da tabela de áreas medidas por elemento de grade sobre o terreno
Si área do i-ésimo morfotema
Ss área total do litossoma que sustenta a forma Imlij nos contornos da sub-bacia
Figura 3.2 – Retomada da carta lito-
Figura 3.3 – Mapa geomorfológico do
estratigráfica da Bacia do Paracatu derivada e
Paracatu, derivado e atualizado, disponível na
atualizada (escala original de 1:250.000; Plano
escala de 1:250.000 (CETEC, 1981; Martins
Noroeste - CETEC, 1981).
Jr. et al., 2006).

DIREÇÕES ANGULARES da DRENAGEM

Importância:
Qualquer que seja o tipo de drenagem, os drenos formam ângulos entre si ao longo de
trechos do percurso total. Tais ângulos podem refletir características de estruturas rúpteis
impostas às rochas e geradora de relevo. A medida das direções médias fornece um
indicador discriminante de áreas de uma bacia hidrográfica.

Modos de expressão:

Os ângulos devem ser medidos tratando-se os drenos e trechos dos cursos d’água como
linhas retificadas que representem aquela direção, apesar oscilações do curso d’água. As
medidas devem ser feitas em azimutes. Uma vez feitas as retificações, deve-se medir os
azimutes começando dos drenos mais altos para os de mais baixa altitude sucessivamente.
A medida do azimute deve ser guardada em uma tabela reportando-se aos drenos de todas
as ordens. Como expressão final das variáveis:

 média angular das tendências mais significativas expressas numa rosácea.


 média por ordem de drenos.
ÍNDICE de RUGOSIDADE de SUPERFÍCIE EXPRESSO pelo PARÂMETRO de
ÁREAS

Importância:
Busca-se a quantidade de semelhança entre a área teste e uma superfície planar, que em
si mesma não é determinante, em virtude de áreas com diferentes rugosidades poderem
vir a ter a mesma superfície. Os dados básicos para este parâmetro são a série de medidas
de transversos ortogonais li e wi nos quais
n p
W = Σ Wi L = Σ lj
i=1 j=1

a área estimada Â= W x L

n,p i=n j=p


de Σ Âi = Σ Σ wi . lj
i, j=1 i =1 j=1

Esta área deve ser comparada à área de um polígono com mesmas dimensões externas
que sejam iguais àquelas da área teste.

A relação entre  / A’, onde A’ é a área do polígono de igual dimensão externa ao


polígono da área-teste mostra uma relação curvilínea que se aproxima assintoticamente
do infinito quando  cresce. As medidas são feitas em cartas topográficas.

Outros modos de expressar índices de rugosidade são apresentados abaixo apenas com a
indicação de definição de rugosidade entre vários autores. Outros índices de rugosidade
existem disponíveis nos SIG.

O conceito tradicional de índice de rugosidade é: "área tridimensional / área plana".

Christofoletti sugere outro índice com esse nome, qual seja, o produto entre a amplitude
altimétrica (H) e a densidade de drenagem (Dd), resultando na formulação:

H* Dd

Outra formulação de índice, para modelagem ambiental, tem as seguintes descrições:

 "Topographic Index", "Wetness Index", "Compound Topographic Index - CTI" e


outros nomes, conforme disponível em SIG. A fórmula é "área da bacia de captação
específica / tangente da declividade da encosta". Também pode ser expresso onde CA é
a área de contribuição específica e G é a declividade da encosta. Esse é calculável no
ArcGis e outros SIGs.
ÍNDICE de RUGOSIDADE de SUPERFÍCIE EXPRESSO pela FORÇA VETORIAL
da DISTRIBUIÇÃO de PLANOS TOPOGRÁFICOS

Importância:
Destina-se a descrever a orientação tridimensional das superfícies dentro da rugosidade
da área em estudo. O sítio é simulado por um conjunto de superfícies planares
intersectantes que são por sua vez definidas por grupos adjacentes de leitura de três
elevações. As normas a estes planos são representadas por vetores. Estes vetores são
calculados para suas médias, força e dispersão, usando os métodos.

A força vetorial indica o comprimento resultante da soma dos vetores unitários e é obtido
utilizando-se o método da direção do cosseno. A força vetorial é um parâmetro
normatizado variando de zero a um, quando zero representa nenhuma orientação
preferencial e um a orientação preferencial idêntica dos vetores.

A força vetorial é usualmente alta e a dispersão vetorial, portanto baixa em áreas


caracterizadas por elevações semelhantes. Em contrapartida elevações nãos sistemáticas
fornecem uma força vetorial pequena e, portanto, alta dispersão dos vetores.

Extração de parâmetros: leitura das altitudes por sub-bacia de modo iso-espaçado com as
coordenadas iniciais da 1ª elevação lendo-se na linha 1, coluna 1 no canto superior
esquerdo da carta com precisão de três decimais; leitura de coordenada da 1ª elevação
lendo-se na linha 1, coluna 1 medida para a direita da posição da elevação no canto
esquerdo superior do mapa também a três decimais.

CONTEXTO MÉTRICO e de CONFIGURAÇÃO

São as seguintes variáveis: (1) áreas de drenagem total das bacias (2) declividade do
talvegue principal (3) área de drenagem a montante de local escolhido (4) comprimento
axial de bacia (5) fator de forma ou índice de conformação. Essas variáveis são
especialmente úteis para o zoneamento pelas características métricas das sub-bacias
(Figura 3.4).

Figura 3.4 – Variáveis nos contextos de características métricas e de configuração de bacia


hidrográfica.
ÁREAS de DRENAGEM

É a área plana em projeção horizontal delimitada pelo divisor de águas, que é


topográfico.

Determinação:
Por planimetria ou em SIG, expresso em km2 ou em hectares.

COMPRIMENTO AXIAL da BACIA [em todas as ordens ou no total da bacia


principal]

É dado convencionalmente pelo comprimento do rio mais longo dentro da bacia


considerada.
Determinação:
 medido em SIG obtém-se medida perfeita se o curso tiver muito bem vetorizado.

DECLIVIDADE do TALVEGUE PRINCIPAL por TRECHOS

A declividade é uma variável expressas em percentual significando a relação de caimento


do talvegue por unidade de percurso. Sua importância é significativa porque permite
substituir satisfatoriamente a declividade média do terreno da sub-bacia como descritor
de área. O mapa de elevação digital de terreno fornece essa visão regional da declividade.
A questão é que se precisa a medida certa da declividade na unidade malha.

Equação:
Extrai-se a declividade por trecho de talvegue expressa em diferença de cota e distância
entre dois pontos em m/km; extrai-se a inclinação por segmento de reta representativo do
trecho e calcula-se a média ponderada.

Ii = (Yn - Y n-p) (Xn - X n-p) -1


onde:

I inclinação ou declividade
Y cotas em metros
X distância em km

FATOR de FORMA e ÍNDICE de CONFORMAÇÃO

Significado:
É um aspecto de importância para descrever sub-bacias segundo o aspecto da forma. Tal
procedimento associa as medidas de forma da sub-bacia a uma forma geométrica
conhecida.

1 – FATOR de FORMA ou ÍNDICE de CONFORMAÇÃO (Kf)

Relaciona a largura média da bacia (l) com o seu próprio comprimento axial (L).
largura média l = A/L
Kf = 1/L
onde, Kf = A/L2

Kf constitui um índice que aponta para a maior ou menor propensão de uma bacia a vir a
ter enchentes. Maiores valores do fator de forma indicam maior probabilidade de vir a
ocorrer enchentes.

2 – COEFICIENTE de COMPACIDADE (Kc) ou ÍNDICE de GRAVELIUS

Relaciona o perímetro da bacia e a circunferência de círculo que possui igual área à da


bacia.
onde, a área do círculo de igual área a da bacia é A = πr2
r = (A/π)1/2
logo, Kc = P / 2πr
Kc = 0,28 (P/A1/2)
P perímetro da bacia
C circunferência de círculo de área A
r é o raio de um círculo de igual área à da bacia

UMA APLICAÇÃO ESPECÍFICA para o ÍNDICE de CONFORMAÇÃO

Uma das aplicações de interesse, além daquelas mais eventuais no campo da


Hidrologia, será o estudo classificatório de sub-bacias, sejam aquelas de 2ª ordem e
aquelas até 7º ou 8º ordens dentro de uma bacia de 2ª ordem, com o uso do Índice
de Conformação.

Esses estudos seriam aplicáveis para averiguação classificatória de sub-bacias com


maior ou menor grau de propensão a enchentes. Essas informações quando
cartografadas são importantes para se considerar o fator enchente no âmbito do
planejamento regional.

Tais condições quando bem descritas como um potencial intrínseco às sub-bacias


permitirá identificá-las em seus vários subconjuntos no total de sub-bacias de uma
grande bacia de 2ª ordem, como primeiro passo para a compreensão das condições
para o processo de se efetivar inundações. Todavia, essas condições intrínsecas não
são únicas em virtude de alguns outros fatores, a saber:

1 – Distribuição regional da pluviosidade pelos aspectos: “total anual de chuvas”,


“chuvas máximas na estação chuvosa”, “coeficiente de variação de pluviosidade no
período chuvoso” e “número de dias de chuva no período chuvoso”.

2 – Tipos de solos a montante de algum conjunto de sub-bacias quando essas tenham


mais propensão a enchentes determináveis pelos aspectos métricos do índice de
conformação.

3 – Caracterização do “estado de conservação da vegetação natural” no conjunto


das sub-bacias em consideração e a montante.
4 – Mapeamento da agricultura e do uso da terra e dos tratos conservacionistas.

5 – Áreas de terras a descoberto, expostas com encrostamento de solos ou com


erosão.

6 – Efetivo transporte de sedimentos para o talvegue do rio que pode transbordar


para além das condições naturais de inundações.

7 – Localização de obras humanas passíveis de serem afetadas pela inundação.

O conjunto de informações assim geradas, ainda com informações sobre enchentes


sabidas nos anos anteriores permite estabelecer uma política de prevenção ou
mesmo de correção dos processos de enchentes.

CONTEXTO dos SOLOS

São as seguintes variáveis:


(1) áreas de solos (2) método do complexo de cobertura de solos (3) índice de
performance de solos (4) erosão superficial (5) textura de solos e (6) drenabilidade de
solos. Em um estágio de maior detalhe introduz-se a (7) aptidão de solos com as
condições, apto, inapto e restrito (Figura 3.5).

Figura 3.5 – Variáveis cartografáveis no contexto dos solos de uma bacia.

Métodos de Zoneamentos – Contexto No Relatório II – 1ª Etapa do Projeto “Metodologia


para o Enquadramento Científico de Cursos d’Água no Contexto do Gerenciamento de
Bacias Hidrográficas – Produção das Informações Básicas”, Nota Técnica NT MDBV
01/1992, 79p, nas páginas 22 a 25 (ver Memória Técnica da Fundação CETEC) é
apresentada a conceituação matemática do índice pedogeomórfico.

Essa conceituação deve ser idêntica para a geração dos índices pedo-litográficos e
geomórficos, indistintamente, trocando-se apenas os símbolos para áreas de rochas,
geoformas e solos em cada caso.

Parte-se do último parágrafo da Conclusão do primeiro Tema da Nota Técnica, intitulado


“Gestão Geo-Ambiental de Bacias Hidrográficas – Os Sistemas Geológicos como Fase
Inicial de Decisão para Uso da Terra”.
“As relações quantificadas entre rochas, geoformas, solos, formações superficiais
apresentam-se como uma contribuição fundamental para comprovar a pertinência dos
processos de morfogênese e pedogênese no âmbito decisões sobre usos da terra. Também
devem ser úteis para futuros mapeamentos e demais estudos de campo, por permitirem
inferências indiretas prováveis a partir de elementos de rochas, solos e geoformas,
aplicáveis a projetos agrícolas e estudos de compatibilidade de plantios para produção de
energia de biomassa de forma compatível com os terrenos. Esses aspectos por não serem
triviais demandam dos geocientistas, em colaboração com os engenheiros agrônomos,
florestais e ambientais, a competência de estabelecer regras em diversas escalas de análise
para se poder decidir os melhores modos de ocupar o terreno em função do substrato.

Evidentemente, muitos outros fatores deverão ser confrontados, mas as relações  rochas
/ geoformas / solos / formações superficiais são os primeiros fatores a serem
considerados para se estabelecer os modelos e cenários de Desenhos de Uso Optimal do
Território – DUOT de qualquer bacia hidrográfica”. Esse tema constitui o Capítulo 4
desse livro.

Com essa conclusão aponta-se para o sentido básico que se atribui para os cálculos dos
índices pedo-geomórficos, pedo-litográficos e lito-geomórficos como variáveis próprias
para serem aplicadas para a classificação da grande bacia, como um todo, ou da mesma
grande bacia pelas sub-bacias para classificar em áreas homogêneas pelos geossistemas.
Nas indicações em seguida aponta-se para a descrição desses índices nos quais as
conclusões do primeiro tema desse capítulo indicam.

ÍNDICES PEDO-GEOMÓRFICOS

Os índices pedo-geomórficos são de particular interesse para a agricultura em uma visão


regional nas escalas de 1:250.000 a 1:100.000 onde os aspectos mais marcantes são
registrados. Pode também ser aplicada na escala de 1:10.000 dentro de propriedades
rurais, que seria mais um índice de suporte à decisão em se tratando de usos intensivos da
terra, como ocorre no Vale do Paracatu. Uma classificação de terras em geral, ou de sub-
bacias realizadas tão somente com esse índice sobre fundo topográfico pode fornecer boas
bases para decisões generalistas dentro de uma bacia de 2ª ordem.

ÍNDICES LITO-GEOMÓRFICOS

Os índices lito-geomórficos são importantes variáveis para se usar para classificação das
sub-bacias em áreas homogêneas. As relações rochas/ geoformas são importantes tanto
para geotecnia quanto para agricultura, a construção de rodovias, ferrovias, hidrovias,
centrais hidroelétricas e outras obras de engenharia. Os dados a serem utilizados são
aqueles da Tabela 5, que foram medidos para o conjunto da bacia de 2ª ordem.

ÍNDICES PEDO-LITOGRÁFICOS

Os índices pedo-litográficos são importantes variáveis para se usar para classificação das
sub-bacias em áreas homogêneas. As relações rochas/ solos são importantes tanto para
geotecnia quanto para agricultura, neste caso associadas com a carta de aptidão de solos.
Sem dúvida, que as questões sobre as relações de estabilidade podem ser indicadas com
essa cartografia.

As Figuras derivadas dos dados da Tabela 3.8, foram calculadas para a bacia de 2ª ordem
vale do rio Paracatu.

As Figuras 3.6 a 3.14 apresentam essas relações das rochas sob os principais tipos de
solos dominantes na mesma bacia.

Figura 3.6 – Neste caso a rocha EoCtm está integralmente em contacto direto com o
solo AQ.

Figura 3.7– Neste caso as rochas que estão sob o solo CX são EoCtm, EoCpd e EoCpa.

CONTEXTO das ROCHAS


Rochas vistas por sub-bacias:
Esta série de medidas pode ser necessária para se apreender as importâncias relativas dos vários
tipos de rochas. Áreas de rochas por sub-bacia com base na carta lito-estratigráfica. Nesse caso
as sub-bacias podem ser classificadas somente em função das rochas dominantes nas mesmas. É
uma informação pequena, mas pode eventualmente ser útil em algum caso específico, e nesse
caso o tema da Geotecnia pode ser tratado se ainda incluir-se as Formações superficiais também

Figura 3.8 – Neste caso a rochas GX são EoCpd, EoCpc, EoCpa, EoCtm, EoCp, PCc,
Ka, Kmc, Ku, Qa, TQd e TQda.

Figura 3.9 – As rochas que estão sob o solo LV são EoCtm, EoCpd, EoCpc, EoCp, Ka,
Ku, Kmc, PCc, Qa, TQd, TQda.
Figura 3.10 - As rochas que estão sob o solo LVA são EoCtm, EoCpa, EoCpc, EoCp,
Ka, Ku, Kmc, TQda, TQd.

Figura 3.11 - As rochas que estão sob o solo PV são EoCpa, EoCp.

Figura 3.14 - As rochas que estão sob o solo são EoCp, EoCp, EoCtm, Ku, Kmc, Ku,
TQd, TQda, Qa
Figura 3.12 - As rochas que estão sob o solo PV são EoCp, EoCpa, EoCpc, EoCpd,
EoCtm, PCc, Kmc, Ku, Ka, Kmc, TQd, TQda.

Figura 3.13 - As rochas que estão sob o solo RQ são EoCpc, EoCpa, EoCpd, EoCp,
Ku, Kmc, Qa, TQd, TQda.

CONTEXTO das GEOFORMAS do TERRENO

Geoformas vistas por sub-bacias:  Áreas de geoformas por sub-bacia com base na
carta geomorfológica

Declividade vista por sub-bacias:  Áreas de declividade do terreno por sub-bacia


com base na carta do modelo digital de elevação com foco nas declividades. Os
contextos das rochas / geoformas / solos e eventualmente declividades podem ser
incluídos em um contexto maior dos Geossistemas.

CONTEXTO HÍDRICO

1 - VARIÁVEIS HIDROLÓGICAS

São as seguintes variáveis:  taxa de bifurcação de drenagem, número de drenos


por sub-bacia, comprimento total da drenagem, densidade de drenagem, índice de
densidade de bifurcação, contribuições específicas, tempo de concentração (Figura
3.15).

Figura 3.15 – Variáveis no contexto de Hidrologia.

1 - VAZÕES ESPECÍFICAS

1.1 – CONTRIBUIÇÕES Específicas Médias de Longo Período

Significado:
É a relação entre a vazão média de longo termo em uma seção transversal do curso
d’água e a área de drenagem relativa a esta seção.

Equação: qml = Qml / A

onde:
qml = contribuição específica média de longo período
Qml = vazão média de longo período
A = área de drenagem

1.2 – CONTRIBUIÇÕES) Específica(s) Mínima(s)

Significado:
É a relação entre a vazão mínima média em uma seção transversal do curso d’água e a
área de drenagem relativa à seção. Esta vazão pode ser associada a uma duração e a uma
probabilidade de ocorrência.

Equação: qmín(d,t) = Qmín(d,t) / A

onde:
qmín (d,t) = contribuição específica mínima com d dias de duração e T anos de período de
retorno. Qmín(d,t) = vazão mínima média com d dias de duração e T anos de período de
retorno.
A = área de drenagem
1.3 - CONTRIBUIÇÕES Específicas Máximas

Significado:
É a relação entre vazão máxima média em uma seção transversal do curso d’água e a
área de drenagem relativa à seção. Esta vazão pode ser associada a uma probabilidade
de ocorrência.
Equação: qmax(T) = Qmax(T) / A
onde:

qmax(T) = contribuição específica máxima de T anos de período de retorno.


Qmax(T) = vazão máxima média com T anos de período de retorno.
A – área de drenagem.
As unidades são expressas em: l / seg km2

Comentário:

As variáveis hidrológicas propostas neste trabalho devem ser regionalizadas, pois a


regionalização de parâmetros de variáveis hidrológicas tem a finalidade de extrair o
máximo de informações dos dados pontuais disponíveis em postos fluviométricos,
extrapolando-os espacialmente dentro de um contexto temporal para locais onde não
existam estes postos.

A variável contribuição específica média de longo período permite indicar o potencial


hídrico médio da bacia hidrográfica. As variáveis extremas, ou seja, contribuição
específica mínima e contribuição específica máxima, regionalizadas poderão ser
utilizadas como parâmetros para as funções de inferência que permitam estimar eventos
hidrológicos de distintas durações e recorrências capazes de atender às demandas de
projetos.

2 – NÚMERO de DRENOS por SUB-BACIA.

No uso da classificação das sub-bacias de jusante a montante para fins de cálculos de


classificação das sub-bacias na condição de grupos o número de drenos deve ser contado
dentro de cada ordem.

3 – COMPRIMENTO TOTAL da DRENAGEM

Todos os drenos devem ser medidos em metros ou quilômetros, conforme conveniência,


totalizando-os por sub-bacia.

4 – DENSIDADE de DRENAGEM

A totalidade das medições do comprimento dos drenos expressa em relação à área da sub-
bacia em hectares ou km2 indica a densidade. Neste caso a densidade expressa algo
diverso do número de drenos por sub-bacia e também poderia ser expressa pelo número
de drenos de mais alta ordem dentro da sub-bacia em estudo, bem como os comprimentos
totais desses drenos na sub-bacia. Tais dados refinam ainda mais a classificação de terras.
5 – TAXA de BIFURCAÇÃO de DRENAGEM

Estabelece a relação do número de bifurcações, isto é, de cada encontro de drenos pelo


comprimento total da drenagem na sub-bacia.

Equação: tbd = Nb / L taxa de bifurcação


dd = L/A densidade de drenagem
onde:
L = comprimento total da drenagem
Nb = número de bifurcações
Idb = (Nb/L) (A/L)

É importante desenvolver-se estudos da distribuição de frequência do Idb em função dos


diversos tipos de formas de sub-bacias, associado aos tipos de padrões de drenagem para
cada caso (dendrítico, treliça, retangular, pinada, paralela, radial, centrípeta, anelar,
irregular). Esse tipo de estudo enriquece o conhecimento geológico, mas não é de
aplicação decisória imediata.

6 – ÍNDICE de DENSIDADE de BIFURCAÇÃO

Estabelece uma percepção da densidade relacionada à taxa de bifurcação, que depende


do comprimento da drenagem pela própria densidade desta drenagem na sub-bacia.

Equação: Tb = Nb / L

dd = L/A densidade de drenagem

Idb = (Nb / L) (A/L) índice de densidade de drenagem

7 – TEMPO de CONCENTRAÇÃO

É o tempo contado a partir do início da chuva para toda bacia que contribui para o
escoamento superficial na seção transversal estudada. Pode ser considerado como o
tempo que uma parcela do escoamento superficial, no ponto mais distante da bacia, leva
para chegar à seção considerada. O tempo de concentração é calculado através de
fórmulas empíricas e ábacos que fornecem o valor desse tempo em função das
características físicas da bacia hidrográfica.

2 – VARIÁVEIS HIDROGEOLÓGICAS

São as seguintes variáveis: (1) áreas de exsudação (2) áreas das fontes e localização (3)
zonas de recarga de aquíferos (4) áreas precisas de recarga de aquíferos (5) número de
fontes por tipo de aqüífero em cada sub-bacia. São calculadas como áreas, localizações,
vazões em fontes, tipologia de nascentes, tipos de áreas de recarga em função dos tipos
de aquíferos.
CONTEXTO ECOLÓGICO DINÂMICO

São as seguintes variáveis: medida anual de decomposição percentual da produção anual


de folhedo, produtividade primária potencial líquida não ajustada, produtividade primária
líquida potencial média, produtividade primária valor ajustado, produtividade anual
líquida acima do chão (Figura 3.16).

Figura 3.16 – Variáveis no contexto da Ecologia dinâmica.

MEDIDA ANUAL de DECOMPOSIÇÃO PERCENTUAL da PRODUÇÃO ANUAL


de FOLHEDO

Significado:
O folhedo é o estado da matéria orgânica caída ao solo e ainda não ativamente
transformado em húmus. A medida anual de decomposição como percentual de produção
do anual de folhedo é uma medida de eficiência bioenergética do ambiente associado à
disponibilidade de precipitação, isto é, o escoamento superficial menos a percolação
(Meentemeyr & Elton, 1977).

Equação:
d = log % = 1,127 + 0,0010181 x
onde:

x = Er (mm/ano) evapotranspiração real // r = 0,98 // r2 = 0,96 // N = 24

As medidas de decomposição levam em conta os sistemas em equilíbrio ártico, temperado


frio, zonas temperadas e tropicais. Estimativas de Er anual são dadas nas Tabelas de
Thornthwaite & Mather (1955). Os valores observados e estimados são apresentados na
Figura 3.17.
10000
Decomposição Anual Medida

Produção Anual de Folhedo 1000


Como % de

100 Valores…
valores…

d = log % = 1,127 + 0,0010181 x


10

1
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

Evapotranspiração Anual (mm)


Figura 3.17 – Relação entre evapotranspiração anual e decomposição anual medida como % de
produção anual de folhedo (citação de Meentemeyr & Elton, 1977).

PRODUTIVIDADE PRIMÁRIA POTENCIAL NÍTIDA NÃO AJUSTADA

Significado:

O processo de produtividade primária provê uma medida de uso inicial da interação


energia / umidade pelo ambiente; é considerado o indicador mais apropriado da produção
de biomassa em dado local; é, portanto, o primeiro nível trófico em qualquer ecossistema
(Moss, 1985; Leith & Box, 1972). A relação da evapotranspiração real anual pela
produtividade primária é mostrada na Figura 3.18.

Equação:
PPN = 3.000 |1 – e (-0,0009695(Er-20) |
onde:

PPN = g/m2/ano
Er = evapotranspiração real em mm/ano
e = base do logaritmo natural
(Meentemeyer, 1977)
Produtividade Primária (PPN) g/m2/ano 3000

2500

2000

1500

1000
PPN =3000 |1 – e(– 0,0009695 (Er – 20) |

500

0
0 250 500 750 1000 1250 1500 1750
Evapotranspiração Real Anual (mm)

Figura 3.18 – Relação da evapotranspiração real anual pela produtividade primária (citação de
Meentemeyer, 1977).

PRODUTIVIDADE PRIMÁRIA NÍTIDA POTENCIAL MÉDIA

Significado:
Na escala de ecodistrito toma-se a produtividade primária líquida. A proporção de cada
valor de classe de solos, que cai dentro dos limites de cada ecodistrito deve ser
determinada através dos valores de ponto médio para cada classe, que é assumida ser o
valor medido representado por esta classe (Moss, 1985).

Equação:

onde:
m – número dos valores de classes
Aj* – a terra numa classe particular de solos como percentual da área total do
ecodistrito.
*
Vj – é o valor de ponto médio do potencial da produtividade primário líquida para cada
um.

EVAPOTRANSPIRAÇÃO EFETIVA e POTENCIAL

O termo [nítido] substituirá doravante o termo mais usual de [líquido] como uma opção
proposta por esse autor. A produtividade primária provê uma [medida de quantificação
do fluxo de energia e de informação] nas comunidades naturais.

Uma das variáveis de significado para estimar trocas é a evapotranspiração efetiva Ee.
Major [1963] relata que a Ee de ambientes terrestres é qualitativamente conecta à
quantidade de plantas vasculares. A evapotranspiração efetiva é definida como a
precipitação menos o escoamento superficial menos a percolação. Como fenômeno é a
quantidade de água que efetivamente retorna à atmosfera, sendo, portanto, o oposto da
precipitação. Para que a água retorne à atmosfera é necessária a sua disponibilidade e a
disponibilidade de energia solar que efetivará as mudanças do estado líquido para o de
vapor. Portanto, a Ee é uma medida efetiva daquelas relações.

A evapotranspiração potencial Ep é definível como o total de evapotranspiração que


ocorreria se o solo de uma grande área, tendo vegetação típica do entorno, fosse mantido
úmido constantemente ao nível ou acima da capacidade de campo [Sellers, 1965]. Esta
medida é uma estimativa da energia solar utilizável no cálculo de Ee.

Um problema se coloca para o cálculo destas variáveis no fato das assembléias vegetais
estarem ou não em clímax, serem vegetação pioneira, áreas agrícolas ou áreas em
degeneração e/ou desertificação. Tais situações devem ser consideradas à parte das
populações em clímax para as quais foram calculadas a curva de Ee x log Pannac -
produtividade nítida acima do chão (Quadro 3.2). No Quadro 3.2 foram transcritos os
dados de Rosenzweig [1968] pela sua importância na metodologia de estudo de trocas,
especialmente para os cálculos de Ee e Pannac. Deve-se a Rosenzweig a descoberta dessas
relações como matematicamente descritíveis.

Quadro 3.2 – Dados de diversas procedências para o valor calculado de log Pannac e de log Ee
segundo Rosenzweig (1968, p.69) – para referências ver autor.
Código Ambiente Localidade log Pannac log Ee Referências
A arbusto creosote deserto Nye Co., Nevada, USA 1,60 2,10 Odum, 1959
B tundra úmida Ártica Cape Thompson, Alaska 2,16 2,30 Rickard, 1962
Hadley and Bliss,
C tundra úmida alpina Mt. Washington, US 2.16 2,37
1965

pradaria com gramíneas Norman,


D 2,75 2,79 Penfound, 1964
altas Oklahoma, US
Heath Bald
E Great smoke Mts., Us 2,66 2,58 Whittaker, 1963
(leiophyllum)
Heath Bald
F Great Smoke Mts., US 2,61 2,58 Whittaker, 1963
(rhododendron)
Heath Bald
G Great Smoky Mts. Us 2,69 2,58 Whittaker, 1963
(rhododendron)
Mixed Heath (Peregrine
H Great Smoky Mts, US 2,58 2,72 Whittaker, 1963
Peak)
Mixed Heath (Rock
Great Smoky Mts., US 2,80 2,69 Whittaker, 1963
Spur)
K floresta de beech-maple Toronto Canadá 2,98 2,75 Bray, 1964
floresta tropical
L Kade, Ghana 3,34 3,09 Nye, 1961
secundária
Bartholomew, et
Yangambi, Congo,
M floresta tropical 3,46 3,12 al. 1953;
Leopoldville
Laudelout, 1953
Quadro 3.2 – Continuação de ‘Dados de diversas procedências para o valor calculado de log Pannac
e de log Ee segundo Rosenzweig (1968, p.69) – para referências ver autor’.

Código Ambiente Localidade log Pannac log Ee Referências


dunas de areias frias do próximo a Rexburg, Idaho,
N 2,24 2,34 Pearson, 1966
deserto US
O Oak-hickory forest Oak Ridge, Tenn., US 3,08 2,92 Whittaker, 1966
Hanford reservation,
P cheatgrass 2,01 2,25 Rickard, 1962
Washington, US
Q Fraser fir forest Great Smoky Mts., US 2,75 2,61 Whittaker, 1966
Spruce fir forest, Mt.
R Great Smoky Mts. 2,97 2,68 Whittaker, 1966
Mingus
Spruce fir forest, Mt.
S Great Smoky Mts. 3,01 2,64 Whittaker, 1966
collins
T Gray beech forest Great Smoky Mts. 2,96 2,69 Whittaker, 1966
U Gray beech forest Great Smoky Mts 2,82 2,69 Whittaker, 1966
V Hemlock mixed forest Great Smoky Mts. 3,07 2,82 Whittaker, 1966
W Upper cove forest Great Smoky Mts. 3,04 2,74 Wittaker, 1966
X deciduous cove forest Great Smoky Mts. 3,09 2,85 Whittaker, 1966
Hemlock rhodo-
Z Great Smoky Mts. 3,01 2,75 Whittaker, 1966
dendron forest

O método de estimativa de Ee foi desenvolvido por Thornthwait & Mather [1957] com
base no conhecimento da latitude, temperatura média local mês a mês e a precipitação
mês a mês.

PRODUTIVIDADE ANUAL NÍTIDA ACIMA do CHÃO

Significado:
A produtividade bruta é definida como uma integral da taxa de fotossíntese ao longo do
ano. A taxa de fotossíntese depende da concentração da matéria biótica, da água, da
energia solar. Dado que o outro componente dióxido de carbono é mais ou menos
constante 0,029% em ambientes terrestres ele se torna mais dispensável nos cálculos
(Sellers, 1965).

A equação de predição da produtividade incluindo o intervalo de 5% para a curva e o


intercepto é:
log Panac = (1,66 ± 0,27) log Er – (1,66 ± 0,07)

onde:
Panac = produtividade anual líquida acima do chão
Er = evapotranspiração real (Rosenzweig, 1968)
N = 20
Os valores observados e estimados da relação entre a evapotranspiração real e a
produtividade nítida acima do chão são apresentados na Figura 3.16.
4

Log Comum da Produtividade Nítida


3.5

Acima do Chão 3

2.5 Valores estiomados


Valores observados
2
Log Pan= (1,66 ± 0,27)log Er - (1,66 ± 0,07)
1.5
2 2.25 2.5 2.75 3 3.25

Log Comum da Evapotranspiração Real


Figura 3.16 - Relação entre a evapotranspiração real e a produtividade nítida acima do chão
(segundo Sellers, 1965).

CONTEXTO da CLIMATOLOGIA

São as seguintes variáveis: evapotranspiração potencial, evapotranspiração real,


precipitação total anual (Figura 3.17).

Figura 3.17 – Variáveis no contexto da Climatologia.

EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL

Significado:

A quantidade de evapotranspiração que pode ocorrer se o solo de uma grande área, tendo
vegetação típica de seus em tornos vier a se manter constantemente úmido, isto é, acima
de sua capacidade de campo.

A evapotranspiração potencial é a estimativa de energia solar usada para calcular a


evapotranspiração real. A biotemperatura e a evaportanspiração real são correlacionáveis
linearmente (Holdridge, 1969).

Ep = 58,93 B
onde:
Ep = evapotranspiração potencial
B = biotemperatura

Equação:
Ep = 1,6 (10 T / I)a
onde:
Ep – evapotranspiração potencial medida em mm
T – temperatura média mensal em oC
I – índice de calor anual (soma dos valores dos índices de calor mensais para 12 meses
determinados na equação)
I = (T/5)1,514 função linear do índice de calor I

Os valores calculados para Ep são ajustáveis e corrigidos usando-se nomogramas e


tabelas.

EVAPOTRANSPIRAÇÃO REAL

Significado:
A evapotranspiração real em ambiente terrestre é um fenômeno ligado a magnitude da
atividade das plantas vasculares. É também entendida como a precipitação, menos o
escoamento superficial, menos a percolação. É uma medida da disponibilidade simultânea
da água e da energia solar em um ambiente durante um intervalo de tempo.
Método e critérios de coleta de dados:

Estimativas de evapotranspiração real a serem calculadas a partir da latitude da


localidade, temperatura média mensal e precipitação mensal estão em Thorntwaite &
Mather (1957). A estimativa da produtividade pode ser dada pela produtividade líquida
acima do chão; outros tipos de dados de produção devem ser desenvolvidos
oportunamente.

Um valor ambiental específico não deve ser usado para predizer mais do que um dado de
produtividade. Valores de fluxo de energia em comunidades na condição de clímax para
a vegetação local são os únicos valores de fluxo de energia predizíveis a partir de qualquer
variável climática geral.

PRECIPITAÇÕES ANUAIS

Essas variáveis são de importância diversa para vários quadros de decisão (Martins Jr.,
Coord., Nunes et al., 2006). A precipitação total anual tem como significado ser uma
variável com a qual se expressa a precipitação em função real da área de ocorrência, com
isto entendendo-se a sub-bacia, cada sub-bacia e a bacia maior em seu total, conforme
conveniência. Uma generalização de valores numa bacia não teria o efeito discriminante
desejável, como se esperaria decidir sobre temas de geotecnia e estabilidade em diferentes
vertentes, por exemplo, bem como planícies, latitudes e zonas de microclimas.

A variável é expressa em mm, ou mm/mês, ou mm/ano quando é a soma total do ano


hidrológico, que pode ser contado pelo ano civil ou qualquer outro intervalo de 12 meses.
Séries temporais são de grande valor para se utilizar em situações específicas de decisão
em áreas diversas de distintas sensibilidades à ação da pluviosidade (Figuras 3.17 a 3.24,
Nunes, 2002; Coord. Martins Jr., Projeto CRHA Fundo Setorial CT-Hidro 2002).

Chuva máxima anual Chuva máxima no período chuvoso

Figuras 3.17 e 3.18

Coeficiente de variação anual Coeficiente de variação do período chuvoso

Figuras 3.19 e 3.20 -


Número de dias de chuvas anual Precipitação máxima no período chuvoso

Figuras 3.21 e 3.22


Período chuvoso Período seco

Figuras 3.23 e 3.24 todos esses mapas têm a bacia do Paracatu ao centro o Distrito Federal ao
noroeste e a bacia do rio São Francisco a sudeste e a sub-bacia do rio Sã Marcos a oeste.

CONTEXTO HIDROGEOQUÍMICO

São as variáveis: pH, Eh, condutividade elétrica, temperatura, oxigênio dissolvido, índice
de qualidade da água (Figura 3.25).

Figura 3.25 – Variáveis no contexto hidrogeoquímico.

Essas variáveis são extraídas em cursos d’água, em locais estrategicamente selecionados,


em áreas de inundação periódica e inundação permanente, em nascentes, em poços
tubulares e cacimbas. A cartografia de enquadramento de cursos d’água é um instrumento
com o qual se elabora todo o raciocínio de qualidade com o qual a indicação de uso é feita
e as indicações de mitigação são apontadas para se atingir as condições de qualidade de
uso determinadas.

Nesse contexto hidrogeoquímico aponta-se como produto das relações temas e variáveis,
a descrição de um método de trabalho com o sistema amostral de qualidade sobre grandes
áreas de bacias hidrográficas e a baixo custo operacional.

MÉTODO AMOSTRAL REFERENCIAL para ASSINATURA HIDRO-GEOQUÍMICA e


de QUALIDADE da ÁGUA em BACIA HIDROGRÁFICA

Esse método é sugerido como uma inovação metodológica dentro desse capítulo para se
estabelecer um Sistema de Decisão sobre Locações de Pontos Amostrais em bacias
hidrográficas, SDLP, bem como de base para interpretação da análise de qualidade química da
água. Cabe deixar claro que não se trata de locação de estações hidrométricas, mas efetivamente
de locais de amostragem de água. Pela característica desse sistema tem-se como premissas
metodológicas:
1 – bem representar o território com um mínimo de despesas.
2 – amostrar o mais completamente em um ano hidrológico de referência.
3 – distinguir áreas não poluídas de áreas poluídas, aquelas como referências para essas.
4 – amostrar em sucessivos anos sobre uma base amostral de referência.
5 – atualizar a base de referência de 10 em 10 anos ou em tempos menores conforme seja o
caso.

PRIMEIRA VARREDURA para Localização de Pontos e/ou Trechos de Referência

Tendo-se as premissas acima citadas como base, a filosofia amostral em proposição vai
se embasar em algumas características das relações espaço-temporais em qualquer bacia, a
saber:

1 – a série de medições da pluviosidade derivadas das estações climatométricas:  essas


estações embora desejavelmente devam ser próximas uma das outras dentro de uma região e
com um número total a ser considerado o adequado, apesar de serem dispersas sempre são mais
corretamente utilizáveis do que número restrito de estações hidrométricas fluviais muito
espaçadas na maioria das bacias do País; ou seja, as estações climatométricas podem estar mais
espaçadas em virtude do fato de que os fenômenos climáticos recobrem regiões.

2 – as correções de erros por falta de registros confiáveis ou ausência dos mesmos em estações
hidrométricas já foram tratadas metodologicamente acima para a bacia do Paracatu, tanto em
teoria quanto na aplicação aos dados disponíveis.

3 - as relações métricas das diversas sub-bacias de 3ª ordem dentro de uma bacia de 2ª ordem
são apenas um dos aspectos a serem computados para a caracterização do campo amostral para
pontos de amostragem d’água.

4 – as localizações de fontes ou nascentes de quaisquer tipos sob os pontos de vista ecológicos


e geológicos devem ser necessariamente amostradas em uma região, podendo vir a considerá-
las como pontos referenciais, quando se comprovar não estarem poluídas por íons, aníons e
biocidas.

5 – as variações das chuvas (Figuras 3.17 a 3.24), Chuva máxima anual, Chuva máxima no
período chuvoso e Precipitação máxima no período chuvoso) devem ser utilizadas como fatores
complementares para decisão para se escolher pontos amostrais com as seguintes condições:

a – as áreas mais chuvosas devem ser amostradas, tanto nos períodos secos e chuvosos, como
potenciais pontos de referências para vazões específicas e para assinaturas hidroquímicas caso
provarem-se que não estejam poluídas por íons, anions biocidas, outras substâncias tóxicas,
com depleção de oxigênio livre, ou com DBO inconveniente a meios típicos, em diversos
trechos de trajeto de um rio ao longo de uma mesma ocorrência lítica e/ou de solo.

b – as áreas menos chuvosas devem ser amostradas tanto nos períodos secos e chuvosos como
situações de referências para essas áreas.

c – a chuva anual é importante de ser conhecida e nesse sentido as várias sub-bacias de 3ª ordem
devem ser mapeadas segundo as suas distribuições em face da chuva anual; a rigor todas as
sub-bacias podem ser mapeadas segundo as diversas variáveis da pluviosidade pela
importância dessas variações na hidrodinâmica.
SEGUNDA VARREDURA para Localização de Pontos e/ou Trechos de Referência

Nessa fase de elaboração do campo amostral de referência deve-se concentrar todos os


esforços para se localizar pontos ou trechos sabidamente não poluídos, ou por via química ou
por via biótica. Em princípio, as fontes ou nascentes já terão sido determinadas como
pertencentes ao campo amostral de referência, atendidas as exigências de qualidade, e então
alguns pontos ou trechos em altos das sub-bacias devam ser também selecionados, segundo os
seguintes critérios:

1 – tanto quanto possível de fácil acesso.


2 – sem interferência do gado.
3 – guardado zelosamente pelo proprietário rural.
4 – o mais isolado possível.
5 – seguramente sem área de poluição difusa a montante ou ponto de difusão de poluentes
também a montante.
6 – serem das partes mais altas da sub-bacia.

No que diz respeito a partes médias e baixas das sub-bacias os critérios para se obter
pontos ou trechos de referências devem ser os seguintes:

1 – não ter interferência direta ou indireta do gado.


2 – não ocorrer área de poluição difusa a montante em quaisquer partes da bacia de
contribuição daquele trecho.
3 – não ocorrer área de poluição pontual a montante em quaisquer partes da bacia de
contribuição daquele trecho.

Esses nove condicionantes atendem a qualidade dos pontos ou trechos escolhidos para
se obter bons resultados sobre os pontos amostrais que permitirão determinar as assinaturas
físico-químicas e químicas das águas superficiais no todo da bacia com apreensão das variações
em função dos solos e das rochas eventualmente mais ou menos agentes sobre as condições
químicas.

Importante ressalva deve ser dada em função da ocorrência de minerais especiais com
alta mobilidade geoquímica para seus elementos componentes. Tais condições são naturais e
pode ocorrer a lixiviação desses elementos por via natural. O conhecimento dessas áreas
possíveis de distribuir esses íons deve ser observado na condição de se classificar um local ou
um trecho como referenciais.

TERCEIRA VARREDURA
Os pontos ou trechos determinados como referenciais devem ser amostrados 4 vezes em
um ano hidrológico para os pH, Eh, condutividade elétrica, temperatura da água, OD, DBO,
principais íons e aníons e biocidas. Nessa fase os pontos ou trechos são definitivamente
estabelecidos como referenciais, restando, todavia, observar alterações ambientais e
econômicas a montante de modo a se evitar aparecer condições de poluição.

QUARTA VARREDURA
Nessa etapa, com a cartografia de pontos referenciais mínimos pode-se desde então
escolher pontos ou trechos amostrais segundo os mais diversos critérios com vistas a se
acompanhar a qualidade e as interferências sobre a qualidade da água, tomando-se como
assinaturas hidrogeoquímicas os valores dos pontos ou trechos de referência.
TRATAMENTO REFERENCIAL de QUALIDADE NATURAL das ÁGUAS

Esse tratamento deve-se dar em relação aos pontos ou trechos referenciais. Assim, para
as descrições principais da físico-química deve-se recorrer às relações redox, diagrama |
pH x Eh |, às relações | pH x Eh x OD |, a seleção por análise canônica ou por análise de
grupamento de todos os pontos ou trechos referenciais para classificá-los segundo várias
assinaturas hidroquímicas. As variáveis de condutividade elétrica, temperaturas, oxigênio
dissolvido OD e demanda bioquímica de oxigênio DBO devem fazer parte desse conjunto
básico de parâmetros a serem medidos, descritos e interpretados como referências
naturais. Esses íons e aníons devem ser estudados com a definição das médias, desvio
padrões, Q1, Q2, mediana e máxima para os pontos agrupados em subconjuntos (Scherrer
& Martins Jr., 2009, in Projeto GZRP).

Figura 3.25 – Mapa de pontos amostrais em


fontes distribuídas ao longo da área de
divisor de águas. Os resultados espaciais são
para o elemento Ca ao longo da área tampão
– medidas em mg/l (extraído do Projeto
GZRP; Martins Jr., P.P. (Coord.); Carneiro.
J.A.; Knupp, V.F.; Diniz, C.P.L.; Andrade,
L.M.G.; Coutinho, V.S.C.; Vasconcelos,
V.V.; Novaes., L.A.d’A.; Scherrer, L.R.;
Oliveira, L.C.de; Fernandes, M.M.; Saraiva,
C.C.S.; Baeta, A.M.; Bolivar, F.deC.;
Santos, B.R.V. Instrumentos de Gestão de
Recursos Hídricos Subterrâneos entre
Bacias que Partilhem Zonas de Recarga de
Aqüíferos. Belo Horizonte e Ouro Preto:
Projeto GZRP. Memória Técnica do
CETEC. Financiamento Edital 14/2006.
FAPEMIG. Duração 2007-2009. Relatório
Final. 1 Vol. 2009. 572 p. Anexo: Descrição
das Fontes Amostradas; Mapas; Bases de
Informação Cartográfica em jpg e shp).

Entre os muitos elementos estudados segue um exemplo de estudo para o cálcio da água
de fontes em área do divisor de águas entre as bacias do Paracatu, Alto Paranaíba, São
Marcos e São Bartolomeu coletada em fontes (Martins Jr. et al., Projeto GZRP),
recobrindo mais de 11.000km2 (Figuras 3.25 a 3.27).
Com base nos resultados da Tabela 3.2, nota-se que a metade dos pontos amostrados
possui concentração de Cálcio (mg/l) entre 0,275 e 1,790 (considerando o 1º e 3º quartil).
Tem-se que a concentração média do Cálcio é igual a, aproximadamente, 2,05 mg/l, com
desvio-padrão igual a 4,252 mg/l. A Figura 3.25 apresenta a distribuição da amostra com
relação ao Cálcio.
Tabela 3.2 - Estatística Descritiva para o Cálcio.

Variável Casos Média DesPad Mínimo Q1 Mediana Q3 Maximo


Cálcio
(mg /l) 25 2.056 4.252 0.180 0.275 0.460 1.790 19.100
Fonte: dados primários da pesquisa (2009).

Figura 3.26: Diagrama de caixa do Cálcio.

A Figura 3.26 indica que a mediana do Cálcio é de 0,46 mg/l, pois a linha central da caixa
encontra-se nesse valor. A variabilidade do Cálcio é representada, no gráfico, pelo
comprimento da caixa. Este comprimento é calculado pela diferença do 3º e 1º quartil
(1,515 mg/l). Assim, quanto maior o comprimento, maior será a variação do Cálcio.

Como um dos objetivos do estudo é comparar o Cálcio entre as áreas na qual pertencem
os pontos amostrados, neste caso, realizaram-se as estatísticas descritivas por grupo de
áreas para o Cálcio considerando as três campanhas, Tabela 3.3 e Figura 3.26.
Tabela 3.3 - Estatística Descritiva para o Cálcio (mg/l) por área.
Área Casos Média DesPad Mínimo Q1 Mediana Q3 Maximo
Área_3 1 2.990 * 2.990 * 2.990 * 2.990
Área_1 3 0.893 0.957 0.230 0.230 0.460 1.990 1.990
Área_2 6 0.267 0.073 0.180 0.203 0.255 0.335 0.380
Área_4 4 0.448 0.051 0.390 0.398 0.450 0.495 0.500
Área_5 3 1.710 2.210 0.290 0.290 0.580 4.260 4.260
Área_6 3 0.600 0.239 0.340 0.340 0.650 0.810 0.810
Área_7 4 8.800 8.080 1.590 1.990 7.250 17.150 19.100
Área_8 1 0.220 * 0.220 * 0.220 * 0.220
Área_Total 25 2.056 4.252 0.180 0.275 0.460 1.790 19.100
Fonte: dados primários da pesquisa (2009).

A Figura 3.27, indica que a mediana do Cálcio (mg/l) para a área 7 (7,25 mg/l) é maior
que as demais áreas, pois a linha central da caixa referente a esta área está na escala acima
das demais no eixo mg/l. Além disso, esta área apresenta maior variabilidade do Cálcio
do que as outras áreas, pois sua caixa tem comprimento maior.

Em resumo, para os dados do Cálcio nas oito áreas, temos um valor mediano (amostral)
maior na área 7 e, também, uma maior variação entre os pontos amostrados nesta área.
Essas conclusões são válidas apenas para valores amostrais observados.

Figura 3.27 – Diagrama de Caixa para o Cálcio (mg/l) por área.

DINÂMICA das VARIAÇÕES do Cálcio.

A Tabela 3.4 apresenta as relações comparativas ente o Ca como obtido em cada


campanha.
Tabela 3.4 - Avaliação dos escores entre as Campanhas (1ª, 2ª e 3ª) referente ao Cálcio.

Resultados
Ca Pontuação Estatística P-valor Conclusão
1ª Campanha 0.28 3.35 0.188 1ª Cam.=2ª Cam.=3ª Cam.
2ª Campanha 0.61
3ª Campanha 0.46

Nota: – As probabilidades de significância (p-valor) referem-se ao teste de Kruskal-Wallis.


– Os valores de p-valor em negrito indicam diferenças significativas.
– Os resultados significativos foram identificados com asteriscos, de acordo com o nível de
significância, a saber: p-valor < 0.01** (nível de confiança de 99,0%) e p-valor < 0.05 *
(nível de confiança de 95,0%). Fonte: Dados da pesquisa própria com apoio da
FAPEMIG.

Comparando-se as três campanhas quanto ao Cálcio, não foi verificada diferença


significativa em relação às campanhas, pois a estatística apresentou um valor-p de 0.188.
Neste caso, há evidência suficiente para afirmar que a concentração do Cálcio (mg/l) é
igual entre as campanhas. Este resultado pode ser visto na Tabela 16. Por decorrência,
pode-se admitir que os valores de Ca dissolvido seriam em si indicativos de condições
ambientais e talvez o mesmo processo de infiltração nas águas superficiais e subterrâneas
como equivalentes sobre o conjunto de pontos amostrados.

Esse é, portanto, o tipo de estudo que aplicado a cada íon e aníon permite que se decida
sobre a qualidade de um ponto ou trecho amostral como referências atendidas às
condições acima especificadas. As Figuras 3.28a, b e c integram a visão da ocorrência do
Ca nas três campanhas.

ESTRATÉGIA AMOSTRAL de MONITORAMENTO

O monitoramento deve ser contínuo no tempo, é de difícil amostragem, caro e de difícil


operação em campo. Para tanto, o método aqui proposto e a escolha das variáveis pH, Eh,
condutividade elétrica, temperaturas, OD e DBO por serem mais fáceis de serem obtidas
servem como indicadores de custos mais baixos por poderem apontar para mudanças
ambientais mais profundas, tanto do ponto de vista da química quanto biótico.

Essas medições realizadas para os pontos amostrais de verificação da qualidade da água


devem ser comparadas com as amostragens dos pontos e trechos referenciais e assim se
terá um quadro de indicações de possíveis locais poluídos e com custos menores. Somente
os pontos de indicações de alterações físico-químicas podem então ser amostrados para
os íons e aníons previstos.

Como funciona, portanto, o sistema referencial em relação aos locais amostrais para
controle de poluição?

Tendo-se um quadro sempre cada vez mais preciso das condições normais de assinaturas
hidrogeoquímicas pode-se acompanhar as amostras das várias localidades nas quais se
monitoram a poluição a partir das relações entre vários pontos amostrais, a legislação e
os pontos e trechos referenciais. Com efeito, esses referenciais nos dão os teores normais
das assinaturas hidrogeoquímicas e assim, os pontos de amostragem para poluição podem
ser analisados de modo comparativo e em relação com a legislação concomitantemente.

Para se evitar amostrar todos os pontos escolhidos estrategicamente como pontos de


controle da poluição, esses mesmos pontos podem ser amostrados periodicamente
somente dos pontos de vista dos parâmetros pH, Eh, condutividade, temperaturas, OD e
DBO de modo a se obter por meios dessas variáveis físico-químicas as probabilidades de
se ter amostrado um local poluído ou não. Essa estratégia é a menos cara e os custos de
análises de íons e aníons e de biocidas ficam somente para aqueles locais em que as
variáveis físico-químicas apresentam indicações de alteração segundo os locais
referenciais a montante do local de amostragem para poluição.

Cálcio – Ca

Figura 3.28a Figura 3.28b Figura 3.28c

Figura 3.28 – Resultados analíticos sobre o íon Ca em água de fontes. A Figura 3.28a é de Junho
de 2007, a Figura 3.28b é de setembro de 2007 e a Figura 3.28c é de agosto de 2008.

CONTEXTO da IRRIGAÇÃO

São as seguintes variáveis: SAR - taxa de absorção de Na, CSR – carbonato de Na


residual.

CONTEXTO da GEOTECNIA APLICADA

São as seguintes variáveis:  índice de saturação de Langelier, índice de Larson, áreas


de erosão atual, áreas de instabilidade, profundidade do nível freático, taxa areal de
progressão da erosão, áreas de vulnerabilidade aos vários tipos de fundações, direções
angulares de fraturamentos, fontes e nascentes como áreas para segurança, zonas de
recarga como áreas de segurança.

CONTEXTO dos RECURSOS MINERAIS

São as seguintes variáveis:  áreas de jazimentos sabidos, áreas de pesquisa mineral,


áreas em mineração, áreas em descomissionamento, áreas descomissionadas, fontes de
poluição, eventos comuns de impactos sobre corpos hídricos como mortandade de peixes.

Esse contexto segue as regras da pesquisa de ocorrências e de jazimentos. Por certo que
as noções de Distritos minerais e Províncias minerais são compatíveis com a noção de
zoneamentos de bacias hidrográficas. Todavia, esse tipo de zoneamento não é ambiental,
mas é um tipo de zoneamento que pode fornecer informações básicas para os pontos e
trechos amostrais de referência para qualidade da água ou para a assinatura
hidrogeoquímica. Serve também como um zoneamento para gestão das atividades
minerárias dentro de bacias hidrográficas, sob os vários aspectos que interessam à gestão
de bacias, que são:

(1) potenciais de exploração mineral


(2) localização de jazimentos em relação com áreas sensíveis da bacia
(3) estudos de condições de risco ante a sensibilidade de áreas e a exploração mineral
(4) questões ligadas a ocupação do espaço com as atividades de logística de transporte do
mineral minério e
(5) questões de ocupação do território entre essas, as questões de crescimento urbano e
de conurbação.

O zoneamento de bacias hidrográficas em função dos recursos minerais exploráveis ou


em exploração pode seguir a carta metalognética e a distribuição de minerais que estejam
fora do tipo metálico. Ademais, deve incluir as minerações em atividade, a em
descomissionamento, as já descomissionadas e as atividades em fase de pesquisas. Nesse
sentido deve-se retomar a produção inovadora do ano de 1981, apresentada por esse autor
que é a Carta Mineira com os novos condicionantes da classificação das sub-bacias e/ou
dessas com os Distritos ou ainda a Províncias.

CONTEXTO da SEDIMENTOLOGIA

São as seguintes variáveis:  descarga sólida total e granulometria de sedimentos.

Esse contexto serve diretamente para dar suporte aos estudos de erosão natural, erosão
induzida e de dispersão de resíduos como em atividade de mineração e da construção
civil. Do ponto de vista da erosão pode-se considerar uma carta base de erodibilidade de
solos, rochas e formações superficiais e as sub-bacias e a classificação dessas sub-bacias
em decorrência dessa distribuição de base da erodibilidade.

No caso, a carta de erodibilidade pelos grupos de sub-bacias informará as condições de


base e as condições de erosão e transporte de sedimentos será o complemento para se
averiguar um conjunto de relações expressivas:
(1) |áreas em erosão x transporte de sedimentos|
(2) |áreas de deposição x áreas erodidas|
(3) |repercussão de áreas erodidas x impactos sobre cursos d’água|
(4) |perda de vazão x diminuição de hidropotencial para produção de energia de fonte
hidroelétrica| e
(5) perda de calagem para navegabilidade.

O símbolo de duas barras equivale ao símbolo de intervalo aberto e nesse caso tem dois
significados compatíveis (1) a possibilidade de mais de uma fonte de poluição a montante
e (2) o fato de poder ser erosão natural ou erosão induzida.

Esse modo de estabelecer um zoneamento de bacia hidrográfica é um processo inovador


para a gestão geo-ambiental e econômica. Trata-se dos Zoneamentos das Fontes de
Erosão, Processos de Transporte e Sedimentação com Impactos Ambientais como um
tema especial e de importância prática notável.

CONTEXTO das ÁREAS SENSÍVEIS

São as seguintes variáveis das áreas sensíveis:  áreas de zonas de recarga, áreas precisas
de recarga, áreas de inundação permanente e temporária, fontes e nascentes, pântanos,
brejos, florestas de galerias, áreas típicas ecológicas, Veredas, áreas de alta declividade
etc.

As aplicações das variáveis se dão em diversos tipos de classificações em áreas


homogêneas do terreno de uma bacia. Esse conjunto de mapas que classificam os terrenos
da bacia por subsistemas (geossistemas, solos, circulação hídrica, agricultura, etc.), ou
por sub-bacias ou eventualmente por temas de fundo com objetivos específicos, como,
por exemplo, a erosão, a aptidão de solos etc, que constituem partes do primeiro método
da sequência de zoneamentos ecológicos, a saber, (M-1) método de zoneamento das sub-
bacias em áreas homogêneas ZSAH.

As variáveis acima citadas e classificadas como de áreas sensíveis devem ser expressas
em hectares ou km2 em função das dimensões de áreas. Devem ser desenhadas em mapas
como áreas de especial destaque e em quaisquer dos métodos de classificação em áreas
homogêneas, recomenda-se que essas áreas sensíveis sejam medidas em cada sub-bacia.
Poderá ser que uma sub-bacia possa estar totalmente ligada a uma ou mais áreas sensíveis
e isto trará para essa sub-bacia um status particular nos modelos de gestão geo-ambiental
e econômico.

(M-2) é o método integrado de zoneamento das sub-bacias e de temas focais ZSTF, para
o qual se pode usar as mesmas variáveis acima descritas, em especial as variáveis de áreas
sensíveis, sendo que essas áreas podem ser um dos possíveis temas focais.

RESULTADOS da ABORDAGEM PLURIDISCIPLINAR

Definiu-se que a Abordagem pluridisciplinar tem por característica tratar dados


provenientes de sistemas que estejam em imediata vizinhança, em geral, com não muito
mais do que 3 a 5 tipos de variáveis. Seus produtos são sempre por objetivos e entre eles
pode-se citar a carta de Aptidão de Solos, as cartas de geopotenciais hidroelétricos para
quaisquer ordens de exploração, grandes, pequenas e minicentrais hidroelétricas,
construção de vias de longas distâncias e mesmo vias vicinais, silvicultura e
industrialização rural, entre outros Temas.

Tabela 3.5 – Interseções mais marcantes de Temas para produção de resultados pluridisciplinares
como indicados nas colunas1.
Lito- Topo
Temas Climato- Vege- Uso Econo- Pedo
estratigrafia Hidro- Agro- - Hidro-
pluridis- logia tação da mia -
expressão geologia nomia grafi logia
ciplinares aplicada natural terra rural logia
superficial a

Aptidão
1 1 1
de solos

Geotecnia
1 1 1 1 2 2 2 1 1 1
aplicada

Refloresta-
mento de 2 2 2 1 2 1 1 1 2
nativas

Uso de
Culturas e 2 1 1 1 1 1 1
cultivares

Corredores
florestais
ecológicos 1 1 2 2 1 2 1 1 1 1
e
econômicos
1
– Com o número 1 mostram-se as várias possibilidades de integrar, de modo direto, os diversos temas e
variáveis de vários tipos, tais como:  hidrológico, climatológico, lito-estratigráfico, geológico estrutural,
vegetação, uso da terra, engenharia florestal, agronomia, culturas, cultivares, variáveis de economia rural,
geomorfologia, pedologia, aptidão dos solos, drenagem, topografia, geotecnia aplicada, cartografias em
geral, limnologia, minicentrais hidroelétricas, geopotenciais hidrológicos, energia de biomassa, e outros
mais disponíveis. Com o número 2 indicam-se integrações secundárias, também importantes em diversos
casos.

A Tabela 3.5 apresenta temas objetivos de geotecnia, florestamento, corredores ecológicos e


econômicos, plantação de determinadas culturas e cultivares em uma perspectiva de ciências
disciplinares articuladas para um modelo de integração pluridisciplinar de auxílio à decisão. Os
Temas disciplinares vêm necessariamente constituir uma ampla base de dados de caráter
ecológico incluindo o substrato e a vegetação natural como os mais expressivos.

Diversos métodos de suporte a essas cartografias por objetivos com bases em zoneamentos
ecológicos são os organogramas / fluxogramas / modelagens geomatemáticas / cartografia
regional de bacia / cartografia regional com as sub-bacias de 3ª ordem / classificação de unidades
geo-ecológicas ou mesmo simplesmente ecológicas.
PERDA UNIVERSAL DE SOLOS

Este tema é apresentado em uma série de Tabelas de 3.6 a 3.18 nas quais se consideram
diversas formulações de medições dos fatores de perda universal dos solos. As referências
são citadas nas tabelas e ao final. Esta síntese esteve sob orientação deste autor com o
mestrando Marco Antonio Martins Cantisano (Eng. geólogo).

A perda universal é um fenômeno normal embora seja em muito afetado pela intervenção
antrópica que pode ampliá-la de modo notável ainda abaixo do processo erosivo strictu
senso.

A passagem da condição de perda natural universal ao processo erosivo é assunto de


maior interesse para se poder avaliar as condições de conservação dos solos, e do uso das
boas práticas com sucesso.

As relações de perdas previsíveis à condição de perda real oferecem a diferença que pode
ser atribuída aos efeitos da ação humana. Portanto, esse tipo de estudo deve fazer parte
do processo de avaliação sub-regional a regional das condições de uma bacia hidrográfica.

Os fatores cartografáveis são:


A
Perda de solos (ton / acre / ano)
R
Fator de chuva e de escoamento superficial
K
Fator de erodibilidade do solo
L
Fator de comprimento da vertente
S
Fator do gradiente da vertente
C
Fator de uso e manejo do solo
P
Fator de prática conservacionista

Todos esses fatores podem ser expressos na cartografia em relação aos vários tipos de
áreas do terreno tanto nas bacias quanto nas propriedades rurais.
Tabela 3.6 - Tabelas de definições e de significados das variáveis paramétricas.

Wischmeier, W.H. & Smith, D. D. Predicting Rainfall Erosion


Losses – A Guide to Conservation Planning. U.S. Department of
Agriculture. Agriculture Handbook. n. 537. 1978. 58 p.

A
Variável a ser calculada normalmente por unidade de área para o
Perda de solos (ton /
conjunto de um campo
acre / ano)
R
É o número de unidades de índice de erosão da chuva mais um fator
Fator de chuva e de
para o escoamento do degelo ou água de uso onde tal escoamento seja
escoamento
significante
superficial
K É taxa de perda de solo pelo índice de erosão para um solo específico
Fator de quando medido em um lote unitário o qual é definido como o
erodibilidade do solo comprimento de 22 m (72. 6 pés), em um declive uniforme de 9% em
um contínuo alqueive.
L
É a razão de perda de solo para um comprimento de vertente sob
Fator de
condições normais em comparação com aquela de 22 m de
comprimento da
comprimento em condições de alqueive.
vertente
S É a razão de perda de solo para gradiente de vertente sob condições
Fator do gradiente da normais em comparação com um gradiente de 9% em condições de
vertente alqueive.
C
É a razão de perda de solos para uma área com específicas condições
Fator de uso e
de uso e manejo em relação a uma área em contínuo alqueive
manejo do solo
P É a razão de perda de solos com a utilização de uma prática
Fator de prática conservacionista (plantio em nível, terraceamento etc.) com relação a
conservacionista um plantio de declive abaixo.

Tabela 3.7 – O Fator R do índice de erosividade.


É um índice numérico que expressa a capacidade da chuva, esperada em
dada localidade, de causar erosão em uma área sem proteção. Quando os
outros fatores, à exceção da chuva, são mantidos constantes, as perdas
ocasionadas pelas chuvas nos terrenos cultivados são diretamente
proporcionais ao valor do produto de duas características da chuva: sua
energia cinética total e sua intensidade máxima em 30 minutos (Bertoni et
al., 1975). Esse produto representa um termo de interação, que mede o efeito
R de como a erosão por impacto, salpico e a turbulência combinam-se com a
enxurrada para transportar as partículas de solo desprendidas. Define a
erosividade como a habilidade potencial da chuva para causar erosão, sendo
Índice de função de suas características físicas tais como duração, quantidade,
erosividade distribuição, intensidade etc.
da chuva A erosividade da chuva é uma função da sua intensidade, quantidade e
frequência. A variação do diâmetro da gota da chuva altera o resultado do
cálculo da energia cinética pela fórmula própria
O fator usado para estimar a perda anual média de solo tem que incluir os
efeitos cumulativos das muitas tempestades de tamanho moderado, bem
como os efeitos de algumas ocasionais severas; o índice não inclui as forças
erosivas de escoamento através do degelo ou da irrigação (Wischmeier &
Smith, 1978).
Tabela 3.8 – O fator P
Tabela com valores de P para algumas práticas conservacionistas
relacionadas ao comprimento e ao gradiente da vertente (Wischmeier
& Simth, 1978). Definiram como a relação entre a quantidade de solo
perdido por uma determinada prática conservacionista e a quantidade
P de solo perdido sob cultivo em vertentes abaixo, considerando-se
iguais as condições para os demais fatores.
Fator de prática É a intensidade esperada de perdas de solo com determinada
conservacionista prática conservacionista e as perdas de solo quando a cultura esta
plantada no sentido do declive - morro abaixo. (Bertoni et al.).
É uma função das classes de declive (Silva, 1978).
Valores para o Brasil são apresentados em Marques et al. (1961).

Tabela 3.8 – O Fator K de erodibilidade do solo utilizável na cartografia de erodibilidade como


proposta para a Certificação da Qualidade Geo-ambiental e Econômica do Uso dos Solos.

Baseia-se em três propriedades físicas: a relação de dispersão


razão entre teor de silte mais argila dispersa e teor de silte mais
argila em amostra não dispersada], a relação de argila total para
equivalente de umidade e a relação de erosão.
Observou que a estabilidade dos agregados seriam um bom
indicador da erodibilidade.
Método nomográfico de cálculo da erodibilidade baseada
em 5 parâmetros: percentagem de silte mais percentagem de
areia muito fina, percentagem de areias maiores que 0,1 mm,
percentagem de matéria orgânica, estrutura e permeabilidade
Refere-se a propriedades intrínsecas dos solos que afetam
velocidade de infiltração, permeabilidade e capacidade total de
K armazenamento de água, resistência às forças de dispersão,
salpico, abrasão e transporte pela chuva e o escoamento (Bertoni
Fator de et al., 1975).
erodibilidade do Resulta das propriedades que afetam sua capacidade de
solo infiltração determinado a quantidade e a intensidade do deflúvio
e as propriedades que influenciam sua capacidade em resistir à
desagregação e ao transporte pela ação erosiva das gotas de
chuva e do deflúvio (Wischmeier & Mannering, 1969; Silva e
Freire 1978).
É definido como sendo a susceptibilidade de um solo à
erosão. Propriedades que afetam são basicamente textura e
estrutura, que influenciam a capacidade e velocidade de
infiltração das águas pluviais
Expressa a influência das propriedades químicas e físicas
do solo na erosão, através da infiltração, permeabilidade,
capacidade retenção da água, resistência à dispersão,
aplastamento, abrasão e as forças de transporte.
Tabela 3.9 – O fator LS
LS
É a relação esperada de perda de solos por unidade de área
Fator comprimento
em declive qualquer em relação a perdas de solos
e gradiente da
correspondentes de uma parcela unitária de 25 m de
vertente
comprimento com 9 % de declive. (Bertoni et al., 1975)

Tabela 3.10 – O fator de uso e manejo de solos.

É a relação esperada entre as perdas de solo de um terreno


cultivado em dadas condições e as perdas correspondentes de
um terreno mantido continuamente descoberto e cultivado
(Bertoni, 1975).
Reflete a ação conjugada dos efeitos da vegetação e de
seu manejo em relação à diminuição das perdas de solo (Silva,
1978). Envolve o manejo, que inclui combinações de
cobertura vegetal, seqüência de cultivos, estado fenológico
etc.
Relaciona-se com os aspectos agronômicos e climáticos.
Reflete a combinação dos efeitos dos seguintes fatores:
cobertura vegetal, seqüência de cultivo, níveis de
produtividade, clico da planta, práticas culturais, manejo dos
C
restos culturais e distribuição das chuvas.
Relaciona-se à seqüência de cultivos, produtividade e o
Fator de uso e
tempo em que o solo permanece descoberto ou totalmente
manejo do solo
coberto, a quantidade de resíduos mantidos na superfície,
incorporados ou semi-incorporados, o grau de revolvimento
do solo, o efeito do cultivo anterior, as campinas, o tratamento
para eliminar ervas daninhas e grau de rugosidade do solo.
Define como sendo a razão entre as perdas de solo de uma
parcela cultivada sob condições específicas de manejo, e as
correspondentes a uma parcela mantida continuamente limpa
e preparada para plantio.
É um fator combinado que reflete a influência de:
seqüências da cobertura vegetal no caso de cultivos, tipos de
cobertura vegetal, e quantidade de chuva que cai durante os
períodos em que as práticas agrícolas deixam os solos
desprotegidos.
Tabela 3.11 – Equações para determinação dos fatores da equação geral de perda universal de
solos.

VARIÁVEIS EQUAÇÃO ORIGINAL COMENTÁRIOS /


UNIDADES

[Wischmeier et al., 19580) Ec = energia cinética - kg/ m ha

I = intensidade da chuva - mm/


h
E = 916 + 331 Log10
[Wischmeier & Smith, 1978] Y é energia cinética em ton.
curta-pé / acre-polegada de
chuva

[Lombardi Neto 1977] X é a intensidade da chuva em


polegadas / hora

E é a energia cinética em pés-


EI
R = 30 ton / acre-polegada
100
I é a intensidade em polegadas /
h
R
E = 210, 2 + 89Log10 I EI = média mensal do índice de
Fator de erosão de Wischmeier
erosividade da
chuva r = precipitação média mensal
em milímetros

p = precipitação média anual


em milímetros

R = índice de erosão pluvial

E = energia cinética da chuva


(J/m2)

I30 = máxima intensidade de


chuva em 30 minutos (cm/h)

I = a intensidade do intervalo
em cm / h

E = energia medida em joules/


m2 por cm de chuva
Tabela 3.12 – Equações para determinação do Fator de erodilidade do solo.

COMENTÁRIOS /
VARIÁVEIS EQUAÇÃO ORIGINAL
UNIDADES
M = o, parâmetro
tamanho da partícula
definido acima
a = % de matéria
orgânica
b = código de
estrutura de solos da
classificação de solos,
e
c = classe de
permeabilidade do
perfil
A - % de matéria
orgânica
B - número
correspondente a
estrutura do solo
segundo a seguinte
codificação:
100K = 2,1M 1,14 (10 −4 )(12 − a ) + 3, 25(b − 2) + 2,5( c − 3)
1, grânulo muito fino e
K grumo muito fino
[Wischmeier & Smith, 1978] (<1mm)
2, grânulo fino e
Fator de grumo fino (1-2mm)
erodibilidade 3, grânulo e grumo

M = (100 − % arg ila )[%(lim o + areia fina ]


do solo médio (2-5mm) e
grânulo grosso (5-
10mm)
4, grânulo liso,
prismático, colunar e
muito grosso
(>10mm)
C - classe de
permeabilidade do
perfil, segundo a
seguinte codificação
do USDA - Manual of
Soil Survey:
1.rápida a muito
rápida
2. mediamente rápida
3. moderada
4. moderadamente
lenta
5. lenta
6. muito lenta
Tabela 3.13 – Equações para determinação do Fator de comprimento e declividade da
vertente.
VARIÁVEIS EQUAÇÃO ORIGINAL COMENTÁRIOS /
UNIDADES

L = comprimento do
L
LS = (1, 36 + 0,97S + 0,1385S 2 ) declive em metros
100 S = grau de declive em
percentagem
T = perdas de terra em
T = 0,145D1,18 quilos / unidade de
largura / unidade de
comprimento
D = grau de declive do
T = 0,166C1, 63 terreno, em percentagem
T = perdas de terra em
quilos / unidade de
m largura
 λ 
LS
LS =  (
 65,41 sen θ + 4,56 sen θ + 0,065
 72,6 
2
) C = comprimento de
rampa do terreno, em
[Wischmeier & Smith, 1978] metros
Fator de λ = comprimento do
compri- declive em pés
mento e θ = ângulo de declive
m
declividade  λ  m = 0,5 se percentagem
LS =   [Wischmeier & Smith, 1978] do declive for 5 % ou
da vertente  72,6  mais
0,4 se for 3,5 a 4%
0,3 se for 1 a 3%
(
S = 65,41 sen 2 θ + 4,56 sen θ + 0,065 ) 0,2 se for menor do que
1%.
[Wischmeier & Smith, 1978] λ = comprimento do
declive em pés
m = assume
aproximadamente os
valores dados na
equação LS na seção
anterior.
θ = ângulo de declive.

Tabela 3.14 – Equações para determinação do Fator de comprimento e declividade da


vertente.
VARIÁVEIS EQUAÇÃO ORIGINAL COMENTÁRIOS / UNIDADES

E = 1,03D 0 , 65 C0 , 87 [Bertoni, 1959]


E = perda de solo em t / acre
S = declividade em
[Wischmeier & Smith, 1958] porcentagem
LS
E = índice de erosão
D = declividade e
Fator de C = comprimento do declive
comprimento e
declividade da LS = 0,00984C0 , 63D1,18 [Bertoni, LS = fator topográfico
vertente 1959] C = comprimento do declive
em metros
T = 0,018D1,18 C1, 63 [Bertoni, 1959]
D = declividade em
percentagem

T = perdas de terra em quilos


m
 λ 
/ unidade de largura
L=  [Mopt, 1992] D = grau de declive do
 22,1 terreno, em percentagem
C = comprimento de rampa
do terreno, em metros
( 0,43 + 0, 30S + 0,0435S 2 )
S= L = comprimento do declive
6,613 λ = comprimento do declive
[Mopt, 1992] em metros
m = expoente influenciado
principalmente pela interação
entre o comprimento do
declive e o declive

S = declive em percentagem

Tabela 3.15 – Equações para determinação do Fator de comprimento e declividade da


vertente.

VARIÁVEIS EQUAÇÃO ORIGINAL COMENTÁRIOS /


UNIDADES

 λ   (0,43 + 0,30S + 0,0435S 2 ) 


m
LS = fator topográfico
LS =     λ = comprimento do declive
 22,1   6,613  em metros
[Mopt, 1992] m = expoente influenciado
principalmente pela
0,5
 λ  interação entre o
LS =   (0,065 + 0,0454S + 0,0065S 2 ) comprimento do declive
 22,1  e o declive
= λ0,5 (0,0138 + 0,009655S + 0,00138S 2 ) S = declive em porcentagem
LS
para declives menores de 20% e comprimento LS = fator topográfico
de declive menores que 350m [Mopt, 1992] λ = comprimento do declive
em metros
Fator de 0 ,6 S = declive em porcentagem
 λ  S
1, 4
LS = fator topográfico
compri- LS =     λ = comprimento do declive
mento e  22,1   9  em metros
declividade para declives maiores que 20% [Mopt, 1992] S = declive em porcentagem
da vertente LS = fator topográfico
0,3 λ = comprimento do declive
 λ   0,043 + 0,30S + 0,043S 2 
LS =     em metros
 22 ,1   6 ,613  S = declive em porcentagem
para declives menores que 9% [Wischmeier, 1982] LS = fator topográfico
λ = comprimento do declive
0,3 em metros
 λ  S
1, 3

LS =     para declives iguais S = declive em percentagem


 22,1   9 
ou maiores que 9% [Wischmeier, 1982]
Tabela 3.16 – Exemplo de medições de fração de perda de solos calculados para vertente em
função das variações de declividades.
Número Seqüência Fração de Perda de Fração de perda de solo:
de numérica Solos
segmentos dos m=0,5 m=0,4 m=0,3 i m + 1 − (i − 1)m + 1
=
segmentos N m +1
2 1 0.35 0.38 0.41
2 0.65 0.62 0.59
onde:
3 1 0.19 0.22 0.24 i = seqüência numérica dos
2 0.35 0.35 0.35 segmentos. /
3 0.46 0.43 0.41
4 1 0.12 0.14 0.17 m = expoente comprimento da
2 0.23 0.24 0.24 vertente (0,5 para declives ≥ 5%.
3 0.30 0.29 0.28
0,4 para declives de 4% e 0,3
4 0.35 0.33 0.31
5 1 0.9 0.11 0.12 para 3% ou menos). /
2 0.16 0.17 0.18
3 0.21 0.21 0.21 N = número de segmentos de igual
4 0.25 0.24 0.23 comprimento dentro daquele na
5 0.28 0.27 0.25 qual o declive foi dividido.

Tabela 3.17 – Valores do fator topográfico, LS, para combinações específicas de


comprimento da vertente e declividade.

onde: λ = comprimento da vertente em pés / m = 0,2 para gradientes < 1%, 0,3 para declives
entre 1 e 3%, 0,4 para declives entre 3,5 e 4,5%, 0,5 / para declives iguais ou maiores que
5% /
θ = ângulo de declive. (Para outras combinações de comprimento e gradiente, interpole entre
os valores adjacentes).

Percenta-
Comprimento de vertente (em pés)
gem
de declive 25 50 75 100 150 200 300 400 500 600 800 1000

0.2 0.060 0.069 0.075 0.080 0.086 0.092 0.099 0.105 0.110 0.114 0.121 0.126
0.5 0.073 0.083 0.090 0.096 0.104 0.110 0.119 0.126 0.132 0.137 0.145 0.152
0.8 0.086 0.098 0.107 0.113 0.123 0.130 0.141 0.149 0.156 0.162 0.171 0.179
2 0.133 0.163 0.185 0.201 0.227 0.248 0.280 0.305 0.326 0.344 0.376 0.402
3 0.190 0.233 0.264 0.287 0.325 0.354 0.400 0.437 0.466 0.492 0.536 0.573
4 0.230 0.303 0.357 0.400 0.471 0.528 0.621 0.697 0.762 0.820 0.920 1.01
5 0.268 0.379 0.464 0.536 0.656 0.758 0.928 1.07 1.20 1.31 1.52 1.69
6 0.336 0.476 0.583 0.673 0.824 0.952 1.17 1.35 1.50 1.65 1.90 2.13
8 0.496 0.701 0.859 0.922 1.21 1.41 1.72 1.98 2.22 2.43 2.81 3.14
10 0.685 0.968 1.19 1.37 1.68 1.94 2.37 2.74 3.06 3.36 3.87 4.33
12 0.903 1.28 1.56 1.80 2.21 2.55 3.13 3.61 4.04 4.42 5.11 5.71
14 1.15 1.62 1.99 2.30 2.81 3.25 3.98 4.59 5.13 5.62 6.49 7.26
16 1.42 2.01 2.46 2.84 3.48 4.01 4.92 5.68 6.35 6.95 8.03 8.98
18 1.72 2.43 2.97 3.43 4.21 3.86 5.95 6.87 7.68 8.41 9.71 10.9
20 2.04 2.88 3.53 4.08 5.00 5.77 7.07 8.16 9.12 10.0 11.5 12.9
Tabela 3.18 – Fatores, variáveis e mensuração.
*F= força, L= comprimento; M= massa; T= tempo; m= expoente que varia de 0,2 a 0,5
(modificado de Foster et al., 1981)

Sistema
Fatores Símbolos Dimensões Dimensional Unidades
internacional

intensidade de comprimento / milímetro /


i ou I l/f* mm / h
chuva tempo hora
energia da chuva megajoule/
compr.-força /
por unidade e l x f / l2 x l hectare x mj / ha x mm
área x compr.
pluvial milímetro
comprim.-força megajoule x
erosividade de L – f x l / l2 x mj x mm / ha
Ei x comprimento. milímetro/
tempestade t xh
/ área x tempo hectare x hora
massa / área x quilograma /
perda de solo A m / l2 x t kg / m2
tempo metro2
megajoule x
compr.-força x
milímetro / mj x mm / ha
erosividade anual R compr. / área x l – f x l / l 2x
hectare x hora xhxa
tempo x tempo txT
x ano
tonelada-
massa x área x métrica x
erodibilidade do tempo / área x hectare x hora / t x ha x h / ha
K m l2 x t /
solo compr.- força x hectare x x mj x mm
/ l2 x l – f x l
compr. megajoule x
milímetro
comprimento de (comprim./
L (l / l) m m m
vertente comprim.)2
declividade de
S adimensional _ % _
vertente
manejo de culturas C adimensional _ sem unidade _
práticas
P adimensional _ sem unidade _
conservacio-nistas

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4
ZONEAMENTOS ECOLÓGICOS
– Gestão de Bacia Hidrográfica –
Primeira Fase de Auxílio à Decisão sobre o Uso da Terra

Palavras-chave: Fase de auxílio à decisão, zoneamentos ecológicos, três métodos, aspectos a


estudar.

Tendo-se discutido nos capítulos anteriores as bases de classificações das terras em


unidades homogêneas e o significado dessa ‘representação homogeneidade/
heterogeneidade’ apresentou-se também as variáveis paramétricas mais importantes que
permitem classificar de modo substancial os territórios.

A partir de projeto de tese em que se utilizou o método da análise fatorial em modo R


para estudo da bacia oceânica, em novo encontro com esforços de pesquisadores (Huang
& Ferng, 1990, a, b) pudemos adotar certas formas de estudos da paisagem reportando-
as ao estudo de bacia hidrográfica de modo a se poder tornar explícita as Abordagens
inter- e trans- disciplinares e o sentido complexo e múltiplo da classificação, deste modo
de fato utilitária. Estes autores deram importante passo no trato com a complexidade
territorial.

A classificação em si é um método de estudo e determinações para o auxílio à decisão.


Ficou claro que o método (M-1) é particularmente um método de classificação com
facetas caleidoscópicas para o sentido utilitário de decidir sobre atividades econômicas
múltiplas sobre sete aspectos mais notáveis, a saber:

(1) dos vários geossistemas e modos de expressar suas associações entre rochas,
geoformas do relevo, solos e formações superficiais no sentido da Geotecnia,
(2) das sub-bacias segundo a morfometria das mesmas,
(3) do uso dos potenciais ideais da terra para fins agroflorestais e pastoris,
(4) da Geotecnia para fins de segurança, de mitigação e de construções de engenharia,
(5) da quantidade, qualidade e circulação das águas subterrâneas e superficiais,
(6) da vegetação e áreas de projetos agrícolas
(7) da capacidade assimilativa dos cursos d’água na qual a questão do potencial de
depuração natural das águas superficiais ante a poluição se faz questão.

A classificação em áreas homogêneas é o que de comum se denomina por zoneamento


ecológico e econômico. Este é um dos temas com o qual se deve iniciar a sequência de
estudos sobre instrumento de gestão, lembrando-se sempre que os mapeamentos
disciplinares, portanto, como uni-sistemas constituem a base de toda informação.

Nos capítulos seguintes 5 e 6 resolve-se questões ainda fundamentais das relações de


sistemas abertos como as rochas / geoformas / solose as zonas de recarga e áreas
precisas de recarga como aspectos essenciais e abertos do processo de auxílio à decisão,
ainda como fatores naturais e temas centrais aos zoneamentos. A discussão sobre os
instrumentos de gestão ambiental, energética e econômica é, portanto um dos outros
passos seguintes àqueles.

Quanto aos zoneamentos constituem-se dois tipos gerais básicos:  os zoneamentos


ecológicos ZE-L, os zoneamentos econômicos ZE-N. Na sequência desses dois tipos
gerais podem vir os zoneamentos ecológicos e econômicos, que têm a característica de
serem zoneamentos com objetivos econômicos estritos como fator norteador do
zonemento.

Um grupo de zoneamentos muito particulares são os estados das condições em que se


encontram os territórios já que este tema não precisa forçosamente aparecer nos
zoneamentos ecológicos. Trata-se, portanto, da descrição dos estados de Preservação –
eP, de Conservação – eC, e de Degradação – eD dos territórios tema inovador
desenvolvido no ano de 2012 (Martins Jr, 2012).

Como instrumento seguinte deve-se trabalhar com o ‘Desenho de Uso Optimal do


Território’ – DUOT, que se deve realizar com cenários convenietes DUOT-Ci (i= 1 a n). Por
fim, o sistema de Certificações da Qualidade da Produção – CQP – geo-ambiental e
econômica de bacia hidrográfica e dos vários tipos de propriedades rurais.

Apesar de ser uma prática já consagrada, o zoneamento ecológico é visto aqui de diversos
modos que podem traduzir a complexidade dos sistemas naturais. Assim deve-se
perfeitamente usar o termo ‘zoneamentos ecológicos’ no plural, em virtude do fato de que
estes zoneamentos podem ser realizados de diversos modos ante a complexidade e
variedade de questões relativas aos vários sistemas naturais inorgânicos e orgânicos em
articulação.

Apresenta-se neste capítulo o grupo de zoneamentos ecológicos como atividade


fundamental e produto científico essencial para a gestão ambiental, energética e
econômica de bacias hidrográficas, bem como para estudar a produção econômica nelas
instaladas, seja para produção de energia seja para as indústrias de alimentação e de
transformação.

Por toda parte em nosso País, a partir da década de 1980, a evolução da tecnologia
agrícola permitiu um aumento de produtividade sem que a demanda por novas terras
agrícolas fosse proporcional ao aumento de produção. Todavia, a demanda por novas
terras não deixa de ser um fato, e imperativo, como parte de um aumento crescente da
população humana e do comércio internacional. A Amazônia sofre por depredação com
18% das terras desmatadas já abandonadas em 2006. Por outro lado, a questão da
produção de alimentos, de produção de energia associada às questões de segurança
ambiental, também ligadas às mudanças climáticas provocam novas demandas por terras,
e essas seguramente poderão ser muito fortes, tanto para a produção de cana de açúcar e
etanol, quanto de plantas oleaginosas (biodiesel). Regionalmente as demandas por terras
são críticas para regiões já tão impactas como nos Estados de São Paulo e Minas Gerais
e Mato Grosso.
Seguramente que o aproveitamento de pastagens usadas e/ou abandonadas parcial ou
totalmente, servirá para se resolver a pressão de demanda sobre novas áreas para
desmatamento, pelo menos em tese, já que a ação normativa e de controle do Estado
Federal ainda é fraca ou pelo menos de pouca eficiência. Isto é sabido, já que a tradição
histórica no País é predatória e as funções de monitoramento, controle e punição são
ineficientes ante os interesses econômicos e políticos.

Questões ligadas às minerações e ao planejamento do território são críticas em diversas


bacias, tais como as bacias do Paraíba do Sul e do rio das Velhas. Neste capítulo fica
configurado o fato de que, embora se tenha um foco central na questão agrícola, pastoril,
florestal e de industrialização rural, essas questões não estão dissociadas de outras
questões, inclusive urbanas. Ligam-se, todavia, com o aspecto fundamental do sucesso
para a gestão ambiental de bacias, que devem se fundamentar no conceito de
Ordenamento do Território, que se define como:

 o conjunto de técnicas, métodos, produtos de gestão informatizados e as ações


administrativo-gerenciais que orientam as ações de se diagnosticar, planejar,
prognosticar, programar e ordenar as atividades humanas dentro de territórios, de
modo a criar condições de máxima produtividade, evitando todavia o crescimento de
entropia interna ao sistema com a condição de determinar marcha para condições de
irreversibilidades críticas, em quaisquer parcelas dos sistemas naturais, de cada
subsistemas em específico como também das espécies de plantas e animais.

ZONEAMENTOS ECOLÓGICOS

Os Zoneamentos Ecológicos ZE-L, baseados em múltiplas ciências, portanto


pluridisciplinares e interdisciplinares se, constituem como técnicas fundamentais para o
planejamento regional ambiental tanto quanto para o planejamento socioeconômico,
como uma parte dos procedimentos interdisciplinares fundamentais para o Ordenamento
do Território.

Diversos zoneamentos têm sido realizados no País, tais como o zoneamento ecológico
ZE-L de Minas Gerais, executado na Universidade de Lavras e o zoneamento ecológico-
econômico ZEE do Estado do Maranhão. O Estado do Rio de Janeiro possui lei que dá
diretrizes ao ZEE – Lei 4.063 de 02/01/2003. Oliveira (2004) em dissertação aponta para
o aspecto absolutamente fundamental da abordagem ZE-L.

Em pesquisas anteriores (Martins Jr. & Rosa, Projeto MDBV, 1992-1994; Martins Jr. et
al., 1993-a, 1993-b, 1994-a, 1994-b, 1998) e nos capítulos 1 a 3 utilizou-se da noção de
“classificações em áreas homogêneas de sub-bacias” (utilizando-se de todas ordens
contadas do rio principal para os cursos próximos aos divisores de águas com outras
bacias), como efetivos métodos de zoneamentos multi-sistemas / multi-objetivos, tendo
como aspecto fundamental delinear áreas homogêneas para o gerenciamento de terras.

São ferramentas informatizáveis  o Zoneamento Ecológico (ZE-L), o Zoneamento


Econômico ZE-N e o Zoneamento Ecológico-econômico (ZEE), dos quais o ZE-L é o
foco principal desse capítulo. Esse triplo Sistema Básico de Instrumentos de Gestão, com
os vários tipos de zoneamentos ecológicos ZE-L, embora sejam métodos já disseminados
com variações entre autores, se inserem também no desenvolvimento de ramo de
conhecimentos proposto para o campo epistemológico das Geociências Agrárias e
Ambientais – GAA (Martins Jr., 1998).

Bases pluri- e inter- disciplinares

As bases pluridisciplinares dos zoneamentos ecológicos envolvem as referências


fundamentais das seguintes ciências, engenharias e temas:

 Geologia ambiental GA, Geologia estrutural GE, Estratigrafia Es, Geotecnia Gt,
Pedologia Pd, Aptidão de solos AS, Análise e descrição de impactos ambientais IA,
Hidrologia Hd, Hidrogeologia Hg, Zonas de recarga (ZRAs) e Áreas precisas de recarga
(APRs) de aquíferos (Martins Jr. et al., 2006), Botânica Bt, Climatologia Cl, Implicações
das Mudanças Climáticas IMC, e secundariamente Economia Física EF, Engenharia
Florestal EF, Engenharia Elétrica EE, Engenharias Agronômica EAn e Agrícola EAc,
Engenharia ambiental EA, Economia financeira EF. Como ciências de fundo para a
montagem dos sistemas informatizados de gestão estão as:  Lógica Interdisciplinar (LI)
(Martins Jr. et al., 2006), Engenharia e Arquitetura de Conhecimentos (Schreiber et al.,
2000; Martins Jr. et al., 2006-2008 Projeto ACEE) e Inteligência artificial (IA).

Quantificações

Os zoneamentos ecológicos não podem ser confundidos com as cartas de uso da terra,
cartas também diagnósticas, mas que têm a função apenas de descrever os usos, ainda que
em casos diversos os autores dêem indicação de usos desejáveis. Nem tampouco podem
ser confundidos com cartas de Aptidão de solos e cartas Agroclimatoógicas que são
ambas, formas de zoneamentos voltados para a produção agrícola.

Modelo de Compartimentação e Transferência

De especial interesse é o mapeamento da circulação de massas e de energia nas várias


compartimentações dos ecosssistemas, dentro de cada ecossistema e entre diversos
ecossistemas. Essa circulação pode ocorrer em sistemas sequenciais, em sistemas em
paralelo, em sistemas com parcial superposição ou mesmo integral superposição, nesse
caso com distinção especial às variações de qualidades e funções de sistemas
entrelaçados.

A noção de análise por compartimento e transferência está na raiz desse zoneamento.


Gersmehl (1976) desenvolveu-a em parte sem a análise quantitativa, mas apresentou um
bom caminho para tal. Trata-se de uma simplificação operacional do modelo do ciclo
mineral do ecossistema que pode prover uma ligação entre os processos em um
ecossistema, de local a local. O modelo confere a explicitação dos seguintes aspectos:

(1) a quantidade total de nutrientes minerais dentro do ecossistema depende da razão de


monitoramento dos nutrientes para dentro e para fora do sistema.
(2) as quantidades de nutrientes dentro do sistema, da biomassa vivente, húmus e
componentes do solo de um sistema são uma função das taxas de transferência desses
nutrientes entre os componentes.

(3) com o tempo um ecossistema tende à condição de equilíbrio, na qual, as quantidades


de nutrientes dentro de cada sistema e dentro de cada compartimento permanecem as
mesmas (Meentemeyer & Elton, 1977).

ZONEAMENTOS ECONÔMICOS

Cabe indicar que o segundo sistema de zoneamentos, a saber, o ZE-N é discutido


oportunamente com fundamentação no conceito de Economia Física (Georgescu-Roegen,
1970; Robert Ayres, 1973; Odum, 1996). Juntamente como terceiro sistema de
zoneamento o ZEE, é desenvolvido como uma integração de ambos os zoneamentos,
ecológico ZE-L e econômico ZE-N, e são apresentados em capítulos seguintes.

PROBLEMAS

A questão central no planejamento do uso do território é voltada para três aspectos


fundamentais já estabelecidos no capítulo 1:

(M-1) O método de zoneamento das sub-bacias em áreas homogêneas – ZSAH


(M-2) Método integrado de zoneamento das sub-bacias e de temas focais – ZSTF
(M-3) Método de zoneamento de áreas geo-ecológicas regionalizadas – ZAGR

Desses três, o método M-1 é o que se desdobra em pelo menos seis subsistemas. Nesse
capítulo o mesmo se subdivide em seis sub-tipos de zoneamentos ecológicos para a
classificação das sub-bacias como perspectiva, a saber:

1 - Morfométrico
2 - Capacidade assimilativa de cursos d’água
3 - Qualidade da água
4 - Quantidade da água, que pode efetivamente ser dividido em três sub-tipos de
zoneamentos para água superficial, para água subterrânea e também para ambas em
um único zoneamento.
4 - Eco-unidades do bioma na bacia reconhecidas em cada sub-bacia.
5 - Geotecnia
6 - Eco-agroflorestal pastoril

O primeiro é o diagnóstico ecológico ZE-L, que pode ser de dois tipos:

(1) os zoneamentos por temas ou zoneamento por sistemas, todos descritivos e de caráter
genérico, sobre os sistemas existentes em seus vários estados de conservação e
degradação e

(2) quando o zoneamento ecológico é voltado para quaisquer objetivos referentes a cada
tipo de planejamento que se deseje realizar. Esse segundo não é alvo específico desse
capítulo.
O zoneamento por objetivos trata da questão do que é “o ideal para que as ações e os
projetos executivos atendam para manter os pontos de vista sobre as condições de
“sustentabilidade ambiental e econômica”. Tal zoneamento não somente descreve o que
é, mas deve apontar para condições de sustentabilidade das interações do homem com o
ambiente. Essa versão de zoneamento é muito rara como prática na ciência e na
administração no País, mas há um caso tipo que são os zoneamentos agrícolas conduzidos
no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento M.A.P.A. Esse tipo de
zoneamento que é agroclimatológico não é o mesmo que o Desenho de Uso Optimal do
Território DUOT, mas trata-se de um zoneamento por potencialidades agroecológicas
para a produção econômica agrícola.

A economia, em especial a rural, é necessariamente retro-alimentada no tempo pela


sustentabilidade ambiental. No caso de ocorrer não sustentabilidade geoambiental poderá
transformar as atividades econômicas, especialmente as agrícolas, em condições nulas,
ou quase nulas, ao longo de determinado intervalo de tempo. O problema central do
zoneamento ecológico é o da articulação do pensamento geo-ambiental, com foco em
análise de múltiplos sistemas, como base para o pensamento econômico, em especial
Economia Física os quais podem ambos, enfocar a simples descrição de “o que é” e/ou
“a descrição valorativa do que é”.

OBJETIVOS

(1) Apresentar aspectos epistemológico-metodológicos, alguns conteúdos conceituais,


aspectos semióticos e sentidos utilitários dos ZE-L.

(2) discutir alguns aspectos lógicos, ecológicos como parte própria dos ZE-L, para se
chegar a uma modelagem mais adequada desses Zoneamentos ecológicos para bacias
hidrográficas.

(3) evidenciar a importância desses estudos para a Economia como atividade, e para a
produção de energia hidroelétrica e de biomassa.

FUNDAMENTAÇÃO

Zonear um território é, portanto, classificá-lo em áreas homogêneas, tanto quanto integrar


a totalidade das informações que formem quadros cognitivos específicos, que
pressuponham e identifiquem a existência de estruturas na Natureza, bem como articulem
essas estruturas da Natureza com as atividades econômicas humanas.

O Zoneamento Ecológico constitui, portanto, o primeiro procedimento pluridisciplinar e


interdisciplinar integrado para a gestão do território, tanto rural quanto das cidades em
relação com os territórios das bacias. Dos sistemas para a gestão ecológica o ZE-L articula
o diagnóstico que esse zoneamento é, por um lado, como uma vertente ontológica de
descrição da Natureza, e por outro lado, oferece pressupostos para uma teoria econômica
de uso da terra. Embora o assunto Economia Física não esteja no escopo do Zoneamento
Ecológico ela deve permear esse tipo de Zoneamento, especialmente quando o mesmo é
realizado por via de objetivos, e não somente por via de uma ontologia descritiva “sobre
o que é”.
OS ZONEAMENTOS ECOLÓGICOS

Os zoneamentos ecológicos, como parte das sucessivas etapas de estabelecimentos de um


Modelo Geral de Gestão de Bacia Hidrográfica, são procedimentos e ferramentas de
gestão a serem necessariamente baseados nas Abordagens Pluridisciplinar e
Interdisciplinar (Martins Jr., 2002), desenvolvidas com diferentes métodos entre várias
equipes de pesquisadores. Não existem ainda amplos consensos dos pontos de vista
teórico e metodológico, bem como de conteúdo e semiótica para esses zoneamentos.
Podem-se definir os zoneamentos ecológicos como métodos com produtos que integram,
diferentemente, algumas práticas e alguns consensos, entre os diversos tipos de
zoneamentos já realizados no País. Assim:

 Zoneamento Ecológico é uma base de informações cartográficas, quantitativas e


textuais na qual todos os aspectos ecológicos da infra-estrutura da biosfera, litosfera
e hidrosfera locais e da atmosfera, com os clima e micro-climas, são agregados em
um quadro caracterizador dos processos naturais vigentes e das estruturas dos
diversos sub-sistemas ecológicos, de modo a classificar o território em áreas
homogêneas.

Essa definição apresenta-se ampla o suficiente para conter a grande variedade de


zoneamentos já realizados. Por outro lado, para normatizar esse conceito, aponta-se para
os seus aspectos predominantes de:

(1) diagnóstico
(2) reconhecimento conceitual e possibilidade descrição de diferentes sistemas naturais
(3) dos vários paradigmas especialistas para realizar o diagnóstico e por fim
(4) as representações da realidade com vários sistemas semióticos.

Ao se normatizar o conceito pode-se perceber a amplitude de questões as quais devem


ser tratadas em um zoneamento ecológico. Enumeram-se algumas questões como:

(1) zoneamentos da vegetação natural, da agricultura e pastagens


(2) erosão e estruturas susceptíveis à mesma
(3) climas e relações plantas / terra / água
(4) impactos antrópicos
(5) produção agrícola no espaço e no tempo
(6) os modelos de produtividade
(7) sistemas de transporte, de fontes produtivas e de impactos dos mesmos sobre os
sistemas naturais
(8) áreas sistemicamente sensíveis e áreas com impactos existentes
(9) distribuição demográfica e fontes de produção
(10) logística existente para localização de indústrias rurais e para os sistemas de
transporte
(11) situações e impactos das minerações e
(12) identificação das áreas com uso de insumos e seus impactos nas cadeias tróficas, e
muitos outros temas e problemas.
Esses exemplos permitem indicar quão longe se pode ir com zoneamentos que, a rigor,
podem ser tantos, quantas forem as necessidades de se perceber, estudar e poder planejar
as ações sobre a sociedade e o ambiente.

Para todos os efeitos considera-se o tipo de zoneamento ZE-L como um instrumento de


gestão derivado das Abordagens Pluridisciplinar e Interdisciplinar, indispensáveis para o
planejamento da sustentabilidade ecológica e econômica, quaisquer que sejam as
condições ambientais em que esteja uma dada região. Anterior a essas Abordagens
necessita-se dos já consagrados estudos das várias ciências especialistas com a
Abordagem disciplinar e a cartografia disciplinar clássica dessas várias ciências. A
Abordagem Interdisciplinar para um zoneamento tem, todavia, peculiaridades sobre os
modos de desenvolvimento tanto quanto de apresentação de conteúdos e dados o que vem
a ser impossível de se introduzir representações totais das questões que são propostas
sobre a realidade de uma região em uma única carta.

MÉTODOS para ZONEAMENTOS - ZE-L

Os zoneamentos ecológicos, em seus múltiplos aspectos, precisam ainda de ser mais


aperfeiçoados, chegando-se a consensos, desenvolvendo-os para a integração geo-
ecológica e econômica, com indicações lógicas dos diversos procedimentos para os
diversos tipos de zoneamentos possíveis, e de suas contribuições para o produto final que
são os Zoneamentos Ecológico e Econômico - ZEE.

Para realizar um dos tipos de zoneamento ZE-L, utilizou-se um método (Martins Jr. &
Rosa, 1994-a; Martins Jr. et al., 2007) com sete variantes de classificação de sub-bacias
em áreas homogêneas. Esse método geral foi aplicado na Alta Bacia do Rio das Velhas
(Projeto MDBV, 1993), como também em uma sub-bacia dessa mesma Alta bacia, sub-
bacia das Codornas (Viana, 1998; Cantisano, 1999). Todavia três métodos distintos e
específicos estão desenvolvidos:

(M-1) O método de zoneamento das sub-bacias em áreas homogêneas ZSAH – conforme


tratado nos capítulos 2 e 3 é o tipo de zoneamento geo-ecológico de sub-bacias de n-
ordens a ser realizado com o uso de numerosas variáveis medidas da lito-estratigrafia,
geomorfologia, pedologia, vegetação, morfometria de bacias, geotecnia e outras ciências
com suas variáveis, com as quais se avalia a classificação das várias sub-bacias de n-
ordens em áreas homogêneas dentro de uma bacia maior, idealmente de 3ª ordem.

São os seguintes zoneamentos (Martins Jr. & Rosa, Projeto MDBV, 1992-1994):

(1) dos vários geossistemas e modos de expressar suas associações entre rochas,
geoformas do relevo, solos e formações superficiais no sentido da Geotecnia,
(2) das sub-bacias segundo a morfometria das mesmas,
(3) do uso dos potenciais ideais da terra para fins agroflorestais e pastoris,
(4) da Geotecnia para fins de segurança, de mitigação e de construções de engenharia,
(5) da quantidade, qualidade e circulação das águas subterrâneas e superficiais,
(6) da vegetação e áreas de projetos agrícolas e
(7) da capacidade assimilativa dos cursos d’água na qual a questão do potencial de
depuração natural das águas superficiais ante a poluição se faz questão.
Essas noções de sete variantes para a classificação do território em áreas homogêneas
servem como base para um amplo zoneamento geoecológico e para dar suporte às
posteriores análises das questões energéticas e econômicas, com especial foco nas
questões agrícolas e de engenharia, bem como em questões de inserções urbanas.

(M-2) Método integrado de zoneamento das sub-bacias e de temas focais ZSTF – é o


zoneamento das mesmas sub-bacias com as mesmas variáveis paramétricas de M-1 cujos
resultados se lançam sobre bases cartográficas de temas disciplinares específicos, de
interesse, conforme o problema central em foco (erosão, mineração, produção florestal,
produção agrícola, construção de estradas, de loteamentos, etc.). Nesses casos realça-se
uma série de relações entre diversos tipos de processos geodinâmicos de superfície, em
relação com estruturas em profundidade ou vice-versa, por um lado, e por outro com as
associações das sub-bacias em classes e dessas estruturas e sub-bacias com as obras e
ações humanas.

(M-3) Método de zoneamento de áreas geo-ecológicas regionalizadas ZAGR – é baseado


igualmente em correlações entre rochas, relevo, vegetação natural, geomorfologia e
pedologia, tomados, todavia em conjunto para toda a bacia em questão, mas sem se
considerar as sub-bacias de n-ordens da bacia maior, considerando a sub-bacia englobante
como “o todo”.

Como resultado obtém-se mapas com zonas de homogeneidade que serão tanto mais
homogêneas quanto a escala de observação e os parâmetros que se desejem utilizar como
referência de base para a homogeneidade o permitam. Consideram-se como zonas de
homogeneidade aquelas determinadas pela conjugação dos aspectos geomorfológicos
constituidores do relevo, pedológicos e de ecossistemas vegetais. Ao fim do processo se
pode mapear sub-bacias de 2ª ou de 3ª ordem, ou de quaisquer outras ordens conforme as
proporções espaciais da região e a conveniência em face da complexidade. Pode-se então
aferi-las com as zonas homogêneas pelas variantes metodológicas M-1 e M-2 de
zoneamento de sub-bacias.

Tanto M-1 quanto M-2 são dois tipos de zoneamentos que devem ser aferidos entre si
para se averiguar as coincidências entre grandes áreas homogêneas, por exemplo, pelo
“método regional dos geossistemas + vegetação (M-3)” e pelo “método de classificação
de sub-bacias em áreas homogêneas com as n-ordens de sub-bacias existentes”. Assim se
tem as seguintes hipóteses optativas [M-1 + M-2] [M-1 + M-3] e [M-2 + M-3]. Pode-se
desse modo observar como a agregação das sub-bacias acompanha, e em qual grau de
acompanhamento, cada uma das áreas classificadas no zoneamento geo-ecológico
regional M-3, bem como com a distribuição dos ecossistemas vegetais naturais,
porventura ainda existentes.

Cabe ressaltar que mesmo que não mais restem sistemas naturais, as imagens de satélites
e de aerofotos de vôos antigos podem servir de base mínima de interpretação para as
condições naturais anteriores e para as modificações antrópicas. As “relações das
modificações versus a atualidade” permitirão montar projetos de mitigação ambiental e
econômica.
ZONEAMENTO em ÁREAS HOMOGÊNEAS no ALTO RIO das VELHAS – Método
ZSAH

A sub-bacia do Alto Rio das Velhas, afluente de 2ª ordem do Rio São Francisco, é
marcada por um intenso processo erosivo. Na Figura 4.1 apresenta-se essa área com
indicação das localidades de erosão sobre a base de rochas. Na Figura 4.2 apresentam-se
as localidades erodidas em função das sub-bacias classificadas em nove grupos distintos.
Na sequência de Figuras 4.3 a 4.11 apresentam-se as imagens comparativas de
classificação usando morfometria e os geo-sistemas, conforme indicadas na Tabela 3.1
(variáveis morfométricas e variáveis dos geo-sistemas).

Figura 4.1 – Alta Bacia do Rio das Velhas com a base de rochas estratigraficamente representadas.
Os pontos são áreas erodidas com voçorocas profundas mesmo de até 60m em rochas de
diversas idades com diversos potenciais geotécnicos para gerar problemas (Martins Jr. et al.,
1998).
Figura 4.2 – Classificação das sub-bacias do Alto Vale do rio das Velhas em nove grupos
segundo a morfometria e os geo-sistemas (rochas, solos, geoformas) e a localização das áreas
erodidas com as características de erosão laminar, rvinas, voçorocas e deslizamentos (org
Martins Jr, 1993).
Figura 4.3 – Classificação em áreas homogêneas segundo as vairáveis dos geo-sistemas e as
variáveis morfométricas com as áreas dos morfotemas e as áreas de isodeclividades medidas
por sub-bacias(org Martins Jr, 1993).

Pode-se observar que existem relações evidentes entre as classificações das Figuras 4.2 e
4.3 que oferecem agrupamentos que permitem realizar interpretações úteis para se
modelar decisões em função de características particulares segundo cada grupo de sub-
bacias.

Assim, na Figura 4.2 as sub-bacias agrupadas a oeste de número 9 conincidem com três
agrupadas no 8º sub-grupo da Figura 4.3. Assim, esses agrupamentos quando bem
caracterizados e comparados permite de acordo com o conjunto de variáveis escolhidas
poder chegar-se estabelecer modelos de gestão das sub-bacias com ênfases nas
características dos sub-estratos.

Obviamente este estudo classificatório para estabelecer uma visão integral de relações
predominantes não é simples, mas é factível para se entender as áreas das sub-bacias e
estabelecer diversos tipos de relações tais como as de sensibilidade, criticidade, estado de
conservação, estado de degradação e tantos outros tipos de critérios que se necessite para
definir ações de gestão, conservação, licenciamento agrícola, mitigação e muitas outras
ações.
Na Figura 4.4 agregam-se todos os noves sub-grupos da classificação em função das
variáveis dos geo-sistemas e das variáveis morfométricas. As diferenças de agrupamentos
são notáveis, mas a numeração dos grupos em sequência não é o que importa e sim a
relação das várias sub-bacias como se reúnem em mesmos grupos. Nota-se como fator
prioritário que sub-bacias que se reúnem sistematicamente em mesmo grupos, não
importa quais variáveis tenham sido usadas para classificá-las dão forte indicação de
como as variáveis estão em alta correlação ou em alta sinergia e a partir dessa constatação
pode partir para grupos mais específicos e avaliá-los quais são as peculiaridades de cada
um e o que elas significam para o sistema de gestão.

Figura 4.4 – Conjunto de nove grupos de sub-bacias do Alto Vale do rio das Velhas agrupadas
segundo a morfometria e os geo-sistemas. As diferenças indicadas no capítulo 2 aparecem
como classificações distintas e esses agrupamentos distintos são aspectos importantes segundo
a qualidade que os vários conjuntos de variáveis podem indicar. Assim a interpretação é
relativa às sub-bacias segundo as variáveis escolhidas de modo associado.
a b

Figuras 4.5 – a, b, agrupamentos 2 a 4 mostrando distinção da classificação em função das


variáveis morfométricas e dos geo-sistemas.

Os estudos das relações entre os dois tipos de classificações podem fornecer algumas
informações importantes entre morfometria de cursos d’água e das formas das sub-
bacias e o substrato rocha/geoformas/solos. Neste exemplo de variáveis as
características de agrupamentos são indicativas de relações naturais, mas que ainda
faltaria as distribuições de estruturas reológicas dúcteis e rúpteis para se obter um
quadro próximo ao completo.
c d

Figuras 4.5 – Continuação de a, b, c, d agrupamentos 2 a 4 mostrando distinção da classificação


em função das variáveis morfométricas e dos geo-sistemas.

A interpretação das áreas homogêneas exige critérios de comparabilidade que se fazem


reconhecer por sucessivos passos de observação. O que se tem após várias rodadas com
os vários grupos de variáveis, conforme descritas neste texto, apresentam resultados em
vários modos.

(1) algumas sub-bacias são sempre distinguidas em todas as rodadas de classificação


(2) algumas sub-bacias tendem sempre a se ajuntar em quase todas as tentativas
(3) algumas sub-bacias oscilam e distintos grupos de classificação com o uso de variáveis
diversas.

Estes três grupos vão permitir a fase interpretativa inicial da classificação. Aquelas sub-
bacias que se separam sempre com quaisquer variáveis constituem 1 ou mais grupos
distintos. As que tendem a ser unir em um nível mais alto, médio ou mesmo menor de
associação tendem a ser de grupos idênticos aos próximos em estilo.

Assim, ter-se-ão mapas com números de classificação das sub-bacias ao modo de mapas-
mudos. Com a sobreposição em um mapa de classificação sobre mapas de fundo ou de
rochas, solos, geomorfologia, vegetação e ou modelo digital de elevação, assim os
significados se tornam mais evidentes.
Ao se agrupar definitivamente as sub-bacias deve-se então montar matrizes de
características dominantes e matrizes de uso específicos de boas práticas. Quando se
trabalhar o ‘estado de Degradação eD’ ter-se-á melhor clareza dos procedimentos que
devam vir a entrar no Desenho de Uso Optimal do Território até se definir o Mapa do
Futuro.

No caso particular da sub-bacia das Codornas (Figuras 4.6 e 4.7) ocorre assoreamento
expressivo da barragem de mesmo nome, processo esse ainda em continuação. Por certo,
os resíduos da mineração a montante são mais importantes no processo de assoreamento,
mas a erosão dentro da sub-bacia das Codornas tem importância também relevante
(Cantisano, 1999). Diversas indicações sobre a intervenção antrópica e as condições
naturais permitiram realizar-se estudo de caso de zoneamento geo-ecológico, conforme o
Método M1 – ZSAH na área do Alto Vale do rio das Velhas (Figura 4.1).

No caso do Alto rio das Velhas o zoneamento das sub-bacias foi realizado pelo método
de classificação hierárquica ascendente ou análise de grupamento (Davis, 1973) com as
variáveis de rochas, geoformas e solos associados e as variáveis formas das sub-bacias.
No caso da sub-bacia das Codornas, de 4ª ordem no Vale do rio das Velhas, o método foi
o mesmo, com o acréscimo dos diversos mapas de Geologia Estrutural, de Estratigrafia,
de aspectos notáveis do relevo com as geo-estruturas para o tema que esteve em foco – a
erosão.

Para a Alta bacia do Rio das Velhas realizou-se um zoneamento em áreas homogêneas
pelos geossistemas (rochas + geoformas + solos) na escala de 1:50.000 e na sub-bacia das
Codornas, para a mesma escala e a escala de 1:25.000. A forma de tratar a maior área e o
maior número de variáveis implica que o zoneamento do Alto Rio das Velhas teria uma
menor acurácia, ou maior agregação de sub-bacias, na representação em áreas
homogêneas do que o zoneamento específico da sub-bacia das Codornas dentro da própria
área do Alto rio das Velhas. A sub-bacia das Codornas é uma sub-bacia de 4ª ordem no
Alto rio das Velhas (Figuras 4.2, 4.3, 4.4a e 4.4b).

ZONEAMENTO ECOLÓGICO – Método ZEAH

Os resultados consistiram na articulação das Abordagens disciplinar, pluridisciplinar e


interdisciplinar (Martins Jr. et al., 2000; Cantisano, 1999) das seguintes formas:

(1) executam-se os mapeamentos lito-estratrigráfico, topográfico, geológico-estrutural,


das geoformas do relevo, da erosão e das sub-bacias;

(2) de modo pluridisciplinar articulam-se dois a dois os registros de sistemas naturais


próximos, como, por exemplo, [solos e formas] ou [solos e erosão], [tipos de rochas e
erosão], [atitudes de rochas e erosão];

(3) de modo interdisciplinar toma-se a totalidade das variáveis paramétricas dos dados
descritivos de estruturas em cada sub-bacia, e realiza-se a classificação dessas sub-bacias
(Figuras 4.8a, 4.8b).
Figura 4.6 – Resultado da
rodada de integração com o
método de Análise de
grupamento, da última
rodada de uma série de testes
com essa análise, com a qual
se obteve uma divisão em
áreas homogêneas que
melhor represente as
características de agregação
das sub-bacias da bacia das
Codornas da Figura 4.2;
agregou-se a litoestratigrafia
(áreas de rochas), áreas das
geoformas do relevo, solos
áreas de solos), morfometria
(variáveis morfométricas) e
erosão (Cantisano, 1999)
Método M1 – ZEAH.

17

Localização da Área de Estudo

DF

Escala Gráfica

Figura 4.7 – Mapa de divisão em 35 sub-bacias da sub-bacia de 4ª ordem das Codornas situada
entre 20º 07’ 20” e 20º 17’ 20” de latitude Sul e 43º 50’ 00’’ e 44º 00’ 00” de longitude Oeste
na Alta Bacia do Rio das Velhas, com aproximadamente 103 km2 nos municípios de Itabirito e
Nova Lima com acesso pela Via JK (Br 040) e a estrada para Ouro Preto.
Figura 4.8a – Zoneamento das sub-bacias da bacia das Codornas com indicação de
associatividade de áreas homogêneas e focos de erosão, bem como de rochas; trata-se de uma
classificação por objetivos pelo Método M1 – ZSAH.

Figura 4.8b - Zoneamento das sub-bacias da bacia das Codornas com indicação de
associatividade de áreas homogêneas pelo Método M1 – ZEAH.
ZONEAMENTO de ÁREAS GEO-ECOLÓGICAS REGIONALIZADAS

A sub-bacia do Ribeirão Entre Ribeiros no Vale do Rio Paracatu foi tratada com o método
M-3. Ela é marcada por uma intensa presença da atividade agrícola mecanizada,
sobretudo com manejo irrigado. Isto ocorre em função de uma topografia favorável,
principalmente nas porções centro-oriental da bacia. Contudo, a rápida expansão desses
projetos, na última década de 1980, produziu e ainda produz problemas ecológicos e
conflitos com a dinâmica natural.

O aumento descontrolado da área ocupada por culturas, a intensificação do uso da água


no processo produtivo agrícola, o manejo muitas vezes inadequado e o não planejamento
da utilização dos recursos naturais, principalmente da água, geraram desconformidades
ambientais e até mesmo sociais em Entre Ribeiros. Consequentemente, tais indicações
sobre a intervenção antrópica e as condições naturais permitiram elaborar um estudo de
caso de zoneamento geo-ecológico conforme citado no método M-3 (Andrade, 2007)
(Tabelas 4.1 e 4.2).

As Tabelas 4.1 e 4.2 mostram o resultado do cruzamento entre as classes de variáveis no


formato de matrizes, sendo que a primeira indica os valores relativos de incidência e a
segunda enaltece a associatividade. Ambas evidenciam as classes de maior frequência e
representatividade. Vale mencionar que dentre as 287 possibilidades de interação
observadas, 45 correspondem a quase 86% da área total da bacia. Ressalta-se que as 242
interações restantes, que juntas somam cerca de 14% da área total, também foram
analisadas, traduzidas e classificadas com as propostas de Unidades concernentes às suas
características.
Tabela 4.2a - Matriz de Correlação entre as classes de Geomorfologia, Lito-Estratigrafia e
Pedologia destacando a Associatividade entre as classes (Andrade, 2007).
Associatividade
Áreas de Geoformas do relevo do mapa de Geomorfologia
Geoformas
c cr crv d kerv kka krv pf r rc rv sa so soka st sto DC
Rochas
A B C D E F G H I
J K L M N O
P Q R S
EoCp T U
V W X
Y
Z
AA AB AC AD AE
AF AG AH
EoCpd
AI

AJ AK AL
AM
TQd
AN
AO
TQda AP
AQ AR
Qa
AS
DC AT

Tabela 4.2b - Matriz de Correlação entre as classes de Geomorfologia, Lito-Estratigrafia e


Pedologia destacando a Associatividade entre as classes (Andrade, 2007).
Associatividade
Áreas de solos do mapa pedológico
Geo-
formas
Cxbd2 Cxbd3 Gxbd Lvad1 Lvad4 Lvd1 Lvd3 Lvd4 Rld1 Rld2 Rld4 Rle1 Rube2 DC
Rochas
B I C H A G E D F
K O N J L M
S R P Q
EoCp U T
W X V
Y
Z
AD AE AC AB AA
EoCpd AH AG AF
AI
AJ AK AL
AM
TQd
AN
AO
TQda AP
AR AQ
Qa
AS
DC AT
Zoneamento da sub-bacia do Ribeirão Entre Ribeiros consistiu na articulação das
Abordagens disciplinar e pluridisciplinar (Martins Jr. et al., 2000) das seguintes formas:

(1) extrai-se as variáveis dos mapeamentos lito-estratigráfico, topográfico, de aspectos


especiais do relevo e dos tipos de solos e

(2) de modo pluridisciplinar articulam-se os registros de sistemas próximos como, por


exemplo, solos e formas, ou solos e rochas, rochas e formas através do método de matriz
de correlação.

Esse processo permite verificar o intercâmbio e a inter-relação entre as classes na área da


bacia. Em seguida, ocorre uma relativização, isto é, verifica-se a frequência de
associatividade entre as mesmas em relação à área total da bacia. De posse desses
resultados é possível classificar, de acordo com a maior incidência, e assim, filtrar e
selecionar as interações de classes mais representativas.

Em sequência, procura-se analisar e interpretar as associações enaltecendo as


características fisiográficas mais relevantes das áreas, tendo como auxílio os mapas de
altimetria, curvas de níveis e do modelo digital de elevação do terreno. Aerofotos e
imagens de satélite com trabalho de campo foram usadas para a interpretação da cobertura
vegetal e das modificações antrópicas. Na sequência, atribuiu-se significados
morfogeopedológicos, e ao final são estabelecidas as zonas homólogas que,
consequentemente, definem as unidades de áreas homogêneas regionalizadas na bacia
como um todo.

Como resultado do ZAGR para a totalidade da sub-bacia de Entre Ribeiros as áreas


homogêneas determinadas para os geossistemas são as seguintes:

1 – Áreas de superfície tabular elevada;


2 – Áreas de cristas e vertentes;
3 – Áreas de colinas e vertentes;
4 – Áreas associadas ao calcário;
5 – Áreas de superfície tabular intermediária;
6 – Áreas de pedimento - superfície tabular rebaixada;
7 – áreas de planícies aluvionares e hidromorfismo.

A Figura 4.9 apresenta o zoneamento em áreas homogêneas geo-ambientais


regionalizadas realizado na sub-bacia de Entre Ribeiros no Vale do Paracatu (Andrade,
2007).
Figura 4.9 – Áreas homogêneas geológico-ambientais com base em classificação sobre a
totalidade dos ecossistemas do território da sub-bacia de Entre Ribeiros, de 3ª ordem, no Vale
do Paracatu. A vegetação poderá tender, em muitas situações, a apresentar uma distribuição
fitogeográfica que seja também fito-ecológica (in de Andrade, 2007) – Método M3 - ZAGR.

CONCLUSÕES

Zoneamentos ecológicos ZE-L, feitos por quaisquer dos métodos discutidos, apresenta
bases para os estudos ecológicos e econômicos sob aspectos como da estabilidade natural
dos sistemas rochas, solos e relevos, das características de: (1) associatividade entre
vegetação natural e rochas e solos (2) da erodibilidade e da erosão (3) das áreas para
mitigação com reflorestamento (4) das áreas para agricultura (5) do estado de alteração
dos sistemas naturais (6) da tipologia de impactos das atividades econômicas e outro
temas consequentes.

Todo e qualquer tipo de zoneamento ecológico é feito para servir de base para os estudos
integrais de Ordenamento do Território, que têm por objetivos servir de base de
informações para o auxílio à decisão sobre projetos de desenvolvimento regional e para
a gestão ambiental e econômica de bacia hidrográfica e dos biomas. No nível da sequência
de zoneamentos os ZE-Ls são os mais fundamentais.

Conforme o zoneamento se faça em escala de maior detalhe melhor se pode dividir as


sub-bacias e associá-las em áreas homogêneas. A classificação de áreas homogêneas com
as sub-bacias fornece associatividades entre unidades naturais, logo, unidades próprias
que estão associadas à evolução do relevo e à circulação hídrica superficial.

Todos os zoneamentos ZE-L dão respostas várias às demandas por auxílio à decisão sobre
os temas de sustentabilidade, limitações das intervenções humanas, mitigação, áreas
próprias para atividades agrícolas, para reflorestamento, para desenvolvimentos
energéticos hidroelétricos e de biomassa para produção de madeiras, alimentos e
biomssas para energia. Em muitos casos de objetivos específicos como esses dois últimos
os ZE-L devem se associar a mapas de aptidão de solos e mapas de entropia dos perfis
das sub-bacias de diversas ordens com os quais se obtêm indicações de áreas de potenciais
hídricos.

Estes são, portanto, os primeiros tipos de zoneamento que integram a sequência de


estudos e de produção de instrumentos de gestão ecológica e econômica de bacia
hidrográfica. Eles incluem informações fundamentais sobre a Geotecnia regional, os
geossistemas, a morfometria das sub-bacias, a capacidade de assimilação de cursos
d’água, o uso próprio das terras para agricultura, pastagens e silvicultura, os terrenos para
obras de engenharia, as primeiras bases para modelar a Economia Física para todo tipo
de produção ligada a recursos naturais, para a disponibilidade energética natural e os
espaços potenciais para produção de energia de biomassa.

Permitem também preparar as bases para um modelo de quantificação relativa de áreas


para preservar, conservar e plantar alimentos e biomassa para produção de energia de
modo racional, quando dirigido pelo enfoque de oferta e demanda de alimentos e outros
temas de interesses para o espectro econômico. Esses são zoneamentos prévios e
necessários para o Desenho de uso optimal do território DUOT e para a Certificação da
Qualidade da Produção Geo-ambiental e Econômica de Bacias Hidrográficas CQPB.

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS sobre INTERPRETAÇÕES QUALITATIVAS

Deixa-se claro que as interpretações dos zoneamentos são ato contínuo às classificações
e dependem das análises em função de fatores diversos como rochas, solos,
geomorfologia, modelo digital de elevação e vegetação, de modo a ser apreender como
as classificações, sobretudo aquelas de ordem da dinâmica energética da bacia, dos efeitos
climáticos, da produtividade primária das florestas e campos, do sistema de drenagem e
da circulação hídrica e outras para as classificações para aplicação orientativa para obras
de engenharia civil e agronomia devam ser interpretadas.

As interpretações devem ter como focos os modelos de conservação ambiental/


econômica, estado de Degradação eD e as intervenções para reter a dinâmica de
degradação de ação antrópica e as relações de excelência em ecologia / energia / economia
para os planos do Desenho de Uso Optimal DUOT com os cenários DUOT-Ci (i= 1,n)
conforme são apresentados em capítulos adiante.
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5
SISTEMAS GEOLÓGICOS
– Gestão de Bacia Hidrográfica –

Segunda Fase de Auxílio à Decisão sobre o Uso da Terra


* Capítulo publicado na forma de artigo na Revista Brasileira de Geociências 42 (Suppl 1): 96-113.
Dezembro 2012.

Palavras-chave: relações rochas geoformas solos, ordem ideal para gestão do uso da terra,
instrumentos de gestão, sucessos de gestão.

A questão dos métodos de gestão de bacias hidrográficas, vistos a partir dos problemas,
objetivos e constatação de eficiência administrativa e eficácia de resultados está ainda
longe de ser devidamente executado e avaliado positivamente para as condições do Brasil.

A bacia do Paracatu com 45.060km2, tomada neste capítulo como estudo de caso, é a
maior sub-bacia do Vale do São Francisco. A área dessa bacia é constituída por um
conjunto de rochas pré-cambrianas e por uma sequência de depósitos sedimentares de
idade Cretácia, além de sedimentos e coberturas detríticas do Terciário-Quaternário.

PROBLEMAS

São vários os problemas a que se propõe responder nesta inquirição desenvolvida a partir
do ano de 2007 (Martins Jr. et al. 2006):

(1) existe alguma ordem ideal para tratar com a gestão do uso da terra na totalidade de
uma bacia hidrográfica?

(2) se existir, essa ordem ideal pode ser usada, mesmo em bacias cujos processos de uso
e degradação já sejam antigos e avançados?

(3) qual a importância relativa das Geociências Agrárias e Ambientais – GAA (Martins
Jr. 1998) para modelar os processos de gestão?

(4) quais alguns dos aspectos fundamentais trazidos pelos conhecimentos científicos das
Geociências que se podem considerar irredutíveis e condição sine qua non de sucesso na
atividade da gestão geo-ambiental?

OBJETIVO

Apresentar a partir de cartografia das Geociências atualizada para a Bacia do Paracatu,


hipóteses para as relações espaciais entre rochas, geoformas e solos por meio dos
conceitos e relações entre morfogênese e pedogênese associadas. Essas hipóteses são
confrontadas com os dados de compatibilidade superficial de uso da terra, criteriosamente
medidos, para a Bacia do Paracatu. Os resultados são apresentados de modo a responder
às perguntas colocadas como Problemas. Entrementes, são discutidas também questões
sobre como os atributos dos geossistemas possam ser importantes e fundamentais para o
planejamento territorial, visando o desenvolvimento econômico sustentável.

METODOLOGIA

O Planoroeste II (CETEC, 1981) é a principal fonte de referência cartográfica. Essas


informações foram digitalizadas e complementadas com bases cartográficas do Serviço
Geológico do Brasil - CPRM, do Sistema de Informações Estatísticas e Geográficas do
Estado de Goiás – SIEG e da RURALMINAS (1996). Nesta fase, foi de relevante
importância a cooperação com a equipe do Instituto de Geociências Aplicadas de Minas
Gerais – IGA. A cartografia de solo foi convertida para o novo Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos (EMBRAPA, 1999), com base nos trabalhos de Marques e Martins
Jr. (2004) para a Bacia do Rio Paracatu. Os mapas foram corrigidos com ferramentas
topológicas nos softwares ArcView 3.2 e ArgGis 9.2.

Para a análise da relação espacial entre os temas, foram utilizadas ferramentas básicas de
análise espacial, tais como Intersect, Clip e Union. Para as operações de manipulação de
banco de dados e operações matemáticas, foram utilizados, além dos softwares
supracitados, também os programas MapInfo 9.0 e Excel.

Para a discussão da pertinência do estudo ante os Problemas citados acima usou-se de


uma abordagem epistemológica (Martins Jr. 2000) para testar “significados”
reconhecíveis como “irredutíveis” e “essenciais” para a estabilidade de bacias
hidrográficas e a sustentabilidade temporal das atividades econômicas rurais dentro do
modelo fundamental apresentado por Martins Jr. (1998) ao se introduzir a proposição do
desenvolvimento sustentável também como campo de conhecimento proposto para as
Geociências Agrárias e Ambientais – GAA e em sucessivos projetos.

HIPÓTESES

Os aspectos gerais e fundamentais das lito-estruturas / geoformas / solos da bacia do


Paracatu são mostrados ao modo de correlações para que se possa aplicar ao
desenvolvimento de sistemas inteligentes de auxílio à decisão para Ordenamento do
Território. Para tanto necessita-se obrigatoriamente dos aspectos de integração cognitiva
das seguintes relações:

Hipótese 1 - As relações sistêmicas entre rochas / geoformas / solos / circulação hídrica


, em primeira instância, são os aspectos geológicos irredutíveis fundamentais.

Hipótese 2 - A integração daquelas relações sistêmicas da hipótese 1, para ser aplicável a


um sistema lógico interdisciplinar de auxílio à decisão, deve assentar-se segundo uma
lógica que permita trabalhar com  associatividades comuns, associatividades eventuais
e as anomalias associativas  que passam por uma “tipificação global das respectivas
associações cogenéticas” às “perspectivas regionais e locais cogenéticas e anômalas”
entre rochas, geoformas e solos.
Hipótese 3 - Com a aplicação de apropriada lógica deve-se poder caracterizar esboços
com “indicações determinantes” para serem consideradas das escalas regionais
≤1:250.000 às escalas locais, em níveis de sub-bacias de 4ª a 8ª ordens ≥ 1:100.000, e de
propriedades rurais de 1:25.000 a 1:5.000 para o auxílio à decisão em várias escalas de
observação, decisão e interação entre níveis de decisão para as atividades rurais de
quaisquer tipos.

Hipótese 4 - Dentro da perspectiva de uma Arquitetura de Conhecimentos (Martins Jr.


2008), do regional ao local, deve-se tratar como condição fundamental as associações
entre rochas, geoformas e solos que sejam, primeiramente, lógicas e cogenéticas,
enquanto outras decorrem de transformações geotécnicas, geoquímicas e edafoquímicas
mais específicas; nessas, os organismos têm mais importância na gênese e tipificação de
solos, afastando-os de relações clássicas cogenéticas rochas-solos   então admite-se
que as categorias de solos são, portanto, uma das instâncias centrais e mais fundamentais
para a aproximação em escalas do regional ao local.

RELAÇÕES GERAIS entre ROCHAS / GEOFORMAS / SOLOS

Geoformas mais comuns

Entre as geoformas mais comuns existentes em amplas áreas do planeta citam-se: 


cuestas/hogbacks, plateaux de rochas granulares, relevos kársticos, planícies de
inundação, vales encaixados, encostas com pedimentos, plateaux de lateritas e de cangas,
quaisquer tipos de superfícies cortadas transversas a rochas dobradas, relevos íngremes
com saibros ou saprolitos, colinas arredondadas, relevos aplainados de bacias
sedimentares, planaltos rochosos de derrames de lavas, núcleos e vertentes de vulcões
atuais ou antigos, planícies costeiras com lagoas como litorais de submersão, litorais de
emersão com montanhas e encostas íngremes, áreas com dunas, vertentes com altas
declividades >30%, etc.

A Tabela 5.1 aponta para essas associações cogenéticas gerais e mais típicas, derivadas
de processos de gênese de geoformas e solos que tenham maior correlação com a rocha
portadora numa relação de pedogênese quando direta.

Rochas e Estruturas Reológicas

As estruturas rúpteis têm algumas propriedades importantes para o auxílio à decisão geo-
ambiental. Aquelas são descontinuidades nas rochas que influem sobre:

(1) a estabilidade de taludes


(2) o processo de aprofundamento do intemperismo
(3) a infiltração de água em aquíferos fraturados e/ou dobrados
(4) a formação de saprolitos profundos.

A morfogênese enquanto processo é determinante para os encaixes de cursos d’água, para


áreas de inundação, paredões em planos de falhas, declividades várias das vertentes, áreas
preferenciais de erosão etc. Todos esses aspectos são partes do quadro de auxílio à decisão
regional e local para plantios florestais e escolha de áreas agronômicas, ou para mitigação
de áreas degradadas, ou com mau uso, com vistas às atividades econômicas e/ou à
mitigação florestal.

Os comitês de bacia hidrográfica ao planejarem em nível regional deverão ter um quadro


de decisões a serem parametrizadas em função dessas estruturas e relações rochas /
geoformas / solos / circulação hídrica e também com as estruturas dúcteis e rúpteis
expostas.

Em relação às estruturas dúcteis, rúpteis e tipos de rochas, essas associações seguem os


tipos específicos de ambientes geotectônicos que codeterminam a produção de geoformas
e relevos e, por conseguinte, algumas ordens e sub-ordens de solos, que por sua vez são
associadas preferencialmente a determinadas geoformas (Tabela 5.1), como também são
mais afins a determinadas rochas.

Muitas variedades de solos são anômalas em relação ao substrato, e são de estrita


derivação de condições específicas da geodinâmica externa mais recente. Não se pode
deixar de levar em conta climas, micro-climas e agentes bióticos como eficazes fatores
construtores de solos, afora a água em diversos níveis de presença, do ambiente úmido ao
inundado.

DISCUSSÃO sobre ROCHAS / GEOFORMAS / SOLOS no PARACATU

Para Almeida (1977), a região de Paracatu se insere na faixa de dobramentos Brasília e


abrange pequena porção, de uma unidade geotectônica maior, pré-brasiliana, denominada
Craton São Francisco. Em relação aos aspectos estruturais (CETEC 1981), a região em
estudo se caracteriza por uma porção central de Plataforma Estável, limitada a leste e
oeste por Zonas de Deformações Marginais.

Por Plataforma Estável entende-se a área cratônica onde as rochas pré-cambrianas


apresentam-se, de modo geral, sub-horizontais e com evidências de deformações
moderadas, mas algum grau de metamorfismo. Todavia, em alguns locais dessa
plataforma, as rochas refletem reativações de falhamentos do embasamento cristalino. As
zonas de deformações marginais apresentam dobras e falhas inversas com planos,
aproximadamente, paralelos aos limites sul e oeste do cráton do São Francisco.

ROCHAS

O Vale está assentado em um grupo de rochas, que não é em si notável no que diz respeito
à agricultura e a silvicultura. Não obstante, muitos solos do Cerrado regional, uma vez
corrigidos e fertilizados têm oferecido condições excelentes para ser um dos vales de
maior produção de grãos no País.

As rochas regionais são derivadas dominantemente de sedimentos paleocosteiros e


litorâneos situadas na faixa de dobramentos Brasília, ou quase borda com o
paleocontinente Neo-proterozóico/Cambriano da plataforma São Francisco (Tabela 5.2 e
Figura 5.1).
Tabela 5.1 – Tipos de rochas ígneas, metamórficas e sedimentares com vista a integrar em escala
regional de 1:5.000.000 a 1:500.000 as relações mais notáveis rochas / geoformas / ordens de
solos / aquíferos; tratam-se de conjuntos abertos com amplas possibilidades de variações
rochas/solos , mas também com incompatibilidades de relações co-genéticas (org. Martins Jr.,
2005).

ORDENS de Tipos de aquíferos e de


ROCHAS / grupos de GEOFORMAS ou
SOLOS zonas de recarga
rochas mais comuns MORFOTEMAS
comuns*
Ácidas:
– 167oleri-granitos, 1 e 2 – (1) cordilheiras, Cambissolos. 1 e 2 – Aquíferos
adamalitos, (2) encostas íngremes Neossolos. fraturados; em saibros
grandioritos com matacões de erosão Latossolos. com ou sem esfoleação
– 167oleri- esferoidal; esferoidal; aquíferos
microgranitos, micro- (3) colinas meia-laranja, também dito
adamalitos, (4) picos íngremes; confinados.
microgranodioritos (5) vales encaixados;
(6) relevos íngremes Aquíferos rasos solos;
com saibros e saprolitos; aquíferos de transição
(7) formas pão-de-
açúcar;

3 – intrusivas locais sem 3 – irrelevância


– alcali-riolitos, expressão regional.
riodacitos, dacitos
Ultrabásicas Aquíferos de vários
Nitossolos. tipos: basaltos
gabro / 167olerite / plateaux de derrames. Latossolos fortemente
basalto vermelhos. intemperizados
superficiais;
fraturados; confinados;
co-distribuídos com
encaixantes clásticas.
Aquíferos rasos solos.
Básicas

Alcalinas e sienitos:
Super-saturados – 1
– qtz-sienitos / qtz-
microsienitos / qtz-
traquitos
Saturados – 2 – Aquíferos centrados
1, 2, 3, e 4 – encostas de
sienitos / micro- Cambissolos. em circulação hídrica
cones vulcânicos e
sienitos / traquitos Argissolos. em paleo-vulcões e
crateras.
3 – traquitos Neossolos. pegmatitos; confinados
Diques.
Sub-saturados – 4 – e caracterizados como
Derrames.
nefelina-sienitos água mineralizada.
/nefelina micro-
sienitos / leucitófiro e
fonolitos / lavas
livres de leucitas e
feldspatos nefelínicos
Tabela 5.1 – Continuação de Tipos de rochas ígneas, metamórficas e sedimentares com vista a
integrar em escala regional de 1:5.000.000 a 1:500.000 as relações mais notáveis rochas /
geoformas / ordens de solos / aquíferos; tratam-se de conjuntos abertos com amplas
possibilidades de variações rochas/solos , mas também com incompatibilidades de relações
co-genéticas (org. Martins Jr., 2005).

ORDENS de Tipos de aquíferos e de


ROCHAS / grupos de GEOFORMAS ou
SOLOS zonas de recarga
rochas mais comuns MORFOTEMAS
comuns*
idem, (1), (2), (3), (4),
Ultramafitos e
(5), (6), (7)
Anortositos
Rochas Aquíferos clásticos
sedimentares e diversos superficiais e
para-metamórficas plateaux; planícies de submersos; aquíferos
arenitos / margas / inundação; deltas; estratificados isolados;
argilitos / planícies litorâneas; aquíferos estratificados
relevos aplainados de em andares;
bacias sedimentares com aquíferos estratificados
diversos tipos de rochas em andares
sedimentares não intercomunicantes via
Latossolos. entre-camadas e por
metaformizadas.
Cambissolos. via de estruturas
Relevos kársticos.
Gleisssolos. rúpteis;
carbonatos / dolomito Colinas.
Neossolos.
Plateaux de lateritas e de
Argissolos.
cangas, colinas, topos de Aquíferos kársticos.
folhelhos / filitos Vertissolos.
peneplanos.
Plateaux de quartzitos. Aquíferos
estratificados em
quartzitos folhelhos e filitos com
estruturas rúpteis.

Aquíferos raros em
quartzitos amplamente
fraturados friáveis.
Rochas orto- e/ou Aquíferos pouco
para -metamórficas prováveis.
/ fácies colinas com várias
xisto declividades. Idem
Cambissolos. Aquíferos rasos solos.
xisto verde idem. Argissolos.
almandina anfibolito idem. Neossolos. Aquíferos em rochas
altamente alteradas;
granulito (1),(2), (3), (4), (5), (6), muito fraturadas;
eclogito (7) confinados
idem
*os solos, selecionados como típicos, podem ocorrer em outras rochas em virtude de alterações
meteóricas diversas; a não-citação de outras ordens pedológicas e sub-ordens não as excluem desses
contextos, todavia.
Tabela 5.2 – Rochas e estratigrafia da Bacia sedimentar de São Francisco no Vale do Paracatu
apresentada na Figura 4.1 (CETEC e UFOP 1981, Martins Jr., 2006).

Legenda da coluna estratigráfica na Região Bacia Hidrográfica do Paracatu -


Noroeste de MG e Sudeste do DF
QUATERNÁRIO
Qa - sedimentos inconsolidados – argilas, cascalhos e areia

TERCIÁRIO/QUATERNÁRIO
TQd - sedimentos detríticos laterizados ou não ou
TQdα - sedimentos detríticos laterizados ou não mais antigos.
α - mais antigo

CRETÁCIO
Formação Urucuia
Ku - Arenitos avermelhados ou róseo claros, localmente silicificados, com horizontes argilosos.
Formação Areado
Ka - Arenitos finos médios, com intercalações de siltitos e argilitos fossilíferos, cores
variegadas do vermelho claro ao verde, localmente calcíferos, arenitos avermelhados com
estratificação cruzada e conglomerados.
Formação Mata da Corda
Kmc – Tufos, Tufitos, Conglomerados e Arenitos Cineríticos

EO-CAMBRIANO
Super grupo São Francisco
Grupo Bambuí
Formação Três Marias
EoCtm – Arcósios e siltitos arcosianos, micáceos, cores verde a marrom arroxeado.
Formação Paraopeba
EoCp – margas, siltitos argilitos, calcários e ardósias.
EoCpd – margas, siltitos argilitos, calcários e ardósias com predominância de dolomitos.
EoCpc – margas, siltitos argilitos, calcários e ardósias com predominância de calcários e
margas.
Formação Paranoá
EoCpa – quartzitos, filitos e siltitos

PRÉ-CAMBRIANO
Formação Ibiá
PCi – calcoxistos e clorita xistos
Grupo Canastra
PCc - quartzitos, filitos, calcários grafitosos e piríticos e xistos
Figura 5.1 – Carta lito-estratigráfica da Bacia do Paracatu derivada e atualizada (org. Martins Jr.,
2004, escala original de 1:250.000; Plano Noroeste - CETEC, 1981).

GEOFORMAS

O Vale comporta grande número de formas, mas as principais, que correspondem a mais
de 90% das variações do terreno, são: st, pd, rv, so, ch, pt, sa, krv, r, d, itrv, cr, str, sto,
kerv, ptrv, pdr, pf, crv, sor (Figura 5.2; Tabela 5.3).
Figura 5.2 – Mapa geomorfológico do Paracatu, derivado e atualizado, disponível na escala de
1:250.000 (CETEC, 1981; Martins Jr. et al., 2006).
Tabela 5.3 – Principais geoformas do Vale estão em 98% da área total.

Geoformas
st - superfície tabular de aplainamento em área de planalto, com depósitos de
cobertura arenosos e argilosos e rede de drenagem pouco densa, constituída
1
por veredas. Ocorrência acentuada de áreas de infiltração, sobre formações
arenosas.
str - superfície tabular reelaborada – superfície de aplainamento em área de
2 planalto, com depósitos de cobertura predominantemente arenosos; rede de
drenagem constituída por veredas em densidade relativamente elevada.
pd - pedimentos – vertentes de declividade inferior a 8% elaboradas sobre
rochas expostas ou cobertas por formações superficiais que se integram
3
com os depósitos colúvio-aluviais das superfícies de aplainamento. Áreas
com escoamento superficial difuso.
r - vertentes ravinadas – vertentes dissecadas pelo escoamento fluvial
4 concentrado, elaboradas predominantemente sobre rochas de baixa
permeabilidade.
rv - vertentes ravinadas e vales encaixados – vertentes íngremes dissecadas
5
pelo escoamento fluvial, concentrado em talvegues profundos.
ch - vertentes em chevron – vertentes litólicas ravinadas e/ou com vales
6 encaixados, elaboradas sobre flancos de estruturas dobradas. Áreas de
escoamento superficial concentrado e difuso intenso.
7 cr - colinas com vertentes ravinadas.
8 crv - colinas com vertentes ravinadas e vales encaixados.
9 krv - cristas com vertentes ravinadas e vales encaixados.
10 kerv - cristas estruturais com vertentes ravinadas e vales encaixados.
pt - patamares rochosos – superfícies de aplainamento exumadas resultantes
da atuação de processos de erosão diferencial entre formações cretácicas e
11
rochas do Grupo Bambuí. Áreas de escoamento superficial difuso intenso,
com ocorrências de cascalheiras remobilizadas.
sto - superfície de aplainamento degradada em área de planalto, com depósitos
12 superficiais pouco espessos. Predomínio de escoamento superficial
concentrado.
13 sor - superfície ondulada com vertentes ravinadas.
14 pdr - pedimentos ravinados.
15 ptrv - patamares rochosos com vertentes ravinadas e vales encaixados.
16 itrv - interflúvios tabulares com vertentes ravinadas e vales encaixados.
d - depressões rasas de fundo plano – áreas de má drenagem com
rebaixamento pouco pronunciado evoluídas sobre as superfícies de
17
aplainamento, com ocorrências de solos hidromórficos e concentração de
lagoas temporárias.
SOLOS

Os solos mais comuns são os neossolos quartzarênicos, três tipos de cambissolos háplicos,
três tipos de neossolos litólicos e cinco tipos de latossolos vermelhos. Essa dominância é
própria às rochas típicas do Vale (Figura 5.3; Tabela 5.4).

Tabela 5.4 – Principais solos do Vale segundo a classificação FAO-Brasileira/1995 (Marques et


al., 2004) em número de 14, entre 40 tipos existentes.

Solos
LVd1 – LATOSSOLOS VERMELHOS Distróficos típicos argilosos A moderado
1
álicos fase cerrado relevo plano e suave ondulado
RQo3 – NEOSSOLOS QUARTZARÊNICOS Órticos típicos A fraco e moderado
2 álicos + LATOSSOLOS VERMELHO AMARELOS Distrópicos típicos textura
média A moderado álicos fase cerrado relevo plano e suave ondulado
CXbd3 – CAMBISSOLOS HÁPLICOS Tb Distróficos típicos argilosos textura
média A moderado álicos fase campo cerrado + LATOSSOLOS VERMELHO
3
AMARELOS Distróficos típicos argilosos A moderado álicos fase cerrado fase
relevo plano e suave ondulado
RLd1 – NEOSSOLOS LITÓLICOS Distróficos típicos textura indiscriminada A
4
fraco e moderado álicos fase campo cerrado relevo forte ondulado
RQg – neossolos quartzarênicos hidromórficos típicos A fraco e moderado álicos
5
fase campo cerrado relevo plano.
CXbd2 – CAMBISSOLOS HÁPLICOS Tb Distróficos típicos argilosos textura
6 média A moderado álicos + NEOSSOLOS LITÓLICOS Distróficos textura
indiscriminada A fraco e moderado álicos fase campo cerrado relevo ondulado
CXbd2 – CAMBISSOLOS HÁPLICOS Tb Distróficos típicos argilosos textura
7 média A moderado álicos + NEOSSOLOS LITÓLICOS Distróficos textura
indiscriminada A fraco e moderado álicos fase campo cerrado relevo ondulado
RLd1 – NEOSSOLOS LITÓLICOS Distróficos típicos textura indiscriminada A
8
fraco e moderado álicos fase campo cerrado relevo forte ondulado
RLe1 – NEOSSOLOS LITÓLICOS Eutróficos chernossólicos + NEOSSOLOS
LITÓLICOS EUTRÓFICOS típicos A moderado ambos textura indiscriminada fase
9 floresta caducifólia relevo montanhoso + NEOSSOLOS LITÓLICOS Distróficos
típicos A moderado, textura indiscriminada fase campo cerrado relevo montanhoso
+ AFLORAMENTOS DE ROCHAS
LVd1 – LATOSSOLOS VERMELHOS Distróficos típicos argilosos A moderado
10
álicos fase cerrado relevo plano e suave ondulado
CXbd2 – CAMBISSOLOS HÁPLICOS Tb Distróficos típicos argilosos textura
11 média A moderado álicos + NEOSSOLOS LITÓLICOS Distróficos textura
indiscriminada A fraco e moderado álicos fase campo cerrado relevo ondulado
RLd2 – NEOSSOLOS LITÓLICOS Distróficos típicos textura indiscriminada A
fraco e moderado álicos + CAMBISSOLOS HÁPLICOS Tb Distróficos típicos
12
argiloso e textura média A moderado álicos fase campo cerrado relevo ondulado e
forte ondulado
RLd1 – NEOSSOLOS LITÓLICOS Distróficos típicos textura indiscriminada A
13
fraco e moderado álicos fase campo cerrado relevo forte ondulado
LVAd5 – LATOSSOLOS VERMELHO AMARELOS Distróficos plínticos
14 argilosos A moderado álicos + NEOSSOLOS QUARTZARÊNICOS Órticos típicos
A fraco e moderado álicos fase campo cerrado relevo plano e suave ondulado
Figura 5.3 – Mapa de solos do Paracatu como 40 tipos mapeados disponível na escala de
1:250.000 (CETEC, 1981) atualizado em 2004 para o Sistema FAO-Brasileiro.

Rochas e Geoformas

As condições ambientais entre rochas/geoformas do Vale são descritas pelas relações
espaciais de associatividade na Tabela 5.5. As relações rochas e geoformas são
consideradas de ambos os pontos de vista da Geomorfologia estrutural e/ou climática.
Tabela 5.5 – Relações espaciais entre rochas e geoformas no Vale em km2.
Rochas /
Geoformas EoCp EoCpa EoCpc EoCpd EoCtm Ka Kmc Ku PCc Qa TQd TQda
A 78,16 36,54 3,99 0,43 1,77 5,10
Kit 3,70 35,81 12,75
Kv 5,15 0,38
c 182,96 2,64 5,91 11,25 3,68 6,98 1,55 0,19
carv 24,89 0,28 1,37
cd 0,48
ch 17,06 2,33 9,38 1,45 0,04 0,94
ckerv 152,25 1,27
ckrv 23,52
cr 344,05 6,79 64,10 0,52 153,19 11,60 3,17 5,31 0,76
crc 53,30 1,13 11,08
crv 659,30 10,97 38,46 2,05 133,13 18,89 0,01 1,57 2,59 3,57 1,96 0,40
crvk 122,51 4,15
cv 18,51
d 218,93 1,03 3,67 6,75 557,36
gf1 1.057,94 0,02 4,59 0,00 529,48
gf2 80,11 5,06 2,18 0,96 3,54
it 0,53 5,87 7,46 0,44
itk 7,42 0,00 21,32 3,28 0,00
itrv 81,77 11,10 78,19 385,29 13,76 4,61
k 4,42 1,02 1,06 0,77
kav 2,72 19,06
kcrv 14,68 3,63 3,12
ker 4,63 0,19
kerv 1.470,60 90,99 238,12 103,78 37,92 7,94 0,08 7,28 10,44 7,92 3,85
kka 14,37 123,76
kr 80,33 0,22 8,95 2,65 1,22 1,30 0,07 2,61 0,94
krv 2.302,53 9,46 37,42 64,48 287,83 30,88 13,30 113,41 0,57 24,65 45,49
krvit 6,08 3,26
pd 77,53 2,20 11,11 0,26 484,96 279,39 5,80 22,60 3,81 4,37 23,98 0,81
pdr 133,26 2,73 1.269,03 453,74 0,98 10,52 2,91 3,99 1,43
pdrv 0,06 3,65 0,00 62,92 60,76 2,93
pf 320,80 2,89 15,49 11,09 104,66 4,11 0,72 1.401,49 80,65 0,19
pfc 0,38
pfcd 2,65 13,31 2,48 0,04
pfve 16,66 14,06 5,74
pt 5,06 1,07
ptkrv 15,17 0,75 378,55 3,86
pto 32,98 0,00
ptpd 1,34 89,80 4,09 0,52 0,39
ptpdr 115,41 14,60 0,00
ptr 2,45 53,24 0,69
ptrv 60,41 211,13 271,39 3,09 3,94 0,03 2,64
r 384,15 8,36 24,41 24,38 142,97 16,43 0,18 7,52 1,65 19,29 9,56 1,75
rc 72,75 0,76 3,78 23,51 3,72 18,66 9,10
rcd 13,51
rv 820,91 5,98 32,04 13,99 1.327,56 388,78 39,98 21,67 31,07 4,24 17,56 17,85
rva 6,50 0,00
rvk 231,66 1,32 1,44 3,75 0,30 12,24 0,16 4,95 0,32 2,68 0,50
sa 3.895,74 9,98 37,22 283,57 1.449,84 52,41 0,93 419,47 5.929,35
so 1.063,29 9,85 31,82 106,27 221,43 0,01 6,03 23,67 165,45
soka 15,28 79,07 15,44 25,82
sor 470,34 22,42 75,29 20,56 17,05 0,00
st 259,72 1,48 9,19 0,62 23,17 103,79 542,20 362,76 38,04 0,00 227,77 317,45
sto 763,51 1,53 20,76 1,13 105,86 558,04 74,99 39,97 0,00 1.413,61 14,31
str 110,39 8,34 11,96 584,72 3.523,96 12,04 46,83 6,78 371,32
tf1 6,92 1,32 0,15 141,29 8,35
tf2 7,31 2,81 168,26 12,17
tk 1,22
v 1,00 5,21 0,14 0,23
ve 14,59 8,28 26,82 38,19 27,88
Total 15.820,08 179,00 665,48 880,97 6.824,14 6.972,73 751,44 555,00 212,11 2.326,33 9.460,44 407,80
GEOFORMAS e SOLOS

As condições ambientais entre geoformas/solos do Vale podem ser descritas como
favoráveis para diversos tipos de projetos agrícolas, florestais e de zoocultura. Os simples
aspectos obtidos das cartas de Aptidão Agrícola, os tipos de plantas com suas exigências
ambientais e as técnicas agrícolas disponíveis formam um quadro de opções que podem
ser combinadas e descritas em quatro níveis de complexidade de condições como: (1)
ultra-favoráveis (2) favoráveis (3) restritas e (4) desfavoráveis.

Esta classificação é própria do conceito de aptidão, mas precisa ainda ser referida a outros
fatores para se obter um modelo mais amplo e representativo com:  (1) geotecnia do
território da bacia hidrográfica (2) as formas do terreno (3) tipos de solos (4) zonas de
recarga (5) áreas geo-ambientais específicas (6) áreas florestais naturais específicas (7)
micro-climas, entre outros temas, todos eles a serem considerados de modo integrado,
como determinantes para os quatro níveis de classificação acima citados. Isto não ocorre,
todavia, para os mapas de aptidão de solos.

Obviamente, nem todas as espécies florestais nativas ou econômicas serão


necessariamente adequadas, nem mesmo em condições ultra favoráveis para plantio entre
vários tipos de associações de solos / rochas / geoformas. Isto é compreensível pelo fato
de que a classificação de aptidão agrícola é principalmente articulável aos tipos de
plantas/solos. Necessita-se articulá-la aos conceitos de Ordenamento do Território, fato
esse não elaborado metodologicamente em nosso País. No Vale as associações
cogenéticas previstas na Tabela 5.1 são confirmadas (Tabelas 5.6a, 5.6b, 5.6c) e Tabela
5.7.

Tabela 5.6a – Relações espaciais entre geoformas (linhas) e solos (colunas) em km2.
Solos /
AQd3 CXbd1 CXbd2 CXbd3 GMd GXbd LVAd1 LVAd2 LVAd3 LVAd4
geoformas
st 3,52 17,47 49,78 1,28 350,73
pd 190,26 279,09 14,32 2,59 19,44
rv 472,71 21,39 3,14 5,47
so 309,45 28,10 15,86 34,59
sa 0,05 215,01 168,83 3,36 72,43 664,50 102,90 371,71 1546,83
krv 119,38 0,43 0,06
r 119,56 0,06 0,63 26,16
d 3,97 219,48 23,54 9,13 13,25 42,34
itrv 191,72 4,33
cr 224,89 6,44 12,15
str 14,58 291,43 9,14 4,14 15,94
sto 299,40 115,13 99,15 31,97 1,43 102,01
kerv 15,78 0,08 0,07
ptrv 18,47
pdr 361,10 4,09 5,54
pf 122,51 4,85 4,36 9,41 1,12 5,20 16,88
crv 390,96 0,03
sor 523,52 0,42
Tabela 5.6b - continuação
Solos /
LVAd5 LVAd6 LVAd7 LVAd8 LVd1 LVd2 LVd3 LVd4 Lvdf LVe
geoformas
st 0,56 348,00 413,88 129,21 189,76 2,90
pd 24,17 0,05 54,45 2,52 32,91
rv 71,98 3,75 37,40 25,25 0,75 2,94 6,47 1,05
so 15,70 19,21 692,35 0,07 27,50 20,19 0,02
sa 225,91 878,95 649,76 3061,80 68,89 48,28 1176,43 101,96
krv 28,98 0,91 31,34 0,84 1,31 3,61 1,48
r 18,62 1,88 1,85 17,55 0,23 16,27 0,29

Tabela 5.6b - continuação


d 345,33 10,56 16,91 42,05 11,25
itrv 1,94 8,08 26,92 0,30 0,40
cr 0,12 0,09 1,58
str 481,42 84,77 0,06 52,59 2,64
sto 31,40 42,48 1113,03 9,87 363,55 14,25
kerv 1,06 1,10 0,12 8,23 56,51 2,17
ptrv 0,17 0,66 0,18
pdr 44,06 3,91 8,77 4,05
pf 2,23 16,62 24,22 70,75 0,09 0,86 3,87 5,52
crv 2,94 7,87 0,01
sor 0,49 21,76

Tabela 5.6c – continuação


Solos /
PVAe RLd1 RLd2 RLd4 RLe1 RLe2 RQg RQo1 RQo2 RQo3 RQo5 RUbe2
geoformas
st 52,73 8,17 29,29 15,14 1,23 43,29 38,87 3,73
pd 40,72 38,12 17,59 10,27 3,68 21,41 135,88 27,67
rv 2,41 864,94 684,34 53,60 32,33 81,58
so 129,43 51,05 93,17 18,88 72,01 12,07 0,75 63,10 9,44
sa 252,00 137,15 71,62 12,15 126,87 482,54 547,18 741,65 69,22 253,14
krv 1820,50 74,44 628,61 3,12 155,95 1,69 18,31 23,28 7,04
r 9,67 151,49 101,63 18,73 79,17 5,36 0,53 23,42 13,75 30,44
d 2,27 11,45 2,22 12,58 21,32
itrv 260,14 20,11 26,70 28,26 4,24
cr 61,09 89,37 2,34 16,19 65,06 0,48 109,33 0,34
str 142,86 96,66 0,00 13,55 36,68 818,73 334,20 2092,98 161,70 1,30
sto 243,98 10,93 3,83 24,37 76,18 222,72 72,64 6,47
kerv 5,60 379,22 48,30 96,56 1263,16 92,85 5,23 2,77
ptrv 319,24 106,14 5,78 6,19 0,42 6,20 89,07
pdr 99,53 710,08 11,12 10,98 114,24 8,57 209,51 283,03
pf 26,09 29,55 6,91 21,32 5,97 7,52 0,67 35,87 21,53 1497,98
crv 202,12 51,42 29,31 0,83 105,08 3,95 13,31 58,89 1,80
sor 15,10 19,70 0,67 0,15 23,84
Tabela 5.7– Relações em áreas entre principais geoformas e solos superpostos no Vale.

Geoformas Solos principais sobre geoformas


st - superfície tabular de aplainamento em
1 LVd1 – LATOSSOLOS VERMELHOS Distróficos
área de planalto,
str - superfície tabular reelaborada – RQo3 – NEOSSOLOS QUARTZARÊNICOS +
2 superfície de aplainamento em área de LATOSSOLOS VERMELHO AMARELOS
planalto, Distrópicos
CXbd3 – CAMBISSOLOS HÁPLICOS Tb
pd - pedimentos – vertentes de declividade
3 Distróficos + LATOSSOLOS VERMELHO
inferior a 8
AMARELOS Distróficos
4 r - vertentes ravinadas – RLd1 – NEOSSOLOS LITÓLICOS Distróficos
5 rv - vertentes ravinadas e vales encaixados RLd1 – NEOSSOLOS LITÓLICOS Distróficos
ch - vertentes em chevron – vertentes
6 litólicas ravinadas e/ou com vales RQg – NEOSSOLOS quartzarênicos hidromórficos
encaixados
CXbd2 – CAMBISSOLOS HÁPLICOS Tb
7 cr - colinas com vertentes ravinadas.
Distróficos + NEOSSOLOS LITÓLICOS Distróficos
crv - colinas com vertentes ravinadas e vales CXbd2 – CAMBISSOLOS HÁPLICOS Tb
8
encaixados. Distróficos + NEOSSOLOS LITÓLICOS Distróficos
krv - cristas com vertentes ravinadas e vales
9 RLd1 – NEOSSOLOS LITÓLICOS Distróficos
encaixados.
RLe1 – NEOSSOLOS LITÓLICOS Eutróficos +
kerv - cristas estruturais com vertentes NEOSSOLOS LITÓLICOS EUTRÓFICOS +
10
ravinadas e vales encaixados. NEOSSOLOS LITÓLICOS Distróficos +
AFLORAMENTOS de ROCHAS
11 sto - superfície de aplainamento degradada LVd1 – LATOSSOLOS VERMELHOS Distróficos
sor - superfície ondulada com vertentes CXbd2 – CAMBISSOLOS HÁPLICOS Tb
12
ravinadas. Distróficos + NEOSSOLOS LITÓLICOS Distróficos
RLd2 – NEOSSOLOS LITÓLICOS Distróficos +
13 pdr - pedimentos ravinados.
CAMBISSOLOS HÁPLICOS Tb Distróficos
ptrv - patamares rochosos com vertentes
14 RLd1 – NEOSSOLOS LITÓLICOS Distróficos
ravinadas e vales encaixados.
LVAd5 – LATOSSOLOS VERMELHO
15 d - depressões rasas de fundo plano AMARELOS Distróficos + NEOSSOLOS
QUARTZARÊNICOS

ROCHAS e SOLOS

As condições ambientais entre rochas/solos do Vale podem ser descritas em


conformidade com a Tabela 5.1. As relações dominantes rochas/solos contínuas em áreas
de maior extensão de rochas são EoCp, EoCtm e TQd. Com relação aos solos, os
dominantes são: CXbd1+2+3, LVd1+2+3+4, RLd1+2+4, RQo1+2+3+5, onde os valores índices
numéricos indicam para cada valor um grande grupo de solos (Tabela 5.8; Tabela 5.1).

RELAÇÕES GERAIS entre ROCHAS, GEOFORMAS e SOLOS

Em face dos dados apresentados é possível iniciar a verificação das hipóteses levantadas
na primeira parte do artigo como fundamentadas para a construção de modelos de gestão
geo-ambiental e econômica.

Em síntese, a evidência geral da Tabela 5.8 e o estudo de caso sobre o Vale do Paracatu
permitem considerar como demonstradas as Hipóteses 1 a 3, que resumidas são as
seguintes proposições finais às hipóteses:
(1) as relações sistêmicas entre rochas / geoformas / solos / e a incluir as formações
superficiais geotécnicas  são os aspectos irredutíveis fundamentais para modelos de
gestão do uso da terra

(2) a integração dessas relações sistêmicas aplicáveis a um sistema lógico interdisciplinar


de auxílio à decisão deve assentar-se, de fato, segundo uma lógica que permita trabalhar
com  associatividades comuns, associatividades eventuais e anomalias associativas,
amplamente evidentes dentro do Paracatu com 45.060km2, que é uma superfície
expressivamente grande para servir de área-exemplo e

(3) está apropriada a lógica que caracteriza a possibilidade de esboçar as articulações


entre as características e as complementaridades das várias escalas regionais às escalas
locais, para propriedades rurais e para o auxílio à decisão nesses diversos níveis.

A Tabela 5.9 apresenta e confirma as relações entre rochas, solos e geoformas para a
Bacia do Rio Paracatu, conforme se propõe com as três hipóteses acima confirmadas para
modelar os usos da terra apoiado nas análises e confirmações que se apresentam neste
artigo.

CORRELAÇÕES entre ESCALAS de REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA

A Hipótese 4 trata das categorias de solos que se evidenciaram, de fato, ser das instâncias
as mais fundamentais, para a elaboração das decisões de uso da terra em escalas do
regional ao local. As evidências relacionais das Tabelas 5.6a a 5.6c; 5.7; 5.8 e 5.9
permitem essa perspectiva integrada da importância dos solos, como os mais
diversificados sistemas em função das rochas, essas em menor quantidade de variedades,
seguida das geoformas em maior número, e os solos em maior número ainda. Todavia, a
dominância de solos segue de perto as rochas e geoformas, com ocorrência de solos mais
raros em áreas restritas, o que permite identificar-se as “associatividades comuns” da
conclusão sobre a hipótese 2 como “associatividades dominantes”.

Desta forma, pode-se conceber que a tipologia de solos seja o aspecto mais sensível para
o auxílio à decisão geo-ambiental de gestão do uso da terra, sem exclusão dos outros
geossistemas, que analisados podem informar o que a carta pedológica e a carta de aptidão
de solos e a carta agroclimatológica não podem informar. Aquelas informações são de
outras categorias do que essas.

Assim, dentro de uma perspectiva de Arquitetura de Conhecimentos (Martins Jr. et al.,


2006; Martins Jr. & Vasconcelos, 2008) de decisão do regional ao local, deve-se tratar
como condição fundamental as associações entre rochas, geoformas e solos que sejam,
primeiramente, lógicas e co-genéticas, enquanto outras associações decorrem de
transformações geotécnicas, geoquímicas e edafoquímicas mais específicas. Nessas, os
micro-organismos, os sistemas radiculares e o húmus têm mais importância na gênese e
tipificação de solos, afastando-os de relações clássicas cogenéticas rochas-solos   mas
no contexto dessas relações as categorias de solos são das primeiras e mais fundamentais
instâncias para a aproximação em escalas do regional ao local.
Em segundo plano, para o planejamento do uso da terra para a agricultura, a silvicultura,
pastagens, áreas de mitigação, produção de energia com mini-centrais hidroelétricas a fio
d’água, produção de biomassa para energia e industrialização rural são necessários
conhecimentos sobre as relações geotécnicas, que exigem a produção de cartas
geotécnicas, com estudo de distribuição espacial de atributos físicos de rochas, solos e
formações superficiais.

Tabela 5.8 – Relações espaciais entre rochas e solos no Vale do Paracatu – km2. Em negrito, estão
marcadas as interseções das rochas mais típicas encontradas sobre cada tipo de solo (análise
por linha). Em vermelho, estão marcadas as intercessões dos solos mais típicos encontrados
sobre cada tipo de rocha (análise por coluna).

Rochas /
EoCp EoCpa EoCpc EoCpd EoCtm Ka
Solos
1 CXbd1 370,971
2 CXbd2 2.006,303 49,562 193,792 52,785 777,102 837,709
3 CXbd3 121,656 0,515 535,551 18,757
4 GMd 5,797 3,693
5 GXbd 218,775 0,026
6 LVAd1 229,246 0,623 236,489 5,135
7 LVAd2 28,767
8 LVAd3 2,257 35,922 20,605
9 LVAd4 1.064,459 2,270 5,050 102,221 1,515
10 LVAd5 0,137
11 LVAd6 137,271 2,082 227,405 594,136
12 LVAd7 91,179 22,146
13 LVAd8 157,497 0,001
14 LVd1 2.387,409 8,104 54,173 151,463 220,001 122,586
15 LVd2 21,866 35,293
16 LVd3 7,268 34,001 38,144
17 LVd4 1.411,638 3,668 6,721 77,154 4,343 66,769
18 Lvdf 19,413
19 LVe 49,378 53,905
20 PVAe 13,470 4,736
21 RLd1 3.639,472 16,928 45,466 226,955 540,800 1.528,271
22 RLd2 573,361 1,176 33,403 0,040 1.557,456 135,375
23 RLd4 915,558 53,696
24 RLe1 1.064,637 95,882 260,449 100,847 18,252 0,507
25 RLe2 628,587 53,093 112,628 119,662 106,831
26 RQg
27 RQo1 45,269 312,860 896,527
28 RQo2 7,074 148,908 27,207
29 RQo3 105,375 3,601 675,734 2.339,384
30 RQo5 2,076 1.142,005 207,556
31 RUbe2 289,092 1,104 7,646 11,215 78,160 1,719
32 _Aqd3 14,634
Tabela 5.8 – Continuação de Relações espaciais entre rochas e solos no Vale do Paracatu – km2
Rochas /
Kmc Ku PCc Qa TQd TQda
Solos
1 CXbd1 360,562
2 CXbd2 15,084 20,077 37,101 70,778
3 CXbd3 0,832 8,759 23,735
4 GMd 10,703 33,508
5 GXbd 1,259 0,837 85,315
6 LVAd1 131,411 58,886 437,200 160,268
7 LVAd2 3,336 83,311
8 LVAd3 16,625 344,879
9 LVAd4 112,978 421,723
10 LVAd5 5,443 573,783
11 LVAd6 0,425 0,823 29,317 679,807
12 LVAd7 47,068 572,013
13 LVAd8 16,429 245,309
14 LVd1 411,918 14,022 106,545 2.872,231 14,411
15 LVd2 155,605 48,436
16 LVd3 0,236 41,766
17 LVd4 211,403 44,947 553,278
18 Lvdf 12,690
19 LVe 5,757 29,389
20 PVAe
21 RLd1 106,310 67,271 17,189 64,464 40,774
22 RLd2 0,317 31,845 10,216 37,398
23 RLd4 172,285 6,569 61,829 31,787
24 RLe1 9,179 15,147 5,804 3,854
25 RLe2 5,910 0,770 1,421 6,243 10,011
26 RQg 36,678
27 RQo1 0,536 0,450 20,375 374,336
28 RQo2 71,562 691,218
29 RQo3 21,727 51,677 67,706 501,677
30 RQo5 10,193 1,724 1,581
31 RUbe2 1.628,987 202,818
32 _Aqd3

Tabela 5.9 – Relações principais entre solos, geoformas, rochas e materiais de origem (CETEC,
1981, p. 202, 203; Martins Jr et al., 2006).
Classes de Superfícies Estrati-
Materiais de Origem
Solos Geomórficas grafia
TQda
ST Ku
Depósitos de cobertura do Cretáceo Superior /
Kmc
LVA, textura Terciário Inferior
TQda
argilosa STO
Eop
SA TQd
Sedimentos detríticos pleistocênicos
pd EoCtm
TQda Depósitos de cobertura do Cretáceo Superior /
LVA plíntico d, st
Ku Terciário Inferior
textura argilosa
d TQd Sedimentos detríticos pleistocênicos
Tabela 5.9 – Continuação de Relações principais entre solos, geoformas, rochas e materiais de
origem (CETEC, 1981, p. 202, 203; Martins Jr et al., 2006)
.
Classes de Superfícies Estrati-
Materiais de Origem
Solos Geomórficas grafia
STR Ka, Ku Sedimentos detríticos provenientes da alteração de
LVA, textura
STO EoCp arenitos cretáceos
média
SA TQd Sedimentos detríticos pleistocênicos
TQda
ST Ku
Depósitos de cobertura do Cretáceo Superior /
Kmc
Terciário Inferior
LVd, textura TQda
STO
argilosa EoCp
SA TQd Sedimentos detríticos pleistocênicos, com
provável influência de sedimentos, provenientes da
SOKa EoCp
alteração de rochas da F. Paraopeba
Depósitos de cobertura do Cretáceo Superior /
ST Kmc
Terciário Inferior
EoCtm
SA Sedimentos detríticos pleistocênicos
LVd, textura TQd
média Sedimentos detríticos provenientes da alteração de
arenitos cretáceos, com provável influência de
vx, pt, rv EoCp
sedimentos, provenientes da alteração de rochas
calcíferas da Fm. Paraopeba
Dissecação/ Sedimentos detríticos pleistocênicos provenientes
EoCp
mistas da alteração de rochas calcíferas da Fm. Paraopeba
LVe, textura
SA TQd Sedimentos detríticos pleistocênicos, com
argilosa *
provável influência de sedimentos, provenientes da
SOKa EoCp
alteração de rochas calcíferas da Fm. Paraopeba
Sedimentos detríticos provenientes da alteração de
arenitos cretáceos, com provável influência de
vx, pt, rv EoCp
Lve, textura sedimentos, provenientes da alteração de rochas
média calcíferas da Fm. Paraopeba
Sedimentos detríticos pleistocênicos provenientes
SOKa TQd
da alteração de rochas calcíferas da Fm. Paraopeba
Sedimentos provenientes da alteração de rochas
LVdf* ST, rc, crv Kmc
básicas da Fm. Mata da Corda
PVAe, textura TQd Sedimentos detríticos pleistocênicos provenientes
SOKa
média EoCp da alteração de rochas calcíferas da Fm. Paraopeba
Dissecação/
PVAe, textura Sedimentos provenientes da alteração de rochas
mistas EoCp
argilosa calcíferas
SOKa, SA
PVAe, textura Sedimentos detríticos pleistocênicos, provenientes
SOKa TQd
média/argilosa da alteração de rochas da Fm. Paraopeba
Dissecação/ Sedimentos provenientes da alteração de rochas
NV similar * EoCp
mistas calcíferas da Fm. Paraopeba
PLe vértico,
textura
teKa TKd Sedimentos detríticos pleistocênicos
siltosa/argilosa
*
PLd plíntico,
textura
teKa TKd Sedimentos detríticos pleistocênicos
siltosa/argilosa
*
CXbd, textura TQda
Rochas essencialmente ardosianas dos Grupos
argilosa e STO EoCp, tm
Bambuí e Macaúbas
média Eomb
Classes de Superfícies Estrati-
Materiais de Origem
Solos Geomórficas grafia
SA
EoCp,
Dissecação/
EoCtm
mistas
SA – Soda EoCp Sedimentos detríticos pleistocênicos, provenientes
te TQd da alteração de rochas calcíferas da Fm. Paraopeba
Sedimentos detríticos pleistocênicos e recentes,
CXe, textura
tf, te Qa provenientes da alteração de rochas calcíferas da
argilosa *
Fm. Paraopeba
Dissecação/
EoCp Rochas ardosianas e calcárias da Fm. Paraopeba
mistas
EoCp Rochas essencialmente ardosianas, mas também
Dissecação/ EoCtm quartzíticas e areníticas do Pré-cambriano, Eo-
RLd
mistas PCc cambriano e Cretáceo (formações Areado e Mata
Ka, mc da Corda).
Rochas essencialmente ardosianas, provenientes
EoCp,
RLd, Dissecação/ do grupo Bambuí, com influência de materiais
EoCtm
concrecionário mistas lateríticos, provenientes do desmonte de níveis de
PCc
acumulação
Dissecação/
RLd arenoso Ka, Ku Arenitos Cretáceos
mistas
Dissecação/
RLe* EoCp Rochas ardosianas e calcárias da Fm. Paraopeba
mistas
GMd VE Qa Sedimentos recentes colúvio-aluviais
TQda
GXbd, textura Depósitos de cobertura do Cretáceo Superior /
d Ku
argilosa Terciário Inferior
TQd
d TQd
RQg Sedimentos detríticos pleistocênicos
SA EoCtm
RUbe pt, tf Qa Sedimentos aluviais recentes
d Sedimentos detríticos pleistocênicos
TQd
SA
EoCp,
RQo STO
EoCtm Sedimentos provenientes da alteração de arenitos
STR cretáceos
Ka, Ku
Dissecação
Sedimentos pleistocênicos e recentes, detríticos e
V* Tf, pf, SA TQd, Qa aluviais, provenientes da alteração de rochas
calcíferas da F. Paraopeba
Sedimentos provenientes de rochas básicas da F.
NV* st, rc, crv Kmc
Mata da Corda
Sedimentos provenientes de rochas básicas da F.
LVef* st, rc, crv Kmc
Mata da Corda
*Classes de solos com representatividade em nível de inclusão

São necessárias também as várias cartas de pluviosidade  chuva total anual, chuvas do
período chuvoso, do período seco, coeficiente de variação anual das chuvas, número de
dias de chuvas anual, chuva máxima anual, coeficiente de variação do período chuvoso,
número de dias de chuvas no período chuvoso, chuva máxima no período chuvoso e
chuvas de janeiro a dezembro, já que a chuva é entre os agentes naturais o mais ativo
em regiões tropicais. Por certo, que os ventos e o tempo de foto-periodicidade são
aspectos não negligenciáveis, também.
Com essas informações completa-se o sistema básico de informações para se iniciar os
zoneamentos ecológicos, econômicos e ecológico-econômicos de bacias hidrográficas
(Martins Jr. et al. 2008; Martins Jr. & Ferreira 2009; Martins Jr. et al. 2010).

OBTENÇÃO das ÁREAS TOTAIS  Nativa, Plantada e Passível de Recuperação

Considerando-se, portanto, as relações acima evidenciadas sobre as  rochas / geoformas


/ solos fica evidente que essas categorias de entidades geológicas são a base para a
decisão e, portanto, o passo seguinte, ainda dentro da primeira etapa, implicará em se
programar as áreas de:
(1) conservação
(2) preservação
(3) mitigação e
(4) utilização antrópica onde as questões de desmatamento, florestamento,
reflorestamento, mitigação com obras de engenharia e a produção agrícola, de silvicultura
e pastagens poderão ser planejadas e articuladas sobre os mapas de solos, ou sobre os
mapas de Aptidão Agrícola de modo a que todas as restrições e multi-usos não
explicitáveis nesses mesmos mapas possam ser integradas em uma nova categoria de
mapas dos zoneamentos citados acima e na cartografia de Desenho de Uso Optimal do
Território – DUOT (Martins Jr. et al. 2006; Martins Jr. et al. 2008; Martins Jr. et al. 2009;
Martins Jr. et al. 2010).

O planejar do uso do território implica em colocar em perspectiva todas as áreas


potenciais, aquelas em uso, aquelas degradadas, bem como aquelas com necessidades
específicas de técnicas de conservação ambiental bem como aquelas estritas para a
preservação ambiental. Para tanto, outro grupo de cartografias serão necessárias a partir
das informações que se devem agregar segundo a equação lógica abaixo, a saber,
“planejar o Ordenamento Regional do Território” para se estimar a área total replantável,
garantidos os interesses geo-ecológicos entre rochas/ geoformas/ solos/ áreas agrícolas e
agriculturáveis e os interesses econômicos tem como uma equação fundamental básica, a
seguinte:

Σ SF = SBH ± SRs − SGi − SSi − SCVr ± SAd ± SAv ± SP − SU − SOE − SCa

onde, cada membro deve ser desenvolvido segundo a(s) questão(ões) em pauta:
Σ SF - área total disponível para reflorestamento e/ou florestamento, em macro-visão
SBH - área total da bacia
SRs - área de rochas com formações superficiais sensíveis ou meta-estáveis
SGi - áreas de geoformas mais ou menos inadequadas
SSi - áreas de solos mais ou menos inadequados
SCVr - áreas de coberturas vegetal remanescentes e áreas legais
SAd - áreas com agricultura
SAv - áreas agricultáveis
SP - áreas de pastagens
SU - áreas urbanas e urbanizáveis
SOE - áreas de obras de engenharia
SCa - áreas de corpos d’água
± - significa poder utilizar, ou não, para finalidades florestais”.
“A questão econômica também se apoia sobre as questões geo-ecológicas ou de
adequação planta / água / solos / climas-microclimas de modo que as relações
específicas entre produção de biomassa para energia – BE - e biomassa para alimentação
– BA - se colocam de modo crítico no País, daí demandar estudos detalhados das bacias
para o Mapa de Usabilidade como um instrumento de auxílio à decisão a fazer parte do
‘Sistema de Arquitetura de Conhecimentos e dos Sistemas Inteligentes de Auxílio à
Decisão’ (família SisDec de sistemas)” (Martins Jr. et al., 2006; Marques & Martins Jr.
2004; Martins Jr. & Vasconcelos 2008). Esses sistemas podem ser desenvolvidos por
todos os que se interessam nessas questões de gestão geo-ambiental e econômica.

CONCLUSÕES

A integração das relações entre  rochas/ geoformas/ solos/ formações superficiais


apresenta aspectos fundamentais para o planejamento regional (escalas de 1:1.000.000 a
1:100.000), servindo de base como método para aplicação a quaisquer outras bacias,
mesmo aquelas com estruturas geológicas e lito-estratigráficas bem distintas. Essas
relações são de diversos tipos, especialmente em se tratando de questões que envolvem
evidentes relações entre  rochas/ geoformas/ solos/ formações superficiais implicam na
possibilidade de discernir em primeira instância:

(a) estabilidade x instabilidade de terrenos


(b) disponibilidade hídrica
(c) declividades
(d) estruturas dúcteis em relação às vertentes
(e) estruturas rúpteis e aspectos do processo de infiltração da água pluvial
(f) relações entre infiltração e escoamento superficial imediato pós-chuvas com ou sem
desmatamento e onde a agricultura seja, ou não, organizada com métodos
conservacionistas
(g) a susceptibilidade a processos de “perda universal de solos” (Wischmeyer et al. 1958;
Wischmeyer & Smith 1965; 1978) com atualizações ao método como desenvolvido
para o Brasil por Bertoni et al. (1975) e Lombardi Neto (1977) e
(h) susceptibilidade de indução ao processo erosivo, entre muitos outros aspectos.

A separação de terras feitas do regional ao local é um procedimento fundamental para, de


início, se descortinar áreas mais propícias e adequadas do ponto de vista ambiental para
a produção agrícola, em especial, bem como as áreas para mitigação, conservação e/ou
preservação em bacias como a do Paracatu em avançado estágio de ocupação.

A questão se fechará com as etapas seguintes, que mediante o espectro de possibilidades


extraídos dessa etapa inicial emergem ao se analisar, então, as condições geotécnicas,
edáficas, hídricas e de relevo das áreas reconhecidas como passíveis de uso sustentável,
obviamente em considerando as técnicas de uso e de conservação com seus custos
operacionais.

As bases cartográficas da bacia do Rio Paracatu servem de exemplo para a compreensão


da gestão de territórios, sejam, em meio acadêmico, entidades governamentais, comitês
de bacias hidrográficas ou empreendimentos privados.
As relações quantificadas entre rochas, geoformas, solos, formações superficiais
apresentam-se como uma contribuição fundamental para comprovar a pertinência dos
processos de morfogênese e pedogênese no âmbito decisões sobre usos da terra. Também
devem ser úteis para futuros mapeamentos e demais estudos de campo, por permitirem
inferências indiretas prováveis a partir de elementos de rochas, solos e geoformas,
aplicáveis a projetos agrícolas e estudos de compatibilidade de plantios para produção de
energia de biomassa de forma compatível com os terrenos. Esses aspectos por não serem
triviais demandam dos geocientistas, em colaboração com os Engenheiros agrônomos,
florestais e ambientais, a competência de estabelecer regras em diversas escalas de análise
para se poder decidir os melhores modos de ocupar o terreno em função do substrato.

Evidentemente, muitos outros fatores deverão ser confrontados, mas as relações  rochas
/ geoformas / solos / formações superficiais são os primeiros fatores a serem
considerados para se estabelecer os modelos e cenários de Desenhos de Uso Optimal do
Território - DUOT de qualquer bacia hidrográfica.

REFERÊNCIAS

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do Instituto Agronômico 21. Campinas. SP. p: 1-25.
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Belo Horizonte: Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais – CETEC-MG (extinta).
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6
ZONAS de RECARGA e ÁREAS PRECISAS de RECARGA de
AQUÍFEROS
– Gestão de Bacia Hidrográfica –

Terceira Fase de Auxílio à Decisão para Uso da Terra

Palavras-chave: recarga de aquíferos, tipos de aquíferos, circulação hídrica, mapa de


favorabilidade de recarga, potencialidade de recarga.

Entende-se o conceito de zonas de recarga de aquíferos – ZRA – como amplas áreas


dentro de bacias hidrográficas onde ocorrem sucessivas áreas com efetiva recarga.
Entende-se o conceito de áreas precisas de recarga – APR – como áreas onde ocorre a
recarga efetiva dos aquíferos subterrâneos. Ambos conceitos foram estabelecidos no
decorrer de projeto realizado em 2003 / 2006 (Martins Jr. et al., 2002) no qual tal modo
de especificar esses dois aspectos teve o intuito de apreender a recarga sob ponto de vista
regional ZRA e sob ponto de vista local APR, onde o fenômeno ocorre especificamente
com infiltração no aquífero. Neste caso não se trata de infiltração em solos até o limite da
capacidade campo, condição essa de muita importância para a circulação hídrica e para a
vegetação, e nem tampouco para a infiltração em formações superficiais, segundo
definição consagrada na Geotecnia. A recarga é um processo da geodinâmica externa ou
supergênica do planeta, de importância central para a circulação hídrica em aquíferos
profundos em sistemas rochosos vários e na superfície terrestre.

PROBLEMA

Em função de exigências de identificação de aquíferos e exigências de mensuração das


condições de circulação hídrica continental a noção de ZRA deixa claro que se pode
afirmar a existência de recarga em amplas áreas enquanto em outras áreas essa afirmativa
pode não valer, e nem deve ser reconhecida. Isto era um problema até se resolver por
critérios gerais de auxílio à decisão inter-escalar. Todavia, os critérios de reconhecimento
dessas ZRA continuavam a ser dependentes de definição mais precisa quanto ao método
de reconhecimento das ZRAs.

Por outro lado, o reconhecimento de áreas precisas de APR ficava também sem critérios
mais estritos de definição, sem que se tivesse que recorrer a mensurações caras e não
factíveis para amplas regiões com múltiplas APRs. Muitos desses problemas estão
resolvidos como se apresenta nesse capítulo.

OBJETIVO

1 – Demonstrar a importância do reconhecimento de ZRAs e APRs como parte de uma


possível terceira fase de procedimentos para auxílio à decisão, anteriores e necessários
para o Desenho de Uso Optimal do Território – DUOT, o mapa do futuro, e como
conhecimento fundamental para o escrutínio de áreas legítimas para diversos usos, sob a
condição de segurança ambiental que garanta a infiltração.

2 – Apresentar a caracterização cartográfica de favorabilidade de recarga de aquíferos


que é um dos procedimentos específicos para tratar com a ZRA.

3 – Apresentar o procedimento de diagnóstico expedito de recarga de aquíferos com


contextos locais, isto é, em APRs.

ZRA e APR – A Recarga de Aquíferos Subterrâneos

Entendido que as ZRA e as APR são estruturas importantes para a geodinâmica da


circulação hídrica deve-se então ter como segundo aspecto do processo de planejamento
de uso da bacia buscar reconhecer essas estruturas.

É também comum se admitir que haja recarga acima dos mais altos topos na bacia, acima
de todas as fontes mais altas. Esse tipo de recarga depende, por certo, de solos e de modo
mais acentuado depende da porosidade. Eventualmente podem ser áreas de recarga de
efetivos aquíferos subterrâneos estabelecidos em sistemas rochosos de vários tipos
existentes em dada região, e cuja área de infiltração possa ocorrer estar nos altos topos
por motivos estruturais ligados a estratigrafia.

Para compreensão geral deste tipo de identificação de ZRA e APR em qualquer bacia,
embora não seja meta deste livro discutir detalhadamente métodos, mas para
entendimento alguns aspectos do método são apresentados como forma de procedimentos
que viabilizem os reconhecimentos de ZRAs e APRs. Na Figura 6.1 tem-se as áreas dos
sistemas rochosos que podem conter aquíferos. A sinalização desses sistemas não implica
necessariamente que contenham aquíferos subterrâneos e nem tampouco se saiba onde
estão os reservatórios. Para tanto, estudos específicos são demandados.

Figura 6.1 – Localização da Bacia do Rio Paracatu.


Figura 6.2 – Sistemas rochosos mais ou menos portadores de aquíferos em diversas estruturas e
de diversos tipos. As áreas apenas indicam as possibilidades e não necessariamente as
localizações. Este mapa é um primeiro passo para se buscar as zonas de recarga ZRA (com base
em CETEC e RURALMINAS).

MÉTODOS e TÉCNICAS

Os estudos de casos apresentados são para a bacia do rio Paracatu nos espaços potenciais
de ocorrência de aquíferos nos 45.154km2. Já a partir da década de 1980, a bacia tem sido
palco de diversos conflitos pelo uso da água e do solo, envolvendo projetos de irrigação,
barragens hidroelétricas e assentamentos de reforma agrária (Vasconcelos; Martins Junior;
Hadad, 2012a). As Figuras 6.1, 6.2 e 6.3 apresentam a situação geral da bacia do Paracatu no
que interessa à questão da água subterrânea.

Figura 6.3 – Relevo e Hidrografia do Vale do Paracatu.

A litoestratigrafia da Bacia do Paracatu condiciona distintos sistemas aquíferos (Figura 6.3).


Ao se relacionar os sistemas rochosos deve-se ter em mente que as rochas podem ser
portadoras de reservatórios de aquíferos em função das condições líticas, dos espaços
porosos, da estratigrafia e da influência das estruturas rúpteis e dúcteis em várias escalas de
tamanhos que favoreçam a circulação e armazenamento da água. Os acamamentos
sedimentares profundos (estratigrafia cretácea e coberturas detríticas do Terciário-
Quaternário nos planaltos de cabeceira) apresentam-se como principais áreas potenciais para
recarga e armazenamento das águas subterrâneas em aquíferos granulares (CETEC, 1981)
pelo fato de serem as rochas sedimentares de maior potencial de reserva.

As coberturas detríticas do Terciário-Quaternário rasas nas baixadas, assim como as


coberturas aluviais quaternárias, possivelmente possuem um papel secundário, mais voltado
à regulação de vazões (RURALMINAS, 1996). Os sistemas aquíferos ligados a
acamamentos kársticos e metamórficos dependem bastante da presença de estruturas rúpteis
e dúcteis, cuja heterogeneidade espacial é proveniente da história geológica estrutural ligada
à formação da bacia (Martins Jr., in Projeto CRHA, 2006).
Hipóteses de trabalho no Vale do Paracatu

As proposições metodológicas aqui propostas partem de hipóteses de pesquisa que favorecem


o trato da questão em qualquer bacia hidrográfica:

1 – Os atributos ambientais (solo, rocha, vegetação, relevo, pluviosidade etc.) influenciam de


modo diferenciado a formação dos componentes de vazão (subterrâneo, subsuperficial e
superficial) dos rios;

2 – O comportamento espacial de surgências (nascentes) dos rios e o comportamento da


vazão em seus cursos podem indicar, quantitativa e qualitativamente, a relação entre a
recarga de aquíferos e os fluxos: – subterrâneo, subsuperficial e superficial;

3 – A comparação entre os fenômenos referentes às hipóteses 1 e 2 permite mapear as áreas


com maior favorabilidade para a recarga de aquíferos, neste caso as zonas de recarga.

ZONAS de RECARGA de AQUÍFEROS ZRAs em FUNÇÃO da FAVORABILIDADE


em ALTAS ÁREAS SUPRA SURGÊNCIAS

Esse método caracteriza os atributos de favorabilidade de recargas de áreas em forma


qualitativa probabilística. O estudo hidrogeológico se efetiva com base em inferências
sobre piezometria, recarga e descarga dos aquíferos livres por meio do controle
altimétrico de nascentes como foi proposto por Rennó & Soares (2003, p. 2587). A
delimitação de áreas de recarga, da transmissividade e da descarga, por critérios de
declividade e topologia altimétrica, parte da concepção de Souza & Fernandes (2000).

O princípio em que se ancoram ambas as proposições é de que, em bacias de rios perenes,


as áreas topograficamente acima das nascentes apresentam funções hidrogeológicas
distintas das áreas a jusante, em especial no que diz respeito à predominância da função
de recarga de aquíferos. Dessa forma, essa modalidade de mapeamento indica áreas com
maior gradiente hidráulico e menor umidade do solo no momento pré-chuva, contribuindo
para a infiltração e percolação das águas. Esse fato não exclui o que foi mencionado acima
de que essas áreas não são necessariamente áreas de recarga em efetivos aquíferos
subterrâneos profundos em sistemas rochosos específicos, tais como:

1 – aquíferos granulares
2 – aquíferos granulares fraturados
3 – aquíferos estratificados
4 – aquíferos kársticos
5 – aquíferos kársticos fraturados
6 – aquíferos alcalinos

No entanto, entendendo-se que recarga pode ocorrer nessas áreas em função da linha de
alta exsudação topográfica, para se determinar essas áreas acima das nascentes deve-se
então partir da informação altimétrica dos pontos de surgência de modo a demarcar a
linha de transição entre o predomínio dos possíveis processos de recarga e os de
exsudação de eventuais aquíferos.
Nesse estudo de caso no Vale do Paracatu os pontos de localização das surgências são
obtidos da base cartográfica do IBGE, de 1970, em escala de 1:100.000, ao passo que a
altimetria de cada ponto é obtida pela interpolação das curvas de nível e pontos
altimétricos da base de altimetria SRTM.

Com efeito, a delimitação dessas áreas tem como base a elaboração de um plano de
interpolação por krigagem da altitude das surgências. As surgências da Bacia do Paracatu
foram locadas a partir da base de cartográfica do IBGE (1971), em escala de 1:100.000. Um
modelo de elevação digital hidrologicamente consistente – MEDHC – foi elaborado com
base no tratamento da topografia do radar SRTM (Jarvis et al., 2008) e da hidrografia do
IBGE (1971), recondicionados com a extensão Hydrotools para ArcGis 10 e com os
algoritmos de pré-processamento do programa Saga 2.0.8.

O método de krigagem, bem como seus parâmetros, foram otimizados interativamente pelo
algoritmo da extensão Geostatistical Analyst, do programa ArcGis 10.1. Esse plano krigado
foi subtraído do modelo de elevação digital por álgebra de mapas, tendo como produto o
mapeamento da altimetria relativa em relação às nascentes. A altimetria de cada nascente
serve de base para a elaboração de um plano tridimensional com a interpolação
geoestatística por krigagem ordinária gaussiana com 2 a 5 vizinhos por quadrante (45o).

Apresentam-se três produtos de mapeamento da favorabilidade da recarga:


[A] por classes qualitativas,
[B] por unidades hidrológicas de paisagem, e
[C] pela multiplicação de fatores ponderados formando um índice de favorabilidade de
recarga.

Nos mapas [A] e [C], são destacadas as áreas altimetricamente mais elevadas em relação ao
nível das nascentes, como recurso de visualização de áreas com predominância de recarga.

O funcionamento geral dos sistemas hidrogeológicos e das áreas de recarga no Vale do


São Francisco e do Noroeste de Minas Gerais são apresentados nos estudos do
Planoroeste II (CETEC, 1981) e em Ramos & Paixão (2004).

O estudo mais regionalizado das zonas de recarga da bacia do Paracatu foi realizado por
RURALMINAS (1996) e Martins Junior (2009). Esses estudos são importantes por
indicar quais unidades geoambientais (conjugando litoestratigrafia, geomorfologia,
pedologia e pluviometria) serão mais importantes para recarga dos aquíferos da Bacia do
Vale do Paracatu. Como base nos estudos supracitados, adota-se a seguinte tipologia que
caracterizaria a maior favorabilidade à recarga de aquíferos nas áreas altimetricamente
acima das nascentes dessa bacia:

- Lito-estratigrafia: litossomas porosos portadores de aquíferos.


- Geomorfologia: áreas tabulares aplainadas formadas por processos de pedimentação.
- Pedologia: neossolos quartzarênicos.
Com o superposicionamento (overlay) entre as bases cartográficas de litoestratigrafia,
geomorfologia e de pedologia é possível mapear todas as formas de combinação
(sobreposição) entre essas diferentes características favoráveis à recarga:

1 – os locais em que há favorabilidade concomitante entre as três bases cartográficas


seriam as áreas de maior potencial para a recarga dos aquíferos.

2 – por conseguinte, as áreas com sobreposição de favorabilidade de duas bases


cartográficas (dentre as três utilizadas) teriam ainda maior potencial de recarga do que as
áreas com favorabilidade apenas de uma das bases cartográficas.

3 – por fim, as áreas altimetricamente acima das nascentes que não apresentam nenhum
dos atributos favoráveis à recarga são as de menor potencial para a recarga dos aquíferos.

Com a digitalização da litoestratigrafia, geomorfologia e pedologia da região por


Martins Junior (2006), a partir das bases do Planoroeste II (CETEC, 1981), tornou-se
possível a caracterização cartográfica das áreas de recarga escala de detalhe de 1:250.000.

Os produtos cartográficos foram cotejados aos dados das estações climatológicas e


pluviométricas, presentes em RURALMINAS (1996) e Nunes & Nascimento (2004). A
cartografia de pluviometria foi obtida por meio da soma das bases de pluviosidade do
semestre seco e do semestre chuvoso, de Nunes & Nascimento (2004), interpoladas pelo
método do vizinho natural.

Para o mapeamento por classes qualitativas utilizou-se dos seguintes critérios de


favorabilidade: solos (neossolos quartzarênicos), geomorfologia (superfícies planas e
tabulares) e litoestratigrafia (aquíferos porosos), com as bases cartográficas em 1:250.000 de
Martins Junior (2006). Nesse aspecto, os locais em que ocorra a favorabilidade concomitante
entre as três bases cartográficas seriam as áreas de maior potencial para a recarga dos
aquíferos. Por conseguinte, as áreas com sobreposição de favorabilidade de duas bases
cartográficas (dentre as três utilizadas) teriam um potencial de recarga maior do que as áreas
com favorabilidade em apenas uma das bases cartográficas. Por fim, as áreas que não
apresentam nenhum dos atributos favoráveis anteriormente citados seriam as de menor
potencial para a recarga dos aquíferos.

ABORDAGEM de UNIDADES HIDROLÓGICAS de PAISAGEM

Foi utilizada a abordagem de unidades hidrológicas de paisagem para interpretar a diferença


altimétrica em relação às nascentes e aos cursos d’água, com base nos critérios altimétricos
utilizados por Rennó et al. (2008) e Gharari et al. (2011), classificadas nos termos de recarga,
transiência1 e descarga (Souza; Fernandes, 2000). As ponderações (Quadro 6.1) tomaram por
base estudos extensivos realizados em encostas, referentes a padrões de condutividade
1
Souza e Fernandes (2000) empregam a classificação de Área de Transmissividade, situada entre as áreas
de Recarga e Descarga. Entretanto, o conceito de transmissividade já é utilizado convencionalmente na
Hidrogeologia em um contexto mais estrito, como parâmetro hidráulico em testes de aquífero. De forma a
evitar imprecisões de interpretação, propomos utilizar o termo Área de Transiência, em lugar de Área de
Transmissividade.
hidráulica (Lewis et al., 2011), umidade superficial pré-chuva (Brocca et al., 2007; Crave;
Gascuel-Odoux, 1997; Famiglietti; Rudnicki; Rodell, 1998) e profundidade do nível freático
(Nobre et al., 2011). Foi utilizado o software Saga 2.0.8 para o cálculo da diferença
altimétrica em relação ao curso d’água à jusante, aplicando-se o algoritmo descrito em Rennó
et al. (2008).

A multiplicação dos atributos do Quadro 6.1 permite o mapeamento de um indicador


topográfico unificado dos processos de recarga e descarga que incorpora as informações dos
dois critérios de diferença altimétrica relativa.

Quadro 6.1 – Ponderação dos atributos das Unidades Hidrológicas de Paisagem


Altitude em relação ao nível de nascentes
Abaixo de -5 De -5 a +5 metros De +5 a +20 metros Acima de +20
metros; Flutuação do contato Transiência metros
Descarga freático Recarga
0,7 0,85 1,6 2,25
Altitude em relação ao curso d’água de jusante
Abaixo de +10 De +10 a +20 metros De +20 a +40 metros Acima de +40
metros Flutuação do contato Transiência metros
Descarga freático Recarga
0,7 0,85 1,6 2,25

Enfim, para a elaboração do índice quantitativo de favorabilidade de recarga, foram tomados


como base os mapeamentos de litoestratigrafia e pedologia (Martins Junior, 2006),
pluviosidade (Nunes; Nascimento, 2004), declividade a partir da altimetria SRTM (Jarvis et
al., 2008) e a ponderação do Quadro 6.1.

Para as variáveis de solo, declividade e litoestratigrafia, utilizaram-se os mesmos valores de


ponderação da planilha de diagnóstico expedito apresentada no primeiro método. Para a
pluviosidade, a ponderação se deu diretamente na estimativa da precipitação (em metros/ano)
interpolada para cada quadrícula raster. A multiplicação de cada um dos pesos leva ao índice
geral de favorabilidade de recarga.

Assim, com base nas bases cartográficas disponíveis, pode-se elaborar um índice
ponderado de favorabilidade de recarga dos aquíferos. O método escolhido é o da
modelagem baseada em conhecimento, consistindo no acesso a especialistas e à
bibliografia consolidada. Desse modo, a ponderação mescla um ordenamento qualitativo
a um quantitativo. Foram tomados como base os mapeamentos de litoestratigrafia e
pedologia (Martins Junior, 2006), pluviosidade (Nunes e Nascimento, 2004) e
declividade, esta última tomada pela altimetria SRTM.

As classes de solo foram ordenadas em função de sua drenagem, de acordo com a


tipologia proposta pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (Santos et al. 2005), a
partir dos dados primários do levantamento de solo da região (CETEC 1981). Por se tratar
de um atributo generalista, com ênfase no resultado da circulação hídrica, o conceito de
drenagem consegue englobar os processos realizados por parâmetros como
permeabilidade, estrutura e condutividade – porém em uma escala de análise mais ampla
que incorpora a capacidade de armazenamento do perfil de solo, a variação do lençol
freático (quando for o caso) e os processos de fluxo na bacia hidrogeológica.
Desse modo, a ordenação de drenagem dos solos para a Bacia do Paracatu, do mais bem
drenado para o menos drenável, é: neossolos quartzarênicos, latossolos, cambissolos,
solos de horizonte B textural, neossolos litólicos, gleissolos.

As classes litoestratigráficas, por sua vez foram agrupadas em aquíferos sedimentares


profundos, aquíferos sedimentares rasos, kársticos, kársticos-fraturados e fraturados,
assim ordenadas da mais relevante para a menos relevante, em relação à capacidade
teórica de recarga do fluxo de subterrâneo.

Para os tipos de solo, a referência balizadora foi o sistema Hydrology of Soil Types –
HOST, adotado pelo Reino Unido, conjugando estimativas quantitativas aos critérios de
drenagem de solos, profundidade permanente ou sazonal do aquífero e presença de
camada impermeável ou semi-permeável.

Para uso no Brasil, realizamos a correspondência entre a tipologia HOST e o Sistema


Brasileiro de Classificação de Solos, levando em conta as taxas de infiltração e as
estimativas de coeficientes que relacionam as taxas de escoamento superficial. Estes
últimos coeficientes também foram utilizados como referência para a influência da
declividade na recarga dos aquíferos.

Quanto à influência do potencial do aquífero (classes litoestratigráfica), foram


consideradas, preliminarmente, as regressões de litoestratigrafia sobre fluxo de base de
Bloomfield et al. (2009), complementadas pelas estimativas de vazão de poços. As três
ponderações são apresentadas na Tabela 6.2. Para a pluviosidade, a ponderação se deu
diretamente na estimativa da pluviosidade (em metros/ano) para cada quadrícula raster.

O critério de cálculo de totais parciais se dá por multiplicação dos índices de cada atributo.
A modelagem multiatributo por multiplicação segue as recomendações de Clarke (2009),
Tucci (2009) e Naghettini e Pinto (2007) para a modelagem hidrogeológica e hidrológica.
Parte-se do pressuposto teórico de que se modela um fluxo contínuo de água (da
precipitação à surgência), que será potencializado ou restringido quantitativa e
qualitativamente pelas características ambientais, incluindo efeitos iterativos (USEPA,
1986).

Tabela 6.2 - Ponderação preliminar da Drenagem de Solos e do Potencial de Recarga de Aquíferos


Solos – (drenagem)
Cambissolos Solos
Neossolos Latossolos Neossolos
Solos de horizonte B hidromórficos e
Quartzarênicos litólicos
textural ou plíntico aluviais
6 2,5 1 0,6 0,3
Litoestratigrafia – (potencial de recarga do aquífero)
Aquíferos porosos Aquíferos
Karst Kárstico/fissurado Fissurado
profundos porosos rasos
3 2,2 1,4 1,1 0,7
Declividade
(infiltração)
Plano Suave- Ondulado Forte-Ondulado Escarpado
0-3% Ondulado 8-20% 20-45% > 45%
3-8%
2,5 1,5 1 0,5 0,25
DIAGNÓSTICO EXPEDITO de RECARGA de AQUÍFEROS em CONTEXTOS LOCAIS

Não existe obrigatoriedade de se realizar primeiramente o estudo de ZRAS ou de APRs.


Todavia, em geral ao se abordar uma bacia hidrográfica é sempre melhor começar a
caracterização da escala regional, a sub-regional às escalas locais. Este modo de proceder
ajudar a aumentar a visibilidade das questões ligadas aos aquíferos sob os aspectos recarga e
reservatórios bem como os aquíferos mais propriamente de transições, isto é, sem
reservatórios específicos, mas com capacidade de acumular e facilmente fazer transitar da
infiltração à exsudação.

Assim o método que se discute nesta etapa insere-se no contexto de instrumentos ambientais
de aplicação local, isto é, áreas precisas de recarga APRs. Inclui-se neste caso uma série de
questões que necessariamente estão ligadas às legislações e a administração tais como
fiscalização, autorizações de desmate, EIA/Rimas e averbações de reserva legal.

Do ponto de vista da cartografia de APRs estes procedimentos são úteis por serem rápidos e
de baixo custo, todavia eficientes em resultados. Servem, sobretudo, para se estabelecer
procedimentos de pesquisa e levantamentos expeditos, além de também poder ser utilizado
como recurso didático, para treinamento de pessoal em hidrogeologia.

UM MÉTODO EXPEDITO de LEVANTAMENTO de APRs

Trata-se de uma delimitação e caracterização ambiental expedita de áreas de recarga,


envolvendo uma etapa de escritório e uma etapa de campo. A etapa de escritório consiste em
identificar o domínio geológico e delimitar as áreas de maior favorabilidade de recarga, as
quais são preliminarmente mapeadas como as que se situam topograficamente mais elevadas
em relação às surgências.

A etapa de campo envolve a validação e detalhamento dos produtos de escritório, seguidos


de um diagnóstico hidrogeológico e ambiental expedito das áreas delimitadas, por meio de
planilhas de ponderação desenvolvidas especialmente para esse fim, focando o aspecto de
quantidade e qualidade da água (Quadros 6.3 e 6.4).

O critério de cálculo de totais parciais da planilha se dá por multiplicação dos índices de cada
atributo. Para os critérios do diagnóstico expedito, toma-se como referência um pequeno
leque de modelos visuais geomorfológicos esquemáticos das situações clássicas de recarga e
descarga de aquíferos com foco em surgências (Custódio; Llamas, 1976; Dahl; Hinsby, 2008;
Junqueira Júnior, 2006; Valente; Gomes, 2005).

As classes de solos são ponderadas em função de sua drenagem, em consonância com a


tipologia proposta pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (Santos et al., 2005). A
referência balizadora foi o sistema Hydrology of Soil Types – HOST – (Boorman; Hollis;
Lilly, 1995), adotado no Reino Unido, conjugando estimativas quantitativas aos critérios de
drenagem de solos, profundidade permanente ou sazonal dos aquíferos freáticos e presença
de camada impermeável ou semipermeável.
Quadro 6.3 – Ficha de diagnóstico ambiental expedito - recarga de aquíferos e quantidade de água.
ATRIBUTO Índice
Vegetação na área de recarga – (infiltração menos evapotranspiração)
Mata
ciliar;
Cerradão; Vegeta-
Cultura Área desmatada;
Floresta ção
Campo; permanente; Floresta
decídua; higrófita
Cerrado Cultura semidecídua;
Caatinga ou
temporária Caatinga
arbórea hidrófila;
Floresta
ombrófila
1,3 1,1 0,9 0,8 0,7
Declividade (infiltração)
Plano Suave- Ondulado Forte-ondulado Escarpad
0-3% ondulado 8-20% 20-45% o
3-8% > 45%
2,5 1,5 1 0,5 0,25
Solos (drenagem)
Neossolos Cambissolos Neossolos
Potencialidade de RECARGA (Quantidade de Água)

quartzarênico (solos rasos); litólicos


s Latossolos Solos de (solos muito
Solos
(solos (solos horizonte B rasos, com
hidromórf
arenosos profundos textural (solos afloramentos
icos e
profundos) não com camada rochosos)
aluviais
arenosos) argilosa) ou
plíntico
(enrijecida)
6 2,5 1 0,6 0,3
Rochas (potencial hídrico do aquífero)
Arenito Acamament
(porosos o detrito-
profundos) laterítico Karst Basáltico Fissurado
(porosos
rasos)
3 2,2 1,4 0,9 0,7
Tipologia de Recarga e Surgência
Sumidouro Nascente
e/ou Nascente de intermite
ressurgência Vereda; contato Nascente de nte
cárstica Dolinas litológico ou fratura (indepen-
artesiana dente do
tipo)
1,5 1,3 1,2 0,8 0,4
Uso do Solo (compactação e impermeabilização)
Vegetação Cultura Urbano;
nativa permanente; Industrial
Pastagem Solo exposto
Cultura
temporária
1,5 0,8 0,5 0,3 0,1
Técnicas de conservação do solo e da água
Barragens de Terracea- Sem
Camalhões em Plantio direto
captação de mento técnicas
curvas de nível
água chuva
3 1,5 1,4 1,2 1
TOTAL – (multiplicação do peso de cada atributo)
Para uso no Brasil, realizou-se a correspondência entre a tipologia HOST e o Sistema
Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 1999), levando em conta as estimativas de
taxas de escoamento superficial (Carvalho, 2009) e taxas de infiltração (Mendonça et al.,
2009; Rawls; Brakensiek; Saxton, 1982; Rocha; Daltrozo, 2008).

Quanto à influência dos domínios litoestratigráficos, foram consideradas, preliminarmente,


as correlações estatísticas entre litoestratigrafia e fluxo de base de Bloomfield, Allen e Griffith
(2009), complementadas pelas estimativas de vazão de poços em diversos sistemas aquíferos
(Mente, 2008; Rebouças, 2008).

A influência do uso e cobertura do solo na recarga se baseou nas classificações teóricas de


Valente e Gomes (2005) e Gomes (2008) e na sistematização de experimentos aplicados por
Bruijinzeel (2004), Wickel (2009) e Wickel e Bruijinzeel (2009), além de levar em conta a
mesma base bibliográfica referente às taxas de escoamento superficial e taxas de infiltração
utilizadas para avaliação do potencial de recarga pelas classes de solo.

O critério de ponderação para qualidade da água subterrânea segue o apresentado por


métodos de amplo uso, como DRASTIC (Aller et al., 1987), POSH (Foster et al., 2003),
SEEPAGE (Moore, 1988), RAVE (Deluca; Johnson, 1990) e RZWQM (Ma et al., 2000). Os
demais itens de verificação seguem as orientações de avaliação ambiental de aquíferos
propostos por United States Environmental Protection Agency (1986, 1993, 2008) e
European Communities (2003).

O diagnóstico também inclui produtos cartográficos, fotográficos e um relatório textual. A


Figura 6.4 apresenta os sítios de estudo em que houve aplicação na Bacia do Paracatu. Os
estudos de campo foram realizados de julho a outubro de 2011.

Ademais, o método proposto de diagnóstico expedito, tanto no quesito quantidade quanto


qualidade, pode ser utilizado em mapeamentos mais extensivos e detalhados, caracterizando
áreas internas e externas em relação à delimitação de maior favorabilidade de recarga.

O Córrego da Areia foi escolhido para receber essa forma de mapeamento extensivo,
abarcando toda a bacia e não só a área de maior favorabilidade de recarga. Para essa sub-
bacia, são apresentados e avaliados mapas com as classes das categorias de quantidade e
qualidade de recarga, para cada geotopo.

Como critério de diferenciação, os resultados de potencial de recarga (quantidade de água)


para os geotopos externos à área delimitada de maior favorabilidade de recarga foram
diminuídos em uma ordem de grandeza (divisão por dez), tomando como referência estudos
sobre padrões de condutividade hidráulica (Lewis et al., 2011) e umidade superficial pré-
chuva (Brocca et al., 2007; Crave; Gascuel-Odoux, 1997; Famiglietti; Rudnicki; Rodell,
1998). A planilha para segurança de recarga (qualidade da água) já considera a posição
topográfica relativa do geotopo.

Um dos sítios de estudo (Serrinha) recebeu abordagem cartográfica alternativa, de modo a


avaliar a possibilidade de aplicação desse método por usuários sem capacitação para
utilização de sistemas de informação geográfica – SIG.
Quadro 6.4 – Ficha de diagnóstico ambiental expedito para recarga de aquíferos (qualidade da
água).
Ín-
ATRIBUTO dice
Fontes de poluição
Esgoto tratado; Pocilga; Curral;
Fossa negra; Fossa séptica; Granja;
Esgoto não Pastagem;
Lixão; Aterro Mineração (não
tratado Plantação
Mineração sanitário metais)
(metais)
0,1 0,3 0,5 0,7 0,9
Distância da fonte de poluição à surgência (autodepuração subsuperficial e subterrânea)
26-50 metros > 50 metros
Despejo direto 1-5 metros 6-25 metros
Poluição Difusa
0,1 0,2 0,5 0,8 1
Posição topográfica da fonte de poluição em relação à surgência (Profundidade do nível
freático)
Fundo de vale
Topo de Tabuleiro em
Várzea (excetuada a Encosta
elevação altitude
várzea)
0,2 0,4 1 4 10
Proteção Sobre a Recarga (Qualidade da Água)

Transmissão no solo (autodepuração subsuperficial)


Solos Neossolos Neossolos Cambissolos Latossolos
hidromórficos e litólicos quartzarênicos (solos rasos); (solos
aluviais (solos muito (solos Solos de profundos não
rasos, com arenosos horizonte B arenosos)
afloramentos profundos) textural (solos
rochosos) com Camada
argilosa) ou
plíntico,
enrijecida
0,1 0,3 0,5 1 3
Transmissão do aquífero (autodepuração subterrânea)
Kárstico Kárstico (dutos);
(sumidouros e Basáltico Aluvial Fraturado Poroso
ressurgências)
0,3 0,5 0,6 1 3
Processos Erosivos
Voçorocas Ravinas Sulcos Laminar Sem erosão
0,8 0,85 0,9 0,95 1
Assoreamento
Sedimentos não Mais de 50% da Sem
Bancos de
permitem a água largura do leito assoreamento
sedimento Sedimentos no
aflorar com sedimentos (menos de 5%
aflorando no fundo do leito
aflorantes do fundo do
leito
leito)
0,6 0,75 0,9 1 1,2
Vegetação no entorno da surgência (função tampão e filtragem biológica)
Sem vegetação, Sem vegetação, Campo;
5-30 metros de
com solo com solo Até 5 metros
florestas; > 30 metros de
impermeabilizado permeável de floresta;
> 10 metros de floresta
ou compactado Até 10 metros
cerrado
de cerrado
0,25 0,5 0,75 1 1,5
Técnicas de conservação do solo e da água
Camalhões Barragens de
Sem técnicas Plantio direto em curvas de Terraceamento captação de
nível água da chuva
1 1,3 1,7 2 3
TOTAL (multiplicação do peso de cada atributo)

Nesse caso, utilizou-se a carta topográfica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –


IBGE (1971) como mapa de altimetria, por sobre onde foi desenhada a delimitação da área
de maior favorabilidade de recarga. Para a carta de sensoriamento remoto, foi utilizada a
imagem do satélite Quickbird, de 2008, obtida pelo programa Google Earth. O mapa de
cobertura vegetal e uso do solo foi desenhado por meio da sobreposição de papel vegetal
semitransparente por sobre a imagem de satélite, auxiliada pelo reconhecimento de campo, o
qual demonstrou não ter havido alterações significativas de 2008 até 2011.

Figura 6.4 – Localização das áreas de estudo para o método de diagnóstico expedito. 1 – Vale do
Córrego da Areia; 2 – Serrinha; 3 – Chapada da Serra do Boqueirão; 4 – Serra do Sabão; 5 – Serra
das Araras; 6 – Lagoas do Rio da Prata; 7 – Captação do Córrego da Bica; 8 – Captação do Ribeirão
dos Órfãos; 9 – Chapadão do Pau Terra.

Aquíferos de Transição

Inclui-se também como parte de um método expedito o reconhecimento das formações


superficiais de sedimentos granulares que podem funcionar como aquíferos, que devem
ser mais bem definidos como ‘aquíferos de transição’. Neste caso a noção de reservatório
de aquífero subterrâneo perde sentido para um corpo de uma formação sedimentar de
clastos altamente permeável que acumula em tempo breve e, em tempo breve, pode liberar
água em várias nascentes. Este é um caso típico dos sedimentos do Terciário Quaternário
do Vale do Paracatu (Figura 6.5 a, b).
Figura 6.5 b -Locações de pontos de nascentes
secas, ativas ou potenciais (org Martins Jr.,
Figura 6.5 a - (escala original 1:1.750.000) 2005)
Figura 6.5 – (a) Aquíferos de transição em rochas sedimentares com maior percolação de entrada
e saída. (b) Neste mapa pode-se observar que os pontos de nascentes dentro das áreas de
transição são em número expressivo, embora nem todos liberem água a todo tempo ou o façam
de modo intermitente (escala original 1:1.750.000, org. Martins Jr. 2005).

Figura 6.6 – Mapeamento da Favorabilidade de Recarga na Bacia do Rio Paracatu.

DESENVOLVIMENTO, RESULTADOS e DISCUSSÃO

O resultado da delimitação da favorabilidade de recarga de aquíferos pode ser observado


na Figura 6.6. Essa figura também apresenta os parâmetros optimizados pela interpolação
por krigagem, junto aos mapas da interpolação e de seu desvio-padrão de predição, bem
como um mapa auxiliar que classifica as áreas altimetricamente superiores às nascentes
com base em seu domínio geomorfológico, conforme proposto por IGAM (2006).

A caracterização do favorabilidade de recarga da Figura 6.6 apresenta apenas o potencial


dos atributos de solo, rocha e geomorfologia. Para uma noção mais acurada da recarga
efetiva dos aquíferos, é preciso contrapor esse mapa à distribuição espacial dos
parâmetros climáticos da bacia hidrográfica. Nesse aspecto, apesar de as características
pedológicas, geomorfológicas e geológicas indicarem que as áreas mais favoráveis
encontrar-se-iam no Leste da Bacia, os parâmetros climáticos são mais favoráveis à
recarga dos aquíferos na região Oeste da Bacia.

A análise do potencial conjugado dos fatores de solo, geologia, relevo e pluviosidade


podem ser avaliados pelo índice de favorabilidade de recarga. Os resultados ainda
mostram uma maior favorabilidade da recarga nas bordas a Oeste da Bacia, embora
destaquem-se também os potenciais intermediários nas chapadas ao Sul da Bacia e nos
planaltos a Noroeste.

CARACTERIZAÇÃO CARTOGRÁFICA de FAVORABILIDADE de RECARGA de


AQUÍFEROS

Sem embargo, os mapeamentos das Figuras 6.6 e 6.7 demonstram uma diversidade da
favorabilidade da recarga em toda a Bacia, tornando possível selecionar as áreas mais
favoráveis para cada região, inclusive as localizadas nas áreas onde ocorram os maiores
conflitos pelo uso da água, conforme as demandas para a gestão dos recursos hídricos.

A Figura 6.7 avalia a favorabilidade de recarga na Bacia do Paracatu em relação aos atributos
de solos, geomorfologia e litoestratigrafia, com uma visão geral da bacia e outra focando
apenas as áreas mais elevadas em relação às nascentes. A Figura 6.8 apresenta a abordagem
de Unidades Hidrológicas de Paisagem, conjugando os critérios de altimetria em relação ao
nível de nascentes e ao curso d’água de jusante. A Figura 6.9 exibe também a distribuição
espacial do índice quantitativo de recarga para a bacia, tanto na visão geral quanto com o foco
nas áreas acima das nascentes.

Os resultados obtidos para a Bacia do Paracatu demonstram que a favorabilidade dos


atributos de recarga é mais acentuada na porção Leste da bacia, legando às chapadas ao Sul
da bacia e aos planaltos a Noroeste uma posição de importância intermediária.

As áreas de cristas sobre os litossomas fraturados receberam a menor favorabilidade de


recarga, entre as áreas altimetricamente mais elevadas em relação às nascentes.

Os vales fluviais também receberam baixos valores, especialmente em consideração à


classificação da diferença altimétrica relativa ao nível das nascentes e aos cursos de água de
jusante.
Figura 6.7 – Mapeamento de Unidades Hidrológicas de Paisagem.

Figura 6.8 – Estudo da atividade relativa da dinâmica de recarga nas várias unidades de
paisagens hidrológicas.
Figura 6.9 – Mapas com o índice de favorabilidade de recarga de aquíferos na Bacia do Paracatu.

Em perspectiva de planejamento territorial, empreendimentos com maior uso de água


subterrânea poderiam ser instalados preferencialmente nas áreas de maior recarga,
assegurando a sustentabilidade das reservas hídricas.

No caso da Bacia do Paracatu, essas as áreas de maior recarga sobre de aquíferos porosos
profundos também são as que apresentariam, teoricamente, a maior capacidade de
acumulação e margem de reservas utilizáveis. Nessas áreas de maior favorabilidade de
recarga, também se potencializam os efeitos das ações de manejo do solo e das águas, tais
como barragens de retenção e infiltração do escoamento superficial (barraginhas), plantio
direto e/ou em nível, terraceamento, entre outros.

Salienta-se que o trabalho de identificação e delimitação dessas áreas foi baseado em


estudos de referência, dados secundários, análise cartográfica e técnicas de
geoprocessamento o que pode facilitar a replicação para outras bacias com dados prévios,
em face da não disponibilidade de recursos imediatos para acesso atual à verdade
terrestre.

Para uma caracterização mais precisa das áreas de recarga são necessários estudos
hidrogeológicos mais detalhados, com maior abundância de dados primários,
provenientes de estudos de perfuração de poços, traçadores e análises químicas das águas
superficiais e subterrâneas.
Esses dados necessitariam ser conjugados a estudos mais detalhados de geologia
estrutural, linhas de potencial piezométrico, identificação de fácies hidrogeoquímicas de
águas superficiais e subterrâneas, bem como balanços hidroclimatológicos. Tais estudos
poderiam identificar e quantificar melhor os prováveis fluxos das águas subterrâneas.

DIAGNÓSTICO EXPEDITO de RECARGA de AQUÍFEROS em CONTEXTOS LOCAIS

A seguir, são apresentados os resultados textuais, cartográficos e fotográficos para a Sub-


bacia do Córrego da Areia (Figura 6.10), incluindo o mapeamento completo da bacia, por
geotopos (Figura 6.11), com base nas planilhas dos Quadros 2 e 3.

Em seguida, é apresentado o conteúdo cartográfico e fotográfico para o sítio da Serrinha


(Figuras 6.12 e 6.13), ilustrando a possibilidade de aplicação por usuários sem capacitação
em geoprocessamento. Os resultados detalhados referentes aos demais sítios de estudos
podem ser encontrados em Vasconcelos, Martins Junior e Hadad (2012). A Tabela 6.2
apresenta os dados das planilhas de diagnóstico expedito para a área de maior favorabilidade
de recarga em cada um dos sítios de estudo, com base nos critérios dos Quadros 2 e 3.

RELATÓRIO TEXTUAL da SUB-BACIA do CÓRREGO da AREIA

A área de estudo constitui-se em dois compartimentos geoambientais distintos quanto à


recarga de aquíferos, sendo analisados em separado pelo diagnóstico expedito: a chapada, nas
cabeceiras, e o carste, no vale. Sotoposto a esses dois compartimentos geoambientais,
encontra-se uma estrutura sinclinal onde predominam siltitos, com lentes de arenito e de
argilito (Furuhashi et al., 2005a). O esquema estrutural é apresentado na Figura 6.5.

Figura 6.10 – Estratigrafia do Vale do Córrego da Areia – baseado em Furuhashi et al. (2005a).

Na área superior, acima de 1.000m de altitude, apresentam-se latossolos vermelho-amarelos


na forma de um relevo tabular plano a suave ondulado constituído pelo processo de
pedimentação de sedimentos terciário-quaternários laterizados (CETEC, 1981; Furuhashi et
al., 2005a) anteriores à dissecação da Bacia do Paracatu.

Toda a chapada encontra-se ocupada por agricultura mecanizada de alto nível tecnológico,
incluindo alguns pivôs de irrigação. Nessa área distinguem-se também lagoas temporárias,
conectadas hidrogeologicamente às principais nascentes de encosta do vale por meio de
estruturas lineares bastante evidentes.
No interior do vale, entre as cotas de 840m e 880m, encontram-se litossomas kársticos de
afloramentos dolomíticos bastante evoluídos, com sumidouros, cavernas (algumas com mais
de dois quilômetros de extensão), maciços e lapiás (Furuhashi et al., 2005b), integrando a
Formação Vazante (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM, 2003). Uma
floresta estacional semidecidual bastante preservada recobre esse compartimento
geoambiental, sobre neossolos litólicos ou praticamente sobre a rocha carbonática aflorante.

CONTEÚDOS CARTOGRÁFICOS e/ FOTOGRÁFICOS

São padronizados os conteúdos e semiótica conforme os exemplos das Figuras 6.10, 6.11 e
6.12.

Figura 6.11 – Caracterização áreas maior favorabilidade de recarga - sub-bacia Córrego da Areia.

Figura 6.12 – Mapeamento extensivo para a Sub-bacia do Córrego da Areia


Figura 6.13 – Caracterização cartográfica com delimitação manual (sem auxílio de SIG) das
áreas de maior favorabilidade de recarga na Serrinha, como exemplo prático dessa
possibilidade metodológica.

SÍNTESE dos PRODUTOS por MÉTODO

No Quadro 6.4, são apresentados os produtos obtidos em cada um dos métodos apresentados
neste estudo.

Quadro 6.4 – Produtos obtidos em cada um dos métodos


Métodos Produtos

Caracterização cartográfica Atributos de favorabilidade de recarga (qualitativo)


1 de favorabilidade de recarga Mapas Unidades hidrológicas de paisagem
de aquíferos Índice de favorabilidade de recarga (quantitativo)
Planilhas de Diagnóstico de Potencial e Segurança
Aplicação de Recarga (quantidade e qualidade da água)
Diagnóstico expedito de em 9 sítios
2 recarga de aquíferos em na Bacia Análise cartográfica (delimitação, relevo,
contextos locais do hidrografia, imagem de satélite, uso do solo,
Paracatu fotografia)
Relatório textual de campo

SÍNTESE dos DIAGNÓSTICOS EXPEDITOS para os SÍTIOS de ESTUDO

Analisando a Tabela 6.2, que inclui todas as áreas estudadas e não somente aquelas
apresentadas acima como exemplos, a chapada com neo-solos quartzarênicos (Serra do
Boqueirão) apresentou o maior potencial de recarga, enquanto as duas chapadas com
latossolos (Chapada do Córrego da Areia e Chapadão do Pau Terra) apresentaram a maior
proteção de recarga.

Os menores potenciais de recarga se deram nas áreas declivosas, com predominância de


aquíferos fraturados (Serra das Araras), mesmo quando associadas parcialmente a rochas
kársticas (como na Serrinha). Por outro lado, a menor proteção de qualidade da água na
recarga se deu nos campos hidromórficos (Lagoas do Rio da Prata) e vales kársticos (Vale do
Córrego da Areia). Os demais pontos de estudo apresentaram graduações intermediárias
consistentes com os seus atributos atinentes ao ciclo hidrogeológico.

Em relação ao mapeamento extensivo da Bacia do Córrego da Areia (Fig. 9), a mineração


apresentou os piores valores para potencial de recarga e para a sua proteção qualitativa. As
áreas cársticas e as áreas de encosta sobre litologia terrígena fraturada também apresentaram
baixos valores para potencial de recarga e proteção. As áreas de chapada (excetuados os
campos hidromórficos) apresentaram os maiores valores para ambas as ponderações.

Tabela 6.2 – Consolidação dos Diagnósticos Expeditos de Recarga nos sítios de estudo selecionados.
Neste livro discute-se tão somente o Córrego da Areia e Córrego da Serrinha, com base nos
critérios dos Quadros 6.2 e 6.3.

Potencial de Recarga (Quantidade de Água)

Técnicas de conservação do solo e da


Tipologia de recarga e surgência

Proteção sobre a recarga


Vegetação na área de recarga

(quantidade de água)

(qualidade da água)
Potencial de recarga
Área de
Estudo
Declividade

Uso do solo
Geologia
Solos

água

Lagoas do Rio
0,8 2,5 1 2,2 1,3 0,7 1 4 0,43
da Prata
Vale do Areia –
0,9 2 2,5 2,2 0,8 0,8 1,4 8,87 109,01
Chapada
Vale do Areia –
0,8 0,35 0,6 1,4 1,5 1,5 1 0,53 0,54
Karst
Serra do Sabão 0,9 0,5 0,8 1,2 - 1,5 1 0,65 2,16
Captação do
1,3 0,75 4 3 1,2 1 1 14,04 5,16
Córrego da Bica
Captação do
Ribeirão dos 1,3 0,75 4 3 1,3 1,2 1,5 27,38 10,46
Órfãos
Chapadão do
0,9 2,5 2,5 2,2 1,2 0,8 1,2 14,26 100,04
Pau Terra
Serra das Araras 1,3 0,4 0,6 0,7 0,8 1,5 1 0,26 1,14
Serrinha 0,9 0,35 0,9 1,1 - 1,3 1 0,41 1,71
Chapada da
Serra do 1,3 2,5 6 3 1,25 1,3 1 90,31 10,69
Boqueirão
Tabela 6.2 – Consolidação dos Diagnósticos Expeditos de Recarga nos sítios de estudo selecionados.
Neste livro discute-se tão somente o Córrego da Areia e Córrego da Serrinha, com base nos
critérios dos Quadros 6.2 e 6.3.

Proteção sobre a Recarga (Qualidade da Água)

Técnicas de conservação do solo e da


Vegetação no entorno da surgência

Proteção sobre a recarga


Distância da fonte de poluição à

poluição em relação à surgência

(quantidade de água)
Posição topográfica da fonte de

(qualidade da água)
Potencial de recarga
Transmissão no aquífero
Área de

Transmissão no solo
Estudo
Fontes de poluição

Processos erosivos

Assoreamento
surgência

Lagoas do
Rio da 0,95 1 0,2 0,8 3 0,95 1 1 1 4 0,43
Prata
Vale do 1
109,
Areia – 0,9 1 10 3 2,5 0,95 1 1 , 8,87
01
Chapada 7
Vale do
Areia – - - 4 0,3 0,3 1 1 1,5 1 0,53 0,54
Karst
Serra do
- - 4 0,6 0,6 1 1 1,5 1 0,65 2,16
Sabão
Captação
14,0
do Córrego 0,5 1 2,5 1,7 3 0,9 0,9 1 1 5,16
4
da Bica
Captação 1
27,3 10,4
do Ribeirão 0,95 1 2,5 1,7 3 0,8 0,9 0,8 ,
8 6
dos Órfãos 5
Chapadão 1
14,2 100,
do Pau 0,9 1 10 3 3 0,95 1 1 ,
6 04
Terra 3
Serra das
- - 4 0,3 1 0,95 1 1 1 0,26 1,14
Araras
Serrinha 0,95 1 4 0,8 0,75 1 - 0,75 1 0,41 1,71
Chapada
90,3 10,6
da Serra do 0,95 1 10 0,5 3 1 1 0,75 1
1 9
Boqueirão
ANÁLISE INTEGRADA

Os métodos desenvolvidos possuem uma coerência entre seus fundamentos e resultados,


embora apresentem abordagens diversas e se adaptem a contextos de atuação diferenciados
para subsídio aos instrumentos de política ambiental e de recursos hídricos.

O método de diagnóstico expedito local e o de mapeamento do índice de favorabilidade de


recarga compartilham o critério de delimitação referente às áreas altimetricamente acima das
nascentes.

O enfoque nas áreas de recarga altimetricamente acima das surgências privilegia a gestão de
aquíferos em meso e micro-escalas, apresentando grande potencial para a resolução de
conflitos por uso da água, visto que os sistemas hídricos de micro bacias tendem a ser mais
sensíveis ao efeito das práticas de uso da água e do solo sobre suas reservas hídricas limitadas.
Ademais, os programas comunitários de conservação das águas tendem a alcançar mais êxito
quando em aquíferos rasos localizados, pois os usuários e a população observam mais
diretamente os efeitos do incremento das recargas na vazão das nascentes e de poços.

O método de diagnóstico local se beneficia da elaboração de produtos por meio de


sensoriamento remoto, tais como mapeamento de uso do solo. Conforme se estende a escala
de análise para áreas mais amplas, a elaboração de mapas de uso do solo por sensoriamento
remoto torna-se mais trabalhosa e passa a depender da disponibilidade de tempo e recursos
humanos do executor. Mesmo assim, em termos regionais, a compreensão da variação do uso
do solo sobre as áreas de maior favorabilidade de recarga apresenta subsídios importantes
para as políticas de conservação de recursos hídricos.

O método de diagnóstico local e o de mapeamento do índice de favorabilidade de recarga


partem de uma modelagem baseada em conhecimento, ou seja, por acesso a índices e escalas
comparativas de atributos, existentes na bibliografia especializada e elaborada por
profissionais expertises. Nesse aspecto, sua abordagem qualiquantitativa permite lançar mão
da cartografia temática, utilizando os mesmos critérios de ponderação para solos (drenagem),
litoestratigrafia (potencial aquífero) e declividade (separação entre infiltração e escoamento
superficial). Todavia, o método local torna possível incorporar toda a diversidade de
caracterização passível de obtenção em campo, com diversos outros atributos expressos na
planilha de diagnóstico expedito e no relatório textual. Por outro lado, no índice de
favorabilidade de recarga, por ser de escala regional, pode-se utilizar da diferenciação
espacial da pluviosidade.

Em uma perspectiva de planejamento territorial, empreendimentos com maior uso de água


subterrânea poderiam ser instalados preferencialmente nas áreas de maior potencial de
infiltração, assegurando a sustentabilidade das reservas hídricas subterrâneas. No caso da
Bacia do Paracatu, as áreas de maior recarga que estejam localizadas sobre aquíferos porosos
profundos também são a que apresentariam, teoricamente, a maior capacidade de
armazenamento.

Nas áreas de maior favorabilidade de infiltração, podem-se aproveitar melhor os efeitos das
ações de manejo do solo e das águas, tais como barragens de retenção e infiltração de águas
pluviais, plantio direto e/ou em nível, terraceamento, entre outros, em uma estratégia de
manejo integrado de ocupação do solo, recursos hídricos subterrâneos e superficiais.

Nos casos em que os métodos propostos de caracterização de recarga de aquíferos apontarem


para um risco significativo de impacto sobre a quantidade e a qualidade das águas, os órgãos
ambientais podem optar por exigirem estudos adicionais que avaliem mais detalhadamente
os impactos ambientais e suas possibilidades de mitigação. Nesse contexto, os produtos aqui
desenvolvidos podem ser complementados por dados primários mais detalhados,
provenientes de lisímetros, traçadores e análises químicas das águas superficiais e
subterrâneas.

Os produtos podem ainda ser conjugados a estudos mais detalhados de geologia estrutural,
linhas de potencial piezométrico, identificação de fácies hidrogeoquímicas de águas
superficiais e subterrâneas, bem como balanços hidroclimatológicos. Tais estudos podem
auxiliar a aferir a confiabilidade das hipóteses obtidas nos produtos dos métodos aqui
propostos, na medida em que contribuem para identificar e quantificar melhor os prováveis
fluxos das águas subterrâneas e permitem uma compreensão mais abrangente dos fenômenos
hidrológicos, hidrogeológicos e climáticos das áreas analisadas.

Conclusões à Terceira Fase


RECONHECER ZONAS de RECARGA – ZRA e ÁREAS PRECISAS de RECARGA
de AQUÍFEROS –APR

A metodologia apresentada expõe a variabilidade espacial dos fatores que envolvem a


favorabilidade da recarga dos aquíferos no estudo de caso proposto. A delimitação das
áreas altimetricamente superiores às nascentes, pelo método de krigagem, seguida de sua
caracterização por atributos de favorabilidade de recarga de aquíferos, cotejada ainda
pelos dados climatológicos, evidencia que a recarga de aquíferos não pode ser encarada
como espacialmente não distinta em sua distribuição espacial na bacia hidrográfica.

Em virtude da cobertura extensiva de hidrografia e altimetria do IBGE e da altimetria


Missão Topográfica Radar Shuttle, SRTM, para o território brasileiro, a delimitação das
áreas altimetricamente superiores às nascentes pela técnica de krigagem torna fácil a
replicabilidade para as demais bacias hidrográficas, como passo inicial para identificar as
áreas de provável maior recarga e segundo passo para o processo de desenhar o território
em suas características próprias para o auxílio à decisão sobre o uso da terra.

A caracterização dos atributos favoráveis à recarga emprega mapeamentos temáticos


básicos usualmente disponíveis para diversas bacias hidrográficas, especialmente as que
já possuem plano diretor de bacia. Não obstante, as características favoráveis, a serem
utilizadas para destaque no mapeamento, podem ser readaptadas conforme a cartografia
disponível e o contexto hidrogeológico de cada bacia. Neste exemplo, a base de
declividade, extraível da topografia, pôde ser usada em substituição ao mapeamento
geomorfológico. Essa flexibilidade apresenta-se como um dos pontos fortes para
potencial replicabilidade dessa metodologia.

O método cartográfico proposto também é valido para aplicação em diversas escalas de


análise, bastando, como pressuposto, a existência de bases cartográficas planialtimétricas
e temáticas em escala compatível com a área de estudo proposta, seja para perspectiva
regional, seja para perspectiva de detalhe.

Os resultados obtidos para a Bacia do Rio Paracatu demonstraram que, apesar da


favorabilidade dos atributos de recarga ser mais acentuada na porção leste da bacia,
embora se ressalve que as características climatológicas mais favoráveis encontram-se a
oeste – o que lega as chapadas ao Sul da Bacia e os Planaltos a Noroeste a uma posição
de importância intermediária.

Os produtos cartográficos servem como subsídio relevante para a gestão territorial


sustentável, abarcando a gestão hídrica, ambiental e econômica em relação à expansão
das atividades antrópicas utilizadores de recursos naturais.

Os métodos apresentados podem trazer subsídios para a delimitação e caracterização de


favorabilidade de recarga, bem como avaliação de impactos e riscos referentes à circulação e
à qualidade da água, em contextos locais e regionais, no âmbito de instrumentos das políticas
de meio ambiente e de recursos hídricos, tais como:

 Alocação de reserva legal, regulada pela Lei Federal no 12.651, de 2012, que dispõe sobre
a proteção da vegetação nativa;

 Implantação de empreendimento, na etapa de estudos de alternativas locacionais para o


licenciamento ambiental, nos termos da Resolução Conama nº 1, de 1986, que estabelece
as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e
implementação da Avaliação de Impacto Ambiental;

 Criação de unidades de conservação para a proteção de mananciais de abastecimento


(nascentes ou poços), bem como para elaboração de seu plano de manejo. Nos casos em
que a área de recarga já é ocupada total ou parcialmente, a ponderação dos atributos para
qualidade da água na recarga serve como guia para avaliação dos riscos existentes;

Estudos para delimitação da Zona de Amortecimento de Unidade de Conservação, nos termos


da Lei Federal no 9.985, de 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza:

 Delimitação e caracterização das zonas de influência, de transporte e de contribuição para


proteção da recarga de fontes de água mineral (extraídas na forma de poços ou nascentes),
conforme exigido pela Portaria DNPM nº 231, de 1998, a qual regulamenta as áreas de
proteção das fontes de águas minerais;

 Delimitação de áreas de proteção máxima; de restrição e controle; e de proteção de poços


e outras captações, no âmbito das leis estaduais de proteção das águas subterrâneas;

 Delimitação das áreas com direito de preempção (preferência de compra pelo Poder
Público) ou desapropriação; e para delimitação de áreas com coeficiente diferenciado de
aproveitamento no meio urbano, no âmbito dos Planos Diretores Municipais, nos termos
da Lei Federal nº 10.257, de 2001.
Além disso, os métodos apresentados também podem oferecer informações inter-escalares
adicionais aos estudos técnicos de outros importantes instrumentos de política ambiental e de
recursos hídricos, tais como Planos Nacional e Estaduais de Recursos Hídricos, Planos
Diretores de Bacia Hidrográfica, Zoneamentos Ecológico-Econômicos. Ainda no caso do
diagnóstico expedito de campo, sua utilização se mostra promissora nos dois instrumentos a
seguir, entre outros:

o Relatórios técnicos para requerimentos de outorga de direito de uso da água para


poços, nascentes e captações em cursos d’água de pequenas bacias hidrográficas;

o Relatórios de Fiscalização Ambiental e de Inquéritos Civis Públicos, avaliando a


possibilidade de agravante da pena e de multas para os crimes e ilícitos ambientais, ao
destacar o impacto sobre a circulação das águas.

Apresenta-se, a seguir, uma síntese das inovações técnico-científicas deste estudo:

- Proposição de dois métodos complementares de avaliação de recarga de aquíferos em


múltiplas escalas.

- Mapeamento das áreas superiores às nascentes, por krigagem, como recurso cartográfico
para foco da cartografia de áreas preferenciais de recarga.

- Indicador integrado de Unidades Hidrológicas de Paisagem a partir do mapeamento da


altitude em relação às nascentes (Rennó; Soares, 2003) e da altitude em relação aos cursos
d’água (Rennó et al., 2008) como referência para o estudo das funções de recarga e descarga
de aquíferos.

Como disse o escritor Jean Giradoux (1946), “a Água é o elemento do qual a Terra nada pode
esconder; sorve os seus mais profundos segredos... e os traz até nossos lábios.”

É justamente em virtude desse intrínseco relacionamento entre as águas e os geossistemas


que os avanços metodológicos aqui propostos pretendem contribuir para que, ao desvelar os
segredos da hidrogeologia em cada região, consigamos gerir nossos recursos naturais e
continuar trazendo as águas aos lábios de quem delas tanto precisa.

RECOMENDAÇÕES

Os resultados dessa metodologia restringem-se a uma avaliação qualitativa do potencial


de recarga dos aquíferos, fundamentando-se na caracterização das áreas altimetricamente
superiores às nascentes, cotejada visualmente à distribuição espacial dos dados
climatológicos inferida pelo mapa de pluviometria. O fato de ser qualitativa é proposital
por se tratar de reconhecer áreas sensíveis para se aplicar às exigências de preservação da
terra ou de conservação, conforme for o caso.

Para uma avaliação quantitativa da recarga, recomenda-se, como extensão da


metodologia apresentada, que sejam traçadas relações geo-estatísticas entre as bases
cartográficas de pluviosidade, de favorabilidade de recarga das áreas altimetricamente
superiores às nascentes e aos dados auferidos da separação do componente de fluxo de
base nas hidrógrafas das estações fluviométricas existentes nas bacias hidrográficas.
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7
ZONEAMENTOS ECONÔMICOS
– Gestão de Bacia Hidrográfica –

Quarta Fase de Auxílio à Decisão sobre o Uso da Terra

Palavras-chave: economia física, equações lógicas, três tipos de zoneamentos econômicos,


energia de biomassa, produção rural.

Por certo, o zoneamento econômico pode ser realizado logo após os zoneamentos
ecológicos, mas isso não é recomendado. Tal fato advém de que se precisa de uma visão
muito clara do substrato ou como aqui se denomina dos geossistemas, por motivo de se
poder observar todas as parcelas de território mais próprias para os plantios em função
das rochas, geoformas e solos, embora essa divisão não seja definitiva do ponto de vista
da legitimidade geo-ambiental de se utilizá-las, consideradas as diversas condições de
tecnologia de plantios e de outros usos para engenharia. Por um lado, as zonas de recarga
e as áreas precisas de recarga como parcelas do território absolutamente sensíveis aos
efeitos e erros na produção são ambientes críticos para se observar todas as medidas de
segurança ambiental caso essas áreas venham a estar ocupadas ou já estejam ocupadas.

O zoneamento econômico – ZE-N – de um território tem, sem dúvida, uma feição


bivalente porque, ao mesmo tempo em que é econômico, deve ser fundamentado sobre
um zoneamento ecológico – ZE-L – (Martins Jr. et al. 2006 a,b). Este permite indicar os
fundamentos das atividades econômicas, sobretudo quando são desenvolvidas em íntima
relação com o uso das terras, dos corpos d’água e dos ecossistemas e vegetação natural.
Economicamente um zoneamento pode ser realizado sob três aspectos:

(1) o zoneamento ad natura, ZE-Nan – nos quais as atividades econômicas, de quaisquer


tipos, são reconhecidas em suas realidades possíveis dentro das condições norteadas pelo
zoneamento ecológico;

(2) o zoneamento diagnóstico – ZE-Nd – que retraça a realidade econômica atual de um


território;

(3) o zoneamento econômico das potencialidades e expansão econômicas – ZE-Np – de


tipos:
(a) potencialidades não efetivamente descobertas e/ou descritas,
(b) potencialidades não exploradas, embora sabidas e
(c) ambas as situações de (a) e (b), sobretudo quando avanços tecnológicos possam
tornar explícitas novas possibilidades.

Tratam-se, portanto, dos três tipos de ZE-N.


Ao fim, deve-se estabelecer um Modelo Integrado de Zoneamento Ecológico-energético-
econômico – ZEEE, que é o modelo integral dos aspectos de zoneamentos com o qual se
estabelecem as bases cognitivas para o planejamento e para a construção dos elementos
de auxílio à decisão. A questão energética deve ser incluída tanto sob os aspectos
ecológico quanto econômico.

O zoneamento ecológico – ZE-L, e o econômico – ZE-N, são necessariamente baseados


em múltiplas ciências, e são técnicas fundamentais para o planejamento regional
ambiental tanto quanto para o planejamento sócio-econômico, como o conjunto de
procedimentos interdisciplinares básicos para o Ordenamento do Território.

Podem-se citar diversos zoneamentos atuais que têm sido realizados no País, tais como o
ZEE de Minas Gerais, realizado na Universidade de Lavras, e o ZEE do Estado do
Maranhão. O Estado do Rio de Janeiro possui lei que dá diretrizes ao ZEE – Lei 4.063 de
02/01/2003.

No capítulo 2 e em pesquisas anteriores (Projeto MDBV, 2002-2004) (Martins Jr. et al.,


1993-a, 1993-b, 1994-a, 1994-b, 1998) utilizaram da noção de “classificações de terras
em áreas homogêneas com grupos de sub-bacias de n-ordens” como efetivos modos de
zoneamentos multi-sistemas, tendo como aspecto fundamental delinear áreas
homogêneas para o gerenciamento de terras. A dissertação de Oliveira (2004) aponta para
outro aspecto fundamental da abordagem ZEE.

Na Fundação CETEC juntamente com a Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP,


alguns projetos foram marcantes para o desenvolvimento de métodos de zoneamentos, a
saber:

 Projeto MDBV (1992-1994); Projeto MPEH (1995-1997); Projeto CRHA (2002-


2006); Projeto GZRP (2007-2008). Com eles se obteve o desenvolvimento de um “triplo
sistema de instrumentos de planejamento regional agro-ambiental”, dos quais o primeiro
sistema divide-se em três sub-sistemas  o Zoneamento Ecológico (ZE-L), o
Zoneamento Econômico (ZE-N), com suas três versões, e o Zoneamento Ecológico-
econômico (ZEE) (capítulo 2).

Várias ciências, engenharias e temas são ncessários:  Economia Física EF, Geologia
ambiental Ga, Geologia estrutural Ge, Litologia Lt, Estratigrafia Es, Geotecnia Gt,
Pedologia Pd, Aptidão de solos AS, Impactos Ambientais IA, Hidrologia Hd,
Hidrogeologia HG, Zonas de Recarga de Aquíferos (ZRAs) e Áreas Precisas de Recarga
(APRs) de aquíferos (Martins Jr. et al., 2006), Botânica Bt, Técnicas de Conservação TC,
Análise de Impactos sobre os biomas AI, Climatologia Cl, Análise exergética AE,
Implicações das Mudanças Climáticas IMC, Engenharia Florestal EF, Engenharia
Elétrica EE, Engenharias Agronômica EAn e Agrícola EAc, Economia Ec, Lógica
Interdisciplinar (LI) e Inteligência Artificial (IA).

PROBLEMAS

A questão central no zoneamento econômico, ZE-N, é voltada para três aspectos


fundamentais:
(1) o diagnóstico – ZE-Nd, que deve ter uma feição própria para os objetivos de cada tipo
de planejamento que se deseje realizar, portanto podendo ocorrer diversos diagnósticos
com olhares específicos,

(2) zoneamento das relações de potenciais – ZE-Np, tais como para a produção agro-
florestal e pastoril cujo tema, embora não alvo específico desse livro, deve tratar da
questão do que é “o ideal para que as ações e os projetos executivos devam atender para
manter os pontos de vista de ambas condições de sustentabilidade  a ambiental e a
econômica”.

A condição de economicidade é necessariamente retro-alimentada, no tempo, pela


sustentabilidade ambiental. No caso de ocorrer degradação ou não-sustentabilidade, as
atividades econômicas, e especialmente as agrícolas, poderão se tornar em condições
quase nulas a nulas, ao longo de determinado tempo e

(3) o outro problema central do ZE-N é o da articulação do pensamento geo-ambiental,


com foco em análise de sistemas com o pensamento econômico, os quais podem ambos
enfocar a simples descrição de “o que é” para a descrição valorativa de ”o que deve ser”
como também a descrição de “o que pode ser” dada as mais variadas condições de
preservação, conservação e tecnologia de ganhos operacionais e de produtividade.

OBJETIVOS

(1) Apresentar aspectos epistemológico-metodológicos, alguns conteúdos, e aplicações


utilitárias dos ZE-N e

(2) desenvolver alguns aspectos lógicos, ecológicos e econômicos como parte própria dos
ZE-N para se chegar a uma modelagem mais adequada dos zoneamentos econômicos das
bacias hidrográficas.

FUNDAMENTAÇÃO em ECONOMIA FÍSICA

Zonear economicamente um território é classificá-lo em áreas homogêneas ecológicas,


como base dos processos de zoneamento, e então reclassificá-lo em bases econômicas a
partir da base ecológica. Toda essa operação implica em integrar a totalidade das
informações, que virão a formar quadros cognitivos específicos, e que pressuponham e
identifiquem, de fato, a existência de estruturas ambientais na Natureza, bem como
articulem essas estruturas da Natureza com as atividades econômicas atuais e potenciais.
Assim, todo ZE-N deve ser um conjunto de zoneamentos, como “zoneamentos a
múltiplos cenários”, em virtude das amplas opções econômicas em função da variação
das relações de demandas versus possibilidades e ofertas.

Após os procedimentos da abordagem disciplinar inicial, o binômio – Zoneamento


Ecológico e Zoneamento Econômico – constitui, efetivamente, o terceiro procedimento
com as “Abordagens Pluridisciplinar e Interdisciplinar”, para a elaboração de produtos
essenciais para a gestão, tanto a rural quanto a das cidades, nos territórios das bacias.
Um sistema de cognição para a gestão econômica deve conjugar os três zoneamentos
econômicos – ZE-Nan, ZE-Nd e ZE-Np – no âmbito de uma teoria econômica,
especialmente a Teoria de Economia Física com base em análise exergética.

Pode-se definir Economia Física no contexto da Economia Clássica, embora esse conceito
seja ainda de pequena disseminação. A Economia clássica trata das relações de produção,
consumo, comércio de bens etc., usando conceitos próprios como:  capital, valor, renda,
custo de oportunidade, taxa de desconto e outros que tais.

Ao longo dos séculos, diferentes temas têm ocupado a atenção dos economistas:

 a disponibilidade de recursos naturais e a renda das nações, a acumulação de capital,


a importância do trabalho humano, o papel da tecnologia no crescimento da produção.

Adotando diferentes modelos para cada situação estudada, a Economia Clássica não
logrou desenvolver, todavia, um modelo suficientemente geral para abranger as diversas
tendências manifestadas. Exprimindo as variáveis econômicas em termos monetários,
encerrou-se em si mesma, ignorando o ambiente da produção que, ao fim, representa a
fronteira última para o desenvolvimento humano em todos os seus aspectos.

Pesquisadores e cientistas com profunda percepção das relações produção-ambiente,


como Georgescu-Roegen (1970) e Robert Ayres (1994, 1998) como também Odum
(1996) e outros têm proposto aplicar as leis da Física, em especial as da Termodinâmica,
ao fenômeno econômico.

Alguns modelos já são usados para optimizar física e economicamente a conversão da


energia (vd. Termo-economia) e para distribuir custos entre coprodutos de uma indústria,
entre outros objetivos. As leis da Física envolvidas na Economia são as leis da
Conservação da Massa e Energia (Primeira Lei da Termodinâmica) e a do Crescimento
da Entropia (Segunda Lei da Termodinâmica) em sistema isolado.

O conceito de valor associado a essas leis corresponde à função termodinâmica exergia 2,


medida em Joule, que pode ser entendida como “energia disponível”, resultante da
aplicação conjunta das leis básicas mencionadas. A exergia é calculável para qualquer
substância, a partir do histórico de formação dos elementos químicos com base na Lei de
Nernst (Terceira Lei da Termodinâmica), que estabelece ser nula a entropia das
substâncias cristalinas puras à temperatura do zero absoluto (-273,2°C ou 0oK).

Nessa sistemática, a agregação de valor é descrita pelo aumento da exergia do sistema,


causada pela aplicação de algum trabalho mecânico sobre esse mesmo sistema. Do
mesmo modo, a depreciação de qualquer sistema é descrita pelo decréscimo da exergia,
devido a fenômenos irreversíveis que ocorrem no interior do sistema de produção. O dano
ao meio ambiente é avaliado diretamente pela exergia dos rejeitos da produção e do

2 A variação da exergia de um sistema, definida como o trabalho máximo que se pode obter ao levar um sistema
termodinâmico do estado atual, descrito pela energia interna e a entropia do sistema, ao estado de equilíbrio com o
ambiente é dada pela equação E = U – T0S, sendo T0 a temperatura do ambiente. A exergia no estado de equilíbrio
com o ambiente é nula.
consumo. Em contrapartida a conveniência da reciclagem é feita pela comparação da
exergia do rejeito com a exergia do produto, em alguma etapa intermediária da produção.

Cabe ainda ressaltar que os sistemas naturais, que são sistemas abertos, possuem também
exergia. Assim, podem-se citar algumas situações, tais como:

(1) exergia hídrico motriz, de fato disponível, para produção de eletricidade;


(2) exergia dos solos, proporcional às relações e demandas das plantas agrícolas em
função do húmus e dos micro-nutrientes;
(3) exergia da fotossíntese na produção de produtos naturais, como frutos, madeiras e
biomassa e
(4) exergia de princípios ativos em plantas da farmacopéia etc.

Assim, a exergia é de fato o fator energético conversível em trabalho, tanto químico,


natural e industrial, e que pode ser convertida em recursos financeiros que são apenas
recursos simbólicos dos sistemas de produção – naturais e/ou antrópicos. Nesse sentido a
exergia tem uma relação imediata com a eficiência da produção, quaisquer que sejam os
seus tipos, bem como a eficiência dos produtos em gerar trabalho, sendo trabalho um
conceito amplo que pode ser, neste caso, indicado na forma de “serviço para o homem”.

A exergia pode também ser entendida como a parte energética da “informação” contida
em uma substância química, por exemplo. Todavia, a exergia seria nesse caso, a parte da
informação que pode exercer trabalho sobre o meio-ambiente, enquanto em termos
ambientais uma substância química pode inclusive decompor sua exergia, isto é, a energia
livre que é parte da energia interna total, e também pode, eventualmente, decompor sua
energia retida na estrutura.

A informação em geral, em se tratando de substâncias químicas é equivalente a toda a


energia interna contida em uma substância, excetuada aquelas específicas dos átomos,
salvo a fissão nuclear. Bem entendido que a energia interna total equivale à informação.
Mas não é igual a esta, já que a forma e a informação devem ser consideradas unidades
fundamentais do Universo.

ZONEAMENTOS

Como já visto os procedimentos para zoneamentos são necessariamente baseados nas


Abordagens Pluridisciplinar e Interdisciplinar (Martins Jr., 2002; capítulos 2 e 3). Devem
ser desenvolvidos com diferentes métodos, alguns já consagrados e novos métodos
podem ser desenvolvidos. Não existem ainda amplos consensos sobre os pontos de vista
teórico e metodológico, bem como de conteúdos e semiótica. Pode-se definir esses
zoneamentos como uma metodologia com produtos que integram práticas e consensos
entre os diversos tipos de zoneamentos já realizados no País; assim:

 Zoneamento Ecológico é uma base de informações cartográficas e textual (alfa-


numérico), na qual todos os aspectos ecológicos da infraestrutura e da dinâmica da
biosfera, litosfera e hidrosfera locais e da atmosfera são agrupados em um quadro
caracterizador dos processos naturais vigentes e das estruturas dos diversos
subsistemas ecológicos, de modo a classificar o território em áreas homogêneas.
Já a questão econômica que se coloca para um zoneamento tem como definição

 Zoneamento econômico é método e produto, com bases cartográficas, no qual a


realidade econômica atual é diagnosticada bem como os potenciais econômicos
usados, ou não, de uma bacia hidrográfica devem ser também identificados e
reportados ao zoneamento ecológico.

Cabe ainda indicar que o método principal para os zoneamentos econômicos deve se
basear, principalmente, na Análise Exergética e na Análise de Produção (Georgescu-
Roegen, idem; Robert Ayres, idem).

Essas definições parecem amplas o suficiente para conter as três variedades de


zoneamentos econômicos propostos. Por outro lado, para se normatizarem esses
conceitos, aponta-se para os seus aspectos predominantes de:

(1) diagnóstico;
(2) reconhecimento conceitual entre diferentes sistemas naturais e culturais;
(3) os paradigmas especialistas para realizar o diagnóstico e por fim
(4) as representações da realidade.

Ao assim se normatizar o conceito, pode-se perceber a amplitude de questões com as


quais se devem tratar em um zoneamento. Enumeram-se algumas questões como:

(1) zoneamentos da vegetação natural, da agricultura e pastagens;


(2) erosão, processos erosivos e estruturas susceptíveis à mesma;
(3) climas e relações plantas / terra / água
(4) impactos antrópicos;
(5) produção agrícola no espaço e no tempo;
(6) os modelos de produtividade;
(7) sistemas de transporte, de fontes produtivas e de impactos dos mesmos sobre os
sistemas naturais;
(8) áreas sistemicamente sensíveis e áreas com impactos já existentes;
(9) distribuição demográfica e fontes de produção;
(10) logística existente para localização das atividades, indústrias rurais e cidades bem
como para os sistemas de transporte;
(11) situações e impactos das minerações;
(12) condições para controle e/ou exclusão de uso insumos, etc.

Esses exemplos permitem indicar quão longe se pode ir com zoneamentos que, a rigor,
podem ser tantas quantas forem as necessidades de se perceber, estudar e poder planejar
as ações da sociedade no e sobre o ambiente.

Para todos os efeitos considera-se o tipo de zoneamento ZE-N, como parte de uma
Abordagem Interdisciplinar – AI, indispensável para o planejamento da sustentabilidade,
quaisquer que sejam as condições em que esteja uma dada região. Anterior a essa
Abordagem, necessita-se dos consagrados estudos especialistas das várias ciências com a
Abordagem disciplinar e a cartografia disciplinar clássica.
A QUESTÃO ECONÔMICA e a SUSTENTABILIDADE

Em bacias hidrográficas a questão econômica se focaliza tanto no potencial quanto na


produção de energia, na agricultura, silvicultura, pastagens, vias, logística e indústrias
rurais, quando essas existirem fora das áreas urbanas e de vilas. Embora áreas urbanas
façam parte de bacias hidrográficas, essas mesmas áreas merecem tratamento especial,
por suas óbvias consequências sobre o meio circundante. A questão econômica deve ser
vista com as seguintes variáveis:

(1) área total plantada;

(2) índice de continuidade da área total plantada;

(3) índice de descontinuidade floral da bacia e seu impacto no(s) bioma(s);

(4) índice de interligação de florestas e de maciços florestais;

(5) produtividade nas diversas categorias de produtores e de campos agrícolas;

(6) mobilização de capital;

(7) endividamento dos produtores;

(8) lucros;

(9) agregação de valor nas proximidades geográficas;

(10) usos de insumos;

(11) riscos ambientais;

(12) inclusão social nas diversas categorias de produtores;

(13) uso ou não de processos efetivos de conservação de solos;

(14) processos efetivos de conservação da água;

(15) sucessos de medidas e de formas de produção que sejam ecológicas e econômicas;

(16) potenciais não usados e potenciais disponíveis e

(17) a produção efetiva de energia, entre outros.

Esses 17 aspectos permitem elaborar modelos econômicos nos quais entram as relações
de ganhos por área plantada, e sobre o qual se deve computar toda perda de integridade
do ecossistema de modo a levá-lo para a condição de risco ambiental e à inadequação
para a vida vegetal e animal. Retoma-se, portanto, um exemplo de uma equação lógica
para se constituírem algumas relações de Ecologia- economia com algumas variáveis
(Tabela 7.1) (Martins Jr, 1998):

Tabela 7.1 – Quadro de variáveis lógicas, ecológicas e econômicas e símbolos operacionais


lógicos propostos (atualizado de Martins Jr., 1998).

Variáveis Símbolos lógicos


área total da bacia – Atbh
área total plantada – atp (>) reporta-se a, conecta-se e/ou depende
índice de continuidade da área total plantada de.
Icatp () é produzido por.
índice de descontinuidade floral do bioma Idf (↔) reciprocamente se produzem.
interligação de florestas e de maciços florestais (∠) veto de uma opção e/ou de uma
ifmf escolha, ou de alguma ação.
produtividade final nas diversas categorias de produtores (→) preferências do público que produzem
pdcp preços de mercado, estrutura de preços,
mobilização de capital – mc lógica de preços.
endividamento dos produtores – ep () existência de um mercado que produz
lucros – ls a satisfação de e/ou induz as preferências
agregação de valor nas proximidades – avp individuais.
usos de insumos – usi (β) interdependência dos níveis bióticos e
riscos ambientais – rsa da infra-estrutura geológica como a
usos, ou não, de processos de conservação de solos – totalidade do ecossistema.
cs ( ↑ ) dependência vertical dos ecossistemas
processos de conservação da água – pca para com os níveis mais internos e/ou
sucessos de medidas e de formas de produção que sejam profundos dos geo-sistemas.
ecológicas e econômicas – see [ ] conjunto de valores agregáveis por
potencial energético – ptE diversas relações.
produção de energia – prE
( ↓ ) restrição de uso da terra.
Valor da sustentabilidade – Vs

Apresentam-se abaixo duas equações lógicas, como exemplos de aplicações para


análise das condições econômicas em um zoneamento ZE-N. Aquelas servem para
estabelecer as bases de desenvolvimento de um sistema lógico de descrição dos usos
econômicos para várias condições (vide Tabela 1):

Condição 1:
Vs (>) [ atp + Icatp + Idf ] << Atbhordem-n (1)

é uma possível medida diagnóstica do valor de sustentabilidade expressa em exergia ou


em emergia, que é a exergia reportada à constante solar, segundo (Odum, 1996).

Condição 2:
pdcp (>) {[ mc – ep ] < ls } (2)

medida em exergia, no caso da agricultura em energia.

Cabe ainda salientar que os cálculos financeiros são aqueles já consagrados nas ciências
econômicas, enquanto em Economia Física pode-se prosseguir com todo o balanço
econômico, com as avaliações medidas e/ou estimadas de exergia das diversas fases
produtivas, e somente ao fim expressar tudo em unidades financeiras, se necessidade
houver.
Os aspectos econômicos são múltiplos e podem se combinar de diferentes modos. Nesse
sentido, deve-se procurar apreender aqueles que podem ser gerais o suficiente para
indicarem as relações entre a sociedade e a Natureza no que diz respeito aos recursos
renováveis, ou aos não-renováveis, do modo que devem ser descritos em um ZE-N. O
sentido de desenvolvimento auto-sustentado pode ser traduzido numa equação simples
cujas variáveis são as seguintes (Tabela 7.2 in Martins Jr, 1998).

Tabela 7.2 – Variáveis de relações entre sistemas naturais de produção renováveis e não-
renováveis e variáveis econômicas e lógicas (atualizado de Martins Jr., 1998).

 disponibilidade do recurso renovável [Drr]  custo de transporte [Ct],


 disponibilidade do recurso não-renovável [Drn]  custo e dispêndio de energia [Cde]
 viabilidade de extração e transformação [Vet]  valor agregado [Va]
 stentabilidade dos ecossistemas envolvidos [Se]  demanda de mercado [Dm],
agregação de tecnologia primária [Atp]  impactos locais [il]
 agregação de tecnologia avançada [Ata]  impactos tardios no ciclo do recurso
natural-produtos-resíduos [it].

De modo distorcido, as gerações dos séculos XVI ao XX negligenciaram um princípio


ético básico, o de que “a Terra não é nossa, mas das gerações vindouras”.

Dois exemplos notáveis no Brasil são os de desmatamento do Vale do Paraíba do Sul no


Estado do Rio de Janeiro para as plantações de café no tempo do Império à República
Velha, quando essas áreas perderam seus potenciais agriculturáveis e a migração da
produção de café passou para o Estado de São Paulo. O resultado é o uma terra
depauperada de difícil recuperação, embora ainda seja possível de recuperação. O
desmatamento do Vale do Rio Doce foi realizado sem que tenhamos aprendido as lições
do passado, sob o intento principal das empresas metalúrgicas e siderúrgicas situadas
nesta bacia hidrográfica e alhures, na década de 1980.

Por certo, que os preços ambientais agregados aos produtos atuais já deveriam, de fato,
começar a agregar o passivo ambiental produzido pelas empresas que devem hoje, à
Nação, a solução desse problema maior. Como agregar à Microeconomia industrial e à
Macroeconomia social o custo real dessa restauração, sem inviabilizar um processo
industrial? No entanto, o problema existe e sem uma lógica que associe mitigação com
interesses socioeconômicos, tanto quanto a experiência o demonstre, ficará inviável o
processo econômico para os séculos vindouros, e assim os ecossistemas que restam
progredirão para irreversibilidade, inexoravelmente.

O que ocorreu de fato é que os processos industriais implantados no Vale do Rio Doce
não foram avaliados de modo algum quanto ao custo ambiental, daí decorrendo a
devastação ecológica em que está o Vale. Como efetivamente agregar este custo à política
ambiental e à política de preços industriais através dos dois princípios, o do imposto e o
de controle atual da qualidade? Será isto uma causa perdida?

Consideremos os aspectos abaixo como critérios que devem ser usados como parte de
uma equação formal de viabilidade eco-sustentada de empreendimentos. São os seguintes
fatores a indicar a viabilidade eco-sustentada de exploração e/ou de produção de qualquer
recurso numa perspectiva eco-sustentada (Tabela 7.3).

Esses são alguns dos aspectos de ordem econômico-social que influem na perspectiva das
relações da Ecologia e Economia no caso de extração de recursos naturais, tanto quanto
no caso de implantação de indústrias e de projetos agronômico pastoris florestais. Nestes
ainda pode ocorrer demanda excessiva de quantidade de água, o que pode, por sua vez,
provocar stress ambiental na bacia hidrográfica.

Tabela 7.3 – Fatores de viabilidade econômica e ecológica das atividades produtivas em relação
com uma bacia hidrográfica (atualizado de Martins Jr., 1998).

 acesso ao recurso,  problemas relativos à degradação


 disponibilidade do recurso, ambiental paisagística,
 valor de mercado,  impactos específicos sobre as águas,
 demanda e oferta relativas do recurso,  disponibilização ou não de tecnologias
 finalidades para seu emprego, limpas,
 justificativa ética das finalidades,  competitividade em função do custo
 impactos sobre a área geográfica de das tecnologias mais eficientes e
extração, limpas,
 conservação das áreas sistemicamente  retorno social em forma de impostos
importantes, ambientais, e investimentos sociais,
 valores da extração, transporte e  relação com a gestão da bacia
transformação em relação com os hidrográfica na condição usuário-
possíveis impactos sobre o ambiente, pagador poluidor ou não,
 possível efeito agregador de
incremento populacional na vizinhança
da área de produção ou extração.

O conceito de áreas totais – nativa, plantada e recuperável implica que em todo território
encontraremos áreas com vegetação em diversos estados de alteração, áreas plantadas
com agricultura e/ou com bosques mono-específicos e áreas que podem ser entendidas a
serem replantadas para atenderem exigências ecológicas e/ou ecológico-econômicas.
Planejar o ordenamento regional do território para se estimar a área total replantável,
garantidos os interesses geo-ecológicos entre rochas/ geoformas/ solos/ áreas agrícolas e
agriculturáveis e os interesses econômicos apresentados na equação fundamental lógica
(eq.3).

A questão econômica também se apóia sobre as questões ecológicas ou de adequação


planta / água / solos / climas-microclimas de modo que as relações específicas entre
produção de biomassa para energia – BE - e biomassa para alimentação – BA - se colocam
de modo crítico no País.

Efetivamente, a direção para as opções sobre as áreas adequadas para plantações nessas
duas situações se apresenta atualmente sob o foco de interesses políticos e econômicos
nacionais e internacionais. O fato de que a população cresce no planeta, que mais pessoas
podem comer melhor, de que o capital internacional atua de modo especulativo sobre os
alimentos ante as pressões críticas dos preços da fonte de energia de maior exergia (como
petróleo) faz com que as opções por terras devam obedecer à seguinte equação geral:

Σ SpAE ≡ SBH - SAd tradicionais - SCVr - SCa + ( eventual fração SAd + SP + áreas de semi ou
total estabulamento de gado + SstEg << SP) - Spag
(3)

Σ SpAE - área total plantável para produção de energia de biomassa e produção alimentar.
SBH - área total da bacia
SAd - áreas com agricultura
SCVr - áreas de cobertura vegetal remanescentes e legal
SCa - áreas de corpos d’água
SP - áreas de pastagens
SstEg - áreas de semi-estabulamento do gado
Spag - áreas de plantio de forragem para o gado

PRODUÇÃO de ENERGIA de BIOMASSA – Um ESTUDO em ECONONOMIA


FÍSICA

O matemático inglês, Thomas Malthus, no fim do século dezoito declarou que a


população iria crescer em progressões geométricas enquanto o volume de alimentos iria
crescer em progressões aritméticas, impondo a fome como único fim e não levando em
conta os avanços tecnológicos. Atualmente os alimentos, bem como os recursos
energéticos renováveis, veem sendo focados exacerbadamente junto aos grandes debates
intergovernamentais no globo e as predições de Malthus não se cumpriram exatamente,
mas os desafios de produzir energia e alimentar a humanidade continuam. Neste sentido
o enfoque no zoneamento econômico é de máxima importância porque neste zoneamento
é que podemo ver o que é economicamente viável no território desde o ponto de vista do
meio-ambiente.

Neste estudo continua-se o enfoque mais geral dado ao zoneamento econômico,


sobretudo a partir do uso das equações lógicas cartografáveis e possíveis de serem
estudadas pela econometria tanto em nível de micro- quanto de macroeconomia.

Atualmente os recursos energéticos renováveis, veem sendo focados exacerbadamente


junto aos grandes debates intergovernamentais no globo. Grandes desafios estão sendo
superados no contexto energético nacional, visto a existência de planos para
aprimoramento de fontes renováveis de energia, como é o caso energia de biomassa.

OBJETIVO

A associação dos conhecimentos ambientais e agrícolas em uma visão ecológica


econômica dos processos produtivos de modo a integrar as soluções de conservação de
solos e água, analisando todas as variáveis intrínsecas à produção, colheita, logística e
meio ambiente constituem base para todo estudo como sequência ao zoneamento
econômico geral em suas três formas acima mostradas ou como uma parte possível desses
zoneamentos – ZE-Nan, ZE-Nd e ZE-Np .
O estabelecimento de critérios que possam definir os melhores cultivares para produção
agrícola, incluindo o fator posterior de produção de energia, obtenção de alimento para
bovinos, suínos, dentre outros, fica no centro da questão.

Não se devem negligenciar os problemas políticos e seus interesses os quais são


extremamente significativos, devido a estas considerações em pauta serem focadas em
pequenas empresas, que na maioria das vezes ficam em segundo plano em relação aos
grandes produtores nos planos do governo.

 Objetiva-se com os enfoques aqui tratados em Economia Física estabelecer critérios


de usos dos cultivares para diversos fins associados, considerando a cana-de-açúcar
como exemplo, com alta produtividade e média produtividade, mas nos diferentes
casos com resultados complementares de segurança ambiental e conservação /
mitigação de solos associados.

 Estabelecer os resultados em relação às equações desenvolvidas para usos da terra no


interior das bacias, em função das condições de estabilidade ambiental, para
representá-los em unified modelling language UML.

 Outro objetivo é o de como buscar e tratar as dados primários e secundários para o


desenvolvimento de bases de informações em banco de dados de linguagem unificada
e analisar a consistência dessas informações o qual serão utilizadas para que não exista
nenhum tipo de problema com informações adulteradas, bem como o estudo dos
conteúdos informativos e de seus potenciais de aplicação para modelagem de uso do
território em relação à agroclimatologia, pedologia, disponibilidade hídrica e outros
fatores que são considerados ao longo de toda esta modelagem de gestão de bacias.

Os PLANTIOS de CANA e o MEIO AMBIENTE

O Proálcool, desde sua fundação, trouxe às usinas de açúcar já existentes subsídios para
instalar aparatos de destilarias maiores. Juntamente com estes financiamentos foram
criadas as Destilarias Autônomas, unidades de produção exclusivas para a produção de
álcool. Exceto os Estados do Acre, Rondônia e Tocantins, no Norte, e de Santa Catarina,
no Sul, todos os demais Estados têm produção de álcool combustível, destacando-se o
Paraná com a segunda maior produção nacional, perdendo somente para São Paulo.

Do fato de que o governo brasileiro decidiu misturar álcool na gasolina, substituindo o


chumbo tetraetila, cancerígeno, algumas usinas passaram a produzir também o álcool
anidro (com 99,9% de álcool). Com o passar do tempo, a maioria das usinas brasileiras
passaram a produzir álcool anidro, hidratado e açúcar, dando ao Sistema um grande grau
de flexibilidade. Também em função do benefício da localização geográfica e extensão
territorial, o Brasil conta com dois períodos de safra distintos. Durante os anos 90 houve
uma desaceleração do Programa Nacional do Álcool, porém a produção de álcool se
manteve graças à mistura do álcool etílico anidro carburante na gasolina.

São crescentes os esforços em pesquisa e desenvolvimento tecnológico em todos os elos


da rede produtiva e de governança: empresas privadas, universidades, institutos de
pesquisa e governo, por isso o Brasil possui a melhor tecnologia, nesta área, no mundo
até tempo recente.

Atualmente tem-se falado muito sobre produção mais limpa – “P+L”, um recurso
extremamente importante a ser levado em consideração. A geração de resíduos é resultado
da ineficiência de transformação de insumos em produtos, trazendo danos ao meio
ambiente e aumentando os custos às empresas. A geração de resíduos é de vários modos
um sinônimo de desperdício de dinheiro com compra de insumos, desgaste de
equipamentos, horas de empregados, dentre outros, além dos custos envolvidos com o
seu armazenamento, tratamento, transporte e disposição final. A solução para diminuir
efetivamente estes problemas veio com as técnicas de “controle preventivo”, evitar ou
minimizar a geração de resíduos na fonte geradora, como a minimização do consumo de
água, o uso de matérias-primas atóxicas etc.

A ‘Produção mais limpa’ é a aplicação contínua de medidas ambientais preventivas


integradas aos processos, produtos e serviços, para maximização da eficiência ambiental
e reduzir os riscos ao ser humano e meio ambiente. A aplicação nos processos produtivos
se dá na conservação de matérias-primas, água e energia, na eliminação de matérias-
primas tóxicas e na redução na fonte da quantidade e toxicidade dos resíduos e emissões
gerados, bem como nos produtos sob a forma de redução dos impactos negativos durante
seu o tempo de vida, desde a extração de matérias-primas até a sua disposição final. Há
também a aplicação junto aos serviços que acompanham a incorporação das questões
ambientais no planejamento e execução dos serviços. Ao implantar ações de P+L têm-se
como resultados:

• Melhorias na qualidade de vida e conscientização ambiental, bem como cidadania e


desenvolvimento sustentável;
• Diminuição do consumo de água, energia, uso de matérias-primas tóxicas e geração
de resíduos;
• Maior segurança no ambiente de trabalho, assim reduzindo afastamentos por
acidentes;
• Redução ou eliminação de resíduos, com conseqüente redução dos gastos relativos ao
gerenciamento;
• Minimização da transferência de poluentes de um meio para o outro;
• Melhoria do desempenho ambiental, da motivação dos funcionários, imagem pública
da empresa e maior competitividade e qualidade do seu produto;
• Redução ou mesmo eliminação de conflitos junto aos órgãos de fiscalização, bem
como de possíveis conflitos com a comunidade da vizinhança.

Assim, a cana-de-açúcar pode ser usada não somente como fonte de etanol ou açúcar, seu
bagaço pode gerar alimento para o gado, remediar áreas degradadas por erosão ou mesmo
mineração, caso comum em Minas Gerais, produzir fertilizantes agrícolas, dependendo
do objetivo e contexto. Desta maneira se torna mais fácil o modo de definição da gestão
territorial, visto que para cada característica física do local existe um cultivar de cana que
poderá ser usada para um melhor aproveitamento desta área, e para cada variedade há
uma aplicação no contexto ambiental, seja na produção de energia a partir de resíduos ou
mesmo em quaisquer outras aplicações desta gramínea mesmo que em baixa
produtividade como forma intermediária de de reconquistar terras degradadas.
DESENVOLVIMENTO

Todo projeto deve ser voltado em seu início à coleta de informações significantes para
que se possa desenvolver um banco de dados, sobre o tema, suficiente para publicações
coesas e desenvolvimento de bases fundamentais a uma análise mais aprofundada do
tema, tendo em vista a relação entre os fatores pedológicos, de aptidão de solos, agro-
climatológicos e as relações de produtividade de modo a atender diversos aspectos de
interesse ecológico e econômico tais como autonomia de energia da propriedade rural,
produtividade nas circunstâncias, competitividade definidos os objetivos, relações de
custo / benefícios, funções de sustentabilidade do terreno, a logística envolvida no
processo e da circulação hídrica.

Em relação à área total replantável tem-se o conceito o qual implica no planejamento e o


ordenamento regional do território para se estimar a área total replantável, assim
garantindo os interesses geo-ecológicos, rochas/geoformas/solos e econômicos cuja
equação é:

De retorno à equação (3)

Σ SF = SBH ± SRs - SGi - SSi - SCVr ± SAd ± SAv ± SP - SU - SOE - SCa,

onde:
Σ SF - área total disponível para reflorestamento / florestamento
SBH - área total da bacia
SRs - área de rochas de formações superficiais sensíveis
SGi - áreas de geoformas inadequadas
SSi - áreas de solos inadequados
SCVr - áreas de cobertura vegetal remanescentes e legal
SAd - áreas com agricultura
SAv - áreas agricultáveis
SP - áreas de pastagens
SU - áreas urbanas e urbanizáveis
SOE - áreas de obras de engenharia
SCa - áreas de corpos d’água
± - significa, poder utilizar ou não para finalidades florestais.

Pode-se obter com esta equação o cálculo das diferentes variáveis a serem analisadas em
qualquer ambiente para que possa ser efetuado estudos a fim de maximizar a produção e
minimizar os impactos ambientais negativos relativos a essa produção, ao invés de
aumentar a atividade agropecuária com a pretensão de maiores lucros, não efetuando-se
um estudo mais aprofundado das melhores opções em relação ao relevo, geomorfologia,
pode-se esperar como maximizar lucros com segurança ambiental.

Uma equação lógica de fatores de produção e ambientais deve ainda considerar os


condicionantes ambientais em conjunto conforme Tabela 7.4:
Tabela 7.4 – Condicionantes ambientais para equações lógicas com as seguintes variáveis
dependentes QG questões geo-ambientais, de demanda efetiva, UC uso de cana, DH fertilidade
de solos + fertilizantes, Cl clima local, PA produção agrícola e $L lucro.

A partir de todos os dados estudados até então pode-se observar no Quadro 9.1 as inter-
relações e suas respectivas ligações no âmbito do desenvolvimento das equações, dos
quais serão estudadas mais profundamente (Curiel, 2009, orientador Martins Jr.)).

Em todo projeto energético no sentido do paradigma aqui proposto é de que com o projeto
busque-se tender à auto-suficiência energética dentro de uma bacia hidrográfica. Para
tanto utilizou-se inicialmente o município de Entre Ribeiros em Minas Gerais, lugar onde
há atualmente competição entre a produção de cana e alimentos. Todas as condições,
tanto referentes a agroclimatologia, bem como ambientais são extremamente favoráveis
ao plantio.

A Figura 7.1 apresenta a área de Entre Ribeiros, bacia do Paracatu SF7, local onde já
existe competição entre produção de alimentos e cana. Com o ordenamento parcial do
território para produção de biomassa, alimentos para gado, fertilizantes, dentre outros,
pode-se amenizar os problemas existentes.
Figura 7.1 – Mapa da Sub-bacia de 3ª ordem de Entre Ribeiros no Vale do Paracatu (Fonte:
Martins Jr, 2006).

O solo desta região é fértil e excelente ao plantio, devido as condições agroclimatológicas,


clima, condições hidrológicas etc. Utilizando o princípio da Permacultura, pode-se
plantar alimentos e a variedade RB 925345-CECA (Figura 7.2), para serem obtidas
respostas rápidas, sem dificuldades. Os resultados destas considerações indicam a
permacultura como uma boa saída no contexto cana versus alimentos, e com o
gerenciamento adequado do espaço territorial pode-se obter uma maximização efetiva do
potencial econômico de qualquer área de produção de energia de biomassa.
Figura 7.2 – PMGCA-CECA Centro de Pesquisa e Melhoramento da Cana-de-açúcar –
Universidade Federal de Viçosa.

A partir dos dados obtidos para este estudo foi criada uma equação de fatores iniciais,
destacando os seguintes resultados:
 variedades de cana-de-açúcar;
 áreas potenciais para melhora da produção da bioenergia e biomassa;
 a importância do ordenamento territorial;
 a competição entre a produção da cana/alimentos e auto-suficiência energética dentro
de uma bacia hidrográfica para análise prévia do local a ser estudado para produção de
cana tanto para renda econômica quanto para mitigação de solos.

A Figura 7.3 apresenta tabela resumida dos estudos feitos no projeto e aponta para alguns
dos fatores os quais são analisados:
Figura 7.3 – Discussão Fonte: PMGCA - CECA Centro de Pesquisa e Melhoramento da Cana-
de-açúcar -Universidade Federal de Viçosa - ANEXO.

CONCLUSÕES

Fica claro que os zoneamentos ecológicos – ZE-L, e o zoneamento econômico – ZE-N,


servem de base para o zoneamento integrador ecológico-econômico ZEE. Como se viu
anteriormente são três os tipos de ZE-N, e assim as escolhas e os modos de apresentá-los
serão mais interessantes de serem usados conforme as questões econômicas a serem
consideradas, e que podem ser mais bem tratadas em cada método de representação. A
representação de aplicações econômicas totais constitui um legítimo produto para a
gestão ambiental e econômica dos biomas e bacias hidrográficas.

Entre questões como reflorestamento, erosão, construção de rodovias, de canais, de


hidrovias, produção de energia hidroelétrica, etc., diversas são as combinações dos três
ZE-N baseados nos zoneamentos ZE-L, inclusive com mapeamentos disciplinares
diversos, que podem articuladamente fornecer informações importantes para se
compreender as questões das relações das atividades e obras humanas com o meio-
ambiente. Foca-se com eles tanto o ponto de vista das estruturas naturais quanto dos
processos geológicos, em seus sentidos mais amplos.

A Economia, se representada em tabelas, diagramas, organogramas, fluxogramas, em


UML (unified modelling language) e em relações com os sistemas da Natureza, permitirá
que os mapas sejam auto-explicativos, desde que as relações sejam mostradas com
semiótica própria.

As Tabelas 7.1 e 7.3 apresentam algumas formas de se indicarem questões econômicas


com uso de equações lógicas. Por sua vez as equações (3) e (4) abrem, especialmente, o
campo lógico das questões para o “Desenho de Uso Optimal do Território” (DUOT),
desenho esse no qual se passa dos zoneamentos a um desenho geral, normativo ideal sobre
a totalidade de um território, conservadas todas as condições de sustentabilidade.

A esses vários tipos de equações devem se ajuntar a análise da Economia Física com a
Análise exergética, ou com a Análise de entropia dos sistemas, com o ciclo dos materiais
 da produção ao descarte , como o passo para se organizar um quadro geral de todas as
ações de conservação, preservação, mitigação e uso optimal do território de uma bacia
hidrográfica.

A “temática geo-ambiental / econômica” abre assim, após a execução dos ZE-L e ZE-N
um novo passo que deve se seguir para o processo da gestão ecológica-econômica do
território e das relações homem / Natureza, a saber, o Zoneamento Ecológico-econômico
integrado propriamente dito - ZEE, a partir dos amplos métodos aqui discutidos.

No Brasil a utilização intensa da cana se dá na forma de produção de açúcar, álcool,


fertilizantes, alimento para o gado etc., caso sejam bem organizados, coordenados e
administrados, haverá uma maximização do valor econômico agregado. O projeto é de
imensurável importância econômica, ambiental e social, visto que o mesmo é direcionado
aos pequenos produtores e cooperativas para um maior aproveitamento da gama de
opções oferecidas pela cana-de-açúcar.

Pode ser observado que para diferentes espécies, há os mais diversos fatores o qual
maximizarão suas respectivas produtividades, e outros fatores de interesse econômicos
nos mais adversos ambientes. O escopo de qualquer programa de trabalhos geo-
ambientais e econômicos, em longo prazo, é de poder fazer com as aplicações em
pequenas propriedades rurais, agricultura familiar, venham a ser aplicadas em bacias
hidrográficas.

A bacia do Paracatu possui uma área maior do que a metade da área da Áustria. Com uma
aplicação efetiva desta técnica dentro desta bacia, ter-se-ia como produto final a auto
suficiência alimentar e energética, obviamente administrando todas as incógnitas da
gestão territorial, como aplicável em países com as mais diversas condições econômicas
e um avanço maior no contexto socioeconômico e ambiental.

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8
DEGRADAÇÃO e PLANO para REVITALIZAÇÃO
– Gestão de Bacia Hidrográfica –

Quinta Fase de Auxílio à Decisão sobre o Uso da Terra

Palavras-chave: O que é revitalização, viabilidade, mitigação, notas percentuais,


propriedades rurais.

A noção de revitalização é introduzida nesta fase de auxílio à decisão não como


apresentação de métodos e processos de efetivar tal tarefa, mas como tema que deverá ser
introduzido no Desenho de Uso Optimal do Território DUOT em seus vários cenários de
modo a se poder planejar o DUOT com clara objetividade sobre os estados em que se
encontram bacias, biomas, ecossistemas, circulação hídrica, quantidade e qualidade da
água, projetos agrícolas, florestais, pastagens, indústrias rurais, produção de energia em
amplo espectro e outras questões.

A noção de revitalização parece, por ser corrente, tratar-se de uma noção óbvia e, no
entanto, não o é. Ela implica visões sobre o meio ambiente, especialmente sobre a
estrutura do substrato, as questões geodinâmicas e a topologia da vida em sua ocupação
territorial. Entende-se que o assunto é complexo o suficiente para não ser reduzido a
decisões exclusivas sobre áreas preferenciais para se plantar ou para se realizar obras.
Nesse sentido, diversos artigos já publicados demonstram essa complexidade, uma vez
que o ecossistema tenha sido desmatado em uma sub-região (Martins Jr. et al., 2006,
2008a, 2008b, 2010).

Ante a complexidade do mundo real em seu estado de degradação e ou de conservação e


os custos operacionais efetivos para mitigar, afora a possibilidade de soluções de
engenharia tem-se uma gama de questões que permitem caracterizar o que vem a ser
efetivamente revitalizar uma bacia hidrográfica. Com efeito, nesse capítulo apresenta-se
de modo claro a noção de revitalização e apresenta-se também um dos métodos
necessários para se aplicar a revitalização com soluções ecológicas e econômicas voltadas
para as questões de conservação do bioma, em particular como exemplo.

COMO DEFINIR o que É REVITALIZAÇÃO

REVITALIZAR O QUÊ?

Tomando-se uma bacia não ocupada pelo homem como referência nós só podemos
compreender que essa bacia é vitalizada dentro das condições de contorno geo-ambientais
reinantes, tendo o clima como um fator determinante de todos os processos bio-
geodinâmicos. Assim, quando se pensa em revitalização como uma ação necessariamente
tardia sobre a conservação, que deveria ter sido aplicada, recai-se na necessidade do
reconhecimento primordial sobre os processos geo-biodinâmicos que devem ser
mantidos, sobretudo, nas áreas críticas dentro da bacia, que sustentam e mantêm esses
processos. Entende-se que manter os processos bio-geodinâmicos significa mantê-los sem
produzir degradação, o que implica que esses processos sejam direcionados para manter
os fluxos de troca e de trânsitos dentro da bacia, sem afetar as estruturas do substrato.

Essas questões não são simples, a começar pelo fato de que seria condição primordial que
uma bacia tenha sido sobrevoada para tomadas de aerofotos na escala de 1:10.000 para
possibilitar, de fato, a observação de todos os processos de trocas e de toda a degradação,
de fato já instaurada. Uma cartografia rigorosa permitirá mapear todas as áreas degradas
e suas superfícies em m2 ou em hectares, ou mesmo eventualmente em km2, conforme a
escala de observação e de integração das informações ou da realidade da dimensão dessa
condição.

Os temas sobre degradação são diversos e sendo identificados em uma bacia,


conjuntamente em todas as extensões e interações ter-se-á as condições gerais para se
entender a forma de lidar com os impactos e com áreas degradadas, de modo mais
propriamente sistêmico e que permita a tomada de decisões embasadas em estudos de
viabilidade operacional e econômica. As condições de degradação devem aparecer no
método M-1 de zoneamentos ecológicos, nos mapas de degradação e no Desenho de Uso
Optimal do Território DUOT, especialmente nos cenários do DUOT.

Na lista abaixo são apresentados impactos de obras, impactos ambientais e impactos no


substrato. Esses não são os únicos, mas representam extensiva maioria na área dos biomas
e em especial nos estudos aqui apresentados para o bioma Cerrado em virtude dos
exemplos dados neste livro serem de regiões do Cerrado.

Alguns dos impactos de obras humanas, embora sejam legítimas e necessárias são em si
impactos, inclusive em muitos casos proibidos por lei, mas efetivamente observados no
campo. As obras em si são impactos, bem como as repercussões dessas obras na
vizinhança e sobre grandes distâncias.

TIPOLOGIA de IMPACTOS

São diversos os resultados que podem ocorrer no processo de degradação de uma bacia
hidrográfica:

1 – Encrostamento localizado de solos.

2 – Desmatamentos controlados apesar de feitos segundo critérios de legítimo uso da terra


com conservação de sistemas da vegetação natural, trânsito para animais, conservação da
circulação hídrica, sendo todos esses aspectos estudados e mapeados com justificativas
em geral no Desenho de Uso Optimal do Território – DUOT.

3 – Desmatamento realizado de forma descontrolada e não sistêmica.


4 – Desmatamento extensivo e aniquilador de ecossistemas.

5 – Ruptura do processo de infiltração da água pluvial nas zonas de recarga dos


aquíferos subterrâneos.

6 – Comprometimento de solos e sedimentos com metais pesados.

7 – Diminuição das vazões específicas de curto, médio e longo prazo.

8 – Processos erosivos em vários estágios de adiantamento.

9 – Áreas extensivas com encrostamento de solos.

10 – Poluição pontual e difusa proveniente de áreas urbanas e de indústrias nos cursos


d’água.

11 – Poluição difusa das atividades agropastoris.

12 – Enrijecimento de solos com pisoteio de gado sem ser necessariamente


correspondente ao encrostamento fato que ocorre nos caminhos de pisoteio do gado.

13 – Exploração indevida de Veredas.

14 – Represamento de Veredas pelas rodovias.

15 – Ressecamento definitivo de áreas de inundação permanente e também de áreas de


inundação periódicas.

16 – Produção de descontinuidade floral ao longo do bioma com remanescentes de


matas isoladas.

17 – Construção inadequada de barramentos de quaisquer tipos.

18 – Queimadas de origem antrópica.

19 – Impedimento dos processos reprodutivos das espécies de animais existentes no


bioma.

20 – Poluição pontual a difusa proveniente de indústrias rurais.

21 – Indução à erosão propiciada pela construção de vias.

22 – Poluição derivada das vias seja pelos próprios transportes ou por atividades
comerciais e residenciais ao longo das vias.

23 – Agricultura intensiva fora de planejamento do desenho de uso optimal do território.


24 – Área de inundação por projetos de uma única barragem, em uma relação em que
sejam apresentados diversos modelos de áreas inundáveis, com a manutenção de
produção de energia desejada, ou minimamente diminuída em função dos vários projetos
de barramentos com as diferentes áreas inundáveis; no caso de construção de barragens
quanto menor for a área inundada prevista em função da mesma produção esperada de
energia, maior o sucesso de um modelo.

25 – Poluição difusa e pontual de corpos d’água.

26 – Construção inadequada de barramentos de quaisquer tipos.

27 – Área de inundação por projetos de uma única barragem’

28 – Impedimento dos processos reprodutivos das espécies de animais existentes no


bioma.

29 – Poluição pontual a difusa proveniente das centrais nucleares.

30 – Dispersão de poluentes radioativos, mas não de centrais nucleares.

QUESTÕES de VIABILIDADE e MITIGAÇÃO

Há que se entender tratar-se da viabilidade de realização de obras e ações de mitigação


como também a viabilidade econômica financeira para realizá-las. Ademais há que se
poder avaliar os riscos de sucessos e de insucessos, dessa forma procurando-se estabelecer
parâmetros de probabilidades mensuráveis a partir de dados quantitativos e/ou
semiquantitativos de modo a se poder decidir sobre o mérito das ações mitigadoras.

O estabelecimento de uma visão de mitigações e de revitalização na escala de 1:10.000


permite estabelecer um modelo econômico adequado. Esse modelo deve apresentar os
custos reais de uma possível mitigação generalizada, como “condições limítrofes de
possibilidades” ou mesmo como “condições do impossível”, ainda que desejável.

Tais condições devem ser estabelecidas para esses seguintes temas operacionais, entre
outros:

1 – Os valores de mitigação por área com as técnicas existentes e os estudos de riscos de


insucessos.

2 - Os valores de mitigação por área com as técnicas existentes e o estudo de não retornos
econômicos para o produtor rural.

3 – As superfícies de áreas degradadas por tipos de degradação no total da área da bacia,


também por setores contíguos e/ou por setores com estruturas equivalentes, não
importa quanto estejam separados dentro da área da bacia.
4 – A avaliação dos custos de se atuar em projetos de mitigação de modo contínuo seja
nos setores contíguos seja em setores com estruturas equivalentes em áreas diversas da
bacia.

5 – O estudo do conjunto de técnicas e de seus custos de aplicação efetivos ante as


características de cada área degradada.

6 – Os estudos para aplicação com técnicas que possam envolver retornos econômicos
com a mitigação.

7 – Modelar a parte dos custos que possam ser transformadas em aplicação econômica e,
portanto, daqueles abatidos.

8 – Estimar as taxas de retorno possíveis com os custos transformados em investimentos


com projetos específicos.

Nos itens 7 e 8 deve-se estimar os custos e retornos econômicos com os procedimentos


de reflorestamentos ecológicos e econômicos, produção de energia com minicentrais
hidroelétricas flutuantes ou mesmo pequenas centrais hidroelétricas, produção de energia
de biomassa e outros aspectos.

NOTAS PERCENTUAIS para a CONSERVAÇÃO x DEGRADAÇÃO

Cabe às soluções preventivas e as soluções de conservação o evitar futuros esforços de


mitigação e de revitalização. Aquelas fazem como prevenção, parte de uma política e
cultura mais ampla de conservação da bacia hidrográfica. Em realidade para qualquer
bacia hidrográfica aquilo que se denomina no Organograma de Rodas de Correlações e
Impactos – ORCI (ver sistema sisORCI) como “estado da Conservação - eC” é em
realidade a descrição criteriosa de uma equação tal como:

eC = Sb – Sad (ƒΣ Sat, i = (1 a n< 25) x [ƒ imp(1,n)]


onde:

eC – estado de Conservação
Sb – área total da bacia
Sad – superfície total de áreas degradadas
ƒ– em função de 1 a n tipos de impactos
Σ Sat – somatório das superfícies de áreas degradadas por tipos de degradação com
indicação da intensidade dos impactos (Tabela 1) com dedução de funções por
caso, nesse membro.
ƒ imp ... – função dos impactos como, por exemplo, as variáveis de repercussão.
– são muitas as variáveis do tipo “imp” e entre elas pode-se citar: (1) área
impactada (2) perda de valor de uso da terra (3) áreas que são impactadas como
repercussão de outra área originalmente impactada (4) perda de calado de rios
(5) diminuição de vazões específicas (6) descontinuidade floral do bioma entre
outras; a família de variáveis de repercussão tem diversas unidades dimensionais
tais como área, massa, perda de qualidade, extinção de espécies, desestruturação
sistêmica, destruição dos sistemas, entre outros assuntos tomando-se os sistemas
e as relações entre os mesmos.
ƒ imp ... – essas variáveis dependem dos impactos efetivos em cada área; são muitas as
unidades de medidas.

A equação pode ser tratada ou pela área total ou por tipo de área degradada, conforme se
queira dar ênfase ou estudar os impactos por resultados no ambiente, no caso de avaliação
de áreas, mas as outras variáveis acima citadas devem ser tratadas tanto do ponto de vista
ecossistêmico quanto econômico.

A equação é simples, mas não o é a descrição dos vários tipos de degradação e a


mensuração dos mesmos, sabendo-se que a viabilidade ideal de mensuração deve ser
obtida na escala de 1:10.000 com imagens aéreas e trabalho de campo, eventualmente
necessário. Nessa escala é sempre possível incluir e atualizar os eventos de degradação.

Se incluir-se os aspectos qualitativos da degradação precisa-se decompor o membro Sad


– superfície total de áreas degradadas. Neste caso, devem-se retomar os 25 itens de formas
de degradação acima explicitados, de modo que cada membro possa ser avaliado em sua
dimensão métrica (área; % de área no ecossistema específico a que pertença) como em
sua dimensão qualitativa. A dimensão qualitativa deve ser semi-quantificada, portanto,
sugere-se os seguintes fatores para a semi-quantificação.

ÍNDICES QUANTITATIVOS sobre IMPACTOS

A área de um impacto, ou a de mais de um impacto em uma mesma área, e/ou de uma


sucessão de impactos ligados por relações causais comuns é a medida fundamental
quantitativa que permite calcular-se o significado dos impactos em uma bacia e
propriedades rurais.

Os valores expressos em percentuais o são para serem aplicados de modo dedutivo, isto
é, quando se puder e tiver os valores percentuais medidos, esses devem ser enquadrados
em intervalos de valores que se consideram dedutivamente mais ou menos críticos.

Esses intervalos, ainda que aproximados dão-nos uma percepção da complexidade de


qualquer tipo de impacto, e a possibilidade ou não de refazer toda condução do processo
em curso, e/ou de reorganizar toda a área, e/ou de reconstituir parcialmente essa área ou
então da irreversibilidade de reorganização, reconstrução ou de reconstituição parcial.

Fica evidente que os valores podem ser expressos em diversos intervalos para se facilitar
a inclusão do observado em condições de criticidade conveniente. Alguns aspectos
relevantes no que diz respeito a áreas são os seguintes:

1 – Qual a escala de observação e de representação e a acuidade possível de se representar


o impacto.

2 – Trata-se somente de um único tipo de impacto?


3 – Ocorre mais de um tipo de impacto exclusivamente na mesma área de tal modo que
se possa reconhecer uma área total integral de impacto?

4 – Uma área impactada é fonte de outros tipos de impactos em áreas mais longínquas de
modo que não se possa reconhecer que a área total de impacto seja contínua?

5 – O impacto único, ou múltiplo, afeta diversos sistemas distintos e de modo correlato a


partir de uma única causa?

6 – O impacto único, ou múltiplo, afeta diversos sistemas distintos e de modo sequencial


a partir por meio de uma sucessão de causas não correlatas?

Essas seis perguntas perfazem um quadro de relações causais que permitirá a priori
caracterizar-se qual é efetivamente a área de impacto para então expressar-se as medidas
possíveis para cada situação apresentada nessas perguntas. Aperfeiçoamentos podem ser
esperados com a aplicação progressiva. Os valores percentuais são intervalos para se
enquadrar os impactos observados e medidos. Apesar dos aspectos semiquantitativos
apresentados conterem certo grau de subjetivismo eles dão uma ordem de grandeza dos
impactos e das medidas de mitigação consideradas.

As faixas escolhidas para o Quadro8.1 têm valores definidos de modo ‘qualitativo / semi-
quantitativo’ e como predeterminantes de limites considerados lógicos, a saber:

1 – Os valores < 10% até 10% devem ser considerados quando se reconhece que o estado
de uma área é realmente não impactado, ou minimamente impactado, passível de solução
técnica convencional e de baixo custo operacional.

2 – Os valores entre > 10% até 20% já indicam para cada caso de impacto específico,
entre os 23 tipos de impactos citados acima, como exceção o de número 24, aquela
condição que é ainda viável ser realizada mitigação com tempo de retorno dos custos em
intervalos de tempo entre 2 a 5 anos, a partir das consequências benéficas derivadas da
mitigação; toma-se 5 anos como referência porque certo grupo de plantas utilizáveis em
replantio ecológico-econômico podem frutificar em até o limite máximo considerado.

3 – Os valores entre >20% até 50% já implicam graus de risco de investimentos em


mitigação nos quais se começam a poder ter custos irrecuperáveis no possível retorno da
mitigação, mesmo bem sucedida; as situações são compreendidas como bem factíveis
para o processo de mitigação e os tempos de retornos benéficos podem chegar a 10 ou 15
anos após os investimentos em soluções com as engenharias, se a mitigação for do tipo
possível de solução ecológica-econômica.

4 – Os valores entre >50% até 65% implicam em riscos de mais alto nível para o sucesso
da mitigação, quaisquer que sejam; implica também que já existem impactos em cadeia
o que vem a tratar-se de processos mais complexos de gestão e de mitigação; os tempos
de retorno já são maiores do que 15 anos, e em alguns casos os impactos secundários
derivados de repercussão são irreversíveis, ainda que não comprometam os sistemas
impactados em nível de irreversibilidade nas condições de estado geral do sistema e/ou
de uso desse sistema.
5 – Os valores entre >65% até 85% implicam em perdas irreversíveis ainda que os
sistemas impactados não tenham perdido os aspectos gerais de seus funcionamentos, mas
as perdas são notáveis e podem exigir de 25 a 30 anos para recuperação; em alguns casos
como perda de calado em rios, portos e canais implicará em obras de engenharia custosas.

6 – Os valores entre >85% até 100% implicam em irreversibilidades efetivas nos


ambientes naturais e nos potenciais de uso de terra e da água, bem como de portos, diques,
piers, barragens, recarga de aquíferos e outros tantos temas; em muitos casos os custos de
mitigação serão custos irrecuperáveis para mais de 50 a 100 anos.

Os valores acima indicados o são para se enquadrar o impacto ou os impactos em séries


de repercussão. As notas dadas aos impactos, se essas quantidades puderem ser medidas
ou estimadas, ou as notas dadas para a condição de se considerar os aspectos qualitativos
ao serem atribuídas ao fato impacto devem, então, ser trazidas ou enquadradas aos
referenciais de 1 a 6. Sempre será possível com os intervalos desse referencial de se
enquadrar algum impacto nesses intervalos. Decorre daí que essa classificação foi
desenvolvida ao modo de classificações que oferecem as delimitações de nichos entre
intervalos; trata-se de classificações prudenciais dos impactos nessas seis faixas de
situações.

Quadro 8.1 – Intervalos deduzidos para expressar e/ou enquadrar níveis de criticidade dos
impactos ambientais em função dos diversos métodos de expressar impactos únicos e impactos
múltiplos.

baixo ⇒ grau de degradação baixo no qual a reconstrução ainda é possível, ou mesmo a


simples interrupção do processo com atos simples de reconstrução ou de
mitigação.
< 10% até 10%

baixo a médio ⇒ grau de degradação baixo no qual a reconstrução ou a restauração é difícil,


mas ainda possível, a interrupção é possível com atos de mitigação que envolvam ou não
pequenas obras de engenharia simples.
> 10% até 20%

médio inferior ⇒ degradação mais ampla do que na condição baixo a médio e que exige
intervenções com máquinas e/ou ações diversas para interrupção do processo.
>20% até 50%

médio superior ⇒ degradação mais ampla do que na condição médio inferior na qual é
necessário intervenções com máquinas e com obras de engenharia ou com ações de
reocupação dos solos.
>50% até 65%

superior ⇒ degradação efetiva com modificação da paisagem local ou não, mas com
exigência de intervenção corretiva para interromper o processo, ou recuperar o ambiente em
áreas críticas, com obras de engenharia; estágio de dispersão de poluentes irrecuperável em
virtude da extensão.
>65% até 85%
máximo ⇒ degradação sem retorno, impossível de recomposição de quaisquer ordens com
perdas irreparáveis para o território e sistemas naturais.
>85% até 100%

Assim, as indicações abaixo são definidas a priori para que os pesquisadores e doadores
de notas no monitoramento se enquadrem nessas definições de limites como modos
efetivos de classificar os impactos, as possibilidades, efeitos e custos de mitigação. No
que diz respeito aos processos de repercussão a noção de índices é de mais complexa
feição, todavia, necessária à produção desses indicadores indispensáveis. O Quadro 8.2
apresenta uma sucessão de repercussões que sem dúvida produzem efeitos diversos em
sucessão no espaço e no tempo. O Quadro 8.3 apresenta relações de repercussão. Neste
com apresentação de conjunto de possíveis de interações entre impactos de um modo
ainda mais amplo do que no Quadro 8.2.

ESTUDO das VARIÁVEIS de IMPACTOS

Variáveis de repercussão são todas aquelas que dos pontos de vista físico, químico e
biológico atuam e levam as consequências do evento local de degradação até outras áreas
fora da área imediata da degradação.

Quadro 8.2 – Em sequência os macro-impactos com títulos de numeração em romanos, tabela de


sistemas impactados, tabela dos impactos básicos a esquerda, e os impactos de repercussão na
coluna da direita (Martins Jr. et al., 2012; Martins Jr. et al., 2016).

I – Planejamento versus não planejamento

1 – Associa-se a descontinuidade floral.


2 – Pode induzir a erosão.
3 – Pode induzir a poluição pelo NPK.
4 – Pode induzir a poluição por biocidas.
5 – Efetiva não ocupação ecológica do território.
1 – Planejamento do Desenho de Uso 6 – Sustenta atividades produtivas predadoras.
Optimal do Território DUOT 7 – Permite o desmatamento sem conhecimentos das
com base nos zoneamentos relações espaciais de tipo euclidiano e topológico
ecológico, zoneamento econômico, sobre as espécies viventes
zoneamento ecológico econômico, 8 – Favorece o stress hídrico
determinação dos estados de 9 – Pode induzir a destruição progressiva dos solos
Preservação eP, de Conservação eC e 10 – Não permite tratar a ecologia como uma
de Degradação eD de bacias verdadeira internalidade no pensamento e
hidrográficas e biomas. atividade econômica produtiva
11 – Favorece a implantação de programas agrícolas,
pastoris e de desmatamentos nos quais as
relações de uso da terra não correspondem às
realidades ambientais dos biomas e das bacias
hidrográficas

II – Circulação hídrica
Zonas de recarga de aquíferos subterrâneos ZRA
Áreas precisas de recarga de aquíferos APR
Nascentes de água NA
Cursos d’água Cd’a
Trechos de curso d’água TCd’a
Áreas de inundação permanente AIP
Áreas de inundação periódica AIp
Lagoas Lg
Pântanos Pnt
Veredas VRD
Capacidade de campo de solos CcS

1 – Contribui para o fim de ecossistemas locais ou de


pequena extensão.
2 – Compromete a existência da fauna.
2 – Desmatamento extensivo e
3 – Aumenta a descontinuidade floral.
aniquilador de ecossistemas
4 – Pode afetar a circulação hídrica.
5 – Pode atuar como indutor de erosão.
6 – Incêndios

1 – Aumenta o escoamento superficial durante chuvas


e pós-chuvas.
3 – Ruptura do processo de 2 – Diminui a infiltração.
infiltração da água pluvial nas zonas 3 – Compromete a quantidade de água reservada.
e áreas de recarga dos aquíferos 4 – Pode induzir a erosão.
subterrâneos RInf 5 – Pode favorecer, conforme o caso, facilitar a
infiltração e/ou disseminação de NPK e de biocidas
NPK RpI

1 – Essa diminuição pode resultar de impactos na


circulação hídrica.
4 – Diminuição das vazões 2 – Pode ser resultante de diminuição do processo de
específicas de curto, médio e longo infiltração.
prazo. 3 – Pode ser derivada de mudança climática.
4 – Pode ser conjugada as relações dos itens 1, 2 e 3
ao mesmo tempo.

1 – Efeitos perturbadores na circulação hídrica


5 – Exploração indevida de Veredas 2 – Efeitos na variação da quantidade de água para
menos, pelo aumento de evaporação

1 – Aumento de evaporação.
6 – Represamento de Veredas pelas
2 – Destruição do ecossistema associado.
rodovias
3 – Morte dos Buritis por excesso de água nas raízes.

7 – Ressecamento definitivo de áreas 1 – Morte do ecossistema associado.


de inundação permanente e de áreas 2 – Impacto sobre a circulação hídrica.
de inundação periódicas 3 – Diminuição das vazões específicas.

III– Desmatamento florestal Desm


Desmatamento planejado DesP
Desmatamento sem planos embora legal DesL
Desmatamentoterritorialmenteextensivo DesE

8 – Desmatamento controlado feito 1 – Impacto de perda florestal com espécies notáveis


segundo critérios de legítimo uso da ecológica e bioeconômica.
terra com conservação de sistemas 2 – Espera-se produzir impactos que sejam sem
naturais repercussão.
1 – Produz perda de espécies ou atua nessa direção.
9 – Desmatamento realizado de forma
2 – Aumenta possivelmente a descontinuidade floral.
descontrolada e não sistêmica
3 – Pode afetar a circulação hídrica.

1 – Contribui para o fim de ecossistemas locais ou de


pequena extensão.
10 – Desmatamento extensivo e 2 – Compromete a existência da fauna.
aniquilador de ecossistemas 3 – Aumenta a descontinuidade floral.
4 – Pode afetar a circulação hídrica.
5 – Pode atuar como indutor de erosão.

1 – Impactos sobre a reprodução da vida animal.


2 – Perda de espécies.
11 – Produção de descontinuidade 3 – Impactos sobre a flora que permanecer existente.
floral ao longo do bioma com 4 – Destruição progressiva do bioma.
remanescentes de matas isoladas. 5 – Alteração possível da circulação hídrica.
6 – Impactos possíveis sobre o solo.
7 – Eventualmente favorece erosão.

IV – Erosional Er
Erosão laminar Erl
Erosão em sulcos Ers
Erosão acelerada Ea
Voçorocas EVç

1 – Perda de solos produtivos.


2 – Perda universal de solos acelerada ainda que sem
12 – Processos erosivos em vários erosão explícita.
estágios de adiantamento 3 – Instabilidade com impactos sobre obras humanas.
4 – Desastres coletivos sobre obras humanas.
5 – Perdas de vidas humanas.

1 – Erosão nas vertentes para fora da estrada.


2 – Erosão de vertentes sobre a estrada.
13 – Indução à erosão propiciada 3 – Erosão da própria estrada.
pela construção de vias. 4 – Desestruturação da paisagem.
5 – Perda de solos.
6 – Aumento de sedimentos em circulação.

V– Geotécnico GeoT
Escorregamento de talude Et
Enchentes Ench
Entupimento de talvegues Etal

1 – Produção de caminhos nas vertentes.


14 – Enrijecimento (encrostamento
2 – Endurecimento progressivo dos caminhos.
ou adensamento) de solos com
3 – Endurecimentos do solo na pastagem.
pisoteio de gado e outros fatores
4 – Eventual aumento de escoamento superficial.

VI – Insumos e Biocidas IBio


NPK NPK
Fungicidas fun
Herbicidas herb
Inseticidas (formicidas, cupinicidas ou ins
termiticidas)
Nematicidas nem
Acaricidas aca

1 – Poluição de aquíferos subterrâneos


15 Ins – NPK 2 – Poluição de solos
3 – Perda do P como recurso raríssimo no planeta

15 Biocidas 1 – Poluição de aquíferos superficiais


15F Fungicidas 2 – Poluição de solos
15H Herbicidas 3 – Depleção de Oxigênio livre nas águas
15I Inseticidas 4 – Contaminação da cadeia trófica aquática
15IF Formicidas 5 – Afeta a reprodução de aves e de mamíferos
15IT Termiticidas 6 – Afeta a reprodução de anfíbios e répteis
15N Nematicidas 7 – Destrói a microflora e microfauna dos solos e
15A Acaricidas do húmus.

VII– Químicos Quim


Metais pesados MeP
Metais pesados nos solos MePS
Metais pesados na água MePA
Depleção de O2 DO
Demanda bioquímica de oxigênio DBO
Temperatura T

1 – Inutiliza solos.
2 – Pode tornar-se fonte de disseminação de metais
pesados.
16 – Comprometimento de solos e 3 – Pode afetar a produção agrícola com absorção
sedimentos com metais pesados dos metais.
4 – Pode favorecer a infiltração em água
subterrânea.
5 – Pode vir a ser uma fonte difusa de poluição.

17 – Poluição difusa das atividades 1 – Difusão de insumos.


agropastoris

1 – Dispersão da poluição em cursos d’água.


18 – Poluição pontual e difusa 2 – Morte da biota aquática.
proveniente de indústrias rurais 3 – Destruição da cadeia trófica.
4 – Destruição da biota aquática.

19 – Poluição derivada das vias seja


pelos próprios transportes ou por 1 – Poluição pontual por diversos agentes
atividades comerciais e residenciais ao alimentares, metais pesados e outros.
longo das mesmas

1 – Contaminação da cadeia trófica.


20 – Poluição de corpos d’água
2 – Destruição de populações e/ou de espécies.
diversos
3 – Contaminação do homem
1 – Poluição intensiva em corpos d’água.
2 – Perda da biota aquática.
21 – Poluição pontual e difusa
3 – Contaminação da cadeia trófica.
proveniente de áreas urbanas e de
4 – Contaminação do homem no topo da cadeia
indústrias nos cursos d’água
trófica.
5 – Perda de água potável.

VIII – Queimadas provocadas Qmp


Queimadas controladas QCtl
Queimadas inconseqüentes QIcst

1 – Propagação de incêndios de grandes proporções.


2 – Perda expressiva de espécimens da fauna.
3 –Pprda de amplas áreas de vegetação natural.
4 – Perda de obras humanas.
22 – Queimadas de origem antrópica
5 – Poluição atmosférica.
6 – Aumento de CO2 na atmosfera.
7 – Favorecimento: doenças alérgicas e
respiratórias.

IX– Solos Sols


Adensamento de solos AdS
Ressecamento de solos RsS
Compactação de solos CmpS
Lixiviação de solos LixS
Perda universal de solos acelerada PUSa

1 – Geralmente local quando em início de processo.


23 – Encrostamento localizado de
2 – Aumenta o escoamento superficial durante
solos
chuvas.

1 – Aumento expressivo de escoamento superficial.


2 – Perda expressiva do processo de infiltração.
24 – Áreas extensivas com
3 – Perda de nutrientes de solos.
encrostamento de solos
4 – Perda de produtividade agrícola, pastoril e
florestal.

1 – Produção de caminhos nas vertentes.


25 – Enrijecimento (encrostamento
2 – Endurecimento progressivo dos caminhos.
e/ou adensamento) de solos com
3 – Endurecimentos do solo na pastagem.
pisoteio de gado e outros
4 – Eventual aumento de escoamento superficial.

1 – Erosão nas vertentes para fora da estrada.


2 – Erosão de vertentes sobre a estrada.
26 – Indução à erosão propiciada pela 3 – Erosão da própria estrada.
construção de vias. 4 – Desestruturação da paisagem.
5 – Perda de solos.
6 – Aumento de sedimentos em circulação.

1 – Destruição da vegetação natural.


27 – Perda de solos por projetos de 2 – Desaparecimento de espécies aquáticas.
barragem de grande porte 3 – Isolamento de áreas florais dentro do bioma.
4 – Desaparecimento eventual de espécies terrestres
X – Barragens de grande, médio e pequeno BrrG, ou
porte BrrM, ou
Brrp.
Inundações por barragens InunB.

1 – Inundação que pode destruir ecossistemas e


ecotopos.
2 – Perda de área agrícola.
28 – Construção inadequada de
3 – Perda de área florestal.
barramentos de quaisquer tipos.
4 – Perda de áreas urbanas e de propriedades rurais.
5 – Perda de patrimônio intangível como a
paisagem.

29 – Área de inundação por projetos de 1 – Destruição da vegetação natural.


uma única barragem 2 – Desaparecimento de espécies aquáticas.

XI – Reprodução das espécies

30 – Impedimento dos processos 1 – Morte progressiva da fauna nas localidades.


reprodutivos das espécies de animais 2 – Extinção de espécies nas localidades.
existentes no bioma.

XII – Poluição nuclear

Poluição química específica Pqes

1 – Dispersão da poluição em cursos d’água.


2 – Morte da biota aquática.
31 – Poluição pontual a difusa
3 – Destruição da cadeia trófica
proveniente das centrais nucleares
4 – Poluição de solos
5 – Poluição de alimentos

32 – Dispersão de poluentes radioativos DPR


não de centrais nucleares

ÍNDICES SEMI-QUANTITATIVOS

É preciso que qualquer avaliador seja capaz, portanto, de expressar os impactos em função
de:

(1) áreas, como extensão total de ocorrência de cada impacto e do conjunto de impactos
associados a cada caso com repercussão, para todos os casos sem qualquer outra
consideração,
(2) área do impacto em si com mitigação possível com (tempo de retorno até 2 anos),
(3) mitigação ou reconstrução ainda possível (tempo entre 2 a 5 anos),
(4) reconstrução ou restauração difícil com custos maiores, mas ainda possível (tempo de
retorno de 10 ou 15 anos),
(5) com intervenções de máquinas necessárias para a reparação com interrupção de
processo (tempo de retorno de 10 ou 15 anos),
(6) intervenções com máquinas e com obras de engenharia, ou com ações de reocupação
dos solos (tempo de retorno de 25 a 30 anos),
(7) modificação da paisagem local ou não, com exigência de intervenção corretiva para
interromper o processo + obras de engenharia (tempo de retorno >30 anos, <50anos),
(8) dispersão irrecuperável (tempo de retorno > 50 anos) e
(9) degradação sem retorno e com custos irrecuperáveis.

Quadro 8.3 – Matriz de Impactos do Quadro 9.2 com indicação de relações possíveis embora não
necessárias entre os mesmos impactos, que podem ocorrer tanto no mesmo espaço quanto em
espaços a jusante e no tempo como sucessão de eventos, entre os 32 tipos de impactos
considerados; os números procedem do Quadro 9.2.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
1 x x x x x x
2 x x x x x x x
3 x x x x x x x x x x x
4 x x x x x x x x x
5 x x x x x x x x x
6 x
7 x x x x x x x x x x
8 x x x x x
9 x x x x x
10 x
11 x x
12 x x
13 x x
14
15 x
16 x x x x x
17 x x
18 x x x x x
19 x x x x
20
21 x x x
22
23 x x x x x
24 x
25 x x x x
26 x
27
28
29
30

Quadro 8.3 – Continuação da Matriz de Impactos do Quadro 9.2 com indicação de relações
possíveis embora não necessárias entre os mesmos impactos ...

16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
1 x x
2 x x x
3 x x x x x
4 x x x x
5 x x x x
6 x
7 x x
8 x x x
9 x x
10 x x x x
11 x x x
12
13 x x
14 x x x
15
16 x x
17 x
18 x
19 x x
Quadro 8.3 – Continuação da Matriz de Impactos do Quadro 9.2 com indicação de relações
possíveis embora não necessárias entre os mesmos impactos ...

16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
20 x
21 x x
22 x x
23 x
24 x
25 x
26 x x x x x
27 x x x
28 x x x
29 x
30 x x x

Os intervalos vários de tempos de retornos positivos de realizações de mitigação


obedecem a expectativas de sucessos progressivos em tempo hábeis para de fato se obter
interrupção dos processos de degradação quando são dinâmicos. As interferências de
obras com usos de máquinas dão outras medidas de custos que indicam a complexidade
de recomposição do ambiente. Uma referência oculta nesses intervalos de tempo foi
tomada por árvores frutíferas que em muitos casos começam a frutificar em 5 anos,
considerado um tempo referencial muito bom quando se usar tais árvores plantadas como
parte de processos de recomposição de áreas em degradação ou consumadamente
degradadas.

O Quadro 9.4 de medições atribuíveis abaixo é tomado inicialmente para todas as


situações a área como primeira unidade de medição – a unidade fundamental.

Assim, as indicações abaixo são definidas a priori para que os doadores de notas para o
monitoramento da situação se enquadrem nessas definições de limites como modos
efetivos de avaliar impactos e possibilidades, efeitos e custos de mitigação. Cabe ressaltar
que as notas devem ser estimadas ou reconhecidas em função de:

1 - As áreas,
2 - Dos efeitos de repercussão ainda considerados em áreas vizinhas,
3 - Da intensidade dos efeitos como destruições diversas e
4 - Da viabilidade de obras de mitigação em função de custos pecuniários e tempos de
retorno.

Assim, os cálculos de custos devem ser especificados na forma de proposta sucinta de


projetos com as devidas argumentações sobre as obras e os seus custos em pessoal,
materiais permanentes, máquinas, desvalorização das máquinas, tempo de obra, impacto
visual e tempos de retorno do investimento na forma de sustentação da situação que
recebeu obra, sobretudo sobre o aspecto de manutenção dos resultados ao final das obras
e ao longo dos anos previstos por antecipação. Isto não implicará em esperar pelos anos,
mas comprovar que as obras em geral favorecerão ou não resultados subsequentes de
reorganização natural da paisagem. A Tabela 8.4 indica relações que podem ser semi-
quantificadas uma vez que forem caracterizadas.
Quadro 8.4 – Relação dos 32 tipos de degradação com descrições em relação a índices semi-
quantitativos reportados a ‘áreas, a intensidade e a repercussão do processo degradacional’.
Os índices em percentuais devem ser enquadrados para as relações área / intensidade /
repercussão.
Percentuais limites definidos
baixo a médio médio
segundo expectativas de baixo superior máximo
médio inferior superior
estado de degradação

<10%
até > 11%
1 – Encrostamento
até
localizados de solos.
20%

2 – Desmatamento <10% a
controlado feito segundo até > 11% > 21% a conside-
> 51%
critérios de legítimo uso da até até considerar rar
até 65%
terra com retornos 20% 50% inaceitável inacei-
econômicos de bom nível tável
– Desmatamento realizado a
> 21% a
de forma descontrolada e não > 51% conside-
até considerar
sistêmica até 65% ar inacei-
50% inaceitável
tável
4 – Desmatamento extensivo
> 66% > 86%
e aniquilador de
até 85% até 100%
ecossistemas.
5 – Ruptura do processo de
> 11% > 21%
infiltração da água pluvial > 51% > 66% > 86%
até até
nas zonas de recarga dos até 65% até 85% até 100%
20% 50%
aquíferos subterrâneos.
6 – Comprometimento de > 66%
> 86%
solos e sedimentos com até 85%
até 100%
metais pesados
7 – Diminuição das vazões > 66%
> 86%
específicas de curto, médio e até 85%
até 100%
longo prazo.
8 – Processos erosivos em > 21% > 51%
> 66% > 86%
vários estágios de até até 65%
até 85% até 100%
adiantamento. 50%
9 – Áreas extensivas com > 51% > 66% > 86%
encrostamento de solos. até 65% até 85% até 100%
10 – Poluição pontual > 11% > 21% > 51%
proveniente de áreas urbanas até até até 65% > 66% > 86%
e de indústrias nos cursos 20% 50% até 85% até 100%
d’água.
11 – Poluição difusa das > 51% > 66%
atividades agropastoris. até 65% até 85%
12 – Enrijecimento de solos
com pisoteio de gado, fato > 66% > 86%
que ocorre nos caminhos de até 85% até 100%
pisoteio.
13 – Exploração indevida de > 51% > 66% > 86%
Veredas. até 65% até 85% até 100%
Quadro 8.4 – Continuação de Relação dos 32 tipos de degradação com descrições em relação a
índices semi-quantitativos reportados a ‘áreas, a intensidade e a repercussão do processo
degradacional’. Os índices em percentuais devem ser enquadrados para as relações área /
intensidade / repercussão.
Percentuais limites
definidos segundo baixo a médio médio
baixo superior máximo
expectativas de estado de médio inferior superior
degradação
14 – Represamento de > 51% > 66%
Veredas pelas rodovias. até 65% até 85%
15 – Ressecamento definitivo
de áreas de inundação > 86%
permanente e de áreas de até 100%
inundação periódicas.
16 – Produção de
descontinuidade floral ao
> 66% > 86%
longo do bioma com
até 85% até 100%
remanescentes de matas
isoladas.
17 – Construção inadequada
<10% > 11% > 21% > 51% > 66% > 86%
de barramentos de quaisquer
0% até 20% até 50% até 65% até 85% até 100%
tipos.
18 – Queimadas de origem > 51%
antrópica. até 65%
19 – Impedimento dos
processos reprodutivos das > 66% > 86%
espécies de animais até 85% até 100%
existentes no bioma.
20 – Poluição pontual a
> 21% > 51% > 66%
difusa provenientes de
até 50% até 65% até 85%
indústrias rurais.
21 – Indução à erosão
> 51%
propiciada pela construção
até 65%
de vias.
22 – Poluição derivada das
vias seja pelos próprios
> 51% > 66%
transportes ou por atividades
até 65% até 85%
comerciais e residenciais ao
longo das vias.
23 – Agricultura intensiva
fora de planejamento do > 66% > 86%
desenho de uso optimal do até 85% até 100%
território.
24 – Áreas inundáveis por
nota
barragens em projeto prévio <10%
máxima
de construção, tomada sobre até
> 11% de
a área máxima de um modelo
até 20% sucesso
em relação ao outro, e em
> 21%
função da produção esperada
até 50%
de energia
> 66% > 86%
até 85% até 100%
> 11%
<10% considera conside-
até
até 10% do de rado de
20% isto
25 – Poluição de corpos isto com > 21% > 51% alto alta
é com
d’água depura- até 50% até 65% improba- improba-
depura-
ção bilidade bilidade
ção
natural de de
natural
recupe- recupe-
ração ração

REVITALIZAR

Retomando as definições de revitalização acima estabelecidas:

 A arte de aplicar os conhecimentos científicos e as soluções tecnológicas para


recuperar os ecossistemas, solos e circulação hídrica de modo que o homem possa
se beneficiar por milênios de existência das terras da bacia.

 A arte de permitir que as funções vitais dos ecossistemas sejam restauradas em


níveis de viabilidade da vida floral, animal e humana, conjugadas.

Pode-se extrair das mesmas definições palavras-chave que remetem a conceitos-chave,


tais como:

1 – aplicação dos conhecimentos científicos


2 – buscar soluções tecnológicas
3 – recuperar os ecossistemas, solos e circulação hídrica
4 – identificar funções vitais dos ecossistemas
5 – verificar a viabilidade da vida floral, animal e humana conjugadas.

Assim, pode-se buscar as condições que possam ser denominadas “revitalização” a partir
dos conceitos-chave, acima identificados, sob a égide da mitigação, haja vista que os
conceitos 2 e 3 são essencialmente operacionais (Figura 8.1).

A revitalização assim é vista como recuperação das áreas degradadas em correlação com
a “recuperação possível” do ecossistema enquanto tal, e das condições financeiras de
viabilidade econômica.

Fique claro que na condição final da revitalização possível procura-se e referencia-se a


vida humana conjugada com a vida de todos os partícipes da vida natural, e assim pode-
se ter claro que se trata de uma revitalização no sentido Ecológico / Energético /
Econômico.

A revitalização deve, todavia, não ser pensada apenas do ponto de vista de um tema, mas
deve ser vista no conjunto de temas da degradação e deve ser cartografada de modo
correto em escalas de detalhe de 1:10.000 a 1:5.000 de modo a permitir a visão integrada
das questões e dos impactos.
Figura 8.1 – Organograma do conceito de revitalização em nível de contexto; são cinco unidades
de cognição e de operação enquanto os sistemas naturais estão concernidos; as questões
econômico-financeiras devem posteriormente ser introduzidas para se considerar a viabilidade
da revitalização (Martins Jr., org, 2011).

Entenda-se que um impacto nunca é apenas um impacto, mas sempre tem influência em
outras áreas físicas ou em outros sistemas. Assim não somente a visão espacial, mas a
visão sistêmica também deve dirigir a decisão quanto ao revitalizar, e por certo as
questões da viabilidade ecológica e da viabilidade financeira são centrais no processo de
decisão.

Claro é que se devam levantar as condições reais da bacia hidrográfica, e não menos das
propriedades rurais, agrícolas e industriais (Quadro 9.2), de modo a se poder decidir com
a visão integrada necessária. Para tanto, a série de decisões deve ser fundamenta nos
zoneamentos ecológicos, econômicos, ecológicos-econômicos, na cartografia dos estados
de preservação, conservação e degradação e por fim no Desenho de Uso Optimal do
Território – DUOT e no Mapa do Futuro (Figura 8.2).

Por certo, que todas as obras indicadas no Quadro 8.5 contribuem em muito para o
emprego, para o desenvolvimento econômico, e se assim não o fazem de modo
sistemático, isto acontece pelo modo desconsiderado com os aspectos ambientais, do
despreparo dos políticos administradores que não fazem respeitar minimamente as leis
existentes.

Os aspectos marcantes consequenciais para a degradação ambiental poderiam ser


acompanhados por aspectos benéficos que não são aqui contabilizados pelo fato de que
são muito abundantes os processos indutivos a impactos.

Grandes obras impactam necessariamente, e nesses casos as relações custos / benefícios


deveriam ser computados, e não o são de fato, por falta de teoria para valorar o meio-
ambiente, ante o anúncio de grandes benefícios econômicos como a produção de energia,
por exemplo, e também porque os temas ecológicos são tratados como externalidades no
pensamento clássico da ciência da Economia.

Na mesma Figura 8.2 chama-se a atenção para uma série de certificações agrupadas
dentro do conceito de “Certificação da Qualidade Geo-ambiental e Econômica de Bacia
Hidrográfica, de Propriedades Rurais e da Produção”.

Quadro 8.5 – Propriedades rurais como entendidas neste estudo.

Aspectos marcantes consequenciais para


Propriedades Rurais
possível Degradação Ambiental

Prática incendiária na agricultura;


desmatamento extensivo; demanda excessiva
Propriedades agrícolas estritas
de água para irrigação; descontinuidade floral;
intensivas.
extinção de espécies animal por perda de trocas
genômicas.
Prática incendiária na agricultura;
desmatamento extensivo; demanda excessiva
Propriedades pastoris estritas. de água para irrigação; descontinuidade floral;
extinção de espécies animal por perda de trocas
genômicas.
Propriedades exclusivas com Desmatamento. Perda de continuidade floral no
silvicultura. bioma ou em setores do bioma.
Propriedades agronômicas Prática incendiária na agricultura
pastoris
Propriedades familiares. Prática incendiária na agricultura
Escorregamento de encostas; escoamento
superficial descontrolado; indução à erosão;
Rodovias
poluição química; impedimento da circulação
hídrica; desmatamento; indução à conurbação.
Ferrovias Indução à conurbação.
Demanda de água; alteração das condições
hídricas para as biotas aquáticas; poluição
Hidrovias
eventual; alteração geomórfica das margens de
cursos d’água.
Poluição com resíduos sólidos e químicos;
Indústrias rurais indução ao desmatamento; agricultura intensiva
associada; demanda excessiva de água;
Impactos sobre a biota aquática;
desmatamentos; inundação de áreas diversas;
perda eventual de áreas agrícolas; perda efetiva
Grandes centrais hidroelétricas.
de áreas florestais extensas; alteração
desfavorável eventual sobre a vazão específica
dos cursos d’água.
Quadro 8.5 – Continuação de Propriedades rurais como entendidas neste estudo.

Aspectos marcantes consequenciais para


Propriedades Rurais
possível Degradação Ambiental

Mínimos impactos não mais do que inundação


de pequenas áreas, ou promoção de secagem de
Pequenas centrais hidroelétricas.
trecho a jusante do barramento.
Mini-centrais hidroelétricas. Não impacta, se comparada às grandes
Grandes barramentos Idem para grandes centrais hidroelétricas.
Pequenos barramentos Mínimos impactos.
Comumente indutora de escoamento superficial
Vias vicinais de terra batida
descontrolado; indução à erosão.
Riscos (apesar das normas existentes para
redução dos riscos) de poluição por
Postos de combustíveis hidrocarbonetos se as normas não forem
rigorosamente seguidas; poluição de alto risco
em especial em áreas kársticas.
Indução efetiva a esse tipo de expansão
comercial com o descuido comum no território
Comércio em geral em margens
do País; conseqüência com os resíduos sólidos
de rodovias
e líquidos; desbarrancamento para instalar
edificações.
Expansão urbana desorganizada a partir das
Conurbação em bordas de margens de rodovias, principalmente;
rodovias e ferrovias disposição inadequada de resíduos sólidos e
líquidos; desmatamento.

Tais certificações não são tratadas nesse projeto, embora sejam estudadas e estejam em
estado avançado de concepção. São, todavia os modos referenciais de se medir a
aplicação de boas práticas e os sucessos e insucessos das políticas de gestão derivadas
do conjunto de zoneamentos em relação ao Desenho de Uso Optimal (Figura 8.2).
Figura 8.2 – Procedimentos conceituais, metodológicos e administrativos necessários para a
Modelo de gestão de bacias hidrográficas e de propriedades rurais no âmbito de um sistema de
decisão para o planejamento e a revitalização; as certificações são citadas, mas não são alvo
desse projeto (Martins Jr., org, 2011).

IMPACTOS, DEGRADAÇÃO e TÉCNICAS de MITIGAÇÃO

O Quadro 8.6 aponta para as técnicas de mitigação. Essas devem ser alvo de três tipos de
avaliações:  (1) a viabilidade geo-ambiental (2) a viabilidade econômica e (3) poder
fazer parte de soluções ecológico-econômicas.
Quadro 8.6 – Impactos e ou degradação e indicações de mitigação necessárias.

Impactos e/ou Degradação Técnicas e Procedimentos

1 – Encrostamento localizados de 1 – Subsolagem e replantio em áreas isoladas de


solos. encrostamento.
2 – No caso do desmatamento
controlado deve-se exigir a 2 – Desmatamento autorizado com base em estudos de
manutenção da produtividade ou manutenção da interconectividade floral do bioma.
de construções adequadas
3 – Impedir o desmatamento com ação educativa e policial;
replantar nas áreas críticas indicadas no Desenho de Uso
3 – Desmatamento realizado de forma
Optimal do Território; cuidar da manutenção da circulação
descontrolada e não sistêmica.
hídrica em padrões próximos aos comandos da Natureza,
eventualmente como reinantes antes da intervenção humana,
(estudar aerofotos e/ou imagens de satélites mais antigas).
4 – Recomposição de corredores florestais ecológicos e
4 – Desmatamento extensivo e econômicos e conexão com remanescentes de maciços
aniquilador de ecossistemas. florestais e florestas de galerias; conservar os biomas em
áreas estratégicas; restaurar os biomas em áreas estratégicas;
restaurar os biomas em áreas estratégicas.
5 – Retomada do uso da terra em termos de facilitar a
5 – Ruptura do processo de infiltração da água pluvial ou o impedimento e plantio
infiltração da água pluvial nas dessas áreas; garantir a infiltração nos vários tipos de zonas
zonas de recarga dos aquíferos de recarga e áreas precisas de recarga, incluindo os aquíferos
subterrâneos. de transição rasos; identificação dos tipos de fontes e
cercamento dessas áreas.
6 – De difícil a quase impossível de se realizar; importa em
isolamento de áreas e uso de técnicas de recuperação de
metais; técnicas de bio-remediação tais como biopilha
(técnica ex situ da massa de solo), biodegradação
6 – Comprometimento de solos e
microbiona (landfarming) aplicado a derivados de petróleo,
sedimentos com metais pesados.
extração de vapor do solo – EVS (remediação in situ
extração de gases), incineração (a altas temperaturas (870
a1. 200°C), dessorpção térmica (tecnologia ex situ que
utiliza energia térmica para separar fisicamente os
hidrocarbonetos).
7 – Diminuição das vazões 7 – Problema que deve ser averiguado ante as oscilações
específicas de curto, médio e cíclicas da pluviosidade para se avaliar efetivamente a perda
longo prazo. de volume das vazões específicas.
8 – Estudo de áreas, relações causais e forma de atuação de
8 – Processos erosivos em vários mudar o uso da terra; trabalhar as áreas erodidas para
estágios de adiantamento. interromper processo em crescimento; recuperar áreas
segundo níveis de possibilidades.
9 – Expandir a aplicação local de subsolagem para grandes
9 – Extensas áreas com
áreas com criterioso método de replantios / reflorestamentos
encrostamento de solos.
(técnicas diversas como: transposição de bancos de
sementes, plantios diretos de plântulas etc.).
10 – Poluição pontual proveniente de
10 – A ser corrigido pelo sistema de saneamento urbano, e
áreas urbanas e de indústrias
aplicação da legislação ambiental vigente.
sobre os cursos d’água.
Quadro 8.6 – Continuação de Impactos e ou degradação e indicações de mitigação necessárias.

Impactos e/ou Degradação Técnicas e Procedimentos


11 – Contrôle somente possível com educação e controle dos
11 – Poluição difusa das atividades
produtores e de aplicação de outros procedimentos para
agropastoris.
manejo em pastagens e currais.
12 – Enrijecimento de solos com
pisoteio de gado sem ser
12 – Tema sem solução se o gado pisotear; a solução está em
necessariamente correspondente
algum tipo de semiconfinamento; nas áreas degradadas a
ao encrostamento, fato que ocorre
subsolagem e o replantio devem ser a solução.
nos caminhos de pisoteio do
gado.
13 – Exploração indevida de 13 – Desfazer o mal-uso e trazer as Veredas às condições
Veredas. originais dentro das fazendas.
14 – Represamento de Veredas pelas 14 – Desfazer os barramentos e adequar as rodovias com
rodovias. pequenas pontes ou tubulações que perpassem as Veredas.
15 – Ressecamento definitivo de 15 – Refazer a circulação hídrica com uma reorganização do
áreas de inundação permanente e campo e do sistema produtivo agrário em todas as áreas
de áreas de inundação periódicas. impactadas.
16 – Produção de descontinuidade
16 – Reintegrar as matas remanescentes com corredores
floral ao longo do bioma com
florestais ecológicos e ecológicos-econômicos.
remanescentes de matas isoladas.
17 – Construção inadequada de 17 – Readequar os barramentos e em último caso
barramentos de quaisquer tipos. desconstrui-los.
18 – Desenvolver programa educacional para modificar a
18 – Queimadas de origem antrópica. atitude das pessoas; manter as bordas das rodovias livres de
matas e de palha, apesar de ser de difícil controle.
19 – Impedimento dos processos 19 – A implantação de corredores florestais, que interliguem
reprodutivos das espécies de núcleos florestais e florestas de galerias serve para as trocas
animais existentes no bioma. genômicas.
20 – A poluição pontual deve ser corrigida mediante a forma
da Lei e a poluição difusa deve ser pesquisada e agir-se
20 – Poluição pontual a difusa,
sobre os agentes rurais para mudança de cultura e de
provenientes de indústrias rurais.
práticas.

21 – Revisão de todas as vias com identificação dos locais


de indução da erosão e aplicação das correções devidas,
21 – Indução à erosão propiciada pela como por exemplo, como a construção de barragens de
construção de vias. contenção do escoamento superficial; exigência do órgão
responsável de apresentar plano para evitar e/ou corrigir o
processo erosivo.
22 – Poluição derivada das vias seja
22 – Trata-se do controle dos postos de combustíveis e de
pelos próprios transportes ou por
quaisquer obras de engenharia ao longo das estradas,
atividades comerciais e
conforme a Lei.
residenciais ao longo das vias.
23 – Neste caso realizar o plano do Desenho de Uso Optimal
do Território e readequar as atividades agrícolas segundo o
23 – Agricultura intensiva fora de
Plano; plantar, sempre que for o caso, em curvas de níveis e
planejamento do desenho de uso
usar também sistemas de muros de pedras ao longo das iso-
optimal do território.
ipsas de plantio para segurar ao mesmo tempo – a água
pluvial, solos e nutrientes.
9
IMPACTOS AMBIENTAIS e DECLÍNIO ECONÔMICO
– Gestão de Bacia Hidrográfica –

Sexta Fase de Auxílio à Decisão sobre o Uso da Terra

Palavras-chave: relação ambiente economia; economia física; economia eco-sistêmica,


economia financeira; customização; Vale do rio São Francisco.

As características da degradação ambiental são variadas, mas têm número limitado e,


portanto, não deixam de ser cruciais para a existência da vida na Terra. Os subsistemas
que são mais diretamente atingidos são:
(1) solos
(2) a circulação hídrica
(3) a atmosfera
(4) a qualidade da água
(5) a variação estocástica da água em uma bacia hidrográfica / água subterrânea e
superficial
(6) o clima e o micro clima
(7) as rochas
(8) a vida vegetal
(9) a vida animal
(10) os corpos d’água
(11) os reservatórios subterrâneos de água
(12) o bioma como um todo e os ecotopos (Bedê et al. 1997),
(13) os ecossistemas em particular e
(14) os mares e oceanos.

O tema preservação, conservação e degradação fazem parte do processo de se


compreender a bacia hidrográfica, o bioma e a circulação hídrica como temas abrangentes
de modo a se poder integrar uma visão de suporte à elaboração do mapa do futuro. Esses
três temas devem ser mapeados a parte como suporte ao desenvolvimento do instrumento
final, que é o mapa do futuro. Não obstante, o mapa do futuro DUOT e os mapas cenários
não são mapas de auxílio à decisão sobre o que mitigar e como mitigar, temas esses que
fazem parte dessa quinta fase de apoio à decisão.

CARACTERÍSTICAS da DEGRADAÇÃO AMBIENTAL

São diversas as características da degradação nos vários sistemas naturais. A degradação


pode ocorrer em diversos níveis de amplitude, incluindo aí a extensão territorial, a
profundidade na dinâmica sistêmica, a quebra das estruturas dinâmicas no espaço
topológico de relações entre os substratos, a vegetação e os animais e a destruição
generalizada. A alteração da qualidade pela inserção de substâncias químicas tem um
lugar especial no processo de degradação.

Segue, portanto, uma lista desses processos para os quais as alterações na Natureza têm e
repercutem de modo efetivo nas condições econômicas de uma nação e não menos no
sistema planetário.

⇒ não conservar solos

[perda de nutrientes / erosão laminar / erosão acelerada]

⇒ não conservar água

[romper com o sistema de recarga ou infiltração nas zonas de recarga / favorecer o


aumento do escoamento superficial maior do que a condição natural das relações
anteriores reinantes entre plantas / solos / circulação hídrica]

⇒ não conservar as qualidades químicas da água e dos solos

[poluição da água subterrânea pela infiltração progressiva de NPK e de biocidas]

[poluição progressiva dos solos que permite infiltração após um número de anos para
a circulação hídrica – NPK, metais pesados]

⇒ Destruição do bioma e da cadeia da vida

[descontinuidade floral dos ecossistemas vegetais, por ex. do Bioma regional –


Cerrado]

[isolamento da fauna em pequenas áreas com desaparecimento previsível da


população total de uma região em dezenas a poucas centenas de anos]

[com a degradação intensiva de solos tendo como resultado a impossibilidade da


vegetação se recompor espontaneamente]

[com a destruição da fauna nos diversos níveis da cadeia trófica possibilita o


surgimento de domínio de animais mais resistentes e sobreviventes, e que podem vir
a se transformar em pragas]

⇒ Impactos sobre os cursos d’água e corpos d’água em geral (como pode ser observado
na Figura 9.1).

[assoreamento ou colmatação de cursos d’água, de barragens, lagoas, destruição de


áreas de inundação]

[diminuição progressiva da infiltração nos aquíferos subterrâneos]


[escoamento massivo da água anual nos períodos de chuva e imediatamente pós-
chuvas]

⇒ Impactos sobre os cursos d’água e corpos d’água em geral

[diminuição da quantidade de água em circulação nos períodos naturalmente secos


do ano]

[diminuição da circulação hídrica em geral ao longo dos anos]

1 2

3 4

Figura 9.1 - Bacia do rio Urucuia no Noroeste de MG - Córrego Campo Grande (1, 2) e córrego
da Grota Seca (3 e 4) (Fotos cedidas por Eng. Júlio Ayala, EMATER).

IMPACTOS no ÂMBITO de MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Eis um tipo de impacto sobre quantidade de água em circulação cujos resultados saíram
em estudo no ano de 2009 no “Journal of Climate” da Sociedade Meteorológica
Americana que publicará estudos sobre os 925 maiores rios do planeta – A pesquisa foi
realizada no “National Center for Atmospheric Research” com dados coletados entre
1948 e 2004 (Aiguo et al., 2009). Os resultados sobre rios do Brasil são em síntese os
seguintes: (1) a bacia do São Francisco com perda de 35% da vazão (2) a bacia do
Amazonas com perda 3,1% (3) a bacia do Paraná com aumento de 6,0% e (4) a bacia do
Tocantins com de aumento 1,2%

Assim, pode-se resumir os maiores impactos ambientais sobre a Natureza diretamente


no Brasil, que são:

1 – Formação de ciclone extra-tropical na região de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.


2 – Fortes e prolongadas secas com diminuição de precipitação na Região Nordeste e
Norte de Minas Gerais.
3 – Aumento de chuvas com tempestades e aumento expressivo de volumes d’água em
várias partes do País.
4 – Fortes contrastes regionais e sub-regionais entre os períodos secos e os períodos
chuvosos com situações extremas em ambas as circunstâncias.

Essas situações ocorrem de modo oscilante e pode-se também estar vivendo entre ciclos
de funcionamento da atmosfera, combinados com as previsões acima indicadas.

SISTEMAS HÍDRICOS e CIRCULAÇÃO HÍDRICA

O sistema de circulação hídrica é de particular importância no processo de conservação


da bacia hidrográfica e já é alvo de estudo fora do escopo desse projeto sob o enfoque de
Certificação da Qualidade Geo-ambiental da Circulação Hídrica. O sistema hídrico pode
ser considerado crítico na manutenção da preservação e/ou da conservação da bacia e
também do(s) bioma(s). A circulação hídrica pode ser definida como:

 o conjunto de trocas de massa, energia e informação que flui por todo o planeta na
atmosfera, hidrosfera, biosfera e litosfera, tendo a água circulando nos quatro estados
físicos – sólido, líquido, vapor e plasma; a circulação em seres vivos deve fazer parte
do processo geral bem como a circulação nas obras humanas, apesar das peculiaridades
desses dois fatos.

PROBLEMAS

Em função da ampla ocupação agrícola e pastoril da bacia do Paracatu, a classificação


em “áreas-tipo hídricas” favorece criar o estabelecimento de geocritérios dominantes para
cada área (Figura 9.2). Do ponto de vista da gestão geo-ambiental existem diversos
aspectos ecológicos e de circulação hídrica que se imbricam e implicam em cuidados
especiais:
(1) cada área-tipo merece trato agro-ambiental com alguns itens de especificidade;
(2) erros se acumulam pela inexistência conceitual e prática de licenciamento de projetos
agrícolas em termos geo-ambientais, além dos licenciamentos baseados em aptidão
agrícola e agroclimatologia do Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária –
M.A.P.A.;
(3) a outorga de uso de recursos hídricos não capta, como legislação e práticas, os aspectos
aqui tratados;
(4) à relação quantidade d’água deve-se incluir não somente a questão qualidade das
águas, mas também a tipologia e topologia das áreas homogêneas de circulação, das
áreas especiais onde se densificam características como áreas de recarga, áreas de
exsudação e/ou corpos d’água especiais e
(5) faz-se necessário o desenvolvimento de modelos de gestão hídrica e geo-agrícola
integrados.

Figura 9.2 – A caracterização de áreas-tipo hídrica deve ser realizada em diversas escalas de modo
progressivo para se definir os macro-ambientes e os sucessivos ambientes dentro de cada macro
ambiente; nessa figura são apresentados macro-ambientes em uma perspectiva regional; as
zonas de recarga não são indicadas (escala original 1:250.000 - Projeto CRHA, 2006 – Coord.
Martins Jr.).

MOBILIZAÇÃO INTERNA em BACIAS sob QUALQUER TIPO de CLIMA

Os aspectos ecodinâmicos considerados em seguida são referência para se observar a


estabilidade ambiental de uma bacia e, portanto, têm interesse econômico. A relativa
estabilidade dos mesmos são bons indicadores de conservação ambiental, quando
comparados com o uso da terra.

(1) evapotranspiração
(2) produção / manutenção de umidade relativa
(3) infiltração em solos e aquíferos
(4) escoamento superficial total
(5) escoamento superficial imediato pós-chuvas
(6) retenção em aquíferos
(7) trocas dos aquíferos com os cursos d’água
(8) escoamento superficial, embora com valores médios anuais mantidos, mas com
descontrole por incremento excessivo na estação chuvosa
(9) perda universal de solos
(10) condições de conservação das zonas de recarga dos aquíferos
(11) todo tipo de erosão
(12) colmatação de barragens, lagos e pântanos
(13) trocas eólicas
(14) trocas por glaciares
(15) desertificação
(16) salinização de solos e/ou de fundos de lagos ressecados
(17) trocas de gazes com a atmosfera
(18) produção de folhedo (serapilheira)
(19) a produtividade primária (Gersmehl, 1976) e, em referência a outros aspectos, que
não sejam necessariamente ligados ao clima, tem-se ainda:
(19 - 1) a vida animal e a cadeia trófica total e
(19 – 2) o aumento ou a diminuição da área total vegetada, que podem ambos
(19 – 3) também podem ser afetadas pelo clima e seus agentes.

CARACTERÍSTICAS da DEGRADAÇÃO ECONÔMICA

A degradação econômica pode muito bem ser apreendida pelo conceito de


irreversibilidade ambiental. Nessa condição limite, que pode ser limite de um ponto de
vista da própria Natureza ou também das condições técnicas e financeiras para se executar
projetos de mitigação tem-se estabelecido os limites da irreversibilidade nas várias
situações. Assim, esboça-se primeiramente pelo lado dos aspectos naturais a
irreversibilidade nos sistemas naturais como acima visto, e se procura indicar pelo lado
dos aspectos econômicos quais são e como podem ser esses limites de irreversibilidade.
Isto é verdadeiramente geoeconomia.

ECONOMIA FÍSICA

Do ponto de vista da Economia, conecta-se a Economia física aos valores de terras que
apresentam as seguintes relações centrais:

1- Perda efetiva de valor da qualidade agrícola das terras.

Esses três aspectos são mensuráveis em escala de detalhe, a saber, pelo relatório de custos
crescentes com a agricultura, ou pela análise do estado do grau de uso da terra e seu estado
de contínuo uso agrícola.

Tais análises são necessárias em relação aos valores de custos de todas as técnicas de
restauração, incluídas as dos usos e consumos de insumos e de biocidas, bem como de
irrigação. A irrigação, todavia, tem significados distintos e o que importa saber é se a
irrigação utilizada veio a ser pelo efeito da diminuição da quantidade de água em função
das culturas que são utilizadas. Nesse caso as culturas que foram utilizadas ou ainda o são
ou as novas culturas implicará uma análise da demanda efetiva por água por ha

2 – Perda efetiva da qualidade de produtividade da terra seja com insumos seja sem
insumos como no plantio direto.

Muitas vezes pode-se ter noção da produtividade em dada fazenda e nas glebas de terra.
Quando possível é bom se observar as perdas de produtividade em sucessivos seja quando
o agricultor use insumos ou mesmo com o uso da técnica de plantio direto. O valor desse
indicador pode ser dado pelo aumento de custos por hectares nos plantios, feitas todas as
correções para cada cultura com suas exigências, os plantios em cada parte do terreno ao
longo do tempo e/ou com ou sem interrupções.

3 – Perda de valor pela desqualificação da possibilidade de prolongamento de uso da terra


pelos descendentes e outras pessoas.

Essa noção é temporal e implica as outras duas. Nesse caso deve-se estabelecer uma
prospectiva em caso de declínio de condições de plantios e alguma previsão de perda de
produtividade pelos anos vindouros, o que pode ser obtido por uma previsão de perda
pelo esgotamento da terra em processo. O esgotamento da terra é mensurável por
medições de perda de nutrientes in natura, e aumento progressivo do uso de insumos.

ECONOMIA FÍSICA como ECONOMIA ECOSSISTÊMICA

A Economia Física deve ser também vista como aquela que traduz as relações de trocas
no planeta como um todo e nas bacias em específico. Nesse sentido as trocas são de massa,
energia e informação. Os estudos de Análise Exergética (Georgescu-Roegen, 1971;
Ayres, 1998) e os de Análise Emergética (Odum, 1996) são seminais e servem de
referência para esse tipo de trato da questão relativa à Economia Física.

CARACTERÍSTICAS da DEGRADAÇÃO ECONÔMICA

Na ECONOMIA FINANCEIRA

1 – Perda progressiva do valor financeiro da terra.

As terras bem estudadas podem-se aplicar noções de valoração financeira, que


dependem da forma de uso que se pretenda dar. Em caso agrícola uma referência seria
o próprio projeto de uso e seu custo, caso se precise reelaborar a terra com custos de
mitigação, com aplicações de insumos em diferentes projetos de plantios simulados.
Essas necessidades podem indicar perdas progressivas de produtividade e assim servir
como índices de valoração da terra.

2 – Perda crescente da produtividade.

A perda de produtividade serve como excelente unidade de observação ressalvada não


ter ocorrido mudança expressiva de técnicas de plantio, de culturas e de cultivares,
menos exigentes; nesse as análises devem ser feitas para anos diferentes cultura a
cultura em face da complexidade ambiental de cada cultura.

3 – O balanço simples do aumento da necessidade de maior consumo de insumos e


biocidas com aumento de custos serve uma visão integral.

4 – Maiores dificuldades em obtenção de financiamentos na rede bancária são indicadores


de interesse para avaliação de irreversibilidade no ambiente financeiro, juntamente
com as dívidas públicas e privadas.
Na MACROECONOMIA NACIONAL

Dentro da perspectiva macroeconômica deve-se considerar que os efeitos de


irreversibilidade ambiental são cumulativos e se apresentam como efeitos de destruição
de potenciais, logo como irreversibilidades econômicas.

1 – Destruição sistemática da terra mãe; essa situação deve ser considerada sobre grandes
extensões territoriais, como é o caso típico do Brasil (Figura 9.3).

Figura 9.3 – Evolução do espaço antropizado nos períodos de 1964, 1989, 2005 e cobertura nativa
remanescente em 2005, na parcela mineira da área de estudo. Histórico do desmatamento nos
divisores de águas dos rios Paracatu, São Marcos, Alto Paranaíba e São Bartolomeu (Carneiro
et al., 2009)

2 – Diminuição do potencial agrícola que mantém a Nação; nesse caso, no Brasil, as


condições de diminuição não são percebidas em virtude das frentes agrícolas e da
devastação de florestas nos vários biomas serem ocupadas como novas áreas agrícolas;
todavia, a perda de florestas pode significar em determinado prazo a perda de terras,
mesmo para a agricultura como no caso do Estado do Rio de Janeiro durante o Império e
República Velha na qual as terras usadas para produção de café e laranja foram
desvitalizadas e inutilizadas para a agricultura, ademais da destruição de expressiva
parcela do bioma da / Floresta Atlântica.

3 – Impacto sobre os preços dos alimentos; nesse caso o histórico, que não dos melhores,/
tem sido controlado pela abundância advinda do desenvolvimento tecnológico na
agricultura e o aumento de produção no País, embora que sem aumento de uso de terras,
mas uma vez que essas terras foram desmatadas arbitrariamente sem um planejamento de
uso da terra a luz de algum conceito de época equivalente ao conceito de Desenho de Uso
Optimal do Território.

4 – Impactos sobre a moeda nacional com mais inflação.

5 – Destruição do futuro para as próximas gerações que vão nascer e aquelas já


nascidas.

AUMENTO do IMPACTO SISTEMÁTICO sobre a ATMOSFERA

1 – Aumento da emissão de gás carbônico para a atmosfera.

2 – Aumento da temperatura ambiente média global.

3 – Perda da capacidade de plantar diversas espécies de plantas domésticas na área do


bioma Cerrado e dos outros biomas.

4 – Aumento das secas e/ou aumento das chuvas tempestades brutais.

5 – Variação forte da circulação atmosférica com impactos de chuvas torrenciais, secas,


ventos, ciclones extratropicais e aquecimento regionais.

Dos PENSAMENTOS ECONÔMICO e ECOLÓGICO

As perguntas abaixo que seguem têm virtude de importância e para respondê-las, ou


melhor, para tratá-las bom é apresentar-se parâmetros para responder. Na visão da
Economia e no âmbito das condições de preservação, conservação e degradação
ambientais esses três temas devem ser tratados no contexto da abordagem dos "custos
irrecuperáveis" (sunk cost).

Em um esforço de classificação preliminar, podemos destacar dois grandes campos


temáticos para desenvolver os modelos de custos irreversíveis, sunk cost, que são:

1) Os custos de revitalização e os custos de preservação são duas possibilidades


vislumbradas no contexto dos "custos irrecuperáveis" (sunk cost).

2) Há necessidade de mais investimentos para revitalizar do que para preservar e para


conservar?

3) Qual(ais) a(s) estratégia(s) que melhor atende(m) ao conceito de sustentabilidade


ambiental?
Essas questões são colocadas para o âmbito das bacias hidrográficas de per si.

 Qual o custo de revitalizar e/ou preservar as bacias?


É, ao final de contas, uma pergunta radical e final, de per si.

 Revitalizar e/ou preservar as bacias são estratégias garantidoras da rentabilidade das


atividades econômicas dependentes dentro das bacias?

 Qual a melhor estratégia para determinada bacia?

O sentido das perguntas acima é de contextualizar os conceitos aplicados ao caso da


degradação de bacias. Nesse sentido, no capítulo 14 introduz-se a noção nova de
“Customização de Bacias Hidrográficas”. Para tanto, as atividades rurais devem ser
incluídas na abordagem sobre a bacia hidrográfica. Mas, de que forma?

Tem-se como evidente a relação imediata entre a dependência das atividades produtivas
agrícolas, localizadas na bacia, e os recursos hídricos disponíveis que se pode considerar
um fator crítico. Em assim sendo, a pergunta que se segue é:

 Qual tem sido o custo ambiental, nos termos da bacia, dessas atividades agrícolas?

 Ainda são viáveis no âmbito da Bacia, coeteris paribus?

Há necessidade de investimentos crescentes para viabilizá-las, com novas técnicas, por


exemplo, ou não há necessidade de se realizar novos investimentos para incorporar novas
áreas produtivas ou adotar o uso intensivo das áreas atuais?

Essas três últimas questões apontam e/ou configuram, de fato, para investimentos em
revitalização ou para preservação ou também conservação ambiental (de recursos
naturais), em processo de exaustão ou não.

As repostas indicarão se são necessários investimentos de quaisquer ordens para a


reprodução continuada dessas atividades na região. Tal fato depende da situação
predominante no nível de exaustão dos recursos, principalmente de recursos hídricos.

O diagnóstico do “Estado da Conservação da bacia” tem importância fundamental daí a


necessidade de um diagnóstico da situação das bacias em detalhes, isto é, na escala de
1:10.000. Tais diagnósticos podem ser feitos no âmbito dos zoneamentos ecológicos e
dos zoneamentos econômicos e devem ser apresentados na Roda do organograma de
Rodas de Correlações e Impacto – ORCI, denominada “Estado de Conservação” do
respectivo organograma de cada bacia. É importante que se possa chegar a uma visão de
quantos anos ainda restam de exploração desses recursos ambientais.

O fator tempo de exploração possível remanescente pode, em parte, ser apreendido pelos
custos crescentes de exploração desses recursos conforme aplicados pelos produtores
rurais. A relação |escala de utilização desses recursos naturais por essas atividades
econômicas| e a relação |custos de investimentos / dispêndios como custos ambientais| em
relação aos ganhos com a venda da produção explicitam de modo claro, ao longo do
tempo, o processo de impactos e de degradação das condições de produção e de
produtividade. Podemos denominar como ‘custos ambientais crescentes’ na forma de
remediação dos impactos ambientais.

Outra pergunta importante é se:

 Já existe atividade produtiva que não é mais viável economicamente no âmbito da


Bacia?

Somente uma avaliação (diagnóstico) em profundidade da região poderá responder a


essas perguntas. Não se deve esquecer que essas perguntas são gerais, apesar de
perfeitamente bem enfocadas.

Em todos os casos necessita-se testar a teoria de custos irreversíveis no caso específico


de cada bacia em um contexto de ambiente econômico local, regional, nacional e
internacional, conforme sejam os casos em questão. É necessário que a Teoria de custos
irreversíveis possa dar conta de ter a questão ambiental como internalidade tanto quanto
a questão da comercialização. Aquela pode se apresentar como custos crescentes,
enquanto essa pode se apresentar como ganhos estáveis ou mesmo decrescente no
ambiente mercadológico.

Não se deve esquecer que todos esses estudos tratam de um diagnóstico para
customização (custo de degradação) da Bacia Hidrográfica, customização da exploração
econômica da Bacia e não customização das atividades. Essa customização é o fator da
viabilidade e conservação das condições de economicidade da bacia hidrográfica.

As formas de exploração de seus recursos ambientais pelas atividades produtivas,


principalmente os recursos hídricos disponíveis, podem estar inviabilizando a exploração
continuada desses recursos da Bacia.

O conceito de customizar a exploração da Bacia torna-se assim central no processo de


determinação do “Estado de Conservação da Bacia” e da “Prospectiva de Exploração
Continuada”. Não se deve esquecer esse ponto fundamental. A proposta focal é de
‘customizar a Bacia e não as atividades em si’. O importante é customizar a Bacia no
sentido da exploração econômica dos recursos naturais constitutivos e seus impactos
ambientais.

A customização da Bacia não é um caso de somatória dos custos de exploração das


atividades agrícolas e seus respectivos impactos ambientais, lembrando a ideia de custos
irrecuperáveis (sunk cost) para esses impactos, degradação. Muitas atividades produtivas
podem não mais serem recomendáveis, por já terem degradado em muito a Bacia,
segundo o conceito de customização da Bacia. Isto obrigará a uma revisão de cenários
produtivos no Desenho de Uso Optimal (DUOT) da bacia.

Do ponto de vista das atividades produtivas pode-se e deve-se tratar dos casos viáveis,
apesar do nível de degradação da Bacia em que essa estiver, mas que são ainda rentáveis
economicamente. Não seria o caso de se dar um viés de mitigação à própria atividade
econômica conforme os casos e quando possível?

Já do ponto de vista da customização da Bacia, a atividade pode ser considerada inviável,


especificamente do ponto de vista da forma de exploração dos recursos naturais da Bacia
cujo fator limitante é a degradação irrecuperável, ou a geração custos irrecuperáveis.

Com essas considerações, avança-se mais alguns degraus na conceituação de


customização das Bacias Hidrográficas, ou o que são os custos irrecuperáveis, (sunk cost)
para a Bacia. Esse modo de teorizar é adequado para o diagnóstico e para a “customização
de bacia”.

CONSIDERAÇÕES DELIMITANTES sobre CUSTOMIZAÇÃO

Temos que tornar esses conceitos bem nítidos na aplicação específica em cada caso. Logo
o conceito de customização deve ser universal e amplo o suficiente. Este é o teste de
consistência da teoria e de sua aplicação prática.

Pode-se não responder a tudo, todavia, pode responder parcialmente ou em termos


relativos, o que vem enriquecer as noções cartográficas e conceituais de Desenho de Uso
Optimal do território da bacia e também os conceitos de Estado da Preservação e Estado
da Conservação.

Pode significar uma efetiva capacidade de expressar a avaliação do estrago que atividades
produtivas impactam no meio ambiente gerando sunk cost para a Bacia.

É o custo (sunk cost) do meio ambiente que está sendo customizado, de fato, para a Bacia.
É o custo de meio ambiente ou a customização da Bacia Hidrográfica, ou custo
irreversível (sunk cost) da bacia, ou custo da degradação ou ainda estimativa da avaliação
econômica dessa degradação.

CONCLUSÕES

Nesse capítulo percorreu-se o tema da degradação sob os pontos de vista geo-ambiental,


biológico e econômico com o propósito de estabelecer uma visão integrada. Ficou
evidente que existem enfoques que permitem essa integração, tanto pelo lado da Natureza
quanto da Economia. As noções de Conservação, Preservação e Degradação são
determinantes e nesse sentido os tipos de degradação foram efetivamente considerados.

Identificou-se 25 tipos de impactos, cujas formas de produzi-los podem ser diversas, isto
é, por agências diferentes, mas cujos resultados vêm a ser equivalentes, mesmo que os
agentes possam ser diversos.

Os impactos se distribuem por áreas do terreno, isoladas ou contínuas, pequenas ou


grandes. Os impactos podem ser expressos por um indicador de intensidade, que seria
nesse caso uma medida quantitativa da qualidade negativa da amplitude do impacto,
medida essa que deve ser expressa como uma medição semiquantitativa. Desse modo,
deve-se estabelecer um índice geral dessas intensidades. Esse índice, por outro lado, deve
ser associado à amplitude da área de ocorrência e assim chegar-se a um índice de impacto
ou de degradação, que permitirá de um modo reverso expressar o ‘estado de Conservação’
da bacia, ou o ‘estado de Degradação’.

Os impactos podem se desdobrar de vários modos dentro dos vários ecossistemas e


geossistemas, e em ambos os casos de formas articuladas. Esses aspectos devem ser
considerados nas notas atribuídas aos estágios dos impactos.

DESAFIOS sobre a REVITALIZAÇÃO do VALE do Rio SÃO FRANCISCO

Este é um texto complementar no qual se aplica a visão deste capítulo para descrever o
que sucedido no Vale do rio São Francisco. Este vale é um dos mais notáveis entre as
bacias hidrográficas da América do Sul. Participa quase totalmente do bioma Cerrado e
outra parte no bioma Caatinga e abriga ricas terras com agricultura intensiva,
florestamento com Eucalyptus spp, grandes indústrias, minerações, a região
metropolitana de Belo Horizonte, muitas cidades, hidroelétricas e outros aspectos da
economia nacional.

A ocupação histórica do Vale, e em particular desde a década de 1970, quando se


entendeu em como lidar com os solos do Cerrado tornou-se perigosamente drástica para
o equilíbrio ambiental da região, com impactos diversos ao longo de todo o território do
vale.

Em estudos realizados no “National Center for Atmospheric Research” com dados


coletados entre 1948 e 2005 apresentados em 2009 no “Journal of Climate” da Sociedade
Meteorológica Americana sobre os 925 maiores rios do planeta (Aiguo et al., 2009), para
bacias do Brasil obtiveram a seguinte descrição:

• a bacia do São Francisco com perda de 35% da vazão.

Estes resultados coincidem com as reclamações e constatações já ocorridas em múltiplas


reportagens pela TV sobre o estado do talvegue do rio São Francisco, que em muitos
trechos perdeu profundidade de 6m para 1m, impossibilitando qualquer tipo de
navegação. Enquanto a perda de vazão é perceptível por estudos climatométricos, mas
outros impactos são parte fundamental do processo de perda de vazão:

Martins Jr. (2012, in Projeto SACD) especificou um método para tratar com impactos em
bacias hidrográficas e neste são indicadas três tipos de variáveis macro, a saber: (1) a área
do impacto, não importando de qual tipo (2) a intensidade do impacto e (3) a repercussão
do impacto nas formas de impactos sucessivos. Na Tabela 9.1 foram selecionados dos 25
tipos de impactos básicos 17 tipos que ocorrem de modo intensivo em todo o vale do rio
São Francisco.

Tabela 9.1 – Tipos de impactos que ocorrem extensivamente no Vale do rio São Francisco (org.
Martins Jr, 2012), constituindo um estado de catástrofe ambiental.
Impactos Típicos Características de Repercussão
1 – Encrostamento e adensamento 1 - geralmente local quando em início de processo.
localizado de solos
2- aumenta o escoamento superficial durante
chuvas.
2 – Desmatamento controlado segundo 1 – impacto de perda florestal.
critérios de legítimo uso da terra com 2 – espera-se, se produzir impactos, seja sem
conservação de sistemas naturais repercussão.
1 – produz perda de espécies ou atua nessa direção.
3 – Desmatamento realizado de forma
2 – aumenta possivelmente a descontinuidade floral.
descontrolada e não sistêmica
3 – pode afetar a circulação hídrica.
1 – contribui para o fim de ecossistemas locais ou
de pequena extensão.
4 – Desmatamento extensivo e 2 – compromete a existência da fauna.
aniquilador de ecossistemas 3 – aumenta a descontinuidade floral.
4 – pode afetar a circulação hídrica.
5 – pode atuar como indutor de erosão.
1 – aumenta o escoamento superficial durante
chuvas e pós-chuvas.
5 – Ruptura do processo de infiltração 2 – diminui a infiltração.
da água pluvial nas zonas de recarga 3 – compromete a quantidade de água reservada.
dos aquíferos subterrâneos 4 – pode induzir a erosão.
5 – pode favorecer conforme o caso a facilitar a
infiltração de biocidas e NPK.
1 – essa diminuição pode resultar de impactos na
circulação hídrica.
2 – pode ser resultante de diminuição do processo
7 – Diminuição das vazões específicas
de infiltração.
de curto, médio e longo prazo.
3 – pode ser derivada de mudança climática.
4 – pode ser conjugada as relações dos itens 1, 2 e 3
ao mesmo tempo.
1 – perda de solos produtivos.
2 – perda universal de solos acelerada ainda que
sem erosão explícita.
8 – Processos erosivos em vários
3 – instabilidade com impactos sobre obras
estágios de adiantamento
humanas.
4 – desastres coletivos sobre obras humanas.
5 – perdas de vidas humanas.
1 – aumento expressivo de escoamento superficial.
2 – perda expressiva do processo de infiltração.
9 – Áreas extensivas com
3 – perda de nutrientes de solos.
encrostamento de solos
4 – perda de produtividade agrícola, pastoril e
florestal.
1 – produção de caminhos nas vertentes.
12 – Enrijecimento de solos com 2 – endurecimento progressivo dos caminhos.
pisoteio de gado 3 – endurecimentos do solo na pastagem.
4 – eventual aumento de escoamento superficial.
1 – efeitos na circulação hídrica
13 – Exploração indevida de Veredas 2 – efeitos na variação da quantidade de água para
menos, pelo aumento de evaporação
1 – aumento de evaporação.
14 – Represamento de Veredas pelas
2 – destruição do ecossistema associado.
rodovias
3 – morte dos Buritis.
Tabela 9.1 – Continuação de Tipos de impactos que ocorrem extensivamente no Vale do rio São
Francisco (org. Martins Jr, 2012), constituindo um estado de catástrofe ambiental.

Impactos Típicos Características de Repercussão


1- morte do ecossistema associado.
2 – impacto sobre a circulação hídrica.
15 – Ressecamento definitivo de 3 – diminuição das vazões específicas.
áreas de inundação permanente e
também de áreas de inundação
periódicas
1 – impactos sobre a reprodução da vida animal.
2 – perda de espécies.
3 – impactos sobre a flora que permanecer
16 – Produção de descontinuidade
existente.
floral ao longo do bioma com
4 – destruição progressiva do bioma.
remanescentes de matas isoladas.
5 – alteração possível da circulação hídrica.
6 – impactos possíveis sobre o solo.
7 – eventualmente favorece erosão.
1 – inundação que pode destruir ecossistemas e
ecotopos.
2 – perda de área agrícola.
17 – Construção inadequada de 3 – perda de área florestal.
barramentos de quaisquer tipos. 4 – perda de áreas urbanas e de propriedades
rurais.
5 – perda de patrimônio intangível como a
paisagem.
1 – propagação de incêndios de grandes
proporções.
2 – perda de espécimens da fauna.
3 – perda de amplas áreas de vegetação natural.
18 – Queimadas de origem antrópica 4 – perda de obras humanas.
5 – poluição atmosférica.
6 – aumento de CO2 na atmosfera.
7 – favorecimento de doenças alérgicas e
respiratórias.
19 – Impedimento dos processos 1 – morte progressiva da fauna nas localidades.
reprodutivos das espécies de animais 2 – extinção de espécies nas localidades.
existentes no bioma.
1 – erosão nas vertentes para fora da estrada.
2 – erosão de vertentes sobre a estrada.
21 – Indução à erosão propiciada 3 – erosão da própria estrada.
pela construção de vias. 4 – desestruturação da paisagem.
5 – perda de solos.
6 – aumento de sedimentos em circulação.

Ao se obter confirmação estrangeira sobre bacias hidrográficas do mundo e a propósito


da bacia do São Francisco entre as 925 maiores bacias do planeta fica evidente que o
resultado previsto no impacto numerado na Tabela 9.1 com o número 7 é, portanto, um
resultado final de todo um processo integrado de destruição ambiental que envolve
exatamente os 17 tipos mostrados acima.
Não se tem conhecimento pleno da distribuição desses tipos de impactos em todas as sub-
bacias de modo sistemático de tal forma que se possam tomar decisões absolutamente
consistentes e não um tanto ao modo de julgamentos sobre questões locais como tem sido
o caso. A visão integrada de bacia hidrográfica tem faltado em apesar dos Planos de
Recursos Hídricos feitos para várias bacias, longe está de se ter um diagnóstico causal de
muito boa qualidade.

Em assim sendo resta um grande desafio de se caracterizar o que venha a ser revitalização
da bacia hidrográfica do rio São Francisco em termos:

1 – que seja uma diagnóstico causal e associado à geodinâmica externa do planeta.


2 – que a real percepção dos resultados das ações antrópicas seja estabelecida em estudos
comparativos com aerofotos de 1964 e as situações atuais, comparativamente, para
se saber quais são as verdadeiras perdas.
3 – do reconhecimento de verdadeiras irreversibilidades sistêmicas.
4 – do que se pode verdadeiramente mitigar.
5 – de como mitigar dentro de um efetivo programa ecológico econômico, embasado em
um axioma, assim enunciado (Martins Jr, 2004 in Projeto CRHA):

“Não há solução ecológica possível sem solução econômica que a fundamente”.

Este desafio necessita de uma política nacional de revitalização e os Estado da União têm
especial posição de responsabilidade diante dos fatos, bom como quaisquer níveis de
administração concernidas em todos os países do Mundo.

Enquanto a agricultura, silvicultura e as pastagens têm especial posição no PIB do Brasil,


e posição importante para evitar a fome no mundo, com demanda da FAO para o Brasil
aumente sua produção em 40% deve-se forçosamente reconhecer que será necessária uma
revisão conceitual e da prática profunda, que reformule as condições vigentes, de outro
modo o futuro está comprometido e fadado a uma morte já pré-anunciada em processo.

No ano de 2009 saiu a publicação do Trabalho Aiguo et al. (op. cit.). Relatando a perda
de vazão em 35%. Desde este ano 2009 o regime de chuvas no Sudeste do Brasil mudou
de modo que pode ser um ciclo de 40 ou 50 anos, como pode ser efeito da mudança
climática ou a superposição de ambos. Como estará atualmente a vazão do rio São
Francisco se o testemunho dos residentes é que o processo das fontes secarem ser muito
comum em muitas partes da bacia.

Urge agirmos como sociedade civil, cientistas, engenheiros, empresas com o apoio dos
governantes para que se possa salvar a bacia do rio São Francisco.
REFERÊNCIAS
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Bedê, C. L., Weber, M., Resende, S. Piper, W. Schulte, W. 1997. Manual para Mapeamento de
Biótopos no Brasil. Base para um planejamento ambiental eficiente. 2ª ed. Belo Horizonte:
Fundação Alexander Brandt, 146 p.
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“Monitoramento do Uso da Terra com Ênfase na Cobertura Vegetal, nos Períodos de 1964, 1989
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DESENHO de USO OPTIMAL dos TERRITÓRIOS – DUOT
– Gestão de Bacia Hidrográfica –

Sétima Fase de Auxílio à Decisão sobre o Uso da Terra

Palavras-chave: princípios, lógica, mapa do futuro, planejamento, uso da terra, uso da


água, segurança ambiental, modelos, cenários.

Os modos de fazer os zoneamentos ecológicos - ZE-L, os zoneamentos econômicos - ZE-


N (Martins Jr. et al., 2008; Martins Jr. et al., 2009) e os zoneamentos ecológico-
econômicos - ZEE, de bacias hidrográficas são a base para se iniciar todo o processo de
modelagem da gestão de qualquer bacia. Por certo, os mapeamentos disciplinares podem
ser o início do processo também.

Pode-se reconhecer que o ZEE constitua o terceiro tipo de resultado integrado,


normalmente com as duas Abordagens Pluridisciplinar e Interdisciplinar (Martins Jr.,
2000) e as várias ciências concernidas. Seguramente que estes estudos não são ainda
suficientes para se construir decisões sobre “como agir, como ocupar, como preservar e
conservar um território”. Consideram-se os ZEE como produtos de gestão na forma de
informação a ser inserida em um modelo de gestão - SisZEE - como parte dos
instrumentos de auxílio à decisão.

Este estudo desse capítulo dá sequência ao desenvolvimento do ramo de conhecimentos


das Geociências Agrárias e Ambientais (Martins Jr., 1998), sendo um tipo de produção
que envolve a Abordagem Interdisciplinar com forte associação a Geo-ecologia e a
Economia, como os dois principais campos epistemológicos e metodológicos.

Apresentam-se novos conceitos cartográficos, metodológicos e de modelagem de uso do


território. Foi pela primeira vez proposto em 2002, então parcialmente desenvolvido no
decorrer de 2003-2006 em projeto financiado pelo MCT / FINEP / Fundo Setorial CT-
Hidro-2002 (Projeto CRHA, 2006).

Distintamente o sistema “Desenho de Uso Optimal do Território de Bacias Hidrográficas”


– DUOT é proposto como um tratamento integrador envolvendo ciências, temas e
engenharias, tais como:

 Ética (Ea), Legislação (Lg), Economia Física (EF), Geologia ambiental Ga, Geologia
estrutural Ge, Estratigrafia Es, Geotecnia Gt, Pedologia Pd, Aptidão de solos AS, temas
sobre impactos ambientais IA, Hidrologia Hd, Hidrogeologia HG, Zonas (ZRAs) e Áreas
precisas (APRs) de recarga de aquíferos (Martins Jr. et al., 2006), Botânica Bt, Técnicas
de Conservação TC, Análise de Impactos sobre os biomas AI, Climatologia Cl,
Implicações das Mudanças Climáticas IMC, Engenharia Florestal EF, Engenharia
Elétrica EE, Engenharias Agronômica EAn, Engenharia Agrícola EAg, Lógica
Interdisciplinar (LI) e Inteligência artificial (IA).
O sistema DUOT com o Mapa do Futuro é o quarto sistema proposto como sequência
lógica da modelagem da gestão geo-agro-ambiental industrial rural de bacias
hidrográficas. Qual é, portanto, o sentido do sétimo sistema de suporte à gestão de bacia
hidrográfica DUOT? Pelo fato dos zoneamentos ecológicos, econômicos e o zoneamento
ecológico-econômico serem três produtos com feição de uma ontologia científica, e que
respondem à pergunta “o que é” como também podem responder sobre “o que pode ser
potencialmente”, eles são parcialmente fora de foco direto no que diz respeito a várias
exigências lógicas:

(1) dos licenciamentos ambientais.


(2) do planejamento do uso do território.
(3) de acompanhamentos dos eventos naturais e produtivos que ocorrem dentro de uma
bacia.
(4) o se pode fazer em determinados ambientes de uma bacia.
(5) o que não se pode e o que se deve fazer.

De fato, o DUOT responde à questão “o que pode e/ou o que deve ser”, que é questão
intrinsecamente distinta das questões “o que é” ou “o que potencialmente pode ser” como
no caso do zoneamento econômico; todavia, estes zoneamentos devem preceder ao
DUOT e são inseparáveis no processo de decidir e operar a gestão.

Considera-se, portanto, que após os mapeamentos disciplinares e a integração desses nos


zoneamentos ZE-L, ZE-N e ZEE, o DUOT seja a quarta etapa geral de integração. Essa
etapa por sua vez divide-se em dois tipos de produtos:
(1) o modelo geral DUOT e
(2) os cenários temporais cartográficos e econômicos do DUOT, que envolvem a
produção e a oferta de produtos agrícolas, controle e planejamento das áreas agropastoris
e florestais, mudanças de demandas e variações periódicas da produção, bem como as
questões de logística, vias, indústrias rurais, produção de energia em matriz complexa e
produção de rejeitos.

PROBLEMAS

A questão sequencial aos zoneamentos ZE-L, ZE-N e ZEE envolve ainda dois
procedimentos fundamentais. O primeiro é o diagnóstico, que deverá ter a feição própria
para os objetivos de um planejamento específico. O segundo trata da questão do que é
ideal para que as ações e os projetos executivos devam atender para manter as condições
ideais de sustentabilidade  ambiental e econômica. A sustentabilidade dos sistemas
econômicos é retro-alimentada, no tempo, pela sustentabilidade ambiental. Assim essas
duas questões dizem respeito à natureza do(s) diagnóstico(s) e ao Desenho de Uso
Optimal do Território no âmbito de uma Política de Ordenamento do Território - POT.

OBJETIVOS

Apresentar as características do DUOT. Desenvolver os aspectos lógicos, ecológicos e


econômicos como parte dos procedimentos para se chegar ao Desenho de Usos Optimais
dos Territórios, DUOT, de bacias hidrográficas e propriedades rurais. Elaborar em uma
visão geral dos princípios, critérios e procedimentos para desenvolver cenários
cambiantes dentro do modelo fundamental do Desenho fundamental DUOT.

PRINCÍPIOS para o DESENHO de USO OPTIMAL do TERRITÓRIO – DUOT

O que se entende por desenho de uso optimal? O uso optimal deve ser um conceito
epistemologicamente bem definido, isto é, um conceito que abrigue diversos paradigmas
setoriais do conhecimento, bem como soluções cientificamente reconhecíveis pela sua
legitimidade sistêmica. Da forma assim especificada fica claro que o desenho optimal não
é um esquema de força nem alguma espécie de regra total para o uso do território, mas

 Um desenho geral de ‘Ordenamento do Território’ no qual se leva em consideração


cenários ideais de utilização de qualquer tipo de território.

PRINCÍPIOS EPISTEMOLÓGICOS

Os princípios que devem reger um cenário ideal, ou mais de um cenário possível com
características ideais devem necessariamente tomar em consideração os diversos aspectos
modais, ou seja, as diversas modalidades segundo o conceito que H. Dooyeweerd (1958)
desenvolveu, como as modalidades em que as relações, entre sujeitos e objetos se
organizam e se inter-relacionam no mundo real. Partindo-se, portanto, dos princípios da
Teoria Cosmonômica (Dooyeweerd, 1958) pode-se enunciar alguns princípios:

[1] nenhum aspecto modal (físico, biótico, econômico, social, etc.) pode ser reduzido a
qualquer outro aspecto de outra modalidade sem que com isso se traga o pensamento a
uma antinomia cognitiva, e desta forma se venha a transformar os atos de intervenção em
atos potencialmente ameaçadores à estabilidade dos sistemas naturais.

[2] as relações na Natureza devem ser reconhecidas como tais em seus múltiplos estilos,
intensidades, taxas de trocas e de direções de fluxos, como base para qualquer decisão.

[3] as leis típicas que regem cada subsistema natural e cada subsistema de subsistema,
devem ser descritas envolvendo-se o reconhecimento das estruturas, funções, inter-
relações, interdependências e funcionamento em geral.

[4] as formas de tratar com a complexidade do sistema devem envolver as quatro


Abordagens:  disciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar [Martins
Jr., 2000].

[5] os aspectos particulares às várias questões ecológicas e dinâmicas devem ser


enunciados como princípios, dos quais se partem para as decisões e ações nas formas de
projetos e de práticas executivas.

Logo, em 2003-2006 considerou-se o DUOT, como abaixo caracterizado, para a bacia do


Paracatu, que foi e é uma das muitas válidas formas de se poder considerar um DUOT:

 O desenho regional do uso optimal da bacia para se avaliar aspectos de aplicação de


um Programa de Permacultura na região com indicadores regionais para agricultura
irrigada, silvicultura com espécies nativas e florestas mistas com espécies nativas e
espécies econômicas, visando a ideia de segurança ambiental.

Se introduzirmos as experiências que se ensaiam no País como a Sistemas Agro-Florestais


SAF, ou a própria Permacultura e o trabalho extraordinário de Ernst Götsch com a
Agricultura Sintrópica podemos emitir mais um enunciado para esse tipo de DUOT:

 O desenho regional do uso optimal da bacia para se avaliar aspectos de aplicação entre
três programas, a saber, o SAF, a Permacultura e Agricultura Sintrópica em uma região
com indicadores regionais para agricultura irrigada, ou com falta de possibilidade de
irrigação, silvicultura com espécies nativas e/o com florestas mistas com espécies
nativas e espécies econômicas, visando a ideia de segurança ambiental.

Entende-se pro segurança ambiental os seguintes aspectos integradores dos sistemas


naturais, a saber:

1 – Continuidade floral do bioma, com todos seus eco-sistemas diante de quadro de


intensa ocupação territorial que seja, todavia, controlada por esse conceito de
continuidade floral.
2 – Garantia efetiva da manutenção da circulação hídrica mesmo que haja alguma perda
da disponibilidade hídrica em fases de ciclos climáticos distintos.
3 – Garantia de conservação de solos na totalidade das propriedades rurais.
4 – Garantia do fato de que vias como estradas e pequenas vias não sejam indutoras de
processos erosivos laminar e em sulcos.
5 – Reconhecimento da ampla circulação da vida animal endêmica entre todos os
remanescentes florestais e campestres nativos.

Se esses quatro aspectos puderem ser maximizados pelo modelo DUOT ter-se-á toda a
lógica da Conservação ambiental estabelecida da gestão à prática efetivas.

PRINCÍPIOS ENUNCIADOS como LEIS TÍPICAS

Apresenta-se como ênfase três dos princípios acima enunciados, que devem ser
considerados como “princípios determinantes” das ações de planejamento em uma bacia,
no que diz respeito à conservação da circulação hídrica, da quantidade da água, via
controle da distribuição. Assim, o controle e manutenção da quantidade, e indiretamente
da qualidade, da água deve se assentar sobre três princípios:

[1] Em termos regionais a variação da quantidade de águas dos aquíferos e dos cursos
d’água, mantém-se ou se altera ao diminuir-se o escoamento superficial da fase pluviosa,
favorecendo a infiltração,

[2] O controle da demanda por água é a forma adequada para gerir o uso consuntivo, de
modo científico, quando já foi garantido o controle da manutenção da quantidade na
dinâmica retro-alimentativa do sistema natural e
[3] O ordenamento do território é o fator primordial para se garantir que a intervenção
humana, mesmo alterando a sub-bacia e os ecossistemas, não os coloquem em
condição de irreversibilidade.

Estes três princípios estão organizados em uma sequência lógica na qual se prioriza que,
estando a quantidade de água em circulação sendo equivalente em todos os anos, isto é,
obedecendo às variações cíclicas naturais, a distribuição temporal da água é que passa a
ser o problema fundamental.

Entende-se por distribuição temporal a variabilidade da circulação da água no balanço


“escoamento superficial sazonal x infiltração x evaporação x evapotranspiração”,
incluindo as várias variabilidades estocásticas sazonais, anuais, ano-a-ano e em ciclos
temporais maiores. Neste sentido a relação “escoamento superficial / infiltração” é
fundamental, porque são as duas variáveis mais críticas que representam a disponibilidade
efetiva da manutenção da circulação nos períodos secos e chuvosos, sobretudo em regiões
tão sensíveis como a savanas do Centro do Brasil, com climas da família semiárida.

No que diz respeito à prática da outorga de água implica que a condição primordial da
conservação tenha sido atendida por meio de ações de conservação e de preservação, que
serão decididas e praticadas de acordo com a realidade das zonas de recarga de aquíferos,
devidamente identificadas em localização e tipologia ecológica, bem como com a
dinâmica de infiltração. Isto jamais fora realizado em nosso País e tão somente a partir de
nossos estudos aqui apresentados em uma série de artigos.

A crença de que os altos de montanhas sejam zonas de recarga pode ser verdadeira em
algumas circunstâncias, mas não necessariamente em todos os altos, e não se deve assim
estabelecer uma generalização a partir desse aspecto geomórfico. Este assunto é parte do
sistema de decisão a ser sempre considerado, todavia, como já tornado evidente no
capítulo 6.

As condições de recarga envolvem desta forma entre muitos fatores, alguns, que se podem
considerar como potencialmente notáveis:

[1] A recarga depende do tipo de aqüífero, sendo eles basicamente de 6 tipos: (a) o de
rocha granular (b) granulares fraturados (c) aquíferos estratificados (d) o kárstico (e)
o kárstico fraturado (f) aquíferos alcalinos e secundariamente (g) os rasos, podendo aí
incluir-se os solos e saibros mais porosos.

[2] Em sendo o primeiro fator de identificação o tipo de aquífero, o segundo aspecto


fundamental é a estrutura da rocha portadora em virtude das condições de afloramento
da mesma em condições de:

 O afloramento da camada estratigráfica em corte transversal, apresentando a parte da


espessura transversal da camada cortada pela superfície topográfica como zona de
recarga,

 A ampla área da rocha com intensa distribuição de diaclases e/ou com meso-fraturas,
permitindo porosidade e/ou zonas seletivas de infiltração,
 Os aspectos kársticos típicos que sustentam infiltração,

 Os solos mais porosos em superfície, tal que a infiltração se faça pelos mesmos, e
inclusive com acúmulo nestes próprios,

 Os solos porosos e portadores com condições de armazenar,

 As camadas estratigráficas expostas na direção de S0 e/ou outras com condições de


porosidade e de armazenagem,

 A existência de camadas selantes como capa e lapa da camada portadora,

 As sucessões estratigráficas de reservatórios em diferentes profundidades em função


do corte em superfície e da extensão e espessura das rochas reservatórios estratificadas.

[3] Os reservatórios variam de forma e tamanhos e podem ser relativamente circunscritos,


como amplamente extensos por grandes regiões.

[4] Reservatórios podem existir de modo estratificado tal como as rochas portadoras
podem ser também estratificadas.

PROJETOS de DESENHOS OPTIMAIS com VÁRIOS CENÁRIOS

Por certo, a mais simples decisão já tomada na forma legal determina a priori parte do
desenho optimal. Como por exemplo:

 As florestas de galerias e as veredas em especial caem nessa categoria especial de


situações sistêmicas inquestionavelmente únicas a serem literalmente preservadas, de
preferência,

 Lagos têm especial função para as biotas aquáticas e pântanos são indispensáveis para,
por exemplo, produzirem nitrogênio para a atmosfera,

 As vegetações de meandros podem ser equivalentes às florestas ditas de galerias ou


ripárias, mas guardam a particularidade de estarem associadas às zonas de planícies
maturas, notavelmente próprias para a inundação dos rios, o que por este motivo devem
ser preservadas.

As nascentes não servem especificamente para conservar os aquíferos subterrâneos, a não


ser nos casos mais específicos de aquíferos rasos, todavia são de capital importância para
a conservação dos cursos d’água. Merecem proteção especial contra animais, contra a
poluição e devem ser plantadas em torno para permitir o impedimento de acessos, bem
como eventualmente oferecer nas bordas do pequeno bosque plantado alguma sombra
para animais conforme convenha.
No caso de nascentes fornecedoras de água mineral a regulação da captura da água deve
oferecer condições de conservação do aqüífero subterrâneo. Isto é sabido e, no entanto,
ocorrem muitas irregularidades neste País.

Todas as sub-bacias são superficiais, tanto por permitirem o escoamento superficial


quanto o escoamento da componente subterrânea, mas o aquífero superficial e o
subterrâneo devem ser tratados de modos distintos.

Os divisores de águas das várias sub-bacias são expressões mórficas de extrema


importância para a estabilidade das sub-bacias, em particular, e para a grande bacia como
um todo. Preservá-los deve ser parte do processo de desenho optimal do uso da bacia.

As Reservas legais são consideradas na legislação não sendo necessariamente idênticas


em todos os casos às florestas ripárias nem às veredas. As Matas originais podem fazer
parte de reserva legal, mas podem ser reconstituídas como partes de corredores próprios
para a avifauna, os mamíferos, répteis e anfíbios. Os micro-organismos têm um papel
importante na manutenção da vida e de solos a partir desses corredores. Esses podem ser
reconstituídos em se tratando de áreas degradadas e fazem parte da lógica optimal de uso.

As áreas agrícolas não devem ser consideradas fato irreversível, já que uma verdadeira
política de gestão deve intervir e obrigar as correções e as medidas mitigadoras antes que
a atividade agrícola produza verdadeiras irreversibilidades generalizadas.

A Reserva agrícola do homem é um direito de nossa espécie para nossa própria


manutenção, mas nesse sentido a lógica conservacionista exige que essas áreas para
reserva agrícola sejam elas mesmas partes da política de conservação, garantindo as
mesmas para as gerações vindouras. Neste sentido as técnicas de conservação de solos
são primordiais para se conservar este bem comum da humanidade, de modo contínuo no
tempo, o que significa que a perda universal de solos não se faça maior do que a condição
da geodinâmica externa ser capaz de produzi-los em continuidade, pelas ações do
intemperismo em conjugação com a ação biótica.

As Áreas agriculturáveis o são pelas suas características agroclimatológicas, pedológicas


e, por certo, pela própria aptidão dos solos às diversas culturas e seus cultivares. A noção
de área agriculturável implica desde a simples condição da agricultura familiar às grandes
frentes agrícolas tão comuns em nosso País, atualmente. Incluímos as áreas de pastagens
entre o grupo de áreas agriculturáveis. Um conjunto de informações deve ser analisada
com dados de Planos diretores, na escala de 1:500.000, e com detalhamentos na escala
1:20.000, integrando as informações por sub-bacias.

O Reflorestamento ecológico-econômico é um instrumento conceitual já desenvolvido,


mas ainda inédito com aplicação no campo, todavia apresentado ao Programa de
Mestrado e Doutorado ‘Evolução crustal e Recursos Naturais’ desde 2006. Em resumo
podemos dizer que se parte do princípio de que:

 A ação de conservação só será efetiva, ante a antiga história de depredação em nosso


País e o adiantado estado de degradação ambiental, se adequar-se a conservação
conjuntamente com a atividade econômica, entendendo-se isso por servir-se de
espécies econômicas como parte de florestas mistas com variedades ecológicas.

O Manejo de florestas nativas é uma medida optimal de conservação, entendendo-se que


o manejo seja feito sem maiores danos aos espécimes remanescentes, com a manutenção
de árvores menores da espécie de interesse e o replantio de pelo menos 18 pés, já um
pouco crescidos, por espécime derrubado da espécie de interesse. Isto implica a existência
de hortos que sustentem o processo de exploração. O manejo tem regras bem
estabelecidas nas técnicas de engenharia florestal, e assim o assunto fica entendido como
pertencente ao conhecimento científico estabelecido.

As Florestas de monocultura servem para o plantio de espécies já consagradas em nosso


País como o Eucalipto, o Pinus, a Araucária e outras eventualmente de interesse. Sua
posição na questão do ordenamento do território faz sentido em virtude de seus valores
para a produção de celulose, carvão vegetal, de madeira para construção, em ambos os
casos com forte possibilidade de se obter crédito de captura de carbono. É notável o fato
de que corredores de monocultura possam intercalar-se convenientemente ao plantio de
florestas biodiversas. Em todo o caso, as florestas mono-específicas devem obedecer a
alguns critérios quanto as suas locações no espaço da bacia, a saber:

[1] em áreas de solos menos apropriados para outras culturas,

[2] jamais em áreas que sejam zonas de recarga de aquíferos, ressalvadas as


gimnospermas, caso sejam menos consumidoras de água,

[3] em áreas de encostas íngremes,

[4] em áreas degradadas e

[5] como espécies de sustentação financeira para a manutenção das florestas biodiversas
plantadas em regime de manejo e uso de mais alta rotatividade.

O cômputo total de áreas plantadas deverá obedecer a critérios de partição dirigidos pelos
5 itens acima e ainda mais o balanço total com os outros tipos de florestas, matas, savanas
e terras de usos antrópicos diversos. As florestas biodiversas são por excelência aquelas
que traduzem melhor o binômio ecologia-economia.

Suas características principais são:

[1] possuírem pelo menos oito espécies de madeiras-de-lei plantadas,

[2] entre as oito variedades desejáveis, umas duas que forneçam frutos para as espécies
animais próprias da região,

[3] serem espécies de interesse econômico como as madeiras-de-lei, inclusive aquelas


que já vêm ficando escassas, ou mesmo ausente das Regiões Sudeste e Sul do Brasil,
[4] possuírem muitas variedades de árvores frutíferas de interesse econômico em número
tal que permita a produção de frutos comercializáveis, para sucos e doces,

[5] de possuírem espécies de árvores e arbustos oleaginosos, entre eles plantas exóticas
de rica produção de proteínas como as nogueiras, avelaneiras, amendoeiras provendo
meio de substituição de importação, e entre elas as oliveiras para produção de óleo de
oliva,

[6] de possuírem espécies árvores e arbustos de plantas medicinais.

Entre as condições de planejamento do plantio estão as condições de localização


preferencial das diversas espécies em face do manejo, o que significa a adequação das
coletas, derrubadas, arrastos e replantio.

Quanto ao plantio as florestas biodiversas podem incluir satisfatoriamente em áreas de


solos menos qualificados, plantas como eucalipto e as gimnospermas. O plantio de
espécies, que no decorrer do tempo inicial devem recobrir o terreno, pode ser feito com
cana de açúcar, feijões e outras variedades com o nítido propósito de conservar os solos
e agregar nutrientes como o nitrogênio.

As Florestas, como medidas mitigadoras em áreas erodíveis e erodidas, são especiais para
fazer parte de modelos empreendedores de contenção e conservação de solos, saibros e
rochas menos frescas. As variedades devem ser plantadas sempre no sentido de que as
áreas mais degradadas devam receber as plantas de mais durabilidade além de obras de
contenção convenientes. As gramíneas são as companheiras ideais para todos os
processos de plantio, sendo plantas que funcionam como conservadoras de solos e de
serventia para adubação natural.

O espaçamento entre espécimes e plantas de produção sazonal como fator de sustentação


e fator de enriquecimento do solo deve ser amplamente estudado para se obter a melhor
produtibilidade florestal e produtibilidade de suporte à floresta nascente.

Entram nessas considerações para todos os tipos de florestas aqui sugeridas os seguintes
aspectos:

[1] uso adequado de áreas sensíveis ou vulneráveis,

[2] uso adequado das áreas plantadas por espécie, por tipo de solo e de condições geo-
ambientais diversas,

[3] espaçamento necessário e adequado,

[4] entremear com gramíneas das mais diversas variedades possíveis nas fases iniciais de
crescimento,

[5] uso como medida mitigadora,

[6] plantio para florestas permanentes de espécies nativas,


[7] plantio ecológico-econômico e

[8] balanço de captura de carbono com esforço para obtenção de créditos internacionais
entre outros temas de pertinência.

CONSIDERAÇÕES ESPACIAIS DIVERSAS

As bordas de sub-bacias, ou divisores de águas, são lugares interessantes e importantes


para se plantar em verdadeiros corredores com as seguintes condições aproximadas:

[1] os corredores terem larguras tais que permitam o crescimento de espécies arbustíferas
necessárias para fechar blocos contínuos de plantas,

[2] permitir o fluxo das diversas espécies animais pelos corredores, indo de um núcleo
florestal a outros núcleos, sobre grandes extensões medidas em centenas de quilômetros,

[3] permitir o isolamento eventual dos altos de sub-bacias e contribuir direta ou


indiretamente para a diminuição efetiva do escoamento superficial e para a eventual
segurança da infiltração em zonas de recarga aí situadas,

[4] oferecer às espécies animais da Região as condições de nutrição próprias de seus


hábitos evolutivos,

[5] ter espécies de frutíferas, que embora não sendo próprias da Região, perceba-se que
espécies animais locais aceitem como novas variedades alimentares conforme já
testemunhado entre aves,

[6] permitir que os corredores favoreçam um suficiente isolamento do percurso ou


caminho das espécies animais, tanto de hábitos diurnos quanto noturnos.

Os corredores poderão ter marcos notáveis, entremeados a intervalos adequados com


marcadores divisórios de propriedades rurais, se for o caso, e em sendo o caso recomenda-
se que a separação entre as propriedades rurais, sobretudo de grandes superfícies, seja
sempre preparada com corredores de idêntica feição àqueles descritos acima.

As estradas devem ser arborizadas com árvores florais das mais diversas espécies,
fazendo grandes volumes para embelezamento dos caminhos e com árvores frutíferas para
alimentar a alimária do campo. As combinações eventuais de angiospermas e
gimnospermas podem produzir belos efeitos e efeito específico de purificação notável do
ar. Arborizar pelas estradas significa ainda praticar a conservação de solos e de vertentes
muitas vezes cortadas.

A QUESTÃO da BIODIVERSIDADE

Todas as sugestões acima apresentadas têm um carácter científico, e assim devem ser
implementadas com o auxílio de biólogos botânicos e zoólogos, visando permitir que as
ações de replantio ou mesmo de novos plantios sejam eficazes quanto aos resultados
esperados.

Quanto aos núcleos de vegetação natural remanescente deve-se de todo modo alisá-los,
isto é, replantá-los de modo a evitar fronteiras sinuosas e com tal procedimento evitando-
se ‘os efeitos de borda’ que é afinal de contas um efeito de interação indesejável com
campos agrícolas ou com assentamentos humanos de quaisquer tipos que sejam sobre os
remanescentes florestais.

O planejamento de corredores ao longo dos divisores de águas não desobriga a


manutenção de um número expressivo de maciços florestais originais. Os corredores de
cumieiras de sub-bacias são complementos às florestas remanescentes, às florestas
ripárias, às veredas ou quaisquer outros blocos florestais.

Para uma mais efetiva eliminação dos efeitos de borda nos corredores plantados é
recomendável que espécies arbustíferas da vegetação local sejam plantadas de um modo
mais densamente distribuído, visando isolar os corredores da ação humana e tornar a
penetração nos mesmos, mais difícil.

Os corredores em bordas de sub-bacias podem também ser de tipo ecológico econômico,


mas neste caso recomenda-se que sejam tão somente com espécies nativas e espécies
frutíferas diversas para que a ação humana seja apenas de coleta, sem abate e corte.

Todo o esforço deve ser de se diminuir as interações entre campos agrícolas e corredores
e florestas remanescentes, criando-se condições plausíveis para mínima interação, o que
implica em:

[1] uso de espécies mais protetoras, como as portadoras de espinhos, contra a entrada do
homem e de animais domesticados, quando o corredor for exclusivo para os animais e
plantas silvestres,

[2] carreiras duplas de árvores frutíferas de grande porte que possam servir de isoladoras
do núcleo do corredor com as espécies nativas,

[3] árvores florais em sequência como elementos delimitantes e ao mesmo tempo


paisagísticos,

[4] estabelecer marcos erigidos ao modo de pontos de referência para observação de


acompanhamento da vida silvestre em suas relações com os corredores tais como
contagem de espécies, de ninhos, de eventuais passagens com testemunho fotográfico ou
mesmo de vestígios bióticos de alguma espécie, e outros aspectos pertinentes.

PRECEDENTES do DESENHO

Zonear um território é classificá-lo em áreas homogêneas, pelos aspectos ou temas que


se queira, tanto quanto integrar as informações de modo a formarem quadros cognitivos
específicos, que pressuponham e identifiquem a existência de estruturas na Natureza, que
sejam reconhecíveis pela função classificatória da atividade racional humana.
O binômio Zoneamento Ecológico-Econômico, ZEE, e o Desenho de Uso Optimal do
Território, ZEE + DUOT, constituem dois procedimentos e dois produtos essenciais para
a gestão ambiental e econômica, em níveis de diagnóstico e auxílio à decisão para o
planejamento d’o que fazer’, ‘como fazer’, ‘porque fazer’ de uma determinada maneira e
‘para que fazer’.

Os dois sistemas de cognição conjugam-se como um Diagnóstico de uma Teoria de


Valores, no sentido de que o Desenho DUOT é constituído como “um pode ser e/ou um
deve ser”, e, portanto, oferece um caminho fundamental na forma de um Modelo, e muitos
caminhos específicos na forma de Cenários, para um devir próprio de um planejamento
dinâmico, no espaço e no tempo, tanto sobre os sistemas naturais quanto sobre os sistemas
de produção.

Em perspectiva as ciências especialistas servem para permitir a cartografia por disciplina,


que apreende aspectos dos sistemas, mas jamais um sistema em sua totalidade de
aspectos. Isso é evidente em virtude do campo epistemológico da ciência que “divide para
compreender”, e assim limita a observação a aspectos, processos e estruturas selecionadas
e entendidas de acordo com a possibilidade de separá-las na Natureza e descrevê-las de
modo consistente. Tal característica do projeto científico advém do próprio fato de que
na Natureza as coisas são organizadas em sistemas, todos interligados, mas cada um com
sua relativa soberania, isto é, com domínio característico , processos próprios e 
relativa identidade no conjunto do sistema a que faça parte. As barras são sempre usadas
no sentido de conjuntos abertos, logo sistemas abertos e processos abertos.

Dentro de uma perspectiva sistêmica os zoneamentos apresentam uma forma não-


disciplinar, mas pluridisciplinar de apreender e descrever os sistemas naturais como modo
de tratar estruturas e processos por “vizinhança fenomenológica”, isto é, tratar aqueles
aspectos reais dos sistemas que estejam inter-relacionados de modo imediato .

O Desenho de Uso Optimal avança em muito o trato pluridisciplinar, sendo ao mesmo


tempo interdisciplinar e transdisciplinar, por três motivos:

(1) trata, a priori, todos os subsistemas de “modo integrado” em suas totalidades, tanto
quanto de “modo ontológico”, isto é, apreendendo os sistemas por eles mesmos,

(2) trata de “modo objetal”, apreendendo os sistemas com a intenção de uso e

(3) trata-os de modo transdisciplinar, quando se modela o sistema natural pelo viés das
peculiaridades das funções associativas da humanidade, objetivando, assim, os sistemas
naturais para fins vários, e entre eles os fins de produção econômica.

Fica claro, assim, que a sequência de modelagem da gestão agro-erg-geo-ambiental de


bacia hidrográfica progride das ciências e cartografias disciplinares às cartografias
pluridisciplinares dos zoneamentos ecológicos - ZE-L, zoneamento econômico - ZE-N -
e zoneamento ecológico-econômico - ZEE, constituindo assim o “campo epistemológico
fundamental” de e para qualquer modelo de gestão - DUOT.
A inovação tecnológica aqui proposta progride então em direção às questões dos
potenciais econômicos das bacias a luz das possibilidades legítimas de uso das mesmas e
dos sistemas ecológicos nelas existentes. Essa progressão leva, necessariamente por
obrigação lógica, ao modelo seguinte que é o do Desenho de Uso Optimal – DUOT, que
pressupõe os limites de potencialidades legitimamente utilizáveis pelo homem, as
condições de permanência dos vários subsistemas naturais, das espécies, gêneros e
famílias dos seres vivos, e quanto a progressão de entropia de uso para que não ultrapasse
a capacidade de sustentação dos sistemas naturais em se auto-regenerarem, e obviamente
fica para o homem a responsabilidade de todas as medidas de conservação e de mitigação,
sem as quais as forças naturais saem do equilíbrio dinâmico de sustentação e produzem
um caos degenerador crescente, e assim a irreversibilidade.

O DESENHO de USO OPTIMAL do TERRITÓRIO – DUOT

Como visto acima tem-se na noção de desenho uma noção integradora:  cartográfica,
ecológica, econômica, logística, climatológica com outras ciências e temas, e que se
define como:

 O desenho regional e/ou local, na forma de zoneamento das condições de usos, que se
julga devam determinar o que seja o uso optimal ou ideal da terra (terra, no sentido de
todas os subsistemas e das interações entre esses).

A noção de desenho, no sentido aqui discutido, é uma noção de “modelagem do que deva
ser”. Para o sentido de modelar aplica-se como definição a:

 “integração cartográfica geo-ambiental e dos potenciais econômicos, desenvolvido ou


não, como descrição das condições possíveis, restritas, genéricas, particulares, positivas
e/ou negativas de modo a abranger o conjunto de sistemas e subsistemas naturais e as
possibilidades de ações antrópicas produtivas nos mesmos, considerando a preservação,
a conservação e a mitigação”.

SEQÜÊNCIA LÓGICA dos MODELOS

Os [Modelos Naturais e Econômicos] – MNE devem ser interpretados a luz dos


Zoneamentos – ZEE, como condição inicial, para então se vir a determinar as macro-
condições legítimas e permissíveis de intervenção do homem no ambiente, bem como o
quadro de mitigações indispensáveis. A modelagem pode, então, ser trazida à condição
de “pré-projetos executivos regionais – PER” sob o conceito de [Cenários-modelos
Regionais e Locais – CRL]. Os pré-projetos são de dois tipos os de pré-viabilidade e os
de viabilidade.

Por sua vez, o somatório de cenários locais deve ser integrado como um [Modelo de Uso
Optimal], genérico e amplo o suficiente para nele se trabalhar com diversos cenários
cambiantes no tempo – [Cenários-Modelos Temporais – CMT]. O tempo entra como um
fator fortemente associado à produção rural e industrial e pode-se entender como um
tempo na “Modalidade Econômica” no sentido de Herman Dooyeweerd (1958) adotado
por Martins Jr. (2000). Assim os cenários incluem, ao longo dos anos, a temporalidade
das atividades humanas dentro do campo real da Economia e da transformação das
técnicas produtivas.

O Modelo DUOT apresenta o quadro de possibilidades e de realidades já em processo de


execução ou de futura execução. Todavia, pelo fato de possibilidades serem várias, tanto
em qualidade quanto em quantidade, isso implica que se precisem elaborar cenários
dessas possibilidades dentro dos aspectos indutores e restritivos detectáveis pelo e com
o modelo DUOT.

Os Desenhos de Uso Optimal do Território - DUOT, em verdade, são desenhos ou cartas


diversas de acordo com as bases geo-ecológicas, climáticas, as técnicas agrícolas, pastoris
e florestais disponíveis, o acesso às fontes de energia e as relações de mercado. Entram
também nos desenhos os estudos de mercado na forma de oportunidades em nível de
Macro- e Micro- economia. Quanto a essas deve-se articular as relações de oferta e
demanda às realidades dos sistemas naturais e dos sistemas construídos, bem como dos
sistemas naturais abandonados e/ou degradados. Estes devem ser imperativamente
reintegrados aos sistemas naturais e/ou produtivos, como projetos de longo prazo, mesmo
projetos de tipo secular, dentro de um Programa de sustentabilidade das nações.

A QUESTÃO ECONÔMICA e a SUSTENTABILIDADE

As condições econômicas tanto pelo ponto de vista da Economia Física (Georgescu-


Roegen, 1970; Ayres, 2001; Odum, 1996; Martins Jr. & Ferreira, 2009) quanto em
Economia Financeira são tratadas na questão do Desenho DUOT como aspectos
impositivos, e aspectos optativos. Entre os impositivos estão todos aqueles que são
restritivos e limitantes, e aqueles que são permissivos com uma única possibilidade afora
a simples manutenção do status quo natural. Outros ainda implicam em casos de
mitigação obrigatória.

Os aspectos optativos são todos aqueles que são permissíveis, mas dependem ou de
negociação entre o comitê de bacia e os proprietários rurais, ou de algum interesse de fato
para o sistema produtivo.

As condições limitantes e as condições optativas indicam, portanto, que os aspectos


econômicos, já então tratados nos zoneamentos ecológico-econômicos ZEE, sejam
retomados dentro da perspectiva do “pode e/ou deve ser”, seja em condições de
manutenção do status quo, seja para manutenção de projetos prévios ou para projetos
novos. Aqui entram também os aspectos corretivos para a bacia hidrográfica, dado que
para a manutenção de projetos agronômico-pastoris, florestais e/ou industriais rurais
dever-se-á mitigar a bacia, se necessário se fizer. Nesse caso a condição optativa
imperará, atendidos os procedimentos de mitigação em duas instâncias – sob
condicionante de realização ou sob o condicionante de impedimento total do
empreendimento.

Outro aspecto importante deve-se ter em conta em relação com as licenças a serem dadas
ante as condições apto, restrito e inapto do mapeamento de Aptidão dos solos e o uso da
Agroclimatologia, pelo fato de que o uso dos solos em cada uma dessas condições pode
implicar no uso de insumos que, conforme a situação possa vir a afetar áreas sensíveis.
Todavia, nem sempre uma área sensível deve ser necessariamente classificada como uma
área totalmente restrita, mas isto implica aplicar cuidados especiais.

Em bacias hidrográficas a questão econômica se focaliza na agricultura, silvicultura,


pastagens, produção de energia e indústrias rurais, afora as questões minerárias, as vias,
as obras de engenharia isoladas quando estas existirem fora das áreas urbanas e de vilas.
Da mesma forma que para os zoneamentos ZEE, a questão econômica deve ser revista de
modo idêntico com o acréscimo dos condicionantes limitantes, impeditivos e
estimulantes, aspectos não tratados nos zoneamentos ecológicos e nos econômicos. No
caso dos ZEE vale, portanto, recuperar a memória dos condicionantes (Martins Jr. et al,
2007), desta feita na condição de “determinantes agregados”:

(1) área atual total plantada,


(2) área permissível para plantar,
(3) índice de continuidade da área total plantada permissível,
(4) índices de descontinuidade floral - permissível e crítico,
(5) determinação das condições ideais de interligação de florestas e de maciços florestais,
(6) produtividade nas diversas categorias de produtores,
(7) mobilização de capital,
(8) endividamento dos produtores,
(9) lucros,
(10) agregação de valor nas proximidades dos campos de produção,
(11) usos permissíveis, usos toleráveis e usos não permissíveis de insumos,
(12) categorias de riscos ambientais de acordo com as condições dos sistemas naturais –
permissibilidade e não-permissibilidade,
(13) inclusão social nas diversas categorias de produtores, condições de trabalho e
empregos,
(14) usos obrigatórios de processos de conservação de solos e
(15) usos obrigatórios de processos de conservação da água.

Esses 15 aspectos, sob a denominação de “determinantes agregados”, criam um quadro


de possibilidades e de efetivações das condições ideais de uso, tomadas em seus macro-
aspectos, que por sua vez permitem desdobrá-los em cenários temporais.

Com esses quinze aspectos lógicos é possível fundamentar-se um Modelo de


Economicidade Física - MEF, com base na Análise Exergética. Com essa pode-se
quantificar cada parte dos processos econômicos, usando como variável de base a exergia
dos vários subsistemas naturais em uso e dos produtos extraídos e produzidos, exergia
expressa em joule, como medida da energia livre nos sistemas e na produção, tanto para
a quantidade da produção quanto pela quantidade e também pela qualidade dos rejeitos.
Assim, pelo viés da qualidade dos rejeitos trata-se da possibilidade desses rejeitos agirem
como agentes químicos sobre os ecossistemas e sistemas inorgânicos nas “áreas de
influências” das atividades produtivas.

OS ASPECTOS ECONÔMICOS

Até muito recentemente não se teve condições, ou não havia mentalidade, para se agregar
o custo ambiental aos produtos. Ao se começar um movimento neste sentido já existe um
passivo ambiental a ser pago pelas gerações, atual e futura, a fim de reparar o processo
degenerador que anda em curso, e de restaurar a algum nível significativamente viável
parte do que fora perdido. Tal passivo deverá ser recobrado na forma de impostos e de
ações consertadas que terão ônus efetivo sobre a coletividade.

De modo distorcido a geração do século XX negligenciou um princípio ético básico de


que:
 “a Terra não é nossa, mas das gerações vindouras”.

É notável também que a regeneração nunca é completa por não haver meios de fazer
retornar a riqueza para uma mitigação total. De fato, a regeneração pode ser ampla
dependendo de uma lógica de uso dos poderes da revegetação que pode durar o tempo de
gerações.

Um exemplo notável é o desmatamento feito no Vale do Rio Doce sob o intento principal
de atender às empresas metalúrgicas e siderúrgicas situadas nesta bacia hidrográfica e
alhures. Por certo que os preços ambientais agregados aos produtos atuais já deveriam de
fato começar a agregar o passivo ambiental produzido por estas empresas que devem hoje
à Nação a solução desse problema maior. Como agregar a microeconomia industrial e à
macroeconomia social o custo real dessa restauração sem inviabilizar um frágil processo
industrial? No entanto, o problema existe, e sem uma lógica que associe restauração com
interesses socioeconômicos, e tanto quanto a experiência o demonstre ficará inviável, e
assim os ecossistemas que restam progredirão ou podem progredir em irreversibilidade.

O que ocorreu de fato é que os processos industriais implantados nesse Vale não foram
avaliados de modo algum quanto ao custo ambiental, daí decorrendo o caos ecológico em
que está o Vale do Rio Doce. Como agregar este custo efetivamente à política ambiental
e à política de preços industriais através dos dois princípios: o do imposto e o de controle
atual da qualidade? Será isto uma causa perdida?

Esses são alguns dos aspectos de ordem econômico-social que influem na perspectiva das
relações da Ecologia, Ética e Economia no caso de extração de recursos naturais, tanto
quanto no caso de implantação de indústrias e de projetos agrícolas. Neste último caso
ainda podem ocorrer demandas excessivas de quantidade de água, o que pode ser
provocador de stress na bacia.

Esses tipos de temas, entre outros, podem fazer parte direta e indiretamente do Desenho
de Uso Optimal do Território de uma bacia hidrográfica e devem também ser
representados com semiótica adequada em mapas, especialmente nos mapas de cenários.

MODELO de USO OPTIMAL

Para a sub-bacia de Entre Ribeiros, de 3ª ordem no Vale do Paracatu, desenvolveu-se um


modelo DUOT que, como previsto e genérico o suficiente. Neste caso o modelo já se
apresenta como um primeiro cenário. Trata-se de um cenário possível de Ordenamento
do Território em face do amplo uso da bacia para fins agrícolas com desmate sobre
enormes extensões, criando “descontinuidade floral” (Martins Jr., 2006 in Projeto CRHA)
no bioma Cerrado com seus vários ecossistemas. A noção de cenário é mais objetiva do
que a noção de Modelo, mas neste são estabelecidas as grandes decisões julgadas a partir
dos ZE-L, ZE-N e ZEE e de todas as considerações necessárias para determinar o que é
justo e o que não é justo como forma de uso da terra.

Um Modelo Geral de Mitigação – MGM é também possível e desejável conforme as


circunstâncias. Neste caso esse Modelo deve indicar toda mitigação necessária. Neste
termo deve-se entender como mitigação as correções mínimas necessárias e também
suficientes para colocar o sistema natural em segurança, admitindo-se que toda atividade
exercida, ou que venha a ser exercida sobre a bacia obedecerá a regras e procedimentos
de conservação em todos os níveis dos sistemas.

O Modelo de Uso Optimal exige minimamente que:

(1) não haja descontinuidade floral sobre grandes extensões, tal que afete o bioma e os
ecossistemas específicos locais, de preferência nenhuma descontinuidade floral,
(2) que as descontinuidades não cheguem a ser um obstáculo real às trocas de informação
genômica entre as populações de espécies terrestres,
(3) que não haja irreversibilidade de algum ecossistema específico, quando este ocupar a
totalidade do ecossistema maior em uma bacia, ou quando for o único ecossistema em
uma sub-bacia de 3ª a 8ª ordens,
(4) que haja comunicação entre maciços florestais e matas diversas com as floretas
ripárias, comunicando todos os corpos d’água correntes,
(5) que haja segurança para as espécies terrestres circularem pelos corredores,
(6) que se elimine, de fato, todo efeito de borda em maciços, corredores e florestas ripárias
e
(7) que nenhuma população animal e grupo de plantas arrisquem ser confinadas em
relativamente pequenas áreas menores do que 300 ha a 1.000 ha, conforme situações
específicas.

UM CENÁRIO de USO OPTIMAL

Corredores florestais fazem parte de cenários tanto quanto do modelo DUOT. A criação
de corredores florestais ecológicos e ecológico-econômicos (Martins Jr. et al., 2006;
2008) ao longo das linhas de cumeadas pode ser parte de um tipo de cenário. A sub-bacia
em questão, antes da década de 1980 era portadora de ecossistemas vegetais próprio de
áreas úmidas e inundadas (Figura 10.2, áreas em branco).

Os corredores, ante as injunções lógico-formais e geo-ecológicas propostas de (1) a (7)


acima, devem poder ser desenhados como diversos cenários, que por sua vez sirvam para
determinar outras classes de exigências em forma de outros cenários mais focalizados.
Todo cenário implica em situações que podem exigir negociação entre partes, com o
comitê de bacia e os proprietários rurais, especialmente quando não implicarem em
situação crítica, mas podendo haver opções negociáveis.

De um ponto de vista do Modelo DUOT esse deve se apresentar como uma carta de
limitações e de possibilidades na qual se resguardem concomitantemente a integridade
dos ecossistemas e da produção agrícola enquanto potencial, enquanto fato real atual e
enquanto cenários cambiantes no tempo.
Os mapas das Figuras 10.1 a 10.4 mostram a transição de um Zoneamento de viés
Ecológico (Figura 10.1), passando para o zoneamento de aspectos de caráter econômico
(Figura 10.2 e 10.3), até atingir o Desenho de Uso Optimal do Território com um cenário
específico (Figura 10.4).

Figura 10.1 – Mapa Disciplinar Pedológico da Bacia de Entre-Ribeiros, ressaltando aspectos


naturais típicos de um Zoneamento Ecológico. Ressaltam-se as seguintes legendas: GX
(Gleissolo), LVA (Latossolo-Vermelho Amarelo), LV (Latossolo Vermelho), CX
(Cambissolo), RL (Neossolo Litólico) e RU (Neossolo Flúvico). A legenda de solos segue a
classificação da EMBRAPA (bases digitais de Martins Jr. et al. 2002-2006).
Figura 10.2 – Aptidão Agrícola de Entre-Ribeiros, apresentando a potencialidade econômica
inferida a partir dos aspectos ecológicos do mapa da Figura 10.1. A potencialidade de uso decai
do nível 1 até o nível 6. Como sub-classificação, os manejos de A (alta tecnologia) até E (mínima
tecnologia) dispõem-se na seguinte ordem: letra maiúscula para melhor aptidão, letra minúscula
para aptidão média e letra minúscula entre parênteses para mínima aptidão. (bases digitais de
Martins Jr. al. 2002-2006; org Vasconcelos 2008).

Figura 10.3 – Zoneamento Econômico diagnóstico, ZE-Nd, dos Sistemas agrícolas da Bacia de
Entre-Ribeiros para o ano de 2008. Trata-se de um Zoneamento Econômico strictu sensu,
apesar de também delimitar a tipologia de fragmentos remanescentes de vegetação nativa (org.
Vasconcelos, 2009).

Figura 10.4 – Um estudo e um modelo de Desenho de Uso Optimal do Território dessa bacia de
3ª ordem com cenário de corredores desenhados em cor sépia para o planejamento regional,
como modelo/cenário de possibilidades geo-ecológicas e econômicas. Destaque para a área em
branco que corresponde à agricultura e pastagens; o impacto sobre as sub-bacias de 4ª e 5ª ordens
é visível na parte centro-oriental. Na lateral a extensão dos eixos da sub-bacia está em metros.
(Martins Jr. et al., 2007 in Projeto CRHA, 2006; Andrade, 2006).

A Figura 10.4 apresenta um cenário ao mesmo tempo ecológico e econômico. Os


corredores são ecológicos nos sentidos de servirem para conservar solos, as linhas de
cumeada, de interligarem maciços florestais remanescentes a florestas ripárias e matas,
menos notáveis nessa escala, como também de permitir a continuidade floral sobre mais
de 60 km contínuo de leste para oeste na bacia.

Do ponto de vista econômico, os corredores apontam para a produção de plantas


frutíferas, plantas de madeiras de lei e plantas energéticas, todos esses tipos sendo
essencialmente de interesse econômico (Martins Jr. et al., 2008c).

DESENHO de USO OPTIMAL e PRODUÇÃO de ENERGIA HIDRO-ELÉTRICA

Esse tipo de produção dentro de Modelo DUOT é expresso pelo potencial dos cursos
d’água pela análise de entropia de evolução da bacia hidrográfica. O método de análise
de perfil de maturidade foi estabelecido por Yang (1971) e foi aplicado e desenvolvido
para uso cartográfico dentro do Modelo DUOT pela sinalização de amplitudes de
potenciais com especial ênfase para pequenas centrais e mini-centrais hidroelétricas. Os
potenciais são indicados por coloração especial de trechos de cursos d’água, em função
de vazões específicas, em conjugação com diagramas do perfil previsto e do perfil
analisado de maturação da sub-bacia em questão. A locação de estações hidrométricas
deve ser adequada para complementar as informações de maturidade de perfil de modo a
se integrar a modelagem de vazões específicas e os perfis medidos para o conjunto de
sub-bacias, já que as locações devem ser exploradas em diversos rios e trechos dos
mesmos cursos d’água (Figura 10.5).

Figura 10.5 - Tela do sistema sisORCI para o programa de cálculo de perfil de bacia hidrográfica
de um Banco de Executáveis a ser introduzido em qualquer sistema de processamento; os dados
são provenientes do trabalho seminal de Yang (1971).

CONCLUSÕES

Os mapas de Desenho de Uso Optimal do Território, DUOT, de bacias hidrográficas são


parte de um conceito novo, patenteável, que tem por características dar seqüência aos
vários tipos de zoneamentos ecológicos e econômicos ZEE.

As conceituações epistemológicas, os procedimentos, métodos e produtos são seqüenciais


na série de ações para o planejamento ecológico e econômico. O DUOT é um passo
importante na evolução tecnológica da gestão, do planejamento e na modelagem do
ordenamento do território e da produção econômica.

Assim, o sistema DUOT torna-se um sistema patenteável como novo método, novo
instrumento, e novo sistema de gestão ecológica e econômica de bacias hidrográficas,
inclusive com acesso viam rede e sistemas executáveis próprios.
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Yang, T.C. Potential Energy and Stream Morphology. Water Resources Research. Vol. 7. NO. 2.
April 1971. 311-322.
11
CERTIFICAÇÃO da QUALIDADE da PRODUÇÃO
– Gestão de Bacia Hidrográfica –

Nona Fase de Auxílio à Decisão sobre Consequências do Uso da Terra

Palavras-chave: índice de sustentabilidade, boas práticas, produção, rural, industrial, lógica, teoria
de valor.

Em tempos históricos, a ocupação do território da nação brasileira, desde seu surgimento


sempre foi feita de modo predatório com amplas repercussões e impactos sobre os
biomas, e isto dura até nossos dias. Tais situações, de fato, pouco melhoraram a despeito
das leis existentes, mesmo quando bem concebidas. Difícil é, ou pelo menos tem sido,
equipar o Estado nacional com agentes, que em número e eficiência, sejam capazes de
intervir em comportamentos aberrantes e desonestos, para assim proteger os biomas
remanescentes.

A história recente da Amazônia já aponta para uma nova tragédia no País e no planeta.
Assistimos a tudo isso de forma patética, agindo apenas com medidas paliativas e legais
para diminuir o número de incêndios e de desmatamentos nessa Região. Assim foi, e
assim será, até vermos a extinção da Floresta Atlântica, do Cerrado e da Amazônia. Não
existem indicadores bons de que essa tendência histórica mude. Danos há, totalmente
irreversíveis, com toda sorte de impactos e assim paira a pergunta – o que fazer? – com a
espada de Dâmocles sobre nossas cabeças.

Não existe um único tipo de ação para resolver essas tragédias, mas há necessidade de
um concerto de ações interligadas, interconectadas, consistentes, coerentes, ajustadas,
eficientes e eficazes em seus respectivos objetivos. Esse capítulo estabelece o terceiro
tipo de via com ações interligadas, dos quais a segunda foi também uma inovação
científica e tecnológica proposta desde 2002 (Martins Jr. et al., 2007a; Martins Jr. et al.,
2007b). São, portanto, várias ações com sistemas interconectados, a saber:

(1) A técnica da cartografia do “zoneamento ecológico-econômico” ZEE e

(2) As cartografias do estado de Preservação, do estado de Conservação e do estado de


Degradação.

(3) O “Desenho de Uso Optimal do Território de bacias hidrográficas DUOT”, desenho


esse de tipo ecológico e econômico com regras para gerar cenários temporais – DUOT-
Ci (i= 1,n), diversos para as várias condições ambientais e econômicas ideais (Martins Jr.
et al., 2006 in Projeto CRHA; 2007).

A via final que completa o modelo de gestão ideal de bacia hidrográfica é


(4) A da “Certificação da Qualidade da Produção” – Ecológica, Energética, Econômica
de Propriedades Rurais no Âmbito de Bacias Hidrográficas - CQPE, o mais novo
conceito informacional científico em teoria e pratica aplicada à gestão dos projetos de
desenvolvimento sustentável e qualificação do território e da produção no mesmo.

Com o conceito de certificação CQPE surge então como uma nova Abordagem
Interdisciplinar integrando novos conceitos, epistemologia própria, desenvolvimento
científico próprio e modelagem operacional administrativa a ser desenvolvida. Como
sistema e abordagem pode ser integrado aos conceitos das Abordagens disciplinar,
pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar (Martins Jr., 2000) para a gestão
agrogeo-ambiental e urbana das bacias hidrográficas. Esses estudos, portanto, dão
sequência e fazem parte da proposição inicial de criação do ramo de conhecimentos das
Geociências Agrárias e Ambientais (Martins Jr., 1998), mas deve ser considerado como
Abordagem parte de um trato plural com diversas ciências, temas e engenharias.

O enfoque aqui tratado é voltado para as atividades agrícolas, florestais, a zoocultura, a


industrialização rural e a produção de energia em uma matriz completa. Indicações para
os estudos de Logística devem também fazer parte desse tipo de enfoque bem como os
vários modos de construir a matriz energética de uma bacia hidrográfica, cuja autonomia
energética deveria ser uma meta ideal para todas as sub-bacias brasileiras com foco nas
de 3ª ordem como uma ordem especial para as questões de pequenas a médias regiões e
sub-bacias de 2ª ordem para as regiões maiores, excetuando as grandes demandas
advindas de grandes centros urbanos e industriais.

Efetivamente o que está em pesquisa e desenvolvimento é um sistema de referências


científicas e operacionais para a qualificação ambiental. com bases nas seguintes
ciências, engenharias e temas:

 Indústrias em áreas rurais, vias, projetos agrícolas, projetos florestais, pastagens e


criação, pequenos animais, produção de energia de diversas fontes, usos da terra,
circulação hídrica, como lidar com a erodibilidade, como lidar com a erosão em processo,
como lidar com a degradação avançada, Economia (Ec), tratamento de resíduos (tr),
Logística (Lg), Transportes (Tt), Geração de Energia em potencial ou efetiva (GE),
Geologia ambiental (Ga), Geologia estrutural (Ge), Estratigrafia (Es), Geotecnia (Gt),
Pedologia (Pd), Aptidão de solos (AS), tema dos impactos ambientais ao substrato (IA),
Hidrologia (Hd), Hidrogeologia (Hg), Zonas (ZRAs) e Áreas precisas de recarga (APRs)
de aquíferos, Botânica (Bt), conservação (Cs) e impactos sobre os biomas (IB),
preservação geo-ambiental, Climatologia (Cl) e implicações das mudanças climáticas
(MC) , Engenharia florestal (EF) , Engenharia ambiental (EA), Engenharia elétrica (EE),
Engenharia agronômica (EA) e Engenharia agrícola (Eg).

PROBLEMAS

Pode-se definir alguns problemas fundamentais para a compreensão do desafio de


certificar a qualidade agronômica e geo-ambiental das bacias hidrográficas. Pode-se
classificá-los em três categorias, a saber:
(1) Problemas de entropização dos biomas, dos ecossistemas e dos substratos, bem como
da atmosfera,

(2) Problemas referentes à lógica interdisciplinar de auxílio à decisão, com amplo e


numeroso elenco de variáveis paramétricas, conceitos qualitativos e lógicos
complexos e

(3) Como já indicado (Martins Jr. et al., 2007a, b), a arte de internalizar esses problemas
das descobertas produzidas nos âmbitos dos itens (1) e (2) nas ciências da
Administração (Ad) e nas Ciências Econômicas (CE).

Assim no campo 1 de problemas sobre entropização se tem as seguintes questões:

(1) como tratar, reconhecer e dar nota aos limites entre sustentabilidade e
irreversibilidades parciais toleráveis em biomas e ecossistemas, que não impactem sobre
a totalidade de um ou mais sistemas e subsistemas naturais no médio e no longo prazos,

(2) como organizar a produção de modo a atender ao homem e conservar as tendências


naturais das trocas de massa, energia e informação (Stonier, 1990) nos biomas e nas acias
hidrográficas, sem produzir degradação ou irreversibilidade com desaparecimento de
espécies, por exemplo,

(3) como modelar a dinâmica de longo prazo com modos prospectivos, retro-alimentáveis
com os dados de atualização dos monitoramentos das bacias,

(4) como utilizar a análise exergética e/ou a análise emergética (Odum, 1996) como
modelos quantificadores dos processos acima considerados.

A questão 2 da lógica interdisciplinar implica em articular as diversas ciências, temas e


engenharias de modos consequentes. Esta noção interdisciplinar implica em várias
análises e sínteses, a saber:

(1) análise sistêmica com a qual se identificam os sistemas naturais em um espaço


geográfico e suas inter-relações e interdependências e

(2) como tratar na forma de modelos, com os quais se descrevam a dinâmica e as


estruturas em interação, para tomar como referência os aspectos cruciais de estabilidade
dos vários sistemas naturais.

Quanto ao problema 3 sobre “o tema da entropização dos sistemas naturais, as bases de


informações e a lógica delas derivadas” resta como desafio internalizar esses
conhecimentos nas ciências da Administração com suporte da Economia.

Esses princípios e conhecimentos devem entrar nessas ciências e práticas nas formas de
conceitos epistemológicos diretores, equações, regras de uso e de articulação em
conjunção com os conceitos econométricos financeiros e com os sistemas de
administração. Por certo restam as questões éticas que transcendem as questões legais em
si mesmas.
As questões éticas devem ser normativas de condutas que não são passíveis de serem
previsíveis por um sistema legal. De outro modo as questões éticas mediam as relações
de uma percepção e perspectiva científica que apontam para noções ontológicas sobre os
sistemas naturais e as limitações que a legislação tem em apreender e traduzir as relações
ideais, mesmo que sejam leis bem avançadas como é o caso da legislação brasileira apesar
de contradições entre sistemas de leis nos diferentes códigos.

OBJETIVOS

Indicar as linhas de estudo e de desenvolvimento para se implementar os aspectos lógicos,


ecológicos e econômicos como parte dos procedimentos para se chegar a um modelo de
Certificação da Qualidade da Produção (CQPB), com uso de dois métodos sobre o
conhecimento”:  o método CommonKADS – MCK (Schreiber et al., 2000), o método
da Rodas de Correlações e Impactos MRCI em Sistemas de Arquitetura de
Conhecimentos (Martins Jr., 2006, Projeto ACEE) e com o método Delphi (Linstone &
Turof, 1977) de pesquisa de opinião técnico-científica em uma comunidade de juízes
especialistas e/ou generalistas para o desenvolvimento de um sistema de gestão, com o
qual se possa atribuir e manter a aplicação de Selos para Certificação das bacias
hidrográficas (SCQ).

JUSTIFICATIVA

A Certificação da Qualidade da Produção que é agronômico geo-ambiental e econômica


– CQP, sobre a qualidade do estado de uma bacia hidrográfica é um conceito novo em
nosso País, talvez no mundo também. É uma proposta ainda em desenvolvimento (Projeto
CQBH, 2007-2009). É inovadora dos pontos de vista científico, conceitual e tecnológico
bem como no campo epistemológico do Direito Difuso. Encontra equivalências com as
normas ISO 9.001 e 14.001, mas é distinta dessas pelo fato de estar mais voltada a
conservação da Natureza do que a qualificação do produto, embora essa seja parte
daquela.

A certificação implica em qualificar uma bacia sobre a verdade de seu estado ambiental,
e assim oferecer todas as noções de qualificação sobre o que é uma bacia em estado de
boa e/ou de má qualidade, em um espectro de situações, além daquelas qualidades ou
condições que a legislação já é capaz de traduzir.

Importante salientar é que a certificação de uma bacia hidrográfica pré-favorece a


qualificação dos produtos nela produzidos. Permite também favorecer e efetivar políticas
de conservação, tanto pelos comitês de bacias, quanto por órgãos governamentais, quanto
também pelo produtor rural seja ele agrícola, pastoril, florestal como também pelas
empresas industriais rurais.

O Poder Judiciário, o Ministério Público, o Ministério da Agricultura e o Ministério da


Justiça poderão ser amplamente apoiados por esse sistema, que dará referências
adequadas sobre como está uma bacia hidrográfica, bem como a produção agrícola e
industrial rural que nela exista.
ZONEAMENTO ECOLÓGICO e ECONÔMICO

Como procedimento básico é condição indispensável para o desenvolvimento da


qualificação (Martins Jr., 2002). Retoma-se, assim, a definição anteriormente apresentada
em (Martins Jr. et al, 2007):

 Zoneamento Ecológico Econômico ZEE é uma base de informações textuais


qualitativas e matemático-quantitativas bem como cartográficas na qual se apresentam
diagnósticos sobre a realidade atual do estado da qualidade do ambiente de uma
Região, suas características e as condições econômicas das populações nela residentes,
com suas práticas que afetem direta ou indiretamente o meio-ambiente.

Em virtude do fato de que o zoneamento ZEE é necessariamente de carácter diagnóstico


e descritivo, deve ser constituído dentro dos âmbitos das três Abordagens disciplinar,
pluridisciplinar e interdisciplinar (Martins Jr., 2000), e como este zoneamento é o
precedente mais básico à Certificação CQPB de bacias hidrográficas, deve conter, tão
exaustivamente quanto possível, todas as informações sobre estruturas naturais e
produtivas, processos supergênicos ou processos da geodinâmica externa, afetados ou não
pelas atividades antrópicas, ou mesmo apenas ameaçados por essas, uma tipologia dos
impactos existentes, as obras humanas com indicações de eventuais impactos, ainda que
todavia não existentes e as atividades econômicas strictu sensu.

Cabe ressaltar que não se precisa necessariamente cartografar e desenhar os mapas das
disciplinas especialistas, mas utilizar diretamente as informações alfanuméricas e
pictográficas dessas análises disciplinares, para realizar o zoneamento ZEE. Todavia, isto
pode ser produzido conforme a práxis de cada equipe.

DESENHO de USO OPTIMAL do TERRITÓRIO – DUOT

Este tema e conceito apresentado no capítulo 10 foram introduzidos desde o tempo do


Projeto CRHA (2003-2006). A noção de desenho, com que se reitera a definição nesse
artigo, é uma noção cartográfica, ecológica, econômica, logística, climatológica bem
como com outras ciências e temas que se caracteriza como:

 O desenho regional e/ou local, na forma de zoneamento das condições optimais ou


ideais de uso, que se julga devam determinar cientificamente o que seja o uso optimal
ou ideal da terra; (terra, no sentido de todas os subsistemas e das interações entre
esses).

A noção de desenho é uma noção de modelagem do que deve ser. Chama-se a atenção
para a construção de Modelos Naturais e Econômicos – MNE, que devem ser
interpretados à luz de um Zoneamento Ecológico-Econômico ZEE, para então se vir a
determinar as macro condições legítimas e permissíveis de intervenção do homem no
ambiente. A modelagem DUOT pode então ser especificada como “pré-projeto executivo
regional - PER” sob o conceito de “cenários regionais e locais”.

O somatório dos cenários locais transforma-se no Modelo Atual de Uso Optimal genérico,
e amplo o suficiente, para nele se trabalhar com os diversos “cenários cambiantes no
tempo”. Assim os cenários incluem a temporalidade das atividades humanas dentro do
campo da Economia no mundo real e das técnicas produtivas usadas e mais atuais.

CERTIFICAÇÃO da QUALIDADE

Trata-se do procedimento seguinte ao DUOT, que perfaz o sistema – ZEE – eP / eC / eD


+ DUOT + CQPB. Isto faz total sentido dentro da lógica de estudo integrado para auxílio
à decisão e para a gestão:

(1) Os zoneamentos Z-ecológicos e os zoneamentos Z-econômicos separadamente, mais


os zoneamentos ZEE advêm da primeira fase, por terem a feição dominante de serem
diagnósticos da situação atual;

(2) O Desenho de Uso Optimal, tanto sob o aspecto de “Modelo Geral” – DUOT, quanto
sob o aspecto de vários cenários – DUOT-Cenários (i = 1,n), que indiquem e normatizem “o
que e como deve ser o uso da bacia” no espaço e nos tempos, e enfim a certificação como
o passo seguinte

(3) Indicar todas as transformações ocorridas em direção aos vários usos optimais, sob a
égide dos vários cenários geo-ambientais e econômicos, como “cenários regional-locais
de disposições e de imposições”, que devem ser planejados, cooptados junto aos
produtores, monitorados para ser possível emitir-se certificados testemunhas do sucesso
da gestão e dos empreendimentos em integrar “Ecologia, Economia e Conservação”
enquanto práticas efetivas de gestão.

RECONHECIMENTO de CRITÉRIOS LÓGICOS sobre SUSTENTABILIDADE

Qualquer decisão deve ser tomada em cima de critérios do que é verdadeiro, bom e
conveniente no tempo. Essas três macro-condições estabelecem a base para todo o
Sistema de Critérios Lógicos – SCL - e de Regras de Inferência – RI - sobre
sustentabilidade. Entende-se por Regras de Inferência:

 Toda relação que possa ser estatuída a partir de relações previamente conhecidas, já
estabelecidas quantitativa e/ou qualitativamente, e que possam, ainda, traduzir novas
relações sobre as relações anteriormente percebidas, ou ainda novas relações então
desconhecidas, e neste caso que interessem aos objetivos de conservação ou de
intervenção sobre o meio-ambiente.

O Verdadeiro

É tomado a partir das informações científicas existentes, e na ausência dessas, em


informações que melhor aproximem os fatos, estruturas e processos, com uma visão tão
clara quanto permitam as condições, para qualquer nível de decisão que se deva tomar.
O Bom

É uma medida de ajuste ou de boa aderência da decisão à Realidade, com todos os


problemas que possam existir para se definir isto que se queira reconhecer como
Realidade.

O Conveniente no Tempo

A conveniência temporal tem diversas implicações, a saber:

(1) “o que já está começado, mas atrasado”,


(2) “o que se pode esperar ainda”,
(3) “o que se pode prever”,
(4) “o que se pode prevenir”,
(5) “o que é de urgência” e
(6) “o que se pode planejar em tempo hábil”.

O projeto científico, devidamente aplicado, pode responder a essas seis condições


temporais.

Os critérios lógicos implicam na associação de vários conhecimentos, de disciplinares a


interdisciplinar e transdisciplinar, em relação à própria associatividade natural dos
diversos sistemas, das estruturas e dos processos existentes na Natureza – o que pressupõe
uma racionalidade nos processos naturais. Assim as várias ciências, engenharias e temas
mencionados na Introdução servem de base para a montagem relacional, e em síntese,
para os diversos sistemas naturais, bem como sobre a dependência que se virá a ter desses
no desenvolvimento de processos produtivos econômicos, também quanto aos
procedimentos de conservação dos ambientes naturais.

CRITÉRIOS LÓGICOS e REGRAS de INFERÊNCIA sobre SUSTENTABILIDADE

Os critérios lógicos a serem reconhecidos e desenvolvidos para aplicação prática ao


desenho DUOT, e, por conseguinte para nortear a certificação são idênticos na base, mas
distintos no que diz respeito aos juízos de valor. No desenho de uso DUOT os critérios se
revestem de um “significado ontológico”, isto é, devem descrever a sustentabilidade
natural dos sistemas. Daí poder-se também derivar critérios próprios para uma Teoria de
Valores referentes ao “uso, conservação, preservação e produtividade sustentada”.

A noção filosófica de Ontologia implica, no entendimento contemporâneo, em incluir


todas as ciências que tratam desse assunto nos vários particulares ramos do conhecimento,
o que exige uma epistemologia integradora para esse projeto ser possível. Aquelas são as
ciências descritivas dos seres, dos objetos e das estruturas naturais como também as
ciências de descrição e de modelagem dos processos dinâmicos  todas enquanto
procedimentos de descrição do mundo real.

Por outro lado, qualquer Teoria de Valores implica em uma ciência de relações entre o
homem e os sistemas naturais e sociais. Em nível mais avançado esta teoria implica
também em um conjunto de “relações, injunções e determinações” que apontem para uma
Ética, muito mais do que para um sistema de “obediência x desobediência”, que os
sistemas legais das nações significam e implicam. O Quadro 1.1 (a, b, c, d; página 12)
aponta para essa sequência lógica própria a uma Teoria de Valores.

ENUNCIADOS LÓGICOS das REGRAS e CONDIÇÕES de SUSTENTABILIDADE

Os enunciados se apresentam de diversos modos dentro dos conceitos da Lógica clássica,


da Lógica dialética e da Lógica de valores, que são três instâncias distintas, mas
totalmente interligadas. Podem-se citar alguns enunciados fundamentais próprios da
Lógica clássica:

(1) está contido em,


(2) está localizado em,
(3) é portador das seguintes características,
(4) é portador dos seguintes atributos,
(5) os seguintes atributos são de interesse pertinente neste caso,
(6) existe uma correlação local relativa a localização, estruturas e processos,
(7) as variáveis mais sensíveis do sistema são ...,
(8) as variáveis paramétricas importantes do sistema são ...,
(9) tal situação equivale a outra tal situação,
(10) são medidas mitigadoras típicas para tais situações,
(11) essa é uma situação tal, que demanda novos modos de medidas mitigadoras,
(12) se isso, então aquilo,
(13) as limitações legais são de tais tipos ...,
(14) são cumpridas as limitações, ou não,
(15) existem limitações científicas não traduzidas em lei, a saber...
(16) tais limitações são eventualmente cumpridas?
(17) o comitê de bacia normatizou limitações em mais detalhes do que a lei comum?
quais? E tantas outras questões pareçam necessárias ainda.

No campo da Lógica dialética se tem de lidar com noções de conflito de interesses em


que “verdades” próprias às “modalidades da existência” (Dooyeweerd, 1958) como a
biótica, a social e a econômica podem entrar em contradição em face dos interesses de
grupos humanos. As relações dialéticas sem forem conectadas a uma boa Ontologia dos
sistemas em confrontação levará a sociedade às melhores escolhas, como soluções de
possibilidades, em que todos os interesses e deveres serão convergentes para o
legitimamente viável e sustentável no tempo.

No campo da Lógica de valores ocorrem as transformações das regras de convívio entre


as estruturas e os processos naturais, os interesses de grupos e setores da sociedade em
normas de valor de conduta, de normatização, legislação, emulação, certificação,
monitoramento, ajuste de conduta, premiação e punição.

Fica claro, que as regras lógicas mais evidentes dizem respeito às leis da Natureza e às
leis socioeconômicas, já que nesses três grandes sistemas – natural, social e econômico –
são reconhecíveis existir leis lógicas e funcionais que permitem e/ou traduzem a
sustentabilidade dos processos e a manutenção de suas existências enquanto sistemas. Isto
é claro, dado que toda sociedade, ainda que com produção de alto nível de valor agregado,
depende sempre na base da pirâmide da sustentação derivada dos sistemas naturais 
solos, clima, circulação hídrica, agricultura, e outros, mesmo que essa dependência seja
atendida pela importação.

REGRAS LÓGICAS de INFERÊNCIA e CARTOGRAFIA

Todo sistema inteligente referente a esses assuntos deve necessariamente associar-se a


um Sistema de Informações biogeográficas, geológicas e econômicas, geoprocessadas
nas mais variadas formas, com variados tipos de mapas produzidos no âmbito das quatro
Abordagens - disciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar (Martins Jr.,
2000).

Mapas das Geociências, sob os pontos de vista da Geodinâmica Externa, muitos dos quais
devem ser ainda devidamente concebidos, são de particular interesse por envolver temas
típicos dessa Geodinâmica, tais como:

(1) Os ciclos naturais das águas superficiais e subterrâneas com o clima

(2) Aspectos inorgânicos das condições limnológicas dos cursos d’água, lagos, pântanos
e outros corpos d’água

(3) As condições determinantes da geo-estabilidade de solos e formações superficiais

(4) as caracterizações das condições para a geo-sustentabilidade

(5) A variabilidade natural da quantidade da água e de suas várias condições de qualidade


naturais e impactadas pela poluição

(6) As rochas e a geo-estabilidade das mesmas

(7) As relações fitogeográficas e, eventualmente, fitogeoquímicas nas relações plantas /


solos / rochas / clima / água

(8) As descrições dos ecossistemas dentro do bioma e de suas relações com microclimas
e com as várias condições do substrato e

(9) As áreas sensíveis das zonas de recarga de aquíferos e das áreas precisas de recarga
no interior daquelas, entre muitos temas da Geodinâmica Externa com os processos
supergênicos ou superficiais naturais ou induzidos antropicamente, próprios dessas
condições nos mais variados tipos de ambientes.

Um sistema inteligente que articule os conhecimentos acima é a reunião de um sistema


de informações cartográficas geo-processadas, mais um sistema de relações lógicas, mais
um sistema de informações quantitativas e qualitativas, a serem operados pelo sistema
inteligente para responder a perguntas objetivas para os vários tipos de usuários, entre os
usuários, conforme as posições dos mesmos na cadeia social e produtiva, tais como os
órgãos ambientais públicos, o comitê de bacia e os proprietários rurais, bem como as
minerações e as indústrias.
A ABORDAGEM TRANSDICIPLINAR

Especial ênfase deve ser dada a um dos tipos de Abordagem transdisciplinar, com o uso
da Termodinâmica, nas formas da Análise exergética (Georgescu-Roegen, 1970) ou da
Análise emergética (Odum, 1996) para aplicação indistinta em ciências da Natureza e
ciências econômicas (Projeto CAM, 1997). Estas duas formas de análise,
complementares, trabalham com o conceito de trocas de energia e massa nos sistemas
naturais e produtivos e permitem excelente nível de quantificação dos mesmos, sem o uso
da noção financeira na base dos cálculos.

TROCAS de ENERGIA e MASSA

A noção de exergia, já vista, é simples e pode ser compreendida como:

 A quantidade de energia que, fazendo parte da energia interna de um sistema, não está,
todavia, presa em sua estrutura, e assim pode exercer trabalho sobre o meio circundante
em se tratando de um sistema que não esteja em decomposição embora a decompisção
exerça trabalho na forma poluição.

Em certos casos bem específicos a exergia, medida em joule, é a própria energia livre de
Gibbs. Deve-se ter em mente que produtos transformados em lixo possuem exergia em
diversos níveis da complexidade da estrutura dos mesmos. Assim a exergia química de
um produto ou de uma substância que se decompõe pouco a pouco, atua em cada fase de
modo peculiar sobre o meio-ambiente.

A exergia é confundida por muitos com a própria energia de um sistema, mas deve ficar
claro que a energia de um sistema será sempre em parte presa a sua própria estrutura, e
somente a exergia vem a ser trocada com o meio, sob quaisquer modos que ocorram essas
trocas. Em certos aspectos a exergia mede a eficiência, mas não necessariamente, dado
que a exergia, de fato disponível, se comparada à eficiência de um processo, será sempre
maior do que essa, por efeito da entropia crescente com a execução do trabalho sistêmico,
como ocorre nos sistemas naturais, ou do trabalho produzido pelo homem com ou contra
a Natureza.

OUTROS ENUNCIADOS do Conceito de EXERGIA

Diversas definições elucidam ainda o que é exergia:

 Exergia de um sistema termodinâmico fechado, em um dado estado, é o trabalho


máximo que se pode extrair deste sistema, conduzindo-o ao estado de equilíbrio com o
ambiente, por meio de processos reversíveis.

Outras definições de exergia enunciam-se, onde T0 é a temperatura ambiente e p0 a


pressão ambiente (vizinhança) como:

 Exergia é a parte da energia que pode ser completamente convertida em qualquer outra
forma de energia.
 Exergia é o padrão de qualidade de energia igual ao máximo trabalho que pode ser
obtido de uma dada "forma de energia", utilizando parâmetros do ambiente (p0, T0,
etc.) como aqueles do estado de referência.

 Exergia é a propriedade de um sistema que quantifica o máximo de trabalho útil que


pode ser obtido quando, interagindo unicamente com o ambiente (p0, T0, etc.), o
sistema passa de seu estado termodinâmico inicial ao estado permanente (de equilíbrio
com esse ambiente).

Os conceitos estabelecidos anteriormente demostram várias limitações na conversão das


diferentes formas de energia em trabalho. A irreversibilidade devida aos fenômenos de
resistência ao movimento, a saber, o atrito, a viscosidade, a inércia dos fluidos em que
sempre estamos imersos etc., são inevitáveis e acabam por transformar parte da energia
mecânica em calor.

Em particular, a conversão de calor em trabalho sofre limitações ainda mais graves,


descritas pela Segunda Lei da Termodinâmica, que resultam da assimetria na transmissão
do calor (que só se propaga espontaneamente no sentido em que a temperatura decresce).
Portanto, se definirmos a energia como capacidade de realizar trabalho, é necessário ter
em consideração as limitações mencionadas ao contabilizar a energia. Ou seja, o processo
de conversão não pode ser ignorado.

Assim, a chamada eficiência de Primeira Lei, não levando em consideração as limitações,


não nos informa corretamente sobre como comparar diferentes recursos energéticos na
Natureza e nos sistemas industriais, cada um com seu próprio processo natural ou com
sua própria tecnologia de conversão, dificultando, ou até mesmo impedindo, a análise
correta do desempenho dos conversores.

A VARIÁVEL EXERGIA

Considere-se, portanto, um processo aberto (não-cíclico) em que o sistema recebe calor


da vizinhança e realiza trabalho sobre ela. Além da irreversibilidade interna, decorrente
dos fenômenos de resistência ao movimento, há a irreversibilidade externa, associada
com a troca de calor com diferença de temperatura finita. O efeito da irreversibilidade é
o aumento da entropia do universo (sistema + vizinhança). As equações que regem a
conversão se escrevem:

Q = ∆U + W ou

W = Q - ∆U onde Q é calor, U é energia e W trabalho


∆S + ∆Sv ≥ 0 onde o subscrito refere-se à vizinhança

Para resolver o sistema acima, elimina-se a variável Q mediante a expressão para a


variação de entropia

∆S = Σ rev Q / T.
Porém, se o processo for irreversível, a somatória não pode ser calculada (no processo
irreversível, T ou p não é conhecido). Entretanto, a variação de entropia da fonte de calor
pode ser calculada em qualquer caso por ser constante sua temperatura. Limitando a
dedução ao caso em que o sistema troca calor com uma única fonte cuja temperatura é
T0, situada na vizinhança, temos:

∆S0 = - Q / T0
(lembremos que Q é positivo se recebido pelo sistema, ou cedido pela fonte cuja entropia,
neste caso, decresce),
porém:

∆S0 ≥ - ∆S e Q / T0 ≥ ∆S e finalmente
W ≤ - ∆U + T0 ∆S.

Como T0 é constante e S e U são funções de estado, podemos escrever

W ≤ -∆(U - T0 S).

Se o processo considerado for reversível, vale a igualdade. Portanto,

WR > WIRR e a diferença mede o efeito da irreversibilidade:


WR - WIRR = I

A função E = U - T0 S é a exergia do sistema no estado definido por U e S propriedades


do sistema.

A variação da função exergia entre os estados inicial e final do processo aberto, com o
sinal trocado, mede o trabalho máximo que o sistema pode realizar no processo.

Consideremos um processo reversível que leve o sistema de um dado estado ao estado de


equilíbrio com o ambiente (a T0). O trabalho realizado pelo sistema considerado é então
medido pela variação da função exergia entre o estado inicial e o estado de equilíbrio com
o ambiente.

Atribuindo ao estado de equilíbrio com o ambiente exergia nula, podemos interpretar a


exergia em um dado estado como o trabalho máximo que o sistema realiza entre o estado
inicial e o estado de equilíbrio com o ambiente ou, ainda, o trabalho mínimo que se deve
fornecer ao sistema (W negativo) para levá-lo, do estado de equilíbrio com o ambiente,
ao estado considerado (observe-se a semelhança com a definição de energia de estrutura,
ressalvada a condição de irreversibilidade, não considerada na Mecânica).

TEORIA de VALOR e ANÁLISE ECONÔMICA / GEO-ECOLÓGICA

Sobre o uso da terra, a crescente destruição da biodiversidade, sua conservação e


preservação para cujos fatos e práticas se devem estabelecer critérios conceituais no
âmbito de caracterização e o uso nas Geociências Agrárias e Ambientais.
O campo conceitual desse ramo do conhecimento diz respeito não só às Geociências
tradicionais, mas também às atividades humanas em interação com os ecossistemas, a
litosfera, a atmosfera e a hidrosfera. Todavia, diversos conceitos necessitam ser mais bem
caracterizados, levando-se em conta, sobretudo, os aspectos geo-ecológicos e
econômicos. Esses são aspectos, ambos da realidade social tanto quanto do saber
científico, que permitem melhor indicar as interações sistêmicas, no que elas têm de mais
significativo e importância.

Para definir-se o que é [valor], quanto aos aspectos da [economia interna dos
ecossistemas] necessita-se definir quais podem ser as questões que interligam a [ecologia]
e os [sistemas inorgânicos de suporte, incluída a atmosfera], por um lado, e as atividades
humanas de [organização] e de [produção social] com aqueles, por outro lado (Rolston,
1989) (Martins Jr., 1998, Tab.1 e 2 e eq. 1) (Faucheux et al., 1995).

De tal modo, a caracterização desses valores é predeterminante (Quadro 8.2), que a


própria delimitação do campo cognitivo só poderá ser caracterizada se houver uma
verdadeira percepção dos valores culturais-econômicos, e se formos capazes de
caracterizar a interação/ dependência desses para com o que se possa denominar de
[valores naturais] que se definem (org. Martins Jr., 2012):

 São re-cursos, cujo prefixo re-implicam na possibilidade efetiva de re-correr aos


mesmos indefinidamente no tempo, o que por sua vez significa que a própria condição
re-curso traduz a sustentabilidade do sistema natural e da produção associada ao
mesmo.

De outro modo a noção de valor natural implica não somente os recursos naturais,
enquanto recursos como matéria-prima,

 Toda a sustentabilidade da hierarquia funcional, dinâmica e retro-alimentativa das


partes abiótica e biótica dos ecossistemas em todas as escalas de existência desses
sistemas e dos processos de inter-relações entre os mesmos.

Os grandes dois ramos do conhecimento, Ecologia e Teoria de valores, são apresentados


aqui de um modo integrado, mas os métodos de trato com os seus diversos objetos têm
distinção. Considere-se, de início, o seguinte enunciado para o primeiro princípio da
Termodinâmica: 

 Todo sistema isolado mantém a sua energia não importa que transformações internas
nele ocorram, embora a tendência seja para maior entropia interna.

Ora, os sistemas naturais não são nunca isolados. Faz-se então necessário identificar e
enunciar um equivalente princípio de conservação para os ecossistemas, que sirva para
caracterizar o estado dinâmico de auto-manutenção. Pode-se enunciar que:

 Todo sistema aberto, como são os sistemas naturais, crescem em ordem e/ou mantêm
sua ordem interna se receberem energia, mas sempre produzem entropia
correspondente ao tipo de trabalho interno de ordenação realizado.
Tal princípio concorda com o segundo princípio geral da Termodinâmica da entropia e
permite que sistemas naturais sejam perceptíveis como se o estado maturo de equilíbrio
de um ecossistema for equivalente a um “quase estado de auto-equilíbrio” [pelo menos
em suficiente escala de tempo].

A ideia de equivalência a um sistema em auto-equilíbrio só procede como uma referência


a um dado estado evolutivo de ordenação e ordem, em que a produção de entropia interna
seja menor do que a produção de ordem interna, e a ordem possa crescer e/ou ficar
estacionária dentro do sistema. Assim, são três Princípios:

 Todos os sistemas naturais maturos devem ser mantidos em estado de equilíbrio


dinâmico, isto é, naquele estado em que suas trocas de energia, massa e informação
são mantidas constantes dentro de alguma moda, com seus desvios e com um mínimo
de transformação ambiental para além desse estado de equilíbrio,

 Sistemas pioneiros devem ser favorecidos a organizar-se em direção a possíveis


estados maturos e

 Qualquer transformação cultural, sobretudo sobre os sistemas maturos naturais, deve


ser conduzida de tal modo que o balanço geral do equivalente exergético da ordem
anterior à transformação, seja mantido em média, e as perdas pelas transformações
sejam utilizadas ao máximo pelo sistema cultural, enquanto este subsidia a
transformação daquele anterior, deixando o mínimo de traços de desordem no interior
mesmo.

Pode parecer utópica essa condição, mas faz sentido, se um sistema puder ser monitorado
e retro-alimentado, isto é, ser mantido em homeostasia, coisa própria para a atividade
econômica em macroeconomia, como por exemplo, sob uma perspectiva keynesiana
(Keynes, 2004) onde relações de dissimetria podem e devem ser corrigidas dentro da
perspectiva de uma homeostasia ou equilíbrio dinâmico econômico geral do sistema.

Os três princípios operacionais acima são enunciados de um modo filosófico-conceitual.


São universais o suficiente para se aplicarem a diversos tipos de sistemas, fenômenos e
situações. A partir de então se pode particularizá-los para a intersecção dos sistemas
cultural e econômico sobre os sistemas naturais biogeo-ecológicos.

Sabido é, que todo trabalho produz entropia, ainda que o sistema que exerça esse trabalho
cresça em ordem. Todo movimento caótico que afaste um sistema para longe do
equilíbrio, colocando-o em flutuação, produzirá também entropia, ainda que esse mesmo
sistema venha a crescer em ordem (Prigogine & Stengers, 1988). Em todas essas
situações, todo acréscimo de ordem interna produz entropia, portanto, não se deve esperar
que a presença do homem no planeta não produza entropia sobre o meio-ambiente. Assim,
o que fazer quanto ao “balanço exergético (energia livre), em relação com a ordem pré-
existente e a que surgirá”, é o que deve caracterizar o fio condutor de qualquer análise
geo-ambiental e econômica.
Todo trabalho produzido pela exploração de um sistema natural gerará inexoravelmente
alguma entropia em um espaço, por assim dizer, externo ao sistema, ou interno ao mesmo.
Tomemos a Terra como exemplo.

A vida, em seu conjunto, e a ecosfera, para se manterem, produzem entropia e emitem


fônons (fótons de infravermelho) para o espaço externo. Nesse espaço a desordem cresce
proporcionalmente às partículas-ondas subatômicas (infravermelho), nele dispersadas.
Assim, em algum espaço de um ecossistema em questão, ou de outro em sua vizinhança,
a entropia sempre crescerá, ainda que surja algum tipo de ordem ou de organização. O
“metabolismo sistêmico” é o que regula essas relações e o impacto ambiental é
perfeitamente claro se, entender-se que se trata da destruição da dinâmica de trocas de
energia, massa e informação.

Portanto, as questões que se colocam para a gestão do meio-ambiente são:

[1] de como se fazer para que a entropia seja mínima, ou que a taxa de crescimento dessa,
intra-ecossistemas, seja mínima,

[2] que seu resultado qualitativo produza um mínimo de rejeitos materiais,

[3] que se perca o mínimo por transporte de massa {e.g. erosão},

[4] ocupe-se o mínimo de espaço com a massa eventualmente transportada,

[5] mantenha-se a dinâmica de trocas em seus traços originais maiores e

[6] que a nova ordem melhore socialmente o que existia anteriormente.

Um exemplo típico para a diminuição da entropia interna em bacias hidrográficas é a do


reflorestamento misto {sp. nativas e industriais} e uma agricultura altamente
organizadora como é o caso do sistema permacultura e do sistema agroecológicos
(Mollison & Holmgren, 1983). Assim esses dois conceitos agregados ao da minimização
do escoamento superficial e à maximização da infiltração em solos e aquíferos permitirá
que a infraestrutura dos ecossistemas permaneça, dinamicamente a baixa entropia, isto é,
em alta conservação do status estrutural, mesmo com alta produtividade agrícola. Esse
limite deve ser perseguido com a modelagem hídrica do uso consuntivo e das
interferências antrópicas.

USO OPTIMAL do TERRITÓRIO e CERTIFICAÇÃO

Sobre a cartografia, o uso optimal e a cartografia de uso atual se estabelecem as diferenças


que podem ser críticas, ademais dos aspectos observados em escala local para determinar
os desvios da condição ideal seja pelo viés do modelo DUOT seja em nível de algum
cenário aprovado.

A cartografia DUOT, que serve de base para se estabelecer os cenários, é necessária para
a geração de um conjunto de critérios de sustentabilidade, que devem ser usados para a
certificação:
(01) usos e não-usos possíveis e/ou obrigatórios de solos
(02) quantidade e
(03) qualidade das águas superficiais e
(04) subterrâneas dos vários tipos de aquíferos
(05) conservação de ecossistemas particulares e do bioma regional
(06) conservação da qualidade química de solos
(07) desmatamento passados e atuais e análise de impactos
(08) condições de susceptibilidade a erosão
(09) ocorrência de erosão acelerada
(10) perda universal de nutrientes e de solos
(11) desvalorização de terras
(12) desertificação
(13) arenização
(14) secagem de rios
(15) alterações expressivas da circulação hídrica
(16) assoreamento de cursos d’água e de corpos d’água menores
(17) conservação de zonas de recarga de aquíferos subterrâneos (ZRAs)
(18) impactos sobre ZRAs
(19) perda de fauna e
(20) condições de conservação da fauna com a presença de atividades antrópicas
(21) critérios lógicos completos para projetos de licenciamentos agrícolas
(22) aplicação de critérios lógicos completos para projetos de licenciamentos de
construção de barragens
(23) análise prospectiva de impactos de obras de engenharia a construir
(24) análise e modelagem de compensações ambientais de impactos de obras a construir,
ou já construídas, com medidas de conservação e reconstituição de paisagens
(25) critérios de paisagismo rural
(26) medidas de previsão de incêndios naturais
(27) medidas regionais efetivas para evitar e apagar incêndios naturais, ou antropicamente
induzidos, com pesquisas e modelagem climatológicas de probabilidades de
incêndios naturais
(28) qualidade e quantidade da educação ambiental regional efetivas junto aos agentes
sociais público em geral e os proprietários rurais
(29) disseminação de projetos executivos de conservação e restauração de solos com
biodigestão anaeróbica e aeróbica no campo para aplicação de nutrientes e insumos
naturais
(30) saneamento ambiental urbano e
(31) corretos critérios para tratar com as águas de usos e de re-usos, entre muitos outros
temas.

SISTEMA de REFERÊNCIA – Comitês de Bacias, Ministério Público e Poder


Judiciário

Todo o processo de implementar um Sistema de Certificação visa a sociedade civil os


auxiliares da ordem social, o Ministério Público, o Poder Judiciário e a administração
pública em seus diversos níveis geopolíticos. O referido sistema inclui o aspecto
administrativo e o aspecto lógico-inteligente acoplados em um sistema de administração
da complexidade. Deve ser um sistema interativo entre administradores e o público civil,
para que o sistema permita uma interação construtiva entre as partes e que a certificação
possa prosseguir de modo rápido em intervalos de atualizações, por exemplo, a cada dois
anos. A interatividade deve tratar de bases informacionais para avaliação, controle,
monitoramento, mitigação e qualificação da sustentabilidade geo-ambiental com vistas a
certificar as bacias e toda a produção agrícola, que possam estar sendo produzidas nelas.

A noção de certificar “a bacia e a produção” é inovadora no mundo, e será, por certo, a


única atividade que permitirá, pela dupla certificação, que as fraudes sejam minimizadas,
que a emulação entre produtores seja efetiva no sentido recíproco de respeito às normas,
já que por haver certificação de bacia, as certificações das produções locais serão de
muitos modos, afetadas por aquela, ainda que cada produção local possa estar em uma
condição ótima.

INTEGRAÇÃO de AVALIAÇÕES, MONITORAMENTO, JUÍZOS de VALOR e


AJUSTAMENTO de CONDUTA

A certificação só pode ocorrer se o desenvolvimento de sistemas de certificação for


implementado ao longo de alguns anos de trabalhos complexos envolvendo ciências
diversas, sistemas computacionais que implicam no uso de sistemas geográficos-
geológicos SGG, sistemas inteligentes para auxílio à decisão SisDec e sistemas de
arquitetura de conhecimentos interdisciplinares – SACI, que fornecem as bases cognitivas
para o auxílio à decisão à luz dos diagnósticos que o sistema – SSG arquiva em vários
tipos de bases de dados e informações temáticas. O SGG deve ser responsável pela
integração de avaliações geo-ambientais e econômicas, pelos resultados analisados dos
monitoramentos enquanto pela disponibilização das informações conceituais, de modo
interdisciplinar para suporte à decisão, com apoio do sistema SisDec (org. Martins Jr.,
2005).

INTERNALIZAR a VISÃO ECOLÓGICO-ECONÔMICA

Vários agentes da sociedade brasileira como o Poder Judiciário, Ministério da Justiça,


Ministério Público, Comitês de bacias e os proprietários rurais têm necessidade
fundamental de internalizar as questões, ao mesmo tempo ontológicas e científicas, que
as Geociências Agrárias e Ambientais trazem para esses diversos agentes no sentido de
lidarem com os projetos econômicos e sociais, tradicionalmente predadores do meio
ambiente. Essa tarefa já começou nesta nação, mas há muito ainda o que fazer. Pesquisas
nessa direção foram desenvolvidas (Martins Jr. & Alvarenga, 2006-2008; Martins Jr. et
al., 2006) com foco na compatibilização dos conhecimentos ontológico-científicos, com
a economia, produção de energia, a jurisprudência e a sociedade em geral (Martins Jr et
al., 2008).

Seguramente que várias etapas de zoneamentos ecológicos, zoneamentos econômicos,


zoneamentos ecológicos-econômicos, os estados de Preservação eP, Conservação eC e
Degradação eD, o desenho de uso optimal do território e a certificação da qualidade da
produção agrogeo-ambiental não deixarão margem a equívocos em virtude da eficiência
de que esses métodos e sistemas de representação possuem para normatizar, orientar e
fornecer meios de verificação, controle e certificação da qualidade como também de
estímulo à produção em coerência com o meio ambiente.

SISTEMA de CERTIFICAÇÃO da QUALIDADE da PRODUÇÃO

O sistema SCQP, em desenvolvimento, é um sistema inovador que pode funcionar de


diversos modos que retratem e qualifiquem as várias situações geo-ecológicas, agrícolas,
pastoris, industriais, energéticas e econômicas em que se encontrem as bacias
hidrográficas e a produção, dentro de cada uma delas.

Por certo, o sistema de certificação deve acompanhar as formas legais hoje existentes no
País, enriquecendo-as, com as exigências de (1) mitigação (2) ajuste de conduta (3)
reparos legais compensatórios, mas não somente isso. Todos os procedimentos ZE-L, ZE-
N, ZEE, eP, eC, eD, DUOT / DUOT-Ci (i=1,n) e SCQP fecham uma clave lógica do
diagnóstico, ao planejamento com prospectiva em forma de cenários, às premiações para
os produtores e para a qualificação nacional e internacional de nossos produtos.

No que diz respeito a exigências internacionais todos esses métodos e sistemas de


procedimento servem também para legislarmos com exigência de paridade de outras
nações em relação ao respeito e às boas práticas geo-ambientais, energéticas e econômicas
como forma de proteção de nossa Economia pela exigência de reciprocidade entre as
nações e a prática de restrições à entrada de produtos não qualificados, segundo a
legislação nacional que possa então vir a existir embasada na ZEE, DUOT, DUOT-Ci
(i=1,n) e SCQP. Ademais o SCQP é parte do sistema de “qualificação progressiva” da
produção considerando-se a ecologia, energia e economia – CQPEEE – partindo das
condições negativas, eventualmente existentes nas bacias e propriedades rurais conforme
aqui definidas às condições positivas em um intervalo [-100, +100] para a emissão do
selo de certificação ecológica e econômica.

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12
DESENVOLVIMENTO GEOAMBIENTAL E ECONÔMICO
– Gestão de Bacia Hidrográfica –

Palavras-chave: Sustentabilidade, segurança ambiental, segurança econômica, modelos,


planejamento, política de uso optimal.

Em passado recente a noção de desenvolvimento era centrada na questão econômica, mas


dado o fato de que alguns aspectos fundamentais norteavam as relações de poder na
sociedade, a noção de desenvolvimento se fundava, efetivamente em dois aspectos:

 Um tipo de relação de poder em que as relações de trabalho eram controladas pelo


grande capital, embora mediadas pelo sistema de sindicatos, e a produção de mais-valia
era preponderantemente apropriada pelos donos do capital;

 Na crença difundida de que os recursos naturais eram na prática inesgotáveis, com o


conseqüente e intricado resultado de que tanto pobres quanto ricos, aos seus respectivos
modos, predavam o planeta de modo indiscriminado.

Na década de 1960 o Clube de Roma, um grupo de expoentes do saber em vários de seus


ramos, tocou o sinal de alerta de que as coisas poderiam rapidamente degradar-se na
totalidade do planeta. Foi publicado em julho de 1970 o relatório ‘Dilemas’ como um dos
primeiros textos em que o ‘primeiro time’ do grande empresariado mundial demonstrou
alguma preocupação com as barreiras ambientais ao crescimento econômico.

Que pese a contestação de Michel Bosquet jornalista francês em debate promovido pelo
Clube do “Nouvel Observateur”, em Paris, a 13 de junho de 1972 – poucos dias depois
da Conferência de Estocolmo disse: “A consciência ecológica ostentada por alguns
grandes patrões parece-me, antes, ser uma manobra estratégica com um duplo objetivo.
O primeiro é o de desarmar a contestação ecológica apropriando-se de alguns dos seus
temas, servindo-se deles como de um álibi ....” (Bosquet, 1973).
Este autor está convencido de que existia um álibi atualmente plenamente em curso pela
elite mundial do poder.

A concepção deste grupo ressoa até hoje dado que as condições ambientais têm piorado
de modo notável seja para a atmosfera, a biosfera e a hidrosfera apesar de alguns esforços
internacionais para se chegar a alguns acordos de condutas. A litosfera tem no aumento
da desertificação o paradigma de uma calamidade ameaçadora, bem como com a perda
de nutrientes dos solos e por não menos a perda dos próprios solos.

A questão do desenvolvimento eco-sustentável é complexa justamente porque envolve


questões de definições e estudos de viabilidade tanto para os aspectos da sustentabilidade
geoecológica tanto quanto da sustentabilidade do próprio processo econômico. Assim um
terceiro passo deve ser dado para se avançar com a noção articulada de desenvolvimento
econômico com viabilidade geoecológica.

POR UMA TEORIA INTEGRADORA

Para o conceito de Desenvolvimento Geoeconômico e Social Sustentável convém


começar com Princípios como o passo mais acertado, em especial, se esses princípios
permitirem determinar-se limites mais precisos sobre o alcance que uma teoria possa ter
e a justeza da mesma à Natureza quanto aos processos geoecológicos e também aos
processos sociais e econômicos de modo interligados, como é próprio do mundo real.
Três Princípios são enunciados em seus aspectos qualitativos (org. Martins Jr. 2013).

 Para que ocorra o aumento de ordem em qualquer parte do cosmos é necessário que
ocorra um aumento de desordem em outra parte da vizinhança,

 Podemos expressar o aumento de desordem pelo aumento do número de fótons de


infravermelho cedidos à vizinhança ou meio ambiente.

 Toda produção gera resíduos, que são mais ou menos agressivos, logo toda produção
deve tender a condição de produção limpa cuja geração de resíduos oferecerá o menor
risco possível de exergia química no ambiente e de efeitos mecânicos sobre o mesmo.

Estes três princípios são peremptórios em virtude de derivarem da 2ª lei da termodinâmica


tanto pelo viés de Clausius quanto de Boltzman. Assim, não é possível um aumento de
ordem no sistema socioeconômico sem que algo de desordenador ocorra no ambiente.
Isto é fato intrínseco aos próprios processos de ordenação.

Quer se queira ou não em toda cadeia de produção geram-se resíduos que devem de algum
modo ser guardados nos sistemas naturais, ou por eles ‘metabolizados’, como boa
metáfora biológica, e em muitos casos literalmente metabolizados pelo ecossistema.
Apresentam-se ainda seis enunciados categóricos:

 A produção de resíduos em toda fase da cadeia de produção é em si um processo


desorganizador do ecossistema, logo em cada fase da cadeia produtiva deve-se
desenvolver ou ter-se meios de prover soluções limpas para a respectiva fase,

 Entende-se por soluções limpas aquelas que permitem, ou guardar resíduos, ou mesmo
transformá-los, reduzindo a exergia dos mesmos a substâncias não reagentes,

 Mesmo com a produção de resíduos não reagentes existem riscos de eventos


mecânicos de interação nociva desses resíduos sobre os ecossistemas,

 Todo posicionamento, por mais estabilizado que seja sempre será ao longo tempo uma
situação meta-estável sujeita às transformações geológicas de todas as estruturas e
objetos da superfície da Terra,
 A localização mesma de resíduos quimicamente inativos nas planícies abissais dos
oceanos deve obedecer a condições tais que os mesmos não afetem as condições
sistêmicas das biotas marinhas,

 Todo resíduo deve fazer parte da condição econômica do processo produtivo desde o
seu início ao resíduo final do produto, uma vez descartado.

Os enunciados acima são elucidativos do ponto de vista ontológico. Servem para dar
limites ao pensamento e aos modelos de interação socioeconômica / geoambiental no
processo de geração de superávit para as populações humanas. Decorre daí que os
sistemas socioeconômicos devem por sua vez também ser norteados por Princípios, a
saber:

Existem grupos humanos em diferentes fases de evolução transpessoal do ego coletivo


(Neuman, 1973; Wilber, 1977; 1981) e de organização socioeconômica que devem ser
respeitados em suas peculiaridades, de tal modo que os mesmos possam manter seus
traços de identidade, trocar com outros grupos e ainda serem capazes de participar da
riqueza gerada, apropriando-a nos seus próprios campos de significados culturais.

Os sistemas econômicos que já ultrapassaram a fase da coleta possuem a característica de


serem armazenadores, logo mantendo-se ‘o princípio armazenador’ como um fato
fundamental da economia, a concentração da riqueza deve ser regulada pelo sistema
político de tal modo que as competências para gerarem e armazenarem riquezas possam
por isso mesmo não impedir que a sociedade como um todo se mantenha com níveis de
‘gradientes de riqueza’ compatíveis com a estabilidade geral do sistema social – essa
noção de estabilidade deve ser modelada para ser atendida em diversas fases de evolução
do processo econômico.

Os níveis de ‘gradientes de riqueza’ devem ser definidos socialmente pela discussão


política e pelas práticas adequadas das intermediações dos Estados / governos em
repassarem às populações, em geral, o necessário a partir também dos excedentes para
manter as condições de vida em boas condições e em oferta de oportunidades.

Embora a riqueza possa fluir livremente no jogo de vai-e-vém do capital, o mesmo deve
ser regulado de modo a permitir que os tempos e as condições de trânsito permitam
sustentar a produção de riquezas localmente, enquanto aqueles capitais são remunerados
de modo justo, diminuindo-se assim os altos gradientes de riqueza, sem necessariamente
se interferir no armazenamento.

O controle do fluir deve ser feito pelo controle dos tempos de residência do capital e pelos
impostos ou não-impostos, conforme regras de residência em projetos de
desenvolvimento produtivo.

A noção de total e livre fluxo de capitais sem regulação aporta necessariamente um efeito
desestabilizador do sistema produtivo, e por outro lado favorece concentrar mais capital
nos armazéns pessoais, aumentando assim ainda mais os gradientes sociais de riqueza,
que são nocivos às sociedades por gerarem exclusão social, e ao fim poderem vir a
desestabilizar o sistema como um todo.
Os Princípios acima enunciados vão contra práticas atuais da economia. Neste sentido a
discussão com esses princípios, como pontos de partida, deve ser parte do processo
político e do processo teórico de caracterização do que é efetivamente desenvolvimento
eco-sustentável. E a pergunta primária é  seria o projeto econômico atual forjador de
algum tipo de sustentabilidade?

Para responder a isto devemos notar que pelos resultados até então obtidos esse projeto
produz:

 Desordem entre as classes sociais pelo drástico aumento de ‘gradientes de riquezas’ e


exclusão, de fato, de grupos inteiros da sociedade,

 Profunda exploração dos recursos naturais com esbanjamento das riquezas produzidas
pelo ‘método consumista de viver’,

 Estímulos subjacentes correlatos a ‘processos de alienação’, via tráfico e uso de


substâncias alucinógenas, que servem para esconder a dor existencial de numerosos
grupos de pessoas,

 Perda de significado sobre os aspectos essenciais da existência humana, que são a


solidariedade, o amor ao próximo, o direito às condições de vida não somente mínimas,
mas que gerem abundância para o desenvolvimento pessoal de todo ser humano, gerando-
lhes oportunidades,

 Depredação dos reservatórios naturais de recursos das águas, dos solos, da atmosfera
e da biosfera,

 Geração e manutenção de populações pobres e incultas que geram depredação típica


com a busca de condições de sobrevivência dentro do sistema social dominante.

 Existem aspectos positivos no sentido de desenvolver soluções tecnológicas


inequívocas, mas essas mesmas condições devem ser articuladas, ao que se mostra nesta
obra, em transformar todo o esforço inovador e produtivo em soluções ecológicas-
econômicas e tanto quanto possível regular esses esforços e resultados em um contexto
social saudável.

Deve-se, todavia, entender que a premência dos fatos em nível planetário tem favorecido
conceituar-se o desenvolvimento e analisá-lo sob a perspectiva da sustentabilidade, como
discutido no próprio âmbito do grande capital com visão mais integrada (Forum
Econômico Mundial, 2013). Estabelecidos esses princípios reconhecidos como válidos
deve-se ainda buscar na noção de ‘antinomia’ uma noção norteadora e delimitadora das
formas de pensamento como também do aspecto ontológico, sob a perspectiva aqui
estabelecida.

A noção filosófica de antinomia apresenta-se como uma norma para o adequado pensar,
isto é, aquele que capta a realidade, quando investigativo e/ou quando propositivo, sem
entrar em algum tipo de contradição com o real e com o próprio pensar. Acrescente-se
também quando ainda não gere antagonismos socioeconômicos e geoambientais, como
no tema aqui tratado. Deve-se adotar também a noção de antinomia para as ações humanas
que entrem em contradição com a sustentabilidade natural dos ecossistemas.

O QUE é VIABILIDADE ECOSSISTÊMICA

Por viabilidade ecossistêmica apresenta-se duas definições:

 O conjunto de soluções de gestão, de engenharias, soluções biológicas e sociais para


os processos produtivos com as quais, com a formação de rejeitos em todas as fases da
produção sejam garantidas condições de estabilidade, e mínima interação daqueles
com os ecossistemas.

 O plano de uso da terra e da água, bem como o quadro gera de ocupação dos territórios
e biomas de modo a se manter íntegros os vários sistemas naturais, não permitindo que
os mesmos possam ultrapassar o limiar de irreversibilidade.

A viabilidade ecossistêmica implica ainda que as noções, e o conhecimento sobre a geo-


sustentabilidade de uma região possam ser determinadas, permitindo decisões
consistentes entre a vontade de produção e as estruturas dos ecossistemas.

O QUE é VIABILIDADE ECONÔMICA

Que pesem as dificuldades dos processos econômicos a viabilidade pode ser expressa
como a condição tal que:

 Os investimentos em produção possam ao longo de determinado tempo dar retorno


financeiro, de empregos e de circulação de bens, salvaguardado o fato de que o
ecossistema concernido tenha sido protegido dos efeitos de desorganização e que o
sistema econômico seja financeiramente viável, obedecendo a regras já sabidas e/ou
atualizáveis das ciências econômicas.

VIABILIDADE GEO-ECOLÓGICA e ECONÔMICA

Conjugar ambos os conceitos implicam em compreender quão profundamente cada


sistema tem suas formas e seus processos, entender como ocorrem as interações entre os
mesmos e como se pode detectar leis comuns de funcionamentos, leis essas que embora
equivalentes não são iguais. A noção de pensamento analógico antecipativo e
retrocipativo (Dooyeweerd, 1935) é fundamental, e a noção de como um sistema imbrica
com o outro, como faz intersecção com outro e/ou é interdependente, ou sofra os efeitos
de ações do outro sistema.

Essa rede de processos entre o que podemos denominar ‘sub-modalidade ecossistêmica’


(Martins Jr, 2000) e ‘Modalidade Econômica’, segundo Dooyeweerd (1958), é o centro
do foco para a questão da viabilidade ecológico-econômica. Ambos conjuntos de
‘aspectos modais’ devem ser considerados seriamente e modelos devem ser construídos
para que se possa produzir um método global de aproximações sucessivas à descrição
dessas ‘Modalidades’, e de como se pode criar uma teoria de desenvolvimento eco-
sustentável.
Podemos enunciar com recurso à 2ª lei da termodinâmica outro Princípio:

 A produção de uma nova ordem socioeconômica não deve produzir resíduos de


entropia em toda e qualquer fase do processo, resíduos esses que não possam ser
tratados, armazenados e/ou metabolizados pelos sistemas naturais, ou por sistemas
industriais recicladores que não deixem, esses mesmos, outros resíduos expressivos e
ativos.

Este enunciado implica em decisões importantes quanto a natureza do que produzir ou


não. Este é um assunto de importância social, política, econômica e ética de máxima
significação.

ECOLOGIA ENERGIA ECONOMIA - O TRINÔMIO DESEJÁVEL

Introduzir o pensamento geo-ecológico no pensamento econômico implica em escolher


métodos econômicos, temas, modelos e outros aspectos dessa ciência que intersectem
com as atividades humanas e a questão da valoração do ambiente enquanto tal. A tarefa
pode evoluir pelo simples processo de geração de modelos econômicos financeiros para
a produção agrícola, pastoril, florestal e o uso da terra no qual o aspecto geoecológico
entrará por meio da agroclimatologia, da aptidão dos solos, da conservação de solos, das
relações de conservação de florestas naturais e do espaço agrícola, pastoril, industrial e
de produção de energia.

Todas tais coisas ainda devem ser agregadas quanto aos aspectos de uso da água, seus
custos e conservação, uso dos biocidas e insumos adubos com as implicações de poluição,
de tal modo que esses aspectos todos sejam correlacionados e ao fim emirja uma visão
econômica parametrizada por um pensamento e práticas conservacionistas (Martins Jr. et
al., 2012, inédito).

MODELOS de USO da TERRA

Os parâmetros de modelos de usos da terra são os aspectos mais expressivos. As noções


de terras para agricultura intensiva, para projetos de agricultura orgânica, de áreas de
conservação ao longo de cursos d’água e das Veredas (no caso do bioma Cerrado), áreas
de corredores entre maciços florestais naturais, os próprios maciços em espaços
remanescentes ou em amplidões, as zonas de preservação, os santuários terrestres e
aquáticos, os aquíferos subterrâneos e os aquíferos superficiais, todos eles compõem um
quadro complexo de aspectos para modelos de uso da terra (Martins Jr. et al., 2008-c;
2009; 2010-b). Pode-se estabelecer uma regra lógica simples:

 Todas as zonas, e áreas específicas de recarga devem ser conservadas, entendendo-se


por conservação a manutenção e/ou restauração das condições máximas de infiltração
com correspondente diminuição do escoamento superficial como possível fator de
erosão e do rápido escoamento superficial imediato nos períodos chuvosos.
MODELOS de CONSERVAÇÃO de RECURSOS HÍDRICOS

A conservação de recursos hídricos envolve:

(1) manter as zonas de recarga de aquíferos com condições naturais ideais de infiltração,

(2) a minimização do escoamento superficial derivado diretamente das chuvas por meio
de reocupação adequada do território com agricultura e silvicultura,
(3) o uso adequado de quantidade de água para a agricultura irrigada com o melhor
aproveitamento da relação cultivar / condições / técnicas de rega,

(4) o adequado uso urbano quando situado nessas áreas sensíveis,

(5) os métodos de captação de água da chuva, particularmente em regiões semi-áridas e


áridas.

(6) a conservação de florestas ripárias,

(7) a proteção de fontes no entorno imediato e nos trechos mais frágeis dos cursos d’água,

(8) os adequados usos da terra com boas práticas geológicas e de plantios.

MODELOS de FLORESTAS ECOLÓGICO-ECONÔMICAS

Florestas naturais podem ser de diversos tipos como as dos biomas, Cerrado e Caatinga,
as florestas úmidas e toda gama de variantes específicas dessas. A sabedoria, a
inteligência e o bom senso devem impelir à gestão das relações humanas com as florestas,
de tal modo que mantendo-as com adequados programas de conservação e de exploração
possamos viver e enriquecer com seu produto natural. Tal coisa não tem sido assim na
história da constituição territorial do Brasil. Nas Regiões Sudeste e Sul ocorrem que
grande parte das florestas já foram desmatadas. Pode-se também incluir na Região
Nordeste a Zona da Mata Atlântica.

Cabe repensar a questão florestal com algumas premissas:

1 – Parada total de autorização de exploração madeireira com algumas ressalvas locais


com um período de moratória para breve em 2014; existe um acordo com a nova lei
do Estado de Minas Gerais que prevê o desmatamento zero em 2023, o que se
considera excelente em si, mas muito tardio para salvar florestas nativas (ref. www-
01),

2 – Construção de um programa de pesquisas sobre desenvolvimento florestal para


madeiras de lei e árvores especialmente escolhidas da Floresta Atlântica e do
Cerrado,

3 – Construção de centenas de hortos municipais e regionais para produção de milhões


de mudas de espécies importantes como as madeiras de lei, as frutíferas e outras,
4 – Mapeamento rigoroso das florestas e maciços florestais remanescentes de tal modo
que se possa vir a realizar um rigoroso programa de planejamento de replantio,

5 – Identificação de maciços florestais para serem reunidos por reflorestamento sobre


grandes extensões (Martins Jr., et al., 2006; 2008-a; 2010; Alvarenga, 2010), neste
caso com foco central no reestabelecimento da conectividade floral entre
remanescentes florestais e de vários ecossistemas,

6 – Estabelecimento de um programa de geração de firmas de reflorestamento biodiverso


com alta tecnologia de gestão e de agregação de valor,

7 – Produção e oferta de cursos em diversos níveis para a criação de núcleos de pessoal


técnico em administração, engenharia florestal e atividades gerais de
reflorestamento,

8 – Criação de modelos gestionários e de modelos de prospectiva em economia física e


financeira com aplicação na produção florestal para produção de energia (carvão
vegetal), fruticultura, madeira de lei para indústria moveleira e para a indústria civil
(Martins Jr. et al., 2006).

Por modelos de florestas, como parte dos Desenhos de Uso Optimal do Território –
DUOT (Martins Jr. et al., 2010-b), pode-se caracterizá-los como:

 O conjunto de conceitos normativos que indicam os procedimentos para


florestamentos cujas assembleias vegetais poderão ser regidas por relações geoecológicas
e econômicas, indicando-se assim o sentido funcional primordial de uma floresta (Martins
Jr., et al., 2008-b) (Figura 12.1).

 Todo modelo geoecológico-econômico deve necessariamente recobrir as condições de


sustentar a interação de plantas nativas, plantas econômicas nativas ou mesmo exóticas à
Região, constituindo maciços e/ou corredores florestais tais que as relações entre a
presença do homem e dos animais silvestres seja favorecida pela própria estrutura da
floresta.

 Todo modelo ecológico é aquele no qual estão presentes apenas espécies nativas em
condições tais que o maciço florestal possa ser mantido em integridade de modo a permitir
o tráfego de animais nativos com condições para o evitamento das invasões dos animais
domesticados.

 Todo modelo econômico é aquele que sem ofender necessariamente o balanço local
de relações geoecológicas está fortemente ancorado na produtividade econômica total do
corpo florestal, e neste caso algumas medidas estratégicas deverão ser mantidas para que
as condições geoecológicas da micro-região não sejam comprometidas.

IMITANDO a NATUREZA
Imitar a Natureza é imitar os processos geobióticos no processamento da matéria e
energia, basicamente. Estão implicados nisso:
(1) a matéria vegetal disponível do processo agrícola

(2) a matéria vegetal disponível da capina e limpeza de terrenos

(3) a matéria disponível da derrubada de árvores em florestas naturais e/ou plantadas

(4) a matéria de sobra de madeira em serrarias


1a 1b

Figura 12.1 – Modelo ideal de corredor florestal ecológico econômico e Desenho de Uso Optimal
do Território DUOT, na sub-bacia de Entre Ribeiros Vale do Paracatu. 12.1a – Desenho de Uso
Optimal do Território com um cenário de modelo ideal de corredor florestal ecológico
econômico, onde a faixa central é de plantas nativas protegidas pelas faixas laterais de plantas
econômicas na sequência de dentro para fora, plantas frutíferas, árvores de madeira de lei,
árvores de madeira energética, estas na condição de sustentação ecológica do substrato; 12.1b –
cenário de Desenho de Uso Optimal do Território – DUOT (Martins Jr et al., 2010-b), da sub-
bacia de Entre Ribeiros com corredores florestais (Figuras 2) (org. Martins Jr., 2004).

(5) o lixo orgânico de áreas rurais e urbanas

(6) a fumaça e gases de produção de carvão vegetal

(7) a fumaça de incêndios naturais e a serem evitados

(8) a água residual de áreas urbanas

(9) os resíduos de animais domésticos de pequenos e grandes criadouros

(10) as barragens para produção de energia

(11) as barragens para água de consumo doméstico, urbano e potável

(12) a água para consumo urbano

(13) a água derivada de aquíferos subterrâneos produzida por minerações profundas


(14) os esgotos não tratados de áreas urbanas

(15) os efluentes de indústrias

(16) as águas residuárias não suficientemente limpas e

(17) os insumos agrícolas como fontes difusas de poluição.

Figura 12.2 – Área da sub-bacia de Entre Ribeiros a partir de imagem Landsat, 2006. 12.2A –
Vista do satélite Landsat de área na sub-bacia de Entre Ribeiros, 12.2B – sub-bacias de 4ª a 5ª
ordens na mesma área com vegetação remanescentes (em vermelho) em florestas de galeria (em
verde), 2C – na mesma imagem de satélite insere-se desenhos de corredores florestais ecológico-
econômico, cujas várias espécies são representadas por cores diversas como um cenário de
Desenho de Uso Optimal do Território - DUOT, 2D – o mesmo desenho na área como
representada na imagem 12.2B (org. Martins Jr., 2006). Em A e B todas as áreas são desmatadas
para agricultura intensiva.

TECNOLOGIA LIMPA

Considera-se como tecnologia limpa:

 O conjunto de métodos, técnicas e procedimentos ao longo de toda a cadeia de


custódia que permitam criar produtos tecnológicos que servem em quaisquer fases
da produção para minimizar rejeitos, ou para transformá-los, levando-os a atingir
as condições de mínima exergia ou mínima atividade química; de outro modo
inclui-se também as técnicas, métodos e procedimentos que servem para guardar
rejeitos em condições de transformação tais que próprias para guardá-los quando
não for possível destruí-los completamente.

ORDENAMENTO do TERRITÓRIO

O objetivo desta atividade é de traçar em amplo espectro a relação entre o Direito


Ambiental e os instrumentos de Ordenamento do Território, visando ao desenvolvimento
sustentável com especial ênfase na preservação de recursos hídricos e da terra. Em
primeiro, cumpre delimitar o conceito Ordenamento do Território:

 Entende-se como o planejamento e gerenciamento das atividades humanas para


determinado território cujo objetivo é prover a utilização racional dos recursos naturais
de uma região, obtendo maior produtividade em paralelo a dois máximos, o de
preservação e o de conservação ambientais.

Mapeadas as interconexões jurídicas passa-se então a uma análise de viabilidade do


manejo integrado do ordenamento do território em conjunto com a conservação dos
recursos hídricos e da terra.

PLANEJAMENTO de BACIAS HIDROGRÁFICAS

O enfoque desse tipo de planejamento se mostra potencialmente eficaz na gestão geo-


ambiental, visto que as bacias são sistemas naturalmente delimitados, onde ocorrem
trocas de matéria, energia e informação caracterizáveis. Outra vantagem da gestão de
bacias é que permite o trabalho em múltiplas escalas, desde grandes vales, até bacias de
pequenos riachos dentro de uma propriedade rural. Essas diferenças de escala permitem
que as bacias sejam usadas com apoio do ordenamento territorial em grandes planos
setoriais governamentais, até o planejamento das atividades de produtivas rurais em
propriedades particulares.

Ao estudar comparativamente as bacias hidrográficas, percebe-se que possuem


características e dinâmicas ambientais diferentes. Estas vão influenciar diretamente nas
atividades humanas, selando inclusive a condição de viabilidade de empreendimentos. As
características geoambientais vão definir a maneira como a população vai sobreviver
dentro da bacia hidrográfica, determinando de maneira indireta, mas crucial, a sua cultura
e modo de vida. Exemplos extremos são as populações de uma bacia hidrográfica do
semi-árido, outra da bacia Amazônica e outra as regiões de fronteira agrícola, cada uma
delas com sua população singular. Enfim, dessa maneira as bacias hidrográficas precisam
ser encaradas do ponto de vista geoecológico, econômico e social, já que essas três
instâncias interferem entre si e são reciprocamente interligadas, promissoras e limitantes.

AUTONOMIA e GESTÃO de BACIAS HIDROGRÁFICAS

Muito se tem discutido sobre a defesa da autonomia e sustentabilidade dos povos, sobre
como se mostra estratégico para um povo conseguir suprir suas próprias necessidades,
diminuindo assim sua dependência externa. Um povo com autonomia alimentar,
energética, hídrica e econômica se encontra protegido contra crises e reveses que atinjam
a região, ou mesmo o mundo como um todo, já que as necessidades da população podem
continuar a ser supridas.

Do ponto de vista ético e moral, também deve ser considerada como essa autonomia
regional é importante para defender a dignidade de um povo, podendo sobreviver sem ser
submissão a outro grupo externo, mantendo assim seu modo de vida, seus valores, sua
cultura, seus saberes tradicionais, sem esquecer também o direito a uma vida segura e
qualitativamente boa.

Ressalva-se que a autonomia de um povo não significa o seu isolamento do restante da


sociedade global, mas sim que consiga levar adiante seu projeto de desenvolvimento
ecológico-econômico, de uma maneira madura, em que sua interação com os demais
povos se dê como uma cooperação entre equivalentes, e não na forma dominado-
dominador.

Acrescentando ao viés da sustentabilidade, é necessário planejar e agir para garantir esses


direitos não apenas para a geração presente, mas também para as que estão por vir, o que
implica também em não esgotar os recursos naturais e as potencialidades dos
ecossistemas.

Afinal, como já visto que há uma singularidade tanto do sistema natural quanto do
humano dentro das bacias hidrográficas, torna-se útil utilizá-las como unidades
estratégicas de desenvolvimento sustentável. Do ponto de vista da economia física, elas
devem ser consideradas como unidades naturais e de produção.

UNIDADES GEO-AMBIENTAIS

Alguns aspectos dos processos de interpretação geoambiental e econômico merecem


destaque especial. Um deles é a identificação das ‘unidades geoambientais’, da qual nos
ocupamos neste item. É fato que, ao realizar o estudo comparado de bacias hidrográficas,
segundo múltiplas variáveis ambientais, percebe-se que algumas regiões contínuas
apresentam características e processos ambientais bastante parecidos, portanto serão
chamadas de “áreas homogêneas”, ou “unidades geoambientais”.

A identificação dessas áreas permite melhor compreensão dos sistemas geo-ecológicos


de um território, e pela situação ambiental específica de cada uma é possível determinar
planos de ação diferenciados, que respeitem os recursos naturais e a vulnerabilidade
desses sistemas. Deve-se incorporar na delimitação das unidades geoambientais, não
apenas as variáveis de caracterização natural, mas também as atividades humanas
presentes e potenciais. Embora essa maneira alternativa crie unidades não exatamente
correspondentes aos sistemas naturais, ela tem a vantagem de fornecer diferenciações
úteis na hora de formular políticas ambientais específicas para cada uma das unidades
geo-ambientais, já que elas também devem levar em conta a população, empresas e
demais setores sociais e econômicos.
ZONAS e ÁREAS PRECISAS de RECARGA de AQUÍFEROS

Aspecto crucial para a circulação hídrica é a identificação das zonas de recarga de


aquíferos- ZRAs. Esse conceito, em interpretação ampla, pode ser definido como uma
“área que contribui para alimentação de um aqüífero, por infiltração direta ou por
escoamento seguido de infiltração” (Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores,
1976). Mais estritamente as ZRAs são identificadas como as áreas mais prováveis em que
a infiltração cumpre papel especial na circulação hídrica (Figura 2), e caso sejam
degradadas, causariam um desequilíbrio de grande impacto no ciclo hidrológico.

Com o desmatamento das áreas de vegetação nativa que recubram essas zonas especiais
de infiltração e as subseqüentes alterações na camada superficial do solo, a água passa a
escorrer mais superficialmente, sem infiltrar no solo. Em consequência, essas alterações
fazem aumentar as enchentes repentinas na época das chuvas, e diminui a quantidade de
água disponível nos aquíferos subterrâneos. Essa água é destinada a alimentar as
nascentes na época de seca, além de manter a umidade do solo e poder ser utilizada para
uso humano via poços. As ZRAs devem ser alvo especial de preservação ambiental,
embora a identificação das áreas precisas de recarga possa requeirer estudos complexos
de hidrogeologia, climatologia, hidrologia, litoestratigrafia e geologia estrutural. Esta
solução de mais baixo custo já foi estabelecida (Vasconcelos e Martins Jr, 2012).

GEOVULNERABILIDADE AMBIENTAL

• Outro aspecto relativo aos estudos geoambientais é a avaliação da geovulnerabilidade


e seu oposto, a geo-estabilidade.

O conceito de geovulnerabilidade é:

 O conjunto de condições tais que, no limite de um processo de intervenção antrópica ou


alteração naturalmente induzida, a exergia disponível permite um sistema natural flutuar
para longe de sua condição anterior de equilíbrio metaestável, de modo irreversível.

• A medida de irreversibilidade deve ser tomada como referência para estabelecer os


limites tolerados de interferência no ambiente, além de servir como critério de escolha
entre áreas nas quais devam ser implantadas atividades diversas (Figura 12.3).

POLÍTICA DE USO OPTIMAL DO SOLO

As atividades humanas a serem desenvolvidas nas bacias hidrográficas têm efeitos, e


devem ser foco prioritário das políticas de uso da terra. Assim, por uso optimal da terra
entende-se como:

 A metodologia de dispor as atividades e empreendimento humano (incluindo os


de preservação) em um território, de maneira ótima e inteligente, que satisfaça as
metas sociais, econômicas e geoambientais integradas e conservacionistas.

A ênfase no conceito – ‘uso optimal dos solos’ (Martins Jr., et al, 2010 ) apresenta-se em
especial sobre as características pedológicas (como nutrientes, salinidade, acidez,
porosidade, retenção de água, etc.) e com os potenciais para as diversas destinações a que
possam ser dados como uso de um terreno. Também é interessante conjugar informações
sobre rochas e relevo, visto que influenciam diretamente nas potencialidades do solo
(Martins Jr et al., 2012).

O mínimo de estudos que devem ser feitos é o levantamento de aptidão agroclimatológica


para diversos tipos de culturas e o zoneamento legal das áreas de reserva nativa, que deve
então ser acrescido do zoneamento de áreas de recarga, das fontes, das áreas ambientais
homogêneas, das áreas geotécnicas sensíveis, das populações da fauna e flora, etc. Esta
primeira visão sobre as potencialidades do solo deve então ser cruzada com o potencial
mercadológico de cada tipo de uso do solo, para que se tenha uma visão realista da
viabilidade econômica de cada alternativa de ocupação. O estudo das culturas e dos
cultivares nessas relações são parte do processo.

Figura 12.3 – Gerenciar a vulnerabilidade ambiental necessita-se do conhecimento do


zoneamento da favorabilidade de recarga de aquíferos em altos relevos neste exemplo para o
Vale do Paracatu. (Esta carta introduz as zonas prováveis de recarga, ZRAs, para futuros estudos
de detalhe das áreas precisas de recarga e normatização rigorosa para os usos da terra (org.
Vasconcelos, 2012). Mapeado por subtração entre o mapa altimétrico e a superfície de krigagem
da altitude das nascentes. Bases cartográficas IBGE (1970), IGAM (2006), Martins Jr (2006).
Projeção SIRGAS 2000. Krigagem ordinário gaussiana com 2 a 5 vizinhos por quadrante (45º),
parâmetros: Lags 12; Lag size: 1041.55; Nuguet: 274,8; Range: 8.338.38; Partial sill: 3546.35:
Desvio médio padrão: 23.73. Pedologia neossolos quartzarênicos, Geologia rochas porosas
portadores de aquíferos, Geomorfologia superfícies aplainada e tabulares formadas por
processos de pedimentação).

Nos momentos de escolha, vale lembrar a possibilidade de gerar valor agregado à


produção, através do beneficiamento dos produtos na própria propriedade, cooperativa ou
ao menos na bacia hidrográfica, em vez de apenas exportar os produtos gerados a partir
da produção primária. Outra preocupação é a do conhecimento técnico necessário para a
produção, fator crítico no caso de populações de baixa instrução convencional ou com
pouca abertura a mudanças em seus estilos de vida e de produção. Inúmeras outras
questões podem ser discutidas sobre este tema de Uso Optimal de Solos, limita-se a
mencionar algumas:

1 Manejo Florestal (de florestas nativas, monoculturas e de florestas biodiversas)

2 Corredores Florestais

3 Unidades de Conservação

4 Expansão urbana

5 Importância geopolítica da ocupação efetiva do território nacional.

PRODUÇÃO RURAL - AGRONEGÓCIO e PEQUENAS PROPRIEDADES

Na visão de um planejador ambiental, outras questões afiguram-se. Na questão agrícola,


podemos, em grosso modo, definir dois modos de encarar a ocupação dos territórios: ‘as
frentes agrícolas x agricultura familiar’. As frentes agrícolas, como o bastião do
agronegócio, envolvem tipicamente grandes extensões de monocultura (hoje em grande
parte grãos e cana), mecanizada e com administração empresarial de alto nível. Por um
lado, tem se mostrado economicamente viável, mas por outro, tem esgotado em
velocidade assustadora os recursos naturais de regiões por onde se alastra, consumindo
água, os recursos do solo e acabando com os ecossistemas nativos.

Têm-se tornado cada vez mais comuns situações onde o poder público necessita de
intervir para contornar calamidades como rios e fontes que secam ou que têm suas águas
tornadas tóxicas pela inadequada adição de agrotóxicos.

Já a agricultura familiar, não apresenta problemas em se mostrar com empreendimento


viável, sobretudo quando estendido como proposta para grandes camadas populacionais.
Comparado ao agronegócio, apresenta algumas dificuldades iniciais de agregar mais
valor, como obter e gerenciar capital de giro, adquirir competência técnica, exercer
pressão política, acompanhar tendências de mercado, entre outras, o que costuma levar a
uma menor percentagem de lucro líquido, pelo menos inicialmente. Especialmente por
isso, uma das importantes funções da política é a de disponibilizar à população em geral
o conhecimento necessário de microeconomia-ecologia e macroeconomia-ecologia para
se gerir projetos rurais e geo-ambientais, de maneira clara e direcionada para o uso
prático.

Percebe-se que há grande trabalho pela frente para preparar a população rural de uma
maneira competitiva para o mercado agrícola em unidades familiares, ainda que essa
produção alimente entorno de 60% da população nacional. No caso do feijão representa
95% do consumo, dos hortigranjeiros 98% e as carnes e leite, o consumo fica entre 70%
e 80%. Tendo em vista as dificuldades levantadas valeria a pena investir com alto nível
tecnológico nessas pequenas unidades de produção.

Em contrapartida ao sistema agrícola de monocultura em larga escala, pequenas


propriedades com predominância de policulturas geram um mosaico de território muito
mais rico ecologicamente, devido à diversidade de espécies, intercambio de nutrientes e
menos pressão sobre alguns recursos do solo e do ambiente em geral.

O sistema Permacultura (Mollisson & Holmgren, 1983), com as dinâmicas de


agroflorestas e da ciclagem de nutrientes, demonstra de forma sistêmica o resultado
positivo dentro das propriedades. Com sua adoção sistemática poderiam ser amplos os
benefícios destes sistemas quando implementados em bacias hidrográficas especialmente
as de situação ambiental delicada ou já degradada (Quadros 12.1 e 12.2).

Além do ganho ambiental, devem ser computados os ganhos de âmbito social da política
tecnológica de agricultura familiar. A importância pessoal para um habitante rural, de
poder cultivar sua própria terra, garantir o sustento seu e de sua família, vender
garantidamente para o mercado, levando assim uma vida digna segundo a sua cultura e
novos saberes tecnológicos, é algo que deve ser levado em conta.

Interessante convergência de ideias entre estes estudos e a defesa realizada por Abreu
(2012; Tabela 1), que cita Eliseu Alves sobre a modelagem da EMBRAPA, indicam a
necessidade de se aplicar equivalente modelo de desenvolvimento tecnológico e de
assistência tecnológica aos pequenos produtores como fora desenvolvido na EMBRAPA
para o agronegócio.

Tabela 12.1 – Dados do Censo Agropecuário de 2006 apud senadora K. Abreu (2012).
Número de Rendas declaradas
Valor de
propriedades em salários
referência para Produtividade média rural
rurais (prop.rur) mínimos (s.min)
manter adultos
no País
27.300 prop.rur (*) valor 50 mil prop.rur seriam
geram renda > 200 insuficiente para suficientes para manter o País
s.min e 3 adultos em 100% com atual média∴
4,4 x 106
4,3 x 106 pro.rur não rendem o
2,9 x 106 prop.rur que deveriam
< 2 s.min (*)

Comparando novamente às frentes agrícolas de agronegócio, que utilizam bastante


maquinário e pouca mão de obra, há de se pensar como, em larga escala, uma boa política
de fixação do homem no campo diminuiria o êxodo rural e a pressão sobre os sistemas
urbanos que continuam não preparados para suportar o aporte contínuo de retirantes que
chegam diariamente aos seus limites e o aumento vegetativo dessa população.

Mostra-se ser muito mais interessante assentar um homem em uma pequena propriedade
rural do que tê-lo em uma favela, desempregado e sem condições de se sustentar. Isto é
evidente tanto do ponto de vista dos direitos fundamentais do homem, quanto também
para o desenvolvimento econômico e para as boas condições de saneamento ambiental
urbano.

CONCLUSÕES

Tendo em mente os problemas, limitações e possibilidades destes dois caminhos de


ocupação territorial rural (agronegócio e pequenas áreas produtivas), resta saber o papel
do governo em meio aos rumos do Ordenamento Territorial no Brasil, questão ainda não
adotada efetivamente pelos agentes da administração nacional segundo o entendimento
aqui esboçado.

Tradicionalmente, o governo é capaz de influenciar sobremaneira a direção a ser tomada


pelo desenvolvimento econômico e pela ocupação territorial através de políticas de
fomento. Incentivos, campanhas educativas, financiamentos, atendimento técnico e
jurídico, são alguns dos instrumentos usuais para se efetivar essas políticas.

Quanto ao agronegócio, haja vista que se tornou um fato primordial na realidade brasileira
e de importância internacional, as políticas públicas precisam assumir o importante papel
de conduzi-lo por alternativas que minimizem os seus impactos geoecológicos e sociais,
por exemplo, direcionando-o para as áreas ecológica e economicamente potenciais, e
estabelecendo prêmios e sanções em vista da sustentabilidade ecológico-econômica
desses empreendimentos.

Já em relação a agricultura familiar, e aos pequenos produtores rurais em geral, as


políticas de fomento são, hoje, talvez um dos únicos modos de viabilizar o
aperfeiçoamento de mercado de tais atividades. Todavia, tem-se por certo que após o
direcionamento técnico geo-ecológico e mercadológico integrado e adequado e a oferta
de boas condições de operacionalidade para os pequenos empreendimentos rurais, os
produtores terão meios de se sustentarem de maneira autônoma e de manter a
competitividade de suas atividades produtivas.

A produtividade nacional crescerá de modo exponencial com quase nulos impactos


ambientais e mesmo com melhoria ambiental quando se produzir e seguir os ‘Desenhos
de Uso Optimal do Território’ aqui também propostos. O que se observou nas condições
de campo no Vale do Paracatu foram situações precárias e inadequadas, em se tratando
da pretensão de se estabelecer assentamentos rurais (reforma agrária) que possam se
transformar em áreas ecológicas e econômicas de grande produtividade.

Todas essas condições para alta eficácia de soluções ecológicas e econômicas que se
espera poder-se-á atingir no País, pressupõe, todavia, que o esforço de integrar as várias
formas e escolas de pensamento de modo criterioso, observando os aspectos da realidade
natural e as condições conjunturais da produção em meio rural.
Os esforços para se introduzirem os consórcios agroflorestais, muito pequenos ainda, já
podem ser seguidos por renovados esforços de se apresentar também a Permacultura e as
práticas dos zoneamentos ecológicos e do Desenho de Uso Optimal do Território (DUOT)
que permitiriam, de fato, um grande avanço nas práticas de gestão ambiental ainda frágeis
no País. Diversos textos são citados nos quais se discutem questões de gestão
geoambiental e econômica, que deram suporte aos enfoques aqui tratados.
Quadro 12.1 – Soluções ecológicas, energéticas e econômicas com o método Permacultura
(Martins Jr. et al., 2006) e soluções de planejamento in Martins Jr. et al., 2006-a, 2006-b, 2008-
a, 2008-b, 2008-c, 2009, 2010-a, 2010-b e 2012.
Quadro 12.2 – Regras das engenharias florestal, agronômica e geo-ambiental para o plano de
uso da terra em ambientes para uso da permacultura e com soluções ecológicas e econômicas
(idem, referências Quadro 1).
REFERÊNCIAS

Abreu, K. 2012. O Teorema de Eliseu. Folha de São Paulo. Caderno Mercado B5. Sábado, 13 de
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Fim da obra

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