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Hobsbawm, Eric – A Era das Revoluções

Começamos, efetivamente, a revolução industrial. Já estamos mais próximos do capitalismo.


Por mais que tenhamos uma noção pré definida da revolução industrial, a noção de grandes
fábricas, grandes indústria, concentrando, aglomerando operários de forma vil e impactante como
Marx, assim, nos mostra. Existem empregadores que são compreensíveis com seus empregados.
Você tem movimentos de resistências, os sindicatos, que cedo se impõem, se fazem sentir na
Inglaterra. Não era algo tão violento assim. Mas, é claro, que existiram “abusos”, porque na época
não era visto como abuso, eles realmente existiam, as crianças trabalhavam, se mutilavam, morriam
nas indústrias, mas nada muito diferente de um escravo trabalhar em uma mina para dentro de uma
rocha com água até o pescoço, com expectativa de vida de 6 meses. Então essas condições mais
brutais de trabalho, condições que demandavam da força de mão de trabalho uma resistência que
elas não possuíam, não é, de maneira nenhuma, característica singular ao período da revolução
industrial. Mas transcende toda a história da humanidade. As grandes máquinas vão surgir na
segunda metade do século XIX.
Hobsbawm é um autor muito celebrado. Ele é mais didático. Ele estabelece algumas balizas que
nos interessam para melhor nos fazer compreender.

O termo Revolução Industrial(RI) foi cunhado somente em 1820;


Por que isso é relevante? Porque a sociedade levou um tempo para notar essa mudança.
Não obstante o processo da revolução industrial já estivesse em marcha, e se concordamos com
Paul Baicroch, 40 anos atrás já era o ponto de não retorno. Muita coisa tá acontecendo rapidamente,
mas a sociedade não tem clara noção, clara consciência, desses acontecimentos e da importância
desses acontecimentos. A sociedade não entende que está vivendo uma revolução. As pessoas usam
o termo revolução de forma muito leviana. Dentre várias características que configuram uma
revolução, dentre elas, um acontecimento que, pela sua natureza, impede que, uma vez realizado,
aquilo volte ao seu estado inicial. Quando isso ocorre, dentre outros fatores, estaríamos diante de
uma revolução.
A revolução industrial se impõem em 1820, porque, neste momento, a sociedade percebe que não
há mais volta. Que aquela transformação, aquele novo paradigma, veio para ficar e que os países, as
cidades, as localidades que não se inserirem nessa nova lógica produtiva, no lógica de pensar, nesse
novo modelo econômico, político e social, elas estarão, necessariamente, em posição inferior no
progresso de seus respectivos países.
Notem, é necessário apontar no seculo XIX, no mínimo, uns 20 anos para a sociedade entender.
Não é uma coisa rápida. Estamos falando de 300 anos. Desde a transição do feudalismo para o
capitalismo, mesmo olhando de forma micro, é um processo muito lento, de difícil percepção, não
obstante as evidências empíricas, como fábricas, pessoas vendendo sua força de trabalho, produtos
manufaturados já estivessem aí.
A mentalidade muda muito mais lentamente que a economia. Thmpson frisa isso. E na medida que
a mentalidade muda muito mais lentamente que a economia, os donos do poder, que estarão à frente
da Inglaterra, nesse período, os estadistas, os economistas, os empresários, serão expostos a uma
condição muito imperativa e muito urgente de resposta, porque eles vão ter que raciocinar como
implementar as políticas econômicas e e conseguirão abarcar as mudanças que estão diante da
sociedade. Por isso erram. Por isso temos várias e várias crises no século XIX, culminando na
depressão de 75.

A RI não se fez sentir fora da Inglaterra até meados de 1840, momento em que a Inglaterra atingiu
uma economia industrialmente amadurecida;
Por isso a Inglaterra tinha o poder. A Inglaterra era a principal nação, logo, os demais países
buscavam a Inglaterra, buscavam a libra como moeda. Então não é uma racionalidade, uma
estratégia econômica inglesa, é uma racionalidade econômica dos países que cercam a Inglaterra.
O poder só existe quando é reconhecido. Então a construção do principal instrumento capitalista
de poder, a hegemonia da moeda, se deu porque os demais países reconhecem a moeda mais
forte e a procuram. Esse instrumento de dominação se constrói no decurso da Revolução
industrial, no decurso do fortalecimento financeiro da Inglaterra, que está atrelado ao nascimento
e fortalecimento do seu parque industrial. Ou seja, a Inglaterra detêm o poder, e os outros países
não têm condições de tentarem acompanhá-la até 1840 .

A RI ganhou força nos demais países com o pioneirismo inglês na medida em que seu crescimento
econômico alavancou as economias dos demais países europeus e, em igual medida, serviu de
modelo de desenvolvimento econômico;

Quando uma dada região atinge um grau de desenvolvimento muito grande, existe uma tendência
de que as regiões que a cercam também cresçam, não é um ispsis Litteris ( nos mesmos termos),
estamos falando de um Mutatis mutantis (mudando o que tem que ser mudado)
Porém, no século XIX, por mais que a Inglaterra buscasse medidas para proteger as suas patentes,
as suas industrias, seu setor financeiro, ela não possui um Know How capaz de, efetivamente,
sugar, dentro da própria Europa, uma riqueza; ela buscou fazer isso muito mais fora, na África, na
América e principalmente na Ásia. Por que não na própria Europa? Por uma questão histórica de
disputa por poder . Neste momento, a Europa está passando pela formação dos estados nacionais, os
nervos estão à flor da pele, muito fácil estourar guerras. A vista disso, a Inglaterra volta os seus
olhos para as outras partes do mundoe menos para a Europa, não quer isso dizer que a Inglaterra
não exercerá dado nível de dominação econômica na e financeira na Europa, quer dizer que não
haverá o imperialismo econômico e financeiro inglês na Europa.
No momento em que os países não estão a mercê desse imperialismo, criam-se vazios de poder
ingleses que permitem que estes países se industrializem, se desenvolvam. Os países que melhor
aproveitarão esses espaços serão a França e a Alemanha. A região se beneficia do pioneirismo
inglês.

Com a RI, a sociedade iniciou o modelo de crescimento “auto-sustentável”, ou seja, não dependia
essencialmente da natureza;

Isso é mais ou menos. Porque ainda hoje as indústrias dependem de matérias-primas para
produzirem. Toda a produção depende de matéria-prima. Na medida que o homem não consegue
criar matéria, ele tem que transformá-la, e isso é a base da produção.
Então quando o Hobsbawm diz que a economia adquire essa auto-sustentabilidade, se desliga da
natureza, há um problema, ela não se desliga, o mercado passa a operar cada vez mais a reveria de
uma geada, chuva, e etc, ainda hoje esses fatores impactam a economia, e a produção consegue um
certo nível de autonomia, mas não completamente. O início do processo de destruição da natureza
começa aqui.

A Inglaterra não foi a pioneira no desenvolvimento industrial em função de seus avanços


tecnológicos e científicos (até porque a França estava à frente da Inglaterra nesse quesito). O
precursionismo inglês se deveu a :ideia de lucro privado e dedesenvolvimento econômico;
resolução da questão agrária, melhoria nos transportes e uma política estatal alinhada aos
interesses do capital;

O Pierre Deyon foi o grande catalisador dessa mudança, como ela ocorre no comerciante,
financista, para depois criar o industrial. É uma mudança lenta.
As questões agrárias discutimos em Paul Baicroch.
Melhorias nos transportes – Infraestrutura
Uma política estatal alinhada aos interesses do capital ( aveia Marxista do Hobsbawm pulsa forte
aqui)

“As pessoas temem o que não compreendem. Po isso levou 300 anos para o sistema capitalista
conseguir surgir, e mesmo assim, veio de cima para baixo”

A RI criou sua própria demanda ao produzir muito e a baixo custo. Contudo, posteriormente
necessitou de um mercado internacional monopolizado para continuar sua expansão. Isso teve vez
a partir de 1815;

Isso é interessante. Ele diz que a r.i cria a sua própria demanda. É por isso que falei dessa
condição vil da existência humana durante a r.i, é mais ou menos. Porque o grosso da população, se
recebesse um salário de miséria, como a r.i conseguiria criar consumidores. Porque ela só se lança
ao exterior quando o parque britânico “se esgota”, é um processo. Então, existiam, sim, condições
muito ruins, mas também existiam pessoas que conseguiam comprar o que era produzido, e era
novidade, e as pessoas compram novidades, ainda mais se elas forem baratas. Essa lógica de
consumo não muda. (contudo, posteriormente, precisou do mercado externo e monopolizado para
continuar a sua expansão). Quando a Inglaterra encerra a sua capacidade interna de consumo, ela se
volta para a exportação. Antes já se exportava, mas não com o volume que começará a ser
exportado na década de 10, 20. Então, notem, existem um motor interno ali.

A primeira, e mais importante, das indústrias foi a têxtil. Com fito de proteger tal indústria, a
Inglaterra proibiu a importação de lã indiana. O algodão para a indústria de Lancashire provinha
dos EUA escravista, que recomprava o tecido manufaturado, assim como a América Latina e parte
do Oriente;

Foi por causa do tráfico de Escravos. Ela foi a primeira porque o tecido era utilizado no tráfico de
escravos.
O Sul do EUA produzem algodão para a Inglaterra, e a Inglaterra produz manufaturados e vende
ao EUA e outras partes do mundo, logo, você tem uma transferência de riqueza para a Inglaterra, e
essa riqueza fomenta ainda mais a r.i.

1833: a indústria têxtil empregava 1,5 milhão de pessoas, sendo que as oscilações no preço do
algodão determinavam o comportamento da balança comercial inglesa;

Notem, se você depende de um único produto par aque sua balança comercial seja positiva ou
negativa, a sua economia é frágil. Nessa época não era. Porque se você é o único país no mundo que
produz aquilo e você monopoliza aquilo, você tem como influenciar o preço. Quando a indústria
têxtil entra em crise, os economistas passam a entender o risco de você depender de um único
produto. Então a r.i ensina economia para a Inglaterra e para o mundo. O que tomamos hoje como
características capitalistas, na verdade, foram aprimoradas ou suprimidas pela r.i
Crise Algodoeira:

Pré-1815: havia inflação sobre o lucro: aumento do preço de venda no decurso do processo de
produção;

A inflação sobre o lucro é o seguinte: O cara vai produzir o algodão, a camisa de algodão vale duas
libras, quando ele vai produzir, ele vai configurar esse preço a partir do preço final do produto,
então os fatores de produção tem que ser abaixo de duas libras para ele vender e ter lucro. A
inflação sobre o lucro seria que, no momento da venda, a camisa passou a custar três libras, essa
uma lira a mais, veio de graça. Ele não contava com esse dinheiro que recebeu, porque o produto
encareceu entre o início do sue processo de manufatura até a sua venda, esse processo se chama
inflação sobre o lucro. Isso gerou um enorme lucro e fez com que houvesse um gigantesco
crescimento pré 1815.

Pós-1815: queda na margem de lucro em função do aumento da competição, resultando em queda


nos salários;

A partir de 1815, essa tendência se inverte, o mercado satura, a competição tá muito grande, o
pessoal começa a exportar de uma hora para a outra, e ali, naquela virada, há uma crise. Porque
você tá contando com o lucro, e, de repente, o preço começa a cair por um excesso de produção,
oriundo da competição, imediatamente, você abaixa os salários e, consequentemente, demite.

Contudo, os salários somente poderiam cair até o limite fisiológico da sobrevivência. Para cair além
desse limite, o custo de vida deveria cair proporcionalmente. Porém, tal custo era elevado em
função dos monopólios agrícolas;

Para o salário cair além do limite fisiológico de sobrevivência, o custo de vida deveria cair
também. Tal custo era elevado em função dos monopólios agrícolas.
As leis do trigo protegiam o produtor agrícola inglês, impedia que a Inglaterra importasse trigo,
isso pressionava os preços no momento em que a margem de lucro do produtor de algodão têxtil
começa a cair, imediatamente ele tenta abaixar salários e demitir, mas ele só pode abaixar até um
certo limite, porque senão o indivíduo morre, esse limite é dado pelo preço do trigo, do pão. Então
Inglaterra vive um impasse, e isso gera uma crise na indústria têxtil. É a primeira crise que eles vão
enfrentar.

Tais monopólios impediam a entrada de produtos agrícolas europeus, o que dificultava aos demais
países obterem renda o suficiente para comprar produtos manufaturados ingleses = oposição interna
na Inglaterra entre agricultura e indústria;

Ou seja, para além da redução do custo de vida por conta do protecionismo que havia, se você tem
países que precisam exportar produtos agrícolas para obter renda para, dentre outras coisas, comprar
aquilo que você produz, nesse caso, o algodão, e você restringe o seu mercado, impede essa
importação, você dificulta a capacidade desses países de obterem uma balança comercial favorável
para que com essa renda eles comprem o que você produz.
Nesse cenário, houve pressão por inovações tecnológicas, fundamentalmente na indústria básica
de bens de capital: a resposta proveio do investimento em ferrovias;

Quando a indústria de bens de capital sente a necessidade de se impor frente a industria


algodoeira, ela passa a demanda investimentos e avanços tecnológicos, mas no contexto em que a
indústria algodoeira entra em crise, isso não denota que a Inglaterra empobreceu, ela ainda é rica,
ela tá vivendo uma crise na sua principal indústria, mas ela ainda é rica; e para onde esse capital
vai? Para a industria ferroviária. Então a indústria ferroviária se apresenta como a saída para a crise
da indústria têxtil, de mais a mais, a indústria têxtil não era a única existente, era a principal, mas
não a única.

Afora as vantagens advindas da questão de transporte, a indústria ferroviária demandava altos


investimentos (consumo de ferro, carvão, maquinaria pesada, etc.)e, precisamente em função
disso, propiciou a demanda necessária para a revolução dos bens de capital.

Fizemos um an passant do albor da r.i, do peso da indústria têxtil, da sua crise e como na esteira
dessa crise, a indústria de bens de capital ganha força.

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