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História – Licenciatura
Disciplina: Métodos e Técnicas da Pesquisa em História
Professora: Telma Bessa
Aluna: Alexandra Lima Araújo
“Não muito longe do meu bairro, na via Flaminia, às margens de Roma, em um campo
ao lado da estrada, quem passa de carro vê duas estruturas que de longe parecem
catedrais românicas. Na verdade, se trata de duas das tantas fornalhas para fabricação de
tijolos, que por decênios protegeram Roma.” (Pág.07)
“No entanto, alguma vez a ideia, em si justa, de uma cultura que olhe para o futuro, que
se imagine como vanguarda do novo, termine por fazer sim que não se esqueça que
aqueles muros estão imbuídos de um passado sem o qual a cidade não existiria e não
seria o que é. E não esqueçamos os riscos - bem colocados por algumas entrevistas deste
livro - que a destinação turística, em si aceitável, não possa terminar por transformar
estes bens culturais preciosos em objetos de consumo superficial e banal.” (Pág.08)
“Observar o frenesi dos turistas e moradores nas ruas das cidades, admirar o ritmo dos
idosos lisboetas, portuenses e bracarenses, com suas canções e hábitos tradicionais,
cartão postal de cidades que preservam e valorizam suas ancestralidades. Enfim,
conhecer as histórias das pessoas, suas opções e alegrias, suas decepções e disputas,
suas reclamações, conquistas e percepções.” (Pág.10)
“As percepções e discussões são percebidas de forma parcial, mas a busca por entender
e conhecer tal campo de pesquisa se torna o propulsor deste trabalho. Os pensamentos
apresentados podem ser provisórios ou consideram apenas certa temporalidade, mas
trazem interessantes e importantes ideias e ideais.” (Pág.11)
“Acreditamos numa sociedade com justiça, onde os direitos humanos sejam respeitados,
onde a esfera pública e os espaços públicos sejam tratados com ética e transparência.
Uma sociedade que adote uma economia não de forma reducionista e consumista, mas
que respeite o ambiente, o património, a cultura dos povos, uma educação libertadora e
não mercadológica, enfim, vislumbramos uma sociedade em que a vida esteja em
primeiro lugar.” (Pág.17)
“A opção pela história oral possibilita a visibilidade das narrativas, que têm muito em
comum, mas que também expressam algumas divergências, as limitações, afinidades,
afetos, diferenças, enfim, a pluralidade das visões acerca do mundo e da história.”
(Pág.20)
“Além disso, foi fundamental ir aos locais, visitando oficinas, fábricas, vendo máquinas,
falando com operários, com gestores e empresários, e isso me cativou para essa área
que, para mim, é importantíssima. Cheguei à conclusão que, na altura, se estava numa
fase de desindustrialização, como acontecia noutras áreas.” (Pág.29)
“Vamos recordar para podermos perceber. As paisagens só há pouco tempo é que são
consideradas também essenciais do ponto de vista do Património Industrial, se bem que
elas fossem estudadas há muitos anos, desde os anos de 1960 e de 1970, mas não na
perspectiva da marca industrial do homem. Ora, as paisagens industriais começaram a
ser também estudadas.” (Pág.48)
“O filósofo francês Michel Lacroix influenciou muito meu pensamento, quando estudou
as atitudes de destruição e de vandalismo. Segundo ele, há a indiferença e o abandono, a
intervenção negativa ou positiva, há proteção, a preservação, a salvaguarda e a
conservação. Logo, também há a conservação dos bens industriais. Quer dizer, essas são
as atitudes, atitudes que nós temos para com o bem industrial. Elas estão presentes na
forma de funcionamento da sociedade, estão presentes no mundo histórico em que
vivemos” (Pág.60)
“Podemos dizer que é uma ironia o facto dos poderes públicos terem agora de falar da
salvaguarda de um Património Industrial e técnico num país onde eles têm contribuído
para se pensar que Portugal não esteve na rota da industrialização.” (Pág.65)
“E de modo que conservaram-se máquinas que eram obsoletas mas que continuavam a
funcionar. E o problema é que, também por causa disso, muitas empresas foram à
falência, quando a situação se alterou. De modo que, claro, eu interessei-me, achei
interessante, curiosa a expressão, o tema da Arqueologia Industrial. Fiquei surpreendido
com a bibliografia que li, e depois no aprofundamento do que era, e comecei a ver o que
existia em Portugal, e havia, na altura, muita coisa, que ainda não tinha sido destruída.”
(Pág.76)
“Os jovens não sabem, tenho alunos do Porto que quando começo a falar em fábricas da
cidade, conhecem as zonas onde as mesmas existiam, mas onde agora existem prédios
ou jardins e ficam surpreendidos quando se diz que essa era uma zona industrial, com
fábricas. De facto, é que é uma memória que se está a perder. E esse processo começou
na década de 1980.” (Pág.83)
“De modo que é decorrente da industrialização que tudo se transforma. Daí podermos
aceitar esta expressão, Arqueologia Industrial. Agora, quando a mesma nasce em
meados dos anos cinqüenta, início dos anos sessenta, só se utilizava a expressão
Arqueologia Industrial, muitas vezes quando nos queríamos referir ao Património
Industrial. Esta área era ainda muito embrionária, tendo nascido fora da universidade,
naqueles cursos extramuros da Universidade de Birmingham, com Michael Rix.”
(Pág.87)
“Nós temos no Porto o Museu do Carro Elétrico, que infelizmente está fechado para
remodelação já há algum tempo, o qual constitui um bom exemplo de recuperação de
antigos bondes, de uma forma excepcional, com grande rigor histórico.” (Pág.93)
“Nas fábricas modernas, naquelas máquinas contínuas imensas, a pasta entra de um lado
e o papel sai de outro lado, já seco, não se vê o seu percurso lá dentro. E naquela fábrica
não, nós víamos tudo, víamos o processo completo. O papel era enrolado, ainda muito
húmido, e era depois cortado, com enormes facas guilhotina, semelhantes às que se
usavam para cortar bacalhau.” (Pág.117)
“É que somos muito observados, estamos sempre a ser avaliados, o que estamos a
conseguir em relação ao património, e nós muitas vezes, acho eu, confundimos um
pouco aquilo que é a nossa meta teórica, conceitual com aquilo que é exequível fazer
com os meios que nós temos. Acho que esse é um dos grandes riscos na área da ação
patrimonial.” (Pág.133)
“Às vezes temos até artefactos, mas artefactos desligados da documentação científica, e
não têm praticamente valor no nosso trabalho no plano museológico. Por isso dou
importância aos arquivos para, por exemplo, retomar a valorização dos patrimónios
arqueológicos, ou algumas coleções, para o que é importante termos as informações, a
documentação sobre os mesmos.” (Pág.138)
“E estive mais de um mês a ver a documentação, que estava metida num grande
contentor de cartão, numas prateleiras. Estive lá a ver, fotocopiei, fotografei e depois
deste processo e apesar dos documentos que realizei e as propostas que fiz junto da
administração voltou toda a documentação para os contentores onde estavam.”
(Pág.155)
“Então o campo do Patrimônio permite que você dialogue, que use esses diversos
saberes como forma de construir uma abordagem senão inovadora, no mínimo,
necessária para tratar aquele objeto sobre o qual investigamos. Simplesmente é uma
ferramenta que te habilita para construir aquela abordagem, compreender melhor seu
objeto de análise, que pode ser inovadora, mas é o que você quer para sua pesquisa.”
(Pág.168)
“Mas aí teve outro passo para chegar ao Patrimônio Industrial. Foi o fato de que,
durante o meu doutorado, fiz um estágio sanduiche em Manchester, na Inglaterra, que
todo mundo sabe, é o berço da indústria têxtil, um lugar marcado pela sua cultura
industrial. Lá eu me senti muito à vontade, adorei a cidade, gostei muito da experiência
e pude travar contato com vários casos de indústrias, de galpões, de diferentes bairros
operários, de fábricas que tinham acabado, que haviam deixado de cumprir sua função
original econômica, mas que foram reutilizadas, ressignificadas no espaço urbano.”
(Pág.178)
“Então acho que a gente tem que evitar essa visão romântica, inocente, nostálgica desse
mundo fabril. Pensar os debates, as contradições e conflitos que fazem parte do
Patrimônio Industrial. Como preservar isso? A gente não pode também ser utópico,
romântico e pensar que todas as antigas fábricas vão ficar de pé. Isso é um absurdo, eu
diria que essa visão é até reacionária.” (Pág.184)
“Eu tinha interesse por esse passado em contínua transformação, mutação, e aqui em
São Paulo, pelo desaparecimento muito veloz de edifícios e de paisagens. Esse interesse
começou na graduação, mas como não havia disciplinas voltadas para isso – na verdade
havia uma disciplina optativa na faculdade, mas que não foi oferecida quando eu cursei
– e não havia a obrigatoriedade dos estudos dessas questões, foi um processo
autodidata: comecei lendo o que encontrava na biblioteca.” (Pág.190)
“Vou dar um exemplo concreto: desde 2008 coordeno todos os anos a Olimpíada
Nacional em História do Brasil para alunos do ensino fundamental e médio, e nela
pautamos algumas questões para orientar os estudos. E uma das tarefas para os alunos
no ano de 2012 era: na sua cidade, entreviste uma pessoa de um ofício que está em
extinção ou fotografe um antigo lugar de trabalho.” (Pág.211)
“Neste contexto, mais amplo, insere-se o Patrimônio ferroviário, não apenas pela
relação das ferrovias com o desenvolvimento das indústrias, mas também pelo fato de as
indústrias terem impulsionado a construção das diversas vias férreas em todo o mundo.
No entanto, percebe-se que este entendimento mais holístico do Patrimônio Industrial
ainda não se encontra consolidado nos órgãos de preservação.” (Pág.226)
“É todo um trabalho que nos facilita compreender qual a relação daquelas crianças com
aquele Patrimônio histórico. Eu penso que as ações de educação patrimonial devem
fazer parte das ações de preservação do Patrimônio cultural, assim como também é
necessário que nos descolemos da matéria para que possamos pensar e reconhecer,
valorar o Patrimônio cultural sob um enfoque mais multidisciplinar, sistêmico e
holístico.” (Pág.240)