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Abstract: This article aims to deal with unlist heritage that occurred within the
state of São Paulo State preservation of historical heritage (CONDEPHAAT), with
a building connected to the social and cultural practice of the workers’
neighborhoods in São Paulo, the Oberdan Theater. The analysis focuses on the
protection of the heritage’s process, considering the motivation and values
mobilized in it, and, at the same time, the agents and the events involved in the
decision making that caused the cancellation of the safeguard. Finally, seeks to
evaluate how the process of unlist heritage, in the key of the erasure of collective
memory and the safeguarding of cultural heritage, can be understood.
1
Novamente um Decreto-Leide período em que vigia um estado de Exceção e que, inclusive, em seu
preâmbulo trás a seguinte redação “O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO, no uso da atribuição que, por
força do Ato Complementar n.º 47, de 7 de fevereiro de 1969. lhe confere o § 1.º, do artigo 2.º, do Ato
Institucional n. 5, de 13 de dezembro de 1968” remetendo diretamente à um dos maiores ataques à
democracia brasileira, o AI-5.
Mesmo em relação ao Decreto Estadual 13.426, de 16 de março de 1979,
cujos artigos 134 a 149 permanecem em vigor e que também são colocados
como justificativa, em nenhum trecho coloca o tombamento como possível de ser
cancelado. Figura, no entanto, a possibilidade de o recurso do proprietário para
que o mesmo não seja efetivado, chegando até a instância máxima com o
Governador do Estado se assim lhe couber.
Dentro deste cenário político e social em que a SIMS Leale Oberdan foi
criada, a mesma possuía uma sede no bairro do Brás, e território dominado pela
vida e produção fabril, o qual, além de sede era um espaço cultural. Há ainda o
registro de outro nome à mesma SIMS, de Sociedade Beneficência Paulistana
Guglielmo Oberdan2, sendo que este o nome legal da SIMS Leale Oberdan, que
tinha Guglielmo Oberdan3 como homenageado e que dava nome, também, a
sede da SIMS à Rua Brigadeiro Machado, 71, em São Paulo. “Consta ainda que a
direção da sociedade daria fomento moral e material em promoções de
espetáculos e festas, com fundos especialmente destinados” (Processo
CONDEPHAT, 1980: 57).
2
Este nome aparece designando a SIMS Leale Oberdan no processo de tombamento da sede, onde consta,
também, que na bandeira da sociedade estava a inscrição “Società Italiana di Mútuo Socorro Leale Oberdan”,
assim, fica a compreensão de um nome identitário lido como a SIMS Leale Oberdan e um nome atrelado as
burocracias paulistanas para aceitação e inscrição das sociedades dos imigrantes como Sociedade de
Beneficiência Paulista Guglielmo Oberdan.
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Guglielmo Oberdan estave ligado ao movimento nacionalista italiano, que unificou o território da Itália, tendo
em sua base ideais republicanos.
Imagem 2 – Foto da Fachada frontal do Teatro Oberdan voltada para a Rua
Brigadeiro Machado, 71, 1980. Fonte: Processo CONDEPHAAT 21324/1980.
O principal ponto abordado nos estudos históricos feitos por Jandira Lopes
de Oliveira, inseridos no processo de tombamento é o uso da sede como espaço
cultural, onde se desenvolvia trabalhos de alfabetização dos trabalhadores, e
informativos sobre acontecimentos nacionais e internacionais, colocando o local
como núcleo de comunicação. Assim, as atividades realizadas eram
desenvolvidas pelos próprios operários e contavam com diversos objetivos, entre
eles o teatro como propaganda, recreação, prática de apoio mútuo em caso de
doença e desemprego, assistência à família de deportados e presos e escola
instrutiva (Processo CONDEPHAT, 1980: 58).
Considerações Finais
Como Meneses coloca, “há escolhas, mas elas não são aleatórias e
mecânicas, pois dependem as significações que lhes atribuímos e dos juízos com
que as hierarquizamos” (MENESES, 1996: 90) e que assim, a atribuição de valor
a determinada prática ou local, está intrinsecamente ligada ao juízo individual.
Isto, por sua vez, isso não deveria criar uma hierarquização entre as culturas
que se constituem, apenas tipos diferentes que coexistem, inclusive entre sua
existência material ou não. O valor cultural seria dado pelas relações sociais que
pautam a sociedade contemporânea. Assim, ruínas também podem ter seu valor
atribuído e contarem uma narrativa, inclusive eficácia e diálogo dos órgãos de
preservação com a sociedade.
Referências Bibliográficas
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. IN: ____ Magia e técnica, arte e
política. Ensaios sobre a literatura e história da cultura. Brasiliense, 1995.
Obras Escolhidas: volume 1.
BIONDI, Luigi. Mãos unidas, corações divididos. As sociedades italianas de
socorro mútuo em São Paulo na Primeira República: sua formação, sua
lutas, suas festas.. Tempo. Revista do Departamento de História da UFF, v.
16, p. 75-104, 2012.
BRASIL. DECRETO-LEI Nº 3.866, DE 29 DE NOVEMBRO DE 1941. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del3866.htm.
Acesso em: 10.06.2018.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. São Paulo: Editora UNICAMP, 2012.
MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. Os Usos Culturais da Cultura. In: YAZIGI,
E. (et al.). Turismo, espaço, paisagem ecultura. São Paulo, Hucitec, 1996.
Processo CONDEPHAAT n º 21324/1980, 1980.