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PRONAME | GESTÃO DOCUMENTAL E MEMÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO

UNIDADE 4

Gestão de Memória
(15 h)

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CURSO DE GESTÃO DOCUMENTAL E GESTÃO DE MEMÓRIA (EaD)

Seja bem-vindo(a) à Unidade 4, em que serão apresentados conceitos


fundamentais para a gestão de memória no Poder Judiciário.

Assim como nas demais unidades deste curso, esta contemplará conhe-
cimentos e práticas considerados fundamentais para a realização de ati-
vidades na área. Bons estudos!

4.1 História, memória, patrimônio cultural


e direitos culturais
Inicialmente, é necessário considerar que as atividades relativas a esse cam-
po recomendam estudos históricos a respeito do Poder Judiciário, de seus
órgãos e do contexto político, econômico e social em que estão inseridos.

Conhecer a história é necessário para a realização das atividades referen-


tes à gestão de memória. Mas, afinal, o que é história?

A origem da palavra nos remete ao termo grego “histor”, que significa


aprendizado. Embora haja diversos conceitos, a história pode ser conside-
rada como a ciência que estuda os seres humanos e suas ações no tempo.

A história produz conhecimentos por meio de investigações sobre as so-


ciedades e suas transformações no decorrer do tempo, levando em con-
ta determinado lugar, período, população, organização, acontecimento
ou até mesmo um indivíduo.

O historiador, ao nos oferecer a possibilidade de compreensão da reali-


dade que vivenciamos, realiza análise crítica que permite alcançar con-
clusões sobre acontecimentos no passado, dedicando-se à investigação
dos mais variados registros históricos (livros, roupas, imagens, objetos
materiais, registros orais, documentos, moedas, jornais, gravações etc.).

A memória, assim como a história, não deve ser considerada espaço es-
tático no qual são apenas depositadas recordações, mas sim um espaço
dinâmico, político e simbólico, em que as lembranças e esquecimentos
se entrecruzam com criatividade.

O conceito de memória compreende a capacidade mental de arma-


zenar informações, alcançadas por meio de experiências e contato com
novos conhecimentos, e de recuperá-las quando necessário. Portanto, a

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memória, ao preservar informações que escapam aos registros escritos,


contribui para que o passado não seja esquecido, tornando possível a
atualização de impressões ou informações pretéritas e a perpetuação da
história na consciência humana.

Nas últimas décadas, no conjunto de fontes para a história, os depoi-


mentos orais, que são expressões da Memória, ganharam relevo. Com o
devido cuidado para não confundir os conceitos de história e memória, é
necessário reconhecer que ambos se interpenetram.

Por meio das memórias, podemos reconhecer acontecimentos passa-


dos e conservar informações importantes a serem preservadas, tanto na
memória individual quanto na coletiva. A memória torna possível a cons-
tituição de vínculos entre diferentes gerações humanas, assim como en-
tre pessoas e lugares. As memórias individuais e coletivas agem na ma-
nutenção de identidades culturais e são importantes para as atividades
de seleção, preservação e divulgação de bens culturais, imprescindíveis
para o exercício pleno da cidadania.

Nesse sentido, o termo patrimônio cultural encontra-se relacionado às


noções de lembrança e de memória, as quais são fundamentais às ações
nesse campo, isso porque os bens culturais são preservados em virtude
da relação que estabelecem com as identidades culturais.

O patrimônio cultural, definido no art. 216 da Constituição Federal, pode


ser compreendido como um conjunto de bens materiais ou imateriais
que remetem ao legado histórico de uma sociedade.

Embora o vocábulo patrimônio encontre-se, muitas vezes, relacionado


a bens materiais construídos durante a vida ou herdados de antepassa-
dos, ao se pensar o patrimônio cultural deve-se ter em conta o sentido
de “herança”, referindo-se ao resultado de experiências e memórias, co-
letivas ou individuais. Essa herança cultural pode fornecer informações
importantes sobre a história e a trajetória de um país, da sociedade e das
instituições, a exemplo do Poder Judiciário.

Ao compreendermos o patrimônio cultural como algo que recebemos


do passado, vivenciamos no presente e transmitimos às gerações fu-
turas, estamos assumindo que esse termo é historicamente construí-
do e está associado ao sentimento de pertencimento dos indivíduos
a um ou mais grupos, sentimento esse que permite a sustentação de
identidades culturais.

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CURSO DE GESTÃO DOCUMENTAL E GESTÃO DE MEMÓRIA (EaD)

E, neste sentido, são inseparáveis os conceitos de identidade e de direi-


tos culturais. De um modo geral, direitos culturais são aqueles que o in-
divíduo exerce em relação à cultura da sociedade da qual faz parte, indo
do direito à produção cultural até o direito à memória histórica, passan-
do pelo acesso à cultura. Em outras palavras, são aqueles referentes às
artes, à memória coletiva e ao repasse de saberes, à proteção e ao acesso
ao Patrimônio e aos recursos culturais que permitem a constituição de
identidades e o desenvolvimento humano.

São considerados direitos culturais, por exemplo, o direito à liberdade


de expressão, o direito à preservação do Patrimônio histórico e cultural, o
direito à diversidade e identidade cultural, o direito autoral e o direito de
acesso à cultura.

Na Constituição Federal, há previsão de que o Estado brasileiro garanti-


rá a todos os cidadãos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso
às fontes da cultura nacional, assim como apoiará e incentivará a valo-
rização e difusão das manifestações culturais (artigo 215).

O patrimônio cultural e os direitos culturais também são reconhecidos


em inúmeros tratados internacionais, que foram relacionados no final
do item 1.2 da Unidade 1.

Desse modo, o Poder Judiciário, como outras instituições públicas bra-


sileiras, deve adotar políticas públicas que viabilizem o acesso aos seus
bens culturais e a proteção de seu patrimônio cultural, como vimos na
Unidade 1 do curso.

ATIVIDADE OBRIGATÓRIA (UNIDADE 4, ITEM 1)

Leitura

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. MANUAL DE GESTÃO DE ME-


MÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO. Programa Nacional de Gestão Do-
cumental e Memória do Poder Judiciário (Proname). Brasília: CNJ, 2021.
Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/02/
Manual_de_Gestao_de_Memoria.pdf. Capítulo 6.1 (História e Memória:
Breves Noções), p. 37-39.

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ATIVIDADES COMPLEMENTARES (UNIDADE 4, ITEM 1)

Leitura

GONÇALVES, Janice. Passados compostos e decompostos: o patrimônio


cultural em tempos de memória e desmemória. Sillogés, v. 1, n. 1, p. 61-74,
jan-jul. 2018. Disponível em: http://historiasocialecomparada.org/revis-
tas/index.php/silloges/article/view/14/36.

OLIVEIRA, Eduardo Romero de. Memória, história e patrimônio − pers-


pectivas contemporâneas da pesquisa histórica. Fronteiras, [s.l.], v. 12, n.
22, p. 131-151, dez. 2010. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/
FRONTEIRAS/article/view/1184.

Palestra

CAMARGO, Ana Maria. História, memória e poder judiciário: noções


teóricas e reflexões. Escola Paulista da Magistratura (Núcleo de Estudos
em História e Memória), 13 nov. 2020. Disponível em: https://youtu.be/
ES24QdZ99Gc.

4.2 Gestão de memória e manual de


gestão de memória do Poder Judiciário
De acordo com o artigo 2º, inciso II, da Resolução CNJ n. 324/2020, a ges-
tão de memória compreende o:

[...] conjunto de ações e práticas de preservação, valorização e


divulgação da história contida nos documentos, processos, ar-
quivos, bibliotecas, museus, memoriais, personalidades, objetos
e imóveis do Poder Judiciário, abarcando iniciativas direciona-
das à pesquisa, à conservação, à restauração, à reserva técnica,
à comunicação, à ação cultural e educativa.

Nesse conceito, até então inédito no Poder Judiciário, observamos que


se destacam:
[...] três importantes ações para a gestão de memória, que
estão intrinsecamente ligadas ao patrimônio cultural: pre-
servação, valorização e difusão. O objeto é amplo, abarcando

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bens culturais materiais de natureza arquivística, bibliográfi-


ca, museológica, arquitetônica, incluindo aqueles imateriais,
ainda que não tenham sido referidos expressamente. E, por
fim, as ações ou iniciativas concretas corroboram a riqueza
das atividades de Gestão de Memória ao incluírem pesqui-
sa, conservação, restauração, comunicação, difusão cultural e
ação educativa (BÖTTCHER, 2021).

A Gestão de Memória do Poder Judiciário abrange ações e práticas que


correspondem a diversos campos do conhecimento, notadamente das
Ciências da Informação, das Ciências Humanas e Sociais.

As atividades dessa área devem levar em consideração os princípios e as


diretrizes estabelecidos pela Resolução CNJ n. 324/2020, os quais foram
apresentados na Unidade 1.

O Manual de Gestão de Memória do Poder Judiciário destaca-se como


importante instrumento do Proname (artigo 5, inciso IX, da Resolução
CNJ n. 324/2020) e constitui material de consulta e de orientação para
o planejamento e execução de atividades relacionadas à gestão de me-
mória nos órgãos do Poder Judiciário.

Com concepção e conteúdo inéditos, o Manual foi construído por meio


de um projeto de escrita colaborativa com a participação de mais de 50
voluntários, de diversas formações acadêmicas e de todas as regiões do
país, atuantes no Poder Judiciário e em outros órgãos públicos. A revisão
final do texto ficou a cargo do Comitê do Proname do CNJ e o Manual foi
aprovado pela Portaria CNJ n. 295/2020.

A respeito da elaboração do Manual, foi observado que a metodologia de


trabalho contribui, por si própria, “para o fomento de ações e iniciativas de
inovação, colaboração, cooperação, participação em rede, multidisciplina-
ridade e motivação coletiva, atributos esses fundamentais para o desen-
volvimento das atividades relacionadas à Memória” (BÖTTCHER, 2021).

Seu conteúdo apresenta recomendações relativas à organização, preser-


vação e difusão dos acervos arquivísticos, bibliográficos e museológicos
de cada órgão.

Sem descuidar de questões teóricas e práticas que envolvem o campo


da Gestão de Memória, o Manual pretende fomentar a conservação, a

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comunicação, a pesquisa e as ações culturais e educativas relacionadas


à história institucional do Poder Judiciário e de seu Patrimônio Cultural.

ATIVIDADE OBRIGATÓRIA (UNIDADE 4, ITEM 2)

Leitura

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. MANUAL DE GESTÃO DE MEMÓ-


RIA DO PODER JUDICIÁRIO. Programa Nacional de Gestão Documen-
tal e Memória do Poder Judiciário (Proname). Brasília: CNJ, 2021. Capítulo
6.1 (História e Memória: Breves Noções), p. 37-39. Disponível em: https://
www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/02/Manual_de_Gestao_de_
Memoria.pdf.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (UNIDADE 4, ITEM 2)

Leitura

BÖTTCHER, Carlos Alexandre. MANUAL DE GESTÃO DE MEMÓRIA DO


PODER JUDICIÁRIO: contribuições para o patrimônio cultural. Revista
Magister de Direito Ambiental e Urbanístico, Porto Alegre: LexMagis-
ter, n. 95, abr. /maio 2021.

4.3 Comissão de gestão da memória:


composição e atribuições
Os órgãos do Poder Judiciário devem instituir Comissão de Gestão da
Memória, conforme artigo 39, da Resolução CNJ n. 324/2020.

A principal atribuição da Comissão é coordenar a política de Gestão de


Memória do órgão, observando as normas estabelecidas pela Resolução
CNJ n. 324/2020 e os Manuais de Gestão de Memória e o de Gestão Do-
cumental do Poder Judiciário (artigo 39, inciso I).

Para que essa coordenação seja efetiva, a Comissão de Gestão da Memó-


ria deve refletir, em síntese, o conjunto de magistrados e servidores que

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se interessam e atuam nas áreas de preservação e difusão da Memória


do órgão e de seus bens culturais.

Além da coordenação da política de Gestão de Memória do órgão, há


outras atribuições, igualmente importantes:

ƒ Fomentar a interlocução e a cooperação entre as áreas de arquivo,


museu, memorial, biblioteca e gestão documental do respectivo
órgão (inciso II);

ƒ Aprovar critérios de seleção, organização, preservação e exposição


de objetos, processos e documentos museológicos, arquivísticos e
bibliográficos que irão compor o acervo de guarda permanente do
órgão (inciso III);

ƒ Promover intercâmbio do conhecimento científico e cultural com


outras instituições e programas similares (inciso IV); e

ƒ Coordenar a identificação e o recebimento de material que compo-


nha os acervos físico e virtual de preservação, bem como a divulga-
ção de informações relativas à memória institucional (inciso V).

Na Unidade 5, que se ocupará da implementação das políticas de gestão


documental e gestão de memória no órgão, será abordada a estrutura-
ção da Comissão.

ATIVIDADE OBRIGATÓRIA (UNIDADE 4, ITEM 3)

Leitura

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. MANUAL DE GESTÃO DE ME-


MÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO. Programa Nacional de Gestão Docu-
mental e Memória do Poder Judiciário (Proname). Brasília: CNJ, 2021.
Capítulo 4.3 (Comissão de Gestão da Memória), p. 23-25. Disponível
em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/02/Manual_de_
Gestao_de_Memoria.pdf.

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4.4 Espaços de memória: conceito, tipologia


(arquivo, biblioteca, centro cultural,
centro de memória, memorial e museu)
e atribuições
Espaços de Memória são locais que transmitem lembranças, registros
e símbolos importantes para a história de determinada instituição ou
da sociedade.

No âmbito do Poder Judiciário, arquivos, bibliotecas e museus custo-


diam documentos e outros bens culturais importantes para a memória
da instituição e do país, dedicando-se à preservação e ao acesso a esses
bens. Assim, esses espaços podem ser compreendidos como centros de
difusão do saber e de formação, atuando como lugares de coleta, pre-
servação e transmissão de nosso Patrimônio Cultural, mantendo fortes
laços e afinidades entre si (CAMARGO; GOULART, 2015, p. 19).

Os arquivos compartilham com as bibliotecas e os museus uma fun-


ção cultural, “fornecendo subsídios que permitem reconstituir a traje-
tória das pessoas jurídicas e físicas cujos documentos se preservaram e,
por extensão, o contexto social em que atuaram” (CAMARGO; GOULART,
2015, p. 24).

Contudo, importantes diferenças destacam-se no modo de aquisição


dos acervos e das coleções existentes em arquivos, bibliotecas e museus
e nas funções primárias desses espaços. Enquanto arquivos surgem por
acumulação, de acordo com o funcionamento da unidade produtora,
bibliotecas e museus formam suas coleções e acervos de maneira sele-
tiva, de acordo com seu perfil ou linha temática. Arquivos existem para
viabilizar as atividades da instituição, ao passo que bibliotecas e mu-
seus possuem finalidades educacionais, científicas, técnicas e culturais
(CAMARGO; GOULART, 2015, p. 23).

Desse modo, ainda que a documentação de natureza permanente tam-


bém passe por critérios de avaliação e seja selecionada a partir de seu
valor secundário, não foi criada para ser histórica. É por meio da difusão
que os acervos arquivísticos se tornam acessíveis à consulta e pesquisa,
assunto tratado no item 3.5 da Unidade 3.

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Além desses espaços, de acordo com o artigo 40, da Resolução CNJ n.


324/2020 e com o Manual de Gestão de Memória do Poder Judiciário,
neles também se incluem os centros de memória, os memoriais e os
centros culturais.

Vamos conhecer, a seguir, brevemente, esses espaços e suas principais


características.

O que são arquivos?

Na unidade 2, vimos diversas acepções da palavra arquivo.

Como espaço de memória, é necessário lembrar que, ao falarmos de ar-


quivos, nos referimos aos arquivos de guarda permanente ou histórica
tratados na unidade 3. A relevância desses espaços ultrapassa o âmbi-
to interno e alcança o direito coletivo à memória. Os arquivos, portanto,
guardam decisões, ações e memórias. No caso dos arquivos permanen-
tes pertencentes ao Poder Judiciário, destacam-se, por sua importância
e volume, os acervos compostos de processos judiciais.

O que são bibliotecas?

São espaços de conservação do patrimônio intelectual, literário e artís-


tico das instituições. São lugares de memória e de aprendizagem. As
bibliotecas do Poder Judiciário são repositórios de importantes acervos
para a preservação da história institucional. Nesses espaços, a memó-
ria coletiva se materializa por meio de registros escritos, sem que sejam
apagadas referências de memórias individuais.

Entre os espaços de memória de natureza expositiva, temos os museus,


centros de memória e memoriais, que foram previstos no artigo 40,
da Resolução CNJ n. 324/2020 como ambiente físico de preservação de
divulgação das informações relativas à Memória do órgão.

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E o que são museus, centros de memória e memoriais?

Os museus são definidos pelo artigo 1º, do Estatuto dos Museus (Lei n.
11.904/2009) da seguinte forma:

[...] são instituições sem fins lucrativos que conservam, investi-


gam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preser-
vação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo,
conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, téc-
nico ou de qualquer natureza cultural, abertas ao público, a ser-
viço da sociedade e de seu desenvolvimento. (BRASIL, 2009)

Os centros de memória e memoriais não possuem definição legal, mas


são conceituados na doutrina. No âmbito do Poder Judiciário, muitas
vezes, o uso desses três termos é indistinto.

Os centros de memória são unidades que têm como escopo reunir,


organizar, conservar, produzir e divulgar conteúdo relativo às memó-
rias institucionais contidas na documentação histórica da organização
e na memória de seus colaboradores. Seus acervos são compostos por
documentos textuais, audiovisuais, sonoros, iconográficos, além de ob-
jetos e artefatos. Aos centros de memória caberia “potencializar o aces-
so às informações de interesse da organização, operando de comum
acordo com seus diferentes setores e procurando atender a todo tipo
de demanda” (CAMARGO; GOULART, 2015, p. 58).

Os memoriais têm o conceito diluído entre os Centros de memória e


os museus. Porém, é possível afirmar que se trata de espaços que con-
servam e expõem coleções de objetos a respeito de personalidades, de
acontecimentos marcantes e de trajetórias institucionais.

Por fim, o que são os centros culturais?

São espaços de convivência, de encontro entre atividades culturais e o pú-


blico, em que prosperam produções artísticas e culturais e se realizam ações
educativas. Os centros culturais podem ter auditório, biblioteca, salas de in-
formática e espaço para exposições e lançamento de livros, por exemplo.

Como exemplo, no Poder Judiciário temos: Centro Cultural da Justiça Fe-


deral (CCJF) e Centro Cultural da Justiça Eleitoral, criado pela Lei n. 13.538,
de 15 de dezembro de 2017, ambos no Rio de Janeiro, que funcionam em
prédios tombados, que abrigaram a sede do Supremo Tribunal Federal.

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4.5 Museu, memorial, centro de memória:


implantação, estrutura e organização
De acordo com o artigo 40 da Resolução CNJ n. 324/2020 e com o Ma-
nual de Gestão da Memória do Poder Judiciário, a criação e a implanta-
ção de unidade de memória (museu, memorial ou centro de memória)
deve ter como objetivo a construção, a preservação, a valorização e a di-
fusão da memória institucional.

A unidade de memória deve ser instituída por ato normativo próprio do


órgão do Poder Judiciário e recomenda-se que contemple, na organi-
zação de suas atividades, pelo menos os seguintes campos de atuação:
museológico, educativo, cultural, difusão e pesquisa.

Como atribuições das unidades de memória, é recomendável: custódia


e preservação de acervo museológico; realização de atividades culturais;
desenvolvimento de pesquisas; realização de programa de história oral;
produção de exposições temporárias físicas e virtuais; atendimento ao
público; desenvolvimento de ações socioeducativas para o público ex-
terno a fim de divulgar a história do Poder Judiciário e suas funções;
promoção da cidadania por meio do pleno acesso ao patrimônio arqui-
vístico, bibliográfico, museográfico, histórico e cultural administrado e
custodiado pelo Poder Judiciário.

Para o cumprimento das atividades previstas nas unidades de memória,


é importante a atuação de profissionais com formações específicas na
área, como historiadores (Lei n. 14.038/2020), arquivistas (Lei n. 6.546/1978),
bibliotecários (Lei n. 4.084/1962) e museólogos (Lei n. 7.287/1984). Além
desses, recomenda-se que a composição dessas unidades conte, quan-
do possível, com cientistas sociais, bacharéis em direito, comunicadores
sociais, administradores, cientistas da informação, arquitetos e restaura-
dores, entre outros.

ATIVIDADE OBRIGATÓRIA (UNIDADE 4, ITEM 5)

Leitura

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. MANUAL DE GESTÃO DE MEMÓ-


RIA DO PODER JUDICIÁRIO. Programa Nacional de Gestão Documen-
tal e Memória do Poder Judiciário (Proname). Brasília: CNJ, 2021. Capítulo

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6.4 (Museu, Memorial e Centro de Memória), p. 60-64. Disponível em:


https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/02/Manual_de_Ges-
tao_de_Memoria.pdf.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (UNIDADE 4, ITEM 5)

Palestra

CHAGAS, Mario de Souza. Museus judiciários: reflexões sobre cidadania,


virtualização e desafio. Escola Paulista da Magistratura (Núcleo de Estu-
dos em História e Memória), 7 maio 2021. Disponível em: https://youtu.
be/yofttYBvicg.

4.6 Biblioteca judiciária


Em relação às bibliotecas judiciárias e seus acervos, deve-se considerar
sua dupla finalidade: de um lado, atender e dar suporte às necessidades
informacionais dos órgãos do Poder Judiciário em suas atividades coti-
dianas e, de outro lado, preservar o patrimônio bibliográfico do órgão.

Muitas vezes, essas bibliotecas especializadas contêm os maiores acer-


vos bibliográficos na área do Direito nos estados e contemplam impor-
tantes obras raras nesta área do conhecimento.

Parte desses acervos reflete escolhas feitas pela instituição em relação à


aquisição de obras literárias e fornece indícios de como os magistrados e
servidores do Poder Judiciário construíram suas análises e decisões em
determinado período.

O patrimônio bibliográfico é representado pelos livros e periódicos, cuja


importância não se prende somente ao sentido textual, mas também
aos aspectos relativos à criação, à procedência e aos usos que o Judiciá-
rio fez e faz deles.

Além das atividades relativas aos acervos bibliográficos que servem


como referência para as atividades dos órgãos do Poder Judiciário, mui-
tas outras atribuições das bibliotecas são relevantes para a construção
da memória institucional, conforme exemplificado pelo Manual de Ges-
tão de Memória do Poder Judiciário:

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CURSO DE GESTÃO DOCUMENTAL E GESTÃO DE MEMÓRIA (EaD)

ƒ Compilar e organizar os atos normativos emanados pelo respectivo


órgão do Poder Judiciário (resoluções, portarias, provimentos etc.) e
de seus setores (Presidência, Corregedoria, Órgão Especial etc.);

ƒ Compilar e organizar a legislação e normativas relativas à organiza-


ção administrativa do órgão (leis de criação ou extinção de cargos,
comarcas ou unidades judiciárias etc.);

ƒ Compilar e sistematizar julgados e jurisprudência do órgão;

ƒ Organizar e compilar biografias e informações sobre magistrados do


órgão, sobretudo a partir de listas de antiguidade, resultados de con-
cursos etc.;

ƒ Organizar a produção acadêmica e profissional dos membros do órgão,


incluindo discursos de posse, de aposentadoria, artigos, livros etc.; e

ƒ Organizar as publicações oficiais e da produção bibliográfica impres-


sa e digital do órgão e sobre o órgão.

ATIVIDADE OBRIGATÓRIA (UNIDADE 4, ITEM 6)

Leitura

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. MANUAL DE GESTÃO DE ME-


MÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO. Programa Nacional de Gestão Do-
cumental e Memória do Poder Judiciário (Proname). Brasília: CNJ, 2021.
Capítulo 6.3 e 6.3.1 (Biblioteca; Biblioteca judiciária e memória ins-
titucional), p. 52-54. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/
uploads/2021/02/Manual_de_Gestao_de_Memoria.pdf.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (UNIDADE 4, ITEM 6)

Palestra

KNUDSEN, Holger; AZEVEDO, Fabiano Cataldo; BRAYNER, Aquiles Alen-


car. Bibliotecas: diálogos entre patrimônio bibliográfico e difusão digi-
tal. Escola Paulista da Magistratura (Núcleo de Estudos em História e
Memória), 9 abr. 2021. Disponível em: https://youtu.be/-0cF5Hy-Qqw.

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PRONAME | GESTÃO DOCUMENTAL E MEMÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO

4.7 Plano museológico, projetos


museográfico e expográfico: noções
O desenvolvimento das ciências museológicas, a ampliação do conceito
de patrimônio, o papel que os museus passaram a cumprir na socieda-
de, o aumento de seu número e de público, aliados às dificuldades orça-
mentárias, obrigaram profissionais, em todo o mundo, a repensarem as
atuações administrativas dos museus.

No Brasil, na primeira década do século XXI, o plano museológico surge


no bojo de importantes transformações da área como ferramenta neces-
sária ao aprimoramento da gestão dos museus. Tornou-se indispensável
desenvolver instrumentos que identificassem a missão e o público dos
museus, permitindo aos seus gestores traçar estratégias e metas para a
área administrativa, a de coleções, a arquitetônica, a de exposições, a de
comunicação, a de recursos humanos e financeiros.

Nesse sentido, o Plano Museológico encontra-se intimamente relacio-


nado ao planejamento e à gestão. De acordo com o artigo 45 da Lei n.
11.904/2009 (Estatuto dos Museus), o plano museológico é:

[...] ferramenta básica de planejamento estratégico, de sentido


global e integrador, indispensável para a identificação da vo-
cação da instituição museológica para a definição, o ordena-
mento e a priorização dos objetivos e das ações de cada uma
de suas áreas de funcionamento, bem como fundamenta a
criação ou a fusão de museus, constituindo instrumento fun-
damental para a sistematização do trabalho interno e para a
atuação dos museus na sociedade. (BRASIL, 2009)

O Estatuto dos Museus e o Decreto n. 8.124/2013 reforçam a importância


do plano museológico para o desenvolvimento da gestão dos museus.
Além disso, em conformidade com o artigo 3 da Instrução Normativa
n. 3, de 25 de maio de 2018, do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram),
o plano museológico contemplará a seguinte estrutura: caracterização
do museu; planejamento conceitual (missão, visão, valores); diagnóstico
(ambiente interno e externo do museu) e programas.

No plano, devem constar programas e projetos que versem sobre o fun-


cionamento, a gestão, as medidas preservacionistas, as perspectivas de
desenvolvimento em curto, médio e longo prazos institucionais.

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CURSO DE GESTÃO DOCUMENTAL E GESTÃO DE MEMÓRIA (EaD)

O que são programas?

Em síntese, são as diferentes atividades que integram a gestão dos mu-


seus. Os programas possuem caráter interdisciplinar e são compostos
por projetos, os quais sinalizam o que fazer para que os objetivos estra-
tégicos sejam alcançados. Conforme a realidade de cada instituição, são
exemplos de programas: o institucional, o de gestão de pessoas, o de
acervos, o de exposições, o educativo-cultural, o de pesquisa, o arquite-
tônico-urbanístico, o de segurança, o de comunicação, o socioambiental
e o de acessibilidade universal.

O que são projetos museográficos e expográficos?

Eles são artifícios técnicos desenvolvidos com a finalidade de propiciar


e fomentar as atividades comunicacionais de instituições culturais, por
meio do estudo de técnicas de ambientação, linguagem textual e audio-
visual, circuitos luminotécnicos e estética curatorial.

Há diferença entre esses dois conceitos?

A distinção entre eles nem sempre é muito clara. A expografia remete-


-nos à arte de expor, à pesquisa de uma linguagem e de uma expressão
que traduzirá os objetivos de uma exposição. Além disso, a expografia
contém aspectos referentes ao planejamento, à metodologia e às técni-
cas necessárias ao desenvolvimento da concepção e materialização da
comunicação com o público.

A museografia pode ser definida como a museologia prática e aplicada.


Ela contém as técnicas necessárias para realizar as funções museais e,
em especial, aquelas inerentes à gestão do museu (conservação, segu-
rança e exposição), ou seja, os projetos museográficos contemplam um
conjunto mais amplo de atividades no museu, ao passo que os projetos
expográficos se referem às exposições, sejam elas em um museu ou em
um espaço não museal.

91
PRONAME | GESTÃO DOCUMENTAL E MEMÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO

ATIVIDADE OBRIGATÓRIA (UNIDADE 4, ITEM 7)

Leitura

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. MANUAL DE GESTÃO DE MEMÓ-


RIA DO PODER JUDICIÁRIO. Programa Nacional de Gestão Documen-
tal e Memória do Poder Judiciário (Proname). Brasília: CNJ, 2021. Capítulo
6.4.5 (Plano museológico), p. 67-68. Disponível em: https://www.cnj.jus.
br/wp-content/uploads/2021/02/Manual_de_Gestao_de_Memoria.pdf.

ATIVIDADES COMPLEMENTARES (UNIDADE 4, ITEM 7)

Leituras

BENCHETRIT, S. F.; BEZERRA, R. Z.; MAGALHÃES, A. M. (Org.). Museus e


comunicação: exposição como objeto de estudo. Rio de Janeiro: Museu
Histórico Nacional, 2010.

CÂNDIDO, Manuelina Maria Duarte. Orientações para gestão e plane-


jamento de museus. Florianópolis: FCC, 2014. Disponível em: https://
www.promemoria.saocarlos.sp.gov.br/acervo-files/legislacao/orienta-
coes-gestao-planejamento-museus.pdf.

CUNHA, M. B. da. A exposição museológica como estratégia comunica-


cional: o tratamento museológico da herança patrimonial. Revista Ma-
gistro, v. 1, 2010.

CURY, M. Exposição: concepção, montagem e avaliação. São Paulo: An-


nablume, 2005.

INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS (IBRAM). Subsídios para a elabo-


ração de planos museológicos. Brasília: Instituto Brasileiro de Museus
(Ibram), 2016. Disponível em: https://www.museus.gov.br/wp-content/
uploads/2017/06/Subs%C3%ADdios-para-a-elabora%C3%A7%C3%A3o-
-de-planos-museol%C3%B3gicos.pdf.

92
CURSO DE GESTÃO DOCUMENTAL E GESTÃO DE MEMÓRIA (EaD)

4.8 Composição de acervos históricos:


política e gestão
Os acervos arquivísticos de guarda permanente ou histórica foram tra-
tados na Unidade 3 do curso, de modo que, neste item, serão apresenta-
dos os acervos bibliográficos e museais.

A palavra acervo faz referência a uma coleção de peças ou de obras que


constituem um patrimônio. Existem acervos fotográficos, artísticos, do-
cumentais, bibliográficos, museais etc., mas nos interessam, agora, os
acervos históricos que compõem o patrimônio cultural de cada órgão
e, por esse motivo, são imprescindíveis para a preservação da Memória
do Poder Judiciário.

Esses acervos são igualmente importantes para toda a sociedade, por-


que retratam sua história e a forma de resolução de seus conflitos, trans-
formando-se em material valioso para investigações e pesquisas em di-
versas áreas do conhecimento.

Por esse motivo, a composição dos acervos deve ser resultado de sele-
ção criteriosa e multidisciplinar. A escolha dos bens que comporão um
acervo histórico exige conhecimentos acerca da história da instituição
e da sociedade na qual a organização está inserida. Com base em infor-
mações consistentes, fruto de pesquisas, é possível estabelecer alguns
parâmetros sobre o que deve, ou não, compor um acervo histórico.

Nos museus, esses acervos, compostos sobretudo por objetos, devem


retratar as transformações ocorridas nas relações de trabalho da ins-
tituição e nos modos como as atividades foram executadas no decor-
rer do tempo. O mobiliário, nesse contexto, ganha destaque. Antigos
plenários, escrivaninhas, cadeiras, armários, balcões, poltronas, por-
tas-chapéus e relógios de parede se sobressaem. Objetos de uso co-
tidiano, tais como urnas de sorteio de jurados, máquinas de escrever,
aparelhos de telex, canetas-tinteiro, mata-borrão, porta-tinta, porta fi-
cheiros, balanças, aparelhos telefônicos, computadores, impressoras,
tapeçaria e vestes talares são exemplos de possíveis acervos históricos
a serem preservados.

93
PRONAME | GESTÃO DOCUMENTAL E MEMÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO

O acervo museológico pode ser definido como:

[...] “bens materiais que ao serem incorporados aos museus


perderam as suas funções originais e ganharam outros valores
simbólicos, artísticos, históricos e/ou culturais, passando a cor-
responder ao interesse e objetivo de preservação, pesquisa e co-
municação de um museu” (IBRAM, 2014). Desse modo, é neces-
sário compreender que para ser considerado parte do acervo,
qualquer item deve ser incorporado, de acordo com as técnicas
e práticas museológicas. (MGM, p. 63)

Nas bibliotecas, destacam-se as obras raras, livros de jurisprudência, pu-


blicações utilizadas pelos magistrados e pelos servidores para funda-
mentarem suas decisões e realizarem suas atividades e, por fim, publi-
cações digitais que cumprem essas funções na instituição.

A composição desses acervos ocorrerá pelo recolhimento de peças em


uso ou em depósitos do órgão, por meio de aquisição (quando por al-
gum motivo o bem fora vendido ou doado pelo órgão, por exemplo) e,
por fim, por meio de doação (especialmente aquelas ofertadas por fami-
liares de magistrados e de servidores).

Em relação à gestão desses acervos, o Manual de Gestão de Memória do


Poder Judiciário salienta a importância de instituição de política própria,
da participação ativa da Comissão de Gestão da Memória e do desen-
volvimento do plano museológico. A junção desses fatores permitirá a
gestão eficiente e fortalecerá a credibilidade das unidades de memória
diante da instituição e de toda a sociedade.

ATIVIDADE OBRIGATÓRIA (UNIDADE 4, ITEM 8)

Leitura

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. MANUAL DE GESTÃO DE ME-


MÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO. Programa Nacional de Gestão Docu-
mental e Memória do Poder Judiciário (Proname). Brasília: CNJ, 2021.
Capítulo 6.3.2 (Plano de Gestão), p.54; Capítulo 6.3.3 (Desenvolvi-
mento de coleções), p. 55-56; Capítulo 6.4.3 (Composição do acervo
e coleções), p. 63-64. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-con-
tent/uploads/2021/02/Manual_de_Gestao_de_Memoria.pdf.

94
CURSO DE GESTÃO DOCUMENTAL E GESTÃO DE MEMÓRIA (EaD)

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (UNIDADE 4, ITEM 8)

Leitura

MIRANDA, A. C. C. Desenvolvimento de coleções: uma visão para o pla-


nejamento nas bibliotecas jurídicas brasileiras. Páginas A&B, Arquivos
e Bibliotecas (Portugal), n. 8, p. 35-54, 2017. Disponível em: http://hdl.
handle.net/20.500.11959/brapci/69926.

4.9 Bens culturais: identificação, organização,


registro e tutela
O que são bens culturais?

“Todos os bens culturais e naturais que se transformam em testemu-


nhos materiais e imateriais da trajetória do homem sobre o seu territó-
rio” fazem parte do conceito do artigo 2º, inciso I, do Decreto n. 8.124, de
17 de outubro de 2013.

Devemos nos atentar, contudo, para o fato de que esse conceito, assim
como a cultura, altera-se de acordo com a passagem do tempo, “consi-
derando que cada período da história está voltado para determinados
interesses que vão, de alguma forma, alterar e interferir no significado
que podemos dar ao termo bem cultural” (GUEDES; MAIO, 2016).

Conforme apresentado na Unidade 1 e no início desta Unidade 4, em


seus artigos 215 e 216, a Constituição Federal reconhece a existência de
bens culturais de natureza material e imaterial, assim como estabelece
as formas de preservação desse Patrimônio, quais sejam: tombamento,
inventário e registro.

Material: são os bens culturais materiais (também chamados de tangíveis)


são paisagens naturais, objetos, edifícios, monumentos e documentos
(IPHAN, 2012).

Imaterial: são os bens culturais imateriais estão relacionados aos saberes,


às habilidades, às crenças, às práticas, aos modos de ser das pessoas
(IPHAN, 2012).

95
PRONAME | GESTÃO DOCUMENTAL E MEMÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO

Com a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional


(SPHAN), pelo Decreto-Lei n. 25, de 30 de novembro de 1937, o tomba-
mento foi introduzido, no ordenamento nacional, como instrumento de
proteção do Patrimônio. Tombar significa fazer o registro de um bem
em livros específicos em órgão de Estado que cumpre função preser-
vacionista. Em outras palavras, o termo “tombamento” é utilizado com
o sentido de registrar algo que é de valor para uma comunidade, prote-
gendo-o por meio de legislação específica.

O inventário é instrumento de identificação de bens culturais e mani-


festações culturais, tendo como objetivo documentá-los, por todos os
meios possíveis – fotografias, vídeos, desenhos e cadernos de campo
–, de modo a tornar possível a respectiva individualização e reunião de
informações indispensáveis à preservação, conforme artigo 216, § 1º, da
Constituição Federal. O resultado de pesquisas para fins de inventário
deve ser registrado com a devida descrição do bem cultural, informa-
ções básicas sobre sua relevância, o seu histórico, as características físi-
cas, a localização, o estado de conservação e outras informações que se
fizerem necessárias.

O registro, enfim, é o ato ou efeito de registrar, inscrever ou lançar um


bem em livro específico. O registro é amparado pelos artigos 215, 216 e
225 da Constituição Federal de 1988 e pelo Decreto n. 3.551, de 4 de agosto
de 2000, que instituiu o registro de bens culturais de natureza imaterial.

O Patrimônio Cultural, conceituado no Capítulo 1.2, “pode ser composto


por bens materiais móveis, como objetos de arte ou de ofícios tradicio-
nais, utensílios domésticos ou religiosos, que podem ser manuseados e
transportados com facilidade por não serem fixados ou fazerem parte
indivisível de um imóvel” (MGM, p. 31).

Mas como podem ser organizados, registrados e tutelados esses bens


culturais? Cada tipo de bem cultural tem sua forma de organização, re-
gistro e tutela ditados por normas específicas que dependem de suas
características. Se é uma obra ou objeto de museu, essas atividades serão
realizadas de acordo com as técnicas impostas pela área, por exemplo.

Em relação aos bens imóveis, em termos gerais, devemos levar em


consideração:

96
CURSO DE GESTÃO DOCUMENTAL E GESTÃO DE MEMÓRIA (EaD)

As edificações, isoladas ou em conjunto, que poderão ter ti-


pologias distintas e não necessariamente antigas, mas que
possuam peculiaridades culturais, compreendendo monu-
mentos, conjuntos arquitetônicos e sítios construídos, edi-
fícios e estruturas, tanto em contextos urbanos como rurais.
Abrangem não apenas imóveis de carácter monumental, mas
também aqueles, cujos contextos de formação e característi-
cas particulares se revelem emblemáticos ou significativos no
espaço e tempo em que se desenvolveram. Incluem ainda, os
elementos decorativos que fazem parte integrante de monu-
mentos e edificações. (MGM, p. 31)

Em relação aos bens culturais edificados, no Poder Judiciário, precisa-


mos nos atentar aos edifícios que abrigaram os Palácios da Justiça, as
sedes dos tribunais, dos fóruns e das varas. Para identificá-los, recomen-
da-se que sejam seguidos os mesmos parâmetros de avaliação (qualita-
tivos, estéticos, construtivos, arquitetônicos, históricos, sociais e culturais)
descritos pelo Manual de Gestão de Memória do Poder Judiciário.

Muitas vezes, as edificações relacionadas com as atividades da Justiça


são exemplares importantes do patrimônio arquitetônico e da história
das cidades brasileiras. Muitos edifícios do Poder Judiciário, ao longo de
sua trajetória, foram projetados por renomados arquitetos, de modo que
há riquíssimo acervo com exemplares de vários períodos e estilos arqui-
tetônicos sob sua administração ou cedidos a outros órgãos.

Todo patrimônio demanda proteção. Para tanto, a Constituição Federal,


em seu artigo 24, inciso VII, estabelece que a União, os estados e o Distri-
to Federal deverão legislar concorrentemente sobre essa matéria. E, nes-
sas esferas, existem órgãos responsáveis por essa atividade, tais como o
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia
responsável pela proteção do patrimônio cultural brasileiro e inúmeros
outros no âmbito estadual e no municipal.

Podemos citar vários instrumentos de proteção do patrimônio cultural


brasileiro, tais como: “inventários, tombamentos, registros, vigilância, legis-
lação urbanística, incentivos fiscais, ação civil pública e popular, mandado
de segurança, códigos de obras, educação patrimonial” (MGM, p. 34).

Embora ainda nos preocupemos, quase exclusivamente, com a proteção


adequada dos bens materiais, é necessário refletirmos também, com ur-
gência, a respeito dos objetos digitais.

97
PRONAME | GESTÃO DOCUMENTAL E MEMÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO

Mas os objetos digitais podem ser considerados bens culturais? Sim, pois
há o patrimônio digital e o patrimônio virtual, que constituem “o patrimô-
nio intangível ou imaterial circulando na web” (DODEBEI, 2005, p. 2). Esse
patrimônio possui duas classificações: o patrimônio originariamente ele-
trônico, de valor e significância duradouros (UNESCO, 2003), bem como
aquele que nasce a partir do uso de ferramentas digitais com o objetivo de
preservação, com a duplicação (normalmente por meio de digitalização)
de espaços e de acervos que, em novo ambiente, são potencializados pelas
características do ciberespaço (REIS et al., 2016). A preservação desses bens
foi tratada pela Unidade 3, item 3.4. Política de Preservação Digital.

ATIVIDADE OBRIGATÓRIA (UNIDADE 4, ITEM 9)

Leitura

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. MANUAL DE GESTÃO DE MEMÓ-


RIA DO PODER JUDICIÁRIO. Programa Nacional de Gestão Documen-
tal e Memória do Poder Judiciário (Proname). Brasília: CNJ, 2021. Capítu-
lo 5 (Patrimônio Cultural), p. 29-36. Disponível em: https://www.cnj.jus.
br/wp-content/uploads/2021/02/Manual_de_Gestao_de_Memoria.pdf.

ATIVIDADES COMPLEMENTARES (UNIDADE 4, ITEM 9)

Leitura

GUEDES, Maria Tarcila Ferreira; MAIO, Luciana Mourão. Bem cultural. In:
GRIECO, Bettina; TEIXEIRA, Luciano; THOMPSON, Analucia (Orgs.). Di-
cionário IPHAN de Patrimônio Cultural. 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro,
Brasília: Iphan/DAF/Copedoc, 2016. (verbete). Disponível em: http://portal.
iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/79/bem-cultural.

Palestra

COSTA, Heloisa Helena Fernandes Gonçalves da. Patrimônio Cultural:


bens materiais e imateriais do Poder Judiciário. Escola Paulista da Magis-
tratura (Núcleo de Estudos em História e Memória), 11 dez. 2020. Disponí-
vel em: https://youtu.be/p837qBiQnbs.

98
CURSO DE GESTÃO DOCUMENTAL E GESTÃO DE MEMÓRIA (EaD)

4.10 Conservação preventiva, controle


de riscos, segurança e restauração:
fundamentos
Você sabia que parte considerável da gestão de acervos aponta para as
atividades de prevenção?

Todas as peças que compõem acervos encontram-se em processo de


degradação desde o momento em que foram criadas (construídas, im-
pressas, esculpidas, redigidas etc.). As informações transmitidas por es-
ses acervos podem perder-se, caso não haja cuidados relativos à sua pre-
servação adequada, tornando-se imprescindível a realização de medidas
que mitiguem os riscos de danos e perdas.

Infelizmente, não são raros os casos de espaços de memória que não


estavam preparados para enfrentar incêndios, inundações ou mesmo
ataques realizados por hackers. Por essa razão, partes importantes de
acervos valiosos não existem mais. Também não são exceções os casos
de documentação infestada por cupins ou de obras de arte que foram
furtadas de museus.

Mas será que tudo isso poderia ter sido evitado? Infelizmente, riscos
sempre existirão, contudo eles podem ser minimizados com a adoção
de medidas preventivas. A boa gestão de acervos, por exemplo, deve ser
realizada de modo planejado, levando em conta medidas de prevenção
e de controle de riscos.

Merece atenção, neste sentido, a conservação preventiva e todos os en-


sinamentos que ela traz consigo, pois a “significa assegurar a sobrevida
das coleções” ou acervos (GUICHEN, 1995, p. 2).

As atividades de conservação preventiva ultrapassam as medidas rela-


tivas ao controle da temperatura e da umidade, ou da limpeza mecâ-
nica do acervo e das salas que o guardam, e devem contemplar tam-
bém a desinfestação periódica, o controle de luminosidade e o modo
mais adequado de acondicionamento dos diferentes acervos. Essas
atividades devem ser realizadas diariamente e monitoradas por pes-
soas capacitadas.

99
PRONAME | GESTÃO DOCUMENTAL E MEMÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO

É importante lembrar que o controle de riscos também deve considerar a


existência de um plano de prevenção e a criação de uma brigada contra
incêndio, bem como a capacitação de equipe da unidade de memória
para que saiba agir caso aconteça algum sinistro. A capacitação, vale refor-
çar, é imprescindível em todos os casos e até mesmo para as inundações.

A recente Resolução Normativa IBRAM n. 3, de 28 de julho de 2021, que


formalizou o Programa de Gestão de Riscos ao Patrimônio Musealizado
Brasileiro, deve ser utilizada como base para a execução das atividades rela-
cionadas às unidades de memória dos diversos órgãos do Poder Judiciário.

Em relação à segurança, é recomendável que o local de guarda dos


acervos contenha vigilância 24 horas, preferencialmente, por meio de
sistema interno e externo de monitoramento por câmeras, a fim de res-
guardá-los de possíveis furtos e danos.

Quando são consumados danos aos bens culturais por motivos diver-
sos, como guarda em condições inadequadas, acidentes, manutenção
ao ar livre etc., é necessário planejar a restauração. Esse procedimento
deve interromper os processos de degradação existentes ou reforçar a
estrutura dos bens (CARVALHO, 2015, p. 17). São exemplos de restaura-
ção: “o retoque de pintura, a reconstituição de uma escultura quebrada,
a remodelação de uma cesta, a reintegração de perdas em um vaso de
vidro” (ABRACOR, 2010, p. 3).

Com procedimentos diversos da restauração, precisamos considerar


também a conservação curativa dos bens. Essa integra as ações que
se realizam sobre um bem, ou grupo de bens culturais, “quando eles se
encontram em um estado de fragilidade adiantada ou estão se dete-
riorando a um ritmo elevado, de tal forma que poderiam perder-se em
um tempo relativamente curto” (ABRACOR, 2010, p. 3). Alguns exemplos
desse tipo de ação: “a desinfestação de têxteis, a dessalinização de cerâ-
micas, a desacidificação de papel, a desidratação de materiais arqueo-
lógicos úmidos, a estabilização de metais corroídos, a consolidação de
pinturas murais” (ABRACOR, 2010, p. 3).

Por fim, deve-se ressaltar a necessidade de se fazer um seguro de um


bem ou conjunto de bens, especialmente ao se transportar o material
de um lugar para o outro, ou mesmo no caso de obras de arte com alto
valor de mercado. Caberá ao gestor identificar quais os itens do acervo
sob sua responsabilidade deverão ter um seguro específico.

100
CURSO DE GESTÃO DOCUMENTAL E GESTÃO DE MEMÓRIA (EaD)

ATIVIDADES OBRIGATÓRIAS (UNIDADE 4, ITEM 10)

Leituras

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. MANUAL DE GESTÃO DE MEMÓ-


RIA DO PODER JUDICIÁRIO. Programa Nacional de Gestão Documen-
tal e Memória do Poder Judiciário (Proname). Brasília: CNJ, 2021. Capítu-
lo 7.9 (Gerenciamento de riscos), p.83-84; Capítulo 7.10 (Conservação
Preventiva e Restauração), p. 84-85. Disponível em: https://www.cnj.
jus.br/wp-content/uploads/2021/02/Manual_de_Gestao_de_Memoria.
pdf.

____. MANUAL DE GESTÃO DE MEMÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO.


Programa Nacional de Gestão Documental e Memória do Poder Ju-
diciário (Proname). Brasília: CNJ, 2021. Capítulo 10.8 (Preservação de
Registros de Mídias Comunicacionais e Sociais), p. 115-116. Disponível
em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/02/Manual_de_
Gestao_de_Memoria.pdf.

INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS (IBRAM). Resolução Normati-


va IBRAM n. 3, de 28 de julho de 2021. Disponível em: https://www.in.
gov.br/web/dou/-/resolucao-normativa-ibram-n-3-de-28-de-julho-
-de-2021-335481956.

ATIVIDADES COMPLEMENTARES (UNIDADE 4, ITEM 10)

Leituras

BIAZIN, Cristiane; VIEIRA FILHO, Dalmo; KANAN, Maria Isabel. Conserva-


ção preventiva de imóveis antigos em núcleos históricos. Florianó-
polis, SC: IPHAN , 2020. Disponível em: https://www.gov.br/iphan/pt-br/
assuntos/noticias/iphan-lanca-material-sobre-a-preservacao-da-cul-
tura-catarinense/conservacao-preventiva-de-imoveis-antigos-em-nu-
cleos-historicos.pdf.

CASSARES, N. C. Como fazer conservação preventiva em arquivos e


bibliotecas. São Paulo: Arquivo do Estado e Imprensa Oficial, 2000. Dis-
ponível em: https://www.arqsp.org.br/arquivos/oficinas_colecao_como_
fazer/cf5.pdf.

101
PRONAME | GESTÃO DOCUMENTAL E MEMÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. MANUAL DE GESTÃO DE MEMÓ-


RIA DO PODER JUDICIÁRIO. Programa Nacional de Gestão Documen-
tal e Memória do Poder Judiciário (Proname). Brasília: CNJ, 2021. Anexo B
– guias, manuais e textos de consulta, p. 150-152. Disponível em: https://
www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/02/Manual_de_Gestao_de_Me-
moria.pdf.

MUSEU DE ASTRONOMIA E CIÊNCIAS AFINS. Política de Preservação


de Acervos Institucionais (MAST). Disponível em: http://www.mast.br/
images/pdf/publicacoes_do_mast/politica_de_preservacao_de_acer-
vos_institucionais.pdf.

SPINELLI JÚNIOR, Jayme. A conservação de acervos bibliográficos


e documentais. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Dep.
de Processos Técnicos, 1997. Disponível em: http://planorweb.bn.br/
documentos/ConservacaoAervosBibliograficosDocumentais.pdf.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS.


Plano de preservação dos acervos arquivísticos – Complexo Arqui-
vístico do TJDFT. Disponível em: https://www.tjdft.jus.br/publicacoes/
publicacoes-oficiais/portarias-conjuntas-gpr-e-cg/2021/plano_de_pre-
servacao-1.pdf.

____. Programa de gestão de arquivos: planos de prevenção, conser-


vação e emergência do complexo arquivístico do TJDFT. Disponível em:
https://www.tjdft.jus.br/institucional/gestao-do-conhecimento/ges-
tao-documental/boas-praticas-de-gestao-documental/Programade-
GestodeArquivosPlanosdePrevenoConservaoeEmergnciadoComple-
xoArquivsticodoTJDFT.pdf.

4.11 História administrativa e memória


institucional: construção, pesquisa
e preservação
Nos últimos anos, o poder público tem começado a desenvolver cons-
ciência da necessidade de preservar a memória das organizações como
parte significativa da memória da sociedade. E é assim que se devem

102
CURSO DE GESTÃO DOCUMENTAL E GESTÃO DE MEMÓRIA (EaD)

pensar os investimentos a serem feitos nos estudos dedicados à história


administrativa e à Memória institucional do Poder Judiciário.

A Memória institucional, valendo-se da história administrativa, consiste na


análise de fatos e acontecimentos significativos da trajetória e das expe-
riências da organização. Esses fatos e acontecimentos devem ser selecio-
nados e organizados com o objetivo de estimular o processo de constru-
ção de identidades comuns entre a instituição e seus diversos públicos.

Para compor a história administrativa ou institucional, é necessário, an-


tes de tudo, esclarecer quais funções e atividades desempenhadas pelo
órgão, o que será útil para a organização dos conjuntos documentais sob
guarda dos arquivos, destacando-se, também, os eventos que retratam
mudanças significativas na instituição.

No caso dos órgãos do Poder Judiciário, é também fundamental que se-


jam analisadas as normas externas, tais como códigos e leis de organi-
zação judiciária, divisão de comarcas e criação de cargos, e internas, tais
como atos regimentais, instruções normativas, resoluções, regimentos
internos, regulamentos etc. Por meio dessas normas, podem ser extraí-
dos elementos das transformações pelas quais passou a instituição, de
modo a permitir a elaboração de estudos sobre as estruturas da organi-
zação, as competências dos setores, os níveis hierárquicos e os diferentes
organogramas no decorrer do tempo.

Nesse sentido, a história dos diferentes tribunais e de suas unidades,


nos vários segmentos do Poder Judiciário, deve ser alicerçada na análise
das diferentes mudanças legislativas, as quais revelam não apenas alte-
rações em suas estruturas, organização, funcionamento e composição,
mas também transformações sociais e políticas no país. A ampliação
do campo de análise, portanto, se faz necessária. É essencial que sejam
abordadas as relações entre a evolução dessas instituições e fatos histó-
ricos nacionais e regionais.

De acordo com o historiador Arno Wehling, uma história administrativa


de qualidade seria problematizadora, pois “consideraria órgãos, sistemas e
processos como entes vivos, movidos por agentes humanos presos às suas
circunstâncias e não como entes de razão num organograma ou fluxogra-
ma [...] seria interdisciplinar, interagindo com a ciência política, a sociologia,
a filosofia política, o direito, a economia e a teoria da administração”. Além

103
PRONAME | GESTÃO DOCUMENTAL E MEMÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO

disso, o autor ainda afirma que “interessante seria produzir uma história
administrativa na sua circularidade social, desde o discurso político-admi-
nistrativo e jurídico até a interação com a sociedade”(WEHLING, 2012, p. 14).

Desse modo, as pesquisas relativas à história administrativa e memória


institucional envolvem conhecimentos variados (direito, história, admi-
nistração, arquitetura, sociologia, ciência política, economia etc.) e diver-
sos sujeitos (magistrados, servidores, membros do Ministério Público,
advogados, procuradores, defensores públicos, prestadores de serviços
etc., além dos jurisdicionados). Assim, o meio acadêmico poderá contri-
buir bastante com essas pesquisas, que não devem limitar-se aos agen-
tes do próprio órgão do Poder Judiciário,

De acordo com o capítulo 8 do Manual de Gestão de Memória do Poder


Judiciário, os conteúdos relevantes para a história administrativa da Justiça
brasileira e para a memória institucional se materializam em acervos do-
cumentais, objetos utilizados em atividades cotidianas da instituição, mo-
biliário, imóveis, filmagens e gravações de áudio. Tais acervos devem ser
preservados de forma adequada, de acordo com seu material constituinte.

As informações preservadas nos diversos Espaços de Memória são a ma-


téria-prima para a construção da Memória institucional. A capacidade
que essas informações contidas nos acervos têm de exprimir a evolução
histórica da instituição em diferentes aspectos aponta para a necessida-
de de promover seu adequado gerenciamento e sua preservação, além
de torná-las disponíveis.

Afinal, a história administrativa (ou história institucional) e a memória


institucional são a mesma coisa? Embora sejam próximas, seus objeti-
vos se diferenciam. A história administrativa lida com a investigação de
acontecimentos e transformações de uma instituição no decorrer do
tempo. Enquanto isso, a memória institucional compreende atividades
que selecionam acontecimentos, transformações relevantes, persona-
gens e objetos (fotografias, mobiliário, imóveis) que, em determinado
tempo, representam a trajetória da organização.

ATIVIDADE OBRIGATÓRIA (UNIDADE 4, ITEM 11)


Leitura

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. MANUAL DE GESTÃO DE MEMÓ-


RIA DO PODER JUDICIÁRIO. Programa Nacional de Gestão Documen-

104
CURSO DE GESTÃO DOCUMENTAL E GESTÃO DE MEMÓRIA (EaD)

tal e Memória do Poder Judiciário (Proname). Brasília: CNJ, 2021. Capítu-


lo 8.2 e 8.3 (História do Poder Judiciário e Construção da História do
Tribunal), p. 88-100. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/
uploads/2021/02/Manual_de_Gestao_de_Memoria.pdf.

Palestras em vídeo

MADEIRA, Hélcio Maciel França. História da Justiça brasileira no Impé-


rio 1822-1889 (palestra). Escola Paulista da Magistratura (Núcleo de Es-
tudos em História e Memória), 10 set. 2021. Disponível em: https://youtu.
be/5iz9lWlfQkI.

WEHLING, Arno. História da Justiça no Brasil Colônia 1500-1822. (pa-


lestra). Escola Paulista da Magistratura (Núcleo de Estudos em História
e Memória), 10 set. 2021. Disponível em: https://youtu.be/3ZVWNBTiLV8.

FREITAS, Vladimir Passos de. História da Justiça brasileira na Primei-


ra e Segunda Repúblicas (1889/1945). Escola Paulista da Magistratura
(Núcleo de Estudos em História e Memória), 8 out. 2021. Disponível em:

4.12 Projetos: elementos básicos


Para que as atividades alcancem seus objetivos, precisam ser necessa-
riamente bem planejadas e sua execução, sempre que possível, seguir
os parâmetros estabelecidos por um projeto.

Mas o que é um projeto?

Para a Administração Pública, de acordo com o Manual de Gestão de


Projetos do Tribunal de Contas da União:

Projeto é um conjunto de atividades ou medidas planejadas


para serem executadas com: a) responsabilidade de execu-
ção definida; b) objetivos determinados; c) abrangência (ou
escopo) definida; d) prazo delimitado; e) recursos específicos
(BRASIL, 2006).

O projeto configura um evento que possui começo, meio e fim. Serve,


em geral, para criar algo novo ou executar atividade preexistente. Serve,

105
PRONAME | GESTÃO DOCUMENTAL E MEMÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO

também, para organizar o trabalho e os recursos, para que os resulta-


dos desejados sejam alcançados. Quando trabalhamos com o auxílio de
projetos, diminuímos os riscos que envolvem a execução das atividades,
buscamos meios adequados para o cumprimento de prazos e podemos
trabalhar com previsão orçamentária adequada.

Existem vários modelos de projetos que interessam ao campo da gestão


de memória. Além dos projetos de gestão, de engenharia e construção
civil, de desenvolvimento de programas de computador, de marketing e
publicidade, de redação ou publicação de um livro, de reestruturação de
determinado setor ou departamento da instituição, de lançamento de
um novo produto ou serviço, de plano de capacitação, ainda há os proje-
tos de pesquisa e os de editais culturais, os quais são importantes para
ampliar as possibilidades de captação de recursos externos.

No que diz respeito aos editais culturais, é importante destacar que, para
se conseguirem recursos externos no intuito de financiar um projeto de
um espaço de memória, é necessário que o órgão interessado em parti-
cipar do processo seletivo elabore referido projeto em aderência à área
da instituição financiadora e preencha todos os requisitos exigidos pelo
edital publicado.

Para isso, é imprescindível a leitura cuidadosa do edital, pois cada um


deles tem suas especificidades e exigências. No geral, as instituições fi-
nanciadoras divulgam um manual para preenchimento de formulários
a serem encaminhados com a proposta dos órgãos de Memória interes-
sados na seleção pública.

Os projetos para a área administrativa das instituições governamentais


precisam ter, no mínimo, título, justificativa, objetivos (geral e específi-
cos), metas, cronograma, custos (recursos humanos e financeiros). Para
se ter uma ideia da composição de um projeto e o que deve conter
cada parte, recomenda-se a leitura da Seção III − Fazendo o Projeto
Acontecer, do Manual de Gestão de Projetos do TCU.

Um projeto de pesquisa deve conter os seguintes elementos: os pré-


-textuais (capa, folha de rosto, lista de ilustrações e tabelas, lista de abre-
viaturas e siglas e sumário); os textuais (introdução, contendo o tema,
o problema a ser abordado, as hipóteses, os objetivos, as justificativas,
o referencial teórico e a metodologia); e os pós-textuais (referências, bi-

106
CURSO DE GESTÃO DOCUMENTAL E GESTÃO DE MEMÓRIA (EaD)

bliografia consultada, anexo e apêndice). Cada instituição de pesqui-


sa ou universidade vai determinar algumas regras para os projetos de
pesquisa, que normalmente são embasadas na ABNT.

ATIVIDADES OBRIGATÓRIAS (UNIDADE 4, ITEM 12)

Leitura

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Manual de gestão de projetos do


Tribunal de Contas da União. Seção III (Fazendo o Projeto Aconte-
cer), p. 41-52. Brasília: TCU, 2006. Disponível em: https://portal.tcu.gov.br/
biblioteca-digital/manual-de-gestao-de-projetos.htm.

ATIVIDADES COMPLEMENTARES (UNIDADE 4, ITEM 12)


Leitura

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Manual de gestão de projetos do Tri-


bunal de Contas da União. Brasília: TCU, 2006. Disponível em: https://por-
tal.tcu.gov.br/biblioteca-digital/manual-de-gestao-de-projetos.htm.

4.13 Difusão e promoção de cidadania,


educação, cultura, acessibilidade,
inclusão, diversidade, sustentabilidade
e outros direitos humanos
Qual a relação entre difusão e promoção da cidadania e direitos
humanos?

Difusão significa divulgação e compartilhamento. No caso da gestão de


memória, importa levar a história do Poder Judiciário e de seus bens cul-
turais aos cidadãos, procurando atingir o maior público possível.

E a difusão da Memória está relacionada à promoção da cidadania,


educação, cultura, acessibilidade, inclusão, diversidade, sustenta-
bilidade e outros direitos humanos. Esses direitos apresentam fortes
conexões, integralizando-se entre si, pois um depende do outro e a exis-
tência de um pressupõe a efetividade de outro.

107
PRONAME | GESTÃO DOCUMENTAL E MEMÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO

Por meio da difusão, os espaços de memória do órgão podem e devem


promover ações com o objetivo de criar oportunidades para que a socie-
dade brasileira possa conhecer seus direitos e deveres, exercendo plena-
mente sua cidadania.

A promoção da cidadania e do Patrimônio contido nos acervos culturais


do Poder Judiciário é importante diretriz do Proname (artigo 3º, inciso II,
da Resolução CNJ n. 324/2020).

Sendo a difusão da memória aspecto importante para que a sociedade bra-


sileira conheça seus direitos e as conquistas sociais advindas do reconheci-
mento deles pelo Poder Judiciário, de que modo isso pode ser concretizado?

Os espaços de memória, neles incluídos arquivos, bibliotecas, museus


e similares, deverão empreender ações, projetos e iniciativas com o ob-
jetivo de divulgar amplamente os bens culturais materiais e imateriais
de natureza arquivística, bibliográfica, museológica e arquitetônica com
relevância para a história da instituição e da sociedade.

Assim agindo, os espaços de memória contribuirão, de maneira relevan-


te, para que a sociedade conheça melhor o papel do Poder Judiciário,
como um dos principais pilares da democracia brasileira, pacificador so-
cial e garantidor de direitos. Ao mesmo tempo, levarão conhecimento ao
cidadão para que conheça seus direitos e deveres.

Como já apresentado nas Unidades 2 e 3, os documentos arquivísticos,


fontes da cultura nacional e integrantes do patrimônio cultural nacional,
devem estar disponíveis para a pesquisa pública por meio de instrumen-
tos de pesquisa e de ferramentas como o AtoM.

A organização de exposições físicas e virtuais, por sua vez, são meios


importantes de difusão, pois permitem a interação e o diálogo do Poder
Judiciário com o público.

Por outro lado, os espaços de memória não podem abrir mão do uso das
tecnologias e da disponibilização de conteúdo pela internet, pois permi-
tem uma divulgação mais ampla dos acervos museológicos, bibliográfi-
cos e arquivísticos, além de maior interatividade com públicos diversos.

Então, vamos ver como cada um desses direitos fundamentais se rela-


ciona com os espaços de memória?

108
CURSO DE GESTÃO DOCUMENTAL E GESTÃO DE MEMÓRIA (EaD)

A cidadania, um dos fundamentos constitucionais do Estado Democrá-


tico de Direito, é aplicável a todos os espaços de memória, constituindo
diretriz do Proname e princípio fundamental do Estatuto dos Museus.
A promoção da cidadania, nesses espaços, ocorre por meio da difusão
e do acesso aos documentos, livros e objetos preservados, assim como
pela efetiva fruição dos direitos culturais.

Nesse aspecto, as atividades de gestão de memória devem, além de pos-


sibilitar o conhecimento sobre a trajetória do Poder Judiciário e sobre a
história contida nos processos, realçar o protagonismo desse Poder em
relação à pacificação social e à garantia de direitos. Isso porque parte
significativa da população brasileira desconhece seus direitos e as atri-
buições e o funcionamento do Poder Judiciário.

Para esse fim, deve ser concedida especial atenção a temas sensíveis à ci-
dadania, tais como igualdade, antidiscriminação, acessibilidade, inclusão
e outros direitos humanos. Na prática, esses direitos estão profundamente
relacionados com a seleção dos bens que comporão o acervo histórico do
órgão, as exposições e as ações educativas e culturais relacionadas.

A propósito de educação e de cultura, deve ser também destacado o


dever estatal de adotar medidas aptas a garantir a todos esses direitos e
a proporcionar o acesso às fontes da cultura nacional, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania
e qualificação para o trabalho. Assim, as atividades educativas e culturais
devem estimular a aquisição, a permanente desconstrução e reconstru-
ção dos conhecimentos, o intercâmbio de vivências e a reflexão sobre o
patrimônio cultural.

Nesse sentido, os espaços de memória do Poder Judiciário agregam im-


portantes fontes para conhecimento e pesquisa da história das institui-
ções judiciais, sua trajetória na sociedade e dos conflitos submetidos à
decisão. Esses revelam os modos de viver, as relações sociais e de poder,
a transformação de valores e do pensamento, a evolução do conheci-
mento, das tecnologias e dos direitos e sua interpretação, em um deter-
minado espaço e tempo.

Para o estudo, reflexão e difusão desse patrimônio, as atividades culturais


e educacionais podem ser desenvolvidas em parceria com outras institui-
ções, por meio de convênios com entidades de caráter histórico, cultural,

109
PRONAME | GESTÃO DOCUMENTAL E MEMÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO

social e universitário, assim como pela realização de encontros e seminá-


rios, que também são incentivados de maneira expressa pelo artigo 3º, da
Resolução CNJ n. 316/2020, que institui o Dia da Memória do Poder Judi-
ciário, apresentado em um dos próximos itens desta Unidade 4 do curso.

A acessibilidade e a inclusão também devem ser perseguidas de modo


permanente pelos espaços de memória. A fim de promover a difusão e
o amplo acesso a pessoas com deficiência, condutas ativas aptas à in-
clusão e à eliminação de obstáculos de natureza física, mental, intelec-
tual ou sensorial devem ser adotadas por esses espaços, possibilitando
o exercício dos direitos culturais em igualdade de condições com as de-
mais pessoas, de acordo com a disciplina constante do Estatuto da Pes-
soa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015).

Desse modo, ações inclusivas que contemplem a redução de mobilida-


de, de flexibilidade, de coordenação motora ou de percepção, incluindo
idosos, gestantes, lactantes, pessoas com crianças de colo e obesos, de-
vem ser adotadas tanto em relação aos espaços físicos, quanto aos vir-
tuais, que preferencialmente serão projetados com desenho universal,
afastando as barreiras urbanísticas, arquitetônicas, nas comunicações e
informações, atitudinais e tecnológicas.

Além disso, a diversidade e a não discriminação são temas impor-


tantes a serem considerados pela gestão de memória. Questões rela-
cionadas à diversidade cultural, à regional, à étnica e à linguística e às
desigualdades sociais e econômicas do país devem ser objeto das ati-
vidades dos espaços de memória. Do mesmo modo, não podem ser
esquecidas as questões de raça, gênero, religião e orientação sexual,
além de aspectos ligados a minorias, tais como indígenas, quilombolas,
migrantes, refugiados etc.

Por fim, a sustentabilidade é valor fundamental para o Poder Judiciário


e para os espaços de memória. Sendo o meio ambiente equilibrado um
bem essencial à qualidade de vida para as presentes e futuras gerações,
a construção, o gerenciamento e o funcionamento dos espaços de me-
mória devem ser feitos de modo sustentável. Assim, todas as ações pre-
cisam estar direcionadas para a preservação do ambiente natural, eco-
nomia de energia, água e outros recursos naturais e para a redução da
emissão de gases de efeito estufa e de resíduos sólidos.

110
CURSO DE GESTÃO DOCUMENTAL E GESTÃO DE MEMÓRIA (EaD)

Para fundamentação das ações de gestão de memória e de gestão do-


cumental, além da Constituição Federal, existem diversas leis e atos
normativos do Conselho Nacional de Justiça, que contemplam esses
direitos, indicados no Capítulo 7.1 do Manual de Gestão de Memória do
Poder Judiciário, de leitura obrigatória.

Também inúmeros tratados internacionais, relacionados no final da


Unidade 1, contemplam os direitos relacionados nesta unidade, emba-
sando essas ações.

ATIVIDADE OBRIGATÓRIA (UNIDADE 4, ITEM 13)

Leitura

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. MANUAL DE GESTÃO DE MEMÓ-


RIA DO PODER JUDICIÁRIO. Programa Nacional de Gestão Documen-
tal e Memória do Poder Judiciário (Proname). Brasília: CNJ, 2021. Capítulo
7.1 (Cidadania e Direitos Fundamentais), p. 71-76. Disponível em: https://
www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/02/Manual_de_Gestao_de_
Memoria.pdf.

ATIVIDADES OBRIGATÓRIAS (UNIDADE 4, ITEM 13)

Leitura

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. MANUAL DE GESTÃO DE MEMÓ-


RIA DO PODER JUDICIÁRIO. Programa Nacional de Gestão Documen-
tal e Memória do Poder Judiciário (Proname). Brasília: CNJ, 2021. Capí-
tulo 6.2.7 (AtoM), p. 47-48; Capítulo 6.2.11 (Difusão e pesquisa), p. 51;
Capítulo 6.4.6 (Difusão digital), p. 68-69; Capítulo 9.1 (Exposições),
p.101; Capítulo 10.5 (Portal de Memória), p.110-112 e Capítulo 10.7 (Mí-
dias sociais), p.113-115. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-con-
tent/uploads/2021/02/Manual_de_Gestao_de_Memoria.pdf.

____. Resolução n. 400, de 16 de junho de 2021. Dispõe sobre a política


de sustentabilidade no âmbito do Poder Judiciário. Brasília: CNJ, 2021.
Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/files/original1235542021061860c-
c932a97838.pdf.

111
PRONAME | GESTÃO DOCUMENTAL E MEMÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução n. 401, de 16 de junho


de 2021. Dispõe sobre o desenvolvimento de diretrizes de acessibilidade
e inclusão de pessoas com deficiência nos órgãos do Poder Judiciário e
de seus serviços auxiliares, e regulamenta o funcionamento de unidades
de acessibilidade e inclusão. Brasília: CNJ, 2021.Disponível em: https://
atos.cnj.jus.br/files/original1344192021061860cca3338db65.pdf.

4.14 Atuação em rede


De acordo com o artigo 37 da Resolução CNJ n. 324/2020, o CNJ promo-
verá a construção de redes na área de memória, entre os vários órgãos
do Poder Judiciário, o intercâmbio de experiências e de boas práticas

O que são as redes e como são criadas?


As redes são grupos de pessoas físicas ou jurídicas com interesses co-
muns em determinada área, que compartilham seus conhecimentos,
experiências, referências, atividades e eventos, como seminários, webi-
nários, congressos e palestras, chamadas para artigos, suscitando deba-
tes a respeito de questões relacionadas ao tema.

Em uma rede de memória, as pessoas que lidam, direta ou indiretamen-


te, com a gestão de memória e a gestão documental são convidadas a
participarem de atividades e interações que apontam para o desenvol-
vimento dessa área.

Conforme o Manual de Gestão de Memória do Poder Judiciário, uma:

[...] rede pode ter origem institucional ou espontânea. No


primeiro caso, a criação ocorre por ato normativo de algum
órgão superior, sendo exemplo a Rede de Memória Eleitoral
(REME). No segundo caso, o nascimento surge de maneira
externa às esferas de poder institucional de maneira voluntá-
ria e por adesão, sendo exemplos as redes MEMOJUS BRASIL
e MEMOJUTRA. (MGM, p. 117)

Atualmente, há três redes nacionais de memória do Poder Judiciário em


atividade:

112
CURSO DE GESTÃO DOCUMENTAL E GESTÃO DE MEMÓRIA (EaD)

ƒ MEMOJUS BRASIL: criada em setembro de 2019, conta com mais de


250 membros atuantes em arquivos, bibliotecas, centros culturais,
centros de memória e museus de todos os segmentos da Justiça
brasileira e de outros órgãos como arquivos públicos, universidades e
ministério público;

ƒ MEMOJUTRA: criada em 2006, como Fórum Nacional Permanente


em Defesa da Memória da Justiça do Trabalho, é composta por ma-
gistrados e servidores desse segmento da Justiça brasileira;

ƒ REME: criada em 2014, a Rede de Memória Eleitoral é composta por


servidores da Justiça Eleitoral com o objetivo de preservar a memória
das eleições e daquele ramo da Justiça.

ATIVIDADES OBRIGATÓRIAS (UNIDADE 4, ITEM 14)

Leitura

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. MANUAL DE GESTÃO DE MEMÓ-


RIA DO PODER JUDICIÁRIO. Programa Nacional de Gestão Documen-
tal e Memória do Poder Judiciário (Proname). Brasília: CNJ, 2021. Capítulo
11 (Redes Nacionais de Memória do Judiciário), p. 117-119. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/02/Manual_de_Gestao_
de_Memoria.pdf.

____. Redes de memória (MemoJus Brasil, Memojutra e Reme). Pro-


grama Nacional de Gestão Documental e Memória do Poder Judiciário,
2021. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/gestao-
-documental-e-memoria-proname/gestao-de-memoria/redes-de-me-
moria-memojus-brasil-memojutra-e-reme/.

4.15 Dia da Memória do Poder Judiciário


(Resolução CNJ n. 316/2020)
Instituído pela Resolução CNJ n. 316/2020, o Dia da Memória do Poder
Judiciário é comemorado no dia 10 de maio e tornou-se importante re-
ferência no conjunto de atividades relativas à gestão de memória.

113
PRONAME | GESTÃO DOCUMENTAL E MEMÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO

O debate em torno da instituição de uma data comemorativa para a Me-


mória do Poder Judiciário brasileiro teve impulso em setembro de 2019,
por meio de consulta realizada aos membros da rede MEMOJUS BRASIL,
a qual havia sido recém-criada. Entre as propostas submetidas à votação,
o dia 10 de maio foi escolhido pela maioria dos membros dessa rede.

A proposta foi encaminhada ao Comitê do Proname, que a encampou, e


a Resolução CNJ n. 316/2020 foi aprovada.

A celebração dessa data faz lembrar a importância histórica que os


órgãos do Poder Judiciário possuem para a sociedade brasileira e nos
remete ao Alvará de 10 de maio de 1808, assinado pelo príncipe re-
gente D. João, que criou a Casa da Suplicação do Brasil no Rio de Ja-
neiro. A instituição desse Tribunal Superior representou uma espécie
de “independência judiciária” do país em relação a Portugal, porque, a
partir de então, a maior parte dos agravos ordinários e apelações não
foi mais encaminhada para julgamento em Lisboa.

São objetivos da Resolução que criou essa data comemorativa: forta-


lecer a identidade do Poder Judiciário, reforçando o senso de perten-
cimento de juízes e servidores à instituição; tornar evidente a impor-
tância de preservação da Memória da Justiça; assim como valorizar e
difundir seus bens culturais.

Para que esses objetivos possam ser alcançados e a data seja celebra-
da, o artigo 2º da Resolução CNJ n. 316/2020 determina, aos órgãos do
Poder Judiciário, que envidem esforços para a realização de diversos
eventos e atividades de natureza expositivas, educativas e de produção
intelectual, exemplificando com alguns deles: a) difusão de pesquisas
históricas dos respectivos tribunais e suas unidades (em meio eletrô-
nico e/ou impresso); b) promoção de encontros, palestras e seminários
com participação de especialistas das áreas de História, Museologia, Ar-
quivologia e Biblioteconomia; c) realização de mostras de cunho histó-
rico, referente à história da instituição, da região ou do país.

Para realizar essas atividades e celebrar a data anualmente, é recomendá-


vel que a Comissão de Gestão da Memória de cada órgão do Poder Judi-
ciário, com o auxílio dos espaços de memória, elabore um plano de ação.

114
CURSO DE GESTÃO DOCUMENTAL E GESTÃO DE MEMÓRIA (EaD)

E, por fim, de acordo com o artigo 3º da Resolução CNJ n. 316/2020, para


fortalecer as atuações em rede, o CNJ incentivará a realização de Encon-
tro Nacional de Memória do Poder Judiciário.

ATIVIDADES OBRIGATÓRIAS (UNIDADE 4, ITEM 15)

Leituras

BÖTTCHER, Carlos Alexandre. Dia da memória do Poder Judiciário: a Re-


solução CNJ 316/2020. Consultor Jurídico, 2020. Disponível em: https://
www.conjur.com.br/2020-mai-02/opiniao-dia-memoria-poder-judicia-
rio-resolucao-cnj-3162020.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Dia da Memória. Gestão Documental


e Memória do Poder Judiciário (Proname), 2021.Disponível em: https://
www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/gestao-documental-e-memoria-
proname/gestao-de-memoria/dia-da-memoria-do-poder-judiciario-
10-de-maio/.

____. Resolução CNJ n. 316, de 22 de abril de 2020. Dispõe sobre o


Dia da Memória do Poder Judiciário e dá outras providências. Bra-
sília: CNJ, 2020. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/files/origina-
l205237202004295ea9e91534551.pdf.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. MANUAL DE GESTÃO DE MEMÓ-


RIA DO PODER JUDICIÁRIO. Programa Nacional de Gestão Documen-
tal e Memória do Poder Judiciário (Proname). Brasília: CNJ, 2021. Capí-
tulo 7.4 (Dia da Memória do Poder Judiciário: 10 de maio), p. 77-78.
Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/02/Ma-
nual_de_Gestao_de_Memoria.pdf.

ATIVIDADES COMPLEMENTARES (UNIDADE 4, ITEM 15)

Leitura

BÖTTCHER, Carlos Alexandre. Dia da memória do Poder Judiciário.


Lex Cult Revista do CCJF, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, p. 14-33, 2020. Disponí-
vel em: http://lexcultccjf.trf2.jus.br/index.php/LexCult/article/view/342.
Acesso em: 22 maio 2021.

115
PRONAME | GESTÃO DOCUMENTAL E MEMÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO

Palestras (I Encontro Nacional de Memória do Poder Judiciário)

WEHLING, Arno. Casa da Suplicação do Brasil: o Alvará de 10 de maio de


1808. I Encontro de Memória do Poder Judiciário, CNJ, 10 maio 2021.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=RkR2RjaSjC0.

CHAGAS, Mário de Souza. O futuro dos museus judiciários: recuperar e rei-


maginar. I Encontro de Memória do Poder Judiciário, CNJ, 10 maio 2021.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=RkR2RjaSjC0.

FLORES, Daniel. Preservação de páginas web e mídias sociais em cadeia


de custódia: identificação, seleção e arquivamento. I Encontro de Me-
mória do Poder Judiciário, CNJ, 10 maio 2021. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=RkR2RjaSjC0.

BRAYNER, Aquiles Alencar. Acervos digitais e memória institucional.


I Encontro de Memória do Poder Judiciário, CNJ, 10 maio 2021. Dispo-
nível em: https://www.youtube.com/watch?v=RkR2RjaSjC0.

116

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