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História – Licenciatura
Disciplina: Métodos e Técnicas da Pesquisa em História
Professora: Telma Bessa
Aluna: Alexandra Lima Araújo
“Nirez se colocou uma tarefa hercúlea de organizar o passado, acreditando que guardar
e acumular objetos o colocaria próximo desse objetivo. O perigo eminente era de nos
aproximar demais da sua crença e nos distanciar do pacto historiográfico de saber
interrogar e questionar os documentos para escrever uma narrativa acadêmica.” (Pág.14)
“Se o espaço de Nirez era o meu objetivo de pesquisa, o próprio Nirez decididamente
não ficava parado. Um dia, apenas observei esse senhor com seus 80 e poucos anos de
idade trocar uma lâmpada subindo uma escada meio bamba e torci para que ele saísse
logo dali. Também o encontrei muitas vezes trabalhando no seu estúdio.” (Pág.14)
“O meu estar ali, na sua casa, para escrever uma história possível da sua trajetória
acabou por problematizar a relação entre as figuras do pesquisador e do pesquisado.
Esse dado não deve ser menosprezado: acabei por me engajar no cotidiano do atual
Arquivo Nirez, dialogando e intervindo na rede de sociabilidade que se desenrolava ali.”
(Pág.15)
“A questão a ser encarada se aproxima mais da missão que ele colocou a si mesmo, dos
valores defendidos e compartilhados que possibilitaram disputar capital simbólico e
tornar efetiva uma “obra” singular.” (Pág.16)
“A intenção inicial dessa pesquisa era realizar um estudo sobre a implementação de uma
política cultural na Ditadura Civil-Militar através da escolha da trajetória de um
personagem singular.”(Pag.17)
“Se a voz ativa de Nirez não é uma constante no texto, ela acabou não só influenciando,
mas tendo um peso considerável em guiar as nossas escolhas sobre quais materiais
seriam relevantes para compreender seu engajamento cultural.” (Pág.17)
“Não raro, o que vemos sobre o passado da cidade de Fortaleza e o que escutamos como
música popular brasileira de um determinado período passou pelos esforços diretos e
indiretos desse ator patrimonializador.” (Pag.18)
“Tornar algo visível ou não se articula com amplas dimensões do poder, por isso a
importância de problematizar as condições sociais, culturais e as técnicas de produção,
circulação e consumo dos produtos culturais, assim como das instituições que suportam
a dimensão visual e constroem narrativas sobre o passado a partir das imagens.”
(Pág.21)
“O trabalho de narrador das críticas da cultura musical da década de 1970 escritas por
Nirez no jornal O povo foi um dos elementos que sustentou o valor de fidelidade das
histórias narradas sobre os objetos da sua casa-museu.” (Pág.23)
“Essas matérias de jornais possuem um caráter dialógico entre Nirez e o repórter que o
interpelou, formando uma narrativa repetitiva sobre a sua trajetória, mas constituem
uma comunicação patrimonial que nos permitiu perceber os conceitos geradores que
orientaram as escolhas e as manipulações do seu acervo.” (Pág.26)
“Esse ato não guardaria um valor original e único, uma vez que colecionar recortes era
uma prática comum no universo letrado. Segundo Aline Montenegro (2012, p.65),
devemos encarar essa reunião “não como uma fonte do que efetivamente teria
acontecido ao longo da sua vida, mas como um indício do que o seu autor desejou legar
para a posteridade.” (Pág.27)
“O texto de abertura explorava como metáfora a tentativa de trazer uma parcela da casa
de Nirez para o público. As legendas das imagens eram mínimas, as possíveis datas dos
registros fotográficos, seus objetos antigos quase se aproximariam do artístico.”
(Pág.29)
“Na pintura ficou conhecido pelas suas paisagens e retratos, enquanto que nas letras
iniciou-se, ainda na adolescência, escrevendo poemas no periódico Ceará Operário. O
próprio Otacílio de Azevedo gostava de classificar a sua poesia como parnasiana, apesar
de utilizar recorrentemente recursos românticos.” (Pág.31)
“É com esses dizeres iniciais que Nirez dá início a essa carta-circular que transforma a
casa em que mora na Avenida José Bastos na “sede provisória” de um Museu que
pretendia reunir “o máximo possível de material fonográfico.” (Pág.33)
“A carta evidencia também uma expectativa: a de que os objetos a serem obtidos seriam
mergulhados em outro regime de valor, já que não deveriam ser só acumulados, mas
também expostos para admiração na sua casa-museu.” (Pág.34)
“Os dados levantados por essa escrita eram retirados das suas fichas de consulta, o que
talvez justifique o desinteresse por acumular esses vestígios. Somente alguns anos
depois da sua aposentadoria, uma amiga de trabalho do DNOCS o procurou para doar as
páginas para o seu autor e hoje elas se encontram encadernadas à disposição para
pesquisa.” (Pág.41)
“A imaginação museal de Nirez não passou por um ensino superior formal, mas o valor
da cultura para a vida é uma constante na formalização do seu projeto de memória.
Nirez constantemente tenta se distanciar da imagem de colecionador comum,
recorrendo à crítica e a ações que acabam por revelar os valores e os padrões
empreendidos na reunião dos seus objetos.” (Pág.44)
“Destes objetos sobrou apenas a observação dos referentes, na maioria das publicações
não lhe interessou a procedência do ato fotográfico, não a ponto de ensaiar um trabalho
sério de reconhecimento de suas autorias.” (Pág.46)
“As perguntas do jornalista que o interpela visam criar uma lista das suas predileções:
um cinema; um teatro; uma praia, lazer predileto; uma biblioteca; o local mais agradável
da cidade Fortaleza que funciona; melhor passeio; o que destruiria na cidade; o que
construiria; o que restauraria; a Fortaleza que não funciona; um personagem; o prédio
mais belo; etc.” (Pág.51)
“As diversas imagens proclamadas e publicitadas valorizam a sua fala sobre o passado,
o que nos ajudou a desnaturalizar o acúmulo dos objetos como uma expressão única e
direta da personalidade do seu detentor.” (Pág.55)
“As diversas imagens proclamadas e publicitadas valorizam a sua fala sobre o passado,
o que nos ajudou a desnaturalizar o acúmulo dos objetos como uma expressão única e
direta da personalidade do seu detentor.” (Pág.60)
“Tentar sair desse território delimitado se torna algo rápido e sucinto. Ultrapassar esse
limite é a expressão de um privilégio daqueles que mantiveram um longo e demorado
vínculo epistolar reconvertido em convivências presenciais, mesmo que pontuais visitas
à sua casamuseu em Fortaleza.” (Pág.68)
“Os interessados em fazer Cultura deveriam apresentar uma série de documentos para o
Conselho: o estatuto da organização, o Atestado de personalidade jurídica, o registro do
texto na sua associação responsável e o atestado da censura federal. Estar próximo do
Conselho era garantir a execução dos seus projetos culturais.”(Pág.80)
“A necessidade de um projeto cultural para o Brasil não deixa de ser um diálogo com a
herança modernista de 1922, seja devido à defesa da criação e a circulação das coisas
brasileiras que ajudariam na construção da cultura nacional, seja pela relação não
submissa com a cultura universal, sem apelar para o isolacionismo.” (Pág.138)
“Apesar de louvar a iniciativa “de preencher essa lacuna que existia na bibliografia da
música popular brasileira”, para Nirez, faltou uma neutralidade maior, pois o autor não
deixou de “emitir sua opinião sobre o movimento, comprometeu-se com o mesmo, e
com o qual não temos grande simpatia.” (Pág.151)
“O ato de guardar objetos é algo comum e ordinário, mas a rede de relações sustentada
durante a sua trajetória possibilitou consolidá-lo como uma referência e confluência da
economia dos objetos do passado e, também, foram essenciais para sua passagem de
leitor a autor da história da carreira musical de um vulto cearense da Música Popular
Brasileira.” (Pág.156)