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[Título]
Sociomuseologia: Corpos Geradores, Género e Identidade
[Editores]
-Judite Primo, Investigadora Principal FCT – CEECIND/04717/2017
Titular da Cátedra UNESCO “Educação, Cidadania e Diversidade Cultural”.
-Jean Baptista, Professor Associado nível III. Universidade Federal de Sergipe.
-Tony Boyta, Professor Substituto da Universidade Federal de Sergipe e Editor da Revista Memórias
LGBTQIA+.
-Mário Moutinho, Investigador Integrado no CeiED, Coordenador do Departamento de Museologia
da ULHT
[Autores]
Aida Rechena Judite Primo
Ana Carolina Eiras Coelho Soares Karlla Kamylla Passos dos Santos
Ana Cristina Audebert Ramos de Oliveira Leonardo Tavares Alencar
Caio de Souza Tedesco Marijara Souza Queiroz
Clovis Carvalho Brito Mário Moutinho
Hayde Sampaio Rildo Bento de Souza
Ian Guimarães Habib Rogério Satil Neves
Jacson Lopes Caldas Teresa Veiga Furtado
Jean Tiago Baptista Tony Boita
Jezulino Lúcio Braga
[Paginação] [Capa]
Maria Helena Catarino Fonseca Nathália Pamio
[ISBN] [DOI]
9798862307207 https://doi.org/10.36572/csm.2021.book_6
Editores
Departamento de Museologia
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Lisboa 2023
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SOCIOMUSEOLOGIA: CORPOS GERADORES, GÉNERO E IDENTIDADE
Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED),
Departamento de Museologia-Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias, Catedra UNESCO “Educação Cidadania e Diversidade Cultural”
Editores: Judite Primo, Jean Baptista, Tony Boyta & Mário Moutinho
Lisboa 2023
ISBN: 9798862307207
1. Sociomuseologia 2. Museologia Social 3. Museologia Museologia 4. Corpos
Geradores 5. Género 6. Identidade
CDU - 069
DOI: https://doi.org/10.36572/csm.2021.book_6
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Índice
Prefácio - Sociomuseologia: Corpos Geradores, Género e Identidade 7
Judite Primo & Mário Moutinho
“Eu gostei muito de contar minha história. [...] Agora muitas pessoas
vão conhecê-la. A revista vai ser um empurrão pra muita gente, eu acredito
demais nesse projeto, ele vai abrir um novo horizonte pra gente”. Com
essas palavras, Rogério celebrou com entusiasmo o lançamento da revista
Traços, em 4 de novembro de 2015, no Museu Nacional do Conjunto
Cultural da República (MuN), localizado em Brasília, Distrito Federal,
Brasil. A revista possui uma editoria intitulada 3x4, dedicada a apresentar
trajetórias de pessoas que vivenciam ou vivenciaram a situação de rua e/ou
extrema vulnerabilidade financeira. Após uma formação, comercializam
o periódico e, no projeto, são reconhecidas como porta-vozes da
cultura1. Em sua primeira edição, o periódico apresentou a história de
vida de Rogério que destacou a importância da iniciativa como forma
de reinserção social: “A gente vai passar a ser conhecido, representar a
cultura. A revista vai me reintegrar na sociedade. Acho que era o que
faltava, ela vai colocar a gente em comunicação com a sociedade”.
A revista Traços é um projeto social e editorial que em seus sete anos
de atividade publicou quase 60 edições e oportunizou a atividade de mais
de 400 porta-vozes da cultura. Ao ingressar no projeto, cada porta-voz
recebe uma quantidade de exemplares para comercialização em locais de
grande circulação (como bares, restaurantes e espaços culturais)2. Setenta
1
Embora reconheçamos que as pessoas em situação de rua integrantes do projeto não são apenas
porta-vozes, mas produtoras de cultura, optamos neste capítulo por utilizar o vocabulário de motivos
difundido pela Traços e mobilizado pelas/os participantes. Agradecemos em especial o porta-voz
Fábio Júnior, por localizar edições e apresentar informações que foram fundamentais para a pesquisa.
2
O projeto Traços está presente nas cidades brasileiras de Brasília e entorno, Rio de Janeiro e Niterói.
Em virtude da pandemia de Covid-19 foi lançada a loja virtual www.revistatracos.com que converte
uma parcela dos recursos obtidos com as vendas online em auxílio financeiro aos porta-vozes da
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cultura, além da abertura de cem novas vagas destinadas para pessoas que perderam o emprego
durante a pandemia.
3
De acordo com Loane Bernardo (2020), desde o início do projeto, 170 porta-vozes da cultura
ingressaram no mercado de trabalho formal e informal e mais de 150 obtiveram moradias fixas.
4
Informações disponíveis no site institucional: www.revistatracos.com
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“Por ello, necesitamos encontrar nuevos conceptos y un nuevo lenguaje que dé cuenta de la
complejidad de las jerarquías de género, raza, clase, sexualidad, conocimiento y espiritualidad dentro
de los procesos geopolíticos, geoculturales y geoeconómicos del sistema-mundo. Con el objeto
de encontrar un nuevo lenguaje para esta complejidad, necesitamos buscar ‘afuera’ de nuestros
paradigmas, enfoques, disciplinas y campos de conocimientos. Necesitamos entrar en diálogo con
formas no occidentales de conocimiento que ven el mundo como una totalidad en la que todo está
relacionado con todo, pero también con las nuevas teorías de la complejidad”.
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De acordo com Francisco Régis Lopes Ramos (2004), a partir da metodologia da palavra geradora
proposta por Paulo Freire, os objetos geradores consistem em uma das possibilidades para a
alfabetização museológica: “perceber a vida dos objetos, entender e sentir que os objetos expressam
traços culturais, que os objetos são criadores e criaturas do ser humano. Ora, tal exercício deve partir
do próprio cotidiano, pois assim se estabelece o diálogo, o conhecimento do novo na experiência
vivida: conversa entre o que se sabe e o que vai saber – leitura dos objetos como ato de procurar novas
leituras” (p. 32).
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[...] se torne cada vez mais consciente do seu corpo, de suas possibilidades
corporais, e das deformações que o seu corpo sofre devido ao tipo
de trabalho que realiza. Isto é: cada um deve ser a ‘alienação muscular’
imposta pelo trabalho em seu corpo. [...] O conjunto de papéis que uma
pessoa desempenha na realidade impõe sobre ela uma ‘máscara social’ do
comportamento. [...] [Por essa razão é necessário] ‘desfazer’ as estruturas
corporais dos participantes. Isto é: desmontá-las, verificá-las, analisá-las.
Não para que desapareçam, mas sim para que se tornem conscientes (Boal,
1963, p. 145-146).
7
Além de “Rua em foco - feita por quem vive fora de foco”, em 2015; outro exemplo de exposição
realizada no Museu Nacional da República foi “Histórias pintadas”, em 2018, realizada por idosos em
situação de rua, abandono, migração ou sem condições de se sustentar, assistidos pela Unidade de
Acolhimento Institucional para Idosos (Unai) em Taguatinga.
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Atualmente a Revista Traços custa dois reais (R$ 2,00) para o porta-voz da cultura e é comercializada
por dez reais (R$ 10,00).
9
Para um aluguel de quinhentos reais (R$ 500,00) o porta-voz da cultura recebe cinquenta (50)
revistas gratuitas.
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Notas
Referências
Babu, D. (2018). Rosa Luz: E se a arte fosse trans? Revista Traços: Brasília tipo
exportação, Brasília, 26, 46-55.
Babu, D. (2021). Sexo, tintas e Rock’n Roll: a vida e obra de Fernando Carpaneda.
Revista Traços: Fernando Carpaneda, Brasília, 49, 28-39.
Bairros, L. (2020). Nossos feminismos revisitad os. In H. B. Hollanda (Org.).
Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais (pp. 206-215). Rio de
Janeiro: Bazar do Tempo.
Ballestrin, L. (2013). América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de
Ciência Política, Brasília, 11, 89-117.
Barja, W. (2018). Museu-Espelho. Anais do VII Seminário Hispano-Brasileiro de
Pesquisa em Documentação, Informação e Sociedade, Madri.
Bernardino-Costa, J. Maldonado-Torres, N. & Grosfoguel, R. (Org.) (2018).
Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. Belo Horizonte: Autêntica
Editora.
Bernardo, L. (2020). Revista Traços abre 100 novas vagas para porta-vozes da
cultura. Disponível em: https://www.cultura.df.gov.br/revista-tracos-abre-
100-novas-vagas-para-porta-vozes-da-cultura/. Consultado em: 19 dez.
2021.
Boal, A. (1963). Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas. 4 ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira.
Brasil (2009). Decreto n. 7.053 de 23 de dezembro de 2009. Institui a Política
Nacional para a População em Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de
Acompanhamento e Monitoramento, e dá outras providências. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/
d7053.htm. Consultado em: 20 dez. 2021.
Brasil (2008). Política Nacional para Inclusão Social da População em Situação de
Rua. Brasília: Governo Federal.
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