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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE HUMANIDADE, ARTES E CIÊNCIAS PROFESSOR


MILTON SANTOS
HACA 49 – AÇÃO E MEDIAÇÃO CULTURAL ATRAVÉS DAS ARTES
DOCENTE: CRISTIANO SEVERO FIGUEIRÓ

CULTURA OU CULTURALIZAÇÃO?

MANUELA SACRAMENTO SERRA DAS NEVES

SALVADOR
2024
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO
2. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 MUNCAB (MUSEU NACIONAL DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA: A
CULTURA BRASILEIRA E SUA AFRODESCENDÊNCIA)
3.2.1 ANÁLISE INDIVIDUAL
3.2.2 REFLEXIVIDADE
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
4. REFERÊNCIAS
APÊNDICE A – Fotos da Caixa Cultural e MUNCAB
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1. INTRODUÇÃO

Através do Diagnóstico do Desenvolvimento Cultural de Salvador,


realizado em 2017 pela Fundação Gregório de Matos, foi identificado um
movimento de centralização do fomento e melhores investimentos de atividades
culturais da cidade para as regiões próximas dos centros urbanos, por ser local
com mais foco turístico, em detrimento de regiões periféricas. Essas ações geram
dúvidas e questionamentos sobre o seu real caráter democrático cultural na cidade
em torno da sua participação e alcance a toda população, visto que termina
privilegiando o setor privado, que passa ser o principal responsável pelo campo
cultural, onde administra e realiza o marketing para captar o seu público alvo
(Botelho, Isaura, 2001). Para exemplificar as reflexões e observações expostas,
resolvi abordar a temática de Cultura ou Culturalização? com o objetivo de
entender a movimentação e participação de pessoas nos espaços culturais Museu
Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB), que visa valorizar a cultura de
matriz africana e destacar sua influência na construção da identidade cultural
brasileira. Além disso, exploraremos a questão central do que constitui uma
verdadeira ação cultural. Embora sejam construídos teatros e museus,
lamentavelmente, o acesso a esses locais não é garantido a todos, restringindo-se a
uma tentativa superficial de atrair um maior número de espectadores. Diante do
exposto, foi inicialmente desenvolvida uma breve contextualização sobre a
abordagem do trabalho, seguindo, na seção 2 apresentamos o referencial teórico,
com o objetivo de compreender a evasão da população dos espaços culturais. Na
seção 3, apresentamos uma divisão baseada nos espaços observados, onde
fazemos uma breve apresentação do espaço, seguido das análise individual e
posteriormente compartilhamos as reflexões e percepções sobre o locall,
destacando as diversas observações realizadas. Por fim, na seção 4, a conclusão,
indica a necessidade da participação popular e sua importância não só individual,
mas coletiva das atividades culturais na cidade.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
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Partindo do ponto de vista histórico, o termo cultura resulta do latim


colere, que significa cultivar, proteger, honrar com veneração Mas, com o passar
dos tempos, a cultura toma outro rumo e se divide entre a cultural popular e
indústria cultural, que visa ser um meio de ascensão social para aqueles que a
possuem, tornando-se objeto de competitividade no mercado de entretenimento,
turismo e instituições culturais, no qual disputam pela atenção e dinheiro do
público. Assim, é o capitalismo que passa a realizar as maiores transformações na
área cultural, determinando o que é cultura e para qual público ela deve ser
direcionada. Desse modo, ocorre então uma centralização cultural, nas mãos de
quem detém o capital (Calabre, Lia. 2007). Em Marxismo e Cultura (2018), Nildo
Viana, traz que “A cultura, assim como o Estado, não só corresponde a
determinado modo de produção, possuindo uma unidade com ele, como também o
reproduz e reforça. A cultura tem um papel regularizador das relações sociais, tal
como o Estado.” Mas se ocorre um único direcionamento dos centros culturais,
como pode então exercer esse papel de regularizadora na cultura? Com restrição
de público não ocorre o seu papel de mediadora social e deixa de ser fomentadora
da consciência social (Teixeira, David Romão Dias, Fernanda Braga Magalhães,
2010).

A indústria só se interessa pelos homens como clientes e


empregados e, de fato, reduziu a humanidade inteira,
bem como cada um de seus elementos, a essa fórmula
exaustiva. […] Quanto menos promessas a indústria
cultural tem a fazer, quanto menos ela consegue dar
uma explicação da vida como algo dotado de sentido,
mais vazia torna-se necessariamente a ideologia que ela
difunde. (Adorno, T. W.; Horkheimer, M, em A
Indústria Cultural: O Esclarecimento Como Mistificação
das Massas, 1947, p.14)

Com a afirmação de Adorno e Horkheimer (1947), junto a teoria da alienação vemos em


nossa sociedade atual o que muitos teóricos já estudavam, que essa “evasão” é proposital,
para que população não dominante do capital permaneça alienada e explorada, assim
permanecem desconectadas do processo de produção, participação e do produto final cultural,
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deixando de usufruir os espaços por não se sentirem no direito de estar ali também(Hallak, M.
2018). Como forma de combate à exclusão social que ocorre nos espaços culturais, podemos
abordar os pensamentos como os de Habermas, onde o cidadão tem o papel que vai além de
defender interesses individuais, mas se envolve em debates, troca de ideias e formação de
opiniões que influenciam até mesmo nas políticas e ações do governo. A participação cultural
se inclui nessa esfera pública, indo além dos assuntos políticos e reivindicando questões
culturais, visto que é essencial para uma sociedade, pois não se limita apenas ao consumo
passivo da cultura, mas envolve a interação ativa dos cidadãos na produção, disseminação e
crítica cultural. Isso pode ocorrer por meio de manifestações artísticas, grupos de discussão,
mídias sociais e movimentos culturais.

ESPAÇOS CULTURAIS

3.1 MUNCAB (MUSEU NACIONAL DA CULTURA AFRO-


BRASILEIRA: A CULTURA BRASILEIRA E SUA
AFRODESCENDÊNCIA)

O MUNCAB, museu dedicado à cultura de matriz africana e sua influência


na cultura brasileira, reabriu suas portas em novembro de 2023, após o
fechamento devido à pandemia. A exposição “Reverberações”, que reflete as
memórias das pessoas africanas, através do fotógrafo nigeriano Mudi Yahaya
sobre as ligações entre Brasil e África. Localizado no Centro Histórico de
Salvador, o museu oferece ingressos a dez reais para entrada inteira e cinco reais
para meia-entrada, mas possui acesso gratuito às quartas-feiras e aos domingos s.
O museu funciona de terça a domingo, das 10h às 17h(MUNCAB, 2023).

3.2.1 ANÁLISE INDIVIDUAL


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No dia 27 de Março de 2024, realizei a minha visita ao espaço fui


recepcionada por Thiago um dos mediadores que explicou pra mim e para um
grupo de pessoas do que se tratava a exposição. O espaço estava relativamente
cheio, tinha algumas crianças que estavam conhecendo o espaço. Foi perceptível a
pouca ocupação de pessoas negras visitantes no espaço. A diversidade de
visitantes era evidente, com pessoas de diferentes países, falando diferentes
idiomas. Percebi um fluxo variado de pessoas pretas, embora não estivessem em
maioria.
O espaço do museu é bem diferente do esperado, é amplo, logo na entrada
vemos um café que fica ao lado para os visitantes, não precisa de muita
identificação sendo um espaço livre para qualquer pessoa entrar. No centro
também deveria ocorrer uma melhor sinalização de onde fica o museu e sua
divulgação, além da plataforma digital e redes sociais.

3.2.2 REFLEXIVIDADE

● A localização do espaço limita o fluxo de pessoas, por se tratar de uma rua transversal,
há também o receio de frequentar o espaço devido à insegurança do local.
● Em todos os dias que fomos, eram gratuitos e mesmo assim não havia fluxo tão grande
de pessoas de Salvador, mais sim de turistas, percebemos haver uma divulgação mais
turística do que de frequência para moradores.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabemos que Salvador-Ba é uma das cidades que ocorre grande
movimentação cultural, gerando reflexões de como anda a interação e participação
de seus cidadãos nessas ações. Dessa forma notou-se ao longo do trabalho
barreiras significativas para a restrição e exclusão da população não turística
nestes espaços culturais, ações como: falta de disseminação das divulgações dos
espaços, localização e políticas de gratuidade restritivas são um dos exemplos
observados durante a construção desse dossiê. Para isso, utilizamos de bases
teóricas como as de Marx, Habermas, Adorno e Horkheimer e entre outros citados
em nosso referencial que entram em conforme com a realidade e reflexão sobre os
espaços culturais abordados para observação dos acontecimentos não só políticos,
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mas social e cultural na nossa cidade. Portanto, a preservação e valorização da


cultura ocorre através de sua população local e tradicional, para isso é preciso
inclusão social de todos os públicos, a cidade pode viver de interação turística
externa, mas é em sua conjuntura social de origem que deve ocorrer as
oportunidades para participação cultural. Dessa forma ocorre a contribuição para
o desenvolvimento econômico e turístico da região, onde o lucro é usufruído pela
própria cidade e não externamente, fomentando a cidadania e o engajamento
cívico, visando fortalecer o senso de identidade e pertencimento comunitário por
meio de momentos de lazer e entretenimento direcionados a sua população
também.

4. REFERÊNCIAS

BOTELHO, Isaura. Dimensões da cultura e políticas públicas. São Paulo em perspectiva, v.


15, p. 73-83, 2001.
CALABRE, Lia. Políticas Culturais no Brasil: balanço e perspectivas. Trabalho apresentado
no III ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, Faculdade de
Comunicação/UFBA, Salvador-Bahia-Brasil, 2007. Disponível em:
https://www.cult.ufba.br/enecult2007/LiaCalabre.pdf . Acesso em: 30 nov.2023.

CAIXA Cultural. Disponível em: <https://www.caixacultural.gov.br/Paginas/default.aspx>.


Acesso em: 2 dez.2023.

DO ESCLARECIMENTO, DIALÉTICA. A Indústria Cultural: O Esclarecimento Como


Mistificação das Massas. Acesso em: 25 nov.2023.

HALLAK, M. Alienação do trabalho em Marx: Verinotio – Revista on-line de Filosofia e


Ciências Humanas, v. 24, n. 1, p. 16–16, 25 maio 2018.
HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma
categoria da sociedade burguesa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984. _. Consciência
moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos da metodologia
científica. In: Fundamentos da metodologia científica. 2010. p. 320-320.
MUNCAB – Museu da Cultura Afro-Brasileira. Disponível em:
<https://museuafrobrasileiro.com.br/>.Acesso em: 6 dez.2023.

Plano Nacional de Cultura 2010 - 2024. Disponível em:


<https://www.gov.br/funarte/pt-br/acesso-a-informacao-lai/institucional/governanca-
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institucional/gestao-estrategica/plano-plurianual-ppa-1/plano-nacional-de-cultura-2010-
2024>. Acesso em: 29 nov.2023.

PREFEITURA MUNICIPAL DE SALVADOR. Diagnóstico do Desenvolvimento Cultural de


Salvador. Fundação Gregório de Matos. Salvador: FGM, 2017. Disponível
em:https://fgm.salvador.ba.gov.br/wp-content/uploads/2022/09/Diagnostico-do-
Desenvolvimento-Cultural-de-Salvador.pdf. Acesso em 05 de dezembro. 2023.

TEIXEIRA, David Romão; DIAS, Fernanda Braga Magalhães. Marxismo e cultura:


contraponto às perspectivas pós-modernas. Filosofia e Educação, v. 2, n. 2, p. 120-140, 2010.
Acesso em: 29 nov.2023.

VIANA, N. MARXISMO E CULTURA. Revista Práxis Comunal, v. 1, n. 1, 28 dez. 2018.

WILLIAMS, Raymond. Palavras-chave: um vocabulário de cultura e sociedade. Tradução


Sandra Guardini Vasconcelos. São Paulo: Boitempo, 2007. Acesso em: 29 nov.2023.
VIANA, N. MARXISMO E CULTURA. Revista Práxis Comunal, v. 1, n. 1, 28 dez. 2018.
APÊNDICE A – Fotos da Caixa Cultural e MUNCAB1

Entrada do Muncab Entrada da Exposição


Reverberações Carnaval
Culturas em diferentes
Foto: Manuela

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MUNCAB: Exposição de Estudantes visitando o espaço Visitantes no 2 andar, olhando quadros


sobre o feminismo
quadros e visitantes. Primeiro negro. Foto: Manuela
andar. Foto: Emyle

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