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PLANO DE

AÇÃO PARA
PORTUGAL
INTEIRO
2024
2 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024
Estou certo que,
como tantas vezes no
passado, demonstraremos
a força do PS e saberemos
estar à altura de dar ao país,
uma vez mais, a confiança
de um projeto credível para
um Portugal inteiro.
PEDRO NUNO SANTOS

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 3


INTRODUÇÃO
Pág. 6

1.ª UMA ECONOMIA EM TRANSFORMAÇÃO


MISSÃO ASSENTE EM CONTAS EQUILIBRADAS
Pág. 12 1. Oito anos de vitória da social democracia sobre a direita nas políticas económicas e sociais
Pág. 17 2. Um novo equilíbrio entre a redução da dívida e o investimento público e o estímulo à economia
Pág. 20 3. Uma economia inovadora em transformação
Pág. 25 4. Uma fiscalidade inteligente e dirigida
Pág. 26 5. Trabalho, relações laborais e qualidade do emprego
Pág. 31 6. Investimento em infraestruturas e nos transportes públicos ao serviço do desenvolvimento e de
uma mobilidade sustentável
Pág. 37 7. Energia: mais renováveis, menores custos e maior competitividade
Pág. 40 8. Transição digital
Pág. 43 9. Ensino superior, ciência e tecnologia

2.ª UM ESTADO SOCIAL FORTE,


MISSÃO MODERNO E INCLUSIVO
Pág. 53 1. Um Estado social que garante os direitos sociais e combate a pobreza com uma segurança social
pública equitativa e sustentável
Pág. 60 2. Um Serviço Nacional de Saúde universal, forte e resiliente
Pág. 66 3. Uma escola pública de qualidade
Pág. 69 4. Uma habitação digna para todos
Pág. 71 5. Cultura, artes e comunicação social
Pág. 75 6. Desporto e atividade física

4 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


3.ª UM TERRITÓRIO INTEIRO E UMA
MISSÃO TRANSIÇÃO CLIMÁTICA JUSTA
Pág. 81 1. Coesão e Território: ordenamento, políticas de cidade e valorização do interior para dinamizar a
economia
Pág. 84 2. Descentralização e Regionalização: maior proximidade, responsabilidade e eficiência
Pág. 86 3. Ambiente e Clima: proteger o património natural e reafirmar a liderança na redução de emissões
Pág. 91 4. Agricultura e Florestas: setores de futuro, inovação, autonomia e investimento
Pág. 96 5. Mar: novo impulso para o desenvolvimento do potencial oceânico do país

4.ª UMA DEMOCRACIA DE


MISSÃO QUALIDADE PARA TODOS
Pág. 102 1. Uma democracia resiliente ao populismo e à demagogia com mais participação, mais transparência
e mais proximidade
Pág. 107 2. Uma democracia para todos em condições de igualdade plena
Pág. 113 3. Autonomias regionais mais fortes
Pág. 114 4. As autarquias locais como motores de desenvolvimento num país descentralizado
Pág. 116 5. Uma Administração Pública inovadora e eficiente com trabalhadores motivados
Pág. 118 6. Uma Justiça mais eficiente, mais transparente e mais acessível
Pág. 122 7. Segurança e proteção civil como agentes do Estado de Direito

5.ª UM PORTUGAL CENTRAL


MISSÃO NA EUROPA E NO MUNDO
Pág. 131 1. Uma participação solidária, exigente e propositiva na União Europeia
Pág. 135 2. Política externa e apoio às comunidades portuguesas
Pág. 138 3. Defesa Nacional

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INTRODUÇÃO

6 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 7
PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

INTRODUÇÃO:
No ano em que comemoramos os 50 anos do 25 de
Abril, é com orgulho e humildade que nos dirigimos
ao povo português para dar a conhecer de forma

O PARTIDO SOCIALISTA clara e decidida a visão que temos para Portugal, os


objetivos que vamos prosseguir e as medidas que

APRESENTA-SE vamos executar. Com vontade de renovar e espírito


progressista, assumimos cinco missões para um

ÀS ELEIÇÕES novo mandato, que correspondem a outros tantos


desígnios que queremos e vamos alcançar.

LEGISLATIVAS DE 2024 Uma economia inovadora, verde e socialmente justa,

COM UM PLANO DE
assente no equilíbrio entre a redução da dívida e do
défice orçamental e o desenvolvimento económico.
Queremos que a economia portuguesa seja mais

AÇÃO PARA PORTUGAL produtiva, que crie mais valor acrescentado por for-
ma a permitir aumentar os salários e os rendimen-

INTEIRO. tos das pessoas. Para isso, apostamos num Estado


transformador que invista em infraestruturas e em
energias renováveis, na transição digital e sobretu-
do no desenvolvimento da ciência e da tecnologia,
apoiado no nosso sistema de ensino superior. Um
Estado que tenha uma estratégia de inovação para
as empresas, permitindo graduar o perfil produtivo e
reindustrializar a nossa economia. Um Estado capaz
de estimular o crescimento económico, mantendo o
controlo da despesa pública e a trajetória de redu-
ção do défice orçamental e da dívida pública. Só uma
economia mais sofisticada poderá pagar melhores
salários e ter condições de trabalho mais dignas,
tanto para os trabalhadores do setor privado como
do setor público.

Queremos investir e reforçar um Estado social mo-


derno e inclusivo, que efetive os direitos sociais e
combata a pobreza, um Serviço Nacional de Saúde
resiliente que deve ser reformado e continuamente
melhorado e não descapitalizado e privatizado, uma
escola pública de qualidade - a mesma que em 50
anos de Democracia formou a geração mais qualifi-
cada de sempre -, e uma habitação digna para todos.

8 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


Os direitos sociais, nos quais se inclui a cultura e o instituições fortes e respeitadas, com uma Justiça
desporto, devem ser garantidos pelo Estado, em par- eficiente, transparente e acessível e com forças de
ceria com a sociedade civil, o setor social e os priva- segurança valorizadas que atuam como agentes do
dos. Para isso precisamos de uma segurança social Estado de Direito.
pública sustentável que assegure o cumprimento do
contrato social em que assenta a nossa vida cole- Finalmente, temos de reforçar o papel de Portugal na
tiva. E precisamos que os trabalhadores, incluindo Europa e no Mundo, adotando uma atitude solidária,
aqueles que todos os dias permitem que os serviços exigente e propositiva na União Europeia e uma polí-
públicos funcionem, se sintam valorizados e motiva- tica externa humanista e construtiva.
dos; que os jovens tenham esperança no futuro; que
os idosos sejam cuidados e respeitados; que os cida- Assumimos estas missões perante os portugueses
dãos mais vulneráveis sejam protegidos. com a garantia de que as executaremos com experi-
ência, dinamismo e competência, mas também com
Para um Portugal coeso, sustentável e amigo do am- humildade, e pedimos a vossa confiança para execu-
biente, desenvolveremos políticas de ordenamento tar este plano de ação para Portugal Inteiro.
do território e de valorização do interior que, além de
dinamizar a economia numa lógica de proximidade e
de aproveitamento dos recursos naturais, contribuirá
para a equidade e justiça social entre todos os que
residem, trabalham, estudam ou permanecem no
nosso país. Regionalizar, descentralizar, promover
uma transição climática justa, proteger o património
natural, investir nos nossos recursos, fomentar uma
agricultura moderna que seja um setor de futuro e
desenvolver todo o potencial económico do mar, é o
nosso plano de ação para Portugal inteiro.

Proteger a Democracia e garantir que o Estado de


Direito democrático é resiliente ao populismo e à
demagogia é outro dos nossos desígnios. Os ex-
tremismos combatem-se com mais liberdade, mais
igualdade, mais responsabilidade, mais participação
e mais transparência. No plano dos direitos funda-
mentais, a concretização real, justa e transversal da
igualdade e da não discriminação é um imperativo
ético e político. Defendemos uma democracia em
que todas e todos têm direito a uma cidadania ple-
na, civil e material e à defesa da sua dignidade sem
transigências. Vamos combater a discriminação, a
intimidação, o retrocesso social e a corrupção, com

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1.ª
MISSÃO
UMA ECONOMIA EM
TRANSFORMAÇÃO
ASSENTE EM CONTAS
EQUILIBRADAS

10 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 11
PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

1. Oito anos de vitória da social


1.ª MISSÃO: democracia sobre a direita nas
UMA ECONOMIA EM políticas económicas e sociais

TRANSFORMAÇÃO O progresso económico e a melhoria da qualidade


de vida dos portugueses dos últimos oito anos com-

ASSENTE EM CONTAS
provam a eficácia do modelo económico do Partido
Socialista. Neste período, enfrentámos vulnerabilida-

EQUILIBRADAS
des estruturais, apostando no desenvolvimento do
País. Devolvemos rendimentos, apostámos no inves-
timento, aumentámos as qualificações, garantimos
o equilíbrio das contas externas e públicas e reduzi-
mos a dívida pública.

Provámos que o modelo da social-democracia mo-


derna é a melhor resposta aos desafios do presente
e do futuro. Esta matriz demonstrou ser eficaz, ino-
vadora e robusta no confronto com as múltiplas e
inesperadas adversidades que marcaram os últimos
anos. A notável recuperação económica de Portu-
gal, aliada à boa gestão das contas públicas, permi-
tiu-nos derrotar os dogmas vigentes em 2015, que
declaravam não ser possível. Este é um modelo que
funciona e que comprovadamente venceu a ideolo-
gia da direita, da austeridade e da liberalização sem
regras.

1.1. Mais crescimento


Nos últimos oito anos, o PIB real português cresceu
a um ritmo significativamente superior ao registado
na década anterior, não obstante a exposição aos su-
cessivos choques que marcaram o contexto interna-
cional: a pandemia da Covid-19, a invasão da Ucrânia
pela Federação Russa, a disrupção das cadeias de
produção, a escalada da inflação e o aumento sem
precedentes das taxas de juro. Entre 2000 e 2015, a
média anual de crescimento foi de 0,2% ao ano. Des-
de 2016, cresceu em média 2,2% ao ano – 10 vezes
mais do que a média anual dos 15 anos anteriores.

12 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


A economia portuguesa teve uma recuperação no- Portugal cresceu persistentemente acima da média
tável face aos níveis pré-pandémicos, ao contrário da União Europeia. Uma economia aberta e qualifi-
do que era advogado (e previsto) por muitos. Hoje, cada alcançou a convergência económica há muito
a riqueza nacional produzida no país é 6% superior ambicionada. Nos primeiros 15 anos do século, Por-
à observada em 2019, recuperando a um ritmo cer- tugal só convergiu com a União Europeia em 2009;
ca duas vezes superior ao dos nossos parceiros eu- desde 2015, convergiu todos os anos, exceto nos
ropeus. Portugal foi capaz de aproveitar o fim das anos da pandemia. Em termos de PIB per capita em
restrições impostas durante este período, as recon- paridade de poder de compra, a Comissão Europeia
figurações das cadeias de produção globais e robus- estima que Portugal se aproxime cinco pontos per-
tecer a procura interna através da implementação de centuais de França e da Alemanha e sete de Espa-
apoios às famílias e às empresas. Portugal transfor- nha. Também a despesa de consumo individual por
mou adversidades em oportunidades, criando novas habitante tem convergido. Este crescimento recente
vantagens competitivas. foi feito com excedentes externos e o reequilíbrio
das contas públicas.

GRÁFICO 1: CRESCIMENTO DO PIB ACUMULADO ENTRE 2019 E 2023

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PARTIDO SOCIALISTA

1.2. Melhores salários


A grande aposta no diálogo social materializou-se Estes acordos, acompanhados pelo dinamismo da
nos acordos inéditos firmados nos últimos anos. economia, permitiram aumentos robustos das remu-
Destes, destacam-se o Acordo de Médio Prazo para nerações, mitigando os efeitos do aumento do nível
a Melhoria dos Rendimentos, dos Salários e da Com- de preços. Entre 2015 e 2023, as remunerações mé-
petitividade, mas também o Acordo Plurianual de dias declaradas à segurança social registaram um
Valorização dos Trabalhadores da Administração aumento de 34%, 16 pontos percentuais superiores
Pública. Estes acordos criaram um horizonte de pre- à inflação acumulada para igual período. O peso das
visibilidade sem precedentes e a garantia de melho- mesmas no PIB convergiu com a média europeia: era
ria dos rendimentos, seja no setor privado como no de 43,6% em 2015 (46,8% na UE) e aumentou para
setor público. O diálogo social encetado beneficiou, 46,7% nos primeiros três trimestres de 2023 (47%).
assim, de uma perspetiva plurianual das políticas pú-
blicas.

GRÁFICO 2: EVOLUÇÃO DA REMUNERAÇÃO MÍNIMA MENSAL GARANTIDA E PESO DOS TRABALHADORES A AUFEREM

14 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


GRÁFICO 3: EVOLUÇÃO DAS REMUNERAÇÕES MÉDIAS DECLARADAS POR TRABALHADOR 1

Os aumentos registados foram particularmente rele- redução registada dos impostos sobre os rendimen-
vantes para os trabalhadores com menores remune- tos do trabalho, a redução dos preços dos passes
rações, nomeadamente para os que auferem a Re- sociais, a redução do limite máximo das propinas no
muneração Mínima Mensal Garantida, que aumentou 1.º ciclo do ensino superior, a gratuitidade das cre-
62,4%. No entanto, o peso destes trabalhadores no ches e ainda dos manuais escolares.
total de trabalhadores não acompanhou o aumento,
estando ao nível mais baixo desde 2015. Ao mesmo Ao mesmo tempo, os Governos do PS fizeram conti-
tempo, a taxa de pobreza após transferências sociais nuados reforços orçamentais nas áreas essenciais
baixou consistentemente, convergindo com a média do Estado Social. Assim, comparando o OE 2015 com
europeia e atingindo os níveis mais baixos em pelo o OE 2024, são mais €6,7 mil milhões para pensões
menos vinte anos. na Segurança Social, mais €5,6 mil milhões para o
Serviço Nacional de Saúde e € 2,9 mil milhões para
Este caminho não se esgotou no aumento direto do a Educação. Para as políticas de acesso à habitação,
rendimento das famílias. Os Governos do PS imple- que é uma das preocupações mais urgentes dos por-
mentaram ao longo destes oito anos políticas que tugueses, estão alocados 1000 milhões em 2024.
reforçaram os orçamentos familiares, como a maior

1
Médias janeiro-novembro, valores brutos, €. 2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 15
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PARTIDO SOCIALISTA

1.3. Menos divida


Portugal é hoje um país menos endividado e com Este esforço foi também partilhado por famílias e
maior credibilidade em termos financeiros. Em 2023, empresas, que estão hoje com níveis de endivida-
o Governo socialista atingiu um marco histórico ao mento inferiores ao da área do euro. Fruto do equilí-
reduzir o rácio de dívida pública para um nível inferior brio das contas externas, somos hoje uma economia
a 100%, deixando Portugal de estar entre as econo- mais resiliente à instabilidade externa.
mias mais endividadas da UE. Menos dívida equivale
a menos juros. O nosso país é hoje o 9.º com a taxa
de juro mais baixa a 10 anos entre os parceiros da
União Europeia, quando em 2015 tínhamos a 3.ª taxa
mais elevada. São mais recursos para medidas dire-
cionadas para as famílias e para as empresas.

GRÁFICO 4: EVOLUÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA EM PERCENTAGEM DO PIB

16 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


Esta conquista fez-se a par do investimento nos pi- Fruto das políticas seguidas, podemos dizer que Por-
lares fundamentais do Estado Social. O volume das tugal concluiu o seu processo de ajustamento orça-
medidas tomadas esteve à altura dos desafios, como mental, tendo a dívida pública registado uma forte
a experiência do período pandémico comprovou, diminuição. Assim, a próxima legislatura deve ser
com medidas inovadoras como o layoff simplificado. marcada por um novo equilíbrio entre a redução da
Este é um fator de estabilidade e de segurança, e dívida pública, o aumento do investimento público e
uma garantia que protege os mais vulneráveis, como o reforço do estímulo à economia.
bem se demonstrou pela ação de outras soluções
políticas em momentos mais críticos da nossa vida O cenário macroeconómico apresentado assenta
económica recente. nas projeções das principais instituições económi-
cas nacionais e internacionais. É, pois - ao contrário
São as boas políticas que fazem os bons resultados. do cenário apresentado pela direita - um cenário cre-
Portugal tem hoje as condições para prosseguir esta dível, realista e prudente, em especial num contexto
trajetória positiva. externo particularmente incerto, fruto das tensões
geopolíticas no Leste da Europa e no Médio Orien-
te, a fragmentação do comércio mundial, a reloca-
2. Um novo equilíbrio lização da produção e a existência de uma política
monetária mais restritiva, num contexto inflacionista
entre a redução da dívida mais volátil são fatores que podem afetar as expec-
e o investimento público tativas de crescimento no futuro.
e o estímulo à economia
Esta questão é particularmente importante para o
Partido Socialista A credibilidade, o realismo e a pru-
Fazer mais e fazer melhor. Este plano de ação pro-
dência são marcas fundamentais do projeto do Par-
põe-se trilhar um caminho de desenvolvimento eco-
tido Socialista de que não abdicamos, pois são estes
nómico e social que responda às aspirações dos por-
valores que alicerçam uma relação de confiança dos
tugueses, mantendo o equilíbrio das contas públicas,
decisores públicos com os portugueses.
promovendo uma maior equidade intergeracional e a
confiança dos agentes económicos.

Continuaremos a fazer diferente da direita. A política


económica do Partido Socialista coloca as pessoas
no centro da sua política e aposta em criar as condi-
ções certas para o subida dos rendimentos, para o
aumento do investimento público e privado, para a
melhoria dos serviços públicos e para a convergên-
cia económica no espaço europeu.

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 17


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

TABELA 1: CENÁRIO MACROECONÓMICO PLURIANUAL SUBJACENTE AO PROGRAMA ELEITORAL

Este cenário prevê uma continuada convergência que se pode caracterizar como próximo do pleno em-
com os nossos pares da União Europeia, com um prego. As valorizações remuneratórias das Adminis-
crescimento médio de 2% ao ano, assente num au- trações Públicas, o aumento do salário mínimo na-
mento sustentado da produtividade. Destas perspe- cional, e o cumprimento do Acordo de Rendimentos
tivas económicas resulta um aumento do peso do promovem um aumento das remunerações acima da
investimento público e privado na riqueza produzida, inflação em todo o horizonte do programa.
bem como das exportações de bens e de serviços,
com o desempenho destas últimas a beneficiar de Perspetiva-se a manutenção de saldos orçamentais
continuados ganhos de quota de mercado, tal como em equilíbrio, um crescimento da despesa corrente
observado nos anos mais recentes. primária em torno dos 4%, próximo do crescimen-
to nominal potencial da economia, bem como uma
Num contexto marcado pelos desafios da evolução redução sustentada da dívida pública, garantindo o
demográfica, antecipa-se a manutenção de elevados cumprimento integral das regras orçamentais eu-
níveis de emprego e uma redução da taxa de desem- ropeias e da Lei de Enquadramento Orçamental.
prego ao longo do período, num mercado de trabalho Assim, ao longo da próxima legislatura, o Partido

18 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


Socialista propõe-se assegurar anualmente o equilí-
brio orçamental (designadamente em termos estru-
turais) e assegurará a redução continuada da dívida
pública, agora a um ritmo de cerca de 3 a 4 pontos
percentuais por ano (cerca de 1/3 do que foi feito
nos últimos anos).

TABELA 2: INDICADORES ORÇAMENTAIS

Esta orientação garante o cumprimento das regras apresentado. Assim, este cenário inclui medidas já
orçamentais europeias a que estamos obrigados, a em implementação, com impacto faseado, como é o
confiança conquistada nos últimos 8 anos, a liber- caso da gratuitidade das creches ou o novo modelo
tação de recursos para aumento do investimento e do SIADAP, bem como o impacto esperado de legis-
reforço do estímulo à economia, e a proteção do país lação já em vigor, designadamente no que respeita
face a possíveis choques externos futuros. Contas às pensões de velhice, invalidez e de sobrevivência.
certas e equilibradas são um fator basilar que pos- Ainda assim, antecipa-se que o mesmo permita o fi-
sibilita a adoção de soluções à altura dos desafios nanciamento de um conjunto de novas e importantes
que enfrentamos, sejam os desafios demográficos, medidas inscritas neste “Plano de Ação para Portu-
das transições climáticas e digitais, ou da habitação. gal Inteiro” e que constituem compromissos que o
futuro governo do Partido Socialista assume perante
As medidas de política contidas neste “Plano de os portugueses.
Ação para Portugal Inteiro” asseguram a resposta
aos principais desafios identificados e foram devida-
mente contabilizadas no cenário macroeconómico

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 19


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

3. Uma economia inovadora em que atingiu máximos históricos em 2023. Consegui-

transformação mos ser um país mais atrativo para o investimento


direto estrangeiro, atingindo máximos, duplicando
desde 2008 e representando 70% do PIB, superior
Portugal apresenta, hoje, uma economia estrutural-
à média dos países da OCDE. Estes são contributos
mente distinta. Uma economia mais resiliente e mo-
significativos e duradouros para o aumento da pro-
derna, com um nível de qualificações inédito, mais
dutividade da nossa economia. Graças a estes re-
diversificada, mais produtiva e com níveis de empre-
sultados, e olhando para o futuro, o CFP antevê que
go históricos.
entre 2024 e 2027 a produtividade da nossa econo-
mia cresça a um ritmo médio de 1,7%, muito superior
3.1. Mais qualificações à média de 0,9% registada entre 2000 e 2015. Mas
Prosseguimos uma forte aposta nas qualificações.
sabemos que estes números, para se concretizarem,
Entre 2015 e 2022, a população empregada com en-
dependerão também da resolução de outros proble-
sino secundário ou superior aumentou para 64,5%
mas estruturais da economia portuguesa.
(de 51.9%). Só com ensino superior são mais 490 mil
empregos que em 2015. E temos mesmo um peso
3.4. Mais transformação
superior de licenciados na economia acima da média
Ultrapassado o período mais crítico de adaptação da
europeia na faixa dos 25 aos 34 anos. Conseguimos
economia nacional à moeda única e ao impacto da
mais e melhor emprego, com quase 630 mil novos
entrada da China na globalização do comércio, que
empregos desde 2015 e com um em cada três em-
acelerou a desindustrialização de setores tradicio-
pregos criados no setor privado em setores de ele-
nais no início do milénio, Portugal conseguiu crescer
vada produtividade e intensidade tecnológica, com
a uma média anual de 2,2% entre 2016 e 2023. Foram
salários médios superiores.
alcançados, entretanto, outros avanços importantes:
a balança de bens e de serviços tem tido ao longo
3.2. Mais exportações da última década uma posição positiva; e em 2022
Exportamos mais e melhor. As exportações de bens
as exportações atingiram o valor simbólico dos 50%,
e serviços superaram, pela primeira vez na história,
com quase €2 mil milhões de saldo positivo da ba-
os 50% do PIB. Em 2015, representavam 40,6% e
lança tecnológica.
poucos anos antes apenas 35%. Hoje, são mais 46
mil milhões de euros exportados do que em 2015.
Para além do ritmo de crescimento, é também neces-
E esta transformação não decorreu apenas do setor
sário olhar para a qualidade do crescimento econó-
do turismo. Portugal soube abrir a economia a novas
mico. Nem todo o crescimento é igual: pode ser mais
oportunidades de crescimento e de diversificação.
ou menos sustentável, mais ou menos resiliente a
choques externos, produzir diferentes externalida-
3.3. Mais investimento des sobre a sociedade e o ambiente, e - muito im-
Alcançamos um maior peso do investimento no pro- portante para uma economia que pretende graduar
duto, cerca de 20% em dois anos consecutivos. Uma o seu perfil produtivo - gerar diferentes dinâmicas de
marca de confiança nas soluções políticas encontra- aprendizagem e de complexidade tecnológica no in-
das pelo Partido Socialista, como se comprova pelo terior ou entre setores económicos.
crescimento significativo do investimento privado,

20 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


Se Portugal quer escapar à conhecida por “armadilha deve ser a de acelerar e aprofundar a alteração do
dos países de rendimento intermédio”, tem de inten- perfil de especialização da nossa economia. Só com
sificar a sofisticação e complexidade dos bens e ser- uma economia sofisticada, diversificada e complexa
viços produzidos. Se é verdade que as exportações podemos produzir com maior valor acrescentado,
alcançaram a meta de metade do PIB, é necessário pagar melhores salários e gerar as receitas necessá-
que elas ganhem uma maior intensidade tecnológi- rias para financiar um Estado Social avançado.
ca. Assim, embora o emprego tenha crescido quase
15% nestes últimos 8 anos, a produtividade cresceu Temos, de forma intensa e persistente, de investir na
apenas 7,5%. Não é possível uma economia trans- educação, na produção de conhecimento, na trans-
formar-se sem um crescimento sustentado da pro- ferência do conhecimento para as empresas e na
dutividade, ela própria dependente da incorporação inovação nas nossas empresas. As empresas priva-
de tecnologia e de conhecimento nas atividades pro- das devem investir onde melhor entenderem, mas o
dutivas. Estado tem de fazer escolhas quanto aos setores e
tecnologias a apoiar.
Ora, a qualificação produtiva da economia é difícil
com um tecido empresarial em grande medida pul- Ora, os sucessivos programas de incentivos em Por-
verizado - assente em empresas de muito reduzida tugal foram dos que sistematicamente apresentaram
dimensão -, dualizado - com poucas grandes empre- menor seletividade na UE. Em Portugal tem havido
sas exportadoras e muitas pequenas empresas que repetidamente pouco dinheiro para quase todas as
vendem para o mercado interno - e, apesar dos mui- empresas elegíveis. A incapacidade de fazer esco-
to significativos avanços dos últimos anos, com um lhas levou a que sucessivos programas de incentivos
perfil de baixas qualificações dos trabalhadores e, pulverizassem os apoios por inúmeras áreas e seto-
sobretudo, dos gestores. Estas vulnerabilidades ain- res, retirando a esses mesmos apoios capacidade
da são visíveis no fraco peso do emprego em ativi- verdadeiramente transformadora da economia. Tor-
dades intensivas em conhecimento; na baixa intensi- na-se necessário, assim, acentuar a dimensão verti-
dade tecnológica das exportações no défice crónico cal do sistema de incentivos e aumentar a seletivida-
da balança de bens; e no conteúdo importado das de que permita garantir o poder de fogo necessário
exportações e do investimento. Este perfil de espe- para desenvolver setores ou tecnologias capazes de
cialização da economia continua a ser um travão a arrastar processos de transformação económica.
que as empresas nacionais possam competir com
concorrentes que produzem bens e serviços mais Neste objetivo de desenhar uma política económica
sofisticados, de tirar proveito das oportunidades mais seletiva, devemos assumir um desígnio nacio-
criadas pelo avanço tecnológico, de aumentar os ní- nal para a próxima década: selecionar um número
veis de produtividade, e de pagar melhores salários. limitado de áreas estratégicas onde se devem con-
Dadas as características de uma economia da ino- centrar os apoios, a investigação e produção de co-
vação, esta transição – que se impõe - dificilmente nhecimento, a transferência desse conhecimento, os
será conseguida sem políticas públicas inteligentes projetos de desenvolvimento de produtos e de tec-
e mobilizadoras. nologia, e os esforços de captação de investimento
estrangeiro estruturante. Este processo de seleção
É por isso que a nossa primeira e principal missão deve ser, naturalmente, participado, transparente e

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 21


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

obedecer a critérios objetivos. Tem de haver compe- ⟩ Executar uma nova estratégia para as empresas
tências científicas, tecnológicas e empresariais, bem públicas que, dotadas de know-how e capacidade no
como potencial de crescimento e de arrastamento e investimento, possam assumir um trabalho de coor-
consequências na resolução de problemas específi- denação, enquanto empresas-âncora, na dinâmica
cos da sociedade portuguesa. de modernização e sofisticação dos setores onde
atuam. Esta coordenação envolverá necessariamen-
Para tal, o PS irá: te empresas privadas numa lógica de parceria para a
inovação, arrastando o seu desenvolvimento através
⟩ Proceder a uma revisão global do sistema de in- de projetos colaborativos (na linha do que a CP está
centivos existentes, alinhando-os com os objetivos a fazer na dinamização do setor ferroviário, onde a
da Estratégia Industrial da UE, designadamente a colaboração entre o setor público, o setor privado e a
aceleração e concretização das transições climática academia permitiu fortalecer a empresa, ao mesmo
e digital e contribuir para o aumento da autonomia tempo que incentivou o investimento privado neste
estratégica aberta da UE, reduzindo as dependências setor, consolidando um cluster industrial da ferrovia);
estratégicas face ao exterior e reforçar a situação ge-
opolítica da União; ⟩ Lançar um programa de apoio ao investimento es-
truturante e à captação de investimento estrangei-
⟩ Capacitar a Administração Pública para um traba- ro, uma iniciativa de estímulo ao investimento de
lho de identificação e de mapeamento de setores, de empresas nacionais e internacionais, articulada e
cadeias de valor e de tecnologias nas quais a eco- complementar às medidas financiadas por fundos
nomia nacional apresente elevadas potencialidades. europeus, visando uma especialização produtiva in-
Setores e tecnologias ligada à transição verde são teligente. Será dirigida de forma prioritária aos seto-
claros candidatos a esta lista de prioridades, dada a res e tecnologias identificadas como chave para a
posição de liderança de Portugal na transição ener- transformação da economia nacional;
gética, a composição atual do seu parque industrial
e o potencial em termos de matérias primas para ex- ⟩ Lançar o Programa Internacionalizar, apoio às ex-
ploração. É essencial que a política industrial esteja portações de elevado valor acrescentado, ao inves-
alinhada com a política energética; timento internacional e ao financiamento de opera-
ções internacionais. O Programa Internacionalizar
⟩ Acompanhar a concretização das agendas mobili- deve constituir o eixo de intervenção da agência
zadoras, procurando integrar os seus resultados no pública AICEP e de outros intervenientes públicos,
trabalho de análise e mapeamento dos setores, ca- mas deve constituir uma agenda partilhada do país e
deias de valor e de tecnologias referido, ao mesmo das suas empresas. A ambição é que o crescimento
tempo que se revisitará a política de clusters, ava- da presença internacional das empresas portugue-
liando-a em função do potencial que oferecem para sas seja orientada pela colocação nos mercados in-
uma estratégia industrial integrada, bem como o ternacionais de produtos e serviços de maior valor
papel que os clubes de fornecedores - enquanto ins- acrescentado, mais complexos e mais intensos em
trumentos que, entre outras vantagens, potenciam a conhecimento e tecnologia, com o objetivo de ter
redução de importações - podem nela ter; uma economia mais robusta, inovadora, sofisticada
e competitiva, menos dependente de importações

22 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


para sustentar a sua crescente vocação exportadora. ⟩ Lançar o Programa Capitalizar +, de apoio à tran-
O Programa Internacionalizar definirá quatro eixos sição geracional e à valorização de ativos empresa-
de prioridades e resposta: riais, com quatro dimensões de intervenção:

· aumentar o volume de exportações e seu valor · reforço continuado dos mecanismos de tratamen-
acrescentado, com o objetivo de nesta próxima to fiscal privilegiado do reforço de capitais em re-
década duplicar o valor médio exportado por em- lação ao financiamento por capitais alheios;
presa;
· revisão do contrato de mandato do Banco Portu-
· incentivar fortemente a diversificação do destino guês de Fomento visando adequar os instrumen-
das exportações de produtos e serviços, consti- tos de acesso ao capital e quase capital às neces-
tuindo os mercados da América uma prioridade es- sidades das empresas;
sencial, no cumprimento da nossa vocação atlân-
· programa de transição geracional das empresas
tica, constituindo a nossa presença nos mercados
familiares, com acesso a mecanismos de capital,
mais maduros europeus num eixo complementar
financiamento e mentoria;
orientado para o ganho de quotas de mercado em
produtos de maior valor acrescentado; · programa dirigido a ganhos de escala, fusões e
aquisições e à recuperação de ativos, nomeada-
· incentivar fortemente a presença internacional das
mente com incentivos fiscais à capitalização de
nossas empresas, nomeadamente por processos
empresas em recuperação através da consolida-
de verticalização nos produtos de consumo final,
ção dos créditos do sistema financeiro.
através de maior presença nas atividades de dis-
tribuição e retalho, pelo crescimento por aquisição
⟩Reforçar e reorganizar das organizações públicas
ou orgânico em atividades produtivas de bens e
na área económica, procedendo à reintegração da
serviços localizadas em espaços geográficos que
AICEP no Ministério da Economia, e à avaliação do
aglomeram cadeias de valor essenciais na nossa
papel desempenhado pelo Banco Português de Fo-
estrutura produtiva (setor automóvel, como exem-
mento no ecossistema institucional responsável
plo);
pela política económica nacional;
· reforçar o papel central do espaço da lusofonia no
âmbito das relações económicas e da cooperação ⟩Melhorar o papel a desempenhar pela Administra-
para o desenvolvimento. ção Pública na coordenação dos investimentos, vi-
sando a facilitação do licenciamento, quer na relação
⟩ Procurar, através da uma política de incentivos mais com as entidades públicas (fazendo apelo a balcões
seletiva e centrada em setores robustos e promisso- únicos) ou prazos (tornando os mesmos claros e, se
res, criar oportunidades de emprego para os recur- possível, encurtando-os), sendo necessário garantir
sos humanos altamente qualificados - muitos deles uma abordagem integrada e horizontal que seja ca-
jovens - que, no contexto europeu, Portugal é capaz paz de dar direção e expetativas firmes ao investi-
de formar, e que, de outra forma, tenderão a sentir mento direto estrangeiro;
elevados incentivos à saída do país;

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 23


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

⟩ Apostar em programas que apoiem a colocação de único, aprofundando e articulando ferramentas e me-
jovens quadros em PME exportadoras, em particu- canismos, existentes e a criar, por forma a reforçar
lar jovens quadros com experiência em Erasmus ou a notoriedade dos direitos dos consumidores e das
INOVContacto; diferentes respostas para o seu esclarecimento e
eventual resolução de conflitos;
⟩ Garantir a concretizar a “Agenda para a Competiti-
vidade do Comércio e Serviços 2030”, aprovada em ⟩ Definir o Estatuto do Consumidor Vulnerável, o qual
dezembro de 2023, conforme previsto no “Acordo de contemplará um conjunto de critérios e respetivos di-
médio prazo para a melhoria dos rendimentos, dos reitos correspondentes a esta condição;
salários e da competitividade”, no âmbito da Concer-
tação Social. Trata-se de um documento estratégico ⟩ Criar a Comissão das Cláusulas Contratuais Gerais,
e programático, com um montante global superior a de modo a prevenir o uso de cláusulas contratuais
€400 milhões, que representa o programa com maior gerais abusivas e dar visibilidade adicional aos pres-
dotação de sempre para apoio ao comércio e servi- tadores de bens e serviços que incluem cláusulas
ços. contratuais declaradas judicialmente como abusivas
nos seus contratos de adesão;
3.5. Proteção dos consumidores
Nos últimos anos têm sido concretizados importan- ⟩Rever o Código da Publicidade, definindo mecanis-
tes progressos no reforço dos direitos dos consumi- mos para limitar o contacto de teor comercial com
dores. A extensão dos prazos de garantia dos bens consumidores à sua expressa declaração de disponi-
móveis, a proibição da obsolescência programada, bilidade nesse sentido, assim como prevenir e punir
a regulação – em alguns casos pioneira na União as técnicas agressivas e inapropriadas de vendas e
Europeia – de ecossistemas digitais, assim como o publicidade;
alinhamento da política de consumidores com a tran-
sição verde, comprovam, entre outros, a centralidade ⟩ Rever o regime jurídico das ações coletivas, para
da defesa do consumidor. proteção dos interesses coletivos dos consumido-
res;
A política de consumidores deve ocupar um espaço
decisivo na recuperação económica, a nível nacio- ⟩ Transmitir aos consumidores o maior conjunto de
nal e a nível europeu. Deste modo, dar-se-á também informação possível sobre a composição dos pro-
seguimento à ‘Nova Agenda do Consumidor’, cujas dutos agroalimentares, a sua origem, bem como o
conclusões foram aprovadas no âmbito da Presidên- impacto ambiental da sua produção, estimulando a
cia Portuguesa do Conselho da União Europeia, com adoção de hábitos de vida saudáveis;
enfoque na transição gémea (verde e digital), na coo-
peração e nos consumidores mais vulneráveis. ⟩ Definir e difundir, em cooperação com as associa-
ções de produtores e as associações de consumido-
Nesse sentido, o PS propõe: res, um Índice de Reparabilidade de Produtos, pros-
seguindo a adoção de instrumentos que permitam
⟩ Instituir o Sistema Nacional de Defesa do Consumi- ao consumidor obter informação e compará-la, no
dor e o Portal do Consumidor, numa lógica de balcão que à vida útil dos produtos diz respeito;

24 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


⟩ Garantir a dinamização da Rede de Apoio ao Con- rendimento, seja intervindo através da fiscalidade,
sumidor Endividado, com o intuito de assegurar uma seja através da provisão de serviços públicos e da
resposta de acompanhamento próxima, ágil e per- prestação de apoios sociais.
manente em casos de sobre-endividamento;
No plano da fiscalidade, o debate público centrou-
⟩ Dar continuidade ao reforço dos recursos humanos -se nos últimos anos no aumento da “carga fiscal”,
e materiais da Autoridade de Segurança Alimentar e que subiu de 34,4% em 2015 para 36% em 2022 - um
Económica, prevendo o alargamento do seu mapa de aumento mais influenciado pelo crescimento das
pessoal, no sentido de garantir a proteção dos con- contribuições sociais (que cresceram 53%, fruto do
sumidores e a sã e leal concorrência, e atendendo aumento do emprego) do que dos impostos diretos
aos desafios e oportunidades da transição digital, (cresceram 33%) ou dos indiretos (cresceram 39%).
designadamente implementando o sistema de trami- Apesar deste aumento, a carga fiscal em Portugal
tação eletrónica das contraordenações económicas; mantém-se bem abaixo da média europeia (de acor-
do com os últimos dados disponíveis, em 2022 a car-
⟩Acompanhar e aprofundar o Livro de Reclamações, ga fiscal em Portugal era de 36% e a média europeia
hoje disponível nos formatos físico, eletrónico e mó- de 40,3%).
vel, como instrumento crucial da política pública de
defesa do consumidor, assegurando que o mesmo Na realidade, os governos do PS baixaram várias ve-
constitui uma base para a indemnização e não ape- zes diferentes impostos. No IRS, foram feitas várias
nas para aplicação de eventual coima; descidas de taxas, com a reformulação e aumento
do número de escalões e aumentando deduções vá-
⟩ Criar condições para o alargamento e moderniza- rias (com filhos ou com despesas de arrendamento,
ção da rede de centros de arbitragem de consumo, por ex.), o que resultou numa devolução de €2 mil
designadamente no que concerne à sua presença milhões de receita do IRS até 2023, a que se somam
territorial e através da criação de uma plataforma di- os cerca de €1,3 mil milhões da redução de receita
gital para resolução alternativa de litígios; inscrita no OE2024. No IRC, foi extinto o fim do paga-
mento especial por conta, foram reduzidas as taxas
⟩Apostar na promoção de iniciativas de informação, para as PME, foram criados incentivos para empre-
sensibilização e capacitação, dirigidas sobretudo sas que investem e que se capitalizam, e foram redu-
aos consumidores mais vulneráveis e com especial zidas as taxas de tributação autónomas das viaturas
enfoque em domínios que carecem de maior divul- ao serviço das empresas. No IVA, as descidas mais
gação. emblemáticas ocorreram na restauração e na eletri-
cidade.

4. Uma fiscalidade inteligente É importante notar que, para além dos ângulos di-
ferentes a partir dos quais como esquerda e direita
e seletiva abordam o tema da justiça social na tributação, há
pelo menos mais duas formas que distinguem o PS
Embora o salário represente a maior fatia do rendi- dos partidos à sua direita neste tema.
mento familiar disponível, o Estado influencia este

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 25


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

Por um lado, o PS avalia o espaço orçamental para ⟩ No IRC:


reduzir impostos tendo em conta o impacto que isto
· reduzir em 20% as tributações autónomas sobre
tem sobre duas outras variáveis fundamentais: a res-
viaturas das empresas, diminuindo o nível de tribu-
trição orçamental existente e os objetivos de inves-
tação sobre a esmagadora maioria das empresas.
timento em serviços públicos e em infraestruturas;
enquanto a direita parece ver a redução de impostos
⟩ No IVA:
como um fim em si.
· devolver em às IRS às famílias com menores ren-
Por outro lado, enquanto os partidos de direita pre- dimentos parte do IVA suportado em consumos
ferem descidas de impostos cegas e transversais, de bens essenciais, incluindo às famílias que não
o PS olha para a fiscalidade como um instrumento pagam IRS;
de política pública, indutora ou desincentivadora de
comportamentos de trabalhadores e consumidores, · aplicar a taxa de 6% aos primeiros 200 kWh de
o que exige uma utilização muito mais seletiva - e energia elétrica consumida em cada mês (dupli-
inteligente - dos diferentes impostos. cando os atuais 100 kWh), ou de 300 kWh men-
sais, no caso das famílias numerosas (duplicando
Assim, sem prejuízo de continuar a procurar formas os atuais 150 kWh), numa medida essencial de
de aumentar o rendimento das famílias por via fiscal combate à pobreza energética.
ao longo da legislatura, o PS compromete-se a:

⟩ No IRS: 5. Trabalho, relações laborais


· reforçar a redução do IRS para a classe média, e qualidade do emprego
dentro da margem orçamental, diminuindo as ta-
xas marginais; 5.1. Trabalho e relações laborais
A evolução entre 2015 e 2023 no mercado de tra-
· atualizar os limites dos escalões de acordo com a
balho é digna de registo. Foram criados quase 630
taxa de inflação, impedindo que os contribuintes
mil empregos, o que elevou a população empregada
vejam a sua tributação aumentar por este efeito;
para os 5 milhões de pessoas, um nível que não era
· alargar o “IRS Jovem” a todos os jovens, indepen- atingido há cerca de duas décadas. O desemprego,
dentemente do nível de escolaridade atingido, por que chegou a estar acima dos 18%, afetando mais
uma questão de justiça e coerência interna à me- de 900 mil pessoas, baixou também para mínimos de
dida; 20 anos, e baixou também a precariedade. Ao mes-
mo tempo, os salários aumentaram, desde logo o
· aumentar a despesa dedutível com arrendamento salário mínimo, que cresceu por mais de 60% desde
em €50 por ano até atingir os €800 em 2028, ali- que o PS é Governo, acompanhado de um aumento
viando as familias com esta despesa fundamen- de 33% do salário médio.
tal.
Estes resultados foram alcançados num quadro de
recuperação sustentada da economia, mas são fru-

26 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


to também de opções de política pública com uma de trabalho;
orientação muito clara para a qualidade e estabilida-
de do emprego. Primeiro nas políticas ativas de em- ⟩ Discutir com os parceiros sociais a adoção de ins-
prego, depois, em 2019, com a reversão de algumas trumentos de melhoria das situações laborais das
das reformas laborais introduzidas pela direita, de- empresas, designadamente a partir do aumento da
ram-se passos importantes no combate à precarie- transparência sobre os níveis de rotatividade nos
dade e na dinamização da negociação coletiva, um quadros de pessoal e dos leques salariais praticados;
caminho que foi aprofundado pela Agenda do Traba-
lho Digno. ⟩ Aprofundar a relação entre políticas ativas de em-
prego e o trabalho digno e em particular reforçar
Ainda assim, apesar dos progressos alcançados, os mecanismos de focalização e seletividade das
persistem focos de preocupação e objetivos por al- políticas ativas e os mecanismos de prevenção da
cançar no mercado de trabalho. Além da persistên- precariedade, e assegurando uma avaliação regular
cia de algumas bolsas de desemprego, em particu- sobre os resultados dos programas promovidos pelo
lar desemprego de longa duração, continua a haver IEFP, em particular estágios e apoios à contratação;
níveis significativos de emprego precário nos jovens
e surgem novas formas de emprego e de prestação ⟩ Reforçar o papel e os meios do serviço público de
de trabalho cuja monitorização e regulação tem de emprego, no IEFP, reafirmando a sua centralidade, o
ser melhorada. Por seu turno, é essencial continuar seu papel de liderança nas políticas ativas de empre-
a melhorar os padrões de rendimento e os salários, go e a sua capacidade de resposta individualizada
com objetivos ambiciosos, a pugnar pela qualidade e a segmentos específicos da população desempre-
do emprego e por políticas públicas que a promovam gada;
e a responder às mudanças profundas na economia
e nos modos de organização social. ⟩ Promover um maior alinhamento entre a política
ativa de emprego e a política económica do país,
Assim, o PS propõe-se a: mobilizando estes instrumentos de política públi-
ca para o esforço de transformação da economia e
⟩ Assegurar a plena implementação do Acordo de apostando em programas e condições específicas
Concertação Social sobre Rendimentos, Salários e direcionados para setores emergentes, considera-
Competitividade e dos seus compromissos e apro- dos prioritários ou com forte potencial de cresci-
fundar o diálogo nesta sede, renovando os compro- mento e qualificação da economia portuguesa;
missos nele contidos, alargando o horizonte temporal
considerado e reforçando os meios e instrumentos ⟩ Melhorar a ligação entre o serviço público de em-
para o viabilizar; prego e as estruturas de apoio à criação de projetos
empresariais, tirando partido da capacidade instala-
⟩ Estabelecer, em diálogo social na Comissão Perma- da e dos meios do IEFP para, além do papel de in-
nente de Concertação Social, uma trajetória pluria- clusão no mercado de criação de emprego, apostar
nual de aumento do SMN que permita atingir pelo em programas de criação de empresas direcionados
menos os €1.000 em 2028, num quadro de acompa- para o desenvolvimento destes setores emergentes;
nhamento regular das dinâmica salarial no mercado

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 27


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

⟩Lançar iniciativas direcionadas à inclusão aos de- na defesa de uma participação dos sindicatos na
sempregados de longa duração, desempregados de concertação social. Devemos não apenas de honrar
muito longa duração, jovens NEET e inativos desen- esse legado, mas aprofundá-lo, procurando estancar
corajados de modo a maximizar o potencial produti- a tendência de redução da densidade sindical e, as-
vo da economia e o potencial de inclusão do merca- sim, defender a voz dos trabalhadores, tanto à mesa
do de trabalho; das negociações com as empresas como no diálogo
tripartido. Para tal, o PS compromete-se a:
⟩ Desenhar e implementar um programa nacional de
Mercado Social de Emprego para promover a apro- ⟩Lançar um programa de reforço do diálogo social,
ximação ao mercado de trabalho dos públicos mais do associativismo sindical e empresarial e dos me-
desfavorecidos e afastados do mercado de trabalho, canismos de representação, incluindo:
partindo de experiências-piloto com base em proje-
· aprofundamento de incentivos à sindicalização e
tos locais, zonas deprimidas e/ou para públicos mais
ao associativismo empresarial, contribuindo para
vulneráveis, envolvendo nomeadamente entidades
reforçar o papel de representação das associa-
públicas, autarquias locais, entidades da economia
ções sindicais e empresariais e combater a baixa
social e trabalho no âmbito da responsabilidade so-
densidade sindical e associativa;
cial das organizações, e contribuindo também des-
te modo para reforçar a atratividade e a coesão dos · criação de um mecanismo automatizado de in-
territórios de baixa densidade, e para combater a ex- formação associativa para cada novo contrato
clusão social e pobreza nos territórios urbanos mais de trabalhador e para cada empresa criada: cada
complexos; contrato de trabalho registado deve gerar informa-
ção sobre os sindicatos do setor e os delegados
⟩ Reforçar a Autoridade para as Condições de Traba- sindicais registados na empresa empregadora e,
lho, no seguimento da Agenda do trabalho Digno, de por seu turno, cada empresa criada deve permitir
modo a assegurar que o funcionamento do mercado conhecer quais as associações empresariais do
de trabalho se pauta por níveis elevados de cumpri- setor, fornecendo ainda informação adicional so-
mento da lei e de penalização dos que violam direi- bre elementos como a contratação coletiva em vi-
tos e distorcem a concorrência; gor ou a filiação em confederações;

⟩ Estimular o contributo dos empregadores para so- ⟩ Assegurar a regulamentação do direito à represen-
luções de habitação dos trabalhadores; tação coletiva dos trabalhadores independentes em
situação de dependência económica, assegurando o
⟩ Aprofundar, no âmbito da concertação social, a acesso destes trabalhadores a negociação coletiva
proteção laboral dos trabalhadores das plataformas específica ou mais abrangente, bem como à repre-
digitais. sentação através de sindicatos e comissões de tra-
balhadores, tal como previsto na Agenda do Trabalho
5.2. Diálogo social e negociação coletiva Digno;
O PS tem um legado histórico na afirmação da li-
berdade e da pluralidade sindical, bem como na ⟩ Reforçar a promoção da igualdade entre mulheres
afirmação do dinamismo da negociação coletiva e

28 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


e homens no mercado de trabalho, desde logo pro- à aprendizagem ao longo da vida, essencial para a
movendo: atualização das formas de trabalhar. Assim, o PS
compromete-se a:
· alargamento gradual da aplicação do quadro nor- ⟩ Assegurar a plena execução do Acordo de Concer-
mativo da representação igualitária de género nos
tação Social sobre Formação Profissional assinado
conselhos de administração para além das em-
em 2021, de modo a concluir em 2024 a sua imple-
presas cotadas em bolsa e prevendo mínimos de
mentação e relançar o diálogo em sede de concer-
presença de mulheres em lugares executivos dos
tação social sobre esta matéria tendo em vista um
conselhos de administração;
novo acordo plurianual para vigorar até 2030 e sus-
· a plena aplicação da lei de promoção da igualdade tentar uma política nacional de formação profissio-
salarial nas empresas, promovendo a sua avalia- nal que combine competências com qualificações,
ção no prazo de 24 meses; inovação e flexibilidade dos percursos e modalida-
des formativas com qualidade;
· o reforço e autonomia institucional da Comissão
para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE); ⟩ Aprovar uma Lei Quadro da Formação Profissional
que consagre as grandes determinantes, referenciais
⟩ Propor, em sede de concertação social, o reforço e instrumentos do sistema, a relação da formação
do papel dos meios alternativos de resolução de profissional com o Sistema Nacional de Qualifica-
conflitos em matérias laborais, em estreita articu- ções, de modo a tornar coerente um quadro norma-
lação com os parceiros sociais e com a negociação tivo até agora disperso e fragmentado, contribuindo
coletiva, beneficiando da experiência bem-sucedida para o desenvolvimento de uma área crítica para o
da arbitragem no CES; país;

⟩ Lançar, em sede de concertação social, um proces- ⟩ Dinamizar uma Rede de Formação Especializada
so de diálogo sobre as matérias da segurança e saú- Setorial com base nos centros protocolares do IEFP
de no trabalho tendente à negociação de um acordo e outras entidades relevantes, reforçando a visibili-
de concertação que suporte a Estratégia plurianual dade e atratividade da formação profissional espe-
nesta área, e que aborde, e.g., dimensões relativas à cializada, a elevar e disseminar os níveis de qualida-
saúde mental no quadro das relações laborais; de da formação profissional;

5.3. Formação profissional ⟩ Neste âmbito, e conjugando a capacidade instalada


Na formação profissional, dispomos de um ativo do IEFP com os centros protocolares e outras entida-
para responder a um mundo em constante mudança, des formativas, aprofundar a lógica das experiências
especialmente na dupla transição verde e digital. A no campo das competências digitais, da internacio-
qualificação e a requalificação dos ativos emprega- nalização e das competências verdes e lançar pro-
dos e desempregados deverá ser prioritária. É pre- gramas de formação especializada de curta e média
ciso fazer valer o enorme legado do PS na elevação duração em setores críticos para a economia portu-
das qualificações dos portugueses e deve prosse- guesa, com envolvimento dos principais parceiros e
guir esse caminho, com a valorização da experiên- agentes dos setores;
cia adquirida no percurso profissional e no acesso

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 29


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

⟩ Assegurar o programa nacional de investimentos não conducente à obtenção de grau com a formação
de requalificação na rede de centros de formação superior em percursos conducentes a graus;
profissional, concluindo o investimento do PRR e
avançando para a fase de investimento nacional cor- ⟩ Prosseguir a correção do défice histórico de qua-
respondente; lificação da nossa população adulta, em particular
nas gerações mais avançadas, através do reforço do
⟩ Reforçar a aposta nos cursos duais, em particular Programa Qualifica, comprometendo-se o PS a:
para jovens e jovens adultos, incluindo no Sistema
· Aprofundar a execução do Programa Qualifica e
de Aprendizagem, em cooperação com a Rede de
melhorar os seus instrumentos, como o Passapor-
Formação Setorial dos centros protocolares dos dife-
te Qualifica;
rentes setores de atividade e com empresas de refe-
rência, de modo a melhorar a qualidade da formação · Acelerar o apoio aos públicos menos qualificados
em alternância e a combinação virtuosa de forma- a elevar as suas qualificações, de modo a atingir
ção de excelência com formação nas empresas e ex- até 2028 um impacto de pelo menos 6% da popu-
periência de aproximação às dinâmicas do trabalho; lação ativa apoiada para completar novos níveis
de qualificação;
⟩ Apostar no desenvolvimento de um programa na-
cional de formação pós-secundária (nível 5), incluin- ⟩ Em articulação com políticas de integração de imi-
do cursos de aprendizagem deste nível criados a par- grantes, e no visando melhorar a integração com a
tir do acordo de concertação e outras modalidades necessidade do país de mão-de-obra e competências
e percursos de formação dual mais flexíveis, com profissionais e especializadas, apostar na generali-
base na Rede de Formação Setorial, no contributo do zação dos cursos de Português Língua de Acolhi-
IEFP e de outros operadores de formação em articu- mento, tirando partido da capacidade da rede esco-
lação com instituições do ensino superior, de modo a lar, dos centros de formação e dos centros Qualifica,
alargar a capacidade da formação profissional para e lançar um programa de formação em português
abranger mais públicos e níveis de competências; nas escolas, em horários pós-laborais, para melhor
preparação dos alunos e dos seus pais e para per-
⟩ Continuar a aposta na modernização das ferra- mitir a melhor e mais rápida integração e melhores
mentas digitais e sistemas de informação da forma- condições de aprendizagem;
ção profissional, reforçando o Passaporte Qualifica,
aprofundando a flexibilidade dos percursos formati- ⟩ Desenvolver uma Estratégia Nacional para a Apren-
vos, a sua modularidade e intercomunicabilidade, de dizagem ao Longo da Vida, em articulação com o di-
modo a permitir conjugar a aquisição de competên- álogo social nesta área, com o contributo de diferen-
cias com a tradução destas em qualificações; tes agentes e áreas setoriais e que cubra os vários
níveis de qualificação de modo a permitir cumprir as
⟩ Em estreita articulação com as instituições de ensi- metas do Pilar Europeu dos Direitos Sociais.
no superior, reforçar a flexibilidade de percursos do
ensino superior, incluindo os mecanismos de comu- ⟩Avançar, em diálogo com as instituições de ensino
nicação entre a formação de nível 5 de qualificações superior, com um programa de alargamento de va-
(secundário não superior) e formação pós-graduada gas no ensino superior para adultos, nomeadamen-

30 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


te em regime pós-laboral, de modo a atingir a prazo setor público e privado.
25% da capacidade instalada ao nível das licenciatu-
ras para estes públicos. Para além dos investimentos no transporte de mer-
cadorias e na eletrificação e modernização da rede,
queremos melhorar, consistentemente, os serviços
6. Investimento de passageiros e o alargamento da rede, que levará
o comboio a territórios que não são atualmente ser-
em infraestruturas e nos vidos.
transportes públicos ao serviço
do desenvolvimento e de uma 6.1.
O Plano Ferroviário Nacional (PFN), elaborado nos
mobilidade sustentável últimos dois anos com ampla participação pública,
deverá ser aprovado - passando a ser uma orienta-
O investimento nas infraestruturas, equipamentos e
ção para a ferrovia no futuro, ligando as principais
serviços de transportes públicos é um instrumento
cidades, portos e aeroportos do país.
fundamental na promoção da dinâmica económica,
da coesão territorial e da transição climática, no fun-
O desenvolvimento do eixo fundamental da futura
do, do desenvolvimento sustentável. O país carece
rede ferroviária está já em curso com o concurso
de investimento em todos os modos de transporte:
para o primeiro troço da Linha de Alta Velocidade
ferroviário, rodoviário, fluvial, marítimo-portuário e
(LAV) Porto – Lisboa já lançado. Na visão integrada
aeroportuário. Estas infraestruturas e serviços de-
que está no PFN, este eixo é composto pela LAV Por-
vem chegar a todo o território: às áreas metropoli-
to – Lisboa, a LAV Porto – Valença, bem como as
tanas e urbanas, com o alargamento e densificação
linhas do Norte, Oeste e Minho, ligando Lisboa, San-
das redes de transportes e a adaptação do espaço
tarém, Leiria, Coimbra, Aveiro, Braga, Viana do Caste-
urbano a uma mobilidade menos dependente do au-
lo e prolongando-se para a Galiza. A integração com
tomóvel; e aos territórios de baixa densidade, com
a rede existente permite levar os benefícios da nova
investimentos na rede rodoviária e em serviços de
linha ao interior do país. A par da modernização e ele-
transporte mais flexíveis. Neste contexto, apostamos
trificação da totalidade da rede ferroviária existente,
na promoção de interfaces que garantam a intermo-
teremos também o aumento da capacidade e cober-
dalidade dos vários modos e redes de transportes.
tura nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto
que serão investimentos até ao final desta década.
A rede ferroviária é a espinha dorsal de todo o siste-
ma de transportes, pelo que o investimento na me-
Com base nestes princípios, o PS irá:
lhoria das infraestruturas e dos serviços ferroviários
continuará a ser uma prioridade. Nos últimos oito ⟩ Aprovar o Plano Ferroviário Nacional e iniciar os
anos, o investimento na rede ferroviária cresceu, co-
projetos para as capitais de distrito que ainda não
meçando em valores inferiores a 100 milhões € por
têm ligação: Viseu, Vila Real e Bragança;
ano e superando os 500 € milhões em 2023. Um rit-
mo crescente e sustentado de investimento é funda- ⟩ Prosseguir com o lançamento das obras da Alta Ve-
mental para assegurar a capacidade de resposta do
locidade Porto–Lisboa avançar com o lançamento

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 31


PEDRO NUNO SANTOS
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da 1.ª fase da LAV Porto – Valença; 6.2.


O planeamento de longo prazo nas infraestruturas
⟩ Na Área Metropolitana de Lisboa: de transportes é essencial, desde logo, pelo tempo
que demora entre o momento da decisão e a con-
· Lançar a obra de quadruplicação da Linha de Cin-
clusão das obras, e pelos avultados investimentos
tura e da Linha do Norte até à Azambuja;
que lhes estão associados. Além da rede ferroviária
· Concretizar uma nova travessia ferroviária do Tejo pesada, os sistemas de transporte metropolitano
que permita melhorar as ligações entre as duas existentes integram o primeiro nível de estruturação
margens, remover os constrangimentos ao tráfe- da rede de transportes nas Áreas Metropolitanas de
go de mercadorias existentes na travessia pela Lisboa e Porto.
Ponte 25 de Abril, e reduzir os tempos de viagem
nas ligações de Lisboa ou do Centro e Norte do Tanto o Metropolitano de Lisboa como o Metro do
país para o Alentejo, Algarve e Espanha; Porto têm em curso obras de construção de novas
linhas ou prolongamento das existentes. No caso do
⟩ Na Área Metropolitana do Porto: Porto, foram lançados projetos para a 3ª fase do sis-
tema, servindo os municípios da Maia, Matosinhos,
· Concluir a obra de modernização da Linha do Nor-
Trofa e Gondomar.
te entre Ovar e Gaia; reintroduzir serviços de pas-
sageiros na Linha de Leixões;
Por outro lado, na Área Metropolitana de Lisboa é ne-
· prosseguir com os estudos para a futura Linha do cessário criar um planeamento de longo prazo para
Vale do Sousa; o desenvolvimento das redes de Metro em ambas as
margens do Tejo que permita dar coerência às deci-
⟩ Reforçar a oferta de comboios urbanos, tirando par- sões sobre as fases seguintes de expansão destes
tido dos investimentos mencionados e da aquisição sistemas.
de novo material circulante, nomeadamente, dos 117
comboios já adjudicados; Além de Lisboa e do Porto, existem outras cidades
no país onde estão em desenvolvimento sistemas in-
⟩ Prosseguir em todo o país a modernização da rede tegrados de transporte, com diferentes tecnologias e
ferroviária existente, mantendo o objetivo de concluir abordagens, também adequando às características
até ao final da década, a eletrificação das Linhas do do território. Aqui, destaque para o desenvolvimento
Oeste, Douro, Alentejo e Leste, e a reabertura da Li- do Sistema de Mobilidade do Mondego, que será o
nha do Douro até Barca d’Alva; primeiro destes sistemas a entrar em funcionamento
fora das duas Áreas Metropolitanas.
⟩ Promover a transferência modal das mercadorias
para a ferrovia corrigindo os desequilíbrios na taxa- O PS irá, assim, adotar as seguintes medidas:
ção da infraestrutura e aumentando a produtividade
e eficiência do transporte. ⟩Avançar com projetos e obras para expansão do
Metro de Lisboa às zonas da Estrela, Santos, Cam-
po de Ourique, Alcântara e Benfica em Lisboa, bem

32 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


como em Odivelas e Loures, e do Metro Sul do Tejo, ⟩ Mobilizar investimento na rede rodoviária que conti-
em Almada até à Costa da Caparica, ao Seixal, ao nue a corresponder às necessidades para a constru-
Barreiro e a Alcochete, ao mesmo tempo, criando um ção de novas estradas, em particular nos territórios
plano integrado para o desenvolvimento a longo pra- de menor densidade;
zo do Transporte Coletivo em Sítio Próprio da AML;
⟩ Potenciar a utilização das auto-estradas que, ape-
⟩ Concluir as obras em curso nas Linhas Rosa, Ama- sar de não haver alternativa de transportes coletivos,
rela e Rubi do Metro do Porto, e assegurar o avanço têm um tráfego reduzido e onde a cobrança de por-
dos projetos para a terceira fase das novas linhas tagem afasta ainda mais utilizadores, em particular
para Gondomar, Maia, Trofa e Matosinhos; nos territórios de baixa densidade, levando-os a per-
correr distâncias maiores - com maiores externalida-
⟩ Colocar em funcionamento o Sistema de Mobilida- des negativas - e a deixar estas infraestruturas su-
de do Mondego, concluindo as obras em curso, e es- baproveitadas;
tudar a sua futura expansão;
6.4.
⟩ Avançar para a criação de um Sistema de Mobili- A decisão sobre a localização do futuro aeroporto
dade do Cávado-Ave que estruture o quadrilátero ur- da região de Lisboa é um dos temas mais duradou-
bano de Braga, Guimarães, Barcelos e Famalicão e ros no debate político nacional, levando já mais de
se articule com a Rede Ferroviária Nacional e com o cinco décadas. O contrato de concessão dos aero-
sistema de transportes da AMP. portos nacionais coloca constrangimentos à decisão
do Estado, como já identificado no próprio relatório
6.3. da CTI. Desta forma, o Estado não deve abdicar de
Se a rede ferroviária é aquela que deve constituir a nenhum dos mecanismos de que dispõe para asse-
espinha dorsal do sistema de transportes do país, a gurar que tem a margem para decidir de acordo com
rede rodoviária é aquela que assegura acessibilidade o interesse nacional e garantir a execução, não só
a todos os pontos do território, e deve fazê-lo com do novo aeroporto de Lisboa, como a continuação do
qualidade e segurança. Neste contexto, estamos desenvolvimento das restantes infraestruturas aero-
conscientes da necessidade da descarbonização do portuárias.
transporte rodoviário e na aposta na mobilidade sem
emissões. Assim, uma vez concluído o trabalho da Comissão
Técnica Independente (CTI) que servirá de base ao
Portugal tem uma das melhores redes de estradas processo de decisão, o PS tomará rapidamente uma
da Europa e foi possível mobilizar verbas do PRR decisão sobre a localização do futuro aeroporto de
para obras prioritárias e lançar o primeiro concurso Lisboa.
para a requalificação do IP3.
6.5.
Contudo, subsistem territórios sem acessos de qua- O peso do setor dos transportes para as metas de
lidade adequada pelo que, terminado o PRR, será ne- descarbonização é uma orientação fundamental para
cessário: as políticas nesta área. Seja no transporte de passa-

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geiros ou de mercadorias, seja em deslocações lon- ⟩ Aumentar o incentivo à utilização de veículos de


gas ou curtas, há duas linhas orientadoras comuns: baixas emissões, regulando as comissões no carre-
a transferência modal para modos mais sustentáveis gamento de veículos elétricos, discriminando positi-
e a transição para tecnologias sem emissões. O ob- vamente, com descontos, os veículos de frotas co-
jetivo é que cada vez mais deslocações abandonem merciais, logísticas, táxis ou TVDE;
o transporte individual motorizado, beneficiando o
transporte coletivo ou a mobilidade ativa, seja a pé ⟩Induzir a descarbonização das cidades, fomentan-
ou de bicicleta. Sabemos que o transporte motoriza- do a criação de Zonas de Emissões Zero e promo-
do não irá desaparecer, mas este deverá migrar gra- vendo a descarbonização da logística urbana e do
dualmente para tecnologias sem emissões, sendo setor do táxi;
necessário continuar a criar as condições para per-
mitir essa transição. ⟩ Promover a economia da partilha na mobilidade, de
forma a facilitar a regulamentação dessas platafor-
Desta forma, o PS propõe: mas e incentivar a sua utilização;

⟩ Devolver 50% do IVA dos veículos elétricos ou híbri- ⟩ Incentivar o abate de veículos mais poluentes, com-
dos plug-in até 40.000 € em sede de IRS, à semelhan- plementando o programa de incentivo ao abate de
ça do que acontece para as empresas; veículos ligeiro mais poluentes (veículos com mais
de 13 anos) majorando as situações: depósito em
⟩ Facilitar o acesso à rede de carregamento de veí- “Cartão Mobilidade” para aquisição de serviços de
culos elétricos, alargando a sua cobertura, tornando transportes públicos ou mobilidade partilhada; o ve-
as tarifas mais transparentes, regulamentando a in- ículo a adquirir seja de emissões nulas; o veículo a
formação obrigatória a disponibilizar nos postos de adquirir seja de baixas emissões;
carregamento;
⟩Incentivar a reconversão de veículos a combustão
⟩ Avaliar o modelo de operação dos postos de carre- para veículos de emissões nulas:
gamento de veículos elétricos, incluindo o modelo de
· criar um apoio anual à inovação no cluster auto-
custos e tarifas e, em função das conclusões, promo-
móvel, incentivando as PME focadas em contribuir
ver a sua revisão até final de 2025;
para a descarbonização do setor automóvel;
⟩ Promover a implementação de uma rede pública · criar um incentivo anual à aquisição de serviços
nacional de carregamento de veículos elétricos, a de reconversão de veículos a combustão para ve-
instalar junto a equipamentos públicos e ao longo da ículos de emissões nulas com idade até 20 anos.
rede viária, em especial, em auto-estradas e itinerá-
rios principais; ⟩ Consolidar o programa de incentivo ao transporte
público de passageiros, o Incentiva +TP, asseguran-
⟩ Eliminar barreiras físicas e arquitetónicas para as do oferta de transporte coletivo, em detrimento do
pessoas de mobilidade condicionada nos transpor- transporte individual, assim como os serviços de
tes públicos; transporte flexível, em particular nos territórios de

34 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


baixa densidade, onde o mesmo terá ganhos ao nível ⟩Avaliar a criação de um mecanismo de coordena-
da acessibilidade e eficiência; ção e de cooperação estratégica dos portos, sem
prejuízo das valências e das vantagens de cada um,
⟩ Apoiar a integração tarifária, a digitalização e a mas promovendo sinergias e o aumento da atividade
smart mobility, através do projeto 1.bilhete.pt, sim- económica do país;
plificando os tarifários, promovendo projetos inova-
dores e a criação do “Cartão Mobilidade” que incenti- ⟩ Alargar a Janela Única Logística a todos os portos
vem as opções mais sustentáveis; e cadeia logística;

⟩Planear e concretizar uma rede de carregamento/ ⟩ Descarbonizar os portos de cruzeiros de passagei-


abastecimento de hidrogénio nas redes transeuro- ros, eletrificando os portos para atracagem de cruzei-
peias e em terminais logísticos; ros sem necessidade de consumo de combustíveis;

⟩ Implementar a Estratégia Nacional de Mobilidade ⟩ Avaliar as condições de trabalho e de remuneração


Ativa, estimulando a criação de redes pedonais e ci- dos trabalhadores, sobretudo nas carreiras com tare-
cláveis, ao nível local, dinamizando uma rede de cida- fas física e psicologicamente mais exigentes.
des amigas da bicicleta, mas também, ao nível nacio-
nal e regional, desenvolvendo uma rede nacional de 6.7.
infraestruturas, de modo a transformar Portugal num Os governos do PS fizeram importantes avanços na
destino mundial para rotas pedestres e cicláveis; atribuição das competências em matérias de trans-
portes aos municípios, com a possibilidade de de-
⟩ Promover a intermodalidade da bicicleta com trans- legação nas Comunidades Intermunicipais (CIM).
portes públicos, construindo estacionamento de lon- Contudo, este processo tem avançado com ritmos
ga duração nos interfaces de transportes. diferentes no país, muito em virtude das característi-
cas e exigências próprias de cada território.
6.6.
O sistema portuário é um ativo estratégico do país, Existem territórios onde, por um lado, a escala muni-
não só como porta de saída para as nossas exporta- cipal ou de CIM não é a escala adequada para planear
ções, mas também como polos de atividade econó- uma oferta de transportes e, por outro, onde as fron-
mica em si mesmos. A posição de Portugal permi- teiras administrativas não são adequadas aos movi-
te-nos ambicionar o nosso sistema portuário como mentos existentes. Um exemplo é o Quadrilátero do
porta de acesso ao mercado internacional. Para isso, Minho, nas cidades de Braga, Guimarães, Barcelos e
é determinante a melhoria das ligações ferroviárias Famalicão, que abrange duas CIM e movimentos re-
dos portos às principais fronteiras. Dada a centralida- levantes para a Área Metropolitana do Porto.
de do setor portuário português no contexto ibérico e
europeu, consideramos que a perspetiva de colocar A criação do PART foi uma das medidas mais impor-
os diferentes portos nacionais em concorrência en- tantes das últimas décadas para facilitar o acesso
tre si é contraproducente aos interesses do país. aos transportes públicos. Os seus benefícios - agora
“Incentiva +TP” - continuam assimétricos nas dife-
Por estas razões, o PS propõe: rentes regiões. Devem, por isso, ser otimizados, justi-

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 35


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ficando-se uma revisão deste programa, numa refor- 6.8.


ma do Sistema de Transportes e Mobilidade do país. O papel do setor público na organização do sistema
de transportes é central. A forma como o setor se
Para o efeito, o PS irá: encontra organizado tem algumas insuficiências que
é necessário colmatar, concentrando competências
⟩ Fazer uma reforma do Sistema de Transportes e em organismos que estejam dotados de recursos
Mobilidade do país, clarificando as competências para gerir e planear eficientemente, assegurando a
das diferentes Autoridades de Transporte, com ins- defesa do interesse público e a resposta às necessi-
trumentos de Planeamento Estratégico para a cons- dades de descarbonização do setor. Os últimos oito
trução de um território com acessibilidade e mobili- anos foram decisivos para o setor empresarial dos
dade sustentável; transportes, e um dos mais recentes passos foi o sa-
neamento da dívida histórica da CP. O compromisso
⟩ Desenvolver a Conta Pública do Sistema de Deslo- é continuar a valorizar os organismos, as empresas
cações à escala regional (NUT II) e subregional (NUT públicas, as condições de trabalho e os trabalhado-
III); res de um setor essencial à transição energética e
climática que o país e o mundo estão a fazer.
⟩ Atribuir às futuras Regiões Administrativas com-
petências e meios para o planeamento e gestão do Assim, o PS propõe:
transporte público à escala regional, permitindo solu-
ções adaptadas à realidade de cada território; ⟩ Reforçar a gestão autónoma, eficiente e ágil das
empresas públicas do setor da mobilidade e dos
⟩ Ponderar a criação de Organismos Locais de Trans- transportes para melhorar os serviços públicos con-
porte com um âmbito territorial determinado em tratualizados com o Estado, dando flexibilidade para
função dos movimentos de pessoas e competência a operação em segmentos onde pode ser gerado va-
para fazer a gestão dos transportes adaptados às di- lor comercial;
ferentes realidades territoriais;
⟩ A CP deverá prosseguir e adaptar o seu Plano Estra-
⟩ Criar em todas as regiões do país passes de trans- tégico 2030 preparando a operação de serviços fer-
portes, à semelhança do que já existe nas Áreas Me- roviários de Alta Velocidade e de turismo ferroviário;
tropolitanas de Lisboa e do Porto;
⟩ Prosseguir com a política industrial para o setor fer-
⟩Tornar os sistemas de bilhética interoperáveis, per- roviário, abarcando toda a cadeia de valor, desde a
mitindo juntar títulos de transporte de diferentes re- produção, à manutenção e reabilitação de material
giões do país; circulante, valorizando o cluster da ferrovia em Por-
tugal;
⟩ Alargar progressivamente a cobertura do Passe
Ferroviário Nacional a toda a rede ferroviária através ⟩ Dotar a CP de uma rede de oficinas modernas que
do alargamento da cobertura de serviços Regionais. lhe permitam dar resposta às necessidades de ma-
nutenção próprias e continuar a desempenhar o pa-

36 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


pel central de concentração de capacidades e com- 7. Energia: mais renováveis,
petências tecnológicas neste setor;
menores custos e maior
⟩ Criar uma nova oficina de material circulante da CP competitividade
na área metropolitana de Lisboa até 2030, reforçan-
do o seu nível de serviço para acompanhar o aumen- 7.1.
to de comboios em operação e as adequadas condi- Portugal fez um caminho de sucesso nas energias
ções de trabalho dos trabalhadores; renováveis, o que é absolutamente essencial para
combater as alterações climáticas e alcançar uma
⟩ Prever um centro de formação e requalificação pro- transição justa para uma economia descarbonizada.
fissional em parceria com o Centro de Competências Com os resultados obtidos, temos de consolidar a
Ferroviário; ambição e uma vantagem internacional de termos
mais recursos que permitem a produção de ener-
⟩ Designar a função de Conselheiro para Utentes com gia renovável, contribuindo para a descarbonização
Necessidades Especiais dedicada a melhorar a aces- da economia com menores custos para as famílias
sibilidade aos transportes públicos nos operadores e e para as empresas, concretizando um plano de de-
gestores de infraestruturas de transportes, à seme- senvolvimento que nos projeta num modelo econó-
lhança do que já acontece na CP; mico mais competitivo e produtivo.

⟩Criar condições para a justa valorização e melhoria A aposta nas energias sustentáveis também permite
das condições dos trabalhadores do setor dos trans- ao nosso país estar preparado para eventuais crises
portes. e permite assegurar a nossa soberania e segurança
energéticas com base nos nossos recursos.
6.9.
No setor das comunicações, o PS irá: Assim, continuaremos a apostar nos investimentos
estruturantes que fizeram de Portugal um país inter-
⟩ Garantir a execução do programa para cobertura de nacionalmente reconhecido pelas renováveis. Temos
rede de comunicação de capacidade muito elevada a um Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) para
todas as regiões do país, eliminando as “zonas bran- concretizar e precisamos de colocar todo o nosso
cas” desprovidas de rede; potencial de energias renováveis ao serviço da luta
contra as alterações climáticas e a competitividade
⟩ Avaliar o cumprimento das obrigações de serviço económica sustentável, sem comprometer o equilí-
público e da qualidade do serviço postal prestado e brio ecológico e a coesão territorial. Deste modo, po-
ponderar o reforço dessas obrigações para respon- deremos assegurar custos de contexto mais baixos
der às necessidades da população e das economias face a outras economias de produção mais intensa
locais, em particular nos territórios de baixa densi- em carbono.
dade.
Desta forma, o PS irá:

⟩ Rever o PNEC 2030 e implementar a Lei de Bases

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do Clima, nomeadamente através da definição da de- dos, assim como trabalhadores de carreiras técnicas
finição da Estratégia Industrial Verde, a elaboração especializadas contribuindo para a fixação demográ-
dos planos setoriais de mitigação e de adaptação e fica de pessoas com qualificações fundamentais à
dos planos regionais e municipais de ação climática, transição climática e energética do país;
e a elaboração do inventário nacional de emissões
de gases de efeito de estufa e do relatório de avalia- ⟩ Continuar a aposta nas energias renováveis, con-
ção inicial de impacto climático; tribuindo para a Portugal estar na liderança europeia
na revolução das tecnologias limpas, nomeadamen-
⟩ Reduzir a intensidade energética em 2% até 2030, te ao nível da energia solar (fotovoltaica e térmica);
meta que é viável através da implementação de me- energia eólica; energias renováveis no mar; biomas-
didas de incentivo adequadas, com monitorização sa; energia geotérmica; e gases sustentáveis, no-
do consumo de energia final por unidade de VAB a meadamente biometano e hidrogénio. É essencial
preços constantes; maximizar o potencial da rede existente e acelerar a
expansão da capacidade renovável e do armazena-
⟩ Mobilizar, até 2030, investimento privado de €60 mento de eletricidade através da bombagem, da hi-
mil milhões: €40 mil milhões na energia offshore, €5 bridização, do recurso a baterias e do reequipamento
mil milhões em energia solar, até €9 mil milhões em das centrais existentes;
hidrogénio, €4,5 mil milhões em energia eólica e o
restante em redes de transporte de energia; ⟩ Conciliar essa aposta com a necessidade de ate-
nuar os seus impactes ambientais e sociais no terri-
⟩ Concretizar o potencial de energias renováveis oce- tório, assegurando a coesão ambiental, social e ter-
ânicas, continuando o trabalho em curso do mercado ritorial, através da definição de áreas de aceleração
eólico offshore, ambicionando atingir os 10 Gw de de energias renováveis e da implementação de um
energia eólica offshore em Portugal até 2030; mecanismo permanente de compensação aos muni-
cípios pela instalação de centros electroprodutores
⟩ Desenvolver o cluster industrial para o setor da renováveis;
energia eólica offshore, bem como toda a sua cadeia
de valor, por forma a que estes tenham a capacidade ⟩ Criar hubs regionais multienergéticos que permi-
de resposta necessária ao aumento da produção; tam a descarbonização de acordo com o encontro
da oferta e procura locais, gerando clusters indus-
⟩ Estabelecer parcerias internacionais na área do co- triais de produção, armazenamento e consumo;
nhecimento para a criação de valor, desenvolvendo
indústrias tecnológicas de fabrico, gestão e monito- ⟩ Simplificar os procedimentos administrativos asso-
rização de offshore flutuante; ciados à produção de energia;

⟩Criar cerca de 200 mil postos de trabalho - diretos ⟩ Promover uma indústria nacional descarbonizada
e indiretos - com os investimentos no potencial de competitiva, nomeadamente através de mecanis-
energias renováveis até 2030; mos de apoio ao fornecimento de eletricidade verde
à indústria;
⟩ Captar e reter trabalhadores altamente qualifica-

38 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


⟩ Criar incentivos para aproveitamento de energia so- essenciais para a transição energética, nomeada-
lar em coberturas de parques de estacionamento ou mente através da prospeção e pesquisa de lítio.
outros edifícios em ambiente urbano;
⟩ Ao nível do lítio, a estratégia promoverá a inova-
⟩ Criar a área de AgroEnergia: desenvolvimento do ção e o desenvolvimento de uma cadeia de valor
autoconsumo coletivo na área da agricultura, promo- das baterias em Portugal, apoiando os projetos que
vendo projetos colaborativos e que permitam a pro- existem em Portugal para fixar novas fábricas de ba-
dutores agrícolas de menor dimensão ter acesso a terias e uma nova refinaria de lítio em Setúbal, garan-
energia a um preço mais competitivo; tindo as refinarias instaladas em Portugal tem opção
de compra do lítio explorado em Portugal e visando
⟩ Reforçar as interligações internacionais através compensar os territórios com a criação do Fundo
da construção de um novo gasoduto vocacionado dos Recursos Geológicos. Também se propõe tornar
para os gases renováveis entre Portugal, Espanha e Portugal um centro de competência para a reutiliza-
o resto da Europa, e da interconexão elétrica entre ção do lítio, posicionando-se na fase de reciclagem
Beariz e Fontefría, em Espanha, e a zona do Porto, das baterias.
passando pelas subestações de Ponte de Lima e de
Vila Nova de Famalicão; 7.2.
Também o combate à pobreza energética é uma pre-
⟩ Promover os gases renováveis, nomeadamente ocupação que acompanha o desenho destas políti-
através do lançamento de leilões de compra centra- cas públicas de transição justa. Aqui, destacamos a
lizada de biometano e hidrogénio verde, bem como importância das medidas de atenuação dos custos
da regulação da injeção de hidrogénio verde na rede da energia consumida e da eficiência energética, di-
de gás para garantir grandes investimentos num mo- rigidas, em primeiro lugar, às famílias, como forma
mento de grande competição no mercado interna- de melhorar a transparência do setor, as condições
cional, apostando em projetos dinamizadores de ex- de habitabilidade, bem como de contribuir para o au-
portação e garantindo que a produção de hidrogénio mento de rendimento disponível dos agregados.
verde é sustentável na utilização de água;
Desta forma, um futuro governo do PS irá:
⟩ Lançar uma Estratégia Nacional de Armazenamen-
to de Energia até 2026, acelerando o investimento na ⟩ Aplicar o IVA de 6% aos primeiros 200 kWh de ener-
capacidade de armazenamento do país, que poderá gia elétrica consumida em cada mês (duplicando os
ser feita através de baterias associadas a parques atuais 100 kWh), ou de 300 kWh mensais, no caso
eólicos e fotovoltaicos; das famílias numerosas (duplicando os atuais 150
kWh). Esta descida da tributação contribuirá para
⟩ Estabelecer uma estratégia de desenvolvimen- combater a pobreza energética de muitas famílias;
to sustentável do setor mineiro e da exploração de
massas minerais, com respeito pela natureza e as ⟩ Avaliar o aumento da comparticipação do Vale
comunidades, assegurando retorno económico para Eficiência e acelerar o investimento na reabilitação
o país, um uso eficiente dos recursos naturais e um energética de edifícios e de condomínios;
planeamento do abastecimento de matérias-primas

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 39


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⟩Expandir a rede do Espaço Cidadão Energia a todo renováveis;


o país, em colaboração com as autarquias e/ou as
agências locais e regionais de energia; ⟩ Promover a inércia térmica no desempenho ener-
gético de edifícios, dando valor a materiais de
⟩ Desenvolver uma estratégia de execução rápida da construção e soluções passivas na reabilitação e
energia fotovoltaica de forma mais descentralizada e reconstrução, que minimizem as necessidades de
democrática, através da possibilidade de instalação aquecimento ou arrefecimento;
de painéis fotovoltaicos por inquilinos e da aposta
na instalação de painéis em varandas ligados a uma ⟩ Reforçar os programas de apoio à melhoria da efi-
tomada da casa; ciência energética das habitações, destinados a pro-
prietários e condomínios, garantindo o financiamen-
⟩Democratizar a produção elétrica através de linhas to adequado à realidade económica das famílias, em
de crédito à instalação e garantia de venda a um pre- particular as elegíveis para o Vale Eficiência;
ço razoável através de um agregador de último re-
curso; ⟩ Desenhar um mecanismo permanente, após con-
clusão do PRR em 2026, de apoio à melhoria da efici-
⟩Conceder acesso automático às tarifas sociais de ência energética das habitações.
gás e de água para os beneficiários de tarifa social
de eletricidade.
8. Transição Digital
7.3.
Sem esquecer a pobreza energética, a eficiência 8.1.
também tem de chegar às famílias portuguesas, às As competências digitais são essenciais para o exer-
empresas e serviços públicos, tanto na administra- cício pleno da cidadania, atuando como facilitador
ção central como local. da empregabilidade. Uma população ativa mais qua-
lificada dá lugar a novas formas de trabalho, a novos
Desta forma, o PS propõe: mercados e produtos inovadores e, por conseguinte,
atividades económicas mais robustas e competiti-
⟩ Adotar uma Estratégia para a disseminação das vas.
Comunidades de Energias Renováveis (CER) que
promova a produção descentralizada de eletricidade As competências digitais são ainda da maior impor-
a partir de fontes renováveis de energia e envolva a tância para o desenvolvimento de um pensamento
administração pública e as autarquias; crítico e multifacetado, e para promover a inclusão,
a autonomia, o bem-estar e a justiça social, o que
⟩ Apoiar a eficiência energética e hídrica e a produ-
implica uma aposta digital forte na educação, na li-
ção descentralizada pelos municípios, alargando o teracia digital, na literacia da informação e na promo-
âmbito dos apoios do Fundo Ambiental aos municí- ção do desenvolvimento das competências digitais
pios para facilitar a implementação de medidas de essenciais ao exercício pleno da cidadania.
melhoria dos desempenhos energético e hídrico dos
edifícios, equipamentos municipais e a instalação de Em linha com os objetivos da Década Digital da Co-

40 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


missão Europeia, o investimento de política pública a formação e a especialização profissional em tec-
integrada nas competências digitais, passará por: nologias e aplicações digitais, respondendo à cres-
cente procura do mercado de trabalho, e à promoção
⟩ Consolidar e reforçar a Iniciativa INCoDe.2030 da qualificação do emprego para uma economia de
como entidade coordenadora dos programas de ca- maior valor acrescentado, que apoie a transforma-
pacitação e inclusão digital; ção digital das empresas e se possa orientar para
mercados externos, garantindo a atração e retenção
⟩ Criar um referencial de requisitos mínimos para de talento;
os programas de capacitação e inclusão digital, de
modo a estabelecer sinergias entre iniciativas públi- ⟩ Reforçar a atividade do Observatório das Compe-
cas e privadas implementadas a nível local, regional tências Digitais, no sentido de colaborar na definição
ou nacional; e implementação de novas medidas de política públi-
ca nesta área;
⟩ Continuar a investir em iniciativas dedicadas aos
vários públicos-alvo específicos – desde logo jovens, ⟩ Prosseguir, no que respeita às competências, a con-
pessoas idosas, mulheres, desempregados –, bem cretização das Estratégia Digital 2030 e às Estraté-
como iniciativas que respondam às necessidades gias Nacionais para os Dados, Inteligência Artificial
identificadas pelo Mapa Nacional de Iniciativas de e Web 3.
Competências Digitais;
8.2.
⟩ Dinamizar a plataforma “O Ponto Digital – Digital No que respeita à produtividade e à competitivida-
Skills and Jobs”, um repositório nacional de ações de, a resiliência do tecido empresarial português tem
de formação, ofertas de emprego, fontes de finan- sido particularmente notada nesta nova revolução
ciamento, estudos, eventos e ferramentas na área do industrial que vivemos - com empresas tradicionais
digital; a reinventarem-se e com novas empresas a nascer.
Esta revolução industrial é, antes de mais, uma revo-
⟩ Acelerar a transformação digital da educação em lução digital com impacto nas estruturas económi-
todos os níveis de ensino; cas ou sociais.

⟩ Reforçar e promover o número de diplomados e gra- Portugal dispõe não só de grandes empresas que in-
duados do ensino superior em cursos classificados ternacionalmente têm impulsionado os sectores da
nas áreas das Ciências, Engenharias, Tecnologias e energia, da saúde, da indústria têxtil ou automóvel,
Matemáticas; mas também de um dinâmico tecido de PME com
potencial para beneficiar das oportunidades que se
⟩ Reforçar a aposta na formação profissional, quali- perspetivam no horizonte.
ficação e requalificação do mercado de trabalho e a
oferta formativa especializada para trabalhadores do O novo pacote de medidas, em alinhamento com as
setor público e privado; oportunidades já em desenvolvimento, continuará a
apoiar o tecido empresarial na sua modernização,
⟩ Estimular a empregabilidade dos jovens mediante especialização e competitividade.

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 41


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PARTIDO SOCIALISTA

Assim, o governo do PS deverá: e soluções digitais no tecido empresarial português;

⟩ Investir no ecossistema de inovação e empreende- ⟩ Privilegiar adoção de modelos de certificação no


dorismo, explorando o quadro legal favorável e os digital (como selos de qualidade em cibersegurança,
benefícios previstos para start-ups, scale-ups, acele- sustentabilidade, usabilidade e privacidade) por par-
radoras e incubadoras, criando novos estímulos ao te de entidades públicas e privadas.
empreendedorismo e ao fortalecimento de uma rede
de apoio às start-ups em território nacional; 8.3. Inovação
a incessante evolução das tecnologias disruptivas,
⟩ Continuar a apoiar a Start-up Portugal como motor como Inteligência Artificial (IA), análise de Dados,
de dinamização do empreendedorismo nacional e o Web 3 e computação avançada, está a transformar
European Start-up Nations Alliance como entidade o cenário tecnológico contemporâneo. Estas inova-
com dimensão e impacto europeu, sediada em Por- ções não redefinem apenas a forma como interagi-
tugal; mos com o mundo digital, mas também oferecem
novas oportunidades para impulsionar a eficiência, a
⟩ Promover ações de sensibilização e mentoria das criatividade e a resolução de problemas em diversos
PME para o digital e para otimização do acesso ao setores.
financiamento nacional e comunitário;
A compreensão e integração estratégica da IA, dos
⟩ Apostar em segmentos da cadeia de valor global de dados, dos princípios da Web 3 e das capacidades
maior valor acrescentado e de forte cariz exportador da computação avançada, vai permitir desbloquear
e alicerçados no digital como forma de aumentar a potenciais revolucionários e inaugurar uma era em
capacidade de internacionalização da nossa econo- que a tecnologia molda o futuro. capacidade de cata-
mia e a atração de investimento estrangeiro; lisar essas tecnologias emergentes tornou-se crucial
para empresas e organizações que procuram não
⟩ Promover um conjunto variado de incentivos ao di- apenas permanecer relevantes e competitivas, mas
gital e sustentável e criar mecanismos de identifica- também liderar a vanguarda da inovação.
ção e monitorização contínua do financiamento para
maximizar a aplicação dos fundos e o seu retorno na Para atingir esse objetivo, o PS irá:
economia com co-investimento, para alavancar pro-
jetos de maior retorno, num modelo de leilão; ⟩ Fazer o acompanhamento e antecipar tendências
e impactos de tecnologias digitais emergentes, pro-
⟩ Promover a colaboração empresarial, explorando a pondo a atualização das estratégias e planos de
participação em projetos multi-entidades, a colabo- ação relevantes;
ração empresa-universidade e a partilha de melhores
práticas ao nível nacional e internacional; ⟩ Impulsionar projetos emblemáticos com recurso
a tecnologias disruptivas com implementação nos
⟩ Adotar mecanismos de financiamento de partilha diversos setores: Administração Pública; ambiente;
de risco para incorporar investigação, inovação, im- educação; indústria; mar; mobilidade; saúde entre
plementação e escalabilidade de novas tecnologias outros;

42 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


⟩ Alavancar a capacidade agregadora do Estado, en- vidas é a presença de sistemas científicos robustos.
quanto depositário de dados, desenvolvendo data A atividade científica é a base da produção de co-
lakes que permitam a testagem, escalabilidade e pro- nhecimento e da qualidade da formação superior, da
totipagem rápida de projetos de inovação; possibilidade de transferência de conhecimento e da
disponibilidade de recursos humanos que o assegu-
⟩Criar mecanismos de co-investimento privado para rem, da capacidade da economia de absorver esse
permitir um financiamento mais competitivo da ino- conhecimento e de o transformar em valor acrescen-
vação para que uma percentagem cada vez mais tado. A formação avançada de recursos humanos, a
alargada do volume de negócios em Portugal seja produção e transferência de conhecimento e os me-
gerado por IA, com recurso a tecnologias do tipo canismos de inovação económica têm, por isso, que
Web 3. ser compreendidas como partes da mesma cadeia
de valor e, assim, pensadas como políticas públicas
⟩Promover a experimentação de tecnologias emer- integradas.
gentes e prototipagem de soluções digitais inova-
doras e ciberseguras, através de mecanismos como Desta integração resulta o princípio orientador de
Agendas Mobilizadoras, polos de inovação digitais e fazer refletir nas opções políticas a relação virtuosa
Zonas Livres Tecnológicas. entre a política para o ensino superior, a política cien-
tífica e a política económica e de inovação. Esta rela-
ção consubstancia-se em três objetivos que devem
9. Ensino superior, ciência e estar coerentemente articulados:

tecnologia ⟩ Reforçar o investimento no ensino superior, procu-


rando alargar a base social de participação no ensi-
O Ensino Superior e a Ciência têm sido pilares essen- no superior, para uma sociedade baseada no conhe-
ciais da qualificação dos portugueses, do desenvol- cimento, de pelo menos 60% dos jovens com 20 anos
vimento e da modernização da economia e da so- a frequentar este nível de ensino em 2030 e garantir
ciedade. Quando em 1995, num Governo do Partido 55% de licenciados na faixa etária dos 30-34 anos;
Socialista, é criado pela primeira vez um Ministério
da Ciência, a despesa em Investigação e Desenvol- ⟩ Reforçar o investimento em ciência, procurando al-
vimento (I&D) representava aproximadamente 0,52% cançar o objetivo de atingir 3% do PIB em despesa
do Produto Interno Bruto (PIB) e a população com total em I&D em 2030;
ensino superior era inferior a 6%.
⟩ Reforçar a capacidade de inovação da economia,
Volvidos cerca de 15 anos, em 2011 inicia-se um in- que resulte no aumento do pedido de concessão de
verno científico que, nos quatro anos seguintes, faz patentes, sobretudo pelo tecido empresarial e indus-
decrescer a despesa em I&D, invertendo um ciclo trial.
sustentado de crescimento de quase duas décadas.
A ciência e o ensino superior são setores centrais Não se inova sem aplicação de conhecimento, não
para as políticas públicas. Uma das características se aplica conhecimento que não se produz, não se
transversais aos países e economias mais desenvol- produz conhecimento sem recursos humanos quali-

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 43


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

ficados e não há recursos humanos altamente qua- Investigação no Ensino Superior Privado;
lificados sem formação superior. O desenvolvimento
científico e a qualificação dos recursos humanos são ⟩Consolidar a política de desacoplamento dos pro-
indispensáveis à modernização e transformação do cessos de recrutamento e progressão, aprovado em
padrão de especialização da economia e à sua co- 2021, garantindo previsibilidade aos mecanismos
esão social e territorial. Na próxima legislatura, as de progressão na carreira, baseados em regimes de
políticas públicas nas áreas sectoriais da ciência e avaliação de desempenho da carreira docente e da
do ensino superior devem prosseguir um quadro de carreira de investigação.
forte previsibilidade, de reforço do financiamento e
de aceleração de investimentos. 9.2.
No que toca ao alargamento a novos públicos,
9.1. o PS irá:
Assim, quanto à estabilidade e reforço da autonomia
do sistema de ensino superior, o PS propõe: ⟩ Reforçar o número de estudantes a frequentar o en-
sino superior, com uma aposta clara na formação ao
⟩ Celebrar um contrato de legislatura para o quadrié- longo da vida, através da diversificação pedagógica
nio 2024-28 que reforce a autonomia financeira das das ofertas formativas e da inovação curricular e pe-
Instituições de Ensino Superior, assegurando um mo- dagógica;
delo de financiamento de perspetiva plurianual que
garanta previsibilidade e sustentabilidade às opções ⟩ Criar uma rede de centros de excelência em ino-
de cada instituição; vação pedagógico, fomentado por um programa de
financiamento de programas de modernização peda-
⟩ Promover a contratualização por objetivos, já ini- gógica e curricular no ensino superior, com especial
ciada no quadro dos Programas Impulso Jovens foco em áreas consideradas muito relevantes para o
STEAM e Impulso Adultos do PRR, e incentivando desenvolvimento económico e social;
sinergias entre atividades de educação, investigação
e inovação; ⟩ Estimular a diversificação do acesso ao ensino su-
perior, tendo em conta os diferentes perfis dos can-
⟩Rever o Regime Jurídico das Instituições de Ensino didatos, e aprofundando em particular, num quadro
Superior, visando um equilíbrio entre a gestão demo- de autonomia das diferentes instituições, o acesso
crática das IES e a eficácia dos modelos de gestão; dos estudantes oriundos de trajetórias profissionais
de nível secundário, de ofertas profissionais de pós-
⟩ Rever os Estatutos das Carreiras Docentes e con- -secundário, incluindo os cursos técnicos superiores
cluir a revisão do Estatuto da Carreira de Investiga- profissionais (TESP) e os cursos de especialização
ção Científica, promovendo uma boa articulação en- tecnológica (CET), e de adultos, de modo a reforçar a
tre as funções de docência e de investigação, com equidade e a justiça social no acesso e a aposta na
flexibilidade de perfis e possibilidade de transição recuperação de gerações em que as oportunidades
entre estes ao longo da vida; de acesso eram menores;

⟩ Criar o Regime Jurídico do Pessoal Docente e de ⟩ Continuar a promover, em articulação com as insti-

44 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


tuições do ensino superior, o aumento da frequência perior, que facilitem a conclusão dos ciclos de estu-
de alunos com deficiência, mediante apoios sociais, do e mitiguem situações de abandono, reforçando
a melhoria das respetivas condições de acolhimen- o número de bolsas de estudo e complementos até
to e o devido apetrechamento físico e tecnológico, 100 mil bolseiros;
designadamente através da criação de estruturas de
apoio a estes estudantes; ⟩Reforçar o Fundo de Ação Social, procurando, atin-
gir no final da legislatura, o valor de 150 milhões €
⟩ Estimular as ofertas internacionais e a entrada de oriundos das receitas de impostos (a que acresce o
estudantes não nacionais, com a possibilidade de valor dos fundos europeus);
trabalhar legalmente em Portugal, incentivando a
frequência do ensino superior em Portugal nomea- ⟩Reforçar os mecanismos de ação social, criando a
damente para alunos oriundos dos países de língua Garantia Superior, um mecanismo que assegure con-
oficial portuguesa; dições de frequência do Ensino Superior e de conclu-
são dos ciclos de estudos para estudantes carencia-
⟩Fomentar, através dos contratos de legislatura com dos;
as Instituições de Ensino Superior, a criação de cur-
sos e oferta formativa modular, que permita uma ⟩ Continuar a simplificação dos processos de atribui-
maior flexibilidade à formação da população adulta ção e renovação de bolsas, garantindo o seu rápido
e à formação ao longo da vida, promovendo o alarga- pagamento no início dos anos letivos;
mento de oferta formativa em horário pós-laboral, de
ensino à distância e de modelos híbridos, incluindo a ⟩Revisitar o modelo de comparticipação nos custos
concretização e consolidação do Programa Impulso por parte dos estudantes, incluindo a comparticipa-
Adultos no quadro da implementação do PRR; ção nos custos nos ciclos de mestrado e doutora-
mento;
⟩ Atualizar o enquadramento legal deste tipo de ofer-
ta formativa, favorecendo percursos de aprendiza- ⟩ Regular o regime de taxas de emolumentos, eli-
gem personalizados e adaptados às necessidades minando pelo menos os referentes à conclusão de
específicas de formação dos estudantes e a flexibili- graus de mestrado e doutoramento;
dade da estrutura curricular;
⟩ Continuar o reforço das condições de alojamento
⟩Garantir mecanismos de monitorização do percur- estudantil, garantindo a plena execução do Plano Na-
so dos diplomados no mercado de trabalho, que per- cional para o Alojamento no Ensino Superior, concre-
mite avaliar a implementação das políticas de alarga- tizando-se o maior investimento de sempre em aloja-
mento da base de recrutamento no ensino superior. mento estudantil, procurando atingir em 2028 as 30
mil camas em oferta pública de alojamento;
9.3.
Em relação às condições de acesso, frequência e ⟩Alargar o apoio ao alojamento estudantil para estu-
conclusão dos ciclos de estudo, o PS irá: dantes deslocados;

⟩ Reforçar as condições de frequência do ensino su- ⟩ Reforçar a ação social para os territórios de baixa

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 45


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

densidade, através das bolsas +Superior, apoiando o Laboratórios de Estado, Laboratórios Colaborativos,
transporte semanal pendular dos estudantes deslo- Laboratórios Associados e Unidades de Investigação
cados, criando condições equiparadas aos passes e entidades de interface, fomentando colaborações e
sociais das áreas metropolitanas. sinergias;

9.4. ⟩ Propor às unidades de I&D com classificação de


Nas políticas de ciência, intrinsecamente relaciona- “Muito Bom” ou “Excelente”, um modelo de avalia-
das no sistema nacional com o sistema de ensino ção que garanta a estabilidade dos financiamentos
superior, importa reforçar o compromisso de conver- de base se cumpridos os objetivos contratualizados,
gência com os países da OCDE em Ciência, Tecno- evitando ciclos de financiamento dependentes de
logia e Inovação, procurando atingir 3% do PIB em cada um dos modelos quinquenais de avaliação;
2030, numa estrutura de 1/3 de investimento público
e 2/3 de investimento privado. ⟩ Reforçar os orçamentos para os concursos dos
projetos de investigação e desenvolvimento, aumen-
No que diz respeito à necessária consolidação do tando as taxas de aceitação de projetos para níveis
Sistema Científico e Tecnológico Nacional (SCTN), O aceites internacionalmente e regularizando os fluxos
PS propõe: de pagamentos;

⟩ Aprovar, em articulação com as instituições de en- ⟩ Promover um modelo de avaliação dos projetos,
sino superior e entidades do sistema científico e tec- que elimine relatórios intercalares em ciclos inferio-
nológico, a Lei da Programação do Investimento em res a três anos, que tenha por base os seus resulta-
Ciência, que assegure previsibilidade e estabilidade dos científicos;
aos mecanismos de financiamento, e assegure, en-
tre outras condições, a programação do investimen- ⟩ Revitalizar o Roteiro Nacional de Infraestruturas de
to público em ciência num quadro plurianual a pelo Investigação, promovendo a capacitação científica e
menos 10 anos; tecnológica do sistema de I&D;

⟩ Promover a reorganização da Fundação para a Ci- ⟩Reforçar e clarificar o papel dos Laboratórios de
ência e Tecnologia, revendo o seu funcionamento, o Estado como atores no apoio técnico-científico na
financiamento, o quadro especializado de recursos definição de políticas públicas e suporte à decisão
humanos, melhorando e acelerando a capacidade de governativa;
resposta ao SCTN;
⟩ Lançar um programa de apoio à carreira de recur-
⟩ Adotar um Simplex para os centros de investigação, sos humanos altamente especializados de apoio à
desburocratizando as exigências de reporte, docu- investigação, incluindo gestão de ciência, gestão
mentação e os procedimentos nas relações destes de projetos, técnicos de laboratório, de sistemas de
com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia; informação, e de apoio a bibliotecas, entre outros,
garantindo as melhores praticas internacionais nos
⟩ Revisitar a organização do SCTN através da cla- serviços de apoio á atividade científica e de I&D;
rificação das missões de cada tipo de instituição:

46 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


⟩Disseminar o conhecimento científico e promoção áridas, e na sustentabilidade energética de sistemas
da cultura científica, através de políticas de ciência agrícolas;
aberta e cidadã, com destaque para a comunicação
de ciência e dos programas de disseminação científi- ⟩ Reforçar a cooperação com instituições líderes a ní-
ca em contexto escolar. vel internacional, através do “Programa Go_Portugal
– Parcerias Globais em Ciência e Tecnologia”.
9.5.
Em relação à internacionalização científica, 9.6.
o PS propõe: No que diz respeito ao emprego científico e à forma-
ção avançada, o PS propõe:
⟩ Reforçar a estratégia de internacionalização cientí-
fica, de forma a assegurar a efetiva participação de ⟩ Concretizar os programas de emprego científico,
Portugal no Espaço Europeu de Investigação; assegurando previsibilidade anual aos Concursos ao
Emprego Científico Individual e procurando um maior
⟩ Reforçar a investigação clínica e a inovação biomé- equilíbrio no número de vagas entre as diferentes po-
dica, designadamente através de um programa de sições;
financiamento plurianual dos Centros Académicos
Clínicos, assim como da crescente diversidade das ⟩ Inscrever uma dotação permanente para o finan-
suas atividades em todo o país e do alargamento do ciamento de 1.000 lugares de investigador de car-
ensino da medicina e das ciências e tecnologias bio- reira nas IES, gerando previsibilidade e estabilidade
médicas e da saúde; e aproximando os sistemas do ensino superior e da
ciência;
⟩ Concretizar a estratégia nacional para o Espaço,
Portugal Espaço 2030, valorizando o posicionamen- ⟩ Assegurar a abertura anual dos concursos para as
to atlântico do país e reforçando a agenda “Intera- bolsas de doutoramento em todos os domínios cien-
ções Atlânticas” e a promoção do Centro Internacio- tíficos;
nal de Investigação do Atlântico;
⟩ Promover os doutoramentos em ambiente não aca-
⟩ Reforçar a cooperação nos pilares do Programa Ho- démico, como mecanismo importante de aumento
rizonte Europa 2021-2027, em particular a participa- das qualificações dos investigadores do setor não
ção nacional no Conselho Europeu de Investigação, académico, em forte parceria com Universidades e
em projetos de investigação colaborativa, mas tam- Institutos Politécnicos.
bém nas parcerias institucionais e nas 5 missões do
Horizonte Europa, no Conselho Europeu de Investiga- 9.7.
ção e no Programa Teaming; Garantidos os recursos humanos qualificados e um
sistema científico e tecnológico robustecido, nas po-
⟩ Estimular a cooperação no Mediterrâneo, nomea- líticas de inovação o PS propõe:
damente a atividade de investigação e inovação no
âmbito do Programa Europeu PRIMA em cadeias de ⟩ Acelerar a implementação das Agendas Mobiliza-
valor alimentar, na área da gestão de água em zonas

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 47


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

doras, instrumentos de reforço da competitividade orientam efetivamente para criar condições internas
nacional, de alteração da estrutura produtiva, de rein- para atividades de I&D;
dustrialização do país e de internacionalização. Deve
ser criado um mecanismo de monitorização e de in- ⟩ Reforçar os recursos humanos da ANI — Agência
dicadores de resultados e impactos destas agendas, Nacional de Inovação, enquanto instrumento para a
que permitam identificar os casos, as empresas e os promoção da política de inovação e de transferência
setores com potencial transformador da nossa eco- de conhecimento para a economia.
nomia;

⟩ Criar Plataformas de Inovação Aberta a partir da


atual Rede de Centros de Tecnologia e Interface,
da Rede de Laboratórios Colaborativos, da Rede de
Laboratórios Associados e da Rede de Clusters, es-
timulando as PME a utilizar plataformas de interme-
diação tecnológica;

⟩Implementar e reforçar o programa de incentivo ao


pedido de patentes, reforçando a transferência e a
apropriação de conhecimento programa de incentivo
ao pedido de patentes, reforçando a transferência e
a apropriação de conhecimento;

⟩ Promover a articulação entre as empresas e a rede


de Fab Labs e de Living Labs existentes, estimulan-
do o desenvolvimento de soluções com aplicação
industrial;

⟩ Promover políticas de retenção e captação de ta-


lento que, no período pós- académico, promovam a
entrada e permanência de jovens no mercado de tra-
balho;

⟩Apoiar a contratação de doutorados por entidades


não académicas, nomeadamente empresas, entida-
des da Administração Pública e outras entidades da
sociedade;

⟩ Promover um adequado mecanismo de monito-


rização do SIFIDE (Sistema de Incentivos Fiscais à
I&D Empresarial), assegurando que os incentivos se

48 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 49
2.ª
MISSÃO
UM ESTADO SOCIAL
FORTE, MODERNO E
INCLUSIVO

50 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 51
PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

2.ª MISSÃO:
O Estado Social é uma das maiores conquistas da
nossa democracia. Consolidado ao longo dos úl-
timos 50 anos, permitiu a construção de uma rede

UM ESTADO SOCIAL pública de escolas, que garante o acesso de todos


à educação básica e secundária. Numa lógica de

FORTE, MODERNO E cobertura universal e territorial, permitiu igualmen-


te o acesso a cuidados de saúde, com a criação do

INCLUSIVO Serviço Nacional de Saúde. Na segurança social, um


sistema público de pensões e reformas, a par do re-
conhecimento progressivo de direitos e apoios nas
situações de desemprego, doença, pobreza e exclu-
são social.

Os serviços públicos universais e de qualidade são


o cerne do Estado Social. E o PS esteve, desde a pri-
meira hora, empenhado na sua criação e desenvol-
vimento. Não há serviços públicos universais e de
qualidade sem uma Administração Pública valoriza-
da nas suas remunerações, qualificações e direitos,
a par de uma gestão eficiente dos recursos disponí-
veis e de uma atuação centrada nos cidadãos.

Nos últimos anos foram dados passos muito impor-


tantes em domínios menos desenvolvidos do nosso
Estado Social. Na habitação, estamos hoje a consti-
tuir um verdadeiro parque habitacional público, que
contribuirá para suprir a escassez de oferta e para re-
gular preços. No âmbito da ação social, e em coope-
ração com as organizações do terceiro setor, foram
sendo criadas progressivamente respostas diversas,
sobretudo ao nível da infância e do apoio a idosos.
Importa hoje que a cultura e o desporto, pela sua im-
portância na formação de cidadãos, sejam também
progressivamente afirmados e materializados como
um direito de todos e, nessa medida, dimensões in-
tegrantes das políticas sociais. Só um Estado Social
robusto contribui decisivamente para criar as con-
dições de igualdade necessárias a uma verdadeira
liberdade.

52 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


Mas o Estado Social não representa apenas a con- Complemento Solidário para Idosos; a melhoria da
cretização efetiva dos direitos sociais fundamentais. proteção nas eventualidades de parentalidade, de-
O Estado Social é também economia. Gera riqueza semprego ou doença, ou os progressos ao nível da
e contribui, de forma decisiva, para o crescimento proteção e inclusão de pessoas com deficiência e,
económico e o desenvolvimento. O Estado Social é ainda, no âmbito da Garantia para a Infância.
emprego e o garante do acesso de todos à escolari-
zação e às qualificações, à saúde, à dignidade e ao Do mesmo modo, a constituição de uma rede de
bem-estar. E tem um papel indispensável no enqua- equipamentos e respostas sociais, em cooperação
dramento da atividade das empresas e na dinamiza- com o setor social é, desde há muito, uma priorida-
ção da economia. Por isso, a consolidação, reforço de do PS. Foi com o PS que mais cresceu a oferta,
e aprofundamento do nosso Estado Social será uma com as várias gerações do programa PARES, sendo
das prioridades do PS na próxima legislatura. Atrain- também com o PS que se inscreveu no PRR mais um
do e retendo profissionais, reforçando os mecanis- impulso de investimento nesta área. E foi ainda o PS
mos de provisão pública direta, superando lacunas que fundou e atualizou os Compromissos de Coope-
e respondendo a desafios emergentes de bem-estar. ração entre o Estado e as organizações do setor so-
cial e solidário, garantindo parcerias em que o finan-
ciamento e a iniciativa pública são determinantes.
1. Um Estado social que
Depois da degradação da situação económica e so-
garante os direitos sociais cial que marcou o período de 2011 a 2015, com cor-
e combate a pobreza com tes nos salários e pensões, nos apoios aos cidadãos
uma segurança social pública mais desprotegidos, nas prestações de desemprego
e outros direitos e apoios sociais, o PS voltou a colo-
equitativa e sustentável car no centro da agenda o fortalecimento e expansão
deste pilar fundamental do Estado Social.
O sistema de proteção social e, em particular, a segu-
rança social, são elementos centrais do nosso Esta-
1.1.
do Providência e têm um papel decisivo na redução
A afirmação da segurança social pública enquanto
das desigualdades, da pobreza e da exclusão social,
garante da equidade e a salvaguarda da sua susten-
bem como no acesso aos direitos e ao reforço da
tabilidade será o grande objetivo estratégico da atu-
coesão social.
ação política nesta área, assumindo-se três objetivos
fundamentais:
O PS tem um compromisso com décadas em rela-
ção ao fortalecimento do nosso sistema público de ⟩ Reforçar a sustentabilidade do sistema de pen-
pensões e de segurança social, estando na origem
sões e de proteção social, num quadro demográfico
dos seus principais desenvolvimentos e reformas.
marcado pelo envelhecimento da população e pela
São disso exemplo a reforma que garante hoje um
reconfiguração dos riscos sociais;
horizonte de maior sustentabilidade do sistema de
pensões; medidas como o Rendimento Mínimo Ga- ⟩Melhorar a eficácia das respostas para diferentes
rantido (atual Rendimento Social de Inserção) ou o
gerações, e em particular para os grupos sociais

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 53


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

mais vulneráveis, apostando na simplificação, na · A garantia de aumentos mínimos, prevenindo a


maior acessibilidade do sistema e na melhoria da estagnação dos valores das pensões mais baixas.
qualidade do atendimento público;
⟩ Reafirmar a centralidade e integralidade do siste-
⟩ Garantir a primazia e integralidade do sistema pú- ma público de segurança social, assegurando a to-
blico de segurança social e a responsabilidade co- dos os trabalhadores o acesso a um sistema público
letiva e universal que só ele assegura, sem prejuízo de repartição assente em contribuições e que cubra
da possibilidade, sempre supletiva, de complemento a totalidade dos salários e descontos efetuados ao
com outras modalidades de poupança e proteção longo da vida;
contra riscos.
⟩Rejeitar quaisquer tentativas de privatização, total
1.2. ou parcial, do sistema de pensões, bem como de
A nossa visão de futuro para um Portugal Inteiro pas- qualquer exercício ou experiência de “plafonamento”
sa pela afirmação e valorização do sistema público de contribuições e pensões, que enfraquece a soli-
de pensões enquanto desígnio fundamental para dez financeira do sistema e limita a sua capacidade
reforçar a confiança dos portugueses e robustecer de garantia de proteção nas próximas décadas;
as condições de sustentabilidade do sistema, funda-
mentais para os mais jovens, ao garantir a proteção ⟩ Reforçar a sustentabilidade do sistema de pensões,

ao longo de todo o ciclo de vida e especialmente na apostando na diversificação de fontes de financia-


velhice. mento da segurança social, reduzindo a dependência
da contribuição indexada ao trabalho, mitigando os
Para isso, o PS compromete-se a: riscos demográficos associados, e promovendo uma
mais justa repartição da riqueza;
⟩ Aprofundar a trajetória de valorização das pensões,
em particular dos escalões mais baixos, asseguran- ⟩ Sendo matérias complexas, tanto do ponto de vista
do em todos os anos da legislatura o integral cumpri- conceptual como técnico, será necessário um amplo
mento da fórmula de atualização, sem prejuízo da va- diálogo social em torno do melhor modo de capta-
lorização adicional nos grupos mais desfavorecidos, ção de contribuições em empresas não intensivas
permitindo que os pensionistas mantenham níveis em trabalho mas intensivas em capital e/ou tecnolo-
de vida dignos face aos que tinham na idade ativa, e gia, propondo ainda o alargamento da consignação
de melhorias ao próprio modelo; de impostos para reforço do sistema de pensões;

⟩Neste âmbito, avaliar, em diálogo com os parceiros ⟩ Lançar um debate sobre a definição de novas for-
sociais, aperfeiçoamentos no modelo de atualização mas alternativas de financiamento da Segurança So-
das pensões, incluindo: cial que possam partir de opções inovadoras como,
por exemplo, da afetação de parte das receitas resul-
· A ponderação, na indexação da atualização das tantes de novas concessões de autoestradas (após
pensões, de outras variáveis macroeconómicas, o final das atuais) ou de portagens cobradas pelo
como a variação da massa salarial, para cálculo próprio Estado, caso se opte pela exploração direta
dos aumentos; das mesmas, sem concessão;

54 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


⟩ Revisão da regra de formação das pensões contri- de segurança social e incentivando a consideração
butivas para que seja menos penalizadora das car- destas modalidades na contratação coletiva;
reiras intermitentes e mais favorável à formação de
pensões dignas para pessoas com baixos salários; ⟩ Reforçar os estímulos e divulgação do mecanismo
complementar de descontos para a segurança social
⟩ Avaliar mecanismos de melhoria da proteção no em regime público de capitalização, em articulação
desemprego, desde logo para mitigar os riscos de com a recente discussão do Produto Individual de
pobreza nos desempregados, designadamente em Reforma Pan-Europeu, e propor, em sede de concer-
articulação com as políticas ativas de emprego; tação social, a criação de sistemas complementares
de acesso alargado, a definir no âmbito da contrata-
⟩ Promover modelos de transição faseada entre a ção coletiva;
atividade e a reforma, através da concretização da
possibilidade de reforma a tempo parcial; ⟩ Prosseguir o esforço de unificação de sistemas de
pensões, nomeadamente da Caixa Geral de Aposen-
⟩ Reforçar o princípio da contributividade, asseguran- tações e da Segurança Social, garantindo a manuten-
do que a todas as prestações de trabalho, incluindo ção dos direitos dos beneficiários e a sustentabilida-
trabalho independente, correspondam contribuições de do sistema, com o devido financiamento integral
dos contratantes para o sistema de segurança so- do Orçamento de Estado para essa transição;
cial, em articulação com o respetivo englobamento
dos rendimentos para fins fiscais, assim reforçando ⟩ Aprofundar o combate à fraude e evasão contributi-
a base contributiva do sistema, a redução dos incen- vas, melhorando a capacidade de fiscalização, identi-
tivos ao recurso abusivo a formas de trabalho pre- ficação e correção de situações de recurso indevido
cário e assegurando uma melhor proteção futura, e a figuras como as empresas em nome individual ou
ponderando a diminuição da percentagem de depen- os contratos de prestação de serviços;
dência económica dos trabalhadores independentes
face às entidades contratantes, sendo ainda introdu- ⟩ Prosseguir o investimento na digitalização e nos ca-
zindo um nível mínimo de contribuição independente nais de atendimento da Segurança Social, reforçando
da dependência económica; o atendimento em videochamada e outras formas de
atendimento e contacto à distância e aprofundando
⟩ Equiparar os bolseiros de investigação científica a a interoperabilidade de sistemas e ficheiros unifica-
trabalhadores por conta de outrem para efeitos de dos de utente em áreas relevantes para o atendimen-
contribuições para a segurança social, à semelhança to social e outros serviços públicos, sem nunca dei-
do que já acontece no âmbito dos estágios profissio- xar de melhorar o contacto pessoal e o atendimento
nais, alargando por esta via o acesso e reforçando a presencial para todos e, em particular, para os mais
justiça do sistema; vulneráveis.

⟩ Incentivar descontos para poupança complemen- 1.3.


tar, partindo de uma base de comparação com os A melhoria dos níveis de proteção social, de com-
diferentes regimes europeus nesta matéria, com ga- bate à pobreza e à exclusão são uma das funções
rantias de não enfraquecimento do sistema público essenciais da segurança social, assegurando a co-

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 55


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

bertura dos principais riscos sociais nas diferen- gressiva unificação das prestações sociais de cariz
tes fases da vida, da infância à velhice, e de modo não contributivo relativas a diferentes públicos e ge-
transversal à sociedade. Só uma sociedade coesa e rações, no quadro de uma simplificação do acesso à
justa pode afirmar o seu pleno potencial económico, proteção social que torne claro e articule os diferen-
sendo por isso também a proteção social fator de tes riscos, condições de acesso, regras e correspon-
competitividade das empresas e do país. O PS está dentes direitos e deveres;
comprometido com o cumprimento das metas esta-
belecidas na Estratégia Nacional de Combate à Po- ⟩ Promover, sempre que possível e adequado, o refor-
breza 2021-2030, e compromete-se, neste âmbito, a: ço da atribuição automática de prestações sociais;

⟩ Reforçar a eficácia do Complemento Solidário para ⟩ Articular as políticas sociais centrais com as dinâ-
Idosos (CSI), instrumento essencial do combate à po- micas locais, de modo a tornar as políticas públicas
breza nos mais velhos, desde logo assegurando que mais eficazes e os serviços mais acessíveis às pes-
o valor de referência da prestação se mantém pelo soas e famílias, desde logo com o lançamento de um
menos em linha com o limiar da pobreza e excluindo programa de Rede Social Local 2.0, que correspon-
os rendimentos dos filhos para efeitos da determina- da a uma nova geração de políticas territorializadas
ção dos recursos dos requerentes, sendo pondera- de envolvimento de diferentes atores e entidades à
dos outros ajustamentos que se revelem adequados escala local e de articulação de diferentes serviços
para garantir a efetiva proteção dos idosos em risco e políticas públicas, em paralelo com a plena imple-
de pobreza; mentação do programa Radar Social para melhorar a
capacidade e eficácia da sinalização e acompanha-
⟩ Reavaliar o regime de benefícios adicionais de saú- mento de situações de vulnerabilidade em todo o ter-
de, nomeadamente descontos em medicamentos, ritório nacional;
aplicável aos beneficiários do Complemento Solidá-
rio para Idosos, reforçando o apoio a conceder aos ⟩ Garantir respostas mais robustas e eficazes para
idosos com doença crónica; responder à situação das pessoas sem abrigo, pro-
cedendo a uma avaliação dos resultados da Estraté-
⟩ Aprofundar a capacidade e eficácia do Rendimento gia Nacional para a Integração das Pessoas em Situ-
Social de Inserção (RSI) para combater a severida- ação de Sem-Abrigo 2017-2023 e promovendo uma
de da pobreza, desde logo continuando a atualizar cooperação mais eficaz com as autarquias e com a
o seu valor de referência, reavaliando as condições sociedade civil, que permita combater este foco de
de atribuição de modo a promover uma melhor com- pobreza e exclusão extremas;
patibilização entre esta medida e a participação no
mercado de trabalho, avaliando ainda a supressão ⟩Promover respostas de cariz inovador, nomeada-
dos apoios regulares à habitação na condição de mente as comunidades de inserção e formas de
recursos da prestação e promovendo programas de habitação colaborativa, em articulação com aborda-
inserção eficazes e equitativos para os beneficiários gens inspiradas no modelo “housing first”;
da prestação;
⟩Prosseguir a promoção da inclusão das pessoas
⟩ Elaborar um Código Prestacional e promover a pro- com deficiência e incapacidade, assegurando, no-

56 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


meadamente: mente num quadro de reforço dos sistemas de in-
formação e dos mecanismos de interoperabilidade,
· A plena implementação da Prestação Social para
melhorando a capacidade para detetar irregularida-
a Inclusão;
des e declarações falsas, em nome da transparência,
· A expansão das respostas sociais para a deficiên- da justiça social, e da própria sustentabilidade social
cia em áreas com debilidades na cobertura e, em dos apoios.
particular, a consolidação e expansão dos projetos
de Modelo de Apoio à Vida Independente; 1.4.
Ao nível das respostas sociais para a Infância, é cru-
· Uma maior agilidade e eficácia no funcionamento cial prosseguir a política de alargamento da gratuiti-
do Sistema de Atribuição de Produtos de Apoio; dade das creches e do pré-escolar, medida que co-
· A avaliação do impacto e eficácia das normas de locou Portugal na linha da frente a nível europeu no
promoção da inclusão das pessoas com deficiên- cumprimento do objetivo da Garantia Europeia para a
cia no mercado de trabalho, e assegurando o re- Infância nas respostas para a primeira infância.
forço das políticas ativas de emprego nesta área,
incluindo projetos de mercado social de emprego Neste âmbito, o PS compromete-se a:
dirigidos a estes públicos;
⟩ Reforçar a capacidade instalada da rede de respos-
· A revisão da formação profissional e qualificação tas de creche em todo o país, de forma a garantir que
das pessoas do setor, em estreito diálogo com o todas as crianças têm acesso gratuito a estas res-
movimento associativo e operadores formativos e postas, permitindo às famílias uma melhor concilia-
em articulação quer com a proteção social, quer ção entre a vida pessoal, familiar e profissional, e às
com a inclusão no emprego; crianças uma resposta educativa de qualidade;
· Políticas de inclusão e acesso das pessoas com
⟩ Continuar a reforçar os apoios sociais à infância,
deficiência a serviços públicos e à participação
assegurando a atualização dos escalões do abono
em plena igualdade em diferentes domínios, ga-
de família ao nível da inflação e uma cobertura mais
rantindo desde logo a plena implementação do
alargada desta prestação social, a par da própria Ga-
programa Acessibilidades 360º do PRR e assegu-
rantia para a Infância;
rando o efetivo cumprimento das normas legais
em termos de acessibilidades;
⟩ Fortalecer a capacidade de intervenção nas situ-
ações de maior exposição ao risco na infância, pri-
⟩Assegurar a continuidade das tarifas sociais para
vilegiando uma intervenção de natureza preventiva,
a eletricidade e acesso à internet, de modo que se
precoce e reparadora, e uma governação mais inte-
constituam cada vez mais como direitos de acesso
grada, em rede e mais eficaz;
universal, promotores de dignidade e da igualdade de
oportunidades;
⟩ Apostar no aumento da qualidade das respostas,
tanto ao nível pedagógico como da implementação
⟩Prosseguir o reforço do combate à atribuição in-
de um programa de alimentação saudável dirigido às
devida e à fraude nas prestações sociais, nomeada-
crianças na primeira infância;

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 57


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PARTIDO SOCIALISTA

⟩ Garantir a cobertura, em todos os municípios, dos Sem prejuízo do reforço do investimento na reno-
Núcleos Locais da Garantia para a Infância, numa vação e expansão das estruturas residenciais para
clara aposta em intervenções precoces e respostas pessoas idosas (ERPI), conforme já previsto no PRR,
comunitárias, de real articulação entre os serviços de bem como no reforço da rede de cuidados paliativos,
saúde, educação e segurança social, desjudicializa- devendo as respostas sociais aos idosos ser cada
das e preventivas do perigo e da violação de direitos vez mais pautadas pelo princípio da promoção da
das crianças e jovens, e assegurando o alargamento vida independente.
da cobertura das Equipas do Sistema Nacional de In-
tervenção Precoce da Infância; Assim, para reforçar a autonomia e a dignidade no
envelhecimento, o PS irá:
⟩ Aperfeiçoar o sistema de proteção das crianças e
jovens em risco, designadamente através do refor- ⟩ Promover, sempre que possível, no quadro de uma
ço da capacidade de intervenção das Comissões Nova Geração de Equipamentos e Respostas Sociais,
de Proteção de Crianças e Jovens, desde logo me- a não institucionalização de pessoas idosas, apos-
lhorando o modelo existente e a sua conjugação de tando ao invés no desenvolvimento de respostas re-
autonomia com co-responsabilização de diferentes sidenciais, em experiências inovadoras com base em
entidades parceiras, reforçando o número de técni- modelos de habitação colaborativa ou unidades de
cos a desempenhar funções em tempo integral nas reforço de autonomia (como residências), em articu-
comissões restritas e pela maior estabilidade das lação com outras respostas sociais (como o apoio
equipas, de modo articulado com o processo de des- domiciliário), com modelos de teleassistência e em
centralização de competências nas áreas sociais, articulação com as políticas de habitação;
permitindo designadamente melhorar os rácios de
acompanhamento de casos por cada técnico, bem ⟩Reforçar e simplificar os apoios à adaptação das
como pelo incremento da formação dos técnicos; habitações e dos edifícios;

⟩ Concretizar o plano nacional de desinstitucionaliza- ⟩ Rever e alargar as condições de elegibilidade do


ção das crianças e jovens em acolhimento residen- cuidador informal e capacitar os cuidadores e os pró-
cial, através do alargamento das respostas de apoio prios cidadãos seniores, tirando partido de soluções
em meio natural de vida, de acolhimento familiar e de tecnológicas existentes;
promoção de autonomia dos jovens;
⟩ Reforçar a rede de prestadores do Serviço de Apoio
⟩Criar um Código dos Direitos das Crianças, coligin- Domiciliário (SAD) e as Equipas de Cuidados Conti-
do e atualizando muita legislação dispersa e avulsa nuados Integrados Domiciliários (ECCI);
num documento único documento legislativo com
superior valor legal e, simultaneamente, social. ⟩ Promover o combate aos chamados “internamen-
tos sociais”, que correspondem a cuidados hospita-
1.5. lares redundantes ou inúteis, bem como o combate
O Estado Social deve atuar no sentido de contribuir aos maus-tratos a idosos, e melhorando, nos casos
para a criação de condições para um envelhecimen- de abandono, a articulação com as respostas so-
to digno no quadro de uma sociedade cuidadora. ciais, no âmbito do processo do “Maior Acompanha-
do”, revendo os mecanismos legais de penalização

58 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


de situações de maus-tratos e abandono; Para isso, o PS compromete-se a:

⟩ Prosseguir o alargamento da rede de cuidados con- ⟩ Reforçar os mecanismos de promoção e incentivo


tinuados, com reforço das vagas, de modo a asse- à constituição de organizações da economia social,
gurar uma adequada cobertura nos casos em que a como cooperativas e mutualidades, promovendo no-
mesma é necessária e diminuindo assim a pressão meadamente a sua melhor articulação com iniciati-
sobre outras redes de resposta; vas de todas as gerações, concretizando plenamente
o estatuto fiscal específico mais favorável que, aliás,
⟩ Criar uma “via verde” de acesso e ligação dos pro- já está previsto na lei;
fissionais de saúde hospitalares aos profissionais de
saúde das estruturas residenciais para pessoas ido- ⟩Estimular o rejuvenescimento da economia social,
sas, evitando, tanto quanto possível, a ida às urgên- nomeadamente com recurso à promoção mais alar-
cias hospitalares e o internamento; gada de estágios profissionais nas instituições soli-
dárias e com a introdução de módulos ou cursos de
⟩ Reforçar a integração de serviços a pessoas idosas, empreendedorismo social nas instituições de ensino
na perspetiva do continuo de cuidados, sugerido pela e formação profissional, e apoiar a criação de em-
OMS e garantindo mecanismos de referenciação prego nas instituições do setor, incluindo o envolvi-
adequados e equitativos para as diversas respostas mento ativo das instituições em projetos de mercado
sociais. social de emprego;

1.6. ⟩ Neste âmbito, promover campanhas de divulgação


O papel da economia social nos diferentes setores do papel e potencial da economia social e solidária
da sociedade e da economia beneficia hoje de um junto dos cidadãos e em particular junto dos jovens;
amplo reconhecimento e valorização. É fundamental
aprofundar esforços e mobilizar instrumentos para ⟩ Reforçar a visibilidade, acessibilidade e conheci-
fortalecer a dinâmica e a implantação das iniciati- mento público das entidades da economia social,
vas da sociedade civil que melhoram a capacidade desde logo através da criação e disponibilização de
do país e dos territórios, para responder às neces- uma base de dados da economia social que funcione
sidades sociais e económicas das populações, num como uma Carta da Economia Social interativa, per-
quadro de participação cidadã alargada e de robus- mitindo a consulta e acesso a todas as entidades e
tecimento da relação de cooperação que temos vin- aos principais dados nos diferentes territórios;
do a construir entre o Estado, a sociedade civil e a
economia social. ⟩ Promover a avaliação e revisão do Código Coope-
rativo, em articulação com o setor, de modo a tornar
As instituições do setor social e cooperativo contri- a legislação mais flexível e apelativa para o fortaleci-
buem também, e cada vez mais, para a dinamização mento do movimento cooperativo;
da economia e para a criação de emprego, tendo um
papel cada vez mais relevante na promoção da ino- ⟩ Melhorar, neste âmbito, o regime de cooperativas
vação e do empreendedorismo, sendo estas as dinâ- de âmbito setorial e, em particular, as cooperativas
micas que queremos fortalecer. de interesse público, tendo em vista torná-lo mais
flexível e apelativo, e promover a participação de en-

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 59


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

tidades públicas em dinâmicas de cooperação com tuído para o efeito;


a sociedade civil;
⟩ Promover uma revisão da Lei do Voluntariado e
⟩ Promover o dinamismo do movimento mutualista, reforçar os programas de apoio ao voluntariado de
nomeadamente com base em melhores incentivos modo a envolver mais pessoas e entidades nestas
para a mutualização de poupanças e de proteção so- atividades;
cial complementar, em articulação com o setor mu-
tualista e em diálogo com os parceiros sociais; ⟩ Aprofundar a cooperação com as entidades da eco-
nomia social e com as suas estruturas representati-
⟩Avançar com a revisão do Código das Associações vas, em particular com a Confederação Nacional de
Mutualistas, melhorando o enquadramento legislati- Economia Social, valorizando o seu papel agregador
vo do setor e criando melhores e mais claros meca- e decisivo na dinamização e fortalecimento do setor.
nismos de acompanhamento destas entidades, ao
mesmo tempo que se reforça o caráter mutualista;
2. Um Serviço Nacional de
⟩Reforçar programas de microcrédito e de empreen-
dedorismo social em articulação com as dinâmicas Saúde universal, forte e
da economia social, de modo a reforçar a dimensão resiliente
solidária e inclusiva deste tipo de programas;
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) é um dos pilares
⟩ Estimular a inovação social no quadro das entida- do Portugal democrático e a grande construção dos
des da economia social, sem prejuízo da responsabi- socialistas no pós-25 de abril. A melhoria progressi-
lidade social de outras organizações; va, e significativa, da qualidade de vida dos portugue-
ses nos últimos 50 anos é indissociável da criação
⟩Aprovar um estatuto de empresas sociais em linha de um serviço público universal e tendencialmente
com os debates europeus nesta matéria e como mo- gratuito. O que distingue o SNS dos demais presta-
dalidade de economia social, criando um quadro jurí- dores é, de facto, a centralidade que atribui ao estado
dico que regule e incentive startups e empresas que de saúde das pessoas e o foco na preservação e me-
sejam sociedades que intervêm no mercado, mas lhoria dos índices de saúde da população.
que têm na prossecução de fins sociais e na redistri-
buição de excedentes articulada com o foco na retri- Ao longo dos últimos 8 anos, os governos do PS de-
buição do trabalho traços distintivos relativamente a ram um novo impulso ao SNS, reforçando as suas
empresas puramente mercantis; valências e criando as bases orçamentais para a sua
resiliência e sustentabilidade. Entre 2015 e 2024 o
⟩ Desenvolver programas alargados de formação e orçamento do SNS aumentou em mais de 5,6 mil mi-
qualificação de trabalhadores, técnicos e dirigentes lhões, contando hoje com cerca de 150 mil profissio-
das organizações do setor social e solidário, em es- nais, mais 25% do que há oito anos.
treita articulação com os diferentes ramos do setor
e tirando pleno partido da capacidade instalada, de- Foi também neste período que se aprovou a Lei de
signadamente no IEFP e do centro protocolar consti- Bases da Saúde, o Estatuto do SNS e, por seu efeito,

60 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


a atual Direção Executiva do SNS, reformas que de- ⟩ Rever o atual quadro de alocação de tarefas aos
vem ser prosseguidas e aperfeiçoadas, cabendo ao profissionais do SNS, seguindo os melhores padrões
futuro Governo do PS promover as alterações neces- internacionais, tendo em vista a elevação dos níveis
sárias, em diálogo com todos os agentes do setor, de eficiência e eficácia, na perspetiva dos cuidados
incluindo as associações de utentes. aos utentes;

Apesar do investimento recente, os portugueses ⟩Promover uma maior abrangência de atividade de


despendem uma parte elevada do seu rendimento enfermagem, sobretudo nos contextos em que a res-
em saúde, com uma parte significativa da despesa posta médica é insuficiente, aumentando a capaci-
pública relacionada com o pagamento de serviços dade de prestação de cuidados de proximidade;
que não encontram a sua resposta plena no SNS. De-
fender, consolidar e capacitar o SNS é por isso uma ⟩ Rever e dignificar a carreira dos administradores
prioridade essencial, que será concretizada em nove hospitalares e das chefias intermédias, promovendo
eixos fundamentais. a sua valorização salarial e a adoção de um modelo
de avaliação de desempenho adequado;
2.1.
No âmbito da valorização dos profissionais de saú- ⟩ Avaliar a possibilidade de introdução de um tempo
de, o PS compromete-se a: mínimo de dedicação ao SNS pelos profissionais de
saúde, nomeadamente médicos, na sequência do pe-
⟩ Encetar negociações imediatas com os profissio- ríodo de especialização;
nais de saúde, no âmbito de um plano concertado
de revisão das carreiras e de valorização salarial, ⟩Avaliar a possibilidade de introdução de um quadro
reforçando a vertente de formação e investigação e de compensações, pelo investimento público do país
melhorando as condições de trabalho; na sua formação, por parte de médicos que preten-
dam emigrar ou ingressar no setor privado.
⟩Equiparar a posição de entrada dos enfermeiros
aos licenciados da carreira geral da Administração 2.2.
Pública; No que concerne à melhoria do modelo de governa-
ção do SNS e dos processos de gestão e prestação
⟩ Incentivara dedicação plena e em exclusividade ao de cuidados, o PS irá:
SNS, assegurando a devida valorização das carreiras
e a especialização clínica funcional, reorientando ⟩ Promover uma maior articulação e integração en-
para estes objetivos os incentivos à produção; tre os cuidados de saúde primários, hospitalares e
cuidados continuados, contrariando assim a exces-
⟩ Definir e atribuir incentivos especiais aos profissio- siva centralidade da rede hospitalar e a duplicação
nais que trabalhem em territórios menos atrativos, de custos;
através de apoios ao alojamento e às famílias, as-
segurando o seu desenvolvimento profissional e o ⟩Adotar um modelo de governação do SNS de co-
acesso à telemedicina e a pertença a equipas mul- mando vertical, centrado na Direção Executiva;
tidisciplinares;

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 61


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

⟩ Criar centros de excelência clínica no SNS, com os 2.3.


recursos humanos e tecnológicos necessários, per- No âmbito da valorização e diversificação dos cui-
mitindo um aumento da qualidade na prestação de dados de saúde de proximidade, o PS propõe:
cuidados e a redução do tempo de resposta;
⟩Melhorar a coordenação funcional ao nível da rede
⟩ Reforçar a autonomia dos Conselhos de Adminis- de Cuidados de Saúde Primários, reforçando a sua
tração hospitalares e das unidades de proximidade, autonomia de gestão, técnica e organizativa, e inte-
tanto a nível técnico e operacional como de gestão grando as respetivas unidades em redes de proximi-
orçamental e de contratações, a par do aumento da dade, articulando competências e recursos e incluin-
sua responsabilização e da avaliação de desempe- do cuidados de outros serviços;
nho e de resultados;
⟩ Reforçar e diversificar a oferta de cuidados de pro-
⟩Generalizar o concurso público no preenchimento ximidade, melhorando o acesso a, entre outras, res-
de órgãos de gestão, assegurando que estes são postas de saúde oral e visual, pediatria, terapia da
compostos por elementos com formação clínica e fala, psicologia clínica, saúde mental e nutrição. Nes-
que cumprem requisitos obrigatórios, alinhados com te âmbito assegurar, nomeadamente:
os objetivos institucionais;
· A generalização de rastreios visuais e auditivos na
⟩ Fomentar um maior envolvimento dos profissionais infância, antes da entrada no 1º ciclo do ensino
de saúde nas decisões de gestão estratégica e ope- básico, estabelecendo um programa de atribuição
racional, contribuindo para um funcionamento dos gratuita de óculos a crianças de famílias com me-
serviços mais autónomo, alinhado e flexível; nores rendimentos.

· A prossecução do reforço da oferta de cuidados


⟩ Aprofundar os mecanismos de monitorização e de saúde oral de proximidade, nomeadamente
transparência, com evidência pública de resultados, através da criação da carreira de medicina dentá-
recorrendo a um quadro regular de indicadores rele- ria no SNS e do aumento dos seus efetivos;
vantes e percetíveis pela sociedade em geral;
⟩ Continuar a expansão e cobertura ao nível da Rede
⟩ Adotar o princípio dos Percursos Assistenciais In- Nacional de Cuidados Continuados e de Cuidados
tegrados, assegurando que o envolvimento dos di- Paliativos, reforçando a oferta de proximidade em
ferentes atores, tendo em vista o cumprimento de termos de unidades e de camas disponíveis;
tempos de espera, não compromete a responsabili-
dade do SNS pelo acompanhamento e a garantia de ⟩ Criar uma rede de atendimento permanente, a fun-
prestação de cuidados aos utentes; cionar em centros de saúde de referência, servindo
uma área geográfica delimitada e contribuindo as-
⟩ Reforçar as regras de acesso direto às urgências sim para reduzir o recurso às urgências hospitalares;
hospitalares, generalizando a triagem telefónica,
através da qual se procederá ao encaminhamento ⟩Reforçar as respostas imediatas a pessoas sem
dos utentes para os cuidados de saúde primários ou médico e enfermeiro de família, mobilizando equipas
hospitalares.

62 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


multiprofissionais, envolvendo médicos e enfermei- 2.5.
ros e outros profissionais ao serviço ou que estejam Para expandir as respostas do SNS no âmbito do en-
aposentados; velhecimento, o PS irá:

⟩ Investir na prevenção e promoção da saúde, apos- ⟩Implementar um programa de redução dos interna-
tando na saúde pública e no combate aos determi- mentos sociais, mediante articulação com a Rede de
nantes de saúde. Cuidados Continuados e as respostas residenciais,
criando o devido enquadramento a estes utentes e
2.4. contribuindo para diminuir o número de camas hos-
A melhoria da autonomia e da prestação de cuidados pitalares de agudos ocupadas por motivos sociais;
pelo SNS passa igualmente por uma aposta clara no
reforço da sua capacitação, através da internaliza- ⟩ Prosseguir a estratégia de hospitalização domi-
ção da capacidade de resposta, comprometendo-se ciliária, através do reforço de meios e da formação
o PS a: específica de profissionais e equipas do apoio aos
utentes e às famílias, a par da criação de incentivos
⟩ Reforçar o SNS em Meios Complementares de Diag- de melhoria dos processos e procedimentos, neste
nóstico e Terapêutica (MDTC) e respetivo pessoal âmbito, nas instituições hospitalares;
técnico, ao nível dos Cuidados de Saúde Primários,
disponibilizando-os em unidades de maior dimensão ⟩ Reforçar a assistência de saúde a idosos no do-
e numa lógica de cobertura territorial. Trata-se de um micílio, incluindo a vertente do Apoio Domiciliário,
investimento que contribui para: mobilizando para o efeito recursos humanos espe-
cializados e criando condições que permitam a per-
· Uma organização mais eficaz da prestação de
manência dos idosos no seu contexto de vida e em
cuidados, com maior celeridade e comodidade
meio familiar;
na resposta aos utentes, evitando deslocações e
tempos de espera e permitindo a realização, numa
⟩ Garantir a resposta hospitalar em unidades residen-
única visita, de exames prescritos;
ciais de idosos, através de equipas que se deslocam
· Reduzir parte do recurso à contratação externa, às instituições e que articulam com os seus profis-
economizando recursos públicos que serão inves- sionais de saúde, evitando assim parte das idas de
tidos no próprio SNS; utentes aos hospitais, muitas vezes de noite e em
situações difíceis e de grande fragilidade;
· Diminuir o recurso desnecessário às urgências
hospitalares, na sequência do aumento da capa- ⟩ Permitir que os médicos das unidades residenciais
cidade de resposta de urgência nos Cuidados de de idosos possam prescrever medicamentos e cer-
Saúde Primários; tos exames no SNS, evitando que os utentes tenham
· Fortalecer o sentido de equipa, com a melhoria de de se deslocar aos centros de saúde ou às urgências
condições e de recursos, e alcançar níveis mais hospitalares para esse efeito;
elevados na motivação dos profissionais de saú-
de. ⟩ Criar equipas de enfermagem de urgência, e de

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 63


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

acompanhamento continuado, que se deslocam a 2.7.


casa dos utentes mais idosos, a par da criação de No que se refere aos comportamentos aditivos e
serviços de entrega de medicamentos a idosos isola- dependências, a reestruturação das respostas do
dos, mediante articulação com a rede de farmácias; Estado, no plano organizativo, através da criação do
Instituto para os Comportamentos Aditivos e as De-
⟩ Reforçar a formação de profissionais das respostas pendências (ICAD, I.P.) representa um passo decisi-
sociais para idosos em saúde preventiva e fatores de vo assumido na legislatura que agora termina, refor-
risco, em matérias relacionadas com a saúde física çando a integração e robustecimento das políticas
e psicológica, sobredosagem e efeitos secundários, públicas para o setor, apostando de forma clara em
alimentação e hábitos saudáveis, entre outras; prevenir e reduzir os comportamentos aditivos e as
dependências, assegurar o tratamento, a redução de
2.6. riscos e a minimização de danos, a reinserção social,
Para expandir as respostas do SNS no âmbito da bem como fomentar a capacitação e formação dife-
saúde mental, o PS irá: renciada, a investigação e a inovação nesses domí-
nios.
⟩ Consolidar a expansão dos cuidados de saúde men-
tal, nomeadamente ao nível dos Cuidados de Saúde Neste quadro, há que reforçar a capacidade de res-
Primários, incluindo a criação de um programa de posta no combate aos comportamentos aditivos e
saúde mental para jovens em idade escolar; dependências, integrando as atribuições de plane-
amento, coordenação e prestação de cuidados de
⟩ Criar condições que assegurem a prestação de res- saúde neste domínio e assegurar a implementação
postas de acompanhamento em saúde mental, por do Plano Nacional para a Redução dos Comporta-
equipas médicas especializadas, e que permitam a mentos Aditivos e Dependências, baseado nos três
manutenção dos utentes no domicílio; pilares Empoderar, Cuidar e Proteger, que passa a dis-
por de melhores condições para o desenvolvimento
⟩Reforçar a resposta articulada, e em rede, para a dos seus Planos de Ação, de forma coordenada, arti-
saúde mental e as demências; culada e em rede, possibilitando dar maior robustez
e eficácia no garante das respostas às pessoas que
⟩ Reforçar o número de psicólogos nos Cuidados de necessitam de ajuda especializada.
Saúde Primários – em cerca de 300 efetivos no ime-
diato – tendo em vista o cumprimento gradual do rá- Neste domínio, o PS propõe-se:
cio de um psicólogo por cada 5 mil utentes.
⟩ Acompanhar a implementação do novo modelo de
⟩ Desenhar programa de reforço de psicólogos nas organização das respostas aos comportamentos
escolas e estabelecimentos de ensino superior, com aditivos e dependências, assegurando a integração
vista a criar uma rede que assegure gradualmente das competências de planeamento, coordenação e
cobertura das necessidades identificadas. intervenção nos domínios da prevenção, da dissua-
são, da redução de riscos, do tratamento e da rein-
serção e garantido a alocação dos meios humanos e

64 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


financeiros indispensáveis à sua missão; nológico e inovação, o PS compromete-se a:

⟩ Assegurar a revisão do modelo de financiamento ⟩ Prosseguir o investimento na infraestrutura tecno-


dos projetos de Redução de Riscos e Minimização lógica da saúde, melhorando as infraestruturas e a
de Danos, de forma a assegurar a sua continuidade interoperabilidade entre sistemas, bem como a uni-
de respostas no terreno, revendo os seus quadros formização e integração de registos e processos e
temporais; a comunicação entre fornecedores, prestadores de
cuidados e entidades pagadoras;
⟩ Avaliar as respostas existentes no plano do consu-
mo vigiado, com vista a aferição da necessidade de ⟩ Criar o «Registo de Saúde Eletrónico do Utente»
reforço de equipamentos e de projetos nos territórios (processo digital único) e o «Plano Individual de Cui-
onde se justifique a sua presença e de revisão do dados» (nomeadamente para pessoas com morbili-
quadro jurídico em vigor no sentido de clarificação dade múltipla), permitindo agilizar e diversificar os
dos requisitos da sua instalação, articulação com as pontos de acesso à informação, salvaguardando a
estratégias locais de segurança e envolvimento das necessária proteção de dados;
comunidades na sua preparação e gestão;
⟩ Prosseguir a aposta no desenvolvimento de ferra-
⟩ Reforçar o investimento na vertente de inserção mentas informáticas de apoio à decisão clínica, no-
profissional para pessoas com percursos de depen- meadamente no âmbito da Inteligência Artificial e
dência, com acompanhamento especializado e arti- algoritmia, contribuindo para melhorias de eficiência,
culação com outros serviços da administração pú- eficácia e produtividade do trabalho médico;
blica;
⟩Aprofundar e diversificar os mecanismos de intera-
⟩ Avaliar e concretizar medidas direcionadas à pre- ção digital entre os cidadãos e o SNS na realização
venção e intervenção em situações de overdose jun- de atos diversos, como a marcação de consultas e
to das pessoas com percursos de dependência, em exames e a consulta de registos clínicos;
articulação com as estratégias no terreno de Redu-
ção de Riscos e Minimização de Danos; ⟩Prosseguir a aposta na telemedicina e na telessaú-
de, generalizando a sua utilização nos Cuidados de
⟩ Concluir o estudo multissetorial aprofundado com Saúde Primários, ao nível da teleconsulta e, entre
o objetivo de compreender as causas da maior pre- outras respostas, ao nível do acompanhamento em
valência de tráfico e consumo de Novas Substâncias saúde no Apoio Domiciliário e nas estruturas resi-
Psicoativas (NSP), com especial incidência nas Re- denciais para idosos;
giões Autónomas dos Açores e da Madeira, assegu-
rando a adoção das medidas diagnosticas no seu ⟩ Criar mecanismos de medição de resultados em
âmbito, em articulação com as demais estratégias saúde associados a medicamentos e tecnologias,
nacionais para a matéria. a partir de dados relacionados com a qualidade de
vida dos utentes, de modo a relacionar custos com
2.8. resultados, numa lógica de partilha de riscos, contri-
Em matéria de modernização, desenvolvimento tec- buído para uma melhor monitorização da prestação

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 65


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

de cuidados e para a própria inovação ao nível da in- mobilidade social a todos os que não tinham senão
vestigação. na escola a capacidade de encontrar outros destinos.
Se hoje temos a maior taxa de sempre de diploma-
2.9. dos do ensino superior e o maior número de jovens
Na relação entre o SNS e os prestadores privados, o a frequentar o ensino superior, tal é o resultado de
PS compromete-se a: um ensino básico e secundário que não desistiu de
levar as crianças e jovens cada vez mais longe, inde-
⟩ Definir uma estratégia plurianual de cooperação pendentemente da sua condição de origem. Só uma
com setor privado, assumindo o princípio da suple- escola pública de qualidade será capaz de responder
tividade e colocando o utente no centro dos proces- aos desafios do presente e do futuro, mitigar as desi-
sos de articulação e cooperação; gualdades de partida, formar cidadãos e ser lugar de
realização e reconhecimento dos seus profissionais.
⟩ Reforçar a transparência na relação do Estado com Este percurso de melhoria de resultados – sociais
os prestadores privados em matéria de preços e pa- e educativos – é o fruto de várias décadas de com-
drões de qualidade, assumindo a responsabilidade promisso coletivo com a rejeição de uma visão me-
pela prestação de cuidados aos utentes e evitando ritocrática individualista da escola. As políticas dos
tratamentos desnecessários; governos do Partido Socialista introduziram sem-
pre marcos de referência nesta jornada coletiva. O
⟩ Equacionar a adoção e reforço de instrumentos de alargamento da escolaridade obrigatória até aos 18
regulação em saúde, num quadro operacional claro anos, a criação da rede pública de educação pré-es-
e assente em critérios concretos, melhorando e tor- colar, a qualificação da população adulta, a dinami-
nando mais transparentes as relações de comple- zação de planos transversais como o Plano Nacio-
mentaridade e de supletividade; nal de Leitura, a Rede de Bibliotecas Escolares ou o
Plano Nacional das Artes, a introdução de Atividades
⟩ Melhorar a articulação e promover formas de in- de Enriquecimento Curricular, o investimento na for-
tegração dos laboratórios clínicos de Meios Com- mação contínua de professores, a requalificação de
plementares de Diagnóstico e Terapêutica no SNS, espaços escolares, a confiança nas escolas alargan-
reconhecendo o seu papel fulcral na prestação de do à rede pública a Autonomia e Flexibilidade Curri-
cuidados à população. cular, que estava reservada ao ensino particular são
apenas alguns exemplos de reformas estruturais do
Partido Socialista nas políticas educativas.
3. Uma escola pública de
3.1.
qualidade Estando os alunos no centro de todas as políticas
educativas, os profissionais da educação são o mo-
A Escola Pública é, indubitavelmente, uma das maio- tor do desenvolvimento da escola pública. A Valori-
res conquistas da nossa democracia. Ao longo zação dos profissionais da Educação com foco no
destes 50 anos de liberdade, o sistema educativo futuro é um objetivo a prosseguir. Apesar das me-
português permitiu o acesso de todos à educação, didas desenvolvidas no último ciclo político que reti-
praticamente erradicou o analfabetismo, garantiu raram da precariedade mais de 22.500 professores,

66 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


que possibilitaram e aceleraram a progressão das colas.
carreiras, que reintroduziram a remuneração de es-
tágios e deram maior estabilidade aos professores ⟩ Desenvolver um programa de estímulo às institui-
pela redução dos quadros de zona pedagógica, é ções de ensino superior para a formação de profes-
inegável o clima de descontentamento a que é ne- sores, aliando indicadores de qualidade na formação
cessário atender, dando continuidade a um percurso a reforços financeiros específicos para estes progra-
iniciado de valorização das carreiras. mas;

Assiste-se, a nível global, a um problema crescen- ⟩ Garantir o vínculo adequado aos técnicos especia-
te de falta de professores. Os governos do Partido lizados das escolas.
Socialista interromperam a sangria de profissionais
levada a cabo pelo governo PSD/CDS, que afastou
do ensino mais de 28 mil professores. Resolver este 3.2.
problema é urgente, porque destes profissionais de- A Escola é uma comunidade que prepara cidadãos
pende a implementação de todas as medidas condu- que podem escolher além do seu contexto. As po-
centes à melhoria das aprendizagens. líticas públicas na Educação implicam uma perma-
nente capacidade de diagnosticar, avaliar, corrigir e
Apostando efetivamente nos profissionais, não ape- avançar, sem desprezar o património herdado, mas
nas docentes, e mobilizando recursos para respon- sobretudo sem discursos vazios em torno de conce-
der às necessidades, o Partido Socialista irá: ções passadistas e elitistas, mas sim através de me-
didas que tenham em conta os desafios nacionais e
⟩ Aumentar a atratividade no início da carreira, con- globais que os sistemas educativos hoje enfrentam.
tinuando o ritmo de redução da precariedade e re- Para reforçar a capacidade de a Escola Pública res-
duzindo o hiato entre os índices remuneratórios da ponder aos desafios que emergem de uma socieda-
base da carreira docente e os índices mais altos; de em mudança acelerada e que teve de, em muitas
matérias, se reorganizar, o Partido Socialista propõe:
⟩Rever e simplificar as regras do concurso de colo-
cação do pessoal docente; ⟩ Revisitar o modelo de gestão das escolas, no sen-
tido de aprofundar as dinâmicas participativas e co-
⟩ Iniciar negociações com os representantes dos pro- laborativas, incluindo o reforço da participação dos
fessores com vista à recuperação do tempo de servi- alunos na vida da escola, sem prejuízo do processo
ço de forma faseada; de descentralização;

⟩ Desburocratizar a função docente, garantindo que ⟩Avançar com uma avaliação da rede de ensino pú-
as escolas têm as condições e meios necessários e blico nacional, no sentido de corrigir eventuais de-
adequados para assegurar o trabalho administrativo- sequilíbrios e expandir a oferta nas zonas de maior
-burocrático; pressão demográfica.

⟩Desenvolver uma estrutura de apoio jurídico e ad- ⟩Estudar as práticas de formação das turmas, fo-
ministrativo-financeiro de apoio às direções das es- mentando a necessária heterogeneidade do ponto

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 67


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

de vista da integração dos alunos de diferentes es- cativo, o uso da tecnologia, as competências digitais
tratos socioeconómicos; e de cidadania digital e as dimensões éticas e cog-
nitivas associadas às transformações aceleradas da
⟩ Simplificar os mecanismos de comunicação entre Inteligência Artificial.
os Serviços do Ministério da Educação e as Escolas,
incluindo a criação de um ponto de coordenação da 3.3.
comunicação direta para evitar redundâncias, e ga- A pandemia deixou marcas profundas na aprendiza-
rantir a uniformização dos sistemas e interoperabili- gem dos alunos, que emergem nas aferições nacio-
dade entre os mesmos; nais e internacionais. É preciso desenvolver um sis-
tema educativo centrado nos alunos e na formação
⟩ Implementar, em conjunto com as escolas e os mu- de cidadãos. Os dados hoje disponíveis permitem
nicípios, um Sistema de Alerta Precoce de Risco de identificar as áreas concretas que requerem maior
Exclusão em Contexto Escolar; incidência, bem como os grupos de alunos que ca-
recem de apoios suplementares, na medida em que
⟩ Desenvolver Plano de Ação de Combate à Violên- a condição socioeconómica dos alunos, apesar das
cia em Contexto Escolar, sem prejuízo de permitir no melhorias, persiste como principal preditor do insu-
imediato o reforço do apoio dos serviços do Ministé- cesso escolar.
rio da Educação;
A população escolar portuguesa tem sofrido, feliz-
⟩ Reforçar os mecanismos de resposta às necessi- mente, profundas alterações. Os alunos estrangeiros
dades dos alunos e profissionais à disposição das mais do que duplicaram, o alargamento da escolari-
Escolas Integradas em Territórios Educativos de In- dade obrigatória reconfigurou o perfil dos alunos que
tervenção Prioritária; frequentam o ensino secundário. O apoio aos alunos
estrangeiros é uma prioridade.
⟩ Incentivar as parcerias entre as escolas, o tecido
empresarial local e as instituições de ensino supe- Portugal ultrapassou a meta europeia de redução do
rior, e melhorar a articulação entre o planeamento da abandono escolar precoce, situando-se abaixo dos
rede de ensino profissional e as necessidades das 10%. O sistema educativo, nos últimos 8 anos, be-
empresas; neficiou da produção de um manancial de indicado-
res que permitem associar os resultados escolares
⟩ Alargar a rede de escolas artísticas de artes visuais, a índices de equidade, verificando-se uma trajetória
incluindo-se a possibilidade de criar Escolas de Artes de melhoria das taxas de transição e conclusão no
que agreguem as diferentes ofertas de Ensino Artís- tempo esperado.
tico Especializado;
Tendo em conta a continuidade de uma política edu-
⟩ Consolidar a rede de Escolas Portuguesas no Es- cativa centrada na melhoria das aprendizagens e da
trangeiro; intensificação das áreas em que é necessário ir mais
longe, o Partido Socialista propõe:
⟩Lançar um debate nacional, com vista à criação de
um Livro Branco sobre a relação entre o sistema edu- ⟩Garantir a frequência gratuita da educação pré-es-
colar a todas as crianças a partir dos 3 anos, inves-

68 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


tindo na rede pública e recorrendo ao setor solidário funcionamento do ensino do Português Língua Não-
e à rede privada de forma supletiva; -Materna;

⟩ Instituir, de forma gradual, a obrigatoriedade da ⟩ Atualizar os valores que constituem referência


educação pré-escolar a partir dos 4 anos, tendo em para acesso à Ação Social Escolar, continuando a
conta o seu caráter preditor de aprendizagens de su- reconhecer esta como uma ferramenta concreta de
cesso nos primeiros anos de escolaridade; alavancagem e alisamento da igualdade de oportu-
nidades;
⟩ Revisitar a estrutura do Ensino Secundário Cientí-
fico-Humanístico, com vista a alargar as possibili- ⟩ Garantir aos alunos do ensino secundário benefi-
dades de organização do plano de estudos com um ciários da Ação Social Escolar a possibilidade de
tronco comum mais robusto e maiores possibilida- usufruírem de tutorias e/ou apoios especializados
des de opções; (explicações);

⟩ Garantir que os alunos que frequentaram o ensino ⟩ Concluir a revisão do modelo de financiamento dos
básico, em particular o 1.º ou o 2.º ciclos durante Centros de Recursos para a Inclusão.
a pandemia são acompanhados ao longo do seu
percurso escolar, realizando testes de diagnóstico
e beneficiando de planos personalizados de recupe- 4. Uma habitação digna
ração de aprendizagens;
para todos
⟩ Desenvolver um plano específico de intervenção na
área da matemática, em que o acompanhamento da A importância da habitação, para a vida de cada um,
implementação dos novos programas seja acompa- mas também para a qualidade da nossa vida coletiva
nhado da produção de recursos de aprendizagem e é demonstrada, na evidência que a casa é mais do
de formação dos professores; que quatro paredes e um teto. É a centralidade do
projeto de vida de cada pessoa e de cada família. É o
⟩ Promover um sistema integrado de promoção da local onde nos organizamos e nos preparamos para
leitura e da literacia de informação, a par de melho- os desafios de todos os dias. É o lugar onde come-
rias na didática da literatura, aglutinando iniciativas ça a liberdade e o garante da nossa dignidade. É a
dispersas e reforçando a sua intencionalidade; partir dela que abraçamos um projeto de realização
pessoal e é também alicerce para a construção de
⟩Continuar a capacitação digital das escolas, num uma sociedade mais justa, igual e coesa. É o nosso
currículo em que as competências digitais são tra- primeiro direito.
balhadas a par das artes, da educação física e das
humanidades; Apesar disso, só neste último ciclo, com os governos
do PS, começámos a alterar a visão política da habi-
⟩ Implementar uma política integrada de acolhimento tação como bem financeiro para a habitação como
aos alunos estrangeiros, garantindo uma formação bem essencial e parte fundamental do estado social.
intensiva em língua portuguesa que permita um bom Conseguimos por fim lançar as bases para a constru-
acompanhamento do currículo, através da revisão do

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 69


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

ção um parque publico robusto que garanta, coletiva- ⟩ Promover a gestão integrada do património público,
mente, uma proteção contra os excessos do merca- de forma que responda às diferentes necessidades
do. Um parque habitacional que responda não só aos setoriais, em particular na habitação;
mais carenciados, mas também a toda classe média,
em especial aos mais jovens. Este tem de ser um de- ⟩ Apoiar a aquisição de casa própria, através de:
sígnio duradouro assumido num consenso alargado.
· Estado prestar uma garantia pública ao financia-
Este aparente consenso não significa unanimidade
mento bancário nos créditos para aquisição de
de pensamento em matéria de habitação. Só um go-
casa própria de pessoas até aos 40 anos que ain-
verno do Partido Socialista procurará que o Direito
da não tenham nenhuma habitação em seu nome
à Habitação seja também um direito de escolha, o
e;
reconhecer de que todos os cidadãos devem ter uma
habitação digna, onde quer que escolham viver. · Em caso de incumprimento do pagamento do cré-
dito à habitação pelos beneficiários da garantia,
Também não podemos aceitar que este aparente pode o devedor, contratualizando com o Estado,
consenso seja uma cortina de fumo, aceitando que manter a casa como habitação permanente, me-
todos, especialmente os mais expostos à crise da diante o pagamento de uma renda ao Estado, que
habitação, mais pobres, mais jovens e mais velhos, assumiria a sua posição no crédito.
pagaremos os custos de ajustamento do tempo ne-
cessário à construção do parque publico. Portugal ⟩ Agravar as mais-valias em imóveis adquiridos e
tem um dos mercados mais liberalizados da Europa vendidos sem que tenham sido recuperados ou ha-
em matéria de habitação e temos de criar um ver- bitados;
dadeiro quadro de regulação desse mercado, garan-
tindo assim maior justiça e equilíbrio para todas as ⟩ Lançar novas linhas de financiamento para projetos
partes. de micro-housing, destinados a habitação temporá-
ria;
4.1.
Nestes 50 anos do 25 de Abril devemos ir mais longe ⟩ Reforçar as verbas destinadas à valorização do
no nosso compromisso, além de continuar o cami- Habitat dos bairros habitacionais públicos, com es-
nho para erradicar a curto prazo as carências habi- pecial foco na quebra de barreiras urbanísticas e
tacionais, e garantir um efetivo direito fundamental à valorização do espaço público e construção de equi-
habitação como base fundacional do Estado social. pamentos que garantam novas centralidades nestes
territórios;
Para tal, o PS propõe-se a:
⟩Aumentar a despesa dedutível com arrendamento
⟩ Dar continuidade ao investimento público na requa- em sede de IRS em 50 € por ano até atingir os 800 €;
lificação, alargamento e diversificação do parque pú-
blico de habitação com vista à atingir no médio prazo ⟩Rever a fórmula de cálculo para atualização de ren-
os 5% de parque público; das, incluindo a evolução dos salários nos critérios
de atualização em anos com inflação superior a 2%;
⟩ Lançar as bases para uma política de uma só porta
de entrada nas respostas públicas de habitação, evi- ⟩ Aumentar a abrangência do Porta 65, alterando os
tando a exclusão social;

70 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


limites para a sua aplicação; ⟩ Assegurar a integração de soluções a custos con-
trolados no licenciamento de novos projetos;
⟩ Criar um Código do Arrendamento Urbano, unifican-
do todas as regras do arrendamento num só instru- ⟩ Promover a industrialização do setor da construção
mento jurídico equilibrado e simplificado; e a construção verde, sustentável e projetos de eco-
-design;
⟩ Fomentar um programa de aquisição por parte do
Estado de habitações hipotecadas à banca, com ga- ⟩ Promover a digitalização efetiva dos setores da
rantia de arrendamento vitalício aos proprietários da Arquitetura, Engenharia, Construção e de Gestão ao
mesma habitação ou integração dessas habitações longo do ciclo de vida de um Projeto;
em programas de arrendamento acessível;
⟩ Promover a qualificação dos intervenientes no setor
⟩ Criar uma entidade fiscalizadora do arrendamento; da construção, designadamente em recursos como
a tecnologia BIM e a gestão de dados;
⟩Promover um regime excecional de regularização
de contratos informais, reforçando garantias de se- ⟩Promover a qualificação dos intervenientes no âm-
nhorios e arrendatários; bito de técnicas tradicionais, técnicas de construção
sustentável e tecnologias inovadoras;
⟩Criar projetos de mediação, geridos pelas câmaras
municipais, entre inquilinos e senhorios; ⟩ Concretizar o Código da Construção até 2026.

⟩ Transferir progressivamente a gestão dos imóveis


do IHRU para as autarquias adequando a gestão do 5. Cultura, artes
património às realidades locais e otimizando assim
a promoção de políticas públicas de habitação pelo e comunicação social
IHRU;
Depois do relançamento promovido nas últimas le-
⟩Criar o Balcão Mais habitação permitindo a Fregue- gislaturas, um futuro Governo do PS consolidará
sias e Municípios, à semelhança do Balcão do Cida- a trajetória de crescimento do sector, elegendo a
dão; cultura como uma das políticas públicas mais con-
tributivas para a coesão social e territorial e para a
⟩ Reforçar o compromisso europeu com o setor da competitividade internacional do país. Nesse senti-
habitação, garantindo que a política pública em ma- do, continuaremos a reforçar a dotação do setor, re-
téria de habitação é entendida como serviço públi- afirmando o objetivo de lhe afetar 1% do Orçamento
co, bem como a compatibilização das diretivas eu- de Estado, de forma gradual.
ropeias com a necessária prioridade na resposta à
crise habitacional; Concluiremos as intervenções previstas no Plano de
Recuperação e Resiliência e garantiremos a inscri-
ção da cultura no coração dos grandes instrumentos
4.2.
nacionais e regionais de financiamento comunitário,
No que respeita à construção, o PS irá:

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 71


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

assegurando que o Portugal 2030 inclui avisos espe- da Área da Cultura e a garantir a efetiva proteção so-
cíficos para o setor cultural e criativo. cial aos trabalhadores do setor;

Enquanto dimensão do Estado Social, a nossa polí- ⟩ Aumentar a exigência de celebração de contratos
tica cultural assentará no princípio da democratiza- de trabalho por parte das entidades apoiadas pelo
ção, visando o envolvimento de todas as pessoas Estado e reduzir os vínculos de trabalho precário que
num maior acesso às artes e aos bens culturais, bem ainda permanecem nas instituições com financia-
como numa mais assídua e consciente participação. mento público;
Como assentará na valorização dos profissionais do
setor, que têm direito a viver melhor, menos sujeitos ⟩ Prosseguir trajetória de reforço de verbas para os
à intermitência e à precariedade. apoios às artes e criar um mecanismo corretivo para
que os apoios tenham expressão em todo o territó-
Uma política cultural para um Portugal Inteiro deve rio nacional, introduzindo uma diferenciação positiva
prever recursos para apoiar todos os territórios, de para zonas do país com escassa ou nula oferta cul-
Norte a Sul, nos grandes centros urbanos como nas tural;
cidades de média e pequena dimensão, e ter um es-
pecial cuidado para que a oferta cultural alcance as ⟩ Consolidar e alargar a Rede de Teatros e Cinetea-
vilas e aldeias dos territórios mais isolados. A esse tros e o programa de apoio financeiro à sua progra-
propósito, é primordial apostar numa escala intermé- mação, aprofundando a responsabilidade partilhada
dia de políticas culturais, consolidando a integração entre o Estado central e as autarquias no fomento
das competências das Direções Regionais de Cultura da produção artística e no acesso à cultura por parte
nas CCDR e acompanhando-a de uma redefinição do das populações;
seu papel nesta área.
⟩ Identificar e renovar espaços devolutos, não ele-
Aprofundaremos a relação entre o sistema educativo gíveis para habitação, em articulação com as au-
e a cultura, apostando em políticas culturais que in- tarquias, que possam ser cedidos gratuitamente a
cidam a montante, nas escolas, onde nascem voca- criadores e estruturas culturais como espaços de
ções e se formam os públicos e os leitores de ama- trabalho, ensaio e armazenamento;
nhã. A cultura é essencial para que Portugal cresça
como comunidade inteira, mais consciente de si, dos ⟩ Fortalecer os apoios à criação, programação e in-
seus e de todos os que abraça e o abraçam. ternacionalização na área da dança, e equacionar a
criação de um ou mais Centros Coreográficos Nacio-
5.1. nais fora dos principais centros urbanos;
Assim, no que respeita aos apoios às artes e aos
profissionais do setor, à presença das artes no ensi- ⟩ Criar uma Plataforma de Circulação Nacional que
no público e ao audiovisual, o PS irá: proporcione a jovens artistas e criadores apresenta-
rem publicamente o seu trabalho em espaços patri-
⟩ Proceder a uma avaliação e revisão do Estatuto dos moniais representativos do nosso legado histórico,
Profissionais da Área da Cultura, de modo a promo- dotando-os de uma programação regular;
ver uma maior adesão ao Registo dos Profissionais

72 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


⟩Reforçar o acesso ao regime de ensino articulado políticas e ações de fomento da leitura para que inci-
da música, do teatro e da dança e alargar a rede de dam cada vez mais nas comunidades e num melhor
estabelecimentos abrangidos; ensino da literatura universal em todos os ciclos e
níveis de ensino;
⟩Acentuar a presença das artes em todos os ciclos
do ensino público, reforçando os recursos à disposi- ⟩ Reforçar a missão da Direção-Geral do Livro, dos
ção dos Planos Nacionais das Artes, de Leitura, de Arquivos e das Bibliotecas de fomento do livro e da
Cinema e de Literacia Mediática; leitura, e reformular Plano Nacional de Leitura;

⟩ Aprofundar o compromisso da RTP (rádio e televi- ⟩ Reforçar o financiamento das bibliotecas públicas,
são) com a difusão cultural e revisitar o seu papel no no plano da programação, da capacitação das equi-
apoio à produção nacional, ponderando a afetação pas, criando, em conjunto com as autarquias, planos
de uma percentagem da CAV para o cinema e audio- locais de leitura;
visual e uma quota da emissão diária para o setor da
cultura; ⟩ Conceber uma ecologia do livro com medidas de
conservação de pequenas livrarias e de apoio às pe-
⟩ Criar mecanismos eficazes, no âmbito do Instituto quenas editoras e independentes, através, entre ou-
do Cinema e do Audiovisual, para distribuir e mos- tros, de um programa regular de aquisição de livros
trar internamente o cinema produzido em Portugal, pela Rede de Bibliotecas Públicas e do relançamento
incluindo incentivos aos operadores privados, expan- de uma distribuidora do Estado capaz de assegurar
dindo a exibição cinematográfica em territórios defi- uma adequada presença dos seus livros no conjunto
citários; do território;

⟩ Avançar com um novo estatuto do mecenato cul- ⟩ Apoiar a tradução e promover a internacionalização
tural. da produção literária nacional, com um protocolo es-
pecífico com o Brasil e os países lusófonos;
5.2.
Um futuro Governo do PS dará centralidade ao livro ⟩ Equacionar isenções fiscais relativas à tributação
e à leitura, articulando o Ministério da Cultura e o Mi- do valor dos livros em armazém, prevenindo a des-
nistério da Educação em torno de um novo impulso truição de livros devolvidos às editoras;
aos hábitos de leitura, desde tenra idade, reestrutu-
rando as políticas nesta área para que incidam cada ⟩ Estipular uma quota fixa de livros em braille, livro
vez mais nas comunidades e nos currículos escola- digital e áudio-livro, compensando financeiramente
res. as editoras;

Para tal, o PS propõe: 5.3.


Na vertente da descentralização dos museus e do
⟩Criar, através do Plano Nacional de Leitura e das património material e imaterial, o PS irá:
estratégias locais de leitura, um novo impulso aos
hábitos de leitura, desde tenra idade, estruturando as ⟩ Consolidar a reorganização estratégica no sector

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 73


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

dos museus e do património com a criação da Mu- 5.4.


seus e Monumentos de Portugal, E.P.E. e do Patrimó- No setor da comunicação social e média, face aos
nio Cultural, I.P., reforçando a capacidade de progra- riscos de concentração e opacidade na titularidade
mação e mediação cultural de museus, monumentos dos órgãos de comunicação social, à fragilidade fi-
e palácios; nanceira das empresas e na adaptação ao digital,
somos convocados a defender uma comunicação
⟩ Aprofundar a reforma territorial e a descentraliza- social independente do poder político e económico,
ção dos setores públicos da Cultura e Património, livre e sustentável. Urge, pois, atuar em diversas fren-
através da criação de redes regionais de museus, tes: na atualização do quadro legislativo e sua eficaz
monumentos e sítios arqueológicos; aplicação, na sustentabilidade económico-financeira
dos OCS e seus profissionais, na qualidade da infor-
⟩ Aprofundar e agilizar a gestão do património cultu- mação e no serviço público de média.
ral, incluindo arquivos;
Assim, o PS propõe:
⟩ Relançar a Estratégia Nacional de Arqueologia, com
a criação de redes regionais de reservas e serviços ⟩ Rever o modelo de regulação da comunicação so-
arqueológicos; cial, ao nível das competências do regulador em fun-
ção das novas obrigações;
⟩Reforçar os quadros da Administração Pública nas
áreas do Património Cultural, atendendo, em espe- ⟩ Densificar a Lei da Transparência dos média a fim
cial, ao défice de profissionais na área da arqueolo- de equacionar obrigações especiais relativas à cons-
gia e regulamentar o perfil profissional dos conserva- tituição da propriedade, implicando neste processo
dores-restauradores; outros reguladores setoriais como o Banco de Portu-
gal, CMVM, AC;
⟩ Fomentar projetos culturais e pedagógicos que pro-
movam e divulguem a tradição oral performativa e ⟩ Assumir uma posição mais significativa na estrutu-
popular do património literário e cultural português, e ra acionista da Lusa -Agência de Notícias de Portu-
as artes tradicionais, com base em incentivos à cria- gal, SA, disponibilizando os seus serviços sem cus-
ção e divulgação; tos a todos os órgãos de comunicação social;

⟩ Proteger o património linguístico minoritário, desig- ⟩Providenciar apoios à distribuição de publicações


nadamente o mirandês e barranquenho, criando res- periódicas em zonas do interior do país;
postas orgânicas para a sua promoção e concluindo
a ratificação da carta europeia das línguas regionais ⟩ Criar um incentivo à leitura de jornais para todos
e minoritárias; os jovens que completam a sua maioridade, através
da atribuição de um cheque-jornal para aplicação em
⟩ Criar um programa continuado de visitas de curado- assinatura(s) de órgãos de informação geral de âm-
res internacionais a espaços de artes visuais do país, bito nacional ou local;
e, em paralelo, apoiar a participação de galerias de
arte em feiras internacionais, para dinamizar o mer-
cado interno da arte.

74 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


⟩ Concretizar o Programa de Literacia Mediática versos patamares do alto rendimento.
(PLM), potenciando a integração eficaz da literacia
mediática nos currículos escolares em todos os ní- Desde logo, assegurando a expansão das Unidades
veis e ciclos de ensino; de Apoio ao Alto Rendimento na Escola (UAARE), um
programa decisivo no apoio à carreira dupla e atu-
⟩ Reforçar os poderes de atuação legais face à ocor- almente frequentado por 1.300 alunos-atletas de 55
rência de campanhas de desinformação por via da modalidades, dando continuidade ao alargamento
utilização ilegítima das plataformas digitais, com a da rede no ensino básico e secundário e implemen-
criação de mecanismos no âmbito da ciberseguran- tar as UAARE no ensino superior, concretizando os
ça; projetos-piloto em curso.

⟩ Proceder à revisão do Contrato de Concessão do Os projetos olímpico e paralímpico para Paris’24 con-
Serviço Público de Rádio e Televisão, criando me- tam com um financiamento histórico. Os atletas e
canismos de reforço do caráter distintivo da progra- treinadores do projeto surdolímpico conhecerão, em
mação, avaliação do modelo de governação e do 2025, a equiparação completa das bolsas.
modelo de financiamento, bem como ponderando o
investimento necessário à salvaguarda do seu patri- O apoio público à captação de eventos desportivos
mónio arquivístico audiovisual; internacionais deve, portanto, evoluir para uma ação
coordenada entre o Instituto Português do Desporto
⟩ Adequar a legislação nacional às obrigações defini- e Juventude (IPDJ) e o Turismo de Portugal, ponde-
das pelos novos regulamentos europeus. rada em fatores como o impacto, retorno e territo-
rialidade, bem como a sustentabilidade social e am-
biental. A Conferência de Ministros do Desporto do
6. Desporto e atividade física Conselho da Europa 2024, que será realizada em Por-
tugal, no Porto, protagonizará um dos mais relevan-
A afirmação internacional do desporto português re- tes momentos políticos do desporto internacional.
presenta um objetivo estratégico para o desenvolvi- Um segundo objetivo estratégico assenta no aumen-
mento do setor. to dos índices de atividade física da população em
geral, tendo em vista que, no final da década, Portu-
De facto, desporto tem contribuído, inúmeras vezes, gal esteja entre os 15 países mais ativos da União
para a projeção do país e para a elevação do seu va- Europeia.
lor reputacional, promovendo a sua imagem em mer-
cados e regiões prioritários. Fá-lo pelas conquistas e A plena concretização destes objetivos estratégicos
títulos internacionais de atletas, clubes e seleções. implica:
Fá-lo, igualmente, pelo impacto internacional dos
eventos e competições que ocorrem em território
⟩ Proceder à revisão da Lei de Bases da Atividade
nacional. Física e do Desporto, cuja audição pública já foi re-
alizada;
Por conseguinte, deve ser mantida a aposta nos di-
⟩ Definir um plano estratégico de desenvolvimento

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 75


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

desportivo de carácter plurianual, assente, entre ou- Prevenção e Combate à Violência no Desporto;
tros eixos, na defesa da integridade e na promoção
· Dar prioridade à proteção de crianças e jovens. A
da igualdade de género e do desporto adaptado e
implementação do novo regime jurídico da forma-
que tenha a ambição de atingir a meta de 1 milhão de
ção desportiva e a ação preventiva e fiscalizadora
praticantes desportivos federados, correspondente a
do IPDJ devem liderar a atuações pública neste
10% da população, até 2030;
domínio.
⟩ Criar o Observatório do Desporto e a da Atividade
Física numa parceria entre a academia, entidades
desportivas nacionais e a Administração Pública
para habilitar as definição e implementação de po-
líticas públicas e as tomadas de decisão multisseto-
riais dos diversos agentes e entidades desportivas;

⟩ Adotar uma nova abordagem de literacia motora


nas primeiras idades escolares, entre os 6 e os 10
anos e aumentar o investimento mo desporto esco-
lar;

⟩ Criar um novo estatuto do dirigente desportivo be-


névolo capaz de mobilizar mais cidadãos para as
funções dirigentes, principalmente nos clubes de
base local;

⟩ Valorizar a igualdade, inclusão e integridade e segu-


rança no desporto:

· Valorizar a igualdade, dando corpo às recomenda-


ções apresentadas pelo Grupo de Trabalho para a
Igualdade de Género no Desporto, com o objetivo
de colocar Portugal na média europeia em 2030,
em número de praticantes e nos lugares de lide-
rança;

· Valorizar a inclusão, comprometendo as entidades


desportivas com o desporto adaptado;

· Valorizar a integridade e a segurança, destacando


a ação da Autoridade de Antidopagem de Portu-
gal, da Plataforma de Combate à Manipulação das
Competições Desportivas e da Autoridade para a

76 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 77
3.ª
MISSÃO
UM TERRITÓRIO
INTEIRO E
UMA TRANSIÇÃO
CLIMÁTICA JUSTA

78 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 79
PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

3.ª MISSÃO:
Um Portugal inteiro valoriza todos os seus territórios,
assumindo um modelo de desenvolvimento de coe-
são e ordenamento para o qual contribuem as políti-

UM TERRITÓRIO cas públicas de cidade com valorização do interior,


dinamizando a economia e criando emprego.

INTEIRO E O interior tem ativos territoriais que têm de ser dina-

UMA TRANSIÇÃO mizados. Um deles são as cidades e eixos urbanos,


que devem ser âncoras de desenvolvimento. Nestes

CLIMÁTICA JUSTA
eixos temos maior capacidade para fixar população
através de economias dinâmicas, que promovem
emprego e geram oportunidades de bem-estar e vida
digna. Só seremos um país desenvolvido e próspero
cuidando do território como um todo: litoral e interior;
áreas urbanas e territórios de baixa densidade.

A gestão de maior proximidade, com coordenação à


escala regional e supramunicipal está em curso com
a consolidação do processo de descentralização de
competências, mas a respetiva eficiência pode ser
aprofundada, também, com o arranque do processo
de regionalização, assegurando maior proximidade
dos cidadãos, maior responsabilidade dos eleitos e
a eficiência dos serviços públicos.

A emergência ambiental impõe-se e o habitat em que


vivemos está sob ameaça. Assistimos a eventos cli-
máticos cuja severidade e frequência aumentam de
ano para ano e esta tendência em conjunto com os
desafios atuais ao equilíbrio dos ecossistemas e da
biodiversidade, tem evidentes impactos nos ecossis-
temas, incluindo no bem-estar e qualidade de vida da
espécie humana. Temos de combater as alterações
climáticas, reafirmar a liderança na redução de emis-
sões e proteger o património natural e a biodiversida-
de. Portugal tem de promover um diálogo ativo com
os produtores - agricultores, silvicultores e apiculto-
res - compreendendo a importância e o papel cres-
cente da agricultura e florestas, enquanto setores de
futuro, inovação autonomia e investimento, sobretu-

80 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


do no mundo rural e em territórios de baixa densida- 1. Coesão e Território:
de Neste contexto, devemos valorizar a agricultura e
os agricultores, sobretudo em modo biológico, com
ordenamento, políticas de
uso eficiente do solo e da água, de baixas emissões, cidade e valorização do interior
de proximidade e pequena escala (não só familiar) para dinamizar a economia
para incentivar práticas que regenerem a natureza
e promovam a criação de circuitos curtos de distri- 1.1.
buição alimentar. Esta realidade pode estimular mer- O interior não é um espaço uniforme, tem polos de
cados e a economia local e regional, promovendo o dinâmica socioeconómica, verdadeiras cidades-ân-
comércio local, o que pode criar novos mecanismos cora que materializam um apoio à baixa densidade
de justa redistribuição de riqueza. que a rodeia.

Portugal, enquanto país continental e arquipelágico, A política de coesão é nacional e destina-se ao país
onde o mar é elo dos territórios terrestres e fator de inteiro. É uma política de desenvolvimento com que
coesão territorial e nacional, tem de ter um novo im- se pretende qualificar cada território e assegurar a
pulso para o desenvolvimento do potencial oceânico sua integração nas dinâmicas da economia e da so-
do país. Para além deste potencial, também no com- ciedade. Ela deve assentar numa identificação dos
bate às alterações climáticas, importa ter presente melhores recursos do território, de cada território, na
a relação do oceano com o combate às alterações estruturação da base económica diversificada que
climáticas, sobretudo na sua função de sumidouro carateriza Portugal e em ações de política pública
de carbono. Por outro lado, tal como o bom estado que, para cada caso, estimulem capacidades e defi-
dos solos, também no meio marinho é essencial as- nam as prioridades que reequilibrem o que se tornou
segurar boas condições de proteção e conservação estruturalmente desequilibrado e assimétrico.
que são relevantes para a saúde humana, pesca ou
biodiversidade. A base para cumprirmos o potencial Todos os territórios do país dispõem de recursos e
oceânico é o conhecimento e inovação que promo- capacidades. Cuidar da base material e institucional
vemos enquanto país e cujo retorno da aposta nas de cada um é, por isso, essencial para a coesão e o
qualificações se materializa em desenvolvimento desenvolvimento. As cidades médias e os sistemas
económico no médio e longo prazo. urbanos que se formam à volta delas, as estruturas
produtivas locais e os respetivos postos de trabalho
e a rede de serviços públicos que foi sendo estabele-
cida são os principais recursos do território. Mesmo
nas regiões habitualmente designadas como de “in-
terior”, é nas suas cidades e em tudo o que gravita
à volta delas que estão os melhores ativos territo-
riais. São âncoras do território e é também com elas
que os outros territórios na sua proximidade, rurais
ou de mais baixa densidade, estabelecem as suas
principais relações – é das suas capacidades e das

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 81


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

funções que tais aglomerações desempenhem que de alta velocidade e a maximização da cobertura da
depende a melhoria da vida nos pequenos meios. rede 5G;
Importa, pois, reforçar essa condição urbana através
das suas economias, da qualificação do emprego e ⟩ Assegurar a cobertura de todo o território nacional
da atenção à provisão pública para o bem-estar das por redes de internet de alta velocidade, promovendo
pessoas. a conetividade dos territórios de baixa densidade e a
eliminação de zonas sem cobertura de rede;
Por outro lado, o digital permite contornar as limita-
ções que o tempo e o espaço colocam à experiên- ⟩ Implementar a estratégia de Territórios Inteligen-
cia humana. Permite vencer tantas das barreiras que tes, afirmando o país como uma nação inteligente,
nos habituámos a encontrar na nossa vida. Podemos fazendo com que projetos protagonistas e pioneiros
estar juntos e juntas sem estarmos no mesmo sítio. que investem na gestão urbana integrada e que con-
Podemos criar valor onde quer que estejamos, onde vergem para a inteligência territorial e o desenvolvi-
quer que possam estar as novas ferramentas de tra- mento sustentável, comuniquem, adotem sistemas
balho. E isso não tem de ser apenas nos grandes abertos, partilhem recursos e ganhem escala para
centros urbanos. O digital é, por isso, um elemento garantirem políticas públicas baseadas em evidên-
fundamental para promover a coesão do país e a cias;
igualdade de oportunidades, não só entre pessoas,
mas também entre regiões. ⟩ Reforçar a ciber-resiliência das pequenas e médias
empresas e das entidades da Administração Pública,
Com vista a promover a coesão territorial, o PS irá: especialmente das que estão localizadas fora dos
grandes centros urbanos, através do desenvolvimen-
⟩ Eliminar as portagens das auto-estradas “ex-SCUT” to de projetos PRR como a C-Academy (Academia de
com baixo tráfego em territórios de baixa densida- Cibersegurança), e a C-Network (rede de centros de
de, designadamente: na A28 no Alto Minho, na A13 competência em cibersegurança) em todas as regi-
e A13-1 no Pinhal Interior, na A23 e A25 na Beira In- ões NUTS II do território nacional;
terior, na A4 e A24 em Trás-os-Montes, e na A22 no
Algarve; ⟩ Concretizar a “Agenda do Turismo para o Interior”
promovendo um turismo mais equilibrado e uma
⟩ Definir uma estratégia de desconcentração de ser- transformação no modelo de desenvolvimento turís-
viços públicos, organizando assim a vontade de lo- tico do país, onde contam todas as geografias;
calizar fora de Lisboa alguns serviços centrais do
Estado; ⟩Apoiar a criação de centros de qualificação no teci-
do empresarial, em articulação com a rede científica
⟩ Relançar o Programa “Chave na Mão”, facilitando a e de ensino superior, nos territórios de baixa densi-
deslocalização de agregados familiares para o inte- dade;
rior através do subarrendamento dos seus fogos no
litoral pelo Estado; ⟩ Garantir a execução do programa de financiamento
para cobertura de telecomunicações de capacidade
⟩ Promover a utilização massificada da internet fixa muito elevada a todas as regiões do país;

82 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


⟩Aprofundar a partilha e planeamento em conjunto 1.2.
de serviços básicos nos territórios transfronteiriços É necessário desenvolver Portugal como país inteiro.
nas áreas de educação, saúde, serviços sociais e As áreas metropolitanas são parte muito importan-
proteção civil; te da política de coesão. Pela importância que têm
na fixação da população e do emprego e por aqui se
⟩ Criar redes territoriais de proximidade para informar encontrarem os setores e as atividades mais desen-
e capacitar atores locais sobre os mecanismos de volvidas do país. Mas também elas sofrem hoje os
financiamento comunitário disponíveis, através do problemas de uma organização assimétrica do país
estabelecimento de parcerias entre CCDR, Entidades e bloqueios de desenvolvimento que justificam aten-
Intermunicipais e Associações de Desenvolvimento ção. O reequilíbrio das relações inter-regionais no
Local; país e a qualificação dos territórios não metropolita-
nos é importante para o bem comum.
⟩ Apostar em ações de formação incentivando os re-
sidentes nas aldeias a investir no turismo, bem como Portugal precisa de potenciar a eficiência das zonas
em qualificação dos profissionais melhorando a qua- urbanas e metropolitanas. Economias dinâmicas
lidade dos serviços, informando os potenciais inves- precisam de centros culturais e económicos capa-
tidores dos apoios existentes; zes de reter qualificações. Importa, pois, estabelecer
uma renovada Política Pública de Cidade, uma estra-
⟩ Rever a regulamentação das áreas classificadas, tégia urbana clara a cargo de uma entidade robusta e
estimulando consórcios de gestão municipal ou in- competente que tenha como função cuidar da efici-
termunicipal; ência e dinamismo das cidades e que seja responsá-
vel pela concretização das diretivas europeias nesta
⟩ Criar centros de excelência no interior, dotando as matéria.
instituições de ensino superior do interior dos fundos
destinados à inovação e à captação de professores Estamos perante uma evidente necessidade de maio-
que as projetem internacionalmente; res articulações - entre cidade e campo, entre cen-
tros e periferias, entre saberes e fazeres, entre espa-
⟩ Implementar um projeto piloto de agrupamento de ços e tempos, com base em visões e propostas para
corpos de bombeiros, à escala das entidades inter- os mais diversos campos: mobilidade, acessibilida-
municipais, melhorando o desempenho operacional des, transportes, ambiente, acesso a bens, serviços,
e a gestão eficiente dos recursos, através de contra- habitação, escolas, equipamentos de saúde, cultura
tos programa e indicadores de desempenho; ou espaços naturais. Temos de aproveitar as opor-
tunidades descentralizadas que incentivem os cir-
⟩ Promover um planeamento dinâmico alterando o cuitos curtos, nomeadamente através da produção
Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Terri- e consumo locais, ou a inovação de base territorial,
torial contribuindo para satisfazer as necessidades através de uma articulação mais robusta entre servi-
locais, em articulação entre o Sistema de Gestão In- ços/indústria, governos locais e conhecimento técni-
tegrada de Fogos Rurais. co-científico. Intervenções urbanas que valorizem os
lugares, os bairros e as relações de proximidade, que

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 83


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

respondam de forma resiliente a situações de risco, ⟩ Criar a Plataforma “Na Minha Terra” com aplicação
sendo igualmente o fermento de uma cidadania mais para dispositivos móveis para o registo de ocorrên-
ativa e interventiva na cogovernação dos territórios. cias sobre espaços públicos, infraestruturas, espaços
verdes ou serviços públicos tendo em vista uma res-
Desta forma, o PS propõe: posta eficiente ao cidadão no respetivo tratamento
das ocorrências em função das competências e atri-
⟩ Definir uma renovada Política de Cidades e Rege- buições das entidades.
neração Urbana, reforçando a transição das cidades
rumo à sustentabilidade, reabilitação urbana ecoló-
gica, eficiente e sustentável, em colaboração entre o 2. Descentralização
governo central, as autarquias locais, a academia, as
empresas e a sociedade civil; e Regionalização: maior
proximidade, responsabilidade
⟩ Apoiar os municípios que queiram criar “Cidades de
e eficiência
15 minutos”, onde todas as valências se encontrem
a curta distância da residência;
A regionalização alicerçada num amplo consenso
político e social e a descentralização, como formas
⟩ Promover uma nova geração de políticas de reabili-
de criar e reforçar níveis intermédios – regionais, in-
tação urbana, dedicados à ecologia;
termunicipais e locais - de decisão legitimados de-
mocraticamente que prossigam os interesses das
⟩ Implementar um Programa de Reconversão das Áre-
populações e dos territórios que representam, são
as Urbanas de Génese Ilegal com apoio financeiro, a
processos a implementar e aprofundar, respetiva-
gerir pelos municípios, para eliminar construções em
mente.
áreas de risco ou de restauro ecológico, bem como o
realojamento de população;
A reorganização do Estado através da transferência
de competências para níveis infraestatais permite
⟩ Garantir a coesão política dos planos locais e nacio-
aumentar a legitimidade democrática das decisões
nais de energia e clima;
administrativas e a responsabilização dos seus auto-
res, definir políticas públicas ajustadas aos diversos
⟩ Promover a reforma do sistema de planeamento
tipos de territórios de forma mais participada, tornar
territorial com planos de ordenamento territoriais
mais eficiente a gestão pública e melhorar a qualida-
mais estratégicos e eficazes, que deixem de cons-
de dos serviços públicos.
tituir tão-somente somatórios de imposições secto-
riais, antes obedecendo a uma visão integrada e sis-
Neste contexto, o passo que se seguirá será o de
témica de desenvolvimento do território;
avaliar o movimento de descentralização e afinar
aspetos relevantes da sua operacionalização no que
⟩ Promover a reforma do sistema de planeamento
respeita ao financiamento adequado para as várias
territorial, através de planos de ordenamento mais
missões, clareza no relacionamento entre municí-
estratégicos e eficazes, obedecendo a uma visão in-
pios e freguesias e garantia de reforço de meios para
tegrada e sistémica de desenvolvimento;

84 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


a sua concretização. em curso;

Um território coeso tem de priorizar um modelo de ⟩Estudar novas competências a descentralizar para
desenvolvimento de combate às disparidades re- os municípios e para as freguesias;
gionais, que inclua os sistemas urbanos, as grandes
infraestruturas de transportes e comunicações, a ⟩ Acompanhar o processo de democratização e de
mobilidade integrada, a partilha de serviços públicos integração de serviços desconcentrados nas novas
e a gestão do património público, numa lógica des- CCDR, IP;
centralizadora e com uma perspetiva estratégica de
cooperação para os objetivos e metas de desenvol- ⟩ Capacitar as CCDR para o adequado funcionamen-
vimento do país. to das conferências procedimentais no respeito dos
prazos sem perder qualidade da análise e resposta
O empoderamento das Comissões de Coordenação das equipas técnicas;
e Desenvolvimento Regional (CCDR) permite corrigir
alguns défices de coordenação entre financiamento, ⟩Aplicar o princípio da descentralização e da subsi-
gestão e implementação de políticas de desenvolvi- diariedade assumindo as CCDR e as entidades inter-
mento territorial. É necessário monitorizar e avaliar, municipais um papel-chave na gestão dos futuros
em diálogo com os vários protagonistas, em tempo Programas Regionais de gestão dos fundos euro-
útil e com indicadores qualitativos e quantitativos o peus;
procedimento de integração dos serviços descon-
centrados do Estado nas CCDR, o que permitirá reti- ⟩ Reforçar os processos de contratualização e funda-
rar importantes lições para um processo participado mentação dos investimentos públicos - à escala NUT
de regionalização. II e NUT III - em linha com as prioridades das estraté-
gias nacionais, regionais e sub-regionais aprovadas;
A coesão territorial através de um planeamento di-
nâmico e reformista cumpre-se quando o Estado ga- ⟩ Aprofundar os Contratos Programa “Estado Região”
rantir que qualquer cidadão, independentemente de estabelecidos entre o Governo e as CCDR identifican-
onde tenha nascido ou onde escolheu viver, conse- do os compromissos de investimento âncora para
gue ter uma resposta de qualidade em áreas como a assegurar a concretização das respetivas Estraté-
saúde, a educação e os transportes. gias de Desenvolvimento Regional 2030.

Assim, o PS propõe:

⟩ Estabelecer um roteiro para a regionalização de


Portugal continental, promovendo a análise custo-
-benefício;

⟩ Aprofundar a descentralização para ter serviços


públicos mais eficientes e mais próximos, depois de
monitorizar e avaliar, de forma dialogada, o processo

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 85


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

3. Ambiente e Clima: proteger o setor, e usar este como referência na contratação

património natural e reafirmar pública sustentável;

a liderança na redução de ⟩Apostar na valorização económica da regeneração


emissões de solos e de ativos biológicos e na remuneração de
serviços de ecossistemas, num cenário de criação
3.1. de territórios neutros em carbono;
Portugal possui um património natural único na sua
diversidade e riqueza. O ambiente não tem limites, é ⟩Reforçar a capacidade de resposta do Sistema de
nesse ecossistema que existimos enquanto socieda- Avaliação e Gestão Ambiental, acompanhando o au-
de, que assegura as condições básicas de subsistên- mento de projetos de transição climática e energéti-
cia humana. Assumimos o Ambiente por Inteiro: um ca;
pilar fundamental que temos de proteger com uma
visão socialmente justa e intergeracional de tutela da ⟩ Formar a cidadania ambiental, através de um me-
biodiversidade, sustentabilidade e combate às alte- canismo de apoio transparente, público, equitativo e
rações climáticas. abrangente à participação da sociedade civil na con-
dução das políticas de ambiente em todo o território
Desta forma, o PS propõe: nacional, nomeadamente através do apoio financeiro
à atividade das Organizações Não Governamentais
⟩ Melhorar a qualidade de vida e bem-estar da popu- de Ambiente no que concerne ao exercício dos direi-
lação, promovendo a qualidade do ar e a prevenção e tos dos cidadãos em matéria ambiental e de ordena-
controlo da poluição, reduzindo as emissões, contro- mento do território.
lando e revendo a lei do ruído ambiente tal como da
poluição luminosa, aprovando um regime prevenção 3.2.
da contaminação e a remediação dos solos contami- A Lei de Bases do Clima reconheceu a situação de
nados (ProSolos), e implementando o regime de pre- Emergência Climática em Portugal e visa desenca-
venção e remediação dos danos ambientais, com a dear um processo de mobilização da ação climática
responsabilização das entidades que deram origem em todo o território nacional, estimulando a função
à situação; do Estado Promotor de política pública que e terri-
torialização da Ação Climática à escala regional e
⟩ Desenvolver o Livro Branco sobre o Estado do Am- municipal.
biente em 2026, conforme disposto na Lei que define
as Bases da Política de Ambiente; As consequências das alterações climáticas não são
um problema apenas das gerações futuras, são um
⟩ Reduzir o imposto de selo para empréstimos verdes problema do presente. O aumento do nível médio do
e circulares; mar, os picos de precipitação, as vagas de calor, as
secas, os incêndios ou as cheias afetam-nos a todos
⟩Criar um Passaporte Verde que acredite empresas e não terminam nas fronteiras do país, da região, do
com padrões de sustentabilidade, definido setor a município ou da freguesia.

86 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


Precisamos mobilizar toda a nossa energia social eficiente, que na realidade está também correlacio-
para este desafio coletivo, acelerando as reformas nada com a alteração de paradigma para uma eco-
na transição energética e climática e antecipando nomia mais circular assim como os hábitos de con-
em 5 anos a neutralidade carbónica para 2045. sumo designadamente na alimentação.

Desta forma, o PS propõe: Assim, o PS irá:

⟩ Rever com ambição o PNEC 2030, até junho de ⟩Promover a venda a granel, eliminando barreiras le-
2024 e implementar as exigências da Lei de Bases gais que limitam a sua disseminação;
do Clima, nomeadamente através da definição da
Estratégia Industrial Verde, a elaboração dos planos ⟩Apoiar a economia circular, estimulando a reutiliza-
setoriais de mitigação e de adaptação e dos planos ção, a aquisição em 2ª mão, a manutenção, a inova-
regionais e municipais de ação climática, e a elabora- ção, o ecodesign, as indústrias criativas;
ção do inventário nacional de emissões de gases de
efeito de estufa e do relatório de avaliação inicial de ⟩ Abandonar o paradigma de linearidade (extrair, pro-
impacto climático; duzir, consumir e deitar fora), valorizando um para-
digma circular (produzir, consumir, reciclar, reutilizar)
⟩ Dar sequência à regulamentação do novo Mercado gerindo os resíduos através da recolha seletiva, da
Voluntário de Carbono, no qual se valorizará o capital implementação do sistema de depósito e reembolso
natural, existente e futuro, promovendo os serviços de embalagens de plástico e metal e do apoio aos
de ecossistema e a biodiversidade, de forma credí- municípios na implementação de sistemas de reco-
vel e segura, num sistema de contabilidade nacional lha seletiva de biorresíduos;
integrado;
⟩Promover ativamente o Plano de Ação para a Eco-
⟩ Adaptar o território aos fenómenos climáticos ex- nomia Circular e um Conselho Estratégico para a
tremos e assegurar a sua proteção por seguros, atra- Economia Circular e Regenerativa;
vés da criação de um Fundo de Garantia dos Riscos
Climáticos; ⟩ Promover a compostagem de biorresíduos em con-
textos domésticos e comunitários, como parte inte-
3.3. grante de uma estratégia nacional para a sustentabi-
A concentração de população nas cidades impõe di- lidade;
nâmicas de produção e consumo nas áreas urbanas,
mas também ao equilíbrio de ocupação dos restan- ⟩ Promover a valorização energética dos resíduos e
tes territórios, que exigem um planeamento que deve fomentar a recolha do biometano;
acautelar a eficiente utilização dos recursos. Uma
das consequências destes padrões de consumo tem ⟩ Ponderar a utilização de Resíduos de Construção
sido a crescente acumulação de resíduos. Por isso, e Demolição (RCD) e outros resíduos existentes em
e pelas exigentes metas a que nos propomos com aterro com viabilidade económica e ambiental, as-
a neutralidade carbónica em 2045, temos de redu- sim como substituir o consumo de matérias-primas
zir os resíduos em aterros e tratá-los de forma mais virgens por matérias-primas alternativas descarbo-

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 87


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

natadas (coprocessamento); transição digital nas empresas;

⟩ Fomentar a desconstrução organizada e assegurar ⟩ Desenho de uma Estratégia Nacional de apoio para
a reciclabilidade dos materiais de construção duran- tecnologias de impacto zero em linha com o The Ne-
te a demolição de edifícios e infraestruturas de for- t-Zero Industry Act;
ma a permitir a sua reutilização eficaz e assegurar a
circularidade. ⟩ Estabelecer Academias de indústrias de impacto
zero, com o apoio e a supervisão da Plataforma Im-
3.4. pacto Zero Europa;
Para um partido como o PS, conter emissões de
carbono, transformando os nossos modelos de de- ⟩ Colocar Portugal ao lado do Plano Industrial do Pac-

senvolvimento económico e social significa neces- to Ecológico Europeu: criar um quadro regulamentar
sariamente lutar pela igualdade de oportunidades. previsível e simplificado, garantir acesso mais rápido
Reduzindo impostos sobre o fator trabalho e trans- ao financiamento; desenvolver competências e abrir
ferindo-os para as atividades económicas mais po- o comércio para assegurar cadeias de abastecimen-
luidoras, estamos a transformar o nosso modelo de to resilientes;
desenvolvimento para uma economia circular que
valoriza o conhecimento, a criatividade e a tecnolo- ⟩ Lançar a Cimeira Anual do Ambiente e Ação Cli-

gia. Temos de colocar a ciência e qualificações ao mática desejavelmente desenvolvida pelo Conselho
serviço do ambiente e do aumento de remuneração Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Susten-
dos trabalhadores. tável.

Temos de investir nas qualificações que aceleram 3.5.


a nossa transição ecológica e são alicerces funda- A água é a fonte da vida nos ecossistemas por isso
mentais para uma economia de “Empregos Verdes e é fundamental acautelar o seu uso eficiente. Desen-
Azuis”. Assim, teremos mais condições para aumen- volver Planos de Eficiência Hídrica à escala regional
tar salários e corresponder aos desafios climáticos, e local é imperativo, assegurando o aproveitamento
simultaneamente melhorando a qualidade de vida racional dos recursos hídricos e a redução das per-
em Portugal. das nos sistemas em alta ou em baixa, imprescin-
díveis para uma gestão inteligente da água e para
Mobilizar a população para estas transições implica assegurar disponibilidades para o consumo humano,
mostrar que é possível aumentar rendimentos, au- animal, fins de agricultura ou regadio.
mentar o emprego e renovar um horizonte de espe-
rança com qualidade de vida em Portugal. Desta forma, o PS propõe:

Para tal, o PS irá: ⟩ Garantir uma maior resiliência dos territórios mais
afetados pelos efeitos das alterações climáticas,
⟩ Criar o Programa Agentes da Mudança, com vista a quer face a secas, quer face a cheias e inundações,
apoiar a contratação de jovens qualificados por parte reduzindo as perdas, revendo as licenças de capta-
das empresas para apoiar a transição energética e a ção e de descarga dos grandes operadores econó-
micos, regulando as tarifas dos serviços de águas e

88 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


promovendo a reutilização de água residuais trata- ⟩Concluir um pacto da água que preveja os consu-
das para fins compatíveis; mos futuros dos vários setores;

⟩ Nesse contexto, é importante preservar os nossos ⟩ Apostar na preservação dos ecossistemas aquáti-
recursos hídricos, responder à escassez e à seca e cos e devolver os rios às populações, aumentando a
melhorar a gestão do ciclo urbano da água, dando fiscalização e implementando medidas para a remo-
continuidade às políticas de eficiência hídrica adota- ção de infraestruturas hidráulicas obsoletas e para a
das, nomeadamente nos territórios particularmente renaturalização e valorização as zonas fluviais;
afetados pela escassez hídrica, no Algarve e no Alen-
tejo, designadamente: ⟩Implementar o Secretariado Técnico Permanente
da Comissão para a Aplicação e Desenvolvimento da
⟩Efetuar o investimento em dessalinização, nome- Convenção de Albufeira (CADC) acordado na última
adamente no Algarve e em Sines, esta última para convenção ibérica;
consumo industrial;
⟩Monitorizar os níveis das águas subterrâneas e re-
⟩Ponderar a ligação da dessalinizadora de Sines ao gulamentar o seu uso/captação;
Alqueva e/ou até Odemira por cabo marítimo para
dar resposta à procura para consumo agrícola em ⟩ Criar um programa de apoios aos pequenos agri-
Odemira e posteriormente no Algarve através da liga- cultores que hoje se debatem com a insegurança
ção de Santa Clara à Bravura; hídrica para a instalação, nas suas propriedades, de
contadores, sondas de água, bombas de extração de
⟩ Promover a ligação do Pomarão ao Guadiana e a água com energia solar, pequenos reservatórios de
ligação do Alqueva à Barragem de Monte da Rocha; águas pluviais, rega gota-a-gota, etc;
A ligação do Sotavento ao Barlavento; e a construção
e exploração da nova barragem do Alvito no rio Ocre- ⟩Promover o investimento em sistemas de irrigação
za, a ser financiada pela concessão da Barragem do de baixo consumo de água e maquinaria movida a
Cabril; energias renováveis;

⟩Avaliar a viabilidade de Barragem da Foupana para ⟩Investir em estações de tratamento de águas resi-
o setor agrícola, a ligação ao Alqueva ou a ligação da duais (ETARs);
Barragem de Santa Clara à Barragem da Bravura no
Barlavento; ⟩Priorizar políticas de incentivo à captação e arma-
zenamento de água das chuvas, bem como a promo-
⟩ Avaliar a viabilidade da Barragem de Girabolhos; ção de técnicas de irrigação.

⟩ A adaptação das ETAR para reutilização de água 3.6.


reciclada, nomeadamente nos campos de golfe ou A nossa determinação sairá redobrada nas áreas
para consumo industrial (nomeadamente, neste protegidas (terrestres e marinhas), porque um país
caso, da ETAR de Santo André), otimizando a utiliza- que não cuida do seu território e dos seus valores
ção de água potável no consumo urbano; naturais, vira as costas ao seu próprio futuro. Isto

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 89


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

significa, por um lado, a materialização dos Progra- ⟩ Proteger o litoral e as suas comunidades;
mas de Reordenamento e Gestão da Paisagem e
dos Programas Especiais das Áreas Protegidas, e a ⟩ Prosseguir com uma estratégia de “gestão ativa
criação do Cadastro Nacional dos Valores Naturais. de proximidade” das áreas protegidas, envolvendo
Cuidar do ambiente significa promover a educação as autarquias, as instituições de ensino superior, as
ambiental e ecológica da população, mas requer, organizações não governamentais de ambiente e ou-
também, assegurar ação na proteção, conservação e tras entidades locais, aprovando planos de gestão
restauro da natureza e biodiversidade, sem esquecer para as áreas classificadas e melhorando as condi-
a garantia de bem-estar animal. ções de visitação;

Assim, o PS propõe: ⟩ Estudar modelos de remuneração de serviços dos


ecossistemas, explorando a sua aplicação no terri-
⟩Reforçar o financiamento para melhorar a gestão tório nacional, numa lógica de coesão territorial e de
das áreas protegidas para alargar e duplicar o univer- solidariedade entre os diferentes territórios, que re-
so de projetos piloto nas áreas protegidas até 2030; munere o contributo de alguns territórios com maior
capital natural para o bem-estar global.
⟩ Apresentar um Plano Nacional de Restauro da Na-
tureza cumprindo as metas assumidas internacional- ⟩ Aprovar uma renovada Estratégia Nacional de Edu-
mente, desde logo a Convenção da Natureza, COP15, cação Ambiental rumo a 2045, duplicando a ambição
em Montreal, a Estratégia Europeia para a Biodiversi- de financiamento, dando continuidade à Estratégia
dade e a Lei Europeia do Restauro da Natureza; Nacional de Educação Ambiental (ENEA2020).

⟩ Aprovar um Programa Nacional para Infraestruturas 3.7.


Verdes com o objetivo de proteger e valorizar o capi- Relativamente ao Bem-Estar Animal, o PS pretende:
tal natural e a biodiversidade nos espaços urbanos e
rurais e melhorar o bem-estar e a qualidade de vida ⟩ Promover uma estratégia nacional para mitigar o
da população, atenuando o impacto dos fenómenos problema das matilhas de animais em situação de
meteorológicos e das alterações climáticas; abandono, focada em programas de esterilização e
vacinação, incluindo meios para socorrer animais, no
⟩ Apoiar a instalação de redes de espaços verdes por local, sempre que se verifiquem situações de aciden-
parte das autarquias locais; te grave ou catástrofe;

⟩ Materializar os Programas de Reordenamento e ⟩ Reforçar o bem-estar animal no transporte de ani-


Gestão da Paisagem e avanço dos Programas Espe- mais vivos assegurando a fiscalização do cumpri-
ciais do Parques Naturais; mento das adequadas regras higieno-sanitárias, ar-
ticulação com os responsáveis do setor;
⟩ Assegurar a conservação da biodiversidade nas
áreas classificadas do território nacional continental ⟩ Avaliar as necessidades de regulamentação admi-
e insular prevendo mecanismos de financiamento nistrativa das matérias de bem-estar animal, habili-
público e/ou privado nas áreas classificadas, acom- tando a intervenção municipal e criando mecanis-
panhando a Comissão Europeia que antevê financia- mos de partilha de boas práticas;
mento de 20 mil milhões/ano a nível comunitário;

90 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


⟩Promover o desenvolvimento de um acordo euro- Para além da produção, as atividades que marcam o
peu para a criação de um registo centralizado de ani- mundo rural contribuem para a manutenção contro-
mais de companhia no espaço da União, facilitando lada das povoações, da paisagem, da biodiversidade,
deslocações e introduzindo estratégias harmoniza- da cultura, das tradições e da resposta às alterações
das de proteção transfronteiriça; climáticas. A esta importância pública, social e co-
munitária deve corresponder um especial apoio do
⟩ Rever a legislação sobre criminalização dos maus- Estado, dos serviços públicos e diversas organiza-
-tratos a animais, indo ao encontro das melhorias ções.
diagnosticadas pelos operadores no terreno e abran-
gendo não apenas os animais de companhia, na li- 4.1.
nha das soluções vigentes em ordens jurídicas que Portugal necessita de um novo ciclo de política agrí-
dispõem de soluções afins à portuguesa. cola, com medidas adequadas a cada realidade re-
gional e territorial, com apoios simplificados, mais
previsíveis e estáveis, que promova a instalação de
4. Agricultura e Florestas: jovens, a ocupação e repovoamento do território, que
contribua para a coesão nacional e para a soberania
setores de futuro, inovação, alimentar.
autonomia e investimento
Para alcançar esse desígnio, o PS propõe:
Um setor agroflorestal dinâmico e adaptado aos de-
safios atuais pode contribuir para o desenvolvimento ⟩Fomentar apoios à pequena e média agricultura,
de um país socialmente inclusivo, ambientalmente com a implementação das medidas asseguradas no
sustentável e economicamente competitivo e inova- âmbito da PEPAC;
dor, diminuindo as assimetrias territoriais.
⟩Fomentar atividades de densificação e renovação
Evoluir para uma agricultura mais bem adaptada às do modelo empresarial, recorrendo a iniciativas de
transições climática, ecológica e energética, promo- maior intensidade tecnológica, programas de empre-
tora do sequestro de carbono, exige maior interação endedorismo de base rural e de criação de startups
com o sistema científico e tecnológico, potenciador agrícolas;
de uma gestão adequada da água, da prevenção de
incêndios e de uma alimentação saudável e susten- ⟩ Dinamizar plataformas logísticas de dimensão in-
tável. termunicipal e concelhio, melhorando as vias de mo-
bilidade para escoamento de produtos;
O setor agroflorestal é um aliado imprescindível na
transição ecológica e deve, por isso, ser envolvido ⟩ Fixar preços mínimos pagos ao produtor, para ga-
nas políticas públicas necessárias à prossecução rantir um valor compatível e justo face aos custos de
desse desígnio. Há que garantir o melhor equilíbrio produção;
possível entre a produção e atividade agrícolas, aus-
cultando os agricultores e os seus representantes, e ⟩Alargar a contratação de seguros de colheita, tor-
as metas ambientais europeias com as quais o país nando-os mais atrativos para os agricultores e in-
está convictamente comprometido. centivando a contratação conjunta, com vista à es-

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 91


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

tabilização do rendimento agrícola e a uma maior 4.2.


segurança para investir no setor; O elevado grau de complexidade processual, impre-
visibilidade dos avisos e morosidade dos pagamen-
⟩Assegurar maior previsibilidade nos subsídios agrí- tos à agricultura tem sido um compreensível fator de
colas e no calendário de pagamentos; frustração dos pequenos agricultores, prejudicando
a calendarização dos seus investimentos, a progra-
⟩Estabelecer regulamentação incentivadora de boas mação da sua atividade e a rentabilização das suas
práticas e impeditiva de práticas comerciais desle- explorações. No sentido de debelar esse problema,
ais; um futuro governo do PS irá lançar um Simplex Rural
para desburocratizar e agilizar os procedimentos e
⟩ Expandir o associativismo, o cooperativismo e as os apoios à exploração.
organizações de produtores no setor agroflorestal,
simplificando os processos de certificação e acredi- Assim, o PS apresenta as seguintes medidas:
tação;
⟩ Lançar um Simplex Rural para desburocratizar,
⟩ Fomentar políticas de emparcelamento rural, es- simplificar e agilizar os procedimentos e os apoios
pecialmente nas zonas com maior fragmentação da à exploração, no que respeita, entre vários outros, à
propriedade; previsibilidade do calendário de candidaturas - nas
datas de abertura como no tempo de decisão -, à es-
⟩ Acelerar o processo de cadastro da propriedade tabilização dos critérios e exigências na análise, aos
rústica, operacionalizando soluções de cadastro pre- processos de licenciamento ou aos apoios a fundo
dial simplificado no conjunto dos municípios, e tor- perdido em situações de calamidade e intempéries.
nando obrigatório, em todos os casos, o registo no
Balcão Único do Prédio onde este esteja disponível, ⟩ Facilitar os pontos de contacto dos agricultores
mantendo a sua gratuitidade; com o Ministério e acelerar a transição digital nos
organismos ministeriais;
⟩ Proceder a um levantamento de necessidades de
intervenção em estradas rurais de ligação a povoa- ⟩ Garantir um calendário de candidaturas com maior
ções maiores, caminhos, cursos de água e roteiros previsibilidade, quer nas datas de abertura, quer no
pedestres; tempo de decisão;

⟩ Incentivar o conhecimento do mundo rural em meio ⟩Estabelecer um formulário único, juntando os inú-
urbano e apostar na literacia rural, valorizando a sua meros pareceres num só documento e diminuir as
importância junto das gerações futuras. exigências documentais no que se refere à titularida-
de da exploração;
⟩ Desenvolver e aprovar um Programa de Estímulo à
Pastorícia Extensiva conjugando a produção alimen- ⟩ Simplificar sistema de apoios a fundo perdido em
tar com a conservação da natureza e o aumento de situações de calamidade ou intempéries;
rendimentos dos agricultores/produtores;
⟩Agilizar os processos de licenciamento de ativida-
des agrícolas, pecuárias e agroindustriais;

92 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


⟩ Simplificar e desburocratizar os procedimentos de ⟩ Promover sistemas alimentares sustentáveis, em
heranças, com particular ênfase na propriedade rús- linha com a estratégia Do Prado ao Prato, com ên-
tica. fase nas compras públicas de alimentação escolar
e hospitalar, garantindo uma alimentação saudável
4.3. nas cantinas;
Face a fenómenos como o desregulamento climáti-
co, a degradação dos solos, a crescente escassez de ⟩ Implementar medidas de estímulo aos circuitos cur-

água ou o declínio dos insetos polinizadores, importa tos no sistema de produção, abastecimento e consu-
evoluir para uma agricultura mais sustentável, mais mo de bens alimentares, promovendo o comércio e a
bem adaptada às transições ecológica e energética. economia locais;
Para alcançar esse objetivo, propomos:
⟩ Apoiar o desenvolvimento de estações que tratem
⟩Assegurar a representação do setor agroflorestal e convertam os efluentes da produção agropecuá-
no Conselho de Ação Climática, criado pela Lei de ria em gases renováveis, para posterior valorização
Bases do Clima; energética e estimular a produção de biometano jun-
to das associações de agricultores;
⟩ Apostar na valorização económica de ativos bio-
lógicos e na remuneração de serviços de ecossiste- ⟩ Certificar e promover práticas agrícolas com baixas

mas, num cenário de criação de territórios neutros emissões de carbono, sejam elas com a redução do
em carbono, avançando com um projeto-piloto de uso de agroquímicos ou pela utilização de técnicas
carbon farming. como a rotação de culturas;

⟩ Reforçar as linhas de apoio à eficiência energética, ⟩ Apoiar ações de conservação e recuperação de


potenciando o uso de energias renováveis na agricul- populações de insetos polinizadores e criar compen-
tura/pecuária e a sua integração no edificado agrí- sações para os apicultores que adotem práticas ca-
cola; pazes de garantir a presença ininterrupta das suas
colónias de abelhas em áreas ambientalmente sen-
⟩ Adotar medidas de gestão e conservação do solo síveis;
que melhorem o teor de matéria orgânica e reduzam
o risco de desertificação, reforçando o orçamento do ⟩ Ponderar a utilização de drones e outras tecnolo-
PEPAC dedicado a esse fim; gias inovadoras que aumentem a eficiência, a produ-
tividade e a sustentabilidade das explorações agríco-
⟩ Apostar no património genético vegetal e animal las ou florestais.
mais apto a suportar as adversidades climáticas e
incentivar inovações tecnológicas que permitam me- 4.4.
lhorar a adaptação das plantas aos novos desafios, A crescente escassez de recursos hídricos reclama
como a escassez de água. ações urgentes e investimentos que permitam sus-
tentar a agricultura de regadio, com uso racional e
⟩ Apoiar a reconversão de explorações para Agricul-
tura regenerativa, criando o Selo de Agricultura rege-
nerativa;

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 93


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

eficiente da água, bem como amparar a agricultura Uma renovação geracional dos agricultores consti-
de sequeiro onde esta esteja a tornar-se inviável. tui a condição primeira para a manutenção a termo
Para tal, propomos: do sector agrícola e de povoamento nos territórios
do interior. Para tal, o PS propõe:
⟩ Criar um Programa nacional de modernização do
regadio, para reduzir o desperdício de água devido ⟩ Reforçar a dotação dos apoios aos Jovens Agricul-
à obsolescência ou degradação dos sistemas em tores, aumentando o prémio à primeira instalação, o
funcionamento, promovendo a requalificação de in- apoio a fundo perdido ao investimento e o apoio ao
fraestruturas identificadas no estudo Regadio 2030; crédito institucional para financiar a parte não sub-
vencionada;
⟩Promover o investimento em sistemas de irrigação
de baixo consumo de água e maquinaria movida a ⟩Criar condições para haver candidaturas a apoios
energias renováveis, com diferenciação positiva de para Jovens Agricultores abertas com regularidade e
explorações com orografia dificultosa; valorizadas consoante a estratégia de produção;

⟩Avaliar a possibilidade de conceber bacias de pe- ⟩Desenvolver incentivos à instalação de jovens agri-
quena dimensão ao longo dos maiores cursos de cultores através de benefícios fiscais, e de apoios
água em Portugal, para represar a água quando subsequentes à instalação, para construção ou re-
acontece precipitação. construção de moradias e equipamentos agrícolas;

⟩ Apoiar a criação de charcas de regadio nas bacias ⟩ Garantir que os objetivos da Lei que cria o ‘Banco de
hidrográficas para a agricultura de sequeiro, nos ter- Terras’ e o ‘Fundo de Mobilização de Terras’ sejam
ritórios onde, em função das alterações climáticas, plenamente cumpridos, com destaque para o acesso
essa prática esteja em vias de extinção; à terra por parte de jovens em início de atividade.

⟩ Apoiar a construção de pequenos açudes de utili-


zação coletiva, sempre que houver manifesta prova 4.6.
da sua necessidade para fins produtivos, de minimi- A nossa determinação sairá redobrada nas áreas
zação de riscos climáticos ou de preservação das protegidas porque um país que não cuida do seu ter-
espécies piscícolas; ritório e dos seus valores naturais, vira as costas ao
seu próprio futuro. Isto significa, por um lado, a mate-
⟩ Flexibilizar as regras de licenciamento de pequenas rialização de uma política de florestas que é neces-
infraestruturas de captação de águas superficiais sariamente transversal, da conservação à produção,
nas explorações agrícolas; reconhecendo o valor ímpar que o setor das florestas
representa pela sua dimensão e valor social, territo-
⟩Apoiar as associações de regantes, criando uma li- rial e económico.
nha de apoio para remodelação e modernização das
suas infraestruturas; Precisamos de prosseguir a reforma estrutural em
curso, fortalecendo e dando estabilidade de longo
4.5. prazo na prevenção de fogos rurais, baixando o ris-

94 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


co da sua ocorrência e, por sua vez, aumentando o ⟩Apoiar a florestação e a substituição ativa de espé-
valor económico da floresta. O Governo do Partido cies invasoras por espécies autóctones também em
Socialista criou o novo Sistema de Gestão Integra- ambiente urbano;
da de Fogos Rurais que tem de prosseguir manten-
do todo o melhor e mais atual conhecimento técnico ⟩ Apostar na redução do risco abiótico estrutural, com
disponível ao serviço das decisões de governança prioridade para o periurbano e para a rede primária e
desse Sistema. secundária de Faixas de Gestão de Combustíveis;

Desta forma, o PS irá: ⟩ Apostar na redução do risco de produção e do risco


biótico potenciado pelo quadro climático, valorizan-
⟩ Aprovar e concretizar o Plano Nacional de Qualifica- do as Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) e a sua
ção do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais transição para uma 2ª geração adaptada às necessi-
que define a estratégia e os processos de qualifica- dades das diferentes realidades territoriais, de Norte
ção dos ativos do sistema até 2030; a Sul de Portugal;

⟩ Concluir o Cadastro Nacional de Propriedade Rús- ⟩ Remunerar os serviços do ecossistema reconhe-


tica e proceder à reforma da gestão da propriedade cendo o seu papel na equação de valor da realidade
rústica; agroflorestal e florestal, na internalização dos valo-
res ambientais e na economia dos territórios rurais;
⟩ Expandir o processo de alargamento do Sistema de
Informação Cadastral Simplificado e do Balcão Único ⟩Reforço da viabilidade dos sistemas agroflorestais
do Prédio (BUPi) a todo o país e o desenvolvimento mediterrânicos: sobreiro, azinheira, outros carvalhos,
dos sistemas de informação e de interoperabilidade castanheiro, pinheiro manso e olival tradicional;
com os serviços públicos, privados e proprietários;
⟩ Reforço do investimento continuado em investiga-
⟩ Ponderar um quadro de incentivo fiscal para a ges- ção nas fileiras de base nacional - sobreiro, pinheiro
tão ativa e agregada das explorações florestais e manso e pinheiro-bravo - e consolidação do apoio ao
agroflorestais; tecido associativo agroflorestal, delegando compe-
tências e promovendo parcerias;
⟩ Mitigar e gerir o risco de incêndio rural nos conce-
lhos com maior risco estrutural, e criar resiliência nos ⟩ Celebrar acordos de médio e longo prazo com as
espaços florestais promovendo uma gestão ativa e fileiras sobreiro / cortiça, pinho e pasta de papel;
sustentável, alicerçada na inovação;
⟩ Criar um Programa de Regeneração do Montado de
⟩ Criar um estatuto de leasing florestal, que possibi- sobro e azinho com apoio do Instituto de Conserva-
lite aos produtores florestais receber rendimentos ção da Natureza e das Florestas e o cofinanciamento
anuais em função da produção florestal esperada, de ações de regeneração atuando em áreas de risco
com bonificações fiscais quando esta produção for crítico;
em culturas florestais sustentáveis;
⟩ Definir um Plano de Intervenção Prioritária até 2026,

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 95


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

para proteção de sistemas de produção agroflorestal Portugal, respondendo aos desafios que o oceano
em risco de despovoamento ou desertificação, con- enfrenta, deve renovar a sua ambição, dando um
trariando esse risco e estimulando o uso múltiplo e novo impulso à política para o mar, transformando o
os sistemas agro-silvo-pastoris; perfil da economia do mar, através da modernização
dos setores tradicionais e do desenvolvimento dos
⟩ Desenvolvimento e inovação nas fileiras florestais: novos setores baseados em conhecimento e tecno-
promover o alinhamento das fileiras florestais com logia, sendo essencial a dinamização da cultura oce-
o desenvolvimento e a investigação, implementando ânica.
inovação tecnológica ao nível dos serviços, dos pro-
dutos e da gestão; Elemento comum na resposta aos desafios do ocea-
no ou ao aproveitamento do seu potencial, o conhe-
⟩ Recuperar as Intervenções Territoriais Integradas cimento do mar deve ser uma prioridade nacional.
(ITIS) desenhando estratégias territoriais para a agri- Assim, é crucial a aposta, através de uma interven-
cultura e floresta em conjunto e reforçando o finan- ção pública mobilizadora, nas ciências e tecnologias
ciamento dos sistemas pastoris extensivos, adapta- marinhas como forma de alavancar as restantes po-
dos à estratégia para cada território. líticas públicas para o mar, promovendo os projetos
que criem as condições necessárias ao desenvolvi-
mento de uma economia do mar sustentável e de va-
5. Mar: um novo impulso para lor acrescentado, bem como robustecendo a capaci-
dade de monitorização e vigilância do meio marinho.
o desenvolvimento do potencial Para desenvolver o potencial oceânico do país, o PS
oceânico do país irá:

Portugal, país continental e arquipelágico que tem ⟩ Implementar a Estratégia Nacional para o Mar
no mar o elo dos seus territórios, deve assumir-se 2021-2030 e o respetivo Plano de Ação, reforçando
como nação oceânica, atualizando a sua identida- os mecanismos de monitorização e criando uma pla-
de marítima, transformando o mar em fator de de- taforma alargada de articulação política e concerta-
senvolvimento nacional e conferindo à relação entre ção de entidades públicas;
o oceano, que é o maior sumidouro de carbono do
Planeta, e o sistema climático terrestre uma dimen- ⟩Continuar a liderar a agenda internacional do ocea-
são central na sua abordagem às alterações climáti- no, dando cumprimento à Agenda 2030 e dinamizan-
cas. Assim, é fundamental a compreensão do papel do uma nova agenda global para o oceano, valorizan-
do oceano na regulação do clima, dos impactos do do o Comité Nacional para Década do oceano;
aquecimento global no aumento do nível do mar, dos
efeitos que as mudanças nas temperaturas e corren- ⟩ Prosseguir a interação com a Comissão de Limites
tes oceânicas têm nos eventos climáticos extremos da Plataforma Continental da ONU para a concreti-
e na biodiversidade, associada à acidificação do oce- zação da extensão da plataforma continental e de-
ano, bem como dos impactos da atividade humana, finir uma estratégia de integração do conhecimento
como a poluição e sobre-exploração, que potenciam gerado nas estruturas permanentes do Estado e que
os efeitos nefastos das alterações climáticas. responda aos desafios do alargamento da platafor-

96 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


ma continental;
⟩ Reformular e capacitar o Fundo Azul como instru-
⟩Aprovar e implementar o Programa Nacional para mento essencial de apoio às áreas emergentes como
as Ciências e Tecnologias Marinhas 2025-2030 que a biotecnologia marinha, a digitalização e a robótica
garanta o financiamento para a investigação em áre- subaquática;
as prioritárias, o reequipamento infraestrutural para
a investigação e monitorização, o reforço de pes- ⟩ Desenvolver os setores que promovam a industria-
soal especializado para os Laboratórios do Estado, lização e a descarbonização do país, dinamizando
o aprofundamento da cooperação internacional e a e transformando os setores da construção e repa-
aposta em parcerias com empresas; ração naval e da metalomecânica, apostando, de-
signadamente, nas energias renováveis oceânicas,
⟩ Criar um sistema de dados do oceano com infor- continuando o trabalho em curso no mercado eólico
mação da investigação científica marinha e regular a offshore e na construção de uma nova geração de
investigação científica marinha realizada no espaço embarcações;
marítimo nacional;
⟩ Apostar na biotecnologia marinha, estabelecendo
⟩ Rever o quadro legal do espaço marítimo e respe- um estatuto reforçado para os recursos genéticos
tivos recursos, estabelecendo uma política dominial e um regime jurídico para bioprospecção marinha e
para os recursos marinhos vivos, reformulando o sis- constituindo em Portugal um Centro de Biotecnolo-
tema de ordenamento e gestão do espaço marítimo, gia Marinha que se se afirme como um hub interna-
integrando a proteção de áreas marinhas, e aprofun- cional neste setor;
dando os poderes das regiões autónomas na gestão
do espaço marítimo; ⟩ Apoiar a pesca inovadora e sustentável, moderni-
zando os portos, estendendo a lota móvel a todo o
⟩ Implementar o Plano de Situação de Ordenamento país, reestruturando e modernizando a frota pesquei-
do Espaço Marítimo Nacional, aprovando a parte re- ra, dando formação adequada dos trabalhadores e
lativa à subdivisão dos Açores, e aprovar o Plano de apostando na melhoria das condições de trabalho e
Afetação das Energias Renováveis Offshore; segurança nas embarcações;

⟩ Classificar, até 2026, Áreas Marinhas Protegidas ⟩Implementar o Plano para a Aquicultura em Águas
em 30% do espaço marítimo nacional e aprovar, até de Transição com o objetivo de aumentar em 50% a
2028, os respetivos planos de gestão, bem como efe- produção aquícola nesta década;
tivar o princípio de que a mineração está dependente
do conhecimento científico; ⟩Apostar na pesca e aquicultura de pequena escala
que fomentem o consumo local de pescado, reduzin-
⟩ Modernizar e internacionalizar as atividades tradi- do os circuitos de comercialização e promovendo a
cionais da economia do mar incluindo indústria dos diversificação das espécies consumidas, aprovando
produtos da pesca e aquicultura e o desenvolvimento o Estatuto da Pesca e da Aquicultura de Pequena Es-
de projetos de turismo costeiro e náutico sustentá- cala;
veis e regenerativos;

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 97


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

⟩ Implementar uma nova estratégia para o setor por- às atividades marítimas, nomeadamente a relativa à
tuário, visando a transição energética, a digitalização navegabilidade das embarcações;
e diversificação da atividade portuária, a industriali-
zação do país, bem como introduzindo mecanismos ⟩Promover, no âmbito da UE, o desenvolvimento das
de coordenação da atividade das administrações prioridades europeias para a economia do mar ne-
portuárias, modernizando a legislação do setor por- cessária à descarbonização e industrialização e uma
tuário e promovendo o alargamento da capacidade nova política do ordenamento do espaço marítimo
de movimentação de carga, garantindo a flexibilida- que inclua a proteção do ambiente marinho e a pre-
de no uso dos cais para outros fins; servação do bom estado ambiental do meio marinho;

⟩Desenvolver uma estratégia de fomento da ativida- ⟩Fomentar, no âmbito da CPLP, a adoção de uma
de da náutica de recreio que democratize o acesso à nova Estratégia da CPLP para os oceanos;
atividade, dinamize a indústria naval dedicada a seg-
mentos específicos de embarcações com maior ca- ⟩ Aprovar a Estratégia Nacional para a Segurança
pacidade de navegação, e amplie a rede de marinas, Marítima, promovendo, designadamente, a colabora-
portos de recreio e infraestruturas de apoio; ção entre a indústria e organismos públicos, como
forma de desenvolver novos meios de vigilância e
⟩ Concretizar uma política do transporte marítimo fi- monitorização.
xando valor, empresas e postos de trabalho no país,
exigindo critérios técnicos e ambientais rigorosos
para o registo de embarcações, garantindo o cumpri-
mento das regras internacionais aplicáveis aos Esta-
dos de bandeira e promovendo a descarbonização e
redução de emissões;

⟩ Promover a otimização dos organismos públicos na


área do oceano, garantindo a integração do conheci-
mento, capacidade e competências de que dispõem
e salvaguardando-se a independência científica;
⟩ Intervenção do setor público empresarial na promo-
ção de uma economia do mar inovadora e susten-
tável e na coordenação de projetos colaborativos e
inovadores;

⟩ Prosseguir a simplificação de procedimentos rela-


tivos às atividades marítimas, em especial os relati-
vos a atividades económicas, ampliando a desmate-
rialização de procedimentos no acesso às atividades
marítimas, através da utilização do Balcão Eletrónico
do Mar e Sistema Nacional de Embarcações e Ma-
rítimos, bem como modernizar a legislação relativa

98 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 99
4.ª
MISSÃO
UMA DEMOCRACIA
DE QUALIDADE PARA
TODOS

100 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 101
PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

1. Uma democracia resiliente


4.ª MISSÃO: ao populismo e à demagogia
UMA DEMOCRACIA com mais participação,
mais transparência e mais
DE QUALIDADE PARA proximidade

TODOS A 25 de abril de 2024 Portugal comemorará os 50


anos do fim da ditadura, do fim da guerra e do fim
do atraso crónico a que mais de quatro décadas de
isolamento autoritário foram condenando o País. Ao
longo de 5 décadas, os portugueses aprimoraram as
suas instituições, alargaram a participação democrá-
tica e a inclusão dos cidadãos, procurando garantir
mais transparência, prestação de contas e pluralis-
mo. Somos hoje uma Democracia robusta, como tal
reconhecida nos principais indicadores internacio-
nais de liberdades fundamentais e de qualidade dos
regimes democráticos.

Contudo, os sucessos eleitorais dos extremismos


populistas em vários pontos da Europa e do mundo
põem em risco os regimes democráticos e o Estado
Social, assistindo-se hoje ao surgimento de recuos
autoritários e iliberais em sociedades que reputáva-
mos imunes a esse risco. Na terceira década do sé-
culo XXI, este é sem dúvida um dos grandes desafios
que têm de mobilizar os democratas do mundo intei-
ro. É neste quadro, em que se cavalgam e alimentam
perceções negativas sobre a atividade política, que
é indispensável contrariar, com pedagogia demo-
crática e instrumentos de participação qualificada,
a ameaça que paira de novo sobre o progresso das
últimas décadas.

Ainda que enfrente muitas das dificuldades pelas


quais passam democracias vizinhas, o sistema po-
lítico português tem assegurado qualidade e autori-
dade nos seus processos eleitorais, capacidade de

102 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


superação dos momentos de crise e, amiúde, cons- das décadas, a tendência da participação eleitoral
trução de soluções governativas estáveis, ainda que tem sido a de, partindo de números históricos e até
plurais na sua composição. Assente este ponto, é, hoje não repetidos superiores a 90% nas eleições
todavia, importante insistir no aprofundamento da para a Assembleia Constituinte em 1975, registar um
qualidade das instituições e dos processos de toma- decréscimo na participação eleitoral. É na fadiga de-
da de decisão, preservando a sua integridade e asse- mocrática e na maior dificuldade de mobilização dos
gurando a sua transparência. eleitores mais jovens para a participação que encon-
tramos as causas para a quebra da participação
Ao longo da sua história, o PS sempre fez parte do
eixo angular do debate parlamentar das forças de- Ness senda, o PS propõe-se:
mocráticas, e assim vai continuar, contribuindo no
texto constitucional, na legislação sobre as institui- ⟩ Implementar e aprofundar o disposto no novo Re-
ções políticas e na sua prática quotidiana a defender gimento da AR e valorizar e divulgar boas práticas
os direitos fundamentais dos cidadãos e manter a parlamentares, em diálogo com a academia e a so-
República fiel ao espírito dos valores de Abril. ciedade civil, e apostar de forma acrescida na for-
mação especializada em matérias de transparência
1.1. dirigidas aos titulares de cargos e aos funcionários;
É preciso promover uma cultura democrática, con-
tinuando a reafirmar a centralidade do Parlamento ⟩ Promover a participação democrática nas escolas
no sistema democrático. A representação parla- e instituições de ensino superior, o envolvimento dos
mentar é uma das chaves do sistema e é aí que se administrados nas decisões que os afetem, a valori-
deve também investir na valorização da vida públi- zação da vida cívica democráticas das associações,
ca democrática de qualidade, da clareza dos meios bem da participação de trabalhadores nas empresas;
de fiscalização da atividade governativa, de abertura
aos cidadãos e de criação de uma cultura política de ⟩ Lançar um Plano Nacional de Literacia Democráti-
inclusão e participação. ca no quadro da comemoração dos 50 anos do 25 de
abril e da Constituição de 1976, dirigido às escolas e
A recente revisão do Regimento da Assembleia da instituições de ensino superior em colaboração com
República permitiu alargar direitos de participação a sociedade civil, valorizando o conhecimento das
dos cidadãos, assumir ferramentas de melhoria da instituições da República e da Democracia e o texto
qualidade da legislação e assegurar meios de escrutí- constitucional e criando mecanismos de aproxima-
nio às oposições e formações minoritárias, enquanto ção dos cidadãos ao seu funcionamento;
medidas adotadas nas duas legislaturas anteriores
tornaram mais transparente e acessível o escrutínio ⟩Incentivar o voluntariado gerados de envolvimento
dos mandatos. na vida da comunidade e das suas decisões;

Fora do Parlamento, é também necessária uma ver- ⟩ Fomentar canais de auscultação de movimentos
dadeira pedagogia democrática nas redes sociais e sociais e dos cidadãos, valorizando a participação cí-
nos canais tradicionais de comunicação e debate. vica e associativa, que possa complementar a refle-
Ainda que com avanços e recuos pontuais ao longo xão dos representantes democraticamente eleitos.

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 103


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

1.2. ⟩ Consolidar e alargar a possibilidade de voto ante-


Deve ainda haver um reforço da qualidade dos atos cipado em mobilidade e prosseguirá a desmateria-
eleitorais. Ao longo de quase cinco décadas, a ro- lização dos cadernos eleitorais e o recurso alargado
bustez dos procedimentos eleitorais em Portugal às tecnologias de informação para simplificar os pro-
tem sido reconhecida no plano interno e internacio- cedimentos eleitorais, com manutenção de elevados
nalmente. Esse sucesso muito se deve à capacidade padrões de segurança;
de atualização dos procedimentos e dos meios ao
dispor da Administração Eleitoral, que em anos re- ⟩ Promover o reforço da resiliência dos processos
centes tem alargado as possibilidades de exercício eleitorais, em linha com as mais recentes recomen-
do direito de voto, assegurando maior conforto e dações da União Europeia na matéria, orientando-se
simplicidade. em torno das seguintes prioridades:

· Eliminação de comportamentos manipuladores


Partindo de uma realidade invejável, Portugal não é
dos processos eleitorais com recurso a dados ou
imune a muitas das dificuldades pelas quais passam
materiais falsificados, adulterados ou fabricados
democracias vizinhas, devendo por isso prosseguir
com recurso a sistemas de inteligência artificial
a aposta no aumento imediato da qualidade e na
ou com produção, utilização ou divulgação de con-
modernização de procedimentos e adotar medidas
teúdos enganosos ou de ódio;
que continue a assegurar a integridade, resiliência e
transparência dos nossos atos eleitorais. · Desenvolvimento, atualização e divulgação de
boas práticas para identificar, atenuar e gerir os
Nesse sentido, o PS irá: riscos de manipulação da informação, ingerência
e desinformação, interna e externa, nos processos
⟩ Retomar os trabalhos para a produção de um Có- eleitorais.
digo Eleitoral que atualize, modernize e uniformize
· Reforço da transparência da propaganda política
regras e procedimentos, aumentando a sua clareza,
produzida pelas forças políticas para que possa
desburocratizando procedimentos datados e respon-
ser claramente identificada como tal, nomeada-
da a dificuldades identificadas no exercício do direito
mente quando envolve material elaborado interna-
de voto;
mente para divulgação através das redes sociais,
bem como a identificação da alocação de financia-
⟩ Reformar os procedimentos eleitorais de forma a
mento à presença nas redes sociais;
assegurar a qualidade e condições de igualdade da
participação dos cidadãos residentes no estrangei- · Apoio a projetos da sociedade civil, de organiza-
ro nos atos eleitorais, com maior conforto, seguran- ções de meios de comunicação social, de insti-
ça e proximidade dos locais de voto; tuições de investigação e ensino, para criar resili-
ência e desenvolver a sensibilização do público, a
⟩ Promover o alargamento da lei da paridade a todos literacia mediática e o pensamento crítico, a fim de
os atos eleitorais, abrangendo também as eleições combater a manipulação da informação.
regionais, respeitando a reserva de iniciativa das As-
sembleias Legislativas das Regiões Autónomas; ·

104 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


1.3. ⟩ Promover o desenvolvimento de exercícios de co-
A qualidade da legislação e a garantia do seu cum- dificação e consolidação legislativa, a incluir nos
primento são essenciais para a melhoria do funcio- planos de trabalho legislativo anuais, e desencadear-
namento das instituições democráticas e do seu -se-á o processo de construção, através de acordo in-
relacionamento com os cidadãos e demais destina- terinstitucional, de um código de legística comum a
tários das normas jurídicas produzidas, todas as instituições com competências legislativas
(Assembleia da República, Governo e Assembleias
Neste quadro, o programa “Legislar Melhor” e as re- Legislativas Regionais);
visões recentes do regimento da Assembleia da Re-
pública têm permitido melhorar os procedimentos ⟩ Prosseguir a construção do acesso dos cidadãos
legislativos dos órgãos de soberania, com o objetivo ao conhecimento do Direito, através da disponibili-
de assegurar a produção de leis mais simples, atem- zação no portal do Diário da República Eletrónico, de
padas, eficazes, participadas, facilmente acessíveis forma gratuita, do acesso a um conjunto de recursos
e sem encargos excessivos. jurídicos, desde legislação consolidada e anotada a
jurisprudência, incluindo um dicionário e um tradu-
Nesta senda, o PS irá: tor de termos jurídicos, com um padrão de serviço
equiparável ou superior às bases de dados jurídicas
⟩Prosseguir e aprofundar os programas e iniciativas existentes no mercado.
dirigidos à melhoria da qualidade da legislação, de-
signadamente: 1.4.
A transparência e escrutínio das instituições demo-
· Continuar o esforço de simplificação da legisla- cráticas e o combate à corrupção são objetivos cen-
ção, tornando-a mais clara e compreensível para trais na construção de uma Democracia sólida e com
os cidadãos; capacidade crítica.
· Consolidar o aumento da discussão e participa-
ção pública das iniciativas legislativas; Nos últimos anos da governação do Partido Socialista
foram dados passos especialmente relevantes para o
· Estabelecer o registo da “pegada legislativa”, que aprofundamento da transparência do funcionamento
identifica a proveniência dos anteprojetos legisla- dos órgãos do Estado, para aumentar o escrutínio e
tivos, bem como todas as interações entre os ór- a responsabilização dos titulares de cargos políticos
gãos com poder legislativo e entidades terceiras; e altos cargos públicos e para a introdução de me-
canismos de defesa da integridade das instituições
· Melhorar e densificar os mecanismos de avalia-
públicas. Neste quadro, duas peças importantes do
ção de impacto legislativo ponderando os impac-
património de propostas do PS permanecem por im-
tos económicos, ambientais e sociais (incluindo o
plementar devido às dissoluções da Assembleia da
impacto no combate à pobreza), o impacto de gé-
República que importa concluir, ao nível da regula-
nero e o impacto no combate à corrupção, assegu-
mentação da representação de interesses junto de
rando a regulamentação devida dos atos legislati-
entidades públicas e dos mecanismos de monitori-
vos, o cumprimento do prazo de transposição de
zação da pegada legislativa que lhe são complemen-
diretivas comunitárias e a acessibilidade do direito
tares.
a todos cidadãos.

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 105


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

Conscientes do efeito corrosivo que a corrupção da promoção de campanhas públicas de sensibiliza-


provoca no Estado de Direito, capaz de minar a con- ção e de ações de formação dirigidas aos agentes
fiança dos cidadãos nas suas instituições, é funda- públicos, bem como da emissão de recomendações
mental continuar a aprofundar os instrumentos de e promoção de melhores práticas às demais institui-
prevenção e combate ao fenómeno, apostando não ções do Estado respeitantes a códigos de conduta,
apenas na mobilização de recursos e na promoção regras deontológicas, incompatibilidades, gestão de
da eficácia, eficiência e celeridade da investigação conflito de interesses, portas giratórias, âmbito de
criminal, mas agindo também a montante, prevenin- aplicação dos períodos de nojo, e resposta a parece-
do os contextos geradores de corrupção, capacitan- res solicitados por instituições públicas;
do o sistema para identificar e eliminar riscos e crian-
do uma partilha de boas práticas que imunizem as ⟩ Acolher a experiência de vários anos de aplicação
entidades públicas. da primeira geração de códigos de conduta das insti-
tuições públicas e promover a sua revisão e atualiza-
Nos últimos anos, para além de inúmeras alterações ção, tendo em conta, designadamente, as recomen-
à legislação processual penal e da organização judi- dações de entidades internacionais como o GRECO
ciária visando assegurar celeridade, reforçar quadro ou a União Europeia e beneficiando do debate público
de magistrados, garantir proteção de denunciantes e em torno dos mesmos realizado nos últimos anos;
testemunhas, revisão das sanções penais e melho-
ria clarificadora de vários tipos penais, foi aprovada, ⟩ Rever o enquadramento legislativo no domínio do
após discussão pública alargada e participada, a pri- acesso à informação e a documentos da Administra-
meira Estratégia Nacional Anticorrupção, para o perí- ção Pública, em linha com a evolução internacional
odo 2020-2024. e com as recomendações do Conselho da Europa e
da União Europeia, valorizando a transparência ativa
Assim, no que se refere à transparência e combate à da informação, agilizando procedimentos e o funcio-
corrupção, o PS propõe: namento e meios da Comissão de Acesso aos Docu-
mentos Administrativos, aumentando os deveres de
⟩ Regular as atividades de representação de interes- cooperação da Administração com os particulares,
ses junto de entidades públicas (envolvendo registo regulando o tema de forma harmonizada com o re-
de transparência das interações com decisores pú- gime de arquivos públicos e de gestão de matérias
blicos); classificadas e pelos regimes de proteção de dados
pessoais, assegurando um equilíbrio de todos os va-
⟩ Regular os mecanismos de monitorização da pega- lores e interesses em presença sem recuo na trans-
da legislativa que lhe são complementares; parência;

⟩Dotar a Entidade da Transparência – concluído que ⟩ Continuar a desenvolver-se o portal Mais Trans-
está o respetivo processo de instalação e de arran- parência, como agregador digital de prestação de
que da plataforma para submissão e publicitação das contas, de escrutínio público e de informação aos
declarações de registo de interesses dos titulares de cidadãos quanto a alocação de recursos públicos,
cargos políticos - de meios para o desempenho de alargando a sua conexão com outras plataformas de
uma missão de pedagogia e esclarecimento através divulgação de informação geridas por outros entes
públicos;

106 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


⟩Assegurar a execução das medidas constantes da que os níveis de pobreza, as dificuldades no acesso
Estratégia Nacional Anticorrupção em vigor; à habitação e a cuidados de saúde, física e mental,
acentuam-se especialmente nos grupos em situação
⟩ Iniciar de imediato preparação da estratégia para o de maior vulnerabilidade como a população sénior,
quadriénio seguinte, após avaliação dos resultados e as famílias monoparentais femininas ou as vítimas
identificação das principais áreas carecidas de cor- de violência doméstica. São estas as desigualdades
reção e novos impulsos; socioeconómicas crescentes que exigem uma inter-
venção robusta, integrada e direcionada.
⟩ Dotar o Mecanismo Nacional Anticorrupção, agên-
cia independente dedicada à prevenção e combate à Uma democracia para todos pressupõe uma aborda-
corrupção, de todos os recursos necessários para o gem política de recorte interseccional que seja capaz
efeito e do envolvimento de todas as entidades públi- de contrariar as discriminações múltiplas quanto às
cas no apoio às suas funções de iniciativa, controlo mulheres, aos jovens, aos idosos, aos imigrantes, aos
e sanção. cidadãos com deficiência e de eliminar a discrimina-
ção em razão da orientação sexual, da identidade e
expressão de género e das características sexuais.
2. Uma democracia para todos
2.1.
em condições de igualdade No que se refere à igualdade de género, o PS assu-
plena me que a promoção da igualdade entre homens e
mulheres constitui um objetivo basilar das políticas
Numa democracia de qualidade todos e todas têm públicas e uma tarefa fundamental do Estado, como
direito a uma cidadania plena, civil e material e à de- constitucionalmente consagrado A integração da
fesa da sua dignidade sem transigências. A concre- perspetiva de género em todos os domínios da ação
tização real, justa e intersecional da igualdade e da política é um objetivo essencial. Em Portugal, não
não discriminação é um imperativo ético, jurídico e obstante os assinaláveis progressos alcançados no
constitucional e, por isso e antes disso, um impera- decurso das últimas cinco décadas, persistem bar-
tivo político. A proibição da discriminação, por seu reiras estruturais à igualdade substantiva entre mu-
lado, é um pilar estruturante do Estado de direito lheres e homens e à proteção contra a discriminação.
democrático e o seu combate uma exigência ditada
pelo princípio da dignidade da pessoa humana. O PS reconhece que há margem para aprofundar a
articulação entre medidas de política específicas e
O Estado, através da lei e da implementação de políti- temporárias (ação positiva) com políticas setoriais
cas públicas tem de responder à discriminação múl- transversais, no quadro de uma abordagem coeren-
tipla, trabalhando com os parceiros institucionais e te e integrada que permita acelerar a eliminação das
sociais o quadro jurídico e institucional antidiscrimi- desigualdades estruturais e dos fenómenos de dis-
nação em Portugal. criminação em razão do sexo.
Aos serviços públicos cabe também garantir a to-
dos os meios necessários para o exercício pleno dos Para tal, o Partido Socialista compromete-se a:
seus direitos, em condições de igualdade, uma vez

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 107


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

⟩ Remover os obstáculos à implementação da lei da partilha na utilização das licenças de assistência à


Interrupção Voluntária da Gravidez através, nomea- Família e reforçar os apoios aos trabalhadores que
damente, da regulamentação clara do direito à obje- são cuidadores;
ção de consciência dos profissionais de saúde;
⟩Promover, a médio prazo e em diálogo com os par-
⟩ Impor a paridade nos titulares de órgãos de sobera- ceiros sociais, uma simplificação do regime de licen-
nia ou de outros órgãos com assento constitucional; ças parentais que assegure um exercício mais pleno
e mais igualitário dos direitos de mães e pais;
⟩ Implementar medidas de combate à segregação
horizontal e vertical do mercado de trabalho, de eli- ⟩ Garantir o cumprimento da avaliação do impacto de
minação das dificuldades de acesso à tomada de género de todos os projetos de atos normativos ela-
decisão pelas mulheres e consequente subaprovei- borados pela administração central e regional, bem
tamento das suas qualificações académicas, valori- como os projetos e propostas de lei submetidos à
zando o desenvolvimento sustentável e a competiti- Assembleia da República;
vidade económica;
⟩ Assegurar que o Orçamento do Estado e todos os
⟩ Continuar o combate efetivo às desigualdades sala- instrumentos estratégicos de financiamento garan-
riais entre mulheres e homens, determinando que as tem a materialização das políticas públicas de igual-
entidades empregadoras relativamente às quais se dade.
comprove que praticam diferenças remuneratórias
entre mulheres e homens injustificadas por fatores 2.2.
objetivos, podem ser impedidas de aceder à contra- A violência contra as mulheres e a violência domés-
tação pública, bem como a fundos nacionais e euro- tica são atentados aos direitos humanos e formas
peus; graves de discriminação (com base em papeis de
género) com impactos profundos nas vítimas e com
⟩ Reforçar a obrigatoriedade de adoção de Planos custos socioeconómicos elevados para a nossa so-
para a Igualdade pelas entidades do setor público ciedade. É preciso apostar na prevenção e no com-
empresarial, empresas cotadas em bolsa e entida- bate a todas as formas de violência contra as mulhe-
des empregadoras com 100 ou mais trabalhadores/ res, violência doméstica e de género.
as, estabelecendo a recomendação de adoção des-
ses Planos a todas as entidades empregadoras com Para tal, o PS irá:
50 ou mais trabalhadores/as;
⟩ Reforçar os recursos e medidas de prevenção e
⟩Desenvolver estratégias de promoção do envolvi- combate à violência contra as mulheres, envolvendo
mento dos homens nas matérias de igualdade de o sistema educativo, o sistema de justiça penal e de
género, tais como na partilha igualitária do trabalho família, as forças policiais e os meios de comunica-
doméstico não remunerado e na esfera do cuidador; ção social;

⟩Promover uma maior conciliação entre a vida pes- ⟩Sujeitar imediatamente a pessoa agressora a um
soal, por exemplo através da definição de uma maior quadro coativo capaz e suficiente de colocar termo a

108 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


um intenso e permanente perigo de continuação da -parceiro/a até à sua maioridade;
atividade criminosa;
⟩Adotar uma medida vinculativa que garanta a re-
⟩ Adotar medidas robustas e eficazes que assegurem moção imediata das responsabilidades parentais de
a retirada do agressor da casa de morada de família homicidas;
e o seu afastamento para, depois de devidamente
avaliada a situação de risco, evitar-se a dupla vitimi- ⟩ Assegurar a efetiva cooperação entre os juízos de
zação a que as vítimas deste crime violento muitas família e juízos criminais, de modo a assegurar a pro-
vezes ficam sujeitas; teção das vítimas.

⟩ Proceder à expansão da Rede Nacional de Apoio às 2.3.


Vítimas de Violência Doméstica, de modo a garantir A prevenção e o combate à discriminação das Pes-
a cobertura integral do território nacional; soas LGBTIQA+ exigem mecanismos específicos de
promoção de vias de diálogo e interação entre o Es-
⟩ Garantir assessoria especializada nos Gabinetes de tado e as pessoas em situação de vulnerabilidade,
Apoio e Atendimento a Vítimas em todos os Depar- tantas vezes excluídas da participação democráti-
tamentos de Investigação e Ação Penal, atribuindo ca. Portugal encontra-se alinhado com as políticas
desde logo apoio judiciário automático às vítimas de europeias de combate à discriminação em razão da
violência doméstica; orientação sexual, identidade e expressão de género,
e características sexuais, mas é preciso continuar a
⟩Determinar que deve ser obrigatoriamente desen- aprofundar essas políticas.
cadeado um procedimento de inquérito em todos os
casos de morte em contexto de violência doméstica Nesse sentido, o Partido Socialista propõe-se:
cujas vítimas tenham apresentado queixa ou pedido
apoio às autoridades; ⟩ Promover a visibilidade e a eliminação de estere-
ótipos face às pessoas LGBTIQA+, abraçando a di-
⟩ Criar um regime jurídico específico para crianças versidade e reconhecendo a intersecionalidade que
vítimas de violência doméstica; caracteriza todas as pessoas;

⟩ Assegurar a disponibilização e a aplicação efetiva ⟩ Atender à situação das crianças e jovens LGBTIQA+
de ordens de restrição e de proteção em relação a que vivem em instituições, em especial nos casos
todas as formas de violência contra as mulheres, em que estas estejam separadas por sexo, quer no
nomeadamente o assédio, o casamento forçado e a seu processo de promoção e proteção, quer através
mutilação genital feminina; de mecanismos específicos de combate ao bullying
e de acesso a apoio psicológico, de transição, ou ou-
⟩ Criar um Fundo de Garantia de forma a assegurar tros;
as necessidades e os direitos básicos de seguran-
ça, apoio psicológico, abrigo, educação com caráter ⟩ Dotar as autoridades policiais de formação espe-
continuado para todas as crianças órfãs de mãe de- cífica para reconhecer os crimes de ódio como um
vido ao assassinato cometido por parceiro/a ou ex- fenómeno complexo ao nível conceptual, da investi-

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 109


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

gação e da prova; ⟩ Priorizar a educação inclusiva, proceder à avaliação


do Sistema Nacional de Intervenção Precoce na In-
⟩ Garantir a compilação de dados estatísticos sobre fância e rever o modelo de funcionamento dos Cen-
discriminação em função das diversas categorias e tros de Recursos para a Inclusão;
promover a criação de códigos de boas práticas con-
tra a discriminação com base nas diferentes catego- ⟩ Aumentar o número de alunos com deficiência a
rias e nas suas interseções, potenciando sinergias. frequentar o ensino superior, com melhoria das con-
dições do seu acolhimento e integração;
2.4.
As pessoas com deficiência têm inegavelmente ⟩Reforçar a aposta numa formação profissional que
uma maior suscetibilidade a atos de discriminação possa efetivamente promover a integração profissio-
e sujeição, menor oportunidade de participar nos nal das pessoas com deficiência;
processos decisórios, na organização social e no
acesso a recursos, e isso põe-nas numa situação de ⟩Fomentar o apoio à empregabilidade das pessoas
especial vulnerabilidade, o que implica que o Estado com deficiência ou incapacidade, no setor público e
deve cuidar de tomar medidas ativas de proteção e privado;
de garantia. Os direitos das pessoas com deficiên-
cia ou incapacidade têm de ser perspetivados de ⟩ Aprofundar o paradigma da desinstitucionalização
forma transversal, em todas as políticas, da saúde relativamente à prestação de cuidados, reconhecen-
aos transportes, da prática desportiva à habitação, do e regulando o Estatuto do Cuidador Informal, bem
da política de investimentos públicos à política de como a previsão do alargamento do modelo de apoio
emprego. Portugal tem vindo a realizar um percurso à vida independente;
absolutamente reformador no domínio da inclusão
das pessoas com deficiência, materializado, entre ⟩Aprofundar o Modelo de Assistência Pessoal de
outros, a criação da Prestação Social para a Inclusão Apoio à Vida Independente, alargando-o e reforçan-
e o Modelo de Apoio à Vida Independente e culmi- do com mais CAVIS (centros de apoio à vida inde-
nou com a aprovação e publicação da Estratégia Na- pendente), maior cobertura de pessoas apoiadas e
cional para a Inclusão das Pessoas com Deficiência aumentando o número de horas de apoio prestado
2021-2025 (ENIPD 2021-25). Porém, é ainda neces- pelos assistentes pessoais;
sário aprofundar a reforma estrutural e transforma-
dora, orientadora de políticas públicas centradas na ⟩ Assegurar a assistência parental para famílias de
pessoa com deficiência e nas suas necessidades crianças e jovens com deficiência, assim como famí-
específicas. A agravada vulnerabilidade e as especi- lias cuidadoras de pessoas adultas com deficiência
ficas necessidades destas pessoas requerem uma e incapacidades, apresentando uma nova resposta
abordagem interseccional, promotora de respostas social;
concertadas e eficazes de combate às desigualda-
des e discriminação múltipla a que se encontram ex- ⟩ Garantir a acessibilidade física, digital, de informa-
postas. ção e comunicação, gerando mais inclusão e sus-
tentabilidade, nos serviços públicos, infraestruturas,
Para tal o Partido Socialista compromete-se a: meios de transporte, parque habitacional, cultura,
desporto, turismo e lazer;

110 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


⟩ Criar as ferramentas necessárias à garantia das ⟩Desenhar mecanismos que garantam a adesão ao
condições de acessibilidade em todas as comunica- princípio de não-referência da origem racial e étnica,
ções do Governo e Administração Pública e atos elei- cor, nacionalidade, ascendência, território de origem
torais, incluindo a interpretação em Língua Gestual e situação documental em todas as comunicações
Portuguesa, legendagem e descrição das imagens. oficiais proferidas por entidades públicas, e em que
assumem particular premência os autos de notícia,
2.5. bem como monitorizar o seu cumprimento;
As alterações que se vêm verificando no panorama
político europeu, com a ascensão de movimentos ⟩ Adotar uma abordagem de base territorial, multidis-

extremistas, xenófobos e racistas, tornam mais ur- ciplinar e interinstitucional, relativamente à integra-
gentes as políticas de combate ao racismo e à dis- ção das pessoas ciganas que não pode dispensar o
criminação étnico-racial e de apoio aos imigrantes, contributo e o compromisso do poder executivo a ní-
aos migrantes e aos refugiados, apelando ao reforço vel nacional e que deve ser estruturada com a partici-
da nossa luta pela defesa intransigente dos direitos pação das pessoas ciganas e das suas associações.
humanos e do Estado de Direito.
⟩ Assegurar o combate ao recrudescimento de fenó-
Do ponto de vista das políticas públicas, é fundamen- menos de discriminação religiosa ou com base na
tal prosseguir o caminho de concretização da auto- origem nacional e religiosa, como o antissemitismo
nomização institucional do combate à discriminação e a islamofobia, enquadrando-os nas estratégias eu-
racial relativamente às questões migratórias. ropeias em curso para o efeito.

De facto, se há entre as duas matérias alguns pon- Por sua vez, quanto ao apoio e combate à discrimina-
tos de contacto, designadamente porque muitos mi- ção de imigrantes, migrantes e refugiados, em Por-
grantes são discriminados em função da pertença tugal, enquanto país de acolhimento que é o segundo
étnico-racial, ou porque o racismo pode ter impacto país mais envelhecido da Europa, com a maior per-
também ao nível do estatuto migratório e do acesso centagem de cidadãos com mais de 65 anos, a situ-
a direitos, o foco de cada uma delas deve ser autó- ação demográfica e do território recomenda o inves-
nomo. Se as políticas dirigidas às pessoas migran- timento em instrumentos de política migratória que
tes devem ter uma preocupação com a integração estimulem os canais legais e de combate ao tráfico
na sociedade de acolhimento e com o vínculo a esta- e à imigração clandestina, bem como os acordos de
belecer com a respetiva comunidade política, as po- mobilidade, incluindo os que visem a migração circu-
líticas dirigidas ao combate ao racismo pretendem lar, sem descurar os aspetos relativos à segurança e
proteger os direitos de pessoas que tanto podem ser ao acesso aos serviços públicos.
migrantes como podem ser nacionais, sem que isso
assuma qualquer relevância na necessidade de ga- Assegurar o rejuvenescimento da população é abso-
rantir a sua igual dignidade. lutamente crítico para a nossa demografia, a nossa
sociedade, a nossa economia, e para a sobrevivência
Assim, quanto ao racismo e à discriminação étnico- do nosso sistema de segurança social e de serviços
-racial ou de base religiosa, o PS irá: públicos essenciais, como o SNS. Só no ano de 2022
os imigrantes contribuíram com mais de mil e seis-

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 111


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

centos milhões de euros para o nosso sistema de portuguesa, bem como de reconhecimento de quali-
segurança social, um valor muitíssimo superior aos ficações e aquisição de novas competências, em es-
benefícios que receberam. treita cooperação entre entidades públicas, privadas
e do terceiro setor;
Todavia, os imigrantes têm maior risco de pobreza
pois desempenham, de forma mais representativa, ⟩ Valorizar os imigrantes através da abertura dos sis-
as funções menos qualificadas, com níveis de ren- temas de formação profissional, designadamente
dimento mais baixos e estão mais expostos ao de- naqueles setores de atividade que apresentam maior
semprego. Esta realidade impõe uma monitorização carência de mão de obra;
permanente do fenómeno migratório e a adoção de
medidas promotoras da integração plena dos mi- ⟩ Adotar medidas de incentivo à redução da preca-
grantes e refugiados. riedade, promovendo a estabilidade profissional dos
cidadãos migrantes, desincentivando os contratos
Para continuar a prosseguir estes objetivos o PS irá: temporários e a elevada rotação destes trabalhado-
res;
⟩Reforçar os meios de prevenção e combate à imi-
gração ilegal e a tráfico de seres humanos; ⟩ Responsabilizar as entidades patronais pela exis-
tência de condições de habitação condignas para os
⟩Promover a imigração regular desde a origem, o trabalhadores imigrantes designadamente nas situa-
que exige uma cobertura consular eficaz; ções de trabalho temporário e sazonal;

⟩Agilizar os processos de legalização, das autoriza- ⟩ Reforçar a ação da Autoridade para as Condições
ções de residência e de reagrupamento familiar de do Trabalho para a verificação das condições de
imigrantes e refugiados, também como forma de trabalho dos imigrantes (condições contratuais, ob-
combate às redes de imigração ilegal; servância das regras de higiene e segurança no tra-
balho, observância de horários laborais, garantia de
⟩ Promover a transformação digital da área docu- efetivo pagamento dos salários);
mental, garantindo a disponibilização online de to-
dos os serviços da AIMA, o reforço dos sistemas de ⟩ Instalar e dinamizar uma rede nacional de centros
informação de tramitação processual por forma a de acolhimento e inserção profissional, em parceria
resolver o problema da documentação dos cidadãos com autarquias, associações empresariais, a acade-
estrangeiros como primeiro passo do processo de mia e entidades do setor social, com o objetivo de
integração; promover o acolhimento e a integração sócio-pro-
fissional de refugiados e migrantes em situação de
⟩ Elevar o apoio jurídico aos requerentes de proteção vulnerabilidade, preferencialmente localizados em
internacional, designadamente mediante parcerias zonas de baixa densidade populacional e alta carên-
com as associações públicas profissionais de juris- cia de mão-de obra;
tas;
⟩ Incentivar e apoiar o associativismo dos imigrantes
⟩ Promover programas de aprendizagem da língua enquanto interlocutores das entidades públicas para

112 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


efeitos de planeamento e avaliação das políticas pú- Portugal Inteiro sendo de todos e para todos, há que
blicas de integração tanto a nível nacional como re- potenciar a concertação estratégica, reforçar a uni-
gional e local. dade e a coesão nacional com a certeza de que as
Autonomias são a melhor expressão de Portugal no
Atlântico. As duas regiões autónomas sendo distin-
3. Autonomias regionais tas entre si, também neste domínio particular o PS
considera que a coesão social, territorial e económi-
mais fortes ca tem de ser garantida no escrupuloso respeito pelo
princípio da igualdade associado ao princípio da in-
Uma das principais conquistas da democratizadoras sularidade.
do 25 de Abril traduziu-se na consagração na Consti-
tuição da República de um modelo inovador de orga- Nesse sentido, o PS irá:
nização política e administrativa assente na autono-
mia regional dos Açores e da Madeira, reconhecendo ⟩ Desencadear um processo de revisão constitucio-
a sua singularidade e caráter ultraperiférico e indo ao nal dedicado à reforma e aprofundamento das auto-
encontro das aspirações das suas populações de se nomias insulares, indo ao encontro das suas preten-
dotarem de órgãos de governo próprio, retomando e sões e atendendo às reflexões realizadas ao longo
aprofundando o caminho precocemente iniciado ain- dos últimos anos, em especial no que concerne à
da nos finais do século XIX e interrompido durante extinção da figura do Representante da República,
grande parte do século XX. à melhoria da qualidade da democracia regional, à
intervenção das regiões na gestão dos domínios ter-
Ao longo dos quase 50 anos de vida democrática ritoriais e marítimos correspondentes, e ao reforço
que se seguiram, o Partido Socialista tem vindo a as- da qualidade das respostas que o Estado, nas suas
sumir como seu património e como marca identitária diferentes dimensões, coloca à disposição dos des-
da sua ação nas Regiões Autónomas, na Assembleia tinatários das políticas públicas.
da República e no Governo, o aprofundamento e
aperfeiçoamento da riqueza da experiência das auto- ⟩ Rever a Lei de Finanças das Regiões Autónomas,
nomias, melhorando o quadro institucional definido instrumento essencial que materializa o compromis-
na Constituição e nos Estatutos Político-Administra- so efetivo do PS com o projeto autonómico e com a
tivos através do reforço dos poderes das Regiões e construção de soluções que reconheçam as especi-
das suas competências, bem como aprimorando o ficidades de cada Região;
relacionamento entre o Estado e as Regiões.
⟩ Concretizar uma maior intervenção das regiões au-
Na antecâmara do cinquentenário da Democracia, o tónomas em sede de gestão e exploração dos espa-
Partido Socialista vem reafirmar o seu compromisso ços marítimos respetivos, através da revisão da Lei
com o caminho de aprofundamento das autonomias de Bases da Política de Ordenamento e Gestão do
e da descentralização político-administrativa, com Espaço Marítimo Nacional que assegure o equilíbrio
vista ao cumprimento do princípio constitucional da de todos os interesses em presença e a valorização
subsidiariedade e da garantia de meios para a boa do princípio da subsidiariedade, nomeadamente
governação dos territórios dos Açores e da Madeira. através de uma participação qualificada das Regiões
Autónomas;

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 113


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

⟩ Prosseguir a dinamização e reunião com periodi- de projetos de interesse comum, bem como nos do-
cidade do Conselho de Concertação com as Auto- mínios da responsabilidade direta do Estado onde se
nomias Regionais, composto por membros dos Go- encontram previstos investimentos em infraestrutu-
vernos da República e Regionais, com o objetivo de ras da justiça e das forças de segurança nas regiões;
valorizar o papel das Regiões Autónomas no exercí-
cio das funções do Estado, seja pela participação e ⟩ Concluir os estudos em curso sobre da evolução da
colaboração no exercício das competências estatais situação das dependências nos territórios das regi-
nessas regiões, seja pelo estabelecimento, quando ões autónomas em face de novos comportamentos
necessário, de mecanismos de colaboração nas res- aditivos, articulando respostas com as autoridades
petivas políticas públicas; regionais no que respeita a prevenção, tratamento,
dissuasão, redução de riscos e minimização de da-
⟩ Garantir a presença do Estado quanto aos serviços nos, e reinserção social;
que cumprem as suas próprias funções nas Regiões
Autónomas ou quanto ao cumprimento, nesses terri- ⟩ Reforçar a cooperação e a intervenção, legal ou con-
tórios, de objetivos e fins do Estado; tratualizada, dos órgãos regionais no cumprimento
de objetivos e fins do Estado que, nos Açores e na
⟩ Aprofundar a aposta nas qualificações e na investi- Madeira, são prosseguidos pelos órgãos regionais,
gação científica, devendo o quadro de financiamento uma vez que, pela proximidade e conhecimento que
das instituições de ensino superior público situadas têm, estes se afiguram como um elemento potencia-
nas Regiões Autónomas atender aos sobrecustos da dor da eficácia da ação pública.
insularidade e da sua dimensão ultraperiférica, pros-
seguindo o caminho já efetuado na anterior legisla-
tura 4. As autarquias locais como
⟩ Prosseguir a contratualização, a criação de par- motores de desenvolvimento
cerias e a ação conjunta que suscite a intervenção num país descentralizado
direta e mais próxima dos entes regionais em ma-
térias essenciais ao funcionamento dos serviços do O Partido Socialista é hoje o grande partido das au-
Estado nas Regiões Autónomas e ao desenvolvimen- tarquias locais, assumindo a responsabilidade de ge-
to de políticas públicas relevantes para ambos, com rir o maior número de Câmaras Municipais e Juntas
especial enfoque nas matérias relativas à mobilida- de Freguesia, mobilizando milhares de eleitos locais
de aérea e marítima, às telecomunicações (em es- para as suas políticas públicas ao serviço das popu-
pecial através da ligação de redes materializada nos lações. Mesmo quando assim não foi, coube sempre
investimentos nos cabos submarinos de ligação das ao PS um papel dinamizador da democracia local,
Regiões Autónomas ao Continente e inter-ilhas) e à qualificando os instrumentos ao seu dispor, confian-
investigação científica, aproveitando o potencial in- do na capacidade decisória dos titulares dos órgãos
sular nos domínios marítimo ou aeroespacial; autárquicos e acolhendo sempre como parte da sua
identidade uma visão das autarquias locais como
⟩Prosseguir a execução do quadro de investimentos a forma mais eficaz de levar o Estado até aos cida-
programados para as Regiões Autónomas no âmbito dãos.

114 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


Ao longo dos últimos 8 anos aprofundámos este ⟩ Rever o Estatuto do Direito de Oposição e adequá-lo
compromisso com as autarquias locais, desenvol- a outros instrumentos jurídicos nacionais e europeus
vendo um ambicioso e necessário processo de des- relativos ao acesso à informação, à transparência e à
centralização, chegando a acordos históricos com prestação de contas;
os Municípios para transferir o exercício de compe-
tências em áreas tão diversas como a saúde ou a ⟩ Dotar as Assembleias Municipais de recursos e de
educação, garantindo assim uma gestão de proxi- um quadro técnico de apoio permanente para o de-
midade que garanta melhores serviços públicos em sempenho das suas missões, designadamente de
todo o território. Este é um caminho que temos de fiscalização, sem prejuízo do debate sobre o modelo
continuar a trilhar, nos termos desenvolvidos no pon- de governo das autarquias locais,
to do programa eleitoral dedicado ao território.
⟩ Dotar os órgãos de decisão executiva de meios
Para além deste impulso modernizador na organiza- humanos de apoio correspondentes à responsabi-
ção administrativa, há também que encarar as au- lidade acrescida que decorre do reforço de compe-
tarquias locais como determinantes para a robustez tências resultante do processo de descentralização,
da nossa democracia: são o patamar de governação revendo o regime dos gabinetes de apoio e promo-
que assegura um contacto mais direto e próximo aos vendo o desenvolvimento de gabinetes de estudo de
cidadãos, que permite responder a muitas das suas políticas públicas autárquicas, melhorando, assim, a
aspirações quotidianas mais imediatas e que pode qualidade de informação na decisão política;
funcionar como laboratório de reforço e revitalização
de práticas democráticas e de participação política. ⟩ Apoiar o desenvolvimento estruturas de apoio téc-
No entanto, para que o possam fazer com sucesso, nico e formativo partilhadas, a nível intermunicipal,
é importante que as autarquias locais e aqueles que para apoio ao exercício das suas competências pe-
nelas assumem responsabilidades sejam dotados los municípios e freguesias;
de ferramentas atualizadas e adequadas a essa mis-
são de aproximação às comunidades. Efetivamente, ⟩ Promover o desenvolvimento de ferramentas jurí-
neste processo de cinco décadas, nada teria sido dicas que facilitem a interação com os cidadãos e
possível sem o empenho das várias equipas de elei- com associações de base local, e a sua participação
tos locais que dedicaram o seu tempo e energia ao na vida das comunidades, nomeadamente através
serviço das populações. da disponibilização de formas de transmissão das
reuniões públicas dos órgãos das autarquias locais,
Assim, o PS propõe: das CIMs e áreas metropolitanas, partilhando boas
práticas para realização de consultas públicas e alar-
⟩ Rever o Estatuto dos Eleitos Locais, diploma que, gando o regime jurídico dos Conselhos Municipais
com mais de trinta anos de vigência, e desenhado de Juventude a outras dimensões locais;
para uma realidade autárquica muito diferente e com
graus de exigência e responsabilidade diversos, care- ⟩ Promover a dinamização do recenseamento eleito-
ce de substituição por um instrumento simples, justo ral dos cidadãos estrangeiros que podem beneficiar
e equilibrado, que reconheça o serviço público dos de regime de reciprocidade de direitos políticos no
autarcas e esteja à altura dos seus direitos e deveres; plano local, no quadro do reforço da participação

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 115


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

eleitoral e da legitimidade democrática dos órgãos 5. Uma Administração


das autarquias locais, bem como da construção de
laços de participação com comunidades migrantes;
Pública inovadora e eficiente
com trabalhadores motivados
⟩ Assegurar às autarquias locais um quadro legisla-
tivo mais compreensível, consolidando a legislação Uma Administração Pública inovadora, eficiente e
autárquica num verdadeiro código administrativo próxima, com capacidade de resposta imediata às
autárquico dotado de racionalidade e que sirva de necessidades dos cidadãos e das empresas, cons-
instrumento simplificador do trabalho do poder local; titui condição essencial à reconciliação das pessoas
com o processo democrático de decisão e é indutora
⟩ Assegurar mecanismos harmonizadores das inter- de bem-estar social e de uma economia desenvolvi-
pretações da legislação autárquica produzida pela da. Além disso, uma Administração Pública mais efi-
atividade de parecerística de entidades públicas ciente e eficaz é essencial à qualidade dos serviços
(CCDRs, Direção-Geral das Autarquias Locais, Dire- públicos prestados aos cidadãos e, por isso, a um
ção-Geral da Administração e Emprego Público), ga- Estado social forte, moderno e inclusivo.
rantindo parâmetros uniformes para a atuação das
autarquias; Nos anos de governo do Partido Socialista a Admi-
nistração recuperou do enorme enfraquecimento a
⟩ Proceder a uma avaliação da adequação dos re- que a governação durante a Troika a votou com redu-
cursos financeiros transferidos para as autarquias ção de recursos humanos e materiais, perda de ren-
locais ao exercício das novas competências descen- dimentos, processos de desvinculação de trabalha-
tralizadas, aferindo da eficácia e eficiência na gestão dores, desinvestimento geral. Descongelaram-se as
descentralizada dos recursos públicos, com vista a carreiras, recuperaram-se rendimentos, aumentou-se
habilitar uma reforma no sentido de: o número de trabalhadores públicos e investiu-se na
transição digital da Administração Pública. As car-
· Aumentar gradualmente a participação das autar- reiras foram valorizadas e melhorámos as remune-
quias locais na gestão das receitas públicas, con- rações - aumentámos a Base Remuneratória da Ad-
vergindo para o nível médio dos países da União ministração Pública em cerca de 63% e o valor médio
Europeia; anual do ganho médio mensal dos trabalhadores pú-
blicos é estimado em 1.910€ (+17,9% face a 2015).
· Rever a lei das finanças locais no que respeita à
distribuição de receitas fiscais e ao aumento da
Mas é preciso melhorar ainda mais a governação
autonomia local na gestão de taxas e benefícios
pública e modernizar e simplificar os procedimen-
fiscais relativos a impostos locais;
tos administrativos e os mecanismos de gestão da
· Dotar os municípios e as freguesias de recursos Administração Pública, além de valorizar e qualificar
estáveis para as respetivas competências legais, os dirigentes e os trabalhadores, através de políticas
diminuindo a dependência de acordos com o Esta- públicas coerentes e eficazes.
do e municípios, respetivamente;
Para tal, o Partido Socialista compromete-se a:
· Concluir o processo de desagregação de fregue-
sias iniciado com a Lei n.º 39/2021, de 24 de ju-
nho.

116 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


⟩ Adotar modelos inovadores de gestão organizativa, de recrutamento de técnicos superiores, em função
designadamente através da criação e reforço de vá- das inovações tecnológicas a introduzir no setor pú-
rios tipos de serviços partilhados e dos centros de blico, antecipando as necessidades futuras de qua-
competências e concretizar a reorganização admi- dros especializados e capacitando-os para novas
nistrativa prevista no quadro da concentração de ser- áreas de governação, garantindo a abertura de um
viços da Administração Pública num mesmo edifício; concurso para recrutamento de 1.000 técnicos su-
periores por ano;
⟩ Reduzir a excessiva dependência do setor público
face ao fornecimento externo de serviços e de bens; ⟩ Apostar na simplificação ao nível da tramitação dos
diversos tipos de procedimentos administrativos;
⟩ Atrair trabalhadores qualificados e rejuvenescer a
Administração Pública, através da simplificação dos ⟩ Aproveitar as oportunidades do digital na relação
procedimentos de recrutamento e da valorização das com os cidadãos, tornando a Administração mais
carreiras, designadamente na fase inicial das mes- proativa, antecipando e resolvendo as necessidades
mas, incluindo a recuperação faseada do tempo de dos cidadãos ao longo dos seus eventos de vida;
serviço congelado nas carreiras que tenham o tempo
como fator essencial de progressão, de acordo com ⟩ Garantir a total interoperabilidade e partilha de da-
o princípio da equidade; dos entre as entidades da Administração Pública, re-
forçando a adoção do princípio do only once;
⟩ Aperfeiçoar o modelo de recrutamento e seleção de
dirigentes superiores valorizando as funções de dire- ⟩ Estabelecer o acesso a uma cloud pública a que
ção superior e intermédia da Administração Pública; cada pessoa possa ter acesso, em condições de pro-
teção, privacidade e segurança, para garantir autono-
⟩ Concluir a revisão das carreiras não revistas, com mia no acesso digital numa perspetiva de soberania
uma discussão alargada e transparente para harmo- digital;
nizar regimes, garantir a equidade e a sustentabili-
dade, assegurando percursos profissionais assentes ⟩Assegurar a eficácia do trabalho em rede da Admi-
no mérito dos trabalhadores; nistração Pública, através de mecanismos de intero-
perabilidade, e articulando prioridades, abordagens e
⟩ Garantir a atualização anual dos salários respeitan- soluções técnicas em comités técnicos e estratégi-
do o princípio da não compressão de carreiras por cos;
via do aumento do SMN;
⟩ Terserviços digitais automatizados, simples e sus-
⟩ Promover a qualificação e capacitação dos diri- tentáveis centrados nas pessoas e empresas que ga-
gentes e trabalhadores da Administração Pública, rantam proximidade, acessibilidade e inclusão;
garantindo a formação ao longo de toda a carreira,
reforçando o papel do Instituto Nacional de Adminis- ⟩ Disponibilizar um atendimento omnicanal (digital,
tração; vídeo conferência, telefone, presencial) e uma experi-
ência uniforme, através da utilização transversal das
⟩ Planificar, a médio e longo prazo, as necessidades plataformas comuns da Administração Pública e da
automatização dos serviços;

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 117


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

⟩ Alargar a rede de respostas de atendimento presen- to dos objetivos políticos, através da implementação
cial, designadamente nos territórios de baixa densi- de mecanismos permanentes do impacto das polí-
dade, assegurando um horário alargado e apostando, ticas públicas e das decisões governativas, prévia
para o efeito, em medidas de prestação de serviços e posteriormente à sua execução, aproveitando e
itinerantes; valorizando estruturas já existentes, como o Centro
de Competências de Planeamento, de Políticas e de
⟩ Disponibilizar aos portugueses que se encontrem Prospetiva da Administração Pública – PlanAPP;
no estrangeiro de sistema de acesso a serviços pú-
blicos por videoconferência, através da Plataforma ⟩Garantir a transparência da governação pública, fi-
de Atendimento à Distância; xando metas claras e publicitando os seus resulta-
dos;
⟩ Incorporar soluções de Inteligência Artificial para
analisar grandes volumes de dados e desenhar re- ⟩ Promover a gestão autónoma dos orçamentos pe-
postas personalizadas aos cidadãos e às empre- los dirigentes dos serviços da Administração Públi-
sas, com vista a desenhar políticas públicas mais ca, de acordo com objetivos previamente fixados e
eficazes e melhorar o funcionamento dos serviços sujeitos a uma avaliação intercalar que associe a dis-
públicos, sem descurar a regulação da própria Inte- ponibilidade do orçamento ao grau de desempenho;
ligência Artificial, na linha do preconizado pela União
Europeia; ⟩ Reformular e simplificar os procedimentos de au-
torização de despesa e de contratação pública, faci-
⟩Promover um enquadramento regulatório favorável litando o investimento público e a transparência na
à deep tech e ao seu financiamento, ajudando a pre- gestão de recursos financeiros.
parar a entrada de tecnologias emergentes como o
6G e tecnologias quânticas;
6. Uma Justiça mais eficiente,
⟩ Implementação soluções que assegurem uma
maior resiliência digital do país a incidentes de ci- mais transparente e mais
bersegurança, incluindo a adoção de políticas de di- acessível
vulgação e gestão coordenada de vulnerabilidades,
a cibersegurança na cadeia de abastecimento de A confiança nas instituições da Justiça é uma con-
produtos de TIC e serviços de TIC, a certificação de dição essencial para o sucesso de uma Democracia
cibersegurança e a educação e formação em ciber- moderna e de qualidade. A separação de poderes, a
segurança; independência da magistratura judicial, a autonomia
do Ministério Público são pilares do Estado de Direi-
⟩ Ter uma Administração Pública proativa na anteci- to democrático. O respeito por estes princípios não
pação e proposta de serviço para as interações com dispensa – antes pelo contrário, impõe - ao poder
cidadãos e empresas; legislativo e ao poder executivo o cumprimento da
sua função constitucional de desenvolver políticas
Desenvolver em todos os momentos uma cultura de públicas que garantam um serviço público de Justi-
prestação de contas e de verificação do cumprimen- ça mais eficiente, mais acessível e mais transparen-

118 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


te, bem como a efetivação da responsabilidade de ⟩ Equacionar, em articulação com os Conselhos Su-
todos os atores do sistema. Aliás, a Constituição da periores, a criação de novas ferramentas de trabalho
República assegura a todos o direito à tutela judicial no plano da gestão processual que permitam renta-
efetiva, o que inclui o acesso ao Direito e aos tribu- bilizar a tecnologia existente;
nais, ao segredo de justiça, a obter uma decisão em
prazo razoável e mediante um processo equitativo. ⟩ Garantir a interoperabilidade entre sistemas infor-
máticos dos tribunais, da Administração Pública,
A crítica generalizada à lentidão da Justiça – ainda incluindo entidades reguladoras, bem como de en-
que, não raras vezes, focada nos grandes processos- tidades estrangeiras e internacionais, com vista ao
-crime mediáticos e na jurisdição administrativa– acesso automático a documentos e informações re-
impede as pessoas de verem assegurados os seus levantes;
direitos mais elementares e afasta o investimento
privado, conferindo à Justiça uma imagem inacei- ⟩ Utilizar mecanismos de automatização de tarefas
tavelmente negativa. É preciso adotar medidas que e de Inteligência Artificial para apoio à submissão de
reforcem a eficiência e celeridade da Justiça, que documentos, pesquisa avançada, propostas de su-
a tornem mais transparente e mais acessível para mários, jurisprudência, gestão inteligente de ativida-
os cidadãos e para as empresas. Além disso, a nin- des, sugestão de documentação a consultar e outras
guém podem ser negados os direitos fundamentais funcionalidades;
ao apoio jurídico e ao acesso aos tribunais por falta
de recursos financeiros e as garantias de uma inves- ⟩Lançar um programa de identificação de tarefas
tigação e julgamento em processo crime em con- manuais nos sistemas dos tribunais que possam ser
formidade com a Constituição. Para alcançar esses automatizadas;
objetivos é preciso desenvolver um conjunto de polí-
ticas públicas em quatro eixos: uso de ferramentas ⟩Introduzir mecanismos de maior automatização de
digitais e introdução de alterações ao nível processu- comunicações, ferramentas para acompanhamento
al; publicitação de dados estatísticos e de decisões; da gestão da ação dos agentes de execução e de
garantia de acesso independentemente de meios maior transparência e rastreabilidade nos mecanis-
financeiros ou outros; e formação de magistrados e mos à disposição destes profissionais, de forma a
valorização de carreiras. aumentar a eficácia da capacidade de resposta, pre-
venir a fraude e reduzir a duração média da ação exe-
6.1. cutiva;
No que se refere à promoção da eficiência e celeri-
dade, o PS irá: ⟩ Disponibilizar mais indicadores de gestão para to-
dos os intervenientes, com utilização de Inteligência
⟩ Simplificar processos e trâmites processuais, es- Artificial e que permitam, de forma preditiva, anteci-
pecialmente os que resultem de práticas e praxes par necessidades de alocação de recursos e melho-
processuais, eliminando passos e formalidades inú- rar a gestão;
teis, bem como automatizando ações sempre que
possível; ⟩Reforçar os poderes do administrador judicial per-
mitindo que este pratique certos atos de gestão pro-

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 119


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

cessual e garantindo que os mesmos podem ser re- procedimentos, a celeridade na investigação crimi-
crutados de forma externa, mediante concurso; nal, a satisfação dos direitos fundamentais constitu-
cionalmente previstos e o efetivo exercício dos po-
⟩Organizar as secretarias judiciais de modo flexível, deres hierárquicos quando necessário, sem prejuízo
permitindo a instituição de secções de processos de da responsabilidade individual de cada magistrado;
apoio transversal especializado a diversas unidades
orgânicas, a gestão por agregação das tarefas, a ⟩Permitir a suspensão provisória do processo para
possibilidade de modificação estrutural e a inclusão um número mais alargado de crimes, desde que to-
de sistemas de avaliação e recompensas assentes das os sujeitos processuais estejam de acordo;
nos objetivos e finalidades alcançados;
⟩ Rever as regras sobre conexão de processos, as-
⟩Criar regimes processuais simplificados para cau- sim evitando os “megaprocessos”, relativamente aos
sas de baixo valor ou complexidade, reduzindo o quais a morosidade se coloca de forma particular-
número de interações processuais e limitações à di- mente grave;
mensão das peças processuais;
⟩ No plano da Justiça Administrativa, i) adotar as
⟩ Prever a definição da competência dos tribunais e medidas necessárias para que os instrumentos de
da distribuição de processos com base em critérios agilização e gestão processual previstos na lei sejam
transparentes relativos à carga processual, sem pre- efetivamente utilizados e ii) reforçar os recursos que
juízo do cumprimento das exigências do princípio do se revelem necessários para a administração da Jus-
juiz natural; tiça Administrativa em prazo razoável;

⟩Proceder à revisão transversal dos prazos judiciais, ⟩ Reforçar os mecanismos de arbitragem institucio-
adaptando-os de acordo com a complexidade dos nalizada em detrimento da arbitragem administrativa
processos e promovendo a sua efetiva aplicação; “ad hoc”, que deve ser regulamentada;

⟩ Repensar a utilidade e necessidade de vários atos ⟩ Criar um programa nacional de expansão dos julga-
processuais em todas as fases e eliminando os que dos de paz, aproveitando as sinergias com as comu-
tenham natureza meramente dilatória; nidades intermunicipais e os municípios;

⟩ No plano da Justiça Penal, dotar o Ministério Pú- ⟩ Aplicar os meios digitais à resolução alternativa de
blico e os órgãos de polícia criminal dos meios (in- litígios;
clusive, tecnológicos) para investigar novas formas
de criminalidade, bem como para constituir equipas ⟩ Reforçar o papel do Conselho Consultivo da Justi-
interdisciplinares de magistrados de investigação ça, como forma de melhorar o diálogo entre todos os
criminal; atores da Justiça.

⟩ Clarificar as formas de coordenação e os poderes 6.2.


hierárquicos da Procuradoria-Geral da República no No eixo da transparência, o PS propõe:
âmbito dos inquéritos, garantindo uniformização de

120 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


⟩ Publicitar periodicamente estatísticas por tribunal, ma de fiscalização concreta da constitucionalidade.
incluindo o número de processos pendentes, a dura-
ção média dos processos, a percentagem de revoga- 6.4.
ção de decisões por tribunais de recurso, o número As pessoas são o alicerce do sistema de Justiça,
de processos prescritos e em risco e prescrição, bem pelo que, quanto à seleção e formação de magistra-
como os tempos médios expectáveis associados dos e à valorização de carreiras, o PS irá:
aos processos;
⟩ Garantir, em articulação com os Conselhos Superio-
⟩ Construir e divulgar uma base de dados de decisões res da Magistratura e o Conselho Superior dos Tribu-
anonimizadas de todas as instâncias e tribunais, in- nais Administrativos e Fiscais e a Procuradoria-Geral
cluindo o registo público eletrónico de decisões in- da República, que a colocação de recursos humanos
terlocutórias e acórdãos dos tribunais arbitrais; corresponde às necessidades efetivas e localizadas
do sistema;
⟩Criar um serviço que disponibilize aos utentes da
Justiça, cidadãos e empresas, a consulta online do ⟩ Rever e valorizar as carreiras dos oficiais de Jus-
estado do seu processo; tiça, dos conservadores de registo e dos oficiais de
registo, garantir a adequada formação inicial e valori-
⟩ Assegurar que as citações, notificações, mandados zar os respetivos conteúdos funcionais;
ou intimações dirigidas a particulares utilizem sem-
pre linguagem clara e facilmente percetível por não ⟩ Repensar o modelo de recrutamento e de seleção
juristas; dos novos magistrados judiciais e do Ministério Pú-
blico;
⟩ Apresentação e apreciação na Assembleia da Re-
pública dos relatórios anuais dos Conselhos Superio- ⟩ Melhorar a formação inicial e a formação contínua
res. dos magistrados, de forma a garantir que estes es-
tão dotados dos conhecimentos indispensáveis ao
6.3. exercício das suas funções, promovendo a interdis-
Para garantir o pleno direito de acesso à Justiça, em ciplinaridade no seu percurso formativo, a utilização
condições de igualdade e com equidade, o PS irá: de meios de gestão e agilização e o pleno cumpri-
mento dos direitos fundamentais constitucionalmen-
⟩ Avaliar e rever o modelo de acesso ao direito e à te consagrados;
justiça, seja ao nível da instituição de um sistema
de apoio judiciário abrangente e eficaz nas suas di- ⟩Criar um corpo de assessores especializados para
versas modalidades mais, seja ao nível do valor das os tribunais e investir na sua formação inicial e contí-
custas judiciais; nua, a funcionar de forma centralizada, em matérias
cuja complexidade técnica o justifique.
⟩ Estudar a introdução do direito de queixa consti-
tucional (ou recurso de amparo), de modo que as 6.5.
pessoas e empresas possam aceder diretamente ao Uma Justiça humanista deve ainda promover o apoio
Tribunal Constitucional, a par com a revisão do siste-

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 121


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

às vítimas, assim como desenvolver uma política de Num quadro em que Portugal se continua a apre-
reinserção social, pelo que o Partido Socialista irá: sentar como um dos países mais seguros do mun-
do, importa dotar as nossas forças e serviços de
⟩Reforçar a resposta e o apoio oferecido às vítimas segurança, peças determinantes do sucesso dessa
de crimes, em parceria com entidades públicas e pri- estratégia, das condições adequadas ao exercício da
vadas; missão que lhes está confiada.

⟩ Implementar a estratégia nacional para os direitos É necessário manter uma rota de reforço dos direi-
das vítimas de crime, considerando as vítimas mais tos e da dignidade dos profissionais de segurança
vulneráveis (crianças e jovens, mulheres, pessoas pública, nomeadamente através da ponderação no
idosas, pessoas com deficiências e outras), numa estatuto da sua condição do risco da sua atividade,
perspetiva de género e de acordo com um modelo de da estabilidade e evolução das carreiras e da valori-
governação integrada; zação remuneratória indispensável à sua motivação.
Por outro lado, enquanto agentes de primeira linha
⟩ Continuar a reformar as infraestruturas prisionais; do Estado de Direito, é igualmente indispensável
continuar o aprofundamento dos processos de for-
⟩ Alargar a competência Tribunais de Execução de mação inicial e ao longo das carreiras com vista ao
Penas de modo a abranger a execução de todas as reforço da consciência e das capacitações dos ope-
penas, e não apenas as privativas da liberdade, re- racionais para matérias de cidadania e igualdade e
forçando o caráter de reinserção social de todas as para intervenção em contextos exigentes do ponto
sanções criminais e libertando os tribunais criminais de vista dos direitos fundamentais.
do acompanhamento dos processos em fase poste-
rior à condenação; Paralelamente, deve fazer-se a programação de in-
vestimentos em infraestruturas e equipamentos, as-
⟩Desenvolver mais e melhores meios de reinserção segurar a estabilização de um quadro plurianual de
social e de execução de penas. admissão de efetivos e a valorização da condição
policial.

7. Segurança interna e proteção Finalmente, num quadro que é de limitação ao exer-


cício de alguns direitos, nos termos previstos na
civil como agentes do Estado Constituição, é relevante a valorização do direito de
de Direito participação das associações representativas dos
profissionais da GNR e da PSP, com vista à preven-
7.1. Segurança interna: ção do aparecimento e crescimento dos movimen-
As forças e serviços de segurança são pilares fun- tos inorgânicos e de forma a envolver os profissio-
damentais para a segurança dos cidadãos e para o nais nas decisões que afetam o seu futuro e a sua
pleno exercício das suas liberdades fundamentais, atividade, podendo contar com os seus contributos
garantindo a subsistência da Democracia e do Esta- e envolvimento.
do de Direito.
Assim, no âmbito da valorização dos profissionais

122 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


das forças de segurança, o PS compromete-se a: ⟩ Prosseguir e concluir as ações previstas na Lei de
Programação das Infraestruturas e Equipamentos
⟩ Desencadear negociações imediatas com as asso- para as Forças e Serviços de Segurança do Ministé-
ciações sindicais e profissionais representativas das rio da Administração Interna até 2026;
forças de segurança no âmbito de um plano concer-
tado de revisão das carreiras com vista à valorização ⟩ Aprofundar as soluções de partilha de recursos
salarial e ao reforço da dignidade da condição poli- entre as forças e serviços de segurança, nomeada-
cial, em especial para as funções que comportam ris- mente GNR e PSP, através da gradual integração das
co e penosidade, por forma a garantir um tratamento estruturas de apoio técnico e de suporte logístico,
equitativo entre funções e atividades semelhantes; eliminando redundâncias, simplificando estruturas e
permitindo a alocação de elementos policiais para a
⟩ Assegurar condições aos profissionais deslocados, atividade operacional;
através de apoios ao alojamento e das suas famílias,
contemplando um maior equilíbrio entre a vida pro- ⟩ Criar uma estrutura de gestão integrada das tecno-
fissional e a vida pessoal e familiar; logias de segurança apta a prevenir os riscos da cri-
minalidade digital;
⟩ Implementar um plano plurianual de admissões nas
forças e serviços de segurança, assegurando o con- ⟩ Reforçar a participação das forças de segurança
tínuo rejuvenescimento e a manutenção de elevados nas ações de cooperação europeia na prevenção da
graus de prontidão e eficácia operacional dos seus criminalidade, combate ao terrorismo e extremismo
efetivos; violento, tráfico de pessoas, de armas e drogas e do
cibercrime, e na gestão integrada das fronteiras ex-
⟩ Continuar o aprofundamento dos processos de ternas da União Europeia, assegurando e avaliando o
formação inicial e ao longo das carreiras com vista, novo quadro orgânico de exercício de novas compe-
entre outros, à atualização para utilização de ferra- tências neste domínio;
mentas tecnológicas, ao reforço da consciência e
das capacitações dos operacionais para matérias ⟩ Intervir sobre fenómenos de violência, nomeada-
de cidadania e igualdade e para intervenção em con- mente os ligados à atividade desportiva, criando me-
textos exigentes do ponto de vista dos direitos fun- canismos dissuasores de comportamentos racistas,
damentais e à formação para estratégias de policia- xenófobos, sexistas e homofóbicos e demais mani-
mento de proximidade. festações de intolerância, estimulando o comporta-
mento cívico e a tranquilidade na fruição dos espa-
No que respeita ao investimento e desenvolvimento ços públicos;
de capacidades operacionais, com vista a garantir a
manutenção de Portugal como um dos países mais ⟩Prosseguir a renovação e reforço da Rede Nacional
seguros do Mundo como instrumento fundamen- de Segurança Interna como base tecnológica para os
tal para a qualidade de vida dos portugueses, bem sistemas das forças e serviços de segurança e do
como para a atração de investimento estrangeiro e sistema de proteção civil de emergência;
turismo, o PS propõe-se:
⟩ Atualizar as regras para a instalação de sistemas de

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 123


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

videovigilância em zonas de risco, para a utilização uma redobrada atenção aos novos tempos de catás-
de drones e para a utilização de sistemas de regis- trofes e de grandes ocorrências.
to de imagem pelas forças de segurança no respeito
pelos direitos fundamentais dos cidadãos; Em conformidade, o PS irá:

⟩ Prosseguir a aposta e investimento no policiamen- ⟩ Prosseguir a concretização do Programa de Pro-


to de proximidade, com utilização de metodologias teção Civil Preventiva 2020/30, integrando todas as
aperfeiçoadas de proteção das populações, em es- áreas de gestão de risco de catástrofe com um plano
pecial das mais vulneráveis, bem como de presença de financiamento associado, utilizando recursos na-
e fiscalização no espaço público e do patrulhamento cionais e europeu;
direcionado ao bem-estar das populações, em coo-
peração com as autarquias, com o tecido associati- ⟩ Aprofundar o potencial do novo Sistema de Ges-
vo e com as comunidades locais. tão Integrada de Fogos Rurais, assegurando a arti-
culação entre todas as entidades participantes na
⟩ Prosseguir, em articulação com as autarquias lo- prevenção estrutural, nos sistemas de autoproteção
cais, a estratégia de desenvolvimento e implemen- de pessoas e infraestruturas (designadamente o pro-
tação de uma nova geração de Contratos Locais de grama Aldeia Segura/Pessoas Seguras), nos meca-
Segurança que concretize uma estratégia de policia- nismos de apoio à decisão e no dispositivo de com-
mento de proximidade em domínios como a segu- bate aos incêndios rurais;
rança escolar, o apoio aos idosos ou a segurança no
desporto e em grandes eventos; ⟩Assegurar um modelo de resposta profissional per-
manente a riscos de proteção civil, com a participa-
7.2. Proteção civil ção da Força Especial de Proteção Civil, da GNR, das
Os novos desafios que enfrentamos, com fenóme- Forças Armadas, dos bombeiros sapadores, munici-
nos cada vez mais complexos relacionados com as pais e das equipas de intervenção permanente das
alterações climáticas, sociais e económicas, exigem associações de bombeiros voluntários;
um sistema de proteção civil modernizado, com ca-
pacidade de resposta baseada em conhecimento, ⟩Prosseguir a implementação do Sistema de Plane-
experiência, capacitação das forças e novas tecno- amento Civil de Emergência nas redes da indústria,
logias. Exige-se, em simultâneo, uma contínua apos- energia, transportes e mobilidade, comunicações,
ta em políticas de monitorização e gestão do risco, agricultura, ambiente, saúde e ciberespaço, integran-
que permitam o reforço da antecipação e preparação do a adoção de medidas preventivas e de coordena-
para os eventos, em particular os de elevado poten- ção de resposta em caso de catástrofe ou situação
cial disruptivo, garantindo às populações e ao territó- de emergência.
rio maior capacidade de resistência e recuperação.
Assim, no domínio da proteção civil, importa prosse- A evolução para um sistema de proteção civil mo-
guir a implementação de uma nova visão sobre a pro- derno, reforçado, dinâmico e integrado implica a
teção e socorro das populações, promovendo uma valorização das suas estruturas, com especial foco
valorização das estruturas de bombeiros e proteção nos bombeiros, assegurando-se, ainda, que todos os
civil, garantindo uma melhor presença no território e agentes do sistema estão capacitados para cumprir

124 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


as suas responsabilidades e exercer as suas compe- ros e à sua atividade, bem como o respetivo regime
tências. Assim, importa dar continuidade ao trabalho de financiamento, tendo em vista a prossecução de
feito através da evolução do sistema de proteção ci- um sistema transparente, adequado às necessida-
vil, consubstanciada em estratégias de economia e des operacionais, implementando mecanismos de
eficiência e numa abordagem que capacite, envolva controlo eficazes;
e responsabilize todos os agentes de proteção civil,
em todos os momentos do ciclo da emergência, sen- ⟩ Proceder à revisão das carreiras de bombeiros, pro-
do, para isso, necessário: curando implementar uma carreira única com desen-
volvimento paralelo pela via profissional e pela do
⟩Rever a Lei de Bases da Proteção Civil, clarificando voluntariado, promovendo a profissionalização, qua-
conceitos e adequando-a à realidade e aos desafios lificação e valorização da atividade;
de uma nova geração de eventos, bem como o qua-
dro jurídico da proteção civil no âmbito municipal; ⟩ Promover a profissionalização dos quadros de co-
mando dos corpos de bombeiros, dando resposta às
⟩ Rever o Sistema Nacional de Monitorização e Co- novas exigências das funções e capacitando estes
municação de Risco, de Alerta Especial e de Aviso à elementos para as competências e responsabilida-
População, tornando a comunicação mais expedita des inerentes aos cargos que ocupam;
e assente em dados e em informação de segurança,
tendo em vista a promoção de uma cultura de segu- Na dimensão da prevenção e preparação, em prol de
rança e de responsabilidade perante o risco; comunidades resilientes, é fundamental:

⟩ Reforçar a participação no Mecanismo de Proteção ⟩ Capacitar os cidadãos, promovendo uma cultura


Civil da União Europeia, através do reforço das ca- de segurança e fomentando, à escala local ou de vi-
pacidades nacionais disponibilizadas, priorizando a zinhança, a reação conjunta em situações de emer-
preparação de forças operacionais conjuntas espe- gência, preparando comunidades mais resistentes,
cializadas; incentivo a elaboração de planos locais de proteção
civil e apoiando programas que promovam a prote-
⟩ Reforçar o sistema de proteção civil com mecanis- ção civil na comunidade escolar, aumentando o co-
mos e abordagens suportados em meios digitais, nhecimento dos jovens sobre os riscos e sobre os
seguros, inclusivos e integrados, através da desma- comportamentos a adotar;
terialização e adequação dos serviços, da capitali-
zação dos dados e da promoção das competências ⟩ Reforçar os mecanismos de aviso às populações
digitais de todos os agentes de proteção civil; para situações de emergência através da implemen-
tação de canais complementares ao aviso por SMS,
Particularmente no que diz respeito aos bombeiros, designadamente no que respeita à implementação
visando a sua valorização pela capacitação, profis- de um sistema de aviso por difusão celular;
sionalização e especialização, é essencial:
Finalmente, no âmbito da resposta operacional,
⟩ Rever o quadro legal aplicável às entidades detento- tendo em vista um sistema mais responsivo e com
ras de corpos de bombeiros, aos corpos de bombei- maior capacidade de adaptação a diferentes reali-

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 125


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

dades, mais dinâmico e funcionalmente claro, afigu- blico, visando mitigar os riscos da circulação, através
ra-se necessário implementar um modelo de reequi- da implementação de vias tolerantes e autoexplica-
pamento das forças dos agentes de proteção civil, tivas;
baseado nas necessidades de resposta aos riscos
identificados, que defina investimentos e responsa- ⟩ Estabelecer programas de segurança e de redução
bilidades e obedeça a princípios de racionalidade da sinistralidade rodoviária ao nível das áreas metro-
e eficiência económica e operacional, garantindo a politanas e das comunidades intermunicipais, sujei-
modernização de meios e a sua interoperabilidade, tos a avaliação regular por entidades independentes;
minimizando a sua obsolescência e a duplicação de
investimentos ⟩ Assegurar uma melhoria da resposta pós-acidente,
nomeadamente nos pontos reconhecidos como zo-
7.3. Segurança rodoviária nas de acumulação de acidentes, em que estão iden-
O sistema rodoviário é utilizado pelos cidadãos dia- tificados o tipo de acidente predominante e os meios
riamente e de diversas formas. Segundo a Organi- de socorro necessários;
zação Mundial de Saúde, os acidentes rodoviários
representam a maior causa de morte não natural no ⟩ Reforçar a aposta na sensibilização para a criação
mundo, causando elevadas perdas sociais, económi- de uma cultura de segurança rodoviária, inclusive
cas e financeiras. Assim, Portugal deve continuar a junto da comunidade educativa.
agir para tornar o sistema rodoviário seguro, em linha
com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Susten-
tável, no sentido de inverter a trajetória de mortos e
feridos graves em acidentes rodoviários.
Para ta, o PS irá:

⟩ Aprovar uma estratégia nacional para a segurança


rodoviária comprometida com os princípios do Siste-
ma Seguro e com as metas da Visão Zero para 2030
e 2050;

⟩ Priorizar a implementação de medidas dirigidas aos


utilizadores mais vulneráveis, nomeadamente os que
fazem uso de modos suaves de transporte,

⟩ Implementar sistemas digitais integrados para uso


pelas entidades competentes para a fiscalização em
todas as fases do processo, garantindo a automati-
zação e desmaterialização dos procedimentos e, as-
sim, aumentando a sua eficácia dissuasora;

⟩ Intervir nas infraestruturas rodoviárias, tendo em


vista a sua adaptação aos usos de cada espaço pú-

126 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 127
5.ª
MISSÃO
UM PORTUGAL
CENTRAL
NA EUROPA
E NO MUNDO

128 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 129
PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

5.ª MISSÃO:
País-charneira entre o Atlântico e o continente euro-
peu, Portugal insere-se no espaço das democracias
ocidentais, com as quais partilha um conjunto de va-

UM PORTUGAL lores basilares e entendimentos preferenciais. Histo-


ricamente, o nosso país empenha-se, com reconhe-

CENTRAL cida eficácia, em relações bilaterais e multilaterais


com outras partes do mundo, de índole vária, devo-

NA EUROPA tando um cuidado particular àquelas às quais está


ligado pela cultura e pela língua. No extremo ociden-

E NO MUNDO
tal do continente, Portugal compõe um espaço ibéri-
co com a vizinha Espanha, o único país com o qual
possui fronteira terrestre e nosso principal parceiro
económico. Com a Espanha, Portugal gere as prin-
cipais bacias hidrográficas e mantém um mercado
de eletricidade que tem protegido o nosso sistema
energético de vários choques externos.

Possuidor da maior zona marítima da Europa, Portu-


gal caracteriza-se por uma relação umbilical com o
oceano e foi e é, também por via dele, um país aberto
à universalidade. No estrangeiro, as nossas comuni-
dades configuram extensões da pátria, importando
zelar pelo seu sentimento de pertença e atender às
suas preocupações. A língua portuguesa é um fator
de comunidade, fraternidade e cooperação com os
vários países lusófonos.

Face ao regresso de velhas e novas ameaças, Por-


tugal pugna pela reconstrução de um sistema mul-
tilateral justo e solidário, com o seu vértice na ONU
e escorado no direito internacional e no respeito pe-
los Direitos Humanos. Com uma guerra às portas
da União Europeia, na Ucrânia, o ressurgimento do
conflito no Médio Oriente, conflitos regionais com
impacto quase imediato nas cadeias de abasteci-
mento, como no Mar Vermelho, e um cenário político
potencialmente adverso nos EUA, o nosso país deve
estar ciente de que a sua defesa e segurança tem
que ser assegurada no quadro da NATO mas tam-
bém procurada no aprofundamento da sua Defesa

130 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


Nacional e de capacidades europeias endógenas. Portugal deve tirar o máximo partido das várias di-
A política externa portuguesa tem que acompanhar mensões da sua situação particular - posição geoes-
as alterações do processo de globalização, abalado tratégica, integração europeia e ligação aos países
por sucessivas crises, redesenhando e redimensio- de expressão portuguesa, para promover e proteger
nando a nossa rede diplomática e comercial, adap- os seus interesses, reforçar a nossa capacidade de
tando-a à evolução da economia mundial, às novas intervir no plano multilateral e procurar uma centrali-
cadeias de valor e a novas variáveis e fatores de im- dade na Europa e no Mundo.
previsibilidade.

A integração na União Europeia significou desenvol- 1. Uma participação solidária,


vimento, modernização e melhoria dos indicadores
sociais. Mas o projeto europeu permanece incomple- exigente e propositiva na União
to e Portugal deve defender, de forma exigente, parti- Europeia
cipativa e propositiva, avanços substanciais nos ob-
jetivos inscritos nos Tratados, desde a convergência 1.1.
e da coesão ao progresso social e ao pleno empre- Portugal é um membro empenhado e convicto da
go, bem como uma transição ecológica socialmente União Europeia (UE), reconhecido pelos seus pares,
justa, regras de governação económica adaptadas à fortemente comprometido com o desenvolvimen-
realidade de cada país e uma abordagem humanista to do projeto europeu e o aprofundamento de uma
mas responsável ao fenómeno migratório, o qual não identidade e cidadania europeias. No mandato euro-
pode ser dissociado dos desafios demográficos que peu que agora finda, a União Europeia deu respos-
enfrentamos. ta a desafios imprevistos com medidas arrojadas
e solidárias nos anos da crise pandémica ou, mais
A Europa vive momentos de turbulência, num quadro recentemente, face à ameaça da Federação Russa.
de crescente imprevisibilidade e instabilidade geopo- Assistimos à queda de tabus, como a emissão de dí-
líticas. Através da desinformação e de teorias cons- vida conjunta para financiar os Programas de Recu-
pirativas, as autocracias procuram desacreditar o le- peração e Resiliência, a demonstrações de unidade
gado das democracias representativas, interferindo na aplicação de sucessivos pacotes de sanções à
diretamente em atos eleitorais. Internamente, assis- Rússia ou no apoio humanitário, financeiro e militar à
te-se ao crescimento de forças nacionalistas e par- Ucrânia. Num contexto de incerteza económica, ins-
tidos de extrema-direita, que apostam na corrosão tabilidade geopolítica e recrudescimento da ameaça
do parlamentarismo e das instituições políticas. São do nacionalismo populista, importa ir ainda mais lon-
os descendentes das forças que destruíram a Euro- ge no fortalecimento da União Europeia e dos seus
pa por duas vezes. O combate a essas forças é um instrumentos e meios de ação para fazer face às
desígnio que convoca todos quantos, em Portugal, ameaças, garantir paz e prosperidade partilhadas e
na Europa e no Mundo, perfilham os valores demo- responder satisfatoriamente aos anseios dos povos
cráticos, o objetivo da universalização dos direitos europeus e no sentido de uma maior convergência e
sociais, a dignidade do ser humano, a fraternidade e solidariedade entre os Estados-Membros. Ao mesmo
a tolerância. tempo, importa reconhecer que uma parte substan-
cial da legislação que regula o nosso dia-a-dia tem

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 131


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

origem na União Europeia. Tudo o se decide nesse legislação europeia no sentido da redução de custos
contexto tem impacto direto em Portugal. Esse re- de contexto sobre os cidadãos e as empresas, desig-
conhecimento implica a existência de uma estreita nadamente no que toca aos fundos europeus.
articulação e interligação entre as diversas políticas
públicas nacionais, com definição de objetivos ge- 1.2.
rais, identificação de transversalidades e visão cen- No que se refere ao alargamento e à reforma da ar-
tralizada, integrada e planificada das questões em quitetura institucional da União Europeia, o PS irá:
negociação a nível europeu.
⟩Acompanhar os processos de adesão dos países
Para tal, o PS propõe: candidatos, defendendo o cumprimento escrupuloso
dos critérios de Copenhaga;
⟩ Promover os valores e princípios fundamentais do
projeto europeu, defendendo o robustecimento dos ⟩ Participar ativamente no processo de reflexão e de-
mecanismos que visam promover e garantir o respei- bate sobre a reforma interna da UE, ponderando os
to pelo Estado de Direito no seio União Europeia; seus potenciais impactos nos processos de decisão
e no orçamento da União, entre outros;
⟩ Assegurar que os principais dossiês europeus e
propostas legislativas da UE são objeto de uma dis- ⟩ Envidar esforços, para que o alargamento não seja
cussão amplamente participada no nosso país, a fim feito em prejuízo dos atuais níveis de financiamento
de identificar os impactos previsíveis na realidade das políticas estruturais - como a Política de Coesão
nacional e definir mandatos negociais que melhor ou a Política Agrícola Comum - e dos vários progra-
defendam os nossos interesses; mas europeus e defender o fortalecimento de novos
fundos, como o Fundo para a Transição Justa e o
⟩Aumentar a presença de funcionários portugueses Fundo Social para a Ação Climática.
nas instituições europeias e o seu nível de respon-
sabilidade, prosseguindo e reforçando a política de 1.3.
apoio às carreiras europeias; Portugal empenha-se numa Europa Social, que me-
lhore a vida das pessoas e dos trabalhadores e in-
⟩ Defender o estatuto próprio da Regiões Ultraperifé- tegre os migrantes de forma responsável. Com este
ricas no seio da União Europeia; objetivo o PS propõe:

⟩ Reforçar a Política Comum de Segurança e Defesa, ⟩ Progredir na concretização do Pilar Europeu dos
em alinhamento a Bússola Estratégia da UE, organi- Direitos Sociais, materializando em toda a sua pleni-
zando procedimentos conjuntos de aquisição de ma- tude o respetivo Plano de Ação, assim como o Plano
terial militar e investindo numa sólida base industrial de Ação para a Economia Social, defendendo o contí-
e tecnológica de defesa europeia, que esteja aberta nuo aperfeiçoamento do modelo social europeu;
também a PMEs;
⟩ Assegurar uma correta materialização do Pacto
⟩Defender, junto das instituições europeias, a ado- sobre Migrações e Asilo, criando canais regulares e
ção de processos mais simplificados e a revisão da

132 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


seguros de imigração, garantindo condições adequa- Mercado Único e Política Comercial, incluindo maté-
das de acolhimento e integração, trabalhando com rias como a reindustrialização da UE, o Pacto Ecoló-
os países de origem e de trânsito, combatendo as gico Europeu, a transição digital e a soberania ener-
redes de tráfico de seres humanos, apoiando os re- gética, o PS propõe:
fugiados com estatuto de proteção internacional que
fogem da guerra ou de situações de opressão; ⟩ Acompanhar atentamente a aplicação das novas re-
gras de governação económica da UE, prosseguindo
⟩Defender a criação de um fundo europeu de apoio o objetivo da gradual e sustentada redução da dívida;
à reconversão e requalificação profissional, que pro-
porcione aos trabalhadores e desempregados a sua ⟩ Defender a entrada em vigor das novas regras do
adaptação às grandes mudanças estruturais na eco- Pacto de Estabilidade e Crescimento num calendá-
nomia; rio útil para uma transição tranquila entre o atual e o
novo quadro, assegurando a flexibilidade das atuais
⟩ Promover os direitos dos trabalhadores em toda a regras após a desativação da cláusula de escape;
UE através de legislação europeia que acabe com a
exploração laboral, dumping social e precariedade ⟩Envidar esforços para a adoção de um mecanismo
sistemática, e reforçar as competências da Autorida- europeu permanente de resposta a crises, de nature-
de Europeia do Trabalho para assegurar a aplicação za contracíclica, que aumente a resiliência económi-
dessa legislação; ca da UE;

⟩Promover o reequilíbrio das relações laborais, pro- ⟩ Defender a criação de uma Capacidade Orçamental
pondo uma Diretiva europeia que torne obrigatória Permanente de Investimento ao nível europeu, que
a representação de trabalhadores no Conselho de suceda ao NGEU após 2026 e que continue a apoiar
Administração das grandes empresas, à semelhan- os países nos investimentos para a realização das
ça do que se encontra em vigor em vários Estados prioridades europeias;
Membros;
⟩ Completar a União do Mercados de Capitais, garan-
⟩ Criar uma Estratégia Europeia para a Habitação, tindo novos e diversificados instrumentos de finan-
com disponibilização de fundos europeus não ape- ciamento da economia europeia e concluir a União
nas para habitação social, mas também para habita- Bancária, com a aprovação do seu terceiro pilar, re-
ção a custos controlados, quer de iniciativa pública, lativo à criação de um Sistema Europeu de Garantia
quer cooperativa, que possa dar um forte impulso à de Depósitos;
descarbonização do parque habitacional europeu;
⟩ Assegurar o cumprimento do Acordo Institucional
⟩ Prosseguir o projeto de uma União Europeia da Saú- para a criação de novos recursos próprios da UE
de, capacitando a União para a responder em conjun- que permitam amortizar a dívida da União, evitando
to aos principais desafios de saúde pública. a pressão sobre o próximo Quadro Financeiro Plu-
rianual, conferindo à UE a capacidade de responder
1.4. adequadamente às crescentes tarefas e responsabi-
Quanto à governação económica da União Europeia, lidades que lhe vão sendo cometidas;

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 133


PEDRO NUNO SANTOS
PARTIDO SOCIALISTA

⟩ Participar ativamente nas negociações do próximo Justa, do Fundo Europeu de Ajustamento à Globali-
Quadro Financeiro Plurianual, no âmbito do qual de- zação e do Fundo Social para a Ação Climática;
vem ser previstos mecanismos europeus que, após
o término dos PRR em 2026, promovam e financiem ⟩ Avançar na concretização do Pacto Ecológico Euro-
o investimento conjunto em áreas de valor acrescen- peu e acompanhar cuidadosamente a transposição
tado europeu (como a transição climática ou a se- do pacote legislativo que o materializa, em diálogo
gurança e defesa) e em preocupações comuns aos com todas as partes envolvidas – muito em particu-
povos europeus (como a habitação); lar com o setor agroflorestal e alimentar – de modo a
não alienar o apoio popular a esta causa transversal
⟩Implementar a taxa mínima de IRC, à luz do acordo à humanidade;
global para tributar as grandes multinacionais, não
aceitando o adiamento dos prazos de aplicação; ⟩ Prosseguir os esforços de mitigação das alterações
climáticas e investir decididamente na adaptação
⟩ Defender uma política comercial da UE assente em aos seus efeitos, seja na gestão florestal e na preven-
acordos comerciais e de investimento equilibrados ção dos fogos rurais, seja na resiliência hídrica e na
para ambas as partes, com cláusulas relativas ao definição de estratégias para lidar com a crescente
trabalho forçado, ao trabalho infantil, ao dumping escassez de água, por exemplo através da adoção de
social e ambiental, tornando esses acordos em ins- um programa ReWaterEU;
trumentos de regulação da globalização, no respeito
dos princípios da Organização Mundial do Comércio, ⟩ Envidar esforçospara uma União da Energia, capaz
com particular empenho na conclusão do Acordo en- de alcançar a soberania energética e a neutralidade
tre a UE e o Mercosul; climática da Europa;

⟩ Apoiar o Plano Industrial do Pacto Ecológico e o ⟩ Acelerar a interligação energética entre Estados-
desígnio da reindustrialização da União, contribuin- -Membros, tanto de eletricidade como de gás, e em
do ativamente para traduzir as prioridades quanto ao especial de gases renováveis, a fim de instituir uma
fabrico de tecnologias limpas e ao aprovisionamento União da Energia que garanta preços mais baixos e
de matérias-primas críticas, entre outros; uniformes e uma maior segurança de abastecimento
a todos os europeus;
⟩Combater uma excessiva flexibilização das regras
sobre ajudas de Estado, precavendo o desequilíbrio ⟩ Apoiar o escrutínio das atividades das grandes pla-
entre países grandes e pequenos no seio do merca- taformas digitais, evitando abusos de posição domi-
do único; nantes, combatendo a desinformação e sancionan-
do a propagação de conteúdos ilegais;
⟩Assegurar que as transições em curso se fazem de
forma socialmente justa, devidamente programadas, ⟩ Apoiar a UE na conceção e na implementação de
compensando as populações mais afetadas, recon- legislação ambiciosa que enquadre os serviços e os
vertendo os trabalhadores para a nova economia mercados digitais, os espaços de dados europeus e
através de programas de requalificação e reforçando a inteligência artificial, de modo a tirar partido das
os recursos e valências do Fundo para a Transição imensas potencialidades destas transformações,

134 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


acautelando os nossos valores fundamentais e ga- as nossas vantagens competitivas na frente externa
rantindo um ecossistema digital justo e plural. para atrair e fixar investimento produtivo estratégico,
com cada vez maior intensidade tecnológica e de
capital, incorporação nacional e valor bruto acres-
2. Política externa e apoio centado, apostando, em simultâneo, numa crescente
inserção logística do nosso país nas cadeias de valor
às comunidades portuguesas globais, tornando os produtos e serviços nacionais
mais competitivos nos mercados europeus e inter-
A consensualidade da política externa portuguesa, nacionais.
abrangendo órgãos de soberania e os principais par-
tidos políticos, configura um importante capital po-
2.1.
lítico-diplomático que reforça a sua relevância e ca-
De modo a contribuir para o reforço da ordem inter-
pacidade de interlocução internacional. Trata-se de
nacional assente em regras e do multilateralismo
uma tradição que importa continuar, sobretudo num
efetivo, o PS propõe:
quadro de grande turbulência e volatilidade interna-
cional. Em 2022, a injustificável invasão da Ucrânia ⟩ Continuar a contribuir, nos planos bilateral e multi-
rompeu com os principais fundamentos do Direito In-
lateral, para a autodefesa da Ucrânia, como caminho
ternacional e trouxe a guerra até às fronteiras da UE.
para uma paz justa e estável, bem como para sancio-
Entretanto, o recrudescimento do conflito no Médio
nar a Rússia;
Oriente, por via dos ataques terroristas do Hamas a
7 de outubro de 2023, renovou o sentido de urgên- ⟩ No caso do conflito do Médio Oriente, defender in-
cia da sua resolução. Estas e outras situações de
transigentemente a solução de dois Estados e con-
conflito e de tensão, em diversas partes do mundo
tribuir no quadro das instituições internacionais, para
e um quadro em que as alterações climáticas se re-
a promoção de uma paz justa e estável através da
percutirão de forma cada vez mais imediata em ins-
convivência de um Estado palestiniano e de um Esta-
tabilidade e conflitualidade, ameaçam os princípios
do israelita, vivendo lado a lado em paz e segurança;
basilares em que assenta a ordem internacional. A
segurança e prosperidade de Portugal são postas ⟩ Em simultâneo, Portugal deverá combater sem ti-
em causas pela degradação dessa ordem e pelo
bieza, no plano interno e externo, todas as manifes-
desrespeito pelos princípios do Direito Internacio-
tações de antissemitismo e de islamofobia, que se
nal. Num contexto em que há forças internacionais
têm manifestado de forma recrudescente, em parte
empenhadas em enfraquecer o multilateralismo, é
devido ao conflito no Médio Oriente;
de primordial importância que Portugal contribua
sistematicamente para mecanismos de reforço da ⟩ Participar nos esforços multilaterais para a neutra-
ordem internacional, no plano do multilateralismo e
lização ou apaziguamento de outros conflitos regio-
das suas relações bilaterais.
nais que têm dominado a agenda política internacio-
nal e que representam um fator de perturbação na
Em linha com o desígnio de melhorar as condições
economia, nas cadeiras de abastecimento, na segu-
de vida e os salários dos portugueses num Portugal
rança alimentar ou na disponibilidade energética, de
Inteiro, é primordial afirmar a importância de utilizar
que são exemplo os ataques a navios mercantes no
Mar Vermelho.

2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 135


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2.2. ⟩Assegurar a implementação da Estratégia da Co-


No que respeita à política externa, o PS propõe-se: operação Portuguesa 2030, nomeadamente através
do seu Plano de Operacionalização;
⟩ Desempenhar um papel ativo no reforço de meca-
nismos internacionais de resolução de problemas, ⟩ Aprofundar e diversificar as áreas de cooperação
muito em particular no sistema das Nações Unidas; bilateral com os Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa e Timor-Leste, envolvendo a respetiva
⟩Prosseguir a sua candidatura a um lugar de mem- sociedade civil;
bro não permanente do Conselho de Segurança da
ONU para o biénio 2027/28; ⟩ Valorizar o espaço CPLP como comunidade de
língua, cidadania, fraternidade entre os povos, bem
⟩ Aprofundar a participação nacional em diversas como aprofundar a cooperação político-diplomática
instâncias multilaterais, desde a NATO à OCDE, e económica entre os seus Estados-membros;
apoiando a Organização para a Segurança e Coope-
ração Europeia e o Conselho da Europa em tempos ⟩Continuar a reforçar a mobilidade no espaço da
de desafios difíceis; CPLP, aprofundando a dimensão humana desta co-
munidade;
⟩ Intervir em todas as agendas multilaterais, da Paz
e Segurança à Agenda 2030, da Agenda do Clima ao ⟩Privilegiar as relações com os países mais próxi-
Pacto para as Migrações; mos, como a Espanha, o Reino Unido, a França, a
Alemanha, a Itália, o Canadá e os Estados Unidos da
⟩Consolidar a participação e o protagonismo nas or- América, afirmando o papel indispensável de Portu-
ganizações do Espaço Ibero-americano; gal na defesa do Atlântico Norte e na ligação entre a
Europa, o Atlântico Norte e o resto do Mundo;
⟩ Aproveitar a participação nos trabalhos do G20, em
2024, a convite do Brasil, para dilatar a nossa política ⟩Reforçar a nossa presença nos países da América
externa e afirmar os nossos interesses internacio- do Sul e Central;
nais;
⟩ Desenvolver uma aposta renovada em África, incre-

⟩ Desenvolver políticas públicas que acelerem a im- mentando, desde logo, o nosso relacionamento com
plementação da Agenda 2030 das Nações Unidas os países da vizinhança sul, no norte de África e na
para o Desenvolvimento Sustentável, e o pleno cum- África subsariana;
primento dos Objetivos de Desenvolvimento Susten-
tável, designadamente com os principais parceiros ⟩ Reforçar a nossa rede diplomática, concluindo a
da cooperação portuguesa; abertura das novas embaixadas nos continentes
africano e asiático e projetando a abertura de novas
⟩ Aumentar, gradualmente, a Ajuda Pública ao De- embaixadas e postos consulares, de modo a dotar
senvolvimento, em linha com as recomendações da o país de estruturas diplomáticas e económicas nos
OCDE; países chave das cadeias de valor.

136 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


2.3. ⟩ Alocar os recursos humanos necessários ao bom
No âmbito da internacionalização da nossa língua e funcionamento da rede consular para reduzir o tem-
cultura, o PS propõe: po de espera do atendimento e necessidade de des-
locações aos postos;
⟩ Reforçar o papel da CPLP na projeção da língua
e das culturas dos países de língua portuguesa, in- ⟩ Abolir a propina de acesso ao ensino da Língua Por-

cluindo no apoio ao Instituto Internacional de Língua tuguesa e alargar a rede, procurando captar alunos
Portuguesa; geograficamente dispersos;

⟩Prosseguir uma estratégia de afirmação da presen- ⟩ Garantir que a TAP mantém ligações aéreas regula-

ça do português como língua curricular do ensino bá- res e acessíveis com os países onde residem signifi-
sico e secundário, através de projetos de cooperação cativas comunidades da diáspora;
com países de todos os continentes, com especial
atenção para os países com forte presença de comu- ⟩ Agilizar o Apoio Social a Emigrantes Carenciados
nidades portuguesas; das Comunidades Portuguesas, o funcionamento do
ASEC (apoio a emigrantes carenciados) e do ASIC
⟩ Fortalecer a presença dos estudos de língua e cul- (apoio a idosos carenciados);
tura portuguesas em instituições de ensino superior,
desde logo alargando o número de Cátedras e Leito- ⟩ Continuar e robustecer a captação de investimento
rados do Camões, I.P. no mundo, conferindo mais e de empresários da diáspora para Portugal, promo-
melhores meios aos seus titulares para o exercício vendo um acompanhamento personalizado aos pro-
das suas funções; jetos;

⟩Continuar o trajeto de reforço dos meios e recur- ⟩Dar novo impulso ao movimento associativo da di-
sos do Camões, I.P., enquanto instrumento central da áspora, com especial enfoque na participação de jo-
nossa política externa, na sua tríplice vertente de co- vens e de mulheres na vida cívica e política;
operação, língua e cultura portuguesas.
⟩Garantir condições para que os processos de atri-
2.4. buição de nacionalidade sejam concluídos da forma
As comunidades portuguesas devem merecer uma mais célere e eficaz possível;
atenção renovada ao longo dos próximos anos e es-
tar no cerne das preocupações e da atuação do Par- ⟩ Expandir o reconhecimento mútuo das qualifica-
tido Socialista. ções académicas ou profissionais obtidas em Portu-
gal e no estrangeiro;
Neste sentido, propõe-se o seguinte:
⟩ Encontrar uma fórmula tributária justa e equilibrada

⟩Elaborar um Plano Estratégico para a Diáspora, en- para os portugueses que querem mudar a residência
volvendo os vários atores das comunidades, um do- fiscal para Portugal quando atingirem a idade da re-
cumento que sustente o desenho de novas políticas forma;
públicas para as comunidades;

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⟩ Apoiar o património cultural ligado às comunida- necessários, num quadro plurianual de reforço do re-
des, valorizando também a atividade dos seus artis- crutamento e incorporação de pessoal, para normali-
tas e criadores culturais; zação do número mínimo de efetivos estipulado por
lei;

3. Defesa Nacional ⟩ Consolidar o processo que visa adotar um novo


Conceito Estratégico de Defesa Nacional, corpori-
A Defesa Nacional é um dos pilares do Estado de di- zando as aproximações e interligações possíveis ao
reito democrático, oferecendo garantias de resiliên- Conceito Estratégico da NATO e à Bússola Estratégi-
cia num ambiente geopolítico cada vez mais comple- ca da União Europeia;
xo e imprevisível, n em que se multiplicam os riscos
⟩ Reforçar a execução da Lei de Programação Militar;
e as ameaças no flanco-leste da Europa, no médio
oriente e no mediterrâneo, sendo-lhe ainda exigido
um cometimento de novas capacidades e missões
⟩ Criar um Mecanismo Anual Extraordinário para
de apoio às populações, à proteção civil e a outras Reforço de Meios e Equipamentos Militares (MAER-
ameaças à vida e à liberdade dos cidadãos. MEM), dotado de uma verba anualmente estipulada
em Orçamento do Estado, para corresponder a ne-
As exigências dos novos tempos recomendam o cessidades extraordinárias do EMGFA e dos três Ra-
cumprimento dos nossos compromissos internacio- mos, que não se coadunem com a calendarização e
nais no contexto das Nações Unidas, da União Euro- execução dos projetos da Lei de Programação Militar
peia e da NATO, ditam ser tempo de Portugal ante- e que permita, designadamente, repor o material mili-
cipar o cumprimento da meta de 2% e encetar uma tar e as munições que temos cedido à Ucrânia;
nova fase de investimento e qualificação na Defesa
Nacional, seja pela valorização e dignificação dos
⟩ Rever a Lei da Defesa Nacional, dotando a Assem-
militares, antigos combatentes e deficientes das for- bleia da República de maior capacidade de acompa-
ças armadas, seja pelo investimento no sistema de nhamento e fiscalização da ação governativa na área
forças e no desenvolvimento da base industrial. da Defesa Nacional, em modelos semelhantes a ou-
tros parlamentos;
A Defesa Nacional deve ter o seu papel reforçado,
não apenas enquanto instrumento de soberania, mas
⟩ Reforçar a participação e liderança portuguesa em
também pelo dinamismo de crescimento que acres- projetos de interesse ao nível da Cooperação Estru-
centa à economia portuguesa. turada Permanente da União Europeia, fomento da
utilização dinâmica do Mecanismo Europeu de Apoio
à Paz e do acesso ao Fundo Europeu de Defesa;
3.1.
Quanto ao reforço e capacitação da nossa soberania
⟩ Aumentar significativamente a capacidade de res-
e Defesa Nacional, o PS propõe:
posta nacional na área da ciberdefesa, para uma
verdadeira doutrina de proteção da informação no
⟩Aprovar uma Lei de Programação de Efetivos para
ciberespaço;
as Forças Armadas, por forma a garantir os recursos

138 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024


⟩ Prosseguir um papel relevante das Forças Armadas produção de meios tecnológicos complementares
em missões internacionais, nomeadamente através no domínio da Defesa, como é o caso da indústria
das Forças Nacionais Destacadas; de drones, que servem propósitos multifuncionais:
militares, científicos de proteção civil ou segurança
⟩ Reforçar a Cooperação no Domínio da Defesa com interna;
nações amigas e aliadas, ou de interesses comuns,
nomeadamente privilegiando a dimensão de coope- ⟩ Alavancar as competências nacionais da área ae-
ração militar com os PALOP e a CPLP. roespacial através do desenvolvimento de constela-
ções de satélites preparados para fornecer serviços
3.2. de vigilância terrestre e marítima com diferentes ca-
Cumpre ainda projetar a economia de defesa. Para pacidades, e estimular, por essa via, a inovação tec-
tal, o PS propõe: nológica numa área de grande futuro;

⟩ Envolver o tecido empresarial que compõe a Base ⟩Apoiar o desenvolvimento de software e hardware
Tecnológica e Industrial de Defesa no processo de para simulação.
reequipamento das forças armadas, procurando o
reforço da autonomia estratégica do país e estimu- 3.3.
lando a participação da economia portuguesa na re- É necessário valorizar a carreira e a condição militar,
generação de equipamentos; bem como o serviço militar profissionalizado.

⟩ Participar em consórcios europeus de produção de Para prosseguir esses objetivos, o PS irá:


equipamento militar, reforçando não apenas o cará-
ter de interoperabilidade que o país tem prosseguido, ⟩Valorizar a carreira dos militares das Forças Arma-
mas tornando Portugal num parceiro interveniente das;
na produção de sistemas de defesa;
⟩ Rever o Regulamento de Incentivos à Prestação
⟩ Promover a fixação no país de indústria privada de Serviço Militar para os Regimes de Contrato e de
de defesa, entidades com investigação que se ligue Voluntariado, alargando o leque de incentivos, quer
aos centros de ponta, a fim de transportar tecnologia para a prestação do serviço militar, quer para a futura
avançada para o setor industrial português; reinserção na vida civil;

⟩ Investir na capacitação da base industrial e tecno- ⟩ Impulsionar a melhoria das condições logísticas
lógica de defesa, do cluster aeronáutico ao cluster para a prestação do serviço militar, reforçando ver-
marítimo; bas para o investimento e beneficiações necessárias
nas instalações militares e a valorização das condi-
⟩Estimular a reposição da capacidade produtiva do ções de habitabilidade dos edifícios das Forças Ar-
conjunto de infraestruturas e estaleiros existentes no madas;
país com capacidade de atração de investimentos;
⟩ Prosseguir a reforma dos cuidados de saúde milita-
⟩ Maximizar o potencial económico da construção ou res, capacitando a Assistência na Doença aos Milita-
res e o IASFA;

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⟩ Expandir os mecanismos de apoio às famílias mi-


litares, assegurando uma melhor conciliação entre a
vida pessoal, profissional e familiar;

⟩ Revisitar o Estatuto do Antigo Combatente;

⟩ Valorizar as pensões dos deficientes militares e


regularizar outras situações relativas aos deficien-
tes das forças armadas, bem como as pensões de
sobrevivência auferidas pelas viúvas de deficientes
militares.

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2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 141
142 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 2024
2024 PLANO DE AÇÃO PARA PORTUGAL INTEIRO 143
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