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Programa

Eleitoral
Legislativas
2022

livre
Concretizar o Futuro
Uma sociedade
justa num planeta
saudável
Este é o compromisso político do LIVRE consequências da pandemia. Impor-
para a próxima legislatura, com a defesa ta proteger os mais afetados pela crise
da justiça social e ambiental, com a igual- económica, agravada pela crise emer-
dade e os direitos humanos, com a liber- gente de energia e matérias-primas, acu-
dade e com o futuro. A mudança de que dir a um Serviço Nacional de Saúde em
precisamos para trans- pré-rutura, enfrentar a
formar Portugal, a Eu- crise ecológica e traçar
ropa e o mundo come- uma estratégia de de-
ça com a mobilização senvolvimento inclu-
em torno de um novo sivo e sustentável no
modelo de desenvol- médio e longo prazos
vimento para Portu- para Portugal. Esta exi-
gal, assente na quali- gência tem de ter uma
ficação abrangente e resposta progressista
avançada da popula- à altura.
ção, em políticas que
garantem justiça in- A partir de 30 de janei-
tergeracional, susten- ro a política progres-
tabilidade ambiental e sista na Assembleia
igualdade social. Este projeto de futuro da República será LIVRE: com uma cultu-
tem uma visão ecologista, cosmopolita, ra de diálogo e de compromisso político
libertária e universalista que antecipa os
em defesa do bem público e comum, que
desafios do século XXI. permitirá à esquerda lutar por conquistas
concretas e palpáveis e ambicionar uma
A alternativa é LIVRE — não receamos visão de futuro que nos dê esperança no
compromissos políticos, e na Assem- mundo que construímos para as novas
bleia da República procuraremos, sem- gerações.
pre, acordos amplos para concretizar
as mudanças necessárias para um país O LIVRE luta por uma mobilização ambi-
mais justo e sustentável, e as políticas ciosa, empática e humanista dos cida-
transformadoras de que necessitamos dãos para a transformação do nosso fu-
urgentemente. turo colectivo. Queremos trabalhar a partir
da Assembleia da República porque acre-
As eleições legislativas de 2022 aconte- ditamos que não há igualdade sem ecolo-
cem num momento extremamente deli- gia e liberdade sem democracia. Nestas
cado para o país e num contexto exigente legislativas a alternativa é LIVRE, o partido
em que urge responder às devastadoras português da Esquerda Verde.
Índice 3

Desenvolvimento Ecológico e Solidário 1

Igualdade, Justiça Social e Liberdade 6

Trabalho, Rendimento, Tempo e Proteção Social 13

Saúde 19

Educação 26

Conhecimento, Ciência e Ensino Superior 32

Cultura e Arte 39

Habitação e Espaço Público 44

Coesão Territorial, Transportes e Mobilidade 49

Emergência Climática e Energia 55

Economia Circular 61

Agricultura e Florestas 65

Conservação da Natureza e Biodiversidade 71

Bem-estar e Direitos dos Animais 77

Águas, Rios e Oceanos 81

Justiça 84

Estado e Instituições 88

Democracia 92

Prevenção e Combate à Corrupção 97

Soberania Digital 101

Portugal na Europa e no Mundo 105


Desenvolvimento
Ecológico e Solidário
Desenvolvimento 2
Ecológico e Solidário

Só conseguimos combater a crise ecoló- dável contribui para a riqueza intrínseca


gica combatendo também a desigualda- do país, para uma economia sustentável
de social e alterando o modo como vive- no verdadeiro sentido da palavra e para
mos e como a sociedade está organizada. a criação de modos de viver e sustento
pessoal e familiar em diversos setores.
O crescimento económico de um país É preciso libertarmo-nos da noção de
não assegura progresso ou desenvolvi- “crescimento a todo o custo” e decrescer
mento sustentável se não tiver em conta no sentido de uma vida mais ampla e rica
o bem-estar, a realização, a saúde e a fe- em tempo e comunidade.
licidade da geração atual e das gerações
futuras nem o uso sustentável dos recur- Recusamos a mercantilização das pes-
sos do planeta, a saúde dos ecossiste- soas, do trabalho e da natureza. Embora a
mas e da biodiversidade, os ciclos natu- ação governativa ou estatal seja crucial na
rais e o clima. Atualmente, o desempenho criação de uma economia mista, com três
de um país é frequentemente apreciado setores (privado, público e associativo/coo-
com base apenas no que produz, através perativo), o nosso socialismo não é um es-
do seu Produto Interno Bruto (PIB), o que tatismo. No entanto, há setores que devem
corresponde a uma visão redutora do de- ser públicos e geridos pelo Estado. O setor
senvolvimento. Num planeta de recursos associativo e cooperativo deve ser forte-
finitos, é necessário transitar para uma mente incentivado, sobretudo se garantir
sociedade justa, que respeite os limites um desenvolvimento sustentável e ecoló-
do planeta e que invista na realização gico. O sector privado deve ser igualmente
pessoal, na qualidade de vida e no bem incentivado, sobretudo, as empresas que
-estar de todos, de forma igual. estimulem a transição para uma nova eco-
nomia do conhecimento e de base social.
Defendemos por isso a transição para um
novo paradigma de desenvolvimento eco- Nesta época de urgência, defendemos um
lógico e solidário, baseado numa econo- Novo Pacto Verde (Green New Deal), que
mia circular e na construção de comuni- contemple um forte investimento público
dade local e global, no qual os setores da a nível nacional e, sobretudo, europeu para
economia que utilizam recursos que são uma rápida transição ecológica que asse-
de todos internalizem esse valor nos cus- gure simultaneamente o aumento do bem
tos de produção. -estar. Para isso, é necessário ir buscar o
dinheiro onde ele está (paraísos fiscais,
Acreditamos que a defesa e preservação fuga ao fisco, juros pagos ao Eurosistema,
dos ecossistemas, a valorização dos re- reestruturação da dívida) e colocar o siste-
cursos endógenos e o investimento numa ma financeiro ao serviço das pessoas, as-
sociedade mais justa, equilibrada e sau- segurando uma verdadeira redistribuição.
Desenvolvimento 3
Ecológico e Solidário

Por isso defendemos: da taxação sobre as transações financei-


ras, da taxação das emissões de carbono
1  Promover um Novo Pacto Verde — um e da produção de resíduos, da regulação
Green New Deal — para Portugal e para e taxação de criptomoedas, precavendo
a Europa, um plano de investimento eco- as alterações de receita no futuro, no-
logicamente responsável a médio-longo meadamente a diminuição da receita do
prazo (por meio do novo quadro comuni- imposto sobre os combustíveis fósseis
tário de apoio (Portugal 2030), do Plano causada pela transição para outras for-
de Recuperação e Resiliência (PRR), da mas de energia e a diminuição da receita
Política Agrícola Comum (PAC) e no pro- fiscal proveniente dos impostos sobre o
grama de Assistência de Recuperação trabalho com a evolução da automação.
para a Coesão e os Territórios da Europa
(REACT), que considere as infraestruturas 3  Assegurar a justa taxação das gran-
necessárias para as próximas décadas e des empresas tecnológicas e digitais
a aposta nos setores-chave para fazer que, graças a práticas de “engenharia
face à emergência climática e ecológica, fiscal”, evitam pagar impostos nos países
assegurando a solidez da qualificação e onde geram os seus lucros. Na prática,
da formação da população e a criação de empresas como a Apple pagam menos
empregos verdes e estáveis, e assegu- de 1% de imposto sobre os seus lucros na
rando a coesão territorial pela redução da UE, o que representa a perda de muitos
fratura entre centro e periferias. Para este milhões de euros aos países europeus.
efeito deve ter seguimento a Unidade de
Missão já aprovada na Assembleia da Re- 4  Combater os paraísos fiscais, defen-
pública, e que terá a missão de iniciar o dendo a proibição, no âmbito da União
trabalho de identificar os investimentos Europeia, das transferências de capitais
públicos a concretizar. entre o setor bancário e os paraísos fis-
cais que não divulguem de forma trans-
2  Aumentar as fontes de receitas do Es- parente os seus beneficiários e, a prazo,
tado e fomentar a redistribuição, através eliminar os paraísos fiscais na União Eu-
da recuperação dos juros pagos ao Eu- ropeia, incluindo o off-shore da Madeira.
rosistema, do combate à evasão fiscal —
nomeadamente para off-shores, da rene- 5  Assegurar o Estatuto para os Bens Pú-
gociação da dívida pública, da eliminação blicos, a nível nacional e europeu, iden-
das rendas indevidas no setor energéti- tificando e categorizando todos os bens
co, do reforço fiscal sobre património que de que depende a população em geral e
não a habitação permanente e sobre as o interesse comum da sociedade — como
grandes fortunas, da introdução do im- são exemplo a água potável, as grandes
posto sucessório para grandes heranças, infraestruturas e as grandes empresas
Desenvolvimento 4
Ecológico e Solidário

de transporte que são a base do sistema só favorecem os grandes grupos econó-


de mobilidade, os CTT, a REN ou a Caixa micos e reduzem a redistribuição de ri-
Geral de Depósitos — e fixando os prin- queza), substituindo-a por compras do
cípios de uma gestão dos bens públicos, Estado nos mercado locais onde os ser-
com imposição legal de limites explícitos viços se encontram instalados, para pro-
à sua mercantilização e/ou à sua privati- mover o comércio local e, indiretamente,
zação. De acordo com estes limites, os o emprego nas zonas de baixa densida-
setores-chave identificados devem ser de populacional; investindo em start-ups
preservados ou revertidos para o Estado, e empresas com objetivos ecológicos e
suspendendo as privatizações, as con- com impacto significativo.
cessões e as parcerias público-privadas
que os ultrapassem, colocando-os ao 9  Apoiar o desenvolvimento económi-
serviço da comunidade e do desenvolvi- co de base social, criando na legislação
mento económico, ecológico e solidário. portuguesa o conceito e reconhecimento
de empresa social como aquela que tem
6  Separar a banca comercial da banca como objetivo responder a um problema
de investimento, para que o risco da ati- social e/ou ambiental, com reinvestimen-
vidade especulativa não recaia sobre o to de mais de 50% do lucro na própria
Estado nem sobre os depositantes. empresa.

7  Promover a banca ética e solidária, al- 10  Diversificar os indicadores de desen-


terando o quadro legislativo para a dife- volvimento nacional, passando a incluir
renciar da categoria das “sociedades fi- indicadores de desenvolvimento susten-
nanceiras de microcrédito” e reduzindo tável, como o PIB Verde ou a Poupança
os requisitos de capital necessários. Genuína, dando prioridade aos aspetos
mais diretamente ligados ao ambiente,
8  Fomentar a economia local, solidá- qualidade de vida, felicidade, saúde e
ria e colaborativa, apoiando a criação de bem-estar e reforçando o seu papel na
cooperativas e de empresas autogeridas informação do sistema estatístico nacio-
pelos trabalhadores que garantam o de- nal e na monitorização das políticas e da
senvolvimento ecológico e sustentável; ação governativa.
estimulando a criação de moedas locais
e complementares ao euro, que permitam 11  Trazer o combate às alterações climá-
trocas locais entre as empresas e os ci- ticas e a salvaguarda da biodiversidade
dadãos, sem valor nos circuitos financei- para todas as negociações orçamentais,
ros e sem encorajamento à acumulação setor a setor, incluindo a mitigação dos
nem à especulação; revertendo a lógica impactos sociais e económicos das me-
das compras públicas centralizadas (que didas de descarbonização e de transição.
Desenvolvimento 5
Ecológico e Solidário

12  Realizar anualmente um debate par- ritários para a economia portuguesa no


lamentar de alto nível sobre o Estado do longo prazo, no contexto europeu e global,
Ambiente em Portugal. em que se enquadre e indique os vários se-
tores prioritários, desde o público ao priva-
13  Focar os órgãos de governação na do, e qual o sentido que queremos para a
transição do modelo de desenvolvimento economia do país. Só com uma estratégia
a longo prazo, criando um Gabinete para clara, podemos esperar dos agentes eco-
a Transição, com o propósito de estudar e nómicos a preparação e trabalho coletivo
promover as estratégias para a transição que leve a uma robusta transição econó-
de modelo de desenvolvimento e que dê mica que o país urgentemente necessita.
suporte a uma estrutura governamental Simultaneamente, é necessária a definição
(como um Ministério ou Secretaria de Es- e implementação de um plano de projetos
tado do Futuro), que garanta a fuga à lógi- públicos com base no Plano Estratégico
ca dos ciclos eleitorais e de curto prazo e para a Economia, orientado para uma ló-
a solidariedade entre gerações; institucio- gica de melhorar os serviços públicos e as
nalizando sessões plenárias regulares na estruturas produtivas do país, ao mesmo
Assembleia da República e Assembleias tempo que se fomenta a procura interna de
Municipais para debate e pareceres sobre soluções inovadoras e competitivas, que
o Estado do Desenvolvimento do País e resultem no desenvolvimento de know-how
sobre ação governativa no domínio das do tecido empresarial português.
políticas de desenvolvimento; reforçando
os meios humanos e técnicos de apoio à 16  Garantir que os benefícios fiscais são
avaliação de políticas de desenvolvimento. justos e têm impacto social, através de
uma revisão do sistema de benefícios fis-
14  Apoiar o desenvolvimento social e cais. Esta revisão deverá proceder à eli-
económico do país através do Banco minação de benefícios (ou reduções de
Português do Fomento. Esta instituição taxas), para organizações que, nomea-
deverá ser um verdadeiro banco de de- damente, tenham finalidades de especu-
senvolvimento com presença descentra- lação imobiliária, ou cuja atividade leve à
lizada a nível territorial. A articulação com transferência de rendimentos para jurisdi-
a Caixa Geral de Depósitos deve ser orien- ções com regimes fiscais mais favoráveis
tada para o financiamento das Pequenas à erosão da matéria coletável.
e Médias Empresas em condições mais
favoráveis que as oferecidas pela banca
comercial.

15  Elaborar um Plano Estratégico para a


Economia com definição de setores prio-
Igualdade, Justiça
e Liberdade
Igualdade, Justiça 7
e Liberdade

O LIVRE pretende combater as diferentes até agora, por exemplo, um ciclo difícil
dimensões de desigualdade, de injustiça de interromper. A justiça social consiste
e de discriminação presentes na socie- também na implementação de políticas
dade portuguesa, que são causas de as- públicas e na adoção de medidas que
simetrias profundas, que têm afetado ne- atenuem até à sua eliminação as desi-
gativamente a vida das pessoas, limitado gualdades sociais, políticas, económicas
a participação política e social e a própria e da representatividade no tecido social e
democracia. no quadro das instituições nacionais.

Temos como objetivo a salvaguarda e o Por isso defendemos:


reforço de direitos sociais e da cidadania,
cabendo ao Estado fomentar e legislar 1  Combater a pobreza, redistribuir a ri-
para o seu cumprimento. A falha destes queza e promover a autonomia econó-
direitos e, em muitos casos, a falha da mica, rejeitando o paradigma de cres-
proteção do Estado têm originado a per- cimento económico vigente em favor
petuação de injustiças intoleráveis, tais de um paradigma de Desenvolvimento
como a violência doméstica, o racismo, Ecológico e Solidário; implementando
a pobreza estrutural, a exclusão e a se- um programa nacional de combate à po-
gregação sociais de uma larga franja da breza focado nas crianças e jovens; ga-
população. rantindo os provimentos básicos de água,
gás e eletricidade através do abasteci-
Acreditamos também numa perspetiva mento gratuito de quantitativos mínimos;
interseccional no combate às desigual- libertando orçamento para pôr em mar-
dades, que consiste em combater as vio- cha a Estratégia Nacional para as pes-
lências e problemas sociais que enfren- soas em situação de sem-abrigo, incluin-
tamos nas suas diferentes dimensões. O do as medidas de housing-first, de forma
combate às desigualdades deve ter em a cumprir com os objetivos da Platafor-
conta questões como o género, a clas- ma Europeia de Combate à Situação de
se, a deficiência e as questões étnico-ra- Sem-Abrigo, que visa o fim da situação
ciais, que tendem a tornar-se agravantes de sem-abrigo através de 5 objectivos
das violências e assimetrias em causa. chave até 2030 reforçando o apoio inte-
A justiça social consiste no reconheci- grado ao nível da habitação, do empre-
mento de que os problemas sociais são go e da formação profissional; garantin-
fruto de uma estrutura social e de um do apoio estatal através de medidas de
modo de funcionamento que têm privi- proteção financeira e social a famílias em
legiado poucos e excluído a maioria do situação de necessidade com crianças
usufruto destes privilégios, fazendo com menores de forma direta, subsidiando o
que a pobreza que afeta as famílias seja acesso à habitação, por exemplo.
Igualdade, Justiça 8
e Liberdade

2  Combater a segregação nas suas ção baseada nas qualificações; reforçan-


múltiplas dimensões, promovendo a do a representação dos géneros na ad-
atribuição de habitação pública de forma ministração das empresas e instituições
mais transversal e inclusiva; criando me- públicas, estabelecendo a paridade como
canismos mais eficazes de investigação regra nos órgãos diretivos; promovendo a
de denúncias de discriminação no aces- análise da paridade de género na comuni-
so a arrendamento; adotando medidas cação social pela Entidade Reguladora da
que contrariem a segregação nas esco- Comunicação Social; reforçando o papel
las públicas com base no rendimento, dos homens na parentalidade, nomeada-
grupo étnico-racial ou outros eixos de mente através do aumento das durações
exclusão e discriminação ; implemen- das licenças obrigatórias e facultativas
tando o Programa Cidade Sem Periferias de paternidade; promovendo campanhas
para garantir condições de habitação, de sensibilização para a eliminação dos
transportes, espaço público, serviços e estereótipos de género e dos papéis so-
escolas para todos. ciais atribuídos a cada sexo; promovendo
a normalização da menstruação junto do
3  Promover a igualdade de género em público em geral e garantindo que todos e
todas as suas interseções, garantindo todas que necessitem têm acesso a pro-
que os Quadros de Avaliação e Respon- dutos de higiene íntima (nomeadamente
sabilidade das instituições públicas te- através de dispensadores gratuitos de
nham, entre os seus objectivos, a plena tampões, pensos e copos menstruais nos
igualdade de género; promovendo a pu- centros de saúde, escolas e instituições
blicação de indicadores discriminados por de ensino superior).
género; implementando a perspectiva de
género na elaboração de todos os pro- 4  Combater a violência de género, a
gramas orçamentais e garantindo a sua violência doméstica e no namoro, re-
monitorização anual e tornando obriga- forçando conteúdos educativos sobre a
tória a avaliação de impacto de género, e igualdade de género, direitos sexuais e re-
a sua consequente publicação, na defini- produtivos no currículo escolar; reforçan-
ção de políticas públicas — medidas que do o apoio às organizações não governa-
devem ser monitorizadas pela Secretaria mentais que trabalham na prevenção da
de Estado para a Cidadania e a Igualdade violência e/ou apoio a vítimas contra as
e apoiadas pela CIG — Comissão para a mulheres, de violência doméstica, sexual,
Cidadania e a Igualdade de Género; dando tráfico humano ou prostituição; tornando
maior suporte às organizações de mulhe- obrigatória a formação das forças de se-
res que atuam no domínio da igualdade gurança, profissionais de saúde, das es-
de género; estabelecendo um Padrão de colas, da segurança social e outros para
Igualdade Salarial, obrigando à remunera- prevenção, identificação e atuação em
Igualdade, Justiça 9
e Liberdade

situações de perigo; reforçando as cam- ao assédio no local de trabalho alinhadas


panhas de sensibilização contra a violên- com as recomendações da CITE — Co-
cia no namoro, violência doméstica, mu- missão para a Igualdade no Trabalho e no
tilação genital feminina e assédio moral e Emprego — e criando incentivos à adoção
sexual; alargamento do prazo de denún- de orientações semelhantes nas empre-
cia para vítimas de crimes sexuais de seis sas privadas.
meses para dois anos; implementando
uma rede de serviços de apoio a vítimas 5  Assegurar a proteção social e laboral
e sobreviventes de violência que siga os e garantir o respeito pela dignidade das
padrões internacionais (Conselho da Eu- pessoas que se prostituem, através de
ropa, Nações Unidas) no que respeita à soluções sempre construídas em conjun-
disponibilidade, modelos de intervenção to com as mulheres e os homens envolvi-
e qualidade dos serviços; isentando de dos nesta atividade; criando as condições
taxas jurídicas as pessoas com estatuto para que as pessoas que se prostituem
de vítima e prestando-lhes apoio e forma- possam ver protegidos os seus direi-
ção sobre as medidas de proteção a que tos, a sua saúde preservada e ter aces-
podem recorrer; estabelecendo em meio so a medidas de segurança; policiando o
hospitalar normas-padrão para assistên- tráfico e a exploração e não a prática da
cia a vítimas de violência física e sexual; prostituição; concebendo, financiando e
investindo na investigação e combate ao alocando recursos a planos de saída da
crime organizado que alimenta a prostitui- prostituição não discriminatórios a quem
ção, proxenetismo e tráfico humano; con- o deseje, envolvendo não só a administra-
tinuando a expansão da rede de casas ção central, mas também as autarquias
-abrigo e de acolhimento de emergência locais, organizações não governamen-
e melhoria dos serviços especializados tais e associações de pessoas na prosti-
de apoio às vítimas acolhidas; tornando tuição; prevenindo a entrada de pessoas
obrigatória a formação para juízes, pro- desprotegidas na prostituição.
curadores e advogados sobre as atuali-
zações das convenções internacionais 6  Combater a discriminação por orien-
dos direitos das mulheres; promovendo tação sexual, identidade e expressão de
a coordenação dos tribunais de família género e caraterísticas sexuais, devendo
e criminal para proteção rápida das víti- o Governo Português promover iniciativas
mas e recurso imediato a ordens de pro- nesse sentido, quer local, regionalmente
teção para vítimas e sua família próxima; ou em interlocução com a UE; incluindo,
implementando medidas de reeducação numa eventual Revisão Constitucional,
de agressores; tornando obrigatória, nos as questões da orientação sexual, iden-
serviços e estruturas do Estado, a adoção tidade de género, expressão de género
de boas práticas de prevenção e combate e características sexuais no artigo 13.º da
Igualdade, Justiça 10
e Liberdade

Constituição da República Portuguesa; de, por exemplo, formação adequada de


aprovando uma Lei antidiscriminação pessoal do corpo docente e não-docente
compreensiva que inclua orientação se- para diversidade, inclusão e direitos hu-
xual, identidade de género, expressão de manos, campanhas multimeios de sen-
género e características sexuais; reco- sibilização e informação, incluindo para
nhecendo a importância da inclusão das associações de pais e mães, e facilitação
questões LGBTQI+ de forma transversal de suporte psicológico e de saúde mental
nas políticas públicas e em legislação quando necessário.
avulsa bem como o reforço da formação
dos funcionários públicos nas áreas dos 7  Combater o racismo estrutural e a xe-
Direitos Humanos e questões LGBTQI+, nofobia, criminalizando comportamentos
incluindo forças de segurança, profissio- e práticas racistas, através das alterações
nais de saúde, das escolas, da segurança necessárias à Lei n.º 93/2017 e ao Código
social e serviços de atendimento ao públi- Penal, que proíbe as discriminações com
co; alargando a gravidez de substituição a base em raça, cor, nacionalidade ou ori-
todas as pessoas; prevendo o reconheci- gem étnica, punindo-as, atualmente, ape-
mento de pessoas intersexo na lei e nas nas como contraordenação, que pouco
várias esferas de serviços públicos (desde ou nada inibe quem as pratica; promo-
a saúde à educação); reformular o registo vendo campanhas nacionais antirracistas;
civil de forma a não estar dependente de revendo os currículos escolares para que
uma consideração binária sobre o género, não reproduzam uma versão acrítica da
com vista à inclusão de possibilidades de História de Portugal, baseada numa mito-
registo que saem fora de masculino/fe- logia colonial que não reconhece as vio-
minino (por exemplo: não-binária, género lências perpetradas sobre outros povos e
fluído); ilegalizar as chamadas “terapias culturas, e estimulando o pensamento crí-
de conversão” dirigidas a pessoas LGBT- tico sobre o passado colonial português
QI+, práticas essas equivalentes a tortura, e europeu; instituindo formação obriga-
sejam estas de teor religioso, psicotera- tória antirracista aos funcionários das
pêutico ou outro; requerer o reconheci- instituições públicas, incluindo forças de
mento mútuo e automático de uniões civis segurança, serviços públicos e de saúde,
entre pessoas do mesmo sexo celebra- aproveitando o conhecimento científico
das noutro Estado Membro da UE, de da psicologia e das ciências sociais.
forma a garantir a proteção adequada de
casais que não concluíram um casamen- 8  Conhecer a população e atuar sobre
to e se instalem em Portugal; reforçar o as suas necessidades, nomeadamen-
combate a todas as formas de bullying te, através da promoção de investigação
e exclusão social contra crianças LGB- científica que recolha dados sobre as
TIQ+ em contextos educacionais através suas identidades étnicas e raciais, que
Igualdade, Justiça 11
e Liberdade

permitam a adequação das políticas pú- ção das pessoas com deficiência, faci-
blicas e a adoção de medidas específicas litando o acesso das empresas a estas
de correção de desigualdades e de com- medidas; reforçando os meios humanos
bate à discriminação, segregação e invi- e materiais de apoio à inclusão escolar
sibilização de segmentos da população. de crianças e jovens com deficiência,
incluindo para alunos que necessitem
9  Combater a discriminação etária, redi- de adaptações significativas; facilitar a
gindo uma Carta Nacional dos Direitos do transição pós-escolar de jovens com de-
Cidadão Sénior; reforçando as medidas ficiência, identificando técnicos de tran-
de combate à pobreza e exclusão social sição que façam a ponte entre a escola e
da população idosa; implementando cam- potenciais locais de trabalho, ocupação
panhas de sensibilização sobre a violência e lazer que possam fazer parte de um
contra idosos, incluindo sobre burlas, e di- projeto de vida após a escolaridade obri-
vulgando as formas de denúncia; criando gatória e disponibilizando dados sobre
residências assistidas e lares públicos e o sucesso escolar e percurso pós-es-
investindo na disponibilidade e acessibi- colar das pessoas com deficiência; pro-
lidade dos cuidados domiciliários; fomen- movendo uma avaliação sistemática das
tando o acompanhamento da população residências universitárias em Portugal,
idosa por redes de proximidade; promo- que garanta que alunos com deficiência
vendo os espaços intergeracionais. têm residências adaptadas.

10  Proteger e promover os direitos das 11  Lançar um plano nacional de inves-
pessoas com deficiência, revendo a Es- timento na promoção das acessibilida-
tratégia Nacional para a Inclusão das des, que inclua a fiscalização obrigatória
Pessoas com Deficiência; cumprindo os e diagnóstico de barreiras à mobilidade
sistemas de quotas para a contratação e de acesso à informação e comunica-
de pessoas com deficiência no setor pú- ção nos serviços públicos, financiamen-
blico e privado; aumentando o montan- to de intervenções com vista à melhoria
te da Prestação Social para a Inclusão; das acessibilidades (ex. barreiras arqui-
ampliando o teto de deduções à coleta e tetónicas, sinalética, acessibilidade de
do reembolso de despesas relacionadas websites, materiais em formatos acessí-
com a deficiência; assegurando a con- veis incluindo Braille e Leitura Fácil, con-
tinuidade das medidas de apoio à vida tratação de intérpretes de língua gestual
independente, expandindo a rede na- portuguesa) e testes piloto em algumas
cional de Centros de Apoio à Vida Inde- localidades de medidas de promoção
pendente (CAVI) e alargando este apoio das acessibilidades, com vista à sua
a menores de 16 anos; reduzindo a buro- posterior generalização (ex. ensino de
cracia envolvida nos apoios à contrata- língua gestual a todos os alunos; gene-
Igualdade, Justiça 12
e Liberdade

ralização da utilização de guias sonoras, pessoas com deficiência) nos processos


sistemas de identificação de cor e outra decisórios que os afetam (discussão de
sinalética apropriada). projetos ou propostas de lei; acompanha-
mento e avaliação das políticas); apoian-
12  Acompanhar a aplicação do Estatuto do iniciativas cidadãs que partam de co-
do Cuidador Informal, assegurando que letivos ou de indivíduos pertencentes a
se desenvolva de forma desburocratiza- grupos tradicionalmente excluídos dos
da e simplificada, através definição justa processos de decisão política; criação
da percentagem do indexante dos apoios de mecanismos de financiamento para
sociais (IAS) relativamente ao rendimento que estas organizações desenvolvam
relevante do agregado familiar do cuida- respostas específicas no terreno, orien-
dor informal principal,, ao mesmo tempo tadas para objetivos de igualdade, inclu-
que se reforça a capacidade das respos- são e educação.
tas formais de apoio, como a Rede Nacio-
nal de Cuidados Continuados Integrados 14  Limitar drasticamente a publicidade
(RNCCI) e outras estruturas de apoio, so- aos jogos de azar, tanto no espaço públi-
bretudo através das respostas de apoio co como na internet e televisão.
domiciliário e de internamento temporário,
aliviando o peso colocado sobre os cui- 15  Alterar a lei da nacionalidade de
dadores informais e assegurando que o modo a que qualquer pessoa que nasça
Estado não se demite das suas respon- ou tenha nascido em território português
sabilidades no apoio às pessoas com de- tenha a nacionalidade portuguesa de
ficiência e às suas famílias. forma imediata e definitiva.

13  Fomentar a participação política e 16  Acabar com a venda de cidadania,


representatividade de grupos habitual- pondo fim ao programa dos Vistos Gold
mente excluídos ou marginalizados nos e Green.
processos de decisão política, através de
campanhas de sensibilização e de medi-
das de incentivo à sua participação, en-
quanto candidatos ou eleitores em elei-
ções e no acompanhamento das políticas
que os afetam ao nível local, nacional e
europeu; garantindo a auscultação obri-
gatória de representantes de grupos tra-
dicionalmente excluídos (incluindo, mas
não se restringindo a coletivos antirracis-
tas, feministas, LGBTQI+, de jovens e de
Trabalho, Rendimento,
Tempo e Proteção Social
Trabalho, Rendimento, 14
Tempo e Proteção Social

A luta pela proteção laboral e condições constituem como fatores de risco acres-
de vida dignas permitiram conquistas cido de pobreza ou exclusão social.
fundamentais no século XX, como a re-
gulação do horário de trabalho e salário Por outro lado, urge preparar, desde já, a
mínimo, reconhecimento do direito ao resposta aos desafios do século XXI, com
descanso semanal e gozo de período de uma transição para um novo paradigma
férias, proteção financeira em caso de de- de trabalho, rendimento e proteção social,
semprego, maternidade, doença, invali- que permita responder a transformações
dez, reforma ou velhice ou a garantia de em curso como o impacto da tecnologia
acesso a um patamar mínimo de segu- e automação no mercado laboral, a ne-
rança económica por via do rendimento cessidade de diversificação das fontes de
social de inserção. No entanto, estas con- financiamento da Segurança Social asse-
quistas continuam a não ser acessíveis a gurando a sua sustentabilidade ou, não
todos os cidadãos. A persistência de vín- menos importante, a luta por uma vida
culos laborais precários, como os recibos digna que não gire em torno do trabalho,
verdes, bolsas de investigação e contra- permitindo uma efetiva conciliação traba-
tos temporários, a realidade largamente lho-família e o acesso a tempos de lazer,
ignorada das situações de trabalho sem descanso e que permitam investir em ati-
vínculo, com destaque para o trabalho do- vidades de reforço de competências pes-
méstico e sazonal, ou o recurso abusivo soais e profissionais, sem as quais não é
a estágios profissionais e outras medidas possível construir uma sociedade mais
de apoio à empregabilidade para colma- rica, qualificada e ajustada aos desafios
tar necessidades de trabalho efetivas e do século XXI.
continuadas, constituem claras violações
destes direitos. Acresce que estas for- Queremos, pois, superar o emprego como
mas de trabalho precário afetam particu- aspeto central das nossas vidas em detri-
larmente imigrantes, minorias étnico-ra- mento do tempo livre e de outras formas
ciais, mulheres, pessoas com deficiência, de trabalho como o voluntário, familiar e
trabalhadores com menos qualificações comunitário.
e jovens. A estas juntam-se outras bar-
reiras, como as dificuldades de acesso Por tudo isto, o LIVRE defende um pacto
ao mercado de trabalho, oportunidades nacional para o trabalho, rendimento e
desiguais de progressão profissional, proteção social que permita corrigir de-
desigualdades de remuneração por tra- sigualdades no presente e construir as
balho equivalente ou, ainda, a realida- bases para uma sociedade de futuro que
de de quem escolhe ou se vê forçado a possibilite o acesso a uma proteção la-
abandonar o mercado de trabalho formal boral e de rendimento que não deixe nin-
para prestar cuidados a familiares, que se guém para trás, ao mesmo tempo que
Trabalho, Rendimento, 15
Tempo e Proteção Social

aposta no acesso a bens cada vez mais os trabalhadores subcontratados gozam


escassos e valiosos, como o tempo, a se- de condições contratuais comparáveis
gurança e a estabilidade. à Administração Pública; erradicando os
falsos recibos verdes, os falsos estágios
Por isso defendemos: e o falso trabalho independente; regulan-
do o recurso ao trabalho temporário; res-
1  Aumentar os rendimentos e a distribui- tringindo os contratos a prazo a funções
ção, tirando Portugal da armadilha dos comprovadamente temporárias; punindo
salários baixos, através do aumento do o assédio moral em contexto de trabalho.
salário mínimo nacional para € 1000 até Combater, adicionalmente, o recurso abu-
ao final da legislatura e da concertação de sivo ao estatuto de bolseiro.
uma estratégia nacional para a valorização
salarial, a vários níveis da escala de rendi- 3  Reforçar o poder dos trabalhadores,
mentos, com particular ênfase nos salá- reativando a negociação coletiva e alar-
rios médios e para os rendimentos do tra- gando o leque de matérias a negociar; re-
balho qualificado; através da instituição de vendo a legislação relativa à caducidade
um rácio máximo de desigualdade salarial dos contratos coletivos; garantindo uma
em cada empresa, organização ou ramo efetiva representatividade dos trabalha-
de atividade; através da indexação dos dores nos processos de decisão por alte-
salários à inflação; através do limite dos ração do regime das Sociedades Comer-
bónus e prémios atribuídos a acionistas, ciais, de forma a que todas as empresas
promovendo a sua distribuição a todos os maiores que uma Pequena ou Média Em-
trabalhadores; através do restabelecimen- presa (PME) tenham obrigatoriamente re-
to do acesso ao Rendimento Social de In- presentantes dos trabalhadores nos seus
serção e do aumento do seu valor. órgãos sociais executivos; fomentando
empresas partilhadas e cooperativas.
2  Combater a precariedade e o abuso
pelos empregadores, reforçando a capa- 4  Proteger o trabalho independente,
cidade da Autoridade para as Condições estabelecendo uma Retribuição Horária
do Trabalho de fiscalizar as condições de Mínima Garantida de 10 euros (a preços
trabalho nos setores público e privado, de 2021); criando um novo estatuto de
com a finalidade de erradicar os estágios proteção do trabalho independente pela
não remunerados ou pagos abaixo do sa- Segurança Social; ajustando a tabela de
lário mínimo; eliminando os falsos contra- retenção para trabalhadores independen-
tos de trabalho no estado com o nome de tes; reforçando a capacidade de negocia-
Contratos de Inserção do IEFP; limitar a ção coletiva dos trabalhadores indepen-
subcontratação no Estado apenas a si- dentes que prestem serviços ao mesmo
tuações justificadas e que garantam que fornecedor.
Trabalho, Rendimento, 16
Tempo e Proteção Social

5  A poiar o microempreendedorismo, e dos 25 dias de férias com progressão


criando hubs criativos que possam dotar até 2030 para 30h semanais e 30 dias de
o microempreendedor de espaço de tra- férias anuais, assim garantindo uma maior
balho a baixo custo, partilha de recur- distribuição do trabalho; através do não
sos, como eletricidade e aquecimento, e/ aumento da idade mínima de reforma,
ou serviços de prototipagem (como por com planeamento para a sua redução (di-
exemplo impressão 3D); criando um regi- minuindo o tempo de resposta ao pedido
me de microempreendedorismo de con- de reforma); permitindo a redução do ho-
tabilidade e fiscal mais leve, que permite rário de trabalho em função da idade do
ao microempreendedor aliviar custos fi- trabalhador sem perda de rendimento em
nanceiros. vez da reforma total.

6  Reforçar os apoios sociais, através 10  Promover a flexibilidade de horários


do aumento do Indexante de Apoios So- e dos trabalhos, bem como uma efetiva
ciais (IAS) com aumentos anuais suces- e saudável articulação entre as esferas
sivos e graduais, que permitam garantir laboral e pessoal, através da dotação de
estabilidade na atribuição de diversos meios à Autoridade para as Condições
apoios sociais. do Trabalho para fiscalização do “direi-
to a desligar” e do “dever do não-con-
7  Reforço do quadro assistencialis- tacto”, protegendo os trabalhadores da
ta previsto para as faltas laborais para imposição de se manterem ligados às
prestar assistência urgente e necessária suas funções para além do horário de
aos pais, em caso de doença ou aciden- trabalho, para salvaguarda da sua saúde
tes, em termos análogos ao existente na mental; através de incentivos às organi-
prestação social atribuída aos filhos. zações para que apostem em ambientes
laborais quer saudáveis e promotores
8  Testar, com vista à implementação fa- do bem-estar dos seus trabalhadores
seada, um Rendimento Básico Incondi- como um investimento na produtivida-
cional, que distribua a riqueza nacional de e criatividade.
produzida e garanta um rendimento a
qualquer cidadão, independentemente da 11  Apoiar o teletrabalho e o trabalho re-
sua condição, dos pagamentos do Fundo moto, através de revisão legislativa para
de Desemprego ou de outros programas alargar o direito a trabalhadores com filhos
de apoio social. ou dependentes até aos 12 anos (obser-
vando condições para que estes possam
9  Aumentar o tempo disponível para exercer o teletrabalho e a parentalidade
todos, através da implementação ime- em simultâneo), trabalhadoras grávidas,
diata das 35 horas semanais de trabalho trabalhadores a quem seja atribuído o es-
Trabalho, Rendimento, 17
Tempo e Proteção Social

tatuto de cuidador não principal, trabalha- pais; do estabelecimento de um regime


dores com doença crónica ou com grau de apoio à parentalidade de trabalhado-
de incapacidade igual ou superior a 60% res precários tendencialmente equipa-
e trabalhadores-estudantes; aplicação da rado aos trabalhadores por conta de ou-
obrigatoriedade dos casos anteriores às trem; da expansão e aumento de vagas
microempresas; prever explicitamente no em creches e jardins de infância incorpo-
Código do Trabalho a opção de teletraba- rados na rede pública escolar.
lho parcial, num modelo misto entre tele-
trabalho e trabalho presencial; clarificar o 13  Dignificar a situação de desemprego,
pagamento, por parte do empregador, de concedendo o direito a subsídio de de-
um valor mínimo para despesas corren- semprego a quem se despede e não ape-
tes, indexado ao valor do salário mínimo nas a quem é despedido; aumentando
nacional e o pagamento do subsídio de progressivamente as taxas de cobertura
almoço; possibilitar o apoio da Segurança e a duração dos subsídios de desempre-
e Saúde no Trabalho do empregador para go até níveis que respeitem a dignidade
verificação das condições do local de tra- das pessoas; tornando menos restritivas
balho em casa se requerido pelo trabalha- as condições para o acesso aos subsí-
dor ou médico da empresa. dios; substituindo a subsidiação de ocu-
pações precárias, como estágios profis-
12  Apoiar a parentalidade, através do sionais e contratos de emprego-inserção,
aumento progressivo da licença parental por oportunidades reais de formação e in-
para 16 meses, com maiores incentivos serção produtiva com contratos de traba-
para que seja repartida entre ambos os lho; apoiando a criação associativa e co-
pais, com períodos mais longos de tempo laborativa de postos de trabalho, através
conjunto (numa primeira fase passar já de aconselhamento, financiamento inicial
para 120 dias) e com um período mínimo e instrumentos para a auto-organização
obrigatório de gozo de licença por cada laboral.
um dos pais; da possibilidade de atribui-
ção de baixa comparticipada a 100% para 14  Promover a formação profissional em
trabalhadoras grávidas em casos em que todos os setores dos serviços e indústria,
a gravidez não seja de risco; da criação de com o objetivo de introduzir métodos de
um regime de proteção para grávidas ou trabalho mais produtivos e mais seguros,
pais em processo de adoção com con- através de protocolos com instituições de
trato a termo certo; da redução do horário ensino superior universitário e politécnico.
de trabalho para trabalhadores com filhos
pequenos até 3 anos, independentemen- 15  Criar um grande Programa de For-
te de serem amamentados ou não e com mação Empresarial, focado nos vários
incentivo para ser repartido entre os dois quadros das empresas, em particular a
Trabalho, Rendimento, 18
Tempo e Proteção Social

gestão executiva e intermédia. Os baixos 17  Assegurar a sustentabilidade de uma


níveis de formação no tecido empresarial Segurança Social pública inclusiva, re-
português são um dos principais entra- forçando e diversificando o financiamen-
ves à modernização da economia. Não é to do sistema de segurança social, atra-
possível materialmente avançarmos para vés do combate à evasão contributiva;
uma economia de alto valor acrescenta- da consideração da real remuneração (e
do, se a mesma não for acompanhada de não apenas do salário base) no cálculo
recursos humanos qualificados, tanto a da contribuição; do aumento da percen-
nível técnico como na parte administrativatagem atribuída à SS das coimas por vio-
e gestão. Simultaneamente é necessária lação de direitos e garantias laborais; da
a criação de um índice de formação da canalização da receita de impostos sobre
empresa, em que a cada empresa deve consumo, capital e transações financei-
estar associado um indicador que indica- ras; taxando o lucro das empresas e não
rá as qualificações médias dos seus qua- os seus trabalhadores, de forma a res-
dros. Este indicador deverá ser público e ponder também à adoção da digitaliza-
usado como fator de majoração na avalia- ção e automação; reforçando a proteção
ção de candidaturas a projetos financia- social em caso de doença, incapacidade
dos por capitais públicos. ou velhice para advogados e solicitadores,
integrando o sistema contributivo espe-
16  Preparar as mudanças no mundo do cífico destas profissões no regime geral
trabalho, através da criação de um siste- e mais garantístico da Segurança Social.
ma público de formação pós-laboral que
permita a empresas e trabalhadores ga-
nharem novas competências; do fomento
da requalificação dos trabalhadores nas
empresas; de um programa de apoio à
digitalização e otimização das empresas,
acompanhado de um programa de recur-
sos humanos a médio prazo; prever a ta-
xação das organizações e empresas que
despeçam ou extingam postos de traba-
lho por introdução de automação, cujo
valor reverta ou para a segurança social
ou para um fundo específico de reconver-
são profissional dos trabalhadores afeta-
dos ou mesmo para constituir uma das
fontes de financiamento do Rendimento
Básico Incondicional.
Saúde
Saúde 20

A pandemia veio relembrar-nos que qual- É essencial a integração e boa articulação


quer negligência política ou orçamental dos vários níveis de cuidados em que o
na área da Saúde tem um preço dema- utente/doente esteja no centro, indepen-
siado elevado. Confirmou-nos violenta- dentemente do prestador, assim como a
mente o condicionamento que sofremos existência de cuidados de proximidade e
na nossa liberdade quando a saúde está a humanização da saúde.
em causa.
A proteção da saúde mental e o acompa-
Defendemos que compete ao Estado as- nhamento adequado das pessoas que so-
segurar a proteção da saúde e que esta frem ou estão em risco de sofrer de doen-
seja universal, gratuita na altura da ne- ças mentais é crucial não apenas para
cessidade de cuidados e adequada às benefício dos próprios, mas também para
características da população em todo o que possamos ter um país com melhores
território. níveis de bem-estar e prosperidade.

Em Portugal, o principal prestador de cui- O conceito de saúde ultrapassa os esta-


dados de saúde é o Serviço Nacional de belecimentos onde são prestados cuida-
Saúde - que consideramos essencial para dos. É preciso ter cuidados de proximida-
assegurar a igualdade e a liberdade. A sua de fortalecidos, com médicos de família,
ação pode ser complementada pelos se- enfermeiros, técnicos superiores de diag-
tores privado e social, com os quais deve nóstico e terapêutica, assistentes técnicos,
ter protocolos e convenções apenas nas nutricionistas, psicólogos, higienistas orais,
áreas onde se considera que não tem re- dentistas, terapeutas da fala, fisioterapeu-
cursos que permitam garantir uma res- tas, terapeutas ocupacionais, assistentes
posta adequada, devendo a relação entre sociais em número adequado, assim como
os três setores ser transparente, honesta é urgente dotar os hospitais de meios ma-
e regulada e no sentido da capacitação teriais e humanos suficientes. Mas é igual-
do SNS nas áreas em que seja deficitário. mente importante que haja uma integra-
ção dos cuidados de saúde com todas as
O LIVRE está seguro que o Serviço Na- outras áreas que intervêm ao nível dos de-
cional de Saúde só sobreviverá com uma terminantes da saúde (nível socioeconómi-
urgente estratégia global para a Saúde, co, condições e estilos de vida, educação,
que respeite integralmente a nova Lei apoio social - segurança social, municípios
de Bases da Saúde, e inclua um plano e misericórdias). É a isto que se chama
de recuperação da atividade adiada pela “saúde em todas as políticas”.
COVID-19, aproveitando a oportunidade
conferida pelo Plano de Recuperação e A exaustão do sistema e seus profissio-
Resiliência português. nais, trazida pela pandemia, exige-nos o
Saúde 21

reconhecimento do seu valor por meio da todas as idades, reforçando nas escolas
adoção de medidas que respondam aos a importância da disciplina de Educação
apelos dos trabalhadores e às necessi- Física e o Desporto Escolar; promovendo
dades da população, salvando o Serviço o Plano Nacional de Vacinação e atuali-
Nacional de Saúde. zando-o frequentemente de acordo com
as recomendações da Direção Geral de
Propomo-nos ouvir todas as pessoas, Saúde, tendo em conta as necessidades
nomeadamente profissionais de saúde e de proteção no presente e no futuro (imu-
utentes, no sentido de encontrar soluções nidade individual e de grupo), consideran-
a longo prazo que fortaleçam o SNS e que do as influências da globalização e das
façam com que todos se revejam nele, o alterações climáticas.
sintam como seu e se motivem para con-
tribuir para a sua sustentabilidade e qua- 2  Aprender com a pandemia, tornan-
lidade a longo prazo. do efetiva a Reforma da Saúde Pública e
reforçando competências e recursos da
Por isso defendemos: Direção Geral da Saúde; acabando de
vez com a sub-orçamentação crónica do
1  Promover a saúde e prevenir a doença, SNS; aumentando recursos financeiros e
incluindo a avaliação do impacto na saúde humanos da saúde pública, aprendendo
em todas as políticas públicas; desenvol- com os erros da gestão pandémica e es-
vendo medidas pró-ativas de deteção e tabelecendo uma rede nacional reforçada
acompanhamento local junto das comu- de resiliência face às ameaças de saúde
nidades, sobretudo das mais carenciadas pública; entendendo as interações ser
ou marginalizadas; dotando as escolas de humano - animais - meio ambiente, res-
equipas de psicólogos e mantendo os en- peitando os princípios da One Health; fi-
fermeiros de saúde escolar em número nanciando a construção de redes de co-
adequado; aumentando a informação e municação eficazes e modernas como
os meios para os diagnósticos precoces veículos de informação fidedigna sobre
de doenças que surgem cedo na infância saúde; integrando o conhecimento das
e ao longo da vida; reforçando o Programa ciências comportamentais para estimular
Nacional para a Promoção da Alimenta- atitudes saudáveis e alargar a utilização
ção Saudável; aumentando a regulação dos serviços de saúde existentes (nud-
da venda e publicidade a alimentos pre- ging); estabelecendo o acesso público a
judiciais à saúde; criando um regime pú- dados que permitam o acompanhamen-
blico de medicina no trabalho; atuando to e escrutínio da atividade do SNS e de
sobre as condições de higiene, seguran- evolução epidemiológica por parte dos ci-
ça e saúde no trabalho; promovendo a dadãos, e reforçar e promover as platafor-
prática da atividade física e desportiva em mas e fontes de dados já existentes; es-
Saúde 22

timulando a articulação de competências 4  Dignificar e promover a permanência


na gestão de cenários de crise ou catás- dos profissionais no Serviço Nacional de
trofe entre a Proteção Civil, entidades de Saúde, favorecendo o trabalho em equi-
saúde e Forças Armadas; captando inves- pas fixas e estáveis de profissionais arti-
timento e inovação para o Laboratório Na- culados entre si; revendo a remuneração
cional do Medicamento; criando um órgão de todos os profissionais de saúde para
consultivo, independente e multidisciplinar garantir que têm ordenados que dignifi-
que coordene a síntese e sistematização quem a profissão que desempenham e
da evidência científica e elabore pareceres que lhes permitam ter uma vida digna
com o intuito de informar a decisão política, sem que para isso tenham de recorrer a
a funcionar em permanência; perseguindo números excessivos de horas extra ou
ativamente a eliminação, em Portugal, da de trabalhar em vários locais; garantin-
tuberculose e HIV. do a informação, a formação contínua e
evolução na carreira para todos os gru-
3  Reforçar e reorganizar o Serviço Na- pos profissionais; garantindo iguais con-
cional de Saúde com base em comuni- dições laborais e salariais para igual tra-
dades locais, assegurando a sua gestão balho; acabando com a subcontratação;
pública e não renovando os contratos das dignificando o acesso ao Internato Médi-
Parcerias Público-Privadas atualmente co (Formação Geral e Específica), asse-
ainda em curso; garantindo um orçamen- gurando que as vagas que abrem para os
to suficiente e não condicionado por cati- médicos recém-especialistas são distri-
vações; dotando as comunidades locais buídas pelo território nacional de acordo
de saúde de autonomia administrativa e com as necessidades do SNS e recorren-
financeira e reforçando o planeamento e do a incentivos para locais com falta de
a avaliação da qualidade, a nível regional; recursos se necessário; abrindo sempre
promovendo a auto-organização interna concursos universais a que todos os mé-
dos hospitais e a sua articulação eficaz dicos da especialidade possam concor-
com os centros de saúde (UCSP e USF) rer, independentemente do seu vínculo,
e as outras unidades de cuidados primá- revendo a sua remuneração; estudando
rios; assegurando que no SNS todas as e equacionando introduzir novamente o
funções são livres de nomeação política, conceito da “exclusividade” e dos incen-
incluindo os cargos de gestão, nomea- tivos para a dedicação plena ao SNS para
damente no topo da hierarquia, seja nas os profissionais de saúde que assim o de-
Administrações Hospitalares, seja na Di- sejem, assegurando que tal será sempre
reção dos Agrupamentos de Centros de uma opção do profissional e não algo im-
Saúde; garantindo os direitos dos utentes posto; paralelamente à melhoria das con-
nos tempos de resposta e na qualidade dições laborais que a pandemia agravou,
dos cuidados prestados. implementando políticas de prevenção,
Saúde 23

identificação e combate ao burnout nos 7  Facilitar e tornar mais equitativo o


profissionais de saúde, incluindo a apos- acesso aos cuidados de saúde e de pre-
ta numa melhor conciliação entre a vida venção da doença, eliminando as taxas
profissional e pessoal. moderadoras/co-pagamentos; garantin-
do que nenhum doente deixe de cumprir
5  Promover o adequado planeamento um regime terapêutico por insuficiência
de Recursos Humanos em Saúde, em económica, através da revisão dos regi-
diálogo com as diversas Ordens e as- mes de comparticipação; garantindo es-
sociações profissionais e associações truturas de saúde de proximidade a todos;
nacionais de estudantes das áreas re- incorporando a saúde oral e a saúde men-
levantes, no sentido de melhor conjugar tal em todos os centros de saúde.
formação pré e pós-graduada e outros fa-
tores que garantam a qualidade da pres- 8  Reforçar a proximidade, garantindo
tação de cuidados de saúde em Portugal, que todos têm médico e enfermeiro de
contrariando a desvalorização artificial e família e que estes se encontram integra-
embaratecimento do trabalho dos profis- dos em equipas com assistentes opera-
sionais de Saúde. cionais, assistentes sociais e pessoal ad-
ministrativo (assistentes técnicos), bem
6  Apostar na saúde mental, com a do- como de serviços como exames de diag-
tação de recursos humanos na área de nóstico, fisioterapia, saúde mental e ou-
psiquiatria e psicologia para um acom- tros que possam prevenir a doença que
panhamento adequado de quem ne- leve ao aumento nas urgências; garan-
cessita, especialmente aumentando de tindo que o número de utentes de cada
forma significativa o número de psicólo- médico de família permite um acompa-
gos integrados em cuidados de saúde nhamento efetivo (reduzir o número de
primários; investir na formação de todos utentes para menos de 1500 utentes por
os profissionais de centros de saúde de médico); desburocratizando a atividade
modo a que identifiquem prontamente dos médicos de família; requalificando
os problemas para um expedito enca- os centros de saúde; aumentando a dis-
minhamento dos doentes; dar priorida- ponibilidade de cuidados continuados
de à educação para a saúde para pes- (de convalescença, recuperação e rein-
soas com familiares com doença mental; tegração de doentes crónicos e pessoas
promover campanhas de desmistifica- em situação de dependência) no próprio
ção das doenças mentais e da neces- domicílio ou nas zonas de residência da
sidade de um bem-estar mental e físico família; garantindo um melhor atendimen-
da população; garantir a implementação to global aos doentes oncológicos através
do Programa Nacional de Saúde Mental de uma rede alargada com centros onco-
em vigor. lógicos em todas as regiões; garantindo
Saúde 24

a presença de pessoal com formação em tir um melhor acompanhamento das pes-


língua gestual portuguesa, assim como soas LGBTQI+ no SNS, reforçando as uni-
uma rede de tradutores rapidamente ati- dades no país com serviços focados em
vada para dar resposta às comunidades pessoas trans, investindo na educação e
emigrantes que não falam português. formação dos profissionais de saúde do
SNS para questões e identidades LGBT-
9  Humanizar os cuidados de saúde, me- QI+, tanto de acompanhamento clínico
lhorando a capacidade de resposta das como de atendimento.
consultas ao domicílio (médicas e de en-
fermagem), aumentando a acessibilida- 10  Investir na saúde sexual, apostando
de aos cuidados paliativos de proximida- no rastreamento de ISTs (Infeções Se-
de, de preferência em casa, garantindo xualmente Transmissíveis), no acompa-
com dignidade o respeito da vontade no nhamento da saúde sexual de todas as
fim de vida; criando condições para que pessoas e na disponibilização de trata-
as pessoas idosas e outras em situação mentos como a PrEP (Profilaxia pré-ex-
vulnerável consigam manter-se nas suas posição) ou PPE (Profilaxia pós-exposi-
casas e conservar a sua autonomia, evi- ção), de forma alargada e generalizada,
tando a sua ida desnecessária para lares pelo território nacional; reforçando as
ou instituições; facilitando as condições consultas de planeamento familiar nos
para o acompanhamento por familiares centros de saúde.
ou outros por reforço do estatuto do cui-
dador informal; formando os profissionais 11  Dignificar o fim de vida e possibilitar
de saúde em comunicação e na trans- uma morte digna, através da despena-
missão de informação; melhorar as con- lização e legislação da morte assistida,
dições que permitam respeitar as vonta- assegurando a disponibilização de apoio
des das mulheres grávidas, em trabalho médico e psicológico especializados,
de parto e puérperas, incluindo a de es- para que sejam obrigatoriamente aborda-
tarem acompanhadas por uma pessoa dos do ponto de vista clínico todos os as-
da sua escolha a tempo inteiro aquando petos concorrentes para a decisão infor-
do internamento; combatendo a violência mada e consciente do doente e cabendo
obstétrica explícita e estrutural; investin- ao Estado assegurar que, nas situações
do nos centros de tratamento de procria- de sofrimento extremo físico e/ou psí-
ção medicamente assistida para reduzir quico, são prestados todos os cuidados
rapidamente o tempo de espera pelo co- possíveis do ponto de vista biológico, psi-
meço dos tratamentos; garantir um maior cológico e social, garantindo um acompa-
acompanhamento das famílias e dos cui- nhamento adequado e humano, incluindo
dadores para conseguirem lidar com a a prestação de cuidados paliativos, nas
doença, tanto física como mental; garan- situações de doença terminal e de fim de
Saúde 25

vida; devem sempre ser salvaguardados 13  Atualizar as tabelas de doenças


os direitos e a liberdade de consciência crónicas e incapacitantes e criar medi-
de terceiros, nomeadamente dos familia- das específicas que permitam a melho-
res e dos profissionais de saúde. ria da qualidade de vida e o bem-estar
das pessoas com estas doenças, entre
12  Promover a disponibilização e utiliza- as quais a comparticipação de produtos
ção racional das terapêuticas, medica- específicos (como os laxantes, as palhi-
mentos e tecnologias na saúde, após um nhas, os suplementos de nutrição clíni-
processo transparente de validação cien- ca, a alimentação por sonda nasogás-
tífica e com base em normas elaboradas trica, entre outros), a aposta numa rede
por comissões de peritos qualificados e pública de casas de banho, a criação de
com conflitos de interesse declarados, um cartão de acesso a toda e qualquer
tendo em conta a eficácia, a segurança, casa de banho para doentes que sofrem
a efetividade e a atualização científica de Doenças Inflamatórias do Intestino ou
permanente; promovendo a passagem que tenham condição médica que torne
das terapias não-convencionais da área necessário o acesso imediato e urgente
da saúde para a área do bem-estar, revo- a uma casa de banho.
gando as Leis 45/2003, 71/2013 e sucessi-
vos instrumentos legislativos reguladores; 14  Legalizar o consumo e a venda de ca-
promovendo a literacia sobre o uso de nábis, incluindo para uso recreativo, com
medicamentos e terapêuticas, nomeada- a obrigatoriedade da etiquetagem infor-
mente nos grandes meios de comunica- mativa, da informação sobre os riscos e
ção; limitando a compra de medicamen- com a venda restrita a adultos.
tos à dose prescrita, evitando excessos
e desperdícios; pondo em prática esfor-
ços legislativos para evitar limitações no
acesso dos cidadãos às melhores alter-
nativas farmacoterapêuticas disponíveis
no mercado, eliminando a possibilida-
de de exportação quando esta coloque
em causa o abastecimento adequado do
mercado nacional ao longo de toda a ca-
deia do medicamento; implementando
um plano nacional para a produção de
medicamentos e dispositivos médicos;
incorporando a inovação tecnológica e a
análise de dados, nomeadamente no au-
xílio aos diagnósticos.
Educação
Educação 27

A educação é simultaneamente o espe- — e de todos os profissionais que perten-


lho de uma sociedade e o modelador das cem à comunidade escolar.
gerações seguintes. Portugal tem uma
sociedade muito desigual e a escola tem Defendemos a gestão democrática das
sido incapaz de lidar com e combater a escolas aos mais diversos níveis, envol-
desigualdade. É necessário desbloquear vendo os alunos nas tomadas de deci-
os caminhos que conduzirão a escola a são. Vivendo a democracia, aprende-se
ser, de facto, o elevador social que origi- a viver nela e a reconhecer os direitos
nará uma sociedade mais igual. e deveres de todos e de cada um. É um
modo de responder às desigualdades
O LIVRE não se revê num sistema de en- e de favorecer a cooperação e a cola-
sino centrado nos conteúdos e na ilusão boração. Defendemos a interação das
de que uma prova escrita é um instru- escolas com a comunidade e a sua en-
mento objetivo e infalível de avaliação de volvente. Sabemos que a família é parte
um aluno ou de uma escola. O sistema integrante e primordial da comunidade
atual estratifica, discrimina, promove a e, como tal, deve ser também parte ativa
competição, quando deveria ser inclusi- da comunidade escolar.
vo e focado em cada aluno e nos valores
humanistas, visando o desenvolvimento Cientes de que a legislação nacional já
de indivíduos mais autónomos, respon- enquadra esta visão da educação, pro-
sáveis e livres. pomos medidas que acelerem e facili-
tem a transição para o novo paradigma de
Defendemos uma escola centrada em aprendizagem que o futuro exige; porém,
cada aluno, que possibilita caminhos indi- a consciência de que as mudanças em
viduais para concretizar as aprendizagens educação são demoradas e dependentes
essenciais e aproxima cada indivíduo do da vontade dos vários agentes, para cada
Perfil dos alunos à saída da escolaridade proposta coexistem medidas que apon-
obrigatória. tam para o paradigma que desejamos e
outras que visam melhorar a escola na
Defendemos uma maior autonomia de sua situação atual.
cada escola/agrupamento e de cada pro-
fessor e uma extrema revalorização da Por isso defendemos:
profissão de professor — as pessoas que
trabalham na construção de situações de 1  Capacitar a Educação Pública, refor-
aprendizagem para os jovens portugue- çando e distribuindo de forma racional
ses têm de ser das mais capazes, das a dotação orçamental para a Educação,
mais bem formadas em termos humanos, de forma a assegurar recursos, material
das mais motivadas para o seu quotidiano e profissionais suficientes a todas as es-
Educação 28

colas da rede pública, que deve abranger pelos mesmos docentes em cada ciclo,
todo o país. Esta rede deve ter em conta especialmente no 1º ciclo; reduzindo a
a proximidade com as populações, evi- assimetria salarial entre os escalões de
tando o abandono das escolas locais em ingresso e os de topo; oferecendo incen-
favor de super-escolas. tivos à profissão de forma a atrair novos
profissionais, combatendo o envelheci-
2  Garantir a efetiva gratuitidade no sis- mento na carreira e as graves carências
tema de ensino público, como ferramen- de docentes que já se sentem em diver-
ta fundamental do desenvolvimento, da sas disciplinas; rever o Estatuto da Car-
coesão social e da justiça. reira Docente, desbloqueando a progres-
são dos professores no 5º e 7º escalões
3  Garantir a escola pública como uma eliminando, as quotas que criam graves
opção viável desde os 4 meses, integran- injustiças entre os docentes; democrati-
do as creches na rede pública de escolas, zando a gestão das escolas, promoven-
aumentando o número de creches dispo- do o acesso aos cargos de direção e de
níveis bem como o número de vagas nos gestão intermédia, apenas por eleição por
jardins de infância; assegurando todas as toda a comunidade escolar; promoven-
condições (incluindo o direito à sesta). do nas escolas um ambiente de apren-
dizagem e desenvolvimento pessoal de
4  Dignificar os professores, reforçando todos os profissionais que nela trabalham
e facilitando a formação dos profissio- e favorecendo culturas colaborativas; pre-
nais da educação, proporcionando gra- vendo a contagem integral do tempo de
tuitamente as diversas modalidades de serviço passado e revendo o estatuto da
formação, que favoreçam diretamente os profissão, o modelo de avaliação e o mo-
docentes enquanto agentes das trans- delo de concurso para que se saiba com
formações que se preconizam para as antecedência se e onde cada professor
escolas; garantindo o rejuvenescimento ficará colocado.
dos quadros dos professores, investindo
numa formação inicial que garanta um 5  Valorizar todo o pessoal não docen-
contacto efetivo e continuado com o tra- te, identificando a sua carreira como es-
balho escolar, sob supervisão de docen- pecífica e regulando a sua avaliação em
tes com experiência, e implementando termos que reconheçam o seu trabalho
um regime específico de aposentação; como também pedagógico; facultando
criando um concurso extraordinário para ações de formação contínua gratuitas; as-
combater a precariedade e a falta de pro- segurando a integração de todos aqueles
fessores, dando a possibilidade aos con- que desempenham funções permanen-
tratados de entrar nos quadros s e favo- tes, incluindo os monitores das atividades
recendo o acompanhamento dos alunos de enriquecimento curricular.
Educação 29

6  Focar o currículo em cada aluno para garantindo a possibilidade de expansão


garantir uma preparação abrangente e da rede escolar através da regulamenta-
combater o insucesso e o abandono es- ção e certificação de escolas alternativas
colares, assegurando a integração entre e/ou comunitárias.
conhecimentos de áreas do saber, pro-
fessores e alunos, reduzindo, num pri- 7  Transformar o 12º ano num ano zero de
meiro momento de resposta imediata às entrada na universidade e politécnicos,
contingências e dificuldades criadas pela permitindo não só recuperar a geração
pandemia, o número de alunos por turma Covid como torná-la numa das mais ca-
e, num segundo momento criando condi- pacitadas a entrar no ensino superior —
ções para uma nova organização não ba- ou na vida profissional para aqueles que
seada em turmas mas antes em comuni- fizessem apenas o ano zero e não qui-
dades de aprendizagem; diversificando os sessem prosseguir. O ano zero da uni-
materiais de pesquisa de base e retirando versidade deve ser para todos: gradual e
ao manual o papel fundamental que ainda tendencialmente lecionado em ambiente
vai tendo, fomentando igualmente o uso universitário e incidir sobre conteúdos e
de ferramentas digitais para desenvolver a práticas que fazem falta não só aos es-
literacia digital; garantindo a todos os alu- tudantes do ensino superior mas a todos
nos uma formação integral, dirigida e ava- os futuros profissionais de uma força de
liada pelo aluno com o acompanhamento trabalho que precisamos que seja alta-
de colegas e professores, que promova o mente qualificada.
conhecimento para lá das disciplinas e da
divisão entre atividade intelectual e ativi- 8  Promover a cidadania na escola e a
dade manual; reforçando o número e a di- integração na comunidade, reforçando a
versidade de profissionais da equipa mul- educação para a cidadania; criando espa-
tidisciplinar de apoio à educação inclusiva; ços de discussão e tomada de decisões
promovendo a interação com a família no e de intervenção dos alunos; permitindo
âmbito da aprendizagem, promovendo a a participação ativa dos alunos nos di-
assunção de valores e princípios comuns ferentes órgãos da escola; promovendo
e o respeito por eles; mantendo todas as uma cultura de partilha e cooperação;
modalidades de ensino atuais por forma a promovendo a autonomia dos alunos nos
que cada aluno e sua família possam optar, percursos casa-escola, a pé, de bicicleta
de forma livre e respeitadora das suas op- e de transportes públicos; promovendo
ções pessoais, familiares e/ou étnicas, por a articulação regular da escola com os
aprender da forma mais adequada ao seu equipamentos e instituições locais e o
caso individual, nomeadamente o Ensino intercâmbio entre escolas; abrindo efe-
à Distância, o Ensino para a Itinerância, o tivamente as escolas à comunidade e às
Ensino Doméstico e o Ensino Individual; famílias, com a promoção de dias aber-
Educação 30

tos e atividades, abertas a todas e todos, cendo as violências perpetradas sobre


de partilha de conhecimento a nível local outros povos e culturas; construindo com
e regional, bem como de ferramentas e os nossos parceiros europeus um currí-
estratégias úteis às famílias dos alunos e culo de História europeia comum; ga-
que promovam a cidadania global. rantindo os cuidados básicos de saúde,
higiene e alimentação saudável; facilitan-
9  Garantir que a escola é um instrumen- do às escolas o envolvimento em progra-
to transversal de igualdade e de justiça mas de saúde pública, de combate à po-
social, assegurando a operacionalização breza infantil, de prevenção da violência
adequada do Regime Jurídico da Educa- doméstica e no namoro e de combate à
ção Inclusiva (DL 116/2019), por forma a discriminação; valorizando o Ensino Ar-
que todos os alunos possam ter um lugar tístico e, também, o Ensino Profissional,
seguro e adequado na escola, adaptado facilitando a integração dos alunos na co-
às suas características individuais e po- munidade através do desenvolvimento de
tenciador do seu desenvolvimento; ado- competências práticas de uso mais ime-
tando medidas que contrariem a segre- diato na sociedade.
gação com base no rendimento, grupo
étnico-racial ou outros eixos de exclusão 10  Retirar a Disciplina de Educação
e discriminação nas escolas públicas; Moral e Religiosa do currículo das esco-
criando uma cultura escolar de abertura e las públicas, devendo a formação religio-
aceitação, por forma a que nenhum aluno sa ser deixada ao critério das famílias e
ou família seja discriminado seja por que concretizada nas respetivas congrega-
razão for, incluindo a nível do conteúdo ções religiosas, no respeito pelo princípio
dos manuais escolares e do material de da laicidade da Escola Pública, constitu-
estudo e trabalho; integrando a aprendi- cionalmente consagrado.
zagem da língua gestual portuguesa nas
escolas; providenciando aulas da língua 11  Melhorar a capacidade de resposta
materna das crianças, nomeadamente do ensino profissional, capacitando as
as que usam mirandês, línguas crioulas escolas e os docentes para um ensino
na família ou caló ou romani português mais prático e tendente à empregabilida-
para crianças de etnia cigana, de forma a de imediata para os alunos que assim o
facilitar, em especial no 1.º ciclo, a apren- desejarem; garantindo maior ligação das
dizagem do Português como língua não Instituições de Ensino Profissional ao teci-
materna, o que terá repercussões posi- do empresarial da região, capacitando as
tivas no seu percurso escolar; revisitan- instituições para a criação de oferta for-
do e descolonizando a História, para que mativa que vá ao encontro das necessida-
não perpetue os estigmas e não continue des locais, e que permita o planeamento
a enfatizar a mitologia colonial, reconhe- atempado das valências formativas ne-
Educação 31

cessárias a médio prazo; assegurando a rização da qualidade do ar, de forma a


coordenação entre as diferentes varian- prevenir a disseminação de infeções res-
tes de ensino para permitir facilmente a piratórias como a COVID-19 (mas não só),
transição entre os diferentes modelos. tornando-as locais mais seguros para a
comunidade e diminuindo as disrupções
12  Promover a adoção de ferramentas frequentes ao ensino que resultam dos
colaborativas e de acesso aberto, pre- frequentes surtos escolares.
vendo a construção e investimento de li-
vros escolares com licença de autor aber- 15  Continuar o investimento na educa-
ta (Creative Commons) e de utilização ção e formação de adultos, generalizan-
aberta; promovendo o formato digital em do a perceção de que a aprendizagem se
aparelhos sem gestão de direitos digitais realiza ao longo da vida, promovendo quer
(Digital Rights Management (DRM) em in- a educação formal - nomeadamente a for-
glês) e de acesso aberto; a utilização de mação profissional em contexto de traba-
software proprietário deve ser restrita aos lho - quer a aprendizagem não formal e
casos onde software aberto não cubra as informal em todas as idades, incluindo as
vantagens pedagógicas, financeiras, de Universidades Sénior, tanto em meio ur-
inclusão social e universalidade e devem bano como rural. Uma sociedade pelo de-
ser garantidas a privacidade e reserva na senvolvimento sustentável revê-se numa
utilização dos dados gerados. lógica de educação permanente.

13  Recuperar as cantinas públicas de 16  Defender o Ensino de Português no


forma a que o principal objetivo seja o Estrangeiro, distinguindo o ensino de por-
bem estar dos alunos e não o lucro, atra- tuguês como língua estrangeira do ensino
vés de um serviço assegurado pelos pró- de português como língua materna; mu-
prios estabelecimentos de ensino ou dando a tutela do Ensino de Português no
pelas Câmaras Municipais e não por em- Estrangeiro, vertente de língua materna,
presas privadas, melhorando as refeições do Ministério dos Negócios Estrangeiros
fornecidas quer a nível da qualidade quer para o Ministério da Educação; revogando
da quantidade proporcionando, assim, a propina para todos os jovens portugue-
refeições saudáveis e adequadas à faixa ses e lusodescendentes que frequentem
etária dos alunos, com o devido controlo ou venham a frequentar o EPE; expandin-
de qualidade, assegurando os nutrientes do a rede do EPE dentro e fora da Europa.
essenciais para promover a alimentação
e estilos de vida saudáveis.

14  Dotar as escolas públicas de siste-


mas de ventilação, filtração e monito-
Conhecimento, Ciência
e Ensino Superior
Conhecimento, Ciência 33
e Ensino Superior

O conhecimento científico é um requisito fico e Tecnológico com diversas fragilida-


para o desenvolvimento tecnológico, so- des institucionais.
cial e económico de um país e um pilar
fundamental de uma sociedade sustentá- O panorama de contratação de doutora-
vel. Portugal caracteriza-se por um défice dos em Portugal sofreu nos últimos anos
histórico neste campo, combatido desde algumas alterações positivas. Devido às
1995 com o investimento na formação de alterações legislativas dos últimos anos,
recursos humanos e na internacionalização a maioria dos investigadores doutorados
que resultou no desenvolvimento das insti- nas instituições têm hoje obrigatoriamen-
tuições de I&D e num saldo positivo inegá- te contratos de trabalho. No entanto estes
vel nos indicadores de produção científica são contratos a prazo, sendo necessário
e na crescente qualificação de uma nova haver pela parte das instituições de I&D
geração de portugueses. Esta trajetória foi e pelas universidades, perspetivas claras
interrompida em 2011, resultando num des- de contratação de RH qualificados a mais
perdício avassalador de recursos e num longo prazo.
enorme entrave à competitividade do país.
No entanto, nos últimos quatro anos temos Adicionalmente, para ultrapassar os de-
assistido a alterações no setor de I&D, com safios que as alterações inevitáveis que
a publicação da “Lei da Ciência” em Maio o mercado de trabalho tem vindo a sofrer,
de 2019 e do decreto de lei 57/2016 e da Lei e que serão mais evidentes com a cres-
57 de 2017. A primeira estabelece o regime cente automação dos mecanismos de
jurídico das instituições que se dedicam à produção e com a “internet das coisas”,
investigação científica e desenvolvimento, é necessário dar um grande impulso à for-
e os segundos definem um regime jurídico mação superior, democratizando verda-
de estímulo à contratação de investigado- deiramente o acesso ao Ensino Superior,
res doutorados, que visa reforçar o empre- não só alargando as oportunidades de
go científico, substituindo praticamente na acesso para jovens que terminam o ensi-
totalidade as bolsas de pós-doutoramento, no secundário, mas também promovendo
que tinham sido a solução integrar douto- a formação superior ao longo da vida.
rados nas instituições científicas durante a
década anterior, com custos significativos Está em causa principalmente o modelo
para as carreiras dos investigadores. De de financiamento público em I&D, sendo
facto, o sistema científico nacional tinha fundamental garantir uma estratégia de
vindo a substituir com recurso principal- financiamento público em ciência e I&D
mente a docentes académicos e a bolsei- independente de ciclos políticos e/ou
ros, em muitos casos sem quadros de in- macroeconómicos, garantindo-se finan-
vestigadores nas unidades de investigação. ciamentos plurianuais e regras transpa-
Desse modelo resultou um sistema Cientí- rentes, que promovam a estabilidade, a
Conhecimento, Ciência 34
e Ensino Superior

confiança e a articulação com as estra- cial ligadas ao desenvolvimento de novos


tégias de desenvolvimento local, nacional produtos e serviços, por parte da admi-
e europeu. Esta estratégia deve assumir nistração pública e setor empresarial do
que o investimento em Ciência não se Estado às instituições do ensino superior
traduz necessariamente em crescimen- e unidades do sistema científico nacional.
to económico a curto prazo e que o apoio
à investigação fundamental não pode ser 2  Promover a investigação interdisci-
adiado ou diminuído em tempos difíceis plinar em áreas estratégicas, como por
na expectativa de que o investimento em exemplo na área da saúde, da sustenta-
investigação aplicada traga melhores re- bilidade dos ecossistemas e na mitigação
sultados económicos. dos efeitos das alterações climáticas, es-
tabelecendo programas em conjunto com
Em 2020 a despesa total — pública e pri- as empresas e a administração pública de
vada — em I&D atingiu 3.203 milhões de forma a criar condições para a aceleração
euros, correspondendo a 1.58% do PIB da aplicação de novas tecnologias junto
nacional, apesar da dotação orçamental da sociedade. Este é um dos usos possí-
ter vindo a diminuir ligeiramente em % veis para os instrumentos financeiros de
desde 2018, mantendo-se praticamente apoio da União Europeia a instituições pú-
constante em valor absoluto — entre os blicas, colocando em prática processos
1530M€ e 1600M€, incluindo fundos na- de contratação pública que promovam a
cionais e comunitários. De facto, e apesar inovação e investigação de novas solu-
das alterações no regime jurídico, o subfi- ções que possam responder aos desafios
nanciamento público do sistema científi- existentes, como é o caso dos contratos
co e tecnológico atual persiste, revelando pré-comerciais (PCP — Pre Comercial Pro-
os números que o investimento neces- curement) e a contratação pública de so-
sário da parte do estado está aquém das luções inovadoras (public procurement for
necessidades. innovation solutions).

Propomos um conjunto de medidas orga- 3  Valorizar o potencial económico do co-


nizadas em três eixos: Ciência e Socieda- nhecimento, dinamizando e apoiando a
de, Estabilidade do Sistema Científico e participação de empresas portuguesas em
Tecnológico, e Ensino Superior. projetos de investigação financiados pela
União Europeia. As entidades do sistema
Ciência e sociedade científico e tecnológico devem investir na
constituição, formação e profissionaliza-
1  Pôr a ciência ao serviço das instituições ção de pessoal dedicado à transferência
públicas e das comunidades através da de conhecimento e à propriedade intelec-
contratação de bens e serviços, em espe- tual nas entidades públicas, munindo-as
Conhecimento, Ciência 35
e Ensino Superior

de competências para proteger e comer- A Estabilidade do sistema


cializar conhecimento produzido e para Científico e Tecnológico
negociar parcerias nos mercados mun-
diais. Promover a ligação das Unidades 7  Estabelecer um novo regime legal de
de Investigação ao tecido empresarial, ao programação do investimento público
nível local e ao nível nacional, permitindo em I&D num quadro plurianual e estimular
a criação de sinergias para a optimização o investimento privado em I&D de forma
dos processos produtivos, o desenvolvi- a cumprir as metas de investimento em
mento de novas tecnologias de produção, investigação e desenvolvimento decla-
e a criação de novos produtos. radas como objetivo para Portugal, cor-
respondentes a um investimento global
4  Monitorizar a literacia científica atra- em I&D de 3% do PIB até 2030, com uma
vés de uma Plataforma Nacional para a parcela relativa de 1/3 de despesa pública
Literacia Científica responsável por mo- e 2/3 de despesa privada, trazendo Portu-
nitorizar e da promoção de um programa gal para um patamar de igualdade com a
para o alargamento das competências média europeia de investimento em I&D.
científicas da população.
8  Reforçar o financiamento público de
5  Investir na literacia científica, atra- base a Laboratórios associados, unida-
vés de uma ainda maior valorização do des de I&D e Instituições de Ensino Su-
papel da Comunicação de Ciência nos perior, para reforço da capacidade de
projetos de investigação e na avaliação atração de manutenção de recursos hu-
dos Centros de Investigação pela FCT; in- manos, aumentando a taxa de execução
vestindo na divulgação da Ciência junto em I&D nas Universidades e Politécnicos
da população através do apoio a progra- públicos, assim como a capacidade de
mas como o Ciência Viva; através de fi- apoio à formação avançada; atingindo o
nanciamento a projetos de Ciência Ci- objetivo de 60% de jovens com 20 anos
dadã; e através de incentivos financeiros frequentando o ensino superior em 2030,
a organizações de divulgação científica. com 40% dos graduados de educação
terciária na faixa etária dos 30–34 anos
6  Criar um gabinete técnico-científi- até 50% em 2030.
co de apoio à atividade de legislação
na Assembleia da República de forma a 9  Financiar as instituições do ensino
fornecer a informação científica e dados superior de forma estável e transparen-
atualizados sobre diversos setores rele- te, através de financiamento público num
vantes, de forma a sustentar com informa- regime plurianual e contratualizado por
ção fidedigna as iniciativas legislativas de objetivos. O financiamento deve assentar
todos os grupos parlamentares. numa fórmula baseada em indicadores de
Conhecimento, Ciência 36
e Ensino Superior

estrutura e de desempenho, destinada a Para programas de trabalhos superiores


suportar as despesas de funcionamento e a dois anos, que incluem os programas
infraestrutura, com dotações atribuídas por de doutoramento, o financiamento deve
concurso, destinado a implementar pro- passar a ser feito através de contratos a
jetos e estratégias locais alinhadas com o termo certo, e não de bolsas de investi-
perfil institucional e com as necessidades gação, de forma a que os estudantes de
de desenvolvimento do país e da região. doutoramento e os investigadores em for-
mação avançada, se vejam reconhecidos
10  Estabilizar o sistema científico, com como trabalhadores de facto, usufruindo
a criação de um Fundo Estratégico de In- dos mesmos direitos laborais que os res-
vestimento do Ensino Superior, financia- tantes trabalhadores, como o subsídio de
do através dos impostos e taxas sobre a férias, de natal e de desemprego. Man-
atividade económica, que é beneficiária ter os valores das bolsas atualizadas de
da existência de uma força de trabalho acordo com a inflação.
formada e altamente qualificada; definin-
do em conjunto com os intervenientes 12  Prorrogar a duração de bolsas de
do setor um novo modelo de governação doutoramento, pós-doutoramento e
para a Fundação para a Ciência e Tecno- contratos a termo em contexto pandé-
logia, que lhe garanta maior autonomia e mico, por um período mínimo de 6 meses,
permita desenhar planos plurianuais com que pode ser superior se a inexequibili-
níveis de financiamento global e por áreas, dade do plano de trabalhos em período
numa lógica de planeamento estratégico pandémico for devidamente justificada.
de médio prazo. Os concursos para bol-
sas, projetos e criação de emprego cientí- Ensino Superior
fico devem ocorrer anualmente em datas
fixas, com critérios transparentes e com 13  Eliminar as propinas no 1º ciclo e re-
conhecimento da composição dos júris, e gulamentar o valor das propinas relati-
a duração do período de avaliação, até à vas ao 2ºciclo e à formação pós-gradua-
divulgação dos resultados dos concursos da através do estabelecimento de tetos
não deve ser superior a 6 meses. máximos e da preparação de um proces-
so de redução progressiva do seu mon-
11  Rever o Estatuto do Bolseiro de Inves- tante, de acordo com padrões europeus.
tigação limitando a atribuição de bolsas
de investigação a programas de trabalho 14  Rever os mecanismos de atribuição
com a duração máxima de dois anos, para de apoios sociais diretos e indiretos aos
quaisquer trabalhos de investigação, in- estudantes do Ensino Superior, criando
dependentemente de se destinarem ou um Fundo de Apoio ao Estudante do En-
não à obtenção de graus académicos. sino Superior, financiado em parte por im-
Conhecimento, Ciência 37
e Ensino Superior

postos de beneficiários do mesmo com cerias do Estado com o setor empresarial,


altos rendimentos; eliminando os cons- e através da alteração da designação das
trangimentos e as assimetrias das normas instituições de ensino superior politécnico
atuais, devendo os apoios aos estudantes para uma denominação comum europeia
ser atribuídos independentemente da si- com universidade politécnica ou universi-
tuação de dívida do seu agregado familiar dade de ciências aplicadas.
à segurança social ou à autoridade tribu-
tária. O valor mínimo da bolsa de estudo 17  Equiparar as carreiras de docência e
deve ser ponderado a partir de indicado- investigação, através da revisão do Es-
res de custo de vida ajustados localmen- tatuto da Carreira de Investigação Cientí-
te. O alojamento estudantil deve ser pro- fica e da fusão dos Estatutos da Carreira
movido em articulação entre IES e o poder Docente Universitária (ECDU) e do Esta-
local, no quadro de políticas de habitação tuto do Pessoal Docente do Ensino Supe-
jovem e de revitalização dos centros ur- rior Politécnico (ECPDESP) para que seja
banos. Deve ser garantida a igualdade equiparado em nível de exigência, direi-
de oportunidades no acesso a estas ins- tos e deveres.. A integração de ambas as
talações, tendo em conta a necessidade carreiras num mesmo estatuto deverá in-
de residências adaptadas a alunos com cluir a possibilidade de mobilidade entre
mobilidade reduzida ou com deficiências as carreiras de investigação e docente,
como a cegueira ou surdez, que em 2019 dentro da mesma instituição ou entre ins-
constituíam apenas 2% da oferta. tituições diferentes, permitindo uma me-
lhor gestão dos recursos e necessidades
15  Requalificar a população ativa de das instituições e garantindo uma maior
nível pós-secundário através da criação integração entre as atividades de ensino
de um programa que estabeleça parce- superior e investigação científica, permi-
rias entre instituições do ensino superior, tindo desenvolvimento de atividades de
empresas e agências da administração investigação e de docência, com flexibili-
pública, para adequar o seu perfil forma- dade na gestão de cargas horárias, dentro
tivo aos desafios de uma economia avan- dos limites legalmente fixados ou a fixar.
çada e promover a sua empregabilidade.
18  Abrir lugares no quadro das institui-
16  Internacionalizar as instituições do ções públicas de Ensino Superior, des-
ensino superior, facilitando a atração de bloqueando a abertura dos concursos de
estudantes internacionais, reforçando os contratação de docentes, investigadores
programas de financiamento de períodos e técnicos, de modo a satisfazer as ne-
de mobilidade estudantil e docente no en- cessidades das instituições e restituir a
sino superior, de duração variável, através qualidade do seu trabalho, eliminando a
de fontes de financiamento públicas e par- prática recorrente de utilizar trabalhado-
Conhecimento, Ciência 38
e Ensino Superior

res precários para responder a necessi-


dades permanentes.

19  Rever o Regime Jurídico das Insti-


tuições de Ensino Superior (RJIES) de
forma a garantir a democracia plena na
eleição dos órgãos. Aumentando a repre-
sentatividade dos estudantes, trabalha-
dores e docentes face a individualidades
externas às instituições.

20  Assegurar a igualdade de direitos


no ensino superior público, particular
e cooperativo, através da adoção pelas
instituições de ensino particular e coope-
rativo dos estatutos da carreira docente,
garantindo a democracia interna e a li-
berdade de ensino e investigação e re-
forçando as garantias de representação
sindical nestas instituições.
Cultura e Arte
Cultura e Arte 40

A Cultura constitui uma dimensão crucial verdadeiramente impulsionar a Cultura


das nossas vidas coletivas, sendo um dos como um setor estratégico fundamental,
motores impulsionadores das grandes teremos de criar as estruturas e ecos-
economias, mas em Portugal tem faltado sistemas favoráveis ao desenvolvimento
uma visão estratégica transversal para o dessas indústrias, incentivar a criação de
setor que permita a concretização de po- novos espaços para fruição cultural e criar
líticas públicas assentes na descentrali- projetos inovadores, tanto a nível local,
zação e na democratização do acesso, li- metropolitano ou nacional que permitam
gadas à identidade, à criação artística, ao remunerar de forma justa autores e cria-
património (material e imaterial) e a sua dores, sem nunca descurar a questão da
reavaliação no contexto europeu e global, acessibilidade dos equipamentos cultu-
à diversidade do tecido cultural português, rais, para pessoas com deficiência (visual,
à palavra e as próprias linguagens. Impor- motora, auditiva, entre outras).
ta que o papel do Estado seja definido
numa lógica de diálogo permanente com Não poderemos implementar uma nova
a comunidade, entendida não apenas no estratégia para o setor sem proteger, dig-
sentido estrito dos agentes culturais mas nificar e valorizar quem produz cultura,
de todos e todas nós. Para que esse diá- tanto os artistas como os agentes cultu-
logo seja realmente ativo, será necessá- rais, e as nossas propostas serão sem-
rio legislação específica que permita reverpre no sentido de tornar a produção e o
toda a orgânica da Cultura, tanto para a consumo cultural mais sustentáveis. De
gestão dos equipamentos culturais, re- modo a assegurar uma verdadeira pro-
cursos humanos e técnicos já existentes fissionalização do setor da Cultura, é ne-
no território nacional, como para a gestão,cessário criar novos estatutos e direitos
financiamento e programação das Artes. laborais que ponham fim à precariedade
que tanto tem fustigado os trabalhadores
Para que a Cultura seja promotora do de- deste setor.
senvolvimento e permita ultrapassar de-
sigualdades sociais, é preciso reforçar a Para organizar e valorizar o setor e os seus
sua articulação com o pilar da Educação, profissionais, defendemos:
o que irá exigir uma maior democratiza-
ção e alargamento do acesso à cultura. 1  Dotar o setor da cultura de legislação
Tal implicará a sua integração em todos os específica, enquadrando o modo como
graus de ensino, maior divulgação através se devem articular todos os equipamen-
dos meios de comunicação públicos, pre- tos culturais, modelos de gestão, recur-
ços mais acessíveis, incentivos fiscais, o sos humanos e técnicos existentes no
aumento das verbas e diversificação de território nacional, independente da tutela
fontes de financiamento. E se queremos que os dirija.
Cultura e Arte 41

2  Rever a orgânica da cultura para a maior regulação das relações com entida-
gestão, financiamento e programação des contratantes do setor; revisão das con-
das artes de responsabilidade do Estado, dições dos trabalhadores independentes
articulando os organismos sob tutela da em que serão atribuídos subsídios de de-
pasta da cultura entre si com vista a um semprego ou outro tipo de apoios sociais.
melhor aproveitamento das infraestrutu-
ras, cumprimento da sua missão de ser- 5  Promover a salvaguarda do patrimó-
viço público na produção e difusão e na nio cultural, valorizando as profissões de
articulação com outros setores, de poder Museologia e Conservação e Restauro,
local e da sociedade civil, para garantir a conforme a Lei de Bases do Património
criação e fruição cultural consagrada na Cultural Português e a Lei Quadro dos
constituição. Museus Portugueses; aumentar as ver-
bas para a DGPC de modo a impulsionar
3  Aumentar e diversificar o financiamen- a atividade dos museus que viram as suas
to da cultura, que deve atingir 1% da recei- receitas reduzidas devido à pandemia,
ta total do Orçamento de Estado, enquanto encerramentos e redução do turismo.
é também revista a lei do Mecenato e são
igualmente direcionados fundos europeus 6  Extinguir todo o tipo de receitas pro-
para projetos culturais. Os subsídios a es- venientes de jogos de azar, i.e. raspadi-
petáculos que promovam maus-tratos a nha do Património e lotarias, destinadas
animais, como a tauromaquia, devem ser a salvaguardar o património cultural, uma
imediatamente eliminados. vez que estes jogos são suscetíveis de
causar adição.
4  Rever o Estatuto dos Profissionais da
Cultura de modo a eliminar a precarieda- 7  Valorizar o património cultural mate-
de do setor, tendo em consideração a sua rial e imaterial e a criação contemporâ-
intermitência laboral e consecutivamente, nea, reforçando meios financeiros e logís-
contributiva; constante constante mapea- ticos para o funcionamento em rede de
mento da precariedade do setor cultural, cineteatros e outros equipamentos cul-
procedendo para o efeito a um contínuo turais, em concertação com as políticas
levantamento exaustivo do tecido cultural de planeamento e ordenamento do ter-
existente e das necessidades específicas ritório; apoiar a criação de cooperativas
quanto à proteção laboral e social dos pro- culturais, movimentos associativos e co-
fissionais do setor das artes, do espetácu- munitários de modo a reforçar a neces-
lo e do audiovisual; a criação de mais pro- sidade de descentralização da Cultura.
teção social aos prestadores de serviços;
mais mecanismos de inclusão de todos 8  Reestruturar a Direção-Geral do Livro,
os trabalhadores no sistema contributivo; dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB)
Cultura e Arte 42

num organismo com os meios financeiros desleais de concorrência exercidas pelos


necessários para que possa executar, com grupos grandes editoriais e hipermerca-
maior alcance, políticas de investimento dos, têm sufocado a atividade livreira in-
na área do livro, arquivos e bibliotecas pú- dependente e alfarrabista e colocado a
blicas que impulsionem este setor em es- sua sobrevivência em risco. De modo a
pecífico e o tornem sustentável, ao mesmo assegurar a manutenção de livrarias in-
tempo que estimulem a literacia e criem dependentes e recuperar a profissão do
condições para valorizar os criadores e po- livreiro, deve-se facilitar o acesso a espa-
tenciar a sua relação com o público. ços com rendas acessíveis.

9  Travar a criação de monopólios e de 12  Criar novos programas de intercâm-


grupos editoriais com concentração ex- bio literário e editorial entre os países de
cessiva de poder de mercado, que es- língua oficial portuguesa e criar uma Feira
magam e levam ao desaparecimento de Internacional do Livro (em cidade a defi-
pequenas e médias editoras e livreiros in- nir) que permita congregar profissionais
dependentes, através do reforço da atua- da área do livro de todo o mundo, à se-
ção da Autoridade para a Concorrência e melhança da Feira do Livro de Frankfurt,
de legislação específica para o setor. contribuindo, deste modo, para a dinami-
zação da economia local.
10  Melhorar a regulação da edição e do
livro, de modo a garantir a diversidade do 13  Apostar no cinema e audiovisual,
setor editorial e livreiro. Regulamentar as através do fomento de exibição e difu-
cadeias de distribuição do livro, impedin- são de obras nacionais de produção in-
do a concentração de monopólios edito- dependente em horários acessíveis, da
riais no mercado escolar e do livro gene- ampliação do espectro de fontes de fi-
ralista de modo a reduzir práticas desleais nanciamento, da aplicação criteriosa do
de concorrência, assim como se deve Contrato de Serviço Público vigente e o
proceder à Revisão da Lei do Preço Fixo reforço da programação de conteúdos
de modo a regular as práticas comercias culturalmente relevantes na RTP.
em vigor no setor livreiro e impedir as
constantes infrações que têm penaliza- 14  Incentivar a digitalização da Cultu-
do uma parte desse setor. ra e tornar mais efetivo o apoio para a
RTP promover mais a digitalização das
11  Assegurar a sobrevivência da ativi- artes performativas e da Cultura e das
dade livreira independente e alfarrabis- artes performativas na forma digitaliza-
tas. O elevado número de fecho de livra- da, disponibilizando ao público obras
rias devido à crescente gentrificação dos nacionais, de acesso livre e gratuito e
centros urbanos, bem como as práticas para todo o mundo.
Cultura e Arte 43

15  Garantir condições para que seja 18  Descolonizar a cultura, contextuali-
implementada a legislação que regula- zando a história de Portugal nos museus,
menta uma maior diversidade de fon- exposições, performances e materiais di-
tes de financiamento para a produção dáticos para que seja estimulada a visão
do cinema e o audiovisual em Portugal, crítica sobre o seu passado esclavagista,
através da entrada no mercado portu- colonial e de violências perpetradas sobre
guês de todas as novas plataformas de outros povos e culturas e reconhecido
streaming e de Video On Demand, que o seu legado e influência na sociedade
investem diretamente nos produtores e atual; promovendo uma listagem nacional
criadores, complementando assim o fi- de todas as obras, objetos e património
nanciamento público do Instituto do Ci- trazidos das ex-colónias e que estão na
nema e do Audiovisual. posse de museus e arquivos portugueses
de forma a que possam ser restituídos ou
16  Integrar cultura e educação, imple- reclamados pelos Estados e comunida-
mentando o ensino artístico nas esco- des de origem; promovendo a articulação
las como acontece com o desporto e internacional entre especialistas e histo-
formação para a cidadania; promoven- riadores para contextualizar e aprofundar
do uma maior relação entre as escolas a história dos vários locais e regiões, de
e os espaços culturais públicos (biblio- forma a desconstruir estereótipos e ge-
tecas, museus, teatros, bibliotecas, gale- neralizações abusivas e discriminatórias.
rias, espaços naturais e outros); alargan-
do os horários das bibliotecas públicas e 19  Desafiar e Impulsionar a criação de
criando espaços de estudo noturno; fo- planos estratégicos para a cultura nos
mentando a abertura dos equipamentos municípios garantindo que as medidas
escolares — como auditórios e bibliote- implementadas obedecem a linhas claras
cas — à comunidade e criadores; apoiar e definidas em conjunto com a sociedade
projetos culturais na área de integração/ civil de forma a garantir que o trabalho no
inclusão social. sector cultural tem sentido, continuidade,
que envolve as outras áreas do desenvol-
17  Apoiar as dinâmicas de internacio- vimento sustentável e que é avaliado com
nalização dos vários setores de criação rigor e em sintonia com as comunidades.
e produção cultural, articulando as enti-
dades nacionais e o papel do Ministério
da Cultura com as entidades na diáspora,
nomeadamente o Instituto Camões. Es-
timular uma maior mobilidade dos traba-
lhadores da Cultura através de programas
de intercâmbio europeus e internacionais.
Habitação e
Espaço Público
Habitação e 45
Espaço Público

O acesso universal à habitação não pode Universalidade do acesso à habitação


ser só um direito Constitucional de que
nos orgulhamos. Tem que ser um direi- 1  Alcançar 10% de habitação pública,
to que efetivamente faz parte dos obje- como forma de garantir o acesso dos ci-
tivos legislativos, técnicos e governati- dadãos a habitações nos grandes centros
vos da próxima legislatura. Apesar da urbanos e a minimizar a falta de oferta no
dependência económica que o país tem mercado de arrendamento, ao reabilitar
em relação ao investimento estrangeiro imóveis devolutos do Estado (Central e
fomentado pelo enquadramento legisla- Autarquias) para o arrendamento, atra-
tivo criado para o efeito, a especulação vés da aplicação dos fundos do Plano de
imobiliária persiste. Assim, continuamos Recuperação e Resiliência, ou, por forma
a ter um grave problema de habitação, a disponibilizá-los mais rapidamente
assim como, desadequação e falta de no mercado, possibilitar a realização de
qualidade dos espaços públicos. Existe obras a cargo do arrendatário.
uma divergência cada vez maior entre os
rendimentos baixos e médios nacionais 2  Assegurar a ajuda à compra da pri-
e o valor da propriedade urbana, que afe- meira casa, através do Programa Ajuda
tam especialmente as populações mais de Casa, que consiste no financiamento
vulneráveis que são expulsas dos centros até 30% do valor de mercado do imóvel,
urbanos num processo de gentrificação, sob a forma de um empréstimo de Capi-
segregação social e expansão urbana tal Próprio para ajudar no valor de entrada
que é preciso combater. e despesas da compra da primeira casa
destinada à habitação própria, reduzindo
Por isso, defendemos que toda a habita- a desigualdade no acesso à habitação,
ção do Estado é Habitação Pública e que apresentando como contrapartida a ga-
habitação não é só espaço privado mas rantia de fiador. Para ser elegível o custo
todas as dimensões urbanas, infraestru- da habitação não pode ultrapassar o valor
turais e de serviços que contribuem para médio Euros/m2 aferido pelo INE para o
uma vida segura e integrada. Persistem município de localização do imóvel. E, a
diferentes carências na garantia de igual- tipologia da habitação deve correspon-
dade de acesso à habitação e, como tal, é der à constituição do agregado familiar.
necessário definir várias frentes de ação.
3  Estabelecer limites máximos no valor
Propomos medidas organizadas sobre de renda nos imóveis habitacionais de
três eixos: Universalidade do acesso à proprietários que recebem financiamen-
habitação, Regulação do valor da proprie- to de programas promovidos pelo Estado
dade urbana, modelos ecológicos para o (como exemplo o IFRU - Instrumento Fi-
habitar e para o espaço público. nanceiro para a Reabilitação e Revitaliza-
Habitação e 46
Espaço Público

ção Urbanas) para a realização de obras, 7  Garantir transparência no apoio à ha-


até um máximo de 5 anos, que não sejam bitação, substituindo os três regimes
para habitação própria. especiais de fixação de renda (renda
apoiada, condicionada e acessível) por
4  Reformular os programas públicos de um único com critérios que permitam a
apoio ao arrendamento de habitações atribuição de habitação pública de forma
por jovens, através da atribuição da com- mais transversal e universal aos cidadãos.
participação do valor da renda, aumen-
tando: as verbas disponíveis, o tempo de 8  Apoiar as cooperativas habitacionais,
apoio para o mínimo de 36 meses, os va- de autoconstrução e habitação evoluti-
lores de renda máxima admitida por con- va, por forma a capacitar os cidadãos ao
celho e o limite máximo de rendimento nível técnico, formativo e institucional e a
mensal dos candidatos. garantir o acesso a habitação com custos
acessíveis à classe média e aos jovens;
5  Reformular o cálculo do IMI para redu- estabelecer uma bolsa de imóveis para
zir a carga fiscal de cidadãos/famílias e disponibilizar ao sector cooperativo com
incentivo ao arrendamento de longa du- vista a promover o acesso à primeira ha-
ração, por alargamento dos critérios para bitação; possibilitar o acesso às coope-
isenção do pagamento de IMI no caso de rativas ao Fundo de Reabilitação do Edi-
habitação permanente (aumento dos va- ficado (FNRE) para projetos de habitação
lores patrimoniais para 80 000 euros e para venda a custos controlados.
dos rendimentos de referência para 30
000 euros anuais) ou de imóveis com con- Modelos ecológicos para o habitar
tratos de arrendamento de longa duração. e para o espaço público

6  Criar o “Balcão da Habitação”, rede na- 9  Promover a reabilitação e conserva-


cional de atendimento especializado sobre ção do património edificado, melhoran-
questões de habitação e urbanismo, para do o desempenho ambiental de edifícios
Divulgação das Políticas Públicas de Ha- existentes, combatendo a pobreza ener-
bitação, Programas de Incentivo e Finan- gética e garantindo a melhoria da segu-
ciamento e publicando planos em consulta rança sísmica e das condições de habita-
pública, e Apoio técnico especializado quer bilidade dos imóveis existentes através de
de vertente administrativa na prossecução um programa de incentivos de compar-
dos programas estatais de apoio setorial ticipação financeira a 100% até ao limi-
ou geral, quer projetual e jurídica na resolu- te de 100.000€ para edifícios existentes,
ção de problemas individuais e de pequena do Plano de Recuperação e Resiliência,
escala, nomeadamente a proteção da pri- aplicados de forma célere ao simplificar
meira habitação e o apoio ao despejo. os procedimentos administrativos neces-
Habitação e 47
Espaço Público

sários; possibilitar benefícios fiscais para


portivos, etc.), promovendo equipamen-
reabilitações com critérios de sustenta- tos intergeracionais e promotores da au-
bilidade certificados para todo o ciclo de tonomia dos utentes; na rede de serviços
vida dos materiais; classificar, valorizar e
e comércio privados implementando in-
preservar o património imóvel e natural centivos económicos; e na qualificação do
com o envolvimento das comunidades. espaço público (praças, parques infantis,
jardins, etc…) adequado para as crianças
10  Promover a reconversão e reutilização e com especial incidência na melhoria das
de edifícios públicos subutilizados ou ob- condições de mobilidade pedonal, garan-
soletos, incluindo quartéis, prisões e an- tindo as necessidades de pessoas com
tigos hospitais civis, e outros do mesmo mobilidade condicionada.
género, para a criação de novos pólos
públicos de criação de valor social como 13  Consolidar os centros urbanos, esta-
sejam espaços de teletrabalho, centros bilizar os usos do solo, o planeamento e
cívicos, mercados de bairro, casas para o ordenamento do território, continuan-
associações e organizações não-gover- do a contenção da expansão das áreas
namentais e outros espaços de encontro. urbanas iniciadas com a nova geração
de Planos Diretores Municipais (PDM),
11  Estabelecer uma Taxa Municipal ao investir nas zonas atualmente desor-
de Entulho a aplicar ao nível de trans- denadas, segregadas e periféricas, e re-
formação e investimento de forma pro- distribuir de forma justa os benefícios e
porcional à quantidade de demolições mais-valias decorrentes das opções de
e consequente entulho e lixo criado planeamento.
em obra; promover a desconstrução e
reutilização de elementos construtivos. Regulação do valor da propriedade

12  Combater a segregação urbana, Pro- 14  Controlar a especulação imobiliá-


grama Cidade Sem Periferias — ação in- ria, promover o ajustamento do mercado
tegrada que dá prioridade à consolidação imobiliário ao promover a diminuição dos
urbana e melhoria de áreas já ocupadas valores de venda através do aumento do
mas desestruturadas, periodizando nova imposto sobre as mais valias consideran-
construção que sirva para cerzir tecidos do 100% o valor para englobamento sobre
edificados existentes, melhorando a aces- os ganhos derivados da transmissão one-
sibilidade pedonal e ciclável aos transpor- rosa de imóveis no momento da venda de
tes públicos e aos serviços e equipamen- imobiliário que não seja primeira habita-
tos quotidianos e completando a oferta ção; da reformulação da legislação para
de serviços disponíveis (creches, espaços acabar com os Vistos Gold em todo o ter-
comunitários, bibliotecas, campos des- ritório nacional e benefícios fiscais para
Habitação e 48
Espaço Público

residentes não habituais, assim como a


promoção de uma maior fiscalização ao
investimento estrangeiro.

15  Reforçar a exigência legislativa de


adequação de habitações utilizadas para
fins turísticos, nomeadamente o aloja-
mento local, na qual se deve diferenciar a
exploração profissional da dos pequenos
proprietários, estabelecer nos Planos Dire-
tores Municipais limites máximos de área
bruta de construção por freguesia desti-
nada a estabelecimentos hoteleiros; pro-
mover meios efetivos de controlo do Alo-
jamento Local não registado ou a operar
em condições ilegais, através da criação
de uma equipa especializada para o efeito.

16  Reforçar a capacitação técnica do


Estado e a reorganização dos serviços
do Estado que trabalham sobre a habita-
ção. A alteração orgânica e regulamentar
do Instituto de Habitação e Reabilitação
Urbana implica mais recursos técnicos, fi-
nanceiros e administrativos, também para
garantir a aplicação efetiva das verbas do
Plano de Recuperação e Resiliência que
vai gerir. Necessidade de articulação das
várias escalas e serviços de governação
sobre o tema da habitação, sobretudo
entre políticas de desenvolvimento (so-
ciais, económicas, culturais), políticas do
espaço e território (instrumentos de ges-
tão territorial e planos e estratégias se-
toriais) e captação de fundos nacionais,
europeus e internacionais.
Coesão Territorial,
Transportes e Mobilidade
Coesão Territorial, 50
Transportes e Mobilidade

O território, devidamente caracterizado, tomóvel individual tiveram no país, com


ordenado e articulado, é condição fun- um arranjo urbanístico significativamente
damental para o desenvolvimento eco- condicionado a este uso e uma rede ro-
lógico, justo e solidário do país. São es- doviária nacional que não parou de cres-
senciais, para reequilibrar e reorganizar o cer durante as últimas décadas, tendo a
país, cidades médias ativas e requalifica- rede ferroviária decrescido bastante no
das - por si, pela sua inserção em redes mesmo período.
urbanas regionais e pelas suas ligações
às zonas rurais envolventes numa polí- Do ponto de vista da sustentabilidade,
tica de proximidade de bens e serviços será necessário assegurar a abrangência
urbanos e rurais. Só num território coeso necessária, conectando eficazmente as
e interligado se consegue fortalecer os diferentes formas de mobilidade ativa e
laços de comunidade, criar emprego e suave, expandindo e recuperando a rede
oportunidades, produzir bens e serviços, nacional ferroviária eletrificada, suspen-
e preservar o ecossistema natural a uma dendo os incentivos à aquisição de auto-
escala regional. móvel individual e promovendo transpor-
tes públicos de qualidade em todo o país.
As diferenças regionais positivas devem
ser respeitadas e enaltecidas, e as assi- A política de transportes deve respeitar
metrias devem ser gradualmente redu- as necessidades das populações a curto,
zidas. A democratização e horizontaliza- médio e longo prazo. A concentração da
ção do poder permitem o envolvimento população é maior nas áreas metropolita-
de quem melhor conhece cada região, nas, mas todo o território deve ser abran-
possibilitando soluções adaptadas às di- gido por uma rede coesa, socialmente
ferentes realidades e necessidades. justa e funcional, garantindo condições
de mobilidade. Do ponto de vista da jus-
Fundamental para a coesão territorial, tiça social, é particularmente essencial
bem como para concretização das metas garantir a toda a população o acesso a
de combate às alterações climáticas e de transportes públicos de qualidade e com
transição energética do país, é a visão e as condições necessárias à pontualidade
estratégia para os transportes e a mobi- e regularidade dos mesmos.
lidade em todo o território. A rede funda-
mental de transportes, da escala local à Por isso defendemos:
nacional, deve ser abrangente, justa, fun-
cional e sustentável, articulada com as 1  Concretizar o PNPOT — Programa Na-
políticas ambientais, energéticas e de ha- cional da Política de Ordenamento do
bitação. Atualmente, observa-se o efeito Território, conferindo-lhe o papel referen-
que décadas de incentivo ao uso de au- cial que lhe cabe e criando as condições
Coesão Territorial, 51
Transportes e Mobilidade

para que possa desempenhar um efeti- 4  Monitorizar as redes de serviços pú-


vo papel na estruturação de um território blicos, com a criação de uma unidade
hoje muito desorganizado; fomentando técnica, que garanta que não há territó-
a relação policêntrica entre centros ur- rios desprotegidos e que a acessibilidade
banos e a aposta na consolidação das aos serviços é garantida e que o encer-
cidades médias; promovendo a relação ramento ou deslocalização de qualquer
territorial com os espaços rurais para di- serviço público são feitos com base na
namizar as economias locais e procuran- avaliação do impacto na desigualdade
do adotar uma ótica regional na revisão social e territorial.
dos Planos Diretores Municipais (PDM).
5  Estimular as economias regionais,
2  Definir e estabilizar um plano concreto fomentando os mercados regionais e
de infraestruturas e investimento integra- locais, as pequenas e médias iniciati-
do com o PNPOT e que inclua um Plano vas e as redes de produção e consumo
Nacional de Mobilidade, planeando a mé- local; promovendo o associativismo e a
dio-longo prazo com uma verdadeira aná- cooperação entre produtores; limitando
lise de ciclo de vida e de externalidades o licenciamento de grandes superfícies
da construção e operação, articulando as e defendendo os mercados municipais
necessidades de todos os setores e tendo como ponto de comercialização de pro-
em conta as evoluções tecnológicas, de- dutos locais; localizando as plataformas
mográficas e climáticas perspetivadas; logísticas e parques empresariais pro-
prevendo nomeadamente a evolução das movidos pelas autarquias de forma a po-
redes ferroviárias e de metropolitanos, in- tenciar as sinergias entre empresas, ins-
cluindo ligações de alta velocidade e de tituições públicas e da Sociedade Civil, a
transporte de mercadorias, articulada com ligação a redes de transporte ferroviária
um plano de aquisição e reparação de e rodoviária, e dotando-os de sistemas
comboios e material circulante. de transporte público com os principais
aglomerados populacionais da região;
3  Reorganizar e coordenar os serviços adotando políticas de compras públicas
desconcentrados a partir das Comissões locais, orientadas prioritariamente para
de Coordenação e Desenvolvimento Re- ofertas ecológicas e com garantia de
gional (enquanto não avança o processo qualidade alimentar; implementando es-
de regionalização), integrando as funções quemas de moedas locais.
que hoje já detêm – planeamento regio-
nal, ordenamento do território, ambiente 6  Discriminar positivamente o interior,
e gestão de fundos estruturais – com as criando novos incentivos fiscais para
de educação, cultura e economia, incluin- quem se fixe no interior ou para empre-
do a agricultura. sas que criem empregos no interior.
Coesão Territorial, 52
Transportes e Mobilidade

7  Reformular a composição das NUTS que deve ser sujeita a uma Avaliação Am-
dentro da NUT II da Área Metropolitana biental Estratégica sem condicionamento
de Lisboa, criando uma NUT III para a prévio de localização; regulando o espaço
Península de Setúbal e outra para a Pe- aéreo e limitando os seus horários para
nínsula de Lisboa, para diferenciar áreas evitar vôos noturnos.
com rácios de desenvolvimento tão dis-
tintos e permitir assim o acesso a fundos 11  Definir um plano estratégico integra-
comunitários para a criação de infraestru- do para o futuro da TAP enquanto com-
turas essenciais na Península de Setúbal. panhia pública nacional, que acompanhe
o necessário decrescimento do setor
8  Agilizar e terminar o cadastro nacio- aéreo, desenhado e executado com o
nal da propriedade rústica para viabili- envolvimento dos trabalhadores da TAP
zar progressivamente a disponibilização e onde devem constar o compromisso
de terras para novos projetos de trabalho, pela eficiência energética dos voos e da
preferencialmente cooperativo, com o redução de emissões por parte da em-
apoio técnico dos serviços públicos, bem presa, a forte articulação com a CP para
como agilizar a gestão florestal no terreno. a substituição de voos internos e ibéri-
cos, um programa de reconversão dos
9  Assegurar a continuidade territorial postos de trabalho suprimidos ou que
para as regiões autónomas, mantendo se tornem obsoletos e a aposta no ramo
um preço máximo por viagem para os de investigação e desenvolvimento nas
habitantes das ilhas que viajem entre as áreas de engenharia aeronáutica, enge-
ilhas e o continente e entre ilhas. nharia de materiais e manutenção da TAP
como forma de criação de valor científico
10  Limitar o transporte aéreo às ligações e económico assente no desenvolvimen-
onde é efetivamente necessário e mini- to sustentável e ecológico.
mizar os seus impactos; garantir que o
preço de uma viagem de avião não possa 12  Fomentar o transporte adequado a
ser inferior ao da mesma viagem de com- cada deslocação, tendo em conta a sua
boio no território nacional; retirando a sustentabilidade e conveniência; asse-
isenção dos impostos sobre o combus- gurando integração horária, tarifária e de
tível às companhias aéreas; estudando acessibilidade entre todos os modos e a
alternativas de localização para os aero- todas as escalas, desde local à interna-
portos atualmente em zonas urbanas; tra- cional; criando um “passe de mobilidade
vando a construção de quaisquer novos nacional”, acessível a toda a população,
aeroportos em zonas ambientalmente e que possa ser usado nas redes locais
sensíveis, como é o caso da proposta de (e nessas redes estão incluídos todos os
novo aeroporto para a região de Lisboa modos que as servem, incluindo táxis);
Coesão Territorial, 53
Transportes e Mobilidade

melhorando as condições para viagens passe para todos os estudantes nos per-
de trabalho e viagens noturnas no trans- cursos entre a casa e a escola.
porte ferroviário; prevendo transporte fle-
xível e a pedido nas zonas urbanas e nas 14  Reformular o Imposto Sobre Veículos
zonas de baixas densidades; definindo ní- e o Imposto Único de Circulação em fun-
veis de qualidade de serviço para o trans- ção de critérios ambientais (com base na
porte público e respetivos modelos de Avaliação do Ciclo de Vida) e de eficiência
negócio, prevendo uma maior articulação energética.
e regulação das empresas de transportes
- públicas e privadas; desincentivando o 15  Avaliar o impacto financeiro e am-
uso e a propriedade do automóvel privado biental da gratuitidade dos transportes
em zonas bem servidas por outros modos. públicos através da realização de estudos
dedicados.
13  Reduzir a dependência do transporte
automóvel privado e acelerar a redução e 16  Investir no transporte ferroviário, re-
a eletrificação do parque automóvel exis- duzindo em 50% os tempos da viagem
tente, pondo em prática as medidas prio- ferroviária no eixo Setúbal-Lisboa-Porto
ritárias do Programa Nacional da Política -Braga-Vigo até 2030 e renovando a liga-
de Ordenamento do Território relativas à ção Lisboa-Madrid. Pretende-se o inves-
avaliação prévia do impacto da delimita- timento numa rede de alta velocidade, em
ção de grandes zonas monofuncionais e articulação com a existente, que permita
novas urbanizações que sejam muito de- aumento de capacidade, frequência e de
pendentes do transporte individual; pro- velocidade entre as cidades da península
mover planeamento urbano de proximida- ibérica; apostando nos comboios notur-
de; integrar todo o sistema de transportes nos nacionais e internacionais; garantindo
de modo a conferir-lhe a flexibilidade as- que o preço de uma viagem de avião não
segurada pelo automóvel, através de em- possa ser inferior ao da mesma viagem
presa pública vocacionada para a promo- de comboio; saneando a dívida histórica
ção das energias renováveis e da gestão da CP; garantindo a articulação dos servi-
de uma rede nacional de transportes pú- ços regionais e urbanos com outros trans-
blicos sustentável; abandonar a venda de portes públicos e com os modos ativos
veículos com motor a combustão interna de deslocação, prevendo-se o estaciona-
a partir de 2030, pressionando fabricantes mento seguro de bicicletas.
para a redução do preço dos veículos elé-
tricos; continuar o investimento na rede 17  Assegurar um transporte de merca-
pública de carregadores elétricos; promo- dorias sustentável e seguro, promoven-
vendo os esquemas de partilha e aluguer do o investimento em redes de transporte
temporário de veículos; subsidiando o de mercadorias que permitam diminuir a
Coesão Territorial, 54
Transportes e Mobilidade

pegada ecológica dos bens produzidos, escolas e nas empresas para que o aces-
ao nível local e nacional, promovendo, em so assim seja feito; prevendo investimen-
especial, a exportação para a Europa por to para a implementação da Estratégia
via ferroviária. Nacional para a Mobilidade Ativa (ENMA
2020-2030).
18  Atribuir à segurança rodoviária abso-
luta prioridade, reduzindo a velocidade 20  Acautelar que as evoluções tecno-
máxima em zonas urbanas para 30 km/h, lógicas na mobilidade servem o bem
promovendo as área de coexistência com comum e reduzem as desigualdades,
velocidade máxima de 20 km/h e motivan- promovendo a partilha de veículos e não
do um desenho do espaço público que a sua propriedade; regulamentando para
priorize os transportes públicos, os peões que o transporte público não seja caniba-
e a utilização da bicicleta como meio de lizado pelo transporte individual; preca-
transporte em meio urbano. Passar de vendo a perda de empregos associados
uma lógica de responsabilidade individual à mobilidade e fomentando a formação
para uma lógica sistémica, exigindo que desses trabalhadores noutras áreas; pre-
o ambiente urbano desmotive o tráfego cavendo a gestão pública do espaço e da
automóvel e o excesso de velocidade, de mobilidade integrada, inclusive no espa-
forma a que as falhas humanas (que ine- ço aéreo de baixa altitude para drones e
vitavelmente ocorrem), não resultem em veículos voadores; procurando que o con-
acidentes fatais. sumo energético e a emissão de gases
de efeito de estufa diminuam e não au-
19  Fomentar a mobilidade pedonal, em mentem; aproveitando a automação e a
bicicleta e noutros modos ativos, revita- conectividade para um eficiente uso do
lizando os centros urbanos e apostando espaço urbano.
na sua habitabilidade e espaço público;
eliminando de barreiras tarifárias, de in-
formação e físicas entre todos os modos;
concretizando a rede ciclável nacional,
regional, intermunicipal e urbana inter-
ligada, permitindo a deslocação útil nas
atividades diárias para o trabalho, família
e lazer dentro de e entre os municípios;
alargando os incentivos financeiros como
a redução do IVA para todos os veículos
de modos ativos ou suaves e a inclusão
das despesas com a sua reparação no
IRS; criando condições e incentivos nas
Emergência Climática
e Energia
Emergência Climática 56
e Energia

Queremos resolver o desafio das altera- total de energias renováveis e dando prio-
ções climáticas com urgência, alterando ridade à eficiência energética. E porque é
ambiciosamente a política energética em essencial assegurar que a transição seja
Portugal. feita de forma socialmente justa e equita-
tiva, merecem idêntica prioridade o com-
O combate às alterações climáticas é bate à pobreza energética e ao aumento
um dos maiores desafios globais que a das desigualdades esperado pelos efei-
humanidade alguma vez teve de enfren- tos das alterações climáticas, para evitar
tar. Exige uma articulação global entre as um “apartheid climático”.
nações com um grau de responsabilida-
de verdadeiramente civilizacional. Tendo Este não é apenas um desafio que rela-
em conta o enorme contributo para as ciona clima e energia. Igualmente impor-
emissões globais de gases com efeito tante será a articulação com todos os ou-
de estufa que a produção, distribuição tros setores: da mobilidade sustentável e
e consumo de energia providenciam, a prioritariamente coletiva à conservação
evolução das políticas energéticas, na da natureza e práticas agrícolas e flores-
União Europeia e em Portugal, teve de tais que potenciam o sequestro de car-
ajustar-se aos compromissos assumidos bono e reduzem as emissões de metano;
no âmbito do Protocolo de Quioto e, nos da aposta na ciência e nos investigadores
últimos anos, do Acordo de Paris e de portugueses para introduzir a inovação
Glasgow. Contudo, as metas assumidas necessária à modernização da gestão
pelo atual governo não permitirão contri- das redes e às formas de armazenamen-
buir para um esforço conjunto que asse- to de energia, ao reforço das interligações
gure um aumento da temperatura média energéticas internacionais.
global abaixo dos 1,5 °C em relação ao
período pré-industrial. Acima de tudo, a transição é também uma
grande oportunidade de fomentar um de-
Portugal precisa de assumir metas mais senvolvimento ecológico e solidário, para
ambiciosas, acelerar o passo e desem- gerar milhares de empregos climáticos e
penhar um papel de liderança a nível eu- para descentralizar, reduzindo perdas e
ropeu e global. reforçando a liberdade dos cidadãos para
se organizarem e, individualmente ou em
Para o LIVRE, é fundamental enfrentar o cooperativas, consumirem ou comercia-
desafio das alterações climáticas com lizarem a energia que produzam local-
todo o esforço necessário e não apenas mente. O mercado liberalizado de energia
o conveniente. Para tal é necessário des- da Península Ibérica favoreceu, até hoje,
carbonizar ativamente, reduzindo o con- grandes empresas. É tempo de favorecer
sumo, transitando rapidamente para o uso os cidadãos.
Emergência Climática 57
e Energia

Por isso defendemos: ropeias para uma saída coordenada dos


vários Estados-Membros da UE. O gover-
1  Declarar a emergência climática na- no português deve acompanhar França,
cional, atribuindo ao desafio de combate Espanha e outros países da UE defen-
às alterações climáticas a urgência civili- dendo publicamente o abandono coletivo
zacional que efetivamente representa, de deste acordo, que constitui o maior obs-
forma inequívoca e mobilizadora; criando táculo à luta contra as alterações climá-
uma “Task-force” para a crise climática, ticas na Europa, e uma perigosa ameaça
que acompanhe a evolução das emissões para as finanças públicas.
de GEE, e tenha base legal para avançar
com a implementação de medidas de 5  Assumir uma redução do consumo
carácter urgente; garantindo que Portu- energético verdadeiramente eficaz, indo
gal cumpre os objetivos traçados, quer na para além dos 35% atualmente assumidos
redução de emissões, quer na mitigação / para 2030 e promovendo uma estratégia
adaptação às alterações climáticas. global de redução do consumo, assente
numa capacidade industrial com baixa in-
2  Reivindicar a adesão dos Estados tensidade em carbono e complementada
Membros da União Europeia à Neutrali- com educação para o consumo sustentável.
dade Carbónica no máximo em 2050, em
cumprimento da estratégia para a neutra- 6  Dar prioridade ao aumento da efi-
lidade carbónica da União Europeia mas ciência energética, enquadrada num re-
incluindo a consideração do transporte novado Plano Nacional para a Eficiência
aéreo e marítimo na pegada carbónica Energética (PNAEE) e adotando uma me-
dos países. todologia baseada em indicadores de in-
tensidade energética. O aumento de efi-
3  Assumir uma redução de 65% das ciência irá abranger todos os setores de
emissões nacionais de gases com efeito atividade, incluindo a indústria, os trans-
de estufa até 2030, promovendo igual es- portes, as habitações, os equipamentos,
forço internacional, ultrapassando a meta entre outros.
de até 55%% assumida pelo governo e
dando resposta aos cenários que apon- 7  Mobilidade mais eficiente, implemen-
tam a necessidade desta aceleração para tando políticas de mobilidade baseadas
manter o aumento da temperatura média na redução da necessidade das deslo-
global abaixo dos 1,5 °C em relação ao pe- cações, no desincentivo do uso de auto-
ríodo pré-industrial. móvel individual, na aposta nos transpor-
tes públicos e partilhados, e na redução
4  Rejeitar o Tratado da Carta da Energia, acentuada do uso de combustíveis fós-
pugnando no âmbito das instituições eu- seis e otimização destes.
Emergência Climática 58
e Energia

8  Fomentar a Neutralidade Carbónica dos transportes; concretizando 100% de


dos Serviços públicos até 2030; através renováveis na eletricidade consumida em
da eletrificação de todas as frotas de veí- Portugal em 2030.
culos, nas diferentes categorias, em todas
as administrações Municipais, Regionais 11  Cessar os incentivos às fontes de
e Nacionais; apostando forte no aprovei- energia com elevado impacto na biodi-
tamento fotovoltaico / térmico em todo o versidade, cancelando a atribuição de
edificado público, e compensando a pe- subsídios à construção de novas barra-
gada carbónica de todos os serviços. gens ou infraestruturas associadas.

9  Edifícios e equipamentos mais efi- 12  Incentivar o desenvolvimento da


cientes, implementando a revisão do indústria solar fotovoltaica e térmica,
Regulamento de Eficiência Energética dando especial relevo à produção des-
nos Edifícios de Habitação e de Serviços, centralizada de energia para autoconsu-
reformando o atual sistema de certifica- mo e à ocupação preferencial de super-
ção energética para que os certificados fícies urbanas; através da redução de IVA
reflitam efetivamente o desempenho na aquisição de equipamentos solares;
energético do edificado e incentivando reforçando os programas de apoio à aqui-
a renovação e reabilitação dos edifícios sição de equipamentos, e financiando a
atuais, sobretudo do respetivo isolamen- ligação à rede de sistemas de Unidades
to térmico e climatização passiva, bem de Produção para Autoconsumo.
como a substituição dos equipamentos
pouco eficientes em fim de vida, revendo 13  Promover as Comunidades de Ener-
também as regras de rotulagem energé- gia Renováveis (CER) e democratizar o
tica destes equipamentos e atribuindo os acesso à produção de energia elétrica
apoios necessários a cidadãos, empre- a partir de fontes renováveis, nomeada-
sas e instituições, de forma a reduzir o mente através do incentivo à formação
período de retorno do investimento para de cooperativas de produtores e apoio às
menos 3 anos. existentes, fornecimento dos edifícios pú-
blicos através destas cooperativas, sem-
10  Apostar de forma verdadeiramente pre que possível, promover a participação
ambiciosa e continuada nas fontes de cidadã em Comunidades de Energia Re-
energia renováveis, indo para além das novável e Comunidades de Cidadãos para
metas assumidas atualmente e que colo- a Energia, sem condições discriminató-
cam a introdução de renováveis no con- rias, devendo ser respeitados os direitos
sumo final bruto de energia em apenas dos consumidores, apoiar as cidadãs e os
47% para 2030, ambicionando muito mais cidadãos no acesso à informação técni-
do que os 20% assumidos para o setor ca e financeira relacionada com a criação
Emergência Climática 59
e Energia

das Comunidades de Energia e incentivar desenvolvimento de soluções para o ar-


as Comunidades de Energias Renováveis mazenamento energético que tirem o
no desenvolvimento de objetivos sociais, melhor partido da capacidade crescente
como a luta contra a pobreza energética nos transportes elétricos e outros equi-
e o desenvolvimento de modelos de soli- pamentos com capacidade de armaze-
dariedade para ajudar os seus membros namento e explorem opções como o uso
mais vulneráveis. do hidrogénio.

14  Democratizar e incentivar o acesso 17  Estudar a aposta no hidrogénio verde,


à produção e distribuição de energia investindo na pesquisa e desenvolvimento,
elétrica a partir de fontes renováveis bem como na concretização de projetos
para reduzir a dependência externa, re- de produção e distribuição através de rede
negociando as concessões na produ- nacional, e na eventual criação de uma
ção, transporte e distribuição de energia empresa pública - Hidrogénio de Portu-
elétrica para dar espaço à iniciativa local, gal. Portugal, afirmando-se como líder na
incentivando a formação de cooperati- geração de eletricidade a partir de fontes
vas de produtores e dando o necessário renováveis, pode também tornar-se um
apoio às existentes, retirando as exigên- exemplo na produção de hidrogénio verde.
cias financeiras elevadas para a entrada Para tal, deve tirar-se partido do Plano de
das cooperativas no mercado da distribui- Recuperação e Resiliência que tem uma
ção da energia elétrica. componente (C14) dedicada à energia re-
novável e onde se inclui o hidrogénio.
15  Criar uma empresa pública vocacio-
nada para a promoção das energias re- 18  Promover a inovação e desenvolvi-
nováveis e da gestão de uma rede nacio- mento em reciclagem de baterias e em
nal de transportes públicos sustentável novas formas mais eficientes de armaze-
que, à escala local, regional ou nacional, namento de energia elétrica que permi-
minimize as emissões considerando todo tam a redução da extração mineira, imple-
o ciclo de vida, minimizando também o mentando uma estratégia nacional para a
efeito de fragmentação dos habitats atra- recolha e reciclagem das baterias elétricas.
vessados.
19  Criar uma taxa universal sobre o car-
16  Investir no incremento das interliga- bono, no quadro de uma reforma fiscal
ções energéticas, explorando o potencial ambiental, internalizando dessa forma
existente na ligação entre Portugal e Es- as externalidades geradas, assegurando
panha, assumindo a meta de 20% para equidade social através de uma aborda-
2030, apostando em redes inteligentes, gem que resulte em neutralidade fiscal,
no reforço da cooperação regional e no por exemplo através da redução da tribu-
Emergência Climática 60
e Energia

tação sobre o trabalho, complementando pamentos já produzidos e a importação


com a eliminação de subsídios ou ecota- destas matérias-primas deve estar sujeita
xas ambientalmente prejudiciais, aplican- a critérios de sustentabilidade nos países
do os princípios do poluidor-pagador e de origem.
utilizador-pagador e incentivando o paga-
mento de serviços dos ecossistemas ou 23  Adaptar o país e mitigar o efeito dos
o investimento em eficiência energética fenómenos climáticos extremos, definin-
ou demais medidas de caráter ambiental. do um Plano de Infraestruturas Críticas,
mapeando os locais onde estes fenóme-
20  Reduzir o escalão do IVA de 23% nos poderão ter maior impacto; apoiando,
para 6% em todos serviços essenciais através dos subsídios adequados, solu-
de fornecimento de energia, mais con- ções baseadas na natureza que através
cretamente na eletricidade e no gás en- da promoção, reabilitação e manutenção
garrafado, para diminuir os encargos das dos ecossistemas, habitats e infraestru-
famílias, uma vez que, até ao momento, turas verdes, aumentem a resistência e
apenas tiveram lugar reduções pontuais resiliência do território; reforçando a Pro-
nalgumas tarifas. teção Civil.

21  Implementar um programa de substi- 24  Manter a rejeição da exploração de


tuição da utilização da botija de gás en- gás de xisto através da fratura hidráulica,
garrafado por equipamentos energéticos mantendo o território nacional isento dos
mais eficientes e ambientalmente mais riscos associados a este modo de extração.
sustentáveis.
25  Gerir o risco nuclear para Portugal,
22  Rejeitar a mineração a céu aberto, em particular o risco de poluição radioa-
para extração de lítio ou outros minérios tiva no rio Tejo, cooperando com a Espa-
necessários à transição energética sem- nha no sentido de desenvolver um plano
pre que as condições naturais de jazida para níveis mínimos de risco nuclear na
minerais o permitam, licenciando modos Península Ibérica. Seguir atentamente o
de extração mais seguros e responsáveis, desenvolvimento de novas tecnologias
sujeitando todas as potenciais conces- de produção de energia nuclear (como
sões não apenas a Estudos de Impacto os small modular reactors, ou a fusão nu-
Ambiental (EIA) mas também a Avaliações clear), que poderão contribuir para a des-
Ambientais Estratégicas (AAE) no contex- carbonização, assim como dar resposta
to das regiões e à escala do país. A utili- ao crescente consumo energético.
zação destes recursos minerais deve dar
prioridade à obtenção a partir de escom-
breiras de minas, da reciclagem de equi-
Economia Circular
Economia Circular 62

É urgente a transição para uma econo- Por isso defendemos:


mia verdadeiramente circular, na qual os
resíduos e os impactos decorrentes das 1  Assumir, com o destaque necessário,
atividades e da produção sejam redu- a implementação da Economia Circular,
zidos ao mínimo. Para tal, é necessária em Portugal, assegurando a mobilização
uma estratégia integrada de redução do de recursos do Plano de Recuperação e
consumo e de redução do desperdício Resiliência, do Portugal 2030 e dos diver-
e repensar o desenho dos produtos e sos Programas Operacionais regionais e
sistemas de forma a eliminar tudo o que sectoriais, assegurando a implementa-
seja descartável e incorporar resíduos de ção célere das medidas preconizadas no
umas atividades como matérias-primas Plano Estratégico para os Resíduos Urba-
de outras. Esta estratégia integrada só é nos (PERSU) 2030, e alavancando proje-
possível trabalhando simultaneamente tos estruturantes que permitam recupe-
a todas as escalas - local, regional, na- rar o atraso na concretização das metas
cional, europeia e mundial, numa lógica nacionais a respeito dos resíduos urba-
de cooperação e de trabalho para o bem nos, assumindo novas metas nacionais de
comum, numa transição para um mode- redução, preparação para reutilização e
lo de desenvolvimento ecológico e soli- reciclagem, deposição de resíduos urba-
dário que não se foque no crescimento nos biodegradáveis em aterro, e taxa de
económico. utilização dos próprios aterros.

Esta alteração de paradigma deve focar- 2  Promover a consideração de todo o


se sobretudo na regulamentação da ati- ciclo de vida dos produtos, incluindo as
vidade industrial, principal geradora de suas externalidades, em todos os proje-
resíduos e emissões de gases de efeito tos e análises, promovendo a investiga-
de estufa, mas também nas empresas e ção contínua sobre a metodologia e os
no consumo pessoal. pressupostos que devem ser adotados.

Dado que as instituições públicas estão 3  Criar apoios específicos para a alte-
entre os principais consumidores a nível ração de processos produtivos que per-
europeu, o Estado tem um papel muito mitam a substituição de matérias primas
relevante na promoção das compras com elevada pegada ecológica, a incor-
ecológicas, de forma a influenciar o mer- poração de matérias primas locais, e a
cado e promovendo efetivamente o de- optimização de métodos de produção.
senvolvimento de produtos e tecnologias
mais sustentáveis. 4  Minimizar a produção de resíduos in-
dustriais, legislando e criando padrões
de qualidade que permitam a utilização
Economia Circular 63

de resíduos como matérias-primas se- 7  Defender o direito à fabricação e re-


cundárias noutros processos industriais paração, apoiando os negócios de repa-
e avançando com a marcação ambiental ração, incluindo os cooperativos como os
de produtos. “repair” cafés; democratizando a tecno-
logia da fabricação digital (ex. impressão
5  Não exportar lixo para outros países 3D), distribuída e aberta e garantindo a im-
nem importar, a não ser resíduos que re- plementação de protocolos, formatos de
queiram tratamento específico, devendo transferência e standards abertos, e tam-
todos os resíduos nacionais ser proces- bém interoperabilidade entre a indústria,
sados e tratados em Portugal; a única ex- cidadãos e comunidades; fomentando a
ceção deverão ser os resíduos a exportar existência de manuais de reparação dos
que constituam, comprovadamente, ma- eletrodomésticos, circuitos, esquemas de
téria-prima para produtos a serem produ- montagem e de fabricação, máquinas e
zidos num outro país. mecanismos.

6  Acabar com a obsolescência pro- 8  Sensibilizar para a importância da


gramada e instigar produtos de longa economia circular e do consumo respon-
duração, pressionando para a imple- sável, através de campanhas sobre os vá-
mentação a nível nacional e europeu rios R - recusar, reduzir, reparar, rot (com-
de um programa para combater a ob- postagem), reutilizar e só depois reciclar.
solescência programada; favorecendo
os produtos “feitos para durar” e que 9  Fomentar a partilha e a reutilização,
permitam reparação ou substituição de criando incentivos para bancos comuni-
componentes; promovendo a produção tários de bens de utilização esporádica;
com qualidade, de produtos com eleva- incentivando o aluguer de bens e produ-
do valor de mercado e que não estejam tos; criando programas de partilha nas es-
alinhados com a filosofia de “obsoles- colas; facilitando o mercado de bens em
cência programada”, e que permitam as- segunda mão.
sociar à marca “made in Portugal” um
rótulo de responsabilidade ambiental, 10  Introduzir nova ambição nas metas
durabilidade e fiabilidade; criminalizando estabelecidas para a reciclagem em Por-
a obsolescência programada proposita- tugal, assumindo a meta de atingir uma
da; taxando os negócios que produzem taxa de reciclagem final de 80% em 2030,
produtos de utilização limitada (exce- investindo em novo mobiliário urbano,
to em situações específicas, como nos moderno e de proximidade; adequando
consumíveis de saúde) e proibindo os as frotas de recolha às exigências do séc.
produtos descartáveis cujos impactos XXI, de forma a conseguir diferenciar tam-
sejam particularmente severos. bém os resíduos orgânicos, eletrónicos,
Economia Circular 64

entre outros; e dotando os Ecocentros 14  Promover uma alimentação simulta-


com mais e melhores meios, de forma a neamente saudável e sustentável, garan-
estarem mais perto da população. tindo que os produtos não locais incluem
o custo e as externalidades do seu trans-
11  Reforçar a recolha e reciclagem de porte no seu preço final; apoiando a com-
lixo eletrónico e elétrico por todo o país, pra de alimentos sazonais e de produção
aumentando o número de pontos de re- local para cantinas e instituições públicas;
colha, lançando campanhas de recolha promovendo a utilização de produtos bio-
de eletrodomésticos e equipamentos lógicos ou de produção integrada; dando
danificados ou obsoletos, garantindo o continuidade à Estratégia Nacional de
seu tratamento, desmantelamento e re- Combate ao Desperdício Alimentar.
ciclagem.
15  Garantir compras públicas ecológi-
12  Diminuir o desperdício em embala- cas, implementando um sistema de mo-
gens, instituindo a utilização apenas das nitorização que garanta a boa execução
embalagens estritamente necessárias, da Estratégia Nacional para as Compras
incluindo face ao tamanho do produto a Públicas Ecológicas 2020, aumentando o
embalar limitando a dimensão das em- valor ponderado dos fatores ecológicos
balagens a uma percentagem máxima no custo final e requerendo uma análi-
do volume original do produto excluindo se ao ciclo de vida do produto que inclua
acessórios; proibindo a utilização de em- todos os custos externalizados na avalia-
balagens não recicláveis; fomentando a ção do custo dos produtos e serviços.
venda a granel.
16  Limitar a publicidade no espaço pú-
13  Diminuir o impacto da indústria da blico, reduzindo o número de “outdoors”
roupa e moda, diminuindo a utilização de e “MUPIs”, entre outros, de forma a dimi-
tecidos e materiais que não libertam mi- nuir a poluição visual, a poluição luminosa
cropartículas nas lavagens e promovendo e o consumo energético associados ao
a sua substituição por outros ecologica- atual sistema consumista e de dominação
mente sustentáveis; incluindo progressi- pelas grandes marcas e multinacionais.
vamente o custo ambiental e humano da
produção do vestuário; fomentando a reu-
tilização e reciclagem local da roupa pro-
duzida; proibindo a queima de roupa não
vendida e garantindo que as empresas
operam de forma sustentável, responsa-
bilizando-se por todo o ciclo de vida dos
seus produtos.
Agricultura e Florestas
Agricultura e Florestas 66

Queremos um território que nos alimente até nalguns casos beneficiar de volta a
e proteja, reequilibrando a agricultura, a biodiversidade, enquanto nos fornece
floresta e a natureza. alimento e sequestra carbono. Florestas
maduras e dominadas por folhosas for-
Em Portugal, os usos do solo relacionados necem-nos recursos naturais, providen-
com a agricultura, a floresta e a conser- ciam habitats diversos, amenizam o clima,
vação da natureza estão profundamente sequestram carbono, retêm, produzem
interligados porque coexistem frequen- e reabilitam o solo e água, e reduzem a
temente nas mesmas áreas, sendo fun- probabilidade do fogo descontrolado e de
damental assegurar o equilíbrio do qual uma veloz propagação.
emerge a sustentabilidade. Estes dife-
rentes usos causam recíproca e simulta- No seu conjunto, a agricultura, as flores-
neamente impactos positivos e negativos, tas e a conservação da natureza, bem
sendo que nalgumas áreas se deve pri- geridas, podem sustentar setores vitais
vilegiar a agricultura, noutras a conser- para a economia nacional no curto, médio
vação da natureza e da biodiversidade e e longo prazos, criando continuamente
noutras ainda o uso florestal. valor acrescentado, gerando e mantendo
muitos empregos tanto no litoral como no
Num país em que a propriedade rural é interior despovoado.
maioritariamente privada, mas o cadastro
não está completo, dificultando a gestão, É esta a visão integrada que o LIVRE pro-
pretendemos mobilizar o Estado, os pro- põe para assegurar segurança alimentar,
prietários, a ciência, a sociedade civil e para combater as alterações climáticas
as empresas para uma gestão conjunta e e para travar o declínio da biodiversidade,
articulada do território, assumindo dessa tornando o nosso território mais resisten-
forma um conceito de gestão compatível te e resiliente.
com o da “Casa Comum da Humanidade”.
Por isso defendemos:
Tanto a agricultura intensiva como a produ-
ção florestal de monoculturas (sobretudo 1  Concluir o Plano Estratégico da PAC
de exóticas) devem ser minoritárias face 2023–2027, tirando o melhor partido dos
aos modos de produção extensivos, sus- contributos resultantes dos processos
tentáveis, autóctones e multifuncionais. de consulta alargada, promovendo com
rapidez as alterações necessárias para
No LIVRE sabemos que uma agricultura dar início à transformação e moderniza-
de precisão, biológica ou não, mas eco- ção da agricultura e da gestão florestal ou
logicamente integrada, beneficia da bio- agro-silvo-florestal/pastoril, promovendo
diversidade, concilia-se com esta e pode o acesso a novas tecnologias e a abso-
Agricultura e Florestas 67

luta precisão nos recursos que consome 4  Criar o Observatório da Alimentação,


e compostos que utilize, e que promova em plena articulação com o Plano Es-
verdadeiramente o agricultor a gestor do tratégico da PAC 2023–2027, que ajude
território, prevendo pagamentos pelos a promover prioridades na produção de
serviços prestados, sejam estes de pro- algumas variedades, avaliando e monito-
dução alimentar, regulação climática ou rizando com regularidade o que se produz
conservação da natureza e da (agro)bio- e consome em Portugal, incentivando os
diversidade, entre outros. sistemas produtivos necessários para re-
duzir escassez de oferta no mercado in-
2  Estabelecer, no Plano Estratégico da terno, reduzindo a dependência externa, e
PAC 2023-2027, as tipologias de Pequeno promovendo lógicas de produção e con-
Agricultor Familiar e Pastor Florestal, ma- sumo local articuladas com os objetivos
jorando em 5% os apoios públicos recebi- de uma verdadeira economia circular.
dos pelos primeiros e privilegiando residen-
tes locais para os últimos, disponibilizando 5  Reativar todos os laboratórios do Es-
formação, acompanhamento técnico, equi- tado dedicados à investigação, inova-
pamento e infraestruturas (como as casas ção e desenvolvimento da agricultura
florestais reabilitadas). Junto dos Pastores e das florestas, bem como os viveiros e
Florestais, estimular a gestão de efetivos estações agrícolas, gerando vagas para
pecuários de pequenos ruminantes ou es- a contratação de investigadores, com-
pécies de ruminante selvagens, adotando plementando estas estruturas com in-
maneio holístico, visando a gestão da vege- cubadoras e aceleradoras de empresas
tação natural e do combustível acumulado, cuja atividade venha a suportar ou adi-
por via da herbivoria, bem como o enrique- cionar valor ao resultado de toda esta
cimento do solo em termos de matéria or- atividade, demonstrando oportunida-
gânica através dos resíduos orgânicos dei- des comerciais, formando continuamen-
xados e o estímulo à sucessão vegetal nas te os produtores e privilegiando metas
zonas áridas, através da sua passagem. como o combate, mitigação e adapta-
ção às alterações climáticas, a conser-
3  Reconhecer o papel da mulher na vação da natureza e da biodiversida-
agricultura, promovendo a valorização e a de — incluindo o património genético.
visibilidade da mulher agricultora, em es-
pecial na agricultura familiar, incentivan- 6  Travar a expansão de sistemas de
do a sua participação cívica e associativa produção insustentáveis, privilegiando
através da sua capacitação, contribuindo modos de produção que permitam a imple-
para a melhoria das suas condições de mentação simultânea de medidas benéfi-
vida e reduzindo a desigualdade entre ho- cas para a biodiversidade, a manutenção
mens e mulheres. ou recuperação dos solos e assim propor-
Agricultura e Florestas 68

cionando usos futuros do solo alternativos, (PAC), em contradição com os objetivos


e a minimização do uso de agroquímicos e que fundamentam essa política pública a
dos recursos naturais necessários à pro- nível comunitário e nacional.
dução; desenvolvendo e apoiando proto-
colos de recolha e tratamento de resíduos 10  Combater e inverter o avanço do pro-
e remanescentes de produtos fitofarma- cesso de desertificação que afeta grande
cêuticos descontinuados, proibidos ou parte dos solos, através, por exemplo, do
sem autorização de venda. sistema de montado, revendo e moderni-
zando o Programa de Ação Nacional de
7  Desenvolver uma ferramenta digital Combate à Desertificação para o período
pública, e em código aberto, para a re- 2021-2027, integrando-o com as medidas
colha de dados relativos à estrutura da apoiadas no âmbito do Plano Estratégico
exploração agrícola, presença de habi- da PAC 2023-2027, bem como num rotei-
tats semi-naturais, adoção de boas prá- ro com o horizonte de 2050, articulando
ticas agrícolas e na relação laboral com para esse fim as políticas setoriais rela-
os trabalhadores agrícolas, promovendo cionadas com a agricultura, a pecuária, a
a utilização desta ferramenta por todos os floresta, a conservação da natureza e o
agricultores que recebam apoios públicos. combate, mitigação e adaptação às alte-
rações climáticas.
8  Tirar partido da avaliação da distribui-
ção e estado das espécies e habitats, 11  Privilegiar a produção de variedades
levada a cabo para fins de conservação autóctones e tradicionais, valorizando
da natureza e da biodiversidade, cruzan- esse património agronómico, permitin-
do os dados georreferenciados disponí- do também a produção de organismos
veis com a área agrícola útil, de forma geneticamente modificados (OGM) e
a potenciar a presença dessa biodiver- minimizando a possibilidade de propa-
sidade, articulando-a com a produção gação não planeada de material gené-
agrícola ou florestal, bem como com ou- tico de OGM às variedade tradicionais.
tros setores como o turismo, evitando o
recurso a medidas desnecessárias como 12  Atribuir uma taxa de IVA de 6% para
o abate propositado de javalis para con- todos os equipamentos que permitam
trolo da peste suína. aumentar a eficiência no consumo de
água, tais como tanques; rega gota-a-go-
9  Eliminar rendas fundiárias injustifica- ta; sensores e automatização; bombas e
das e lucros excessivos que estejam a ser equipamento similar; telas de solo e ou-
obtidos através de pagamentos diretos tras formas de mulching; telas e materiais
ou de apoios ao investimento no âmbito para construção de charcas de retenção
da execução da Política Agrícola Comum de água das chuvas, entre outros.
Agricultura e Florestas 69

13  Condicionar o acesso a apoios pú- vendo a compostagem destes materiais


blicos para o regadio à adopção de um para enriquecimento do solo em termos
plano de gestão para a biodiversidade, de matéria orgânica, reduzindo dessa
uso da água e do solo, no contexto da forma a procura por fertilizantes artificiais
exploração agrícola, que integre boas e travando a instalação de novas centrais
práticas na estruturação da paisagem, na de biomassa; introduzindo regras obriga-
distribuição de habitats semi-naturais, e tórias de sustentabilidade da biomassa
no recurso a tecnologia de precisão, bem utilizada nas centrais existentes.
como de um programa de ação que in-
clua a monitorização destes recursos. 17  Proibir a colheita noturna mecani-
zada de produtos agrícolas, travando o
14  Aprovar um Plano Nacional de Pro- impacto negativo sobre espécies selva-
moção da Agricultura Biológica, criando gens — autóctones e migradoras — que
condições para cumprir a meta de 25% pernoitem ou procurem refúgio, durante
da superfície agrícola útil dedicada ao a noite, nas explorações agrícolas, pro-
modo de produção biológico, formaliza- movendo também as ações de vigilância
da na Estratégia Europeia “Do Prado ao e fiscalização necessárias.
Prato”, promovendo em simultâneo a pro-
ximidade ao local de consumo e apoiando 18  Rever integralmente o regime jurídico,
a criação de Associações pela Manuten- Lei de Bases e demais políticas flores-
ção da Agricultura de Proximidade. tais destinadas ao planeamento, gestão,
arborização, fitossanidade, ordenamento
15  Incentivo aos agricultores que imple- ou outros desígnios relacionados com a
mentem o Modo de Produção Biológico, floresta, a respetiva proteção, a preven-
bem como outros modos de produção as- ção e o combate aos incêndios florestais.
sentes nas melhores práticas ambientais,
sujeitos a medidas que promovam a sal- 19  Revitalizar o Conselho Nacional da
vaguarda da biodiversidade, dos solos e Floresta, mobilizando a participação con-
dos recursos naturais, através da criação junta de organismos e laboratórios do Es-
de um fundo de reserva que assegure a tado, organizações do setor, organizações
disponibilidade de verbas, no tempo certo, não governamentais de ambiente, outros
para o pagamento de medidas agro-am- representantes da sociedade civil, uni-
bientais, e através do IVA reduzido para versidades e instituições de investigação,
os produtos integralmente de origem “bio” entre outros agentes, na revisão e acom-
produzidos em Portugal. panhamento das políticas florestais e res-
petiva implementação.
16  Incentivar a valorização dos resíduos
orgânicos e biomassa florestal, promo-
Agricultura e Florestas 70

20  Privilegiar exclusivamente espécies 24  Elaborar uma estratégia nacional de


ou variedades nativas ou autóctones sensibilização para um comportamen-
nos Programas de Ordenamento Flores- to responsável face aos incêndios, com
tal, atribuindo particular prioridade às es-metas concretas para a redução do nú-
pécies endémicas, às Áreas Protegidas e mero de ignições involuntárias, informan-
aos Sítios da Rede Natura 2000. do quanto aos comportamentos adequa-
dos em caso de incêndio; criar um fator
21  Introduzir medidas de ajuste à meta para cobrir a perda de rendimento do
máxima de eucaliptal em Portugal ins- proprietário florestal, para reconversão
crita na lei para 2030, através da criação florestal, para espécies com menor sus-
de um sistema de fiscalização eficaz às cetibilidade ao fogo, folhosas autóctones.
plantações ilegais consumadas ao longo
das últimas décadas; limitar a relocali- 25  Dotar a Administração Pública dos
zação de plantações através de projetos recursos humanos necessários à imple-
de compensação de modo a impedir um mentação do Sistema de Gestão Inte-
acréscimo da área ocupada por eucalipto grada de Fogos Rurais (SGIFR), assegu-
em Portugal. rando que a articulação entre as escalas
nacional, regional e local seja efetiva e
22  Articular a Lei dos baldios com a cria- que a célere implementação dos respe-
ção de um banco de terras, para o qual tivos Programas de Ação se concretize,
possam reverter rapidamente as proprie- dentro dos prazos necessários.
dades rústicas sem proprietário identifica-
do ou com proprietário que pretenda pres-
cindir dessa condição, para a propriedade
do Estado e gestão da comunidade local.

23  Incentivar a criação de cooperati-


vas para a gestão e exploração susten-
tável da floresta nas áreas que integram
o banco de terras do Estado, potencian-
do economias de escala e respeitando o
ordenamento previsto nas políticas flo-
restais revistas, reforçando os mecanis-
mos que permitam a gestão conjunta das
áreas florestais, com particular atenção
às zonas de minifúndio, e revigorando as
Zonas de Intervenção Florestal (ZIF).
Conservação da Natureza
e Biodiversidade
Conservação da Natureza 72
e Biodiversidade

Queremos salvaguardar a natureza, tanto adequadas relativamente à sua proteção


nos aspetos relativos à biodiversidade e gestão devem fazer parte da Estratégia
como à geodiversidade, honrando o seu Nacional de Conservação da Natureza e
valor intrínseco e viabilizando um futuro Biodiversidade 2030.
saudável e sustentável.
Apesar dos índices de diversidade bioló-
A aposta na conservação da natureza e gica em Portugal serem ainda dos mais
da biodiversidade não serve apenas o elevados no continente Europeu, esta
propósito de salvaguarda do património diversidade está em declínio. A taxa de
natural. Ao protegermos a existência e a extinção nunca esteve tão elevada e, nos
saúde dos ecossistemas, das respetivas últimos 50 anos, a própria dimensão das
funções, dos processos ecológicos, dos populações de vertebrados (mamíferos,
ciclos naturais, da biodiversidade e da aves, répteis e anfíbios) decresceu 68%.
geodiversidade do nosso país, estamos Na flora vascular o panorama é igualmente
também a assegurar a nossa saúde, a desolador, com a extinção de duas espé-
nossa qualidade de vida, a nossa econo- cies endémicas de Portugal Continental e
mia, a sustentabilidade do nosso presente o desaparecimento total das populações
e a viabilidade do nosso futuro. Estamos a nacionais de outras 17 espécies; num total
promover um comportamento ético para de 630 espécies de plantas avaliadas
com as espécies selvagens, respeitando pela Lista Vermelha da Flora Vascular de
o valor intrínseco da vida e honrando o le- Portugal Continental, 60% encontram-se
gado evolutivo que detêm, bem como a ameaçadas. Estudos recentes apontam
respetiva dignidade e bem-estar. também para um significativo declínio das
populações de insetos na Europa, amea-
Já a geodiversidade permite compreen- çando o colapso das cadeias alimentares
der e mitigar os impactos das futuras mu- e até da alimentação humana, pois 80%
danças ambientais, em particular da mu- das variedades agrícolas na Europa são
dança climática, ao mesmo tempo que polinizadas por insetos.
ajuda a prevenir os riscos associados aos
desastres naturais. Além disso, e uma vez Vários fatores contribuíram para esta si-
que a geodiversidade assegura o supor- tuação, com destaque para os impactos
te da biodiversidade, desempenha um negativos da agricultura intensiva e a des-
papel determinante na restauração dos truição e fragmentação de habitats devi-
ecossistemas e no combate ao declínio do à construção de infraestruturas como
da biodiversidade. Alguns elementos da grandes barragens e autoestradas. A in-
geodiversidade apresentam algum tipo suficiência de meios humanos e financei-
de valor que justifica a sua conservação – ros, a incipiente determinação política na
património geológico – pelo que medidas gestão e valorização da Rede Nacional
Conservação da Natureza 73
e Biodiversidade

de Áreas Protegidas e dos sítios da Rede 2  Rever o Regime Jurídico da Conserva-


Natura 2000 e a ausência de uma estraté- ção da Natureza e Biodiversidade (Decre-
gia nacional de monitorização efetiva são to-Lei nº 142/2008, de 24 de julho), como
também parte da razão pela qual a situa- previsto na Estratégia Nacional de Conser-
ção comprometedora em que se encon- vação da Natureza e Biodiversidade 2030,
tram a biodiversidade e a geodiversidade de modo a incluir medidas que permitam
tarda em alterar-se. a colmatação de lacunas regulamentares
que assegurem um regime coerente de
No LIVRE, sabemos que o futuro da huma- conservação do património geológico.
nidade é o de zelar pela natureza e pela
diversidade da qual a nossa própria espé- 3  Acelerar e concluir os planos de ges-
cie emergiu. Será, também, através de um tão para todas as áreas protegidas e sí-
comportamento responsável e pró-ativo tios da Rede Natura 2000, atualizando o
que poderemos articular melhor a conser- Quadro de Ações Prioritárias, fazendo o
vação da natureza, a agricultura sustentá- melhor uso da informação disponível, pro-
vel e a reflorestação, de forma a potenciar gramando e orçamentando medidas de
os benefícios recíprocos e a combater as gestão e assegurando a respetiva imple-
causas e os efeitos que as alterações cli- mentação. Tais planos devem dinamizar a
máticas terão no nosso território. economia regional de uma forma verda-
deiramente ecológica.
Por isso defendemos:
4  Criar um Sistema Nacional de Re-
1  Investir ambiciosamente na conser- muneração dos Serviços dos Ecossis-
vação da natureza, da biodiversidade e temas à escala nacional, que acelere o
do património geológico, revendo rapi- mapeamento e valorização dos serviços
damente a Estratégia Nacional de Con- dos ecossistemas em todo o território, e
servação da Natureza e Biodiversidade a criação de mecanismos de pagamento
2030, no sentido de aumentar significa- com contratos de longa duração, promo-
tivamente o investimento público direto vendo a cooperação entre proprietários e
em ações de reabilitação e manutenção gestores de prédios rústicos adjacentes,
dos habitats e espécies classificadas, tirando o melhor partido da experiência
assim como na gestão de geossítios, obtida através da 1.ª Fase do Programa de
tomando máximo partido das verbas Remuneração dos Serviços dos Ecossis-
europeias disponíveis para este fim e temas em Espaços Rurais.
identificando, sistematizando e calen-
darizando de forma clara e concreta os 5  Implementar medidas efetivas de
recursos financeiros necessários para a conservação e gestão dos geossítios
sua implementação. incluídos no Inventário Nacional de Patri-
Conservação da Natureza 74
e Biodiversidade

mónio Geológico, dotando o Instituto de 9  Criar o Observatório Nacional dos Re-


Conservação da Natureza e Florestas dos cursos Naturais, dotado de uma platafor-
necessários meios humanos e financeiros. ma georreferenciada pública, com informa-
ção em atualização permanente, quanto
6  Avaliar o estado da biodiversidade e à distribuição dos ecossistemas, valores
espécies em Portugal, através da revisão biológicos e geológicos, respetivo estado,
urgente do Livro Vermelho dos Vertebra- funções, e serviços disponibilizados.
dos de Portugal, cujo atraso é injustificá-
vel, agilizando também a edição do pri- 10  Elaborar uma Estratégia Nacional de
meiro Livro Vermelho dos Artrópodes de Promoção e Valorização dos recursos
Portugal Continental. micológicos, estudando a distribuição e
estado das populações das espécies de
7  Elaborar um Programa Nacional de cogumelos silvestres, promovendo ações
monitorização e avaliação contínua do de recuperação, regulamentando as ati-
estado das espécies selvagens, habitats, vidades de recolha e comércio de espé-
ecossistemas e geossítios existentes em cimes e estabelecendo medidas de vigi-
Portugal, articulando todos os processos lância e controle, combatendo o comércio
de monitorização em curso (órgãos públi- ilegal transfronteiriço.
cos, sociedade civil, investigações seto-
riais) para produzir indicadores relativos 11  Dotar dos meios adequados as institui-
ao estado da biodiversidade e geodiversi- ções cuja missão é implementar, monito-
dade nacionais com a regularidade neces- rizar e fiscalizar as políticas de conserva-
sária. Paralelamente, deverão ser estabe- ção da natureza em Portugal. Existe uma
lecidas parcerias contratuais plurianuais crónica desorçamentação destes serviços.
com instituições do Sistema Científico Propomos que seja realizada uma nova
e Tecnológico Nacional, em articulação avaliação das necessidades concretas do
com o Ministério da Ciência, Tecnologia Instituto para a Conservação da Natureza
e Ensino Superior, para valorizar linhas e das Florestas (ICNF), do Serviço de Pro-
de investigação que permitam preencher teção da Natureza e do Ambiente (SEPNA)
as lacunas de conhecimento existente. e da Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar,
do Ambiente e do Ordenamento do Territó-
8  Promover a recolha e preservação rio (IGAMAOT), entre outros, de forma a su-
sistemática do material genético (célu- portar uma nova fase de desenvolvimento
las viáveis, tecidos, gâmetas) de espécies em que a economia se possa ancorar num
e populações ameaçadas de extinção, e território com uma natureza mais resiliente.
facilitar o desenvolvimento de uma rede
nacional de bancos de recursos genéti- 12  Desenvolver um Conselho Nacional
cos preservados. e uma norma e rótulo nacionais para o
Conservação da Natureza 75
e Biodiversidade

setor alimentar baseados no benefício são de novas espécies a estar dependen-


para a biodiversidade, envolvendo a so- tes de fundamentação científica.
ciedade civil, os agricultores, as organi-
zações não-governamentais de ambiente, 17  Avaliar anualmente as espécies, pe-
as universidades, as entidades públicas e ríodos e processos de caça, aprovando
as empresas interessadas, na definição calendários venatórios anuais, dependen-
dos critérios e do roteiro para uma agri- tes de um sistema credível de estatísticas
cultura favorável à biodiversidade e agro- da caça, obtidas de forma independente
biodiversidade nacionais. e publicadas regularmente pelas entida-
des públicas responsáveis pelo demais
13  Incentivar fiscalmente a criação de tratamento estatístico dos dados relativos
emprego nas Áreas Protegidas e sítios às atividades económicas.
da Rede Natura 2000, privilegiando as ati-
vidades e setores que promovam a sal- 18  Avaliar a biocapacidade dos ambien-
vaguarda das espécies animais e vege- tes urbanos, valorizando o benefício da
tais relevantes e o património geológico flora e fauna urbana (redução da polui-
e permitam concretizar os planos de ges- ção do ar e ruído, interceção da água da
tão destas áreas. chuva, retenção de carbono, criação de
microclima, valores estéticos e culturais).
14  Rever a Lei Geral da Caça, lançando
uma iniciativa de discussão pública abran- 19  Combater a poluição luminosa, que
gente, da qual façam parte as entidades afeta os ciclos naturais da noite e do dia e
públicas, a sociedade civil - incluindo as é prejudicial à saúde humana e à biodiver-
organizações não-governamentais de am- sidade, sensibilizando para o seu impacto
biente, o sistema científico, as associa- e adotando uma estratégia de contenção
ções do setor - e as forças da autoridade. da luminosidade à noite, que inclua avalia-
ção da necessidade de iluminação, do es-
15  Abolir o uso de munições com chum- pectro e intensidade utilizados e que pre-
bo na caça em todo o território nacional, veja a restrição da publicidade luminosa.
terminando desta forma com a contami-
nação progressiva de solos, água, pes- 20  Combater a poluição atmosférica e
soas e animais. o ruído, restringindo o tráfego automóvel,
criando zonas de emissões reduzidas e
16  Suspender a caça a espécies em de- limitando a sua velocidade em zonas ur-
clínio populacional, como, por exemplo, a banas; restringindo os horários do tráfego
rola-brava, revendo-se a lista de espécies aéreo; investindo em redes de monitori-
atualmente consideradas na caça portu- zação do ruído e da qualidade do ar mais
guesa e passando as decisões de inclu- abrangentes e focadas nas zonas urbanas
Conservação da Natureza 76
e Biodiversidade

e nas áreas junto a unidades industriais;


reforçando os mecanismos de inspeção
e de ação quando se ultrapassam níveis
prejudiciais para a saúde; aumentando a
exigência face ao cumprimento dos pa-
drões por parte das unidades industriais
já existentes e restringindo o licencia-
mento de novas unidades na proximidade
de zonas habitacionais.
Bem-estar e Direitos
dos Animais
Bem-estar e Direitos 78
dos Animais

A sociedade humana relaciona-se de Por escolhermos ter animais de compa-


diversas formas com as outras espé- nhia, revestem-se de particular impor-
cies animais. Alguns animais são par- tância os deveres humanos para com o
ticularmente importantes para o nosso seu bem-estar no quotidiano. O ordena-
dia a dia, pois providenciam companhia mento do território e o urbanismo devem
e afeto e fazem parte das nossas famí- possibilitar a coabitação tranquila entre
lias, sendo o seu bem-estar fundamen- animais e humanos. O excesso de nata-
tal, não apenas por direito próprio mas lidade promovido pelos criadores deve
também pelo bem-estar que nos propor- ser regulado, de forma a prevenir o aban-
cionam. Estes animais correspondem a dono e a sobrelotação das estruturas de
um pequeno número de espécies - so- recolha. A adoção de animais recolhidos
bretudo cães e gatos. Algumas espécies deve ser prioritária e o acesso a cuida-
são ainda exploradas pela pecuária res- dos veterinários obrigatório e apoiado
pondendo à procura alimentar de gran- pelo Estado quando existem carências.
de parte da população. Outras são ainda
exploradas pelo sistema científico para Por isso defendemos:
experimentação. Muitas outras espécies,
essencialmente selvagens, asseguram o 1  Progredir na definição da personali-
funcionamento dos ecossistemas e ci- dade jurídica dos animais em Portugal,
clos naturais dos quais depende o nosso atribuindo às demais espécies animais os
futuro, mas estão sujeitas a impactos ne- direitos de personalidade jurídica hoje re-
gativos resultantes da atividade humana conhecidos exclusivamente aos animais
e estão hoje em declínio. de companhia.

No espírito da Declaração Universal dos 2  Reduzir o escalão do IVA de 23% para


Direitos do Animal, o LIVRE respeita o 6% nos serviços veterinários e na ali-
valor intrínseco da vida de todos os ani- mentação para animais de companhia,
mais. Deste respeito emergem direitos prevenindo-se desta forma também a
que queremos ver consagrados na lei atual taxa de abandono e os riscos ine-
portuguesa, como o direito ao bem-es- rentes para a saúde pública humana e não
tar e ao usufruto de um habitat com humana.
qualidade, durante todo o ciclo de vida.
Estes direitos prevalecem sobre qual- 3  Introduzir apoios que viabilizem o
quer ação humana que vise fins de en- acesso a cuidados veterinários aos ani-
tretenimento. O cativeiro para fins ali- mais de companhia adotados por pes-
mentares ou para a conservação da soas ou famílias carenciadas, através de
espécie deve corresponder o mais pos- programas de cooperação e sensibiliza-
sível ao habitat natural. ção no acesso de todas as famílias a cui-
Bem-estar e Direitos 79
dos Animais

dados veterinários. Adicionalmente, criar colhidos pelos Centros de Recolha Ofi-


as bases para o Serviço Nacional Veteri- ciais de animais errantes, articulando os
nário, em parceria com as Universidades. esforços individuais dos diversos municí-
pios e otimizando a utilização das infraes-
4  Promover a criação dos Provedores truturas e recursos disponíveis à escala
dos Animais, à escala municipal, junto nacional.
dos municípios em que a figura não foi
ainda estabelecida, recomendando a atri- 8  Suspender a criação de animais de
buição correspondente dos meios neces- companhia para venda, estudando-se o
sários para uma atividade consequente efetivo populacional adequado à dimen-
da provedoria. são portuguesa e iniciando-se a partir daí
a regulação desta atividade com base
5  Estabelecer um Conselho Nacional num modelo de dinâmica populacional
para os Animais, recuperando e integran- adequado.
do a antiga Comissão de Ética e Acompa-
nhamento de Parques Zoológicos, bem 9  Desenvolver uma norma para as con-
como os fóruns que se considerem rele- dições mínimas dos Centros Municipais
vantes a respeito da pecuária, gestão da de Recolha, e a conversão dos atuais
vida selvagem e animais de companhia, canis e gatis em “Casas dos Animais”, do-
no qual deverão estar representadas as tando-os das condições necessárias ao
entidades do Estado relevantes para o bem-estar e qualidade de vida dos ani-
efeito, as organizações da sociedade civil, mais.
as associações do setor, as unidades do
sistema científico adequadas e as forças 10  Promover espaços pensados para
de autoridade. os animais de companhia no planea-
mento urbano e na infraestrutura verde
6  Assegurar que todos os parques e local, à escala dos municípios, desen-
jardins zoológicos cumprem objetivos volvendo para o efeito um referencial ou
científicos e pedagógicos, lançando norma que reúna as linhas de orientação
uma comissão específica, no âmbito do essenciais.
Conselho Nacional para os Animais e um
sistema de monitorização dos parques e 11  Proibir a utilização de animais em ati-
jardins zoológicos que acompanhe a im- vidades de entretenimento, sejam estas
plementação da legislação comunitária em meio terrestre, aquático ou aéreo, ex-
respetiva. ceto aquelas atividades que, cumprindo
com fins pedagógicos, visam conscien-
7  Desenvolver uma estratégia nacional cializar os cidadãos quanto ao compor-
de promoção da adoção dos animais re- tamento natural da espécie.
Bem-estar e Direitos 80
dos Animais

12  Abolir as atividades tauromáquicas


em Portugal, abolindo-se também a sec-
ção de tauromaquia no Conselho Nacio-
nal de Cultura, agindo em conformidade
com o direito dos animais no contexto da
indústria pecuária, ao bem-estar durante
todo o ciclo de vida e até ao momento em
que esta cessa.

13  Proibir, na indústria pecuária, o trans-


porte de animais vivos em percursos
longos, limitando este transporte à via
terrestre (desta forma proibindo o trans-
porte aéreo e marítimo) e durante perío-
dos que não ultrapassem as 4h de dura-
ção, em veículos licenciados para o efeito
e conduzidos por profissionais, sujeitos a
registo das deslocações.

14  Proteger os animais de abusos de-


correntes da atividade pecuária, garan-
tindo o bem-estar dos animais que vivem
em explorações pecuárias, monitorizando
estas instalações e assegurando que os
óbitos se dão de acordo com as normas
europeias.

15  Promover a substituição da experi-


mentação em animais, junto do sistema
científico, sempre que a investigação re-
cente tenha já demonstrado, com funda-
mentação igualmente científica, a exis-
tência de alternativas para as linhas de
investigação em causa.
Águas, Rios e Oceanos
Águas, Rios e Oceanos 82

A água é fundamental para todas as for- É possível ter em Portugal um setor pes-
mas de vida. O acesso a água potável queiro vibrante e dinâmico, que assegure
é um direito humano que será cada vez um rendimento digno a todos os elemen-
mais posto em causa nas próximas dé- tos da cadeia de valor e que contribua po-
cadas., Apesar de a sua distribuição ser, sitivamente para os setores que dele de-
já hoje, insuficiente nas zonas rurais mais
pendem. Para tal, é essencial seguir uma
desfavorecidas, a água será cada vez política de sustentabilidade, baseada no
mais um bem escasso e mal distribuído conhecimento científico e nas melhores
pelo território práticas internacionais. É absolutamente
prioritária a salvaguarda do capital natural
A proteção dos rios afigura-se cada vez marinho, através de um trabalho de orde-
mais essencial para garantir a conecti- namento do espaço marítimo que tenha
vidade ecológica e a conservação das em linha de conta todos os usos do mar,
espécies e os habitats dentro e fora de mas que coloque em primeiro lugar a con-
água. Esta proteção deve ser apoiada servação da natureza.
numa gestão da rede hidrológica que as-
segure a sustentabilidade dos usos agrí- Por isso defendemos:
colas, combatendo ativamente toda a
poluição - sobretudo a de origem indus- 1  Assegurar o acesso à água potável e
trial. Esta gestão garante também que os ao saneamento básico, integrando no
efluentes chegam aos nossos oceanos setor público todas as infraestruturas e
com a melhor qualidade natural. serviços e prevendo estratégias de adap-
tação às alterações climáticas.
Os oceanos são um repositório vital de
água que regula os níveis de CO2 (se- 2  Assegurar o cumprimento dos acordos
questrando dióxido de carbono da at- com Espanha e a implementação das direti-
mosfera e libertando oxigénio), e são vas europeias relativas aos recursos hídricos.
chave na regulação do clima, nutrien-
tes e resíduos. Fornecem espaço para 3  Criar e fortalecer comunidades de
atividades culturais e de lazer, e inter- gestão comum de bacias hidrográficas.
vêm de forma essencial no transporte
entre diferentes geografias, unificando 4  Financiar a recuperação de massas
culturas. São também um santuário de de água em mau estado, priorizando as
vida cujo equilíbrio tem de ser respeita- de importância ecológica e/ou de uso
do. O oceano não pode continuar a ser múltiplo (ex. Lagoa de Óbidos).
tratado como uma lixeira onde todos os
detritos e resíduos produzidos pelos hu- 5  Remover as barragens e outras barrei-
manos vão parar. ras hídricas obsoletas, reduzindo desta
Águas, Rios e Oceanos 83

forma a fragmentação dos rios e ribeiras e to máximo sustentável, eliminando as re-


promovendo o livre movimento das espé- jeições de animais capturados de forma
cies aquáticas, sobretudo as que migram indireta e capacitando as associações de
sazonalmente. pescadores artesanais para desempe-
nharem um papel de liderança na gestão
6  Apoiar o uso eficiente de água no setor dos recursos costeiros e acederem aos
agrícola, através do apoio a medidas de escalões superiores da cadeia de valor;
implementação do Uso Eficiente da Água, estabelecer medidas de desincentivo à
com o respetivo acompanhamento téc- pesca com artes destrutivas do habitat, e
nico (através da instalação de sondas e de limitação do seu impacto; reforçar as
acompanhamento técnico), da centraliza- medidas de combate à pesca ilegal, não
ção, certificação e divulgação de dados declarada e não documentada.
meteorológicos atualizados e da requali-
ficação de zonas ribeirinhas. 11  Incentivar a reciclagem do plástico
nas artes de pesca, apoiando diretamen-
7  Penalizar as atividades humanas que te o esforço em trazer para terra e em di-
coloquem os rios em causa de forma sig- rigir estes materiais para o tratamento de
nificativa e impedir a sua exploração em resíduos apropriado, prevenindo dessa
benefício de interesses que não sejam os forma o seu abandono no mar com con-
do interesse comum. sequências negativas na biodiversidade
marinha.
8  Salvaguardar o ambiente oceânico,
revendo a Lei de Bases do Ordenamen- 12  Desenvolver a investigação marinha,
to e de Gestão do Espaço Marítimo para reforçando os mecanismos de monitori-
promover o adequado ordenamento do zação e de investigação através da arti-
espaço marinho e da zona costeira, limitar culação das universidades com o IPMA e
a poluição de fonte terrestre e marítima e o Instituto Hidrográfico; criando um fundo
impedir quer a mineração em mar profun- de investigação incluindo verbas de licen-
do quer a exploração de hidrocarbonetos. ciamento de atividades em espaço marí-
timo e um sistema centralizado de dados
9  Expandir a rede de Áreas Marinhas meteo-oceanográficos aberto a toda a
Protegidas para cobrir, pelo menos, 10% comunidade.
de todos os habitats, regulamentado-as
e fiscalizando-as de forma eficaz e justa.

10  Garantir a sustentabilidade da pesca,
mantendo as autorizações de captura das
populações de peixe abaixo do rendimen-
Justiça
Justiça 85

A Justiça é um dos pilares fundamentais Por isso defendemos:


de um Estado de Direito. Não existe De-
mocracia de qualidade sem um sistema 1  Promover a rapidez e eficácia da jus-
de Justiça de qualidade. tiça, através do reforço de mais juízes,
funcionários judiciais e funcionários nas
As leis e o direito devem ser claros e aces- secretarias dos tribunais; criando uma
síveis a todos. A justiça deve ser célere, estrutura de apoio (assessores ou funcio-
previsível e eficaz. Em Portugal, a mo- nários) que garanta a pesquisa e elabora-
rosidade e incerteza da justiça cível, da ção de documentos de apoio à decisão,
família e comercial têm contribuído para libertando os magistrados para o núcleo
um sentimento crescente de impunida- central das suas atribuições, ou seja, a to-
de quanto ao incumprimento de contra- mada de decisões; do reforço do número
tos, a proliferação de cláusulas e práticas de tribunais em todas as especialidades
comerciais abusivas, a inobservância de e do reforço dos meios técnicos na inves-
obrigações familiares, o não pagamento tigação nas áreas do crime financeiro, da
de dívidas particulares e o desrespeito de lavagem de dinheiro e da evasão fiscal; da
sentenças ou acordos judiciais. criação de equipas com assistentes so-
ciais e psicólogos para acompanhamento
A incerteza e a morosidade da justiça de vítimas, advogados e juízes em casos
penal contribuem hoje para um sentimen- de violência doméstica, violência sexual,
to de impunidade na prática de crimes pú- pedofilia e discriminação.
blicos, como a corrupção, fraude e evasão
fiscal, o peculato e o branqueamento de 2  Garantir recursos para uma justiça
capitais, que minam as bases da demo- acessível a todos, articulando o mapa ju-
cracia. Para além deste reforço a nível na- diciário com o ordenamento do território
cional, estes crimes combatem-se hoje a e garantindo a proximidade às pessoas;
nível internacional. Portugal deve estar na ampliando a rede e o papel dos julgados
linha da frente da exigência de criação de de paz; revendo e baixando os vários cus-
instrumentos europeus e multilaterais de tos de justiça para os cidadãos e elimi-
combate a estes fenómenos. nando todas as taxas de justiça pagas
pelo trabalhador no âmbito do proces-
Também nos casos de violência domés- so de trabalho; revendo e dignificando
tica é necessário tornar o sistema mais o sistema de nomeação dos advogados
ágil para proteção rápida das vítimas e re- oficiosos que prestam apoio jurídico aos
curso imediato a ordens de proteção para cidadãos.
vítimas e sua família próxima.
3  Melhorar o Sistema de Acesso ao Di-
reito e aos Tribunais, revendo a tabela
Justiça 86

de honorários dos advogados, instituindo 6  Reformar o sistema prisional, comba-


sistemas de pagamento a tempo e horas tendo o paradigma da punição, através de
e implementando um sistema de avalia- um forte investimento na integração so-
ção do serviço prestados pelos advoga- cial; com revisão da política de contactos
dos nomeados. com o exterior, designadamente com a fa-
mília e amigos; com a humanização dos
4  Garantir a transparência e eficácia na regimes das licenças precárias e da liber-
Justiça, através da publicação de estatís- dade condicional; com o desenvolvimen-
ticas mais detalhadas sobre o andamento to de programas de atividades de lazer e
de processos; da disponibilização siste- culturais, com acesso a jornais e revistas
mática e organizada das decisões judiciais e internet; através da inserção no merca-
e dos despachos finais de inquérito do Mi- do de trabalho e no desenvolvimento das
nistério Público; das decisões de proces- habilitações literárias; com melhoria do
sos disciplinares sobre magistrados judi- programa de escolarização e a criação
ciais serem públicas; do acesso direto dos de cursos regulares monotemáticos; com
cidadãos às plataformas informáticas para a aprendizagem de línguas estrangeiras;
consulta dos próprios processos; da uti- com a melhoria das condições remunera-
lização de linguagem clara e concisa em tórias do trabalho prisional; com a implan-
todos os atos — desde citações, multas, tação e incremento de cursos de forma-
mandados, acusações, decisões e sen- ção profissional e com apoio à procura de
tenças — e em documentos explicativos trabalho após cumprida a pena; através
que acompanhem a legislação. da melhoria dos cuidados de saúde, no-
meadamente mental, e de alimentação;
5  Unificar as jurisdições comuns (tri- com uma estratégia de recuperação das
bunais judiciais) e administrativa e fiscal, dependências dentro e fora das prisões;
incluindo a unificação dos tribunais su- e através da dignificação e melhor forma-
periores e conselhos superiores da magis- ção profissional para os guardas e demais
tratura. Nas últimas décadas a jurisdição técnicos prisionais, designadamente os
administrativa e fiscal tem sido deixada que estão ligados à reinserção social e da
de lado no investimento da justiça. Sendo substituição dos atuais conselhos técni-
esta a jurisdição onde as pessoas fazem cos por verdadeiros conselhos de socia-
valer os seus direitos contra o Estado e lização, que devem integrar um “Provedor
outras entidades públicas, este desinves- do Recluso”.
timento protege o setor público nas suas
más decisões e prejudica os cidadãos. 7  Avaliar a aplicação e execução de me-
A unificação de jurisdições fará diminuir didas tutelares educativas a menores
estas assimetrias, mantendo a especiali- de idade, através da avaliação das atuais
zação dos magistrados e funcionários. condições de aplicação e execução des-
Justiça 87

sas medidas, promovendo uma integra-


ção entre serviços sociais, educativos e
de saúde, por forma a ser possível um
acompanhamento adequado para a rein-
tegração social.

8  Descriminalizar a “Ofensa à Honra do


Presidente da República” (artigo 328.º do
CP) como crime autónomo contra a rea-
lização do Estado de direito, passando
qualquer tutela de matérias injuriosas ou
difamatórias a ser tratada nos termos ge-
rais e em sede cível.
Estado e Instituições
Estado e Instituições 89

Num Estado social é crucial que se esta- ção de uma base de dados com toda a le-
beleça uma relação de confiança entre os gislação em vigor; da disponibilização dos
cidadãos e o Estado e todos os seus re- documentos, relatórios e trabalhos de as-
presentantes. Para isso, é necessário que sessoria técnica usados para suporte de
todos os serviços sejam transparentes, decisões ou avaliação; da criação de uma
competentes e motivados. É necessário interface online que permita seguir o es-
que cada um de nós seja tratado de forma tado de qualquer processo que o cidadão
justa e igualitária. É necessário libertar o tenha em curso; da publicação dos perfis
Estado da captura privada e reequilibrar e currículos de qualquer decisor público;
forças com o setor privado. É necessário do reforço da autonomia e da indepen-
lutar inequivocamente contra a corrupção, dência do Instituto Nacional de Estatística,
assim como para descentralizar o Estado. que deve passar a depender diretamente
da Assembleia da República.
Por isso defendemos:
3  Dignificar a Administração Pública e
1  Criar uma relação de confiança entre as entidades da esfera do Estado, actua-
as pessoas e o Estado, da escala local à lizando as posições remuneratórias em
escala nacional, garantindo a melhoria dos função do nível de qualificação do traba-
serviços públicos e formação das forças lhador (de acordo com o Quadro Nacional
de segurança no atendimento, atuação e de Qualificações); considerando a conta-
acompanhamento de todos os cidadãos e gem integral do tempo de serviço dos pro-
punindo qualquer comportamento discri- fessores e de todos os outros trabalhado-
minatório ou violento ou de abuso de au- res das carreiras e corpos especiais da
toridade; garantindo que da parte da Auto- administração pública, com uma regulari-
ridade Tributária há o benefício da dúvida zação total a dois anos ou com outro prazo
face a erros e omissões por parte do cida- resultante do diálogo social; melhorando
dão nas suas obrigações fiscais e a redu- as condições de trabalho, de instalações,
ção das coimas face a pequenos atrasos de recursos e de formação dos profissio-
ou a erros manifestamente involuntários; nais do Estado; promovendo uma revisão
simplificando as deduções fiscais. negociada da Lei Geral do Trabalho em
Funções Públicas (Lei 35/2014 de 20 de
2  Garantir o direito à informação clara Junho); combatendo a precariedade no
e transparente, através da disponibiliza- Estado local e central; apostando em sis-
ção de toda a informação pública rele- temas de avaliação de trabalhadores que
vante em linguagem clara e em formatos promovam a motivação e a cooperação.
facilmente acessíveis; da formação dos
cidadãos e dos funcionários públicos nas 4  Alterar os métodos de contratação pú-
questões de direito à informação; da cria- blica e a progressão nas carreiras, ga-
Estado e Instituições 90

rantindo que nos processos de selecção trabalhadoras da Administração Pública;


haja adequação dos contratados às ne- com a informatização e cruzamento de
cessidades específicas da instituição em dados entre setores, garantindo a privaci-
causa e que sejam introduzidos critérios dade dos cidadãos; com a reabilitação do
qualitativos tais como a avaliação curricu- Instituto Nacional de Administração en-
lar e a realização de entrevistas; revendo quanto Escola de Administração Pública,
o SIADAP de forma a torná-lo num siste- com autonomia científica e atividade de
ma de avaliação que efetivamente valori- investigação.
ze o mérito e contribua para a progressão
criteriosa das carreiras e que, do mesmo 7  Lançar um programa de emprego pú-
modo, penalize a falta de empenho reite- blico para reforço de toda a Administra-
rada; prevendo que as chefias sejam alvo ção Pública, apostando na reversão do
de avaliação por parte das equipas que processo de envelhecimento e depaupe-
lideram; criando mecanismos que impe- ração dos técnicos, com particular aten-
çam que integração de chefias por con- ção aos serviços deficitários, para suprir
vite (um regime previsto como exceção) carências em escolas, hospitais, segu-
seja aplicada como regra. rança social e outros serviços; lançando
novos processos de Recrutamento Cen-
5  Apostar fortemente no mecanismo do tralizado para preenchimento de Bolsas
Recrutamento Centralizado como forma de Emprego Público, com processos de
primordial de recrutamento de quadros avaliação expeditos e prevendo contra-
para a Administração Pública, evitando a tações com posições remuneratórias ini-
multiplicação de processos de recruta- ciais de acordo com o nível de qualifica-
mento e garantindo a necessária impar- ção do candidato.
cialidade no acesso ao serviço público.
8  Profissionalizar os bombeiros volun-
6  Promover a qualidade e eficácia dos tários, integrando-os nos serviços do Es-
serviços públicos, com a criação de um tado destinados à integridade territorial e
Programa de Avaliação e Melhoramento estimulando de forma socialmente justa a
dos Serviços Públicos para monitorizar, respetiva distribuição no território de acor-
avaliar e corrigir deficiências na presta- do com as necessidades identificadas.
ção de todos os serviços públicos e onde
os cidadãos podem fazer sugestões de 9  Desprivatizar a Administração Pública
melhoria dos serviços; com a escolha dos e o serviço público e reverter a conces-
dirigentes com critérios exclusivamente são a privados das funções sociais do Es-
técnicos, conferindo-lhes também profis- tado, anulando os contratos de prestação
sionalização, autonomia e responsabiliza- de serviços a privados quando existe ca-
ção; com formação contínua das pessoas pacidade para os substituir na Adminis-
Estado e Instituições 91

tração Pública; assegurando que a ação


das instituições da área da economia so-
cial e solidária reforçam e complementam
o Estado sem o substituir e que é rigoro-
samente escrutinada a gestão dos apoios
públicos que lhes são conferidos.

10  Fechar as Portas Giratórias entre pú-


blico e privado, aumentando o período
de nojo de passagem de cargos públicos
para o setor privado dentro do mesmo
setor ou em funções onde haja algum grau
de comprometimento, incluindo o setor lo-
bista em Portugal ou na União Europeia.
Democracia
Democracia 93

Defendemos que os cidadãos devem membros não seja letra morta nos trata-
controlar o futuro das suas comunidades. dos. Para isso, a democratização da UE
é urgente.
Muitos sentem-se excluídos da vida po-
lítica por sentirem que não têm voz e por Por isso defendemos:
falta de confiança nos representantes
eleitos. O reforço da democracia neces- 1  Alargar, facilitar e fomentar o voto, per-
sita de uma inclusão ativa de todos nós mitindo o voto a partir dos 16 anos; per-
que seja muito mais do que apenas o voto. mitindo o voto em referendo de pessoas
Uma maior participação pode levar a um emigradas fora de Portugal (incluindo as
envolvimento cada vez maior no processo com dupla nacionalidade); permitindo a
legislativo e governativo. participação política e o voto dos imigran-
tes em Portugal; possibilitando à diáspo-
Tem de ser mais fácil votar e participar ra a votação por correspondência nas
para todos aqueles que moram em Portu- eleições europeias, presidenciais e dos
gal e para todos os portugueses em qual- conselheiros no Conselho das Comuni-
quer lado do mundo, sem qualquer tipo dades Portuguesas; melhorando as con-
de discriminação. dições da votação por correspondência,
de modo a garantir mínimos exigíveis de
É necessária uma cultura e uma ética acesso, segurança e confidencialidade;
política de serviço público pautadas pela investindo no desenvolvimento e experi-
transparência e abertura à iniciativa da mentação de sistemas de voto eletrónico
sociedade civil. O Estado é de todas as não presencial, particularmente nos cír-
pessoas para todas as pessoas, e tem de culos eleitorais da emigração; alargando
ser comprometido com as tarefas funda- as possibilidades de voto em mobilidade
mentais consagradas na Constituição da e antecipado para todos os eleitores; ga-
República. rantindo condições de acessibilidade de
informação, física e adaptadas a todos os
Também as instituições europeias, longe cidadãos, incluindo aqueles que se en-
de estarem à altura do potencial de pro- contrem impedidos de deslocação por
moção da solidariedade, paz e desenvol- motivos de saúde ou legais; permitindo
vimento que a União Europeia (UE) pode- a escolha entre o círculo de emigração
ria representar, reagiram à recente crise ou o círculo de origem para residentes
económica de forma inepta e incapaz. no estrangeiro; atualizando os cadernos
Muita da legislação europeia padece de eleitorais, retirando os eleitores fantas-
um défice democrático que urge suprir. ma, para que as eleições melhor reflitam
O LIVRE continua a bater-se para que o a realidade democrática do país e das re-
princípio da solidariedade entre estados- giões; garantindo o recenseamento auto-
Democracia 94

mático atualizado nos círculos eleitorais mais justo, representativo e proporcional,


da emigração. em que todos os votos contem, através
de um círculo nacional de compensação
2  Facilitar a participação política, aca- e listas semi-abertas.
bando com a discriminação etária e de
naturalidade no acesso às candidaturas à 6  Dar mais poder às cidadãs e aos cida-
Presidência da República; possibilitando dãos além das eleições, tornando mais
a participação política plena e o voto dos acessível a “Iniciativa Legislativa de Cida-
migrantes e refugiados a viver em Portu- dãos”; alterando a “Lei Orgânica do Regi-
gal; garantindo comunicação para cida- me do Referendo” para tornar mais con-
dãos com deficiência. sequente e acessível este instrumento;
criando mecanismos de democracia de-
3  Garantir maior equidade entre parti- liberativa; criando Assembleias Cidadãs,
dos e candidaturas, que devem ser trata- compostas por participantes escolhidos
dos de igual forma e ter acesso às mes- de forma aleatória e de modo a garantir
mas oportunidades de forma a quebrar a a maior representatividade possível, que
cartelização do sistema, revendo a Lei n.º funcionem como câmaras de delibera-
72-A/2015 sobre a cobertura jornalística ção e trabalhem em conjunto com a As-
em período eleitoral; revendo a lei do fi- sembleia da República, podendo propor
nanciamento partidário, tendo em conta temas a ser discutidos pelos deputados
a utilização de meios digitais e incluindo e acompanhando de forma participativa
critérios de impacto ambiental e visual no as propostas discutidas na AR.
financiamento de campanhas; tornando
a prestação de contas dos partidos mais 7  Regionalizar com eleição direta, sendo
ágil, desburocratizada e automatizada. que o processo de regionalização deve
ser sujeito a referendo.
4  Rever o sistema de subvenções públi-
cas aos partidos, com vista a reduzir os 8  Descentralizar as competências refor-
gastos de dinheiros públicos, tanto em çando as Comunidades Intermunicipais e
campanhas como em serviços de asses- as Áreas Metropolitanas enquanto escalas
soria, garantindo ainda uma distribuição contemporâneas de cidadania, legitima-
dos fundos mais equitativa pelas várias das por eleição direta, para uma visão es-
forças partidárias. tratégica do território e adequar uma dis-
tribuição mais equitativa de oportunidades.
5  Promover uma reforma do sistema
eleitoral, de forma a garantir maior di- 9  Aumentar o escrutínio democrático,
versidade e pluralidade à Assembleia da através da audição e aprovação pelo Par-
República, com um de sistema eleitoral lamento das pessoas escolhidas para in-
Democracia 95

tegrar o Governo, quer ao nível ministerial, 14  Promover a literacia da informação,


quer Secretarias e Subsecretarias de Esta- incentivando desde o 1.º ciclo hábitos de
do e, de igual forma, todos os nomes indi- pesquisa, avaliação e seleção da informa-
cados pelo Governo para a administração ção, com base em princípios éticos.
ou para cargos de direção de empresas pú-
blicas ou com capitais públicos e institutos 15  Garantir uma comunicação social
públicos, incluindo entidades reguladoras; livre e acessível, através da obrigatorie-
disponibilizando uma ferramenta informá- dade da divulgação dos principais acio-
tica acessível que permita o escrutínio de- nistas das empresas de comunicação
mocrático dos deputados, da sua atividade social; fomentando o pluralismo na comu-
e sentido de voto; voltando a aumentar o nicação social, através do estabelecimen-
número de debates com o primeiro-minis- to dos limites à concentração de capital
tro na Assembleia da República. no setor, cumprindo a constituição; crian-
do bolsas de apoio a projetos jornalísticos
10  Limitar as contratações para cargos sem fins lucrativos; assegurando uma re-
de confiança política sempre que as fun- presentação plural da realidade política e
ções em causa possam ser desempe- socioeconómica do país no debate sobre
nhadas, sem prejuízo, por funcionários o desempenho governamental; mantendo
públicos no ativo, quer na administração a RTP pública e a prestar serviço público
central quer no poder local. de qualidade e não em concorrência dire-
ta com os canais privados; assegurando o
11  Responsabilizar e democratizar a re- acesso a todos os canais da RTP na Tele-
presentação de Portugal na União Eu- visão Digital Terrestre (TDT) e alterando o
ropeia, através da eleição no parlamen- processo de eleição da administração da
to dos Representantes permanentes de RTP para assegurar maior representação
Portugal no Conselho da UE; da obrigato- das pessoas trabalhadoras da RTP e das
riedade de aprovação prévia pela Assem- cidadãs e cidadãos.
bleia da República dos mandatos nego-
ciais do governo português no Conselho 16  Defender a privacidade e a liberdade
Europeu e da eleição do chefe de missão de expressão, aprofundando o controlo
no Conselho da União Europeia. do Parlamento sobre os serviços de infor-
mação; garantindo o respeito pelas liber-
12  Referendar novos tratados ou altera- dades fundamentais e pela privacidade
ções aos tratados da União Europeia. dos cidadãos e das cidadãs; criminalizan-
do o acesso ilegal aos dados bancários,
13  Reforçar o papel das Bibliotecas Pú- fiscais ou de telecomunicações e cons-
blicas e da Escola no aprofundamento da tituindo causa para expulsão da função
cidadania, nomeadamente a nível local. pública; reforçando o papel da Comissão
Democracia 96

Nacional de Proteção de Dados; promo- regulamenta a Lei da Liberdade Religio-


vendo a encriptação de todas as comu- sa, reconhecendo representantes religio-
nicações; salvaguardando a privacidade sos com base num suposto princípio de
online; supervisionando o cumprimento subsidiariedade, em tudo contrário ao es-
do Regulamento Geral de Proteção de pírito do exercício da liberdade religiosa.
Dados pelos setores público e privado, Devem também ser construídos espaços
fomentando uma postura imparcial do neutros que possam servir as cerimónias
Estado na linha da frente digital - impar- fúnebres tanto de quem não tem religião
cialidade do Estado na Web - estenden- como de quem professa qualquer religião.
do o âmbito do Regulamento Nacional de
Interoperabilidade Digital ao desenvolvi-
mento dos sítios oficiais de instituições
públicas de forma a que evitem depender
de serviços terceiros ou que impliquem a
aceitação de termos estranhos à finalida-
de do serviço em causa, ou ainda, o ras-
treamento em linha na interação com os
mesmos serviços e ao estabelecimento
de critérios transparentes que orientem
a escolha de soluções de contacto e de
divulgação de serviços e iniciativas do
Estado baseadas em redes sociais, de
forma a evitar a arbitrariedade na discrimi-
nação de alguns serviços em detrimento
de outros e a promover a privacidade por
omissão e a transparência no recurso a
soluções de análise de tráfego (analytics).

17  Defender a liberdade de culto, a lai-


cidade do Estado e a igualdade entre
confissões, revendo e negociando o tra-
tado que concede à Igreja Católica di-
reitos especiais (como isenções fiscais);
revendo os Estatutos da Comissão para
a Liberdade Religiosa e reformando ou
revogando o Decreto-Lei 134/2003 que
aprova o Registo das Pessoas Coletivas
Religiosas e o Decreto-Lei 308/2003 que
Prevenção e Combate
à Corrupção
Prevenção e Combate à Corrupção 98

O combate e a prevenção da corrupção de interesses; apoiar a administração pú-


assumem hoje um fator essencial para blica no estabelecimento e renovação de
o desenvolvimento económico, social e uma cultura para a integridade; redigir e
político do país. Os impactos deste fenó- rever periodicamente Códigos de Con-
meno são abrangentes e as suas vítimas duta para os titulares de cargos políticos
diretas somos todos nós, cidadãos e ci- e altos cargos públicos, com capacidade
dadãs anónimas que se vêem limitados de sancionar eventuais faltas; zelar pelo
nas suas escolhas e oportunidades por registo da atividade de lobby; gerir cam-
influência direta da apropriação do bem panhas de prevenção da corrupção; redi-
comum por interesses individuais. gir anualmente um relatório sobre a sua
atividade; facilitar a denúncia por parte de
A qualidade de uma sociedade revela-se denunciantes de crimes de corrupção e
na solidariedade entre os seus membros conexos, assim como ajudar na sua pro-
constituintes e na força das suas institui- teção legal.
ções e ambas são fortemente afetadas
pela corrupção. Não podemos, por isso, 2  Promover uma cultura de integrida-
continuar a enfrentar este problema igno- de como valor fundamental no exercício
rando o seu profundo impacto nas más de- de funções públicas através da formação
cisões políticas que enfraquecem a capa- obrigatória para servidores públicos em
cidade da comunidade de responder aos questões de ética e transparência, rever
desafios essenciais para o seu desenvol- coordenadamente os Códigos de Ética
vimento. Ignorar este efeito é perder à par- e Códigos de Conduta das instituições
tida a luta contra as alterações climáticas, públicas de forma a efetivar o seu cum-
contra a desigualdade, contra a sociedade primento e acabar com a natureza mera-
de bem-estar que defendemos. mente proclamatória de valores.

Por uma sociedade mais ética e fundada 3  Proteger denunciantes, ao ter em


no respeito mútuo e em valores de inte- conta uma visão alargada dos crimes e
gridade, apresentamos as seguintes pro- das áreas a serem abrangidos pelo re-
postas. gime de proteção de denunciantes, que
incluam tanto o setor público como o
1  Criar uma agência pública indepen- privado, assim promovendo uma efe-
dente que centralize as funções do tiva defesa do interesse público (no-
Conselho de Prevenção da Corrupção, meadamente em termos de crimes
da Entidade de Contas e Financiamen- ambientais e de má gestão pública).
tos Políticos e da futura Entidade para
a Transparência. Esta deverá zelar pelo 4  Alterar o regime atual de declaração e
registo, resolução e controlo de conflitos registo de interesses de forma a passar-
Prevenção e Combate à Corrupção 99

mos de um paradigma de comunicação 7  Promover o avanço na Lei do enri-


para um modelo de resolução e preven- quecimento ilícito ou injustificado, ga-
ção de conflitos de interesses. Concen- rantindo que são ultrapassadas as bar-
trar as competências de resolução e pre- reiras jurídicas artificialmente colocadas
venção de conflitos de interesses na nova de forma a que a legislação neste âmbito
agência e garantir a monitorização da sua se concretize. Assegurar a existência de
evolução durante o exercício de funções condições para um controlo efetivo das
e não só num momento inicial. Garantir o alterações patrimoniais de detentores de
acesso aos documentos por parte do pú- cargos públicos.
blico de forma fácil e centralizada.
8  Reforçar os meios no combate à cor-
5  Efetivar a regulação do lobby através rupção, para combater e prevenir a cor-
da monitorização permanente dos inte- rupção com mais meios, estabelecendo
resses que intervêm nos processos de metas verificáveis e mecanismos de con-
decisão pública. Publicar regularmente trolo no âmbito da Estratégia Nacional de
relatórios que permitam aos cidadãos o Combate à Corrupção; criando tribunais
acesso à informação necessária para a especializados em corrupção e crimina-
formação de juízos políticos sobre a atua- lidade económico-financeira e garantindo
ção dos decisores públicos e os interes- aos magistrados formação especializada
ses que escolhem acolher. Registo obri- em corrupção; e reforçando os meios dos
gatório de todos os lobistas, assim como organismos de investigação e a informa-
das reuniões, formais ou informais, man- ção cruzada aos níveis nacional e local.
tidas com titulares de cargos políticos e
altos cargos públicos. 9  Garantir a transparência e acesso aos
dados, para atribuir caráter vinculativo às
6  Redefinir o financiamento dos par- resoluções e pareceres da Comissão de
tidos políticos, centralizando na nova Acesso aos Documentos Administrativos
agência a competência para orientar e e assegurar que tem meios legais e hu-
monitorizar o cumprimento da lei de fi- manos para a fiscalização e aplicação de
nanciamento dos partidos políticos; ga- sanções em caso de incumprimento.
rantir que este organismo tem meios
efetivos de controlo dos gastos parti- 10  Avaliar a regularidade dos dados
dários para que seja possível a sua mo- constantes no Registo Central do Bene-
nitorização em tempo real; promover ficiário Efetivo; no campo da contratação
uma cultura de transparência através pública por ajuste direto, obrigar as enti-
do apoio ao cumprimento como forma dades contratadas a identificar os seus
de evitar procedimentos complexos de beneficiários efetivos e a registar contri-
investigação no futuro. buições da entidade (ou dos seus benefi-
Prevenção e Combate à Corrupção 100

ciários efetivos) à instituição contratante;


e atribuir poderes à nova autoridade para
aplicar sanções por incumprimento des-
tas obrigações.

11  Assegurar a transparência da con-


tratação pública no Portal dos contratos
públicos, através da publicação de dados
abertos, acessíveis e utilizáveis, incluindo
informação sobre todas as fases do pro-
cesso de contratação desde o planea-
mento até ao pagamento.

12  Despartidarizar a administração pú-


blica através da redução dos cargos de
nomeação ao mínimo imprescindível; blo-
queando a mobilidade de funcionários
durante os 6 meses após a realização de
eleições; reforçando a cultura de serviço
público independente da ideologia gover-
nante; e apostando em funcionários públi-
cos para a assunção de lugares dirigentes
por oposição a nomeações políticas.
Soberania Digital
Soberania Digital 102

O acesso à internet é um direito huma- ciadas publicamente devem pertencer ao


no, reconhecendo as Nações Unidas público. A tecnologia deve ser usada para
que os avanços tecnológicos na área de fins concretos e úteis à sociedade, sem
computação, informação e comunicação que se comprometa privacidade em troca
aceleram o progresso humano, diminuem de facilidade tecnológica.
fossos entre comunidades e indivíduos,
promovem a liberdade de expressão e Acreditamos que o dinheiro público deve
potenciam o desenvolvimento de socie- gerar conhecimento público, propriedade
dades de conhecimento. pública e riqueza comum - Public money:
public code.
A world wide web, espaço de partilha e
agora também um mega mercado, é um O desenvolvimento da inteligência artifi-
novo espaço público global. cial e da internet das coisas deve seguir
princípios rigorosos de ética e ser nor-
Com o rápido avanço da conectividade, teado pelo bem comum, sendo para isso
da capacidade de computação e das necessária regulação e capacitação do
novas formas de interfaces, a tecnologia setor público, tanto a nível nacional como
faz cada vez mais parte das nossas vidas, a nível europeu.
trazendo oportunidades, mas também sé-
rios desafios. Por isso defendemos:

A world wide web é controlada por uma 1  Consagrar e garantir o direito à Internet
oligarquia de multinacionais digitais, que Livre e sem censura para todos, garantin-
vivem dos dados que geramos e que do que todo o território nacional tem co-
todos os dias influenciam as nossas es- bertura suficiente; garantindo que não há
colhas com base em algoritmos que des- exclusão de acesso aos cidadãos, inde-
conhecemos. pendentemente da sua condição econó-
mica; garantindo a cada cidadão as con-
Mas os Governos e as pessoas não dições mínimas para trabalhar e se realizar
devem ficar reféns de empresas, sobre- através da Internet na terceira década do
tudo de grandes multinacionais. séc. XXI; fomentando a literacia digital e a
capacidade digital para todas as idades;
A tecnologia deve servir as pessoas, que participando, enquanto país, na constru-
têm de poder tomar decisões sobre os ção do Contract for the Web e defendendo
seus dados, plataformas e inovação. Os os seus princípios, entre os quais a liber-
nossos dados devem pertencer-nos, as dade de expressão e de associação online
nossas conversas privadas devem per- e também de privacidade com encripta-
manecer privadas e as inovações finan- ção das comunicações online.
Soberania Digital 103

2  Garantir a neutralidade da rede, com- zadores do espaço público, em linha com


batendo qualquer condicionalismo de a recomendação do Parlamento Europeu.
velocidade de acesso ou qualquer discri-
cionariedade de preço (incluindo o zero 5  Prevenir a utilização de dados pes-
-rating, praticado por operadoras portu- soais sensíveis em segmentação de
guesas). publicidade, impedindo a utilização de
dados sensíveis, como definidos no
3  Fomentar uma internet na qual os ci- RGPD, por parte de prestadores de servi-
dadãos controlem os seus dados e ativi- ços digitais que ofereçam direcionamen-
dade, impedindo a censura de conteúdos to de publicidade a segmentos específi-
por parte de governos ou empresas; pro- cos da audiência, evitando situações de
movendo a encriptação forte nas comuni- targeting que resultam na construção de
cações via internet; defendendo o direito realidades paralelas, isoladas, e impos-
à privacidade online e o direito ao esque- síveis de escrutinar, com efeitos sociais
cimento, devendo cada cidadão ter con- nocivos de desagregação e polarização.
trole sobre os seus dados pessoais (direi-
to à dissipação da informação, no sentido 6  Democratizar a investigação e a ino-
de permitir o esquecimento); incentivan- vação, garantindo o direito de qualquer
do a adoção de normas de acesso aber- cidadão a ter acesso e a fazer recolha
to pelas plataformas online que permitam sistemática de dados e a criar conteúdos
a interação entre todos os utilizadores e diversos - não transpondo para Portugal o
as plataformas de redes sociais sem que Artigo 3 da Diretiva de Direitos de autor no
estes tenham de facultar os seus dados mercado único digital da União Europeia;
e que permitam que os utilizadores tro- fomentando a participação cidadã na de-
quem de plataforma sem perder os dados finição da missão e do destino dos fundos
armazenados. de inovação; atribuindo mais recursos aos
projetos cooperativos e às organizações
4  Prevenir a vigilância em massa e o da sociedade civil de cariz social; instituin-
abuso do direito à privacidade através do direitos de propriedade coletivos para
da tecnologia, revendo a lei resultante da os produtos resultantes do investimento
Proposta de Lei 111/XIV/2 para banir a uti- público; garantindo a utilização livre de
lização de dados biométricos recolhidos conteúdos em contexto de ensino.
em massa (em espaço acessíveis ao pú-
blico) para identificação, reconhecimen- 7  C onstruir Bens Digitais Comuns, ga-
to, profiling ou predição de ações de indi- rantindo que todo o código desenvolvido
víduos, impedindo a violação de direitos com dinheiro público fique numa licença
fundamentais de forma desproporciona- de código aberto; fomentando a constru-
da que atingem indiscriminadamente utili- ção colaborativa de software e hardwa-
Soberania Digital 104

re, expandindo a cláusula de “Uso Justo” tornando obrigatória a declaração anual


em todas as leis de direitos de autor; re- do património detido independentemen-
vertendo o ónus da prova para que os te do valor, assim garantindo que existem
bens sejam considerados bens digitais dados sobre os investimentos nestes ins-
comuns, exceto se se provar estarem trumentos; canalizar os fundos obtidos
protegidos por direitos de autor; e não por esta taxa para a mitigação dos efei-
transpondo para Portugal os Artigos 15 e tos nocivos da mineração destes ativos.
17 (antigos Artigos 11 e 13) da Diretiva de
Direitos de autor no mercado único digital 11  Governação transparente, livre e de
da União Europeia. acesso aberto, com introdução de soft-
ware livre e de código aberto em todos
8  Garantir Direitos de Cibersegurança, os níveis da administração pública e em
garantindo que todos os produtos digitais instituições financiadas com recursos
sejam configurados como privados por públicos, com todos os registos públicos
omissão; restringindo e monitorizando a digitalizados e publicados num banco de
venda e o acesso a dados dos utilizadores dados online aberto.
a terceiros sem consentimento explícito;
respeitando o direito de saber quando
se está em interação com um algoritmo;
consagrando o direito à igualdade de tra-
tamento, assegurando que os cidadãos
não enfrentam discriminação – racial, ét-
nica ou outra qualquer – com base em al-
goritmos digitais; reforçando o orçamento
e condições do Centro Nacional de Ciber-
segurança.

9  Precaver os riscos da massificação da


Internet das Coisas, promovendo legis-
lação a nível europeu de forma a preser-
var a segurança e privacidade das nossas
casas e objetos, a impedir a utilização de
dados pessoais em benefício de empre-
sas de tecnologia e a prevenir abusos de
posição pelos fornecedores e plataformas.

10  Estabelecer uma taxa sobre a deten-


ção de criptomoedas acima dos 5000€,
Portugal na Europa
e no Mundo
Portugal na Europa 106
e no Mundo

Defendemos que o nosso local de nas- to Europeu, nomeadamente através da


cimento não deve condicionar as nossas possibilidade dos Deputados Europeus
oportunidades e a nossa liberdade. Ambi- apresentarem iniciativas legislativas e da
cionamos um mundo em que as fronteiras recusa de decisões tomadas em estru-
sejam transponíveis por todos. turas paralelas como Cimeiras informais
de Chefes de Estado e de Governo (Ci-
Lutamos por uma democracia a várias es- meiras do Euro, por exemplo) e da criação
calas - desde a local até à europeia, espe- de uma “Comissão de Copenhaga” com a
rando que, um dia, seja possível uma de- incumbência de aferir o cumprimento dos
mocracia à escala mundial. Os desafios critérios do Estado de Direito e Direitos
que o planeta e nós enfrentamos assim Fundamentais pelos Estados-Membros
o exigem. e instituições europeias.

Neste mundo global, importa repensar o 2  Reforçar o respeito pelo Estado de Di-
lugar e o papel de Portugal. As relações reito, Democracia e Direitos Fundamen-
externas de Portugal devem ser nortea- tais na UE: suportar o contínuo escrutínio
das por princípios de solidariedade, res- do respeito pelos valores da UE em rela-
peito pelos Direitos Humanos e salva- ção à Hungria e Polónia no Conselho da
guarda do planeta e do ambiente. UE, Estados Membro ambos sob o escru-
tínio do Art. 7 TEU, e suportar as iniciati-
Por isso defendemos: vas que visem a conclusão do mecanis-
mo aberto; apoiar a aplicação imediata do
1  Defendemos a criação de uma demo- Regulamento relativo a um regime geral
cracia europeia, baseada na soberania de condicionalidade para a proteção do
popular de cada Estado e da União no orçamento da União relativo à Hungria e
seu conjunto, na qual o respeito pelo Es- Polónia, motivado pela demonstrada falta
tado de Direito e pelos Direitos Humanos, de respeito pelos valores da UE como es-
incluindo das pessoas de minorias, seja tipulados no Art. 2 TUE; apoiar o apelo do
condição imprescindível para a adesão Parlamento Europeu para a criação de um
e a manutenção do estatuto de Estado mecanismo interinstitucional da UE para
Membro e respetivas prerrogativas. Com a democracia, o Estado de direito e os di-
inspiração no ideal federalista europeu, reitos fundamentais, responsável pela mo-
defendemos a criação de uma democra- nitorização dos valores da UE numa base
cia transnacional segundo um modelo contínua, não discriminatória e compreen-
parlamentarista bicamarário, através da siva, baseado em dados concretos, no res-
eleição direta dos representantes portu- peito pelos princípios da subsidiariedade
gueses no Conselho da União Europeia, e da proporcionalidade, a fim de melhorar
do reforço dos poderes do Parlamen- a coordenação entre as três instituições.
Portugal na Europa 107
e no Mundo

3  Dar voz ao municipalismo, apoiando assegurem proteção do Ambiente, dos


e promovendo alternativas progressistas Direitos Humanos, do bem-estar Animal,
para a Europa, a todas as escalas incluin- da Saúde Pública, dos Direitos Laborais,
do a municipal, assumindo o municipa- dos Serviços Públicos e dos direitos do
lismo como parte estruturante do projeto consumidor; combatendo o “ dumping”
europeu. ambiental ou social, devendo as taxas
aduaneiras da União Europeia ter em
4  Relançar a economia europeia, har- conta a legislação de proteção ambiental
monizando a fiscalidade entre países e e social do parceiro de troca e incorpo-
acabando com os paraísos fiscais dentro rando no preço dos produtos o custo am-
da União; revogando o Tratado Orçamen- biental do seu transporte; implementando
tal. legislação a nível nacional e europeu que
impeça as empresas multinacionais de
5  Usar a escala da União Europeia para conseguirem impunidade face às viola-
ter força de influência, relançando o in- ções dos Direitos Humanos ou destruição
vestimento e combatendo a emergência ambiental por elas cometidas; rejeitando
ecológica com um verdadeiro Novo Pacto a Resolução de Conflitos Investidor-Es-
Verde europeu, focado na melhoria da tado (ISDS) e o Sistema de Tribunais de
qualidade de vida e na sustentabilidade Investimento e ainda qualquer tentativa
ambiental; implementando um quadro le- de criar um Tribunal Multilateral de Inves-
gislativo capaz de limitar o poder do setor timentos; pressionando nas Nações Uni-
financeiro e dominar os riscos da exposi- das a criação de um “Acordo Vinculativo
ção dos Estados, incluindo a diminuição sobre Empresas Transnacionais e suas
da concentração do poder de mercado cadeias de produção no que concerne
e da dimensão das instituições financei- aos Direitos Humanos”.
ras, a separação entre banca comercial e
banca de investimento e a proibição dos 7  Participar na construção da demo-
produtos financeiros excessivamente cracia global, reforçando a participação
complexos. de Portugal em organismos internacio-
nais, sobretudo na Organização das Na-
6  Lutar por uma política de comércio ções Unidas (ONU) e lutando pela criação
justa, assegurando que quaisquer nego- de um Tribunal Internacional de Direitos
ciações de acordos de Comércio e/ou In- Humanos e de um Tribunal Internacio-
vestimento sejam transparentes, e envol- nal contra os Crimes Ambientais; lutan-
vam a participação efetiva dos cidadãos e do pela implementação de instrumentos
das associações da sociedade civil; asse- multilaterais de combate à corrupção e à
gurando que quaisquer negociações, le- lavagem de dinheiro à escala global; lu-
gislação e/ou harmonização regulatória tando pela reforma do Conselho de Se-
Portugal na Europa 108
e no Mundo

gurança das Nações Unidas, através da nhecimento entre universidades; criando


possibilidade de entrada de novos mem- redes de cidadãos entre os vários países
bros permanentes e da restrição do uso e o mundo, incluindo as várias diásporas.
do direito de veto; lutando pela criação de
uma Assembleia Parlamentar das Nações 10  Defender e empoderar à diáspora
Unidas, com uma reunião anual antes da portuguesa, reabilitando e fortalecendo o
Assembleia-Geral da ONU, acrescentan- Conselho das Comunidades Portuguesas,
do assim um fórum de representação ci- através da consulta obrigatória deste órgão
dadã àquele que é, neste momento, um em qualquer matéria que diga respeito às
fórum exclusivo de diplomatas. Comunidades Portuguesas no estrangeiro,
tornando-o afeto à Presidência do Conse-
8  Defender a auto-determinação do lho de Ministros em matéria especializada,
povo palestiniano e sarauí, instando o Es- conferindo-lhe orçamento e estrutura ade-
tado Português na luta contra a ocupação quados e aprovando os direitos e deveres
da Autoridade Palestiniana e na defesa de dos conselheiros; reforçando o serviço do
um processo credível para um referendo Consulado Virtual e discutindo a rede con-
no Saara Ocidental. sular; facilitando o contacto e o apoio da
Direção-Geral dos Assuntos Consulares e
9  Aprofundar a cooperação entre os das Comunidades Portuguesas às asso-
países de língua oficial portuguesa e no ciações portuguesas da diáspora.
espaço Ibero-Americano, fortalecendo o
papel da Comunidade dos Países de Lín- 11  Responder às crises humanitárias ge-
gua Portuguesa (CPLP) como espaço de radas tanto por conflitos armados como
livre circulação e intercâmbio social, eco- pelo impacto das alterações climáticas,
nómico e cultural, facilitando a portabili- acabando com a Europa Fortaleza e efe-
dade de direitos entre os vários países- tivando um programa europeu digno de
membros e concedendo direitos civis e instalação e integração de refugiados
políticos às suas cidadãs e cidadãos que com partilha de responsabilidades entre
residirem em Portugal e assim o requere- todos os países; relançando a Abordagem
rem; criando uma Convenção sobre Igual- Global para a Migração e Mobilidade para
dade de Direitos e Deveres entre todos os aprofundar a cooperação com países ter-
Estados-Membros da CPLP; reforçando ceiros e reforçar a proteção dos migran-
a luta pelos direitos humanos em todos tes; relançando a Política Europeia de
os países da CPLP, incluindo a oposição Vizinhança, em particular a União para o
à pena de morte na Guiné Equatorial e o Mediterrâneo, para fomentar a transfor-
combate a todas as formas de discrimi- mação económica inclusiva e sustentável
nação e aos crimes ambientais; aprofun- em todos os países; humanizando o sis-
dando a cooperação, intercâmbio e reco- tema europeu comum de asilo; apoiando
Portugal na Europa 109
e no Mundo

a reunificação das famílias; criando uma


Operação Europeia de Busca e Salva-
mento para salvar as pessoas no mar e
descriminalizando a solidariedade para
com os migrantes; defendendo a livre
circulação em toda a Europa e em todo o
Mundo; criando um Passaporte Humani-
tário Internacional.

12  Acolher e integrar refugiados e mi-


grantes em Portugal, promovendo uma
política de imigração legal mais ambi-
ciosa, com a criação de centros de for-
mação, de recrutamento e de integração,
e de sistemas de incentivo à instalação
em zonas de maior declínio demográfi-
co, bem como a instituição de pacotes à
mobilidade laboral em parceria com os
países de origem; combatendo a explo-
ração e garantindo que os trabalhadores
migrantes têm os mesmos direitos, be-
nefícios e proteção que os portugueses;
garantindo condições dignas e humanas
de acolhimento em qualquer ponto de
entrada em Portugal, nomeadamente no
aeroporto de Lisboa, e reduzindo o tempo
de resposta para situações temporárias.
Liberdade
110

Esquerda
Europa
Ecologia

Versão
dezembro
de 2021

Programa aprovado www.


partidolivre.pt
no XI Congresso
de dia 12 de dezembro

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