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Opinião

A hora da bioeconomia
Temos de trabalhar em rede em prol da reinvenção dos modos de habitar a Terra

Paulo Hartung, O Estado de S.Paulo


07 de janeiro de 2020 | 03h00

Utilização de materiais de origem fóssil, emissão de gases de efeito estufa, mudanças climáticas,
desastres naturais... Precisamos superar o círculo vicioso dessa necroeconomia, que põe o nosso futuro
em risco. Já não basta mudar, é necessário revolucionar. Transformar a maneira de fazer negócios,
consumir, construir, enfim, viver. Já passou da hora de entrarmos de vez no círculo virtuoso da
bioeconomia.

Nesse desafio, é preciso que as instituições – governos nacionais, organismos multilaterais,


corporações, empresas, ONGs e outras forças da sociedade, como a academia – apressem o passo para
não serem atropeladas pelas mudanças que já estão em andamento. Não há mais espaço para esforços
individuais ou desarticulados. O mundo tem urgência por resultados práticos e só a mobilização
compartilhada pode garantir um horizonte para o nosso planeta.

Estive na Bélgica, onde conheci o Instituto de Biotecnologia de Flandres – Vlaams Instituut voor
Biotechnologie (VIB) –, numa região próxima à fronteira com a Holanda. A entidade construiu um
sistema de governança bastante interessante e formatado de modo a reunir diferentes atores sociais em
torno da inovação sustentada pelo conceito de bioeconomia. O local é financiado pelo governo, mas
atua em parceria com empresas e cinco universidades. São 51 milhões de euros de investimento entre
2017 e 2021.

Em Ghent, também na Bélgica, visitei a Bio Base Europe Pilot Plant, biorrefinaria que é mais um
exemplo a ser seguido. Investimento do governo local, o espaço está à disposição de empresas e da
academia para pesquisa e desenvolvimento de soluções que tenham em seu DNA o aproveitamento de
resíduos biológicos que substituam matéria-prima agressiva ao meio ambiente.

Altamente tecnológica, a biorrefinaria já recebeu mais de 120 companhias da Europa, da Ásia e das
Américas que pesquisaram ou desenvolveram soluções inovadoras e fundamentais. Dali já saíram
biocombustíveis, bioquímicos, bioadesivos, cosméticos, solventes, ingredientes para alimentos e
medicamentos, entre uma infinidade de outros itens que em breve estarão no dia a dia da sociedade
ajudando a migração para a bioeconomia. Sem uma companhia por trás da Bio Base Europe Pilot Plant,
as empresas sentem-se confortáveis para desenvolver projetos, seguras da confidencialidade necessária
para o avanço de pesquisas e obtenção resultados.

No Brasil não falta potencial e temos muito campo para avançar. Dentro do País há potencialidades e
cases que demonstram ser possível mergulhar no mundo da bioeconomia e ter um papel de liderança
nesse tema.

Quando o assunto é biomassa, as oportunidades são ainda maiores. O setor florestal nacional é
referência em árvores cultivadas para fins industriais e seus resíduos têm alto valor.

A economia circular já faz parte do processo produtivo dessa indústria. Tocos de árvores, galhos e
outros resíduos são utilizados para gerar energia, por exemplo. Na indústria de papel a reciclagem é
muito forte.

O momento é propício. As novas gerações estão mais conectadas à sustentabilidade, conscientes de seu
papel e da necessidade de assegurar um futuro para a humanidade. Essa garotada vai definindo novos
padrões de consumo, com exigências que já se tornam o novo normal: menos produtos de plástico e de
origem fóssil em geral, com explicitação de requisitos como reciclabilidade, renovabilidade e
compostagem, com uma visão da circularidade da economia e crescente intolerância ao desperdício e ao
single use.

A COP-25, em Madri, resume bem o momento. Não foi realizada no Brasil nem no Chile e coube à
Espanha correr contra o tempo para evitar que a conferência se mostrasse de todo irrelevante do ponto
de vista de seus resultados concretos e considerando que em aspectos centrais da implementação do
Acordo de Paris, especialmente a aprovação do artigo 6 – mercado de créditos de carbono –, persistiu
um impasse.

O fato é que a lógica das negociações multilaterais, como são as conferências da ONU sobre mudanças
climáticas, por sua própria natureza e dimensão, na prática, estão na contramão de qualquer ideia de
urgência.

No Brasil ainda precisamos sentar à mesa e pensar estrategicamente nesses assuntos, que são
fundamentais para nosso futuro. Não há problema algum em olhar para fora de nossas fronteiras e nos
inspirarmos.

Nesse sentido, a União Europeia lançou em Madri o documento The European Green Deal, com
diretrizes para tornar a região neutra de carbono até 2050. A China até poucos anos atrás era um
exemplo de degradação ambiental. Hoje se tornou um case de sucesso: suas metrópoles já não
apresentam o ar irrespirável de antes, seu sistema de transporte coletivo vai adotando a eletricidade...
Nos EUA, circunstancialmente afastados dos debates globais sobre economia de baixo carbono, os
Estados subnacionais, a exemplo da Califórnia, já realizaram a reconversão de suas respectivas matrizes
energéticas.

Somos uma potência ambiental e sem favor algum estamos predestinados ao protagonismo. Nosso
desafio é nos reconectarmos em mutirão de mobilização colaborativa, para que possamos enfrentar e
superar problemas inaceitáveis, ainda persistentes quando iniciamos a terceira década do século 21, em
áreas decisivas à dignidade da vida, como educação e saneamento.

O fundamental no momento é uma visão cuidadosa, que, de fato, mire um futuro sustentável para o
planeta, o que passa pela promoção e valorização de nossa caminhada civilizacional no rumo da
economia circular e da bioeconomia. Aqui estou falando diretamente da sobrevivência de todos. Por
isso temos de sair do discurso apequenado pelo viés ideológico e atrasado, passando a trabalhar em
redes de cooperação em prol da reinvenção dos modos de habitar a Terra. Não podemos vacilar mais. O
nosso futuro depende do agora.
ECONOMISTA, PRESIDENTE EXECUTIVO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE ÁRVORES (IBÁ), FOI
GOVERNADOR DO ESPÍRITO SANTO (2003-2010 E 2015-2018)

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Ingresso na OCDE é prioridade de


Estado
Será imprescindível adotar uma estratégia coordenada que engaje representantes da sociedade e
órgãos públicos nos Estados, municípios e na União.

Robson Braga de Andrade, O Estado de S.Paulo


23 de fevereiro de 2022 | 03h00

A notícia de que o Conselho de Ministros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento


Econômico (OCDE) aceitou iniciar negociações para o ingresso do Brasil no organismo internacional
veio em boa hora. Neste momento de retomada da economia, a aproximação com a entidade vai
impulsionar reformas estruturais e regulatórias necessárias ao crescimento do País.

Após quase cinco anos de espera, o convite para as discussões é um avanço considerável. Traz uma
perspectiva concreta de modernização da governança, da regulação de setores da atividade econômica e
das políticas em diferentes áreas, como tributação, comércio, investimentos, inovação, meio ambiente e
ciência e tecnologia.

A OCDE é reconhecida não mais como um clube dos países ricos, mas como um fórum de boas práticas,
que auxilia os governos a formular políticas eficientes para os cidadãos e para as empresas, com base
em estudos e dados qualificados. Ser membro dessa instituição significa sentar-se à mesa com diversas
nações, entre elas as desenvolvidas, e, assim, não só se beneficiar do contato com bons exemplos, mas
também influenciar na elaboração de recomendações adotadas internacionalmente.

O Brasil tem trabalhado para aumentar a convergência com as recomendações da OCDE antes mesmo
do início das negociações para o ingresso na entidade. Essa decisão foi acertada e permitiu que o País
seja, hoje, entre os candidatos à entrada, o mais alinhado aos instrumentos normativos da organização.

O processo de acessão será abrangente e lento, mas fundamental. Nesta próxima fase, o Brasil terá suas
leis, normas e políticas públicas em determinadas áreas avaliadas por mais de 20 comitês da
organização. Essa análise permitirá entender quão próximo ou distante o País está do arcabouço
normativo e das práticas da organização, podendo, assim, receber sugestões de mudanças e ajustes.

Apesar de não existir uma lista predefinida de critérios para os países-candidatos e de ainda não se
conhecerem quais serão as áreas avaliadas, é possível antecipar alguns temas importantes que terão
destaque por demandar mais esforços de adequação.

Na área tributária, entre as principais questões estão a convergência do modelo brasileiro de preços de
transferência aos padrões da OCDE e a implantação de um imposto sobre valor adicionado, nos moldes
do que é praticado internacionalmente e do relatório da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n.º
110, em tramitação no Congresso Nacional.

Além disso, a questão ambiental será decisiva, conforme destacado na carta-convite. Quase 40% dos
instrumentos legais da OCDE se referem ao meio ambiente e contêm recomendações específicas para
temas como o gerenciamento dos recursos hídricos e a necessidade de políticas abrangentes para
resíduos sólidos e para uso de energias renováveis.

O Brasil reúne condições para ser um dos líderes da descarbonização da economia e uma referência
mundial na oferta de produtos da biodiversidade. Por isso, também será necessário intensificar o
combate ao desmatamento ilegal e às queimadas. Setores público e privado deverão concentrar esforços
na articulação e na efetiva implantação de políticas públicas e avanços nessas áreas.

A preparação do País para conduzir esta próxima fase será crucial. Pela dimensão do processo, o setor
privado deve ter um papel relevante. Será imprescindível adotar uma estratégia coordenada que engaje
representantes da sociedade e diferentes órgãos públicos, nos municípios, nos Estados e na União,
incluindo o Poder Legislativo. Nesse aspecto, recomenda-se a formalização de um canal institucional,
com a criação de grupos de trabalho para avaliar e contribuir com propostas para os diferentes temas.

Exemplos recentes, como o da adesão aos Códigos de Liberalização e o das medidas para boas práticas
regulatórias, em que esforços conjuntos entre governo e setor privado trabalharam na convergência
com as práticas da OCDE, se traduziram, hoje, em melhorias concretas para o ambiente de negócios. No
primeiro caso, houve simplificação e desburocratização de operações de câmbio e o compromisso para a
redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). No segundo, as iniciativas para boas práticas
permitiram maior previsibilidade, transparência e participação da sociedade na edição de atos
normativos.

No âmbito externo, a atuação do setor produtivo também será relevante. O Business at OECD, braço
empresarial da organização, que conta com a participação da Confederação Nacional da Indústria
(CNI), vai apresentar a perspectiva das empresas – incluindo prioridades e preocupações – no processo
de acessão do Brasil.

A entrada do Brasil na OCDE deve ser uma prioridade de Estado nos próximos anos. A indústria
brasileira continuará contribuindo ativamente, nos planos interno e externo, para que o processo se
traduza num compromisso constante de aperfeiçoamento de políticas públicas para a construção de um
ambiente de negócios favorável e para a inserção internacional do País. O resultado será o estímulo ao
crescimento econômico e à melhora das condições de vida da nossa população.
*

EMPRESÁRIO, É PRESIDENTE DA CNI

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