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CIDADÃO
Um novo caminho para os serviços
públicos no Brasil
GOVERNO
CIDADÃO
Um novo caminho para os
serviços públicos no Brasil
8
7
INTRODUÇÃO
Qual o momento do mundo?
E qual é o momento do Brasil?
52
PREFÁCIO
22 34
EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS
A inovação a serviço do cidadão
EXPERIÊNCIAS BRASIL
Aprendizado a partir
de experiências empáticas
Casos Institucionais
Casos na ponta
COMO MELHORAR O movimento em direção à
OS SERVIÇOS PÚBLICOS? inovação nos serviços públicos
A escolha pela inovação
e definição do conceito
VISÃO DE FUTURO, 69
De que inovação estamos falando?
GLOSSÁRIO, 70
O design thinking SOBRE O TELLUS, 73
AGRADECIMENTOS, 74
PREFÁCIO
O QUE TORNA UM PAÍS ADMIRÁVEL é antes O acesso a programas de transferência de ren- Nas páginas que seguem, o grupo Tellus apre-
de tudo a qualidade da cidadania que propicia da tirou da pobreza cerca de 40 milhões de senta caminhos para ajudar a praticar a inova-
a seus habitantes. A expansão do bem-estar na brasileiros. Mas ainda está pendente a dívida ção. O foco desta publicação é a inovação em
segunda metade do século XX já nos mostrou do Estado brasileiro em fornecer-lhes servi- serviços públicos – os jovens profissionais da
lições claras: 1) o bem-estar requer prosperida- ços como porta de entrada à cidadania plena. inovação, reunidos no Tellus, concluíram após
de, solidariedade e igualdade; 2) tais requisitos Temos hoje no país um número maior de con- cinco meses de pesquisa ser esse o caminho
se materializam por meio de serviços públicos sumidores. Queremos num futuro próximo ter promissor que liga governos e cidadãos. E pro-
de qualidade, acessíveis e sustentáveis; 3) o um número maior de cidadãos – e para tanto, põem o governo cidadão como a ponte para
Estado é o grande responsável pelo financia- é imprescindível melhorar e ampliar a oferta de a efetivação da cidadania no país. Trata-se de
mento e organização da prestação de tais ser- serviços públicos. um grupo admirável de jovens empreendedo-
viços - mesmo que prestados por parceiros. res e comprometidos com a promoção da qua-
Aí entra a necessidade urgente da inovação.
lidade no setor público, que querem contribuir
Assim, os serviços públicos se constituem como Não no sentido do novo, do inédito, do nun-
efetivamente para que o país onde vivem seja
uma via de concretização da cidadania. Cida- ca antes feito. Sim no sentido de sair da lógica
um país admirável – não apenas por suas ri-
dãos precisam contar com os tradicionais servi- burocrática para uma efetiva revolução na ma-
quezas naturais ou sua cultura exuberante, mas
ços de educação, saúde, apoio social, transpor- neira de organizar e prestar tais serviços. Na
7
pela ampliação da cidadania a todos. Para que
tes, além de novos serviços como a assistência lógica burocrática, os serviços funcionam das
em breve, quem sabe, possamos ressaltar os
A ERA DO GOVERNO-CIDADÃO
personalizada a idosos, os serviços online, a 9h00 às 17h00, de segunda a sexta, às vezes fe-
traços comuns que compartilharemos com os
promoção da diversidade, a promoção da res- chando no almoço, com poucas pessoas aten-
escandinavos. Sob o sol. Sorrindo.
ponsabilidade social e ambiental, o microcrédi- dendo ao público (e muitas atrás das portas
to, os exames de ponta, as bikes de aluguel, o e das divisórias), o funcionário de mau humor, QUE A LEITURA TRAGA
acesso a informações abertas, ... Acesso, quali- demonstrando a todo momento que o cidadão BOA INSPIRAÇÃO A TODOS.
dade, efetividade e custo são aspectos centrais à sua frente lhe atrapalha, não há informação,
dos serviços que promovem a cidadania. o cidadão tem que esperar, voltar várias vezes,
numa clara inversão de papeis que torna o ser-
Esta não é apenas a realidade de países ricos Regina Silvia Pacheco: Doutora em Desenvolvimento
viço (local e funcionário) mais importante que Urbano e Meio Ambiente - Université de Paris XII
que construíram seu Estado do Bem Estar Social
o serviço (aquilo que o cidadão foi procurar). (1985). Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela
ao longo de muitas décadas. Cidadãos hoje em Universidade de São Paulo (1979). É professora do
Tudo isso precisa mudar. Além de mais vagas quadro permanente da FGV-EAESP desde 1990,
todo o mundo cobram de seus governos a entre-
em creches, precisamos de apoio às mães, ho- onde atua desde 1988. É coordenadora da linha
ga de serviços de melhor qualidade. Também no de pesquisa Transformações do Estado e Políticas
rários flexíveis, alimentação saudável, integra-
Brasil há uma pressão em favor de serviços que Públicas (TEPP), na pós-graduação da FGV-
ção com transportes, lideranças que motivem EAESP. Foi Presidente da ENAP Escola Nacional
funcionem e sejam realmente desenhados levan- de Administração Pública, entre 1995 e 2002. Foi
seus funcionários e assumam o desafio de me-
do em conta as necessidades de seus usuários. E Coordenadora Executiva do Consórcio Intermunicipal
lhorar continuamente o serviço que prestam – do Grande ABC entre 1990 e 1992. Atualmente é
esperamos que a pressão aumente e influencie
e este é apenas um exemplo. Coordenadora do Mestrado Profissional em Gestão e
positivamente a agenda dos governos. Políticas Públicas - MPGPP da FGV-EAESP.
introdução
INTRODUÇÃO
9
uma análise e exemplos inspiradores de pessoas, instituições e Governos,
Inovação é a criação
solver desafios sociais e satisfazer as de-
mandas dos cidadãos, com eficiência e
efetividade.
e a implementação
10
11
viços prestados ao cidadão são estrutura-
inovação
buído à inovação; as barreiras que dificul-
Cidadão
zer suas ideias se concretizarem em prol do
Na sequência, analisamos também o con- Enquanto realizávamos as pesquisas de muito distante de ter a inovação como uma
texto da inovação no setor público do Bra- campo, também nos dedicamos a pesqui- bandeira importante e estruturada e, prin-
sil. Entrevistamos alguns servidores e ges- sas chamadas “desk research” (realizadas cipalmente, de incorporar o processo e o
tores públicos que conseguiram inovar, não no ambiente virtual), na busca de casos em modelo mental da inovação como forma de
obstante todas as barreiras da administra- outros estados e em âmbito federal. Procu- ajuda-lo a oferecer serviços melhores aos
ção pública brasileira, e pudemos vivenciar ramos as iniciativas usadas para estimular cidadãos. Das inspirações que buscamos
um pouco a sua realidade. Ao analisar o a inovação e apoiar servidores, gestores e nos exemplos internacionais, o caso do Rei-
perfil desses inovadores, também pudemos lideranças públicas no processo de inovar, no Unido é o mais robusto e, por sua vez, o
entender o ambiente das organizações seja com ferramentas e metodologias, seja mais alinhado com o nosso desafio: melho-
onde atuam - restrições, oportunidades, com reconhecimento profissional ou espa- rar a vida das pessoas ao inserir a questão
estratégias usadas para superar as adver- ços de troca e inspiração. da inovação em serviços públicos no Brasil.
sidades, propósitos que os guiam e assim
por diante. Foram conversas, imersões e Essas atividades nos ajudaram a iniciar um Lá, um movimento de fora para dentro do
vivências em diferentes realidades públicas processo de análise do estágio da inovação Governo foi capaz de criar não apenas uma
de São Paulo e do Rio de Janeiro. Do Metrô no setor público brasileiro (com ênfase ini- agenda nacional coerente, mas também
à Assessoria de Inovação do Estado de São cial e presencial nos estados de São Paulo condições para que ela se fortalecesse e in-
Paulo e Secretaria Municipal de Educação e Rio de Janeiro e, virtual, no caso do esta- fluenciasse o comportamento e as decisões
do Rio de Janeiro. do de Minas Gerais). Esta etapa considerou governamentais.
INTRODUÇÃO
E O QUE ESPERAMOS
COM ESTE ESTUDO?
Este estudo é resultado de uma primeira
exploração sobre o conceito e prática de
Inovação em Governo no Brasil e no mun-
do. Não se trata de um estudo orientado
... compartilhar e abrir
todos os processos
pelo compromisso de comprovar uma hi-
pótese. Trata-se de uma primeira investi-
gação da qual, provavelmente, surgirão
novas e mais profundas pesquisas - que
serão realizadas pelo Tellus e por qual-
que envolvem a
nossa familiarização,
quer outro coletivo ou pessoa disposta a
13
se juntar a nós nesta causa.
MOMENTO
14
DO MUNDO?
A demanda por um Governo que se coloque a serviço do cidadão e o in-
clua nos processos de criação das soluções e políticas públicas é laten-
te. O contexto atual apresenta grandes mudanças sociais e econômicas
onde o Governo - pelo papel que tem, pela influência que exerce e pelos
recursos que administra - precisa repensar sua postura e se redesenhar.
INTRODUÇÃO
15
1
causas e efeitos de um problema municação altera a complexidade dos pro- TORJMAN, Lisa. Labs: Designing the Future.
Por outro lado, no setor econômico, o rá- Assim, as empresas deixam de trabalhar
pido e abundante acesso a informações, somente com os produtos fixos e passam
a qualquer hora e em qualquer lugar, faz a se enxergar como plataformas de me-
com que caminhemos pra uma transição lhoria e serviços, capazes de agregar mais
da economia de posse/propriedade para valor para seus clientes e, claro, melhor
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
a economia do acesso “just in time” de satisfazê-los. Nessa era dos serviços, mais
bens e serviços. Com produtos tornando- do que simplesmente vender seus produ-
-se obsoletos cada vez mais rápido, o novo tos, numa relação quase pontual, o impor-
ganhou outro significado e valor – não im- tante é estabelecer um laço de longo pra-
porta o que seja esse novo: informação, zo com o cliente.
conhecimento, objetos. Ele passou a ser
mais desejado e as pessoas concordam A formação de vínculos com clientes e a
que é aceitável pagar por ele. compreensão profunda sobre eles requer
um novo nível de envolvimento entre em-
presas e usuários. Para se diferenciarem,
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Revolução Industrial
máquinas a vapor; produção em
massa; criação de salários; classe
operária; organização da linha de
produção (Talyorismo e Fordismo); Pós Revolução Industrial
jornal como meio de comunicação rádio; TV (comunicação direta com
de massa; transporte público; início consumidor); desenvolvimento
Pré Revolução da globalização; expansão do tecnológico; sociedade da informação
sociedade agrícola/escravocrata; capitalismo; êxodo rural; início da e conhecimento; sufrágio feminino;
produção artesanal; comunicação higienização e criação de hospitais; mulheres no mercado de trabalho;
basicamente oral. era dos produtos. boom eletrônico; era dos serviços.
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A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
Hoje
Percebemos que o acesso à informação - Essa breve reflexão sobre o atual contex- redes de acesso a experiências;
tanto na camada do consumo, quanto na to reforça a necessidade de encontrarmos mudança dos perfis de consumidor
camada da produção - somado à consoli- uma forma diferente de pensar e resolver e vendedor para os de usuário e
dação dos serviços e das experiências são desafios, orientados pelo propósito de de- fornecedor via internet; redes de
fatores que contribuem para um maior senvolver serviços públicos que contribu- contato; ferramentas colaborativas;
grau de exigência das pessoas em relação am positivamente para a vida das pesso- experiência para além de produtos
ao serviço público. as e para a configuração dessa nova era e serviços; ciclos de vida dos
mundial, que começa a se constituir no produtos cada vez mais curtos;
momento de transição que vivenciamos5. troca constante de informações;
smartphones; alta conectividade.
5
Disponível em: http://www.ru.org/society/remembering-vaclav-havel.html. Acesso em 25/10/2012
E QUAL É
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
O MOMENTO
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DO BRASIL?
Sabemos que em uma sociedade globalizada, existe a ten-
dência à generalização de problemas e soluções. E que a
sensação de que tudo é replicável pode causar uma gran-
de frustração. Contudo, ainda que o mundo seja um sis-
tema integrado e interdependente, é fundamental diag-
nosticar especificidades.
INTRODUÇÃO
19
de futuro que estão abertas.
Em comum o resto do mundo, o Brasil
40
milhões
de brasileiros saíram
da pobreza entre
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
2001 e 2012
53%
20
população formada
equivalente à população
pela classe média da Espanha
em 2012
Para se ter uma ideia, entre 2001 e 2011, a A consequência dessa atual distribuição
proporção de brasileiros pobres caiu de foi bem definida pelo ministro Moreira
38,7% para 20,6%. A taxa de extremamen- Franco, da Secretaria de Assuntos Estra-
te pobres foi de 17,4% para 6,9%. Foram 40 tégicos do Governo Federal “O grande
milhões de brasileiros que saíram da pobre- desafio do Governo é melhorar a quali-
za – o equivalente à população da Espanha. dade dos serviços para atender à maio-
ria da população, que pertence à classe
Já a classe média (famílias com renda per média, que paga seus impostos e, por
7
VOZES da Classe Média. Secretaria de capita de R$ 291 a R$ 1.091) passou de isso, quer serviços de maior qualidade.
Assuntos Estratégicos, Governo Federal. 38% da população brasileira em 2002 para A classe média vai precisar de uma se-
2012. Disponível em http://www.sae.gov.br/
vozesdaclassemedia/?page_id=36. Acesso em
53% em 2012. Ou seja: hoje, essa classe é gunda geração de políticas públicas,
23.out.2012. composta por 104 milhões de brasileiros7. tanto sociais quanto econômicas.”
INTRODUÇÃO
21
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
enorme desafio de gerar
valor com seus serviços
públicos.
Como melhorar os
serviços públicos?
COMO MELHORAR OS SERVIÇOS PÚBLICOS?
A ESCOLHA
PELA INOVAÇÃO
23
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
Acreditamos na inovação como um processo estruturado que ajuda Go-
vernos a gerar soluções desejáveis, viáveis e sustentáveis para os cida-
dãos. É esta compreensão - apoiada no estudo de casos reais que mos-
tram a capacidade do processo em contribuir para o desenvolvimento
de serviços públicos de alta qualidade - que nos leva a optar e defender
o caminho da inovação.
Uma vez estruturado e internalizado pela Para Roberto Agune, idealizador da As-
organização, de forma que todas as pesso- sessoria de Inovação do Governo do Esta-
as que nela atuam tenham se apropriado do de São Paulo:
desse modelo mental, a inovação poderá
ser utilizada e gerará múltiplas soluções
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
25
no processo de concepção e implementação dos serviços públicos;
O CONCEITO
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
E OS TIPOS DE
26
INOVAÇÃO
Embora existam diferentes definições para o termo, na es-
sência, inovar é, segundo o Fórum de Inovação da FGV-EAESP:
Portanto, a inovação é
um meio para resolver,
Inovação solucionar, gerar resultado
em resposta a um desafio.
Diferenciando-se de
Ação outros conceitos como:
Traduzir ideias em ação através
da implementação, consolidação, CRIATIVIDADE
27
institucionalização, ampliação ou processo de pensar coisas novas5;
NOVIDADE
aquilo que é novo; caráter do que nunca foi
experimentado6 (relaciona-se com a ideia
Ideia de pioneiro, aquele que é precursor ou que
abre um caminho numa dada área7);
Gerar ideias de melhoria
ou criação de novos
BOAS PRÁTICAS
serviços.
é um conjunto de experiências bem
sucedidas que apesar de poderem ser
adaptadas, trazem uma solução pré-
Resultado concebida.
[ O foco constante em mudar, criar algo novo, pode gerar ainda mais descontinuida-
des na vida organizacional e, também, nos programas, políticas e serviços públicos;
[ É voltada apenas para aqueles que já possuem uma gestão de excelência, um corpo
de funcionários extremamente capacitados ou possuem recursos para testar solu-
ções e apostar em ideias inovadoras;
organizações podem acabar sendo desprezados, assim como pode ocorrer uma
rejeição do passado, como se ele não tivesse nada bom, desvalorizando as pessoas
e suas tentativas em sua trajetória no setor público;
[ A sensação de ter “mais uma coisa para fazer”; a existência de mais um projeto, além
de todas as responsabilidades que continuam existindo, pode representar uma dor
de cabeça a mais.
5 Contrapondo essas preocupações, reforçamos que para inovar não é preciso, necessa-
EGGERS, William; SINGH, Shalabh Kumar Singh.
The Public Innovator Playbook: Nurturing Bold riamente, criar algo novo. Diversos processos de inovação pública que identificamos e
Ideas in Government. Deloitte Research and
Ash Institute for Democratic Governance and propomos para o Brasil se inspiram em experiências anteriores. Já entre os fatores que
Innovation, 2009. mais ajudaram tais iniciativas, estão: o conhecimento prévio das pessoas; a investigação
6
INFOPÉDIA. Porto Editora. Disponível em Acesso apreciativa dos recursos e potenciais da organização e de seu time; as lições obtidas
em 24.out.2012. http://www.infopedia.pt/lingua-
com as experiências bem e mal sucedidas dentro e fora do contexto em questão; casos
portuguesa/novidade
7
inspiradores no mesmo setor e em outros não relacionados; relatórios disponíveis sobre
INFOPÉDIA. Porto Editora. Disponível em http://
www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/pioneiro.
o tema; planejamento e indicadores.
Acesso em 24.out.2012.
COMO MELHORAR OS SERVIÇOS PÚBLICOS?
DE QUE
INOVAÇÃO
29
ESTAMOS
O DESIGN
THINKING
31
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
O Design Thinking é uma forma de pensar e resolver
problemas complexos, a partir da empatia, colabo-
ração e experimentação. Ele propõe que ao colocar
as pessoas envolvidas com o projeto criado desde o
seu desenvolvimento, naturalmente, um ponto de
vista mais empático será adotado.
COMO MELHORAR OS SERVIÇOS PÚBLICOS?
O objetivo é gerar resultados mais dese- já defendia essa idéia. Durante sua pa- No entanto, uma retrospectiva cuidado-
jáveis e relevantes para as pessoas que lestra na Rhode School of Design (EUA), sa no tempo mostra que o design sem-
usufruem do produto criado e ao mes- salientou o quanto o uso do design para pre esteve relacionado à inovação, prin-
mo tempo garantir que ele seja financei- fins meramente comerciais era “a perver- cipalmente por sua qualidade de resolver
ramente viável e tecnicamente possíveis são de uma grande ferramenta”. “A coisa problemas sistêmicos, muito mais do que
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
de serem transformados em realidade. Ao mais importante sobre o design é a forma apenas à de produzir objetos. Brown usa o
sustentar toda a sua lógica na necessida- como ele se relaciona com as pessoas”10, exemplo do britânico Isambard Kingdom
de do usuário, o design thinking possibilita enfatizou. Brunel, construtor civil do século XIX, para
a criação de um Governo Cidadão. enfatizar esse ponto. Ao construir Great
Mais de quatro décadas depois, durante Western Railway, linha férrea que ligava
Apesar de natural, a relação entre design um TED Talk11 em 2009, Tim Brown, pre- Londres ao sudoeste da Inglaterra, Bru-
e uma nova forma de fazer governo, não sidente e CEO da IDEO, uma das maiores nel estava preocupado em proporcionar a
soa óbvia pela concepção de design que consultorias de design do mundo, come- melhor viagem possível aos passageiros.
perpetuou nos últimos séculos. morou o fato de finalmente o design ter Assim, no lugar de concentrar sua aten-
reconquistando aquela que nunca deveria ção a aspectos técnicos da locomotiva,
32
Por muito tempo, o design foi sinônimo de ter deixado de ser sua principal função: a ele buscou acrescentar detalhes que pro-
criação de produtos e, quando muito, es- de fomentar avanços na sociedade. Se- porcionassem uma experiência de viagem
tava atrelado a alguma noção de qualida- gundo Brown, o motivo pelo qual o design melhor ao usuário.
de estética. Contudo, há muito tempo, al- se apequenou tem uma justificativa his-
guns profissionais da área tentam mostrar tórica. Na segunda metade do século XX, A iniciativa de Brunel nos deixa uma pis-
que o design não pode ser reduzido dessa a indústria passou a recorrer ao design ta de algo que se mostra cada vez mais
forma e que era preciso resgatar uma con- principalmente para a criação de produ- relevante nos dias de hoje: o design deve
cepção inicial da importante função social tos, tornando-os mais bonitos, atraentes e considerar, sobretudo, a experiência do
do design. Em 1964, Victor Papanek9, au- vendáveis. usuário e sua relação com a realidade,
tor do livro “Design For The Real World” concebida em seu caráter sistêmico. O
design leva em conta que uma visão ho-
lística da realidade na qual o produto ou
do serviço está inserido pode ofertar uma
melhor resposta às necessidades.
9|10|11
Disponível em: http://papanek.org/
COMO MELHORAR OS SERVIÇOS PÚBLICOS?
O método é caracterizado pela combinação de uma postura empática de se lidar com o proble-
ma, pela criatividade para gerar ideias e pela racionalidade em analisar e adequar as soluções
encontradas. Por ser centrado no ser humano e nas suas relações com as coisas, é possível obter
insights e criar um conjunto de experiências feitas sob medida para aquele consumidor/usuário.
É por isso que vislumbramos no design thinking uma ferramenta para concretizar o processo
da inovação. Uma ferramenta que tem como princípios:
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atividades e pesquisas de campo (inspiradas na etnografia) a fim de complementar outras pesquisas e o parecer
A INOVAÇÃO
A SERVIÇO DO
CIDADÃO
35
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
Quando decidimos olhar para fora de nossas fron-
teiras, nossa missão era identificar se a inovação
está presente no discurso dos responsáveis por mu-
danças na Administração Pública mundial. Conse-
quentemente, como definiam este conceito. E em
qual perspectivas da inovação estavam focados: na
estrutura organizacional, serviços, tecnologia, etc.
EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS
37
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
Então, decidimos analisar exemplos inter- Com este recorte, realizamos o estudo Para além do diagnóstico, este estudo
nacionais que não apenas ilustram, mas exploratório, por meio de papers, publica- serve como suporte para vislumbrarmos
também, tangibilizam o início desse mo- ções, estudos de caso e sites que engloba o que pode ser feito e os resultados que
vimento pela inovação nos serviços pú- mais de 40 organizações sociais, empre- podem ser alcançados, uma vez que já
blicos. Notamos que, ao adotarem a ino- sas e órgãos de Governos. O resultado nos existem casos consolidados e ferramen-
vação como meio, algumas organizações deixa seguros de que seguimos a direção tas estruturadas para chegar à Era do
públicas começam a ter a postura de Go- certa ao apontar que, para o Brasil, a ino- Governo Cidadão. Exemplos que nos en-
verno Cidadão, ou seja, passam a se pre- vação nos serviços públicos pode contri- sinam, provocam, inspiram e ajudam no
ocupar em colocar o cidadão como peça buir para darmos um salto de qualidade, discernimento do que pode ser aplicado
fundamental na concepção, desenvolvi- eficiência e impactos positivos gerados na no Brasil.
mento e implementação das melhorias vida das pessoas.
nos serviços públicos.
EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS
O MOVIMENTO
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
EM DIREÇÃO À
INOVAÇÃO NOS
38
SERVIÇOS PÚBLICOS
O movimento que parte da inovação como processo para melhorar os
serviços existentes ou criar novas ofertas ao cidadão, foi iniciado há mais
de 10 anos, liderado majoritariamente por países como a Alemanha, Aus-
trália, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, Finlândia, Holanda, Nova Ze-
lândia, Singapura e, principalmente, o Reino Unido.
EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS
39
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
[ INSTITUCIONALIZAÇÃO DA INOVAÇÃO. Alguns pa- [ FUNDAÇÕES, ONGS E EMPRESAS SO-
íses transformaram o processo de inovação aplicada CIAIS. Organizações especializadas em
aos serviços públicos em política nacional, formando, inovação e design de serviços, parceiras
por exemplo, escritórios intragovernamentais de ino- do Governo da execução do processo de
vação. Mecanismos que permeiam toda a estrutura, inovação. Responsáveis por criar proje-
desde o alto escalão até as instâncias governamentais tos piloto, contribuir para sua difusão e
locais. E tem como objetivo apoiar e disseminar os formação de servidores em designers
vários departamentos e organizações com metodolo- de serviços públicos. Uma parceria que
gias, ferramentas e consultorias internas. Não por aca- agiliza o processo de melhorias ou de
1
so, um dos processos mais usados é o design thinking, desenvolvimento de serviços e soluções
do qual, brevemente falamos na seção anterior. que demandam respostas rápidas.
1
Disponível em: http://www.policyconnect.org.uk/apdig/design-commission. Acesso em 29/10/2012.
EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS
MINDLAB2
41
nas áreas de empreendedorismo, mudan-
2
Fonte: MindLab. http://www.mind-lab.dk/aboutus
EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS
O espaço físico é outra importante caracte- viço, passando pelo envolvimento real dos
rística. Projetado para estimular a inovação servidores públicos com a situação.
e a criatividade, ele serve como laboratório
para a criação, simulação e prototipagem Este é um exemplo de organização que
de projetos. Trata-se de um ambiente onde atua com os princípios do Governo Cida-
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
CASO:
MENTOR DIGITAL PARA
JOVENS DESEMPREGADOS3
DESAFIO
43
e ajudá-lo a dar os passos certos para enfrentar a situação.
3
Disponível em: http://www.mind-lab.dk/en/cases/digitale-mentorordninger-skal-hjaelpe-ledige-naermere-et-job. Acesso em 27/07/2012.
EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS
A grande sacada do projeto foi unir a disposição do A essência do MindLab é simples: um laboratório que facilita a in-
povo dinamarquês por atividades de voluntariado com tegração de três ministérios/secretarias em um ambiente de coo-
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
a necessidade alocar jovens no mercado de trabalho. peração neutro, que possibilita testes e aprimoramento de políticas
e serviços públicos inovadores de baixo custo. A lógica aumenta as
Assim, a solução encontrada consiste em um sistema
chances de sucesso do projeto. Afinal, no momento de implementar
de mentoria digital, por meio de uma plataforma que
a solução final, os testes já garantiram que as adequações e mudan-
conecta jovens desempregados com mentores volun-
ças necessárias para o lançamento em larga escala com resultados
tários, dispostos a ajudá-los a chegar mais perto de
controlados.
um emprego.
Mas é na combinação das estratégias que encontramos a resposta.
Por acontecer no ambiente digital, o contato entre
Um laboratório multidisciplinar, com foco de atuação definido, me-
mentor e mentorado (pupilo) proporciona uma agili-
todologia clara, processo bem estruturado e com equipe capacitada.
dade na comunicação entre as duas partes. Essa ins-
44
tantaneidade supre de forma eficiente uma necessi- O Governo brasileiro poderia proporcionar essa inspiração e troca
dade imediata e urgente dos jovens, que precisam de de melhores práticas entre diferentes secretarias; a maximização
alguém para conversar, orientar e ajudar na busca de dos esforços e a cooperação intersetorial para resolução de proble-
uma colocação profissional. mas complexos; um ambiente de diálogo e cocriação com o cidadão
e outros agentes; espaço e cultura de prototipar, testar, antes de im-
Contudo, o sistema não tem a pretensão de substituir
plementar numa escala maior, reduzindo as chances a solução não
métodos tradicionais de treinamento, como os mediados
gerar os resultados esperados; entre outros.
por profissionais especializados, ou políticas públicas
para o setor. Ao contrário, é uma ação integrada e pa- Assim como na Dinamarca, uma iniciativa brasileira poderia come-
ralela. Além do programa de mentor digital, o MindLab çar - seja numa Prefeitura, seja entre Ministérios no Governo Fe-
desenvolveu outras duas propostas complementares: 1) deral - com objetivo de usar este espaço neutro e multidisciplinar
Cooperação com as organizações comerciais 2) Inves- para os servidores e gestores públicos obterem apoio de recursos
timento em filtros para uma escolha mais apurada do humanos, conhecimento e ferramentas/métodos para a melhoria
mentor, por meio das afinidades e habilidades de ambos, de serviços já existentes ou criação de novos conceitos e formas de
criando um ambiente propício para troca entre os dois. levar a oferta aos cidadãos, melhorando, de fato, suas vidas.
EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS
NESTA
A Nesta4 é uma organização social no
Reino Unido que tem a missão de aju-
dar pessoas e organizações a transfor-
marem ideias em realidade através de
investimentos e financiamentos; pes-
quisas, publicações e avaliações de im-
pacto/resultado dos projetos; criação e
fortalecimento de networkings (redes de
contato); conhecimento, técnicas e me-
todologias; equipes para auxiliarem ou
acompanharem os projetos.
45
de inovação em serviços públicos, de to-
CASO:
TRANSFORMING EARLY YEARS
Para você visualizar tudo o que falamos, abaixo, segue o exemplo do caso: “Transforming
Early Years”5 (Transformando os Primeiros Anos, em livre tradução), realizado no Public
Service Lab (Laboratório de Serviços Públicos), o escritório de inovação da organização,
que é voltado para a melhoria e criação de serviços públicos que lidam com os principais
desafios do Reino Unido, como mudanças climáticas, precariedade da saúde pública e en-
velhecimento da sociedade.
DESAFIO RESULTADOS
Uma pesquisa feita no início do projeto demons- Ao longo de sua vigência, em média, o programa
trou que, por mais que as creches públicas fossem como um todo tem demonstrado:
bem avaliadas pelas famílias, apenas 1 em cada
• Os novos modelos de serviços são, em média, 25%
10 cidadãos que precisam desse tipo de apoio as
mais baratos do que os modelos tradicionais;
utilizam. Somado a este dado, havia uma restri-
ção de recursos, pois, o orçamento do Governo • Também em média, eles atingem 120% a mais de
destinado às creches teve uma redução da ordem famílias, incluindo aquelas que mais precisam
de 20% a 30%. de apoio;
• Os novos serviços têm uma economia no custo
unitário que varia entre 30% e 81%.
47
SOLUÇÃO
PARTICIPLE6
A Participle é uma empresa social fundada serviços públicos são desenhados/conce-
em 2007, com base em Londres. Desenha, bidos e entregues ao cidadão. “Nós acre-
desenvolve e implementa soluções ino- ditamos que o que realmente importa não
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
Resumidamente, a visão de Beverigde 4.0 Tendo isso em vista, a Participle entrega des dos cidadãos e que permite a todos
consiste em: para seus clientes um novo modelo, a par- atingir seu potencial. Além disso, provoca
tir do qual, os serviços públicos são con- o uso mais eficiente dos recursos do Esta-
[ Passar de um sistema focado nas neces- cebidos e implementados em colaboração do, o que gera resultados efetivos.
sidades para um sistema mais preocupa- com aqueles que os utilizam. O maior be-
do com as habilidades de cada um; nefício de tal abordagem é a emergência Um exemplo é o caso do projeto “Life – a
de um sistema mais sensível às necessida- vida que queremos”.
[ Passar de serviços que são designados
para algumas pessoas para serviços
abertos a todos;
CASO:
[ Passar de um sistema focado na questão
LIFE – A VIDA QUE QUEREMOS
financeira para um focado em recursos
existentes;
49
[ Evitar instituições centralizadoras para DESAFIO
SOLUÇÃO RESULTADOS
O projeto Life foi concebido a partir de Atualmente, o projeto está sendo replicado em diferentes municípios do Reino Unido.
um processo no qual a equipe da Par- Estão entre os seus resultados:
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
um assistente treinado para ter uma • As famílias passaram a ter estilos de vida saudáveis.
conexão empática com a família e es-
cutar o cidadão assistido. Durante um
ano, a família recebe visitas semanais
do assistente “personalizado”, que a
APRENDIZADOS PARA O BRASIL?
apoia na reestruturação de diversas
O surgimento de novas empresas sociais - focadas não só na geração de lucro, mas
formas. De acordo com a demanda, o
também de impacto social - com o objetivo de auxiliar o Estado a melhorar a entrega
apoio vai desde as medidas com cunho
de seus serviços pode ser um diferencial para acelerar a mudança e a qualidade dos
prático - como contribuir para que os
serviços públicos prestados ao cidadão. A terceirização de uma atividade ou a con-
pais se reposicionem no mercado de
tratação para prestação de um serviço é uma alternativa para o Estado ter acesso a
trabalho ou para a elaboração de um
novos conhecimentos e abordagens, com equipes capacitadas para realizar projetos
planejamento de estudos para as crian-
e implementá-los. Ao entrar em contato com modelos mentais e métodos diferentes,
ças. Até um esforço por colaborar com
aos poucos, é possível transferir e disseminar novos conhecimentos entre os servido-
o bem-estar emocional do lar - como
res, para que possam reforçar sua atuação enquanto agentes de transformação.
melhorar a comunicação e tolerância
entre membros da família ou estabe- As empresas como a Participle são destinadas não só à concepção, mas também im-
lecer uma agenda frequente de lazer plementação na ponta. No futuro, mesmo com o Estado operando com Laboratórios de
para ela, que inclui medidas como pas- Inovação dentro da sua estrutura, parceiros que concebam e implementem o projeto
seios de final de semana. na ponta são extremamente úteis e necessários, pois garantem ainda a imparcialidade
na facilitação do processo.
EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS
FINLÂNDIA
CANADÁ DINAMARCA
REINO UNIDO
ALEMANHA
EUA
SINGAPURA
51
AUSTRÁLIA
De todo o modo, o estudo obteve grande êxito ao garimpar experiências nacionais que
embrionário,
53
são grandes precursoras dessa importante bandeira do Governo cidadão. Para facilitar
APRENDIZADO
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
A PARTIR DE
54
EXPERIÊNCIAS
EMPÁTICAS
EXPERIÊNCIAS BRASIL
55
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
As visitas também nos fizeram entender que 1] RESILIÊNCIA;
inovar na área publica não é para qualquer 2] PRÓ-ATIVIDADE;
um. Os inovadores, estejam eles no gabinete 3] CAPACIDADE DE SUPERAR AS
BARREIRAS DA BUROCRACIA;
ou no trabalho do fim da cadeia, precisam
4] ABERTURA PARA IDEIAS:
ter algumas características para levar EXTERNAS, INTERNAS E
VINDAS DO USUÁRIO;
seus projetos adiante. Algumas das que
5] AUTONOMIA PARA MANTER AS
percebemos como mais necessárias são: DIRETRIZES ESTRATÉGICAS
EXPERIÊNCIAS BRASIL
O PESO DA LIDERANÇA
As vivências realizadas por nossa equipe permitiu ter conhecimento da dinâmica hierár-
quica entre liderança, gestores intermediários e gestores da ponta. O estudo mostrou
que as lideranças possuem peso maior para a inovação acontecer.
1
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
3
[ ARTICULAÇÃO COM REDES. A articulação entre órgãos de governo e pares
setoriais é fundamental para obter mais recursos e atingir melhores resultados.
Esse conceito é uma das premissas para a inovação na área pública.
57
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
BARREIRAS
As dificuldades para inovar são diversas, seja qual for o ambiente em que ela ocorra.
Porém, há alguns padrões de dificuldades enfrentadas quando analisamos o cotidiano
do setor público. Podemos destacar dez principais:
CASOS
INSTITUCIONAIS
58
REALIDADE
Muitas das inovações ocorrem depois que servidores trocam experiências com outros
colegas ou com pessoas que trabalham fora do Governo. No entanto, esse comparti-
lhamento informal, embora seja uma importante fonte para gerar inovação, ocorre sem
uma sistematização ou uma gestão de conhecimento.
SOLUÇÃO
59
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
Ciente desse desafio, o Governo de São Paulo, por meio da Assessoria de Ino-
vação, criou a Rede Paulista de Inovação em Governo, um ambiente físico e
virtual no qual os funcionários podem compartilhar experiências inovadoras,
voltadas para a melhoria da gestão pública e para o aprimoramento dos servi-
ços prestados à população.
O ambiente físico é promovido por meio do inovaDay, um encontro mensal
direcionado à troca de experiências de dentro e fora do Governo que atrai uma
média de 65 servidores de diferentes órgãos. O evento é transmitido pela in- PARA MAIS INFORMAÇÕES:
ternet para cerca de 140 computadores, além ter pontos de transmissão para Ricardo Agune | Assessor de Inovação
escolas de Governo do Acre e do Rio Grande do Sul. em Governo | ragune@sp.gov.br
Já o ambiente digital oferece um leque de opções para conectar os servidores, José Antônio Carlos | Assessor de
Inovação em Governo | jcarlos@
além de tutoriais didáticos que oferecem orientações práticas sobre ferramen- planejamento.sp.gov.br
tas e técnicas de administração ou uso da tecnologia. É uma rede de referência
Álvaro Gregório | Assessor de Inovação
em função de seu conteúdo e gestão do conhecimento. em Governo | agreg@sp.gov.br
EXPERIÊNCIAS BRASIL
REALIDADE
SOLUÇÃO
Milla Fernandes Ribeiro Tangari 2.o Núcleo Central de Inovação e Modernização Institucional,
Gestora do Núcleo Central de Inovação responsável pela articulação e troca de informações entre
e Modernização Institucional
todas as Assessorias de Gestão Estratégica e Inovação.
milla fernandes@planejamento.mg.gov.br
EXPERIÊNCIAS BRASIL
CASOS NA
PONTA
61
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
O terceiro bloco vai detalhar, de maneira simples e di-
reta, o que e como organizações públicas implementam
quando se preocupam com inovação na área pública. Os
resultados trazem benefícios claros ao cidadão, usuário
do serviço. A seguir, conheça o exemplo da Biblioteca de
São Paulo e da Secretaria Municipal de Educação do Rio.
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO EXPERIÊNCIAS BRASIL
PROGRAMA + 60
BIBLIOTECA DE SÃO PAULO,
SECRETARIA DA CULTURA
DO ESTADO DE SÃO PAULO
E ORGANIZAÇÃO SOCIAL
SP LEITURAS
REALIDADE
62
1
Disponível em: Fundação SAEDE, 2012 http://
www.seade.gov.br/produtos/projpop/
EXPERIÊNCIAS BRASIL
63
ral de alta qualidade para o público com mais de 60 anos. rios da Biblioteca e da SP Leituras; especialistas de áreas do co-
Fig. 1
PODER EXPERIENCIAL
PROTOTIPAGEM
65
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
Fig. 2
PARA MAIS INFORMAÇÕES:
Adriana Ferrari | Coordenadora da Unidade
de Bibliotecas e Leitura da Secretaria da
Cultura de São Paulo | acferrari@sp.gov.br
Pierre Ruprecht | Diretor Executivo da SP
Leituras | pierre@spleituras.org
Rosane Fagotti | Diretora da Biblioteca de
São Paulo | rosane@bsp.org.br
EXPERIÊNCIAS BRASIL
REALIDADE
SOLUÇÃO
67
ça) em torno de resultados. lucionavam aqueles problemas. de teorias.
O governo possui muitas barreias e bu- Em sua equipe, Claudia tenta manter Processos de Governo são extensos e
rocracias que abortam novos projetos um perfil diversificado: otimistas (im- se uma mudança gerará impacto em
logo em sua concepção. Para superar o portantes para executar a inovação) toda a estrutura, pode haver um caos
empecilho, realizaram um mapeamento e pessimistas (importantes para pon- no sistema. As inovações no Rio ocor-
de brechas legais que apontou um es- derar as ideias e dar caminhos para reram com calma e em diferentes tipos
paço para modelos inovadores, desde contornar dificuldade). Além disso, há de projetos experimentais, para que
que eles fossem intitulados de escolas- reuniões mensais com pessoas notórias após a análise de resultados fossem
-piloto. Além disso, criou-se uma rela- de dentro e fora do Governo para gerar expandidos para outras escolas.
ção de parceria com os órgãos regula- soluções aos problemas enfrentados
dores que poderiam travar o processo. no dia a dia.
Visão de futuro
VISÃO DE FUTURO
A NOVA ERA DO GOVERNO CIDADÃO que o legitima. Isso nos trouxe a certeza que Iniciamos um debate para uma nova era e
aponta para a necessidade do Estado re- esse é o novo desafio de todo o mundo e um novo comportamento do Estado pe-
volucionar a forma como age e se relacio- mais do que isso, esse desafio caracteriza- rante a sociedade. A situação do país é
na com a sociedade. Tornar clara a oportu- -se como um movimento global. extremamente favorável, porém o tempo
nidade de melhorias nos serviços públicos passa rápido. É preciso dar força a esse
para as lideranças brasileiras e mostrar ca- Percebemos a concepção um fluxo cons- movimento.
minhos para lidar com os desafios foram tante de mudanças nas formas como vi-
os principais objetivos desta pesquisa. vemos. De nada adianta aplicar métodos Esse é um convite para a ação, começando
e procedimentos antigos para resolver os por sensibilizar a sociedade brasileira e criar
Resolvemos tomar uma postura mais pro- problemas dinâmicos do futuro. uma consciência coletiva da importância da
70
ativa, propositiva e otimista em relação às inovação nos serviços públicos como meio
1] BEM ESTAR: É um estado de saúde, 3] COCRIAÇÃO: Termo que surgiu ini- de serviços existentes ou na criação de
felicidade ou prosperidade. A partir de um cialmente no mundo dos negócios como serviços inexistentes é chamado Service
entendimento mais amplo, bem estar é a participação do cliente e de fornecedo- Design Thinking. O foco é tornar o servi-
viver bem e de modo que sinta satisfeito e res na criação de um produto ou serviço. ço mais útil, de fácil uso, eficiente, eficaz
completo. Além disso, pode ser o estado Para o Tellus, significa envolver na criação e desejado pelo usuário. O resultado são
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
de não se sentir sozinho e quando suas e na implementação os possíveis parcei- serviços que atendem com maior preci-
necessidades básicas humanas como edu- ros e stakeholders daquele serviço pú- são as necessidades reais do cidadão e
cação e saúde são atendidas. O bem estar blico. Alguns exemplos de stakeholders geram bem-estar a ele.
é ter uma qualidade de vida satisfatória envolvidos nas ações de governo são as
que permita agir plenamente em busca de empresas locais, ONGs, comunidades do 5] EMPATIZAR: Colocar-se no lugar
seus objetivos e metas. Por fim, bem estar, entorno, outros órgãos públicos. do outro, porém sem perder nunca essa
é o senso de pertencimento e capacidade condição de percepção “como se fosse a
de controlar o rumo de sua vida. 4] DESIGN THINKING: Uma forma de outra pessoa”. Consiste em perceber cor-
pensar e resolver problemas complexos, retamente o marco de referência interno
2] CLIENTE: Na maioria dos contextos focada na empatia, colaboração e expe- do outro com os significados e compo-
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é considerado como cliente de uma en- rimentação. Ele propõe que um ponto nentes emocionais que contém. A empa-
tidade todo aquele que decide a compra de vista mais empático seja adotado e tia implica, por exemplo, sentir a dor ou o
de determinado bem ou serviço ofereci- que coloque as pessoas no centro do prazer do outro como ele o sente e per-
do por uma entidade. No caso do servi- desenvolvimento de um projeto. O ob- ceber suas causas como ele a percebe,
ço ou política pública o cliente é aquele jetivo é gerar resultados que sejam mais porém sem perder nunca de vista que se
que recebe diretamente um serviço ou desejáveis e relevantes para as pessoas, trata da dor ou do prazer do outro. Esta
produto para satisfazer uma necessidade mas que ao mesmo tempo sejam finan- percepção é essencial para que se possa
sua ou de alguém. ceiramente interessantes e tecnicamente acessar níveis mais profundos de escuta e
possíveis de serem transformados em re- compreensão sobre as reais necessidades
alidade. A aplicação dos conceitos e fer- e desejos das partes interessadas.
ramentas do Design Thinking na melhoria
GLOSSÁRIO
6] ETNOGRAFIA: Tipo de pesquisa 8] INOVAÇÃO: É uma idéia que foi apli- 10] MELHORES PRÁTICAS: São soluções
qualitativa e exploratória baseada na cada ou implementada na prática e gerou e conhecimentos previamente aplicados,
observação de pessoas, em seu ambiente um resultado positivo para um grupo testados, estruturados e bem sucedidos
natural, durante suas ações espontâneas específico de stakeholders inicialmente de diversos outros projetos anteriores e
do dia-a-dia e durante suas interações definidos. Portanto, não existe inovação que solucionaram problemáticas. Estas
com um serviço, produto ou processo. que não deu certo, pois para ser chamada soluções e conhecimentos podem ser
Oriunda da Antropologia Social, tem o de inovação a ideia implementada deve reaplicados em sua totalidade ou mesmo
objetivo de compreender e analisar pa- gerar resultado. Uma inovação pode ser inspirar novas ideias ou aprendizados.
drões específicos de comportamento que de um produto, serviço, processo, expe-
só são demonstrados em situações não riência ou modelo de negócio. Ela pode 11] MODELO MENTAL: São ideias que
controladas e voluntárias. Esse tipo de ser desde uma pequena melhoria até algo estão profundamente arraigadas que
informação possibilita identificar necessi- que vá além do padrão e do paradigma influenciam nosso modo de encarar o
dades e desejos não explícitos dos usu- estabelecido e rompa com a linha de me- mundo e nossas atitudes. Modelos men-
ários. Possibilita, também, compreender lhoria contínua. tais são ativos, e modelam nosso modo
níveis mais profundos de usabilidade e de de agir, porque em parte, influenciam o
72
interação pessoa-serviço-produto-pro- 9] MPLEMENTAÇÃO: Muitos dos traba- que vemos. É a maneira que enxergamos
12] PESQUISA INSPIRACIONAL: É um 14] PROTOTIPAGEM: Significa tirar uma 16] STAKEHOLDERS: Também conheci-
método de pesquisa exploratória que tem ideia da cabeça e criar representações dos como “partes interessadas”, são as
como objetivo estimular a criatividade físicas para tangilibizá-la e para facilitar a pessoas que possuem, direta ou indi-
pela exposição a pontos de vista diver- sua comunicação para outros. Isto per- retamente, algum tipo de interesse ou
sos sobre o tema e com algum nível de mite um maior entendimento sobre ela e envolvimento em um assunto, no caso,
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
correlação a ele, para que seja possível permite que outras pessoas possam deta- o serviço oferecido pelo governo. Por
refletir e imaginar além dos paradigmas lhá-la, melhorá-la, ou mesmo usá-la como esta razão, são pessoas essenciais na sua
habituais e da normalidade consolidada. matéria-prima para novas ideias. Tam- elaboração e que precisam, de alguma
Por exemplo, busca-se conhecer casos bém, uma vez tangibilizada, uma ideia forma e em algum momento, serem escu-
extremos dentro do tema. pode ser testada na prática e, com isso, tadas e contempladas.
receber feedbacks de como ser aprimo-
13] POLÍTICA PÚBLICA: Conjunto de rada e de qual o impacto gerado. Outro 17] SISTEMAS DE “OPEN INNOVATION”:
ações desencadeadas pelo Estado, objetivo é “aprender fazendo”, errando São sistemas ou plataformas online
diretamente ou indiretamente, em suas rápido, barato e pequeno. que permitem e estimulam os usuários/
diferentes esferas de atuação (Federal, cidadãos a contribuírem com ideias e
73
Estadual e Municipal). Estas ações po- 15] SERVIÇO PÚBLICO: São atividades ações para a resolução de problemas.
dem contar com a participação de entes ligadas ao Estado, que este tenha assu- Por exemplo, um governo pode lançar na
públicos ou privados, e visam assegurar mido como responsabilidade própria, sua plataforma um problema para resol-
determinado direito de cidadania, de prestados para atender necessidades ver de limpeza da cidade. Uma vez que
forma difusa ou para determinado segui- do bem-estar coletivo, por meio de seus o desafio é lançado, os usuários podem
mento social, cultural, étnico ou econômi- agentes, representantes, outras enti- propor ideias e até colaborarem entre
co. As políticas públicas são asseguradas dades ou particulares. Muitas políticas si até chegarem numa solução ideal. O
constitucionalmente ou podem-se afirmar públicas, em sua última instância, se governo/órgão escolhe a melhor solução
graças ao pedido por parte da sociedade traduzem em um serviço público ofere- e implementa.
e/ou pelos poderes públicos. Tais pedidos cido. São exemplos: serviços em postos
representam novas necessidades de bens de saúde e hospitais, segurança pública, 18] SERVIÇOS PÚBLICOS DIGITAIS
materiais ou imateriais, para atender às atendimento à população em repartições ‘SELF-SERVICE’: São serviços públicos
pessoas ou às comunidades. públicas, educação fundamental e ensi- oferecidos online para o cidadão, com a
no médio, conservação de ruas e aveni- característica de “faça você mesmo”, ou
das, rodovias/estradas, transporte urba- seja, não exige a necessidade de descola-
no, limpeza urbana iluminação pública, mento ou interação com um funcionário
fornecimento de água e fornecimento de público. Por exemplo: sistema na internet
energia elétrica. de agendamento de consultas médicas.
AGRADECIMENTOS
O TELLUS ACREDITA NA INOVAÇÃO nos ser- de que forma poderíamos estimular e criar as Por fim, o Tellus só existe pela crença, confian-
viços públicos como um meio para possibilitar condições para que a inovação aconteça no se- ça e apoio daqueles que estiveram conosco
que os cidadãos contem com serviços que fa- tor público brasileiro. desde o início:
A ERA DO GOVERNO CIDADÃO
um primeiro passo em direção a sensibilizar a Regina Pacheco da Fundação Getúlio Vargas inúmeras maneiras.
sociedade brasileira e criar a consciência cole- de São Paulo, que sempre trouxeram as provo-
Em especial, também, agradecemos a Profes-
tiva da importância de inovarmos para garantir cações, orientações e o tom acadêmico neces-
sora Patrícia Tavares da FGV/EAESP, que es-
uma qualidade mais alta de nossos serviços e, sário para o desenvolvimento do projeto, com
teve conosco em momentos fundamentais de
por consequência, evitar que mais uma vez o excelência e consistência.
crescimento e definições da organização.
Brasil perca a oportunidade de dar um salto
Não menos importante foram as inúmeras con-
em termos de desenvolvimento. Reconhecemos também o apoio incansável
versas, vivências e reflexões com servidores,
de todos aqueles que acreditam e compar-
Essa pesquisa exploratória é fruto de um pro- gestores e lideranças públicas de diferentes
tilham da causa, para que o Brasil possa ser
jeto muito mais amplo denominado “Mais Ino- organizações governamentais do Rio de Janei-
um país com um Governo Cidadão e pessoas
vação Pública” que, durante 5 meses, envol- ro e de São Paulo. Sem a possibilidade de estar
possam ter a oportunidade de se desenvolver
veu uma equipe multidisciplinar composta por e participar do cotidiano de quem faz o Go-
plenamente.
membros do Tellus, gestores públicos, empre- verno, não seria possível chegar nesse nível de
sários, líderes de organizações sociais e aca- profundidade de reflexão que fizemos sobre a
dêmicos. O objetivo desse projeto foi entender inovação na área pública brasileira.
Time Tellus: Beatriz Pedreira, Cândido Azeredo, César Matsumoto, Germano Guimarães, Marcos Silveira, Marina Amaral Cançado e Vivian Costa.