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POR UM

COM

PROGRAMA
ELEITORAL
LEGISLATIVAS
2024
PROGRAMA ELEITORAL

POR UM

COM

LEGISLATIVAS 2024
MENSAGEM DO PRESIDENTE M
O que diremos aos jovens Foi por isso que, quando tivemos dúvidas, optámos
005
sempre pela solução que trazia mais ambição. Foi por isso
portugueses se não tivermos que, na incerteza, escolhemos sempre mais liberdade. É
a coragem, agora, de mudar por isso que este Programa Eleitoral dá voz à visão única
o país? Foi esta a pergunta que da Iniciativa Liberal para a economia e a sociedade e à
me coloquei vezes sem conta enorme ambição que temos para Portugal.

durante as semanas em que A visão única de contrapormos uma sociedade civil forte e
este Programa Eleitoral esteve uma iniciativa privada pujante ao estatismo que todos os
a ser desenvolvido. E foi esta outros defendem. A visão única de afirmarmos uma
agenda claramente reformista contra o conformismo
a pergunta que nos ajudou a
dominante que apenas quer “mais do mesmo”. A visão
decidir nos momentos em que única de insistirmos nas soluções com provas dadas
nos interrogámos sobre o recusando a via fácil do leilão de promessas. A visão única
caminho a seguir. de afirmarmos a nossa enorme confiança nos
portugueses quando outros falam a partir da raiva e do
medo. A ambição de queremos um país onde é possível
subir na vida pelo trabalho. A ambição de querermos um
país onde os jovens que saíram podem voltar e onde os
que pensam sair podem ficar. A ambição de querermos
para Portugal o mesmo nível de prosperidade que outros
países encontraram porque adotaram políticas mais
liberais.

Agora, é o tempo de, com a nossa energia, a nossa alegria


e o nosso entusiasmo, apresentarmos as nossas
propostas aos portugueses. Com a certeza de que,
quando falarmos um dia com os jovens de Portugal, lhes
diremos que tivemos a coragem de apresentar um
Programa Eleitoral para mudar o governo, sim, mas
sobretudo para mudar o país.

Não posso deixar ainda de agradecer profundamente a


todos os membros da Iniciativa Liberal e aos muitos
independentes que contribuíram para este Programa
Eleitoral com sugestões, comentários e críticas e à equipa
que coordenou a recolha, seleção, desenvolvimento e
validação das propostas. O partido das ideias fica mais
uma vez a dever muitíssimo a tantas pessoas
extraordinárias. Bem hajam.
Rui Rocha

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 MENSAGEM DO PRESIDENTE


5
GRANDES OBJETIVOS
PARA A LEGISLATURA
ATÉ 2028

1
Crescimento
Económico
menos impostos,
mais poder de compra
Alcançar um Salário Médio de
1.500€ líquidos por mês
(o que hoje equivale a cerca de
2.130€ brutos).

2 3
Saúde Educação
menos espera, menos facilitismo,
mais escolha mais exigência
Garantir Médico de família - público Pelo menos 82,5% dos alunos com
ou privado - para todos, resultados positivos a cada um
começando pelos que têm mais de dos domínios avaliados pelo PISA.
65 anos, mulheres grávidas e
crianças até aos 9 anos até 2025.

4 5
Habitação Justiça
menos burocracia, menos complexidade,
mais casas mais celeridade
250 mil novas habitações com Reduzir o tempo médio das
construção terminada ou iniciada. decisões em primeira instância
nos tribunais administrativos dos
atuais 850 dias para menos de
um ano, igualando a média
Europeia.

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 OBJETIVOS


POR UM PORTUGAL COM FUTURO

SUMÁRIO
PORTUGAL A CRESCER
Baixar impostos. Desbloquear a economia. Reduzir o papel do Estado ao de regulador.

1. BAIXAR IMPOSTOS E DESBUROCRATIZAR


• Taxa única de IRS de 15% sobre a parte dos rendimentos que exceda o Salário Mínimo Nacional,
começando de forma gradual com duas taxas de 15% e 28%, aumentando imediatamente o
salário líquido

• Reduzir a carga fiscal sobre os profissionais liberais e os trabalhadores independentes

• Taxa única de IRC de 12% para as empresas, excepto para as grandes multinacionais que será
de 15% de acordo com o exigido pela lei europeia

• Criar uma task force de eliminação de burocracias desnecessárias em diálogo com cidadãos
e empresas

• Criar Zonas Económicas Especiais (ZEE) de baixa fiscalidade no interior do país para atrair
investimento direto estrangeiro e promover a criação de hubs empresariais

• Reverter as normas do pacote Mais Habitação relativas ao Alojamento Local, eliminar


a redução do coeficiente fiscal

• Eliminar várias taxas e contribuições extraordinárias como o adicional ao IMI (AIMI) e o imposto
do selo sobre transações já taxadas

• Eliminar gradualmente o Imposto Único de Circulação (IUC)

• Reduzir o imposto sobre rendimentos de capitais para 14,5%

• Compromisso de Orçamentos com superávit e redução da dívida pública

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 SUMÁRIO


POR UM PORTUGAL COM FUTURO

2. HABITAÇÃO AGORA: MAIS OFERTA


• Reverter o Pacote Mais Habitação, eliminando quaisquer formas de arrendamento forçado

• Eliminar o IMT na compra de habitação própria permanente

• Aumentar as deduções em IRS das rendas e dos juros do créditos à habitação

• Isentar o arrendamento e as transações imobiliárias de imposto de selo

• Reduzir o imposto sobre as rendas para uma taxa máxima de 14,5%

• Reduzir o IVA da nova construção de 23% para 6% para aumentar a oferta

• Colocar os milhares de imóveis vazios do Estado à disposição do mercado de habitação

• Criação de um regime de incentivo à nova construção para arrendamento (build-to-rent)

• Consolidar mais de dois mil diplomas dispersos num só Código da Construção e Edificação

• Consolidar todas as regras do arrendamento num Código do Arrendamento

• Criar um regime de pré-licenciamento urbanístico automático

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 SUMÁRIO


POR UM PORTUGAL COM FUTURO

3. TRANSPORTES: MAIS MOBILIDADE


• Implementar o Plano Ferroviário da Iniciativa Liberal para que nenhuma capital de distrito
esteja a mais de 2 horas de distância de Porto ou Lisboa

• Executar o projeto TGV: linha ferroviária de alta velocidade Lisboa-Porto

• Maior concorrência do serviço ferroviário atualmente prestado pela CP e reforma do governo


do setor ferroviário

• Potenciar o transporte ferroviário de mercadorias e reduzir a taxa de uso ferroviária para todos
os tipos de tráfego

• Apostar no aumento da capilaridade, frequência e intermodalidade das redes de metropolitano


e metro de superfície nas regiões metropolitanas de Lisboa e Porto, apostar nos metros de
superfície em cidades de média a grande dimensão e promover os sistema de Metrobus/BRT
em cidades de média dimensão

• Liberalizar o mercado de transporte fluvial no Tejo, privatizando a Transtejo/Soflusa e abrindo


novas rotas de navegação a outros operadores

• Unificar os regimes do táxi e do TVDE para que o plano de concorrência seja o mais justo
possível

• Permitir a instalação de postos de carregamento com venda direta de energia pelos OPC, sem
a obrigação de conexão à rede Mobi.e.

• Instalar de sistemas de bicicletas partilhadas e de parqueamentos públicos de bicicletas


nas interfaces dos transportes públicos

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POR UM PORTUGAL COM FUTURO

4. REFORMA LABORAL
• Alargar os direitos de parentalidade e acesso a creches a profissionais liberais e trabalhadores
independentes

• Alargar a isenção sobre rendimentos a trabalhadores-estudantes independentes

• Dar liberdade de escolha ao trabalhador no recebimento dos subsídios de Férias e de Natal:


ou em dois momentos, como hoje, ou mensalmente

• Evoluir para um regime de flexisegurança como em muitos países europeus mais desenvolvidos:
as saídas e as entradas no emprego são mais flexíveis, mas o apoio e segurança na procura de
emprego é maior

• Remeter mais condições contratuais para a contratação coletiva e negociação individual

• Restabelecer mecanismos de flexibilidade no horário

• Um novo modelo para a Comissão Permanente de Concertação Social (CPCS)

• Evoluir para um modelo setorial de negociação de salário mínimo em vez de uma imposição
estatal igual para todas as atividades

• Caminhar para uniformização das relações de emprego públicas e privadas, acabando com
as atuais discriminações

• Fazer a imigração depender de prova de meios de subsistência, assegurados pelo imigrante


ou pela empresa, garantido dignidade na entrada no país

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POR UM PORTUGAL COM FUTURO

5. AMBIENTE E AGRICULTURA
• Criar um mercado nacional da água: sistema de transvases nacional, sistema real de preços
da água, renovar as redes de distribuição, reutilizar água residuais e viabilizar soluções
de dessalinização onde houver procura

• Desburocratizar e acelerar o investimento em energias limpas

• Lançar leilões tecnologicamente neutros que incluam todas as energias limpas

• Acelerar o licenciamento do Auto-Consumo (UPAC) e das Comunidades de Energia Renovável


(CER)

• Máquinas de Reciclagem: implementar um sistema de depósito e retorno em Portugal em


circuito aberto aos privados

• Conferir às comissões de cogestão liberdade e condições na contratualização de serviços de


gestão e restauro das Áreas Protegidas

• Concluir o cadastro florestal, incentivando o emparcelamento por via da não cobrança de taxas
administrativas

• Permitir que os Centros de Recolha Oficiais possam deixar os animais a cargo de pessoas,
suportando parcialmente ou totalmente os encargos com os mesmos

• Uma política agrícola focada na redução de custos de contexto, tais como água e energia

• Viabilizar rapidamente a edição genómica em Portugal

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POR UM PORTUGAL COM FUTURO

PORTUGAL A FUNCIONAR
Descomplicar a administração pública. Liberdade de escolha do prestador de serviços públicos.
Estado garante sem ter de ser prestador único.

6. MAIS ACESSO À SAÚDE


• Novo sistema de saúde que integre os setores público, privado e social, onde as pessoas
possam escolher onde e por quem querem ser tratadas, com mais acesso e menos espera, sem
custos acrescidos além dos existentes como na Holanda ou na Alemanha

• Médico de família – público ou privado – para todos até 2028, começando pelos que têm mais
de 65 anos, mulheres grávidas e crianças até aos 9 anos, até 2025

• Recuperar as Parcerias Público-Privadas nos hospitais de Braga, Vila Franca de Xira e Loures,
alargando o modelo a outros hospitais

• Reduzir as listas de espera, através da criação de um Programa Especial de Acesso a Cuidados


de Saúde que assegure o acesso atempado a consultas e cirurgias

• Expandir as USF-B e Implementação das USF-C

• Remuneração variável consoante o desempenho para todos os profissionais de saúde

• Reforçar as competências dos enfermeiros especialistas

• Alargar os cuidados prestados pelas Farmácias Comunitárias

• Garantir o acesso a medicamentos e a dispositivos médicos, com comparticipação a 100% para


os que não os possam pagar, sobretudo idosos

• Promover a saúde mental, garantindo um acesso efetivo em todos os níveis de cuidados

• Defender os direitos das mulheres, respeitando-as nas suas escolhas livres e na maternidade

• Criação de um Registo de Saúde Electrónico Universal

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POR UM PORTUGAL COM FUTURO

7. EDUCAÇÃO: MAIS ELEVADOR SOCIAL


• Criar um cheque-creche para que cada família possa escolher a creche que mais lhe convém,
seja ela no setor privado ou social

• Aumentar oferta de vagas de creches através da via verde do licenciamento de creches

• Implementar um plano de emergência de recuperação de aprendizagens através de tutorias


regulares

• Recuperar as avaliações nacionais no final dos ciclos do ensino básico

• Dar liberdade de escolha das escolas, mudando o financiamento da escola para o


financiamento por aluno, o que permitirá às famílias matricularem os seus filhos nas escolas
que quiserem, sejam públicas, privadas ou sociais, sabendo que são igualmente
comparticipadas pelo Estado

• Contratar e remunerar professores aposentados para mitigar a escassez de professores

• Aumentar a autonomia administrativa, financeira e pedagógica das escolas públicas, incluindo


maior gestão de recursos humanos

• Reformar a contratação e avaliação de professores, transferindo responsabilidades para a


escola / agrupamento escolar

• Reestruturar a carreira docente

• Promover o ensino profissional e caminhar para um ensino dual, permitindo a mais alunos ter
formação teórica nas escolas e prática nas empresas

• Dar maior autonomia às universidades e politécnicos, incluindo na admissão e selecção de


alunos e na variedade da oferta educativa

• Estimular a oferta educativa disponível no ensino superior

• Reforçar a Literacia Financeira em contexto escolar

• Desburocratizar e investir na investigação científica

• Defender cultura de dados na educação

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POR UM PORTUGAL COM FUTURO

8. SEGURANÇA SOCIAL E REFORMA DIGNA


• Reformar o Sistema de Pensões, alicerçando-o no princípio da valorização da poupança
individual e numa redistribuição mais sustentável

• Introdução de um pilar de capitalização obrigatório e incentivo ao pilar de capitalização de


contribuições voluntárias, à imagem das melhores práticas de sistemas de pensões europeus

• Notificação anual de informação com a situação agregada das contribuições para a Segurança
Social a cada contribuinte individual

• Colocar no recibo de vencimento a totalidade dos custos suportados pela entidade


empregadora, incluindo a Segurança Social

• Implementar Contas-Poupança isentas de impostos

• Garantir a reclamação dos certificados de aforro após morte do titular

• Uniformizar e desburocratizar as exigências de licenciamento para equipamentos sociais

• Reforçar o financiamento às Unidades de Cuidados Continuados Integrados, muitas de


Misericórdias e IPSS

• Promover o envelhecimento digno e ativo

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POR UM PORTUGAL COM FUTURO

9. QUALIDADE DE VIDA: CULTURA E DESPORTO


• Descentralizar e tornar mais independentes as instituições culturais

• Liberalizar o Mercado Livreiro e revogar a “Lei do Preço Fixo do Livro”

• Neutralizar os impactos da taxa de cópia privada

• Rever o regime do mecenato cultural

• Recuperar a aprendizagem de competências motoras afetadas durante a pandemia

• Reconhecer os esports como desporto em Portugal

• Eliminar o monopólio da Federação Portuguesa de Futebol na Formação de Treinadores

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POR UM PORTUGAL COM FUTURO

PORTUGAL MAIS LIBERAL


Reforçar o Estado de Direito. Devolver confiança nas instituições.
Eficácia nas Funções de Soberania, onde o Estado deve ser o principal ou único prestador.

10. REFORMA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES


• Novo Sistema de Informação da Organização do Estado, que permita tornar mais
transparentes quantos funcionários há em cada função, quanto trabalham, qual o seu
desempenho é a sua avaliação e quanto ganham

• Acelerar a transformação digital da administração pública

• Novo modelo de avaliação e introdução de uma componente remuneratória variável que


dependa do desempenho individual de cada funcionário público e do seu organismo, para que
se consiga reter e atrair os melhores

• Reforçar a Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (CReSAP)

• Evoluir o licenciamento para um modelo de fiscalização a posteriori

• Avaliações de impacto regulatório obrigatórias após a aprovação de novas regulações

• Reduzir o número de ministérios no Governo

• Privatizar a TAP (que não deve receber nem mais um euro), a CGD e a RTP, entre outras
empresas públicas a estudar

• Lançar concursos públicos internacionais na selecção de reguladores de modo a que sejam


verdadeiramente independentes

• Descentralização político-administrativa do país, devolvendo o poder às pessoas e


comunidades, mas garantido a sua neutralidade fiscal

• Rever a Constituição e consagrar o direito ao recurso de amparo para o Tribunal Constitucional

• Reformar o sistema eleitoral, começando por introduzir um círculo nacional de compensação

• Eliminar os benefícios fiscais dos partidos políticos

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POR UM PORTUGAL COM FUTURO

11. JUSTIÇA CÉLERE E EFICAZ


• Reduzir os prazos médios de decisão na jurisdição administrativa e fiscal

• Recorrer à arbitragem administrativa como opção em processos não resolvidos em tempo útil

• Concretizar a criação dos juízos de competência especializada em matérias de urbanismo,


ambiente e ordenamento do território

• Modificar o efeito suspensivo dos recursos para o Tribunal Constitucional

• Repensar a fase de instrução de acordo com as conclusões do Grupo de Trabalho criado no


âmbito do Conselho Superior da Magistratura

• Racionalização dos meios e princípio de oportunidade

• Reforçar a oralidade e simplificação e clareza da linguagem processual

• Permitir ingresso direto na magistratura a juristas de mérito reconhecido

• Qualificar os funcionários judiciais para garantir assessoria nos tribunais

• Executar atempadamente as sentenças administrativas

• Combater a violência doméstica e proteger as suas vítimas

• Assegurar os meios necessários para a proteção de dados

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POR UM PORTUGAL COM FUTURO

12. FORÇAS DE SEGURANÇA, PROTECÇÃO CIVIL, DEFESA


E GEOPOLÍTICA
• Racionalizar meios e libertar tempo: Digitalização, consolidação de processos e a criação de
sistemas informáticos comuns às diferentes forças de segurança, proteção civil e bombeiros;

• Estudar o incremento do apoio financeiro ao alojamento e transportes de profissionais para


geografias distantes da sua origem

• Consolidação gradual das componentes remuneratórias das forças de segurança,


transferindo-as para o vencimento base

• Plano de recuperação e racionalização das esquadras e serviços das Forças de Segurança

• Reforçar o policiamento de proximidade

• Resistir ao uso excessivo de videovigilância

• Rever a legislação estruturante da Proteção Civil e abrir os dados das ocorrências de Proteção
Civil

• Estratégia de complementaridade nas Forças Armadas com os nossos aliados, associada a


uma especialização aprofundada

• Reforçar as capacidades reais de ciberdefesa, apostando na formação em cibersegurança

• Assegurar mais oportunidades de emprego à saída na revalorização das Forças Armada

• Defesa de Portugal na União Europeia e na NATO, cumprindo compromissos internacionais

• Emitir de vistos humanitários para refugiados através dos serviços consulares

• Estratégia de redução da exposição ao risco em relação à China

• Defender a entrada da Ucrânia na União Europeia

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 SUMÁRIO


ÍNDICE
PORTUGAL COM FUTURO
Portugal com Futuro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 024

A. PORTUGAL A CRESCER
1. Mais Oportunidades, Mais Salário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 028
1.1. Desbloquear o Mercado: Menos Burocracia, Mais Investimento . . . . . . . . . . . . . . . 028
Empresas e Atração de Capital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 028
Transformação Digital e Inovação Tecnológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03 1
Reformar a Lei de Bases do Turismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 034
Despenalizar o turismo de Alojamento Local . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 035
1.2. Reforma Fiscal: Menos Impostos, Mais Salário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 036
Impostos mais baixos e mais simples para todos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 036
Transparência da gestão do dinheiro dos contribuintes
e Justiça Fiscal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 040
2. Habitação Agora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 045
2.1. Reduzir os custos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 046
2.2. Aumentar a oferta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 047
 2.3. Recuperar confiança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 049
2.4. Inovar e repensar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 050
3. Transportes: Mais Mobilidade, Mais Desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 052
3.1. Ligar o país inteiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 053
3.2. Revolucionar a Mobilidade Urbana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 055
4. Trabalho: Menos Restrições, Mais Oportunidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 058
4.1. Flexibilizar a legislação laboral à luz dos padrões europeus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 059
4.2. Modernizar as relações laborais para a realidade
do século XXI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 061
4.3. Valorizar os profissionais liberais e trabalhadores
independentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 063
5. Ambiente: Crescimento Sustentável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 066
5.1. Gerar energia em abundância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 066
 5.2. Proteger o nosso património natural, gerar mais valor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 070
5.3. Aumentar a eficiência dos nossos materiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 072
5.4. Dinamizar o mercado a favor do ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 075
6. Crescer no País Inteiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 078
6.1. Relançar a agricultura e garantir água para o país todo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 079
6.2. Aproveitar todo o potencial do mar português . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 083

B. PORTUGAL A FUNCIONAR
1. Educação: Mais Elevador Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 088
1.1. Recuperar urgentemente do atraso nas aprendizagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 088
 1.2. Dar mais autonomia às escolas e agrupamentos escolares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09 1
1.3. Aumentar as oportunidades de formação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 093
1.4. Expandir o conhecimento para melhorar o futuro de todos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 096
ÍNDICE
2. Mais Acesso à Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 098
2.1. Mudar o Sistema de Saúde em Portugal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 099
2.2. Valorizar os profissionais de saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 06
2.3. Simplificar os Serviços de Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
3. Reformar a Administração Pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 10
3.1. Reformar a Função Pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
3.2. Descomplicar e descentralizar os serviços . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
3.3. Melhorar a qualidade e transparência das decisões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
4. Segurança Social e Apoio Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 19
5. Cultura E Desporto: Mais Qualidade De Vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

C. PORTUGAL MAIS LIBERAL


1. Fortalecer a Democracia Liberal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
1.1. Tornar a democracia mais liberal e representativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
Rever a Constituição para a tornar mais liberal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
Reformar o sistema eleitoral para a Assembleia da República . . . . . . . . . . . . . . . . 130
Descentralizar o Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
1.2. Garantir os direitos e liberdades fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
Respeitar absolutamente a liberdade de expressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
Promover a informação livre e isenta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
Promover a sociedade aberta e tolerante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
Tornar a política de imigração mais responsável e digna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
Defender a privacidade na era digital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136
Liberalizar a canábis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
1.3. Restaurar a confiança nas instituições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
Garantir entidades reguladoras verdadeiramente
independentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
2. Justiça Eficaz e de Confiança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
2.1. Tornar a justiça célere e eficaz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
Tornar a justiça sustentável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
Dar prioridade à digitalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
2.2. Recuperar a credibilidade da justiça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
Tornar a justiça transparente e escrutinável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
2.3. Garantir uma justiça acessível a todos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150
Privilegiar verdadeiramente a reinserção na sociedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
3. Proteger a Nossa Vida e Propriedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
3.1. Dar segurança aos cidadãos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
3.2. Preparar melhor, responder melhor nas emergências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156
4. Relançar Portugal no Mundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
4.1. Defender as nossas liberdades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
4.2. Contribuir para a Liberdade na Europa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
4.3. Defender o mundo liberal numa era de incerteza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162
PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 PORTUGAL COM FUTURO

P
023

PORTUGAL
COM
FUTURO
P PORTUGAL COM FUTURO
024 A Iniciativa Liberal quer pôr Portugal a crescer e a funcionar.
Sabemos que o país tem potencial para ser muito mais, à semelhança
de países vizinhos mais prósperos e de outros que começam a nos
ultrapassar. Foi com políticas liberais que os países mais avançados
alcançaram o seu potencial. A Iniciativa Liberal tem o conhecimento,
a coragem e a energia para aplicar soluções testadas com sucesso
noutros países para Portugal poder finalmente ser um país europeu
de topo, à altura do potencial dos portugueses. Queremos:

• Cada indivíduo a ganhar mais e a ficar com • Condições para as pessoas voltarem a confiar
mais dinheiro do seu trabalho no bolso, nas instituições que são fundamentais para a
baixando impostos e desbloqueando a sociedade democrática e liberal funcionar;
economia;
• Alcançar o nível de vida dos nossos
• Mais oportunidades para quem quer vizinhos europeus mais prósperos, sermos
conquistar as suas ambições, começar contribuintes em vez de subsidiodependentes,
família e construir o seu futuro em Portugal, e sairmos da cauda da Europa.
não ficando condenado a sair do país para
ter uma vida melhor; Crescer é a missão principal da Iniciativa
Liberal, pois só com crescimento económico se
• Acesso garantido de todos os portugueses a pode superar os problemas auto-infligidos que
serviços de saúde e educação de qualidade, têm atrasado o país, e incentivam os jovens
independentemente de ser o Estado ou um a abandonar o país. Ao contrário do que o
privado a prestá-los; discurso socialista faz crer, os países nórdicos
não são ricos porque têm boas políticas sociais,
• Mais casas para arrendar e comprar a têm boas políticas sociais porque são ricos.
preços competitivos, libertando o mercado Não há nenhuma razão para que Portugal não
de arrendamento e desburocratizando a tenha as mesmas condições que outros países
construção para mais oferta habitacional; europeus onde se ganha bem e se tem acesso
a serviços públicos de qualidade
• Mais transportes a funcionar, a chegar a
horas e a mais sítios, ligando o país entre si Após quase nove anos de governação
e à Europa de modo a que o interior e ilhas socialista, dois dos quais com maioria absoluta,
possam crescer; e uma grande “bazuca” europeia, a situação de
estagnação económica que atrasa o país há
•
Inovar e modernizar o país, investindo em décadas agravou-se. Não é só quem procura
infraestrutura, investigação e tecnologia um futuro melhor que não vê alternativa a
para preparar o país para a economia do abandonar o país – quase um em cada três
futuro, que aproveita os recursos de forma jovens nascidos em Portugal vive fora do país.
eficiente e sustentável, com qualidade de Quem fica vê o risco de pobreza aumentar.
vida para todos; Segundo os dados recentes do Instituto

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 PORTUGAL COM FUTURO


Nacional de Estatística, 17% dos portugueses
estão em situação de pobreza, valor calculado
os serviços públicos de que precisam com mais
qualidade a menor custo. P
025
após transferências sociais sem as quais a
taxa de pobreza seria 41%. Os pobres estão • Para Portugal crescer, o estado tem de deixar
mais pobres, a classe média está mais pobre, e o mercado funcionar fazendo apenas o seu
quem tem mais conforto financeiro arrisca-se papel de árbitro regulador.
a ficar com menos ou então vai embora.
• Para Portugal funcionar, o estado deve
À estagnação económica acresce a saturação garantir serviços públicos a todos sem ter de
dos serviços públicos, nomeadamente na impedir o resto da sociedade de os prestar.
saúde e na educação. O estado não consegue Os serviços não deixam de ser públicos por
prestar os serviços em condições nem deixa o serem prestados por privados, como é a
mercado suprir as falhas do estado. As listas norma na Holanda onde os serviços sociais
de espera na saúde aumentam, os serviços de não falham.
saúde degradam-se à medida que enfermeiros
e médicos fazem o que podem sem condições • Para Portugal ser mais liberal, o estado
de trabalho para atender pessoas que deve prestar devidamente as suas funções
esperam horas para um atendimento ao qual de soberania, assegurando o regular
têm cada vez menos garantia de acesso. Os funcionamento das instituições, com
hospitais e urgências têm sistematicamente disponibilização de informação, transparência
falhado aos que mais deles precisam: crianças, e escrutínio dos poderes que são essenciais
grávidas e idosos. ao Estado de Direito.

Por outro lado, segundo os dados recentes Muito graças à Iniciativa Liberal, o país vem
do Programa Internacional de Avaliação de acordando do seu sono socialista e a perceber
Alunos (PISA) Portugal teve os seus piores que enquanto dormia os outros passaram-
resultados desde 2006, ficando abaixo da nos à frente, os mais novos se viram forçados
média da OCDE nos três domínios avaliados. a ir embora, e os que cá ficam se resignam às
Entre 20 e 30% dos alunos portugueses escassas oportunidades que há e às esmolas
não têm as competências básicas mínimas vindas da Europa que vão adiando a factura
indispensáveis para uma cidadania plena em da governação socialista.
Leitura, Matemática e Ciência. É uma urgência
nacional recuperar as aprendizagens para Os portugueses não têm de se conformar
garantir um bom futuro às novas gerações. com este caminho. A Iniciativa Liberal recusa-
se a acreditar que o país está condenado. Se
A Iniciativa Liberal tem o conhecimento, há países que foram ditaduras comunistas
competência e coragem para implementar até depois da queda do Estado Novo, que
soluções comprovadamente bem sucedidas nos estão a ultrapassar, há esperança para
noutros países europeus, a maioria deles Portugal se escolher um caminho liberal. Para
com partidos liberais no governo. Queremos mudar, mudar a sério, a alternativa é liberal!
desbloquear o potencial do país, com medidas
para descomplicar a vida das pessoas,
descentralizar o poder e desburocratizar a
economia e o estado. Queremos aumentar a
liberdade de escolha entre alternativas para
que a competitividade traga aos portugueses

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 PORTUGAL COM FUTURO


PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 A. PORTUGAL A CRESCER

PORTUGAL
027

A CRESCER
1. MAIS OPORTUNIDADES, MAIS SALÁRIO

A 1.1. Desbloquear o Mercado:


Menos Burocracia, Mais
Assegurar um ambiente político, económico e
fiscal estável

028 Investimento
A legislação fiscal portuguesa é sujeita a
dezenas de alterações por ano. As obrigações
Empresas e Atração de Capital
a que as empresas estão sujeitas mudam
frequentemente, geralmente apenas num
Portugal precisa de crescer mais. Grande parte
sentido: o de aumentar. Estas medidas, que
dos nossos problemas estão dependentes do
mexem com os direitos de propriedade dos
nosso fraco crescimento económico. E Portugal
indivíduos, geram uma enorme desconfiança
precisa de empresas para crescer. Só assim
nos mercados - sendo o pacote Mais Habitação
conseguiremos ter o nível de vida, os salários
como exemplo flagrante -, causando o efeito
e a redução de pobreza que outros países
oposto ao pretendido: geram incerteza, logo
conseguiram atingir. Mas apesar de Portugal
menor confiança e menor investimento.
ser um país com uma economia de mercado,
Portugal tem pouco capital.
Portugal precisa de um enquadramento legal
e regulatório simples e previsível, para ser
Temos de criar condições para que as pequenas
competitivo, e para crescer. Temos de controlar
e médias empresas (PME) possam dar o salto
a ânsia legislativa e regulatória. Os problemas
e crescer, com possibilidade de se tornarem
do país não se resolvem por decreto. A existência
em grandes empresas multinacionais. As PME
de uma economia de mercado estável e pujante
representam 99.9% das empresas em Portugal.
não depende de novas leis, mas de um Estado
Apenas 4% das empresas em Portugal têm
de Direito que promova um enquadramento
mais de 10 trabalhadores. As micro e pequenas
legal e regulatório simples e previsível.
empresas são fundamentais para a economia
portuguesa, mas é importante que estas
tenham hipótese de ser ainda maiores. Para
Exigir mais do Estado na regulação económica
que possam acrescentar mais valor e assim
conseguir pagar salários muito maiores.
Muita da má regulação em Portugal resulta ou
de inércia administrativa ou desconhecimento
A Iniciativa Liberal quer desbloquear o mercado
por parte dos decisores. Conforme se explica no
para que os portugueses consigam construir
capítulo B.3.3 sobre a Administração Pública,
projetos para si e valor para os outros. Só numa
a Iniciativa Liberal dará os passos necessários
sociedade aberta, assente em mercados livres,
para que todas as intervenções na economia
todos conseguem beneficiar dos frutos do
sejam bem justificadas de um modo público e
sucesso de cada um. Um mercado a funcionar é
sindicável.
um ganho tanto económico como social.

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 A. PORTUGAL A CRESCER


A profusão de pequenas e grandes regras em estejam garantidos, independentemente da
todas as áreas da economia precisa de um sua importância ou impacto. Para agilizar a
travão. A Iniciativa Liberal não só mudará o economia e viabilizar um país onde se construa
paradigma do licenciamento, como reformará mesmo e os projetos avancem, facilitando
o modo como se regulamenta em Portugal o investimento, a Iniciativa Liberal pretende
seguindo as melhores práticas internacionais, alargar o princípio da fiscalização a posteriori
designadamente ao introduzir: dos projetos a mais casos na economia,
generalizando o deferimento tácito automático

A
•
cláusulas de caducidade em novas regras, com termos de responsabilidade dos projetistas
que devem ser confirmadas após um período (ver capítulo B.3.2).
variável definido por lei, forçando a revisão
periódica da legislação;
Adotar políticas que promovam o investimento
029
• avaliações de impacto regulatório obrigatórias,
públicas, transparentes e acessíveis após a Criar empresas em Portugal tem ficado mais
publicação de novas regras que afetem a fácil, mas geri-las continua a ser um inferno. A
atividade económica. carga administrativa a que as empresas estão
sujeitas desvia-as do seu principal objetivo, que
é o desenvolvimento da sua atividade e o seu
Ligar o Descomplicómetro: uma task force de crescimento. A par da estabilidade legislativa,
redução da burocracia é imperioso reduzir os custos de contexto
empresarial em Portugal.
O projeto ‘’Descomplicar’’ levado a cabo pela
Iniciativa Liberal na Assembleia da República É também crítico eliminar as barreiras ao In-
conduziu a dezenas de propostas de alteração vestimento Direto Estrangeiro (IDE). Para atrair
da lei no sentido de facilitar a vida das pessoas investimento estrangeiro é necessário diminuir
e das empresas. Está na hora de trazer este custos de entrada, colocando-os, no mínimo, ao
trabalho para o seio do próprio Estado. nível dos Países de semelhante dimensão a Por-
tugal e nossos concorrentes directos na atrac-
A Iniciativa Liberal propõe criar, no seio ção desse investimento. Apesar da sua atrativi-
da Administração Pública, uma task force dade, Portugal não está a aproveitar todas as
especializada de funcionários que, em diálogo oportunidades que tem neste âmbito. Portugal
com as empresas e os cidadãos, identifiquem tem de espelhar o seu enquadramento legal à
e proponham a eliminação de burocracias luz do europeu, evitando densificações desne-
e regras desnecessárias, publicando estas cessárias de diretivas europeias que vão para
sugestões em relatórios anuais públicos e lá daquilo exigido por outros Estados-Membro.
acessíveis (ver capítulo B.3.2). Deve também garantir que os litígios são resol-
vidos com celeridade, assim como pagamentos
tardios e cobranças judiciais, outra das preocu-
Mudar o paradigma do licenciamento em pações de investidores internacionais. Os litígios
Portugal entre os indivíduos e as empresas com o Estado
continuam a ser morosos e especialmente ca-
O licenciamento em Portugal ainda funciona ros, sendo muitas vezes preferível desistir da
no pressuposto de que nada pode avançar litigância, mesmo quando se tem razão.
sem que todos os procedimentos prévios

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 A. PORTUGAL A CRESCER


As interações com o Estado e entidades Ao longo deste programa, a Iniciativa Liberal
do Estado têm também de ser agilizadas: apresentará uma série de reformas estruturais
através da transformação digital do mesmo; no trabalho, no ambiente fiscal, no Estado e
através da simplificação e desburocratização na justiça que criam as condições para que
administrativa; e através da reforma do Portugal atraia muito mais investimento direto
enquadramento regulatório das empresas. estrangeiro.
Por outro lado, a previsibilidade dos processos,
assim como o seu tempo, são fatores críticos

A
para a atração de investimento, sobretudo no Afirmar uma política fiscal atrativa
que concerne os pedidos de licenciamento e
autorizações. Portugal é um dos países onde os Não são apenas os impostos que condicionam
030 atrasos de pagamentos mais causam disrupção
na operação das empresas, sendo o Estado um
a vinda de empresas para Portugal, mas são
um dos principais fatores. Uma política fiscal
dos responsáveis, com impactos nefastos sobre atrativa é fundamental para podermos atrair
as mesmas. empresas e capital humano que crie empresas
de alto valor acrescentado e, como tal, de
Portugal é o terceiro País da OCDE com elevados salários.
maior índice de rigidez laboral. Esta rigidez
faz aumentar o risco de novas contratações A este nível é também fundamental uma baixa
do ponto de vista do empresário. Assim, os significativa do IRC e dos demais impostos
empresários optam ou por não contratar de pagos pelas empresas, como a tributação
todo, diminuindo a procura do factor Trabalho autónoma, como fator de atratividade.
(o que prejudica quem procura emprego) ou Portugal é o país europeu da OCDE com taxa
pela subcontratação (outsourcing) de outras máxima de IRC mais elevada. Ao mesmo tempo,
empresas. Esta opção é uma das causas para Portugal é dos países em que existe maior
o facto de haver tantas empresas em Portugal diferença entre a taxa máxima estatutária de
com um, dois ou três colaboradores que, IRC e a taxa efetiva. Isto condiciona a gestão
como já vimos, é um dos problemas da nossa das empresas, otimizada não em função das
economia e factor inibidor de crescimento suas necessidades e operações mas em função
económico. Esta falta de flexibilidade levou, do que o Estado acha que é importante. A
por exemplo, à existência de um sistema redução ambiciosa do IRC deve por isso ser
dual em que o despedimento coletivo é fácil, acompanhada pelo fim dos benefícios fiscais
obedecendo a critério mais objetivos, mas discricionários, que reduzem a transparência
o despedimento individual é complexo e e a incerteza do processo. Por outro lado, é
sustentado em critérios mais subjetivos e pouco necessário simplificar as obrigações de reporte
concretizados, prejudicando sobretudo os mais fiscal, que tornam o processo dispendioso do
jovens. Conforme propomos no capítulo sobre ponto de vista administrativo para as empresas.
trabalho, é fundamental flexibilizar a legislação
laboral de forma equilibrada e simétrica. A Adicionalmente, as empresas deverão poder
Iniciativa Libera quer, por exemplo, apostar fazer a dedução integral da despesa de capital
num modelo de flexisegurança semelhante (máquinas, fábricas, equipamentos, etc.)
ao de vários países nórdicos, que garanta na matéria colectável, desta forma criando
flexibilidade contratual ao empregador e um mais incentivos à renovação e atualização
forte apoio social a pessoas em situação de tecnológica do parque industrial, assim como
desemprego (ver capítulo B.4). da despesa em I&D, desta forma fomentando
uma colaboração mais estreita entre empresas

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 A. PORTUGAL A CRESCER


e institutos de I&D, criando um ambiente Diversificar as fontes de financiamento das
favorável à atração de capital de risco para empresas
que os nossos melhores talentos possam inovar
dentro do país. O tecido empresarial português recorre
predominantemente a financiamento bancário.
Este financiamento é importante para as
Criar Zonas Económicas Especiais PME, mas não cobre todas as necessidades
das empresas, sobretudo das emergentes.

A
A Iniciativa Liberal defende a baixa de impostos O financiamento bancário é muitas vezes
no país inteiro e defende também uma forte vedado a projetos inovadores e a startups
descentralização da capacidade de discriminar por incapacidade da instituição financeira
taxas de imposto que confere ao poder local
maior competitividade. Os municípios, em
compreender o negócio ou querer assumir o
risco acrescido.
031
concorrência e colaboração entre si, devem
poder criar Zonas Económicas Especiais (ZEE) Como tal, é fundamental atrair capital de ris-
de baixa fiscalidade no território português, co para o país e garantir que as empresas têm
como forma de atrair investimento direto acesso a outras fontes de financiamento alter-
estrangeiro e promover a criação de hubs nativo, em particular os mercados de capitais
empresariais. e o financiamento colaborativo. Crowdfunding,
crowdlending e financiamento peer-to-peer
As Zonas Económicas Especiais idealmente serão instrumentos importantes para diversifi-
podem ser especializadas setorialmente (v.g., car as fontes de financiamento. Mais ainda, es-
tecnologia e digital, biotecnologia, nano- tas fontes de financiamento permitem também
indústria, têxtil e calçado, energias renováveis, dinamizar o investimento de retalho e dar mais
entre outros) e localizadas em zonas de baixa oportunidades de rentabilidade aos pequenos
densidade populacional, servindo assim e médios aforradores.
um outro desiderato político e social, o da
dinamização do interior e coesão territorial.
Transformação Digital e Inovação
As ZEEs devem promover o desenvolvimento Tecnológica
de transporte viário e outra infraestrutura que
facilite a atividade empresarial. As ZEEs devem Ultrapassar a visão de Portugal como um país
também alavancar e ajudar a desenvolver periférico
instituições de Ensino Superior do interior,
pilares fundamentais para a formação de Estamos hoje perante a possibilidade única
capital humano. Para além dos incentivos fiscais, de ultrapassarmos a nossa condição de país
as ZEEs devem simplificar regulamentações periférico, visto como um entrave ao nosso
(fazendo uso das sandboxes regulatórias), crescimento económico. Longe do coração da
reduzir ou eliminar encargos e processos Europa, temos menos relevância nas cadeias
alfandegários, assim como assegurar proteção de abastecimento e nas redes logísticas dos
legal e direitos de propriedade intelectual. países mais industrializados, como França
ou Alemanha. Esta condição tem servido de
desculpa para adiar o nosso potencial, mas a
verdade é que somos um país menos exposto
a ameaças externas e conflitos, com paz social,
somos a porta da Europa e temos condições

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 A. PORTUGAL A CRESCER


territoriais e culturais para proporcionar boa sas. Também promoveram um elevado investi-
qualidade de vida — só ainda não temos uma mento em I&D de empresas privadas com re-
economia forte. curso a incentivos fiscais. A Samsung era uma
mercearia quando foi fundada em 1938.
Se se pode dizer que Portugal é periférico
fisicamente no contexto de uma economia Portugal tem de continuar a formar o seu
industrial, tal não é verdade na economia digital, próprio talento e a garantir que este permanece
dos serviços, dos dados e da internet. Segundo no país e não emigra por necessidade. Portugal

A
o Banco Mundial, a economia digital representa tem de ter maior ligação entre a educação e o
agora 15% do PIB mundial e cresceu 2.5 vezes mundo empresarial. O Ensino Superior é um
mais rápido do que o PIB da economia física e importante promotor desta transformação
032 industrial. Portugal não está condenado a ser
periférico.
e tem de alavancar a inovação. As escolas
de negócios (business schools) estão muito
mais próximas das necessidades da economia
Portugal pode ser um ator relevante na real e das empresas, pelo que devem poder
economia digital. Para tal, tem de promover as ser mais autónomas e ter requisitos mais
condições para que a inovação, sobretudo a flexíveis face aos que são impostos aos
inovação de base tecnológica, que é a base do cursos das universidades a que pertencem. A
crescimento económico sustentado, possa ser independência orgânica e jurídica das escolas
realizada em Portugal, desta forma permitindo de negócio permitirá maior dinamismo e rapidez
a criação de um ecossistema empresarial forte de resposta às necessidades do mercado de
e dinâmico que alavanque os rendimentos dos trabalho e à procura de alunos com perfis mais
portugueses. Está pois na hora de corrigir as diversificados.
nossas debilidades.
Os institutos interface, que fazem a ponte
entre a academia e as empresas, são também
Outros países periféricos também o um elemento fundamental para o reforço
conseguiram da formação tecnológica e da capacidade
inovadora da indústria. Tal como as escolas
Outras pequenas economias abertas como de negócios, devem poder desenvolver a sua
Portugal mostraram que é possível ter uma atividade em autonomia e cooperação com as
economia forte e inovadora. Vários países si- Universidades, sem a estas estarem sujeitas.
milares a Portugal (pequenas economias
abertas) conseguiram dar o salto. Uns apos- Por fim, é fundamental dignificar o ensino
taram fortemente no Investimento & Desen- vocacional, técnico e profissional, que sempre
volvimento (I&D) através de incentivos fiscais foi o parente pobre — por opção política — do
ao mesmo tempo que atraíram mercados de nosso ensino. Portugal precisa de eletricistas,
capitais, sobretudo capital de risco. serralheiros e pintores. Portugal precisa
de canalizadores, carpinteiros e pedreiros.
Outros transformaram-se em líderes tecno- O estigma cultural associado ao ensino
lógicos mundiais através de um investimento profissional tem de terminar e Portugal tem de
sério, rigoroso, sem facilitismos e aprovações se aproximar de países como a Alemanha onde
administrativas, em Educação, sobretudo em esta educação é valorizada.
ciência, tecnologia, engenharia e matemática
(STEM) — e conduziram reformas regulatórias
que criaram um ambiente amigo das empre-

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 A. PORTUGAL A CRESCER


Promover o empreendedorismo e a iniciativa Por fim, o Estado deve fomentar uma cultura
privada pró-inovação nas instituições e órgãos regu-
latórios que tutelam e que impendem sobre o
Os países mais ricos e prósperos do mundo mercado de produto, que muitas vezes aca-
têm algo em comum: uma enorme dinâmica bam por preferir a estabilidade à inovação, os
empresarial, com muitas empresas a abrir e incumbentes aos novos entrantes, e inviabilizar
outras a fechar; e têm sobretudo uma atitude de a experimentação de novos negócios. É funda-
tolerância à falha enquanto parte do processo mental alargar o conceito de sandbox regula-

A
de empreendedorismo. As insolvências tória a todas as empresas tecnológicas, não as
têm de ser agilizadas e não podem pesar condicionando com regulamentações que exi-
indefinidamente sobre quem arrisca. Dinamizar gem um elevado investimento em apoio jurídico
e encorajar a iniciativa privada é fundamental
para um país mais inovador e mais próspero.
e que por vezes são mesmo inultrapassáveis.
033
A promoção do empreendedorismo é sobre- Transformação digital do Estado e da
tudo cultural. Temos de contribuir para mudar economia
mentalidades e combater a demonização do
negócio e do lucro, que são a base do investi- A visão dos anteriores Governos para o Estado
mento e do crescimento económico. Devemos tem sido a tentativa de alguma digitalização, não
destacar e promover as iniciativas que corre- a de transformação. O recibo verde eletrónico é
ram bem e aprender com as que correram mal. um bom exemplo desta abordagem coxa: é um
Temos também que promover a tomada de ris- documento digital em formato PDF que contém
co consciente e responsável, que procure retor- duas cópias (original e 2ª via) do documento e
no e que crie valor para a sociedade. uma linha a tracejado a separar (para cortar).
Foi uma digitalização do recibo tradicional
O Estado deve contribuir para alterar esta em papel, não uma verdadeira alteração
cultura. Em primeiro lugar, pode e deve dos processos com vista à simplificação e à
incentivar as suas Universidades a apostar desburocratização.
em aceleradoras e incubadoras de negócio,
sobretudo em parques tecnológicos. A É preciso digitalizar, mas também é preciso eli-
proximidade às universidades é essencial para minar ou mudar diversos processos adminis-
desenvolver um ecossistema de inovação — trativos e transformar toda a Administração
as empresas têm acesso a capital humano Pública para que o Estado seja cada vez menos
qualificado e as Universidades beneficiam com burocrático e mais ágil, seguindo as melhores
a dinâmica empresarial e com os projetos que práticas da Estónia. Não é aceitável que o Es-
se criam. tado exija documentos que o próprio emite. Não
é aceitável que o Estado crie procedimentos e
É também fundamental fomentar um merca- formalidades que o próprio não cumpre. Toda
do de capitais em Portugal, disposto a finan- esta carga burocrática impende sobre as em-
ciar projetos de elevado risco, mas com elevado presas, desfocando-as do seu objetivo que é o
potencial (high risk, high yield). Para tal, é pre- de desenvolver o seu negócio.
ciso garantir que o sistema judicial resolva ra-
pidamente disputas de direitos de propriedade Na era da economia digital, exige-se que
e que o regime fiscal seja previsível, estável e todos os serviços do Estado tenham a máxima
atrativo. presença online possível, acessível a todos
independentemente da sua localização. Mais

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 A. PORTUGAL A CRESCER


importante ainda, exige-se que os processos Reformar a Lei de Bases do
administrativos sejam revistos, muitos até Turismo
eliminados, com vista a simplificar a vida dos
cidadãos. Num contexto global em que a competitividade
turística é medida pela capacidade de inovação,
sustentabilidade e flexibilidade regulatória, Por-
Tecnologias emergentes e inovadoras tugal enfrenta o desafio de reformular a sua Lei
de Bases do Turismo para aproveitar ao máxi-

A
Portugal tem de alavancar o seu crescimento mo o potencial do seu setor turístico. Nos últimos
económico em tecnologias emergentes como anos, o turismo tem sido o principal motor do
forma de se potenciar na nova economia digital. crescimento económico em Portugal, represen-
034 Tecnologias como a AI Generativa, Blockchain,
Web3, computação quântica, entre outras, serão
tando cerca de 15,8% do PIB nacional em 2022.
É, portanto, imperativo criar as condições para
a base de muitas empresas e das sociedades que o turismo não estagne, mas sim se reinven-
do presente e do futuro, contribuindo para um te, gerando ainda mais riqueza para o país.
aumento muito significativo da produtividade do
trabalho e, com isso, do crescimento económico. Tal como se investiu na promoção do alojamento
local, é importante também reavaliar outros
Neste sentido, Portugal tem de criar as modelos, desde o turismo rural no Alentejo
condições para continuar a atrair talento que ao timesharing no Algarve, passando pelo
trabalhe e desenvolva estas tecnologias. Mais: Ecoturismo no Gerês e pelos Design Hotels
tem de criar condições para que esse talento nas grandes cidades. Para isso, é essencial dar
decida aqui sediar as suas startups, tal como a liberdade aos investidores, oferecer segurança
Suíça foi capaz de atrair mais de mil empresas fiscal e, acima de tudo, regulamentar de forma
de biotecnologia para o seu Health Valley. clara e precisa, a fim de evitar arbitrariedades
Muitas empresas de tecnologia web3 decidiram por parte das entidades públicas e aumentar
estabelecer-se em Portugal devido ao seu a previsibilidade das condições de negócio.
regime fiscal atrativo e à pool de talento. Temos A Iniciativa Liberal quer implementar uma
de manter esta tendência e alargá-la a outras legislação turística que seja moderna, eficiente
empresas tecnológicas. e responsável ambientalmente, posicionando o
país como um destino de referência no cenário
Se num país agrário ou industrial a existência turístico europeu e mundial.
de terra e de máquinas era determinante para
o seu sucesso, o mesmo não se aplica no caso
da economia digital. Não há nada de estrutural Liberalizar a legislação de alojamento
que impeça Portugal de ser mais rico e mais
próspero — dispõe dos recursos humanos A Iniciativa Liberal quer liberalizar a legislação
qualificados, da competência e da dedicação. de alojamento para facilitar a entrada de no-
Precisa apenas de políticas públicas que deixem vos agentes neste mercado , incentivando a
Portugal crescer, e de muita ambição para as diversidade e a inovação em ofertas turísticas.
implementar. Neste sentido, queremos simplificar procedi-
mentos administrativos e reduzir a burocracia,
bem como numa coordenação mais eficiente
das competências entre variadas entidades
públicas, visando atrair mais investimentos na-
cionais e internacionais no setor turístico.

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Articular reforma da legislação com a portuguesas, promovendo o turismo e criando
sociedade civil riqueza. A Iniciativa Liberal propõe a inversão
completa de todas as medidas tomadas
Deve promover-se consultas públicas e diálogos pelo Governo no âmbito do programa Mais
com agentes do setor, incluindo associações Habitação relativas ao Alojamento Local, com
empresariais, sindicatos e representantes especial enfoque nas seguintes medidas.
regionais, para garantir que as alterações à
legislação do setor sejam benéficas e inclusivas.

A
Deve apostar-se na formação e qualificação Eliminar a Contribuição Extraordinária sobre o
dos recursos humanos no setor do turismo, Alojamento Local (CEAL)
adaptando as competências às novas procuras
do mercado. Finalmente, deve fortalecer-se
a representação internacional de Portugal no
O Governo criou a CEAL no pacote Mais
Habitação, uma contribuição extraordinária
035
turismo, destacando as novas políticas liberais que veio discriminar os detentores de
e sustentáveis do país. alojamentos locais em detrimento, por exemplo,
dos hóteis de uma forma sem precedentes. A
Iniciativa Liberal reconhece a forma como os AL
Despenalizar o turismo de promoveram e recuperaram inúmeros imóveis
Alojamento Local pelo país fora, tendo ressuscitado os centros
históricos das cidades de Lisboa e do Porto
Dizia Ronald Reagan que a atitude do Estado quer a nível estético, quer a nível económico. A
face a uma atividade económica de sucesso vasta maioria de casos de AL surgiram como
era: “se se mexe, taxa-a; se se continua a me- uma forma empreendedora de tirar proveito
xer, regula-a; se se parar de mexer, subsidia-a”. da liberdade de escolha dos turistas, tendo
No que toca ao Alojamento Local (AL), o Gover- acrescentado um elevadíssimo número de
no Português concluiu este ano a segunda fase camas sem as quais haveria uma enorme
desse processo com várias medidas no pacote limitação no turismo nacional.
“Mais Habitação” que são um ataque sem fun-
damento a este tipo de serviço. Este ataque Assim, a Iniciativa Liberal irá, desde a primeira
tem consequências na economia: em 2019, só hora, defender a eliminação desta contribuição,
o turismo de alojamento local representou 8,5% inclusivamente porque esta poderá violar os
das exportações portuguesas e 40% das esta- princípios constitucionais da tributação ao
dias. Se se considera que a economia portugue- desconsiderar a real capacidade contributiva
sa é hoje demasiado dependente do turismo, individual e ao taxar proprietários de acordo
então deve ser o resto da economia que tem de aos seus ganhos presumíveis e não auferidos.
crescer, e não o turismo que tem de encolher.

A Iniciativa Liberal defende a reversão do Revogar medidas que alteram normas de


agravamento fiscal introduzido nos últimos registo de Alojamento Local
anos, passando o coeficiente de tributação do AL
de 0,5% para o anterior de 0,35 na modalidade A Iniciativa Liberal irá revogar as seguintes
de apartamento ou moradia, como estava em alterações resultantes do pacote “Mais
vigor anteriormente. A Iniciativa Liberal recusa Habitação”, propondo o regresso ao regime
liminarmente a diabolização de sectores como anterior. As medidas do governo vieram
o AL que fizeram muito pela recuperação tornar o registo do estabelecimento de AL
estética, habitacional e económica das cidades pessoal e intransmissível, mesmo em casos

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cuja titularidade ou propriedade pertença Países Baixos. Segundo os dados do Eurostat,
a pessoas coletivas. Já para a duração do Portugal teve em 2022 a quarta maior taxa de
registo, o “Mais Habitação” fixa um prazo de esforço fiscal da Europa. Os portugueses não
cinco anos a partir da data de emissão do título suportam mais esta situação.
de abertura ao público. O Governo suspendeu
também os novos registos de AL, excepto nos Hoje temos impostos de rico e salários de pobre.
territórios do interior identificados em portaria Além disso, temos um nível de progressividade
própria e nas Regiões Autónomas. Todas enorme, com um recorde europeu de nove es-

A
estas novas burocracias são um ataque sem calões, que pune quem quer subir na vida pelo
fundamento ao AL que tanto tem contribuído trabalho. E temos um nível de tax wedge muito
para a revitalização das nossas cidades e cujo elevado, onde o Estado leva em média 42% do
036 impacto no mercado de habitação é residual. que a empresa paga por um trabalhador e onde
o Estado leva cerca de metade do que a empresa
paga por um aumento salarial. É isto que temos
1.2. Reforma Fiscal: Menos de mudar imediatamente. O sistema fiscal liberal
Impostos, Mais Salário recompensa o esforço, dedicação e produtivida-
de daqueles que trabalham e aqueles que assu-
Impostos mais baixos e mais simples mem riscos, estimulando assim a concorrência.
para todos
Hoje, essa competição não se limita ao âmbito
Portugal precisa de crescer. Esta é a principal nacional, estendendo-se ao cenário continental
bandeira que a Iniciativa Liberal defende desde e mesmo global. Portugal está em competição
que foi fundada. Esta necessidade de cresci- direta com o resto do mundo para atrair capi-
mento reflete-se no PIB per capita em parida- tal e empregos qualificados. Contudo, a carga
des de poder de compra face à média da União fiscal excessiva sobre o trabalho e as empresas
Europeia. Portugal encontra-se praticamente nas últimas décadas resultou numa significati-
estagnado desde 2011, com oscilações pouco va emigração de mão-de-obra altamente qua-
significativas. Portugal mantém-se na cauda lificada e desvio de investimento para outras
da Europa, sendo ultrapassado por 8 países regiões. É urgente alterar este panorama.
desde o ano 2000. O crescimento não é me-
ramente um capricho liberal: ele não só reflete A Iniciativa Liberal defende a descida e
a melhoria das condições de vida das pessoas, simplificação dos impostos sobre rendimentos
como é igualmente essencial para a melhoria das pessoas e das empresas, nomeadamente
no rácio da dívida pública sobre o produto e o do IRS e do IRC, promovendo ainda a
respetivo cumprimento das regras orçamen- eliminação de casos de dupla tributação, bem
tais da União Europeia, sem colocar em causa como de taxas e contribuições coercivas que
o funcionamento do Estado Social e o investi- promovem complexidade e barreiras à entrada
mento público. em mercados competitivos. Além disso, se a
energia – neste caso eletricidade e gás – é um
O país tem de ser fiscal e administrativamente bem essencial quer para a vida das famílias
competitivo, tirando peso e complexidade ao quer para a atividade das empresas então não
sistema fiscal atualmente vigente. Portugal pode ser taxada como um bem de luxo, devendo
tem de deixar de ter uma das maiores taxas o IVA do gás e da eletricidade baixar para 6%.
de esforço fiscal da União Europeia e passar a
ter uma das menores, como é o caso de países Para crescermos, é também necessária a revisão
mais liberais como a Irlanda, o Luxemburgo e os e redução de impostos sobre o património, uma

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vez que se tratam de impostos que incidem Com a aplicação deste IRS substancialmente
sobre bens comprados por rendimentos que mais baixo para todos, serão igualmente
já foram tributados e sobre transações que revogados os atuais programas e benefícios
também foram já tributadas. A Iniciativa Liberal fiscais dirigistas que causam injustiças sociais
apresenta igualmente alterações ao IMI, de entre os mais jovens e não jovens, bem como
forma a desonerar a detenção do património, entre os residentes e os não residentes.
bem como ao Imposto do Selo, ao IVA e ao IMT,
para desonerar a construção e a aquisição da Estamos disponíveis para aprovar e desenvolver

A
habitação própria e permanente na transação, propostas transitórias, desde que se baixe
medidas que são expressamente apresentadas significativamente a progressividade excessiva
no capítulo referente à Habitação. do imposto, reduzindo o número de escalões, e
que se incentive claramente a competitividade
fiscal dos salários de emprego qualificado.
037
Reduzir e Simplificar o IRS até à Taxa Única de Mais concretamente, a Iniciativa Liberal numa
15% primeira fase propõe um imposto com duas
taxas, uma de 15% sobre os rendimentos acima
Propomos implementar uma taxa única de 15% de 11.480 euros e abaixo de 21.321 euros,
a aplicar-se aos rendimentos acima do salário garantindo a progressividade, sendo aplicada
mínimo nacional anualizado, garantindo a uma taxa de 28% acima desse patamar de
progressividade e mantendo as atuais deduções rendimento anual. Em suma, pretende-se
à coleta previstas. isentar de imposto os rendimentos mais baixos
aumentando significativamente a dedução
A Iniciativa Liberal mantém-se firme na sua específica, agregando os primeiros quatro
proposta de reduzir a progressividade excessiva escalões e, por fim, agregando os últimos cinco
e simplificar o IRS para todos os contribuintes escalões com a taxa de 28%. Eis alguns exemplos
que têm de obrigatoriamente pagar o imposto, da poupança esperada por esta alteração.
sem prejudicar os contribuintes isentos de IRS.

Rendimento Rendimento Proposta de taxa única de 15% Proposta transitória de 2 taxas


Imposto
bruto bruto
Atual * Poupança Poupança Poupança Poupança
mensal anual Imposto* Imposto *
(abs.) (%) (abs.) (%)

900 12.600 784 168 616 79% 168 616 79%

1.100 15.400 1.667 588 1.079 65% 588 1.079 65%

1.300 18.200 2.295 1.008 1.287 56% 1.008 1.287 56%

1.500 21.000 2.952 1.428 1.524 52% 1.428 1.524 52%

1.700 23.800 3.680 1.848 1.832 50% 2.170 1.510 41%

2.500 35.000 7.397 3.528 3.869 52% 5.306 2.091 28%

4.000 56.000 15.060 6.678 8.382 56% 11.186 3.874 26%

* – Imposto apurado antes de deduções à coleta. Estas deduções, mantendo-se, conforme proposto, são
indiferentes para o apuramento da poupança entre o imposto atual e o imposto proposto.

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Baixar o Imposto sobre rendimentos de sucede por causa de uma variação do valor
capitais e prediais das ações que poderão não conseguir liquidar
por ainda não terem realizado qualquer tipo
Em matéria de tributação de rendimentos de de mais-valia com as mesmas. Ou seja, pagam
capitais, mais-valias e prediais, a Iniciativa impostos por uma mais-valia esperada, muitas
Liberal defende a redução do imposto para vezes pressionados por apertados prazos de
14,5%, sem englobamento obrigatório. exercício de conversão de opções de ações, sem
Em matéria de rendimentos prediais de conhecimento da valorização das mesmas no

A
arrendamento habitacional, propõe-se uma momento da decisão do exercício das opções.
taxa 14.5% com uma descida gradual do
imposto, conforme referido posteriormente no A forma mais adequada para garantir um
038 capítulo A.2 sobre Habitação. tratamento justo, informado e a capacidade
contributiva dos contribuintes é tributar esta
conversão de opção de ação em ação como
Tributar stock-options no momento da rendimento de trabalho apenas quando essa
realização da venda e não no exercício da ação gerar uma mais ou menos valia na sua
opção alienação, tal como previsto no benefício fiscal
recentemente criado pelo Governo.
A Iniciativa Liberal quer corrigir o momento
da tributação da conversão de opções sobre
ações em ações para que a mesma ocorra no Baixar e Simplificar o IRC
momento da alienação do ativo. Atualmente,
existem duas formas de tributar a conversão A Iniciativa Liberal propõe uma taxa de IRC de 12%
de opções sobre ações em ações. A primeira para as empresas. Cumprindo a nova legislação
é a prevista no Código de IRS, que prevê a europeia, a Iniciativa Liberal quer aplicar a taxa
tributação no período em que é exercida a de IRC mínima de 15% para as multinacionais
opção e que dá o direito ao trabalhador de ter com uma faturação anual superior a 750
o número de ações correspondentes, com a milhões de euros, seguindo o valor mínimo do
valorização que possuem as ações à data da imposto pela OCDE, e que a UE através da nova
conversão. A segunda com a tributação a ocorrer diretiva europeia requer dos Estados-Membros.
apenas quando se der a mais- ou menos-valia É urgente simplificar e libertar as empresas da
das ações sobre a qual o trabalhador exerceu necessidade de consumirem tempo e recursos
a sua opção, conferida pelo benefício fiscal em atividades improdutivas, permitindo um
criado por este Governo para os trabalhadores foco na produção, na melhoria contínua e na
em start-ups. Esta situação cria uma expansão. E é necessário atrair investimento
tremenda desigualdade entre contribuintes estrangeiro, colocando Portugal entre os países
em circunstâncias idênticas, levando a que os mais atrativos da Europa ocidental para as
primeiros sejam, invariavelmente, prejudicados empresas a nível fiscal. Esta reforma implica
face aos segundos apenas por uma questão de revogar as derramas bem como eliminar as
tratamento fiscal. tributações autónomas que representam
acréscimos de carga fiscal sobre as empresas
Da forma como está a ser aplicada a lei, há casos em Portugal, completamente contrárias à
de trabalhadores que, não querendo beneficiar prática internacional.
dos descontos de taxas que o benefício fiscal
também concede, vêem-se na obrigação Portugal tem a segunda maior taxa estatutária
de se endividar para liquidar impostos. Isto máxima de IRC da OCDE, sendo igualmente o

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segundo pior país em termos de competitividade a aumentar a competitividade fiscal do país
fiscal das empresas, entre os trinta e oito países e baixar os custos de contexto. Sugerimos
que a integram, de acordo com o estudo da Tax eliminar:
Foundation em 2023. Na fiscalidade sobre as
empresas, Portugal destaca-se negativamente • A duplicação de impostos resultante da
pela sua taxa máxima e pela complexidade. A cobrança de impostos sobre transações que
Iniciativa Liberal tem alertado incessantemente envolvem outros impostos, como é o caso do
para estes dois fatores, uma vez que põem em Imposto do Selo na compra de casas sujeitas

A
causa a capacidade de atrair e manter capital ao Imposto Municipal sobre as Transmissões
em Portugal, ainda mais num mercado de (IMT);
capitais tão aberto como é a União Europeia. • Contribuição extraordinária sobre o Alojamento

Para além do efeito dissuasor expectável que


Local;
• Contribuição extraordinária sobre a indústria
039
resulta da taxa estatutária máxima de 31.5% farmacêutica;
de IRC existente em Portugal, a progressivi- • Contribuição extraordinária sobre os
dade imposta pela derrama estadual e as di- fornecedores do Serviço Nacional de Saúde
ferenciações de taxação entre empresas com de dispositivos médicos;
diferentes dimensões, impede a progressão da • Contribuição extraordinária sobre o setor
evolução das empresas e incentiva-as a man- energético;
terem-se pequenas e pouco competitivas. Há • Taxas devidas ao ICP-ANACOM, no âmbito
ainda uma imensidão de benefícios fiscais que, das entidades formadoras na área de
para além de representarem um ímpeto dirigis- infraestruturas: ITUR e ITED;
ta sobre aquilo que deveria ser a livre iniciativa • Taxas de utilização do espectro radioeléctrico;
das empresas, é também uma fonte de impro- • Taxas de emissão de títulos habilitadores de
dutividade da nossa economia, abrindo portas serviços de rádio e televisão;
à corrupção e favorecimento de certos nichos e • Compensação pela fixação e reprodução,
empresas. conhecida como Taxa da Cópia Privada;
• Encargos com autorizações para plantações
O tecido empresarial português tem de ser de vinhas;
mais produtivo e mais atrativo, pelo que um • Contribuição Audiovisual;
sistema fiscal mais simples e mais baixo é • Adicional ao Imposto Municipal sobre Imóveis
fundamental para esse desenvolvimento que (AIMI);
a todos beneficia ao enriquecer a economia • Adicional ao Imposto Único de Circulação
nacional. Esta simplificação do sistema permite, (IUC);
igualmente, libertar recursos da própria • Adicional ao IMT de imóveis em terrenos da
Autoridade Tributária para focar na pedagogia margem sul do Tejo, conhecido como Imposto
junto do contribuinte para liquidação voluntária, da Ponte.
bem como, investigar e combater situações de
evasão e fraude fiscal. Estes exemplos de taxas, impostos adicionais e
contribuições são um perigo silencioso para a
economia nacional. A existência e a persistên-
Eliminar taxas, contribuições e impostos cia dos mesmos funcionam como autênticas
adicionais barreiras a mercados que se desejam competi-
tivos, causando distorções de mercado e punin-
A Iniciativa Liberal quer eliminar taxas, do indústrias com consequências para os seus
contribuições e impostos adicionais com vista consumidores finais. Por esse motivo, a Iniciati-

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va Liberal continuará a propor a eliminação e a com as propostas defendidas no capítulo A.5.4
revogação de um conjunto de taxas, impostos para dinamizar o mercado a favor do ambiente.
adicionais e contribuições extraordinárias que
têm afetado a competitividade fiscal e os con-
sumidores finais. Reverter a tributação sobre criptoativos
enquanto se aguarda pela legislação europeia

Tributar a mobilidade de forma justa A Iniciativa Liberal quer reverter a tributação

A
sobre criptoativos, e apenas avaliar a
A Iniciativa Liberal pretende reduzir gradual- possibilidade destes serem tributados após
mente o imposto único de circulação (IUC), cor- a sua devida regulamentação. Os primeiros
040 rigir as ilegalidades existentes no atual imposto
sobre veículos (ISV) e vai certificar-se que os im-
passos dados para a regulamentação do
mercado de criptoativos na União Europeia
postos sobre os combustíveis (ISP) não se tor- iniciaram-se com a aprovação do Regulamento
nem excessivos perante as circunstâncias eco- (UE) 2023/1114 do Parlamento Europeu e
nómicas do país. Deve reduzir-se os incentivos a do Conselho, referente ao “MiCA” (Markets in
adquirir automóveis, novos ou usados, que se- Crypto-Assets), e a sua transposição para o
jam poluentes sem penalizar quem atualmente ordenamento português ainda não ocorreu.
já tem veículo próprio.
O Governo do Partido Socialista foi mais rápido
Os automóveis e motociclos são um alvo fácil a tributar do que a salvaguardar as condições
para a tributação, uma vez que os impostos regulatórias dos investidores, legitimando
que sobre eles incidem são cada vez mais fiscalmente a transação destes ativos.
justificados como ambientais. Não é verdade Significa isto que atualmente, em Portugal,
que o sejam em casos como o IUC, onde o aplica-se uma tributação sobre transações
imposto nada tem que ver com a circulação, não regulamentadas. Queremos reverter esta
pois paga-se o mesmo, circule o carro um ou situação, e apenas ponderar tributar estes
cem mil quilómetros num ano. Nem se pode ativos depois da transposição do MiCA para o
punir a maioria dos portugueses por usar quadro legislativo nacional.
veículo próprio para trabalhar e fazer a sua
vida, perante a ausência de alternativas de
transportes públicos. Transparência da gestão do dinheiro
dos contribuintes e Justiça Fiscal
Propomos também corrigir as atuais ilegalida-
des no ISV, que discriminam negativamente os O princípio de que não deve haver taxação
veículos usados importados na União Europeia sem representação, não só é caro à Iniciativa
face aos veículos usados nacionais, discrimina- Liberal como é um dos principais fundamentos
ções estas pelas quais Portugal já foi várias ve- da democracia representativa. Os contribuintes
zes condenado pelas instâncias europeias. Em portugueses têm sido negligenciados nesta
matéria de ISP, propomos que a sua tributação relação, quer a nível de justiça fiscal, quer a nível
seja revista em baixa e analisada com frequên- de transparência na utilização do dinheiro dos
cia de forma a garantir que a mesma cumpre seus impostos.
os seus objetivos ambientais e não é mera-
mente aplicada para financiar a administração A ausência de representatividade dos
pública, para o qual já se aplica o IVA, em linha contribuintes leva, por um lado, à criação de

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procedimentos complexos como a necessidade de obrigações contributivas e tributárias que
de justificar à Autoridade Tributária o acesso a decorrem da relação constante que as em-
um determinado benefício. Reflete-se também presas e profissionais liberais têm de ter com
no aumento dos processos de reclamação por a Segurança Social e a Autoridade Tributá-
parte dos contribuintes, na maioria dos quais ria. Um exemplo claro, são as obrigações com
lhes tem sido dada razão. É premente simplificar a Declaração Mensal de Rendimentos. Esta
a relação do Estado com os contribuintes e reorganização permitiria ainda alargar a con-
aumentar também a representatividade dos ta-corrente entre o Estado e os contribuintes

A
mesmos junto das administrações fiscais. empresariais – coletivos ou profissionais libe-
rais – às dívidas e contribuições à Segurança
Associada a esta reforma fiscal é também Social. Futuramente, esta conta-corrente po-
essencial uma reforma administrativa da
gestão dos fundos públicos: desde a valorização
derá servir igualmente para antecipar o rece-
bimento de pagamentos em atraso por parte
041
do processo orçamental, passando pelo entidades da Administração Pública para com
acompanhamento da execução, pelo controlo estes contribuintes empresariais.
e reporte transparente das contas e, por fim, • Simplificar o IVA – Este é um imposto que
pela apresentação do resultado das políticas pela sua frequência e necessidade de reporte
públicas. Para tal, é essencial assegurar um se torna complexo, e que, no caso das
relatório da Conta Geral do Estado que seja cobranças duvidosas, cria um entrave para
fiável, transparente e concreto, bem como pequenas e médias empresas, que são a
instar à implementação e aprofundamento de grande base da economia nacional. Por esse
mecanismos de transparência e melhoria da motivo, é necessário reduzir as burocracias
qualidade de informação estatística publicada, do reembolso de IVA de cobranças duvidosas,
como é exemplo o Portal da Transparência para retirando a necessidade de serem certificadas
Fundos Europeus - uma medida introduzida por um Revisor Oficial de Contas, necessitando
pela Iniciativa Liberal no Orçamento do Estado apenas da validação do Contabilista
para 2021, apesar da discordância do Partido Certificado. Para além disso, propomos a
Socialista. redução do prazo de autorização prévia da
Autoridade Tributária de quatro para dois
Por fim, temos de ser intransigentes na meses, sendo deferidos tacitamente no caso
sustentabilidade das finanças públicas, de não haver uma validação, retirando ainda,
defendendo uma limitação clara para o nível de as limitações de valor atualmente definidas.
défice possível. Por fim, em matéria de IVA, propomos ainda
a isenção da apresentação da declaração
periódica pelas empresas e profissionais
Simplificar a relação do Estado com o liberais quando não ocorram operações.
Contribuinte •Isentar as PME da obrigatoriedade de
inventariação permanente de stocks
Simplificar e desburocratizar da relação entre – O sistema de inventário permanente
o Estado e o Contribuinte, com enfoque em implica o registo informático de todas as
medidas, como, por exemplo: movimentações de stock, desde as entradas,
movimentos internos e saídas; ou seja, implica
• Agregar as obrigações com a Autoridade Tri- que se saiba em cada momento qual o valor
butária e da Segurança Social numa entidade do stock. Sendo este um instrumento de
única para cumprimento de obrigações fis- gestão muito útil, para as pequenas empresas
cais e contributivas – Eliminar as duplicações é um acréscimo muito grande de trabalho e de

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custos. Ao retirar essa obrigatoriedade, está- em processos, entre outros.
se a dar a possibilidade de algumas empresas • Investigar reclamações: Investigar as recla-
reduzirem os seus custos com a gestão de mações recebidas de forma imparcial e justa.
inventários. Isso pode envolver a recolha de provas, entre-
•
Flexibilização da emissão da declaração de vistas e análise de documentação relevante.
situação tributária e contributiva regularizada • Mediar conflitos: Facilitar a resolução
– Propomos que as empresas possam obter de disputas entre os contribuintes e as
estas declarações quando possuam dívidas autoridades fiscais por meio de mediação. O

A
até 25 euros, que é um montante já aplicável objetivo seria alcançar acordos mutuamente
para a isenção do pagamento ou reembolso aceitáveis e evitar litígios prolongados.
de IRC. Não faz sentido que o fisco impeça a • Proteção contra represálias: Garantir que os
042 emissão deste documento por uma dívida
que o próprio considera irrelevante quando se
contribuintes que apresentam reclamações
estão protegidos contra represálias por parte
trata de liquidar impostos. das autoridades fiscais.
• Monitorizar práticas fiscais: Acompanhar
as práticas fiscais para garantir que sejam
Garantir a representatividade e defesa do justas, transparentes e em conformidade com
contribuinte as leis. Pode envolver a revisão de políticas,
comunicações oficiais entre o Governo e a
A Iniciativa Liberal quer garantir a autoridade tributária e, ainda, procedimentos
representatividade e defesa dos contribuintes fiscais.
com o aprofundamento das competências e • Recomendar mudanças legislativas: Identifi-
recursos da Provedoria da Justiça ou com a car lacunas ou problemas sistémicos no siste-
criação da figura do Provedor do Contribuinte. ma fiscal. Pode recomendar mudanças legis-
lativas ou regulamentares para abordar essas
Esta solução consiste, na sua base, na questões.
autonomização e independência operacional • Relatar anualmente: Apresentar relatórios re-
e financeira da atual Direção de Serviços de gulares publicamente e ao Governo sobre as
Apoio e Defesa do Contribuinte da Autoridade atividades, tendências e problemas identifi-
Tributária e Aduaneira, criada em 2019 mas cados, destacando áreas que necessitam de
do qual se conhece pouca atividade e que, a atenção e melhorias.
título de exemplo, não tem contribuído para • Contribuir para literacia fiscal dos contribuin-
funções de mediação e comunicação com tes: Fornecer informações aos contribuintes
o legislador. A Iniciativa Liberal encontra-se sobre seus direitos e responsabilidades fiscais,
disponível para trabalhar esta opção junto das explicando procedimentos e esclarecendo dú-
entidades de forma a chegar à melhor opção de vidas comuns.
representatividade e proatividade na melhoria •P  romover a transparência: Aumentar a trans-
da representação e defesa do Contribuinte. parência nas operações fiscais, garantindo
que os contribuintes compreendam as deci-
A entidade responsabilizada para o efeito, tem sões e processos adotados pelas autoridades
como funções: fiscais.
• Cooperação com autoridades fiscais: Colabo-
•
Receber reclamações e consultas: Receber rar com as autoridades fiscais para resolver
reclamações e consultas dos contribuintes questões e implementar melhorias no sistema,
sobre questões fiscais. Isso pode incluir incentivando a cooperação entre as partes.
disputas, interpretação de leis fiscais, atrasos

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Revisão da Lei de Enquadramento Orçamental adequada para a certificação legal da Conta
para uma utilização de fundos públicos mais Geral do Estado por parte do Tribunal de Contas,
transparente e eficaz algo que deveria ocorrer já com a Conta Geral
do Estado para 2023, mas não será possível
Rever a Lei de Enquadramento Orçamental dado o atraso na concretização das reformas
para garantir um debate digno da execução necessárias. De entre as reformas essenciais,
orçamental e promover uma maior encontra-se o levantamento do património
transparência, autonomia e responsabilização imobiliário do Estado e a sua valorização,

A
da execução orçamental. mas também o aprimoramento da Conta
da Segurança Social, que recorrentemente
Em Portugal, existe uma desproporcionalidade é objeto de reservas e ênfases significativas,
entre o debate orçamental e o debate da
execução, que se encontra corporizado no
associadas com a gestão do imobilizado e os
recebimentos.
043
debate da Conta Geral do Estado. A título de
exemplo, atualmente a discussão do Orçamento Na revisão da Lei de Enquadramento Orça-
do Estado, todos os trabalhos da Assembleia mental é também relevante garantir uma maior
da República concentram-se durante um mês autonomia de gestão por parte das entidades
inteiro na sua discussão e elaboração, com da administração pública, não descurando os
múltiplas audições e discussões plenárias. No deveres de transparência, nomeadamente, ao
caso da discussão da Conta Geral do Estado, nível da gestão de saldos de gerência, mas ga-
resume-se à audição do CES, do Tribunal de rantindo também a implementação de meca-
Contas e da Secretária de Estado do Orçamento nismos de revisão frequente de despesa, como
e a uma discussão em plenário de um total de é exemplo a implementação da orçamentação
cerca de 40 minutos. de Base Zero.

Esta desproporcionalidade é algo completa-


mente incompreensível dada a importância da Compromisso com a sustentabilidade
execução face às promessas, muitas vezes in- financeira do Estado e a redução da Dívida
cumpridas do Orçamento do Estado, sendo es- Pública
sencial reforçar o papel e a importância desta
discussão na Lei de Enquadramento Orçamen- Considerar sempre a sustentabilidade
tal. Mais concretamente, propõe-se que seja financeira do Estado na avaliação de políticas
assegurado o agendamento de, pelo menos, públicas, restringindo o saldo orçamental da
três dias de debates plenários focados na dis- administração pública a um saldo balanceado
cussão da Conta Geral do Estado, com presen- e positivo, caminhando progressivamente para
ça obrigatória do Ministro das Finanças. uma dimensão das despesas da Administração
Pública, atendendo também aos objetivos de
Em matéria de revisão de transparência redução do peso da Dívida Pública no PIB, rumo
da utilização de fundos de públicos e relato à meta definida pela União Europeia de nível de
financeiro, importa igualmente reforçar o Dívida Pública máximo de 60% do PIB.
cumprimento das recomendações do Tribunal A altíssima Dívida Pública de Portugal é fruto da
de Contas na realização da Conta Geral do crise financeira na primeira década do século
Estado, sendo da maior urgência garantir a e das governações despesistas do Partido
fiabilidade e a qualidade do relato financeiro Socialista, do qual, os sucessivos Governos não
do Estado, assegurando o mais rapidamente foram capazes de reverter, nomeadamente, ao
possível a disponibilidade de uma versão subjugarem o país a políticas públicas restritivas

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do crescimento, ficando para trás face a
países que, perante uma conjuntura similar,
prosperaram, do qual a Irlanda é o expoente
máximo dessa diferença de rumos tomados.

A Iniciativa Liberal não abandona e não


desvaloriza o esforço necessário para a redução
do peso da Dívida Pública, sendo que para a

A
sua redução, consideramos essencial a aposta
em políticas públicas que promovam um forte
crescimento económico sustentado, aliado a
044 uma redução significativa do peso da despesa
pública face ao PIB.

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2. HABITAÇÃO AGORA

O pacote Mais Habitação é a mais recente


evidência de que asfixiar o mercado de
Porém, tal não aconteceu. Se em 2002 se cons-
truíram 125 708 fogos concluídos em constru- A
arrendamento não leva nem a mais oferta
de habitação, nem a rendas mais baixas. A
ções novas para habitação familiar, em 2022
só 20 156 foram construídos (resultados pre-
045
Iniciativa Liberal irá sempre insistir na reversão liminares). São vários os motivos que explicam
de medidas que, como as deste pacote, este valor.
paralisam o mercado e agravam a injustiça
social. Além disso, propostas populistas como Desde logo, o desaparecimento de vários
a fixação de rendas apenas levam, como promotores e construtores e as maiores
está mais do que estudado, a que no longo- dificuldades no acesso ao crédito para os
prazo haja menos oferta e menor renovação. mesmos, fruto das crises de 2008 e 2011, o
A resolução da crise de habitação não tem aumento dos custos das matérias-primas e a
nenhuma solução mágica, implica sim uma falta de mão de obra. Depois, pelo próprio ciclo
análise séria. de construção: se é verdade que uma casa não
se constrói da noite para o dia, não é menos
Vários são os motivos que levaram ao verdade que a carga burocrática no sector é
aumento do preço das casas nos últimos muito elevada. Muito tempo decorre entre a
anos. Comecemos pela procura. Embora a aprovação do investimento e a conclusão da
população em Portugal tenha crescido pouco, construção, passam-se vários anos em muitos
a verdade é que está mais concentrada. casos.
Muitas pessoas saíram do Interior do país,
aumentando a procura sobretudo nas áreas Muita da burocracia ocorre entre estes dois
metropolitanas de Lisboa e do Porto. momentos, levando a atrasos substanciais na
entrega das casas, que se traduz numa inflação
Além disso, a política monetária expansionista de preços finais tanto por parte de quem compra
por parte do BCE, que se traduziu em taxas de como por parte de quem arrenda. Por fim, as
juro historicamente baixas (durante cerca de sete habitações são tributadas como bens de luxo,
anos tivemos uma EURIBOR negativa), levou a apesar de serem essenciais, sendo que a carga
que as pessoas estivessem mais disponíveis fiscal representa cerca de 40% do custo final.
para comprar casa pelo simples facto de a
prestação ter baixado substancialmente. O A Iniciativa Liberal rejeita as visões que
mercado de habitação tornou-se um porto de procuram responsabilizar terceiros pela inação
abrigo para todos aqueles que procuravam um e pelas falhas do Estado, a quem cabe cumprir
local onde investir o seu dinheiro aumentando a função social de garantir o direito à habitação
a procura por casas. Assim, seria de esperar – inclusive através do vasto património que
que a oferta acompanhasse este movimento detém, muito dele devoluto e que nem sequer
ascendente da procura. se encontra quantificado. Por isso, a Iniciativa

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Liberal recusa liminarmente a diabolização de Isentar o arrendamento e as transações
estrangeiros, pobres ou ricos, ou de setores imobiliárias de imposto de selo
como o alojamento local, que contribuiu
fortemente para a recuperação da economia. O A Iniciativa Liberal propõe isentar de imposto
país tem espaço para todos. Tem é de construir de selo as transações imobiliárias, eliminando
para todos. a escandalosa dupla tributação não só no
momento em que se compra casa. A isenção
A Iniciativa Liberal quer criar condições para de imposto de selo visa também ser aplicada

A
que os jovens portugueses saiam mais cedo no arrendamento, mediação imobiliária e
de casa dos pais. Dados do Eurostat mostram empréstimos bancários (taxas administrativas
que, em 2022, 54,4% dos jovens dos 25 aos e bancárias associadas).
046 34 anos em Portugal viviam em casa dos
pais, o que compara com os 30,3% da média
da União Europeia. A estes somam-se vários Reduzir o limite mínimo do IMI que os
portugueses (muitas famílias monoparentais) municípios podem cobrar
que, não sendo jovens, não conseguem fazer
face aos custos crescentes das rendas e das Aos impostos pagos na compra de casa,
prestações das casas. Para todos, a Iniciativa juntam-se aqueles pagos pela posse da mesma,
Liberal irá criar as condições para um maior nomeadamente o IMI. Por isso, a Iniciativa Liberal
acesso à habitação. propõe uma redução do limite mínimo do IMI que
poderá passar de 0,3% para 0%. Esta medida
dará liberdade a todos os municípios de, caso o
2.1. Reduzir os custos entendam, não cobrar IMI aos seus munícipes,
tornando-se mais competitivos na atração
Eliminar o IMT na compra de habitação própria de pessoas, investimento e desenvolvimento,
permanente promovendo uma maior concorrência entre
municípios e passando a funcionar como um
O direito à habitação está constitucionalmente instrumento que os municípios do interior
previsto contudo, a nível tributário, a habitação passarão a ter para se tornarem mais atrativos
é tratada como um bem de luxo. Na compra, o e fixarem população.
comprador tem de pagar IMT e imposto de selo.
Assim, a Iniciativa Liberal propõe a eliminação
total do IMT na compra de habitação própria Aumentar as deduções em IRS dos juros dos
permanente, pois se concordamos que a créditos à habitação e das rendas
habitação é um bem essencial, então não se
pode exigir muitas vezes dezenas de milhares A Iniciativa Liberal propõe o aumento das dedu-
de euros pelo simples facto de se comprar ções em IRS dos juros dos créditos à habitação e
uma casa. António Guterres designou o IMT, na das rendas da casa. Assim, os máximos das de-
altura denominado SISA, como o “imposto mais duções em IRS das despesas com rendas pas-
estúpido do mundo”. Passados todos estes anos, sariam dos atuais de 502 euros para os 1 800
mudou-se o nome mas o imposto permaneceu. euros. Já os valores da dedução em IRS das
despesas com juros para construção e/ou aqui-
sição de habitação própria permanente ou para
arrendamento no caso de habitação própria e
permanente do arrendatário passariam de 296
euros para 900 euros.

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2.2. Aumentar a oferta Consolidar todas as regras do arrendamento
num Código do Arrendamento
Reduzir o IVA da construção dos atuais 23%
para a taxa mínima de 6% para edificado novo À semelhança do ponto acima, a Iniciativa
Liberal quer sistematizar a legislação sobre
Na Lei do Orçamento do Estado de 2024, a arrendamento num único diploma, coerente
taxa reduzida de IVA para a edificação de novos e integrado, que inclua as normas que
imóveis destinados à habitação foi ignorada atualmente constam do Código Civil, NRAU

A
pelo Governo. Por isso, a Iniciativa Liberal (Lei n.º 6/2006, de 27 de Fevereiro) e demais
propõe uma redução do IVA da construção legislação avulsa.
dos atuais 23% para a taxa mínima de 6% para
edificado novo, à semelhança do IVA aplicado
Aumentar o número de terrenos disponíveis
047
à reabilitação urbana, reforçando assim a
perspectiva que já tínhamos referido no caso para construção
do IMT: se a habitação é um bem essencial não
pode ser taxado como bem de luxo. Para haver mais oferta é necessário haver
mais terrenos para construção e maximizar
a utilização desses terrenos através de
Consolidar mais de dois mil diplomas dispersos construção em altura, sempre em respeito
num só Código da Construção/Edificação pelos PDM, algo que deve não só ser previsto
como até incentivado na redação deste código.
Outra forma de aumentar a oferta é tornar A Iniciativa Liberal propôs no Parlamento
mais acessível a legislação que rege a cons- alterar a lei dos solos com vista a simplificar
trução. Hoje, existem mais de dois mil diplo- a reclassificação de terrenos privados, de
mas que regulam o urbanismo e a atividade modo a permitir a conversão de prédios
de construção. A Iniciativa Liberal pretende a rústicos em urbanos, libertando-os para mais
criação de um Código da Construção/Edifica- construção de habitação. A proposta não teve
ção que consolide essa legislação num único o acolhimento desejável e, como tal, a Iniciativa
diploma. Desta forma, almejamos acelerar os Liberal irá insistir na sua inclusão no futuro
processos de licenciamento e simplificar e uni- Código da Construção, cuja criação resultou de
formizar processos, tornando-os muito mais outra proposta liberal. É importante simplificar
eficientes e eficazes. Esta medida da Iniciativa e eliminar regulamentos desnecessários
Liberal foi aprovada nesta última legislatura que contribuem para o aumento do custo
e entretanto foi anunciado que a elaboração de construção ao mesmo tempo que abrem
será coordenada pelo IMPIC em colaboração caminho à corrupção.
com o LNEC, tendo por objetivo ser concluído
até 2026. Uma das nossas prioridades para
a legislatura que se avizinha é exactamente Descentralizar para aliviar a pressão
garantir que este código seja elaborado até demográfica nas grandes cidades
à sua conclusão. Apesar de a medida ter sido
aprovada, nada nos garante que seja efeti- É importante descentralizar o país e retirar
vamente concretizada. Iremos acompanhar pressão urbanística dos grandes centros
de perto este tema. urbanos, não só através de uma rede de
transportes abrangente, como também

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através de uma descentralização dos serviços públicos (impact fees), com o objetivo de tornar
do Estado. Que sentido faz ter o Instituto mais atrativa a expansão urbana e a sua
da Vinha e do Vinho no centro da cidade de densificação em áreas com serviços já instalados.
Lisboa? Grande parte dos serviços públicos
concentram-se à volta de Lisboa, contribuindo
para um aumento da procura por casas nessas Incentivar construção para arrendamento
regiões. Deslocalizar os serviços do Estado
para fora de Lisboa, seria mais um passo no A Iniciativa Liberal propõe ainda a criação de

A
sentido de diminuir a pressão urbanística da regime de incentivo à nova construção para
capital e levando a atividade económica para arrendamento (build-to-rent), algo muito
outras regiões do país. Aqueles que vivessem comum em vários países europeus, mas sem
048 em Lisboa iriam facilmente constatar que o seu
salário poderia valer mais noutra zona, podendo
aplicação em Portugal, devido à carga fiscal e
volatilidade de regime jurídico, o que torna o
melhorar a sua qualidade de vida ao mesmo mercado de arrendamento habitacional pouco
tempo que estariam a contribuir para reverter previsível. Para tal, visamos criar um regime de
a desertificação no território português. incentivos fiscais especialmente desenhados
para atrair o investimento dos agentes que
venham colmatar a ausência de casas para
Aumentar a densidade habitacional em áreas arrendar no mercado. Para tal, propomos a
com transporte público instalado isenção de IMT na aquisição dos terrenos, a
isenção de IMI, uma tributação autónoma de
As áreas que já são servidas por estações rendas a 14,5% e uma isenção de IRC. Desta
de metro, comboio e paragens de autocarro forma, o aumento da oferta de casas para
cuja utilização é subaproveitada devem arrendamento irá contribuir para reduzir o valor
merecer atenção prioritária no planeamento das rendas praticadas.
urbanístico a nível comercial, de serviços e de
habitação. Portugal falha frequentemente no
planeamento urbanístico do território. Há eixos Resgatar imóveis devolutos do Estado para
de mobilidade existentes que servem baixas soluções de habitação
densidades populacionais enquanto outros
estão sobrelotados. Em vez de uma cidade Sabemos que, em Portugal, o maior proprietário
dos quinze minutos – expressão utilizada para é o Estado, a tal ponto que nem o próprio
descrever cidades onde as pessoas conseguem Estado tem um inventário completo de todos
trabalhar e ter acesso aos principais serviços os imóveis que detém. Assim, a Iniciativa
de que precisam no dia a dia com deslocações Liberal propõe uma medida que permite à
que demoram um máximo de quinze minutos a sociedade civil o resgate dos imóveis devolutos
partir de sua casa, podemos ter várias zonas de do Estado para soluções de habitação. Assim,
quinze minutos dentro da cidade e à sua volta. após a venda do imóvel pelo Estado à melhor
oferta privada e do cumprimento do plano de
Adicionalmente, deve estudar-se a viabilidade reconversão ou reabilitação, o adquirente deve
de incentivos à densificação habitacional em disponibilizar o imóvel para rendas acessíveis
áreas com serviços instalados de transporte durante cinco anos ou destiná-lo a habitação
público, mobilidade suave e individual através própria e permanente por igual tempo.
de um índice de internalização de custos de nova
instalação de redes viárias, de água potável,
saneamento e expansão de redes de transportes

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Formar, reter e atrair capital humano os rendimentos de muitas famílias. Muitos
idosos dependem da renda de uma casa para
Para haver oferta de qualidade é fundamental conseguir pagar despesas de alimentação,
formar, reter e atrair pessoas com formação na comprar medicamentos e financiar os cuidados
área. A mão-de-obra especializada no sector da que precisam, mantendo uma existência digna
habitação é essencial para tornar a habitação e confortável até ao fim da vida. Não são estas
mais acessível. Uma das grandes dificuldades as pessoas que devem suportar o custo das
deste sector desde a crise imobiliária de 2008- políticas sociais para as quais já contribuem com

A
2010 é fruto da emigração dos seus melhores os impostos que subtraem ao seu rendimento.
quadros na área das construção para outros É o Estado que tem a responsabilidade de dar
países aquando da queda abrupta do mercado. apoio aos que mais sentem dificuldade em
Hoje, é necessário atrair e apostar na formação
profissional de mais técnicos especializados
encontrar habitação entre outras necessidades
essenciais.
049
para que o setor imobiliário consiga aumentar
a oferta de habitação com mais construção. Um mercado de arrendamento mais livre, não
só será mais justo para com os proprietários
como irá beneficiar quem atualmente não
2.3. Recuperar confiança encontra casa para arrendar. A existência de
rendas congeladas, por exemplo, é mais um
A Iniciativa Liberal quer devolver a confiança fator de distorção do equilíbrio tendencial entre
aos proprietários para colocarem mais casas a procura e oferta que decorreria do normal
no mercado de arrendamento. É natural que funcionamento do mercado. Isto prejudica uns ao
quem tenha propriedade a queira pôr a render, proteger injusta, cega e desproporcionalmente
mas em Portugal são fortes os incentivos para outros. Num bairro com muita procura, por
contrariar esta tendência. A morosidade dos cada casa com renda congelada que exista,
tribunais e a imprevisibilidade do legislador maior é a competição pelas casas que estão no
que deixa os proprietários cada vez mais mercado livre elevando as rendas nessas casas
desprotegidos no exercício dos seus direitos disponíveis. Os jovens, que hoje são dos mais
são apenas alguns exemplos. Nunca se sabe prejudicados ao tentarem sair de casa dos pais
quando é que o Governo pode alterar as regras por causa dos baixos salários que recebem,
que regem os contratos de arrendamento. seriam dos primeiros a beneficiar dum mercado
Veja-se o limite ao aumento de rendas que de arrendamento mais livre e mais justo para
houve para 2023, ou o aumento da duração todos.
dos contratos em vigor de um para três anos
a partir de 2019, independentemente do que
tenha sido acordado entre as partes. Redução do imposto sobre as rendas

Este discurso maniqueísta da esquerda que Baixar a taxa autónoma sobre os rendimentos
insiste em retratar os senhorios como vilões prediais de arrendamento de 25%, proposta
é uma falsa narrativa que é, acima de tudo, no pacote Mais Habitação do Governo, para
socialmente injusta. De acordo com os últimos 14,5% (contratos com duração até cinco anos),
censos, 70% das famílias em Portugal vivem reduzindo progressivamente até um mínimo
em casa própria, das quais cerca de 32% têm de 0,5% (contratos com duração superior a
segundas habitações. Num país com falta de 20 anos), conforme referido no Capítulo da
oportunidades para subir na vida pelo trabalho, Reforma Fiscal.
o arrendamento é uma forma de complementar

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Duração do
Regime atual Proposta da IL Aumentar a celeridade judicial nos processos
contrato
de arrendamento e sucessões de imóveis
Até 5 anos 25% 14,5%

Entre Reverter a medida do pacote Mais Habitação


15% 9,5%
5 e 10 anos que esvazia a ação do Balcão Nacional de
Entre Arrendamento nos contratos que chegaram
10% 4,5%
10 e 20 anos ao fim sem contestação do arrendatário.

A
Acima Os proprietários não conseguem fazer valer
5% 0,5%
de 20 anos os seus direitos num sistema lento que não
funciona. Tal como identificamos na secção
050 Baixar a carga fiscal sobre as rendas ajuda
inquilinos e senhorios. Com a proposta da
de justiça deste programa eleitoral, os
processos que visam imóveis devem ser uma
Iniciativa Liberal um inquilino pagaria menos prioridade para o mercado de habitação
81,87€ para uma renda em que o senhorio funcionar tanto a favor dos arrendatários
recebe 500€. como dos senhorios.

Se é verdade que a reforma da justiça pode


Eliminar quaisquer formas de arrendamento levar tempo, também é verdade que é possível
forçado previstas no pacote Mais Habitação dar prioridade a áreas específicas como é o
caso do direito laboral, uma das áreas da justiça
Qualquer ataque à propriedade privada será onde há maior celeridade processual. Se tanto o
combatido pela Iniciativa Liberal. Um Estado direito à propriedade como o direito à habitação
que não tem noção de quantos imóveis tem na estão consagrados como fundamentais na
sua posse e como tal não pode pô-los ao dispor Constituição da República, então a resolução
de quem precisa, não se pode arrogar no direito de litígios com eles relacionados também deve
de obrigar os proprietários a cumprir a função ser uma prioridade do sistema, especialmente
social que ele não é competente o suficiente quando há uma crise que dificulta o exercício de
para cumprir. ambos os direitos.

Eliminar o congelamento de rendas 2.4. Inovar e repensar


Alterar o Novo Regime de Arrendamento Urbano A Iniciativa Liberal sempre se afirmou como um
(NRAU) para acabar com o congelamento de partido centrado na melhor evidência empírica
rendas ainda em vigor, cabendo ao Estado mas também aberto a soluções inovadoras e
o apoio a pessoas em situação de carência reformistas, sobretudo na procura de soluções
económica. Quem não tem meios para pagar que procurem desburocratizar, simplificar e
continuará a ter apoio social, mas não são os desonerar num momento em que é urgente
proprietários quem tem de cumprir a função expandir fortemente o parque habitacional em
social. Essa cabe ao Estado com o dinheiro dos todo o país. Assim, na área da Habitação, a
impostos. Iniciativa Liberal apresenta as seguintes ideias
inovadoras:

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Criar um regime de pré-licenciamento Simplificar a conversão de espaços comerciais
urbanístico automático em habitação

O processo de licenciamento de nova Na vontade de aumentar a oferta de habitação,


construção, renovação e reabilitação de todos os esforços devem ser aplicados na
frações habitacionais é longo, altamente expansão do mercado. Uma parte não
burocrático e dependente da disponibilidade negligenciável do edificado urbano está
dos serviços das instituições públicas – muitas ocupado com atividades comerciais, industriais

A
vezes sobrecarregados com um sem-número ou recreativas, sendo que nos anos recentes
de procedimentos administrativos. a digitalização da economia e a generalização
do teletrabalho – associado a mudanças
A Iniciativa Liberal propõe que se deve
implementar um regime de pré-licenciamento
populacionais – tem gerado alterações
significativas no interesse da ocupação do
051
urbanístico automático para projetos de mesmo.
construção em áreas previamente identificadas
no Plano Diretor Municipal (PDM) como de Através da simplificação dos processos
elevada procura, mediante o cumprimento de licenciamento e conversão de espaços
de requisitos pré-definidos (podendo ser comerciais, industriais e recreativos em espaços
oferecidos plantas-modelo sem necessidade habitacionais, poder-se-ia transmutar espaços
de aprovação) com posterior fiscalização desta índole atualmente sem ocupação em
e penalização intensa de incumprimentos áreas de habitação – muitas vezes amplos e
regulamentares. com localização próxima a elevada procura –
de forma mais rápida, menos onerosa e com
Este modelo permite alcançar, em simultâneo, menor carga burocrática.
desígnios de simplificação administrativa,
desburocratização e aceleração da expansão
do mercado habitacional sem colocar em causa
os requisitos de qualidade e segurança do
edificado e o cumprimento de todos os preceitos
regulamentares e legais aplicáveis.

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3. T RANSPORTES: MAIS MOBILIDADE,
MAIS DESENVOLVIMENTO

A Os portugueses precisam de transportes que


funcionem. A Iniciativa Liberal aspira a um país
poderemos fazer muito mais pela coesão
territorial e pela qualidade de vida se fizermos

052 onde todos os portugueses, independentemen-


te de onde vivam, possam chegar à cidade, ao
os investimentos certos. Não se justifica o
investimento público em soluções como a TAP,
serviço, ao trabalho de um modo convenien- que não só é substituível pelo setor privado,
te, rápido e pontual. Temos uma dimensão de como contribui tangencialmente para a coesão
país pequeno, mas tempos de percurso de país interna do país sem ter qualquer racionalidade
grande: nas áreas metropolitanas, os portu- ambiental.
gueses vivem com interrupções de serviço, fa-
lhas no cumprimentos de horários e mudanças O setor dos transportes representa mais de um
de transporte pouco convenientes. Fora des- quarto das emissões de CO2 em Portugal, e
tas áreas, o acesso à ferrovia e a serviços de representa um dos maiores desafios do ponto
transporte decentes escasseia, quando não é de vista da descarbonização. No entanto, as
completamente ausente. Tal não só prejudica a soluções estão à vista: se podemos, por um
qualidade de vida das pessoas e a sua saúde lado, produzir veículos que não emitem gases
física e mental, como constitui um bloqueio ao com efeito de estufa, podemos, por outro, gerir
desenvolvimento económico do país. as nossas cidades de forma a tornar o uso de
carro menos necessário face a uma boa oferta
Hoje, graças à liberalização do transporte de transportes coletivos. A má gestão dos
coletivo rodoviário, os portugueses têm acesso nossos transportes urbanos tem consequências
a uma vasta oferta de serviços de autocarros sérias para as pessoas e para o ambiente: o
competitivos de transporte por todo o país, a crescimento das emissões dos transportes tem
um menor preço e com muito mais rotas, muitas sido acima do nosso crescimento económico. A
vezes em percursos onde já existe a ferrovia. Iniciativa Liberal quer mudar este panorama.

No entanto, há muita margem de progressão A Iniciativa Liberal propõe também uma


quer na liberalização rodoviária quer na estratégia que inclui uma visão e uma
expansão da ferrovia onde ainda há procura – missão para todo o sector da mobilidade
expressa muitas vezes em percursos de carro de passageiros e carga, com objectivos
caros e cansativos. Por isso, é fundamental ligar ambiciosos e os necessários pilares táticos de
o país, assegurando que é possível viver-se em acção. Defendemos, por isso, uma expansão da
qualquer ponto do território, permanecendo oferta de transportes nas cidades que garanta
sempre perto das principais cidades do país: intermodalidade, frequência e conveniência
não se justifica a enorme separação entre o para os utentes. Estes investimentos são
interior e o litoral numa faixa tão estreita de prioritários face à criação de gratuidades
território. Num país de dimensão pequena ou ao investimento excessivo na redução de
que se consiga profundamente interligado, preços de transportes públicos que já são,

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por si, altamente competitivos face aos custos • Reativação de linhas com interesse económico,
envolvidos no uso intensivo do carro. Todos os social e turístico, como é o caso da linha do
portugueses ganham com uma maior e melhor Douro até Barca d’Alva, ramal de Monção,
oferta na mobilidade urbana e interurbana. linha Régua–Vila Real, linha Beja–Ourique e
linha Pampilhosa–Cantanhede.

3.1. Ligar o país inteiro O plano ferroviário nacional da Iniciativa Liberal


consagra também níveis mínimos de serviço nas

A
Ligar todas as capitais de distrito por comboio estações e a interoperabilidade de sistemas de
bilhética, entre outros, de forma a garantir uma
A Iniciativa Liberal continuará a defender o experiência de passageiro reforçada enquanto
seu Plano Ferroviário Nacional, com horizonte se promoverá ativamente a livre concorrência.
053
2040, conforme a proposta que já apresentou
nas legislativas de 2022, agora atualizada para Por mais que tenhamos vivido anos de
2024. A ligação de todas as capitais de distrito promessas, o Partido Socialista infelizmente
por via ferroviária, de modo a que estejam pouco avançou na expansão das vias ferroviárias
colocadas a duas horas de distância de Lisboa em Portugal, preferindo apostar muitos dos
ou do Porto é uma prioridade para a Iniciativa escassos recursos do país em projetos sem
Liberal. O plano assenta num conjunto de eixos futuro, de fracos objetivos e executados
de desenvolvimento: tardiamente. A ferrovia, por outro lado, é um
investimento de longo prazo com um enorme
• Apostar nas linhas ferroviárias de alta potencial de retorno económico e ambiental.
velocidade (TGV), ligando o Porto a Lisboa Por isso, a Iniciativa Liberal continuará a aposta
até 2033, construindo a Terceira Travessia do na franca expansão da oferta ferroviária em
Tejo, e expandindo subsequentemente para todo o país e de aproximação aos padrões mais
Braga, Viseu e Vigo,e dar início à construção elevados dos nossos parceiros europeus.
da ligação de alta velocidade entre Lisboa e
Madrid;
• Executar os projetos já previstos no Plano Recuperar o serviço noturno para os
Nacional de Infraestruturas 2030 e formalizar transportes ferroviários internacionais
o Plano Ferroviário Nacional em lei da
República para execução até 2040; Com o enorme desenvolvimento das redes
• Densificação da rede nas áreas com uma ferroviárias europeias nos últimos vinte anos, os
elevada concentração populacional, com cidadãos da Europa Central, de Leste e até em
implementação das linhas do Vale do Sousa, parte de Espanha podem hoje aceder a quase
Lisboa–Loures–Malveira, novas ligações na todos os cantos da Europa sem recurso ao
Margem Sul de Lisboa, Barcelos–Braga– avião, de forma prática e confortável, utilizando
Guimarães, e o novo sistema de mobilidade de serviços diurnos frequentes e serviços nocturnos
Aveiro, ligando com a linha do Vouga; para cobrir as maiores distâncias. Com o fim,
• Intervenção de fundo em várias ligações em 2020, do comboio Sud Expresso Lisboa
interurbanas para melhoria de capacidade – Hendaye, e do comboio Lusitânia Lisboa –
e velocidade, como na linha do Minho entre Madrid, Portugal deixou de ter a possibilidade
Porto e Valença, a incorporação de Portalegre de, com uma noite de viagem, aceder a hubs
na linha do Leste, nova ligação de altas europeus relevantes de ancoragem destes
prestações para o Algarve e criação da nova grandes serviços ferroviários europeus.
linha de Trás-os-Montes;

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A Iniciativa Liberal considera que é funda- correncial e poder focar-se na sua prioridade
mental recuperar estes serviços noturnos, – os passageiros.
especialmente porque em caso de perturba- Com o desenho institucional proposto, teremos
ção dos serviços aéreos, Portugal fica sem objetivos focados para cada instituição pública
opções paralelas de conexão com o resto da e uma diminuição do papel político em favor do
Europa. A prazo, será possível também dotar papel técnico de proposta de políticas públicas.
o sistema ferroviário nacional de incentivos Este será um passo substantivo na atualização
e condições para promover a operação em do setor ferroviário, revendo uma organização

A
“open access” deste tipo de serviços, retiran- institucional atual que resulta de enxertos
do o Estado da subsidiação destes serviços, casuísticos e aleatórios introduzidos nos últimos
ainda importantes no curto prazo, colocan- 40 anos e que só contribuíram para politizar e
054 do-os no patamar da gestão dos incentivos. esvaziar tecnicamente o setor.

Reformar o governo do setor ferroviário Criar o Mercadorias 2030 – Potenciar o


transporte ferroviário de mercadorias
Está demonstrado que o Estado não acrescenta
valor na operação de transportes. Por isso, A Iniciativa Liberal considera que, até 2050,
a Iniciativa Liberal considera que este deve será possível aumentar a quota modal do
funcionar como regulador e garante do acesso transporte ferroviário de mercadorias dos
a estes serviços em todo o país. Por isso, a atuais 10% para 40%, objetivo já assumido por
prazo, a Iniciativa Liberal pretende garantir uma Portugal no contexto europeu. Este objetivo
forte estrutura regulatória e de preparação não só é fundamental na descarbonização
de políticas públicas por via das autoridades da economia, como poderá constituir um
competentes, a começar pelo IMT e pela AMT, importante ganho de eficiência económica na
mas não só, entregando a responsabilidade da circulação de mercadorias em Portugal. Para
operação de serviços aos atores competentes, alcançar estes objetivos, teremos de:
independentemente da sua titularidade.
• Reduzir a taxa de uso ferroviária para todos
Nesta visão, o Estado foca os seus recursos os tipos de tráfego, numa percentagem no
no planeamento, desenho e financiamento mínimo igual à percentagem acumulada de
de políticas públicas, deixando a operacio- redução das auto-estradas e subsidiação de
nalização para as empresas especializadas. gasóleo profissional rodoviário;
Poderemos atrair muito capital para o setor •C  riar um regulamento aplicável à tarifação de
ferroviário se apostarmos num modelo mais comboios de mercadorias em zonas portuá-
aberto e assente numa supervisão pública rias, com bonificação por utilização crescente
robusta. Promoveremos uma mais regular lici- e atração de mercado, de modo a trazer uni-
tação em mercado das obrigações de serviço formidade de critérios e previsibilidade para
público, atualmente fundamentalmente ope- os operadores;
radas pela CP, e uma subida dos níveis de ser- • Promover um programa de compras conjun-
viço exigidos pelo Estado para os serviços que tas para todos os operadores autorizados a
financia. A CP será autonomizada, passando a operar em Portugal, de modo a diminuir bar-
sociedade anónima, permitindo à empresa ser reiras à entrada e promover ganhos de escala;
autónoma na gestão e com objetivos claros a • Instruir a Infraestruturas de Portugal a
cumprir, podendo assim ganhar a agilidade implementar um novo terminal de mercadorias
que necessita para operar num mercado con- multimodal na área metropolitana de Lisboa,

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após a desactivação de praticamente todo o ser transferida para as respectivas áreas
terminal da Bobadela; metropolitanas ou comunidades intermunicipais
•
Reprogramar os fundos europeus para – abrangendo os também os serviços
programas de inovação direcionado para ferroviários suburbanos. Na Iniciativa Liberal,
frotas com eixos de bitola variável, vagões de não aceitaremos mais regimes de exploração
baixo ruído, entre outros. em regime de exclusividade, e atualizaremos os
níveis mínimos do serviço público de transportes
de passageiros:

A
Dar rapidamente início ao processo de
construção do novo Aeroporto • Passagem de uma categorização baseada em
população para uma categorização baseada
Portugal não pode continuar a perder dinheiro
porque não se decide sobre a localização do
em densidade populacional em meio urbano;
• Abandono da lógica da mobilidade unicamente
055
novo aeroporto. A Iniciativa Liberal considerará pendular nas áreas urbanas através da
a viabilidade financeira e económica das exigência de frequências mínimas durante
principais opções, com base nas conclusões da todo o dia, e não apenas nos períodos de
Comissão Técnica Independente e no resultado ponta da manhã e tarde;
da consulta pública, bem como nas questões de • Aumento das frequências mínimas diárias
índole contratual implicadas na construção do e em hora de ponta para todas as áreas
aeroporto. Após o fim da consulta pública que urbanas e periurbanas.
decorre e posterior publicação do relatório final • Passagem obrigatória, após devido período
da Comissão Técnica Independente, a Iniciativa de transição, para uma plataforma comum de
Liberal assume o compromisso de decidir sobre bilhética a nível nacional.
a localização do novo aeroporto no primeiro mês
após a entrada em funções do novo Governo.
Ampliar o sistema de mobilidade urbana de
alta capacidade em todo o país
3.2. Revolucionar a Mobilidade
Urbana Tem-se tornado claro que a atual oferta de
transportes públicos nas maiores regiões
Um mercado de transportes públicos a urbanas do país é insuficiente e não responde
funcionar para as pessoas às necessidades das pessoas. Enquanto assim
permanecer, o uso do carro irá prevalecr face
Com todas as mudanças ao nível da regulação aos transportes públicos, por mais que se
e gestão dos nossos sistemas de transportes diminua o preço das viagens.
nos últimos anos, o nosso Regime Jurídico do
Serviço Público de Transporte de Passageiros A Iniciativa Liberal defende, por isso, uma
permanece incapaz de responder às visão holística de longo prazo para todo o tipo
necessidades reais dos portugueses, limitando de infraestruturas dedicadas à mobilidade
a capacidade de resposta dos transportes. urbana não pedonal e não ciclável, obviamente
Por isso, a Iniciativa Liberal promoverá uma integradas com estas, defendendo uma visão
reorganização da gestão e prioridades dos de aumento de ambição no desenvolvimento
transportes públicos urbanos em todo o país. das redes de metropolitano já existentes, e
Para isso, não faz sentido que os municípios definindo uma visão para o desenvolvimento
possam exercer a atividade de autoridades de outras redes, em cidades de dimensão
de transportes, devendo essa competência relevante para os objetivos já explicitados e que

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atualmente não contam com nenhum destes exemplos de metros ligeiros de que dispomos
sistemas: são um exemplo disso mesmo. Por isso, a
• Apostar na capilaridade, frequência e Iniciativa Liberal defenderá a expansão da
intermodalidade das redes de metropolitano e cobertura destas estações para uma cobertura
metro de superfície nas regiões metropolitanas integral das mesmas.
de Lisboa e Porto;
• Apostar no metro de superfície em cidades de Para assegurar uma boa integração deste
média a grande dimensão tais como Braga, meio de transporte nas cidades, é necessário

A
Aveiro e Setúbal; introduzir também proteções ao longo das
• Promover os sistema de Metrobus/BRT linhas para que se possa diminuir o risco de
em cidades de média dimensão onde seja atropelamento e alcançar velocidades médias
056 recomendável a implantação de sistemas
de mobilidade urbana de altas prestações,
maiores por todos os percursos, factor decisivo
de competitividade e atração de passageiros.
tal como será o caso em Guimarães, Leiria,
Viseu e Faro, e expandido o atual em Coimbra,
nomeadamente na circulação intra-muros; Um regime único para o transporte privado de
• Liberalizar o mercado de transporte fluvial passageiros
no Tejo, privatizando a Transtejo/Soflusa e
abrindo novas rotas de navegação a outros Já não faz sentido para qualquer português,
operadores. motorista ou operador de transporte
privado de passageiros que este setor se
Além destes fatores, há muito por fazer pelo mantenha no regime de uma atividade, dois
conforto do passageiro nestes transportes. Para sistemas. É injusto para os táxis e para os
isso, é necessário melhorar a sinalética para os TVDE a competição pelos mesmo clientes,
utentes nas estações intermodais, assegurar convivendo em duas realidades regulatórias
que há televisões disponíveis a apresentar todas completamente diferentes. Esta situação
as informações necessárias aos passageiros, e causa injustiças para todos, prejudicando
consolidar o conceito de horários em tempo real a atividade, os portugueses e a própria
para que todos saibam com o que contar nas economia.
suas deslocações. Tal fará parte dos requisitos
operacionais supervisionados pelo regulador Por isso, pretendemos unificar os regimes
e constante de contratos de obrigações de do táxi e do TVDE para que o plano de
serviço público. concorrência seja o mais justo possível: para
isso, removeremos limitações supérfluas às
duas atividades, criando condições para que
Melhorar a experiência e segurança de serviço as duas possam conviver em circunstâncias
dos metros ligeiros equivalentes. Para isso, será necessário:

Os metros ligeiros de que dispomos no país, •


Acabar com os contingentes municipais ou
nomeadamente o Metro do Porto e o Metro Sul regionais, enquanto forma de discriminação
do Tejo, têm demonstrado ter infraestruturas de uma atividade económica;
desadequadas face à elevada procura e •
Unificar as condições de licenciamento de
inserção no meio urbano. Em Portugal, é motoristas para os dois setores;
demasiado comum encontrar paragens de •
Legalizar os sistemas de avaliação de
transportes que não protegem os utentes, passageiros, protegendo os motoristas;
deixando-os expostos aos elementos, e os •
Permitir a livre contratualização de praças

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destes veículos com os municípios. em Portugal.

Entre outras medidas que surgirão no contexto À medida que o carro elétrico fica acessível
desta revisão geral das duas leis. Portugal não à classe média, é fundamental ter as bases
pode conviver mais com mercados segmentados para que o mercado de carregamento destes
e ineficientes, pois cada regulamento inútil veículos seja suficientemente agilizado para
a mais conta: e todos juntos saem caro à responder à sua procura. Para que a procura
economia e ao bolso dos portugueses. por estes veículos permaneça incentivada,

A
continuaremos a apoiar a instituição de um
programa de Retoma ‘’Zero CO2’’ para veículos
Impulsionar a mobilidade elétrica em fim de vida, incentivando não só a compra,

A mobilidade elétrica tem-se revelado um dos


como a renovação dos automóveis portugueses.
057
mais eficazes modos de descarbonização da
economia. Este mercado em franca expansão Abrir caminho para a mobilidade leve
tem ainda margem para crescer em Portugal,
desde que tenha as condições certas do Os portugueses podem ganhar muito mais
ponto de vista das infraestruturas e dos em qualidade de vida se promovermos um
incentivos individuais. Já em janeiro de 2024, a planeamento urbano favorável à mobilidade
Autoridade da Concorrência emitiu um conjunto suave. A Iniciativa Liberal irá empenhar-se na
de recomendações ao governo, as quais a criação de mais condições para o transporte
Iniciativa Liberal subscreve, nomeadamente: de bicicleta, também como complemento
aos transportes coletivos, como acontece em
• Simplificação dos pagamentos nos pontos de muitas cidades europeias. A mobilidade suave
carregamento, permitindo carregamentos ad pode desempenhar uma importante função
hoc sem recorrer a uma app; nos percursos casa – transportes, transportes
• Revogar a possibilidade de alargamento das – trabalho e vice-versa, dado que estes são
concessões nas áreas de serviço à instalação muitas vezes os mais difíceis de substituir por
e exploração de postos de carregamento, outros meios. Assim, a Iniciativa Liberal pretende
abrindo estes ao mercado; usar o programa de financiamento do Fundo
• Permitir que os comercializadores de Ambiental dedicado aos transporte públicos,
eletricidade ou operadores de postos de o Incentiva +TP, para a instalação de sistemas
carregamento a contratualização de energia de bicicletas partilhadas, e para instalação
elétrica a qualquer agente económico que a de parqueamentos públicos de bicicletas nas
comercialize. interfaces dos transportes públicos.

A rede Mobi.e representou um importante


contributo no lançamento da mobilidade
elétrica em Portugal. No entanto, a atual
regulamentação da mobilidade elétrica já
está a consistir, ela própria, num espartilho ao
desenvolvimento deste mercado em Portugal,
cuja procura tem disparado nos últimos anos: só
em agosto de 2023, estes representaram 40%
das vendas de veículos ligeiros de passageiros

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4.T RABALHO: MENOS RESTRIÇÕES, MAIS
OPORTUNIDADES

A Numa economia aberta, dinâmica e concorren-


cial, os poderes públicos devem procurar ga-
lançar o seu negócio, promovendo o trabalho
independente e assegurando condições mais

058 rantir que o binómio empresas-trabalhadores


funcione de forma natural, promova a produ-
justas para os profissionais liberais.

tividade e os rendimentos, e corrija automa- Outro ponto crítico, que é simultaneamente


ticamente os desalinhamentos que surjam. A causa e efeito do atraso português, é a
incumbência do Estado é regular, norteando produtividade. De acordo com dados do
a sua atuação pelos princípios da necessidade Eurostat referentes ao final de 2022, a
e da proporcionalidade, recusando caminhos produtividade do trabalho em Portugal
dirigistas ou paternalistas. A Iniciativa Liberal corresponde a 76,7% da média dos 27 estados-
quer, por isso, um mercado laboral com regras membros da União Europeia e 72% da média
simples e estáveis, que tornem atrativo traba- da Zona Euro. Na última década, a tendência é
lhar, investir e empreender em Portugal. negativa e acentuou-se nos últimos seis anos.
Sob a governação do Partido Socialista, fomos
Ao invés de regular e de, quando necessário, ultrapassados pelos países bálticos, se nos
proteger a parte mais vulnerável, a legislação reportarmos apenas à Zona Euro, e também
em vigor tem promovido desequilíbrios e pela Croácia, Roménia e Polónia se o resto do
perpetuado sistemas desiguais (inclusivamente espaço comunitário for considerado. A título
dentro dos mesmos setores de atividade). Aliás, de comparação, na última década, a Irlanda
Portugal é dos países onde a concertação quase duplicou o seu índice de produtividade,
social tem sido menos representativa de situando-se agora em 224,8% da média da
empregadores e trabalhadores, o que se União Europeia.
reflete na regulação de cada setor muitas
vezes desajustada à realidade das pequenas No entanto, o problema não reside apenas
e médias empresas. Essa legislação tem do lado do trabalho. Também a produtividade
contribuído para a desconfiança entre do capital é baixa, desde logo pela falta
as partes envolvidas na relação laboral, de dimensão das empresas portuguesas.
alimentando um clima de luta de classes em Acresce a este problema a escassa dimensão
vez de contribuir para mais oportunidades do mercado interno e o facto de este ainda
e prosperidade. A Iniciativa Liberal quer assentar, em grande medida, em setores de
promover uma maior participação das partes bens não transacionáveis, assim como de
na relação laboral através da concertação reduzida componente tecnológica.
social, de modo a alcançar um equilíbrio
justo e produtivo para benefício de todas as Sendo a economia do futuro, do conhecimento,
partes envolvidas, promovendo uma cultura dos dados e da desmaterialização, muito
de ambição e crescimento, incentivando mais dependente de capital humano do que
quem trabalha por conta de outrem ou quer físico, Portugal tem nos próximos anos uma

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oportunidade de transformação estrutural. do emprego, a regulação das carreiras
Para isso, precisará de se aproximar de modelos (sempre que tal não colida com o acima
laborais modernos, simplificando e flexibilizando referido), os mecanismos de mobilidade, os
as relações do trabalho. Tal modernização períodos experimentais, o tempo de trabalho,
requer implementar um conjunto de medidas e os aspectos relativos à extinção dos vínculos
de forma integrada. devem ser remetidas de forma mais alargada
para a contratação coletiva e para a negociação
Por outro lado, num contexto cada vez mais glo- individual, tanto no sector público como no

A
balizado, com mais liberdade e mais interdepen- privado.
dência, a Iniciativa Liberal entende que as pes-
soas e as empresas não podem ficar reféns de
dogmas ideológicos, de concepções do mercado
de trabalho ultrapassadas nem estar sujeitas às
Aproximar as regras laborais dos padrões
europeus
059
conveniências de algumas corporações.
A Iniciativa Liberal quer aproximar o enquadra-
mento legal do trabalho dos padrões dos paí-
4.1. Flexibilizar a legislação laboral ses europeus mais desenvolvidos, reduzindo a
à luz dos padrões europeus complexidade administrativa e sensibilizando
os vários atores laborais para a relevância de
Embora no início da década passada se tenha uma abordagem a esta temática na linha da
verificado uma aproximação entre a legislação flexisegurança, como se encontra na genera-
que regula o emprego privado, o Código do lidade dos países europeus com mercados de
Trabalho, e o emprego no Estado, a Lei Geral trabalho mais modernos e salários mais eleva-
do Trabalho em Funções Públicas (LGFP), dos. Pretende-se aumentar as situações que
subsistem diferenças substanciais entre estes permitem o acesso ao subsídio de desemprego,
dois universos. reduzindo a duração máxima desse subsídio.
Resumindo, as saídas e as entradas no empre-
Sendo atendível a existência de um regime go são mais flexíveis, mas a segurança na pro-
próprio por força das especificidades das atri- cura de novo emprego a nível de apoios públi-
buições e das responsabilidades do serviço pú- cos também é maior.
blico, sobretudo quando respeitantes às desig-
nadas funções de soberania nacional (Forças
Armadas, forças de segurança, magistraturas Restabelecer mecanismos de flexibilidade no
judicial e do Ministério Público, diplomacia e re- horário
presentação externa), as relações de emprego
– públicas ou privadas – devem caminhar para Entre as alterações realizadas ao Código de
a uniformização, salvaguardando que algumas Trabalho em 2019, verificou-se uma da qual
funções devem ser protegidas das mudanças resultou um sério prejuízo à gestão das em-
de ciclos políticos. presas e dos trabalhadores. Aos decisores
políticos não deve ser indiferente o facto de
a atividade de uma grande parte das em-
Aumentar matérias que podem ser alteradas presas não ser necessariamente regular ao
por negociação coletiva e individual longo do tempo. Os picos de laboração con-
trastam com períodos de arrefecimento da
A Iniciativa Liberal defende que, em matérias atividade. Tais flutuações exigem adequa-
como a própria relação jurídica e a tipologia ção da resposta de quem gere as empresas,

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tendo em vista a sua própria rentabilidade e imediatamente a Diretiva Europeia n.º
sustentabilidade, bem como a manutenção 2022/2041, no sentido de estabelecer
dos postos de trabalho. indicadores que determinem os limites do
salário mínimo nacional por referência ao
Uma forma alternativa de lidar com essas custo de vida, a proporção do salário mínimo
variações – muitas delas de difícil previsão nacional face ao salário médio e mediano, a
– reside na instituição de mecanismos de produtividade e a taxa de crescimento em geral.
flexibilização de horários, assentes em

A
acordos prévios entre a entidade patronal Com base nestes indicadores estabelecidos na
e o trabalhador. Assim, a Iniciativa Liberal lei, o salário mínimo nacional será obrigatoria-
defende que a acrescer à possibilidade de mente fixado dentro de uma banda com valor
060 recurso a bancos de horas como resultado
de instrumentos de regulação coletiva seja
mínimo e máximo. O valor concreto para cada
ano terá de ser negociado em concertação so-
novamente consagrada a hipótese de utilização cial e, só na falta de acordo, poderá ser definido
de bancos de horas por via de negociação unilateralmente pelo governo. Em sede de ne-
individual, podendo o horário normal de gociação coletiva, os parceiros sociais poderão
trabalho ser aumentado até duas horas por continuar a estabelecer valores mínimos seto-
dia, 50 horas por semana e 150 horas por ano. riais acima do mínimo nacional.

A entidade empregadora terá sempre Além de cumprir a legislação europeia, esta


de ressarcir o trabalhador pelo trabalho medida contribui para uma maior previsibilidade
realizado, de entre as formas definidas por lei e em torno do salário mínimo nacional, e permite
acordadas com o trabalhador. Com o desenho levar em conta a necessidade de aumento da
desta proposta, são reforçadas as garantias produtividade e do consequente aumento dos
do trabalhador, uma vez que o banco de horas salários em geral como condição para aumento
individual tem de ser expressamente aceite, por sustentável do salário mínimo nacional.
escrito, pelo trabalhador – diferença relevante
face ao quadro legal que vigorou até 2019. Esta abordagem, além de mais representativa
e ajustada à realidade económica de cada ati-
Uma das vantagens para o trabalhador prende- vidade, evita a tendência dos partidos políticos
se com a maior flexibilidade na forma como para prometer aumentos de salário mínimo de
pretende ser compensado pelo trabalho que forma eleitoralista, criando incentivos para a
realiza fora do horário de trabalho, que pode estipulação do salário mínimo de forma mais
ocorrer sob a forma de redução do trabalho responsável por parte dos decisores políticos.
exigido de forma proporcional ao trabalho
realizado fora de horas. É de notar também
que hoje os trabalhadores portugueses sofrem Dar liberdade de escolha ao trabalhador no
taxas de carga fiscal muito elevadas sobre as recebimento dos subsídios
horas extras que trabalham.
O Código do Trabalho e o conjunto de normas
que regulam o usufruto das férias e o pagamen-
Evoluir para um modelo setorial de negociação to dos subsídios de férias e de Natal são ainda
de salário mínimo demasiado complexos, dispersos e objeto até
de interpretações díspares quando cessam os
A Iniciativa Liberal propõe alterar a legislação vínculos contratuais. Acresce a isso que em si-
sobre o salário mínimo nacional, transpondo tuações menos convencionais, como o trabalho

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temporário, períodos intercalares de cálculo, 4.2. Modernizar as relações
gozo de licenças de diversas ordens ou baixas laborais para a realidade do
médicas, seria porventura mais fácil e mais pre-
século XXI
visível (para efeitos de tesouraria) para as em-
presas adotarem o modelo de remuneração
Criar oportunidades: liberalizar o acesso às
processado em 12 meses. Além disso, há empre-
profissões
sas, e também cidadãos, com diferentes neces-
sidades de liquidez ao longo do ano.

A
A Iniciativa Liberal continuará a pugnar pela
eliminação de restrições injustificadas no acesso
Assim, cada trabalhador voltaria a ter a prer-
a profissões reguladas, tendo como objetivo
rogativa de escolher como pretende que os
061
assegurar maior flexibilidade no acesso às ditas
subsídios (13.º e 14.º meses) lhe sejam pagos:
profissões para detentores de qualificações nas
na totalidade em dois momentos do ano ou em
áreas respetivas, extinguindo diversas ordens
duodécimos, isto é, diluídos pelos 12 meses do
profissionais, eliminando exames adicionais
ano. Esta modalidade seria de adesão voluntá-
de acesso à profissão, facilitando a criação de
ria e caberia apenas a cada trabalhador.
sociedades pluridisciplinares e alargando a
possibilidade de divulgação dessas sociedades
(inclusive através de publicidade).
Tornar o recibo de vencimento mais
transparente
A legislatura que agora acaba fica marcada por
mais um processo legislativo atabalhoado no
Os trabalhadores por conta de outrem em
que respeita à revisão dos estatutos das ordens
Portugal vêem nos seus recibos de vencimentos
profissionais. O Governo e o Partido Socialista
uma perspetiva muito parcelar e distante
comprometeram a qualidade desse trabalho
da realidade. No caso da Segurança Social,
tendo apenas como desígnio a obtenção de
apenas consta do recibo um desconto de 11%,
mais uma tranche financeira no quadro do
passando a ideia de que o esforço para o
Programa de Recuperação e Resiliência (PRR).
sistema previdencial fica por aí. Na verdade,
existe um adicional de 23,75%, cujo custo é
Realizada com o tempo, a transparência e
atribuído à entidade patronal, sendo o valor
a prudência que se exigem, esta reforma
correspondente ocultado do recibo.
aumentará a equidade entre gerações,
reduzindo o desemprego e emigração dos
Ora, um trabalhador ciente de que a
jovens e combaterá corporativismos bacocos,
contribuição para a Segurança Social é de
ao mesmo tempo que modernizará os métodos
34,75%, e constatando-a todos os meses,
de avaliação dos membros das ordens que
será necessariamente mais exigente com as
se mantenham e levará à adoção de códigos
despesas efetuadas pelo Estado. Por isso, a
deontológicos e regimes disciplinares mais
Iniciativa Liberal mantém-se convicta de que
robustos.
é benéfico colocar no recibo de vencimento
dos trabalhadores por conta de outrem a
totalidade dos custos suportados pela entidade
Acelerar o mercado de trabalho
empregadora com a Segurança Social, que
onera as empresas e que não raras vezes as
Os trabalhadores com contratos sem termo
impede de pagar melhores salários.
estão hoje sujeitos a períodos de aviso prévio
demasiado longos em caso de denúncia do
contrato por sua iniciativa, dificultando a

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mobilidade dos profissionais. A Iniciativa Liberal e com a promoção do empreendedorismo,
avançará, com o objetivo de agilizar o mercado nos diversos setores de atividade e no
de trabalho, com uma proposta para que o seio das próprias empresas, a adoção de
período de aviso prévio nos casos de denúncia soluções descentralizadas e proporcionais às
do contrato por iniciativa do trabalhador possa necessidades tanto do trabalhador como do
ser reduzido até duas semanas, de acordo empregador, na medida em que ambas as
com o grau de dificuldade expectável para o partes entenderem que é vantajoso.
empregador o substituir.

A Promover o trabalho remoto


Trazer a concertação social para o século XXI

062 A pandemia de Covid-19 veio acelerar


O diálogo social em Portugal está cristalizado
há cerca de três décadas. Não só porque as
adaptações expectáveis no mercado laboral organizações que integram os seus principais
a nível mundial, de acordo com avanços fóruns tendem a ser cada vez menos
tecnológicos recentes. Portugal não foge a essa representativas dos setores mais dinâmicos da
tendência e pode beneficiarmuito do crescimento sociedade (tanto da parte das empresas como
do teletrabalho. Apesar de haver já algum dos trabalhadores), mas também porque tanto
conhecimento das potenciais desvantagens o Conselho Económico e Social (CES) como a
do teletrabalho – designadamente a nível da Comissão Permanente de Concertação Social
perda de socialização nas relações laborais que (CPCS) acabaram por constituir extensões ou
pode prejudicar o desempenho e realização caixas de ressonância das disputas político-
profissional dos trabalhadores – há também partidárias. Não será sintoma de saúde
vantagens que configuram oportunidades para democrática que, no início do ano passado, o
trabalhadores, empresas e para a economia Presidente da República tenha reconhecido que
como um todo. “certas realidades” não estejam atualmente
“cobertas pelos parceiros económicos e sociais”.
Em certas condições, o trabalho remoto pode Não se trata, pois, de formalidade jurídica, mas
constituir um mecanismo importante para a da realidade associativa e de novas dinâmicas
melhoria das condições de trabalho e contribuir sociais.
para a conciliação da vida pessoal com a
carreira profissional. Poderá atrair cidadãos Na CPCS, mais relevante na discussão e
estrangeiros reduzir a emigração de cidadãos definição de políticas públicas, estão apenas
nacionais, em particular jovens altamente representados o Governo, as duas centrais
qualificados que trabalham para empresas sindicais mais antigas do país, a Confederação
estrangeiras com remunerações mais elevadas Geral dos Trabalhadores de Portugueses –
face aos padrões nacionais. Pode também Intersindical (CGTP-IN) e a União Geral dos
reduzir os níveis de congestionamento e poluição Trabalhadores (UGT), e quatro confederações
nos centros urbanos, assim como contribuir para patronais, a Confederação dos Agricultores
a correção das assimetrias regionais através Portugueses (CAP), a Confederação do
da (re)localização de trabalhadores para zonas Comércio e Serviços de Portugal (CCP), da
de baixa densidade, nomeadamente no interior Confederação Empresarial de Portugal (CIP) e
do país. da Confederação do Turismo de Portugal (CTP).
Não por acaso têm vindo a surgir, fora deste
A Iniciativa Liberal quer agilizar com medidas de espectro, organizações que tencionam pôr
cariz fiscal, com a reforma dos serviços públicos termo a esta cristalização e visam dar resposta

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a novos anseios e aspirações de largos setores em Portugal. Em 2022, existiam cerca de 704
da sociedade que não eram ouvidos ou não mil trabalhadores independentes, um número
tinham voz. Não raras vezes adotando formas 8% superior ao registado uma década antes.
de reivindicação pouco convencionais, algumas Durante este período, aumentou também
das quais no limiar da legalidade. Para evitar a representatividade dos trabalhadores
uma potencial ruptura social, urge encontrar independentes com ensino superior – de 17,6%
respostas e a Iniciativa Liberal propõe: em 2012 para 27,3% em 2022. No entanto, os
trabalhadores independentes e os profissionais

A
• Aumentar a transparência das taxas de filiação liberais continuam a ser os parentes pobres do
de cada parceiro social, com a divulgação mercado laboral em Portugal, designadamente
regular do número de trabalhadores inscritos no que respeita às questões da parentalidade,
em cada sindicato (e destes em cada central
sindical) e do número de empresas afiliadas a
apesar do sufoco fiscal a que estão sujeitos.
Quem corre riscos não deve ser sobrecarregado
063
cada confederação patronal e associações de e desvalorizado pelo próprio Estado, sempre
empregadores respetivas; tão voraz a colher os frutos do trabalho de
• Alargar a CPCS a outras organizações com quem empreende e dinamiza inúmeros setores
níveis de representatividade mínimos (com da nossa economia.
revisões periódicas), incluindo outras confe-
derações patronais ou sindicais, incluindo as-
sociações que representem setores de ativi- Alargar direitos de parentalidade a
dade ou segmentos de profissionais que, pela profissionais liberais e trabalhadores
natureza da atividade exercida, não tenham independentes
representação sindical;
• Estabelecer um novo modelo orgânico para No âmbito do processo de especialidade
a CES e CPCS em que o presidente passa a do Orçamento do Estado para 2024, a
ser nomeado pelo Presidente da República, Iniciativa Liberal bateu-se pela eliminação
sob proposta do Governo, sendo sujeito a uma da discriminação dos profissionais liberais e
audição prévia na Assembleia da República; trabalhadores independentes na proteção
• Definir níveis de representatividade mínimos social na parentalidade. Os trabalhadores
para a extensão de contratos coletivos de independentes beneficiários do sistema
trabalho; previdencial têm direito ao subsídio parental,
• Mudar a postura perante a concertação social mas na prática, pela natureza da sua atividade,
e procurar uma negociação séria. não há igualdade face aos trabalhadores
por conta de outrem. Por exemplo, o período
de referência para cálculo do montante do
4.3. Valorizar os profissionais subsídio não prevê oscilações inerentes à sua
liberais e trabalhadores atividade e não está prevista a diminuição do
horário laboral para a amamentação.
independentes
A proposta de alteração aprovada previa que
A Iniciativa Liberal quer um país diferente, onde
já este ano o Governo estudasse a possibilidade
correr riscos compensa e é valorizado. O exercício
e as condições de integração dos profissionais
de igualdade de direitos entre trabalhadores
liberais e trabalhadores independentes nos
independentes e dependentes é um princípio
regimes de licenças de parentalidade, de
que deve ser aplicado em diversas áreas. Os
forma a terem efetivamente direitos parentais
trabalhadores independentes correspondem a
equiparados aos dos trabalhadores por
cerca de 15% do total da população empregada

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conta de outrem. Esta integração é complexa acesso a creches a crianças cujos ambos
e tem implicações a diferentes níveis, pelo os pais sejam profissionais liberais ou
que é pertinente a realização urgente de um trabalhadores independentes: na idade,
estudo que identifique todas as implicações permitindo prestar cuidados a crianças
– legislativas e financeiras – de diferentes com menos do que 3 meses; e na duração,
alternativas. Tendo em conta as conclusões e permitindo que o cuidado a essas crianças
recomendações do estudo, a Iniciativa Liberal com menos de 3 meses seja prestado em
compromete-se a implementar as medidas períodos avulsos, flexíveis ou irregulares (por

A
mais adequadas para garantir a igualdade exemplo, 1 dia, 2 dias por semana, 1 semana
efetiva das condições parentais entre todos os por mês).
trabalhadores, nomeadamente das licenças
064 parentais e do período de amamentação.
conciliação entre vida profissional e pessoal. As Alargar a isenção sobre rendimentos a
medidas terão em conta as condições sobretudo trabalhadores-estudantes independentes
das mães (mas também dos pais), apoiando
os projetos de família, de vida e de felicidade Em paralelo, a desigualdade de tratamento
a milhares de trabalhadores independentes e estende-se também à conjugação entre
profissionais liberais. o trabalho e os estudos. Recentemente,
houve um avanço legislativo importante
que beneficiou os jovens trabalhadores-
Flexibilizar o acesso a creches para filhos estudantes, permitindo que parte de seus
de profissionais liberais e trabalhadores rendimentos de trabalho dependente
independentes não sejam considerados para efeitos de
atribuição de prestações sociais. No entanto,
A natureza da atividade profissional de os trabalhadores independentes não foram
alguns profissionais liberais e trabalhadores abrangidos por essa alteração.
independentes é muitas vezes incompatível
com ausências prolongadas, nomeadamente Ainda para mais, devido ao carácter sazonal,
após o nascimento de um(a) filho(a). São experimental ou até pela tipologia de atividade
exemplos deste cenário, advogados que (por exemplo, artística ou tecnológica),
poderão ter de estar presentes em tribunal esta opção afigura-se contraproducente
ou donos de lojas, sendo ainda mais grave não só por deixar de fora grande parte dos
no caso em que ambos os pais estão nesta possíveis estudantes, mas também por ser
situação, obrigando-os a fazer sacrifícios um desincentivo à livre iniciativa, à entrada
profissionais ou pessoais, como o adiamento no mercado de trabalho e à assunção de
ou abandono de projetos parentais. Nestes riscos. No limite, bloqueiam-se oportunidades
casos, é necessário garantir acesso a serviços e fomenta-se a informalidade e a ilegalidade.
de cuidados à primeira infância mais cedo
do que os adequados aos trabalhadores Os estudantes, independentemente do seu
por conta, que têm direito a licenças de estatuto laboral, devem ter igual acesso a
parentalidade de 120 dias. oportunidades educacionais e de inserção
no mercado de trabalho. É importante que
No entanto, atualmente, as creches e creches a legislação seja ajustada para garantir que
familiares só estão autorizadas a cuidar ambos os grupos sejam tratados de maneira
de crianças a partir dos 3 meses de idade. justa e equitativa.
Propomos flexibilizar em duas vertentes o

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Defender a justiça fiscal para os profissionais
liberais e trabalhadores independentes

A Iniciativa Liberal propõe um conjunto de


medidas fiscais aplicáveis aos profissionais
liberais e trabalhadores independentes, das
quais se destacam:

A
• Aumentar o valor de rendimentos passíveis
da isenção do pagamento de IVA de 20.000
euros para 25.000 euros;
• Aumentar o valor de rendimentos passíveis de
isenção de contribuições para a Segurança
065
Social quando o trabalhador acumule o tra-
balho independente com o trabalho por conta
de outrem de quatro vezes o valor do Indexan-
te dos Apoios Sociais (2.037,04 euros) para
25.000 euros;
• Simplificar o valor da retenção de rendimentos
dos profissionais liberais e trabalhadores in-
dependentes em sede de IRS, propondo que o
montante da retenção seja apurado pela taxa
de imposto efetiva média aplicada aos profis-
sionais liberais e trabalhadores independen-
tes em Portugal no período anterior.

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5. A MBIENTE: CRESCIMENTO
SUSTENTÁVEL

A A visão da Iniciativa Liberal para o futuro do


país é a de uma sociedade livre, próspera e
5.1. Gerar energia em
abundância
066 sustentável, em que o progresso económico
e tecnológico é aliado do ambiente. Opomo- A energia é uma das grandes chaves do
nos a visões catastrofistas e regressivas que crescimento económico. Foi o acesso às
defendem o decrescimento económico, bem diversas formas de energia a preços cada vez
como a visões negacionistas da evidência de mais acessíveis que possibilitou as inovações
alterações climáticas. A Iniciativa Liberal rejeita tecnológicas dos últimos duzentos anos.
todas as visões de impotência, resignação e Uma economia viável no futuro continuará
conformismo, mantendo a sua confiança na a necessitar de energia barata, abundante
adaptabilidade e criatividade humanas. Aos e compatível com a preservação do nosso
portugueses não serve nem o alarmismo nem clima e do nosso ambiente. Agora, precisamos
o negacionismo: serve, sim, uma rota política de cumprir o trilema da energia: alcançar
reformista, sustentada numa economia livre segurança de abastecimento, acessibilidade no
e aberta, capaz de produzir as soluções e preço e sustentabilidade ambiental. 
transformações tecnológicas e infraestruturais
de que precisamos. Para que os benefícios da energia abundante
cheguem mais cedo a todos, é preciso um mercado
A Iniciativa Liberal é uma força de ambição de energia ágil, transparente e com preços
e esperança que veio para dar ímpeto aos que reflitam o valor real dos bens energéticos,
portugueses na construção de um futuro incorporando nestes o custo para a sociedade
à altura das suas aspirações. Queremos das emissões de gases com efeito de estufa
crescimento económico, cada vez mais verde, (GEE), e expandindo a oferta de eletricidade
para que haja mais recursos disponíveis para e moléculas verdes. Para isto, devemos evitar
as futuras gerações, bem como mais tecnologia intervenções extemporâneas nos preços ou
e cada vez mais barata, para acelerar a derivas populistas sobre os lucros das empresas,
transição energética rumo a um futuro não só que não só distorcem o sistema de preços, como
mais eficiente, mas mais abundante. retiram capacidade de investimento em maior
eficiência e na transição energética.
A Iniciativa Liberal está comprometida com os
objetivos estabelecidos no Acordo de Paris, e A produção e o consumo de energia elétrica
considera fundamental que Portugal alcance continuarão a crescer, em Portugal, tendo em
uma economia de carbono líquido zero até conta a transição energética e a necessária
2050. eletrificação da economia. Se Portugal
acompanhar a atual tendência global, espera-se

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que a produção e consumo de energia elétrica energia solar ou eólica, mas integrarão todas
no país duplique até 2050. A Iniciativa Liberal as soluções de energia não-fóssil que possam
defenderá uma rota de abundância energética aproveitar esta oportunidade de entrar no
em linha com a necessária sustentabilidade nosso mix energético através do mercado. A
ambiental. competitividade destas soluções emergentes
não beneficiará com a discriminação com base
na tecnologia de base por via dos volumes ou
Desbloquear o caminho para as energias dos preços a leilão.

A
limpas

As energias renováveis representam um dos Desburocratizar o investimento em energia


maiores potenciais de investimento e cresci-
mento económico portugueses. Devido à boa
renovável
067
exposição solar do território português e à im- Só com uma desburocratização profunda do
pressionante descida dos custos da produção investimento em energia renovável poderemos
de energia eólica e solar na Europa, podemos assegurar a sustentabilidade ambiental e
ser um dos países mais eficientes na produção económica do setor energético português.
de energia solar em particular, com uma pro- Tornou-se hoje evidente que o principal
dução energética por hectare muito superior à obstáculo ao desenvolvimento das energias
maioria dos países da Europa. A eólica onsho- renováveis em Portugal é administrativo, num
re já representou pelo seu lado, com a energia momento em que estas já são altamente
hídrica, um importante papel na descarboniza- competitivas face às energias fósseis.
ção da geração de eletricidade em Portugal. A
eólica offshore poderá representar uma opor- Se conseguirmos baixar ainda mais os custos
tunidade de atração de geração de mais ener- administrativos e os tempos de licenciamento
gia em Portugal, desde que implementada de associadosaestesinvestimentos,conseguiremos
forma faseada e em concorrência com outras assegurar faturas elétricas ainda mais baixas
tecnologias. Para que estas oportunidades se- para as pessoas e para as empresas. Não
jam aproveitadas, precisaremos de contar com basta acelerar administrativamente processos:
um sistema de preços da energia livre de inter- precisamos de descomplicar a substância dos
ferências administrativas, licenciamento expe- processos de licenciamento, começando pelos
dito e uma abordagem de neutralidade tecno- próprios processos de avaliação de impacte
lógica que permita que o mercado selecione as ambiental e clarificando a lei para que não haja
melhores opções. disputas entre instrumentos do ordenamento
do território, PDMs e respetivas interpretações.

Lançar leilões tecnologicamente neutros


Acelerar o licenciamento do Auto-Consumo
Seguindo as recomendações da OCDE, deve- (UPAC) e das Comunidades de Energia
mos lançar leilões tecnologicamente neutros, Renovável (CER)
defendendo o princípio da neutralidade tecno-
lógica, abstendo-se de fazer escolhas sobre a Ao desbloquear estes investimentos,
produção energética a ser gerada no território. acompanhando-os com uma rede energética
ágil e em franca expansão, será possível
Assim, os leilões não estarão só fechados à aprofundar o papel do autoconsumo na

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geração nacional de eletricidade (UPAC) e das onerar os contribuintes. A existirem apoios
Comunidades de Energia Renovável (CER), públicos, estes devem ser exclusivamente
baixando o custo da energia para todos e direcionados a áreas onde – por uma análise
aumentando a eficiência geral do sistema custo benefício – Portugal pode beneficiar de
energético. Mas para isso, precisaremos de vantagens competitivas a longo-prazo. Para
critérios geográficos flexíveis para que as CER isso a Iniciativa Liberal vai defender:
ultrapassem os poucos bairros ou condomínios
onde são possíveis, e de ultrapassar a •
Igualdade de circunstâncias, ao nível

A
imensa inércia administrativa que tem regulatório e do financiamento, para todos
afetado negativamente o lançamento destas os processos climaticamente neutros de
comunidades. Para que isto aconteça, a DGEG produção de hidrogénio;
068 terá de acelerar significativamente o processo
dos respetivos licenciamentos, dando-lhe os
•
Limitar os apoios públicos a situações de
desenvolvimento de projetos pilotos ou
recursos necessários para que o consiga fazer. investigação na área do hidrogénio;
•
Viabilizar a produção descentralizada de
hidrogénio, não impondo a sua introdução na
Dinamizar o mercado dos gases renováveis rede de gás.

Dado o elevado potencial de energias renováveis


presente em Portugal, o hidrogénio verde poderá Defender o nuclear na Europa, estudar a
ter um papel importante na descarbonização viabilidade em Portugal
de alguns consumos ainda dependentes do
gás natural. Portugal, através de investimentos A geração elétrica à base de energia nuclear
privados, podendo ser competitivo na produção representa hoje a maior contribuição de energia
de hidrogénio (H2), pode aproveitar esta livre de emissões de todas as fontes energéticas
oportunidade. Tanto a União Europeia, por via no contexto europeu. A Iniciativa Liberal vê com
do REPowerEU, como Portugal, já apostaram bons olhos o renascimento das intenções de
no desenvolvimento de hidrogénio verde. Mas investimento em energia nuclear anunciadas
não se deve fechar a possibilidade de viabilizar na maior parte dos seus parceiros da União
outras fontes de produção de hidrogénio e Europeia, incluindo a emergência das novas
outros gases renováveis, se isso se traduzir modalidades de produção de energia nuclear
numa aceleração comercialmente mais viável em unidades mais pequenas (SMR), ainda em
da produção do mesmo. Existindo indústrias desenvolvimento.
dispostas a financiar a produção do hidrogénio
de que precisam, não faz sentido subsidiar A energia nuclear não só tem sido um dos
a introdução de hidrogénio em toda a rede garantes da estabilidade do abastecimento
de abastecimento de gás, que teria de ser elétrico em todo o continente europeu, como
readaptada para receber a mistura (blending) tem assegurado a produção de eletricidade
de H2 e gás natural, sobrecarregando os de emissões nulas nas últimas décadas. Se a
consumidores. Europa tivesse continuado a apostar mais ainda
nessa trajetória, teríamos hoje um percurso
A Iniciativa Liberal pretende acelerar mais fácil pela frente. Por isso, a Iniciativa Liberal
os procedimentos de planeamento e será sempre a favor de uma discussão pública
licenciamento da produção de hidrogénio, e informada sobre a viabilidade económica
limitando os apoios públicos a situações de da energia nuclear em Portugal, rejeitando
desenvolvimento de projetos pilotos, evitando preconceitos infundados sobre os seus riscos

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e impactos ambientais. A Iniciativa Liberal mercados do arrendamento e de construção
defenderá por isso que se façam e discutam os portugueses, essenciais à promoção do
estudos necessários em termos de viabilidade investimento no edificado. Mas a renovação
económica da energia nuclear. do património imobiliário envelhecido do país
exigirá investimento público no apoio a obras
de eficiência energética e na contratualização
Combater a pobreza energética, apostando na de serviços de consultoria energética. Com
eficiência energética um mercado imobiliário mais forte, seremos

A
mais capazes de pagar a renovação do parque
A progressiva eletrificação da economia, habitacional português. A Iniciativa Liberal
acompanhada de uma visão de abundância defende:
energética para o país, poderá fazer muito
para reduzir os custos do aquecimento • Incentivos à inclusão de famílias de baixos
069
e arrefecimento dos portugueses. Numa rendimentos em CER que assegurem o acesso
economia movida por eletricidade cada vez a preços mais baixos;
mais limpa, confortos essenciais como o ar • A continuação e melhoria dos atuais programas
condicionado serão cada vez mais sustentáveis. de melhoria da eficiência energética da
Por isso, a própria transição energética deve habitação;
ser uma das vias pelas quais devemos eliminar • Agilizar os critérios de acesso a estes
a pobreza energética nas próximas décadas. programas, para que sejam extensíveis a
pessoas que não sejam proprietárias da sua
A descarbonização representa, por isso, mais habitação permanente;
uma oportunidade de combate à pobreza • Reduzir o IVA do gás e da eletricidade para
energética em Portugal. Um quarto dos 6%.
portugueses tem dificuldades em aquecer as
suas casas no inverno e em arrefecê-las no
verão. A eletricidade permanece cara e pesa Defender uma integração plena do mercado
nos orçamentos familiares, sendo que quase energético europeu
um milhão de portugueses são beneficiários de
tarifas sociais de gás e eletricidade. As interligações energéticas de Portugal
com a Europa são um garante de soberania
No entanto, a intervenção direta nos preços da energética que nos permitirá potenciar a
energia não é uma boa solução para a pobreza competitividade dos preços da energia em
energética: os apoios devem consistir em ajudas Portugal. Por isso, consideramos prioritária
diretas a quem sofre de pobreza energética. a construção de novas interligações elétricas
A atual lógica marginalista dos preços da entre França e a Península Ibérica, integrando
eletricidade não só é um motor da transição Portugal nos mercados europeus de energia.
energética, como se traduzirá em preços mais O melhor que a Europa pode fazer pela
baixos para todos. transição energética passa pela integração
global de todo o mercado, conforme previsto
Este paradigma pode ser ultrapassado se no próprio RePowerEU, criando um sistema
gerarmos mais energia limpa e melhorarmos a europeu de provisionamento global eficiente
eficiência do nosso edificado. Portugal beneficiará nos custos, plenamente interligado e seguro no
de nova construção de acordo com critérios de abastecimento.
eficiência energética mais atualizados. É por isso
que também é fundamental a flexibilização dos É por isso que rejeitamos a implementação de

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soluções que distorcem o sistema internacional 5.2. Proteger o nosso património
de preços e inflacionam artificialmente a natural, gerar mais valor
procura, como é o caso do mecanismo ibérico
instituído pelos governos de Portugal e A paisagem portuguesa tem sofrido mudanças
Espanha. Um mercado energético europeu profundas nas últimas décadas. Com o
suficientemente flexível e integrado será crescimento exponencial da produtividade
capaz de responder rapidamente nos preços e agrícola e o crescimento das cidades em
ajustar-se aos contextos de choque geopolítico.

A
densidade, produto da industrialização,
Se interferimos nessa capacidade, limitar- permitiu-se à natureza reclamar espaço
nos-emos a prolongar os períodos de crise, que outrora estava dedicado às atividades
arriscando choques no abastecimento. Por humanas: é por isso que desde o início do
070 isso, a Iniciativa Liberal é favorável a uma
Tarifa de Acesso à Rede que seja atualizada
século XX que a floresta em Portugal cresceu, e
pode crescer mais. O crescimento na tendência
horariamente e não semestralmente, levando a de designação de cada vez mais territórios
situações de distorção dos preços, quando não como áreas protegidas no espaço europeu é
de geração de mais dívida tarifária. também um reflexo disso mesmo, e Portugal
pode também apostar mais na conservação
e proteção da natureza. Com as alterações
Pôr o Estado a dar o exemplo na eficiência climáticas em curso, o crescimento das áreas
energética urbanas e a consequente desertificação
das zonas rurais, a proteção do património
Precisamos de introduzir critérios verdes na natural ganha outra importância nas nossas
compra de bens e serviços por parte do Estado sociedades.
ao nível da construção, da alimentação, do
equipamento informático e dos transportes. No entanto, esta é uma das áreas onde o
Neste momento falta é a vontade política de Estado português mais falha: ainda que 25%
o fazer. O Estado tem de certificar-se de que do território nacional marítimo e terrestre já
as suas construções são energéticamente tenha sido designado como área protegida,
eficientes, e precisa de renovar o edificado pouco se sabe sobre o que se passa nestas
público no sentido da eficiência energética. áreas, sobre as ações que lá são feitas e sobre
Deve-se também acelerar a conversão da os objetivos a prosseguir nas mesmas. Tanto
iluminação pública para tecnologias de LED, que o recente relatório do Tribunal de Contas de
podem conduzir a poupanças de mais de 70% 2022 sobre a gestão de áreas protegidas
da energia atualmente usada na iluminação como a ação intentada pela Comissão Europeia
pública. E para além do edificado, é necessária contra Portugal em 2018, ainda em curso,
uma gradual conversão da frota automóvel do sobre o incumprimento da diretiva ‘’Habitats’’,
Estado para veículos de zero emissões, onde sinalizam o fracasso português na sua política
podemos introduzir um forte incentivo público à de conservação e restauro natural. Sem uma
eficiência carbónica nas áreas mais críticas da definição da propriedade, da responsabilidade
economia portuguesa. dos proprietários, sem planos de gestão ativa,
monitorização dos mesmos e sem financiamento
adequado, não seremos capazes de manter e
restaurar as nossas paisagens.

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Pôr o sistema de áreas protegidas a trabalhar • Conferir às comissões de cogestão liberdade
com a sociedade, numa abordagem contratual na contratualização de serviços de gestão e
restauro das Áreas Protegidas;
A Iniciativa Liberal pretende uma revisão • Adotar uma política de gestão ativa das áreas
profunda do modelo de gestão das nossas áreas protegidas, guiada por objetivos a serem
protegidas. Atualmente, as áreas protegidas em definidos de forma descentralizada;
Portugal representam pouco mais do que um • Reenquadrar o Estado como regulador e
perímetro teórico de alto valor natural. Mas para fiscalizador, e não executante das políticas de

A
que o valor destas áreas se conserve realmente gestão das Áreas Protegidas;
ao longo do tempo, é preciso passar para uma • Deslocalizar o ICNF, aproximando-o da
estratégia de gestão ativa, dirigida para as ações realidade que tutela.
concretas de preservação e recuperação do
nosso meio natural. Essa reforma passa por criar
071
as condições para trabalhar com as empresas e Valorizar os serviços de ecossistema
a sociedade civil no cumprimento de objetivos,
melhorando os meios de monitorização, A paisagem e o património natural de que
fiscalizando de perto e identificando áreas de desfrutamos representam um valor para todos
intervenção crítica. Num país onde a esmagadora que ainda não é contabilizado. Por isso, faz
maioria do território é detido por privados, não todo o sentido aplicar o princípio do utilizador-
chega criar regulamentos: é preciso adotar pagador nas áreas protegidas, conferindo
uma abordagem contratual entre o Estado e os aos comités de cogestão a possibilidade de
proprietários das áreas. cobrarem taxas pelos vários tipos de usufruto
possíveis nas áreas sob a sua tutela. Os
Mas isto só será possível num contexto de uma montantes cobrados devem financiar a gestão
gestão guiada por objetivos e indicadores e manutenção das Áreas Protegidas, com a
claros. Se separarmos as funções de gestão, liberdade de escolher como pretendem fazer a
fiscalização e execução da conservação, teremos promoção destas ações de conservação: seja
mais facilidade na articulação de um modelo de pela via dos recursos próprios das câmaras,
gestão em parceria. A partir daí, devemos partir seja pelas empresas ou pelas organizações
para uma gestão partilhada do território com não-governamentais.
as empresas e a sociedade civil, estabelecendo
objetivos, criando métricas comparáveis A Iniciativa Liberal pretende uma verdadeira
e avaliando a performance dos gestores descentralização do financiamento e gestão
responsáveis. das áreas protegidas, garantido-lhes recursos
próprios que não revertam para o Orçamento
Para isto, será necessário que os comités de do Estado, podendo desta forma criar as
cogestão ganhem mais autonomia na definição condições para um património cuidado em
de estratégias de conservação ativa, tornando- Portugal. Ao Estado caberia então a função
se reais promotores dos bens naturais que de estabelecer indicadores e acompanhar
tutelam. Ao invés do atual modelo centralizado, a execução dos planos de gestão das áreas,
focado no cumprimento de regulamentos garantindo transparência e comparabilidade
gerais, as áreas protegidas também podem entre os vários projetos de gestão ao longo do
gerar economia em torno delas, assegurando a território. Nas circunstâncias onde o justifiquem,
segurança da biodiversidade e a nossa fruição pode ser o próprio Estado a pagar diretamente
dos seus benefícios. A Iniciativa Liberal defende: aos proprietários pelos seus serviços de
ecossistema.

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• Descentralizar o financiamento da conservação por sua vez sem os recursos para manter estes
da natureza; animais.
• Diversificar as fontes de receita das áreas
protegidas, permitindo às entidades de Por isso, para além de uma melhor
gestão cobrar serviços de ecossistema pelo implementação dos programas de Capturar/
seu usufruto. Esterilizar/Devolver (CED), é necessário
repensar o financiamento dos CROs e das
próprias Associações Zoófilas para que:

A
Lançar uma estratégia ativa de restauro • Se assegure que o financiamento das
ecológico associações segue o número de animais a
cargo, financiando também a alimentação
072 Resolvendo o problema da gestão e
financiamento, podemos ser mais ambiciosos •
dos mesmos;
Permitir que os CROs possam deixar os
e ir além da conservação. Temos demasiados animais a cargo de pessoas, suportando
ecossistemas fluviais e costeiros em mau parcialmente ou totalmente os encargos com
estado de conservação, e temos oportunidades os mesmos, libertando espaço e poupando
de rewilding – de reintrodução de espécies no recursos;
meio natural – ainda por aproveitar. Um modelo • Base de dados atualizada regularmente com
descentralizado de gestão dos territórios a informação sobre cada CRO;
protegidos, com financiamento assente no • Instituição de programas de prevenção
princípio utilizador pagador, permitirá a do abandono, ajudando as famílias em
prossecução de estratégias mais ambiciosas de dificuldades e evitando que os animais
restauro de ecossistemas em colaboração com acabem na rua, aumentando os custos para
a sociedade civil. Assim, Portugal poderá estar o Estado.
mais preparado para cumprir com as exigências
do novo Regulamento da Restauração da
Natureza. 5.3. Aumentar a eficiência dos
nossos materiais
Desenvolver uma abordagem integrada para o O desenvolvimento de uma economia circular
bem-estar animal sustentável e economicamente viável é um
dos principais desafios que enfrentamos no
O desenho de uma política animal que funcione contexto das alterações climáticas: quanto
nas cidades ainda está por ser concluído. mais materiais precisamos para produzir um
Atualmente, não temos dados em tempo real determinado bem, mais emissões de CO2
sobre o número de animais recolhidos pelos acabam na atmosfera a partir de vários pontos
Centros de Recolha Oficiais (CRO), tendo de da cadeia de valor. E o setor dos resíduos é
esperar por estatísticas anuais para poder um dos setores onde as consequências da
tomar decisões. Ainda assim, sabemos que o má gestão mais depressa se têm revelado
número de animais recolhidos tem aumentado aos portugueses: desde o lixo acumulado nas
todos os anos, e para isso precisaremos de ruas, aterros no limite das suas capacidades
ajustes sérios na nossa política animal. Há cerca e ecossistemas prejudicados, quando não
de 15.000 animais por ano que ficam nos centros destruídos por negligência humana, às
de recolha oficial sem nunca serem adotados. empresas que são forçadas a entregar os
Os CRO, não tendo capacidade, entregam seus resíduos sem poderem extrair valor dos
muitos destes animais às Associações Zoófilas, mesmos.

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Por isso, uma melhoria das cadeias de gestão para o lixo eletrónico e para os biorresíduos,
de resíduos já se traduziria num aumento como temos falhado a olhos vistos as metas
significativo da nossa eficiência económica, do plástico, para o qual já temos um circuito
com benefícios para o ambiente, para a instalado há muitos anos. A nossa gestão de
qualidade de vida e para as oportunidades resíduos simplesmente não funciona: a nossa
das empresas. reciclagem de materiais está bem abaixo da
média europeia, e estamos numa trajetória que
A gestão de resíduos em Portugal não funciona. dificilmente cumprirá as metas estabelecidas

A
Os dados da OCDE mostram que Portugal no Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos
tem uma índice de uso de material circular (PERSU 2023).
na ordem dos 2.2% contra 12,8% ao nível
da UE, e temos uma baixa taxa de eficiência
dos materiais, o que significa que extraímos
Os municípios têm o monopólio sobre a
recolha de resíduos o que impede o necessário
073
consideravelmente menos valor económico por aprofundamento do papel do setor privado
unidade do que os nossos parceiros europeus. na gestão do circuito dos resíduos, como é o
A nossa fraca circularidade traduziu-se num caso de muitos dos nossos parceiros europeus,
crescimento da geração de resíduos urbanos a começar por Espanha, que concebeu um
acima do crescimento económico na última modelo de complementaridade com base em
década, apontando para uma incapacidade objetivos, criando condições de viabilidade dos
de reação do nosso sistema público de gestão circuitos que estão ainda em falta em Portugal.
de resíduos.
O serviço público de gestão dos resíduos
Para que tenhamos uma economia mais urbanos deve ser, por isso, aberto à inovação no
circular, precisamos de uma melhor capacidade seu modelo de gestão para poder dar um salto
de reaproveitar os materiais e ultrapassar qualitativo nas várias métricas em que temos
as frequentes barreiras burocráticas à falhado. Uma das oportunidades que temos é
eficiência económica e material das empresas, a possibilidade de introduzir sistemas privados
introduzindo mais flexibilidade no sistema de recolha porta-a-porta que não tenham de
e abrindo mais espaço para a inovação ser integrados no atual sistema nacional de
na economia circular: senão, estaremos gestão de resíduos, com o adequado reporte
condenados a continuar a depositar resíduos e monitorização por parte do Estado. Aqui,
em aterro quando já existem soluções logísticas poderemos alinhar incentivos, estimular ainda
e tecnológicas para o evitar, poluindo o nosso mais a separação do lixo na fonte, e estimular
meio ambiente. a economia circular, pois estes procurarão
maximizar a valorização dos resíduos.

Abrir a gestão de resíduos aos privados


num regime de complementaridade, bem Lançar uma estratégia séria de redução
como na operação de circuitos de recolha da deposição em aterro: apostar mais na
porta-a-porta valorização energética

Precisamos de um choque reformista na nossa A deposição em aterro em Portugal permanece


gestão de resíduos. A economia circular tem um dos maiores flagelos ambientais do país: em
ainda muito caminho para fazer em Portugal: 2022, 57% dos resíduos produzidos em Portugal
não só nos faltam circuitos de reciclagem foram parar a aterros sanitários. Para isso, a
adequados para os metais, para os têxteis, Iniciativa Liberal defenderá políticas públicas

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que estimulem indiretamente as alternativas Construir uma estrutura de monitorização
ao depósito em aterro. A valorização energética adequada do gestão de resíduos em Portugal
é a via mais imediata de redução do depósito
em aterro que temos à disposição, constituindo Como é infelizmente costume nos nossos
um impacto ambiental menor e protegendo as serviços e administração pública, falta construir
populações. uma estrutura de monitorização adequada do
setor, assente em dados abertos e sindicáveis
Por isso, inverteremos o caminho de por todos: nem o Tribunal de Contas sabe

A
crescente punição da valorização energética exatamente o que se passa no interior do
e da incineração por via da taxa de gestão sistema de gestão de resíduos português. Hoje,
de resíduos, que esbate as diferenças entre é possível construir processos de monitorização
074 a deposição em aterro e a valorização dos
resíduos. Podemos apostar mais soluções
assentes em dados permanentes e acessíveis
a todos que permitem a tomada de decisões
como o biometano na valorização dos resíduos, informadas no sistema de resíduos: mas em
enquanto caminho de redução da deposição Portugal, não temos ainda relatórios semestrais.
em aterro: para isso, o Estado terá mais uma Por mais que o Governo declare pretender ir para
vez de sair da frente. além da UE nas suas metas de circularidade, o
país continuará estruturalmente incapaz de ir
mais longe enquanto a supervisão e a gestão
Desbloquear a economia circular na indústria do sistema não forem revistos. Se as empresas
cumprirem as suas obrigações de reporte do
Hoje, qualquer empresa que transforme essencial, o Estado recolher estes dados e os
os seus resíduos é obrigada a registar-se disponibilizar ao público, encontraremos muito
enquanto operador de gestão de resíduos. mais oportunidades de melhoria de todo o
Esta obrigação sai cara pelo alto preço das sistema.
licenças na Agência Portuguesa do Ambiente
e consequentes renovações, e consiste numa
enorme ineficiência introduzida na economia Implementar um sistema de depósito e
que reduz a circularidade. É necessária uma reembolso em Portugal
desburocratização do reaproveitamento
dos resíduos industriais, para os quais as Os sistemas de depósito e reembolso (SDR)
próprias empresas têm a capacidade de permitem que os cidadãos devolvam as
processar, reduzindo o número de passos embalagens de uso único, sendo reembolsados
necessários até que se aproveite os resíduos. após o depósito num ponto de coleta próprio
Hoje, a verdadeira economia circular, com para o efeito, instituindo o princípio do
a qual as empresas têm muito a ganhar, é poluidor-pagador e alinhando eficazmente
altamente condicionada pelo Estado. Para os incentivos à reciclagem dos resíduos
melhor aproveitar os resíduos industriais urbanos. Esta é uma das oportunidades
nas próprias fábricas onde podem ser mais importantes para Portugal avançar
valorizados, até à valorização energética rapidamente na qualidade da sua gestão de
dos resíduos orgânicos, será necessária uma resíduos, quando o próprio setor privado já
alteração aos regimes jurídicos que regem mostrou vontade de avançar com o sistema.
os resíduos. Os resultados no plano internacional já estão

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bem testados e reconhecidos. A Alemanha, por Mas a fiscalidade verde, que pode estimular
exemplo, reporta uma taxa de devolução de 98% as pessoas e as empresas a escolher e investir
de latas e garrafas de plástico através do sistema em opções menos poluidoras, não pode adotar
de depósito para o ano de 2021, de acordo uma lógica meramente extrativa que esmague
com os dados do Global Deposit Book 2022, a capacidade de consumo e investimento
publicado pela Reloop. A Dinamarca e a Lituânia, da economia. Por isso, é necessária uma
entretanto, reportam números semelhantes, abordagem que equilibre os necessários sinais
com taxas de retorno superiores a 90%. no mercado com a capacidade dos portugueses

A
suportarem estes custos, e cumprir o princípio
Mas para que este sistema funcione, é da neutralidade fiscal, compensando os
fundamental que a cadeia possa ser gerida por portugueses na baixa de outros impostos
privados, com total liberdade de contratualizar
os serviços ao seu funcionamento. O SDR que
fora do âmbito da fiscalidade verde. E as
receitas destes impostos devem redundar na
075
o Partido Socialista pretende implementar real mitigação das externalidades que estes
não funcionará se permanecer dependente abordam: daí que seja também fundamental
do monopólio autárquico na recolha dos reavaliar o papel e poder do Fundo Ambiental,
resíduos. Os municípios e as comunidades bem como fazer uma análise extensiva da real
intermunicipais devem poder concorrer, mas utilidade e proporcionalidade de muitas taxas
não monopolizar, a recolha das embalagens ambientais que existem.
SDR.

Cumprir mesmo o princípio da neutralidade


5.4. Dinamizar o mercado a favor fiscal
do ambiente
Em 2022, os impostos verdes em Portugal
As alterações climáticas constituem um dos representaram 5,3% da receita fiscal em
maiores problemas de coordenação económica, Portugal. O princípio pelo qual certos impostos
política e social que conhecemos: trata-se de um devem forçar a internalização dos custos
fenómeno que, afetando o globo inteiro, não é de externalidade negativas – tais como a
mitigável pela ação isolada de qualquer Estado, emissão de CO2 para a atmosfera – não é
empresa ou pessoa. Por isso, a Iniciativa Liberal alheio a uma concepção liberal da economia.
considera fundamental que o mercado seja A não internalização destes custos pode levar
capaz de internalizar os custos associados às às chamadas tragédias dos comuns, tais
atividades mais poluidoras. Para isso, o sistema como o aquecimento global que exigem, por
de preços que vigora hoje nas economias definição, ações concertadas que muitas vezes
abertas permanece a melhor ferramenta que os Estados têm poder para desincentivar.
conhecemos de sinalização, no mercado, de quais Daí que o princípio do poluidor-pagador seja
os melhores cursos a seguir. É neste contexto fundamental na definição destes impostos.
que surge a chamada fiscalidade verde, que Mas este princípio tem sido constituído como
pretende incorporar nos preços finais dos bens uma carta branca para a cobrança ilimitada ou
o custo que a sua produção e uso representa desregrada destes impostos, transformando-
para a sociedade: assim se justifica a existência os em meros sorvedouros de recursos para os
de impostos como o Imposto sobre Produtos orçamentos do Estado. Para isso, a atualização
Petrolíferos, sustentado na taxa de carbono. da fiscalidade verde deve ser acompanhada
por uma redução correspondente na carga
fiscal das famílias e das empresas.

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Simplificar e consolidar a fiscalidade verde remoção ou mitigação de emissões de CO2
beneficiam do investimento de outras mais
A taxação sobre estas externalidades negativas poluidoras. Aqui, os promotores de projetos de
sobre o ambiente deve ser simplificada e remoção de carbono emitem um crédito que
distribuir-se entre poucas rubricas orçamentais, poderá ser contraído por empresas que emitam
reduzindo a complexidade do sistema fiscal e acima dos seus objetivos de descarbonização.
introduzindo mais facilidade e legibilidade para
os atores da economia. Por isso, iremos promover À semelhança do sistema europeu, o mercado

A
uma consolidação das taxas ambientais. voluntário consiste numa ótima solução para a
transferência de recursos para descarbonização
É também fundamental, do ponto de vista da economia, abrindo oportunidades no
076 do apoio ao investimento, que o preço do
carbono seja adequadamente planeado e
desenvolvimento de políticas territoriais coesas e
reconhecendo o papel das soluções sustentadas
cumprido ao longo do tempo, permitindo na natureza para a redução e mitigação das
que os investidores possam planear para o emissões. Este mercado internacional pode
futuro sem surpresas por parte do Governo. A aprofundar-se também em Portugal, se o
expansão da taxação de carbono ao longo de Governo criar um registo público e transparente
mais setores económicos exigirá uma redução destas transações, evitando a fraude, a dupla
e eliminação de outras taxas cujos propósitos contagem e conferindo confiança ao mesmo,
se sobreponham à taxa de carbono. Mas este conforme a Iniciativa Liberal já apresentou na
esforço só valerá a pena se, por outro lado, Assembleia da República. Já no ano de 2024,
removermos todos os subsídios e benefícios saiu o decreto-lei que regula o novo Mercado
fiscais que comprovadamente criem incentivos de Carbono Voluntário: a Iniciativa Liberal irá
perversos em relação ao ambiente. empenhar-se na sua rápida implementação,
evitando uma sobrecarga burocrática que o
inviabilize à partida.
Agilizar o mercado de carbono voluntário

Podemos fazer mais pela atração de Reformar o Fundo Ambiental


investimento privado na remoção e absorção de
carbono da atmosfera. Atualmente, existe já o O Fundo Ambiental, cujo orçamento é de
Comércio Europeu de emissões, sustentado no mais de 1400 milhões de euros em 2024,
sistema cap and trade, aplicável a vários setores sendo praticamente metade proveniente das
como a indústria pesada, a geração de energia receitas da maior parte das taxas ambientais,
e o transporte marítimo. No entanto, estima-se está demasiado dependente do Ministro do
que o mercado obrigatório de emissões cobre Ambiente. Esta circunstância deriva de uma
apenas 40% do total de emissões de CO2 na fraca definição do âmbito e dos objetivos do
União Europeia. Sem prejuízo da necessidade Fundo, cuja lei prevê 21 áreas de atividade. O
de alargar gradualmente a cobertura deste Fundo Ambiental, pela sua concentração de
sistema, o próprio mercado começou a capital e função fundamental de mitigação
responder a consumidores cada vez mais das externalidades ambientais, precisa de uma
exigentes e conscientes do impacto ambiental estratégia clara, com uma componente forte
das suas escolhas; por isso, emergiu um mercado de apoio à investigação e desenvolvimento de
de créditos de carbono inteiramente voluntário, novos projetos na área da descarbonização em
onde empresas e entidades dedicadas à Portugal.

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Os impostos ambientais devem servir para
fomentar o apoio público à inovação verde em
Portugal. É a própria OCDE que verifica os baixos
níveis de orçamento de I&D para ambiente
e energia no contexto português, quando já
se cobram quase 7 mil milhões de euros em
impostos ambientais, hoje distribuídos entre
o próprio orçamento do estado e um número

A
incontável de programas e avisos, espalhados
ao longo dos 21 objetivos listado na legislação
que o rege, o que o torna praticamente
redundante face ao próprio Ministério do
Ambiente. Não é possível adotar uma estratégia
077
séria de mitigação das alterações climáticas
neste contexto. O Fundo Ambiental precisa de
focar a sua atividade e fundos sobretudo na
investigação e desenvolvimento de soluções
de mitigação das alterações climáticas, e por
isso a Iniciativa Liberal promoverá uma reforma
no sentido de lhe conferir uma estrutura mais
autónoma e mais concentrada nas tarefas
essenciais à transição energética, como
contrapartida dos impostos verdes dos quais
beneficia.

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6. CRESCER NO PAÍS INTEIRO

A O interior do país precisa daquilo que precisam


todos os portugueses: de uma economia a
por semana. Com uma rede de transportes
ao seu serviço e condições competitivas nos

078 crescer e um país a funcionar. A Iniciativa


Liberal criará as condições para que em todo o
municípios do interior, escolher viver fora do
litoral será uma escolha cada vez mais natural.
território português e em todas as atividades
do setor primário existam oportunidades reais Será também necessário apostar na redução
de se construir vidas, projetos e empresas. dos custos de viver no interior. As pessoas e
Para isso, rejeitamos todas as agendas que as empresas precisarão de água abundante
procuram ora diabolizar, ora instrumentalizar o e a preços acessíveis, de energia barata e de
modo de vida de quem escolhe viver e trabalhar acesso a internet de alta velocidade. Por isso,
no território rural. A Iniciativa Liberal respeita e a aposta em infraestruturas de distribuição
apoia todos os projetos de vida que respeitem de água, energia e rede constituem atributos
os direitos de todos, independentemente de decisivos ao desenvolvimento do interior, seja
quem os protagoniza e de onde os desenvolve. pela via da atração de pessoas como pela
instalação de empresas.
Para isso precisaremos de nos assegurar que
vivemos num país ligado. Viver no interior não A agricultura pode ser um espelho de um
tem de ser uma inconveniência ou muito menos país mais moderno. A agricultura sempre
uma escolha radical. Deve ser uma opção viável foi um enorme polo de inovação científica e
para todos, pois um país verdadeiramente prosperidade económica. As várias inovações
próspero é próspero por inteiro. Nenhuma que esta introduziu nas nossas economias
economia de pequena a média dimensão como são grandes exemplos do engenho humano
a nossa terá sucesso se insistir em um ou dois necessário para enfrentar as limitações físicas e
centros metropolitanos. O Plano Ferroviário biológicas que a natureza nos impôs. A Iniciativa
da Iniciativa Liberal, bem como a sua aposta Liberal apostará na agricultura como polo de
nas redes de transportes públicos, focada em revitalização do interior, gerando oportunidades
respostas adequadas às realidades das nossas atrativas para os jovens.
cidades médias, tornará muito mais viável
viver e investir no interior de Portugal. Se a E do outro lado da nossa faixa litoral,
uma forte política de transportes associarmos encontramos a maior Zona Económica Exclusiva
mais liberdade competitiva para as autarquias, da Europa. As oportunidades económicas e
conforme a nossa proposta de retirada do limite ambientais estão ainda no processo de serem
mínimo de IMI, o cenário de concentração da descobertas, mas já hoje a economia do mar
população no litoral poderá começar a mudar. representa um pólo de atração de capital. Se
Com o emergir do trabalho à distância, teremos desbloquearmos o licenciamento e investimento
muitos portugueses a precisar de se deslocar às do mar, Portugal poderá transformar o seu mar
grandes cidades apenas três ou menos vezes numa vantagem competitiva, com produtos

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e empresas de alto valor acrescentado e ainda não foi completa face às inovações das
projeção na economia internacional. Neste últimas décadas. E finalmente, os elevados
aspeto, as Regiões Autónomas dos Açores e da custos de contexto associados aos custos da
Madeira ganham especial relevância enquanto energia e da água em Portugal.
beneficiárias do investimento no mar, o que
lhes poderá dar uma importante oportunidade Para resolver todos estes problemas, Portugal
de subir na cadeia de valor e atrair emprego pode servir-se dos fundos europeus para
qualificado para as regiões. Na economia que potenciar o Valor Acrescentado Bruto (VAB)

A
põe Portugal a crescer em todas as dimensões, da agricultura portuguesa, que deve ser
viver nas Regiões Autónomas valerá ainda mais um dos indicadores chaves na condução da
a pena. política agrícola. As duas últimas décadas
demonstraram que foi possível inverter a
tendência de queda do VAB agrícola. A
079
6.1. Relançar a agricultura e Iniciativa Liberal pretende assegurar uma
garantir água para o país todo trajetória de crescimento sustentado do valor
acrescentado do setor agrícola, assegurando a
O setor agroalimentar continua a demonstrar competitividade e a autonomia dos agricultores
um grande potencial competitivo na economia portugueses.
Portuguesa, com todos os desafios climáticos
e competitivos que enfrenta. Este representa
também áreas de atividade que estão no Lançar Portugal para a linha da frente:
centro de profundas transformações. O acelerar a viabilização da edição genómica
mundo enfrenta hoje o desafio de alimentar
e nutrir oito mil milhões de pessoas, número O setor agroalimentar tem sido uma das mais
esse que continuará a crescer nas próximas profundas fontes de inovação tecnológica no
décadas; a adaptação e mitigação das último século: graças ao progresso tecnológico,
alterações climáticas, a par com a emergência falharam todas as visões pessimistas que
de maiores preocupações com o ambiente e a acreditavam numa incompatibilidade entre o
biodiversidade trazem uma nova centralidade a crescimento populacional e a disponibilidade
estes setores no debate político; as alterações alimentar. Graças à Revolução Verde, a
climáticas, por sua vez, já estão a introduzir produtividade agrícola disparou nas últimas
alterações no território português, exigindo mais décadas. Hoje, podemos dizer o mesmo
conhecimento e capacidade de adaptação, relativamente aos desafios ambientais da
investimento e planeamento adequados por agricultura. Só adotando uma postura de
parte do setor. abertura à inovação conseguiremos vencer
os nossos desafios e sedimentar a agricultura
A agricultura portuguesa sofre de quatro fatores como um setor moderno, atrativo para os jovens
fundamentais que prejudicam o seu pleno e como fonte de investimento estrangeiro.
desenvolvimento. Em primeiro lugar, trata-se
de um setor altamente envelhecido, fruto da Para isso, é uma prioridade para a Iniciativa
fraca capacidade deste criar oportunidades Liberal acelerar o processo de regulação da
para os mais jovens prosperarem. Em segundo edição genómica na União Europeia, quando
lugar, o baixo valor acrescentado ainda de boa parte do globo se prepara para o fazer. Se
muitas atividades, muito em particular na a União Europeia optou por deixar para trás
pequena propriedade agrícola. Em terceiro, a os organismos geneticamente modificados
baixa modernização tecnológica do setor, que (OGM) há 20 anos, agora não pode rejeitar os

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benefícios da edição genómica, que não só é garantindo água em abundância que chegue
mais segura, como abre portas para alimentos a agricultores, cidadãos e empresários,
mais nutritivos, mais eficientes no uso da água, começando pela eficiência no seu uso,
mais resistentes a pragas e com produções reduzindo as perdas de água na distribuição
menos intensivas em emissões de CO2. Este é – incluindo ao nível municipal – reutilizando
o debate mais importante no futuro da nossa águas residuais e viabilizando, para casos de
agricultura: a Iniciativa Liberal dará prioridade emergência, soluções de dessalinização com
a esta agenda. privados, seja ela de água salobra ou salgada,

A
onde quer que façam sentido. Com oferta
suficiente, poderemos garantir água barata
Assegurar o abastecimento de água para o em todo o país.
080 próximo meio século
Estas medidas não são novas e foram já
A escassez hídrica em Portugal não é só um testadas em vários países pressionados por
fenómeno estudado: é um fenómeno sentido graves problemas de escassez hídrica: desde o
todos os anos pelos agricultores, e cada vez caso mais extremo de Israel, que hoje exporta
mais pelas populações afetadas por ele no a sua água, a Espanha ou Itália, a garantia de
abastecimento doméstico. Estima-se que que a água circula ao nível nacional e que o seu
os caudais portugueses possam vir a perder preço reflete a sua escassez constituem passos
mais 25% da água do que aquela que já decisivos em acabar com este flagelo.
perderam até agora. Com cada vez mais rios
a secar e um crescente espartilho em toda a
atividade económica do interior, as respostas Encarar o regadio como eixo central da
têm de começar hoje. Para responder a este competitividade agrícola
problema, a Iniciativa Liberal pretende adotar
uma estratégia de longo prazo que assegure As culturas de regadio chegam a ser seis
um verdadeiro mercado nacional da água que vezes mais produtivas por hectare do que as
se baseie em três vértices de ação, gradual e culturas de sequeiro. Ainda que esta continue
pensada de acordo com as projeções climáticas a fazer sentido em muitas regiões do país,
de que dispomos: nomeadamente no centro e no norte, é na
região sul que verificamos que o regadio pode
• A viabilização da circulação da água por todos ser mais competitivo. Por isso, a Iniciativa Liberal
o país, por via de um sistema de transvases continuará a defender um Plano Nacional de
nacional, criando as chamadas “autoestradas Regadio ambicioso, o que necessitará de um
da água”, permitindo a que as regiões como o Ministério da Agricultura realmente capaz de
Alentejo ou o Algarve possam adquirir água executar e consolidar os vários programas de
às regiões menos pressionadas pelas secas; financiamento europeu a que tem acesso.
• Criar condições para que haja um real sistema
de preços da água que reflita a disponibilidade Os agricultores não podem suportar mais
de água nas diferentes regiões do país, as esperas infindáveis pela construção das
traduzindo as consequências do seu uso em infraestruturas de que precisam, como não
terceiros, seja por via de uma taxa de recursos é aceitável que se continue a apostar em
hídricos mais dinâmica e uma reforma da sistemas de rega gravítica em territórios mais
governança do setor que não discrimine entre acidentados. Além disso, há demasiadas
usos, fins ou destinatários; albufeiras cuja manutenção e limpeza não está
• A agilizar as soluções do lado da oferta em dia, prejudicando gravemente a eficiência

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do uso de água em Portugal: podemos obter dependente de apoios nacionais ou europeus.
muito mais ganhos de eficiência no uso da Por isso, a Iniciativa Liberal adotará uma
água se assim o fizermos. Podemos assegurar postura de defesa da competitividade nacional
a constituição de perímetro de rega maiores, nos fóruns europeus. Esta aposta é a escolha
utilizando a mesma água, desde que se baixem responsável que cria as condições para que
os limites de rega por hectare e se aposte na aqueles que cuidam do território o possam
viabilização da transação de títulos de uso de continuar a fazer, acautelando a proteção
água em perímetros públicos de rega. do nosso ambiente e biodiversidade. São as

A
culturas mais competitivas que conseguem
apostar na subsidiação cruzada, financiando
Aproveitar a Política Agrícola Comum para a aposta em culturas mais diversificadas.
dependermos menos da Política Agrícola
Comum (PAC)
Acabando com as primeiras, inviabiliza-se as
segundas.
081
A Iniciativa Liberal considera que o Hoje, Portugal tem muito mais liberdade de ação
financiamento que Portugal retira da PAC será no contexto da PAC por via da inauguração dos
melhor aproveitado quanto mais este se focar Planos Estratégicos da PAC (PEPAC), propostos
na libertação dos agricultores da necessidade pelo Governo a Bruxelas, que dão liberdade
de receberem apoios; e a PAC poderá ser útil aos países de decidir como implementar a
enquanto compensar boas práticas ambientais, PAC. Hoje é claro que o Partido Socialista não
sem por isso obstaculizar a abertura comercial só planeou mal, como não consegue o seu
da União Europeia ou a competitividade da próprio Plano Estratégico, quando 90% dos
agricultura face ao resto do mundo. pagamentos relativos a 2023 só serão feitos
em 2024. Precisamos de uma profunda revisão
Por isso, consideramos que o financiamento do PEPAC que se concentre na competitividade
europeu deve-se concentrar em três vertentes da agricultura e no apoio ao investimento, por
fundamentais: ganhos de escala, incentivando via do 2º Pilar.
a organização da pequena agricultura de baixo
valor acrescentado, condicionado o acesso
destas explorações à sua adesão a uma Ganhar ainda mais escala na produção
Organização de Produtores ou Cooperativa nacional, apostar nas Organizações de
agrícola; investimento infraestrutural que Produtores
reduza os custos de contexto de todos os
agricultores, como é o caso de infraestruturas Os investimentos agrícolas, quando não se
de água e regadio; apoio à I&D agrícola, bem diferenciam pelo valor acrescentado, precisam
como à adoção de novas soluções tecnológicas muitas vezes de se apoiar em ganhos de
que estimulem a eficiência e a sustentabilidade escala, pois é assim que conseguem mitigar
das produções. os seus custos de produção, compensando o
investimento na modernização tecnológica. Em
Mas o Governo tem de fazer a sua parte: Portugal muitos casos, são as maiores explorações as
deve assumir sempre uma interpretação restrita que detêm maior capacidade de se modernizar
da legislação europeia sobre a agricultura, e fazer um uso muito mais eficiente dos recursos
transpondo apenas o estritamente necessário de que necessitam.
e acordado no plano europeu, para que o setor
agroalimentar português não seja injustamente Para isso, pretendemos voltar a incentivar
punido face aos seus competidores, nem fique a agregação das pequenas explorações,

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especialmente as que tiverem mais dificuldades que as famílias portuguesas desperdiçaram
em acrescentar valor, em Organizações de uma média de 124 kg de comida per capita,
Produtores, estimulando o seu poder negocial, contra 70 kg na média da União Europeia:
reforçando as suas marcas e conferindo-lhes em Portugal, trata-se de 67% do desperdício.
mais eficiência económica. Uma organização O desperdício alimentar não implica só um
mais racional e voluntária da pequena custo ambiental: trata-se também de uma
produção poderá ser capaz de emular os ineficiência económica que pesa nos bolsos dos
benefícios da produção de maior escala. Por portugueses, A disparidade de Portugal face

A
isso, será essencial simplificar a constituição ao resto da Europa também dá a entender
de Organizações de Produtores Reconhecidas, que se trata de um problema com raízes mais
para evitar que haja mais entraves à estruturais que vale a pena aprofundar.
082 competitividade agrícola.
Por isso, a Iniciativa Liberal compromete-se com
estudar os principais motivos que têm levado
Simplificar a vida aos agricultores ao alto desperdício alimentar em Portugal, para
que possa desenhar boas medidas, mesmo
Se chegam fundos da União Europeia, que apenas de sensibilização que o previnam
verificamos que nem os agricultores lhes e ajudem os portugueses a economizar
conseguem aceder, nem o Estado é capaz melhor o seu consumo, poupando o ambiente.
de os mobilizar, pagando a tempo e horas. Serão necessárias campanhas no sentido da
Num momento em que a competição no sensibilização para o desperdício alimentar,
mercado interno é feroz, Portugal não pode com recomendações sobre a conservação dos
abdicar de fazer a sua parte. Por isso, todos alimentos, literacia relativamente a prazos de
os processos de candidatura a financiamento validade e preferência.
devem ser simplificados, bem como todos os
licenciamentos, seja da atividade agrícola, seja
dos produtos de que necessitam devem ser Integrar a floresta na economia nacional,
expeditos. promover um Código Florestal Simplificado

A Iniciativa Liberal promoverá também um re- As florestas são um dos principais sumidouros
gime de aprovação de produtos fitofarmacêu- de carbono do planeta. Para além da sua
ticos que funcione através do reconhecimento importante função reguladora do clima, são
mútuo entre entidades congéneres no mesmo uma das mais importantes fontes de atividade
espaço europeu. económica no setor primário português, criando
oportunidades e fixando populações num
interior que está cada vez mais desertificado: em
Desperdiçar menos alimentos 2021, a indústria de base florestal representou
praticamente 5% do PIB português, ou cerca de
Os dados que têm vindo a público demonstram 12 mil milhões de euros.
que Portugal sofre de um problema de
desperdício alimentar. Segundo o Eurostat, a Para que a floresta veja o seu potencial plena-
média de desperdício alimentar em Portugal mente desenvolvido, precisamos de um Código
em 2021 foi de 180 kg per capita, 37% acima Florestal Simplificado que agregue os regula-
da média de 131 kg na União Europeia. Se mentos e os processos sobre o setor, encetando
discriminamos por setor, dividindo entre a um trabalho conjunto com o público e os agen-
distribuição, família e restauração, verificamos tes económicos. Assim, poderemos reduzir os

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processos de licenciamento e financiamento Portugal: dois terços das propriedades florestais
ao mínimo, garantindo previsibilidade e custos têm uma dimensão média abaixo de três
baixos na navegação do atual labirinto jurídico hectares. Além do mais, estima-se que até um
sobre a floresta. quinto do nosso território não possua ou tenha
dono desconhecido. É assim que, para além
Se a floresta não for aproveitada economica- da ausência de proveito económico, falham as
mente ou realmente conservada, ela ficará à políticas de ordenamento do território focadas
mercê da devastação dos incêndios florestais. no estabelecimento de obrigações, quando não

A
Os incêndios têm levado Portugal para o topo meras expetativas, sem qualquer contrapartida
da tabela europeia em área ardida em ter- ou incentivo ao emparcelamento e identificação
mos absolutos, tendo ficado em terceiro lugar de proprietários.
em 2022. Para além da necessária melhoria
na proteção civil e na política de combate aos •C  oncluir o cadastro da propriedade rural;
083
incêndios, precisamos de um desenho jurídico • Incentivar o emparcelamento, não cobrando
que clarifique deveres e responsabilidades na taxas administrativas pela venda de terrenos
prevenção dos incêndios. abaixo de 5 hectares;
• Contratualizar os serviços de gestão de limpeza
Crescer sustentavelmente é integrar a floresta da floresta diretamente com os proprietários;
na economia nacional, gerando incentivos •Acelerar a reflorestação das áreas ardidas,
para que todos os atores, públicos ou flexibilizando os critérios da sua reflorestação.
privados, retirem dela valor, pois é a gestão da
floresta, acima de tudo, que assegura a sua
sustentabilidade. Sem gestão adequada, não 6.2. Aproveitar todo o potencial
importa quais as espécies presentes no terreno: do mar português
a floresta não gerida é a principal fonte de fogos
florestais no país. Já há demasiado tempo que se fala no
potencial do mar sem que se dê seguimento
ao desenvolvimento desta área. A Iniciativa
Finalizar de vez o cadastro, incentivar o Liberal vai desbloquear o potencial económico
emparcelamento da propriedade rural do mar com uma estratégia focada na
desburocratização, na atração de investimento
Precisamos de estabelecer contrapartidas e na proteção eficaz dos seus recursos naturais.
claras para os proprietários que façam ações Para isso, precisamos de uma diplomacia
de manutenção no seu território, fazendo económica e articulação no âmbito da União
estas ajudas chegarem de forma atempada Europeia que demonstre que estamos dispostos
e desburocratizada. E para que o possamos a dar todos os passos necessários para que
fazer, precisamos de finalizar de vez o cadastro os nossos recursos vivos e não vivos sejam
da propriedade rural, dinamizando todo o postos ao serviço da economia, da ciência e do
território e reduzindo os custos administrativos ambiente. Será esse o esforço que justificará
na transmissão de propriedade, permitindo um e acelerará a expansão da nossa plataforma
processo de emparcelamento célere e pouco continental e potenciará a economia de alto
oneroso; é a propriedade que pode organizar o valor acrescentado a que a Iniciativa Liberal
território florestal de forma produtiva. aspira.

A fragmentação da propriedade rural é um dos A Iniciativa Liberal está comprometida com


grandes potenciadores do risco de incêndio em o objetivo de proteger 30% da nossa área

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marítima, conforme os nossos compromissos excessivamente o mercado português. Por
europeus, em cooperação com o setor privado isso, a Iniciativa Liberal considera que todas
e não-governamental, e com base em objetivos as concessões portuárias devem ser sujeitas
e indicadores concretos. O mercado de carbono a concurso público internacional, ao contrário
voluntário, um investimento na recolha de dados da prática das extensões das concessões sem
sobre mar e a contabilização dos serviços de concurso. Deve ser também liberalizada a
ecossistemas, à semelhança do que propomos cabotagem por parte de navios de bandeira
para as áreas protegidas em terra, assegurarão estrangeira, incentivando o setor doméstico a

A
uma política de gestão ativa no mar. modernizar-se e a tornar-se mais competitivo.
Estas medidas serão importantes na melhoria
do panorama de serviços de transporte
084 Rever a Estratégia Nacional para o Mar marítimo, desde que acautelem sempre, no
entanto, os riscos geopolíticos associados à
A atual Estratégia Nacional para o Mar 2021 política portuária.
– 2030 sofre dos males comuns nas dezenas
de Estratégias que têm vindo a ser promovidas
pelo Partido Socialista: é uma estratégia Desbloquear o desenvolvimento da
apenas em nome, altamente dispersa no seu bioeconomia azul
foco, que não faz opções de políticas públicas
e pretende tomar todas as medidas ao mesmo Hoje, a economia do mar vai muito para além
tempo no mesmo prazo, sem definir indicadores das pescas. A bioeconomia azul aposta tanto
chave ou sequenciamento de ações. O Plano na valorização de novos ativos biológicos e não-
Nacional derivado desta estratégia define biológicos, como na circularidade da atividade
nada mais do que 185 medidas a executar em 9 pesqueira, que tem pela sua frente um caminho
anos, definindo 40 como emblemáticas’’ entre de digitalização e inovação. Infelizmente,
13 áreas de intervenção prioritárias. permanece difícil reintroduzir resíduos de
biomassa na economia por dificuldades de
Por isso, a Iniciativa Liberal começará por rever licenciamento por parte da APA, o que com
esta estratégia, definindo como eixos prioritários a vontade política certa pode ser facilmente
a dinamização económica dos recursos vivos e desbloqueado. Na aquacultura encontramos
não vivos do mar, o incremento da vigilância e também barreiras ao início da atividade, ainda
do mapeamento dos recursos marítimos que que este seja uma das fileiras mais promissoras
temos, e a dinamização do mercado de créditos da bioeconomia azul, devida à elevada procura
de carbono, três eixos fundamentais de ação por pesca sustentável a preços competitivos:
que poderão desbloquear os restantes na entre 2011 e 2021, a aquicultura portuguesa
economia do mar. duplicou as suas vendas em quantidade, tendo
mais do que triplicado o seu valor, passando de
53 milhões para 162 milhões de euros.
Promover um setor portuário mais competitivo

O último relatório da OCDE relativo às políticas Criar a Plataforma Única de Dados do Mar
de atração de investimento em Portugal é
claro: Portugal ainda restringe demasiado Existem inúmeras universidades, portuguesas
a atividade portuária face aos seus pares e estrangeiras, empresas e institutos públicos,
europeus, acabando a fornecer, muitas vezes, como é o caso do IPMA, a colecionar informação
um mau serviço alfandegário e protegendo oceanográfica de alto valor científico e

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económico que podem ser fulcrais na promoção ele representa muito mais do que isso. A
do cluster marítimo e na atração de investimento implementação de um mercado voluntário de
direto estrangeiro. Esta plataforma também carbono trará oportunidades de investimento
será importante na informação dos decisores nos ecossistemas costais e marítimos. Os
públicos na criação de políticas públicas que hotspots de biodiversidade, sejam estes
promovam uma resposta eficiente e baseada as florestas de algas e os prados de erva
na ciência. Para isso será fundamental criar marinha, representam um enorme potencial
uma base de dados de acesso público que reúna de captura de carbono, sendo mais eficazes

A
e permita o tratamento dos dados recolhidos ainda que a floresta. Para isso, uma estratégia
por todas estas entidades para que se possa de restauro e introdução destes ecossistemas
valorizar os ativos presentes no nosso mar e no oceano fará todo o sentido, passando
informar eficientemente sobre os desafios do
nosso território.
também pela recuperação das florestas
de kelp e macroalgas, em articulação com
085
ferramentas de financiamento inovadoras
como são os mercados de carbono. Devemos
Debater a mineração em mar profundo com avançar rapidamente para o desenvolvimento
dados e sem demagogia de contas de ecossistemas, como é o caso
do Reino Unido ou da Austrália, capazes de
Se conhecermos melhor o nosso mar, estaremos quantificar os benefícios económicos advindos
mais preparados para responder a dilemas da presença de ecossistemas. Não só estas
como é o caso da mineração de mar profundo, contas terão benefícios na atração de créditos
ao qual muitos dos partidos da Assembleia da de carbono, na gestão sustentável dos recursos,
República têm respondido com o apoio a uma na elaboração de estratégias de preservação
moratória assente no princípio da precaução. e na monitorização sistemática de mudanças
Mas se o mar pode conter recursos essenciais ambientais, como poderão ajudar a adjudicar
à transição energética, não podemos decidir, disputas em torno dos usos do mar, sejam
sem mais dados, bloquear a sua exploração estes para a energia, para a pesca ou para a
e muito menos a prospecção até 2050, o ano investigação.
em que pretendemos alcançar a neutralidade
carbónica.

Podemos adotar uma política de prospeção


dos depósitos existentes em colaboração com o
conhecimento científico de modo a entendermos
os reais efeitos da sua exploração. Por isso,
defenderemos um debate bem informado
que equacione todos os custos e benefícios da
exploração em mar profundo.

Lançar programas de restauro de


ecossistemas marítimos e costais, valorizar os
serviços de ecossistemas marinhos

O mar absorve cerca de 30% do dióxido


de carbono da atmosfera: para Portugal,

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 A. PORTUGAL A CRESCER


PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 B. PORTUGAL A FUNCIONAR

PORTUGAL B

A FUNCIONAR
087
1. EDUCAÇÃO: MAIS ELEVADOR SOCIAL

Todas as crianças e jovens merecem a las públicas, atrair professores para todos os
melhor oportunidade para desenvolver o seu alunos, ter mecanismos de avaliação rigorosos
potencial e realizar as suas ambições pessoais que informem a políticas públicas, promover a
e profissionais independentemente do seu autonomia das escolas e a liberdade de escolha
contexto social. A educação é dos maiores das escolas e devolver à educação o seu papel
investimentos no indivíduo, quer para o seu de garante de igualdade de oportunidades e
enriquecimento pessoal quer para realizar mobilidade social.

B
as suas ambições profissionais. É hora desse
investimento ter retorno. A educação é determinante para o futuro dos
portugueses e de Portugal. O estado atual da

088
Quase 20% das crianças portuguesas estão educação é muito preocupante e somam-se
em risco de pobreza e de exclusão e podem as evidências de que os alunos portugueses
chegar a ser necessárias cinco gerações para não estão a adquirir as aprendizagens que
abandonar essa condição. É crucial que a precisam para enfrentar um futuro desafiante
Educação desempenhe definitivamente um e em constante mudança.
papel fundamental de elevador social, anulando
desigualdades de origem, multiplicando as O desempenho dos alunos portugueses no PISA
oportunidades de crescimento, reforçando o 2022 foi o mais baixo desde 2006 e a queda de
princípio da solidariedade intergeracional e desempenho desde 2018 foi mais acentuada
promovendo as condições de sucesso futuras em Portugal do que na média da OCDE. 20%
do país. Para os portugueses poderem abraçar dos alunos tiveram baixo desempenho nos
as possibilidades do século XXI sem o temer, 3 domínios avaliados (matemática, leitura e
é preciso que as alternativas de educação ciências) e 41% tiveram baixo desempenho a
estejam à altura desse desafio com mais pelo menos um dos domínios.
liberdade de escolha e libertando a variedade
da oferta de ensino à escolha. A Iniciativa Liberal propõe um conjunto de
medidas destinadas a assegurar o acesso a um
ensino com mais qualidade, para que ninguém
1.1. Recuperar urgentemente do fique para trás nem perca a oportunidade
atraso nas aprendizagens de chegar onde quer devido à incapacidade
do Estado em garantir ensino de qualidade
É urgente apostar na educação com determi- para todos, ao mesmo tempo que impede os
nação, ambição e coragem, em prol dos jovens portugueses de beneficiar de alternativas que
e do país. É urgente recuperar as aprendiza- o mercado proporciona.
gens perdidas, reforçar a qualidade das esco-

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 B. PORTUGAL A FUNCIONAR


Garantir liberdade de escolha e igualdade de A Iniciativa Liberal quer agilizar este processo
oportunidades no acesso à creche de licenciamento, permitindo que este seja
iniciado e concluído pela mesma entidade.
O programa de gratuitidade das creches – Caberá à entidade que recebe o pedido, seja
Creche Feliz, apesar de incluir as creches da esta a câmara municipal ou a segurança social,
rede privada, restringe a efetiva liberdade de o contacto com a outra de modo a produzir
escolha dos pais. Por um lado, restringe as uma única licença. Adicionalmente, no processo
creches privadas às localizadas no concelho de transformação digital da administração
de residência ou do local do trabalho dos pais, pública, deverá dar-se prioridade à plataforma
podendo resultar em deslocações superiores às digital de licenciamento, promovendo economia
necessárias e numa creche que não se adapte de tempo e maior facilidade de comunicação e
à realidade das famílias. Por outro lado, as monitorização do processo.
creches privadas só podem ser consideradas
se houver falta de vagas abrangidas pela
gratuitidade na rede social e solidária. Implementar um plano de emergência para
recuperação de aprendizagens

B
Propomos um programa de acesso às creches
que se paute pela efetiva liberdade de escolha A diminuição do desempenho dos alunos ao
dos pais da criança. Com esta solução, será longo dos últimos anos tem sido muito evidente

089
possível escolher qualquer creche integrante nos resultados de vários instrumentos nacionais
deste programa, independentemente do con- e internacionais (PIRLS, PISA, exames nacionais
celho a que se pertença ou da natureza ad- 9º ano, provas de aferição). A pandemia resultou
ministrativa da creche ser social ou privada. A em perdas de aprendizagens, mas a queda do
medida pressupõe um cheque creche com va- desempenho ocorria já antes da pandemia.
lor mensal correspondente a 90% do IAS em
vigor em cada ano, não podendo todavia ser A Iniciativa Liberal acompanhou com preo-
inferior a 480€. cupação a execução, alocação de recursos e
monitorização do Plano de Recuperação de
Aprendizagens 21|23 Escola+. Essas preocu-
Aumentar a oferta de vagas de creche com via pações foram respaldadas pela auditoria do
verde para licenciamento de creches Tribunal de Contas que conclui que “existem in-
suficiências na definição do Plano 21|23, como
É necessário expandir a rede de creches para prioridades pouco claras, insuficiente afetação
dar resposta à escassez de vagas face à de recursos, excessivo número de ações e ine-
procura por parte das famílias portuguesas. xistência de metas e de indicadores para efeitos
A Iniciativa Liberal propõe uma via verde para de monitorização e avaliação”. Na dita audito-
o licenciamento de creches para desbloquear ria, indicam-se problemas nas áreas da defini-
a oferta do mercado. Atualmente são ção, financiamento, execução e monitorização e
necessárias duas licenças para autorizar o avaliação. Este plano foi prolongado e termina-
funcionamento de uma creche: a licença de rá no ano letivo 2023/2024, mas a diminuição
utilização emitida pela câmara municipal, de desempenho continua muito pronunciada e
e a licença de funcionamento emitida pela transversal. Tendo em conta o caráter cumula-
Segurança Social, após validar os recursos tivo das aprendizagens, é urgente implementar
humanos e condições materiais da atividade. um plano de emergência de recuperação de

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 B. PORTUGAL A FUNCIONAR


aprendizagens sério e consequente, com real 5º e 8º anos). As provas de aferição atualmente
reforço de recursos para as escolas, que miti- têm uma escala de classificação qualitativa,
gue ao máximo os impactos de longo prazo na não sendo úteis nem para os alunos nem
vida das crianças e jovens e na produtividade e para perceber o estado do sistema educativo.
competitividade do país. Consequentemente, não mobilizam o empenho
dos alunos e da comunidade educativa. A falta
Propomos um plano de emergência de de mecanismos de avaliação externa eficaz foi
recuperação de aprendizagens que inclui um dos aspetos que impediu a real perceção
tutorias regulares e em pequenos grupos das perdas de aprendizagem resultantes da
durante o calendário escolar e durante pandemia. É fulcral que os mecanismos de
parte da pausa de verão, uma vez que avaliação externa tenham uma componente
Portugal é um dos países europeus com quantitativa e comparável, por forma a incutir
uma pausa de verão mais longa. O plano exigência, garantir o empenho de toda a
será focado em áreas fundamentais, como comunidade educativa bem como efetivamente
português e matemática, e nos alunos com aferir o desempenho do sistema educativo e
menor desempenho face ao esperado. informar políticas públicas educativas baseadas

B
Será acompanhado por um instrumento de em evidência.
avaliação específico ao plano que permita
identificar os alunos, medir o impacto do plano

090
e afinar as intervenções. No atual contexto de Implementar programa de tutorias para
escassez de professores, é essencial que se aumentar a qualidade da aprendizagem
desburocratize o trabalho docente, libertando
tempo de qualidade dos professores, e que se Atualmente, existe um programa de apoio
utilize o potencial da tecnologia educacional. tutorial específico para diminuir a retenção
As tutorias serão ministradas por professores de alunos, o abandono escolar e promover o
com disponibilidade de horário e por tutores sucesso educativo. No entanto, este programa
recrutados através de parcerias com destina-se a alunos do ensino básico que ao
Instituições de Ensino Superior, por licenciados longo do seu percurso escolar já tenham tido
a frequentar graus de habilitação para a duas ou mais retenções, pelo que não tem uma
docência, ou outros profissionais devidamente ação preventiva precoce e atua quando já está
validados e credenciados para a atividade. instalado um problema de insucesso escolar e
histórico de retenções.

Introduzir as avaliações nacionais no final dos Propomos um programa de tutorias que


ciclos do ensino básico aposte na identificação precoce dos alunos
com dificuldades de aprendizagem, realizada
Propomos introduzir avaliações nacionais por uma equipa multidisciplinar. Se o aluno
no final do 1º e 2º ciclos do ensino básico não tiver Necessidades Educativas Especiais,
que permitem avaliar quantitativamente e deve ser encaminhado para tutorias entre
comparar o desempenho das escolas para pares supervisionados, de suporte humanista e
que estas o possam melhorar. Atualmente, escolar. Os programas de tutorias funcionarão
existem dois modelos de avaliação externa entre pares, alunos mais velhos que se
do sistema educativo: exames nacionais que voluntariem para o acompanhamento de
contam para a classificação final do aluno (9º colegas mais novos, supervisionados portécnicos
ano e ensino secundário) e provas de aferição especializados da equipe multidisciplinar
que não contam para a classificação final (2º, da escola, docentes coordenadores das

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 B. PORTUGAL A FUNCIONAR


aprendizagens e, eventualmente através de servada uma percentagem específica de va-
parcerias com Instituições de Ensino Superior gas para os anos de início dos ciclos de estudos
ou outros profissionais devidamente validados para alunos beneficiários de Ação Social Esco-
e credenciados para a atividade. As tutorias lar e garantido pelas autarquias um sistema
devem prever o envolvimento precoce das de transporte escolar para os alunos, de modo
famílias, com apoio ao nível da estruturação a que haja uma real liberdade de escolha não
de um ambiente saudável e de atitudes condicionada pelas suas condições financeiras.
promotoras do sucesso escolar.
Além disso, a política de contratos de associa-
ção deve ser retomada, permitindo que os pri-
Dar liberdade na escolha da escola vados possam prestar serviço público de edu-
independentemente da condição financeira cação nos casos em que a qualidade seja igual
das famílias ou maior e o custo seja menor. Irá manter-se
também a política de apoio directo através de
A escolha de uma escola de qualidade não contratos de desenvolvimento ou contratos
deve estar reservada apenas aos que têm simples, apoiando diretamente os alunos mais

B
maiores rendimentos. Queremos permitir o carenciados.
acesso de mais alunos à escola (pública ou
privada) da sua escolha em condições de
1.2. Dar mais autonomia às
091
igualdade de acesso através de um sistema
que evolua progressivamente para um modelo escolas e agrupamentos
de financiamento por aluno, como acontece
escolares
noutros países com a Bélgica ou os Países Baixos,
garantindo equidade no acesso, mais igualdade
Contratar e remunerar professores
de oportunidades e mais financiamento para
aposentados para mitigar a escassez de
os melhores projetos pedagógicos que atraiam
professores
mais alunos, sejam eles públicos ou privados.
A falta de professores é uma realidade que se
A equidade de acesso deve ser assegurada
irá acentuar nos próximos anos. As estimativas
por via de um algoritmo/sorteio de alocação
apontam para a necessidade de recrutar cerca
dos alunos às escolas, sem interferência destas
de 35.000 professores entre 2019 e 2030, um
últimas, através das candidaturas dos alunos
valor muito acima dos alunos que se matriculam
e famílias a diversas escolas pela sua ordem
atualmente em cursos superiores que dão aces-
de preferência. O financiamento às escolas
so à carreira docente. As medidas que têm sido
deve ter em conta a condição socioeconómica
implementadas para aumentar os professores
dos alunos, tal como acontece nos Países
sem habilitação profissional não serão suficien-
Baixos, e deve salvaguardar o funcionamento
tes para dar resposta aos milhares de alunos que
de escolas localizadas em zonas de crescente
sistematicamente não têm professores a pelo
desertificação.
menos uma disciplina. Sendo o professor o fa-
tor na escola mais determinante para o sucesso
Para suportar a escolha informada por parte
educativo dos alunos, a sociedade não se deve
das famílias, devem ser criados e publicitados
conformar com esta situação e deve assegurar o
mecanismos de suporte que disponibilizem in-
direito à educação em todas as disciplinas a to-
formações sobre as escolas, com informação
dos os alunos.
sobre diferentes características, desempenho
e projeto educativo das mesmas. Deve ser re-

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Atualmente, um professor aposentado pode contraditórias, o que promove situações
lecionar no ensino privado, mas não o pode fa- de injustiça no processo de alocação dos
zer no público – um absurdo, no atual contexto professores.
de escassez de professores. A Iniciativa Liberal
propõe estabelecer um regime para que pro- Por exemplo, um professor com graduação
fessores aposentados até 31/01/2023 possam de vinte teve preferência para primeira vaga
voltar a exercer funções docentes na escola disponível na sua primeira opção, ficando
pública, acumulando a sua pensão com uma a mais de trezentos quilómetros de casa,
remuneração equivalente ao primeiro esca- onde o professor na posição seguinte com
lão dos professores contratados e proporcio- graduação de dezanove ficou colocado na
nal ao horário lecionado. O processo de gestão opção disponível seguinte mais perto de casa.
e contratação dos professores aposentados O sistema não garante as melhores condições
será responsabilidade direta de cada escola para os melhores graduados, obrigando a que
ou agrupamento escolar, depois de verificada todos os professores tenham que dominar um
a ausência de professores para preenchimento modelo complexo e disfuncional. O processo
de horário. de contratação local está desenhado na

B
sua génese para resolver processos de
substituição, aposentações e horários de
Dar autonomia às escolas na contratação de reduzida duração (menos de oito horas). Este

092
professores modelo implementado pelo Governo Socialista
retirou autonomia às escolas para promoção
Na escola, os professores são o fator mais de horários completos e assim potenciar
importante para a aprendizagem dos alunos a captação de professores capacitados e
e a sua colocação nas escolas públicas adaptados aos contextos desafiadores nos
portuguesas é um processo muito ineficiente Territórios Educativos de Intervenção Prioritária.
e dos menos flexíveis entre os praticados
nos países da União Europeia. O processo é
demasiado centralizado, focado em critérios Reestruturar a carreira docente
muito limitados (como nota do curso e anos
de experiência) e muito demorado. Como No início do primeiro período do ano letivo
resultado, não se atraem jovens para a 2023/2024, cerca de 100.000 alunos não
profissão e existe uma elevada rotatividade tinham professor a pelo menos uma disciplina.
de professores, com consequências negativas No início do segundo período, ainda estavam
para as aprendizagens dos alunos, para a nesta situação cerca de 40.000 alunos. A falta
estabilidade do projeto educativo das escolas de professores nas escolas portuguesas é uma
e para a realização profissional e pessoal dos realidade e vai agravar-se nos próximos anos,
professores. devido ao envelhecimento da classe docente e
à falta de atratividade que a profissão tem para
Propomos reformar a colocação de professores os jovens, nomeadamente do ponto de vista
permitindo que as escolas tenham um papel na salarial. À entrada na carreira, os professores
escolha dos recursos humanos que melhor se têm, em média, um salário inferior ao de outros
ajustam ao projeto educativo que desenvolvem profissionais com habilitações semelhantes no
no âmbito da sua autonomia, bem como setor privado, ou custos forçados de realocação
na sua avaliação. No que diz respeito aos para acesso à profissão em muitos casos por
concursos nacionais, o sistema atual considera ingerência no processo de recrutamento. É
múltiplas variáveis e condições de elegibilidade urgente proceder à reestruturação da carreira

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 B. PORTUGAL A FUNCIONAR


docente, valorizando os seus profissionais, passar para o segundo classificado. Este tipo
garantindo melhores condições de trabalho, de imprevisibilidade das condições de trabalho
e criando um contexto de atratividade não dos professores não é aceitável, e é mais um
apenas para novos entrantes na profissão, factor que deve ser rapidamente melhorado
mas também para recuperar aqueles que a para aumentar a atratividade da carreira
trocaram por outras alternativas. docente.

Dessa forma deve ser promovido um modelo: 1)


que garanta um sistema de avaliação baseado Dar mais autonomia administrativa e
no desempenho e na eficácia do professor pedagógica às escolas
e não apenas na antiguidade, podendo
incluir avaliações de desempenho regulares, As escolas públicas precisam de liberdade e
feedback dos alunos e resultados escolares autonomia para construir e inovar nos seus
dos alunos adaptados ao contexto e realidade projetos educativos, tal como de capacidade de
do território educativo; 2) que potencie e escolher e gerir os métodos de ensino para os
promova um sistema de formação contínua, levar a cabo. Cada escola conhece melhor os

B
valorizando participação em conferências, alunos que tem, os professores que precisa, e a
workshops e cursos de atualização e formação; comunidade que os rodeia.
3) que recompense o desempenho excepcional

093
incentivando a excelência no ensino. Dar autonomia e responsabilidade às escolas,
em coordenação com os agrupamentos
escolares, para decidir como ensinar é um
Acelerar a colocação dos professores nas passo necessário para pôr a aprendizagem
escolas públicas dos alunos no centro de atuação do sistema
educativo. O processo de autonomia deve
A Iniciativa Liberal quer acelerar a colocação ser acompanhado pelo estabelecimento
dos professores no regime de contratação de objetivos, monitorização e avaliação do
local. Para tal, é necessário rever as condições desempenho das escolas, regulação do
de publicação dos concursos, os tempos sistema, desbloqueamento de processos e
processuais e os fluxos de decisão. apoio à gestão das escolas.

Por exemplo, é normal os concursos de


contratação local serem lançados sem 1.3. Aumentar as oportunidades
informação do horário previsto, sendo dada de formação
apenas indicação do esforço semanal. Esta
condição provoca situações em que os O ensino profissional e superior são centrais
professores têm conhecimento do horário para cada pessoa ter a possibilidade de
apenas depois da sua colocação, o que em realizar o seu potencial, bem como para
casos de acumulação leva a incompatibilidades a ambição de crescimento económico e
e posterior recusa, voltando o horário à base transformação estrutural do país. Já não
de recrutamento. A este problema soma-se o há empregos para a vida. O mercado de
tempo de todo o processo, sendo obrigatório trabalho é cada vez mais dinâmico, e exige das
que cada vaga tenha que estar disponível pessoas mais adaptabilidade e atualização
pelo menos 5 dias de calendário. Quando uma de conhecimentos. Para dar resposta a esta
situação de recusa acontece, a vaga volta realidade, o ensino superior deve ser mais
para a base de recrutamento ao invés de capacitado e flexível para dar novas respostas

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 B. PORTUGAL A FUNCIONAR


de formação em diferentes fases da vida. Neste das instituições, nomeadamente a evolução
sentido, é necessário apostar numa formação do número de alunos, incentivando a inovação
mais ágil, contínua e adequada às necessidades e competitividade, abandonando o histórico
do mercado de trabalho e da sociedade, bem como determinante do modelo. Tendo em conta
como na competitividade internacional do a forte progressividade do imposto sobre o
ensino superior e investigação portuguesas. rendimento e a manifesta penalização dos jovens
que enfrentam elevadas taxas de desemprego,
baixos salários e grande dificuldades de acesso
Dar autonomia às universidades e politécnicos à habitação, modelos assentes em reembolso
na selecção de alunos dos custos da frequência do ensino superior
depois do início da vida profissional são
Portugal é dos países menos flexíveis na forma completamente inviáveis atualmente, uma vez
de admissão de estudantes provenientes que constituiriam um agravamento das suas
do Ensino Secundário no 1º ciclo do Ensino condições de vida em Portugal.
Superior. As Instituições de Ensino Superior
não têm qualquer papel na seleção dos seus O modelo de Governo deve ser liberalizado, e a

B
alunos, que é determinada apenas pela nota relação das instituições de ensino superior com
de candidatura, que por sua vez depende das o Estado deve ser contratualizada, de modo
notas do Ensino Secundário e das provas de a que sejam claras as responsabilidades de

094
acesso ao Ensino Superior. cada parte, e haja previsibilidade e justiça no
financiamento às universidades e politécnicos,
Propomos que as Instituições de Ensino tendo em conta o número de estudantes
Superior tenham liberdade e responsabilidade servidos por cada instituição, entre outros
para selecionar os seus métodos de admissão: fatores.
complementar os Exames Nacionais e as notas
médias de fim de ciclo com outros formatos
de avaliação como testes de aptidão, testes Estimular mais alojamento a preços acessíveis
vocacionais, cartas de motivação e/ou cartas de para estudantes universitários
recomendação, portfólio do aluno, eliminando
assim a obrigatoriedade de dependência única Dos mais de 300.000 mil alunos do ensino
das avaliações do Ensino Secundário. O objetivo superior, mais de 35% são estudantes
primordial é avaliar, para além das médias e deslocados. O número de camas disponíveis em
notas de fim de ciclo, o perfil, as motivações, residências, públicas e privadas, ou alojamentos
os interesses, os conhecimentos e empenho de protocolares em 2023 era de pouco mais de
cada aluno. 24.000 o que significa que cerca de 100.000
alunos não tem vaga em residências ou
alojamentos protocolados e, apesar das várias
Dar mais liberdade administrativa às promessas dos sucessivos governos socialistas
universidades e politécnicos em aumentar o número de camas, estas têm
ficado sempre por cumprir o que faz com
As instituições de ensino superior são que o número de camas se tenha mantido
obrigadas a seguir o mesmo modelo de praticamente inalterado desde 2018.
Governo, independentemente da contribuição
do Estado para o seu orçamento. Ao mesmo É então preciso estimular a oferta, aumentar
tempo, o financiamento do Estado deve o número de camas disponíveis para que os
retomar os critérios baseados no crescimento estudantes não se confrontem sucessivamente

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 B. PORTUGAL A FUNCIONAR


com esta limitação. Para tal, a Iniciativa determinados métodos de ensino.
Liberal propõe aumentar a celeridade dos
licenciamentos, em linha com a reforma dos Queremos desbloquear o potencial de formação
licenciamentos propostos pela Iniciativa Liberal, e incentivar o surgimento de um maior leque
acelerando o ritmo de chegada da solução ao de opções formativas, ao flexibilizar as regras
mercado e, no caso dos terrenos detidos pelas de creditação para as próprias instituições
instituições de ensino superior, criar lógicas de de ensino superior, ao agilizar critérios de
PPP em que os privados constroem e operam. avaliação de cursos e ao admitir diferentes
modelos de ensino.
Mas é preciso também acautelar medidas para
os bolseiros e estudantes com dificuldades
financeiras, garantindo que ninguém fica para Promover o ensino profissional e caminhar
trás. Para isso, a Iniciativa Liberal propõe para um ensino dual
alterar as regras de acesso e candidatura às
bolsas para abrangerem uma maior fatia dos A educação portuguesa sofre de uma enorme
estudantes com dificuldades económicas e falta de ligação com o mundo empresarial, tem

B
criando uma lógica de voucher, que o estudante uma componente prática pouco significativa e há
pode usar onde quiser (residências ou habitação ainda um estigma cultural com o ensino profissio-
informal/particular/social). nal, decorrente em parte pela forma como é erra-

095
damente utilizado para contornar problemas de
No que diz respeito às residências de Acção alunos com dificuldades de aprendizagem.
Social, a Iniciativa Liberal propõe a criação de
concursos públicos transparentes de concessão A frequência do ensino técnico-profissional é de
para gestão destes equipamentos, com um enorme importância para o país, englobando já
modelo de remuneração claro e objetivo e a cerca de 40% dos alunos do ensino secundário.
separação do preço do utente do modelo de É necessário promover um ensino profissional
remuneração ao operador. É preciso também moderno e alinhado com as necessidades do
garantir que os apoios sociais aos estudantes mercado de trabalho. O financiamento das
que efetivamente precisam deles não são turmas das escolas profissionais privadas tem
barrados em processos administrativos longos estado congelado desde 2010 e ainda sofreu
e burocráticos. um corte de 5% em 2013. Adicionalmente,
o financiamento destas escolas encontra-
se desfasado do funcionamento dos cursos
Desbloquear a variedade de oferta educativa profissionais, gerando grandes dificuldades ao
bom funcionamento das escolas.
Num mundo em transformação e com novas
áreas de conhecimento, até para outros fins Tendo em conta o aumento dos custos de fun-
que não os profissionais, a formação é cada cionamento das escolas, propõe-se a atualiza-
vez mais importante e pode ser oferecida ção progressiva do financiamento por turmas
e reconhecida fora da formatação útil, das escolas profissionais de acordo com a infla-
mas restritiva, dos cursos – licenciaturas, ção desde a sua última atualização. Pretende-
mestrados, doutoramentos e outros cursos. -se ainda que o sistema de financiamento seja
Para jovens e adultos no mercado de trabalho temporalmente exequível, alinhando-o com o
que querem apostar na sua formação, pode calendário pedagógico das escolas e dando as
não ser oportuno, desejável ou exequível condições e a previsibilidade necessárias às es-
ter uma formação de longa duração e com colas profissionais.

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O ensino profissional deve operar em grande A literacia financeira tem uma importância
proximidade com o tecido empresarial, pro- transversal e implicações ao longo de toda
movendo simultaneamente a empregabilidade a vida dos jovens. Propomos que se atualize
dos jovens e o desenvolvimento do país. É ne- o referencial de educação financeira e os
cessário que as empresas colaborem na defi- conteúdos do Plano Nacional de Formação
nição dos conteúdos e objetivos de aprendi- Financeira, se promova a adesão das escolas
zagem dos cursos e tenham um envolvimento a estes conteúdos e que a literacia financeira
prático na disponibilização de espaços, equipa- passe a ser um conteúdo obrigatório no ensino
mentos ou recursos humanos. Propomos que secundário. É essencial que os alunos saiam da
escolas profissionais e empresas partilhem de escolaridade obrigatória com níveis de literacia
forma mais equitativa a responsabilidade de financeira que lhes permita tomar decisões
dar formação teórica e prática, caminhando no financeiras mais informadas, conscientes e
sentido de um ensino dual. sustentadas ao longo da vida.

Em países como a Alemanha, Áustria,


Dinamarca, Holanda ou Suíça, o ensino dual Eliminar burocracias desnecessárias na

B
está muito presente. Neste sistema os alunos investigação científica
têm uma parte da sua formação na escola
profissional e uma parte da formação no local de A investigação em ciência está fortemente

096
trabalho, isto é, são formandos e colaboradores dependente do Estado, quer no financiamento
das empresas. quer na sua validação e autorização. Muitas
vezes, a existência de alguma burocracia torna
mais vagarosa ou impossibilita a investigação,
1.4. Expandir o conhecimento sem uma justificação adequada.
para melhorar o futuro de todos
Num exemplo simples, um centro de investigação
Atribuir a preponderância devida à Literacia privado com a atribuição de Laboratório
Financeira em contexto escolar Associado (atribuição dada pela Fundação
para a Ciência e Tecnologia por um prazo de
Portugal é um dos países da União Europeia 10 anos) pode receber financiamento privado
com menores níveis de literacia financeira. através do Mecenato Científico; porém, para
A educação financeira é obrigatória em que tal seja elegível em termos de benefícios
pelo menos dois dos três ciclos do ensino fiscais, há que obter um reconhecimento da
básico no âmbito da disciplina de Cidadania entidade pelo Estado para esse fim. Propomos
e Desenvolvimento, tendo como base o rever e eliminar burocracias desnecessárias no
referencial desenvolvido em 2012/13 pelo sistema de investigação em Portugal, para que
Plano Nacional de Formação Financeira. Mas esta possa ser mais célere e diversificada.
a verdade é que na prática não é ensinada.
Há necessidade e potencial para tornar a
educação para a literacia financeira mais Investir na investigação científica
presente e consequente no ensino português,
nomeadamente no ensino secundário que é O investimento em ciência é fundamental
a fase em que os alunos estão mais perto de para o crescimento económico, mas tem sido
tomar decisões de natureza financeira. sucessivamente negligenciado pelos vários
governos em Portugal. O financiamento da ciência
não tem uma estratégia de longo prazo, está muito

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 B. PORTUGAL A FUNCIONAR


dependente de fundos europeus e é pouco ágil e escolas: é verdade que um ranking que não tem
previsível. Esta situação tem contribuído para a em conta o contexto socioeconómico dos alunos
degradação de infraestruturas, de equipamentos pode ser injusto – mas a solução é desenvolver
e das condições de trabalho dos investigadores, rankings que tenham esses fatores em conta,
comprometendo a competitividade internacional ao invés de apenas ignorar a informação.
da ciência portuguesa.
O Estado deve disponibilizar informação para
Para inverter a dependência crónica de fundos que haja escolhas mais conscientes e para
europeus para a ciência em Portugal, a Iniciativa permitir investigação, devendo o Ministério
Liberal quer ver reforçado o financiamento da da Educação assumir a responsabilidade de
investigação científica através do aumento apresentar um ranking que tenha em conta
um reforço do investimento público na desempenho obtido e desempenho esperado,
Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), dado o contexto socioeconómico; o regime de
a par do incentivo ao mecenato científico. avaliação dos docentes deve igualmente ter em
Adicionalmente, propomos que o investimento conta os resultados relativos e o contexto da
em ciência seja orientado por uma estratégia escola em que se insere; os dados anonimizados

B
de longo prazo e acompanhado por metas de desempenho de alunos e escolas devem estar
bem definidas e ambiciosas, que vão além do facilmente disponíveis para investigadores;
número de doutorados e tenham em conta as boas práticas das melhores escolas devem

097
o seu impacto sistémico. Os instrumentos de ser publicadas entre as escolas e o público em
financiamento devem ser mais previsíveis e ágeis, geral.
por exemplo, em relação às diferentes áreas
científicas. Propomos alterações significativas
na Fundação para a Ciência e Tecnologia: Expandir o Ensino de Português no Estrangeiro
no seu governo, na sua independência e no
seu financiamento, devendo ser dotada de A língua é uma ferramenta de cultura,
orçamentos plurianuais que proporcionem diplomacia e um direito de todos os cidadãos
previsibilidade de financiamento a médio e portugueses e dos seus filhos, mesmo quando
longo prazo ao sistema científico. residem no estrangeiro.

Deve ser revalorizado o Ensino de Português


Defender a cultura de dados para avaliar e para portugueses e lusodescendentes como
melhorar a educação língua materna: revogando as taxas de
inscrição para cidadãos portugueses ou seus
Na linha do que a Iniciativa Liberal tem defendido filhos; voltando a trazer a tutela do Ensino de
em matéria de serviços e administração Português no Estrangeiro (vertente de língua
pública, é fundamental haver uma cultura materna) para o Ministério da Educação,
de dados sobre o desempenho das escolas e distinguindo o ensino do Português como língua
universidades para estas poderem orientar a estrangeira e como língua materna.
sua atividade para a crescente qualidade dos
serviços que prestam.

As escolhas de professores, alunos, pais, e outros


decisores na Educação são limitadas pela fraca
disponibilidade e qualidade da informação.
Tomando como exemplo a avaliação das

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2. MAIS ACESSO À SAÚDE

A Iniciativa Liberal está determinada a espera para consultas hospitalares e cirurgias,


conseguir que todos tenham acesso aos no número de pessoas sem médico de família
cuidados de saúde que precisam, em tempo e no encerramento de serviços de urgência.
útil, com qualidade e próximos de si, atacando Do lado dos profissionais de saúde, têm-se
de frente as intermináveis listas de espera para acentuado as saídas do Serviço Nacional de
consultas, cirurgias ou para a atribuição de Saúde, quer para outros setores, quer para o
um Médico de Família. Para tal, é fundamental estrangeiro, quer, mesmo, por abandono da

B
que nos afastemos de uma discussão centrada profissão. Uma perda enorme de potencial
em quem presta o serviço público de saúde humano altamente qualificado e diferenciado
(se é o Estado, os privados ou o setor social) e de investimento formativo que será difícil de

098
e que o foco da ação seja o utente, com um recuperar.
forte investimento na medicina preventiva, na
melhoria da qualidade de vida e no bem-estar Existem hoje mais de 1 milhão e 700 mil pessoas
físico e mental de todos os cidadãos. sem Médico de Família atribuído, num sistema
público de saúde que exige referenciação para
A Saúde precisa de ser desbloqueada para consultas hospitalares, impedindo o verdadeiro
funcionar. Para os portugueses poderem acesso dos portugueses aos cuidados necessá-
contar com os cuidados de que precisam rios para garantir a sua saúde e bem-estar.
quando precisam, a Iniciativa Liberal defende
a liberdade de escolha dos portugueses Tudo isto é a explicação para que, apesar
para decidirem onde querem ser atendidos do Serviço Nacional de Saúde ser universal
e tratados. Mais liberdade de acesso para e tendencialmente gratuito e da elevada
os utentes, e mais liberdade de gestão para carga fiscal para financiar a Saúde, a OCDE
as administrações da saúde, com maior indique que 3 milhões e 700 mil portugueses já
autonomia e responsabilidade, é o que permite subscrevem voluntariamente seguros de saúde,
que o sistema se adapte às reais necessidades gastando cerca de 5% do orçamento familiar
de saúde dos portugueses. Liberdade para em saúde – e pagando diretamente quase 30%
os profissionais de saúde progredirem na dos gastos em saúde – com mais de 1 milhão de
sua carreira e atuarem de acordo com a famílias portuguesas com gastos “catastróficos”
melhor evidência científica. Liberdade para os por despesas em saúde. Números desoladores
reguladores independentes atuarem sempre e que nos colocam entre os países da OCDE em
que é preciso. que as famílias mais dependem de recursos
próprios para tratar da sua saúde. É tempo de
Ao longo dos últimos anos, os portugueses mudar.
têm assistido a uma degradação contínua,
acelerada e sem fim à vista do Serviço Nacional
de Saúde, evidente no aumento das listas de

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2.1. Mudar o Sistema de Saúde reduz o desperdício, podemos dizer que alinha,
em Portugal ainda, o interesse dos contribuintes, cujos
impostos passam a pagar por um melhor
Um novo modelo de Sistema de Saúde: serviço. Neste modelo estão também presentes
o Sistema Universal de Acesso à Saúde diversos incentivos à promoção da saúde, à
(SUA-Saúde) medicina preventiva e à cura duradoura, e à
aposta em terapias inovadoras. Tudo fatores
A Iniciativa Liberal entende que as pessoas que serão cada vez mais importantes no futuro,
devem ser o foco de qualquer reforma na área numa sociedade cada vez mais envelhecida e
da Saúde – assegurar cuidados de saúde de com mais doenças crónicas.
qualidade a tempo e horas a todas as pessoas.
Para este objetivo pouco importa quem é o
prestador desses cuidados de saúde: público, Uma nova Entidade Reguladora da Saúde
o setor privado ou o setor social, todos devem
estar articulados para ajudar a melhorar a Muitos dos graves problemas que o Serviço
saúde dos portugueses. Nacional de Saúde atravessa são consequência

B
de uma conceção desatualizada do atual
Em 2023, a Iniciativa Liberal apresentou e modelo de sistema de saúde, que concentra no
discutiu, na Assembleia da República, uma Estado as funções de regulador, de financiador

099
proposta que propunha uma Nova Lei de e de prestador e que, também por isso, não
Bases da Saúde, cujo principal objetivo era dar contém incentivos nem à melhoria da qualidade
enquadramento a um novo modelo de saúde, do serviço prestado, nem à utilização mais
liberal e ambicioso, inspirado nos modelos eficaz dos recursos dos contribuintes que são
europeus que melhores resultados têm, mas postos à disposição do sistema.
adaptado à realidade portuguesa.
A Iniciativa Liberal considera determinante
O SUA-Saúde é assim uma solução estrutural, distinguir-se, despolitizar-se e profissionalizar-
corajosa e inovadora, que garante a todas se as funções que se encontram hoje
as pessoas, sem exceção, o seu direito concentradas no Estado, enquanto se
constitucional à saúde: garante um verdadeiro adotam as melhores práticas de gestão e de
acesso universal a cuidados de saúde, e não a qualidade de serviço e se promove a liberdade
listas de espera; com liberdade de escolha, e de escolha. Neste sentido, e para que todo o
não apenas dentro do SNS; e reforça o papel sistema de saúde possa manter a saúde das
do Estado como regulador, garantindo que pessoas sempre como prioridade, é essencial
ninguém fica sem uma resposta. que permaneça imune às influências políticas
conjunturais.
Isto acontece porque o SUA-Saúde é um
modelo que introduz diversos incentivos à É por isso que a Iniciativa Liberal propõe
eficiência do próprio sistema, alinhando os uma nova Entidade Reguladora da Saúde
interesses dos doentes (de quem usa) e dos dotada de novos poderes e competências,
profissionais de saúde (de quem trabalha). São verdadeiramente independente, quer ao nível
a concorrência entre os vários prestadores de da regulação, quer ao nível da fiscalização
cuidados de saúde e a verdadeira liberdade concorrencial, clínica e financeira.
de escolha por parte dos utentes que alinham
estes interesses. E porque esta maior eficiência

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Mais Acesso a Cuidados de Saúde Primários Liberal, é o primeiro passo para garantir o
objetivo de ter um médico de família para todos
A Iniciativa Liberal propõe a contratualização até 2028.
da prestação de cuidados de saúde com o setor
social e privado para dar resposta atempada
a quem não consegue ser atendido no Serviço Regulamentação e Implementação das
Nacional de Saúde dentro dos prazos de es- Unidades de Saúde Familiar de Modelo C
pera estipulados na lei. Os Cuidados de Saúde
Primários são a base de qualquer sistema de A Iniciativa Liberal defende a implementação
saúde, atuando enquanto primeiro contacto das primeiras Unidades de Saúde Familiar
entre o utente e o sistema de saúde, praticando de Modelo C, criando mais respostas de
cuidados de saúde preventivos e promotores proximidade e permitindo um alargamento dos
da saúde e resolvendo situações de doença que serviços disponibilizados através de uma maior
não requerem níveis de cuidado hospitalares. integração de diferentes níveis de cuidados de
Na ausência do seu funcionamento em pleno – saúde. Estas unidades têm uma maior liberdade
como é o caso no Serviço Nacional de Saúde – e autonomia de gestão e, por esse motivo,

B
é impossível que o sistema de saúde responda permitem diferentes modelos retributivos e
de forma adequada e que as pessoas tenham de incentivos aos seus profissionais e podem
acesso a tempo e horas aos cuidados de que ser geridas, por empresas do setor privado

100
precisam. ou social, ou, diretamente, por profissionais
de saúde em regime de cooperativa, cabendo
ao Estado contratualizar a prestação desses
Um Médico de Família para Todos cuidados. O modelo das USF-C está previsto na
lei há muitos anos, mas nunca foi aplicado. Na
De acordo com os dados mais recentes do Assembleia da República, foram já chumbadas
Bilhete de Identidade dos Cuidados de Saúde várias propostas da Iniciativa Liberal para a
Primários (BI-CSP) do Serviço Nacional de sua aplicação efetiva.
Saúde (SNS), mais de 355.000 pessoas com
mais de 65 anos não têm médico de família. E Neste âmbito das Unidades de Saúde Familiar,
são mais de 145.000 as crianças com idade até a expansão das USF-B é um passo positivo em
9 anos que não são, igualmente, acompanhadas direção à criação de sistemas que reconhecem
por médico de família. A Iniciativa Liberal quer e premeiam o bom desempenho, através de
que todos os que se encontram nestas faixas incentivos profissionais associados, e que
etárias disponham de médico de família até ao permitem a avaliação de acordo com os ganhos
final de 2025, reforçando o SNS, apostando em saúde – veio, infelizmente, tarde demais.
em Unidades de Saúde Familiar de Modelo
C direcionadas para estas realidades e
contratualizando com serviços de saúde do Reforçar a Promoção da Saúde
setor privado e social sempre que necessário.
Isto é, além de dar prioridade na atribuição de A Iniciativa Liberal propõe que, no âmbito da
médico de família a grávidas, conforme já está promoção da saúde, os Cuidados de Saúde
previsto na lei, a Iniciativa Liberal quer garantir Primários tenham a sua capacidade reforçada
que quem tem menos de 9 anos ou mais de 65 em áreas menos comuns no modelo de sistema
anos também terá médico de família até 2025. de saúde atual, como sejam a cessação
Este caminho, associado à reforma estrutural tabágica, a medicina do viajante, a saúde sexual
prevista na Lei de Bases da Saúde da Iniciativa e reprodutiva e outros serviços diferenciados.

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Na visão da Iniciativa Liberal, associar estes cação crónica em doentes estabilizados, são
serviços e esta maior diversificação de cuidados, bons exemplos do potencial de cooperação en-
a um financiamento baseado nos resultados tre o sistema de saúde e a farmácia comunitá-
em saúde, resulta em maiores incentivos à ria, que devem ser aprofundados e melhorados.
prevenção da doença e, consequentemente, à
garantia do direito à proteção na saúde.
Reduzir as Listas de Espera

Alargar os Cuidados de Saúde às Farmácias No âmbito dos cuidados hospitalares, não se


Comunitárias têm verificado medidas claras, concretas e
devidamente calendarizadas, para a redução
As farmácias comunitárias são um dos pilares dos tempos de espera para consultas ou
do sistema de saúde nas comunidades. Com cirurgias no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
uma rede alargada e de proximidade, com mais De acordo com a informação mais atual sobre
de 2.900 pontos por todo o país, aproximam a monitorização dos tempos de espera no SNS
o cidadão do sistema, prestando um serviço da Entidade Reguladora da Saúde, relativa ao

B
público crucial, e especialmente relevante primeiro semestre de 2023:
em territórios de baixa densidade e para
populações com dificuldade de mobilidade. • Existiam, a 30 de junho de 2023, 750.549

101
utentes a aguardar uma primeira consulta
A Iniciativa Liberal quer que o sistema de hospitalar – um aumento de 37% em
saúde aproveite toda esta rede para ajudar comparação com o primeiro semestre de
a responder à falta de acesso a cuidados 2022 – sendo que 47% destes casos estão
de saúde, alargando o leque de atividades fora dos Tempos Máximos de Resposta
que pode exercer. Entre outras, devem ser Garantidos (TMRG). No caso específico
aproveitadas as capacidades das farmácias das primeiras consultas com suspeita ou
comunitárias na disponibilização de testes de confirmação de doença oncológica, existiam
diagnóstico rápido e na gestão descentralizada 9.014 utentes em espera, 73% dos quais em
de situações de baixa gravidade, obviamente “espera há mais tempo que o máximo previsto
mediante acreditação formativa e de acordo na lei, mais 22 p.p. do que em junho de 2022,
com orientações técnicas claras, emitidas importando referir que esta percentagem de
numa articulação entre as ordens profissionais incumprimento corresponde ao valor mais
e a autoridade de saúde pública nacional. elevado deste indicador desde o início da
monitorização pela ERS”;
Esta integração de cuidados é essencial, • Existiam, a 30 de junho de 2023, 192.186
sendo que a sua eficácia e segurança devem utentes em espera para cirurgias
ser garantidas através da criação de um programadas – um aumento de cerca de
sistema de informação digital que assegure 10% quando comparado com igual periodo
a partilha de dados entre as unidades de de 2022 – em que 14,2% das situações
saúde e as farmácias comunitárias com a estão fora dos TMRG. No caso específico das
salvaguarda, óbvia, de todos os critérios de cirurgias oncológicas, existiam 7.157 utentes
confidencialidade dos dados dos utentes. em espera – um aumento de cerca de 11,4%
face a 2022 – encontrando-se os TMRG
As evoluções recentes na dispensa de medica- excedidos em 17,5% das situações.
mentos hospitalares ou a renovação de medi-

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O incumprimento dos Tempos Máximos de prioridades – financeiras e de políticas públicas
Resposta Garantidos (TMRG) tem como – para conseguir garantir o acesso a maior
consequência o atraso na avaliação clínica mais qualidade de serviço ao mais baixo custo para
diferenciada o que, evidentemente, gera riscos os contribuintes, assim como tem de saber
para a saúde das pessoas. Por este motivo, a negociar, com firmeza e transparência, em
Iniciativa Liberal considera urgente a criação de defesa do interesse das pessoas e não de si
um Programa Especial de Acesso a Cuidados próprio. Neste sentido, as Parcerias Público
de Saúde que assegure o acesso a consultas Privadas (PPP) são um poderoso instrumento
de especialidade hospitalar e a cirurgias, de melhoria dos serviços públicos.
devidamente contratualizados através de
concurso público de abrangência internacional, Nos últimos 20 anos, vários hospitais foram
sempre que os TMRG não são cumpridos no geridos em regime de PPP, com elevados
Serviço Nacional de Saúde. índices de satisfação dos utentes, que não
diferenciam, na sua utilização, uma gestão
O objetivo é a redução, a curto prazo, das listas privada de uma gestão pública, sendo que
de espera. A Iniciativa Liberal compreende que as entidades fiscalizadoras evidenciam

B
existe uma dificuldade na atração e retenção que as PPP estavam (e estão, a única que
de recursos humanos no SNS, que se traduz existe) plenamente integradas no Serviço
na impossibilidade de no curto, médio e longo Nacional de Saúde. Não há, assim, alguma

102
prazo, conseguir alcançar o cumprimento dos justificação possível para que não se retome e,
Tempos Máximos de Resposta Garantidos de inclusivamente, amplie, este modelo de gestão.
forma transversal. Para tal, será necessário
criar carreiras atrativas do ponto de vista da Neste sentido, a Iniciativa Liberal defende que
remuneração, do reconhecimento do mérito sejam efetuados os estudos necessários, e le-
e da qualidade de serviço, de métodos de galmente exigidos, com vista à fundamentação
avaliação transparentes e contínuos e da da necessidade de contratualização da gestão
melhoria das condições gerais de trabalho. dos hospitais do SNS em regime de PPP e que,
Apenas com a atuação nestes três eixos será em função dos respetivos resultados, sejam
possível garantir que se conseguem evitar as tomadas todas as medidas necessárias para a
listas de espera que estão continuamente em celebração de contratos de parceria nos hos-
crescendo. Neste âmbito, é ainda essencial pitais relativamente aos quais fique demons-
a liberdade de contratação direta por parte trado que o modelo de gestão em regime de
das instituições do SNS, garantindo uma PPP será o mais vantajoso.
descentralização do processo de gestão de
recursos, quer humanos, mas também técnicos
e financeiros, mais autonomia e flexibilidade Garantir o Acesso a Medicamentos e a
e uma maior responsabilização por parte de Dispositivos Médicos
cada instituição.
A Iniciativa Liberal quer rever os regimes
de comparticipação. É urgente aumentar a
Recuperar as Parcerias Público-Privadas competitividade e assegurar a sustentabilidade
(PPP) de toda a cadeia de distribuição, com medidas
que podem incluir o aumento do preço dos
Para a Iniciativa Liberal o Estado não tem de medicamentos mais baratos, garantindo que o
ser dono de todas as entidades que prestem custo final para os utentes não aumenta.
serviços públicos. O papel do Estado é definir

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A equidade no acesso ao medicamento e aos dispositivos médicos inovadores e a criação
dispositivos médicos é um dos objetivos do de novas patentes, com vista a aumentar
Serviço Nacional de Saúde. Nos últimos anos, o financiamento à investigação em saúde,
consequência das medidas do programa de associando-se a uma revisão do Plano Nacional
assistência financeira, a indústria farmacêutica de Saúde definindo-a como uma prioridade.
e a cadeia de distribuição têm operado em Portugal é um dos países da União Europeia
condições económicas exigentes, com impacto onde a aprovação da introdução de novos
no acesso ao medicamento e aos dispositivos medicamentos e de terapêuticas inovadoras é
médicos, por parte dos cidadãos. As medidas de mais demorada, atrasando a disponibilização
austeridade levaram a uma redução acentuada da melhor medicina baseada na evidência aos
do valor de aquisição dos medicamentos por utentes. Com vista a alterar esta realidade,
parte do Estado, com impactos negativos no deve também ser promovida uma aceleração
setor. A pandemia, a guerra e agora a inflação dos processos de autorização de introdução no
vieram agravar as dificuldades. mercado e de regimes de comparticipação de
novos medicamentos e terapias inovadoras e
Portugal é um dos países da União Europeia de desburocratização dos processos de pedido

B
com preços de medicamentos mais baixos, de instalação e licenciamento de equipamentos
sendo, por isso, um mercado pouco competitivo. de diagnóstico e terapêutica radiológica.
A consequência é a rutura de stock dos

103
medicamentos mais baratos, mas não só, e, por Para tal, urge uma reforma e satisfação de ne-
isso, são cada vez mais as pessoas que se dirigem cessidades de recursos de instituições públicas
à farmácia para comprar medicamentos e são críticas para a aprovação de ensaios clínicos
confrontadas com a sua inexistência. (e.g. Infarmed e Comissão de Ética para a In-
vestigação Clínica) – que acrescentam atrito ao
Por outro lado, e porque a comparticipação sistema burocrático da saúde devido à com-
do Estado é muitas vezes reduzida, Portugal plexidade, redundância e lentidão dos procedi-
é dos países em que os utentes mais pagam mentos administrativos sem ganho palpável de
pelos medicamentos. Num país envelhecido e segurança e comprometendo a atratividade do
com reformas baixas, isto significa um enorme país na área da investigação clínica.
esforço para pessoas em situação mais débil.
Para a Iniciativa Liberal é fundamental garantir É também necessário mudar o racional
que ninguém deixa de ser tratado por não poder económico para a introdução destes fármacos
comprar medicamentos ou dispositivos médicos e dispositivos. Atualmente, a aprovação de um
e, pelo que defendemos a comparticipação a medicamento/dispositivo depende sobretudo
100% para situações de comprovada insuficiência da existência de cabimento orçamental no
económica, com prioridade aos mais idosos. imediato (perspectiva de custo), quando
deveria ser numa perspectiva económica, não
orçamental. A bomba para a diabetes do tipo
Desburocratizar para inovar 1 é um bom exemplo: tem efeitos positivos no
estado de saúde do paciente, reduz a ocorrência
A Iniciativa Liberal propõe a implementação de episódios agudos e o recurso a cuidados
de um regime fiscal favorável para empresas hospitalares, poupando assim recursos no
que promovam investimentos em Investigação médio-prazo. No entanto, como representa um
& Desenvolvimento – nomeadamente atraindo custo imediato apreciável, foi durante largos
projetos de ensaios clínicos com fármacos e anos desconsiderada.

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A reforma da arquitetura do sistema de saú- no âmbito da assistência obstétrica que lhe foi
de – proposta através do SUA-Saúde – ao au- prestada. Não obstante as evoluções legais
mentar a independência e responsabilidade de criadas em 2019, a sua aplicação prática
gestão financeira e organizativa das instituições tem ficado aquém do necessário, revelando-
de saúde, permitirá que os órgãos diretivos pos- se urgente sensibilizar os profissionais de
sam decidir alocar recursos técnicos, financeiros saúde para os deveres legais e promover
e humanos a projetos de investigação clínica em a sua atualização técnica em termos de
quantidade e qualidade proporcionais à sua ca- prática clínica, de forma a que os mesmos
pacidade. A profissionalização e justa remune- desempenhem a sua atividade profissional de
ração da atividade em Comissões de Ética as- acordo com a legislação vigente.
sociado a um realinhamento de incentivos para
a produção científica reconhecida contribuíram A Iniciativa Liberal defende que os profissio-
para a alteração do paradigma atual. nais em saúde materna e obstétrica recebam
a formação adequada de forma a cumprir o
previsto na Lei 110/2019, de 9 de setembro,
Defender os Direitos das Grávidas no respeito dos direitos humanos na gravidez,

B
parto e puerpério, através de cursos ministra-
A Iniciativa Liberal quer garantir a atribuição dos pelos Colégios de Especialidade da Ordem
de médico de família automática às grávidas, dos Enfermeiros e da Ordem dos Médicos.

104
recorrendo se necessário a respostas privadas
e do sector social para o efeito. A Iniciativa Li-
beral continuará a ser a voz mais audível na Garantir a Saúde Feminina
exigência do respeito pelo devido acompanha-
mento das grávidas em todas as fases da ges- Nos últimos 2 anos foram sendo conhecidas
tação, enquanto direito mínimo de segurança várias dificuldades crescentes no acesso ao
e de conforto durante um dos momentos mais direito legal à IVG, que colocam em causa a
sensíveis da vida. possibilidade da sua aplicação em tempo útil.
Tal configura uma violação dos direitos das
Durante a pandemia, por exemplo, exigimos mulheres e, nesse sentido, a Iniciativa Liberal
por diversas vezes, a revogação das várias manterá a pressão para que se garanta
restrições que foram sendo aplicadas. A o cumprimento dos dispostos legais e o
defesa dos direitos das gestantes manteve- acompanhamento contínuo da situação.
se no período pós-COVID, com o escrutínio
apertado aquando dos desvios de grávidas Ainda no campo da saúde feminina, mas não
para dezenas ou centenas de quilómetros só, a Iniciativa Liberal procurou aprovar um
de casa devido aos encerramentos, pontuais modelo de certidão temporária de incapacida-
ou programados, dos serviços hospitalares de, na forma de um certificado de incapacidade
ou do incumprimento da resposta do Serviço recorrente e intermitente, aplicável a doenças
Nacional de Saúde às ecografias obstétricas. crónicas com sintomatologia cíclica – como é o
caso da endometriose, uma doença que afeta
No que concerne à segurança obstétrica, e cerca de 10% das mulheres em idade reprodu-
segundo estatísticas da Associação Portuguesa tiva. A proposta foi chumbada pelo Partido So-
pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto cialista, comprometendo-se a Iniciativa Liberal
(APDMGP, 2020), uma em cada três mulheres na sua reapresentação na próxima Legislatura.
que teve filhos em Portugal alega ter sido
vítima de abuso, desrespeito e discriminação

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Educar para a Saúde Sexual portugueses e fazendo do nosso país o segundo
maior consumidor de antidepressivos per capita
A Iniciativa Liberal defende a redesignação da da OCDE. É também conhecido o particular
consulta de Planeamento Familiar nos Cuidados impacto que a doença mental tem tido sobre os
de Saúde Primários para consulta de Saúde estratos mais jovens da sociedade portuguesa,
Sexual, permitindo uma maior abrangência causando custos potenciais académicos,
populacional e alargando o âmbito da mesma a laborais, sociais e de saúde que se poderão
todos os aspetos da saúde sexual – não apenas manter por décadas. O acesso a cuidados de
reprodutiva e dirigida à saúde feminina e a saúde mental – psicologia e psiquiatria – está
promoção da diferenciação dos profissionais longe de ser universal e atempado, com oferta
de saúde na área da Saúde Sexual sempre que ineficiente de cuidados comunitários e limitação
as características da população servida assim de acesso aos prestadores privados e sociais
o justifique. por parte dos utilizadores do Serviço Nacional
de Saúde
De igual forma, proporemos a criação de
recomendações formativas para a abordagem Nas áreas da educação para a saúde,

B
às necessidades específicas de indivíduos deverá ser promovido o desenvolvimento
LGBTQ+, nomeadamente no que concerne à de programas de formação pré- e pós-
saúde mental, sexual e reprodutiva, garantindo graduada em áreas de atuação chave para a

105
um atendimento em condições de equidade sinalização, referenciação e comunicação na
e livre de discriminação e preconceito, assim área da Saúde Mental (comunicação social e
como a revisão da “Estratégia de Saúde para jornalismo, recursos humanos e educação) com
as Pessoas LGBTQ+”, nomeadamente no que vista a capacitar profissionais de áreas que
concerne à remoção às barreiras de acesso a não a saúde a detetar precocemente sinais de
técnicas de procriação medicamente assistida alarme, assim como reforçar a formação básica
com base na orientação sexual.. em saúde mental no ensino escolar. Sempre
que possível, deve ser apoiada a criação de
programas de reintegração social e laboral
Cuidar da Saúde Mental de cidadãos previamente institucionalizados
e programas de cuidados de saúde mental
A Iniciativa Liberal quer revisitar a Lei da Saúde comunitária e descentralizada.
Mental, criando meios efetivos de acesso a
cuidados de saúde mental em todos os níveis
de cuidados – em especial nos Cuidados de Salvaguardar a saúde pública
Saúde Primários, através da criação de equipas
integradas com especialidades hospitalares em À luz da ausência de liderança técnica do Pro-
todo o território nacional – e a estudar a criação grama Nacional para as Infeções Sexualmente
duma estratégia nacional de combate ao Transmissíveis e Infeção pelo VIH (PNISTVIH)
suicídio e ao estigma social associado à doença desde setembro de 2022 e ao aumento de no-
mental. vos casos registados em boa parte dos países
europeus no período pós-pandemia, a Iniciativa
Portugal é um dos países com maior incidência Liberal defende a Revisão do Plano Nacional de
e prevalência de patologias do foro da saúde Combate ao VIH e a nomeação urgente duma
mental – em especial de perturbações nova estrutura de comando do PNISTVIH. Na
emocionais como ansiedade e depressão área específica do combate aos novos contá-
– afetando mais de um em cada cinco gios pelo VIH, o alargamento da consulta de

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profilaxia pré-exposição aos Cuidados de Saú- Portugal tornou-se um case study à escala
de Primários e a dispensa em farmácia comuni- mundial com a introdução da política de
tária dos respectivos fármacos, associado a um descriminalização de consumos de drogas
reforço da testagem ao HIV através de testes no início do século XXI, uma estratégia que
rápidos em farmácias e centros de saúde deve- permitiu uma redução drástica de consumos
rão ter um papel importante na manutenção do de substâncias e de infeções pelo VIH através
esforço de mitigação de novas infeções. da libertação dos utilizadores de drogas
do receio do recurso a auxílios de saúde e
No esforço de identificação precoce de novas sociais. Não obstante, na última década
infeções com relevância de saúde pública (não têm sido crescentes as manifestações de re-
apenas o VIH mas também as hepatites B e C, agravamento das tensões resultantes dum
etc.), as associações da sociedade civil têm pres- aparente aumento do tráfico e consumo
tado uma atividade insubstituível no alcance de de substâncias psicoativas, especialmente
populações de risco que não procuram os cui- em zonas habitacionais – colocando em
dados de saúde – nomeadamente migrantes, causa o direito à segurança e bem-estar dos
trabalhadores sexuais ou utilizadores de drogas moradores, incluindo menores de idade.

B
endovenosas. É urgente rever a política de tes-
tagem de rastreio e os incentivos e contratuali- A resposta não poderá estar na via securitária
zação de atividade com as unidades de saúde e ou criminalizadora, como a evidência empírica

106
as associações comunitárias, introduzindo princí- demonstrou nas últimas décadas, mas numa
pios de transparência, previsibilidade e melhoria reestruturação da rede de resposta à toxico-
contínua. dependência. As experiências recentes com es-
paços de consumo assistido, com resposta as-
sistencial social e médica tem sido globalmente
Reforçar uma política de drogas assente na bem-sucedida e com receção positiva pelas
dignidade humana populações servidas. São, contudo, insuficien-
tes para a procura, gerando questões de segu-
A Iniciativa Liberal quer prosseguir uma es- rança locais que importa não ignorar.
tratégia de combate ao abuso de substâncias
baseada nos melhores resultados alcançados,
com base na descentralização e aumento do 2.2. Valorizar os profissionais de
número dos pontos de consumo assistido de saúde
acordo com os hotspots previamente identifi-
cados. Queremos garantir o acesso a cuidados Valorizar os salários
de saúde, doutra forma não procurados pelos
seus utilizadores. A cooperação com a socie- A Iniciativa Liberal defende que todos os
dade civil e, sobretudo, com associações cívi- profissionais de saúde têm o direito a ver o seu
cas que se encontram no terreno é essencial trabalho reconhecido através de incentivos
para que se consigam alcançar públicos de monetários e institucionais de acordo com a
especial risco e maximizar a cobertura da res- produção de cuidados, mas, também, segundo
posta. A via securitária e criminalizadora, além indicadores transparentes de produção de
de não ter sucesso, agrava as condições de ganhos em saúde no indivíduo e na população. A
insegurança e tornar mais fortes as redes de criação dos modelos USF-B e CRI foram passos
tráfico e mercado ilícito de substâncias proibi- dados num sentido positivo e que alteraram
das, tornando a situação cada vez mais grave a atratividade do exercício profissional em
e de difícil resolução. algumas áreas do Serviço Nacional de Saúde.

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A Iniciativa Liberal entende que esta visão deve O aumento da prontidão do capital humano na
ser generalizada – a todas as classes profis- saúde passa também por:
sionais do setor da saúde e em todos os níveis
de cuidados – nomeadamente na existência de • Promover a formação especializada e cruzada
uma componente variável, adicional à remune- dos profissionais devidamente supervisionados
ração fixa, que resulte da aplicação de indica- por colegas especialistas;
dores multidimensionais de produtividade, de • Garantir que as competências, básicas,
qualidade dos cuidados prestados e de ganhos acrescidas ou especializadas, de cada
em saúde para as pessoas e populações servi- profissional, podem ser utilizadas, com
das. O reconhecimento do trabalho árduo dos segurança e seguindo as melhores práticas, em
profissionais do Serviço Nacional de Saúde é qualquer contexto de prestação de cuidados,
essencial para o aumento da capacidade de incluindo nas áreas de prescrição de fármacos
atração, contratação e retenção de profissio- e MCDT;
nais de saúde. • Fomentar o trabalho de equipa interdependente
entre profissionais de saúde, assente no
É, igualmente, entendimento da Iniciativa estabelecimento de requisitos nas áreas da

B
Liberal, que esta componente variável se deve base comum de conhecimentos e competências
associar à garantia de atividade assistencial, e numa lógica de vantagem comparativa;
tal como ocorre nas atuais USF-B e nos CRI, • Definir orientações clínicas e terapêuticas que

107
devendo ser permitindo, a cada instituição permitam apoiar e controlar o desempenho
de saúde, a liberdade para definir uma maior cruzado das capacidades profissionais.
ou menor ponderação, tornando-as mais ou
menos atrativas para os profissionais de saúde.
O aumento de rendimentos decorrente de um Apostar na redefinição das competências dos
modelo assente, não só na produtividade, mas, enfermeiros especialistas
também, em indicadores de ganhos em saúde,
garante que são beneficiadas as atividades Os enfermeiros especialistas poderão ser um
que geram maior saúde para os utentes e para importante auxílio na prestação de cuidados
a sociedade e não apenas a realização de uma de saúde primários e secundários, libertando
elevada quantidade de atos clínicos. os médicos para outras tarefas. Há evidência
empírica muito positiva de vários países que
recorrem a enfermeiros especialistas para
Capacitar e diversificar os recursos humanos renovar prescrições de doentes crónicos
estabilizados ou realizar prática clínica
No âmbito da capacitação dos recursos autónoma (posteriormente referenciadas
humanos, a Iniciativa Liberal propõe-se a para um médico de medicina geral e familiar,
desenvolver uma definição dos perfis de se necessário), como no caso de trabalho de
competência que permitam mobilizar todas as parto de baixo risco. A redefinição destas
capacidades de cada profissional, colocando- competências clínicas deverá ser articulada
as ao serviço da qualidade dos cuidados e da com as ordens profissionais envolvidas.
eficiência do sistema de saúde em colaboração
com as ordens profissionais, ao agilizar o
reconhecimento recíproco dos diferentes
profissionais de saúde.

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Formar com qualidade e excelência de cada classe profissional na prestação de
cuidados de saúde.
A formação em saúde em Portugal é
reconhecida nacional e internacionalmente
pela sua qualidade, garantindo que – apesar 2.3. Simplificar os Serviços de
das provações resultantes de escolhas políticas Saúde
na organização do sistema de saúde – os
cuidados prestados são feitos em linha com Implementar políticas de dados e de
elevados padrões de qualidade. A Iniciativa digitalização
Liberal insiste na importância da formação
pós-graduada, esperando-se um aumento da A Iniciativa Liberal continuará a propôr a
capacidade mantendo elevados standards de criação de um Registo de Saúde Electrónico
qualidade formativa. Universal (RSEU), uma plataforma eletrónica
única, com interoperabilidade e integração
Defendemos a consulta com o Conselho plena dos dados de saúde de cada utente ao
Nacional do Internato Médico para a revisão longo de todos os prestadores do sistema de

B
do Regulamento do Internato Médico, com o saúde autorizados pela Entidade Reguladora
objetivo final de simplificação administrativa, da Saúde. O RSEU seria uma evolução do atual
desburocratização e promoção da Registo de Saúde Eletrónico (RSE) que integra –

108
maximização da quantidade e qualidade de forma altamente disfuncional e nem sequer
da capacidade formativa, e a revisão do universal – a informação clínica dos utentes
mecanismo de definição de critérios de dentro das instituições prestadoras de cuidados
idoneidade formativa para o Internato Médico de saúde pertencentes ao Serviço Nacional de
Especializado em conjunto com todas as partes Saúde . A interoperabilidade entre os sistemas
envolvidas, mantendo o foco na qualidade dos diversos prestadores de cuidados de
formativa e aumentando a transparência da saúde acrescenta uma camada adicional de
sua aplicação. segurança na prestação de cuidados de saúde,
evitando duplicação de cuidados, iatrogenia
E iremos promover uma colaboração com a terapêutica e custos redundantes.
Ordem dos Enfermeiros e associações científicas
nacionais e internacionais para a criação A criação de um RSEU é urgente, principalmente
de um modelo de formação pós-graduada porque confere a efetiva titularidade dos
especializada, devidamente reconhecida dados aos utentes, garantindo que servem
e estruturada na área da enfermagem. A os interesses dos mesmos. Neste ponto,
Iniciativa Liberal reafirma a importância do reforçamos que os dados são propriedade dos
reforço das carreiras de especialização de utentes e é a eles que cabe ceder e revogar
Enfermagem, promovendo a diferenciação dos permissões de acesso a esses dados – que são
profissionais em linha com as necessidades seus – a profissionais e instituições de saúde.
identificadas na população e nas instituições Os dados registados no RSEU – enquanto
de saúde que as servem, revendo a eventual informação propriedade de cada utente – deve
atribuição de competências específicas a ser também gerida por este, podendo creditar
enfermeiros especialistas de prescrição de profissionais ou instituições para o acesso a esta
métodos complementares de diagnósticos informação aquando da procura dos mesmos.
e prescrição terapêutica – de acordo com
a lógica colaborativa e multidisciplinar da
atuação em saúde, respeitando as atribuições

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Simplificar o acompanhamento na doença a
menores de idade

Recentemente foi implementado um modelo


de simplificação da emissão de certificados
de incapacidade temporária (CIT, vulgarmente
conhecido por “baixa”) de curta duração,
mediante solicitação do próprio beneficiário
em situações de doença aguda. Esta iniciativa
de desburocratização permite reduzir a
procura de cuidados de saúde em casos de
doença menos grave mas incapacitante para
o trabalho, transferindo também parte da
responsabilidade para o utente que solicita
o CIT e retirando trabalho burocrático aos
profissionais de saúde.

Há espaço ainda para melhorar, através da


simplificação do processo de solicitação de B
109
assistência a menores de 12 anos em situação
de doença ligeira utilizando o SNS24 como
avaliador da condição da criança. Atualmente,
em caso de doença que exija acompanhamento
por adulto responsável, aos pais (ou a outros
responsáveis legais) é exigida uma avaliação
médica por médico de Medicina Geral e Familiar,
mesmo sem critérios de gravidade.

Pretendemos com esta proposta simplificar o


processo e libertar os Centros de Saúde para
atenderem utentes que verdadeiramente
precisem de ser vistos por um clínico. A
declaração a emitir pelo SNS24 não teria
efeitos totalmente equivalente ao CIT de
emissão médica, nomeadamente no seu perfil
não remuneratório, permitindo contudo a
justificação de faltas laborais por parte dos
responsáveis legais.

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3. REFORMAR A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Nenhum projeto de reforma do poder público Uma reforma da função pública requer um
em Portugal pode deixar de passar por uma passo prévio de conhecimento dos recursos
profunda reforma da sua estrutura: passando humanos afectos a diferentes funções e o
pela descentralização, pela despesa pública, respectivo impacto que tem nos resultados
pela administração pública e pela eficácia prestados aos portugueses, de modo a se poder
dos reguladores. Ao contrário do que os tomar as decisões necessárias à melhoria da
críticos muitas vezes dizem da Iniciativa gestão dos serviços. Feito este diagnóstico,

B
Liberal, certamente por ignorância quanto à devem manter-se os vínculos contratuais
importância histórica do liberalismo na derrota existentes até se desfazerem por iniciativa
do absolutismo e na construção do Estado do funcionário ou no momento da reforma.

110
constitucional, não defendemos o fim do No caso destes contratos, deve alterar-se as
Estado, mas sim um Estado que efetivamente regras de progressão automática na carreira,
desempenhe com qualidade, eficácia e passando a progressão a alicerçar-se em
racionalidade económica as funções que lhe critérios de mérito e qualificação profissional.
competem na garantia da satisfação das Por outro lado, deve repensar-se as regras
necessidades coletivas. Reforçamos o papel aplicáveis a novos contratos que permitam a
de regulador que o Estado tem, sem usar os flexibilidade necessária ao Estado para ser um
seus poderes para interferir injustificadamente melhor empregador, dando condições mais
nas escolhas e domínio privado das pessoas, e atrativas de carreira aos funcionários. Já não
delegando e cooperando com a sociedade civil há empregos para a vida, e faz mais sentido que
naquilo que melhor funciona em parceria. haja oportunidades bem remuneradas, assim
como mais mobilidade quer dentro da função
pública quer entre esta e o setor privado.
3.1. Reformar a Função Pública

Para a Iniciativa Liberal, estão no centro Criar sistema de informação da organização


da reforma da Administração Pública o do estado
reconhecimento e a valorização do mérito
na qualidade nos serviços prestados aos A Iniciativa Liberal quer criar um sistema de
portugueses de acordo com as suas reais informação da organização do Estado que
necessidades. A carreira na função pública permita conhecer os seus recursos com vista a
tem vindo a ser cada vez menos atrativa geri-los de forma eficaz. Segundo a Inspeção-
para profissionais de qualidade, como é caso Geral de Finanças, o Estado Português
paradigmático na área da saúde, onde cada atualmente não sabe quantos funcionários tem
vez mais quadros preferem trabalhar no sector em que funções, quanto ganham ou quantas
privado ou emigrar para terem melhores horas trabalham. Ou seja, tal como não sabe
condições de trabalho. quantos imóveis detém, o Estado também não

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sabe exatamente o que fazem os funcionários Pretendemos maior mobilidade dentro da
públicos. Sabe-se que, nos quase 9 anos de função pública, seja a pedido dos próprios
Governo do Partido Socialista, o número de funcionários públicos quando vantajoso para
funcionários públicos passou de 650 mil para o serviço de destino, seja por necessidade do
quase 750 mil, sem que se tenha visto uma melhor funcionamento do próprio serviço.
melhoria relevante dos serviços prestados. Sem
informação não é possível melhorar a gestão
dos recursos do estado com vista a cumprirem Valorizar a Função Pública
o seu propósito: servir os portugueses.
Valorizar o trabalho dos funcionários públicos
implica proporcionar carreiras com incentivos
Reduzir o número de ministérios ao seu melhor contributo na prestação de
serviços públicos aos portugueses. Os recursos
A gestão da administração pública, com o humanos da Administração Pública foram
dinheiro dos contribuintes, deve assentar severamente prejudicados pelos últimos anos
em critérios de racionalidade económica, de governação socialista que, através de uma

B
otimização de processos e eficácia executiva. política de cativações e de fraco crescimento
Consequentemente, a Iniciativa Liberal defende económico fez com que a função pública tenha
um governo com um número de ministérios perdido poder de compra e qualidade de vida.

111
reduzido e a racionalização das suas estruturas,
com base numa distribuição clara de funções Uma melhoria substancial das condições
para sempre assegurar a prestação com salariais da função pública só é possível
qualidade dos serviços públicos. num país com um crescimento económico
sustentado, que consiga promover salários
competitivos na Administração Pública, em
Reformular regras de contratação de novos especial nos cargos hierárquicos de topo que
quadros têm, ano após ano, perdido atratividade em
comparação com as alternativas existentes no
A Iniciativa Liberal quer tornar a carreira na mercado de trabalho. Insistimos na inclusão
função pública mais atrativa, permitindo ao de uma componente remuneratória variável
Estado uma maior flexibilidade para poder que dependa do mérito individual no exercício
atrair quadros de alta qualidade, para que os das funções e o fomento de formação contínua
seus funcionários possam ir mais longe sem técnica de excelência para que se alcancem os
depender da boa vontade de partidos ou de melhores padrões de produtividade.
governos. Após obter os dados necessários para
diagnosticar as dificuldades concretas de gestão
da administração pública, a Iniciativa Liberal Facilitar pedidos de licença sem vencimento
quer estudar formas de tornar a contratação
mais ajustada à realidade das relações laborais A Iniciativa Liberal quer facilitar a mobilidade
no séc. XXI, que pressupõem cada vez menos laboral dentro da função pública bem
empregos para a vida e requerem a atualização como entre esta e o setor privado. Muitos
frequente de competências. Queremos mais funcionários públicos estão interessados
autonomia na gestão dos vários serviços, noutras experiências profissionais, mas dadas
abrindo possibilidades de transitar os saldos as escassas oportunidades em Portugal não
orçamentais de ano para ano, e incentivando querem arriscar perder o emprego que têm.
uma gestão mais racional dos recursos. A Iniciativa Liberal propõe que os pedidos

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de licença sem vencimento dentro da função reduzindo as possibilidades de influência
pública não dependam de autorização do política no recrutamento de trabalhadores em
serviço ou departamento do estado, permitindo funções públicas, em particular no provimento
ao funcionário arriscar um novo emprego noutra de cargos dirigentes, e, simultaneamente, o
entidade pública, no sector privado, ou iniciar recrutamento de bons profissionais.
um negócio com a segurança de poder retomar
o seu lugar após um número limitado de anos, Entendemos ainda ser necessário tornar
a definir, caso assim prefira. Se ao fim desse obrigatória a publicitação de todas as
período o funcionário não regressar, cessa nomeações em regime de substituição, para
o vínculo contratual com o Estado. Além da perceber se a utilização deste mecanismo está
vantagem evidente para o funcionário público efetivamente a ser utilizado para contornar
a nível do proveito de novas oportunidades as regras e o princípio da igualdade de
com menos risco, há também a vantagem oportunidades, bem como pugnamos pela
para o Estado ao abrir outra via de redução do publicação dos candidatos que integram uma
número de funcionários públicos que não passe eventual lista no momento em que a mesma
por aguardar que os trabalhadores entrem na é enviada ao Governo. Propomos também

B
idade da reforma. a criação de um mecanismo permanente de
monitorização pela Assembleia da República,
 no âmbito das sua competência de fiscalização,

112
Reforçar a Comissão de Recrutamento do recrutamento de cargos dirigentes na
e Seleção para a Administração Pública Administração Pública.
(CReSAP)

A seleção dos cargos de topo da Administração 3.2. Descomplicar e


Pública deve ser feita sempre com base em descentralizar os serviços
concurso, avaliado pela CRESAP e, quando os
cargos em causa são exercidos em comissão A Iniciativa Liberal defende a descomplicação
de serviço, a escolha de um sucessor deve ser dos serviços, quer entre o Estado e o cidadão,
iniciada com suficiente tempo de antecedência quer entre as entidades do Estado. Além de
para que o mesmo seja capaz de assumir funções haver ainda muito a melhorar na simplificação
assim que necessário. Devem ser adotadas das relações entre o indivíduo e o Estado, a
medidas que assegurem o desenvolvimento articulação dos serviços de várias entidades
atempado dos procedimentos de recrutamento merece atenção prioritária no projeto de
e provimento de cargos dirigentes, a fim de reforma da administração pública. Muita
evitar nomeações em regime de substituição entropia decorre da duplicação de esforços
ou o injustificado prolongamento do exercício de diferentes entidades que depois se
de funções. repercute numa utilização ineficiente da
despesa pública, seja despesa corrente ou
O recrutamento para a Administração Pública com recursos humanos. O primeiro passo
deve basear-se no mérito e na efetiva igualdade para agilizar processos, de modo a reduzir
de oportunidades, através de uma avaliação que despesa corrente e aumentar a produtividade
será feita por painel independente da CRESAP, da função pública, é com uma cultura de dados
com recurso a profissionais de reconhecido que permita conhecer o estado dos serviços
mérito nos diversos sectores. Neste contexto, públicos e melhorar a sua gestão. A Iniciativa
devem ser criadas medidas que assegurem Liberal defende também a descentralização
a despolitização da Administração Pública, político-administrativa do país, devolvendo o

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poder às pessoas e comunidades, garantido “eGovernment in a Box”, com a disponibilização
a sua neutralidade fiscal e possibilidade de de novos serviços no portal “ePortugal”, que
competição intermunicipal para fixar pessoas servirá como porta de entrada para todo
e negócios nas diferentes partes do território o universo online do Estado. Este portal
português. deverá investir não só em novos serviços,
através da agregação dos já existentes e da
disponibilização de novas funcionalidades,
Acelerar a transformação digital da mas que se encontram dispersos em diversos
administração pública portais e infraestruturas, mas também na
acessibilidade e user experience do utilizador
O Estado tem de estar ao serviço das pessoas, para que toda a administração pública possa
atuando de forma eficaz nas áreas em que é gozar de uma uniformização visual e interativa
efetivamente necessário, com simplicidade quando recorre aos serviços digitais do Estado.
regulatória e respeitando o princípio
da subsidiariedade e descentralização. Simultaneamente, este portal pode servir
A transformação digital tem um papel de forma transversal toda a administração

B
determinante no cumprimento destes princípios, pública direta, indireta e autónoma, através
aproximando o cidadão do poder público ao da adaptação de um template que já existe e
mesmo tempo que acelera procedimentos que basta adaptar consoante as necessidades

113
dentro do aparelho do estado. Não basta reduzindo assim o tempo de instalação dos
digitalizar, é necessário repensar processos em sistemas que suportam a operação dos
vez de somar ao custo da burocracia antiga o serviços da Administração Pública. Estas
custo de uma nova, e garantir que o sistema medidas visam reduzir a necessidade de
público ganhe a flexibilidade necessária para atendimento presencial em todos os serviços
se adaptar às disrupções da era digital. A da Administração Pública, sendo para tal
prioridade deve ser a qualidade dos resultados necessário identificar e analisar quais os
que ultrapasse a preocupação datada com a procedimentos que ainda se encontram mais
tipologia do prestador do serviço – se é público distantes deste objetivo para posteriormente
ou privado. adaptar e transformar as Lojas do Cidadão
e o Espaço do Cidadão em balcões únicos
Para este desígnio importa definir objetivos de de atendimento multisserviços, geridos pela
digitalização mensuráveis e estratégicos para administração local e num modelo de maior
todos os serviços da Administração Pública aos proximidade às populações.
quais estão associados modelos de benefícios
e penalidades suficientemente persuasivos
e capazes de induzir uma mudança cultural. Cumprir mesmo o princípio only once nas
Simultaneamente, deve investir-se no nível de interações dos cidadãos com o Estado
qualificações digitais dos recursos humanos da
Administração Pública. Este princípio, essencial à agilização de todo
o funcionamento da Administração Pública e
da simplificação da vida dos cidadãos, já está
Viabilizar acesso ao máximo de serviços nominalmente consagrado em Portugal, mas
através do portal ePortugal não está a ser cumprido. A Iniciativa Liberal
vai certificar-se que os dados fornecidos pelos
O cidadão deve ter acesso aos serviços cidadãos às entidades públicas poderão sempre
do Estado de acordo com o conceito de ser acedidos mediante autorização do próprio,

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sem que haja a necessidade de multiplicar a de informações, consulta de processos ou
entrega de documentos, comprovativos, ou passagem de certidões, o juiz determine logo
dados. na decisão de intimação a aplicação de sanção
pecuniária compulsória aos titulares do órgão
por cada dia de atraso no cumprimento da
Introduzir documento único de identificação do decisão face ao prazo fixado.
imóvel

A organização predial do país deve caminhar Reorganizar a Administração Pública


para a uniformização, garantindo que existe
uma coincidência entre número matricial da A Administração Pública é composta por um
autoridade tributária e número de registo universo muito diversificado de entidades, de
predial. A existência de dois documentos de diferentes tipos e organizadas em diferentes
registo de imóveis não se justifica e resulta de planos, com ou sem personalidade jurídica e
décadas de desorganização e burocracia que com graus variáveis de autonomia. Se é certo
dificultam a vida dos cidadãos e empresas. que a existência de diversas estruturas é, em

B
A existência de um documento único de muitos casos, necessária, pela especificidade
identificação do imóvel irá facilitar a transação da missão que lhes cabe prosseguir, é também
de imóveis e, consequentemente, a colocação necessário reconhecer que a multiplicação

114
de mais imóveis no mercado. destas estruturas tem de obedecer a critérios
de racionalidade económica e eficiência na
prossecução do interesse público.
Atribuir efeito vinculativo aos pareceres
da Comissão de Acesso a Documentos Um exemplo que se afigura, nesta perspetiva,
Administrativos (CADA) duvidoso é a recente criação de um instituto
público – a Direção Executiva do Serviço
É inadiável a efetiva garantia de acesso a todos os Nacional de Saúde, I.P. – sob superintendência
documentos administrativos do Estado aos quais e tutela do Ministro da Saúde, para gerir o
os cidadãos têm direito e garantir uma resposta Serviço Nacional de Saúde, por seu turno
atempada dos serviços públicos. Em face de composto por institutos públicos e entidades
uma cultura de opacidade, de portas fechadas, públicas empresariais.
e de morosidade no acesso à informação que
deveria suscetível de consulta por todos, quer No seguimento do projeto ‘’Descomplicar’’
na administração central, quer na administração levado a cabo pela Iniciativa Liberal na
local e demais organismos estatais, é fulcral Assembleia da República, que levou a várias
reforçar a posição da Comissão de Acesso a propostas de alteração da lei para de simplificar
Documentos Administrativos (CADA) no acesso a vida das pessoas, a Iniciativa Liberal propõe
aos documentos administrativos, tornando os criar, no seio da Administração Pública, uma
pareceres desta entidade vinculativos, tenham task force especializada que, em diálogo
estes sido solicitados por uma entidade pública com a sociedade civil, diagnostiquem regras
à qual tenha sido requerido o acesso a um obsoletas, contraditórias e desnecessárias,
documento ou no âmbito de uma queixa do publicando estas sugestões em relatórios
requerente de um documento. anuais públicos e acessíveis.

Para além disso, propomos que, no âmbito do A Iniciativa Liberal quer também que se co-
processo urgente de intimação para a prestação nheça em concreto a despesa que as empre-

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sas públicas representam para o erário público é referido em diversas secções do programa,
e quanto dessa despesa é ineficiente e pode e nomeadamente nos capítulos sobre economia,
deve ser cortada. O objetivo será obter dados habitação e educação, simplificar processos de
concretos sobre o que se pode corrigir nas em- licenciamento é fundamental para desbloquear
presas públicas cuja privatização não deva ser projectos e soluções para vários desafios com
prioritária e imediata. Pretende-se também que a sociedade portuguesa se depara.
dados sobre os institutos públicos e as funda-
ções: quantos são, quais são, quanto gastam e Adicionalmente, a Iniciativa Liberal propõe um
onde gastam o dinheiro dos contribuintes, o que estudo da lei das Finanças Locais com vista a
acrescentam de mais -valia e o que e onde se revê-la e introduzir mecanismos que incentivem
pode cortar despesa? Estes dados concretos a melhoria da eficiência financeira da gestão
permitem discernir quais os institutos públicos autárquica para que as administrações locais
e fundações que devem continuar a receber fi- passem a integrar o esforço de reforma e
nanciamento público. racionalização da despesa pública. Cerca de
dois terços da despesa pública prendem-se
Neste seguimento do que propomos neste ca- com segurança social, saúde e educação. Dos

B
pítulo para conhecer o estado da gestão da restantes um terço, vinte e cinco por cento são
Administração Pública queremos, através dum despesa com a Administração Local. Estes vinte
estudo abrangente e transversal a toda a or- e cinco por cento representam nove por cento da

115
ganização, identificar formas de simplificação despesa total. Pretende-se reduzir o custo para
e otimização da organização administrativa e o contribuinte e melhorar substancialmente os
dos regimes jurídicos correspondentes. Este serviços autárquicos.
processo deve ser orientado pelos princípios
constitucionais da descentralização, da desbu-
rocratização, da unidade e eficácia da ação ad- Assegurar a neutralidade fiscal da
ministrativa e da aproximação dos serviços às descentralização
populações, designadamente com o reforço de
uma Administração Pública Digital. A Iniciativa Liberal tem a descentralização do
país na sua génese para que os portugueses
possam beneficiar de um estado mais próximo
Descentralizar e simplificar processos e eficiente mas, como qualquer política pública,
reforçando o poder local a descentralização deve ser fundamentada,
racional e planeada a longo prazo para garantir
A Iniciativa Liberal pretende alargar o princípio que não existe um aumento de despesa pública,
da fiscalização a posteriori dos projetos a uma duplicação de estruturas ou de cargos.
mais casos na economia, generalizando o
deferimento tácito automático com termos O último processo de descentralização ini-
de responsabilidade dos projetistas. Para ciou-se em 2018 e continuamos sem ter da-
que o deferimento tácito possa produzir dos detalhados sobre o número de postos de
efeitos na prática, é preciso que as pessoas trabalho extintos no estado central, sobre o
tenham como comprová-lo. Devem por isso impacto desta no orçamento do estado cen-
criar-se as condições necessárias a pôr em tral ou sobre a extinção de organismos que
prática a alteração recente ao regime de se tornaram desnecessários fruto da trans-
procedimento administrativo que permite ferência de competências para as autarquias
atestar a ocorrência de qualquer deferimento locais.
tácito com passagem de certidão. Conforme

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No futuro, qualquer lei que implique a Restruturar o setor público empresarial
descentralização de um serviço do estado
central para entidades locais ou regionais deve O setor público empresarial, apesar de
quantificar de forma clara e detalhada os custos sucessivas vagas de liberalização e privatização
das novas estruturas e as correspondentes de setores, permanece sobredimensionado
poupanças na estrutura central. Como forma relativamente às possibilidades do país. O
de controlo da despesa pública no processo Estado deve sair de onde não precisa de estar,
de descentralização, um desvio de despesa em por isso sempre defendemos a privatização da
relação ao orçamentado na proposta inicial no TAP. Continuaremos a defender a privatização
serviço descentralizado deve ser compensado da CGD e da RTP, pretendendo continuar
por um desvio de igual valor na correspondente o trabalho de identificação de empresas
estrutura central. públicas desnecessárias ou redundantes, na
continuação do projeto Descomplicar.

3.3. Melhorar a qualidade e O Estado português deve ter contas certas


transparência das decisões para não comprometer o futuro. Portugal tem

B
de reduzir a sua despesa pública e garantir
A Iniciativa Liberal defende uma regulação sempre que tem orçamentos sem défice. O
independente, necessária e suficiente para dinheiro do contribuinte não pode ser atirado

116 garantir as condições de possibilidade de um para cima dos problemas e das conveniências
mercado aberto e concorrencial. O Partido políticas, agravando excessos de despesa,
Socialista – tantas vezes com a conivência do défices, dívida, e sacrificando a prosperidade,
Partido Social Democrata – tem feito ataques bem-estar, liberdade e soberania das
cerrados à independência das instituições gerações futuras. O Estado pode ainda reduzir
reguladoras, confundindo-se com as instituições significativamente a sua despesa através de
do Estado e politizando os reguladores. várias medidas concretas: como o regresso das
A independência dos reguladores deve parcerias público-privadas na área da saúde,
começar pelo topo: defendemos o lançamento que comprovadamente pouparam dinheiro
de concursos públicos internacionais na ao Estado; com uma administração da função
contratação de reguladores, começando pelo pública mais pequena e eficiente com um novo
Banco de Portugal. sistema de gestão que não redunde na mera
contratação em massa de dezenas de milhares
A Iniciativa Liberal defenderá o justo equilíbrio de novos funcionários, sem qualquer melhoria
entre a existência de instituições fortes e dos serviços prestados aos cidadãos; com a
setorialmente abrangentes com a necessidade utilização racional do dinheiro dos portugueses
de freios e contrapesos na regulação da ao invés de desbaratar milhares de milhões na
atividade económica. O emaranhado de TAP, bancos e em várias das outras centenas
entidades reguladoras em Portugal, muitas de empresas públicas; com a digitalização e
vezes sem capital humano ou financeiro simplificação de várias tarefas administrativas,
para prosseguir as suas atividades, deve ser que muitas vezes levam à existência de
descomplicado por forma a viabilizar o bom processos que nem deveriam existir ou à
desempenho das respectivas missões. Foi uma duplicação de processos entre diferentes
iniciativa legislativa da Iniciativa Liberal que organismos.
levou ao Portal Mais Transparência dos fundos
europeus, e iremos fazer propostas para
melhorar o escrutínio da aplicação do PRR.

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Fazer a análise custo-benefício prévia nas sobre o mercado em diversos setores, tem tido
decisões de investimento em megaprojetos custos milionários para os contribuintes e tem
gerado também a perceção pública de que
A Iniciativa Liberal pugna pela racionalidade os princípios de integridade e transparência
das políticas públicas e quer garantir que a são sacrificados quando os poderes públicos
generalidade das decisões que impliquem tomam conta de empresas ou nelas assumem
despesa pública sejam obrigatoriamente participações.
precedidas de uma avaliação custo-benefício,
com destaque para as decisões de investimento Segundo o Relatório do Conselho de Finanças
em megaprojetos, tomadas pelo Estado. Públicas relativo a 2023, em Portugal, há
cerca de 400 empresas públicas em Portugal,
Pretendemos introduzir a obrigatoriedade entre cerca de 150 detidas pela administração
de realização de Análise Custo-Benefício central e quase 250 nas administrações locais
(ACB) prévia a qualquer decisão política ou e regionais. Estas empresas receberam, em
administrativa que implique a realização de média desde 2015, todos os anos, quase €3000
despesa pública, assegurando a respetiva milhões em dotações de capital, a que acrescem

B
racionalidade económica face aos fins que visam várias centenas de milhões de subsídios,
atingir, em particular as decisões respeitantes indemnizações compensatórias e empréstimos.
a investimentos públicos em megaprojetos de No entanto, um terço dessas empresas está

117
infraestrutura. em falência técnica. Quase metade não teve as
contas aprovadas em 2021.
Esta análise deve avaliar a necessidade da
despesa, comparar as vias alternativas que Além das empresas públicas, há um universo de
permitam atingir os mesmos fins, contemplar empresas intervencionadas das quais é suposto
todos os elementos de custo e benefício o Estado sair, sem que se veja uma saída: na TAP,
quantificáveis, incluindo impactos sociais e investiram-se €3.200 milhões, sem qualquer
ambientais e, se necessário, complementar com expectativa concreta de retorno, com base
uma análise multicritério que inclua benefícios e em argumentos de importância estratégica e
custos não quantificáveis. económica que não têm qualquer credibilidade
técnica. Na EFACEC, foram outros 400 milhões.
No caso das decisões políticas de investimento A Iniciativa Liberal compromete-se a não colocar
em infraestruturas, esta análise custo benefício nem mais um euro na TAP.
deve ser realizada por entidades independentes
do Governo e disponibilizada de forma pública e O Estado não tem vocação para gerir empresas,
aberta, para que se permita à sociedade civil nem jeito para as fiscalizar e supervisionar. Quer
o cabal conhecimento dos pressupostos dos se trate de empresas públicas, intervencionadas
estudos realizados. ou participadas ninguém sabe quem manda,
nem quem controla. O próximo governo deve
analisar todas estas empresas e elaborar um
Tornar o Setor Empresarial do Estado mais plano de alienação das que não fizer sentido
escrutinável manter na esfera pública.

A Iniciativa Liberal tornará o Setor Empresarial Por isso, todas as participações sociais que
do Estado mais transparente e suscetível de o Estado, direta ou indiretamente, detenha
escrutínio público. A presença excessiva do em qualquer sociedade têm de constar nos
Estado na economia tem tido efeitos nefastos relatórios e contas das respectivas entidades.

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Deixa de ser necessário que essas participações ministração pública. Uma codificação moderni-
correspondam a uma percentagem do capital zada permitirá a valorização do domínio público
social ou dos direitos de voto na empresa em que contribuirá para a criação de oportunida-
causa; des de negócio para particulares (por exemplo,
através de concessões) e a obtenção de recei-
• Agravar o quadro sancionatório para a não tas adicionais pela administração pública.
prestação de contas anuais por parte das
empresas públicas.
• Os gestores públicos nomeados por resolução
do Conselho de Ministros devem ser sujeitos
a uma audição prévia na Assembleia da
República para aferir da sua idoneidade
para o desempenho do cargo no qual serão
investidos;
• Os gestores públicos devem estar sujeitos
a um regime equiparado ao dos titulares de

B
cargos políticos e altos cargos públicos, ficando
obrigados a apresentar as declarações únicas
de rendimentos, património e interesses à

118
Entidade para a Transparência, organismo
que ficaria incumbido de proceder à
fiscalização.
• Introduzir um requisito de autonomia face
a quem nomeia, o Governo, e de prevenção
e mitigação de conflitos de interesses de
quem é nomeado aquando da escolha de
administradores/gestores para empresas
detidas pelo Estado ou no qual este tenha
poderes de nomeação, estabelecendo um
regime de incompatibilidade com o exercício
prévio de funções governativas ou legislativas,
prevendo, desde logo, um período de nojo
entre essas funções e as de gestão numa
empresa pública ou intervencionada.

Criar um enquadramento legislativo geral


para a gestão do domínio público

O Estado, as Regiões Autónomas e as Autar-


quias Locais dispõem de um vasto património,
desde praias a praças e aeroportos, que está
sujeito a legislação, pouco desenvolvida, frag-
mentária e muitas vezes desatualizada. A situa-
ção gera falta de segurança jurídica na prática,
o que dificulta a gestão do património pela ad-

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4. SEGURANÇA SOCIAL E APOIO SOCIAL

O atual sistema de segurança social é vai receber muito menos do que metade do
insustentável. Quanto mais tempo passar seu último salário. Por outro lado, as pensões
até solucionarmos este problema, mais terão mínimas rondam agora os 300 Euros. No
as novas gerações que pagar pela inação entanto, o sistema permitiu em 2021 mais de 40
dos nossos governantes. Portugal é o país mil pensões acima de 4 salários mínimos, acima
da Europa que mais rapidamente está a dos 3000 Euros, o que é incompreensível, tendo
envelhecer, fruto da baixa natalidade e elevada em conta que o sistema é insustentável.

B
emigração jovem que resulta da estagnação
económica do país há décadas. A Iniciativa O próprio Ministério da Finanças admite que
Liberal defende a introdução urgente do a Segurança Social começará a ser deficitária

119
terceiro pilar de capitalização e de mecanismos daqui a pouco mais de dez anos, e que a reserva
de poupança para Portugal começar já a do sistema (o FEFSS) se pode esgotar “na
desviar-se do abismo da pobreza e finalmente segunda metade da década de 2060”, caso a
seguir a direção dos países com as melhores economia esteja em piores condições. O atual
condições de vida da Europa. sistema é também ineficiente, havendo apenas
uma entidade gestora dos fundos, sem quaisquer
Com o atual sistema de repartição, os jovens incentivos a uma gestão competitiva e capaz de
não vão receber reformas minimamente capitalizar os montantes detidos pela Segurança
comparáveis às do Reino Unido, Espanha, Social. Ao contrário de vários países europeus
Suécia, Suíça, Holanda, Dinamarca e França, já mencionados, em Portugal o sistema de
que já progrediram para sistemas com pensões de reforma alicerça-se exclusivamente
capitalização, como a Iniciativa Liberal propõe. no mecanismo de transferência de rendimentos.
O sistema, tal como configurado atualmente,
apenas transfere dos trabalhadores ativos para
pensionistas. Só uma pequena parte do capital Reformar a Segurança Social com um terceiro
é posta a render no longo-prazo, e temos um pilar de capitalização
número cada vez menor de trabalhadores a
contribuir para um número cada vez maior Reformar de forma transversal o sistema
de pensionistas. Em 2021, a proporção era de pensões, alicerçando-o no princípio da
de apenas dois trabalhadores para cada valorização da poupança individual e na
pensionista. redistribuição mais sustentável do esforço
do sistema público de pensões, para que as
Quem se reforma à data de hoje, recebe três poupanças dos portugueses estejam lá quando
quartos do seu último salário. Mas quem tem estes se reformam.
atualmente 40 anos, terá uma reforma no valor
de menos de metade do seu último salário. Nesse sentido, propomos a definição de um
Um jovem com atualmente menos de 40 anos montante mínimo e de um teto máximo do pilar

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de transferência de rendimentos das pensões, para a Segurança Social. Além de ser seu
com a introdução de um pilar de capitalização direito, o acesso a esta informação possibilita
obrigatório e incentivo ao pilar de capitalização escolhas mais informadas a nível de poupança,
de contribuições voluntárias, à imagem das consumo, e de outras decisões no projecto de
melhores práticas de sistemas de pensões vida de cada cidadão e cada família.
europeus.
A Iniciativa Liberal propõe que os portugueses
Na implementação desta reforma propõe-se recebam anualmente uma Carta Azul, uma
a possibilidade da existência de contribuições notificação por via digital ou postal consoante
voluntárias para o sistema de capitalização a sua preferência, para verem a descrição de
individual, por parte da entidade empregadora, forma clara e simples sobre a sua situação
mediante acordo com o trabalhador, estando contributiva, incluindo contribuições próprias,
esse rendimento isento de impostos ou de entidades patronais e outros, e abrangendo
contribuições. os vários subsistemas de Segurança Social
públicos.

B
Implementar as contas de poupança de
reforma Desburocratizar o licenciamento de
equipamentos sociais

120
A Iniciativa Liberal quer implementar um
sistema de contas de poupança de reforma, Em 2020, a Segurança Social identificou 788
cujos rendimentos de juros e dividendos lares ilegais; no mesmo ano, notificou 483 lares
resultantes serão isentos de impostos, com ilegais para encerramento, deixando idosos
um limite de valor de investimento de vinte mil sem resposta social alguma. Ao mesmo tempo,
euros anuais. o modelo complexo de licenciamento leva as
IPSS a ficar à espera de respostas durante
Neste sistema, os portugueses poderão colocar meses, potenciando a situação referida.
até vinte mil euros em contas de investimento,
com mobilizações apenas para novos investi- A Iniciativa Liberal quer uniformizar as exigên-
mentos, e com possibilidade de levantamentos cias de licenciamento para equipamentos so-
nas condições atualmente aplicadas aos Pla- ciais, desburocratizar os processos e o acom-
nos Poupança Reforma. panhamento da gestão, criando as condições
de flexibilidade necessárias para o surgimento
O cidadão pode escolher os instrumentos de de novos conceitos de resposta social, que de-
poupança e pode negociar as contribuições vem ser incentivados e não combatidos pelo
voluntárias por parte entidade empregadora Estado.
(sempre até ao limite de vinte mil euros anuais),
estudando-se a possibilidade de isentar ou Por outro lado, a Iniciativa Liberal propõe
diminuir a TSU associada a esse rendimento de uma classificação dos equipamentos sociais
trabalho. que tenha em conta o conforto, segurança e
especialização dos serviços prestados. Esta
classificação criará incentivos para a melhoria
Carta Azul da carreira contributiva da qualidade das instituições, evitando a
necessidade de encerramento em alguns casos.
Cada cidadão deve poder ter acesso à O Estado deverá ainda promover a transição
informação atualizada das suas contribuições digital destas respostas.

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Reforçar o financiamento às Unidades de Incentivar práticas sociais de envelhecimento
Cuidados Continuados Integrado, muitas de digno
Misericórdias e IPSS
A Iniciativa Liberal quer promover um
Há vários anos que as Unidades de Cuidados envelhecimento ativo e participativo na
Continuados Integrados (UCCI), muitas são de sociedade portuguesa por parte daqueles
Misericórdias e IPSS, atravessam graves pro- que, independentemente da idade, se sentem
blemas de ordem financeira que, cada vez de aptos em continuar a contribuir para o
forma mais acentuada, estão a colocar em desenvolvimento social e económico do país.
causa o seu funcionamento e sustentabilidade. Estas iniciativas poderão contribuir para uma
O congelamento, durante vários anos, dos va- sociedade mais equitativa, porquanto permite
lores pagos pelo Estado no âmbito da contra- a livre participação e contribuição de todos na
tualização dos serviços (e, mais recentemente, construção da realidade social e económica
os valores irrisórios de aumento desses mes- do país. Uma população envelhecida abre um
mos valores), o aumento de custos relativos a conjunto novo e muito amplo de questões sobre
obrigações fiscais (como a Taxa Social Única), a como estimular e promover uma vida ativa

B
oferta de cuidados com custos cada vez maio- após a reforma. Queremos motivar práticas
res, e o aumento exponencial dos custos com que conduzam ao proveito e valorização da
gás e eletricidade, são algumas das inúmeras experiência, talentos e vocações de milhares de

121
dificuldades que afetam as UCCI. cidadãos cuja esperança média de vida é de 20
anos após a reforma e, para os quais, mesmo
Ao longo dos anos, têm sido várias as Portarias existindo motivação pessoal, não existem
publicadas relativas aos preços nas unidades muitas vezes oportunidades ocupacionais e de
da Rede Nacional de Cuidados Continuados participação no mercado de trabalho.
Integrados (RNCCI), mas os valores publicados
nunca são adequados e harmonizados com os Neste sentido, a Iniciativa Liberal quer criar
tipos de cuidados prestados, nem com a sua condições para programas intergeracionais,
complexidade. Tudo isto, se não for devidamente que permitam que pessoas com mais idade
resolvido, terá como resultado um desfecho possam ajudar jovens com atividades como
que poderá ser catastrófico para a RNCCI e, em babysitting ou confeção de refeições, enquanto
consequência, para os seus utentes e familiares: os jovens dão apoio a idosos com dificuldades
o encerramento de ainda mais UCCI. de mobilidade em compras, ao passear animais
de companhia e noutras pequenas deslocações.
A Iniciativa Liberal, reconhecendo o insubstituí- Numa ótica de melhorar o acompanhamento
vel valor destas entidades para uma população de saúde, pretende-se promover práticas de
com cada vez mais idosos, com cada vez mais aging in place e do apoio domiciliário integrado,
doenças crónicas e pluripatologias, comprome- conjugando ação social e a saúde. Neste
te-se a rever e atualizar o financiamento das sentido de cuidados e serviços de cada vez
Unidades de Cuidados Continuados da RNCCI, mais de longa duração, pretende-se aumentar
nas diversas tipologias de cuidados, conforme as possibilidades de acompanhamento digital
já propôs na legislatura que chega agora ao remoto em matéria de saúde de modo a
fim, mas que o rolo compressor socialista re- contornar dificuldades de mobilidade e de
jeitou. A Iniciativa Liberal compromete-se tam- locomoção, combatendo na medida do possível
bém a estudar o aumento do referencial do CSI. o isolamento. Finalmente, deve caminhar-se
para um modelo de apoio à direto à pessoa
em vez de à instituição que lhe presta apoio,

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permitindo uma maior liberdade de escolha reforma de modo mais flexível; além disso,
entre diferentes atores assistenciais no equaciona-se uma adaptação da lei laboral
mercado, desde cuidadores, lares a assistência dirigida às pessoas nesta faixa etária, para
domiciliária. que exista uma maior facilidade na redução de
horário e cessação do contrato de trabalho.

Promover a participação no mercado de


trabalho de pessoas em idade de reforma Mais transparência nas contribuições para
Segurança Social
A Iniciativa Liberal defende que a transição
para fora do mercado de trabalho deve A atual informação sobre vencimento bruto e
ser suavizada. Isto porque determinadas líquido não informa o cidadão sobre todas as
experiências podem e devem ser aproveitadas contribuições para a Segurança Social feitas em
para a dinamização do mundo empresarial e na seu nome. Além de esta informação ser devida
prestação de serviços públicos, e porque existe ao cidadão, o acesso à mesma permite uma
interesse por parte das pessoas em idade de melhor fiscalização da responsabilidade das

B
reforma em contribuir para esse objectivo. O empresas e dos custos por estas suportados.
envelhecimento ativo é fundamental para a
manutenção da saúde mental das pessoas em Propomos que esta informação, nomeadamente

122
idade de reforma. a contribuição para a segurança social efetuada
pela empresa, venha evidenciada no recibo de
Durante a pandemia, os profissionais de vencimento dos trabalhadores por contra de
saúde reformados que rapidamente se outrem.
disponibilizaram para reforçar os recursos
humanos nos hospitais contribuíram de forma
incalculável para a capacidade de resposta Garantir a reclamação dos certificados de
à crise vivida em Portugal. A promoção do aforro após morte do titular
emprego sénior pode de forma semelhante
contribuir para responder a outros desafios A Iniciativa Liberal defende que as Contas de
sociais, conforme propomos por exemplo Certificados de Aforro devem ser integradas na
no capítulo de educação para suprir a falta Base Central de Contas do Banco de Portugal.
de professores. A mesma lógica poderá ser Além disso, deve ser promovida a normalização
seguida na área da cultura, reforçando recursos das fontes de informação aplicáveis a titulares
humanos em bibliotecas, museus, arquivos, e herdeiros, tal como a centralização de Contas
bem como no setor privado com programas de Depósitos, Seguros, Títulos do Tesouro e
de mentoring onde especialistas reformados outras.
poderão contribuir com o seu conhecimento em
novos projetos como startups. A lei concede aos herdeiros um prazo de recla-
mação de 10 anos após tomarem conhecimento
A Iniciativa Liberal propõe aumentar os limites da existência de certificados de aforro, o que já
da taxa global de bonificação, no que respeita foi aliás confirmado pelos tribunais. No entanto,
aos anos trabalhados, tal como da taxa o Estado tem tido uma interpretação mais res-
calculada, tornando mais proveitoso o trabalho tritiva, privando as pessoas das heranças a que
depois da idade da reforma. Para as empresas, legitimamente têm direito.
esta medida cria incentivos da Segurança
Social para empregar pessoas em idade de

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5. C
 ULTURA E DESPORTO: MAIS
QUALIDADE DE VIDA

A Cultura é de extrema importância para a sentido de uma máxima desagregação das


formação pessoal e intelectual do indivíduo tutelas (1997-2005: quatro institutos [MC] e
pelo conhecimento que gera, desenvolvimento uma Direção Geral [MOPTC], até à máxima
do pensamento crítico e da sua capacidade em concentração (2012-2023: uma única Direção
relacionar-se com o próximo. Como tal, tem um Geral (DGPC) sob tutela do MC). O resultado
papel fundamental no desenvolvimento das foi uma progressiva concentração dos poderes
sociedades, criando sociedades mais coesas, de decisão e atuação nos serviços centrais,
mais evoluídas e com democracias mais a expensas das verdadeiras instituições
desenvolvidas. culturais- Museus, Monumentos, Bibliotecas,

B
Teatros, Arquivos, Academias e as unidades
A visão da Iniciativa Liberal para a Cultura é, orgânicas regionais responsáveis pela proteção,
então, assente nos princípios da descentraliza- salvaguarda e valorização do património
ção, autonomia e flexibilização e inclui também
a participação do sector privado para garantir
cultural -instaladas no território nacional.
123
mais oferta, mais formação, mais desenvolvi- A autonomia das instituições culturais e das
mento e maior coesão territorial. unidades orgânicas regionais responsáveis
pela Cultura não pode existir sem uma real
autonomia administrativa e financeira das
Descentralizar e garantir a independência das instituições face à tutela.
instituições culturais Uma visão liberal da Cultura e do Património
passa por um novo modelo de gestão que
Defendemos políticas públicas que salvaguar- liberte as instituições culturais do excessivo
dem e promovam a autonomia administrativa e peso do estado central que nunca conseguirá
financeira das instituições de forma a garantir a decidir, gerir ou salvaguardar todos os legítimos
sua independência na gestão dos seus recursos interesses desse património que tutela, sem
e na promoção e salvaguarda dos seus ativos, uma gestão mais eficaz, descentralizada e
materiais ou imateriais, capacitando-as para o lucrativa.
cumprimento do seu desígnio. A autonomia das
instituições culturais é condição essencial para
o desenvolvimento, crescimento e sustentabili- Liberalizar o mercado livreiro e revogação da
dade do património cultural português e pro- “Lei do Preço Fixo do Livro”
moção das Artes, reforçando a sua capacidade
de investimento, com liberdade e criatividade, e A Iniciativa Liberal quer revogar a Lei do
contribuindo assim para o seu papel de cons- Preço do Livro, pois acredita que os preços
trução de uma sociedade livre, participativa, in- dos livros devem ser formados em mercado
formada e culta. concorrencial. Esta lei, que tinha como propósito
original a “correção das anomalias verificadas
Nos últimos 50 anos o sector da Cultura no mercado do livro e a criação de condições
tem assistido a movimentos de evolução no para a revitalização do setor”, limita a 10% o

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desconto que as livrarias podem fazer nos 24 cópia privada tirando ao comerciante toda e
primeiros meses após a publicação de um livro, qualquer responsabilidade sobre este tema,
com algumas ressalvas. Quem sai prejudicado a eliminação da lista de bens sujeitos à taxa
é o consumidor, que não só tem de pagar mais de cópia privada das memórias incluídas em
como perde as vantagens da concorrência computadores, tablets, máquinas fotográficas
entre livrarias, pois a lei favorece as maiores ou de filmar e telemóveis e a redução em 50%
cadeias com maior capacidade financeira de a das restantes taxas actualmente cobradas.
cumprir.

Adicionalmente, a Iniciativa Liberal propõe Rever o regime do mecenato cultural


a remoção de ineficiências burocráticas que
impedem os livros de chegarem mais facilmente No meio artístico nacional tem-se criticado cada
aos leitores e que dificultam a introdução de vez mais a pouca eficácia da Lei do Mecenato
novidades no mercado livreiro, nomeadamente em vigor, nomeadamente entre artistas que
de soluções inovadoras de divulgação e procuram fugir à burocracia e, por vezes,
distribuição de livros, assim estimulando mais injustiça dos apoios estatais à Cultura e às

B
e variados hábitos de leitura, com todas as Artes. Percebem, acima de tudo, que o Estado
vantagens inerentes. não tem capacidade para financiar a Cultura e
a Arte em Portugal de forma digna, abrangente

124
e eficaz, pelo que muitos começam a tentar
Neutralizar os Impactos da Taxa de Cópia parcerias com privados. Desta forma, Lei do
Privada Mecenato que tenha mais incentivos para atrair
mais investimento privado em Cultura e nas
A taxa da cópia privada, imposta pela Diretiva Artes, que seja menos burocrática e mais célere,
Europeia 2001/29/CE de 22 de maio de eficaz e transparente. Propomos uma revisão do
2001 relativa aos direitos de autor e direitos regime do mecenato cultural, tornando-o mais
conexos no mercado único digital, é um imposto simples e atrativo, incentivando a participação
“escondido” que incide sobre os suportes privada no financiamento da cultura com
físicos onde se pode armazenar informação – legislação e enquadramento fiscal claros.
telemóveis, discos rígidos, cartões de memória,
CDs e DVDs graváveis, impressoras, etc. A taxa Para este efeito é necessário criar Estatuto
da cópia privada é uma taxa iníqua e injusta, do Mecenato Cultural separado do Estatuto
que coloca os compradores de um conjunto de dos Benefícios Fiscais, que vise registar os
bens listados na legislação a pagar uma taxa benefícios atribuídos aos mecenas e que se
que deverá ser entregue a terceiros que em articularia com a generalização do modelo dos
nada estão relacionados com essa transação. contratos-programa como forma privilegiada
de exercer o papel de mecenas por parte do
A Iniciativa Liberal entende que este tipo de Estado Central e das Autarquias. A Iniciativa
burocracias, que criam trabalho para terceiros Liberal propõe também a criação de uma
sem acrescentar qualquer valor, devem ser base de dados de acesso público onde estará
gradualmente eliminadas de toda a legislação, acessível informação sobre os mecenas e
com vista a diminuir custos de contexto na respetivos montantes disponíveis, os apoios
tão debilitada economia portuguesa. Até ser do Estado planeados, os projetos candidatos,
possível eliminar a Taxa de Cópia Privada, pelo os que foram efetivamente apoiados e os
que nos bateremos, a Iniciativa Liberal propõe resultados obtidos.
a eliminação de todas as isenções à taxa da

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Procurar reconhecer os esports como desporto seis meses, de exercício efetivo da atividade de
em Portugal treinador de desporto de grau iii.

Os esports têm cada vez mais adeptos Esta exigência legal, replicada nos regulamentos
em Portugal, mas não são reconhecidos da Federação Portuguesa de Futebol (FPF),
oficialmente como desporto nem se encontram aliada ao reduzido número de cursos e vagas
previstos em lei. A ausência de enquadramento de grau IV disponibilizados pela FPF, restringe
legal tem levantado obstáculos aos seus significativamente o acesso dos treinadores
praticantes, nomeadamente junto do Estado de futebol portugueses à formação exigida
e outras entidades. Por isso, o enquadramento pela própria Lei. Note-se que, à data de hoje,
legal dos esports e a sua equiparação aos a Federação Portuguesa de Futebol é a única
desportos tradicionais, sempre que adequado, entidade habilitada a ministrar os cursos
afigura-se como importante, nomeadamente conducentes ao TPTD de Grau III e IV de Treinador
para a celebração de contratos de seguro, de Desporto na modalidade de Futebol. Perante
para autorização pelo Estado de vistos de esta situação, muitos treinadores portugueses
residência de atletas estrangeiros e quanto ao vêem-se por isso forçados a concluir a sua

B
estatuto dos estudantes de Ensino Superior formação obrigatória noutros países europeus,
que participem em competições profissionais. nomeadamente Escócia e Irlanda do Norte.

125
Defendemos que o crescimento dos esports Importa por isso consagrar uma solução
em Portugal deve ser acompanhado por um legal que esteja adequada à Convenção
esforço do legislador em permitir a expansão de Treinadores da UEFA e que não limite o
e profissionalização da atividade, identificando acesso à profissão de treinador desportivo na
e eliminando obstáculos desproporcionais à modalidade de futebol. Por outro lado, importa
sua prossecução, e equiparando, sempre que também consagrar em Lei a possibilidade do
relevante, os esports aos desportos tradicionais. reconhecimento das formações de treinador
efetuadas através de entidades privadas,
creditadas pelo Instituto Português do Desporto
Eliminar o monopólio da Federação e Juventude, para efeitos de atribuição do grau
Portuguesa de Futebol na Formação de necessário para participação em competições
Treinadores oficiais.

O atual regime jurídico relativo ao regime de


acesso e exercício da atividade de treinador Recuperar aprendizagem de competências
de desporto, em contraponto com as soluções motoras afetadas durante a pandemia
adotadas por outros países europeus,
estabelece requisitos que configuram uma A educação física é uma componente integral
barreira à entrada na profissão de treinador. na aprendizagem durante a escolaridade
Ao contrário de países como a Escócia ou obrigatória. Um dos impactos negativos na
Irlanda do Norte, onde a frequência do curso aprendizagem resultantes da crise pandémica
de nível IV, que equivale ao grau UEFA Pro, do COVID-19, mais concretamente dos
apenas tem de ser precedida do exercício da sucessivos confinamentos obrigatórios, foi o
profissão pelo prazo de um ano, em Portugal, aumento do sedentarismo e retardamento no
através da redação atual do artigo 10.-A da desenvolvimento de competências motoras
Lei n.º 40/2012 são exigidos dois anos ou duas que tipicamente ocorre durante o primeiro
épocas desportivas, com duração mínima de e segundo ciclos escolares. No seguimento

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 B. PORTUGAL A FUNCIONAR


do plano de recuperação de aprendizagens
proposto na secção de educação, e com respeito
pela autonomia das escolas que a Iniciativa
Liberal defende, propomos que se promova a
consciencialização desta situação junto dos pais
e das direções escolares com vista a aumentar
o tempo semanal de educação física no horário
escolar.

Possibilitar a atletas o ingresso nas Forças


Armadas ou de Segurança Pública

A Iniciativa Liberal quer estudar a possibilidade


de atletas olímpicos e com projeto olímpico terem
a opção de ingressar nas Forças Armadas ou

B
nas Forças de Segurança Pública como opção
de carreira ou de formação dual, apostando
desta forma na valorização dos atletas e da

126
sua sustentabilidade durante e após a carreira
olímpica, ao mesmo tempo que se permite mais
uma forma de renovar e reforçar os quadros
nas carreiras militar e de segurança pública.

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 B. PORTUGAL A FUNCIONAR


PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 C. PORTUGAL MAIS LIBERAL

PORTUGAL
MAIS
LIBERAL C
127
Perante o quadro institucional, político e ético Partido Socialista, a Iniciativa Liberal tem sido
exibido nos últimos anos, compete às forças e continuará a ser muito firme. O populismo
moderadas e reformistas, como a Iniciativa contra a política e contra os políticos não se
Liberal, restituir a confiança dos cidadãos combate com populismo contra a justiça ou
na política e em quem desempenha funções contra o Ministério Público. Essa luta trava-se
públicas em seu nome, devolver-lhes a reforçando a autonomia do aparelho judiciário,
esperança e travar as derivas radicais, tendo garantindo meios para que possa funcionar de
como premissa o reforço de direitos, liberdades forma célere e eficaz e criando mecanismos
e garantias dos cidadãos e das entidades que transparentes para que preste contas.
zelam pela saúde dos três poderes (legislativo,
executivo e judicial) da nossa democracia. A Iniciativa Liberal estará sempre comprometida
com a defesa de direitos, liberdades e garantias
As últimas eleições legislativas, em 2022, dos cidadãos, assim como com o seu reforço e
trouxeram um cenário político em que o modernização, bem como com a preservação
Partido Socialista, com uma inesperada da saúde das instituições democráticas e
maioria absoluta, passou a dispor de meios das entidades que as fazem cumprir os seus
para exercer o poder mais incondicionado. Ao propósitos, atuando em diversos eixos.
contrário do que foi prometido, não foi uma
maioria dialogante, foi uma maioria arrogante,
que não teve qualquer reserva em sobrepor
as conveniências do partido aos interesses do
Estado português. Houve inúmeros entorses
ao processo democrático, enxameando a
Administração Pública e as instituições que
deveriam ser independentes com pessoal

C
afeto ao partido e causando grave prejuízo à
reputação das instituições devido a condutas
ética e politicamente inaceitáveis.
128 Ao longo da última década, os portugueses
têm testemunhado uma progressiva erosão
da credibilidade das autoridades judiciárias.
Mais alarmante do que eventuais erros das
autoridades judiciárias, que exigem escrutínio
e merecem condenação – sem demagogia ou
cruzadas oportunistas -, é a nossa tradição
de instituições débeis e uma sociedade civil
amorfa. O risco maior não é o de judicialização
da política, é o inverso: o de politização da
justiça, já vista em diversos momentos da
nossa democracia, com políticos a tentarem
condicionar o tempo e o modo das investigações
judiciais e o normal decurso de processos
sensíveis. Também aí, face a todos os ataques
de que o Ministério Público tem sido alvo, não só
perpetrados por governantes e dirigentes do

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 C. PORTUGAL MAIS LIBERAL


1. FORTALECER A DEMOCRACIA LIBERAL

1.1. Tornar a democracia mais Reforçar as liberdades, direitos e garantias


liberal e representativa individuais

Rever a Constituição para a tornar A Iniciativa Liberal irá defender:


mais liberal
• Que o direito à propriedade privada ganhe
A Constituição da República Portuguesa, redigida dignidade, passando a estar incluído no
em 1976, precisa de ser melhorada, simplificada capítulo dos direitos, liberdades e garantias
e trazida para a modernidade. A Iniciativa pessoais, clarificando o papel da propriedade
Liberal considera que há muito para fazer na privada enquanto ‘’espaço de autonomia
lei fundamental para que esta fique conforme pessoal’’, podendo apenas ser limitada
a uma democracia liberal própria de um na medida do estritamente necessário na
Estado que coloca a pessoa no centro das suas realização de outros direitos protegidos pela
preocupações. Num novo ciclo político, no qual Constituição, apenas por autorização ou
se comemora inclusivamente o cinquentenário legislação da Assembleia da República;
do 25 de Abril, é fundamental reformar a • O recurso de amparo para o Tribunal
Constituição, para devolver poder às pessoas, Constitucional por violação de direitos,

C
aprofundar direitos, liberdades e garantias, liberdades e garantias, de modo a obter tutela
assegurar mais justiça para as gerações efetiva e rápida contra ameaças ou violações
futuras, sem cedências a pulsões securitárias ou desses direitos (ver capítulo seguinte sobre
excessos sanitários e recusando dogmas pós-
•
justiça);
O reconhecimento do direito dos cidadãos
129
revolucionários totalmente datados.
serem ouvidos pela Administração Público no
A revisão constitucional que a Iniciativa Liberal âmbito de quaisquer decisões lesivas dos seus
quer propor tem três pilares: interesses;
• O direito de exercício da ação popular
• O reforço das liberdades políticas e sociais; contra a Administração Pública no sentido
•A melhoria da arquitectura do regime, do cumprimento de obrigações legais de
dos órgãos de soberania, das instituições transparência;
democráticas e escrutínio do seu poder; •A codificação da jurisprudência do Tribunal
• Uma visão reformista e sustentável para a Constitucional no reconhecimento dos direitos
economia e para a sociedade. económicos enquanto verdadeiros direitos,
liberdades e garantias, bem como das
liberdades de circulação de pessoas, bens,
serviços e capitais;
•A garantia de direito ao esquecimento/
eliminação de dados pessoais;

PROGRAMA ELEITORAL LEGISLATIVAS 2024 C. PORTUGAL MAIS LIBERAL


• Que deixe de ser necessário ser português de Hondt para apuramento de mandatos na
origem para se ser elegível para Presidente Assembleia da República (inserido numa
da República. Bastará ter a nacionalidade reforma do sistema eleitoral, como se poderá
portuguesa. ler nas páginas seguintes). O método a utilizar
passa a ser definido na lei eleitoral.

Melhorar a arquitetura do regime


Reformar o sistema eleitoral para a
No que respeita ao funcionamento e escrutínio Assembleia da República
dos órgãos de soberania e das instituições
democráticas, a Iniciativa Liberal defenderá: O panorama político-partidário, a demografia
e a organização administrativa sofreram
• Que passe a ser a Assembleia da República, profundas alterações que se refletiram num
ouvindo o Governo, a propor o presidente do desajuste do sistema eleitoral. Nos círculos
Tribunal de Contas e o procurador-Geral da mais pequenos, como Portalegre, Guarda
República ao Presidente (que continua a ter ou Bragança, o leque de opções políticas é
a competência da nomeação). A proposta mais reduzido, uma realidade que se agrava
terá de contar com uma maioria de dois com o aparecimento de mais partidos no
terços dos deputados presentes, desde que Parlamento. O resultado é um desrespeito da
superior à maioria absoluta dos deputados proporcionalidade do sistema eleitoral, pois se
em efectividade de funções; em Lisboa é possível votar na primeira escolha,
• Que o governador e dirigentes do Banco de em Portalegre ou em Bragança o eleitor é
Portugal sejam designados após concurso incentivado a votar no “mal menor”.
aberto e transparente;
• Que seja o Presidente da República a nomear

C
os presidentes dos governos regionais dos Introduzir um círculo nacional de compensação
Açores e da Madeira e ainda a nomear e
a exonerar os membros dos respectivos A Iniciativa Liberal quer introduzir um círculo
130 governos. Desaparece, assim, a figura tutelar
do representante da República em cada uma
nacional de compensação, com vista a tornar a
representação dos eleitores mais proporcional
das regiões autónomas; e justa, sem quebrar o elo de representação
• Que passe a ser competência do Presidente territorial. Todos os votos devem contar,
da República, sob proposta do Governo, sendo inaceitável que se desperdicem mais
a nomeação do presidente da Comissão de setecentos mil votos dos pequenos círculos,
Permanente de Concertação Social (CPCS), como se estima ter acontecido nas últimas
sendo a personalidade nomeada sujeita a uma eleições legislativas.
audição prévia na Assembleia da República;
• Que os grupos parlamentares com menos Com este modelo os eleitores continuam a votar
de dez deputados passem a poder solicitar no seu distrito, e a distribuição final de mandatos
apreciações parlamentares aos decretos-lei; na Assembleia da República terá um resultado
• Que os grupos parlamentares (independen- aproximadamente proporcional à votação
temente da sua dimensão) passem a poder nacional. Entram primeiro os candidatos
requerer ao Tribunal Constitucional a decla- diretamente eleitos pelos distritos, garantindo
ração de inconstitucionalidade ou de ilegali- a representação distrital ou regional, e depois
dade de normas; os candidatos do círculo de compensação,
•O fim da obrigatoriedade do método de repondo a proporcionalidade. O círculo de

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compensação, à semelhança do que sucede estrangeiro. Esta multiplicidade de cenários é
nas eleições para a Assembleia Legislativa inimiga da participação e do esclarecimento
dos Açores, garante que o voto de qualquer eleitoral, uma vez que não permite facilmente
português vale o mesmo independentemente ao eleitor saber que direitos de participação
do círculo eleitoral. possui.

Este continua a ser o modelo de mínimos Este é o sistema ao que está hoje ao dispor dos
que todas as forças com representação eleitores, que precisa de ser simplificado:
parlamentar se mostraram disponíveis para
discutir e viabilizar, embora Partido Socialista, Voto
Partido Social Democrata e Partido Comunista Voto
antecipado
Português tenham acabado por votar contra antecipado
/ mobilidade
esta solução quando a Iniciativa Liberal a / mobilidade
para
propôs em 2023. Eleição para
recenseados
recenseados
fora do
em território
território
Defender os círculos uninominais nacional
nacional
Território
A Iniciativa Liberal continuará a defender, em nacional:
Presidente
paralelo ao círculo nacional de compensação, Sim, qualquer
da República
que a eleição de deputados para a Assembleia cidadão, em
da República seja feita através de círculos qualquer sede Território
uninominais (com o círculo nacional de de município. nacional:
compensação desejavelmente já em vigor), tal Assembleia Não.
como a Constituição da República já permite.

C
da República Estrangeiro:
Entendemos que os círculos uninominais Sim, apenas Estrangeiro:
aproximam os eleitores de quem elegem, em situações Não.
permitindo um maior escrutínio da sua ação específicas, nas
política bem como maior liberdade aos eleitores
para escolherem, efetivamente, quem os
Parlamento
Europeu
embaixadas / 131
consulados
representa, ao contrário de listas plurinominais. determinados.
Território
nacional:
Harmonizar a possibilidade de voto antecipado Sim, apenas
em mobilidade em situações Não aplicável
específicas, na (sem
A Iniciativa Liberal propõe que passe a sua sede de capacidade
ser possível, para todas as eleições, o voto Autarquias município. eleitoral ativa
antecipado e, se desejado, em mobilidade, locais nas eleições
sem restrições, em qualquer sede de município Estrangeiro: para as
ou posto de recenseamento no estrangeiro, Sim, apenas autarquias
sendo apenas necessária inscrição para o em situações locais).
efeito. Isto porque a legislação atual consagra específicas, na
uma grande variedade de possibilidades de sua sede de
voto antecipado/mobilidade entre eleições e município.
entre recenseados em território nacional e no

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Descentralizar o Estado Administração Pública que sejam criados de-
vem ser sediados fora da Área Metropolitana
Portugal é um dos países mais centralistas da de Lisboa. A Iniciativa Liberal sabe que a des-
OCDE, fruto de décadas de políticas que foram centralização não é um fim em si mesmo e que
sucessivamente concentrando o poder público esta é um meio para se atingirem objetivos que
na capital do país e que fizeram com que a Área levem a uma melhor governação, a maior efi-
Metropolitana de Lisboa tenha uma dinâmica ciência e a um maior escrutínio e responsabili-
económica muito própria e seja a região mais zação política através de uma maior aproxima-
rica de Portugal e a única com o PIB per capita ção entre cidadãos e decisores políticos.
médio acima da União Europeia a 27 (101,9%).
No outro extremo temos a região Norte como
a região mais pobre do país com apenas 67,3% Descentralizar competências para o poder
do PIB per capita médio da União Europeia e a local
região centro com 67,4%.
Uma descentralização efetiva de competências,
O centralismo do país constata-se ainda funções e atribuições do estado central para
quando se nota a baixa percentagem de o poder local é uma das melhores formas de
despesa pública que se realiza ao nível regional aumentar a eficiência na gestão dos recursos
ou local, muito inferior à média dos restantes públicos, de incrementar a celeridade e a
países da UE. A excessiva centralização e flexibilidade da atuação do poder político.
concentração de poder político, viciado nos seus Mais do que tarefas, devolveremos o poder
próprios instrumentos e incapaz de conceber às pessoas e comunidades, sem no entanto
outros, prejudicou especialmente quem vive no descurar a neutralidade fiscal e a autonomia
interior do país, sabotando as condições para do poder local que terá sempre uma palavra a
o desenvolvimento social e económico dessas dizer neste processo.

C
comunidades. A coesão territorial depende
também da vontade política, da vontade de Acreditamos que os municípios, as comunidades
resistir à tentação centralista de concentrar intermunicipais e as areas metropolitanas
132 todas as entidades públicas e todo o poder de devem ter competências próprias em áreas
como os transportes, a saúde, a educação, a
decisão em Lisboa.
cultura e a gestão do património, sem que para
tal dependam do estado central. Para este
Deslocalizar e desconcentrar o país da capital objetivo, tem de existir um esforço no sentido
de reforçar a autonomia fiscal e financeira
Continuaremos a trazer para cima da mesa a dos municípios e tem de se abrir a discussão
descentralização do país mas também a des- à possibilidade de competição intermunicipal
localização de entidades públicas e a descon- para fixar pessoas e negócios nas diferentes
centração do país e da área metropolitana de partes do território português.
lisboa pelo seu duplo efeito benéfico de aumen-
tar a oferta de edifícios que podem ser trans-
formados e adaptados a fins residenciais e de
reduzir a procura pela capital, incentivada pela
agregação de serviços públicos carentes de re-
cursos humanos no centro da maior cidade do
país. A par destas medidas vamos respeitar o
princípio segundo o qual os novos serviços da

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1.2. Garantir os direitos e Os Liberais foram as vozes mais vocais na defesa
liberdades fundamentais da liberdade de expressão e na correção dos
ataques a ela realizados através dos excessos
Respeitar absolutamente a liberdade inscritos na Carta Portuguesa dos Direitos
de expressão Humanos na Era Digital. O artigo 6º atribui ao
Estado o direito monopolista de atribuição de
A saúde de qualquer regime democrático tem acreditação a plataformas de verificação de
na extensão e no respeito pela liberdade de factos, podendo constituir um risco na mão de
expressão um dos seus sintomas mais notórios. atores políticos mal intencionados.
A liberdade de expressão, entendida no seu
sentido mais amplo, abrange não só a garantia
de que cada indivíduo pode, sem repercussões, Defender ativamente a liberdade de expressão
exteriorizar o conjunto de ideias, convicções ou na praça pública
crenças que possui, sem restrições de terceiros,
mas comporta também o admirável desafio de, Seremos uma voz incansável na defesa
numa sociedade plural, esse mesmo cidadão ativa da liberdade de expressão no meio
aceitar que outrem tenha uma mundividência público, especialmente no espaço político e
completamente oposta e ponha em prática o académico – sendo as universidades e outros
salutar exercício de contraditório. estabelecimentos de ensino espaços nucleares
para a criação de conhecimento que não podem
A liberdade de expressão deve ser absolutamente estar reféns de condicionamentos de discurso
respeitada, salvaguardadas exclusivamente as que não se consubstanciem em ataques à
limitações estritamente necessárias para garantir liberdade individual.
outros direitos constitucionalmente protegidos de

C
ameaças concretas. Assim, a lei protege (e bem) o
direito à integridade física das pessoas, proibindo Apostar no princípio da neutralidade digital do
o uso da palavra para a incitação à violência Estado
contra elas; mas é indefensável, por exemplo,
que a lei restrinja a liberdade de expressão para A Iniciativa Liberal aposta na defesa do princípio
da neutralidade digital do Estado português,
133
punir as ofensas à honra de titulares de cargos
políticos mais severamente do que as ofensas ao combatendo quaisquer determinações de
cidadão comum. Só se consuma se valorizada, condicionamento ou limitação de acesso ou
só se conserva se protegida, só se vivifica se utilização de filtros no acesso a páginas web
exercida. e conteúdos digitais e na prossecução da
defesa dum imprensa física e digital livre de
interferências ou manuseamento tático por
Promover a informação livre e isenta parte dos poderes legislativo, executivo e
judicial.
A manutenção de uma sociedade saudável e
de uma democracia liberal com confiança nas
instituições exige a defesa do direito ao acesso Promover a sociedade aberta e
à informação de forma livre, sem censura prévia tolerante
e com diversidade de fontes – desde órgãos
de comunicação social organizada, instituições Uma sociedade livre, tolerante e assente
públicas e/ou privadas até às mais modernas na diversidade de vivências é nuclear para
formas de comunicação digital descentralizada. o funcionamento duma democracia liberal

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saudável. Acreditamos que há espaço para imigrantes que deram mais de 1600 milhões de
todos dentro duma matriz assente na liberdade euros ao saldo da Segurança Social, num país
individual e no respeito por valores basilares que está cada vez mais envelhecido e com falta
como o da liberdade religiosa e de culto, da de mão-de-obra em muitas atividades.
não-discriminação com base em características
escolhidas e não escolhidas, e da liberdade O governo do partido socialista extinguiu
de expressão. Defendemos que cada vida é irresponsavelmente o Serviço de Estrangeiros
irrepetível e que as liberdades de vária ordem e Fronteiras (SEF), num total desrespeito pelos
devem ser defendidas. trabalhadores, desmantelando a estrutura
de controlo e integração que havia no país
Seremos sempre firmes na defesa da e dando lugar ao caos na regularização dos
individualidade da vivência humana, bem processos. Isto sucedeu no período mais crítico
como na defesa de se associar livremente com de imigração nas últimas décadas. Hoje temos
outros de acordo com objetivos comuns. Os em Portugal redes criminosas que aliciam com
grupos resultam de características e propósitos falsas promessas de contrato de trabalho, até
comuns a indivíduos que são diferentes entre nas redes sociais.
si, não são as vontades colectivas que esgotam
a identidade do indivíduo e se lhe impõem ao Esta política pode trazer problemas de inte-
ponto de anular a sua agência enquanto tal. gração para pessoas que vivem em condições
A identificação com, ou integração em, uma indignas, ficando em casas sobrelotadas e sem
organização deve ser uma opção voluntária de trabalho, ou explorados em trabalhos ilegais.
cada pessoa. O que cada um decide fazer com Esta realidade é preocupante e não deve ser
a sua liberdade é direito e responsabilidade de deixada ao abandono pelos mais moderados
cada um e não objeto de intervenção política. para serem tomadas por impulsos populistas.
Ao contrário do que dizem alguns, o país preci-

C
sa de imigração. Mas ao contrário do que dizem
Tornar a política de imigração mais outros, a imigração tem de ser responsável,
responsável e digna equilibrada e digna.
134 Portugal sempre foi um país de pessoas que
corajosamente partem ou chegam em busca Entrar no país com prova de meios de
de uma vida melhor. A Iniciativa Liberal defende subsistência, de forma a assegurar uma vinda
a liberdade de circulação das pessoas: o direito digna
das pessoas poderem construir uma vida
melhor noutro país, deixando a sua própria terra As alterações à lei da imigração implementados
onde, no caso de muitos, há pouca liberdade, pelo Governo do Partido Socialista passaram a
escassas oportunidades e muita pobreza. permitir a entrada de um cidadão estrangeiro
em Portugal mesmo sem a prova de que possui
Por princípio, a Iniciativa Liberal não aceita um os meios de subsistência necessários para
país de portas fechadas, mas também não a sua estadia, passando a ser permitida a
aceita uma gestão desregrada das entradas substituição da prova de meios de subsistência
no país, sem reconhecimento legal, proteção pela apresentação de um mero termo de
de direitos humanos, capacidade de integração responsabilidade.
e de assegurar o respeito pelo Estado de
Direito. Os imigrantes fazem falta à economia Note-se que, de acordo com as estatísticas
portuguesa. Foram as contribuições dos do Eurostat, no ano de 2022, um total de

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0 (zero) pessoas viram a sua entrada ser do Bloco de Esquerda. No entanto, já na altura
recusada em território nacional por não terem da sua submissão, esta alteração legislativa foi
meios suficientes. Este deve ser um requisito sujeita a parecer negativo do SEF devido ao
real, que salvaguarde a estadia dos cidadãos facto de esta lei tornar mais difícil a verificação
estrangeiros em território nacional, ao invés dos meios de subsistência necessários para
de uma pura formalidade, como atualmente viver em Portugal.
sucede.
A possibilidade de entrada através de uma
Deve-se sublinhar também o crescimento mera promessa de contrato de trabalho
preocupante do número de pessoas sem- também desprotege o indivíduo que entra
abrigo de origem estrangeira em Portugal, em Portugal. A Iniciativa Liberal irá propor
verificando-se, de acordo com a Lusa, um o regresso ao regime anterior de modo a
crescimento de 25% de imigrantes sem- assegurar uma imigração em condições dignas,
abrigo na área de Lisboa, o que revela uma promovendo-se paralelamente a reforma do
necessidade premente de reajustamento das processo de emissão de vistos através dos
condições de acesso ao território nacional na serviços consulares, tornando-os mais céleres,
prova de meios de subsistência. prevenindo-se assim, a montante, o recurso a
expedientes ilegais para a entrada em território
Defendemos, por isso, que a entrada em nacional.
Portugal deverá ser necessariamente precedida
da prova, por parte do cidadão requerente, de
meios de subsistência, tal como se encontrava Emitir vistos humanitários para refugiados
na lei anterior, sendo que, caso não os tenha, através dos serviços consulares
deve ser a empresa contratante a garantir as
necessidades de alimentação e alojamento Portugal deve acolher os indivíduos que, de

C
do requerente, de forma a evitar situações de acordo com a Convenção de Genebra, estejam
vulnerabilidade social por parte dos cidadãos a fugir da guerra, de perigos graves ou de
estrangeiros que entrem em território nacional. perseguição e que requeiram asilo no nosso
país. Para esse efeito, os serviços consulares
deverão fazer uso da informação de que
135
Autorizar a residência com contrato de dispõem quanto a eventuais conflitos étnicos,
trabalho militares ou de outra ordem que se verifiquem
na respectiva região, emitindo, para os
A Iniciativa Liberal defende que, tal como se indivíduos afetados que o requeiram, vistos por
encontrava consagrado na lei anteriormente motivos humanitários.
vigente, as autorizações de residência
devem basear-se em contratos de trabalho Desta forma, os requerentes de asilo não terão
previamente celebrados ou através de um visto de se deslocar a território nacional, com todos
de procura de trabalho. os riscos que tal deslocação acarreta, podendo
antes proceder ao requerimento de asilo na
Uma das alterações à Lei da imigração, efetuada embaixada portuguesa do seu país de origem
durante o período da “Geringonça”, consistiu ou junto do país vizinho. A possibilidade de
na possibilidade de emissão de autorizações emissão de vistos por motivos humanitários
de residência através de uma mera promessa encontra-se em linha com as recomendações
de contrato de trabalho.. Esta possibilidade foi do Parlamento Europeu (Resolução de 12 de
introduzida através de uma proposta legislativa abril de 2016) e com as decisões do Tribunal de

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Justiça da União Europeia, concretamente, com Esta opção legislativa propicia também os fe-
o processo C-638/16 PPU X e X contra Estado nómenos de exploração laboral dos cidadãos
belga, segundo o qual os Estados-Membros estrangeiros e da criminalidade conexa, ao fo-
são livres de conceder um visto humanitário a mentar o trabalho dos cidadãos estrangeiros
pessoas que pretendam entrar no seu território que se encontrem em situação ilegal em Portu-
com vista a solicitar asilo, através das suas gal e que se encontram em situação vulnerável.
embaixadas ou consulados, com base no seu
direito nacional. Entendemos por isso que a lei deve ser alterada
com a eliminação desta possibilidade de
regularização após entrada ilegal em Portugal.
Auxiliar o retorno voluntário Esta medida visa assegurar que os processos
de regularização não acabam por constituir um
A ida para um país estrangeiro é um ato de expediente corrente e sistemático que incentiva
coragem, de procura de uma vida melhor para si o incumprimento das regras de entrada e
e para os seus, mas que acarreta também riscos. permanência.
De acordo com a Organização Internacional
para as Migrações, tem-se verificado um
aumento no grau de vulnerabilidade dos
cidadãos estrangeiros que entram em território Defender a privacidade na era digital
nacional, e que muitas vezes não possuem
meios para regressar ao seu país de origem. Vivemos num mundo cada vez mais digital. O
Neste sentido, defendemos um reforço dos desenvolvimento recente de tecnologias de
apoios para o retorno voluntário de cidadãos inteligência artificial veio colocar novamente
estrangeiros para o seu país de origem, através na agenda o tratamento de dados de forma
do reforço do protocolo governamental com a maciça, nomeadamente de dados pessoais. Por

C
Organização Internacional para as Migrações. isso nunca foi tão importante garantir direitos e
liberdades fundamentais, incluindo o direito à
proteção de dados pessoais.
136 Eliminar o regime de regularização
permantente
Resistir ao uso excessivo de videovigilância
Através de uma alteração legislativa ocorrida
em 2019, que teve como origem diplomas do É conhecido – e cada vez mais frequente –
PCP, BE e PAN, ficou consagrado na lei nacional o confronto entre princípios de liberdade
que as autorizações de residência poderiam individual e segurança. Neste dilema, a
ser conferidas, independentemente da entrada Iniciativa Liberal entende que a liberdade não
ilegal no país, ao cidadão estrangeiro que se deve ceder de forma desproporcional em nome
encontrasse a trabalhar e com descontos para de segurança – opondo-se a visões securitárias
a Segurança Social durante o prazo mínimo de da hipervigilância do espaço público. O direito
um ano. à privacidade de cada indivíduo estende-se,
em certa medida, ao espaço público, devendo
Esta política de regularização após entrada ile- ser respeitado até ao limite da intervenção
gal constitui um flagrante incentivo à imigração estritamente necessária.
ilegal, permitindo a regularização do cidadão
estrangeiro que não tenha seguido os trâmites Neste sentido, opomo-nos à instalação mas-
devidos para a sua entrada no país. siva, irregular e/ou desproporcionada de sis-

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temas de videovigilância do espaço público, legislador, nomeadamente, os seus poderes de
nomeadamente aqueles que possam ser uti- intervenção em julgamento e o tribunal compe-
lizados com o objetivo de recolher dados bio- tente para dirimir os respetivos julgamentos, de
métricos em massa, de forma contínua e des- forma a evitar a prescrição de coimas já aplica-
proporcionada, por exemplo fazendo uso de das pela CNPD, como é o caso da coima apli-
tecnologias de inteligência artificial. cada à Câmara Municipal de Lisboa decorrente
do caso “Russiagate”. Este caso teve repercus-
sões a nível nacional e internacional, e consistiu
Criar um ecossistema digital seguro na no envio, por parte da Câmara de Lisboa presi-
Administração Pública dida por Fernando Medina, dos dados pessoais
de manifestantes anti-Putin às autoridades es-
Nas últimas décadas assistimos à digitalização tatais da Federação Russa.
crescente da Administração Pública e de vários
dos seus serviços. Porém, este processo deve
ser acompanhado de garantias robustas Promover a literacia digital
de proteção dos direitos e liberdades,
especialmente na segurança e proteção Para garantir uma utilização segura dos meios
dos dados pessoais. Além disto, devem ser digitais de comunicação por todos os cidadãos
criados e criando regulamentos éticos sobre o e em todas as faixas etárias, é essencial a
uso de dados na Administração Pública, com existência de campanhas de sensibilização
penalizações disciplinares específicas pelo e formação para a literacia digital, com foco
acesso indevido a dados pessoais dos cidadãos. nos cidadãos infoexcluídos e que podem ser
facilmente alvo de burlas de diverso tipo.
Procuramos, assim, a criação dum ecossistema Adicionalmente, no ensino obrigatório deve
digital seguro na Administração Pública, estar garantida educação básica para a

C
reforçando a encriptação e segurança de segurança e privacidade na era digital, p.e.
dados pessoais dos cidadãos, e garantindo a no âmbito das Tecnologias de Informação e
rastreabilidade dos acessos a dados pessoais Comunicação e de Cidadania.
por parte de trabalhadores do setor público, se
necessário revendo o Regulamento Nacional de
137
Interoperacionalidade Digital em vigor.

Liberalizar a canábis
Assegurar os meios necessários para a
proteção de dados A Iniciativa Liberal permanece firme no seu
compromisso de promover a liberalização da
Tem de se garantir a existência dos meios canábis em Portugal. Para isso, procurará,
necessários para o funcionamento corrente na próxima legislatura, construir um amplo
da Comissão Nacional de Proteção de Dados consenso político que conduza à legalização
(CNPD) enquanto entidade estatal responsável da produção e venda de canábis e produtos
pela segurança digital e cumprimento das que contenham canábis. A nossa visão
determinações constantes no Regulamento relativamente a este processo prende-se com
Geral de Proteção de Dados. a defesa de um mercado aberto e capaz de
suplantar o mercado ilícito, bem regulado para
Neste sentido, entendemos que o enquadra- que sejam respeitados os limites de potência e
mento legal da CNPD deve ser clarificado pelo adulterações nocivas, e sustentado no princípio

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da escolha informada, assegurando que os • Imposto municipal sobre imóveis, sobre o
utilizadores têm a máxima informação sobre os valor tributável dos imóveis ou de parte de
produtos que estão a comprar. imóveis de sua propriedade e destinados à
sua atividade;
A legalização da canábis permanece, para a • Demais impostos sobre o património previstos
Iniciativa Liberal, uma questão de liberdade, na Constituição;
que se prende com as escolhas de adultos • Imposto automóvel nos veículos que adquiram
informados acerca das quais nada podemos para a sua atividade;
dizer, desde que não prejudiquem a liberdade • Imposto sobre o valor acrescentado na
de outros. À questão da liberdade soma-se o aquisição e transmissão de bens e serviços
combate ao mercado ilícito das drogas, que que visem difundir a sua mensagem política
já causou suficiente sofrimento e destruição ou identidade própria, através de quaisquer
ao longo de décadas de proibicionismo. E suportes, impressos, audiovisuais ou
continuamos certos de que a saúde pública será multimédia, incluindo os usados como material
mais protegida o quanto mais os consumidores de propaganda e meios de comunicação e
estiverem informados sobre a planta, de se e transporte, sendo a isenção efetivada através
quando não a devem utilizá-la, e sobre os seus do exercício do direito à restituição do imposto;
reais efeitos nas pessoas. O uso de canábis já • Imposto sobre o valor acrescentado nas
existe na nossa sociedade: resta-nos assegurar transmissões de bens e serviços em iniciativas
que este é informado, responsável e seguro. especiais de angariação de fundos em seu
proveito exclusivo, desde que esta isenção não
provoque distorções de concorrência.
1.3. Restaurar a confiança nas
instituições A Iniciativa Liberal voltará também a propor
o fim da isenção de taxas de justiça e custas

C
Eliminar benefícios fiscais dos partidos judiciais para os partidos políticos, bem como a
políticos simplificação das normas referentes às contas
das campanhas eleitorais.
138 A Iniciativa Liberal defende a eliminação de todos
os benefícios fiscais concedidos aos partidos, à
exceção da isenção do pagamento de IRC. Os Reduzir a subvenção pública dos partidos
partidos beneficiam de isenções e subvenções políticos
que são, aos olhos de qualquer eleitor exigente,
desproporcionais e injustificáveis, mesmo A Iniciativa Liberal propõe uma redução de
considerando que o funcionamento do sistema cerca de 40% no valor atual da subvenção
democrático tem custos e que a democracia pública para financiamento dos partidos
representativa não se materializa sem partidos. políticos, continuando esta a ser atribuída em
Neste sentido, propomos eliminar as isenções função do número de votos obtidos por cada
de: partido/coligação nas últimas eleições para a
Assembleia da República.
• Imposto do selo;
• Imposto sobre sucessões e doações;
• Imposto municipal sobre as transmissões
onerosas de imóveis, pela aquisição de imóveis
destinados à sua atividade própria e pelas
transmissões resultantes de fusão ou cisão;

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Atribuir igualmente o valor de subvenção de Fomentar a transparência e promover o
campanha aos partidos escrutínio

A Iniciativa Liberal propõe a redução do valor A Iniciativa Liberal é irredutível na batalha por
da subvenção de campanha, e que esta seja um regime mais aberto e mais transparente.
atribuída em igual montante a cada um dos Porém, excessos normativos, impedimentos
partidos que se candidatam a diferentes e incompatibilidades desproporcionais, bem
órgãos de poder. Se o objetivo da subvenção de como um clima político e social justicialista
campanha é garantir algum nível de igualdade e voyeurista afastam pessoas com saber e
de meios de campanha, limitar a subvenção experiência do desempenho de cargos públicos.
aos partidos que elejam representantes É, sobretudo, no domínio da fiscalização que
contraria esse princípio. O Estado atualmente residem grande parte dos problemas, pelo que
atribui as subvenções sobretudo com base a Iniciativa Liberal propõe:
na representação conseguida pelos partidos,
beneficiando os maiores partidos e os que • Que a Entidade para a Transparência, criada
já fazem parte do sistema. Neste sentido, a pela Assembleia da República em 2019 e
Iniciativa Liberal pretende que as subvenções que visa fiscalizar as declarações únicas de
de campanha: rendimentos, património e interesses dos
titulares de cargos políticos e altos cargos
• Vejam os seus valores totais reduzidos para públicos, comece efetivamente a funcionar,
um décimo do que hoje se verifica para dotando-a de meios humanos e materiais.
eleições presidenciais, legislativas, europeias e • Que Entidade das Contas e Financiamentos
legislativas regionais; Políticos (ECFP), órgão independente que
• Sejam atribuídas em igual montante a cada funciona junto do Tribunal Constitucional
um dos partidos que cumulativamente: (TC), que tem como atribuição a apreciação

C
>
Concorram a, pelo menos, metade dos e fiscalização das contas dos partidos
círculos eleitorais; políticos e das campanhas eleitorais para
>
Concorram a círculos eleitorais que Presidente da República, para a Assembleia
correspondam a, pelo menos, 51 por
cento dos mandatos para a Assembleia
da República, para o Parlamento Europeu,
para as assembleias legislativas das regiões
139
da República ou para as assembleias autónomas e para as autarquias, seja dotada
legislativas regionais. de meios para poder desenvolver de forma
eficiente a sua atividade.
• A regulamentação da atividade de lobbying.
Esta proposta não implica a necessidade de A Iniciativa Liberal defende que as entidades
recorrer a mais financiamento privado, o qual consideradas lobistas que pretendam
permanece sujeito a limitações que merecem exercer atividade de representação de
a concordância da Iniciativa Liberal. Assume, interesses ou grupo de interesses junto de
sim, a imperiosa necessidade de os partidos entidades que exercem poderes públicos
serem mais frugais, procurarem maior eficácia se devem obrigatoriamente inscrever no
no planeamento e realização das campanhas, Registo de Transparência de Representação
respeitando dessa forma o dinheiro dos de Interesses ou Grupos de Interesses.
contribuintes. Além disso, os projetos e propostas de lei
submetidos à Assembleia da República devem
passar a ser acompanhados de um formulário
que identifique todas as atividades de caráter

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lobista subjacentes ao processo legislativo, ser facultativo) à Comissão Nacional de Eleições,
sob pena de rejeição automática do diploma cuja página de internet deve disponibilizar para
em causa. consulta dos cidadãos.
• A implementação de mecanismos ex ante
de verificação da idoneidade de potenciais
membros do Governo. Ao invés de uma Garantir entidades reguladoras
abordagem somente reativa, pela via da verdadeiramente independentes
responsabilização política de atos não raras
vezes anteriores à assunção de funções É necessária uma profunda reforma da
públicas, deve institucionalizar-se a verificação regulação da atividade económica para
prévia (designada internacionalmente por garantir um mercado aberto e concorrencial,
vetting ou integrity screening). sem privilégios ou tratamentos de exceção de
• Garantir que as sessões e reuniões de um agente ou conjunto de agentes em qualquer
realização pública obrigatória dos órgãos das setor. Para assegurar que existe verdadeira
autarquias locais são gravadas, colocadas liberdade de iniciativa e de concorrência, a
online nos sites dos municípios, podendo Iniciativa Liberal entende que as entidades
ainda ser transmitidas em direto através da reguladoras e as respetivas administrações não
internet. Além disso, os órgãos representativos carecem apenas de independência face aos
dos municípios devem assegurar condições regulados, mas também face ao poder político,
para que os cidadãos possam intervir por via o qual é responsável pelas suas nomeações,
telemática. apresentando as seguintes medidas:

Disponibilizar programas políticos para Selecionar os órgãos dos reguladores com


escrutínio público base em concurso internacional

C A Iniciativa Liberal quer que os portugueses


tenham condições para escrutinar a ação
A Iniciativa Liberal propõe que os membros
dos órgãos de administração e fiscalização das
140 política dos diferentes partidos ou movimentos,
tendo a possibilidade de consultar o que foi
entidades reguladoras independentes passem
a ser selecionados após concurso internacional
proposto por cada um nos atos eleitorais conduzido pela Comissão de Recrutamento
aos quais concorreu. Atualmente não é fácil e Seleção para a Administração Pública
encontrar o programa eleitoral de mandatos (CReSAP), com um perfil de competências
em curso ou mandatos recentes, o que dificulta elaborado em articulação com a entidade
a avaliação do mandato por parte dos eleitores. reguladora em causa. Os membros dos órgãos
Para assegurar a possibilidade de escrutínio da de administração e fiscalização continuam
ação de cada partido no poder, propomos a a ser designados por resolução do Conselho
agregação dos projetos políticos programáticos de Ministros, após audição e parecer da
numa plataforma comum. Neste sentido, Assembleia da República.
deverá ser estudada uma alteração ao quadro
legal aplicável aos atos eleitorais prevendo a
submissão obrigatória do programa político Prevenir conflitos de interesses e garantir
a cada ato eleitoral de base nacional (com autonomia face aos governos
exceção das Eleições Presidenciais), assim como
nas Eleições Autárquicas (exceto nas referentes A profusão de situações dúbias e as transições
às Assembleias de Freguesia, nas quais deverá diretas de personalidades do poder executivo

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para organismos de regulação podem gerar regulatório, devem ser identificados, de forma
fundadas dúvidas sobre a efetiva autonomia clara, os objetivos, as vantagens, os riscos
dessas pessoas e, acima de tudo, dos próprios e os custos associados a uma determinada
organismos. Assim, a Iniciativa Liberal defende opção. Ao abrigo da mesma lógica, deverá
a introdução de um requisito de independência ser especificado, por lei, que a escolha de um
face a quem nomeia e de prevenção e determinado instrumento regulatório deve
mitigação de conflitos de interesses de quem ser sustentada numa lógica de avaliação de
é nomeado aquando da seleção de membros proporcionalidade, sendo especificadas a sua
dos órgãos para as entidades reguladoras adequação, a sua necessidade e feita uma
independentes, bem como estabelecer um análise sobre se os custos ultrapassam ou
regime de incompatibilidade com o exercício não os benefícios do instrumento adotado,
prévio de funções governativas ou legislativas, potenciando a utilização de instrumentos de
prevendo, desde logo, um período de nojo entre cariz não-vinculativo e estudando a utilização
as duas funções. de contratos regulatórios.

Promover a autonomia financeira dos Promover a concorrência, sustentabilidade e


reguladores transparência da comunicação social

A autonomia funcional dos reguladores decorre, A Iniciativa Liberal é intransigente na


em grande medida, da sua independência defesa das liberdades de informar e de ser
financeira. Sobre o Estado impende, pois, a informado, pelo que advoga reformas urgentes
responsabilidade de não aumentar a pressão para salvaguardar a sustentabilidade e a
económica sobre essas entidades, sendo independência das empresas do setor dos
necessário proibir pela via legal a cativação media. Uma comunicação social saudável é,

C
de verbas resultantes de receitas próprias das simultaneamente, causa e consequência de
entidades reguladoras e eliminar a sujeição a uma democracia melhor. Rever os estatutos
autorização prévia do Governo dos contratos da Entidade Reguladora para a Comunicação
e da realização de despesas destas entidades,
estabelecendo uma verdadeira autonomia na
Social (ERC), despolitizando os órgãos que a
compõem. Desde logo, o Conselho Regulador,
141
gestão de pessoal das entidades reguladoras. que, à semelhança do que se propõe para as
demais entidades reguladoras, passaria a ser
selecionado após concurso internacional aberto
Simplificar ações e clarificar objetivos e custos (o que implicaria uma alteração cirúrgica à
associados Constituição), conduzido pela Comissão de
Recrutamento e Seleção para a Administração
Qualquer interferência de uma entidade Pública (CReSAP) e os seus membros sujeitos a
reguladora tem um impacto sobre os diversos audições prévias na Assembleia da República.
agentes económicos do respetivo setor
e, não raras vezes, também sobre outros •
Tornar mais transparente a titularidade, a
setores e outros atores económicos e sociais. gestão e os meios de financiamento das
Por conseguinte, e para que as decisões empresas de media. Na prática, propõe-se que
das entidades reguladoras não surjam todas as participações – não só as qualificadas
fragilizadas ab initio, deve ser transparente e no capital ou no que respeita a direitos de
escrutinável que, quando qualquer organismo voto – tenham de ser objeto de comunicação à
de regulação efetua uma análise de impacto ERC e passíveis de publicação para escrutínio

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democrático. Em caso de incumprimento, o Extinguir o dia de reflexão que antecede
regulador poderá determinar a suspensão eleições
do direito de publicação/emissão dos títulos
detidos pela sociedade infratora. Extinguir o dia de reflexão em eleições
• Democratizar o acesso e o exercício da presidenciais, legislativas, autárquicas,
profissão de jornalista, retirando à Comissão legislativas regionais dos Açores e da Madeira
da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ) e europeias, bem como em referendos de
as prerrogativas de atribuição, renovação, âmbito nacional e local, pondo fim a um
suspensão ou cassação dos títulos de conjunto de inibições e restrições quer para
acreditação profissional dos jornalistas, as candidaturas, quer para os órgãos de
equiparados a jornalistas, correspondentes e comunicação social (nas diversas plataformas
colaboradores da área informativa dos órgãos em que operem). A norma em vigor viola o
de comunicação social. Essas atribuições princípio da igualdade, tornando-se ainda
passariam para a esfera da ERC. mais obsoleta quando milhares de eleitores
• Iniciar um processo de privatização da RTP, optam pelo voto antecipado, seja por
S.A., com os seguintes pressupostos: correspondência, seja presencial.
> Criar a possibilidade de ser vendida como
um todo ou em partes;
> Definição de um caderno de encargos que
assegure os critérios de serviço público a
serem definidos de forma objetiva e clara;
> A produção de conteúdos de serviço público
será atribuída por concurso a qualquer
operador que preencha os requisitos do
caderno de encargos;

C
> Abertura de um concurso para a
conservação e gestão do arquivo RTP,
mantendo o Estado a sua propriedade e
142 aplicando na sua gestão e manutenção
as receitas provenientes da sua utilização
comercial.
• Aumentar a dedução à coleta de IRS das
despesas com a compra de jornais/revistas
ou com a subscrição de assinaturas mensais
ou anuais de jornais ou revistas (digitais ou
em papel), equiparando-a à que vigora para
manuais e livros escolares.
• Promover novas formas de financiamento,
através de incentivos fiscais, instituindo
um modelo de mecenato especialmente
vocacionado para a comunicação social,
criando uma rede certificada de filantropos
individuais ou corporativos e estimulando
o crowdfunding para financiamento de
jornalismo de investigação.

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2. JUSTIÇA EFICAZ E DE CONFIANÇA

A justiça é uma função nuclear do Estado, sendo dias do resto dos países do Conselho da Europa.
um dos pilares essenciais de um Estado de Direito Pior só em segunda instância, onde os Tribunais
democrático sem o qual não é possível assegurar Centrais Administrativos necessitam de uma
os direitos, liberdades e garantias de cidadãos e média de 877 dias para concluir um processo,
empresas. A proteção de direitos fundamentais, contra a média de 253 dias dos restantes países.
da liberdade individual, da liberdade política
e da liberdade económica necessita de um A justiça e a realização da justiça é também uma
sistema judicial eficaz, célere, independente, questão de percepção da sociedade e a rápida
transparente, escrutinável, credível, acessível e administração da justiça deve ser uma prioridade
sustentável a longo prazo. para não descredibilizar as instituições.

Para colocar Portugal a crescer é imprescindível É assim imperativo reduzir os prazos médios de
ter uma justiça com estas características, que não decisão na jurisdição administrativa e fiscal e
seja um entrave ao desenvolvimento económico alinhá-los com aqueles que são os prazos médios
e que contribua como um incentivo positivo com dos restantes países com que Portugal concorre.
impacto direto na captação de investimento, seja Até 2028, Portugal terá de ter este desígnio e

C
ele nacional ou estrangeiro. A justiça deve assim alinhamento como meta para o sistema judicial.
representar uma das facetas da competitividade
económica, necessária para o desenvolvimento Para reduzir estes números avassaladores é
do país. Para crescer, Portugal precisa de uma
justiça rápida, acessível e eficaz.
necessário reduzir a litigância administrativa
e fiscal, é necessário formar continuamente a
143
administração pública, seja ela direta, indireta ou
autónoma para evitar que erros procedimentais
2.1. Tornar a justiça célere e e legais se convertam em processos judiciais
eficaz morosos e complexos porque, tal como dissemos
anteriormente, a melhor política é aquela que
Quando o tema são os litígios judiciais que procura evitar o litígio judicial.
envolvem o Estado, Portugal é neste momento
um dos países do Conselho da Europa com piores Contudo, até se liberalizar a sociedade portu-
indicadores no que toca a prazos de resolução guesa é necessário dar resposta àqueles que são
de processos que deem entrada na jurisdição os problemas atuais de pendências nos tribunais
administrativa e fiscal. e as soluções já existem, tem é de ser aproveita-
das, otimizadas e deixar para trás preconceitos
Se analisarmos os dados relativos à primeira que não aportam valor na resolução de proble-
instância verificamos que em Portugal são mas.
necessários cerca de 847 dias para que um
processo se conclua, contra uma média de 358

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Recorrer à arbitragem administrativa como litígios, incluindo uma reponderação do papel
opção em processos não resolvidos em tempo do Ministério Público na arbitragem.
útil
Em particular, vinte anos depois da entrada
A arbitragem deve ser colocada como uma em vigor do Código de Processo nos Tribunais
prioridade na resposta a dar ao atual número Administrativos, consideramos que chegou o
de pendências da jurisdição administrativa e momento de se aprovar a lei a que se refere o
fiscal. Os tribunais arbitrais constituem uma artigo 182.º deste diploma, definindo os casos
alternativa aos tribunais estaduais, em que o e termos em que os cidadãos poderão exigir
processo seguido é mais simples e mais flexível, da Administração Pública a celebração de
podendo ser adequado especificamente ao convenção de arbitragem para a resolução de
caso em concreto, sendo sempre necessário litígios jurídico-administrativos.
assegurar igualdade de armas e equidade.
No domínio do contencioso contratual e pré-
Propomos a criação de um regime de contratual, impõe-se também uma reflexão
incentivos processuais e financeiros ao recurso sobre o regime da arbitragem previsto no
à arbitragem quando um processo que se Código dos Contratos Públicos, tendo em
encontre na primeira instância administrativa vista incrementar o recurso a tribunal arbitral
e fiscal não é decidido em tempo útil, dando para a resolução de litígios emergentes de
a possibilidade às partes de recorrerem procedimentos de formação de contratos
potestativamente aos tribunais arbitrais públicos ou dos próprios contratos, o que
quando existe uma inação e uma falta de igualmente contribuirá para desagravar a
resposta dos tribunais estaduais. pendência nos tribunais estaduais. Sendo este
um domínio privilegiado de intervenção da
No entanto, a arbitragem não deve ser encarada justiça arbitral, importa torná-la mais operativa

C
apenas como uma resposta ao atraso crónico e atrativa para as partes.Ainda no que
da justiça estadual, importando reconhecer a concerne à arbitragem, é um ponto primordial
sua importância, pelos seus méritos próprios, que se faça a correta divulgação deste meio de
144 como um modo de exercício da liberdade dos
cidadãos para se organizarem entre si e com a
resolução alternativa de litígios, assegurando
que os portugueses conhecem todos os seus
Administração Pública no domínio da resolução direitos e como os exercer.
jurisdicional de litígios.

Neste contexto, tendo em vista reforçar a Juízo de competência especializada em direito


confiança dos cidadãos na arbitragem e, bem dos estrangeiros
assim, promover o recurso a tribunal arbitral
no domínio dos litígios que envolvam entidades Ainda na jurisdição administrativa um dos
públicas, propomos a criação de uma lei para problemas que se tem verificado prende-se
a arbitragem administrativa, a exemplo do que com o aumento da pressão migratória e a
sucede com a arbitragem tributária, que, entre incapacidade das entidades administrativas
o mais, assegure a imparcialidade e a qualidade em dar resposta a estas pessoas que, assim, se
dos árbitros administrativos, promova a veem obrigadas a recorrer aos tribunais para
criação de novos centros de arbitragem efetivar os seus direitos.
institucionalizada em matéria administrativa e
introduza mecanismos de controlo, publicidade O exercício destes direitos deve ser expedito
e transparência adequados a este tipo de e, dada a sua complexidade jurídica, social e

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não raras vezes familiar, a Iniciativa Liberal identificadas como a modificação do efeito
propõe a criação de um Juízo de Competência suspensivo dos recursos para o Tribunal
Especializada que se dedique em exclusivo Constitucional. Assim podemos abordar um
a processos relacionados com o direito dos problema identificado pelo sistema judicial que
estrangeiros. se traduz na utilização destes recursos como
expediente meramente dilatório, comprovada
por uma taxa de rejeição liminar destes recursos
Concretizar a criação dos juízos de superior a 90%, ou seja, estes recursos nem
competência especializada em matérias de chegam a ser apreciados.
urbanismo, ambiente e ordenamento do
território
Repensar a fase de instrução
A especialização judiciária tem sido uma das
soluções apontadas para resolver a morosidade Os processos penais em Portugal são demasiado
dos processos administrativos, tendo inclusive morosos, mais ainda se nos referirmos aos
sido um dos compromissos assumidos em sede de conhecidos mega processos. Por isso, , a Iniciativa
PRR para os Tribunais Centrais Administrativos. Liberal levará em linha de conta as conclusões do
Grupo de Trabalho criado no âmbito do Conselho
Como tal, é incompreensível que ainda não esteja Superior da Magistratura (CSM) para estudar
concretizada a criação dos juízos de competência e encontrar respostas para os problemas
especializada em matérias de urbanismo, associados aos denominados mega processos
ambiente e ordenamento do território uma vez judiciais. O Grupo de Trabalho apresentará as
que estes já se encontram previstos no Estatuto suas conclusões até ao final do ano de 2024 e
dos Tribunais Administrativos e Fiscais. estaremos atentos, entre outros, à promessa
de eventuais propostas de alteração à fase de

C
A criação destes juízos tornará muito mais instrução criminal, uma vez que esta é uma fase
célere a resolução de litígios, graças à escala e processual que necessita ser ajustada no âmbito
conhecimentos adquiridos por todos os atores do processo penal, para que não se torne mais
judiciários, incluindo juízes e oficiais de justiça.
Estes são especialmente fundamentais dado
um expediente dilatório ou um pré-julgamento. 145
a enorme incapacidade do Estado em gerir
processos no urbanismo e no ambiente, pelo que Racionalização dos meios e princípio de
a sua aceleração é urgente. oportunidade

A maior eficácia do sistema judiciário,


Modificar o efeito suspensivo dos recursos designadamente em matéria penal, exige uma
para o Tribunal Constitucional maior eficiência na gestão dos recursos públicos
que lhe estão adstritos. Neste contexto, para
Para um sistema judicial ser eficaz é necessário além da promoção do recurso à arbitragem
que não se torne num labirinto de procedimentos em matéria civil, comercial e administrativa,
que visam apenas atrasar o andamento do devem ser estudados outros mecanismos que
processo, a efetivação de uma decisão ou o possibilitem uma utilização mais eficiente dos
cumprimento de uma pena de prisão. recursos, incluindo a introdução de mecanismos
de oportunidade em processo penal, sobretudo
A identificação e a correção de abusos é um no domínio das designadas “bagatelas penais”,
trabalho permanente mas que tem soluções a promoção da utilização dos mecanismos

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processuais alternativos à dedução de de resposta superior. Desta maneira, evitamos
acusação em processo penal e a promoção da a sobrecarga dos tribunais com demasiados
mediação civil, comercial, penal e administrativa, processos e pendências, aproveitando de forma
fomentando uma nova cultura de resolução mais eficiente os recursos de todo o sistema
amigável de conflitos. judicial, reduzindo assimetrias e aumentado a
capacidade e a celeridade da justiça

Alterar as regras de competência territorial


Prazos globais para a conclusão dos processos
Para otimizar toda a capacidade do sistema
judiciário, a Iniciativa Liberal propõe a criação de Com exceção dos processos aos quais seja
um regime de exceção às regras da competência atribuído caráter de especial complexidade,
territorial para os casos que, pela sua natureza deverá ser introduzida uma métrica de prazo
e circunstâncias, possam ser tramitados numa global para a conclusão dos processos. Ao invés
comarca diferente da que corresponderia ao dos prazos interlocutórios que não reduzem,
respetivo objeto. necessariamente, o prazo total de tramitação
e conclusão de um processo, deverão ser
Através da criação de um sistema de distribuição introduzidos prazos globais contados desde a
automática, que atribui o processo ao tribunal entrada do processo até ao seu encerramento.
que tenha o menor número de processos
pendentes e com um prazo de conclusão mais Ainda que não seja possível aplicar efeitos
curto, independentemente da sua localização, é que não indicativos, poderão ser considerados
possível uma gestão dos recursos judiciais mais para efeitos de avaliação, para reafectação
eficiente e melhorar significativamente o tempo de recursos, e no âmbito de um sistema de
de conclusão dos processos. incentivos que premeie o tempo de conclusão

C
dos processos, aumentado a expetativa e a
Este sistema não se poderá aplicar a áreas da confiança dos cidadãos na justiça.
justiça como família e menores, ou a causas em
146 que a proximidade do tribunal à localização do
objeto ou das partes seja fundamental. Também
A existência destes prazos permitirá um maior
controlo sistemático do seu cumprimento, tendo
terá de ser sempre possível aos intervenientes em vista a deteção de desvios significativos e
processuais requerer o caráter presencial das medidas a implementar para a sua correção.
diligências ou usar o tribunal da sua comarca
para a realização da diligência à distância. Assim
como os foros convencionados entre as partes Reforço da oralidade, simplificação e clareza
terão de ser sempre respeitados. No entanto, da linguagem processual
para processos dos tribunais administrativos
ou, por exemplo, para ações de cumprimento de Deverão ser adoptadas medidas que contribuam
obrigações pecuniárias, será possível recorrer a para a diminuição da prolixidade das decisões
este mecanismo que utilizará mais eficientemente judiciais, criando incentivos para a sua clareza,
os recursos já existentes. objectividade, e perceptividade pública do seu
racional. A excessiva extensão e complexidade
As tecnologias já disponíveis permitem a das decisões judiciais contribui para uma imagem
realização de audiências e outras diligências de de opacidade na justiça e para uma maior
forma virtual, possibilitando assim a atribuição de dificuldade de escrutínio das decisões.
processos a tribunais com uma disponibilidade

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Por outro lado, devem ser adotadas medidas que Assegurar a criação de um novo pólo do centro
assegurem a concisão das peças processuais. de estudos judiciários no norte
A menor dimensão das peças processuais
promoverá também a celeridade processual, Para isto é fulcral garantir que a promessa
contribuindo para uma melhor percepção pública de criar um polo de formação do Centro de
do funcionamento da justiça, em particular Estudos Judiciários a norte, em Vila do Conde,
no que diz respeito a processos de grande vai mesmo ser cumprida, dando assim resposta
sensibilidade social. A capacidade de síntese e a a um dos problemas identificados na fase de
necessidade de se priorizar a substância sobre a formação dos magistrados que se prende com a
forma são também duas dimensões relevantes deslocação para Lisboa, com todos os elevados
que fundamentam esta necessidade. Estas custos que tal acarreta e cujo valor da bolsa de
duas preocupações estão na base do estilo de formação é insuficiente para compensar. Será
decisões de instâncias internacionais, como o importante que este polo se revele totalmente
Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. funcional e dispense em absoluto a dependência
de deslocações dos formandos à capital, numa
Deve ser estudada a possibilidade de se avançar ótica de verdadeira descentralização.
com um modelo experimental de tramitação
processual simplificada assente na oralidade
como forma preferencial de intervenção dos Permitir ingresso direto na magistratura a
diferentes sujeitos processuais, alterando o juristas de mérito reconhecido
paradigma atual neste domínio, e reservando
para o juiz um papel ativo na gestão do processo. Por outro lado, para além da via profissional de
ingresso na magistratura atualmente existente,
deve ser aberta a possibilidade de ingresso
Tornar a justiça sustentável direto na magistratura, em posição de carreira

C
compatível com a respetiva experiência e
Os últimos anos têm sido marcados por habilitações, a juristas de mérito reconhecido,
um decréscimo significativo no número de com ampla experiência e que podem trazer
candidatos ao Centro de Estudos Judiciários e o
Estado não tem conseguido recrutar o número
perspetivas novas e diferentes face a juízes de
carreira, contribuindo para maior diversidade de
147
de magistrados (judiciais e ministério público) pensamento e maior debate, com as vantagens
que pretende, colocando assim em causa a inerentes para as decisões dos tribunais.
sustentabilidade do sistema judicial ao nível dos
recursos humanos.
Qualificar os funcionários judiciais
Se em 2010 apresentaram-se 1704 candidatos
ao CEJ, este número caiu a pique em 2022 e 2023 Ainda a nível dos recursos humanos é importante
para 459 e 555 candidatos, respetivamente. garantir que os oficiais de justiça tenham a sua
Para a Iniciativa Liberal, a solução não pode nunca carreira revista, implementando a qualificação
passar pela diminuição dos critérios de exigência dos funcionários judiciais como uma prioridade
aquando da formação e seleção, devendo antes do sistema judicial. O atual paradigma de falta de
centrar-se em encontrar propostas concretas formação contínua tem de ser invertido e estes
que tornem a entrada na magistratura atrativa. profissionais devem ser capacitados, tendo a
oportunidade de progredir na carreira mediante
o investimento em formação contínua. Esta
formação não só deve ser nas áreas jurídicas em

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que trabalham, mas também na digitalização, a jurisdição comum e outra para a jurisdição
medidas importantes para que seja possível administrativa e fiscal), o que causa problemas
a atribuição de mais funções a funcionários de escala, manutenção e diferenciação que
judiciais que obtenham preparação específica. não se justificam num país como Portugal. A
unificação e a existência de uma só plataforma
Este é um passo fundamental para a atratividade traria ganhos de eficiência e segurança que são
de uma carreira das mais envelhecidas da fundamentais..
Administração Pública.
A existência desta plataforma única permitirá
mais facilmente a completa digitalização dos
Assessoria nos tribunais processos judiciais, incluindo os processos crime,
e não apenas a desmaterialização que existe
Uma das medidas há mais tempo identificadas hoje em dia.
na área da justiça que tanto contribuiriam para
uma maior celeridade e especialização como
para uma maior sustentabilidade do sistema Realizar diligências através de
judicial é a incorporação de assessores jurídicos videoconferência
dos juízes, a exemplo do que sucede com o
Tribunal Constitucional. O reforço dos poderes de gestão processual dos
juízes deve ir no sentido de permitir que este,
A realização de estudos prévios e de tarefas sempre que assim o entenda, ouvir as partes e
auxiliares possibilitaria libertar tempo para os realizar as diligências de forma integralmente
juízes se dedicarem a tarefas mais especializadas, telemática, simplificando e facilitando a vida e
ao mesmo tempo que o desempenho de funções a actividade profissional de todos os envolvidos.
de assessoria funcionaria como uma antecâmara

C
para um eventual ingresso no Centro de Estudos A deslocação ao Tribunal deve no futuro ser
Judiciários, em posição de carreira compatível a exceção e não a regra, especialmente na
com a experiência adquirida. jurisdição administrativa e fiscal.
148
Dar prioridade à digitalização 2.2. Recuperar a credibilidade da
justiça
Apesar do acelerado desenvolvimento na
primeira década do século, a digitalização da Execução atempada das sentenças
justiça estagnou e tem hoje indicadores que administrativas
nos devem envergonhar (a título de exemplo, a
plataforma eletrónica utilizada pelos advogados O Estado, através da administração direta,
na jurisdição comum só permite anexos até indireta ou autónoma, deve dar o exemplo
20Mb) e que importa deixar para trás. e cumprir atempadamente as decisões
judiciais que lhe são desfavoráveis. Este é
um pressuposto para uma justiça célere, pelo
Simplificar com plataforma digital única para que propomos a criação de mecanismos que
os tribunais evitem protelar o cumprimento ou a execução
de uma decisão judicial.
Os processos são hoje em dia tramitados através
de duas plataformas eletrónicas (uma para

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A lei processual administrativa prevê a Criação do provedor da Criança
inscrição anual no Orçamento do Estado de
uma dotação à ordem do Conselho Superior A par daquela que foi a proposta apresentada na
dos Tribunais Administrativos e Fiscais Assembleia da República, pugnamos pela criação
destinada ao pagamento de quantias devidas do provedor da Criança, que funcionará na
pelo Estado ou outros entes públicos a título dependência da Provedoria de Justiça e que será
de cumprimento de decisões jurisdicionais. especializada na promoção e defesa dos direitos
A eficácia deste mecanismo depende do das crianças. Ao Provedor da Criança caberá
montante da referida dotação orçamental. ainda a competência de verificar a conformidade
Não é incomum que, depois de muitos anos do enquadramento legal e institucional português
em fase declarativa para obter uma sentença face ao Direito Internacional e Europeu e o
que reconheça o seu crédito, os particulares poder de dirigir formalmente recomendações às
tenham de esperar vários anos para conseguir diversas entidades públicas.
obter o respetivo pagamento.

A Iniciativa Liberal compromete-se a promo- Tornar a justiça transparente e


ver o pagamento atempado das quantias de- escrutinável
vidas pela Administração Pública a título de
cumprimento de decisões jurisdicionais, ins- Divulgação digital das decisões judiciais
crevendo no Orçamento do Estado, em cada
ano, uma dotação suficiente para esse efeito, A transparência e a publicação de todas as
honrando o bom nome do Estado e evitan- decisões judiciais dos tribunais portugueses,
do as consequências nocivas destes atrasos incluindo os tribunais de primeira instância e
para a economia. especializados, é essencial para um correto

C
escrutínio do poder judicial pelo que devem
ser publicadas através da Internet, de forma
Recurso de amparo acessível e transparente.

A necessidade de criação de um recurso de


amparo para o Tribunal Constitucional é, para
Apesarde muitas promessas do Partido Socialista, 149
a verdade é que mais uma vez revelaram que
a Iniciativa Liberal, clara, pois consideramos não foram capazes de implementar um sistema
que este recurso configura uma densificação de divulgação de todas as decisões judiciais,
essencial da tutela jurisdicional efetiva. Afirmar apresentando sucessivas desculpas para a sua
o modelo garantístico que defendemos é uma não implementação e para a sua incapacidade.
barreira aos atropelos constitucionais que se
verificaram durante os sucessivos estados
de emergência durante a pandemia de Sars- Disponibilizar mais dados para análise de
Cov2. Entendemos que os cidadãos devem modo a melhorar políticas de justiça
poder recorrer diretamente àquele Tribunal
sempre que entendam que as suas liberdades, Para fundamentar a decisão e as políticas
direitos ou garantias estejam a ser violados públicas é necessário que existam mais e
pelo Estado Português. melhores dados disponíveis para análise por

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parte de todos os interessados. Só com uma maior verdadeiro acesso ao sistema judicial ao contrário
profundidade e um maior detalhe dos dados em do que acontece hoje em dia onde apenas
bruto e trabalhados é que se conseguirá criar cidadãos com graves carências financeiras
mecanismos de correção de erros e obstáculos a conseguem aceder ao sistema de acesso ao
um funcionamento célere do sistema judicial. direito e aos tribunais. E apesar do investimento
necessário, os benefícios económicos e sociais
ultrapassam largamente o custo desta reforma.
2.3. Garantir uma justiça
acessível a todos O acesso à justiça tem de ser ele mesmo justo e
não discriminatório mas infelizmente não é isso
Um país estagnado não consegue oferecer que se verifica na prática desde a sua conceção,
rendimentos capazes de fazer frente ao sendo que a situação se tem agravado com o
aumento de custo de vida, o que acaba por ter aumento do custo de vida e o fraco crescimento
repercussões em todas as áreas, incluindo a do país que não permite um aumento suficiente
judicial. dos rendimentos.

A Iniciativa Liberal é o único partido que tem


como objetivo central colocar Portugal a cres- Promover os meios de resolução alternativa de
cer, com o objetivo de aumentar o rendimento litígios
dos portugueses e a sua qualidade de vida.
O alargamento da rede de julgados de paz aos
Contudo, atualmente, a conjugação de baixos municípios onde estes ainda não se encontram
rendimentos com um sistema de acesso ao garante o acesso generalizado a meios de
direito disfuncional coloca em causa o princípio resolução alternativa de litígios, o que permite
aliviar os tribunais e melhorar o acesso à justiça

C
da tutela jurisdicional efetiva que se encontra
consagrado na Constituição. pelos cidadãos, possibilitando maior celeridade
na resolução de processos.

150 Rever o Regulamento Geral de Custas


Melhorar a qualidade e transparência da
Como primeira medida transversal para reduzir legislação
os custos de acesso à justiça e aos tribunais
importa rever e adequar o Regulamento das A Iniciativa Liberal quer reduzir o peso, intervenção
Custas Processuais aquela que é a realidade e a regulação do Estado na vida dos portugueses.
financeira de Portugal e dos portugueses. Os tribunais sofrem com um problema que se
cria a montante, na excessiva regulação de toda
a atividade económica e das relações entre
Rever o sistema de acesso ao direito e aos cidadãos, entre cidadãos e empresas e entre
tribunais estes e o Estado, mas também com a falta de
qualidade dessa mesma regulação.
Por outro lado, o Sistema de Acesso ao Direito
e aos Tribunais tem igualmente de ser revisto, A clareza da legislação, desde logo na sua forma,
nomeadamente os limiares máximos de acesso aumenta a segurança jurídica e facilita a sua
a modalidades de apoio judiciário. aplicação pelos privados, pela administração
pública e pelos próprios tribunais. A boa técnica
Um país deve conceder aos seus cidadãos um legislativa é uma ferramenta fundamental

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para evitar custos regulatórios excessivos. Num penal e social tendo em conta os impactos no
Estado de Direito não basta que sejam claras as desenvolvimento das crianças.
normas, têm também de ser claras as razões que
as ditaram. O exercício do poder legislativo deve,
portanto, ser devidamente fundamentado. Tem Privilegiar verdadeiramente a
de ser possível a todos entender as opções que reinserção na sociedade
presidiram aos normativos em causa.
O sistema prisional desempenha um papel
fundamental na reinserção dos indivíduos e
Combater a violência doméstica e proteger as na execução de uma política de prevenção
suas vítimas especial, pelo que deve ser um investimento do
país a longo prazo e tendo em conta critérios de
O combate à violência doméstica deve incidir sustentabilidade e racionalidade económica.
sobre uma vertente principalmente preventiva,
no sentido de por um lado evitar a prática de um Portugal dispõe atualmente de 49 prisões e a
crime que é um verdadeiro flagelo na sociedade sua grande maioria encontra-se num estado
portuguesa e por outro reabilitar o agressor e avançado de degradação, deterioração e
possibilitar a sua reintegração. Apesar desta sobrelotação, incumprindo assim os critérios
visão sobre o problema, é importante que as mínimos de dignidade.
vítimas tenham o acompanhamento correto a
nível social e processual, tendo em conta a sua A Administração Pública foi uma das principais
vulnerabilidade que não raras vezes resulta de vítimas dos últimos anos de governação
quadros de dependência económica, emocional socialista, uma política de cativações e de
e pessoal pelo que importa garantir que a orçamentos sem execução conduziram o país
Segurança Social e o apoio judiciário, quando

C
para mínimos históricos de investimento público
existe, atribui apenas um único mandatário em todas as áreas.
para todos os processos em que a vítima esteja
envolvida e que sejam conexos com o crime de Neste momento, a sustentabilidade do sistema
violência doméstica. prisional está ameaçada não só pelo estado 151
atual do seu património imobiliário mas também
Contudo, não basta uma resposta processual. pelo mau planeamento dos recursos humanos,
Para uma resposta que se quer urgente e flexível o que coloca em causa todos os dias o correto
tem de se envolver o poder local na rede de apoio funcionamento do sistema prisional.
à habitação para vítimas de violência doméstica,
numa verdadeira articulação entre o poder Segundo dados do diretor-geral da Reinserção
local, o poder judicial e a sociedade civil nas suas e Serviços Prisionais, até 2027 um terço dos
associações de apoio à vítima. Se tal se revelar guardas prisionais deverá reformar-se e sem
uma necessidade, entendemos que pode e deve uma mudança de paradigma de gestão prisional,
existir um envolvimento do setor privado, além do a sustentabilidade do sistema penal português
social, na resposta a dar a estas vítimas. vai ficar comprometida.

A nível penal importa continuar a lutar pela Numa outra vertente, a montante, importa
autonomização do crime de exposição de menor reconhecer que a efetiva reinserção social do
a situações de violência doméstica, rejeitada indivíduo condenado pela prática de um crime
pela maioria absoluta do Partido Socialista mas e o efeito geral dissuasor da criminalidade
reconhecida por muitos como uma necessidade na sociedade portuguesa exigem, em certos

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casos, que o poder punitivo do Estado seja Nesse sentido, o direito sucessório deverá
adequadamente exercido. Neste contexto, o ser reformado no sentido de se privilegiar a
modo como tem sido aplicado o regime da autonomia da vontade do autor da herança,
suspensão da execução de penas de prisão contribuindo para a actualização deste ramo do
pode, em certos tipos de crimes, revelar-se direito, alinhada com o princípio liberal da livre
incompatível com a realização das finalidades disposição do património.
de prevenção geral e especial, pelo que deve ser
ponderada a exclusão de certos tipos de crimes
do seu âmbito de aplicação ou, pelo menos, em
tais casos, um maior grau de exigência no plano
dos respetivos pressupostos.

Reformar o direito sucessório

A Iniciativa Liberal rejeita a criação de um im-


posto sobre as heranças. O direito sucessório
português é uma reminiscência do Estado Novo,
vingando ainda uma ideia paternalista sobre
aquela que é a capacidade dos portugueses ad-
ministrarem livremente o seu património.

As restrições atualmente existentes têm origem


numa conceção de família imutável, que muito
se alterou desde há 60 anos, pelo que é neces-

C
sária uma revisão do direito sucessório portu-
guês que conceda maior liberdade na altura de
organizar e planear a herança do património.
152 O planeamento sucessório, aliado à livre dis-
posição dos bens e a incentivos positivos a esta
organização terá impactos positivos no mundo
rural, ao evitar parcelamentos desnecessários
e responsabilidades partilhadas que redundam
somente em desresponsabilização, mas terá
também impactos positivos no imobiliário ur-
bano, uma vez que uma maior certeza jurídica e
uma menor litigância judicial terá como resultado
a disponibilização de imóveis que atualmente se
encontram fora do comércio jurídico por existirem
batalhas judiciais sobre a sua propriedade.

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3. P
 ROTEGER A NOSSA VIDA E
PROPRIEDADE

A defesa da vida e da propriedade em Portugal 3.1. Dar segurança aos cidadãos


não podem falhar. O Estado português tem
investido demasiados recursos dos portugueses Dignificar a carreira das Forças de Segurança
onde não são necessários enquanto o essencial (FS)
fica por fazer. A Iniciativa Liberal apostará
na valorização da segurança pública e da Os profissionais das FS desempenham funções
proteção civil enquanto pilares da ordem inalienáveis do Estado, representando a sua
pública democrática. Para isso, estará focada autoridade no momento de fazer cumprir a lei.
na racionalização e mobilização de todos os A atuação das mesmas exige um enorme grau
recursos das forças de segurança, proteção de exposição a situações-limite de alta pressão
civil e bombeiros, recursos para as tarefas que que envolvem decisões frequentemente difíceis;
mais importam. É preciso pôr um termo ao para além disso, fazem-no muitas vezes numa
clima de profunda insatisfação e desmotivação situação onde tiveram de se deslocar para
destas forças e serviços de segurança face aos locais longe das suas origens, afastando-os das
recursos que lhes faltam, à incapacidade de suas famílias.
resposta, à constante interferência política e à

C
desautorização do seu normal funcionamento. Por isso, a Iniciativa Liberal estudará o
incremento do apoio financeiro ao alojamento
A nossa segurança também é um ativo e transportes de profissionais para geografias
económico: Portugal é procurado porque é
seguro, e muitos escolhem viver e investir
distantes da sua origem. Para além disso, o 153
investimento na formação destes agentes ao
em Portugal porque sentem que aqui, a sua longo da vida é essencial na sua valorização
vida e os seus bens são protegidos. Portugal profissional e salarial. No momento de alta
e os portugueses terão muito a perder no pressão ao nível da criminalidade online, é
dia em que sentirem que o seu país está essencial qualificar os nossos agentes para
menos seguro. Por isso, a rápida melhoria que saibam navegar e responder aos novos
da qualidade e disponibilidade do serviço desafios.
é fundamental, especialmente por via da
digitalização, consolidação de processos e a
criação de sistemas informáticos robustos e Iniciar um processo de consolidação da
comuns às diferentes forças. Com mais partilha remuneração das Forças de Segurança
de informação, conseguiremos assegurar
respostas mais adequadas e atempadas às A Iniciativa Liberal pretende alterar o atual
necessidades dos portugueses, evitando a paradigma remuneratório das forças de
sobreposição de tarefas. segurança, onde permanece ainda uma

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enorme incerteza sobre o real salário, dado meios entre as forças e serviços de segurança,
o forte peso dos subsídios e subvenções através da implementação de serviços
do mesmo. Para isso, deve-se iniciar um partilhados, gerando de maior eficácia, eficiência
processo de consolidação destas componentes e unidade de ação entre estes. A integração
remuneratórias, transferindo-as para o dos sistemas de informação da administração
vencimento base. Assim, poderemos assegurar interna e sua plena interoperabilidade, seria um
não só mais previsibilidade na remuneração fator crítico de sucesso para o uso comum.
destes profissionais, como uma carreira
contributiva que seja verdadeiramente A recuperação de recursos essenciais ao
recompensada no momento da reforma. funcionamento das forças de segurança
passará também pela implementação de
uma gestão mais objetiva e transversal dos
Um plano de recuperação e racionalização das recursos das várias forças de forma a evitar
esquadras e serviços das Forças de Segurança sobreposições entre instituições e afetações
indevidas ou desnecessárias. O reflexo desta
O edificado da PSP e da GNR encontra-se ação será uma maior articulação e coordenação
num estado de absoluta degradação, quando entre as forças de segurança e os serviços
não indignidade, que inviabiliza o normal de emergência médica, segurança rodoviária
funcionamento das forças de segurança em e segurança ambiental, poupando tempo,
Portugal: não é aceitável que haja esquadras dinheiro e falhas de comunicação entre todos.
com falta de água quente ou instalações
básicas para servir os agentes de autoridade.
Por isso, a Iniciativa Liberal pretende programar Digitalizar processos, recuperar mais recursos
um plano de renovação das esquadras e
serviços das Forças de Segurança que garanta Os sucessivos governos não têm tido a coragem

C
o cumprimento das condições básicas de de digitalizar e automatizar os vários processos
operação destas forças. da Administração Pública. Quando não se
digitaliza em setores como é o das forças de
154 Uma segurança moderna exige mais
policiamento de proximidade e capacidade
segurança, isso representa um custo visível:
menos agentes na rua, mais agentes burocratas.
de resposta rápida. Para isso, pretendemos No entanto, com o devido equipamento e
racionalizar o número de esquadras e postos um único sistema informático transversal a
territoriais do país, libertando profissionais todas as forças, poderemos mobilizar mais
para as funções para as quais são realmente agentes para o terreno tendo a coragem de
necessários, libertando também recursos mexer realmente no tempo que perdem com
para a reconstituição de esquadras e postos tarefas tecnologicamente ultrapassadas. Por
mais modernos, qualificados e adequados às isso, é também essencial a automatização de
necessidades das nossas forças. processos e o equipamento das esquadras
com infraestruturas de TI adequadas às suas
necessidades
Racionalizar meios, libertar tempo

Para fazer todos estes investimentos, será Prevenir a criminalidade juvenil e grupal
possível também apostar na racionalização
dos meios entre as diferentes forças. Por isso, Os dados do último Relatório de Segurança
a Iniciativa Liberal promoverá o uso comum de Interna revelam que, em 2022, houve um

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aumento de 50,6% de casos de delinquência isso estes têm de manter intacta toda a
juvenil face ao ano de 2021. Antecipando-se sua reputação e integridade, o que não foi
que para 2023 não se registe uma melhoria, possível garantir com acontecimentos recentes
estamos a braços com problemas crescentes de que colocaram em cheque a confiança dos
bullying e cyberbullying, relacionados com o uso portugueses nos serviços de informações
massivo de redes sociais, e uma deterioração
da saúde mental dos jovens. Acresce-se a este Com este objetivo em mente, entendemos que
contexto as falhas no nosso sistema Educativo, é necessária uma alteração na constituição do
intensificadas no contexto da pandemia, e a Conselho de Fiscalização do SIRP, alargando
falta de perspetiva de futuro e mobilidade os seus membros e diversificando a sua
social no país. composição, além da Assembleia da República
e envolvendo outros órgãos de soberania.
Nesta estratégia a várias frentes, as forças Bem como no seu procedimento de nomeação
de segurança terão um papel fundamental e exoneração, que a lei não tem claros, e que
na ligação com as escolas, à comunidade e tantas dúvidas levantou ao longo da última
no reforço do policiamento de proximidade legislatura.
que ajude estes jovens a integrarem-se e
a encontrar o seu lugar na sociedade. Um Para recuperar a confiança dos portugueses
aumento da criminalidade juvenil hoje poderá é necessário ter um Sistema de Informações
traduzir-se num país menos seguro amanhã. sustentável ao nível dos recursos humanos e
É por isso que a Iniciativa Liberal considera que consiga ir buscar os elementos mais capazes
que a prevenção da criminalidade juvenil à sociedade, tendo por base uma carreira
deve ser uma das principais prioridades na atrativa e condições de trabalho adequadas,
ação social, na segurança e na educação. começando pela existência de um regime de
Para isso, o reforço da polícia de prevenção, carreira, que surpreendentemente continua

C
devidamente preparada e motivada para essa sem existir uma vez que o recentemente
função, emerge como pilar do reforço da nossa aprovado “regime das carreiras especiais dos
segurança. trabalhadores do Sistema de Informações da
República Portuguesa” mais não é do que um
mero estatuto remuneratório e não um projeto
155
Reforçar o Sistema de Informações da de carreira suficiente para dar segurança,
República Portuguesa estabilidade e previsibilidade aos funcionários
do SIRP, como ainda cria disparidade e injustiça
Os Serviços de Informações são uma linha com outras funções e forças de segurança,
fundamental de defesa e salvaguarda da por exemplo a Polícia Judiciária. Será, por isso,
Segurança e da Independência nacionais. São necessário revisitar esta carreira e adaptá-la
garante do Estado de Direito Democrático, às necessidades dos funcionários e do país.
aquém e além-fronteiras, identificando e
antecipando ameaças e oportunidades em O SIRP, e os seus serviços operacionais, têm de
diversas vertentes – seja no quadro puramente estar ao nível das elevadas expectativas de um
securitário, no político, no social ou no país como Portugal, que não só tem grandes
económico. responsabilidades nos âmbitos NATO e União
Europeia, como aspira a manter, e a aprofundar,
A Iniciativa Liberal reconhece que os serviços de uma projeção histórica e internacional muito
informações são essenciais para salvaguardar maior que a sua dimensão geográfica –
o Estado de Direito democrático, mas para nomeadamente no contexto CPLP.

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3.2. Preparar melhor, responder considera que é necessário criar um portal
melhor nas emergências com uma área pública que permita a qualquer
cidadão ou entidade consultar o histórico de
Consolidar estruturas, apostar na eficiência ocorrências, organizado por ano e por município.
A partir destes dados, será possível criar um
O atual regime de ambiguidade nofinanciamento mapa do território nacional com o estado de
do setor gera demasiada incerteza na gestão ativação dos planos municipais de emergência
dos Corpos de Bombeiros. O Governo deveria, de proteção civil no momento da consulta. O
por isso, fixar uma estrutura de financiamento, portal a ser criado deverá ter ainda uma área
em articulação, com as câmaras municipais, reservada para os serviços municipais de
com base em indicadores e dados públicos, proteção civil terem acesso a informação mais
guiado por objetivos, na sua relação com os detalhada sobre as ocorrências e respetivo
Corpos de Bombeiros. A coordenação dos histórico, à semelhança do Sistema de Gestão
Corpos de Bombeiros também deve ser feito ao de Informação de Incêndios Florestais gerido
nível das Comunidades Intermunicipais (CIM), pelo Instituto de Conservação da Natureza e
desmultiplicando estruturas e articulando as Florestas.
capacidades existentes a esse nível, permitindo
também a não duplicação de funções e a
especialização de diferentes corpos.

Rever a legislação estruturante da Proteção


Civil

C
A legislação atual da Proteção Civil não
espelha as reais necessidades operacionais
da mesma, pois a legislação implica ainda
um sistema complexo, de difícil gestão e
156 com muitas sobreposições. A organização
territorial intermédia assente nos distritos
deve, por isso, passar a corresponder às NUTS
II e NUTS III, assumindo uma lógica regional,
enquadrando as CIM enquanto autoridades
no setor da Proteção Civil. No mesmo âmbito,
os planos municipais de proteção civil devem
ser articulados ao nível das CIM, adequando a
partilha de funções atribuídas.

Abrir os dados das ocorrências de Proteção


Civil

A informação atempada e em tempo real é


fundamental para não só reduzir os tempos
de resposta, como para dar as respostas
adequadas. Por isso, a Iniciativa Liberal

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4. RELANÇAR PORTUGAL NO MUNDO

Hoje, Portugal enfrenta um dos climas O ressurgimento do autoritarismo, os desafios


geopolíticos mais complexos das últimas colocados pelas tecnologias emergentes e
décadas. A China está determinada em a escalada global de tensões exigem uma
ganhar a dianteira global através do seu diplomacia afirmativa e desassombrada
poder económico, e demonstra cada vez mais relativamente às escolhas que precisamos
disponibilidade para exercer o seu poder militar fazer, no globo e na União Europeia, assumindo
na região. Mesmo não exercendo esse poder, a defesa da liberdade como o eixo fundamental
a China constitui o mais importante aliado da política externa e europeia portuguesas.
da Rússia, que prossegue ainda hoje a sua Assim, poderemos projetar este eixo sobre os
brutal invasão da Ucrânia. No Médio Oriente, três pilares fundamentais da política externa:
o deflagrar da guerra entre Israel e o Hamas, o europeu, o transatlântico e o lusófono,
como resposta aos ataques terroristas de 7 de reinterpretando-os à luz da necessidade de
outubro, intensificou ainda mais a atmosfera proteção da democracia, do estado de direito
de tensão interna e externa nas democracias democrático e do livre comércio.
ocidentais.

C
Assistimos à verdadeira emergência de um 4.1. Defender as nossas
eixo autoritário internacional, que não só tem liberdades
consequências ao nível das tensões geopolíticas,
mas na vida interna das democracias liberais.
As campanhas de desinformação lideradas
A defesa das fronteiras nacionais é a primeira 157
e mais básica função de soberania do Estado
pela Rússia e pela China continuam vigorosas; moderno. Portugal precisa de umas Forças
a sua influência no designado ‘’sul global’’ – Armadas capacitadas e preparadas para
bem como na própria CPLP – permanece forte enfrentar os múltiplos e complexos desafios
e até agora inabalável; o clima de incerteza que enfrenta ao lado dos seus aliados europeus
e ansiedade nas democracias permanece e transatlânticos. A década que se aproxima
constante. Existem também problemas no seio exigirá uma Defesa nacional renovada, mais
do próprio bloco democrático que exigem uma preparada e com os meios para enfrentar as
postura ainda mais vigilante: a emergência várias ameaças que se aproximam. O Estado
de populismo vários, muitas vezes cúmplices, não está a cumprir a sua função quando
quando não financiados pela Rússia, a incerteza Portugal não é capaz de responder aos seus
quanto ao futuro posicionamento diplomático compromissos internacionais no âmbito da
norte-americano, bem como incapacidade segurança e defesa. Não basta o orgulho
cada vez mais patente da União Europeia no estatuto de membro fundador da NATO
adotar a agenda de crescimento de que precisa e invocar a vocação atlântica portuguesa: é
para competir. fundamental que a Europa seja capaz de erigir
a capacidade de defesa das suas fronteiras,

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e para isso têm de ser os próprios Estados- de base sobre o posicionamento geopolítico
Membros, Portugal incluído, a começar a dar os e diplomático português. No decurso da
passos decisivos nesse sentido. última década, aceleraram-se importantes
processos de transformação política, social
A Federação Russa é hoje a principal ameaça à e tecnológica por todo o planeta, gerando
integridade territorial europeia, mas o que ela novas ameaças para as quais devemos estar
representa vai muito para além das ambições preparados: a emergência dos extremismos
de Moscovo: a emergência do autoritarismo na ideológicos, etnonacionalistas e religiosos; a
arena internacional exige uma Europa capaz emergência de princípios de uma nova guerra
de alavancar o seu poder diplomático numa fria; a reorganização das alianças no plano
forte capacidade dissuasora. É por isso que internacional; e a aceleração de processos
a Defesa é um dos mais importantes eixos de como a transição energética, com as suas
ação política na próxima década, e Portugal consequências na alteração das cadeias de
precisa de estar à altura desse desafio. Por isso, valor globais.
a Iniciativa Liberal irá apostar na recuperação
da capacidade e prestígio das Forças Armadas Todos estes processos têm um importante
portuguesas. impacto na vida dos portugueses e na própria
estratégia de desenvolvimento da economia
O contexto tecnológico em que vivemos é do país. A Iniciativa Liberal irá empenhar-se no
uma oportunidade de começar um profundo desenvolvimento de um Conceito Estratégico
processo de reforma das Forças Armadas de Defesa Nacional que reafirme claramente
em Portugal. Os novos desafios geopolíticos, Portugal no contexto do bloco democrático.
aliados à aceleração tecnológica e à É neste bloco, liderado pela União Europeia e
emergência de ameaças que ultrapassam as pelos Estados Unidos, que Portugal se deve
instituições militares clássicas, representam preparar face à agressividade crescente do

C
uma oportunidade única de introduzir eixo autoritário protagonizado pela China e
transformações profundas nas Forças pela Rússia, entre outros. Este posicionamento
Armadas. A mudança geracional que se deve refletir-se nas escolhas que fazemos nas
158 aproxima, a par da patente falta de militares
no contingente nacional, deve ser encarada
relações económicas e diplomáticas, bem como
no próprio desenvolvimento de capacidades
como uma oportunidade de transformação e das nossas Forças Armadas.
evolução das Forças Armadas. Precisaremos
por isso de não só reformar a carreira militar,
como de reforçar a sua componente tecnológica Lançar as bases para uma revolução
e a ligação à sociedade civil e a sua atratividade. tecnológica nas Forças Armadas
A Iniciativa Liberal estará na linha da frente da
modernização das Forças Armadas. O grau de complexidade dos desafios que
enfrentamos exige umas Forças Armadas
mais qualificadas, mais especializadas e mais
Preparar Portugal para a década: um novo atrativas. Neste novo contexto, a carreira
Conceito Estratégico de Defesa Nacional militar deve ser encarada como uma via de
capacitação da sociedade civil portuguesa.
O novo Conceito Estratégico de Defesa As Forças Armadas podem ser uma fonte de
Nacional, cuja revisão se encontra hoje em curso, geração de quadros de alto valor nos setores
representa uma importante oportunidade público e privado, capazes de contribuir
para o país definir as suas opções estratégicas para o clima de segurança do país e para o

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desenvolvimento económico. O investimento nas um reforço do conhecimento sobre Inteligência
profissões especializadas nos diferentes ramos, Artificial em particular, será também uma mais
que façam a diferença no contexto das nossas valia na segurança futura do país.
alianças, será muito mais benéfico para o país
do que uma força militar generalista, dispersa
nas suas capacidades e incapaz de contribuir Reimaginar a atratividade da carreira militar
nos nossos compromissos internacionais. Tanto em ligação com a sociedade civil
pior seria se Portugal escolhesse o caminho
do Serviço Militar Obrigatório: além do conflito A reforma da carreira militar deve ultrapassar
com a liberdade individual de cada um, este preconceitos antigos e passar pelo reforço da
caminho não responderia às necessidades das ligação dos vários ramos à sociedade civil: seja só
nossas Forças Armadas, dispersaria os nossos por uns anos, seja para a vida, a carreira militar
recursos e desviaria o foco necessário na tem de valer a pena. Mais oportunidades de
formação de militares qualificados, preparados emprego à saída, mais qualificações específicas
e bem equipados. com valor de mercado e mais diálogo com o setor
privado são fundamentais na revalorização das
Por isso, a Iniciativa Liberal considera que uma Forças Armadas. Nos países com as melhores
estratégia de complementaridade com os práticas neste âmbito, as Forças Armadas são
nossos aliados, associada a uma especialização reconhecidas pela qualidade dos quadros que
aprofundada, constitui hoje o melhor caminho formam e vêm a ocupar lugares chave na esfera
de recuperação da capacidade das Forças civil ou militar. É liderando pelo exemplo que as
Armadas. Os recursos humanos das Forças Forças Armadas poderão atrair mais quadros e
Armadas devem constituir o seu bem mais mais qualificados.
valioso. Um quadro de pessoal altamente
qualificado, flexível e pronto a adaptar-se a Neste contexto, a Iniciativa Liberal irá procurar

C
rápidas transformações tecnológicas constitui expandir os campos de interface civil-militar nos
o melhor investimento de longo prazo que diferentes ramos das Forças Armadas: desde a
Portugal pode fazer na sua segurança e defesa. geointeligência ao ordenamento do território, da

Neste contexto, Portugal precisa urgentemente


aeronáutica à construção e manutenção navais,
são muitas as áreas de competência onde as
159
reforçar as suas capacidades reais de Forças Armadas portuguesas representam um
ciberdefesa, apostando na formação em potencial de provisão de serviços ao Estado e
cibersegurança, área onde existem enormes ao país que não está a ser explorado.
lacunas, tanto ao nível do Estado como do
setor privado. A ameaça cibernética, não
obstante de ser um risco soberano, impende Promover as exportações da nossa indústria
sobre ativos físicos e digitais de infraestruturas de Defesa
que, muitas vezes, estão fora da alçada do
Estado. Por isso, dispor de recursos humanos O desenvolvimento da capacidade de defesa
em qualidade e quantidade, com formação europeia constitui mais uma oportunidade de
militar, que respondam a prazo não só às afirmação económica de Portugal. Neste novo
necessidades do Estado como da sociedade impulso, o país tem a possibilidade de gerar
civil, protegendo as infraestruturas essenciais e atrair investimento para o setor de defesa
e críticas, é uma função de soberania que nacional. A economia de defesa nacional não
deve ser reforçada. Uma aposta ambiciosa na só potencia a nossa capacidade endógena de
formação tecnológica dos nossos quadros, com defesa, como gera valor na economia civil, devido

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à sua presença numa grande diversidade de capacidade de ação do Ministério da Defesa.
setores por conta dos seus produtos e serviços As graves suspeitas de corrupção apontadas
de duplo-uso – civil e militar. no seio do Ministério, feriram a credibilidade
do Ministério, pois algumas partiram da
A economia de defesa nacional beneficia ainda própria Direção-Geral de Recursos de Defesa
de uma forte componente de investigação Nacional e da idD. Às suspeitas de corrupção na
fundamental, aplicada e experimental, que, contratação pública somou-se a incompetência,
constituindo 3,2% do seu volume de negócios com o incumprimento sistemático na execução
em 2021, representa quase o dobro da da Lei de Programação Militar (LPM) ao longo
média de 1,7% nacionais. Nesse mesmo ano, a de vários anos. A tutela da Defesa deixou de
economia de defesa terá gerado 2,2 mil milhões saber dar o exemplo.
de euros em exportações, 2,5% do valor total de
exportações, tendo como ordenado médio o No ano de 2022, terão sido investidos 470
dobro do salário médio mensal português. Com milhões nas Forças Armadas por via da LPM,
maior captação de investimento privado e uma aquém do que deveria ter sido o investimento
melhoria da interface civil-militar na diplomacia adequado em Defesa. Por isso, a Iniciativa
económica portuguesa, podemos alavancar o Liberal pretende um compromisso mínimo de
potencial da economia de defesa em Portugal. execução da Lei da Programação Militar nos
três ramos a 90%. Se o investimento em Defesa
Sendo certo que o seu potencial económico é já é cronicamente baixo, o mínimo que devemos
grande, trata-se de um setor que, por razões fazer é executar o investimento orçamentado.
de soberania, necessita de uma grande
articulação com o Estado português. As A contratação pública na Defesa e o Ministério
indústrias de Defesa precisam, para funcionar, das Finanças não pode ser um entrave ao
de apoio diplomático do Estado Português, e normal funcionamento das Forças Armadas,

C
precisam, também, de estar bem alinhadas cujas graves carências ao nível de equipamento
com os interesses estratégicos do país. A idD e sobretudo manutenção se explicam, em
Portugal Defence, responsável pela promoção parte, pelo sucessivo incumprimento da Lei de
160 da Base Tecnológica e Industrial de Defesa, deve
funcionar como uma verdadeira plataforma de
Programação Militar. Por isso, a Iniciativa Liberal
defende uma reforma da organização interna
lançamento da base tecnológica e industrial de do Ministério da Defesa, que acautele uma
defesa nacionais, sobretudo a sua na promoção nova cultura de gestão, regras de contratação
no exterior, em países e geografias onde as pública mais expeditas e a independência
oportunidades não existem se não houver cunho política da tutela de Defesa.
soberano. Para isso, precisa de uma tutela que
lhe confira independência política, uma missão
clara e os recursos humanos necessários à Aprofundar a nossa cooperação internacional
geração de mais oportunidades para a projeção em segurança e defesa
da economia de defesa portuguesa.
O nosso investimento em Defesa deve também
refletir a necessidade de cumprir com os nossos
Recuperar a credibilidade e eficácia do deveres no âmbito da NATO, da ONU e com o
Ministério da Defesa mundo lusófono. A vigilância aérea e marítima
do Atlântico Central e Sul são fundamentais no
Os últimos anos de governação socialista âmbito das nossas alianças, pois trata-se de
traduziram-se num verdadeiro colapso na uma geografia essencial a contrabalançar as

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influências russa e chinesa em África. Por isso, seus vizinhos europeus dão por garantidas.
A Iniciativa Liberal defenderá sempre uma Lei A Iniciativa Liberal quer por isso que Portugal
de Programação Militar que dê resposta tanto tenha o desígnio de crescer e deixar de depender,
às necessidades reais de projeção das nossas no médio prazo, dos fundos europeus para que
Forças Nacionais Destacadas como à nossa possa finalmente contribuir para o destino de
capacidade de vigilância aérea e marítima. uma União Europeia livre e próspera, em vez
dela depender.
Portugal deve ainda aprofundar a sua ação
no oceano Índico, em colaboração com Índia
e Moçambique, não só assegurando a livre Defender a entrada da Ucrânia na União
circulação nesse oceano, como prestando Europeia
ajuda humanitária e apoio no âmbito da
defesa. Aí, Moçambique configura-se como A Iniciativa Liberal defende a entrada na União
uma prioridade na cooperação de Defesa, Europeia da Ucrânia, sendo prestado apoio,
dada a ameaça do extremo-islão no norte de por parte do Estado Português conjuntamente
Moçambique. com os outros Estados-Membros, para o
cumprimento das metas necessárias para
Na Europa, Portugal deve continuar a consolidar a adesão pela Ucrânia e por outros países
as suas capacidades tanto de apoio logístico e candidatos. A Ucrânia está atualmente a lutar
militar à Ucrânia, como de reforço da fronteira pela sua integridade territorial, independência
da NATO face à ameaça russa, por via das e soberania, mas está também a lutar pela
nossas Forças Nacionais Destacadas. Não segurança do continente europeu e pela
devemos baixar os braços só porque o choque do salvaguarda dos valores europeus. A adesão
despontar da guerra já se desvaneceu. A guerra da Ucrânia à União Europeia constitui por isso
da Ucrânia continua a ser um vigoroso ataque à um imperativo geopolítico.

C
integridade da Europa e da ordem internacional
baseada em regras.
Eliminar obstáculos nacionais à livre circulação
de bens provenientes da União Europeia 161
4.2. Contribuir para a Liberdade
na Europa A Iniciativa Liberal defende o mercado único e
a eliminação dos obstáculos e discriminações
Portugal deve ter a ambição de ser um fiscais impostas pela Autoridade Tributária
contribuinte líquido para o orçamento da União à livre circulação de bens provenientes da
Europeia, ao invés de continuar a ser um eterno União Europeia, e pelas quais Portugal já foi
requerente de fundos europeus, que se vê sucessivamente condenado no Tribunal de
sistematicamente ultrapassado por países que Justiça da União Europeia – mas cuja retificação
viveram sem liberdade individual, económica o Partido Socialista tem sucessivamente
e política sob o domínio soviético até há bem bloqueado na Assembleia da República –
menos tempo que a era do Estado Novo, e como é o caso do ISV ilegalmente cobrado à
talvez por isso as valorizem mais. importação de automóveis da UE.

Os portugueses estão cansados de ver o seu


país constantemente na cauda da Europa e
a ter de emigrar para viverem de acordo com
as oportunidades e condições de vida que os

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Dar poder à Assembleia da República para O PRR atual assenta em más escolhas políticas
escrutinar e decidir sobre fundos europeus do Partido Socialista, sendo fortemente
baseado em investimentos em obras públicas,
A Assembleia da República tem de passar a que se têm demonstrado de difícil e demorada
deter poderes de escrutínio e de decisão sobre execução, devido à subida superveniente
os fundos europeus, como o Programa de dos preços da energia e dos materiais de
Recuperação e Resiliência (PRR) e os Fundos construção, e que não constituem verdadeiras
da Coesão, deixando de ser um monopólio do reformas estruturais do país. A Iniciativa
Governo. Liberal insiste que Portugal deve alterar o seu
Programa de Recuperação e Resiliência (PRR),
acionando para este efeito o mecanismo de
Rectificar a legislação sobre a proteção de revisão do PRR junto da Comissão Europeia.
interesses financeiros da UE de acordo com a
“Diretiva PIF”
Publicar a análise comparativa das diretivas
A Iniciativa Liberal quer retificar a transposição europeias e das tabelas de transposição
da Diretiva sobre a Proteção de Interesses
Financeiros da UE (PIF), que é essencial para o A nível nacional, e de forma a promover uma
exercício de funções da Procuradoria Europeia melhor integração de Portugal no espaço
em Portugal, mas que foi incorretamente económico e jurídico da União Europeia,
transposta pelo Governo do Partido Socialista. a Iniciativa Liberal defende a publicação
O legislador nacional não definiu as infrações comparativa das directivas europeias e das
que podem ser alvo de investigação pela respetivas tabelas de transposição, permitindo
Procuradoria Europeia e, como tal, Portugal identificar práticas de gold-plating – a prática
tem um processo por incumprimento de dos Governos aproveitarem a transposição de

C
transposição desde 2021. A Iniciativa Liberal directivas europeias para consagrarem em lei
irá certificar-se que os crimes que lesem nacional determinadas burocracias e outras
os interesses financeiros da União estão obrigações legais não exigidas pelas diretivas
162 corretamente consagrados em lei nacional. europeias.

Alterar o PRR recorrendo ao mecanismo de 4.3. Defender o mundo liberal


revisão do mesmo junto da Comissão Europeia numa era de incerteza
A Iniciativa Liberal entende que o PRR deverá Precisamos de uma política de alianças
ser alterado para incluir reformas estruturais e robusta, sustentada nos pilares Europeu e
incentivos fiscais, à semelhança do que foi feito Atlântico, que alargue a margem de ação e
nos PRR de vários outros Estados-Membros, influência da diplomacia portuguesa. À medida
como a França, a Grécia, a Itália e a Suécia. que se intensificam as tensões internacionais
A título de exemplo, nos planos dos referidos e a competição geopolítica abre novas
Estados-membros, constam várias medidas de vulnerabilidades e focos de tensão, seremos
incentivos fiscais relativos à transição digital, à forçados a fazer escolhas. A vulnerabilidade
transição verde ou ao crescimento inteligente, portuguesa face à influência económica e política
sustentável e inclusivo, que poderão ser aditadas da China constitui o maior desafio de Portugal
também ao PRR português, tornando-o mais neste período, e a diplomacia portuguesa
ágil e benéfico para os contribuintes nacionais. deve focar-se no fortalecimento de relações

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diplomáticas que assegurem a resiliência da pessoas LGBTQ+ e liberdade de expressão na
economia e sociedade portuguesas face a um Hungria, o que a então secretária de Estado
choque entre o bloco ocidental e a China. dos Assuntos Europeus defendeu alegando um
suposto “dever de neutralidade” que Portugal
A Iniciativa Liberal considera que Portugal teria enquanto presidência do Conselho da EU.
deve concentrar-se numa estratégia de
redução da sua exposição ao risco em relação A Iniciativa Liberal defende que o Estado
à China, aprofundando os seus laços bilaterais Português deverá ter um papel mais ativo
e multilaterais no contexto da NATO e da na defesa dos direitos humanos na UE,
União Europeia. Não podemos aceitar mais os nomeadamente através da sua representação,
acordos de extradição que Portugal ainda tem, pela Direção-Geral dos Assuntos Europeus,
praticamente isolado a nível europeu, com a junto do Tribunal de Justiça da União Europeia,
China e Hong Kong. Não podemos continuar em litígios que contendam com os valores
a fechar os olhos ao necessário debate sobre fundamentais da União Europeia.
o posicionamento geoestratégico português
como se esse não tivesse de se ajustar face às Recorde-se que a Iniciativa Liberal questionou
novas circunstâncias. Uma democracia madura o Governo quanto à representação do
discute abertamente a sua política externa. Estado Português junto do TJUE no Processo
Não é aceitável que se procure prosseguir com C-769/2022, no qual a Comissão Europeia
uma diplomacia de silêncios que pretende que alegou que a lei húngara “Anti-LGBT” violava o
Portugal não se encontre exposto do ponto de artigo 2.º do Tratado da União Europeia, sendo
vista político e económico, numa situação de que a representação portuguesa se acabou por
alta fragilidade que compromete o seu próprio verificar posteriormente à questão parlamentar
compromisso com a democracia na CPLP. A da Iniciativa Liberal.
Iniciativa Liberal prosseguirá a sua abordagem

C
à política externa assente nos direitos humanos.
Defender o livre comércio como pilar da
É necessário inaugurar uma nova era de prosperidade global
aprofundamento das nossas alianças, a
começar no seio da própria União Europeia. As crescentes tensões em várias cadeias de
163
O aprofundamento dos laços económicos e a valor fundamentais, tais como as do gás,
cooperação em matéria de segurança e defesa dos semicondutores, das terras raras e das
permanecem centrais na prossecução dos tecnologias de energia renovável, entre
objetivos diplomáticos portugueses. outras, configuram um mundo mais perigoso,
desafiante e difícil de navegar para países de
pequena e média dimensão como Portugal.
Defesa dos Direitos Humanos na UE Sendo verdade que muitas destas cadeias
fundamentais podem ser reconduzidas a
Portugal tem-se abstido de procurar influenciar potências autoritárias, particularmente a
a política interna europeia em matéria de China, não é possível adotar uma abordagem
Direitos Humanos, reduzindo-se à qualidade protecionista e fechada diante destes desafios.
de espectador até durante a Presidência
Portuguesa do Conselho da União Europeia. O comércio internacional é uma das maiores
A título de exemplo, recorde-se que Portugal fontes de prosperidade da história humana. A
não subscreveu uma carta assinada por 13 especialização entre países e a livre circulação
Estados-membros sobre discriminação de de bens, pessoas e capital constituem fontes

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inesgotáveis de prosperidade que dão força Valorizar o ensino da língua portuguesa
a todos a todos os que nela participam. Um
verdadeiro bloco democrático deve traduzir-se A Iniciativa Liberal continuará a lutar pela
num bloco comercial. A reversão da globalização valorização do ensino do Português como
não é possível nem desejável; mas é possível Língua Materna. A crescente comunidade
aspirar que esta integre também a África e emigrante portuguesa precisa urgentemente
a América Latina no comércio internacional. de soluções que garantam o ensino de
Por isso, a Iniciativa Liberal defende que o português aos seus filhos tal como o teriam
estabelecimento de um acordo comercial com em Portugal, garantindo a manutenção do elo
a MERCOSUR é uma prioridade para Portugal, de ligação entre estes e o país e facilitando as
como é a criação de laços com a recente Zona de condições para um eventual retorno. O caminho
Comércio Livre Continental Africana e, a médio de convergência entre o ensino do português
prazo, voltar a tentar um acordo comercial com como língua estrangeira e como língua materna
os Estados Unidos que ultrapasse as tensões fora de Portugal não é aceitável para a
em torno da implementação do Inflation Iniciativa Liberal. Será fundamental assegurar
Reduction Act e as suas más consequências que o elo entre Portugal e as suas comunidades
para a indústria europeia. permaneça forte, saudável e dinâmico.

Dar força às comunidades portuguesas

O valor económico, histórico e cultural das


comunidades portuguesas não pode ser
ignorado. Infelizmente, Portugal não cria hoje as
condições para que as suas comunidades fora

C
do país mantenham uma ligação forte às suas
origens. A rede consular portuguesa encontra-
se num estado depauperado e precário,
164 prejudicando ativamente os contactos entre
Portugal e as suas comunidades. É necessário
encetar uma reforma da rede consular
portuguesa que diminua os tempos de espera,
bem como remunerar os funcionários dos
serviços periféricos de acordo com os custos de
vida dos países onde residem – não é aceitável
que os funcionários consulares recebam muitas
vezes o ordenado mínimo dos seus países de
residência – quando não abaixo. A Iniciativa
Liberal estará também empenhada no reforço
do papel do Conselho das Comunidades
Portuguesas enquanto ponto chave de
mediação e diálogo entre o Estado português
e as comunidades portuguesas, assegurando-
lhe as ferramentas necessárias à execução
plena das suas funções.

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