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Por que estudar a

história da mulher
na América Colonial?
A escrita da história abordam temas cujo as figuras
protagonistas e ativas eram homens, tratando de
forma excludente a participação ativa da figura
feminina nos fatos, deixando-a à margem. Mas as
mulheres existiam, e tinham seus papéis mediante
suas posições sociais. Nesse sentido, há a
necessidade de trabalhar a historiografia feminina
no ensino da história, reconhecendo as mulheres
como agentes ativos em temas clássico.
Silva et. al. (2020)
Abordar o tema mulheres no ensiono da história é
essencial para que se compreenda como a história
pode explicar as raízes das situações atuais.

Ou seja, olhar a história de nossas antepassadas


pode nos ajudar a compreender nossas amrras
´para nos lançarmos para um futuro (ancestral) em
liberdade.
História de Vida

As raízes das nossas sementes de


vida, devemos conhecêlas.
A partir da escola dos Annales há uma mudança
nos rumos do saber histórico, pois se passa a
incorporar outros métodos de estudo de história
para além dos documentos oficiais, considerando,
outras fontes, como: relatos orais, músicas e
poemas, trazendo outras perspectivas, como das
vivências femininas, da camada popular e suas
histórias de vida e relações humanas.
Silva et. al. (2020)
De
mulheres
para
mulheres:
nossa
história

Vozes-mulheres, de Conceição Evaristo


A voz de minha bisavó A minha voz ainda
ecoou criança ecoa versos perplexos
nos porões do navio. com rimas de sangue
ecoou lamentos e fome.
de uma infância perdida. A voz de minha filha
A voz de minha avó recolhe todas as nossas
ecoou obediência vozes recolhe em si as
aos brancos-donos de tudo. vozes mudas caladas
A voz de minha mãe engasgadas nas gargantas.
ecoou baixinho revolta A voz de minha filha
no fundo das cozinhas alheias recolhe em si a fala e o ato.
debaixo das trouxas O ontem – o hoje – o agora.
roupagens sujas dos brancos Na voz de minha filha se
pelo caminho empoeirado fará ouvir a ressonância o
rumo à favela. eco da vida-liberdade.
Hierarquização de
gênero

Os relatos produzidos pelos jesuítas


colocavam a mulher como elemento a ser
controlado e inferior ao homem. Havia, pelos
detentores do poder uma intenção relativa a
regulamentação da sexualidade indígena.
Regras oriundas do pensamento ocidental
etnocentrico, se trazia regras relativas à
virgindade, viuvez e castidade.
Aqui, neste contexto, há uma tentativa de
extinguir e negar o outro, não somente por
serem indígenas, mas duplamente, por ser
mulher. O viés é etnocêntrico e patriarcal. A
exclusão é dupla. As diferenças do outro são
recusadas para que ele seja salvo de seu
próprio privitivismo pelo cristianismo,
levando-o à civilização.
Dessa forma, o primeiro passo para adequar
as mulheres dentro de seu lugar esperado na
sociedade colonial era: colocá-las dentro da
lógica cristã.

(Oeste, 2016)
Mulhreres e
Religiosidade

Luta pelos seus direitos


Era muito grande a
Ao longo dos séculos XVII e
ignorância religiosa
XVIII a vida religiosa na
naquelas áreas rurais, onde
Região de Platina era
raramente as tribos
presenciada pelos Jesuítas,
indígenas e de
que chegaram na região por
camponeses participavam
volta de 1585, com o objetivo
das atividades como missas
de pacificar os indígenas, com
entre outras reuniões. Era
isso as missões, elas
muito comum nessas
consistiam em atividades
regiões o jogo ser parte do
religiosas para as populações
cotidiano e daqueles povos
tanto urbanas como rurais,
e isso era uma grande
sendo esta tinha uma
dificuldade enfrentada
assistência espiritual maior
pelos missionários da
devido a precariedade em
época.
locomoção.
.
Crarta, Padre Lozano

Assim, nessas missões todos Numa Carta do Padre


poderiam participar tanto Lozano, ele descreve que as
homens como mulheres e foi mulheres tinham
assim que se foi constatado participações durante as
por meio de cartas, que as missões e que isso lhes
mulheres na época tiveram chamou a sua atenção já
sua participação para essas que as mulheres não tinha
atividades missionárias. esse privilégio na época de
estarem fora das suas
Numa Carta do Padre Lozano, atividades de grande parte
ele descreve que as mulheres domésticas.
tinham participações durante .
as missões e que isso lhes
chamou a sua atenção já que
as mulheres não tinha esse
privilégio na época de
estarem fora das suas
atividades de grande parte
domésticas.
Mulheres e Religiosidade
Com isso, três igrejas em As mulheres tiveram um
Assunção foram destinadas papel muito importante
para que as mulheres neste cenário, pois estavam
pudessem fazer suas diretamente ligadas na
disciplinas, outras cartas educação de outras
também foram enviadas mulheres, ensinando sobre
para demostrar como elas questões religiosas e do
estavam sendo exemplos matrimônio, eram ajudadas
de religiosidade feminina, a se preparar para um
com a criação de casas de futuro casamento e tinham
proteção para órfãs e que se atentar aos bons
viúvas. costumes que estavam
sendo ali oferecidos para
. elas
Mulheres na
religião

Muitas dessas mulheres que por


questões financeiras não tinham
dotes, que era importante para um
bom casamento, assim, essas
mulheres tinham sua entrada em
conventos e seguiam esse ciclo.
Muitas já tinham esse desejo de estar
diretamente ligada a religiosidade,
independente da sua idade.
Outras mulheres que também foram
destaques em ajudar e contribuir
com a missão em prol de outras,
foram casadas e quando viúvas se
entregam completamente para
ajudar nesse propósito.
Luta pela
Igualdade

Elas também lutaram por


uma vida livre que
consistiam em práticas
que não estavam
diretamente ligada a
religiosidade pregada, e
as restrições estavam
começando a surgir.
Tinham também a
educação feminina que
era restrito para moças
ricas e não para pobres,
porém com a luta por
recursos e para que essas
meninas também fossem
agraciadas por essas
obras para alcançar a
salvação.
Religiosodade feminina
Muitas mulheres estavam dispostas
a lutar por sua liberdade religiosa,
de permanecer ou não em um
lugar por puro formalismo ou por
vontade própria, liberdade para
entrar ou não para o celibato ou
conventos, independente da suas
condições financeiras escolher se
querem entrar em um casamento
ou ficar solteira, elas simplesmente
queriam poder ter o direito para
dirigir a própria vida.
O aprisionamento da mulher indígena panpa
As transgressoras eram levadas ao
A região platina do Setecentos (região cotiguaçu, sendo um local patriarcal,
de fronteira selvagem) era um ambiente com propósito de uma redução a uma
conflitivo e lugar de episódios violentos vida cristã no espaço missional com
que abarcavam diversas classes sociais preocupações morais relacionadas à
e étnicas. A mulher indígena, nesse prostituição visando trainá-las como
sentido, surgia como vítima, desde no mão-de-obra.
ambiente familiar até em locais Havia uma preocupação dos religiosos
públicos. em recolher as mulheres "solas" à força
Aparece em documentações o nome da para uma conquista espiritual no sentido
yndia Dona Gregória em desavenças e de controlar a sexualidade indígena
ataques e se pune essas lideranças, sobretudo a feminina.
entre estes, mulheres, que recebiam Portanto, deve-se ressaltar o papel das
tratamento diferente dos homens, instituições no controle da vida social
sendo enviadas para as misiones e destas mulheres: os conventos, os
reduções, ocupando espaços ambíguos recogimentos, beatérios, colégios e
de castigo e proteção. hospitais.
.

A vida e o trabalho
O matrimônio permeava a vida de todas as mulheres, sendo de
importância para as relações econômicas e comerciais.
O trabalho feminino era usualmente associado aos labores como tecer
(ocupação financeira mais importante) cozinhar, trazer água e lenha para
a redução. Fora das reduções, era predominante o trabalho doméstico,
demonstrando a concepção moral de que a mulher deveria estar
confinada ao privado. Houve, nesse sentido, uma captura e adaptação da
mulher indígena à lógica esteriotipada e patriarcal do trabalho feminino.
.
(Oeste, 2016)
La Malinche

NARRATIVA DE MALINCHE

A presente história segue a vida de Malinche,


Malinalli ou Marina, uma indígena e uma figura
histórica do México, considerada como a traidora
do povo Asteca. Embasamos nossa exposição na
fontes literárias de Hoffmann (2013) denominada
"Porta voz entre dois mundos: uma análise
narrativa de Malinche" e da escritora Santos (2017)
com o título “Malinche: O novo mundo é feito de
representações”, todas as obras possui
contribuição do romance “Malinche” de Laura
Esquivel (2007), que reinterpreta com matizes
subjetivas a história da notória indígena.
Relações de genêro
Os condicionantes pré-determinados
Primeiramente, as literaturas nos
de ascender um gênero em oposição
convidam a pensar a construção social
ao outro, são pautados nos discursos
dos papéis e das relações de gênero, e
sobre características “inatas”, que os
como as conjunturas, com o
homens mais viris e mulheres mais
movimento de práticas e
sutis. Sem contar os privilégios que
continuidades, propiciaram para que
aumentam o poderio dos homens
um gênero dominasse o outro, ou seja,
brancos e com economia favorável,
a mulher se tornar submissa para
que são uma parcela reduzida, mas
satisfazer a legitimação de poder que
com grande tomada de controle social.
foi atribuído historicamente aos
homens.

A Colonização
No período de colonização da América pelos espanhóis, a posse do
poder dos espanhóis foi justamente em detrimento da condição de
existência das mulheres indígenas. Navarro (2010, p. 93) como citado em
Santos (2017, p. 96), preconiza que “a conquista da América foi antes a
conquista sexual das indígenas, pois grande parte do interesse dos povos
europeus — homens — se encontrava no desejo pelas indígenas, o que
motivou, muitas vezes, a violência sexual.” Dessa forma, o desejo e a
brutalidade dos homens espanhóis para se apropriar das mulheres e do
sistema de valores dos nativos, culminou na transmutação da identidade
do México, miscigenando os povos e alterando muito da cultura original,
como a religião, a culinária e a língua.
.
O NASCIMENTO

Dado essa contextualização, adentramos


na história da ícone Malinche.
Originalmente seu nome era Malinalli,
uma indigena asteca que nasceu na
Região da Painala, no México. O parto foi
realizado pela sua avó, que era cega e
com quem tinha um vínculo
significativo. Como a tradição do povo
asteca estipulava que a parteira era
quem batizava, Malinalli foi consagrada
na cultura pela sua própria avó. No dia,
Malinalli estava trajada com adornos
artesanais confeccionados pela avó e
pela mãe, com blusa huipil (vestimenta
típica dos astecas) e jóias pequenas
(Santos, 2017; Hoffman, 2013).
A ESCRAVA

Quando criança, Malinalli foi vendida através da sua


mãe, como escrava para uma família da civilização
maia, onde permaneceu passando de tribo em tribo
por um considerável período de tempo até chegar
nas mãos do espanhol Hernán Cortés. Sob as
ordens do rei Carlos V, Hernán Cortés foi um dos
conquistadores que se instalou na costa mexicana,
dominado a conquista do México no século XVI.
Logo, quando chegou ao Império Asteca percebeu
que este possuía imbróglios com os demais povos
mesoamericanos, percebendo uma oportunidade
de articular estratégias com os povos rivais, para
fomentar a conquista. Para isso, Cortez necessitava
de uma facilitadora da língua (Hoffman, 2013).

Mapa do percurso da colonização de Cortés no México


A DOMINAÇÃO

Assim, entra no cenário Malinche, que foi entregue ao serviço


de Alonso Hernandez Portocarrero, integrante da comissão de
Cortés. Como Malinche conseguia falar a língua oficial dos
astecas, o nahuatl, e estava imersa na cultura dos maias, era a
facilitadora ideal para os planos do conquistador. Entretanto,
um impulso invadiu. Hernán Cortés se viu tomado por uma
atração muito forte por Malinche. Porém, se tinham regras na
expedição pautadas na religião, ele não poderia se relacionar
com as nativas. Mas, com voracidade, Cortes infringiu o trato e
se apossou de Malinche como um objeto sexual. Vislumbrados
nos trechos a seguir:

Era uma construção palaciana que maravilhou


Cortés; quando se instalou em seu quarto,
mandou chamar Malinalli e fornicou
desenfreadamente com ela, como maneira de
celebrar seu triunfo [...] (Esquivel, 2007, p. 128,
como citado em Santos, 2017, p. 63).

A mente ambiciosa de Cortés não


agüentou mais e quis possuir Malinalli e
seu deus ao mesmo tempo [...]. Carregou
Malinalli, tirou-a da água e ali, na orla do
rio, penetrou-a com força. [...] Não se
importava nem que sua paixão e força
machucassem Malinalli. (Esquivel, 2007,
p. 84 como citado em Santos, 2017, 96).
A SUBMISSÃO
Cortés violentou Malinche. A partir
dessa violência, nasceu o primeiro filho
de Malinche, Martin, considerado o
primeiro fruto da miscigenação da
América colonizada, denominado o filho
“híbrido” e bastardo. A partir daí, Cortes
e Malinalli mantinham uma relação
secreta, porque ele era casado e tinha
filhos e Malinche era a sua amante. Além
dessa relação, Malinche tinha uma
expressiva influência entre as tribos
indígenas e os espanhóis, inclusive os
catequizadores. Ela transitava entre
esses dois mundos que estavam prestes
a se mesclam. Ela era o intercâmbio. O
instrumento facilitador. Ela era o acesso.
Percebe-se a magnitude da existência de
Malinche para a conquista do novo
mundo. Por isso, foi considerada
traidora pelos seus por ser a via da
consagração da conquista. Além de
ajudar a popularizar o cristianismo entre
os indígenas.
Liberdade....

Em um determinado tempo, Malinche reivindica a sua


liberdade. Ela queria deixar de ser escrava, de sustentar
o apogeu dos espanhóis, e de ser um objeto, que na sua
saliva continha um arsenal para apagar a importância
do seu povo. Cortés concede a sua liberdade, mas ela
teria que se casar com quem ele escolhesse. Ele ainda a
queria perto, mas não validaria a sua relação: “Pois vou
fazer tua vontade, vou converter você em senhora, mas
não em minha senhora” (Esquivel, 2007, p. 162-163 como
citado em Santos, 2017, p. 98). Assim, Malinche se casa
com Jaramillo, um parceiro confiável de Cortes. Mesmo
que Malinche quisesse constituir família com o Cortés,
seu sonho foi dizimado, mas ela se adaptou à vida com
Jaramillo encontrando com ele um companheirismo.
Então Marina (nome do batismo cristão) se torna a
primeira mulher indígena a conquistar sua “liberdade”.
Posteriormente, Malinche conseguiu se
conscientizar sobre as consequência da sua
interação com os espanhóis, a partir do conselho da
sua avó que era cega, que reverberou na mente de
Malinalli por um longo tempo: “Olhar com os olhos
da alma”. Malinche caiu em si que foi assujeitada
pelos planos de Cortés, de suas promessas
benevolentes. Acabara de perceber que era a ponte
para a ruína da civilização asteca. Assim, Malinche
rompe no sentido subjetivo com Cortes e decide
ferir sua própria língua como forma de desatar seus
efeitos .
Traidora ou
sobrevivente?

O estigma de traidora da América, principalmente


aos povos nativos do méxico, acompanhou
Malinche por muito tempo. A leitura de Esquivel
considera que muitos atravessamentos deixaram
Malinche suscetível a essa demonização. Ela era
mulher, escrava, indígena e fantoche dos planos
de dizimação da cultura, que já estava se
encaminhando para isso. Ela não foi o gatilho. Ela
não tinha saída. Precisava traçar o destino dela de
alguma forma, mesmo que sua decisão de
permanecer com Cortés significasse arrastar a
civilização asteca a sua decadência. Pelas suas
interseccionalidades, essa repercussão foi mais
alarmante. Seu destino e sua fama acabou sendo
um bode expiatório. E finalizou como sendo a
personificação da culpa e do mal causado.
Recomendações

Podcast Hora
Americana

No podcast "Hora Americana- Podcast


de História das Américas", em seu 50º
episódio discute sobre as mulheres
indígenas e o genêro na América
Colonial, com a historiadora da
Universidade Estadual do Rio de janeiro,
Lorena Gouvea de Araújo. O tema
abordou mais especificamente as
vicissitudes das mulheres indígenas da
região andina no período pré-
colombiano e colonial. Está disponível
gratuitamente na plataforma Spotify.
Por Eduarda Maria Camilo Silva
Mariana Grace Cavalcanti Macedo e
Stephanie Caroline dos Santos Wild

www.reallygreatsite.com
REFERÊNCIAS
BEATRIZ; V.F. (2009). Mulheres e Vida Religiosa
na Sociedade Colonial Espanhola na Região
Platina: As Beatas da Companhia. Instituto
Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.

Hoffmann, E. (2013). Porta voz entre os dois


mundos- uma análise narrativa, Malinche de
Laura Esquivel (Publicação No. 1) [Trabalho de
Conclusão de Curso, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul]. UFRGS reservatório digital.
Disponível em:
https://lume.ufrgs.br/handle/10183/79036.

Santos, M. L. d. (2017). Malinche : o “novo


mundo” é feito de representações (1st ed.).
UFGD.

Silva, D. F. R. S. & Fabrício, D. R. (2020) As


Mulheres na História. VII Congresso Nacional de
Educação: Educação como (re)Existência:
mudanças, conscientização e conhecimentos.
Maceió -AL.

Spotify, 25 de novembro de 2022. Podcast


História Americana . Disponível
em:https://open.spotify.com/episode/6UQYavbd
mTQUCLTxG0Jo8T?si=qK3lU-AFSjihAUf6CO8E9w.

Oeste, L. (2016). De Capturadas a


desaparecidadas: Mulheres Indígenas em Fontes
da Burocracia Espanhola (sec. XVIII). (Publicação
No. 1) [Trabalho de Conclusão de Curso,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul].
UFRGS reservatório digital.

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