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O diário de leitura como aliado no processo de apreensão do texto literário:

entre subjetividades e comunidade de leitores


Face ao estreitamento e “apagamento” do lugar do texto literário no ensino fundamental, bem
como manifestações deficitárias em leitura literária; desenvolvemos uma pesquisa-ação por
meio de sequência didática, privilegiando-se a utilização do diário de leitura enquanto
instrumento com potencialidades para intervenção e coleta de dados. A aplicação piloto
ocorreu com alunos do 9°ano em uma escola da rede pública municipal (Banzaê-BA).
Objetivamos com esta pesquisa analisar o papel do diário de leitura no processo de apreensão
do texto literário (registro e compartilhamento), assim como também apresentar uma
possibilidade de trabalho em educação literária para outros professores da educação básica.
Enfatiza-se que a prática diarista, aqui adotada, só se concretiza plenamente na sua
socialização, cujo círculo de leitura constitui uma efetiva comunidade de leitores (a classe).
Para o propósito do ensino da literatura, não se pode confundir o diário de leitura com o diário
íntimo - gênero privado em que o produtor, no espaço individual, registra revelações íntimas e
sentimentos pessoais. O diário de leitura faz parte da esfera educacional. É um gênero público
com elementos do diário íntimo. Podemos defini-lo, então, como um texto escrito em primeira
pessoa do singular, a partir de instruções pré-estabelecidas pelo docente. Nele, o leitor, à
medida em que lê, dialoga de forma reflexiva com o texto lido, podendo evocar seu repertório
de leituras e vivências. Precipuamente, este trabalho valeu-se de contribuições teóricas de
Machado (1998), Buzzo (2010), Cosson (2014b), Fish (1992), Compagnon (1999), Rouxel
(2013) e Langlade (2013). Analisamos duas entradas dos alunos, após leitura do conto “A
cabeça”, de Luiz Vilela (2006) e “Ganhar o jogo”, de Rubem Fonseca (2002). Estes, relidos
consoante instrumentalização para reinterpretação via cruzamento com outras linguagens
(música e cinema), apresentação de dados/imagens dos autores e contato com textos de crítica
literária. As produções dos alunos tiveram como critério analítico os itens de orientação
docente pré-estabelecidos para a elaboração dos registros (primeira e terceira entrada), assim
como critérios vinculados à reinterpretação (segunda e quarta entradas). Os resultados
evidenciaram um aluno-leitor protagonista que se responsabiliza pela construção dos sentidos
dos textos lidos. Apontaram, junto aos dados formais e de conteúdo do texto literário, a
intervenção subjetiva dos leitores vinculada à construção e/ou reforço de identidade (s). Os
registros discentes, também, apresentaram lacunas, problemas, cuja intervenção docente se
faz imperativo por meio da proposição de soluções e/ou reflexões na compreensão dos
fenômenos arrolados. Por fim, depreendemos que houve no processo de leitura dos alunos a
conjugação das instâncias pessoal e social.
Palavras-chaves: Diário de leitura. Texto literário. Leitor protagonista. Subjetividade leitora.

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