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Data:13/06/2021

Responsabilidade ambiental
Qual é o papel da ética na responsabilidade ambiental?
Neste ensaio será abordada a temática da responsabilidade que as pessoas possuem sobre o
ambiente e o papel da ética nisso. Tem como objetivo sensibilizar as pessoas face às
responsabilidades que cada um é encarregue face ao ambiente de forma a “criar” o mundo o
melhor possivel para as gerações atuais e futuras não só de humanos, mas também de todas as
espécies de animais.
Este problema da responsabilidade ambiental começou já na era da Revolução Industrial. Esta,
como o nome indica, revolucionou o mundo dos humanos, através da criação de bens materiais
em massa que melhoraram significativamente as condições de vida dos seres humanos do século
XVIII. Mas essa revolução acarretou um custo pesado, não em termos económicos, mas sim
ambientais. A revolução industrial conseguiu possibilitar essa criação de bens através do
desenvolvimento de industrias, com a criação de fábricas com máquinas a vapor. O problema é
que além de necessitarem de recursos como o carvão para o seu funcionamento, também emitiam
gases poluentes para o ar que as pessoas respiravam, algo que causou eventos como O Grande
Nevoeiro de 1952, que consistiu na acumulação perto do solo de gases nocivos libertados por
fábricas em Londres durante 5 dias, que acabou por provocar a morte de entre 4 mil a 12 mil
pessoas.

Esses aspetos negativos da Revolução Industrial não ficaram no passado, aliás esses efeitos
intensificaram-se com o tempo, pois ocorreu o desenvolvimento dessas industrias, o que
aumentou imenso essas emissões de gases nocivos para o ar que respirámos e, com o
consequente aumento da população mundial, o número de recursos mundiais gastos atingiu
níveis cada vez mais elevados. Isso tudo leva-nos aos dias de hoje e à atualidade deste problema.
De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e agricultura), por
ano são destruídos 10 milhões de hectares de floresta, se juntarmos esses dados com outros sobre
a emissão de 43 biliões de toneladas de dióxido de carbono (em 2019) podemos verificar que a
qualidade de ar no planeta Terra está a diminuir, algo que, de acordo a OMS, mata
aproximadamente 7 milhões de pessoas por ano. A emissão de gases de efeito de estufa (GEE)
também vai provocar o efeito de estufa, que vai causar o aumento da temperatura terrestre, esse
aumento da temperatura global vai causar o derretimento do gelo dos polos e então a subida do
nível das águas do mar que já começa a afetar as zonas costeiras do globo. Isto tudo mostra a
assustadora atualidade da necessidade da responsabilidade ambiental e o porquê de eu precisar
fazer esta tese.
Data:13/06/2021
Face a este tema da responsabilidade ambiental surgiram várias teses que debatem sobre o
problema. Uma dessas teses, criada pelo filosofo Hans Jonas, aborda-o numa posição
antropocêntrica, no seu ensaio: O Principio da Responsabilidade. Segundo Jonas, os avanços
científicos permitiram que o ser humano adquirisse um poder e controlo sob o planeta Terra
enorme. Mas “com grande poder vem grande responsabilidade” (Lee. S., 1962: 13) e essas
vantagens, rapidamente se podem tornar desvantagens devido às suas enormes capacidades
destrutivas (como energia nuclear). Então vai ser imperativo intervir para garantir a
sobrevivência das futuras gerações de humanos na Terra, “Aja de forma que os efeitos da sua
ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana autentica na Terra.” (Jonas, H.,
1995:40). Em suma segundo Hans Jonas, n’O Principio da Responsabilidade, defende que a ação
humana na natureza tem de ser pautada e responsável de forma a permitir a sobrevivência das
gerações futuras com uma qualidade de vida boa. É por isso que esta ética vai ser considerada
antropocêntrica, pois os instigadores da responsabilidade ambiental são, segundo Jonas, os
interesses e necessidades humanas, para continuar com a sua espécie, e não a natureza e a sua
estabilidade e integridade.

Outra tese sobre o tema do papel da ética na responsabilidade ambiental foi proposta, não por um
filosofo de profissão, mas sim por um engenheiro florestal e ambientalista norte-americano
chamado Aldo Leopold. No seu livro Pensar Como uma Montanha, Leopold critica a relação
entre os humanos e a natureza e o impacto que estes têm sobre ela. O autor, na sua ética
denominada a Ética da Terra, opõe-se ao antropocentrismo e rejeita o individualismo,
defendendo que todo o ecossistema, ou como ele denomina, toda a comunidade biótica tem um
estatuto moral “A ética da terra simplesmente aumenta os limites da comunidade para incluir os
solos, a água, plantas, e animais, ou em coletivo: a terra.” (Leopold A., 1949: 204). Segundo
Leopold, os seres humanos vão passar a ter deveres morais para com a comunidade biótica “Em
suma, a Ética da Terra muda o papel do Homo Sapiens de conquistador da comunidade terrestre
para um simples membro. Isso implica respeito para com os outros membros e respeito pela
comunidade biótica em todo.” (Leopold A. 1949:204), passando a ser necessário então
preocupar-nos primariamente com a preservação de todo o ecossistema e não com os interesses
de cada um dos organismos individuais, ou seja, o valor intrínseco do todo (comunidade biótica)
é superior ao dos indivíduos que a compõem. Devido a esta posição esta ética é considerada
holista, pois dá prioridade ao todo face às partes que constituem esse todo. A Ética da Terra
defende então, que nós devemos fazer aquilo que promove a integridade, estabilidade e beleza da
comunidade biótica sendo o bem desta o padrão último do valor moral das ações (Callicott J.
s/d:216) e só assim desenvolveremos uma verdadeira responsabilidade ambiental.

A minha posição e a tese que vou defender é a que fundamenta que a nossa responsabilidade
ambiental tem de ter em vista o bem da comunidade biótica e não os interesses das partes que a
constituem, ou seja defendo a Ética da Terra. Tomo esta posição pois a razão de estarmos numa
situação de emergência climática, no meu ponto de vista, é exatamente a falta de preocupação
que os seres humanos têm com a natureza, proveniente de um antropocentrismo ético, que
considerava a natureza um mero instrumento, o que levou aos seres humanos abusarem desta,
colocando-nos nesta situação.
Data:13/06/2021
Para apoiar esta minha posição apelo à ética de Kant. Segundo este uma ação respeita a lei moral
se é realizada com uma boa vontade, ou seja, se é realizada por dever. Ao tomarmos ações de
responsabilidade ambiental apenas porque queremos permitir a vida das gerações futuras
estamos a fazer uma ação em mera conformidade com o dever, pois a ação está condicionada por
inclinações próprias (o desejo da continuação da espécie) e não pelo dever, que ter
responsabilidade ambiental é o correto de se fazer, não só para com os humanos, mas para com
toda a natureza em si, pois esta possui um valor intrínseco superior ao dos indivíduos que a
compõem, incluindo os humanos.

Além disso o antropocentrismo “esquece-se” que os humanos também são seres vivos,
provenientes da Natureza e que foi ela que permitiu aos humanos realizar todas as conquistas que
atingiram e se orgulham, pois sem a Natureza, o ser humano não teria nem recursos nem abrigo
para os realizar. O antropocentrismo ético permitiu abusos da Natureza, então é necessária uma
mudança no modo de pensar dos seres humanos, descartando esse individualismo e valorizando-
a pelo seu valor verdadeiro, pois sem ela não teríamos as praias que certas pessoas gostam de
frequentar, atividades de campismo, rafting, entre outras atividades ao ar livre.

A aparente radicalidade desta ética fez com que vários filósofos a criticassem. Estes defendiam
que a Ética da Terra ao dar prioridade ao todo face às partes que o constituem iam permitir maus
tratos e desrespeito das partes que o constituem, inclusive de humanos, fazendo uma comparação
ao fascismo, este, com o ultranacionalismo, diz que o bem da nação é superior a tudo o resto e
podem-se sacrificar pessoas para atingir esse bem. Esses filósofos também apontaram que ao se
defender a Ética da Terra também se iria defender a aniquilação de milhões de humanos, pois a
sobrepopulação humana, como foi mencionado anteriormente, é uma das principais ameaças à
comunidade biótica. Essas comparações ao fascismo fizeram com que este argumento fosse
denominado por Ecofascismo.

Devido a estes contra-argumentos, um filosofo norte-americano chamado J. Baird Callicott fez


notar que cada individuo, além de pertencer à comunidade biótica também pertence a outras
comunidades menores, como a nossa família e o facto de termos obrigações para com a
comunidade biótica não significa que não estejamos sujeitos a outras obrigações “…as nossas
obrigações holistas não são exclusivas. Não deixamos de estar sujeitos a todos os outros
deveres…” (Callicott J. 1989: 216-217). Então da mesma forma que podemos não fazer uma
viagem para férias num resort para ajudar as crianças famintas em África, também podemos
fazer sacrifícios pessoais como a diminuição do número de produtos que compramos de forma a
promover o bem do ambiente.

Em suma a crescente evolução da ciência trouxe imensos benefícios para a espécie humana, mas
ao mesmo tempo também trouxe malefícios, não só para os humanos, mas para o planeta como
um todo. Para reverter esse problema é imperativo mudar a nossa abordagem para com o
ambiente, passando a preocupar-nos com o bem da comunidade biótica, deixando de parte
individualismos e o antropocentrismo, dando prioridade ao todo face ao individuo, corrigindo os
erros do passado e de forma passarmos a respeitar a Natureza pelo seu verdadeiro valor
intrínseco de forma a desenvolvermos uma verdadeira responsabilidade ambiental.
Data:13/06/2021

Bibliografia:

JONAS, Hans, (1995), O Principio da Responsabilidade, Barcelona, Espanha, Editorial Herder;


páginas 38 a 40

Leopold Aldo, (1949) Pensar Como uma Montanha, Estados Unidos da América, Oxford


University Press, páginas 201 a204

Callicott John Baird, (1989) Libertação dos Animais: uma questão triangular, Porto Editora
páginas 216 a 217

Lopes António, Galvão Pedro, Mateus Paula, (2019) Razões de Ser, Portugal, Porto Editora
páginas 266 a 277

Webgrafia:
PEREIRA (Francisco) “Como escrever um ensaio filosófico?” in: #ESTUDOEMCASA
https://www.rtp.pt/play/estudoemcasa/p7885/e522843/filosofia-area-de-integracao-10-e-11-ano -
consultado no dia 29/05/2021

CHAKELIAN (Anoosh) e CALCEA (Nicu) “Ella Adoo-Kissi-Debrah and the Great Smog of

modern London” in: New Statesman


https://www.newstatesman.com/politics/environment/2020/12/ella-adoo-kissi-debrah-and-great-
smog-modern-london consultado no dia 1/06/2021

ANONIMO “The State of the world’s forests” in: FAO http://www.fao.org/state-of-forests/en/ -


consultado no dia 06/06/2021

ANONIMO “Tons of CO2 emitted into the atmosphere” in The World Counts
https://www.theworldcounts.com/challenges/climate-change/global-warming/global-co2-
emissions/story - consultado no dia 06/06/2021

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