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Disciplina: Política e Planejamento da Educação Brasileira

Professora: Dr. Daniela de Oliveria Pires


Aluno: Vinicius de Moura Turno: Noite
ATIVIDADE AVALIATIVA - REFORMAS EDUCACIONAIS
(O NOVO ENSINO MÉDIO NO ESTADO DO PARANÁ)

Introdução
A Reforma do Ensino Médio, implementada no Brasil em 2017, foi uma mudança
significativa no cenário educacional do país. Com o objetivo de adequar o currículo
escolar às demandas do século XXI e proporcionar maior flexibilidade aos estudantes, a
reforma trouxe consigo uma série de transformações no ensino médio. Sobre isto, este
texto tem como propósito analisar e discutir a Reforma do Ensino Médio no Brasil,
destacando aspectos gerais da reforma, a caracterização dos itinerários formativos, a
influência do setor privado nesse processo e, por fim, apresentará e comentará o
convênio do Estado do Paraná com a Unicesumar para a implementação da Reforma do
Ensino Médio na educação profissional.
Aspectos Gerais da Reforma do Ensino Médio
A Reforma do Ensino Médio, pautada na Lei nº 13.415/2017, visou promover
mudanças substanciais no currículo do ensino médio brasileiro por meio da alteração da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) no que tange a organização
curricular (Lei 13.415/17) e também quanto ao Fundo de manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB) no que tange ao financiamento (Lei
11.494/2007). Uma dessas alterações foi a flexibilização da grade curricular, que antes
era composta majoritariamente por disciplinas obrigatórias. Com a introdução dessas
alterações, a organização curricular que se encontra no Projeto de Lei n° 6.840/2013
formula que “o estudante faria opção por uma das áreas do currículo ou pela formação
profissional.” (Silva et al., 2017, p. 25), fraguimentando os conhecimentos escolares até
então ofertados a todos/as os/as discentes. Como consequência dessas alterações, a
formação básica comum a todos e todas os/as jovens foi comprometido, colocando em
xeque a identidade do ensino médio prevista na lei 9.394/16, no qual pretende
possibilitar a formação comum e também o exercício da cidadania (Art.22).
Antes das mudanças propostas pelo PL n°6.840/2013, baseado na conceituação
da oferta do ensino médio integrado (EMI) e pautado na consideração do trabalho como
“princípio educativo, no conceito de formação politecnica e em um eixo de organização
curricular –ciência, cultura e trabalho.” (Silva et al., 2017, p. 23), foram formuladas as
Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino médio (Parecer CNE/CEB 05/2011 e
Resolução CNE/CEB 02/2012). Neste ínterim se delineou disputas para a reformulação
do Ensino médio em 2013, no qual procurava-se aproximar o ensino médio ao mercado
de trabalho. Neste âmbito de disputas, houve atos contrários a Medida provisória
746/2016, no qual pretendia a “divisão do currículo em cinco ênfases ou itinerários
formativos (Linguagens, Matemática, Ciência da Natureza, Ciências Humanas,
Formação Técnicas e profissional)” (Silva et al., 2017, p. 26). Esse embate contrário foi
promovido pelo Movimento Nacional em Defesa do Ensino Médio, no qual tencionou a
constrição dessa MP no que tange a formação básica comum dos/das jovens. Além disso
a MP foi tencionada por suas contrariedades, pois a ideia passada pela propaganda
governamental por trás da mudança era proporcionar um ensino mais atrativo e alinhado
com a realidade de cada aluno, mas os itinerários formativos seriam distribuídos pelos
sistemas estaduais de educação. Estes últimos, têm como por função a regulamentação
da Base Nacional de educação -BNCC- por meio de normatizações. Sobre estas, pode-
se citar a normativa proposta pela Secretaria Estadual de Educação do Paraná: Instrução
Normativa Conjunta n° 011/2020; esta prevê uma alteração na matriz curricular da rede
pública de ensino no que se refere a carga horária das disciplinas das Ciências
Humanas.
Caracterização dos Itinerários Formativos
Os itinerários formativos propostos pela MP 746/2016, amplamente divulgado
pela propaganda governamental, propunha inovações significativas na Reforma do
Ensino Médio. Dentre estas inovações, era divulgado que os/as estudantes poderiam
escolher caminhos mais alinhados com seus interesses e aspirações profissionais. No
entanto, sobre a efetiva implementação desses itinerários formativos constava que os
sistemas estaduais de educação estavam incumbidos por essa escolha (Silva et al., 2017,
p.27). Além disso, a qualidade do ensino nos itinerários formativos pode variar
significativamente, dependendo da escola e dos recursos disponíveis. Isso cria
disparidades no sistema educacional, dificultando a garantia de que todos os estudantes
tenham acesso a uma educação de qualidade, independentemente do itinerário
escolhido. Essa disparidade tem como reflexo a retirada da obrigatoriedade de
disciplinas como “(...)Filosofia, Sociologia, Artes e Educação Física, garantidas nas
Diretrizes Curriculares nacionais ou em leis específicas(...)” (Silva et al., 2017, p.27).
Esse itinerário, proposto pela Medida Provisória 746/16, tem como por base
argumentos anteriores que afirmavam a necessidade de “(...)adequar a formação dessa
juventude à lógica do mercado, pois apenas uma parte muito pequena dos concluintes da
educação básica terá acesso à educação superior;” (Silva et al., 2017, p.27). Esse
argumento avaliou a consequência da baixa inclusão à educação superior sem
considerar os motivos pelo qual os jovens não adentram à educação superior. Diante
desse baixo engajamento dos/das jovens ao ensino superior, a resolução seria conformar
eles/elas à lógica do mercado. Este argumento pernicioso recai novamente na formação
comum a todos e todas as/os estudantes, isto é, estando à mercê dos itinerários
formativos que os sistemas estaduais de educação escolherem para cada região, se
um/uma aluno/a que trabalha não tiver um itinerário formativo de sua escolha perto da
região que trabalha e mora, sua condição o/a condicionaria a optar pelo que lhe fosse
viável. Além disso, esses/as jovens que trabalham, também estariam excluídos de um
itinerário comum (se a MP 746 fosse aprovada sem alteração), que concebesse na
jornada escolar de sete horas diárias, pois acrescentar a jornada de trabalho de seis horas
(no caso de estágio, sem considerar o trabalho informal de oito horas) à jornada escolar
de sete, desestimularia a frequência pela exaustão mental e física. Neste ínterim, vê-se a
propaganda que defende uma ascensão social para aqueles que labutarem ao máximo,
produzindo uma crença na utopia de que algum dia a recompensa pelo esforço virá.
Logo, no que tange à perspectiva desses itinerários, a tomada de sentido para a
proposição de carácter comum, inclusivo e coletivo da escola pública diverge da
realidade da camada periférica da sociedade.
A Influência do Setor Privado na Reforma do Ensino Médio
Um dos aspectos mais controversos da Reforma do Ensino Médio é a influência
do setor privado na sua implementação. A reforma permitiu parcerias entre escolas
públicas e instituições privadas, o que gerou debates sobre a privatização da educação.
Apesar da reforma do Ensino Médio ser recente, a formação proposta pelas pedagogias,
a reordenação de políticas públicas e a reforma do Estado, estão em processo há algum
tempo, isto, com o intuito de cumprir “uma função ideológica ao assumir o consenso da
economia em convergência com o setor produtivo, permeado pelo imaginário da
eficiência e da competitividade.” (Silva et al., 2017, p.406). Como consequência da
reordenação de políticas públicas, temos como por exemplo a Lei n.13415/2017, que
reprime a regulamentação dos direitos sociais e insere as ideologias neoliberais no
âmbito escolar: no que se refere a “controlar os conteúdos escolares e impedir a livre
circulação de ideias no ambiente escolar, com propostas de formação de
empreendedores, educação domiciliar, militarização das escolas(...)” (Silva et al., 2017,
p.406). Neste ínterim, com o exemplo do controle sobre os conteúdos escolares
convergindo com os objetivos da economia juntamente com os setores produtivos, se
tem o direcionamento da realidade de diversas pessoas para suprir o interesse de uma
parcela mínima da sociedade, os detentores do controle de biopolíticas. Apesar da
função dos eleitos para cargos do aparelho do Estado ser o de produzir biopoliticas em
prol dos interesses da população, isto não se verificou no que se refere a reformulação
curricular proposta pela Instrução Normativa Conjunta N ° 008/2021 no Paraná, que
“não contou com a participação da comunidade escolar e nem mesmo com a aprovação
do CEE do Paraná.” (Silva et al., 2017, p.403). Neste contexto, a formação de pessoas
com o modus vivendi capitalista poderá derivar pessoas que concordem futuramente
(apesar de que no momento presente há pessoas que concordem) com aspectos mais
atrozes do que este, pois as significações e decisões do dia a dia poderão ser pautados
pelos conhecimentos adquiridos por esse modus vivendi capitalista. Sobre este modo de
visualizar a educação, pode-se citar a operação de parceria público-privada no Rio
Grande do Norte, bem como o Instituto de Corresponsabilidade pela Educação, no qual
propõe “conhecimentos e valores necessários à ocupação de vagas em um mercado de
trabalho que atende a essas empresas e aos seus parceiros.” (DINIZ & GARCIA, 2018,
s/b hkfgyfgyi).
O Convênio no Estado do Paraná e a Implementação da Reforma do Ensino
Médio.
No Estado do Paraná, um convênio entre o governo estadual e a Unicesumar
gerou controvérsia. A Unicesumar passou a atuar na educação profissional, oferecendo
cursos técnicos em parceria com escolas públicas. Nestes cursos, o modelo escolhido
pela Secretaria Estadual de Educação e Esporte (SEED), será de aulas ministradas por
meio da internet e nas salas de aula haverá monitoria feita por auxiliares. Segundo um
relato feito por Roni Miranda, diretor da SEED, à Gazeta do Povo, as aulas serão
realizadas por dois professores(as), no qual um(a) terá como por função ministrar a aula
e a(o) outra(o) cuidará de integrar os 600 alunos à aula. Além disso, a proposta prevê
que nas salas de aula haverá monitores capacitados pelo magistério para efetuar esta
função. Na justificativa para efetivação desta proposta, ele comentou: “Não adianta ter
lá como monitor um doutor em Desenvolvimento de Sistemas se ele não tem técnica de
ensinar.” (gazeta), apesar desta fala, mais adiante na mesma matéria deste comentário,
onde é explicito a demora do início da aulas por falta de monitores em algumas escolas,
a SEED afirmou que “de qualquer forma, os alunos estão tendo as aulas introdutórias
usando os equipamentos que a Seed disponibilizou.” (Gazeta do Povo), mostrando que
o despreparo para a inserção de tal política. Ademais, como as aulas são síncronas, não
há respostas de como os monitores vão entrar em contato com os professores no caso de
houver uma sala considerada “agitada” (realidade de muitas escolas), isto é, os
monitores teriam que pedir para os professores repetirem o que foi dito, se tornando um
trabalho oneroso.
Esta parceria entre o governo do estado e a unicesumar pode acarretar na
desvalorização de profissionais da educação dos magistérios, pois pode impactar na
redução dos salários e a ameaçar à Lei do Piso do Magistério. Isto pois os profissionais
do magistério habilitados não adviria do quadro do Estado, mas de terceirizados. De
acordo com Luiz Colussi, diretor de assuntos legislativos da Associação Nacional dos
Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), os trabalhadores terceirizados no setor
educacional geralmente recebem salários inferiores em comparação com os funcionários
contratados diretamente, com um estudo de 2014 destacando uma disparidade de 24,7%
nos vencimentos. Além disso, os terceirizados frequentemente enfrentam jornadas de
trabalho mais extensas e correm um risco mais elevado de acidentes no ambiente de
trabalho. A terceirização, assim, coloca em risco as garantias e os direitos dos
trabalhadores, incluindo a possibilidade de dedicar um terço da jornada a atividades
extraclasse. Isso também levanta preocupações sobre a realização da Meta 17 do Plano
Nacional de Educação, que busca igualar os salários dos professores aos de
profissionais com a mesma formação, tornando essa meta difícil de ser alcançada sob o
cenário da terceirização na educação.
Considerações Finais
A Reforma do Ensino Médio, como estabelecida pela Lei nº 13.415/2017, propôs
a flexibilização da grade curricular, permitindo a fragmentação do conhecimento escolar
e o comprometimento da formação básica comum a todos os alunos, questionando a
identidade do ensino médio prevista na legislação. Além disso, essa flexibilidade
também gerou disparidades, uma vez que a escolha dos itinerários pode variar de acordo
com os sistemas estaduais de educação, afetando a formação comum de todos os
estudantes, principalmente de regiões periféricas das cidades. Alguns estudantes podem
ser prejudicados pela falta de opções de itinerários formativos em suas áreas
geográficas, ou devido limitações econômicas, o que coloca em risco o princípio de uma
educação igualitária e acessível para todos. Outro ponto de preocupação é a influência
do setor privado na implementação da reforma. A permissão de parcerias entre escolas
públicas e instituições privadas gerou debates sobre a privatização da educação e a
possível desvalorização dos profissionais do magistério. Além disso, a falta de
envolvimento da comunidade escolar na elaboração das políticas educacionais levanta
preocupações sobre a adequação e relevância das mudanças propostas. A voz dos
educadores, estudantes e suas famílias deve ser considerada no processo de reforma
educacional. Em resumo, a Reforma do Ensino Médio no Brasil é uma questão
complexa e multifacetada que envolve mudanças no currículo, questões de equidade,
influência do setor privado e participação da comunidade escolar.
Referências
SILVA, Monica Ribeiro da. Reforma do ensino médio Pragmatismo e lógica
mercantil. Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 11, n. 20, p. 19-31, jan./jun.
2017.

SILVA, Monica Ribeiro da.; BARBOSA, Renata Peres; KÖRBES, CLECÍ. A


reforma do ensino médio no Paraná: dos enunciados da Lei 13.415/17 à
regulamentação estadual. Revista Retratos da Escola.

o https://www.gazetadopovo.com.br/parana/parana-adota-parceria-
para-disciplinas-do-novo-ensino-medio-sindicato-critica/
o https://www.plural.jor.br/noticias/vizinhanca/e-responsabilidade-
dela-garantir-a-aprendizagem-diz-diretor-da-seed-sobre-aulas-do-
ensino-medio-repassadas-a-iniciativa-privada/

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