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A Cultura: Conteúdos

1. Definir cultura.
A cultura é o produto da forma de viver de cada sociedade e abrange tudo o que o Homem
produz, no qual se incluem as atitudes, os valores, as normas, as crenças, os conhecimentos,
as tradições, os hábitos, os objetos, etc. É adquirida após o nascimento e transmite-se de
geração em geração através da linguagem.
A cultura está presente em todas as sociedades e desempenha um papel decisivo no duplo
caráter da espécie humana: a sua unidade e a sua diversidade. Assim, podemos encontrar
um conjunto de elementos que estão presentes em todas as culturas:
- Uma língua ou grupo comum de línguas e uma História;
- Uma religião dominante ou um conjunto de crenças religiosas;
- Uma série de costumes e valores nucleares e uma moral comum;
- Sistemas de organização social;
- Hábitos alimentares e higiénicos socialmente aceites;
- Objetos únicos dessa sociedade.
Por que razão a cultura é importante?
- A cultura é importante porque é o principal fator humanizador. Para aprender e
desenvolver a sua capacidade de adaptação, não basta ao ser humano um programa
genético aberto e um cérebro complexo. Estas condições são necessárias, mas não
suficientes. O meio físico é importante, mas, como o exemplo da criança Genie tornou
evidente, é indispensável outro meio para nos tornarmos humanos. Este é o meio social e
cultural constituído por outras pessoas e pelos valores e padrões de comportamento que as
regulam, enquanto grupo.
- A cultura está presente em todas as sociedades e constitui o mais bem-sucedido
mecanismo de ajustamento de uma espécie ao seu meio. É, desta forma, um importante
organizador e estabilizador que nos fornece orientações sobre como nos devemos
comportar e pensar e sobre o que podemos esperar dos outros que partilham a mesma
cultura que nós.
O conceito de cultura compreende dois elementos. O conteúdo espiritual e o conteúdo
material.
O conteúdo espiritual é constituído:
- pelas instituições (o direito, a moral, os costumes, as tradições, os ritos simbólicos, as
cerimónias, as modas);
- pelos valores (cada sociedade determina o que é o bem, o mal, o belo, o feio, em suma, o
que é desejável);
- pelas normas (desde as normas de etiqueta às normas jurídicas e morais), pelas crenças
(expressas em «livros sagrados», em mitos e lendas, etc.);
- pelos conhecimentos e ideias (teorias científicas, conceções filosóficas);
- e pelas produções literárias e artísticas.
O conteúdo material é constituído:
- pelas coisas e objetos produzidos e pela tecnologia (conjunto de técnicas) para produzir
objetos e instrumentos, para adquirir produtos (agricultura, pesca, caço, etc.), para os
transportar, etc.
Em suma:

Elementos culturais

Tangíveis/materiais Intangíveis/imateriais/espirituais

Obras de arte, Valores (morais, estéticos, religiosos),


Construções Monumentos, Crenças (religiosas, filosóficas),
Rituais, Linguagem/sistemas simbólicos,
Tecnologia Vias e meios de circulação, Ideias/Ideologias,
Instrumentos de trabalho e de produção, Teorias,
Legislação, normas e regras, Usos e costumes (materializam-se em
Artefactos e objectos variados (vestuário hábitos, rituais e gestos),
por exemplo), Relações sociais.
Formas de comunicação,
Culinária.

Estes dois tipos de elementos


1. Estão interligados em todas as realidades culturais (todas as realidades culturais
incorporam estas duas dimensões).
2. Influenciam-se mutuamente:
- Crenças religiosas (espiritual) podem condicionar a alimentação (material);
- O avanço nas tecnologias da comunicação (material) alterou o modo como
comunicamos (costumes/espiritual).

2. Explicar as características da cultura.

Características básicas da cultura

Adquirida/construída Social Específica/particular

-Não é congénita/ instintiva; -Não há cultura individual é -Representa um certo modo


-Tem de ser criada pela sempre social: de vida, isto é, num
criatividade/capacidade -Porque construída e conjunto de valores, crenças
humanas. partilhada socialmente; e comportamentos próprios
-Porque tem a função de de cada povo.
organizar (atribuir um
significado e facilitar) a
interação social;
-Porque é transmitida de
geração em geração.
3. Definir socialização.
A cultura e os padrões culturais não nascem connosco. É necessário que cada indivíduo
aprenda, interiorize, partilhe e valorize as orientações do(s) meio(s) social(ais) e cultural(ais)
em que se desenvolverá a sua vida.
A socialização é o processo pelo qual o indivíduo interioriza (sob a influência de agentes de
socialização) e transmite o padrão cultural e o modelo coletivo de agir, pensar e sentir
característicos do(s) seu(s) grupo(s) de pertença.
Este processo é o:
- Principal canal de transmissão da cultura de um grupo;
- Fator de sobrevivência dos grupos sociais/sociedades;
- Fator de humanização e desenvolvimento do indivíduo;

4. Distinguir socialização primária e secundária. Explicar a sua importância.

Tipos de socialização

Socialização primária Socialização secundária

-Processo de aquisição de - Processo que introduz o


saberes e competências básicos indivíduo, já primariamente
que nos tornam aptos a viver em socializado, em novos setores
sociedade. do mundo social.
O que é? -Constitui a fonte do primeiro -Acontece a cada nova situação
mundo social do indivíduo e e com cada novo papel com que
deixa nele marcas profundas. nos deparamos ao longo da
vida.
-Designa ajustamentos do
indivíduo em função de
alterações significativas (por
exemplo, casar, mudar de
profissão, emigrar, etc).

Quando decorre? -Ocorre durante a infância. -Acompanha toda a vida adulta.

-Acontece na interação com -No interior dos novos grupos


os agentes de socialização que vamos integrando.
Onde decorre? primários (família, educadores,
vizinhança, grupo de
pares/amigos).

-Tudo o que é básico e -Tudo o que é básico e


fundamental (saberes, atitudes, fundamental para favorecer a
O que se aprende? valores, etc.) para favorecer a integração social nos vários
integração em geral numa grupos sociais aos quais vamos
sociedade. pertencendo na nossa
sociedade.
-Saber comer com talheres. - Saber como cuidar de uma
-Saber vestir-se. criança.
-Aprender a falar. -Saber como cumprir as
-Saber ler e escrever. obrigações fiscais.
-Lavar os dentes após as -Saber lidar com companhias de
refeições. seguros e bancos.
-Adquirir o conceito de lealdade -Saber enfrentar com dignidade
Exemplos e de justiça. uma situação de rutura
-Saber esperar pela sua vez para conjugal.
ser atendido. -Saber lidar profissionalmente
-Saber cumprimentar as pessoas com chefes e subordinados.
de acordo com as circunstâncias. -Saber argumentar a favor ou
contra temas polémicos como o
aborto, a eutanásia, a
regionalização, a liberalização
das drogas, etc.

5. Conhecer os agentes de socialização e discutir a sua importância.


No processo de socialização, que permite a construção da nossa identidade social e a
integração do indivíduo em contextos sociais e culturais, a aprendizagem por observação e
imitação (também chamada de aprendizagem por modelação ou modelagem) dos agentes
de socialização assume um papel especial.
Uma grande parte dos comportamentos adquiridos ao longo da vida são apreendidos desta
forma. Se refletires um pouco sobre o assunto, encontrarás muitas semelhanças entre a tua
forma de falar, rir e estar e a de outros modelos significativos, incluindo, por exemplo, os
teus pais, irmãos ou amigos.

Agentes de socialização

A família é importantíssima:
Família -Na formação das atitudes sociais básicas.
-Na transmissão de valores básicos.
-Na promoção da auto consciencialização.

Ao chegar à escola a criança já teve contato com a realidade social e


cultural, na escola vai relacionar-se com outras pessoas, descobrir
novas relações, aprender novas coisas:
-A comportar-se na sala de aula.
Escola -A ser pontual.
-A cumprir determinadas regras de disciplina.
-A aceitar e responder à autoridade dos professores (um novo tipo
de autoridade).
-A aprender um conjunto substancialmente diferente de assuntos
definidos pelo currículo escolar.
-Junto dos seus pares a criança aprende:
-O que significa ser igual;
-A cooperar;
-A conquistar autoridade e reconhecimento dos outros;
Grupo de pares -A obter o que pretende nessa situação;
-Sobretudo a criança vê, interpreta, julga e age sem a intermediação
dos adultos.
-Constitui uma aprendizagem informal distinta dos conteúdos
escolares padronizados.

-Veiculam informações e conhecimentos de que dependem muitas


das nossas atividades sociais.
-Veiculam valores que, consciente ou inconscientemente, moldam a
nossa maneira de pensar, de sentir e de agir.
Meios de -Serviços noticiosos: as notícias veiculadas ( e as que não são), o
comunicação modo como são apresentadas e o destaque que lhes é dado
social influenciam as opiniões individuais e a opinião pública;
-Filmes e telenovelas: responsáveis pela manutenção de valores
dominantes, mas também por mudanças de mentalidades educando
para novos valores e comportamentos ao abordar questões
polémicas como a toxicodependência, a homossexualidade, o rapto
e tráfico de menores, a diversidade cultural;
-Publicidade e propaganda.

Uma boa parte do comportamento humano é, pois, aprendido por modelação. De que
forma? Desde que nascemos, estamos rodeados por pessoas que falam e agem de
diferentes formas. Prestamos atenção ao que dizem e fazem e guardamos as ações que
vamos observando. Depois, ensaiamos e repetimos mentalmente cada um destes gestos.
Por fim, se motivados para tal, reproduzimos os modelos, isto é, imitamo-los.
Muitos dos nossos conhecimentos, comportamentos e competências sociais, a começar pela
língua, foram adquiridos deste modo, ou seja, por observação do que as outras pessoas
fazem e das consequências das suas ações. Os meios de comunicação social desempenham
um papel relevante neste modo de aprendizagem por modelação.

6. Perceber a importância das crianças selvagens.


As interações que mantemos com outros, especialmente as que acontecem precocemente,
são indispensáveis para o nosso desenvolvimento social e para a construção da nossa
identidade.
É também através destas relações que aprendemos saberes básicos e competências
linguísticas, cognitivas, afetivas, sociais e culturais.
Os relatos de crianças selvagens demonstram como são importantes as relações que
mantemos com os outros e como são drásticas as consequências da sua privação precoce.
Criança selvagem é a designação usualmente atribuída a uma criança que cresceu e se
desenvolveu fora da sociedade, da cultura, da civilização, por vezes sozinha, por vezes na
companhia de animais, mas, em todo o caso, sempre longe dos modelos humanos e das
relações sociais.
Não obstante as diferenças, a maioria das crianças selvagens conhecidas, uma vez recolhida,
revelava alguns aspetos comuns que evidenciam um desenvolvimento diferente a vários
níveis:
- Acentuada dificuldade de interação e reduzida expressão facial.
- Ausência total ou parcial de fala e sistemas de comunicação baseados em sons de animais.
- Ausência total ou parcial de bipedismo.
- Acuidade visual noturna e elevadas capacidades olfativas.
- Preferência por alimentos crus e pela companhia de animais domésticos.
- Relativa insensibilidade ao frio e ao calor ambientais.
- Ritmos de sono relacionados com o anoitecer e a aurora.

7. Definir padrão cultural.


O padrão cultural diz respeito à maneira própria e tipificada de pensar, sentir e agir
específica de uma determinada cultura. São essencialmente modelos normativos que
estabelecem alguma previsibilidade nos comportamentos esperados dos indivíduos
enquanto membros de uma sociedade.
Exemplos: Língua, vestuário, moeda, modos de comer, modos de vestir, etc.

Funções dos padrões de cultura

Integração Cognitiva e preditiva Normalização

Facilitam a adaptação dos Sendo formas comuns de -Constituem normas de


indivíduos à comunidade pensar e agir, os padrões comportamento.
conduzindo ao êxito social. culturais constituem -Dão-nos um sentimento de
esquemas mentais que normalidade ao fazer-nos
permitem: sentir irmanados uns dos
-Saber o que fazer outros.
-Prever o que os outros
farão

8. Perceber a história pessoal como um contínuo de organização entre fatores internos e


externos.
A partir do momento em que nascemos, vamo-nos tornando mais sociais e,
simultaneamente, mais individuais e únicos, pois o processo de desenvolvimento social
inclui duas funções complementares: uma função integradora (de socialização) e uma
função diferenciadora (de individualização).
As duas acompanham o desenvolvimento ao longo da vida e contribuem para a adaptação
bem-sucedida e para a formação de uma identidade pessoal coesa e dinâmica.
Função integradora: Através da socialização cada um de nós estabelece relações com outros
e, guiado pela cultura, torna-se parte integrante da sociedade.
Função diferenciadora: Através da individuação construímos a nossa identidade e damos
sentido à nossa existência, diferenciando-nos dos outros que nos rodeiam.
Conclusão (Identidade e história pessoal):
Os relatos de crianças selvagens mostram-nos como são especialmente relevantes a
linguagem e as relações interpessoais para o desenvolvimento social e construção da
identidade pessoal.
Mostram também como a socialização está sempre a par da individuação e como a ausência
de oportunidades de contacto com os outros repercute-se numa deformação das
capacidades de autorreconhecimento e autoconsciência.
Estes dois elementos são essenciais para a forma como sentimos, pensamos, nos
auto-organizamos e atribuímos significado às nossas experiências, isto é como construímos a
nossa história.

9. Perceber a riqueza da diversidade humana.


Os seres humanos são biológica e culturalmente muito distintos entre si, sendo a interação
entre fatores internos e externos um elemento que contribui para a diversidade dos
percursos que cada um de nós faz.
Fatores que condicionam a diversidade cultural:
- Criatividade própria de cada povo que o leva a criar formas diferentes de responderem aos
desafios da sobrevivência e bem estar.
- Percurso histórico de cada povo.
- Necessidades de sobrevivência particulares de cada povo.
- Contextos geográficos e ecológicos específicos.
- Contatos com outras culturas
As nossas diferenças, como as nossas semelhanças biológicas, culturais e de histórias de
vida, podem ser encontradas ao nível:
- do indivíduo (quando nos comparamos diretamente com outra pessoa);
- do grupo (quando o que está em jogo são comparações entre dois ou mais grupos);
- das comunidades (quando alargamos o campo de comparação a duas ou mais
comunidades).
Estar disposto a observar, a aprender e a enriquecer com a diferença é essencial para que
possamos transformar-nos e transformar positivamente os contextos em que vivemos.
É na diferença e na diversidade que reside a riqueza do ser humano.
10. Distinguir culturas individualistas e culturas coletivistas.
De forma geral, não damos conta de como é importante a cultura nem de como somos
influenciados por ela. Na verdade, muitas vezes só damos conta dela quando nos
confrontamos com uma cultura diferente da nossa.
Interessados no estudo das questões culturais, os psicólogos socioculturais e os
antropólogos recorrem a uma classificação genérica que distingue entre culturas
individualistas (por exemplo, da maior parte dos países europeus) e culturas coletivistas (por
exemplo, do Japão). Esta classificação deve ser considerada de modo abstrato, já que uma
mesma sociedade pode conter, simultaneamente, traços de culturas coletivistas e de
culturas individualistas.

Cultura individualista Cultura coletivista

1. Valoriza a independência e a confiança. 1. Valoriza a interdependência e a


2. Incentiva a descoberta e expressão do modéstia.
valor pessoal. 2. Incentiva a integração e o desempenho
3. Defende o «eu», a conquista e realização de papéis.
individuais, os direitos e liberdades e a 3. Defende o «nós», os objetivos comuns e
autoestima. a solidariedade, as responsabilidades
familiares e sociais.
4. Estrutura-se em relações numerosas, 4. Estrutura-se num menor número de
muitas das quais pontuais, e aceita a relações, próximas e duradouras, e valoriza
confrontação de ideias. a harmonia de ideias.
5. Atribui o sucesso ao esforço pessoal e o 5. Atribui o sucesso ao dever cumprido em
fracasso a fatores externos. relação aos outros e o fracasso a
fragilidades pessoais.

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