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jun 17
sodrach@gmail.com
Resumo
É a Esquadra da encantada
Marinheira Mariana
Ela é marinheira
Ela é marinheira
Ela é
revoltosa Da marinha brasileira
Como desfecho de todos esses encontros, surgiu o Tambor de Mina, religião do povo da
antiga Província que, segundo Tayandô (2004) “é fonte de luz e esperança, brotada
entre as florestas e igarapés”. Mas segundo estudos antropológicos, o surgimento do
Tambor de Mina, no Pará, se deve, principalmente, ao sincretismo do Tambor do
Maranhão com a Pajelança cabocla e o Catolicismo popular. Nesse ínterim, uma forma
religiosa de herança maranhense, denominada Batuque, encontrou na capital paraense
um ambiente propício para o sincretismo desse culto afro com a Pajelança cabocla.
Sobre essa herança, comenta Anaíza Vergolino:
Hoje sabemos que esse modelo de culto introduzido por maranhenses no Pará não
procedeu nem apenas da capital, São Luiz, e nem diretamente das Casas da Mina e Casa
Nagô. Mais adequado é se pensar na importância de um modelo de culto rural
conhecido como “linha de Codô” ou “linha da Mata” que se expandiu tanto para a
capital São Luiz quanto para Belém, tendo sido marcado por vários e sucessivos
processos de sincretismo. (VERGOLINO, 2004, pg. 13)
Esse modo espetacular pode ser observado nas cerimônias, festejos, rituais religiosos e
folguedos, tradições culturais que revelam padrões característicos de representação de
um determinado enredo que se tece no âmbito de uma comunidade, legitimando suas
práticas coletivas. GOMES in BIAO (Pg 61:2007).
No Tambor de Mina tudo salta aos olhos e pode ser visto de modo espetacular: o espaço
e sua ambientação, carregados de elementos simbólicos da religião, tais como estátuas
em tamanho real de entidades como orixás, encantados e caboclos; altares com vários e
diferentes elementos da religião, tais como velas, copos com água, pedras, imagens
fotográficas ou estátuas de entidades e santos católicos, que também estão em outros
espaços do terreiro; e os atabaques. A vestimenta distingue pais e mães de santo de seus
filhos, assim como das entidades, que se caracterizam de acordo com sua família de
origem – uns mais bem vestidos que outros, utilizando brilhos na roupa, anéis, pulseiras
e cordões. Quando começa o ritual, seja ele no “Tambor” propriamente dito, seja na
“linha de cura”, começa definitivamente a performance da espetacularidade, pois aos
sons dos atabaques, dos maracares ou da sineta, as ações que compõem aquela esfera
ritualística se voltam para os cantares, para os festejos ou para o cumprimento de
alguma obrigação nos ritos da religião, a exemplo da chegada dos protagonistas
(entidades) no espaço ritual: voduns, orixás, caboclos, encantados, nobres, reis, entre
outros.
A Bela Turca, descrita com longos cabelos loiros, pele branca e olhos azuis,
características físicas idealizadas a partir da influência européia, pertence, segundo o
universo ritualístico do Tambor, à Família da Turquia. Os Turcos são, nesse contexto,
nobres orientais, pertencentes à Corte Imperial da Turquia, formando uma família
extensa, constituída de nobres e vassalos encantados que formam uma sublinha de
voduns, com forte influência islâmica. São denominados Turcos Otomanos ou Mouros.
Por suas qualidades distintas – carisma, liderança, irreverência, vaidade, justiça, força,
fraternidade, juventude e espírito maternal –, Dona Mariana é uma das entidades mais
populares e bem quistas do Tambor de Mina. Sua missão é ajudar o próximo por meio
de seus saberes ritualísticos e de seus conhecimentos da medicina popular. Não menos
importante é sua missão em cumprir com suas obrigações para com o Tambor de Mina e
para com seus adeptos nos rituais em sua homenagem, dos quais a Encantada participa.
Enquanto canta e dança, ou conversa com pessoas no terreiro, Dona Mariana revela,
ainda mais, e de forma específica – através da oralidade, dos gestos, das expressões
fisionômicas e da postura –, sua performance característica. No que diz respeito à
oralidade, a entidade apresenta voz grave, com tons enrouquecidos, brados freqüentes e
fala peculiar, associando, por meio de “desvios” e “erros” lingüísticos, uma linguagem
popular do Português a expressões provenientes de línguas africanas, tais como o
Yorubá e o Ewê-fon. Em termos gestuais, a Encantada apresenta postura ereta, queixo
alto, busto para frente e braços tensos, com as mãos fechadas para as costas, ou ambos
cruzando o peito. Seu andar é vigoroso e cambaleante. Os movimentos são, ora lentos,
ora rápidos, com rodopios; movimentos abertos ou para fora, executados em forma de
dança em frente aos atabaques. Sua expressão é tensa, ao chegar no terreiro, e o rosto
tem uma aparência carregada. Entretanto, com o desenrolar dos ritos, em alguns
momentos do canto e da dança, parece estar satisfeita, feliz, embriagada; em outros,
deixa transborda sabedoria e serenidade.
Considerações Finais
Espero que o universo da Performance da Toya Turca sejam águas: Águas de Mariana.
Que se espalhem ainda mais pelos oceanos da vida, ou, pelo menos, pela Academia,
pela comunidade afro-religiosa e pelas luzes da ribalta. Que sejam um sopro ou um grito
dos rufares dos atabaques dos terreiros por onde andei, pois, como em mim, neles
também bate um Tambor! Tambor de tradições, da forte religiosidade da Amazônia
paraense! Que seja sobretudo encantamento! Para que mais pessoas possam adentrar
nesse Navio, fazendo parte da Esquadra da Toya Turca Cabocla Mariana.
Referências
[3] Espécie de secretaria das entidades: orixás, voduns, encantados, caboclos etc.