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Sociologia

Unidade 3: Socialização e cultura


3.1: Cultura
- Cultura: é um conjunto complexo e articulado de valores, crenças e normas que
condicionam o horizonte espiritual dos seres humanos e as realizações técnicas do grupo.
A vida em grupo tem conduzido ao desenvolvimento de regras e procedimentos que,
espelhando os valores aceites, concorrem para a satisfação das necessidades da
coletividade, afastando-a de um estado selvagem. Isto é, cada sociedade exprime-se
e realiza-se através de uma cultura.

- Cultura e herança biológica: é a aprendizagem que distingue cultura de herança biológica,


isto é, comer para sobreviver é um ato biológico, mas alimentar-se de acordo com um
horário fixo, um certo tipo de alimentos e usar determinados utensílios é um ato que se
aprende de acordo com o grupo em que estamos inseridos- é um ato cultural.

- Cultura: significado popular e sociólogo


1. Significado popular: alguém que aprecia boas obras literárias, que gosta de música
erudita, que é um conhecedor de arte e fala com correção- indivíduo culto.
2. Significado sociológico: é o conjunto de maneiras próprias de pensar,
sentir e agir de qualquer grupo, isto é, um individuo que fale de forma
grosseira, que seja analfabeto e não perceba nada de arte ou de música, no sentido
sociológico ele é portador de uma cultura.

- Cultura e subcultura: do seio das culturas dominantes encontramos grupos restritos


(ciganos, emigrantes e jovens) que comungam traços culturais distintos do da cultura
dominante (gostos, estilos e tipos de linguagem…) Estes não entram em conflitos com a
cultura dominante sendo aceitas e toleradas por esta. Este fenómeno designa-se por
Subcultura. Este fenómeno distingue-se da contracultura enquanto fenómeno cultural
em permanente conflito com a cultura dominante. Todas as sociedades são
portadoras de múltiplas subculturas que, no seu conjunto, coexistem com a
cultura dominante.

- Elementos da cultura: de qualquer cultura fazem parte dois traços fundamentais:


material e espiritual.
1. Elementos materiais: dizem respeito aos utensílios\instrumentos de trabalho,
obras realizadas e técnicas com as quais o homem domina a natureza e satisfaz as
suas necessidades. Estes elementos estão diretamente relacionados com o meio
ambiente, adaptando-se à natureza para podermos moldar em nosso proveito.
Podem ser variáveis de grupo para grupo ou de uma região para a outra.
2. Elementos espirituais: abrangem as normas, os valores, as crenças, os costumes,
as ideias, a moral e a religião que moldam a nossa existência e lhe confere um
sentido. Toda a nossa vivência social seguia por esses princípios normativos.
Estes dois elementos de uma cultura correlacionam-se, interagindo dialeticamente um com outro, não são
autónomos, condicionam-se reciprocamente. Os elementos espirituais e materiais formam um todo com
sentido. A desarticulação entre estes dois elementos pode conduzir à destruição de uma cultura.
Os elementos espirituais e materiais não têm existência separada, antes integram
dialeticamente, produzindo a cultura. Estes dois elementos conjugam-se, dando suporte
significativo à cultura.

- Padrões culturais como exclusivos de um grupo: a coexistência social só é possível dentro


de uma certa ordem Social. Esta ordem permite a cada um de nós a satisfação das suas
necessidades. Assim nós não agimos apenas em função dos nossos impulsos e
motivações, agimos sim, de acordo com um conjunto de regras, valores, normas e
comportamentos que garantem a manutenção de uma ordem social e a preservação da
nossa cultura. Os nossos comportamentos são padronizados, isto é, obedecer a um
padrão que dá sentido a tudo o que fazemos. O padrão é uma maneira normal, habitual,
tradicional, de um grupo fazer as coisas, são maneiras práticas de resolvermos os nossos
problemas.
Nós somos como que obrigados a reger o nosso comportamento pelos padrões típicos da
nossa sociedade, estes refletem os valores aceites pelo grupo social em que vivemos.

- Os valores determinam e legitimam as condutas sociais: cada grupo ou sociedade tem os


seus padrões que representam esperados pelos seus membros- estes variam de sociedade
para sociedade.
O nosso dia a dia acontece de acordo com normas nascidas dos valores éticos, morais,
religiosos, económicos, políticos, etc… aceites pela nossa sociedade. São esses valores que
nos indicam o que é certo ou errado, permitido ou proibido, e que são fiéis no ajuizar dos
nossos comportamentos pelos restantes indivíduos.
1. O que se entende por valor?
- Os valores são maneiras de ser ou agir que uma pessoa ou coletividade
reconhece como ideal, tornando os seres ou as condutas a eles associados
como desejáveis.
2. Que funções desempenham os valores?
- Os valores definem os objetos que as pessoas devem procurar atingir;
- Os valores são suporte de coesão social porque ao serem compartilhados
por todos levam-nos agir da mesma maneira;
- Os valores comuns criam sentimentos de solidariedade entre as pessoas
atenuando conflitos que possam existir entre elas;
- Os valores determinam e legitimam as condutas desempenhando uma
função explicativa e uma função normativa. As normas por que nos
regemos dependem dos valores aceites pela nossa comunidade, elas
corporizam valores.
Os modelos de comportamento alicerçados em valores são por nós interiorizados através do processo de
socialização desde que nascemos tornando difícil cometer desvios. O comportamento humano é por este
modo significativo e condicionado pelos modelos de comportamento característicos da nossa altura. Somos
seres sociais e culturais que organizamos a nossa vida em função desses valores e dessas normas, esta
forma de organização, é transmitida quase inconscientemente de geração em geração.

- Diversidade cultural- padrões de cultura e etnocentrismo cultural: se a cultura é


específica de cada grupo, então cada sociedade possui padrões culturais diferentes que
dão sentido à forma de agir, pensar e sentir de um grupo. Para compreender o porquê de
um comportamento humano eu tenho que conhecer os padrões de cultura que
modelaram. Só assim percebemos que não há comportamentos selvagens, esquisitos e
anormais. Cada cultura tem os seus próprios padrões de cultura, então não há uma
cultura mas sim culturas.

1. O que entendemos por padrões de cultura?


Padrão de cultura é um modelo de comportamento, um modo típico e habitual de fazer as coisas
característico de uma cultura ou de uma sociedade e que são adaptados pelos indivíduos para resolver os
problemas do seu quotidiano. Podemos ainda dizer que se trata de uma feição típica de cada cultura, uma
forma normativa de comportamento estabelecida por consenso entre todos os membros de uma
comunidade. Os padrões de cultura só fazem sentido nos contextos culturais em que ocorrem, daí que seja
incorreto interpretar um comportamento à luz de outras culturas, se o fizermos estamos a cair no
etnocentrismo. Como vimos, o etnocentrismo é um obstáculo epistemológico que impede a
visão objetiva, neutral e imparcial da realidade.
Podemos falar em duas formas de etnocentrismo:
a) Forma geral: Que abrange toda a cultura de um povo;
b) Forma contextualizada: Que incide sobre uma classe social, um grupo étnico, um clube, uma profissão
ou no sexo.
De positivo, no etnocentrismo, podemos apenas salientar o seu contributo para a preservação/coesão de
uma cultura reforçando a identidade do “nós” porque une os indivíduos em torno de valores e princípios
que consideram ser os ideais.
De negativo, nesta atitude etnocêntrica temos o facto de impedir a objetividade e a imparcialidade
científica e eliminar a diversidade e o relativismo cultural conduzindo a comportamentos discriminatórios.
Tal tem contribuído para que alguns grupos não aceitem outros grupos ou algumas culturas não aceitem
outras culturas, só porque têm formas de ser e de estar diferentes.
Quanto mais fechada for uma cultura, mais etnocêntrica será, a globalização e os
intercâmbios interculturais têm diluído este fenómeno.

- O ser humano como produto/ produtor de cultura: Não nascemos dotados de cultura,
tornamo-nos seres culturais através do processo de socialização. À medida que
crescemos, pomos de parte a nossa natureza dada e transformamo-nos em seres culturais
condicionados pelos padrões de cultura do nosso grupo. É por isso que dizemos ser
produto de uma cultura. Ela encontra-se espelhada em tudo aquilo que nós somos, é por
ela que nos integramos numa organização social, é pela socialização e prática social que a
cultura se adquire, ela não é hereditária mas uma conquista contínua em interação com
os outros.
Contudo, dizemos também ser produtores de cultura porque nela participamos
integrados num grupo, e a ela somos um contributo para crescer, para se modificar e para
poder satisfazer as nossas necessidades (inventando novos valores, aperfeiçoando
técnicas…). Daí que a cultura não seja um fenômeno estático, mas dinâmico. A cultura é
uma realidade viva em permanente evolução, graças ao nosso contributo, ela é assim
cumulativa “cada geração recebe-a como um património que herda e simultaneamente
trabalha-a, acrescentando-lhe as suas contribuições”.
O indivíduo pode alterar a cultura, ele surge, então, não só como produto,
mas também como produtor da cultura.

3.2 Socialização e cultura


- Processo de socialização: O ser humano quando nasce é um ser culturalmente vazio,
somos apenas um ser biológico geneticamente preparado para crescermos como seres
culturais. Contudo, à medida que vamos crescendo em contacto com os grupos da nossa
cultura (família, escola e grupo de amigos) tornando-nos seres culturais/socializados.
Lentamente e de forma inconsciente assimilamos valores, normas, comportamentos,
técnicas e práticas que nos tornam membros de uma cultura. É neste sentido que
dizemos que o ser humano é também um animal condicionado uma vez que o seu
comportamento é aprendido através do processo de socialização no seio dos grupos que
integra.
Pela socialização aprendem-se os padrões de cultura de um grupo.

1. O que é então a socialização?É um processo de aprendizagem pelo qual cada


um de nós aprende as regras e práticas da nossa cultura. Todos nós nos
socializamos no seio das instituições que integramos através da aprendizagem, da
imitação e identificação. É por ela que nos adaptamos à sociedade em que
vivemos, não há humanidade sem socialização ou aprendizagem cultural, é a
sociedade que torna o Homem humano, sem ela as nossas condutas seriam
puramente animalescas. A socialização é um processo contínuo e interminável.
Nada do que fazemos poderá ser visto como um capricho subjetivo, tudo deve ser
analisado dentro do contexto socializante que nos formou culturalmente, há assim
uma previsibilidade nos nossos comportamentos para os restantes membros do
grupo.

- Socialização e integração social: socializando-nos com a finalidade de nos integrarmos


socialmente, de sermos aceites pelos outros membros da sociedade. Ela possibilita a
cooperação e a solidariedade entre todos os membros do grupo permitindo a sua
sobrevivência. Contudo nem sempre cumprimos as normas e os valores do grupo, dando
origem a comportamentos desviantes. Para os evitar existem sanções sociais, religiosas,
físicas ou económicas. Deste modo nós não somos totalmente livres na medida em que a
necessidade de integração social exige que interiorizemos os modelos formais do nosso
grupo, “A nossa liberdade é então condicionada pelos limites do grupo”.
- Mecanismos de socialização: Como é que nos integramos socialmente na nossa cultura?

1) Aprendizagem- corresponde à interiorização das normas e modelos de


comportamento através de tentativas, erros e repetições.
2) Imitação- corresponde à reprodução mecânica de comportamentos e atitudes
observadas nos outros membros do grupo a que pertencemos. Copia os comportamentos
observados.
3) Identificação- corresponde à apropriação dos comportamentos dos outros
indivíduos ou grupos próximos de nós. Os comportamentos dos outros passam também a
ser os nossos, fazendo parte da nossa bagagem comportamental.

- Agentes de socialização: A socialização é um, processo contínuo e interminável


obrigando-nos constantemente a adaptarmo-nos a novas regras e situações consoante os
grupos que vamos integrando ao longo da nossa vida.
1. Família- é nela que damos os primeiros passos no sentido da nossa integração
social num período em que o nosso processo de socialização é mais intenso. É
através dos pais, que adquirimos as primeiras formas de ser, de estar. Numa altura
em que somos mais permeáveis à aquisição de novos comportamentos. A
socialização familiar é também um processo recíproco entre pais e filhos. Hoje não
são só os pais a socializar os filhos, mas também estes a socializar os pais.
2. A escola- a seguir à família, um dos agentes mais importantes de socialização.
Ela proporciona-nos instrumentos de trabalho, métodos de reflexão,
conhecimentos e também novas regras de conduta e disciplina. A escola
transforma-nos num ser útil à sociedade.
3. Os grupos de amigos e os meios de comunicação social- desempenham
também um papel muito importante no processo de socialização. O seu papel de
sedução acaba por modelar também comportamentos, atitudes e maneiras de
pensar e de agir. Podemos considerá-los importantes de aprendizagem social no
domínio das crenças, valores e modelos de conduta.
4. Meios de Comunicação - assumem um crescente e forte protagonismo como
fontes de informação e entretenimento e, consequentemente, como agentes de
socialização; o seu papel de sedução acaba por modelar comportamentos, atitudes
e maneiras de pensar e de agir.
5. Rua - pode ser, principalmente em pequenas comunidades, um importante
espaço de aprendizagem e socialização onde as pessoas ampliam e diversificam o
seu conhecimento relativo à realidade que os envolve

⬇️
SOCIOLOGIA (processo permanente de aprendizagem com vista à integração do indivíduo na sociedade).
Características: - Processo global;
- Processo interativo;
- Processo contínuo;

⬇️
- Processo dinâmico;
Primária: Processo por meio do qual a criança se transforma em membro participante da sociedade.
Secundária: Processos posteriores por meio dos quais o indivíduo faz a aprendizagem de novos papéis.
⬇️ Etapas: - Infância;
- Juventude/ adolescência;
- Maturidade ou idade adulta;
- Velhice.

- Efeitos da socialização:
1. estrutura a personalidade do indivíduo
2. facilita a integração
3. transmite cultura, normas, valores e comportamentos
4. obriga a negociações permanentes e à (re)socialização
5. contribui para o desenvolvimento de competências e representações

- Representação social: A vivência social leva os indivíduos a terem uma ideia de si


próprios e da sociedade em que estão inseridos, à qual podemos chamar de
representação. Estas representações são construções simbólicas representativas de um
determinado grupo de uma sociedade. A representação procura uma familiaridade com o
objeto.
As representações sociais têm origem na necessidade de reduzir a complexidade da
realidade que nos cerca e de a classificarmos. Constituem-se, por isso, como esquemas de
percepção e de classificação da realidade que surgem para simplificar a complexidade da
sociedade.
As representações sociais pressupõem valores no caso da representação do que é um
bom aluno, estamos a atribuir valor ao sucesso escolar, à escola enquanto instituição e ao
sucesso profissional.
As representações sociais são saberes socialmente engendrados e partilhados com
funcionalidades práticas diversas na interpretação e no controlo da realidade. Eles
constituem referências explicativas comunicacionais e operatórias. Elas nomeiam e
classificam, produzem imagens que condensam significados, atribuem sentido, ajudam
nas suas diversidades estruturadas, a reproduzir identidades sociais e culturais.
Podemos, resumidamente, afirmar que uma representação social:
1) é uma avaliação de uma dada realidade
2) é formada ao nível social e partilhada socialmente
3) pressupõe valores
4) é fruto de experiências passadas, decorrendo da nossa socialização
5) nomeia, classifica e dá sentido ao que observamos
6) orienta e justifica comportamentos (atua num plano individual - agimos em função das
representações que temos)

- Estigma: O estigma está muitas vezes associado às representações sociais


negativas. ex.: sempre que julgamos não corresponder à representação ideal de
beleza podemos sentir-nos “deslocados” ou ser alvo de várias formas de
marginalização.

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