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Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o
preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o
atendimento médico-hospitalar emergencial: (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (Incluído pela Lei nº 12.653,
de 2012).
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta
lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. (Incluído pela Lei nº
12.653, de 2012).
Introdução
1 Segundo noticiou a imprensa, a proposta do novo tipo penal foi apresentada pelo Governo Federal
aproximadamente um mês após a morte do secretário de Recursos Humanos do Ministério do
Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, que faleceu no mês de janeiro de 2012, aos 56 anos de idade, em
virtude de um infarto, após ter procurado socorro junto a dois hospitais privados em Brasília, que lhe
exigiram a entrega de cheque-caução para que pudesse ser levado a efeito o seu atendimento.
2 Os Estados de Minas Gerais e São Paulo já haviam editado leis específicas nesse sentido,
respectivamente, a Lei Estadual nº 14.790, de 20 de outubro de 2003, e a Lei Estadual nº 14.471, de 22
de junho de 2011, proibindo, em situação de urgência e emergência, a exigência de depósito prévio para
internação na rede privada.
O Código Civil e também o Código de Defesa do Consumidor, à sua maneira,
ou seja, mesmo que não enfrentando casuisticamente a situação prevista pelo artigo em
estudo, já vedavam essa prática.
Concluindo que as determinações contidas nos diplomas anteriormente citados
(Código Civil, Código de Defesa do Consumidor, Resolução Normativa) não eram
fortes o suficiente a fim de inibir o comportamento por elas proibido, entendeu por bem
o legislador em fazer editar a Lei nº 12.653, de 28 de maio de 2012, criando uma nova
figura típica e encerrando, com isso, também uma discussão anteriormente existente,
quando parte de nossos doutrinadores se posicionava pela possibilidade de configuração
do delito de extorsão indireta, tipificado no art. 160 do Código Penal, ou ainda pelo
delito de omissão de socorro, previsto no art. 135 do mesmo diploma repressivo.
A numeração recebida pelo tipo penal em estudo, vale dizer, 135-A, é
significativa no sentido de apontar que o condicionamento de atendimento médico-
hospitalar emergencial pode ser considerado como uma espécie de omissão de socorro,
já que o art. 135 do Código Penal cuida desta última figura típica, ambas inseridas no
Capítulo III, do Titulo I do Código Penal, que diz respeito à periclitação da vida e da
saúde.
Para efeitos de reconhecimento da infração penal tipificada no art. 135-A do
Código Penal, que recebeu o nomen juris de condicionamento de atendimento médico-
hospitalar emergencial, são necessários os seguintes elementos, a saber: a) o núcleo o
exigir; b) a entrega de cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem
como o preenchimento prévio de formulários administrativos; c) ser condição para o
atendimento médico-hospitalar emergencial.
Exigir, no delito sub examen, tem o significado de tornar necessário, impor,
ordenar, ou seja, a conduta do agente é dirigida finalisticamente no sentido de fazer com
que alguém cumpra, como requisito para o seu socorro, uma das exigências impostas
pelo estabelecimento de saúde, que supostamente garantirá o pagamento pelos serviços
prestados ao paciente.
A referida exigência diz respeito à confecção e entrega, pelo próprio paciente,
quando possível, ou por alguém por ele responsável (normalmente uma pessoa que
tenha com ele relação de amizade ou parentesco), de cheque-caução (cheque dado como
garantia de um pagamento futuro), nota promissória ou qualquer garantia, vale dizer,
qualquer documento que se traduza em um reconhecimento de dívida, que poderá
importar, posteriormente, em uma ação de cobrança ou mesmo em uma ação de
execução, a exemplo do que ocorre com os contratos.
Da mesma forma, configura-se na infração penal em estudo a exigência de
preenchimento prévio de formulários administrativos. Aqui, devemos ressalvar que a
instituição de saúde não está proibida de levar a efeito o preenchimento de tais
formulários que, na verdade, deverão ser produzidos para que os dados fundamentais do
paciente sejam por ela conhecidos. O que se proíbe, na verdade, é que se priorize esse
ato burocrático em detrimento do socorro que deve ser imediatamente prestado. Uma
vez atendido o paciente, ele próprio, ou as pessoas que lhe são próximas (amigos e
familiares), devem cumprir essa obrigação administrativa. Percebe-se, com clareza, que
o que se procura evitar é o agravamento da situação do paciente, que não pode esperar o
cumprimento de exigências burocráticas para que venha, efetivamente, a ser atendido.
Tais exigências devem servir como condição para que seja realizado o
atendimento médico-hospitalar emergencial. Assim, deverão ocorrer anteriormente ao
atendimento de que necessitava a vítima/paciente, que não pode ser socorrida em
virtude daquelas exigências.
O tipo penal faz menção a atendimento médico-hospitalar emergencial. Existe
diferença terminológica entre urgência e emergência médica.
Classificação doutrinária
Crime próprio (tanto com relação ao sujeito ativo, como ao sujeito passivo); de
perigo concreto (devendo ser demonstrado que a conduta do agente trouxe,
efetivamente, uma situação de perigo para a vítima); doloso; de forma vinculada (uma
vez que o comportamento deve ser dirigido no sentido de exigir cheque-caução, nota
promissória, ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários
administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial)
comissivo (podendo, no entanto, ser praticado via omissão imprópria, nos termos do art.
13, § 2º, do Código Penal); instantâneo; monossubjetivo; unissubsistente; transeunte
(como regra).
Consumação e tentativa
O delito se consuma no instante em que a exigência de cheque-caução, nota
promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários
administrativos, é levada a efeito como condição para o atendimento médico-hospitalar
emergencial, antes, portanto, do efetivo e necessário atendimento.
Entendemos, in casu, não ser admissível a tentativa, haja vista que não
conseguimos visualizar, ao contrário do que ocorre com o delito de concussão, que
contém o mesmo núcleo, ou seja, o verbo exigir, a possibilidade de fracionamento do
iter criminis.
Elemento subjetivo
O dolo é o elemento subjetivo exigido pelo tipo penal que prevê o delito de
condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial, não havendo previsão
legal para a modalidade de natureza culposa.
Destaque
Obrigação da afixação de cartaz ou equivalente em estabelecimentos de saúde que
realizem atendimento médico-hospitalar emergencial
BIBLIOGRAFIA
Regulação Medica das Urgências, Módulo II. Serie A. Normas e Manuais Técnicos,
Brasília, DF, 2006.