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Eutanásia: o que diz a lei e quais as implicações

A legislação que regula a morte medicamente assistida foi aprovada em Portugal.


Compreenda a lei da eutanásia.
Artigo atualizado a 08-09-2023

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A aprovação da lei da eutanásia, que define as regras para a morte medicamente assistida, foi
um processo longo e complexo. Neste artigo, explicamos a lei da eutanásia.

O que é a morte medicamente assistida?


De acordo com o Artigo 2.º da lei da eutanásia, a morte medicamente assistida “ocorre por
decisão da própria pessoa” e é “praticada ou ajudada por profissionais de saúde”. Pode
ocorrer por suícidio medicamente assistido ou através da eutanásia, dois métodos distintos.

O suicídio medicamente assistido consiste na “autoadministração de fármacos letais pelo


próprio doente, sob supervisão médica”;

Por sua vez, a eutanásia consiste na toma de fármacos letais, mas administrados “pelo
médico ou profissional de saúde devidamente habilitado para o efeito”.

A lei prefere o primeiro método. De acordo com o Artigo 3.º, a eutanásia só poderá ocorrer
quando “o suicídio medicamente assistido for impossível por incapacidade física do doente”.

Quem pode recorrer à morte medicamente assistida?


A morte medicamente assistida aplica-se a pessoas maiores de idade, de cidadania portuguesa
ou a residir legalmente no país, “cuja vontade seja atual e reiterada, séria, livre e esclarecida”,
e que tenham:

 Lesão definitiva de gravidade extrema, isto é, que seja “amplamente incapacitante”


e que “coloca a pessoa em situação de dependência de terceiro ou de apoio
tecnológico para a realização das atividades elementares da vida diária”. Nesta lesão
existe “certeza ou probabilidade muito elevada” de que as limitações são
permanentes, “sem possibilidade de cura ou de melhoria significativa”.
 Doença grave e incurável, ou seja, aquela que “ameaça a vida”, estando em “fase
avançada e progressiva”, sendo “irreversível” e provocando “sofrimento de grande
intensidade”. A lei estabelece que o sofrimento de grande intensidade é aquele
“decorrente de doença grave e incurável ou de lesão definitiva de gravidade
extrema, com grande intensidade, persistente, continuado ou permanente e
considerado intolerável pela própria pessoa”.

Eutanásia: quais os procedimentos?


O processo é longo é constituído por várias etapas. Assim, a lei prevê que o procedimento
“não pode ter lugar sem que decorra um período de dois meses a contar da data do pedido de
abertura”.

Ao longo do processo — em que o doente, a qualquer momento, tem o direito a revogar a sua
decisão — são consultados vários especialistas. Estes responsáveis irão confirmar, nas várias
etapas, se o doente reúne as condições exigidas pela lei para se concretizar a morte
medicamente assistida. Caso um dos pareceres não seja favorável, o processo deve, nesse
momento, ser cancelado e encerrado. O doente pode, ainda assim, iniciar um novo pedido.

Que especialistas irão avaliar o pedido?


1. O médico orientador

O primeiro passo para a realização da morte medicamente assistida (não punível) é a abertura
do procedimento clínico. O doente deve entregar um documento escrito, datado e assinado
por si ou pela pessoa por si designada, ao profissional de saúde seleccionado para ser o seu
médico orientador. Segundo a lei, será o médico orientador a coordenar toda a informação e
assistência ao doente, sendo o seu principal interlocutor.

No prazo de 20 dias desde a abertura do processo, o médico orientador terá de emitir um


“parecer fundamentado sobre se o doente cumpre todos os requisitos” para a morte
medicamente assistida. No prazo de 10 dias, o médico orientador terá de agendar uma
consulta entre o doente e o profissional de psicologia clínica que vai acompanhá-lo durante
todo o processo.

Se o profissional concluir que o doente reúne os critérios necessários, deverá prestar-lhe toda
a informação e esclarecimentos sobre a sua situação clínica, assim como os tratamentos
“aplicáveis, viáveis e disponíveis”, incluindo na área dos cuidados paliativos, para a sua
condição. Este médico fica ainda responsável por verificar se o doente reitera a sua vontade.
A confirmação deverá ficar registada por escrito.

2. Médico especialista

O processo segue depois para um médico especialista na patologia que afeta o doente. O seu
parecer, que deve ser entregue no prazo de 15 dias, confirma se estão reunidos os requisitos
para a realização da morte medicamente assistida.

3. O médico especialista em psiquiatria

O processo poderá, então, seguir para um médico especialista em psiquiatria. É solicitado o


seu parecer em duas situações:

 No caso de os dois médicos anteriores apresentarem dúvidas sobre a capacidade da


pessoa para solicitar a morte medicamente assistida, ou sobre a “vontade séria, livre
e esclarecida” do doente;
 No caso de os especialistas anteriores considerarem que o doente possa ser
portador de uma “perturbação psíquica ou condição médica que afete a sua
capacidade para tomar decisões”.

4. Comissão de Verificação e Avaliação dos Procedimentos Clínicos de Morte


Medicamente Assistida

Os pareceres de cada um dos especialistas integram o Registo Clínico Especial (RCE). Caso
se conclua que o processo pode avançar, é remetido para a Comissão de Verificação e
Avaliação dos Procedimentos Clínicos de Morte Medicamente Assistida (CVA). Esta
comissão analisa o processo e, no caso de dúvidas, convoca os profissionais de saúde para
prestarem declarações.

5. Parecer positivo

Se o parecer desta comissão for positivo, o médico orientador informa o doente. Nesse
momento estabelecem-se “o dia, a hora, o local e o método a utilizar para a prática da morte
medicamente assistida”.

Registo escrito é fundamental

Todos os passos do processo têm de ficar registados por escrito, com a assinatura do doente.
Se este não conseguir escrever ou assinar, é substituído por “pessoa da sua confiança, por si
designada apenas para esse efeito”, sendo-lhe reconhecida a assinatura. No entanto, diz a lei,
esta pessoa “não pode vir a obter benefício direto ou indireto da morte do doente,
nomeadamente vantagem patrimonial, nem ter interesse sucessório.” O processo é
interrompido se o doente ficar inconsciente antes da data marcada para a morte medicamente
assistida.
Qual o local da morte medicamente assistida?
O doente escolhe o local, indica o Artigo 14.º. Este poderá optar por estabelecimentos do
Serviço Nacional de Saúde ou dos setores privado e social (desde que devidamente
licenciados, autorizados e equipados), bem como noutro sítio indicado por si. Nesse caso, é o
médico orientador o responsável por garantir que o local escolhido reúne as “condições
clínicas e de conforto adequadas”.

Quem pode estar presente?


Além de outros profissionais de saúde indicados pelo médico orientador, estão presentes as
pessoas indicadas pelo doente, desde que asseguradas as “condições clínicas e de conforto
adequadas”.

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