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DIREITO MÉDICO E DA SAÚDE

MÓDULO: ÉTICA MÉDICA

TEMA: TERMO DE CONSENTIMENTO


INFORMADO
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE O TERMO DE CONSENTIMENTO
INFORMADO

Nesta aula falaremos do Termo De Consentimento Informado (TCI).


Mencionado documento existe para que o paciente possa exercer sua autonomia.
A Resolução nº 466 de dezembro de 2012, embora não tenha como objeto o
Termo de Consentimento, traz um conceito elucidativo sobre o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que tem funções bastante parecidas,
embora delicadamente diferentes:

II.23 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE -


documento no qual é explicitado o consentimento livre e esclarecido
do participante e/ou de seu responsável legal, de forma escrita,
devendo conter todas as informações necessárias, em linguagem
clara e objetiva, de fácil entendimento, para o mais completo
esclarecimento sobre a pesquisa a qual se propõe participar.
(Resolução nº 466 de dezembro de 2012)

Além da Resolução acima, a Recomendação nº 1/2016 do Conselho Federal


de Medicina traz alguns outros ditames que devem ser observados no mencionado
termo. Como complemento de estudo, recomendamos a leitura no link a seguir:
https://portal.cfm.org.br/images/Recomendacoes/1_2016.pdf
Sem prejuízo, o documento está intimamente ligado a autonomia. A
autonomia significa capacidade de se autogovernar. Para que um indivíduo seja
autônomo, ou seja, capaz de realizar suas próprias escolhas, é necessário que ele
seja capaz de agir intencionalmente e que tenha liberdade para assim proceder.

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Lembramos que a autonomia é direito constitucional, presente no inciso III do
art. 1º da Constituição Federal (CF). Embora mencionado dispositivo trate,
especificamente, da dignidade da pessoa humana, a autonomia está profundamente
ligada a dignidade.
Trazendo o tema para nossa aula, significa dizer que o paciente tem a
autonomia de decidir livremente sobre determinado tratamento ou procedimento
cirúrgico.

E para optar ou não pelo procedimento, ele precisa ter informações.


Informações estas que devem ser transmitidas pelo médico, que inclusive, necessita
apontar eventuais riscos na demora na realização do tratamento, fazendo constar
todas essas informações no prontuário médico – inclusive eventual recusa do
paciente.
Ademais, é preciso que se esclareça quais serão os medicamentos utilizados,
como será o pós-operatório, enfim, tudo que envolva o tratamento, desde seu início
até a fase final de recuperação.
Não é demais lembrarmos o artigo 22 da Resolução nº 2.217/2018 do
Conselho Federal de Medicina, veda ao médico “Deixar de obter consentimento do
paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser
realizado, salvo em caso de risco iminente de morte”.
Imperioso destacar que mencionado artigo faz uma importante exceção:
quando houver caso de risco iminente de morte. Nesse caso, o consentimento não
será necessário, já que o bem mais importante a ser preservado é a vida.
Sem prejuízo, cabe-nos mencionar o artigo 5º da Constituição Federal:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o


sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;

Veja que além da dignidade da pessoa humana, o Termo de Consentimento


Informado também está relacionado ao acesso à informação, que é direito de todos.

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O direito à informação também se encontra no Código de Ética Médica. Como
vimos, o artigo 22 é claro nesse sentido. Mas não é o único dispositivo de interesse
do nosso estudo. Senão vejamos:

É vedado ao médico

Art. 23. Tratar o ser humano sem civilidade ou consideração,


desrespeitar sua dignidade ou discriminá-lo de qualquer forma ou sob
qualquer pretexto.

Art. 24. Deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir


livremente sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua
autoridade para limitá-lo.

Nos artigos supra fica bem claro que não pode haver discriminação, bem
como que a informação deve ser prestada de qualquer forma.
Significa dizer que, mesmo que o paciente seja analfabeto, compete ao
médico realizar a leitura do termo. Isso vale também para pacientes estrangeiros;
deve-se fazer a tradução e preferencialmente, gravá-la, para que o médico esteja
resguardado para interpelações futuras.
Continuando com nossa aula sobre Termo de Consentimento Informado,
vejamos o Capítulo V da Lei nº 2.117/2018, que trata da relação médica com pacientes
e familiares, e traz algumas vedações ao médico:

Art. 31. Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante


legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas
ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte. – Grifamos.

(...)

Art. 34. Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico,


os riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação
direta possa lhe provocar danos, devendo, nesse caso, fazer a
comunicação a seu representante legal. – Grifamos.

Ressalta-se: é dever do médico esclarecer ao paciente todas as


consequências e benefícios do tratamento médico, enquanto é direito do paciente
autorizar (autonomia) ou não o tratamento ou procedimento.

2. TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO COMO INSTRUMENTO


PROBATÓRIO

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Além do já estudo em relação ao médico e ao paciente, devemos mencionar
que o TCI é um importante instrumento probatório nos processos judiciais ou
administrativos.
Para o paciente, é importante para provar que não foi devidamente informado
sobre algum procedimento. Para o médico, para evidenciar que prestou todas as
informações necessários, bem como, para se resguardar de eventual acusação de
erro médico.
Sem prejuízo, o documento deve ser redigido de forma clara, objetiva,
minuciosa e sem termos técnicos da literatura médica. Isso porque, o TCI é um
documento de informação ao paciente, que é pessoa leiga. Ele precisa entender o que
está escrito no documento.
Ademais, o Termo de Consentimento informado não poderá ser assinado
junto com os papéis de internação. Aludida limitação serve para garantir o princípio
da autonomia do paciente. Explica-se:
Imaginemos o caso em que o paciente chegue ao hospital para realização de
procedimento cirúrgico. Então, no momento da internação lhe é entregue o TCI. Será
que realmente sua autonomia está sendo respeitada? Ou ele somente assinará o
documento em razão de estar ali, na eminência de realizar o procedimento?
O Superior Tribunal de Justiça já decidiu no sentido de que o termo de
consentimento pode ser firmado na data da cirurgia, mas tal decisão não é
consolidada:

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.758.186 - DF


(2020/0236146-4) DECISÃO Cuida-se de agravo apresentado por L M
DE O R U contra a decisão que não admitiu seu recurso especial.
4. O consentimento livre e esclarecido não tem forma prevista em lei
para as cirurgias plásticas eletivas. Todavia, desde a primeira
consulta, na fase ambulatorial, e, posteriormente, na fase pré-
cirúrgica, há espaço formal e informal para o esclarecimento que
conduz ao procedimento. O termo de consentimento livre e
esclarecido (TCLE) é a forma documental de um processo de
informação, que pode ser firmado no dia da cirurgia, não havendo
necessidade de prazo mínimo para reflexão. Ninguém faz cirurgia
eletiva na fase ambulatorial, na primeira consulta. MINISTRO
HUMBERTO MARTINS Presidente (AREsp n. 1.758.186, Ministro
Humberto Martins, DJe de 08/10/2020.) – Grifamos

Compete relembrar que, caso o paciente não saiba ler e escrever, cabe ao
médico informá-lo e gravar o áudio. Ainda, o documento só poderá ser dispensado
quando o paciente estiver em risco iminente de vida, já que o direito à vida é mais
importante que a informação.

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Caso seja alterada a terapêutica, deverá ser alterado também o termo de
consentimento informado. Ou seja, o paciente deve anuir ao termo com as eventuais
alterações necessárias.

3. ELEMENTOS DO TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

▪ Elementos iniciais: Condições para que o paciente possa entender e


decidir voluntariamente; para que tenha a liberdade de tomar uma decisão.
▪ Elementos informativos: Dados sobre diagnóstico, natureza e objetivos
do procedimento; alternativas, riscos, benefícios, recomendações e duração.
▪ Compreensão da informação: apenas ocorre se os dois primeiros
elementos estiverem consolidados.
Lembrando que a linguagem do Termo de Consentimento Informado deve ser
de compreensão do paciente, sem termos técnicos ou aqueles utilizados pela
literatura médica.
Sem prejuízo, vejamos as diferenças entre Termo de Consentimento
Informado e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido:

TCI – Termo de Consentimento Informado TCLE – Termo de Consentimento livre e


esclarecido
Recomendação 01/2016 do Conselho Federal
Resolução 466/2021 do Conselho Nacional
de Medicina (CFM) de Saúde (CNS)
Procedimentos médicos Pesquisa com seres humanos
Elaborado pelo médico Elaborado pelo pesquisador
Dispensável em caso de emergência Não pode ser dispensando em nenhuma
hipótese

Os juristas que atuam no direito médico e da saúde acabaram fazendo essa


diferenciação de nomenclatura, já que o TCLE está diretamente ligado a pesquisas,
como vemos no quadro acima.
Evidentemente que, ao paciente, importa que ele tenha conhecimento acerca
do procedimento/tratamento que será realizado e tenha liberdade para decidir. O
nome não fará diferença.
Porém, cabe aos estudantes do assunto diferenciar a nomenclatura,
exercendo a profissão de forma mais técnica possível.

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Nesse sentido, trazemos um trecho da Resolução nº 466/2012, que em seu
capítulo IV, versa sobre o processo de consentimento livre e esclarecido:

IV – DO PROCESSO DE CONSENTIMENTO LIVRE E


ESCLARECIDO
O respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se
processe com consentimento livre e esclarecido dos participantes,
indivíduos ou grupos que, por si e/ou por seus representantes legais,
manifestem a sua anuência à participação na pesquisa.
Entende-se por Processo de Consentimento Livre e Esclarecido todas
as etapas a serem necessariamente observadas para que o convidado
a participar de uma pesquisa possa se manifestar, de forma autônoma,
consciente, livre e esclarecida. IV.1 - A etapa inicial do Processo de
Consentimento Livre e Esclarecido é a do esclarecimento ao
convidado a participar da pesquisa, ocasião em que o pesquisador, ou
pessoa por ele delegada e sob sua responsabilidade, deverá (...) –
Grifamos.

Ainda, a Resolução nº 2.217/2018 do Conselho Federal de Medicina traz os


seguintes dispositivos:

Art. 101. Deixar de obter do paciente ou de seu representante legal o


termo de consentimento livre e esclarecido para a realização de
pesquisa envolvendo seres humanos, após as devidas explicações
sobre a natureza e as consequências da pesquisa
§ 1º No caso de o paciente participante de pesquisa ser criança,
adolescente, pessoa com transtorno ou doença mental, em situação
de diminuição de sua capacidade de discernir, além do consentimento
de seu representante legal, é necessário seu assentimento livre e
esclarecido na medida de sua compreensão.
§ 2º O acesso aos prontuários será permitido aos médicos, em estudos
retrospectivos com questões metodológicas justificáveis e autorizados
pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) ou pela Comissão Nacional
de Ética em Pesquisa (Conep).

Veja que no artigo 101 nós temos a Recomendação nº 01/2016 do Conselho


Federal de Medicina referente ao Termo de Consentimento Informado e lá a
nomenclatura utilizada é Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Como mencionado, os juristas adequaram essas nomenclaturas. Tanto que
no artigo 101 do Código de Ética Médica, quando se determina que é vedado ao
médico deixar de obter o consentimento livre e esclarecido para participação de
pesquisas, é possível ver a necessidade da diferenciação.
Veja ainda que, de acordo com o §1º do artigo supra temos o Termo de
Assentimento (TA), que é utilizado para crianças e adolescentes que irão se submeter
a uma pesquisa.

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Dando continuidade ao tema em estudo, seguiremos o estudo da Resolução
nº 466/2021 do Conselho Nacional de Saúde, mais precisamente no que tange aos
termos e definições:

II - DOS TERMOS E DEFINIÇÕES


A presente Resolução adota as seguintes definições:
II.1 - achados da pesquisa - fatos ou informações encontrados pelo
pesquisador no decorrer da pesquisa e que sejam considerados de
relevância para os participantes ou comunidades participantes;
II.2 - assentimento livre e esclarecido - anuência do participante da
pesquisa, criança, adolescente ou legalmente incapaz, livre de vícios
(simulação, fraude ou erro), dependência, subordinação ou
intimidação. Tais participantes devem ser esclarecidos sobre a
natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos,
potenciais riscos e o incômodo que esta possa lhes acarretar, na
medida de sua compreensão e respeitados em suas singularidades; -
Grifamos

O texto acima indica que é necessário que os responsáveis pela criança ou


adolescente que se submeter a pesquisa assinem o termo de consentimento livre e
esclarecido. Além disso, o próprio participante deve assinar o Termo de Assentimento
(TA), nos moldes da Resolução.

II.23 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE -


documento no qual é explicitado o consentimento livre e esclarecido
do participante e/ou de seu responsável legal, de forma escrita,
devendo conter todas as informações necessárias, em linguagem
clara e objetiva, de fácil entendimento, para o mais completo
esclarecimento sobre a pesquisa a qual se propõe participar;
II.24 - Termo de Assentimento - documento elaborado em linguagem
acessível para os menores ou para os legalmente incapazes, por meio
do qual, após os participantes da pesquisa serem devidamente
esclarecidos, explicitarão sua anuência em participar da pesquisa,
sem prejuízo do consentimento de seus responsáveis legais; e
II.25 - vulnerabilidade - estado de pessoas ou grupos que, por
quaisquer razões ou motivos, tenham a sua capacidade de
autodeterminação reduzida ou impedida, ou de qualquer forma
estejam impedidos de opor resistência, sobretudo no que se refere ao
consentimento livre e esclarecido. – Grifamos

Da leitura dos dispositivos acima é possível identificar a diferença entre as


modalidades de termos de consentimento, mas todas elas referem-se à realização de
pesquisas.

4. TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO NA TELEMEDICINA

Antes da consulta, o médico precisa enviar o Termo de Consentimento


Informado ao paciente, esclarecendo que as informações são sigilosas, que serão

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inseridas no prontuário e a plataforma de escolha para o atendimento. Cabe ao médico
averiguar ainda, se o software utilizado tem segurança garantida.

5. NEGLIGÊNCIA INFORMACIONAL – DEVER DE INFORMAÇÃO –


AUTONOMIA DO PACIENTE

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o


sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;

É garantido a todo cidadão o direito à informação e, por óbvio, em se tratando


de uma relação médico-paciente, esse direito deve ser preservado.

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

(...)

III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e


serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre
os riscos que apresentem;

Acima, temos ainda o artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor, que


igualmente prevê informação clara e adequada sobre os serviços prestados. Caso ela
não seja feita de forma correta, teremos a negligência informacional.
Para estudarmos um pouco da aplicação prática dos estudos, trazemos o
Parecer nº 76300 do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo:

Ementa: A garantia da perfeita comunicação entre o médico e o


paciente ou seus responsáveis é recurso indispensável para prática
médica. Cabe ao gestor do Serviço (Secretário de Saúde) prover o
recurso necessário – ou seja, disponibilizar o tradutor para o paciente.
Quanto à responsabilização do médico, em caso de “eventuais
ocorrências desfavoráveis ou sem sucesso”, há que se esclarecer que
cada parte responderá, em processo próprio, por seus respectivos
atos e consequências deles decorrentes, sejam ativos ou omissivos.

Veja que o parecer deliberou acerca de situações em que o médico informa


que possui pacientes que não tem proficiência na língua portuguesa.
Assim, o Conselheiro delibera que deve haver garantia perfeita de
comunicação entre médico e paciente, fato que é indispensável para prática médica.

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Assim, decidiu pela necessidade do responsável (no caso, o Secretário da Saúde)
disponibilizar tradutor para o paciente.
O processo-consulta protocolo CREMEC nº 0496/09, possuí trechos
interessantes que cabe a menção:

O livre-arbítrio é um pressuposto da autonomia da vontade do ser


humano, onde a escolha parte da liberdade do homem. Juridicamente
esse pensamento ganha relevância quando esse livre-arbítrio, essa
escolha advenha, além do consentimento livre, também do
pensamento bem-informado, expresso por meio de palavras, do
instrumento adequado e de acordo com as normas vigentes.

O paciente tem livre escolha de permanecer internado ou não, desde


que o médico tenha assegurado a devida informação, minuciosa e
mais detalhada possível das causas e consequências dessa recusa,
para que haja a escolha consciente e para que assuma o resultado
provável dessa opção

Se o paciente tem autossuficiência e discernimento para decidir e


julgar o que melhor lhe convém, o poder do médico sobre este é
limitado e sujeitar-se-á à aceitação do mesmo. Se este não possuí
autodeterminação, alguém que possa falar por ele, seja familiar ou por
determinação legal e/ou judicial, poderá manifestar-se. O doente não
é prisioneiro do médico.

Por outro lado, o médico deve toda atenção ao paciente, cuidando das
suas necessidades, colocando a serviço do paciente todo seu
conhecimento, sua disposição em compreender e ajudar. Segundo o
Código de Ética Médica, em seu art. 22, relata que é vedado ao
médico:

Art. 22. Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu


representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser
realizado, salvo em caso de risco iminente de morte.

Assim, segundo a norma legal, o médico deve atender ao desejo do


paciente, com o devido esclarecimento e informação necessária,
exceto quando ocorrer perigo de vida.

Outrossim, vejamos uma jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo:

APELAÇÃO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANO MORAL. Ocorrência.


Apelado, portador de deficiência auditiva, que foi mal atendido em
consulta médica, ante a dificuldade de comunicação com o médico da
rede conveniada. Profissional que não esclareceu o paciente acerca
do prognóstico e da necessidade de se submeter a exames
laboratoriais, mesmo diante da insistência do paciente que lhe pediu
para escrever ou para que utilizasse a recepcionista como
intermediária. Preenchimento incorreto das guias para realização de
exames. Inversão do ônus probatório. Reconhecimento da má
prestação de serviço. Falta de acessibilidade que não pode ser
tolerada, ante a crescente tendência mundial de inclusão das pessoas
com deficiência. O sentimento de exclusão da sociedade é inconteste.
Lesão a direito de personalidade demonstrada. Manutenção do valor

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de indenização fixado em sentença, que bem cumpre as funções
ressarcitória e punitiva, em face das circunstâncias do caso concreto.
SUCUMBÊNCIA. Majoração dos honorários advocatícios, segundo as
disposições do art. 85, §11 do CPC/2015. RECURSO NÃO
PROVIDO. (TJSP; Apelação Cível 1020392-08.2018.8.26.0003;
Relator (a): Rosangela Telles; Órgão Julgador: 2ª Câmara de Direito
Privado; Foro Regional III - Jabaquara - 1ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 02/08/2019; Data de Registro: 02/08/2019) – Grifamos.

O acórdão acima reconheceu a falha na prestação de serviço de médico que


não esclareceu ao paciente a necessidade de exames, mesmo diante da insistência
do paciente, deficiente auditivo, de lhe informar por escrito.
A decisão foi mais além e, de forma que entendemos justa, delibera que “a
falta de acessibilidade não pode ser tolerada, ante a crescente tendência mundial de
inclusão das pessoas com deficiência”.
Senão vejamos outra decisão:

INTERVENÇÃO CIRÚRGICA. CONSENTIMENTO INFORMADO


INOBSERVÂNCIA DO ART. 15 CC/02. PRECEDENTES. DANO
MATERIAL. PERDA DA CHANCE. DANO MORAL CONFIGURADO.
O paciente deve participar na escolha e discussão acerca do melhor
tratamento tendo em vista os atos de intervenção sobre o seu corpo.
Necessidade de informações claras e precisas sobre eventual
tratamento médico, salientando seus riscos e contra-indicações, para
que o próprio paciente possa decidir, conscientemente, manifestando
seu interesse através do consentimento informado. No Brasil, o
Código de Ética Médica há muito já previu a exigência do
consentimento informado ex vi arts. 46, 56 e 59 do atual. O CC/02
acompanhou a tendência mundial e positivou o consentimento
informado no seu art. 15. A falta injustificada de informação ocasiona
quebra de dever jurídico, evidenciando a negligência e, como
consequência, o médico ou a entidade passa a responder pelos riscos
da cirurgia não informados ao paciente. PROVIMENTO PARCIAL DO
PRIMEIRO RECURSO E DESPROVIMENTO DO SEGUNDO APELO.
(0031029-61.2003.8.19.0001 - APELAÇÃO. Des(a). ROBERTO DE
ABREU E SILVA - Julgamento: 17/10/2006 - NONA CÂMARA CÍVEL)
– Grifamos.

No caso acima, em decisão extraída do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro,


este entendeu que a ausência de informações claras e precisas sobre o tratamento
médico evidencia negligência, passando o médico a responder pelos riscos não
informados ao paciente.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS


MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS DECORRENTES DE
SUPOSTO ERRO MÉDICO. DEMANDA PROPOSTA CONTRA O
PROFISSIONAL QUE REALIZOU O PROCEDIMENTO CIRÚRGICO
DE HISTERECTOMIA TOTAL (RETIRADA DO ÚTERO E COLO DO
ÚTERO) E CORREÇÃO DE HÉRNIA UMBILICAL POR
VIDEOLAPAROSCOPIA. AUTORA QUE TERIA SIDO ACOMETIDA

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DE DORES ABDOMINAIS NO PERÍODO PÓS-OPERATÓRIO.
POSTERIOR REALIZAÇÃO DE CIRURGIAS ABERTAS E
CONSTATAÇÃO DE FÍSTULA (PERFURAÇÃO) NA BEXIGA, ALÉM
DE INFECÇÃO NA CAVIDADE ABDOMINAL. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DA AUTORA.
RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO MÉDICO, À LUZ DO ART. 14,
§ 4º, DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. NECESSIDADE
DE COMPROVAÇÃO DO DANO, NEXO DE CAUSALIDADE E
CONDUTA CULPOSA DO PROFISSIONAL. PROVA PERICIAL QUE
ATESTA A AUSÊNCIA DE INDÍCIO DE ERRO NA CONDUÇÃO DO
CASO PELO RÉU, DECORRENDO DE INFECÇÃO PÓS-
OPERATÓRIA AS COMPLICAÇÕES SOFRIDAS PELA AUTORA.
REGISTROS NO PRONTUÁRIO DA APELANTE QUE ATESTAM A
REGULARIDADE DO SEU QUADRO DE SAÚDE APÓS A
CIRURGIA. COTEJO DAS PROVAS PRODUZIDAS QUE PERMITE
CONCLUIR QUE A FÍSTULA DA BEXIGA NÃO OCORREU
DURANTE O PROCEDIMENTO EXECUTADO PELO RÉU.
IMPERÍCIA DO MÉDICO NÃO EVIDENCIADA. ADEMAIS,
RECORRENTE QUE FOI PREVIAMENTE ADVERTIDA DAS
COMPLICAÇÕES DA CIRURGIA AO ASSINAR "TERMO DE
CONSENTIMENTO INFORMADO". DEVER DA PRÓPRIA PACIENTE
DE BUSCAR ATENDIMENTO ASSIM QUE ACOMETIDA DAS
DORES ABDOMINAIS. AUSÊNCIA DE RELATO NO SENTIDO DE
QUE O RECORRIDO NEGOU-SE A ATENDÊ-LA. NEGLIGÊNCIA OU
IMPRUDÊNCIA DO MÉDICO IGUALMENTE NÃO CONFIGURADAS.
DEVER DE INDENIZAR INEXISTENTE. IMPROCEDÊNCIA DO
PEDIDO MANTIDA. "'A obrigação decorrente da atividade curativa
do médico não é de resultado e sim de meio. Sua responsabilidade
civil, nos termos do art. 951 do atual Código Civil, é subjetiva, devendo
para tanto, ser provado que agiu com imprudência, negligência ou
imperícia'. (AC n. 2012.054983-9, Rel. Des. Sérgio Izidoro Heil, j.
29/10/2015). (AC n. 2012.053404-1, Rel. Des. Júlio César M. Ferreira
de Melo, j. 28/4/2016)". (AC n. 0000778-45.2011.8.24.0032, Rel. Des.
Rodolfo Tridapalli, j. 27/10/2016). HONORÁRIOS RECURSAIS.
INVIABILIDADE. SENTENÇA PROFERIDA ANTERIORMENTE À
ENTRADA EM VIGOR DO NOVO CPC. ENUNCIADO
ADMINISTRATIVO N. 7 DO STJ. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n. 0005059-
88.2010.8.24.0061, de São Francisco do Sul, rel. Selso de Oliveira,
Quarta Câmara de Direito Civil, j. 26-11-2018) – Grifamos

Nesse caso, entre outras razões, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina


entendeu que não restou caracterizada imperícia do médico. Além disso, houve
informação previa acerca dos riscos da cirurgia através do Termo de Consentimento
Informado.

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO.


CIRURGIA PLÁSTICA - ABDOMINOPLASTIA E MAMOPLASTIA.
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS.
DEMANDA AJUIZADA EM DESFAVOR DO PROFISSIONAL.
ALEGADO INSUCESSO DO TRATAMENTO E DESCASO NO PÓS-
OPERATÓRIO. PROCEDÊNCIA PARCIAL NA ORIGEM. RECURSO
DO RÉU. RESPONSABILIDADE CIVIL. INFECÇÃO E DEISCÊNCIA
DAS FERIDAS CIRÚRGICAS. CASUALIDADES INERENTES AO

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PROCEDIMENTO REALIZADO. AUSÊNCIA DE PROVAS QUE
DEMONSTREM ERRO NA TÉCNICA CIRÚRGICA.
INTERCORRÊNCIAS, VERIFICADAS NA PACIENTE, ADMITIDAS
PELA PERÍCIA MÉDICA. TODAVIA, PROFISSIONAL MÉDICO QUE
DEIXA DE FIRMAR TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO.
AUSÊNCIA MÍNIMA DE INDICAÇÕES SOBRE A POSSIBILIDADE
DE OCORRÊNCIA DE COMPLICAÇÕES CIRÚRGICAS E DA
POSSIBILIDADE DE RESULTADO INSATISFATÓRIO NO
PROCEDIMENTO, SOBRETUDO EM SE TRATANDO DE
TRATAMENTO PURAMENTE ESTÉTICO - OBRIGAÇÃO DE
RESULTADO. OFENSA AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (ARTS. 22
E 34). ÔNUS QUE COMPETIA AO PROFISSIONAL DA MEDICINA.
ART. 333, II, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973. DEVER
DE INDENIZAR. VALORAÇÃO DO DANO MORAL. MONTANTE
QUE SE MOSTROU EXAGERADO. READEQUAÇÃO. ATENÇÃO
AOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.
RECURSO CONHECIDO E, EM PARTE, PROVIDO (TJSC, Apelação
Cível n. 0000708-06.2011.8.24.0007, de Biguaçu, rel. Rubens Schulz,
Segunda Câmara de Direito Civil, j. 27-07-2017). – Grifamos

Situação contrária ocorreu no julgado pela Segunda Câmara de Direito Civil


do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Embora não tenha sido evidenciado erro no
procedimento, o médico não firmou o Termo De Consentimento Informado, de modo
que incidiu em ofensa ao Código de Ética Médica e, assim, foi condenado a indenizar.

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BIBLIOGRAFIA

BRASIL, Resolução CFM n° 2.217/2018. Dispõe sobre o Código de Ética e disciplina.


Brasília, DF.

BRASIL. Resolução CFM nº 1.789/2006. Dispõe sobre o Conselho Federal de


Medicina. Brasília, CF.

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