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O Consentimento Informado na Relação

Médico-Paciente

Rafael Vale e Reis - rafaelvr@fd.uc.pt


A evolução da medicina…

 Medicina da Idade Média


 “Do estetoscópio e do xarope passou-se para a tomografia
axial computorizada e para o pace-maker na rotina dos
cuidados de saúde.” (André Pereira)

 “o ambiente em que a relação se desenvolve sofreu uma


‘revolução coperniciana’ ao deslocar-se da casa do doente
para os grandes complexos hospitalares.” (Figueiredo
Dias)
“Faz tudo ocultando ao doente a maioria das
coisas (…) distrai a sua atenção. Anima-o sem
lhe mostrar nada do que se vai passar nem do
seu estado actual…”
Hipócrates – Sobre a decência.

“Eu penso que há até o direito de se operar


sempre, até contra a vontade do doente. Penso
e tenho-o feito. (…) Basta proceder às claras e
em frente de testemunhas. Por duas vezes no
hospital fiz adormecer doentes contra a sua
vontade (…). Operei-os e salvei-os. Foram mais
tarde eles próprios a agradecer a minha
violência”
Jean Louis Foure – A Alma do Cirurgião, 1929
“Every human being of adult years and sound
mind has a right to dtermine what shall be done
with his own body.”
Benjamin Cardozo – 1914
O Consentimento Informado na Relação
Médico-Paciente
 A relação médico-paciente está hoje no centro das
atenções públicas

Entrou no mundo do DIREITO

 O médico receia a “negligência” ou o “erro médico” – a malpractice


 Os pacientes reclamam da desumanização da actividade médica e
querem participar activamente nos serviços médicos que lhe são
prestados
O Consentimento Informado na Relação
Médico-Paciente
 Europa / EUA - a litigiosidade ao nível da responsabilidade
médica tem crescido exponencialmente, com destaque
para a responsabilidade por violação do consentimento
informado.

 Estudo Barcelona 1998: 50% das acções judiciais relativas


à responsabilidade médica estavam relacionadas com
problemas de comunicação (violação da
confidencialidade, realização de intervenções médicas
sem informar o paciente, ou transmissão de informação
insuficiente ou errada).
O Consentimento Informado na Relação
Médico-Paciente
 Razão de natureza pragmática e processual:
processual a negligência
médica é de prova extremamente difícil - por vezes é mais
fácil orientar um processo judicial pela via do
consentimento informado.

 Certo, porém, é que:

 Costa Andrade: “o médico não pode apenas sacrificar ao


velho mandamento hipocrático: salus aegroti suprema lex
est! Tem também de prestar homenagem ao imperativo:
voluntas aegroti suprema lex est!”
O Consentimento Informado – Origens
Históricas
 Até ao século XIX, o consentimento do paciente
era visto como algo desejável para favorecer o
tratamento e a actividade do médico;

 Kant - emancipa-se o indivíduo e erguem-se os


direitos humanos como fundamento da
democracia, mas os enormes progressos dos
conhecimentos médicos e da ciência do
medicamento levam à instalação do paternalismo
médico.
dico
O Consentimento Informado – Origens
Históricas
 1964 - Declaração de Helsínquia, da Associação
Médica Mundial impôs a exigência de
consentimento, mas apenas para o domínio da
experimentação médica.

 1981 - Declaração de Lisboa - “depois de ter sido


legalmente informado sobre o tratamento
proposto, o doente tem o direito de aceitar ou
recusar”.
recusar
Fontes do Consentimento Informado

 1. Fontes Internacionais

 Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948);

 Pacto das Nações Unidas sobre Direitos Civis e Políticos (1966)


 art. 7.º : “é proibido submeter uma pessoa a uma experiência médica
ou científica sem o seu livre consentimento”

 Pacto das Nações Unidas sobre direitos económicos, sociais e


culturais (1966)

 UNESCO - Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os


Direitos do Homem (1997).
Fontes do Consentimento Informado

 2. Fontes Europeias

 Convenção Europeia dos Direitos do Homem e a


Biomedicina
 também conhecida por Convenção de Oviedo por ter sido
assinada nessa cidade espanhola em 4 de Abril de 1997
 entrou em vigor em Portugal a 1 de Dezembro de 2001
 “convenção mínima” - visa estabelecer um nível mínimo
de protecção que seja aceite por todos os Estados-parte
 dá lugar de destaque à protecção da integridade física e
moral da pessoa por via da exigência do consentimento
(Capitulo II)
Fontes do Consentimento Informado

 Convenção Europeia dos Direitos do Homem e a Biomedicina

CAPÍ
CAPÍTULO II
Consentimento

Artigo 5.º
5.º
Regra geral

Qualquer intervenção no domínio da saúde só pode ser efectuada


após ter sido prestado pela pessoa em causa o seu consentimento livre e
esclarecido.
Esta pessoa deve receber previamente a informação adequada
quanto ao objectivo e à natureza da intervenção, bem como às suas
consequências e riscos.
A pessoa em questão pode, em qualquer momento, revogar
livremente o seu consentimento.
Fontes do Consentimento Informado

 Convenção Europeia dos Direitos do Homem e a Biomedicina


Artigo 6.º
6.º
Protecç
Protecção das pessoas que careç
careçam de capacidade para prestar o seu consentimento

1 - Sem prejuí
prejuízo dos artigos 17.º
17.º e 20.º
20.º, qualquer intervenç
intervenção sobre uma pessoa que careç
careça
de capacidade para prestar o seu consentimento apenas poder poderáá ser efectuada em seu
benefí
benefício directo.
2 - Sempre que, nos termos da lei, um menor careç careça de capacidade para consentir numa
intervenç
intervenção, esta não poderá
poderá ser efectuada sem a autorizaç
autorização do seu representante, de
uma autoridade ou de uma pessoa ou instância designada pela lei.
A opinião do menor é tomada em consideraç consideração como um factor cada vez mais
determinante, em funç
função da sua idade e do seu grau de maturidade.
3 - Sempre que, nos termos da lei, um maior careçcareça, em virtude de deficiência mental, de
doenç
doença ou por motivo similar, de capacidade para consentir numa inter interven
venç
venção, esta não
poderá
poderá ser efectuada sem a autorizaç
autorização do seu representante, de uma autoridade ou de
uma pessoa ou instância designada pela lei.
A pessoa em causa deve, na medida do possípossível, participar no processo de autorizaç
autorização.
4 - O representante, a autoridade, a pessoa ou a instância menciona
mencionados
dos nos n.os 2 e 3
recebem, nas mesmas condiç
condições, a informaç
informação citada no artigo 5.º
5.º
5 - A autorizaç
autorização referida nos n.os 2 e 3 pode, em qualquer momento, ser retirada no
interesse da pessoa em questão.
Fontes do Consentimento Informado

 Convenção Europeia dos Direitos do Homem e a Biomedicina

Artigo 7.º
7.º
Protecç
Protecção das pessoas que sofram de perturbaç
perturbação mental

Sem prejuízo das condições de protecção previstas na lei,


incluindo os procedimentos de vigilância e de controlo, bem como as vias
de recurso, toda a pessoa que sofra de perturbação mental grave não
poderá ser submetida, sem o seu consentimento, a uma intervenção que
tenha por objectivo o tratamento dessa mesma perturbação, salvo se a
ausência de tal tratamento puser seriamente em risco a sua saúde.
Fontes do Consentimento Informado

 Convenção Europeia dos Direitos do Homem e a Biomedicina

Artigo 8.º
8.º
Situaç
Situações de urgência

Sempre que, em virtude de uma situação de urgência, o


consentimento apropriado não puder ser obtido, poder-se-á proceder
imediatamente à intervenção medicamente indispensável em benefício
da saúde da pessoa em causa.
Fontes do Consentimento Informado

 Convenção Europeia dos Direitos do Homem e a Biomedicina

Artigo 9.º
9.º
Vontade anteriormente manifestada

A vontade anteriormente manifestada no tocante a uma


intervenção médica por um paciente que, no momento da intervenção,
não se encontre em condições de expressar a sua vontade, será tomada
em conta.
conta
Fontes do Consentimento Informado

 2. Fontes Europeias
 União Europeia

 Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia -


assegura a protecção do direito à integridade da pessoa no
quadro da medicina e da biologia
 Carta Europeia do Paciente (1984) - enumera um conjunto
de direitos com vista a proteger a pessoa doente
 Directiva 95/46/CE -protecção dos indivíduos em relação
ao processamento de dados pessoais (Lei nº 67/98, de 26-
10)
 Directiva 2001/20/CE - boas prática clínicas na realização
de ensaios clínicos de medicamentos de uso humano (já
transposta)
O Consentimento Informado no Direito
Português

 A CRP - art. 26.º, n.º 1 direito fundamental ao


desenvolvimento da personalidade, expressão do princípio
axiomático da dignidade humana (art. 1.º da CRP);

 Código Penal Português - crime de intervenções ou


tratamentos médico-cirúrgicos arbitrários (art. 156.º) - dever
de esclarecimento (art. 157.º);

 Código Civil - art. 70.º Direito Geral de Personalidade;

 Legislação da Saúde.
O Consentimento Informado no Direito
Português

 CDOM afirma que “O médico deve procurar esclarecer o doente, a família ou quem
legalmente o represente, acerca dos métodos de diagnóstico ou de terapêutica
que pretende aplicar”.

 Por outro lado, ao admitir a recusa de tratamento, o art. 38.º, n.º 3 pressupõe a
exigência do consentimento para a intervenção médica.
Capacidade para Consentir

 Adultos com capacidade

 Natureza pessoalíssima do consentimento: é o doente que tem de


consentir na intervenção médica

 Art. 38.º CDOM: dever de esclarecimento da família –


referência equívoca. Só em casos especiais (menores e
incapazes adultos). Sigilo médico e privacidade mesmo
perante a família.

 Em princípio a relação médico-paciente também não


envolve o cônjuge
Capacidade para Consentir

 Adultos incapazes

 Representante legal (interdição: tutor; inabilitação: curador)


 Nos Países Baixos foi criada, em 1994, a figura do Mentor –
representante exclusivamente para efeitos de saúde

 Sem representante legal


 ferido ou doente em estado de inconsciência
 demência notória
 paciente incapaz no fim de vida

 Terreno pouco firme:


 Ouvir a família (consentimento presumido)
 Recorrer ao MP (suprimento do consentimento)
 Testamentos de paciente – falta de legislação
Capacidade para Consentir

 Menores
 Poder paternal

 Maioridades especiais
 art. 142, n.º 5 do Código Penal – IVG: 16 anos
 Artigo 38.º, n.º 3 do Código Penal
 14 anos + análise do discernimento necessário para avaliar o
sentido e alcance do consentimento no momento em que é
prestado

 Dissentimento e risco para a vida do menor


 Menor com mais de 14 anos: fica sem capacidade para dissentir
 Recusa dos pais: expediente previsto na Lei de Protecção de Crianças
e Jovens em Perigo – o MP requer ao juiz a suspensão do exercício do
poder paternal
Aspectos penais do Consentimento
Informado
 tratamento privilegiado ao exercício da actividade médica

 duas formas de encarar as intervenções e tratamentos


médico-cirúrgicos:

 qualificá-los como lesões corporais típicas, cuja ilicitude seria depois


afastada quer pelo consentimento do paciente, quer em nome do
“exercício de um direito” por parte do médico

 dedicar aos actos médicos um tratamento diferenciado e privilegiado, de


modo a que a actuação do médico não chegue sequer a preencher o tipo
legal de crime de ofensas à integridade física.
Aspectos penais do Consentimento
Informado
Artigo 150º
Intervenções e tratamentos médico-cirúrgicos

1 - As intervenções e os tratamentos que, segundo o estado dos


conhecimentos e da experiência da medicina, se mostrarem indicados e
forem levados a cabo, de acordo com as leges artis, por um médico ou
por outra pessoa legalmente autorizada, com intenção de prevenir,
diagnosticar, debelar ou minorar doença, sofrimento, lesão ou fadiga
corporal, ou perturbação mental, não se consideram ofensa à integridade
física.
2 - As pessoas indicadas no nº anterior que, em vista das finalidades nele
apontadas, realizarem intervenções ou tratamentos violando as leges
artis e criarem, desse modo, um perigo para a vida ou perigo de grave
ofensa para o corpo ou para a saúde são punidas com pena de prisão até
2 anos ou com pena de multa até 240 dias, se pena mais grave lhes não
couber por força de outra disposição legal.
(Redacção da Lei nº 65/98, de 2 de Setembro)
Aspectos penais do Consentimento
Informado
 Pressupostos da atipicidade das intervenções e tratamentos
médico-cirúrgicos

 Elementos subjectivos:

 que o agente seja um médico ou outra pessoa legalmente


autorizada ;

 que actue com finalidade terapêutica: ou seja, que os


tratamentos sejam empreendidos com intenção de prevenir,
diagnosticar, debelar ou minorar doença, sofrimento, lesão ou
fadiga corporal, ou perturbação mental;
Aspectos penais do Consentimento
Informado
 Pressupostos da atipicidade das intervenções e tratamentos
médico-cirúrgicos

 Elementos objectivos:

 que a intervenção seja realizada por indicação médica;


 com o respeito pelas leges artis,

ou seja, que se trate de intervenções e


tratamentos, que segundo o estado dos
conhecimentos e da experiência da medicina, se
mostrarem indicados e forem levados a cabo, de
acordo com as leges artis.
Aspectos penais do Consentimento
Informado
 constituem ofensas à integridade física intervenções como a
extracção de órgãos ou tecidos para transplantes,
determinadas formas de esterilização, intervenções com
finalidade cosmética, etc.

a conduta do médico pode ser justificada,


nomeadamente pelo consentimento do
ofendido (cfr. art. 38.º e 149.º do CP).
Aspectos penais do Consentimento
Informado
 Experimentação:

 experimentação pura (experimentação humana, não terapêutica) - está


excluída das intervenções médico-cirúrgicas;
 experimentação terapêutica

o médico, à falta de tratamento cientificamente


testado e convalidado, recorre, no interesse do
paciente, a meios terapêuticos cujas
consequências não é possível antecipar e
controlar com segurança

é consensual a sua recondução às


intervenções médico-cirúrgicas.
Aspectos penais do Consentimento
Informado
 A outra face do regime legal:

quando o médico leva a efeito uma


intervenção médico-cirúrgica (daquelas cuja
tipicidade ao nível das ofensas à integridade
física é excluída pelo art. 150.º) sem
consentimento do paciente, ofende-o na
sua liberdade

crime de intervenções e
tratamentos médico - cirúrgicos
arbitrários - art. 156.º do CP.
Aspectos penais do Consentimento
Informado

Art. 156º
156º
Intervenç
Intervenções e tratamentos mé
médico-
dico-cirú
cirúrgicos arbitrá
arbitrários

1 As pessoas indicadas no artigo 150º que, em vista das finalidades nele


apontadas, realizarem intervenções ou tratamentos sem consentimento do
paciente, são punidas com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa.
2 O facto não é punível quando o consentimento:
a) Só puder ser obtido com adiamento que implique perigo para a vida ou perigo
grave para o corpo ou para a saúde; ou
b) Tiver sido dado para certa intervenção ou tratamento, tendo vindo a realizar-se
outro diferente por se ter revelado imposto pelo estado dos conhecimentos e da
experiência da medicina como meio para evitar um perigo para a vida, o corpo ou
a saúde; e não se verificarem circunstâncias que permitam concluir com
segurança que o consentimento seria recusado.
3 Se, por negligência grosseira, o agente representar falsamente os pressupostos
do consentimento, é punido com pena de prisão até 6 meses ou com pena de
multa até 60 dias.
4 O procedimento criminal depende de queixa.
Aspectos penais do Consentimento
Informado

Art. 157º
157º
Dever de esclarecimento

Para efeito do disposto no artigo anterior, o consentimento só é


eficaz quando o paciente tiver sido devidamente esclarecido sobre o
diagnóstico e a índole, alcance, envergadura e possíveis consequências
da intervenção ou do tratamento, salvo se isso implicar a comunicação de
circunstâncias que, a serem conhecidas pelo paciente, poriam em perigo
a sua vida ou seriam susceptíveis de lhe causar grave dano à saúde, física
ou psíquica.
Aspectos penais do Consentimento
Informado
 Privilégio terapêutico

 excepção ao dever de informar por parte do médico, em ordem à


obtenção do consentimento informado;

 formulação é bastante restritiva:

 vale apenas para as intervenções terapêuticas


 só o risco para a vida ou o grave dano para a saúde física ou psíquica
justificam o não cumprimento do dever de informar por parte do médico
 em face desta interpretação, é invalido o artigo 40º do CDOM
Aspectos penais do Consentimento
Informado
ARTIGO 40.°
40.°
(Prognó
(Prognóstico e diagnó
diagnóstico)

1. O prognóstico e o diagnóstico devem ser revelados


ao doente, salvo se o Médico, por motivos que em sua
consciência julgue ponderosos, entender não o dever fazer.
2. Um prognóstico fatal só pode porém ser revelado ao
doente com as precauções aconselhadas pelo exacto
conhecimento do seu temperamento, das suas condições
específicas e da sua índole moral, mas em regra deve ser
revelado ao familiar mais próximo que o Médico considere
indicado, a não ser que o doente o tenha previamente
proibido ou tenha indicado outras pessoas a quem a
revelação deva ser feita.”
Aspectos penais do Consentimento
Informado
 Valor jurídico do Código Deontológico
 Normalmente os Códigos Deontológicos são elaborados com base numa
legitimação dada por um órgão legislativo formal
 Art. 80.º Decreto-lei n.º 282/77, de 5 de Julho, que define o Estatuto da
Ordem dos Médicos – Conselho Nacional de Deontologia Médica
 o código elaborado no princípio do anos oitenta não foi aprovado por uma lei
formal
 publicado apenas no órgão noticioso da Ordem e não no Diário da República
- não pode ter o valor de uma lei formal
 As suas normas não podem ser consideradas se violarem as lei gerais
 Mas:
 As suas normas têm plena eficácia interna
 a sua infracção constitui motivo para responsabilidade disciplinar
 o tribunal buscará nas normas deontológicas a definição das exigências
que se podem fazer ao médico
Aspectos penais do Consentimento
Informado
 Privilégio terapêutico

 não há um direito à mentira

 não é admissível ao médico omitir uma informação importante com


o objectivo de evitar que o paciente recuse uma intervenção ou não
fique desencorajado de se lhe submeter

Campo nítido de aplicação: cardiologia


os pacientes que sofrem de um enfarte do
miocárdio estão em eminente perigo de
morte, pelo que a revelação do exacto
alcance do seu diagnóstico poderá ser fatal.
Aspectos penais do Consentimento
Informado
 As palavras de dois médicos:

“Este ‘privilégio terapêutico’ deve ser evitado ao máximo, reservando-se a


sua utilização para casos verdadeiramente excepcionais, como
algumas doenças psiquiátricas ou cardíacas que, pela sua natureza,
sejam agravadas com a transmissão da informação”

Alexandra Antunes e Rui Nunes, in “Consentimento Informado na Prática


Clínica”, Arquivos de Medicina, 13 (2), 1999, p. 125.
Aspectos penais do Consentimento
Informado
 A urgência
 O dever de informar e o dever de obter o consentimento do
paciente devem ceder quando a demora na intervenção médico-
cirúrgica ponha em perigo a vida ou leve a um agravamento do
estado de saúde do doente

 do art. 284.º do CP pune o médico que recusar o auxilio da sua


profissão em caso de perigo para a vida ou de perigo grave para a
integridade física de outra pessoa, que não possa ser removido de
outra maneira, com pena de prisão até 5 anos.

 nos termos do n.º 2 do artigo 156.º do CP, o médico não é punido


se realizar a intervenção sem o consentimento do paciente se
este “Só puder ser obtido com adiamento que implique perigo
para a vida ou perigo grave para o corpo ou para a saúde”.
 Convenção Europeia dos Direitos do Homem e a Biomedicina

Artigo 8.º
8.º
Situaç
Situações de urgência

Sempre que, em virtude de uma situação de urgência, o


consentimento apropriado não puder ser obtido, poder-se-á proceder
imediatamente à intervenção medicamente indispensável em benefício
da saúde da pessoa em causa.
Aspectos penais do Consentimento
Informado
 A urgência

 O ordenamento jurídico cria, assim, uma verdadeira autorização


para a intervenção médica: a lei criou as condições para que o
médico possa intervir salvando a vida ou evitando uma lesão
grave da integridade física do paciente.

 a vontade do sujeito não desaparece: como resulta da parte final


do art. 156.º, n.º 2 CP, se se verificarem circunstâncias que
permitam concluir com segurança que o consentimento seria
recusado, então o médico deve – em nome da autonomia do
paciente – abster-se de intervir.
FIM

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