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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

DIREITOS HUMANOS - NOTURNO - TURMA 102


THAYNARA AP. SOUSA DE FREITAS - 21009967

O MÉDICO OU CARCEREIRO?
O artigo "médico ou carcereiro” traz para o debate um tema de muita relevância e que possui
uma necessidade em ser discutido atualmente, por tratar-se de situações que acontecem com muita
frequência. Ao abordarmos a linha tênue entre o sigilo profissional e a omissão de comunicação de
um crime, devemos analisar sabiamente os critérios jurídicos e humanos envolvidos nessa questão.

O sigilo profissional é a atitude de manter em segredo informações sobre fatos, ações, ou


organizações, nas quais a tomada de conhecimento se dá em função do exercício de determinada
profissão. A quebra desse sigilo é um delito previsto no art. 154 do Código Penal:

“Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em
razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa
produzir dano a outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa de um conto a dez contos


de réis.”

(grifos nossos)

Esse sigilo é observado em diversas profissões, quais sejam médicos, advogados,


psicólogos, entre outros, onde se exige uma confiança a respeito do que será exposto, visto que o
relacionamento entre o contratado e o contratante, deve ser o mais transparente possível para que o
problema que gerou essa relação seja sanado.

Diante disso, os profissionais da área da saúde, encontram-se em um enigma diário, de um


lado devem preservar pela assistência aos seus pacientes e ao mesmo tempo não podem ocultar a
comunicação de um crime.

Todavia, ao analisarmos o artigo, tem-se que o clímax da discussão, atualmente, se dá


quando tratamos do aborto - interromper uma gestação antes do período perinatal - sendo ele
autorizado no Brasil apenas nos casos, expressamente descritos no art. 128 do Código Penal:

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“Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:

Aborto necessário

I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro

II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento


da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.”

Ao deparar-se com um aborto que não preencha tais requisitos citados pela normal penal
brasileira, considera-se crime.

Pensemos na prática, quando um médico recebe em seu consultório uma paciente que não
atende os requisitos penais, todavia deseja realizar o aborto, qual deve ser a atitude? Realizar o
aborto e garantir a assistência médica ou realizar uma denúncia pelo desejo de cometer a infração
penal.

A partir da análise do artigo, é evidente que ainda existem diversos entendimentos a respeito
do tema, entender-se que os médicos devem prestar assistência, e manter sigilo profissional, ainda
que as pacientes estejam erradas juridicamente, tenham no serviço de saúde um apoio e a garantia
sua dignidade humana, bem como a garantia de seu direito de acesso à saúde, prevista na
Constituição Federal, em conformidade com a vedação expressa no código de ética médica:

“IX - SIGILO PROFISSIONAL


É vedado ao médico: Art. 73. Revelar fato de que tenha conhecimento em
virtude do exercício de sua profissão, salvo por motivo justo, dever legal ou
consentimento, por escrito, do paciente.”

Entretanto quando a atitude do indivíduo delator seja de violência ou grave ameaça, viole
direitos de outro indivíduo, o profissional deve denunciar.

Evidenciando os diversos pensamentos a respeito do tema, Guilherme de Souza Nucci,


disserta:

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“... se houver um exame médico em mulher que acabou de abortar, não pode o
profissional da medicina ocultar das autoridades a ocorrência do referido
aborto. É a materialidade do delito. Deve enviar a ficha clínica ou prontuário a
juízo (ou para instruir inquérito).”

Do exposto, podemos concluir que o temas ainda causa opções juridicamente diversas,
portanto, com a cautela que se necessita, compactou da conclusão da nobre colega de que o Direito
Brasileiro dá margem para as diversas interpretações existentes, por isso, as normas deveriam ser
mais certeiras em delimitar o que deve ser resguardado pelo sigilo médico e quais as situações de
obrigatoriedade de comunicação às autoridades competentes.

Independentemente do critério a ser adotado para normatizar esses limites, devem sempre
ser respeitadas as garantias e direitos fundamentais dos indivíduos e principalmente sua
dignidade humana.

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