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º 459/2016
(Aprovado em Reunião de Diretoria em 24/08/2016)
I – DOS FATOS
É o relatório.
II – DA ANÁLISE JURÍDICA
De início, convém informar que a presente análise é realizada de modo abstrato, eis
que o Conselho Federal de Medicina não possui quaisquer informações concretas sobre a
ocorrência dos fatos narrados, tendo recebido comunicação, por e-mail, para analisar
suposto caso e emitir parecer consulta. Assim, não foram informados na citada comunicação
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dados ou informações passíveis de identificação das partes envolvidas no suposto fato
delituoso.
Como se sabe, a Medicina é uma profissão a serviço da saúde e será exercida sem
discriminação de nenhuma natureza, sendo que o alvo de toda a atenção do médico é a
saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor
de sua capacidade profissional.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
(...)
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer;
Neste ponto, destacamos que o Código de Ética Médica tratou em capítulo próprio
os aspectos decorrentes do sigilo médico, a saber:
Capítulo IX
SIGILO PROFISSIONAL
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É vedado ao médico:
Art. 74. Revelar sigilo profissional relacionado a paciente menor de idade, inclusive
a seus pais ou representantes legais, desde que o menor tenha capacidade de
discernimento, salvo quando a não revelação possa acarretar dano ao paciente.
Art. 75. Fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus
retratos em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos médicos, em
meios de comunicação em geral, mesmo com autorização do paciente.
Art. 78. Deixar de orientar seus auxiliares e alunos a respeitar o sigilo profissional e
zelar para que seja por eles mantido.
Art. 79. Deixar de guardar o sigilo profissional na cobrança de honorários por meio
judicial ou extrajudicial.
Por sua vez, a RESOLUÇÃO CFM nº 1.605/2000, trouxe normas que também
disciplinam a questão do sigilo médico afirmando já em sua ementa que “O médico não
pode, sem o consentimento do paciente, revelar o conteúdo do prontuário ou ficha médica.”
Nesse sentido, é o teor do art. 154 do Código Penal, que define o crime de violação
de sigilo profissional, senão vejamos:
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Código Penal:
"(...)
Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo de que tenha ciência, em
razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir
dano a outrem.
Pena - detenção de 3 meses a um ano ou multa de 1 a 10 mil cruzeiros.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.
(...)
Código Civil:
"(...)
Art. 144 - Ninguém pode ser obrigado a depor sobre fatos a cujo respeito, por
estado ou profissão, deve guardar segredo.
(...)"
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RECURSO ORDINÁRIO EM MS Nº 11.453 - SP (1999⁄0120187-0)
EMENTA
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Nesse sentido, a própria legislação acima citada traz hipóteses excepcionais em que
o profissional, inclusive o médico, deixa as amarras do segredo profissional e passa a ter a
obrigação legal de comunicar determinados fatos às autoridades competentes.
Nesse ínterim, citamos também o teor do art. 269 do Código Penal e do art. 66, II, da
Lei de Contravenções Penais, que determinam a obrigatoriedade do ato de denunciar pelo
médico, senão vejamos:
Código Penal
(...)
(...)".
"(...)
(...)
(...)”.
Como se vê, a interpretação de tais dispositivos não demanda maior dificuldade para
encontrar o objetivo perseguido pela norma, já que a noção de doenças de notificação
compulsória e crimes de ação pública são conceitos facilmente identificáveis.
Como exemplo dessa celeuma, citamos o próprio tipo penal do art. 154 do CP que
traz o elemento normativo “sem justa causa”, como hipótese em que o profissional que
revele segredo não estaria praticando crime, eis que em tais hipóteses o fato se tornaria
atípico.
Tem-se que a justa causa exprime, em sentido amplo, toda a razão que possa ser
utilizada como justificativa para a prática de um ato excepcional, fundamentado em razões
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legítimas e de interesse ou procedência coletiva. Assim, entende-se como uma razão
superior relevante do que seria, a princípio, uma falta.
Todavia, tal análise não pode ser realizada de forma abstrata, mas somente no caso
concreto, devendo ser ponderada a proporcionalidade e a razoabilidade do ato que
certamente mitigará o sigilo imposto para proteger a intimidade do paciente.
Pois bem, no caso dos autos, tem-se que o sigilo profissional certamente deverá
ceder espaço quando confrontado com o dever legal, moral e ético de reportar crime de
ação pública e com elevado potencial lesivo dos direitos pertencentes à criança e ao
adolescente.
A situação resta agravada pelo fato de que os demais familiares estão cientes de
tais ocorrências e se furtam de levar o conhecimento de tais fatos às autoridades públicas,
cumplicidade esta que certamente permitirá o enquadramento penal de tais pessoas com
partícipes do tipo penal praticado pelo autor, ou, ainda, em outros crimes a serem tipificados
pelo Ministério Público, como titular da ação penal (art. 129, I, da Constituição da República).
Nesse sentido, a Constituição da República dispõe em seu art. 227, que a família, a
sociedade e o Estado devem assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.
Por outro lado, cabe ressaltar que o próprio CFM, por meio da Resolução 999/80,
tratou de casos relacionados ao sigilo médico, estabelecendo que “A revelação do segredo
médico é permitida nos casos de abuso e/ou sevícia sexual para apurar responsabilidades”.
Destaque-se, também, que o fardo de tal situação não pode ser imputado
exclusivamente sobre o profissional da medicina que se depara com tal situação, cabendo
ao Estado utilizar de todo o seu aparato curativo para promover o atendimento de paciente
com tal grau de transtornos psiquiátricos, inclusive, caso necessário, por meio de internação
compulsória a ser promovida pelas autoridades públicas.
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Informe-se, ainda, que na hipótese de haver a confirmação da insanidade mental do
autor dos delitos narrados, ou seja, caso se confirme que ele não tinha, na época dos fatos,
condições de entender o caráter ilícito de suas condutas, a Justiça Criminal terá condições
de aplicar medidas de segurança que sejam adequadas ao tratamento curativo, inclusive
com o afastamento do agressor em relação às vítimas para evitar a reiteração de atos.
III – DA CONCLUSÃO
O fardo de tal situação não pode ser imputado exclusivamente sobre o profissional
da medicina que se depara com tal situação, cabendo ao Estado utilizar de todo o seu
aparato curativo para promover o atendimento de paciente com tal grau de transtornos
psiquiátricos, inclusive, caso necessário, por meio de internação compulsória a ser
promovida pelas autoridades públicas.
De Acordo:
José Alejandro Bullón
Chefe da COJUR
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