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42 INFORMAÇÃO INSTITUCIONAL

FICHEIROS CLÍNICOS
ENQUADRAMENTO LEGAL E ÉTICO

FICHEIROS CLÍNICOS PROPRIEDADE DE


INFORMATIZADOS FICHEIROS MÉDICOS
PARECER DA CONSULTORA JURÍDICA DA SECÇÃO REGIO- PARECER DO CONSELHO NACIONAL DE ÉTICA E DEONTO-
NAL DO NORTE HOMOLOGADO PELO CONSELHO REGIO-
LOGIA MÉDICAS, HOMOLOGADO PELO CONSELHO NACI-
NAL DO NORTE DA ORDEM DOS MÉDICOS
ONAL EXECUTIVO DA ORDEM DOS MÉDICOS

Relativamente ao assunto epigrafado e porque o A informação constante do ficheiro clínico é um


Código Deontológico não contém disposições es- direito do doente que em qualquer momento pode
pecíficas acerca do tratamento informatizado dos solicitar que lhe seja fornecida ou enviada a médi-
ficheiros clínicos será de aplicar, com as devidas co da sua escolha.
adaptações, a Lei da Protecção de Dados Pessoais • O ficheiro, em si, é propriedade do médico sen-
(Lei 67/98, de 26 de Outubro). do a única forma de preservar a liberdade de
transcrição e o registo de elementos de uso pes-
Assim, nos termos do disposto no n.º 1 do artigo soal, e que o médico pretende salvaguardar de
14º do aludido diploma legal “o responsável pelo qualquer exposição a outra pessoa.
tratamento deve pôr em prática as medidas técnicas e • Nas organizações complexas, públicas ou priva-
das, em que vários médicos registam no mesmo
organizativas adequadas para proteger os dados pes- processo clínico, este é da responsabilidade do
soais contra a destruição, acidental ou ilícita, a perda Director Clínico da Instituição nos termos do Có-
acidental, a alteração, a difusão ou o acesso não auto- digo Deontológico em vigor.
rizados, nomeadamente quando o tratamento impli-
car a sua transmissão por rede, e contra qualquer ou- 1. A ficha clínica é o registo da informação relativa
tra forma de tratamento ilícito; estas medidas devem a um doente que escolheu o seu médico e a ele
assegurar, atendendo aos conhecimentos técnicos dis- confiou informações de carácter íntimo e reser-
vado relativos à sua pessoa.
poníveis e aos custos resultantes da sua aplicação, um 2. A transferência de informação entre 2 colegas só
nível de segurança adequado em relação aos riscos que poderá ser feita a pedido do doente e através de
o tratamento apresenta e à natureza dos dados a pro- resumo com base na ficha clínica, e não através
teger”. da apropriação da ficha clínica por um novo
médico e muito menos pela própria clínica.
É inequívoco que tais medidas de protecção deve- 3. O tipo de registo que consta de uma ficha clíni-
rão ser especialmente exigentes no caso de fichei- ca é, além do mais, imbuído do estilo muito pes-
ros clínicos dada a natureza da matéria neles trata- soal do médico que o faz, recorrendo a
da e que até se encontra sujeita a sigilo médico, idiossincrasias de linguagem e grafismo, o que
especificamente consagrado no Código ainda mais evidencia o carácter pessoal e
Deontológico e, também, no artigo 17º da referida intransmissível do mesmo.
4. A ficha clínica pertence, portanto, ao médico
Lei.
que a produz.
A viciação ou destruição de dados pessoais, e veri- 5. Este facto não coarcta, de forma alguma, a única
ficados que sejam os seus pressupostos, poderá matéria que nesta questão é relevante o direito,
consubstanciar a prática de um crime, p. e p. no que ao doente assiste, ao usufruto da informa-
ção que a mesma contém, pois sobre ela poderá
artigo 45º do mesmo diploma, com pena de prisão e deverá, o médico produzir uma informação
até dois anos ou multa até 240 dias. inteligível e objectiva, desde que o doente o so-
Deste modo afigura-se-nos que, no presente caso, licite.
se justifica que a Secção Regional do Norte da Or- Importa, pois, aprofundar o conteúdo das delibe-
dem dos Médicos, no uso das suas competências e rações que supra ficaram transcritas.
Assim e antes de mais, vejamos os preceitos
atribuições e através dos seus peritos, proceda a deontológicos aplicáveis à presente situação. A
uma averiguação do tipo de ficheiro clínico adop- matéria relativa aos arquivos clínicos encontra-se
tado pelo Ex.mo Sr. Dr. F. conforme, de resto, é regulada no Capítulo V do Código Deontológico,
sugerido pela Ex.ma Senhora Presidente do Con- sob a epígrafe “SEGREDO PROFISSIONAL, ATESTA-
selho Disciplinar. DOS MÉDICOS E ARQUIVOS CLÍNICOS’’.
Dentro deste Capítulo o primeiro normativo que
Este, s.m.o., o nosso entendimento, se refere aos processos clínicos é o n.º 5 do art.º
Porto, 2000-07-28 69º, cujo teor integral é o seguinte:
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“Art.º 69º 3. Os exames complementares de diagnóstico e te-


(O segredo na posse das entidades rapêutica, que constituem a parte objectiva do
colectivas de Saúde) processo do doente, poderão ser-lhe facultados
1. Os directores, chefes de serviços e médicos as- quando este os solicite, aceitando-se no entanto
sistentes dos doentes estão obrigados, singular que o material a fornecer seja constituído por
e colectivamente, a guardar segredo profissio- cópias correspondentes aos elementos constan-
nal quanto às informações clínicas que, consti- tes do Processo Clínico.”
tuindo objecto de segredo profissional, constem
do processo individual do doente organizado por Os artigos 78º a 80º são do seguinte teor:
quaisquer entidades colectivas de saúde, públi-
cas ou privadas. “Art.º 78º
2. Compete às pessoas referidas no número anteri- (Comunicações)
or a identificação dos elementos dos respecti- Sempre que o interesse do doente o exija, o Médi-
vos processos clínicos que, não estando abran- co deve comunicar sem demora a qualquer outro
gidos pelo segredo profissional, podem ser co- médico assistente, os elementos do Processo Clíni-
municados a entidades, mesmo hierárquicas, es- co necessários à continuidade dos cuidados.
tranhas à instituição médica que os haja solici-
tado. Art.º 79º
(Publicações)
3. É vedado às administrações das entidades co- O Médico pode servir-se das suas observações clí-
lectivas de saúde, públicas ou privadas, bem nicas para as suas publicações, mas deve proceder
como a quaisquer superiores hierárquicos dos de modo a que não seja possível a identificação
médicos referidos nos dois números anteriores, dos doentes, a menos que previamente autorizado
desde que estranhos à instituição médica, to- a tal.
mar conhecimento ou solicitar informações clí-
nicas que se integrem no âmbito do segredo Art.º 80º
profissional. (Destino dos registos em caso de
4. Qualquer litígio suscitado entre médicos e as transmissão de consultório)
entidades não médicas referidas nos dois nú- 1. Quando Médico cesse a sua actividade profissi-
meros anteriores em que seja invocado segredo onal, as suas Fichas devem ser transmitidas ao
profissional, é decidido sem recurso e com ex- Médico que lhe suceda, salvaguardada a vonta-
clusão de qualquer tribunal, quer de instância de dos doentes interessados e garantido o segre-
quer de recurso, pelo Presidente do Tribunal da do profissional.
Relação da área do local onde o conflito surgir, 2. Na falta de Médico que lhe suceda, deve o facto
depois de ouvida a Ordem dos Médicos e o res- ser comunicado à Secção Regional competente
pectivo Procurador da República. da Ordem dos Médicos por quem receber o es-
5. A guarda, o arquivo e a superintendência nos pólio do consultório ou pelos Médicos que te-
processos clínicos dos doentes organizados pe- nham conhecimento da situação, a qual deter-
las entidades colectivas de saúde competem sem- minará o destino a dar-lhes.”
pre aos médicos referidos nos dois primeiros nú- Das normas deontológicas em apreço ressalta, des-
meros, quando se encontrem nos competentes de logo, que a matéria respeitante aos processos
serviços ou, fora deste caso, ao médico ou mé- clínicos está intimamente ligada com o segredo
dicos que integrarem a respectiva administra- médico.
ção.” E isto porque, como refere o art.º 77º, a ficha clíni-
Os artigos imediatamente a seguir ao que agora fi- ca do doente é a memória escrita do médico, que
cou transcrito referem-se especificamente a aspec- ali regista os resultados que considera relevantes
tos relacionados com o segredo profissional, mas das observações clínicas dos doentes a seu cargo.
não confeccionados com o ficheiro clínico, sendo Sendo a ficha clínica de um doente a memória es-
que é o art.º 77º que regulamenta este, da seguinte crita do médico, para além desta dever conter o
forma: registo cuidadoso dos resultados que aquele consi-
“Art.º 77º dere relevantes das suas observações clínicas, têm
(Processo ou Ficha clínica e também menções e sinais próprios do médico re-
exames complementares) lativamente ao doente e à sua relação com aquele.
1. O Médico, seja qual for o Estatuto a que se sub-
meta a sua acção profissional, tem o direito e o Tais elementos são subjectivos como é subjectiva
dever de registar cuidadosamente os resultados uma memória, razão pela qual o legislador do Có-
que considere relevantes das observações clíni- digo Deontológico entendeu que o doente só tem
cas dos doentes a seu cargo, conservando-as ao acesso directo à parte objectiva do processo, ou seja,
abrigo de qualquer indiscrição, de acordo com os exames complementares de diagnóstico e tera-
as normas do segredo profissional. pêutica e não à ficha.
Com efeito, quando o doente pretende os elemen-
2. A ficha clínica do doente, que constitui a me- tos constantes da ficha o médico está tão só obriga-
mória escrita do Médico, pertence a este e não do a fornecer um relatório ou resumo da mesma,
àquele, sem prejuízo do disposto nos artigos 69º por forma a que o paciente ou o médico substituto
e 80º.
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possa aceder aos elementos relevantes para o trata- PROCESSO CLÍNICO
mento ou seguimento do doente.
Acresce que a ficha clínica é um instrumento de HOSPITALAR
trabalho do médico, quer para assegurar a conti-
nuidade dos cuidados ao doente, quer para servir DOCUMENTO ELABORADO PELA COMISSÃO DE ÉTICA DO
de suporte a estudos e investigações clínicas mais HOSPITAL DE S. JOÃO E ENVIADO AO CONSELHO REGIO-
amplas que o médico entenda dever levar a cabo. NAL DO NORTE PARA CONHECIMENTO
A propriedade da ficha clínica a que o Código
Deontológico se refere prende-se, ainda, com a O Estado promove e garante o acesso de todos os
necessidade que o médico tem de manter livre aces- cidadãos aos cuidados de saúde, através de servi-
so às informações que na mesma estão registadas, ços e estabelecimentos próprios, mormente atra-
porque em grande parte consubstanciam actos por vés de hospitais.
si praticados no exercício da actividade profissio- Ao recorrer aos serviços de saúde e mediante o seu
nal. consentimento em ser tratado, o doente consente
Sendo que tais actos podem sempre implicar di- ainda no tratamento dos seus dados pessoais, ne-
versos tipos de responsabilidade pessoal, não faz cessários para a elaboração do processo clínico
sentido que o médico que elaborou o documento hospitalar.
não tenha acesso ao trabalho por si realizado, ou
possa, inclusive, ver destruídas ou extraviadas pro- O doente enquanto pessoa humana, goza, entre
vas fundamentais à defesa dos seus legítimos direi- outros, dos seguintes direitos:
tos. A) Direito à privacidade, nos termos
Certo é que a ficha clínica do doente é proprieda- • do art. 12º da DUDH (Declaração Universal
de do médico e o Código Deontológico assim o dos Direitos do Homem)
afirma. • do art. 8º da CEDH (Convenção Europeia dos
Naturalmente que, como resulta do princípio da Direitos do Homem)
liberdade de escolha do médico pelo doente, aquele • do art. 16º da CDC (Convenção dos Direitos
está obrigado a facultar, através de relatório inteli- da Criança)
gível, todos os elementos relevantes e objectivos • do art. 17º da PIDCP (Facto Internacional dos
ao novo médico assistente, por forma a garantir a Direitos Civis e Políticos)
continuidade do tratamento do paciente. • do art. 5º da DADDH (Declaração Americana
Acresce que os registos constantes da ficha clínica dos Direitos e Deveres do Homem)
estão obviamente sujeitos a sigilo, razão pela qual • do art. 11º da CADH (Convenção Americana
houve necessidade de salvaguardar expressamente dos Direitos do Homem)
o segredo dos processos clínicos que sejam organi- • do art. 1º da CPPTID (Convenção para a Pro-
zados e se encontrem na posse de entidades colec- tecção das Pessoas relativamente ao Tratamento
tivas de saúde, responsabilizando directa, singular Informatizado de Dados de carácter pessoal)
e colectivamente, os directores, chefes de serviços • do art. 1º da Directiva 95/46/CE (Protecção de
e médicos assistentes pela sua guarda, arquivo e Dados Pessoais)
superintendência. • do art. 26º da CRP (Constituição da República
E tais registos são constituídos por matéria reser- Portuguesa de 1976)
vada, do foro íntimo do doente, que a própria Cons- • do art. 80º do C.C. (Código Civil)
tituição salvaguarda, e que a lei penal tutela na • do art. 190º e ss. do Código Penal
medida em que tipifica como crime a violação do • do art. 1º da Lei n.º 10/91
segredo profissional (vide art.º 195º do Código
Penal). B) Direito de aceder aos dados registados no seu
Por outro lado, é certo que existem processos clí- processo clínico, nos termos
nicos complexos, em que são vários os médicos • do art. 10º da CDHB (Convenção dos Direitos
que ali registam a sua intervenção. do Homem e da Biomedicina)
Nestes casos, como é óbvio, não se poderá dizer • do ponto 8.1 da RPDM (Recomendação para a
que o processo clínico pertence a um médico, an- Protecção dos Dados Médicos)
tes se devendo entender que havendo nele actos • do princípio 19º da Resolução sobre a Protec-
de diversos médicos e, portanto, de responsabili- ção de doentes mentais
dades partilhadas, podem todos eles aceder de igual • do ponto 4.4 da CPPD (Carta de Protecção das
forma às informações que certamente, em muitos Pessoas Doentes)
casos, se terão de articular umas com as outras. • do ponto 10º da 1ª parte da CDDD (Carta dos
É, pois, de concluir no sentido inequívoco de que Direitos e Deveres do Doente)
um médico que inscreveu numa ficha clínica um
acto próprio da sua profissão, tem sempre direito a C) Direito à confidencialidade das informações
aceder ao respectivo documento, de forma inte- de carácter pessoal reveladas, nos termos
gral, sem prejuízo da sua guarda, arquivo e supe- • do ponto 4.1 da CDPD
rintendência estar a cargo dos médicos indicados • da Base IV n.º 1 alínea d), da Lei nº48/90 de
no n.º 5 do art.º 69º do Código Deontológico, que 24/8 (Lei de Bases da Saúde)
em cada momento integram a instituição colectiva • do art. 7º da DUGH
de saúde, pública ou privada. • do princípio 6º da Resolução sobre a protec-
ção dos doentes mentais
• da Directiva n.º 5 da Resolução sobre os porta-
dores do HIV/SIDA
• do n.º 9 do Código Internacional de Ética Mé-
dica
• do ponto n.º 33 da Declaração de Manilla
• do ponto 9.2 da RPDM
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• do art. 11º do DL n.º 97/94 de 9/4 Código Deontológico no seu Capítulo V (art. 67º
• do ponto 9 da 1º parte da CDDD a 80º): “Segredo Profissional e ... Arquivos Clí-
nicos”. Não será por acaso que ambas as matérias
É imprescindível ter-se presente a Lei n.º 67/98
estão “arrumadas” no mesmo capítulo.
de 26 de Outubro - Lei de Protecção de Dados
Pessoais, a qual veio transpor para a ordem jurí- Assim, nos termos do artigo 69º:
dica portuguesa a Directiva n.º 95/46/CE do Parla- a) os directores, chefes de serviço e médicos assis-
mento Europeu e do Conselho, de 24 de Outubro tentes estão obrigados, singular e colectivamen-
de 1995, relativa à protecção das pessoas singula- te a guardar segredo profissional quanto às in-
res no que diz respeito ao tratamento dos dados formações clínicas que, constituindo objecto de
pessoais. segredo profissional, constam do processo indi-
vidual do doente, organizado por quaisquer en-
Assim, no contexto do serviço nacional de saúde,
tidades colectivas de saúde, públicas ou priva-
processo clínico hospitalar ou ficheiro clínico, será
das;
qualquer conjunto estruturado de dados pessoais,
b) é vedado às administrações das entidades colec-
relativos à identificação, à saúde, à vida sexual (in-
tivas de saúde públicas ou privadas, bem como
cluindo os dados genéticos), que seja acessível se-
a quaisquer superiores hierárquicos dos médi-
gundo critérios determinados, quer seja centrali-
cos, desde que estranhos à instituição médica,
zado, descentralizado ou repartido de modo fun-
tomar conhecimento ou solicitar informações
cional ou geográfico. O ficheiro clínico pode ser
clínicas que se integrem no âmbito do segredo
efectuado com ou sem recurso a meios automati-
profissional;
zados.
c) no caso de litígio suscitado entre médicos e enti-
O tratamento de dados constantes no ficheiro clí-
dades não médicas, em que seja invocado se-
nico é permitido quando for necessário para efei-
gredo profissional, a decisão caberá ao Presidente
tos de medicina preventiva, de diagnóstico médi-
do Tribunal da Relação da área do local onde o
co, de prestação de cuidados ou tratamentos mé-
conflito surgir, sem recurso e com exclusão de
dicos ou de gestão de serviços de saúde, desde que
qualquer tribunal, depois de ouvida a Ordem
o tratamento desses dados seja efectuado por um
dos Médicos e o respectivo Procurador da Re-
profissional de saúde obrigado a sigilo ou por ou-
pública;
tra pessoa sujeita igualmente a segredo profissio-
d) a guarda, o arquivo e a superintendência nos
nal, e desde que sejam observadas as respectivas
processos clínicos dos doentes, organizados pe-
exigências legais. É ainda permitido o tratamento
las entidades colectivas de saúde pertencem sem-
de dados pessoais contidos em ficheiros clínicos
pre aos médicos (indicados em a)), quando se
para fins estatísticos ou de investigação científica.
encontrem nos competentes serviços ou fora
Reforçando o que acima foi dito, vem esta lei de- deste caso, ao médico ou médicos que integrem
terminar que, relativamente aos seus dados pesso- a respectiva administração.
ais, o doente tem entre outros, não só o direito de O médico seja qual for o estatuto a que se submete
ser informado sobre o seu conteúdo, como o di- tem o direito e o dever de registar cuidadosamente
reito de aceder livremente e sem restrições, com os resultados que considere relevantes das obser-
periodicidade razoável e sem demoras ou custos vações clínicas dos doentes a seu cargo, conservan-
excessivos, ao conteúdo desses mesmos dados, a do-as ao abrigo de qualquer indiscrição, de acordo
não ser que estes sejam exclusivamente utilizados com as normas de segredo profissional (art. 77º n.º 1).
para fins de investigação científica, e a informação
A ficha clínica do doente, que constitui memória
do doente acerca dos dados se revelar impossível
escrita do médico, pertence a este e não aquele,
ou implicar esforços desproporcionados. Ambos es-
sem prejuízo do disposto nos artigos 69º e 80º (art.
tes direitos, o de “ser informado” e o de “aceder
77 n.º 2). Esta disposição assume particular im-
livremente e sem restrições”, deverão ser exercidos
portância no âmbito da medicina privada.
por intermédio de médico escolhido pelo titular
dos dados, podendo traduzir-se na entrega de uma O médico pode servir-se das suas observações clí-
simples fotocópia ou de um relatório, de acordo nicas para as suas publicações, mas deve proceder
com o bem do titular no caso concreto, e na medi- de tal modo que não seja possível a identificação
da em que tal comunicação seja feita em lingua- dos doentes, a menos que previamente autorizado
gem inteligível, e tenha em conta que o direito do a tal (art. 79º).
titular dos dados relativos à sua saúde, se circuns- Quando o médico cesse a sua actividade profissio-
creve à verdade possível. nal, os seus ficheiros devem ser transmitidos ao
Como responsável pelos ficheiros clínicos, cabe ao médico que lhe sucede, salvaguardada a vontade
Estado, através dos seus serviços, adoptar as espe- dos doentes interessados e garantido o segredo pro-
ciais medidas de segurança constantes do art. 15º fissional (art. 80º n.º 1).
da lei supra referida, e das quais se destacam: Na falta de médico que lhe suceda, deve o facto ser
• impedir o acesso de pessoa não autorizada; comunicado à Secção Regional competente da Or-
• garantir a separação lógica entre os dados de dem dos Médicos... a qual determinará o destino a
identificação do doente e os referentes à saúde dar-lhes (art. 80º n.º 1). Ambas as disposições são
e à vida sexual, incluindo os genéticos. importantes no âmbito do sistema de saúde priva-
É ainda fundamental ter-se presente o disposto no do.

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