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FICHEIROS CLÍNICOS
ENQUADRAMENTO LEGAL E ÉTICO
• do art. 11º do DL n.º 97/94 de 9/4 Código Deontológico no seu Capítulo V (art. 67º
• do ponto 9 da 1º parte da CDDD a 80º): “Segredo Profissional e ... Arquivos Clí-
nicos”. Não será por acaso que ambas as matérias
É imprescindível ter-se presente a Lei n.º 67/98
estão “arrumadas” no mesmo capítulo.
de 26 de Outubro - Lei de Protecção de Dados
Pessoais, a qual veio transpor para a ordem jurí- Assim, nos termos do artigo 69º:
dica portuguesa a Directiva n.º 95/46/CE do Parla- a) os directores, chefes de serviço e médicos assis-
mento Europeu e do Conselho, de 24 de Outubro tentes estão obrigados, singular e colectivamen-
de 1995, relativa à protecção das pessoas singula- te a guardar segredo profissional quanto às in-
res no que diz respeito ao tratamento dos dados formações clínicas que, constituindo objecto de
pessoais. segredo profissional, constam do processo indi-
vidual do doente, organizado por quaisquer en-
Assim, no contexto do serviço nacional de saúde,
tidades colectivas de saúde, públicas ou priva-
processo clínico hospitalar ou ficheiro clínico, será
das;
qualquer conjunto estruturado de dados pessoais,
b) é vedado às administrações das entidades colec-
relativos à identificação, à saúde, à vida sexual (in-
tivas de saúde públicas ou privadas, bem como
cluindo os dados genéticos), que seja acessível se-
a quaisquer superiores hierárquicos dos médi-
gundo critérios determinados, quer seja centrali-
cos, desde que estranhos à instituição médica,
zado, descentralizado ou repartido de modo fun-
tomar conhecimento ou solicitar informações
cional ou geográfico. O ficheiro clínico pode ser
clínicas que se integrem no âmbito do segredo
efectuado com ou sem recurso a meios automati-
profissional;
zados.
c) no caso de litígio suscitado entre médicos e enti-
O tratamento de dados constantes no ficheiro clí-
dades não médicas, em que seja invocado se-
nico é permitido quando for necessário para efei-
gredo profissional, a decisão caberá ao Presidente
tos de medicina preventiva, de diagnóstico médi-
do Tribunal da Relação da área do local onde o
co, de prestação de cuidados ou tratamentos mé-
conflito surgir, sem recurso e com exclusão de
dicos ou de gestão de serviços de saúde, desde que
qualquer tribunal, depois de ouvida a Ordem
o tratamento desses dados seja efectuado por um
dos Médicos e o respectivo Procurador da Re-
profissional de saúde obrigado a sigilo ou por ou-
pública;
tra pessoa sujeita igualmente a segredo profissio-
d) a guarda, o arquivo e a superintendência nos
nal, e desde que sejam observadas as respectivas
processos clínicos dos doentes, organizados pe-
exigências legais. É ainda permitido o tratamento
las entidades colectivas de saúde pertencem sem-
de dados pessoais contidos em ficheiros clínicos
pre aos médicos (indicados em a)), quando se
para fins estatísticos ou de investigação científica.
encontrem nos competentes serviços ou fora
Reforçando o que acima foi dito, vem esta lei de- deste caso, ao médico ou médicos que integrem
terminar que, relativamente aos seus dados pesso- a respectiva administração.
ais, o doente tem entre outros, não só o direito de O médico seja qual for o estatuto a que se submete
ser informado sobre o seu conteúdo, como o di- tem o direito e o dever de registar cuidadosamente
reito de aceder livremente e sem restrições, com os resultados que considere relevantes das obser-
periodicidade razoável e sem demoras ou custos vações clínicas dos doentes a seu cargo, conservan-
excessivos, ao conteúdo desses mesmos dados, a do-as ao abrigo de qualquer indiscrição, de acordo
não ser que estes sejam exclusivamente utilizados com as normas de segredo profissional (art. 77º n.º 1).
para fins de investigação científica, e a informação
A ficha clínica do doente, que constitui memória
do doente acerca dos dados se revelar impossível
escrita do médico, pertence a este e não aquele,
ou implicar esforços desproporcionados. Ambos es-
sem prejuízo do disposto nos artigos 69º e 80º (art.
tes direitos, o de “ser informado” e o de “aceder
77 n.º 2). Esta disposição assume particular im-
livremente e sem restrições”, deverão ser exercidos
portância no âmbito da medicina privada.
por intermédio de médico escolhido pelo titular
dos dados, podendo traduzir-se na entrega de uma O médico pode servir-se das suas observações clí-
simples fotocópia ou de um relatório, de acordo nicas para as suas publicações, mas deve proceder
com o bem do titular no caso concreto, e na medi- de tal modo que não seja possível a identificação
da em que tal comunicação seja feita em lingua- dos doentes, a menos que previamente autorizado
gem inteligível, e tenha em conta que o direito do a tal (art. 79º).
titular dos dados relativos à sua saúde, se circuns- Quando o médico cesse a sua actividade profissio-
creve à verdade possível. nal, os seus ficheiros devem ser transmitidos ao
Como responsável pelos ficheiros clínicos, cabe ao médico que lhe sucede, salvaguardada a vontade
Estado, através dos seus serviços, adoptar as espe- dos doentes interessados e garantido o segredo pro-
ciais medidas de segurança constantes do art. 15º fissional (art. 80º n.º 1).
da lei supra referida, e das quais se destacam: Na falta de médico que lhe suceda, deve o facto ser
• impedir o acesso de pessoa não autorizada; comunicado à Secção Regional competente da Or-
• garantir a separação lógica entre os dados de dem dos Médicos... a qual determinará o destino a
identificação do doente e os referentes à saúde dar-lhes (art. 80º n.º 1). Ambas as disposições são
e à vida sexual, incluindo os genéticos. importantes no âmbito do sistema de saúde priva-
É ainda fundamental ter-se presente o disposto no do.