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Da psicologia à medicina, passando pelos serviços jurídicos, são

imensas as áreas em que a quebra do sigilo profissional não pode


acontecer.

SAIBA O QUE ACONTECE SE SE VERIFICAR


UMA QUEBRA DO SIGILO PROFISSIONAL

O sigilo profissional é, geralmente, regulado através de contrato


individual de trabalho ou, se se aplicar, por via de contrato coletivo de
trabalho. Também podem estar dispostas em documento interno da
empresa, como seja, num regulamento. Sendo assim, as
consequências da uma quebra de sigilo profissional podem ser, à luz
da legislação laboral, encaradas da mesma forma do que qualquer
outro aspeto vigente no contrato que é quebrado por uma das partes.

Quebra do sigilo profissional no âmbito de um contrato de


trabalho

O dever de sigilo profissional é geralmente referido nas cláusulas do


contrato de trabalho, e esse dever é bilateral: não só o trabalhador tem
o dever de proteger informação confidencial em relação à empresa,
como o empregador também deve proteger os empregados.

No caso de haver uma quebra do sigilo profissional por parte do


trabalhador, este poderá ver desencadeada uma ação disciplinar
interna, movida pela própria empresa, e em último caso pode originar
um despedimento por justa causa. A empresa pode também recorrer à
queixa-crime, de que poderá resultar o trabalhador ser acusado de
violação de segredo ou crime de aproveitamento indevido de segredo,
ambos passíveis de resultar em pena de prisão ou multas. Por sua
vez, o trabalhador poderá apresentar queixa junto da autoridade para
as condições do trabalho, e, posteriormente, este organismo irá
orientá-lo no que toca aos procedimentos adequados a tomar.
Âmbito de aplicação

O sigilo profissional é muito usado em Portugal no universo dos


negócios, da advocacia, da política, ou da medicina. Isto porque são
áreas nas quais se lida quase todos os dias com situações muito
delicadas, nomeadamente quando uma das partes envolvidas não
quer que a outra parte divulgue, de maneira nenhuma, determinadas
informações que pretende manter na base da total confidencialidade.

No caso da advocacia, o sigilo profissional é um dever. É um dos


princípios básicos do que constitui exercer a profissão de advogado.
Todas as informações trocadas entre o cliente e o seu advogado,
médico, ou psicólogo, devem manter-se em sigilo profissional, sempre,
e em absoluto. Também no que diz respeito a situações de prevenção
e repressão de crimes de branqueamento de capitais e financiamento
de atos de terrorismo, a lei obriga os advogados, em certas
circunstâncias, a deveres de identificação, colaboração e
comunicação às autoridades competentes, que podem conduzir à
revelação de informações transmitidas por clientes.

Dever de manter o sigilo

O profissional (advogado, médico, psicólogo, etc) é obrigado a manter


o sigilo profissional, mesmo quando autorizado pelo
cliente/constituinte a quebrá-lo. No entanto, em casos considerados
como extremos, o pacto de sigilo pode ser quebrado. No caso dos
advogados, não basta que o cliente/constituinte autorize que os seus
dados pessoais sejam revelados – é preciso uma autorização prévia
por parte do Presidente do Conselho Regional, que garantirá a
absoluta necessidade da desvinculação do segredo para a defesa da
dignidade, direito e interesses legítimos do próprio advogado ou do
cliente ou seus representantes.

Quando numa relação profissional ou laboral estão em causa dados


pessoais de grande importância, é fundamental que a confiança entre
as parte seja mantida – é sobretudo por esta razão que a lei prevê a
existência do sigilo profissional.

Exemplos de quebra de sigilo profissional

Em certas situações, a quebra do sigilo profissional não é uma opção,


mas uma necessidade.

Um cliente confessa ao advogado que vai cometer um


homicídio. Neste caso, considerado extremo, o advogado poderá
quebrar o dever de manter sigilo profissional, e pedir autorização ao
Presidente do Conselho Regional para divulgar o facto às autoridades
competentes.

Um cliente informa o psicólogo de que vai cometer suicídio. O


psicólogo vê-se na necessidade e até obrigação de comunicar à
família do cliente a situação para que tome medidas preventivas.

Também o psicólogo pode pedir para que o dever de sigilo


profissional seja levantado, se em causa estiver a vida humana,
do cliente ou de terceiros. Neste aspeto, o Código Deontológico é
claro, ao especificar que o sigilo profissional pode ser violado pelo
profissional quando se verificar uma situação de perigo para o cliente
ou para terceiros que possa ameaçar de uma forma grave a sua
integridade física ou psíquica, nos quais se incluem perigo de vida,
perigo de dano significativo, ou qualquer forma de maus-tratos a
menores de idade ou adultos particularmente indefesos, em razão de
idade, deficiência, doença ou outras condições de vulnerabilidade.
Devido ao carácter urgente e iminente deste tipo de situações, o
psicólogo não tem necessariamente que estar dependente de
autorização da Ordem dos Psicólogos, particularmente numa tentativa
de suicídio iminente, muito comum nestes casos.
Na Igreja não há lugar para exceções

No que diz respeito aos padres da Igreja Católica, o teor das


confissões por parte dos fiéis jamais pode ser revelado. O sigilo é
absoluto e inviolável. O padre é obrigado a manter a confidencialidade
sobre tudo o que lhe for transmitido durante as confissões dos fiéis.
Isto porque o sigilo está consagrado no direito canónico.

Normalmente, se estiver perante uma situação de crime, o máximo


que o padre pode fazer é tentar convencer a pessoa e entregar-se à
autoridades por sua própria iniciativa. Segundo a doutrina da Igreja,
quebrar o sigilo significa violar a intimidade da pessoa, e assim
cometer um ato de injustiça que, sobretudo, contradiz a religiosidade.
Se um padre quebrar o sigilo, é excomungado, que no contexto da
Igreja é uma pena gravíssima. Isto significa que é suspenso de
realizar qualquer atividade relacionada com a Igreja.

Na saúde

Também a classe da saúde se vê frequentemente a braços com o


dever de sigilo profissional, que faz parte do código deontológico do
setor. Não só os médicos, mas também os enfermeiros por vezes têm
acesso a dados sobre a saúde do paciente que são consideradas
confidenciais. Estes devem apenas partilhar a informação pertinente
só com aqueles que estão implicados no plano terapêutico, usando
como critérios orientadores o bem-estar, a segurança física, emocional
e social do indivíduo e família, assim como os seus direitos.

Na verdade, os dados de saúde já se encontram protegidos em


termos de direitos de uso: a lei de Proteção de Dados
Pessoais protege todos os dados concedidos pelos pacientes desde o
momento que dão entrada em qualquer unidade hospitalar,
considerando-os como “dados sensíveis”. Mesmo para além da morte
do paciente, estes direitos mantêm-se.

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