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TNU e a metodologia para analisar atividade

especial por ruídos


Quanto à metodologia para aferição de exposição a ruídos, para fins de
aposentadoria especial, a TNU uniformizou entendimento no sentido de que:

(a) “a partir de 01 de janeiro de 2004, é obrigatória utilização da NHO-01 da


FUNDACENTRO como metodologia de aferição do agente nocivo ruído no
ambiente de trabalho, devendo tal técnica ser informada no PPP, com a
respectiva indicação do Nível de Exposição Normalizado (NEN)”;

(b) “em caso de omissão, no período supracitado, na indicação da metodologia


empregada para aferição do agente nocivo ruído, no Perfil Profissiográfico
Profissional, esse documento não deve ser admitido como prova da
especialidade do trabalho para o agente nocivo em apreço, devendo ser
apresentado o respectivo laudo técnico (LTCAT), para fins de demonstrar a
técnica utilizada na respectiva medição” (PUIL0505614-83.2017.4.05.8300/PE,
Rel. p/ Acórdão Juiz Federal Sergio de Abreu Brito, j. 21/11/2018).

Segundo o posicionamento do Advogado Diego Henrique Schuster, registrado


no artigo deste post e escrito anteriormente à decisão da TNU, é indevida a a
utilização da NHO-01 da FUNDACENTRO.

Diego Henrique Schuster é Advogado e


Mestre em Direito Público (UNISINOS)
LIMITES, METODOLOGIAS E PROCEDIMENTOS: COMO AFERIR O NÍVEL DE
EXPOSIÇÃO DO TRABALHADOR AO AGENTE FÍSICO RUÍDO SEM PERDER DE
VISTA O DESTINATÁRIO DA NORMA (DE PROTEÇÃO) PREVIDENCIÁRIA
Diego Henrique Schuster

1 Introdução

“Viveremos sete vidas e, ainda assim, algumas coisas nos surpreenderão. E nos
surpreenderão mais de uma vez. E ficaremos surpresos por mais de uma vez
nos surpreendermos”.1 Essa frase define muito bem a tentativa do INSS de
desconstituir o formulário PPP nos autos de uma ação previdenciária, com
fundamento na não observação da metodologia da NHO 01 – por óbvio o
formulário é favorável ao segurado.

Em uma delimitação mais específica e explícita sobre a discussão envolvendo


o tema 174, coloca-se: “Saber se, para fins de reconhecimento de período
laborado em condições especiais, é necessário a comprovação de que foram
observados os limites/metodologias/procedimentos definidos pelo INSS para
aferição dos níveis de exposição ocupacional ao ruído (art. 58, §1º, da Lei n.
8.213/91 e art. 280 – IN/INSS/PRES – n. 77/2015)”.

O artigo será dividido, em seu desenvolvimento, em sete partes.O que agora é


explicitado em nível apofântico foi compreendido num nível de profundidade. A
codificação de informações técnicas fornecidas por Engenheiros de Segurança
do Trabalho e de uma hermenêutica jurídica que permite o contato do texto
com o mundo prático resultam no sentido da norma.Isso porque se buscou,
honestamente, a compreensão do tema, sem cair numa defesa cega e surda do
segurado.

2 Da (in)admissibilidade do incidente de uniformização: reexame de matéria de


prova

É legítimo que as turmas de uniformização revisem a qualificação da prova, de


modo a determinar se, da prova existente, fora adequada a conclusão extraída
pela decisão recorrida. No entanto, o que pretende o INSS – a quem compete a
fiscalização dos formulários produzidos/fornecidos pelas empresas ao
segurado – é o reexame da prova.

Em poucas palavras, o que se pretende é discutir se um fato aconteceu ou não,


isto é, conferir se foram observados – pelo empregador – os
limites/metodologias/procedimento definidos pelo INSS para aferição dos
níveis de exposição ao ruído. Aliás:

Em regra, trazido aos autos o Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP),


dispensável se faz, para o reconhecimento e contagem do tempo de serviço
especial do segurado, a juntada do respectivo Laudo Técnico de Condições
Ambientais de Trabalho (LTCAT), na medida que o PPP já é elaborado com
base nos dados existentes no LTCAT, ressalvando-se, entretanto, a
necessidade da também apresentação desse laudo quando idoneamente
impugnado o conteúdo do PPP2.

O trabalho de reavaliar como as medições do ruído ocorreram implica a


necessidade de se reexaminarem provas. Neste sentido dispõe a Súmula 42 da
TNU (“Não se conhece de incidente de uniformização que implique reexame de
matéria de fato”). A matéria de fato (só) pode dar ensejo ao incidente quando
admitido algum critério contrário à letra da lei, o que, igualmente, não se verifica
na espécie.

3 Da necessidade de o laudo técnico de condições ambientais do trabalho


observar a legislação trabalhista

A Lei 9.732/1998, que emprestou nova redação ao art. 58 da Lei 8.213/1991,


passou a exigir que o Laudo Técnico de Condições Ambientais observasse os
termos da legislação trabalhista.

Art. 58. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou


associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física
considerados para fins de concessão da aposentadoria especial de que trata o
artigo anterior será definida pelo Poder Executivo.

§ 1º A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos


será feita mediante formulário, na forma estabelecida pelo Instituto Nacional
do Seguro Social – INSS, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em
laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do
trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho nos termos da legislação
trabalhista.
Nesse particular, percebe-se a existência de normas que tratam sobre o
Equipamento de Proteção Individual – EPI (NR-6); o Programa De Prevenção
Dos Riscos Ambientais – PPRA, admitido pelo INSS em substituição ao LTCAT
(NR-9); ar comprimido ou pressão atmosférica anormal, agentes químicos,
benzeno e agentes biológicos (NR-15, anexos 6, 13, 13-A e 14); os agentes
perigosos: inflamáveis, explosivos, eletricidade, segurança pessoal ou
patrimonial (NR 10, 16 e Anexo 3); e assim por diante.

Assim, as NR’s começaram a fundamentar o enquadramento como especial,


até mesmo, de agentes não previstos nos decretos previdenciários. Ou seja,
diante da exclusão de agentes pelo (atual) Decreto 3.048/1999, tais como: frio,
umidade, radiações não ionizantes, eletricidade, periculosidade, para citar
apenas estes, a saída tem sido usar as normas regulamentadoras da legislação
trabalhista, de onde foram extraídos os conceitos legais de insalubridade e de
periculosidade (CLT, arts. 189 e 193).
Para Adriane Bramante de Castro Ladenthin, “[…] a utilização das regras
trabalhistas ocasionou a ampliação das possibilidades de reconhecimento da
atividade especial, como é o caso dos seguintes agentes nocivos, excluídos do
Anexo, IV do Decreto 3.048/99, mas constantes na NR-15 da legislação
trabalhista”.3

O Decreto nº 4.882, publicado em 18/11/2003, não apenas ampliou a lista de


agentes agressivos, mas confirmou a prerrogativa já prevista na Lei nº
9.732/1998, ou seja, que o enquadramento da atividade como insalubre deve
observar os limites de tolerância previstos na legislação trabalhista.

O que mais interessa para a problemática são as atividades ou operações


insalubres que se desenvolvem acima dos limites de tolerância ou doses,
dispostos nos Anexos 1, 2, 3, 5, 8, 11 e 12 da NR-15 do MTE – que devem ser
analisadas pelo critério quantitativo, conforme prevê a IN 77/2015 (art. 278) –,
mais especificamente as atividades com exposição a ruído (Anexos 1).

Ao passo que o art. 280 da IN/INSS/PRES 77/2015 determina a observação dos


limites de tolerância definidos no Quadro do Anexo I da NR-15 do MTE, ele
destaca as metodologias e os procedimentos definidos nas NHO-01 da
FUNDACENTRO. Aqui reside a confusão.

4 Qual a metodologia a ser observada e que diferença isso faz?

As medições pontuais costumam não cobrir o conjunto de situações acústicas


ao qual está submetido o trabalhador no decorrer de toda a jornada de trabalho,
mormente diante de atividades que envolvam movimentação constante.
Quando isso ocorre – em prejuízo do trabalhador/segurado –, é preciso buscar
a dose de exposição diária e, posteriormente, calcular o Nível de Exposição
Normalizado.

Trata-se, portanto, de uma preocupação com o trabalhador que, por conta de


uma medição equivocada, acaba deixando de receber o adicional de
insalubridade ou não tem o seu tempo reconhecido como especial.

Quando os níveis de ruído forem variáveis, é necessário o cálculo da dose de


exposição, a fim de determinar a real exposição do trabalhador ao agente ruído.
Ocorrendo, na mesma jornada de trabalho, dois ou mais períodos de exposição
a diferentes níveis de ruído, é preciso calcular os seus efeitos combinados ou
a dose de exposição diária.

Embora seja comum, é equivocado calcular essa dose de exposição através de


critério aritmético (somar e dividir). Isso porque para cada nível de ruído há um
tempo máximo de exposição definido em lei, conforme tabela do Anexo 1 da
NR-15.
 

NÍVEL DE RUÍDO MÁXIMA EXPOSIÇÃO DIÁRIA

DB (A) PERMISSÍVEL
85 8 horas
86 7 horas
87 6 horas
88 5 horas
89 4 horas e 30 minutos
90 4 horas
91 3 horas e 30 minutos
92 3 horas
93 2 horas e 40 minutos
94 2 horas e 15 minutos
95 2 horas
96 1 hora e 45 minutos
98 1 hora e 15 minutos
100 1 hora
102 45 minutos
104 35 minutos
105 30 minutos
106 25 minutos
108 20 minutos
110 15 minutos
112 10 minutos
114 8 minutos
115 7 minutos
 

No item 6, é possível se encontrar a equação para calcular a dose de exposição


diária:

Se durante a jornada de trabalho ocorrerem dois ou mais períodos de


exposição a ruído de diferentes níveis, devem ser considerados os seus efeitos
combinados, de forma que, se a soma das seguintes frações

C1 + C2 + C3 ________51________ + Cn

T1    T2    T3                                     Tn

exceder a unidade, a exposição estará acima do limite de tolerância.”,


Na equação acima, Cn indica o tempo total que o trabalhador fica exposto a um
nível de ruído específico, e Tn indica a máxima exposição diária permissível a
este nível, segundo o Quadro deste Anexo
O resultado da soma das frações é um número adimensional (que pode ser
explicitado através de um número simples). Esse número também pode ser
expresso em porcentagem (probabilidade). Essa será a dose de exposição
diária do trabalhador ao ruído. Se o valor decorrente dessa soma for maior ou
igual a 1 (um) ou 100%, significa que a exposição ao ruído está acima do limite
de tolerância. O citado percentual é estabelecido pela Norma de Higiene
Ocupacional – NHO 01, da FUNDACENTRO, através da Tabela 1.

Tanto o decibelímetro como o dosímetro devem seguir critérios técnicos e de


metodologia.

No que são diferentes os critérios da NH01? O tempo máximo diário de


exposição permissível em função do nível de ruído é menor; não considera no
cálculo exposições a níveis inferiores a 80 dB(A); se o NEN estiver entre 82
dB(A) e 85 dB(A) a exposição deve ser considerada acima do nível de ação,
devendo ser adotas medidas preventivas a fim de minimizar a probabilidade de
que as exposições ao ruído causem prejuízos à audição do trabalhador e evitar
que o limite de exposição seja ultrapassado. Além disso, a NH01 oferece
procedimentos alternativos para outros tipos de medidores integradores ou
medidores de leitura instantânea, para avaliação de trabalhos com dinâmica
operacional mais complexa ou que envolvam a movimentação constante do
trabalhador.

Apesar de a NHO 01 ajudar na avaliação de ruído – em favor do trabalhador –,


ela não possui compromisso com os critérios legais estabelecidos nas normas
trabalhistas, como fica claro na nota à fl. 21 da referida norma:

A NHO 01 não possui fundamento legal, ou seja, ela não foi produzida
democraticamente. Defender a aplicação dos limites semânticos do que está
previsto no art. 58, §1º, da Lei n. 8.213/1991, passa a ser um avanço, quando o
que pretende o INSS é simplesmente desconstituir a prova. Não se trata, por
óbvio, de um retorno ao positivismo clássico.

Mesmo assim, o cálculo do Nível de Exposição (NE) é definido pela Norma de


Higiene Ocupacional (NHO-01), da FUNDACENTRO, com adaptação do cálculo
matemático para fins de comparação com os limites de exposição diária
apresentados pelo Anexo 1 da NR-15. Isso porque o incremento de duplicação
de dose (q) da NHO-01 é diferente do apresentado NR-15. Pela NHO-01 q=3 e
pela NR-15 q=5.
Apesar da divergência, para fins previdenciários, sempre deve ser utilizado o
incremento de duplicação de dose apresentado pela NR-15, pois o resultado da
equação do NEN será comparado com os limites de tolerância apresentados
pela NR-15, e não pela NHO 01.4

A não utilização da metodologia da NHO-01 não pode ser um fato determinante


para o não enquadramento do agente físico ruído.

5 Da necessidade de uma consulta técnica (um estudo multidisciplinar)

A questão envolvendo a medição do ruído esbarra em questões técnicas


pertinentes a outras áreas do conhecimento, convocando, por isso,
Engenheiros de Segurança do Trabalho para auxiliarem no esclarecimento de
algumas questões. Foram consultados os profissionais Selson Valdemar Alves
e Sandro José Andrioli Bittencourt.

Foram realizadas as seguintes perguntas:

a) as medições realizadas com decibelímetro são sempre pontuais? Isso é um


problema quando não há exposição a diferentes níveis de ruído?

b) o resultado da NEN precisa sempre ser comparado com os limites de


tolerância apresentados na NR-15?

c) É possível se calcular o NEN utilizando decibelímetro?

d) É obrigatória a utilização da NHO 01?

e) A metodologia da NHO 1 é mais vantajosa para o trabalhador?

f) Quando é necessário calcular o NEN?

As respostas dos experts foram as seguintes:

Eng. Seg. Trab. Selson Valdemar Alves

Sim, as medições por meio de decibelímetro são sempre pontuais. E não é


proibido fazer assim, desde que não haja dois ou mais períodos de exposição a
diferentes níveis de ruído. O dosímetro faz a integralização dos diferentes
níveis de ruído num volume só.

O NEN faz referência à jornada padrão de 8 horas. Ele não tem relação com a
NR-15. Uma vez obtido o NEN, deve-se compará-lo com a NR-15, para efeitos
tão-somente de caracterização da atividade especial.
Apesar de ser mais complexo, é possível calcular o NEN com o decibelímetro.

A NHO 01 é uma norma recomendatória, e não obrigatória. A lei a ser


observada é o Anexo da NR-15.

A NHO-01 é mais vantajosa para o trabalhador. O fator de dobra q=3 aumenta a


carga de ruído dentro da empresa. O próprio INSS já falou que as empresas
devem observar as recomendações de técnicas da NHO 01, mas a questão
técnica legal é a NR-15.

Eng. Seg. Trab. Sandro José Andrioli Bittencourt

A metodologia da NHO 01 permite, sim, fazer a medição de ruído utilizando o


vulgo decibelímetro (na verdade, o correto é medidor de nível pressão sonora).
Ele faz medições pontuais. A NHO 01 dá preferência para a dosimetria de ruído,
quando utilizado o dosímetro de ruído. ANHO 01 define a metodologia para
utilização do dosímetro de ruído. Na ausência do dosímetro você pode fazer a
medição pontual, utilizando um medidor de nível de pressão sonora, desde que
seja feito o cálculo da dose, que consta tanto na NHO 01 quando no Anexo 1 da
NR 15. A IN 77/2015 diz para observar os limites da NR-15 e a metodologia da
NHO 01. A metodologia vai descrever como deve ser realizado a medição de
ruído. Você vai ter que corrigir o q para você atender o Anexo 1 da NR 15 (q=5).
O NEN só consta na NHO 01. Se verificada a fórmula dele, a constante da
fórmula é 10. É necessário substituir essa constante 10 por 16.60964, que
corresponde à taxa de duplicação de dose q=5. É necessário fazer essa
correção, para fins de comparação com os limites de tolerância do Anexo 1 da
NR 15.

Não tem fundamento a contestação do INSS, no sentido de que não está sendo
utilizada a metodologia da FUNDACENTRO. Isso porque não há nenhum
embasamento técnico ou legal para eles fazerem isso, para desconstruir o PPP
dessa forma.

Você pode utilizar o decibelímetro quando você tem diferentes níveis de


pressão sonora, desde que seja feito o cálculo da dose, de acordo com o Anexo
1 da NR 15 e, também, da NHO 01. Assim você atende a NHO 01, a NR-15 e a IN
77/2015.

O NEN precisa ser comparado com o Anexo 1 da NR-15, porque a IN 77/2015


diz que você tem que usar os limites de tolerância da NR-15, Anexo 1, e a
metodologia da NHO 01, coma a correção da fórmula já referida.

É possível calcular o NEN utilizando o decibelímetro. O NEN somente é


utilizando quando a exposição do trabalhador for diferente de 8 horas por dia.
Se o trabalhador fizer menos de 8 horas por dia ou fizer mais de 8 horas por dia
é necessário fazer o cálculo do NEN. Se a jornada de trabalho for de 8 horas, o
NEN é igual ao nível de exposição. Nesse caso, não é preciso fazer o cálculo. É
importante, contudo, deixar claro que a jornada de trabalho, o tempo de
exposição do trabalhador ao agente ruído, é de 8 horas diária.

A utilização da NHO 01 não é obrigatória. Ela é uma norma de referência, e não


de uso obrigatório. Ela é interessante por ser mais benéfica para o trabalhador.
Agora, ali ela só vai dar a metodologia a ser utilizada, o dosímetro de ruído, o
cálculo da dose. Ali você vai encontrar a fórmula do NEN, que para o segurado
é interessante. Se ele fizer uma jornada de trabalho maior do que 8 horas por
dia. Isso a gente não encontra no Anexo 1 da NR 15. Em síntese, não é
obrigatória, mas é uma norma interessante para o segurado, principalmente se
ele fizer uma jornada de trabalho acima de 8 horas de trabalho.

A responsabilidade por obedecer a metodologia não é do segurado, mas da


empresa, sendo que o INSS é quem deve fiscalizar a empresa. Vide art. 19 da
Lei 8.213/1991. O segurado não pode ser penalizado pela ausência ou
negligência da Autarquia.

Após um processo de decodificação das descrições técnicas efetuadas pelos


peritos supramencionados, fica claro que: a) a NHO 01 não tem força cogente;
b) o cálculo do NEN somente é necessário quando a jornada de trabalho diário
for diferente de 8 horas; c) a metodologia prevista na NHO 01 é mais vantajosa
para o segurado.

6 O benefício da dúvida acompanha o segurado – destinatário das normas


(protetivas) previdenciárias

Como se vê, a preocupação não é com a metodologia mais protetiva, mas, e


isso sim, com a forma (levadas às últimas consequências), com vistas à
desconstituição do PPP enquanto prova suficiente para comprovar o tempo de
atividade especial.

Acontece que o segurado não pode ser prejudicado pela não observação da
metodologia da NHO 01, beneficiando-se o INSS da própria torpeza.

O Direito Previdenciário alcançou um padrão probatório preventivo (em sentido


lato senso) na jurisprudência:a) ao admitir o reconhecimento da nocividade de
um determinado agente pelo cálculo qualitativo; b) não havendo informação
técnica sobre a média de exposição do segurado ao agente nocivo ruído,
adotando o pico (maior nível de ruído no ambiente durante a jornada de
trabalho) de medição como critério informador da natureza especial do
labor;5 e assim por diante.
No julgamento do ARE 664.335, o Supremo Tribunal Federal deixou registrado
que, em caso de divergência ou dúvida sobre a real eficácia do Equipamento de
Proteção Individual, “a premissa a nortear a Administração e o Judiciário é pelo
reconhecimento do direito ao benefício da aposentadoria especial. Isto porque
o uso de EPI, no caso concreto, pode não se afigurar suficiente para
descaracterizar completamente a relação nociva a que o empregado se
submete”.6

A questão envolvendo a metodologia a ser utilizada para a análise do agente


ruído a partir de 19/11/2003 foi enfrentada pelo Conselho Pleno, no julgamento
do Recurso Especial 44232.507257/2015-24.

Abre-se aqui um parêntese para destacar que o Conselho Pleno é um órgão


que, assim como a Turma Nacional de Uniformização, tem o papel de
uniformizar o entendimento do Conselho de Recursos do Seguro Social – CRSS,
última estância na via administrativa. Conforme o art. 3 da Portaria MDSA Nº
116, de 20 de março de 2017, – que aprova o Regimento Interno do Conselho
de Recursos do Seguro Social – CRSS–, aoConselho Pleno compete:

I – uniformizar, em tese, a jurisprudência administrativa previdenciária e


assistencial, mediante emissão de Enunciados;

II – uniformizar, no caso concreto, as divergências jurisprudenciais entre as


Juntas de Recursos nas matérias de sua alçada ou entre as Câmaras de
julgamento em sede de Recurso Especial, mediante a emissão de Resolução; e

III – decidir, no caso concreto, as Reclamações ao Conselho Pleno, mediante a


emissão de Resolução.

No voto do relator Victor Machado Marini, acompanhado pela maioria, a


questão foi analisada com profundidade. Após uma delimitação ainda mais
específica e explícita do tema, o que restou uniformizado é o entendimento de
que a indicação de ruído acima do limite de tolerância é suficiente para
comprovar a especialidade da atividade, cabendo ao INSS prova em contrário.
A didática da exposição e a fundamentalidade do temajustificam a longa
transcrição:

Sobre este ponto, entendo que independentemente se a técnica foi feita


conforme NR-15 e não conforme NHO-01, estando o ruído acima do limite,
podemos concluir que se foi feito conforme a NR-15 e não NHO-01, a
intensidade seria também superior, uma vez que a NHO-01 é uma técnica mais
moderna e conservadora, sendo mais protetiva ao trabalhador, já que utiliza um
fator de dobra (q=3) enquanto que a NR- 15 utiliza um fato de dobra (q=5).
Desta forma suponhamos que tivéssemos encontrado um NEN de 90db(a),
logo o valor da dose seria 318,2% (NHO-01) e 200% (NR-15).

Assim, podemos, sem adentrar muito no mérito dos cálculos da NR-15 e da


NHO-01, concluir que se a medição indicada no referido PPP foi conforme NHO-
01, está superior ao limite estabelecido e caso não tenha sido feita assim,
mantendo a técnica da NR-15 que era então utilizada até 18/11/2003, ainda o
ruído seria superior ao limite estabelecido, devendo, portanto, o período ser
computado como especial.

A própria autarquia assim estipula no art. 280 da IN 77/2015:

[…]

Destaco ainda que não verifico qual o interesse do empregador em emitir o


documento afirmando que houve exercício de atividade laboral em condições
especiais e prejudiciais à saúde do trabalhador, exposto a ruído excessivo, o
que acarreta no recolhimento à maior de contribuição ao FAT, lhe causando
prejuízo financeiro se as informações não fossem verídicas, além de incorrer
em crime de falsificação de documento público, conforme artigo 297 do código
penal.

O INSS não está agindo com a precisão correta e que se espera da autarquia
federal, pois ao se deparar com o respectivo formulário preenchido de forma
‘errada’, o INSS nada fez para que o empregador emitisse o documento
conforme determina a legislação previdenciária, apenas espera que o segurado
consiga de alguma forma obrigar seus então empregadores a lhe entregarem
PPP preenchido corretamente, já que não compete ao segurado o
preenchimento do formulário.

Entendo que ao invés de emitir carta de exigência ao segurado ou


simplesmente negar o enquadramento especial deve a autarquia exercer seu
poder de política, além disso, efetuar seu dever em fiscalizar os empregadores
em relação ao preenchimento coreto dos documentos entregues ao segurado
para fins previdenciários, conforme artigo 125-A da lei 8.213/91 que abaixo
transcrevo:

Art. 125-A.  Compete ao Instituto Nacional do Seguro Social – INSS realizar, por
meio dos seus próprios agentes, quando designados, todos os atos e
procedimentos necessários à verificação do atendimento das obrigações não
tributárias impostas pela legislação previdenciária e à imposição da multa por
seu eventual descumprimento.       (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)

§ 1o  A empresa disponibilizará a servidor designado por dirigente do INSS os


documentos necessários à comprovação de vínculo empregatício, de
prestação de serviços e de remuneração relativos a trabalhador previamente
identificado. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)
Veja-se o artigo citado estabelece a competência do INSS para realziar através
dos seus agentes, quando assim designados, as medidas necessárias para a
‘verificação do atendimento das obrigações não tributárias impostas pela
legislação previdenciária’. Ou seja, das obrigações previdenciárias. A Lei nº
8.213/91, a chamada Lei de Benefícios, é o referencial normativo central para
saber quais são estas obrigações.

Em razão disto, tem-se que os contornos do poder de política (ou do poder


sancionador) do INSS no que diz respeito à documentação que deve ser
mantida e/ou medida pelas empresas para os segurados que nela laboram, ou
tenham laborado, possam comprovar eventual prestação em condições
nocivas à saúde, está diretamente ligado às obrigações previstas na legislação
previdenciária para as empresas são o critério de delimitação da competência
sancionadora do INSS.

Assim, caso reconhecidos os períodos exercidos em condições especiais e


concedido o benefício, o ônus da prova em contrário cabe à autarquia, devendo
exercer seu poder de política e fiscalizar os respectivos empregadores à fim de
verificar se o ruído informado está ou não correto, aplicando as medidas
cabíveis, inclusive podendo revisar os benefícios concedidos caso comprovado
o erro na medição do ruído informado no PPP ou formulário específico.

Pelas razões expostas, entende que aos conselheiros do CRSS cabe, ao receber
determinado PPP com indicação de exposição a ruído acima dos limites de
tolerância impostos pela legislação previdenciária, receber a informação como
verdadeira, já que o INSS, quando do requerimento inicial recebeu o formulário,
o analisou e não precedendo em seu poder-dever de política de fiscalizar o
correto preenchimento da medição do ruído, entende que a medição está
correta, pois se assim não fosse, deveria ter fiscalizado o empregador e
verificado se as medições estão de acordo com o que determina a legislação.

Ao segurado, não lhe compete comprovar que laborou exposto a ruído


excessivo conforme determinada metodologia de aferição do agente nocivo,
bastando-lhe apresentar ao INSS o documento emitido pelo então empregador,
o qual indica exposição a agente nocivo. Em momento algum a legislação
prevê que o ônus da prova cabe ao trabalhador e tendo ele cumprido com sua
obrigação de juntar formulário contendo a indicação de trabalho em condições
especiais, o ônus da prova em contraditório recai sobre a autarquia e assim não
o fazendo, não poderá o conselheiro do CRSS acompanhar a afirmação do INSS
sem que haja qualquer comprovação em contrário nos autos, pois estará
confirmando que não houve exposição a ruído acima dos limites de tolerância
sem qualquer meio de prova.
O entendimento fixado nessa decisão resultou na Resolução 26/2018.

Na dúvida, o próprio INSS pode – deve – inspecionar o local de trabalho do


segurado para confirmar as informações contidas nos referidos documentos e
aplicar multa caso as informações estejam em desacordo com o laudo
técnico.7 Conforme artigo 4ª da Res. INSS 485, de 08.07.2015, a inspeção no
ambiente de trabalho terá por finalidade: “verificar se as informações contidas
no PPP estão em concordância com o LTCAT utilizado como base para sua
fundamentação, com fins à aposentadoria especial” (V); e “confirmar se as
informações contidas LTCAT estão em concordância com o ambiente de
trabalho inspecionado, com fins à aposentadoria especial” (VI).

A decisão do CRSS reclama igualdade, no sentido de isonomia (em termos de


procedimento). Do ponto de vista jurídico, o que se tem é a expressão
portuguesa “ser mais realista que o rei”, incorporada ao vocabulário brasileiro, e
que significa que o Poder Judiciário não quer adotar uma postura mais
restritiva do que aquela praticada na via administrativa. Os sinais estão na
jurisprudência, inclusive, dos tribunais superiores.

7 Dos resultados práticos do presente incidente de uniformização

Na pior das hipóteses, o contraditório enquanto garantia de influência e não


surpresa impõe a reabertura da instrução processual, com a realização de
prova pericial ou, no mínimo, a intimação das empresas para informar qual a
metodologia utilizada pelo engenheiro ou médico do trabalho, tudo isso para
demonstrar que o nível de ruído é ainda superior àquele indicado no formulário
– o que parece ser um capricho do INSS.

É cediço que as empresas, não raras às vezes, insistem em disponibilizar as


melhores condições sobre o meio ambiente do trabalho. Assim, indicando o
PPP um ruído acima do limite de tolerância, ao INSS cabe a fiscalização e,
consequentemente, a prova em contrário da: da não utilização da metodologia
da NHO-01; impossibilidade de se determinar a real exposição do trabalhador
ao agente ruído mediante avaliação pontual, em razão da ocorrência de dois ou
mais períodos de exposição a diferentes níveis de ruído; e assim por diante.

O fato de o PPP indicar a NR-15 não significa, por si só, que não foi observada
da metodologia da NHO 01, uma vez que é necessária a adaptação do cálculo
matemático para fins de comparação com os limites de tolerância
apresentados na NR-15. Ainda, a não indicação da expressão “NHO 01”, no
campo 15.5 do formulário, não significada que não foi utilizado o aparelho de
medição “dosímetro”, tampouco que não foi calculado o Nível de Exposição
Normalizado. Aliás, o cálculo do NEN somente é necessário quando a jornada
de trabalho diário for diferente de 8 horas. É possível calcular o NEN com a
utilização de decibelímetro. A NHO 01 traz em si dois procedimentos de
apuração do Ruído: o do NE – Nível de Exposição e NEN – Nível de Exposição
Normalizado.

A pergunta – perturbadora – que se deve fazer: O INSS quer colocar todas


essas situações em dúvida, com todas as implicações que isso tem? Mesmo
tendo sido omisso na fiscalização dos formulários PPP?

8 Conclusão

Considerando o núcleo do estranhamento, que aponta para a reflexão sobre as


possibilidades e as consequências da uniformização da tese defendida pelo
INSS, podem ser apontadas algumas considerações finais:

1. Não se pode exigir que o PPP traga qualquer referência à metodologia


da NHO 01, quando indicado o agente ruído em nível acima do limite de
tolerância.
2. A não utilização da NHO 01 não pode ser considerado um fato
determinante para o não enquadramento do agente físico.
3. A não utilização da metodologia da NHO 01, em prejuízo do segurado,
pode – e deve – ser impugnada pelo INSS.
O tema pede cautela, cuidado e estranhamento, evitando-se qualquer decisão
precipitada, ou melhor, que demonstre contrariedade aos avanços em matéria
previdenciária.

A única certeza é de que o processo deve traduzir um diálogo entre as pastes


do processo, na busca da correta aplicação das normas jurídicas, sendo, nesse
caso, importante a realização de audiência pública, para ouvir depoimentos de
pessoas com experiência e autoridade na matéria, a fim de se obter uma
resposta técnica (multidisciplinar) sobre todos os pontos aqui enfrentados, o
que pode(ria) conferirmaior legitimidade à decisão, por diminuir a
discricionariedade do julgador.

Não há como favorecer o que de fato aconteceu para, numa espécie de


determinismo retrospectivo, apontar qualquer argumento ignorado e/ou fazer
uma crítica à decisão. Isso porque o artigo foi escrito antes do julgamento do
incidente de uniformização.

Referências

BRASIL. Decreto 3.048, de 06.05.1999. Regulamento de Previdência Social.


Disponível em: <http://www3.dataprev.gov.br/SISLEX/paginas/23/1999/
3048.htm>. Acesso em: 04 set. 2018.
TRF4, AC 0021570-78.2014.404.9999, QUINTA TURMA, Relator ROGER RAUPP
RIOS, D.E. 17/03/2017).

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo em recurso extraordinário nº


664.335. Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social. Recorrido: Antônio
Fagundes. Relator: Ministro Luiz Fux. Brasília, 04 de dezembro de 2014.
Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=
TP&docID=7734901>. Acesso em: 05 set. 2018.

GESSINGER, Humberto. Descobrir o que já se conhece, esquecer o que nunca


soubemos. Blogessinger, 23 jul. 2013. Disponível:
<http://blogessinger.blogspot.com/2013/07/descobrir-o-que-ja-se-conhece-
esquecer.html>. Acesso em: 09 set. 2018.

Pet 10.262/RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Seção, j. 08.02.2017, DJe
16.02.2017.

LADENTHUN, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e


prática. Curitiba: Juruá, 2013.

RUÍDO e o Nível de Exposição Normalizado. Revista Proteção. Disponível em:


<http://www.protecao.com.br/noticias/geral/ruido_e_o_nivel_de_exposicao_nor
malizado_(nen)/AAjgAnjg/538>. Acesso em: 04 set. 2018.

1 GESSINGER, Humberto. Descobrir o que já se conhece, esquecer o que nunca


soubemos. Blogessinger, 23 jul. 2013. Disponível:
<http://blogessinger.blogspot.com/2013/07/descobrir-o-que-ja-se-conhece-
esquecer.html>. Acesso em: 09 set. 2018.
2 Pet 10.262/RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Seção, j. 08.02.2017, DJe
16.02.2017.
3 LADENTHUN, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e
prática. Curitiba: Juruá, 2013. p. 48.

 
4RUÍDO e o Nível de Exposição Normalizado. Revista Proteção. Disponível em:
<http://www.protecao.com.br/noticias/geral/ruido_e_o_nivel_de_exposicao_nor
malizado_(nen)/AAjgAnjg/538>. Acesso em: 04 set. 2018.
5 Sobre essa questão, já decidiu este Regional no sentido de que, havendo
diferentes níveis de ruído para mesmo período e não havendo no laudo técnico
informação sobre a média ponderada do nível de ruído, utiliza-se o “critério
dos picos de ruído (maior nível de ruído no ambiente durante a jornada de
trabalho)”. (Reexame Necessário Cível nº 5006767-28.2012.404.7104/RS,
unanimidade, Relatora Juíza Federal Taís Schilling Ferraz, D.E. de 19.08.2014).
A propósito, a seguinte ementa: PREVIDENCIÁRIO.
APOSENTADORIA ESPECIAL. RECONHECIMENTO DE LABOR EM CONDIÇÕES
ESPECIAIS. RUÍDO. UMIDADE. EPI. PERÍODO EM GOZO DE BENEFÍCIO POR
INCAPACIDADE. REQUISITOS ATENDIDOS. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO.
CONSECTÁRIOS. DIFERIMENTO. TUTELA ESPECÍFICA. IMPLANTAÇÃO DO
BENEFÍCIO. (…) 7. Não sendo possível aferir a média ponderada do nível
de ruído, deve-se utilizar o “critério dos picos de ruído” (maior nível de ruído no
ambiente durante a jornada de trabalho). Precedentes desta Corte. (…) (TRF4,
AC 0021570-78.2014.404.9999, QUINTA TURMA, Relator ROGER RAUPP RIOS,
D.E. 17/03/2017).
6 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo em recurso extraordinário nº
664.335. Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social. Recorrido: Antônio
Fagundes. Relator: Ministro Luiz Fux. Brasília, 04 de dezembro de 2014.
Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=
TP&docID=7734901>. Acesso em: 05 set. 2018.
7 De acordo com o § 4ª, art. 68, do Decreto 3.048/99, “A empresa que não
mantiver laudo técnico atualizado com referência aos agentes nocivos
existentes no ambiente de trabalho de seus trabalhadores ou que emitir
documento de comprovação de efetiva exposição em desacordo com o
respectivo laudo estará sujeita à multa prevista no art. 283”. BRASIL. Decreto
3.048, de 06.05.1999. Regulamento de Previdência Social. Disponível em:
<http://www3.dataprev.gov.br/SISLEX/paginas/23/1999/ 3048.htm>. Acesso
em: 04 set. 2018.

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