Você está na página 1de 5

Aluna Angela Fadoni , grupo enfermagem

en11 professor Silas


O SETOR DE SAÚDE E A LEI GERAL DE
PROTEÇÃO DE DADOS
Autora;Priscila Mendonça de Aguilar Arruda

O setor da Saúde certamente é o setor que mais trata os dados


pessoais considerados sensíveis pela LGPD e, inevitavelmente, trará
grandes desafios aos profissionais e organizações de saúde, e afetará
sensivelmente a rotina destes

A Proteção de Dados Pessoais de Saúde

A Lei Geral de Proteção de Dados - LGPD, nº 13.709 segue a


tendência europeia GPDR - regulamento aprovado pela União Europeia em
maio de 2018, e surge com o propósito de garantir a privacidade de dados
pessoais e regular maior controle sobre eles. A Nova Lei entra em vigor em
agosto de 2020, e chega em uma época propícia, marcada por grandes
vazamentos de informações e escândalos que envolvem o uso indevido de
informações pessoais.

A finalidade da Nova Lei é de proteger Direitos Fundamentais de


Liberdade, Personalidade e de Privacidade, regulamentando e consolidando
direitos e princípios já previstos na Constituição, Código Civil e do Consumidor
e em regras de guarda de sigilo profissional de códigos deontológicos.

O setor da Saúde certamente é o setor que mais trata os dados


pessoais considerados sensíveis pela LGPD e, inevitavelmente, trará grandes
desafios aos profissionais e organizações de saúde, e afetará sensivelmente a
rotina de administradores e gestores hospitalares, uma vez que cria a figura do
operador e controlador de dados, que ficarão responsáveis pela guarda e sigilo
de informação dos pacientes e pela implementação de medidas que garantam
essa privacidade.

A Finalidade da LGPD para o Setor de Saúde

No contexto social contemporâneo, de abundantes relações de


consumo e de inúmeras experiências digitais diárias, a LGPD surge com a
finalidade de proporcionar maior segurança informacional dos dados de
consumidores de produtos e serviços. Embora seja elaborada para a realidade
digital, a lei alcança os meios não digitais - registros e prontuários físicos.

Na prática, o que deverá ser implementado por profissionais e


organizações de saúde é a adequação e conformidade, o que significa dizer
que deverão ser implementados registros, procedimentos, protocolos, sistemas
e rotinas capazes de assegurar o devido cumprimento da Lei.
Diferença Entre Dado Pessoal e Dado Pessoal Sensível de Saúde

Dados pessoais para a LGPD são aqueles relativos a uma pessoa, ou


seja, o conjunto de atributos que são próprios da personalidade de cada um -
nome, endereço, telefone e outros. Os quais, ao serem colhidos, tratados ou
transmitidos, sejam capazes de individualizar e identificar seu titular.

Além dos dados pessoais, há ainda, no que tange à prestação dos


serviços de saúde, os dados considerados sensíveis - dados pessoais de
origem racial ou étnica, convicção religiosa, referente à saúde ou à vida sexual,
genético ou biométrico, vinculados ou capazes de serem vinculados a uma
pessoa - que são revelados pelo próprio paciente ou por familiares, ou advêm
da observação clínica do profissional ou de exame diagnóstico e decorre
diretamente da relação de natureza profissional estabelecida.

O tratamento dos dados pessoais e o tratamento dos dados pessoais


sensíveis na assistência de saúde são abordados de maneiras diferentes pela
Lei.

A medicina, a enfermagem e a gama multidisciplinar de profissionais,


juntamente com as organizações de saúde (públicas ou privadas) lidam
diariamente com um conjunto enorme de dados sensíveis de pacientes. Sendo
assim, toda informação, seja de natureza diagnóstica ou terapêutica, desde
que colhida nesses contextos, são consideradas dados de saúde, cabendo aos
profissionais e organizações do setor zelar pelos dados de seus pacientes e
buscar a conformidade necessária para o adequado tratamento desses dados.

A Titularidade dos Dados de Saúde

É importante ressaltar que tais dados são revelados por seu titular -
que busca cuidados de saúde - aos profissionais e organizações, em razão da
busca por uma solução terapêutica, ou seja, em busca de assistência o
paciente permite/autoriza a intromissão na sua privacidade. Deste modo, os
dados de saúde são propriedade de seu titular, o paciente e, diferentemente do
que se entendia no passado, a titularidade da informação de saúde não é do
profissional ou da organização de saúde. A obtenção, tratamento, transmissão
e descarte dos dados pessoais de saúde dos pacientes, trata-se apenas de
uma autorização legal de acesso justificado que decorre do dever de prestação
de assistência e, é limitado pela obrigação de guarda e sigilo.

A Obrigatoriedade do Consentimento Informacional

O consentimento do paciente em relação aos dados pessoais - nome,


endereço, telefone e outros - deve ser obtido obrigatoriamente por escrito e,
deve constar no termo para qual finalidade se presta, principalmente quando
existe o compartilhamento de informações comerciais com outras redes e
parceiros (outros hospitais, ou hospitais do mesmo grupo, planos de saúde,
seguradoras, etc.). A regra geral é a de vedação do tratamento de dados
pessoais sem o expresso consentimento do titular ou de seu responsável,
sendo assim, o profissional e/ou organização deve formalizar por escrito o
Termo de Consentimento Informacional a fim de se evitar erros e vícios da
manifestação de vontade.

Não obstante e levando em conta a ampla gama de profissionais em


atuação no setor de saúde (Recepção, segurança, administradores, gestores
hospitalares), é importante definir no termo assinado pelo paciente, por
exemplo, se a permissão concedida é referente exclusivamente a
procedimentos realizados por médicos e auxiliares da saúde, ou se por demais
prestadores de serviços envolvidos nas atividades, como funcionários
administrativos e terceirizados.

Hipótese de Dispensa do Consentimento Informacional

Contudo, com o objetivo de não inviabilizar o mercado de assistência à


saúde, a Lei determinou exceções à obrigatoriedade da obtenção do
consentimento. Podendo este ser dispensado em relação aos dados pessoais
sensíveis para a Tutela da Saúde do titular, exclusivamente, em procedimento
realizado pelos profissionais de saúde, serviços de saúde ou autoridade
sanitária.

Significa dizer que, no âmbito da assistência em saúde, aquelas


prestadas tão somente por profissionais da área, a assinatura do
Consentimento do titular para o tratamento de seus dados pessoais de saúde
não é essencial à prestação do serviço. Do ponto de vista constitucional e da
LGPD, o direito à vida e à integridade física sobrepõe-se à vontade do titular
consentir ou não. Logo, o profissional possui o dever de prestar a assistência,
independentemente da assinatura do consentimento.

A Recusa de Assinatura do Termo de Consentimento


Informacional Pelo Paciente

Do mesmo modo, não é raro que o paciente se recuse a assinar o


Termo de Consentimento Informacional relativo ao tratamento de dados
pessoais. Nesses casos, recomenda-se fortemente fazer constar por escrito
nos registros a impossibilidade da obtenção do consentimento pela negativa do
titular.

De qualquer modo, mesmo nos casos em que o consentimento não é


necessário, clínicas e hospitais estão obrigadas a informar aos pacientes sobre
a forma como os seus dados serão recolhidos e tratados. Recomenda-se que o
profissional, hospital ou clínica, elabore uma declaração escrita, assinada pelo
paciente que se limite a informar que tomou conhecimento das informações.

Sigilo Profissional, Regras Deontológicas e Códigos Jurídicos

O conceito de proteção à privacidade e sigilo dos pacientes não é novo


e sempre esteve no núcleo central das regras deontológicas. Fazendo parte,
inclusive, do juramento de Hipócrates para os médicos e de Nightingale, para
enfermagem. Esses princípios também se encontram presentes na
Constituição Federal, no Código Civil e de Defesa do Consumidor e em
princípios éticos e da bioética.

A Lei Geral de Proteção de Dados regulamenta que profissionais e


organizações de saúde estão obrigados a guardar as informações de seus
pacientes em segredo, proibindo o uso e compartilhamento com o objetivo de
obter vantagem econômica, prestigiando a natureza privada das informações
pessoais e sua posse pelo titular. Estabelece ainda a necessidade da obtenção
do Consentimento Informacional do tratamento de dados. Traz ainda, em seu
texto, a possibilidade de revogação do consentimento pelo titular do dado, o
uso de dados de saúde em pesquisa científica, prazos legais, sanções por
violações e institui a criação da Autoridade de Proteção de Dados.

Sanções a Violação da LGPD

Avançando no tema, a violação à LGPD poderá resultar em


responsabilização civil do profissional de saúde e gerar sanções
administrativas às organizações aplicáveis pela Autoridade Nacional de Dados,
tais como: advertência com indicação de prazo para adoção de medidas
corretivas, multa de até 2% (dois por cento) do faturamento da pessoa jurídica
de direito privado, suspensão parcial do funcionamento do banco de dados,
entre outras.

Embora complexa, a Lei Geral de Proteção de Dados é um marco


positivo na conquista, preservação e proteção de direitos individuais na era
pós-moderna da economia movida a dados. O processo de conformidade e
implementação da LGPD é árduo. Contudo, aumentará consideravelmente os
registros digitais de dados em saúde.

Vantagens da Adequação e Conformidade

O adequado registro dos dados produzirá um gigantesco arcabouço de


informações e isso, devidamente organizado, torna-se um verdadeiro
patrimônio de Big Data, possibilitando pesquisas, e a criação de políticas
internas das organizações de saúde.

Outra característica positiva da lei é a mudança cultural no atual


tratamento de dados pessoais no Brasil. A LGPD provê maior segurança
jurídica e fomenta boas práticas empresariais, regulando as relações entre
setores da economia, poder público e seus usuários. O objetivo é atribuir maior
proteção à parte mais vulnerável da relação, o consumidor de bens e serviços.
Os profissionais e empresas que se adequarem certamente estarão na
vanguarda do desenvolvimento econômico e cultural.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LOUREIRO João, PEREIRA André Dias, BARBOSA Carla. Segurança


do Paciente e Consentimento Informado. Coimbra: Almedina S/A, 2016.
Baraúna Jr., Haroldo V. Documentos Médicos Eletrônicos: uma
abordagem sobre seus efeitos jurídicos. Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2019.

Agência Nacional de Saúde Suplementar, Nota Técnica


3/2019/GEPIN/DIRAD-DIDES/DIDES. Acesso em: 15/01/2020.Disponível em:
https://www.sbac.org.br/wp-content/uploads/2019/12/Nota-Te%CC%81cnica-
sobre-LGPD.pdf

DEODATO Sérgio, A Proteção de Dados Pessoais de


Sáude. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2017.

Cabral, Hildeliza Lacerda Tinoco Boechat. Consentimento Informado


no Exercício da Medicina e Tutela dos Direitos Existenciais: Uma visão
interdisciplinar direito e medicina. 2.ed. - Curutiba: Appris, 2018.

Brasil. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção


de Dados, Diário Oficial da União: Brasília, DF, de 15.8.2018. Acesso em:
04/12/2019. Disponível em: .https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/lei/L13709.htm

Você também pode gostar