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Disciplina:
Enfermagem Obstétrica I
Aula:
Legalidade da Assistência de Enfermagem Obstétrica
Docente:
Meriene Gomes
Especialista em Enfermagem Obstétrica EEAN/UFRJ
Bacharel em Direito FND/UFRJ
Equipe de Assistência Domiciliar – Sifrá Parteria
Mestranda em Políticas Públicas em Direitos Humanos NEPP-DH/UFRJ
“Imagina-te como uma parteira. Acompanhas o nascimento
de alguém sem exibição ou espalhafato. Tua tarefa é facilitar
o que esta acontecendo. Se deves assumir o comando, faze-o
de tal modo que auxilies a mãe e deixes que ela continue livre
e responsável. Quando nascer a criança, a mãe dirá com
razão: nós duas conseguimos realizar este trabalho”.
(Lao Tse, séc.V a C)
PRINCÍPIOS LEGAIS
Os princípios da bioética (autonomia, beneficência, não maleficência e justiça) são fundamentais para
nortear as ações no processo de cuidar do ser humano, devendo ser praticadas inclusive durante a parturição,
sendo eles:
respeito pela pessoa, primando pelo respeito a sua autonomia para deliberar sobre suas escolhas, além de
proteger de danos ou abusos as pessoas com autonomia diminuída, indivíduos vulneráveis como o bebê;
beneficência, obrigação ética de maximizar benefícios;
não maleficência, minimizando os danos ou prejuízos, ou seja, salvaguardar o bem-estar dos sujeitos;
justiça, para que todos os indivíduos tenham o direito de receber uma atenção de qualidade.
Autonomia Vs Heteronomia Vs Anomia
Heteronomia (do grego heteros, "diversos" + nomos, "regras") é um conceito criado por Kant para
denominar a sujeição do individuo à vontade de terceiros ou de uma coletividade. Se opõe assim
ao conceito de autonomia onde o ente possui arbítrio e pode expressar sua vontade livremente. É um
conceito básico relacionado ao Estado de Direito, em que todos devem se submeter à vontade da lei.
Autonomia (do grego autonomos, uma junção de auto, "de si mesmo" + nomos, "lei", ou seja, "aquele
que estabelece suas próprias leis") é um conceito encontrado na moral, na política, na filosofia e
na bioética. É a capacidade de um indivíduo racional (não necessariamente um organismo vivo) de
tomar uma decisão não forçada baseada nas informações disponíveis. Na filosofia ligada à moral e à
política, a autonomia é usada como base para se determinar a responsabilidade moral da ação
de alguém.
A anomia é um estado de falta de objetivos e regras e de perda de identidade, provocado pelas
intensas transformações ocorrentes no mundo social moderno. A partir do surgimento do capitalismo e
da tomada da razão como forma de explicar o mundo, há um brusco rompimento
com valores tradicionais, fortemente ligados à concepção religiosa. O termo anomia foi frequentemente
debatido por diversos sociólogos, sendo também um conceito muito utilizado pelos funcionalistas
estruturais, como Émile Durkheim, assim como no trabalho de Robert King Merton, daí a importância
de referir estes dois principais conceitos.
Autonomia Vs Heteronormatividade
Autonomia: capacidade de tomar decisões de modo independente, por
referencia apenas ao cálculo racional de custos e benefícios associados a
diferentes opções de ações. É um atributo do comportamento humano
evidenciado em momentos bem definidos na vida e na dinâmica da vida
coletiva. Teoria da escolha racional (Fleury, 2015).
Legislações que garantem respaldo legal para a atuação da Enfermagem Obstétrica no Brasil.
Constituição Federal do Brasil;
Lei 7.498/86;
Decreto 94.406/87 que regulamenta a Lei nº 7.498;
Resoluções do Conselho Federal de Enfermagem e Regional (COFEN-COREN);
Resoluções e Portarias do Ministério da Saúde e órgãos afins;
Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras.
Constituição Federal do Brasil
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a
lei estabelecer.
LEI 7.498/86 – Lei do Exercício Profissional da Enfermagem
Art. 6º - São enfermeiros:
I - o titular do diploma de enfermeiro conferido por instituição de ensino, nos termos da lei;
II - o titular do diploma ou certificado de obstetriz ou de enfermeira obstétrica, conferidos nos termos da lei;
III - o titular do diploma ou certificado de Enfermeira e a titular do diploma ou certificado de Enfermeira
Obstétrica ou de Obstetriz, ou equivalente, conferido por escola estrangeira segundo as leis do país, registrado em
virtude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como diploma de Enfermeiro, de Enfermeira
Obstétrica ou de Obstetriz;[...]
Art.11 - O Enfermeiro exerce todas as atividades de Enfermagem, cabendo-lhe:[...]
II - como integrante da equipe de saúde:
a) participação no planejamento, execução e avaliação da programação de saúde;
g) assistência de Enfermagem à gestante, parturiente e puérpera;
h) acompanhamento da evolução e do trabalho de parto;
i) execução do parto sem distócia;
DECRETO LEI Nº 94.406/87
Art. 7º - São Parteiros: I - o titular de certificado previsto no Art. 1º do nº 8.778, de 22 de janeiro de 1946,
observado o disposto na Lei nº 3.640, de 10 de outubro de 1959; II - o titular do diploma ou certificado de
Parteiro, ou equivalente, conferido por escola ou curso estrangeiro, segundo as respectivas leis, registrado em
virtude de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil, até 26 de junho de1988, como certificado de Parteiro.[...]
Art. 9º - Às profissionais titulares de diploma ou certificados de Obstetriz ou de Enfermeira Obstétrica, além das
atividades de que trata o artigo precedente, incumbe:
I - prestação de assistência à parturiente e ao parto normal;
II - identificação das distócias obstétricas e tomada de providências até a chegada do médico;
III - realização de episiotomia e episiorrafia com aplicação de anestesia local, quando necessária.
Art. 12 - Ao Parteiro incumbe: I - prestar cuidados à gestante e à parturiente; II - assistir ao parto normal,
inclusive em domicílio; e III - cuidar da puérpera e do recém-nascido. Parágrafo único - As atividades de que trata
este artigo são exercidas sob supervisão de Enfermeiro Obstetra, quando realizadas em instituições de saúde, e,
sempre que possível, sob controle e supervisão de unidade de saúde, quando realizadas em domicílio ou onde se
fizerem necessárias.
Portanto, legalmente é legitimo que profissionais de Enfermagem, prestem a assistência ao parto sem distócia,
independemente do local onde a mulher optar por ter seu parto, uma vez que não há limites impostos por Lei para
estes aspectos, considerando-se as opções também legítimas das mulheres parturientes.
RESOLUÇÃO COFEN 311/2007 REVOGADA pela RESOLUÇÃO COFEN 564/2017
DIREITOS
Art. 1º - Exercer a Enfermagem com liberdade, autonomia e ser tratado segundo os pressupostos e princípios
legais, éticos e dos direitos humanos.
Art. 2º – Aprimorar seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais que dão sustentação a sua prática
profissional.
Art. 36 - Participar da prática profissional multi e interdisciplinar com responsabilidade, autonomia e
liberdade.
PROIBIÇÕES
Art. 72 Praticar ou ser conivente com crime, contravenção penal ou qualquer outro ato que infrinja postulados éticos e legais,
no exercício profissional.
Art. 73 Provocar aborto, ou cooperar em prática destinada a interromper a gestação, exceto nos casos permitidos pela
legislação vigente.
Parágrafo único. Nos casos permitidos pela legislação, o profissional deverá decidir de acordo com a sua consciência sobre
sua participação, desde que seja garantida a continuidade da assistência.
Art. 75 Praticar ato cirúrgico, exceto nas situações de emergência ou naquelas expressamente autorizadas na legislação, desde
que possua competência técnica-científica necessária.
Art. 78 Administrar medicamentos sem conhecer indicação, ação da droga, via de administração e potenciais riscos,
respeitados os graus de formação do profissional.
Art. 79 Prescrever medicamentos que não estejam estabelecidos em programas de saúde pública e/ou em rotina aprovada em
instituição de saúde, exceto em situações de emergência.
Art. 80 Executar prescrições e procedimentos de qualquer natureza que comprometam a segurança da pessoa.
Art. 81 Prestar serviços que, por sua natureza, competem a outro profissional, exceto em caso de emergência, ou que
estiverem expressamente autorizados na legislação vigente.
“O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e os Conselhos
Regionais de Enfermagem (COREN), são órgãos DISCIPLINADORES
DO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO de enfermeiros e demais profissões
compreendida nos serviços de enfermagem” (Lei 5.905/1973)
RESOLUÇÕES COFEN
RESOLUÇÃO COFEN Nº 516/2016 – ALTERADA PELAS RESOLUÇÕES COFEN Nº 524/2016 E 672/2021
§ 3º Para a atuação do Enfermeiro generalista nos Serviços de Obstetrícia, Centros de Parto Normal
e/ou Casas de Parto, e para o Registro de Título de Obstetriz e o de pós-graduação Stricto ou Lato
Sensu, de Enfermeiro Obstetra no Conselho Federal de Enfermagem, além do disposto em outros
normativos do Cofen sobre os procedimentos gerais para registro de títulos de pós-graduação
concedido a Enfermeiros, estabelece os seguintes critérios mínimos de qualificação para a prática de
obstetrícia, a ser comprovada através de documento oficial da autoridade que expediu o diploma ou
certificado, para aqueles que iniciaram o curso a partir do dia 23 de abril de 2015:
Parágrafo único. O Centro de Parto Normal e/ou Casa de Parto destinam-se à assistência ao parto e
nascimento de risco habitual, conduzido pelo Enfermeiro, Enfermeiro Obstetra ou Obstetriz, da
admissão até a alta. Deverão atuar de forma integrada às Redes de Atenção à Saúde, garantindo
atendimento integral e de qualidade, baseado em evidências científicas e humanizado, às mulheres,
seus recém-nascidos e familiares e/ou acompanhantes.
RESOLUÇÕES COFEN
RESOLUÇÃO COFEN Nº 672/2021
Art. 3º Ao Enfermeiro, Enfermeiro Obstetra e Obstetriz, atuando em Serviço de Obstetrícia, Centro de
Parto Normal e/ou Casa de Parto ou outro local onde ocorra a assistência compete:
I – Acolher a mulher e seus familiares ou acompanhantes;
II – Avaliar todas as condições de saúde materna, clínicas e obstétricas, assim como as do feto;
III – Garantir o atendimento à mulher no PN, parto e puerpério por meio da consulta de enfermagem;
IV – Promover modelo de assistência, centrado na mulher, no parto e nascimento, ambiência favorável
ao parto e nascimento de evolução fisiológica e garantir a presença do acompanhante de escolha da
mulher, conforme previsto em Lei;
V – Adotar práticas baseadas em evidências científicas como: oferta de métodos não farmacológicos de
alívio da dor, liberdade de posição no parto, preservação da integridade perineal do momento da
expulsão do feto, contato pele a pele mãe recém-nascido, apoio ao aleitamento logo após o nascimento,
entre outras, bem como o respeito às especificidades étnico-culturais da mulher e de sua família;
VI – Avaliar a evolução do trabalho de parto e as condições maternas e fetais, adotando tecnologias
apropriadas na assistência e tomada de decisão, considerando a autonomia e protagonismo da mulher;
RESOLUÇÕES COFEN
RESOLUÇÃO COFEN Nº 672/2021
Art. 3º Ao Enfermeiro, Enfermeiro Obstetra e Obstetriz, atuando em Serviço de Obstetrícia, Centro de
VII – Prestar assistência ao parto normal de evolução fisiológica (sem distócia) e ao recém-nascido;
VIII – Encaminhar a mulher e/ou recém-nascido a um nível de assistência mais complexo, caso sejam
detectados fatores de risco e/ou complicações que justifiquem;
IX – Garantir a integralidade do cuidado à mulher e ao recém-nascido;
X – Registrar no prontuário da mulher e do recém-nascido as informações inerentes ao processo de
cuidar, de forma clara, objetiva e completa;
XI – Emitir a Declaração de Nascido Vivo – DNV
XII – Prestar informações, escritas e verbais, completas e fidedignas necessárias ao acompanhamento e
avaliação do processo de cuidado;
XIII – Promover educação em saúde, baseado nos direitos sexuais, reprodutivos e de cidadania;
RESOLUÇÕES COFEN
RESOLUÇÃO COFEN Nº 672/2021
Art. 3º Ao Enfermeiro, Enfermeiro Obstetra e Obstetriz, atuando em Serviço de Obstetrícia, Centro de
XIV – Participar do planejamento de atividades de ensino e zelar para que os estágios de formação
profissional sejam realizados em conformidade com a legislação de Enfermagem vigente;
XV – Promover, participar e ou supervisionar o processo de educação permanente e qualificação da
equipe de enfermagem, considerando as evidencias cientificas e o modelo assistencial do Centro de
Parto Normal ou Casa de Parto, centrado na mulher e na família;
XVI – Participar de Comissões atinentes ao trabalho e a filosofia do Centro de Parto Normal ou Casa
de Parto, como: comissão de controle de infecção hospitalar, de investigação de óbito materno e
neonatal, de ética, entre outras;
XVII – Participar de ações interdisciplinares e Inter setoriais, entre outras, que promovam a saúde
materna e infantil;
XVIII – Notificar todos os óbitos maternos e neonatais aos Comitês de Mortalidade Materna e
Infantil/Neonatal da Secretaria Municipal e/ou Estadual de Saúde, em atendimento ao imperativo da
Portaria GM/MS nº 1.119, de 05 de junho de 2008, ou outra que a substitua;
RESOLUÇÕES COFEN
RESOLUÇÃO COFEN Nº 672/2021
Art. 3º Ao Enfermeiro, Enfermeiro Obstetra e Obstetriz, atuando em Serviço de Obstetrícia, Centro de
Parágrafo único. Aos Enfermeiros Obstetras e Obstetrizes além das atividades dispostas nesse artigo
compete ainda:
a) Emissão de laudos de autorização de internação hospitalar (AIH) para o procedimento de parto
normal sem distócia, realizado pelo Enfermeiro (a) Obstetra, da tabela do SIH/SUS;
b) Identificação das distócias obstétricas e tomada de providências necessárias, até a chegada do
médico, devendo intervir, em conformidade com sua capacitação técnico-científica, adotando os
procedimentos que entender imprescindíveis, para garantir a segurança da mãe e do recém-nascido;
c) Realização de episiotomia e episiorrafia (rafias de lacerações de primeiro e segundo grau) e
aplicação de anestesia local, quando necessária;
d) Acompanhamento obstétrico da mulher e do recém-nascido, sob seus cuidados, da internação até a
alta.
RESOLUÇÕES COFEN
RESOLUÇÃO COFEN Nº 627/2020
Normatiza a realização de Ultrassonografia Obstétrica por Enfermeiro Obstétrico.
Redefine as diretrizes para implantação e habilitação de Centro de Parto Normal (CPN), no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS), para o atendimento à mulher e ao recém-nascido no momento do parto e do nascimento,
em conformidade com o Componente PARTO E NASCIMENTO da Rede Cegonha, e dispõe sobre os respectivos
incentivos financeiros de investimento, custeio e custeio mensal.
Art. 1º Esta Portaria redefine as diretrizes para implantação e habilitação de Centro de Parto Normal (CPN), no
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), para o atendimento à mulher e ao recém-nascido no momento do
parto e do nascimento, em conformidade com o Componente PARTO E NASCIMENTO da Rede Cegonha, e
dispõe sobre os respectivos incentivos financeiros de investimento, custeio e custeio mensal.
P O R TA R I A N º 1 1 , D E 7 D E J A N E I R O D E 2 0 1 5
Art. 3º Constitui CPN a unidade de saúde destinada à assistência ao parto de baixo risco pertencente a um
estabelecimento hospitalar, localizada em suas dependências internas ou imediações, nos termos desta
Portaria.
RAMI
Lei Nº 11.108 de 07 de abril de 2005
Dispõe sobre a garantia às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto,
parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS.
Art. 19-J Os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde - SUS, da rede própria ou conveniada, ficam
obrigados a permitir a presença, junto à parturiente, de 1 (um) acompanhante durante todo o período de
trabalho de parto, parto e pós-parto imediato.
§ 1º O acompanhante de que trata o caput deste artigo será indicado pela parturiente.
Portaria nº 1.459, de 24 de junho de 2011
Instituiu no SUS a Rede Cegonha, que consiste numa rede de cuidados que visa assegurar à mulher o
direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada a gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como
Uma de suas diretrizes enfatiza a garantia das boas práticas e segurança na atenção ao parto e nascimento,
sendo um norteador da qualidade da assistência ao parto assistido pelo Enfermeiro Obstetra, organizando-se
em quatro componentes básicos: pré-natal, parto e nascimento, puerpério e atenção integral à saúde da
Vem crescendo, nos últimos anos, modismos na obstetrícia que são deletérios à boa prática médica e que
colocam em risco a gestante e o concepto, além de interferirem de forma perigosa no Ato Médico. A situação se
tornou tão grave que, atualmente, quem muitas vezes decide os procedimentos a serem tomados pelos obstetras são
pessoas sem preparo para decisões que envolvem vida e morte.
Esse panorama se tornou um verdadeiro suplício para médicos, que ficam temerosos de serem processados
caso não sigam estas orientações. Muitas delas, completamente sem fundamento científico, com viés antimédico.
O trabalho de parto e o parto são situações permanentes de risco de morte. A mulher somente por estar grávida
tem risco muitas vezes maior de morrer que uma mulher não grávida, sendo o parto o ápice deste risco. Não à toa,
era a morte no parto uma das principais causas de óbito até tempos passados, não muito longínquos.
Esta pressão tem como consequência impedir a realização de procedimentos necessários e cientificamente
validados e, com isso, restringir o papel do médico. Ao fim e ao cabo, o resultado disso é o abandono da obstetrícia
por médicos competentes que não aceitam se submeter a isso; maternidades públicas tomadas por não médicos
realizando partos, com o objetivo de baratear a assistência em demérito da qualidade; e aumento das mortalidades
materna e infantil nos últimos anos no Brasil e no Rio de Janeiro. Dentre estes meios idealizados, temos o
chamado PLANO DE PARTO. Este documento entende-se para fim desta Resolução como uma série de normas
ditadas pela gestante, ou feitas em conjunto com o médico, comumente retiradas de modelos disponíveis em sítios
eletrônicos que determinam o que o médico pode ou não fazer.
A não aceitação do médico em assinar este documento pode causar inúmeros problemas para o profissional,
inclusive sendo passível de ser denunciado por “violência obstétrica”, outro termo inventado para difamar
médicos, dando a impressão que as violências que as gestantes sofrem são por culpa dos obstetras, sendo
estes tão vítimas do sistema quanto as grávidas.
Procedimentos salvadores são restritos ou proscritos sem quaisquer evidências para tal. Como alguns
dos exemplos temos: a episiotomia; a manobra de Kristeller, a cesariana; a analgesia de parto; o uso de
ocitocina; posições de assistência ao parto, dentre muitos outros.
É obrigação do obstetra estar atualizado sobre as melhores evidências médicas. A episiotomia é recomendada
somente em casos selecionados. A cesariana tem diversas indicações relativas e absolutas e Guideline de 2019 do
American College of Obstetricians and Gynecologists- ACOG mostrou que no atual nível de conhecimento não se
pode dizer que há uma via de parto mais segura; é desprovido de evidência científica ser dito que o parto vaginal é
melhor que a cesariana em situações em que não haja indicação de cesariana; a Resolução CFM nº 2.144/2016
libera a cesariana a pedido materno acima de 39 semanas. Importante também sempre orientar nesses casos que a
mulher que deseja uma prole maior deve preferir tentar o parto vaginal e mais importante ainda, é que a mulher
que manifesta seu desejo de tentar o parto vaginal, deve ter esta vontade totalmente respeitada, se possível.
A manobra de Kristeller muitas vezes está equivocadamente classificada como violência obstétrica e como
“proscrita”. Não há qualquer evidência científica de que não deva ser utilizada em situações necessárias. A
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia-FEBRASGO, ratificou a manobra de Kristeller
para situações necessárias e excepcionais. Acrescente-se a estes equívocos as interferências sobre a assistência
neonatal, incluindo o retardo nos cuidados ao bebê e a negação quanto à utilização de medidas preventivas e
imunizações.
É importante lembrar que os tratamentos de saúde geram obrigação de meio, não de resultado. A banalização
de processos contra médicos e profissionais da saúde tem alguns motivos; um deles é a confusão pelos pacientes
entre erro médico e mau resultado. A insatisfação decorrente de um tratamento, por si só, não gera
responsabilidade. Em outras palavras, o profissional deve atuar eticamente da melhor forma para tentar melhorar a
saúde de seu paciente, observando critérios técnicos e a boa relação médico-paciente, evitando a imposição de
barreiras.
Conquanto não fosse preciso escrever isso, tempos estranhos nos obrigam: não é razoável se solicitar
autorização para medidas de emergência em situações de risco iminente de morte materna ou fetal. Pelo exposto,
não cabem planos de partos impeditivos de medidas extremas e salvadoras nem de Termos de
Consentimento Livres e Esclarecidos para cesarianas de emergência ou para partos vaginais já em trabalho
de parto avançado. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido deve, obrigatoriamente, ser feito para a
cesariana a pedido materno sem causa médica e para cesarianas eletivas, conforme regramento e boa prática
vigentes.
A autonomia da gestante pode e deve ser respeitada, mas jamais trazendo riscos ao binômio materno-fetal.
Art. 5º: “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; que são
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
Art. 6º: “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados”.
Legislação Internacional
Lei 26.485, de 2009, da Venezuela, a “Ley Orgánica sobre el Derecho de las Mujeresa uma Vida
Libre de Violência de 2007”.
Código Penal
No Brasil, as normas de cunho não criminal que chegam mais próximo do assunto não são suficientes para
conter a escalada da violência obstétrica na rede de saúde, sendo atualmente tipificada no art. 129 lesão
corporal e art. 147 ameaça.
Código Civil
Art. 12 “Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e
danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei”.
Art. 15 “Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou
a intervenção cirúrgica”.
Lei Estadual
• Lei 11.108/ 2005 (lei do acompanhante), “os serviços de saúde ficam obrigados a permitir a presença,
junto à parturiente, de um acompanhante durante todo o período de trabalho de pré-parto, parto e pós-
parto imediato, por ela indicado”.
• Lei nº 17.097/2017 (Santa Catarina) atualmente é o único que tem norma acerca da temática,
considerando violência obstétrica todo ato praticado pelo médico, pela equipe do hospital, por
um familiar ou acompanhante que ofenda, de forma verbal ou física, as mulheres gestantes,
em trabalho de parto ou, ainda, no período puerpério.
• Lei nº 7.191/2016 (9.238/2021), que dispõe sobre o direito ao parto humanizado na rede pública de
saúde no estado do Rio de Janeiro e dá outras providências. Esta lei aborda diversos princípios de uma
assistência humanizada, entretanto a mais importante está em seu art. 10, §3º - É vedada a
Art. 19 Compete ao SUS desenvolver ações destinadas à prevenção de deficiências por causas evitáveis,
inclusive por meio de:
Dispõe sobre a responsabilidade do Diretor Técnico em relação a assistência perinatal prestada por pessoas não
habilitadas e/ou de profissões não reconhecidas na área da saúde.
R E S O L V E:
Art. 1º É vedada a participação de pessoas não habilitadas e/ou de profissões não reconhecidas na área da
saúde durante e após a realização do parto, em ambiente hospitalar, ressalvados os acompanhantes legais.
Parágrafo único. Estão incluídas nesta proibição as chamadas “doulas”, “obstetrizes”, “parteiras”, etc.
Art. 2º Esta Resolução não se aplica às enfermeiras obstetrizes legalmente reconhecidas conforme disposto nos
incisos II e III do artigo 6º da Lei nº 7.498/86.
Art. 3º O descumprimento desta Resolução é considerado infração ética passível de competente processo
disciplinar.
Parágrafo único. É responsabilidade do Diretor Técnico da unidade o cumprimento desta Resolução.
Art. 4º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogando-se as disposições em contrário.
R E S O L V E:
Art. 1º É vedada a participação do médico nas chamadas ações domiciliares relacionadas ao parto e assistência
perinatal.
Art. 2º É vedado ao médico participar de equipes de suporte e sobreaviso, previamente acordadas, a partos
domiciliares.
Art. 3º Ficam excetuadas as situações de urgência/emergência obstétrica, devendo ser feita a notificação
compulsória ao CREMERJ, circunstanciando o evento.
Art. 4º É compulsória a notificação ao CREMERJ, pelos Diretores Técnicos e plantonistas de unidades
hospitalares, do atendimento a complicações em pacientes submetidas a partos domiciliares e seus conceptos
ou oriundas das chamadas “Casas de Parto”.
Art. 5º O descumprimento desta Resolução é considerado infração ética passível de competente processo
disciplinar.
Art. 6º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogando-se as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 13 de julho de 2012.
TRETA CREMERJ Vs COREN – RJ
Primeiramente, em 18 de junho de 2012, o CREMERJ encaminhou uma denúncia ao Conselho
Regional de Medicina de São Paulo, com vistas à punição ética do profissional médico obstetra
Jorge Kuhn, por ter se mostrado favorável ao parto domiciliar.
No dia seguinte, 19 de Julho de 2012, este Conselho publicou as Resoluções CREMERJ nº 265 e
266/2012, gerando uma nova onda de protestos entre os defensores da humanização do parto e da
assistência ao parto domiciliar planejado.
Em resumo, a Resolução CREMERJ nº 265/2012 proibia os médicos de atenderem partos
domiciliares, ou de participarem de equipes de retaguarda, quando efetuados por Enfermeiras
Obstétricas; ou seja, a mulher e o bebê não teriam mais o direito de contar com a assistência médica
pré-determinada caso fosse identificada qualquer alteração durante a gestação, o trabalho de parto,
parto ou puerpério, que necessitasse de uma intervenção médica em ambiente hospitalar.
Somado a isso, a Resolução CREMERJ nº 266/2012 proibia que gestantes contassem com a
assistência de obstetrizes, doulas, parteiras, etc (conforme descrito no documento e que dá margem
para muitas interpretações) em ambiente hospitalar. Como artifício para atingir tal objetivo, o
CREMERJ proíbe aos diretores de instituições hospitalares, que são profissionais médicos, a
permitirem a entrada destas profissionais em hospitais e maternidades, e ameaçavam de
punição ética e até cassação dos direitos profissionais dos médicos que não as cumprissem.
Compreendendo que as resoluções do CREMERJ, de um lado, ferem os princípios do SUS e as
determinações das propostas governamentais na área da Política Nacional de Assistência Integral de
Saúde da Mulher (PNAISM, 2004) e da Política de Atenção Básica a Saúde (PAB), na perspectiva
do SUS, e de outro lado, que as mesmas interferem diretamente no exercício profissional da
Enfermagem, principalmente de enfermeiras obstétricas e obstetrizes que atuavam em partos
domiciliares planejados.
O Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro (COREN-RJ), órgão fiscalizador da prática
profissional, ajuizou uma Ação Civil Pública contra o CREMERJ no dia 27 de julho de 2012.
Aos 30 dias do mês de julho de 2012 o Ilmo. Juiz Federal Dr. Gustavo Arruda Macedo, da 2ª Vara
Federal do Rio de Janeiro, deferiu o pedido de suspensão dos efeitos das Resoluções CREMERJ nº
265 e 266/2012 até ulterior decisão deste juízo, ou que instâncias superiores se manifestem.
Aos 26 dias do mês de setembro de 2012, o CREMERJ apresentou contestação tanto da antecipação
de tutela, quanto da ação civil pública principal, e o COREN-RJ foi mais uma vez solicitado a se
pronunciar em defesa da matéria, encaminhando ao Ministério Público um documento detalhado
sobre as ações de Enfermeiras Obstétricas e Obstetrizes na assistência a mulher e bebês durante o
trabalho de parto e parto.
Após 13 dias do mês de março do ano de 2012, o Ilmo. Desembargador Federal Dr. Sergio
Schwaitzer emitiu decisão favorável ao COREN-RJ, mantendo as resoluções anuladas até o
julgamento final do processo, que ainda está em curso.
Parecer CTASM nº 001/2013 Coren-RJ
EMENTA: Atuação e a responsabilidade civil da Enfermeira Obstétrica e Obstetriz na Assistência ao Parto Domiciliar
Planejado.
Art. 1º Definir os parâmetros mínimos para a assistência segura e de qualidade de Enfermagem obstétrica para mulheres e
seus filhos atendidos em domicílio:
I - A enfermeira obstétrica e obstetriz ao oferecer a assistência à mulher no parto domiciliar planejado deverá obter sua
anuência por meio da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).
II – A enfermeira obstétrica e obstetriz prestará assistência ao parto domiciliar planejado de mulheres que realizaram o
acompanhamento pré-natal e foram classificadas como gestantes de risco habitual, de acordo com os parâmetros
estabelecidos pelos protocolos do Ministério da Saúde e/ ou das Secretarias de Saúde;
III - A enfermeira obstétrica e obstetriz deverão definir em conjunto com a mulher e sua família, durante a assistência pré-
natal a equipe de referência/instituição, seja para o setor público ou privado, para os casos que necessitem transferência de
nível de assistência durante o pré-natal, parto ou puerpério;
IV – A enfermeira obstétrica e obstetriz são responsáveis pela avaliação contínua do risco obstétrico em todo o período de
acompanhamento do parto domiciliar planejado, e seu respectivo encaminhamento para a continuidade da assistência e
atendimento médico em caso de identificação de risco;
V - A enfermeira obstétrica e obstetriz são as responsáveis pela identificação dos sinais de início de trabalho de parto e
pelas avaliações subsequentes;
VI – A enfermeira obstétrica e obstetriz são responsáveis pela organização e funcionamento do processo de atendimento
integral provendo todos os recursos necessários, inclusive materiais de consumo e equipamentos necessários para o
atendimento ao parto domiciliar planejado e atendimento das intercorrências obstétricas até a chegada ao local de
referência, conforme instrumentos disciplinados no anexo;
http://rj.corens.portalcofen.gov.br/wp-content/uploads/2014/09/ctasm_001-2013_Pareceres-2013-e-2014.pdf
VII – A enfermeira obstétrica e obstetriz deverão utilizar no processo de trabalho materiais esterilizados de acordos com as
normas vigentes.
VIII – A enfermeira obstétrica e obstetriz deverão assegurar a transferência e o acompanhamento da mulher e/ou bebê para
a unidade de referência mais próxima ao seu domicílio ao primeiro sinal de intercorrência, gravidade e ou complicação.
Art. 2 - A enfermeira obstétrica e obstetriz devem ter a especialidade na área e ser registrada no Conselho Regional;
Art. 3 - À enfermeira obstétrica e obstetriz, como profissional liberal, incluem as seguintes competências e
responsabilidades básicas:
I – Cadastramento na Secretaria Municipal de Saúde local para identificação do profissional responsável e acesso à
Declaração de Nascido Vivo (DNV), bem como o cumprimento dos protocolos ou diretrizes definidas nos programas
governamentais ou por essa Secretaria .
II - Responsabilidade Técnica perante o órgão fiscalizador do exercício profissional sobre a assistência ao parto domiciliar
planejado;
III – Desenvolvimento de atividades técnico/científicas no domicilio de forma sistematizada.
IV – Registro, assinatura e carimbo sobre os cuidados prestados à mulher e ao recém-nascido em prontuário
individualizado;
V – Avaliação e registro contínuo dos indicadores dos resultados da assistência perinatal prestada.
Art. 4 - A enfermeira obstétrica e obstetriz fundamenta a assistência integral à mulher no parto domiciliar planejado por
meio de: I – Atenção Integral a Saúde da Mulher no ciclo gravídico-puerperal; II – Consulta de Enfermagem; III –
Prescrição de medicamentos conforme o estabelecido pelo Ministério da Saúde e disciplinado pelas Secretarias Estaduais e
Municipais de Saúde; IV – Solicitação de exames de rotina e complementares; V – Prestação de serviços de Enfermagem
domiciliar – Home Care; VI – Atuação na coleta de sangue do cordão umbilical e placentário de acordo com normas
vigentes; VII – Implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) em níveis de atendimento públicos
e privados.
Rio de Janeiro, em 6 de setembro de 2017.
Deputada ENFERMEIRA REJANE
PROJETO DE LEI Nº 3369/2017
http://www3.alerj.rj.gov.br/lotus_notes/default.asp?id=144&url=L3NjcHJvMTUxOS5uc2YvMGM1YmY1Y2RlOTU2MDFmOTAzMjU2Y2FhMDAyMzEzMWIvNDdhYTgzYTU3ZTFlNTE4YjgzMjU4MTk5MDA2YzIwNDY/T3BlbkRvY3VtZW50JkhpZ2hsaWdodD0
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PROJETO DE LEI Nº 3369/2017
JUSTIFICATIVA
Assim, uma mulher poderia se beneficiar dos cuidados profissionais no período pré-hospitalar,
chegando a unidade em momento oportuno, e podendo desfrutar dos benefícios/ conhecimentos deste
profissional durante o período de parto e pós-parto imediato em ambiente hospitalar.
Entretanto, em retrocesso, atualmente as mulheres que optam pelo acompanhamento de enfermeiras
obstétricas no Estado do Rio de Janeiro não conseguem a continuidade do acompanhamento prestado ao
chegarem às instituições, pois precisam escolher entre estar com a profissional ou com um acompanhante,
geralmente familiar, de sua livre escolha, conforme Lei 11.108 de 07 de abril de 2005.
Ressalte-se que o Estado do Rio de Janeiro já permite a entrada das Doulas, ocupação profissional cujo
objetivo é a promoção do suporte físico e emocional da mulher no momento do parto. Este projeto de lei visa a
aprimorar o campo de atendimento e respeito ao direito das mulheres por assistência, que poderão optar por
uma ou outra forma, garantindo que a mulher possa manter o vínculo profissional estabelecimento antes de sua
chegada à instituição.
http://www3.alerj.rj.gov.br/lotus_notes/default.asp?id=144&url=L3NjcHJvMTUxOS5uc2YvMGM1YmY1Y2RlOTU2MDFmOTAzMjU2Y2FhMDAyMzEzMWIvNDdhYTgzYTU3ZTFlNTE4YjgzMjU4MTk5MDA2YzIwNDY/T3BlbkRvY3VtZW50JkhpZ2hsaWdodD0
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Requisitos para uma norma jurídica existir...
VALIDADE
VIGÊNCIA EFETIVIDADE
NORMA JURÍDICA/LEI
EXISTÊNCIA EFICÁCIA
LEGITIMIDADE
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VIGÊNCIA EFETIVIDADE
NORMA JURÍDICA/LEI
EXISTÊNCIA EFICÁCIA
LEGITIMIDADE