Você está na página 1de 23

Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística

ICBAS - UP

MATERNIDADE LUCRÉCIA PAIM

Pré-eclampsia/Eclampsia
Avaliação Casuística

Mestrado Integrado em Medicina


Ano Lectivo 2010/2011

Dissertação
Artigo de Investigação Médica

Tânia Alvané
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

MATERNIDADE LUCRÉCIA PAIM

Pré-eclampsia/Eclampsia
Avaliação Casuística

Casuístic Valuation
Pré-clampsia/Eclampsia

Tânia Sofia Gonçalves Alvané a

Orientador: Prof. Doutor Jorge de Sousa Braga b


Co-orientadora: Drª Lígia Carvalho Alves c

a Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, Porto, Portugal


Endereço electrónico: tanialvane83@hotmail.com
b Centro Hospitalar do Porto- Maternidade Júlio Dinis, Porto, Portugal
c Maternidade Lucrecia Paim, Luanda, Angola

Porto, Junho 2011


Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

Resumo

As complicações hipertensivas que deu entrada na Maternidade

continuam a ser uma das principais Lucrécia Paim é entre os 26-35anos

causas de morte materna e de (41,4%). Vários estudos associam a

mortalidade e morbilidade perinatal. nuliparidade a Pré-eclampsia e

Com o objectivo de conhecer a Eclampsia sendo isso confirmado pelos

epidemiologia da Pré-eclampsia e nossos resultados uma vez que 32,9%

Eclampsia em mulheres africanas e das grávidas que deram entrada no

descrição do prognóstico materno e serviço acima referido eram nulíparas.

perinatal nas doentes que apresentam Ainda quanto aos factores de risco existe

essa patologia foi realizado um estudo uma correlação positiva entre a Pré-

que incidiu sobre 221 grávidas com Pré- eclampsia e Eclampsia com a

eclampsia e Eclampsia que deram hipertensão arterial prévia, história

entrada na Unidade de Toxémia da familiar de hipertensão e obesidade.

Maternidade Lucrécia Paim. Foi passível estabelecer algumas

Através da aplicação de um comparações com estudos feitos no

inquérito e avaliação da viabilidade fetal mundo Ocidental, permitindo enriquecer

a análise da presença de um conjunto de o conhecimento sobre a Pré-eclampsia e

características clínicas e factores de a Eclampsia, bem como a sua

risco que segundo a literatura epidemiologia numa amostra de

internacional acompanham esta doença. mulheres africanas.

Obteve-se uma forte correlação Segundo numerosos estudos

positiva entre os registos de tensões epidemiológicos, condições maternas

arteriais sistólicas e diastólicas na Pré- preexistentes e obstétricas estão

eclampsia e sobretudo na Eclampsia. A associadas ao desenvolvimento de

faixa etária com maior percentagem de complicações hipertensivas na gravidez,

grávidas com Pré-eclampsia e Eclampsia como a Pré-eclampsia e a Eclampsia.

1
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

O estudo demonstrou a relação Summary

entre determinados factores de The hypertensive complications

risco/achados clínicos presentes remain a major cause of maternal death

em grávidas com complicações and perinatal morbility and mortality.

hipertensivas, o que vai de encontro com In order to know the epidemiology of Pré-

os estudos realizados na Europa e nos eclampsia and Eclampsia in African

Estados Unidos. women and description of maternal and

O acompanhamento das grávidas perinatal outcomes in patients with this

e da evolução fetal durante as gestações pathology, was realized a study that

através da despistagem dos factores de focused on 221 pregnant women with

risco, poderão ser passos positivos no Pre-eclampsia and Eclampsia who

sentido da prevenção primária das were admitted to the Toxemia

complicações hipertensivas e Unit Lucrécia Paim Maternity.

morbilidade e mortalidade perinatal Through the application of an inquiry and

resultantes. assessment of fetal viability and analysis

of the presence of a set of clinical

Palavras-chave: Doenças characteristics and risk factors that

hipertensivas da gravidez; mortalidade according to international literature

materna; mortalidade perinatal; Pré- accompanying this disease.

eclâmpsia; Eclampsia. We obtained a strong positive correlation

between records of systolic and diastolic

arterial tension in Pre-eclampsia and

Eclampsia in particular. The age group

with the highest percentage of pregnant

women with Pré-eclampsia and

Eclampsia received at Lucrécia Paim

Maternity is among the 26-35 years

2
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

(41.4%). Several studies have and the United States.

associated nulliparity with Pre-eclampsia The monitoring of pregnancy and

and Eclampsia, this is confirmed by our fetal development during pregnancy

results since 32.9% of pregnant women through screening of risk factors may be

received at the above service were positive steps towards to the primary

nulliparous. Still as to the risk factors prevention of hypertensive complications

there is a positive correlation between and perinatal morbidity and mortality

Pre-eclampsia and Eclampsia with outcomes.

prior hypertension, family history


Keywords: Hypertensive diseases of
of hypertension and obesity.
pregnancy, maternal mortality, perinatal
It was possible to establish comparisons
mortality, Pré-eclampsia, Eclampsia.
with studies done in the Western world,

allowing to enrich knowledge about pre-

eclampsia and eclampsia, as well as its Introdução

epidemiology in a sample of African As doenças hipertensivas da

women. gravidez continuam a ser das causas

According to many epidemiological mais importantes de mortalidade

studies, maternal and obstetric materna e, um factor contributivo

background conditions are associated significativo para a morbilidade

with the development of hypertensive (prematuridade, restrição crescimento

complications in pregnancy such intra-uterino) e mortalidade perinatal por

as Pré-eclampsia and Eclampsia. todo o Mundo. Na América Latina e

The study demonstrated the relationship Caraíbas os distúrbios hipertensivos

between certain risk factors and clinical continuam a ser responsáveis por cerca

findings present in pregnant women with de 26% das mortes maternas enquanto

hypertensive complications, which agree em África e na Ásia contribuem com

with other to studies in Europe 9%[1]. Em Angola, por exemplo, na

3
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

Maternidade Lucrécia Paim, no mês de A Eclampsia e uma complicação

Abril de 2010, em cerca de 12% dos neurológica major da Pré-eclampsia e

partos ocorreram complicações define-se por uma manifestação

hipertensivas obstétricas relacionadas convulsiva e/ou alterações do estado de

com Pré-eclampsia e Eclampsia [2]. consciência num contexto de Pré-

A Pré-eclampsia parece eclampsia sem relação com outra

complicar entre 2 a 8% das gestações é, doença neurológica pré-existente[5].

em conjunto com outros distúrbios A etiologia da Pré-eclampsia

hipertensivos da gravidez, e um permanece por esclarecer apesar de

contributo major para a mortalidade vários factores de risco terem sido

materna[3]. A gravidez pode induzir identificados, nomeadamente, a

hipertensão arterial (HTA) em mulheres nuliparidade, Pré-eclâmpsia previa,

anteriormente normotensas ou agravá-la obesidade, gestações múltiplas, gravidez

em grávidas com HTA pré-existente a gemelar, raça negra, baixo nível

gestação. O síndrome hipertensivo pode socioeconómico e outras condições

ser desencadeado pelo próprio estado médicas subjacentes tais como a

gravídico ou ser agravado por este hipertensão e diabetes[6].

sendo em geral, acompanhado por

proteinúria ou edemas significativos. A Nos Estados Unidos da América

HTA induzida pela gravidez e (EUA), a incidência de Pré-eclampsia

considerada actualmente, apenas uma está a aumentar[7]. Estes dados

manifestação de uma doença poderão estar relacionados com o

multissistémica, característica do estado aumento da prevalência de factores

gestacional na espécie humana, predisponentes anteriormente referidos.

designada genericamente por Pré- Sabe-se muito pouco sobre as

eclâmpsia[4]. características epidemiológicas da Pré-

eclâmpsia em populações fora dos EUA

4
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

e da Europa, pois a maioria dos estudos genéticos, todos parecem desempenhar

abarcou indivíduos de raça caucasiana. um papel neste processo[4].

Alguns grupos étnicos (ex: Afro- O objectivo deste estudo é a

Americanos) e aqueles com status descrição do prognóstico materno e peri-

socioeconómico baixo estão associados natal em doentes com Pré-

a um risco elevado[1]. No entanto existe eclampsia/Eclampsia na Maternidade

muito pouca informação sobre os Lucrécia Paim, Luanda. Com este

factores de risco para as complicações estudo, pretende-se dar algum contributo

hipertensivas da gravidez em países para a literatura existente sobre

lusófonos como Angola. complicações hipertensivas na gravidez,

Apesar das crises convulsivas analisar o comportamento e a relação de

generalizadas que definem a Eclampsia cada um dos factores de risco e suas

complicarem 2 a 3 casos/10000 nados características e estabelecer o paralelo

vivos na Europa, a eclâmpsia é 10 a 30 com estudos semelhantes desenvolvidos

vezes mais comum nos países em em África e no mundo desenvolvido.

desenvolvimento, tais como Angola. A

Eclampsia per si é responsável por


Material e Métodos
50000 mortes maternas em todo o

mundo anualmente, em particular nos Este estudo descritivo baseou-se

países em desenvolvimento[5]. em dados recolhidos na Unidade de

As manifestações clínicas da PE Toxémia da Maternidade Lucrécia Paim

podem ser explicadas devido à resposta (UTMLP), em Luanda, durante o mês de

materna à disfunção endotelial Agosto de 2010. Esta maternidade é

generalizada. Anomalias do uma instituição de saúde pública, do

desenvolvimento da circulação útero- nível terciário, especializada na

placentária ocorrem muito antes destas. assistência de saúde materno-infantil,

Os factores ambientais, imunológicos e com carácter docente e de investigação.

5
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

Todos os passos do estudo foram mulheres que apresentaram clínica de

aprovados com o consentimento do Pré-eclampsia/Eclampsia na Unidade de

Director Geral da Maternidade. Toxémia. Tendo em conta a diferença

Na Unidade de Toxémia eram dos quadros clínicos hipertensivos, as

admitidas apenas mulheres com clínica doentes era sub-divídidas em

de Pré-eclampsia e Eclampsia enfermarias dirigidas a grávidas com

distinguidas de forma aproximada e Pré-eclampsia e Eclampsia.

ponderada consoante os seguintes Depois de um consentimento

critérios: verbal das pacientes com explicação da

 Pré-eclampsia: desenvolvimento de intenção do estudo, estas mulheres

Hipertensão e proteinúria, após 20 foram entrevistadas no leito segundo um

semanas de gestação ou antes formulário estruturado e através de

desse período na doença algumas medidas objectivas do estado

trofoblástica. físico actual e prévio. Se uma grávida

 Eclampsia: acidente agudo estivesse muito debilitada para ser

paroxístico definido como o entrevistada, o inquérito era protelado ou

desenvolvimento de convulsões feito com informações de familiares. A

tónico-clónicas generalizadas, duração das entrevistas foi de 5 a 10

seguidas ou não de um estado minutos. De salientar, que na respectiva

comatoso, em gestantes ou recolha dos dados, foram cumpridas

puérperas que preenchem os todas as normas de confidencialidade e

critérios de Pré-eclampsia, excluindo todos os princípios éticos inerentes,

as convulsões neurológicas, segundo as regras da instituição em

anestésicas, farmacológicas ou por causa.

complicações metabólicas. Na recolha de dados

Durante o período de estudo, pesquisaram-se informações sobre os

Agosto de 2010, foram internadas 210 seguintes parâmetros/variáveis: idade da

6
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

grávida, nº de gestações prévias, indicador do valor da pressão diastólica.

factores de risco associados a A análise estatística e descritiva

complicações hipertensivas na gravidez, dos dados foi desenvolvida recorrendo

valores tensionais, presença de edema, ao auxílio do “software” SPSS (Statistical

tipo de parto, patologias associadas, Package for the Social Sciences, SPSS

tempo de gestação e morbilidade Inc.) versão 17.0 para o Windows.

perinatal. Informações sobre a presença

de complicações gestacionais Resultados

hipertensivas prévias ou perdas fetais Das 210 mulheres grávidas

passadas também foram investigadas, houve 221 partos dado que 10

assim como, o Apgar ao 1º e 5º minuto e parturientes tiveram gestações múltiplas.

o estado da grávida após o parto. A média de semanas de gestação foi

O tempo de gestação foi entre as 38 e 39 semanas. A distribuição

estimado consoante o último período etária encontra-se na tabela I e II. A

menstrual relatado pelas participantes. média de gestações prévias das

O registo de tensão arterial foi grávidas era de 2,16 (DP= 2,267), sendo

feito pela investigadora através de de realçar uma mãe com 12 gestações.

um esfigmomanómetro mecânico e Das 10 mães com cesarianas prévias,

estetoscópio ao nível do coração, com a 80% delas teve parto distócico durante o

grávida deitada a 45º, sendo que o 5º estudo. A percentagem de mães com

som de korotkoff era tipicamente abortos prévios é de 35.6%.

Tabela I – Idade máxima e mínima das mulheres admitidas na UTMLP


Mínima Máxima Média Desvio padrão
Idade 14 45 27,18 7,697

7
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

Tabela II – Distribuição por faixas etárias nas mulheres admitidas na UTMLP


Frequência Percentagem Percentagem
cumulativa
<18 Anos 24 11,4 11,4
(adolescentes)
18-25 65 31,0 42,4
26-35 87 41,4 83,8
36 a 50 anos 34 16,2 100,0
Total 210 100,0

Todas as grávidas eram de raça Naturalmente, há uma forte

negra. Na tabela III podemos analisar a correlação positiva entre os registos de

distribuição de alguns factores de risco tensões arteriais sistólicas e diastólicas

presentes nas grávidas. na Pré-eclampsia (r=0,611; n= 164;

Nas enfermarias, as p<0,001) e sobretudo na Eclampsia

participantes apresentavam uma (r=0,707, n=46; p<0,001. Através da

distribuição de tensão arterial sistólica comparação de médias em amostras

com uma média de 161,10 (DP= independentes, pretendeu-se avaliar se

25,756). Das 210 grávidas, 164 poderíamos afirmar que as grávidas a

(78,1%) apresentavam critérios clínicos quem foi diagnosticado Pré-eclampsia

de Pré-eclampsia e 46 (21,9%) tem uma tensão sistólica mais baixa

apresentavam clínica de Eclâmpsia. A que aquelas a quem foi diagnosticado

média dos registos tensionais sistólicos Eclampsia.

e diastólicos para grávidas com Pré- Cerca de 150 (67,9%) grávidas

eclampsia foi de 160,06 (DP= 24,256) e apresentavam-se edemaciadas, sendo

102,55 (19,342). Nas grávidas que que, 65,2% das grávidas edemaciadas

desenvolveram Eclampsia a média dos apresentavam hipertensão sistólica

registos sistólicos e diastólicos foi de (TAS>140mmHg) e 61,5% das

164,78 (DP= 30,352) e a diastólica de grávidas edemaciadas apresentavam

105,00 (DP= 20,083). hipertensão diastólica (TAD>90mmHg).

8
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

de 32 (15,2%) bebés nasceram antes

De referir que 12% das grávidas das 37 semanas sendo de destacar

apresentavam patologia associadas que 21,9% dos bebés com apgar 0 ao

durante a gestação (tabela 4). 5º minuto eram prematuros para 9,5%

Cerca de 49% das parturientes não prematuros. Destaca-se ainda que

tiveram parto eutócico e 51% por 29,2% das mortes perinatais

cesariana. Registaram-se 5 mortes corresponderam a mães com mais de

maternas e 25 mortes fetais. A 35 anos.

distribuição dentro da escala de apgar

ao 1º e ao 5º minuto do recém nascido

encontra-se no gráfico 1 e 2. A média

do apgar ao 5º minuto para gestantes

com Pré-eclampsia e com Eclampsia

foi de 6,46 (DP = 2,854) e de 4,54 (DP

=2,722) respectivamente. O apgar ao

1º e ao 5º minuto foi <7 minuto em

67,9% e 43,9% respectivamente. Cerca

9
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

Tabela III – Caracterização dos factores de risco nas mulheres admitidas na UTMLP

Frequência Percentagem

Complicações não 186 88,6%


hipertensivas na sim 24 11,4%
Gravidez Prévia

História familiar não 105 50%


de HTA
sim 105 50%

Multiparidade não 105 50%


sim 105 50%

Primiparidade não 141 67,1%


sim 69 32,9%

HTA não 168 80%


sim 42 20%

não 122 58,1


Obesidade sim 88 41,9

Tabela IV – Patologias associadas durante a gravidez nas mulheres admitidas na


UTMLP
Nº %

malária 5 2,4
HIV 1 ,5
edema agudo 2 1,0
pulmão
anemia 1 ,5
malária + diabetes 1 ,5
malária + AVC 1 ,5
diabetes+epilepsia 1 ,5
sem patologia 198 94,3
Total 210 100,0

10
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

Índice de Apgar

Índice de Apgar

Gráfico 1- Índice de Apgar ao 1º (gráfico A) e ao 5º (gráfico B) minuto nas mulheres


admitidas na UTMLP

11
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

Discussão diferenças, contudo particularidades

Numerosos estudos sóciodemográficas podem condicionar

epidemiológicos retratam a relação prevalências distintas.

entre determinados factores de risco Sendo um estudo casuístico, a

associados ao desenvolvimento de discussão dos resultados é limitada

complicações hipertensivas na gravidez pela incapacidade de poder comparar

com repercussões negativas ao nível as características investigadas com

da morbi-mortalidade materna e uma amostra controlo que não

perinatal. Neste estudo foram tivesse desenvolvido complicações

investigadas as características hipertensivas e que tivesse dado

maternas com diagnóstico de Pré- entrada na mesma maternidade.

eclampsia e Eclampsia que deram A maioria dos estudos sobre os

entrada na unidade de Toxémia da factores de risco e consequências da

Maternidade Lucrécia Paim. Pré-eclampsia e Eclampsia têm sido

Comparando com os dados do aplicados na população caucasiana,

relatório do 2º trimestre da Maternidade sendo este estudo uma importante

Lucrécia Paim constata-se que a média oportunidade para investigar estas

de grávidas que desenvolve Pré- variáveis em mulheres de raça negra,

eclampsia ou Eclampsia é de cerca de sabendo-se, à priori, que per si esta

11%, valor este que se situa característica constitui um factor de

ligeiramente acima da média de alguns risco[8]

estudos europeus que nos apontam Não é ainda claro se a

para uma prevalência de 2 a 8% [1] mas maternidade precoce (<18 anos)

inferior a outros estudos realizados em constitui um factor de risco para

território africano, com prevalências de complicações hipertensivas[6;9] no

cerca de 15%[1;4]. Não é objectivo entanto, neste estudo, 11,4% das

deste trabalho investigar estas nossas grávidas eram adolescentes.

12
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

Quanto à idade materna avançada gravidade dessas complicações na

vários estudos apontam para gravidez anterior. Neste estudo, cerca

um aumento da incidência de de 11,4 % das grávidas desenvolveram

complicações hipertensivas em Pré-eclampsia ou Eclampsia, o que se

grávidas com idades superiores a 35 encaixa nos achados de Campbell.

anos[10;6]. No nosso estudo, 16.2% das Noutro estudo[13], onde foram

grávidas tinham idades superiores a 35 avaliadas grávidas sem complicações e

anos. grávidas que desenvolveram

Pela análise dos dados, vemos, complicações hipertensivas, cerca de

porém, que a mortalidade peri-natal foi 61,8% das mães que desenvolveram

maior em proporção nas mães com Pré-eclampsia eram nuliparas, tendo

mais de 35 anos do que nas ficado patente neste estudo

adolescentes, em consonância com comparativo que a nuliparidade

vários estudos que afirmam que a triplicava o risco de Pré-eclampsia. No

idade materna avançada é um factor de nosso estudo, temos um valor inferior

risco para o sucesso da gravidez, não de 32,9% de mães nuliparas,

só pela coexistência de outras muito semelhante a um estudo

comorbilidades como diabetes descritivo desenvolvido em mulheres

gestacional mas também como factor Taiwanesas, onde cerca de 32,5% das

independente[11]. grávidas com complicações

Num estudo de Campbell e hipertensivas eram primigravidas[14].

seus colaboradores[12], constatou-se Sendo a hipertensão crónica um factor

que a percentagem de grávidas com de risco para a sobreposição de Pré-

Pré-eclampsia ou Eclampsia que eclampsia durante a gravidez[15] no

tinham desenvolvido complicações nosso estudo constatámos que cerca

hipertensivas em gestações prévias de 20 % das grávidas tinham

varia entre 7,5 a 11,9% consoante a hipertensão arterial antes da gravidez,

13
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

embora, neste estudo seja importante A média dos registos tensionais

realçar que cerca de 50% das grávidas situou-se bem acima dos valores

tinham história familiar de hipertensão. considerados cut-off para o diagnóstico

No entanto, vários estudos confirmam a de Pré-eclampsia (140/90mmHg),

associação entre história familiar de sendo que as médias tensionais para

hipertensão e o desenvolvimento de as grávidas que desenvolveram

complicações hipertensivas na Eclampsia eram superiores das

gravidez[16;17] em percentagens grávidas que desenvolveram Pré-

semelhantes (54%), daí que seja eclampsia, no entanto, as diferenças

natural a elevada percentagem de dos valores tensionais sistólicos e

grávidas que tinham história familiar de diastólicos entre as grávidas que

hipertensão. desenvolveram Pré-eclampsia e

A obesidade e um factor de Eclampsia não é estatisticamente

risco para o desenvolvimento significativas. Por outro lado, ao

de complicações hipertensivas tentarmos avaliar potenciais diferenças

obstétricas[18;19]. Incrivelmente, no nas tensões arteriais sistólicas entre

nosso estudo tivemos cerca de 41,9% grávidas com complicações

de mulheres com um índice de massa hipertensivas que variaram entre Pré-

corporal acima de 30 (obesa). Não eclampsia ligeira, Pré-eclampsia grave,

sendo o objectivo do nosso estudo, é constatamos que também não existiam

necessário, porém, elucidar melhor os diferenças significativas entre os três

mecanismos biológicos, ainda em grupos de grávidas. Ou seja, tal como

investigação, por detrás de uma nos diz Quirino no seu estudo[19]. O

associação consistente entre a risco de desenvolver Eclampsia parece

obesidade materna e as complicações ser imprevisível e não estar relacionado

hipertensivas. com os sinais e sintomas de Pré-

eclampsia, nomeadamente os níveis de

14
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

pressão arterial. Naturalmente, como não foram tidos em conta outros

seria de esperar, as tensões arteriais factores de risco com impacto (alguns

sistólicas e diastólicas surgem deles colhidos mas não analisados),

fortemente correlacionadas pois estas nomeadamente, a diabetes gestacional

complicações hipertensivas, por e tipo 2, malária, proteinúria, abortos

definição, são apenas dependente do prévios, intervalo de tempo entre

aumento da tensão arterial, sociodemograficas mais detalhadas

independentemente de estas serem entre outras, acrescendo ainda o facto

diastólicas ou sistólicas. de não haver amostra controlo que não

tivesse desenvolvido complicações

Conclusão hipertensivas na mesma maternidade.

Segundo numerosos estudos Alem disso, a fiabilidade dos

epidemiológicos, condições maternas diagnósticos das complicações

preexistentes e obstétricas estão hipertensivas registada numa base de

associadas ao desenvolvimento de dados não foi determinada, pois foi

complicações hipertensivas na feita apenas pelo mesmo observador e

gravidez, como a Pré-eclampsia e a dada a heterogeneidade clínica destas

Eclampsia. Tendo como principal doentes, estes dados são limitados ate

objectivo o desenvolvimento de um certo ponto. No entanto, alguns

estudo descritivo estatístico, a validade resultados encontrados em

inferencial deste trabalho e limitado a congruência com outros estudos,

análise parcial de um conjunto de parecem confirmar um certo cuidado e

dados colhidos de uma única precisão na colheita de dados.

maternidade. Acrescenta-se ainda, em tom positivo,

Analisar só 221 casos poderá a ausência de “missings” em todas as

constituir uma amostra pequena sujeita variáveis colhidas, o que sublinha a

a mais viéses de selecção; também persistência do trabalho do observador

15
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

dando alguma tranquilidade para a

análise dos dados. Agradecimentos

Os dados recolhidos vão de Um agradecimento especial ao

encontro aos estudos realizados Professor Doutor Jorge Braga, por

anteriormente na Europa e Estados ter aceite a orientação cientifica deste

Unidos. trabalho, pela sua pronta

Sendo que a maioria das grávidas não disponibilidade, simpatia e pela sua

fazia controlo ecográfico não é grande dedicação e ajuda.

possível estabelecer qualquer Ao Dr. Carlos Ferreira, que se

associação entre factores do mostrou sempre disponível e cujo apoio

crescimento fetal e desenvolvimento foi fundamental no tratamento

placentário que parecem também estatístico dos dados.

influenciar o desenvolvimento e o Ao Professor Dr. Serafim

prognostico de complicações Guimarães e Dr. Pedro Serrano, pela

hipertensivas na gravidez. A redução disponibilidade e amabilidade que

de peso, o controlo tensional antes e tiveram para comigo e por terem sido

durante as gestações e um maior cruciais fazendo de ponte de contacto

acompanhamento das grávidas e da com o Dr. Luís Bernardino e Dr.

evolução fetal durante as gestações Abreu Tondesso, que foram a chave

através da despistagem dos factores de todo o sucesso deste estudo

de risco pela clínica e imagiologia, realizado na Maternidade Lucrécia

poderão ser passos positivos no Paim, em Luanda, Angola.

sentido da prevenção primária das À Drª Lígia Alves por tudo o

complicações hipertensivas e que me ensinou, por todo seu apoio e

morbilidade e mortalidade perinatal toda a sua colaboração neste estudo.

resultantes.

16
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

Agradeço a toda a equipa da 2- Quinto, F. Relatorio da

Maternidade Lucrécia Paim, pelo bom Maternidade Lucrecia Paim II

ambiente de trabalho, ajuda e simpatia. trimestre, 2002.

Não podia esquecer de

agradecer à minha família e amigos, 3- Khalid F, Ismail H.; William L.

pelo seu enorme suporte, Prediction of Preeclampsia: Can

especialmente aos meus pais que it be Achieved, Obstetric

tornaram possível toda esta and Gynecological Survey,

experiência. volume59, number 6.

A todos, que de alguma

maneira deram a sua contribuição para 4- Eric A P Steegers, Peter von

a realização deste trabalho. Dadelszen, Johannes J

Duvekot, Robert Pijnenborg,

Referências Kassam M, Pre-Eclampsia,

Lancet 2010; 376-631, 44.

1- Eric A P Steegers, Peter von

Dadelszen, Johannes J 5- O. Collange, A. Launoy,

Duvekot, Robert Pijnenborg, A. Kopf-Pottecher,, J.-L.

KAssam M, Risk factors for pre- Dietemann, T. Pottecher,

eclampsia among Zimbabwean Eclampsia, Annales Françaises

women: maternal arm d’Anesthésie et de Réanimation

circumference and other 29 (2010) e75–e82.

anthropometric measures of

obesity The Lancet 21 August 6- Conde-Agudelo A, Beliza´n JM.

2010; Volume 376, Issue 9741: Risk factors for preeclampsia in

Page 631. a large cohort of Latin American

and Caribbean women. Br J

17
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

Obstet Gynaecol 2000;107:75–

83. 11- Newburn-Cook CV, Onyskiw JE.

Is older maternal age a risk

7- Robert L Goldenberg, Jennifer F factor for preterm birth and fetal

Culhane, Jay D Iams, Roberto growth restriction? A systematic

Romero, Epidemiology and review. Health Care Women Int

causes of preterm birth, Lancet 2005;26:852–75.

Vol 371 January 5, 2008.

8- Mostello D, Catlin TK, Roman L, 12- Campbell DM, MacGillivray I,

Holcomb WL, Leet T. “Pre- Carr-Hill R: Pre-eclampsia in

eclampsia in the parous woman: second pregnancy. Br J Obstet

Who is at risk?” Am J Obstet Gynaecol 92:131-140, 1985.

Gynecol. 2002; 187; 425-429.

13- Dawn P Misraa and John L

9- Jacobsson B, Ladfors L, Milsom Kielyb, The Association

I. Advanced maternal age and Between Nulliparity and

adverse perinatal outcome. Gestational Hypertension,

Obstet Gynecol 2004;104:727– Journal of Clinical

33. EpidemiologyVolume 50, Issue

7, July 1997, Pages 851-855.

10- Lee CJ, Hsieh TT, Chiu TH,

Chen KC, Lo LM, Hung TH. 14- Ching-Ming Liu,* Po-Jen Cheng,

Risk factors for preeclampsia in Shuenn-Dyh Chang Maternal

an Asian population. Int J Complications and Perinatal

Gynaecol Obstet 2000;70:327– Outcomes Associated with

33. Gestational Hypertension and

18
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

Severe Preeclampsia in history of hypertension and

Taiwanese Women Formos hypercholesterolemia.,

Med Assoc | 2008 • Vol 107 • Hypertens Pregnancy.

No 2. 2005;24(3):259-71.

15- A. Mayer 162 et al. / European 18- Rosenberg, T.J. et al. (2003)

Journal of Obstetrics & Prepregnancy weight and

Gynecology and Reproductive adverse perinatal outcomes in

Biology 133 (2007) 157–163. an ethnically diverse population.

Obstet. Gynecol. 102, 1022–

16- Bezerra PC, Leao MD, Queiroz 1027.

JW, Melo EM, Pereira FV,

Nobrega MH, Jeronimo AK, 19- Quirino T. (2007) Cause Delle

Ferreira LC, Jeronimo SM, de Morti Materne Per Malattia

Araujo AC., Family history of Ipertensiva Della Gravidanza

hypertension as an important In Angola 2001-2005

risk factor for the development E Nell’ospetale Generale

of severe preeclampsia., Specializzato Materno Infantile

Health Graduate Program, Del Kilamba Kiaxi-Luanda

Universidade Federal do Rio


20- Alan Buchbinder, MD, Baha M.
Grandedo Norte, Natal, RN,
Sibai, MD, Steve Caritis, MD,
Brazil.2010.
Cora MacPherson, PhD, John

Hauth, MD, Marshall D.


17- Roes EM, Sieben R, Raijmakers
Lindheimer, MD, PhD, Mark
MT, Peters WH, Steegers EA.,
Klebanoff, MD, Peter
Severe preeclampsia is
VanDorsten, MD, Mark Landon,
associated with apositive family
MD, Richard Paul, MD,

19
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

Menachem Miodovnik, MD, Paul Neonatal Outcomes in Woman with

Meis, MD, and Gary Thurnau, Preeclampsia.

MD, for the National Institute of


24- Mark G. Newman, MD,a Alfred
Child Health and Human
G. Robichaux, MD,a Charles M.
Development Network of
Stedman, MD,a Ronald K.
Maternal-Fetal Medicine Units,
Jaekle, MD,aM. Todd Fontenot,
Bethesda Maryland*Adverse
MD,b Tony Dotson, MD,b and
perinatal outcomes are
David F. Lewis, MDb, Perinatal
significantly higher in severe
outcomes in preeclampsia that
gestational hypertension than in
is complicated by massive
mild preeclampsia Volume 186,
proteinúria Volume 188,
Number 1 Buchbinder et al 71
Number 1 Newman et al 265
Am J Obstet Gynecol, 2002.
Am J Obstet Gynecol, 2003.

21- Berkowitz GS, Skovron ML,


25- Philip J Steer, Mark P Little,
Lapinski RH, Berkowitz RL.
Tina Kold-Jensen, Jean
Delayed childbearing and the
Chapple, Paul Elliott Maternal
outcome of pregnancy. N Engl
blood pressure in pregnancy,
J Med 1990;322:659–64.
birth weight, and perinatal

22- Cedergren, M.I. (2004) Maternal mortality in first births:

morbid obesity and the risk of prospective study BMJ,

adverse pregnancy outcome. doi:10.1136/bmj.38258.566262.

Obstet. Gynecol. 103, 219–224. 7C.

23- Mandana Saadat1*, Soheila 26- Shakila Thangaratinam*1, Arri

Marzoughian Nejad2, Coomarasamy1, Fidelma

Gholamreza Habibi3, Mehrdad O'Mahony2, Steve Sharp3,

Sheikhvatan3; Maternal and

20
Pré-Eclampsia/Eclampsia – Avaliação casuística
ICBAS - UP

Javier Zamora4, Khalid S Khan1 Preeclampsia-like Syndrome

and Khaled MK Ismail2 Characterized by Reversible

Hypertension and Proteinuria


27- Estimation of proteinuria as a
Induced by the Multitargeted
predictor of complications of
Kinase Inhibitors Sunitinib and
pre-eclampsia: a systematic
Sorafenib, journal of national
review BMC Medicine 2009,
cancer institute, 2011.
7:10

31- T’sang-T’ang Hsieh a,b, Jui-Der


28- Stefano Raffaele Giannubilo *,
Liou a,b, Jenn-Jeih Hsu a,b,
Bernardo Dell’Uomo, Andrea L.
Liang-Ming Lo a, Szu-Fu Chen
TranquilliPerinatal outcomes,
c, Tai-Ho Hung a,b,* Advanced
blood pressure patterns and risk
maternal age and adverse
assessment of superimposed
perinatal outcomes in an Asian
preeclampsia in mild
population; European Journal of
chronic hypertensive pregnancy
Obstetrics & Gynecology and
European Journal of Obstetrics
Reproductive Biology.
& Gynecology and Reproductive

Biology 126 (2006) 63–67. 32- W. Visser, H,C.S. Wallenhurg

/ European Journal q/ Obstetrics


29- Taiwan J Obstet Gynecol •
& Gynecology and
September 2007 • Vol 46 • No 3.
Reproductive Biology 63 (1995)

30- Tejas V. Patel, Jeffrey A. 147 154 Maternal and perinatal

Morgan, George D. Demetri, outcome of temporizing

Suzanne George, Robert G. management in 254 consecutive

Maki, Michael Quigley and patients with severe pre-

Benjamin D. Humphreys, A eclampsia remote from term.

21

Você também pode gostar