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Centro Biomédico
Faculdade de Ciências Médicas
Rio de Janeiro
2023
Bruna Alves da Silva Pimentel
Rio de Janeiro
2023
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/BIBLIOTECA CB-A
CDU 579.862:618.2
Autorizo apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese, desde que
citada a fonte.
______________________________________ _____________________
Assinatura Data
Bruna Alves da Silva Pimentel
Rio de Janeiro
2023
DEDICATÓRIA
“Quanto aos nossos, que aprendam a dedicar-se à prática de boas obras, a fim de que
supram as necessidades diárias e não sejam improdutivos”. (Tito 3:14)
Nova Versão Internacional Bíblia Sagrada
AGRADECIMENTOS
Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o
produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da
malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no
Senhor; exultarei no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é a minha força, e fará os
meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas. (Habacuque 3:17-
19)
Agradeço aquele que sustentou até aqui, que fez com que tivesse forças para continuar.
LOUVADO SEJA DEUS! Agradeço em primeiro lugar à ele, por graça e misericórdia na
minha vida e que o nome dele seja bendito e louvado, desde agora e para todo sempre,
Amém! Este trabalho não seria realizado se não houvessem pessoas por trás, pessoas tão
maravilhosas e competentes que junto a mim executassem tal missão.
Agradeço a vida da minha orientadora Prof. Prescilla, que impulsionou me e vendo
capacidade até onde não havia, me auxiliou com todo empenho e forças, ouvindo me não só
como profa, mas também amiga que Deus colocou no meu caminho, louvo à Deus pela sua
vida! Te amo e obrigada!
Agradeço por todos presentes no grupo LBMFE os quais ajudaram sem medidas, não me
ausentando de nenhum componente, afinal, somos um grupo e sem cada um, nada disso seria
possível: Profa Gabriela Jonathan (amiga e colega de trabalho, te amo, gratidão); Kaian (não
mediu auxílio/esforços em nada, que você realize todos seus sonhos, gratidão); Rose (amiga e
prestativa em tudo, gratidão), Pamella, João, Julyana, Noemi, Isabelle, Eduarda, Dayane e
Lucas, todos, até os recém chegados (ICs), GRATIDÃO;
Agradeço aos amigos do HMCD que me ajudaram todo tempo, sentirei saudades, as
nossas manhãs eram ímpares! Vocês são nota 1000;
Agradeço ao GEAD UERJ (Grupo de estudantes adoradores de Deus), obrigada pela
amizade e apoio em fé e ousadia na palavra de DEUS;
Agradeço ao apoio dos familiares (Mãe e Pai) e amigos pessoais os quais foram
fundamentais para que chegasse até aqui, pela força que me ajudou a prosseguir;
Agradeço à IPAMPD (Ig. Pentecostal Apóstólica Ministério Promessa de Deus) minha
casa espiritual a qual juntamente com a minha líder Bp Marcia Franco, orou por este
momento e auxiliou me em tudo;
Agradeço ao meu noivo Thiago, meu amor, que ajuda, e não mede esforços para me
auxiliar, mesmo estando longe grande parte do tempo. Te amo!
Agradeço à todos que de alguma maneira me apoiaram em tal missão. Deus os abençoe e
recompense mil vezes mais.
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 30
1.1 Objetivo geral ....................................................................................................... 30
1.2 Objetivos específicos ............................................................................................ 30
2 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................ 31
2.1 Coleta de dados das gestantes colonizadas por S. agalactiae............................ 31
2.2 Coleta de swabs retais e vaginais de gestantes................................................... 31
2.3 Coleta de swabs de orelhas externa e umbigo de neonatos.............................. 32
2.4 Cultivo Identificação e armazenamento bacteriano......................................... 32
2.4.1 Coloração de Gram................................................................................................. 32
2.4.2 Catalase................................................................................................................... 33
2.4.3 Fator CAMP (Christie, Atkins, Munch-Petersen)………………………………... 33
2.4.4 Identificação sorológica das amostras de S. agalactiae.......................................... 33
2.4.5 Armazenamento e utilização das amostras de S. agalactiae................................... 34
2.5 Identificação por MALDI-TOF MS.................................................................... 34
2.6 Teste de susceptibilidade aos antimicrobianos................................................... 35
2.7 Tipagem capsular das amostras de S. agalactiae por PCR-multiplex.............. 35
2.8 Identificação dos fatores de virulência por PCR................................................ 36
2.9 Tipagem de sequências Multilocus (MLST)....................................................... 38
2.10 Ensaios de interação das amostras de S. agalactiae com células epiteliais
alveolares humanas (A549).................................................................................. 36
3 RESULTADOS...................................................................................................... 40
3.1 Coleta de dados...................................................................................................... 40
3.1.1 Faixa etária de gestantes.......................................................................................... 40
3.1.2 Cor de pele das gestantes por autodeclaração......................................................... 41
3.1.3 Comorbidades presentes em gestantes colonizadas pelo S. agalactiae.................. 41
3.2 Coleta de amostras................................................................................................ 42
3.3 Identificação das amostras isoladas de gestantes e neonatos............................ 43
Perfil de resistência aos antimicrobianos das amostras de S. agalactiae
3.4 43
isoladas de gestantes e neonatos...........................................................................
3.5 Tipagem Capsular................................................................................................. 46
3.6 Detecção de genes de fatores de virulência......................................................... 49
3.7 Tipagem de sequência multilocus (MLST)......................................................... 54
3.8 Ensaios de interação com células epitélio respiratório humano (A549)........... 57
4 DISCUSSÃO.......................................................................................................... 61
CONCLUSÕES..................................................................................................... 73
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 75
INTRODUÇÃO
Streptococcus agalactiae
2008; PHARES et al., 2008). O complexo clonal hipervirulento ST-17 possui tropismo por
meninges, ligando-se especificamente à vimentina e está presente em isolados neonatais
invasivos, mas não em amostras isoladas de portadores assintomáticos (DORAN et al., 2003).
Gestantes e neonatos
Fatores de Virulência
uma maneira específica (CARLIN et al. 2007). Recentemente, a interação do ácido siálico de
S. agalactiae com o Siglec-9 em humanos, induziu a supressão da ativação plaquetária e a
liberação de peptídeos antimicrobianos, contribuindo para a virulência do microrganismo
(UCHIYAMA et al., 2019; NIZET et al., 2020).
A C5a peptidase é uma proteína multifuncional expressa na superfície do S.
agalactiae. Essa peptidase é capaz de fragmentar a anafilotoxina C5a do sistema
complemento, interferindo na atividade de neutrófilos e promovendo a sobrevivência do S.
agalactiae frente à imunidade inata do hospedeiro (SANTILLAN et al., 2011; MCKENNAN
et al., 2021). A C5a peptidase possui papel de ligação à fibronectina, auxiliando na aderência
e invasão celular (BECKMANN et al., 2002; CHENG et al., 2002).
Integrinas e proteínas da matriz extracelular (MEC) como fibronectina, fibrinogênio
e laminina são utilizadas pelo S. agalactiae como facilitadoras da interação durante a
internalização na célula hospedeira. A proteína Lmb é codificada pelo gene lmb a qual
favorece a aderência bacteriana, sendo essencial para a colonização do patógeno ao epitélio
danificado e translocação para a corrente sanguínea (MOUSLIM et al., 2004; TENENBAUM
et al., 2007; KACZOREK et al., 2017). O fibrinogênio é uma proteína presente no plasma
sanguíneo e na MEC que desempenha importante função no processo de cicatrização.
Atualmente, três proteínas de ligação ao fibrinogênio em S. agalactiae têm sido descritas:
FbsA, FbsB e FbsC (HAY et al., 1991; FUSS et al., 2001; MOSESSON et al., 2001;
SHABAYEK & SPELLERBERG et al., 2018). A ligação do fibrinogênio com proteínas da
MEC, principalmente fibronectina e laminina, facilita a interação com as integrinas presentes
na superfície celular do hospedeiro (MOUSLIM et al., 2004). Os genes fbsA e fbsB codificam
as proteínas FbsA e FbsB responsáveis pela mediação da ligação entre S. agalactiae e o
fibrinogênio da célula hospedeira. A proteína FbsA é responsável pela aderência bacteriana,
enquanto a FbsB é necessária para invasão celular (SCHUBERT et al., 2001; JACOBSSON
et al., 2003; GUTEKUNST et al., 2004; PIETROCOLA et al., 2005; ALBUQUERQUE et al.,
2019). FbsB é encontrada em todas as amostras de S. agalactiae, enquanto a FbsA está
associada apenas a algumas amostras analisadas (TETTELIN et al., 2005; SANCHES et al.,
2021). A proteína FbsC parece ser essencial para a capacidade do S. agalactiae se ligar ao
fibrinogênio. Amostras ∆fbsC mostraram redução significativa no processo de interação e
invasão às células dos epitélios pulmonar e intestinal, podendo ser um importante fator de
virulência para promover a infecção por S. agalactiae (BUSCETTA et al., 2014).
O fator Christie Atkins Munch Peterson – CAMP (gene cfb) é uma proteína de 23-25
kDa secretada pelo S. agalactiae que possui a capacidade de se ligar à proteínas ancoradas ao
25
células epiteliais vaginais (REGO et al., 2016; PIDWILL et al., 2018). Interações entre o S.
agalactiae e a vimentina de células endoteliais do cérebro humano, demonstraram a
participação da proteína BspC durante a invasão das meninges pelo microrganismo
(CONCETTA et al., 2019). Além disso, a adesina associada à superfície bacteriana (HvgA),
específica de amostras ST-17, apresentou maior potencial adesivo às células epiteliais
intestinais, endoteliais e do plexo coróide quando comparadas com amostras que não
expressavam HvgA (TAZI et al., 2010).
S. agalactiae necessita entrar em contato com o hospedeiro e atravessar a barreira
epitelial/endotelial para causar doenças. O gene iag, identificado em 2005 por codificar um
glicolipídeo conhecido como diglicosildiacilglicerol, é um dos principais genes relacionados
com a invasão celular. Ensaios com cobaias demonstraram que a deleção do gene iag
apresentou menor penetração da barreira hematoencefálica, ressaltando a importância deste
gene na virulência bacteriana. A substituição do alelo que codifica iag em amostras mutantes
demonstrou que S. agalactiae necessita de iag para transpor a barreira hematoencefálica e, por
consequência, levar ao desenvolvimento da meningite. Contudo, a deleção de iag não afetou
os demais passos da patogênese do S. agalactiae para o desenvolvimento da meningite,
incluindo: sobrevivência na corrente sanguínea, aderência em células endoteliais cerebrais
humanas (hBMEC) e sobrevivência intracelular (DORAN et al., 2005; PIETROCOLA et al.,
2005).
Pili são organelas adesivas proteicas e longas, com papel crucial na aderência e
colonização dos tecidos do hospedeiro. Os pili foram observados na década de 1950 através
da microscopia eletrônica em bactérias Gram-negativas (ANDERSON et al., 1949; HOWINK
& VAN et al., 1950). Em bactérias Gram-positivas, pili foram detectados cerca de 18 anos
depois em Corynebacterium renale como filamentos que se projetavam da superfície
bacteriana (YANAGAWA et al., 1968; YANAGAWA & Otsuki, 1970). SORIANI &
TELFORD et al., 2010). Posteriormente, os pili foram observados em S. agalactiae,
Streptococcus pyogenese e Streptococcus pneumoniae, estando diretamente envolvidos na
colonização de células epiteliais, translocação e invasão celular e formação de biofilme
bacteriano (TELFORD et al., 2006; HENDRICKX et al., 2012; SHABAYEK &
SPELLERBERG, 2018).
Os genes que codificam pili em S. agalactiae estão agrupados em duas ilhas
genômicas (loci distintos): pilus 1 (PI-1) e 2 (PI-2), sendo pilus 2 com duas variantes (2a e 2b)
(ROSINI et al., 2006; BRITTAN & NOBBS., 2015; TEATERO et al., 2017). Cada pilus é
responsável por codificar três proteínas estruturais, duas proteínas auxiliares, uma proteína
27
cerne e duas enzimas sortases de classe C que catalisam a polimerização do pilus (DRAMSI
et al., 2006; KHARE et al., 2011). Segundo Jiang (2012), o PI-1 desempenha um importante
papel no mecanismo de evasão do sistema imune. PI-2a tem sido descrito como principal
pilus encontrado na espécie, mediando a aderência do S. agalactiae nas células epiteliais
humanas (KONTO-GHIORGHI et al., 2009; RINAUDO et al., 2010). A variante PI-2b está
relacionada com a formação de biofilme, aderência e invasão do patógeno em células
endoteliais, promovendo a migração transendotelial (MAISEY et al., 2007; PEZZICOLI et
al., 2008).
A colonização e a persistência em diferentes nichos do hospedeiro dependem da
capacidade de aderência do S. agalactiae às células do hospedeiro. Contudo, os mecanismos
de patogenicidade utilizados pelo S. agalactiae para causar doenças invasivas no hospedeiro
não estão totalmente elucidados.
RELEVÂNCIA E JUSTIFICATIVA
1 OBJETIVOS
2 MATERIAS E MÉTODOS
Neste trabalho foram coletados dados dos prontuários e formulários de amnésia dos
pacientes do Hospital Maternidade Carmela Dutra – RJ (HMCD), bem como os formulários
do LBMFE preenchidos pelas gestantes atendidas no HMCD. As gestantes estavam entre a
34a-37a semanas de gestação, de acordo com a data do último período de menstruação ou pela
ultrassonografia fetal realizada no primeiro trimestre de gestação. Todas as participantes
assinaram o termo de consentimento informando sobre a pesquisa a ser realizada. Gestantes
menores de 18 anos tiveram o termo de consentimento assinado por um responsável. Os
dados coletados foram: identificação da gestante, etnia, idade, número de gestações, dados
gestacionais atuais, idade gestacional, ocorrência de infecção do trato urinário durante a atual
gestação, doença sexualmente transmitida antes ou durante a gestação atual e aborto prévio
(Anexo 1). Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Secretaria do Estado do Rio de
Janeiro e pelo Comitê de Ética do Hospital Universitário Pedro Ernesto (CEP-HUPE),
recebendo o número CAAE 51317415.8.0000.5259.
Para obtenção de cultura pura, as amostras foram semeadas em placas de ágar sangue,
contendo 5% de hemácias de carneiro (ágar-sangue carneiro; Sigma-Aldrich, St Louis,
Missouri, EUA) e em meio seletivo CHROMagar™ StrepB (StrepB; Plastlabor, Rio de
Janeiro, RJ, Brasil) para S. agalactiae. As colônias que apresentaram características de
Streptococcus spp. como colônias lisas, pequenas, brilhantes e côncavas, circundadas por um
halo de β-hemólise em ágar-sangue carneiro (Anvisa, 2008) e colônias rosa-magenta em meio
StrepB foram submetidas à coloração de Gram, teste da catalase, fator CAMP, sorologia e
MALDI-TOF para confirmação da espécie de estreptococos. As placas que apresentaram
contaminação por outro microrganismo foram descartadas.
Para a coloração de Gram foi realizado um esfregaço com a alça bacteriológica de uma
colônia bacteriana crescida em placa de ágar sangue-carneiro. O material fixado foi corado
com solução de violeta genciana durante 1 min, seguido do tratamento com lugol por 1 min,
descoloração com álcool/acetona (v/v) e coloração com safranina durante 30 seg. Terminada a
bateria de corantes, a lâmina foi lavada em água corrente e deixada secar na posição vertical
para posterior observação ao microscópio em objetiva de imersão (100x). As amostras
bacterianas que apresentaram coloração violeta escuro foram consideradas Gram-positivas e
as de coloração rósea como Gram-negativas.
33
2.4.2 Catalase
Culturas bacterianas crescidas por 16 h em BHI foram centrifugadas a 10.000 rpm por
15 min a 4°C. O sedimento foi suspenso em 1 mL de TE (Tris HCl 0,1M e EDTA 1mM) e
solução de lise (lisozima [20mg/mL] + mutanolisina [10U/μL] + Brij 0,5% + RNAse
[10mg/mL] + TE) e incubado a 37°C por 16 h. Posteriormente, foi adicionada uma solução
de degradação proteica (protease [10mg/mL] + SDS 10%) a 37°C por 1 h e adição de acetato
de sódio 3M e etanol P.A. por 30 min a -20°C. Após centrifugação, o DNA foi tratado com 1
mL de etanol 70% gelado, transferido para tubos eppendorfs, centrifugado e seco em estufa a
37°C. O DNA foi suspenso em água bidestilada estéril (50 μL) e estocado a -20°C até a sua
dosagem (Nanovue-GE).
A seguir, um volume de 50 μL de reação final (200 μM cada dNTP, 5 μL de GoTaq
polimerase, tampão GoTaq 5x e 50 ng DNA) foi submetido ao termociclador para
amplificação das regiões específicas de cada gene (Tabela 1). O produto amplificado foi
separado por eletroforese em gel de agarose de 1% a 2% diluída em TBE 1x (Tris [89mM],
EDTA [2mM] e Ácido Bórico [89mM]), corados com SYBR Green e visualizados como
bandas brancas sobre um fundo negro por transiluminação UV. Como padrão de tamanho
molecular foi utilizado 1-kb Plus DNA ([1μg/μL]; Invitrogen, São Paulo, SP, Brasil). Como
controle negativo foi incluído em cada ensaio, a mesma mistura de reação, mas com água
bidestilada em vez de DNA. A corrida dos géis foi realizada em aparelho de eletroforese
Biorad-Power Pac Basic. O sistema foi montado em cuba horizontal ([modelo 11.14]; Gibco-
36
BRL, New York, NY, USA) e colocado sob a voltagem de 100 V por 90 min a temperatura
ambiente.
Tabela 2 - Primers utilizados para determinação dos fatores de virulência das amostras de s.
agalactiae
O MLST foi realizado através do sequenciamento dos sete genes housekeeping, adhP,
pheS, atr, glnA, sdhA, glcK e tkt, conforme previamente descrito (JOLLEY et la., 2018)
(Tabela 3). Os clones foram confirmados por PCR e o sequenciamento Sanger realizado no
PSEQDNA (Rio de Janeiro, RJ, Brasil). As sequências obtidas a partir do sequenciamento
foram analisadas pelos programas Sequencher 5.0 e Bioedit 7.0. Novos alelos ou perfis de
38
sequências tipo (ST) foram submetidos e atribuídos na base de dados MLST S. agalactiae
(https:// pubmlst.org/sagalactiae/). O software Bionumeric 8.0 foi usado para análise de
homologia.
2.10 Ensaios de interação das amostras de S. agalactiae com células epiteliais alveolares
humanas (A549)
As células A549, uma linha celular epitelial alveolar de tipo II humana, foram
cultivadas e mantidas em meio de Eagle modificado por Dulbecco (DMEM; Sigma)
suplementado com 10% de soro fetal bovino (Gibco) e antibióticos. As monocamadas foram
semeadas em placas de cultura de tecidos de 24 poços (Corning; Sigma) e incubadas a 37ºC e
5% de CO2 até atingirem a confluência (Costa et al., 2011).
Monocamadas confluentes de A549 em placas de 24 orifícios (2x105 células por poço)
foram infectadas com amostra bacteriana na proporção de 1:100 (célula:bactérias) durante 1 h
e 2 h a 37ºC e 5% de CO2. Após a interação, as placas foram submetidas a lavagens
consecutivas com PBS para remoção dos microrganismos não aderidos às células
eucarióticas. Para análise do número total de bactérias, tanto as bactérias aderidas quanto as
internalizadas nas células A549 foram lisadas com tampão de lise contendo Tris 25mM pH
7,5, EDTA 5mM, NaCl 150mM e Igepal CA-630 1% (Sigma). O lisado foi diluído em salina
0,9% e plaqueado em meio de ágar-sangue carneiro para a contagem das UFC/mL.
Paralelamente, em outra série de poços, após lavagens com salina 0,9% foi feita
administração de gentamicina (100 µg/mL; Gibco) e penicilina (5 µg/mL; Gibco) por 2 h a
39
37ºC em 5% de CO2 para eliminar as bactérias aderidas. Após esta etapa, houve a realização
da lise da célula eucariótica (com o mesmo tampão de lise descrito acima), diluição do lisado
em solução salina, plaqueamento em meio ágar-sangue carneiro e quantificação das bactérias
intracelulares viáveis. A contagem de S. agalactiae aderido foi realizada através da subtração
do número total de bactérias interagidas pelo número de bactérias intracelulares viáveis
(Santos et al., 2003).
40
3 RESULTADOS
O Gráfico 1 demonstra a faixa etária das gestantes que apresentaram colonização por
S. agalactiae. Gestantes com idade entre 29-36 anos, seguidas de 21-28 anos de idade foram
prevalentes com 28% e 17%, respectivamente. Contudo, a informação sobre a faixa etária não
foi encontrada em 31% das pacientes.
Gráfico 1 - Faixa etária de gestantes colonizadas pelo S. agalactiae. NI* Não informada
14%
31% 17%
13-20
21-28
29-36
3% 37-44
45-52
NI
7% 28%
Gráfico 2 - Cor de pele em gestantes colonizadas por S. agalactiae. NI* Não informada
14%
45%
24%
Preta
Parda
Branca
NI
17%
5% 25%
25%
35%
Um total de 225 amostras (vaginais, retais, urina e secreção) de gestantes entre 34a-
37a semanas de gestação e 80 amostras (umbigo e orelha externa) de neonatos, ambos
atendidos no setor de emergência do HMCD, foram submetidas à investigação de S.
agalactiae (Tabela 4).
Tabela 5 - Identificação das amostras de S. agalactiae isoladas de gestantes por sorologia e MALDI-TOF MS com score ≥ 2,0 e perfil de
susceptibilidade aos antimicrobianos
SOROLOGIA/ ANTIBIOGRAMA (GESTANTES)
MALD
Amostra
TOF MS VAN CLI LEV PEN TET AZI CLO ERI CEF LNZ NOR CIP OFX PEF COT
(SCORE >2,0)
1 G1801 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
2 G1802 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
3 G1803 S.agalactiae S S S S S S S S S S S S S S S
4 G1805 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
5 G1806 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S R
6 G1807 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S R
7 G1809 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
8 G1810 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
9 G1811 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S R
10 G1812 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
11 G1813 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
12 G1814 S.agalactiae S S S S S S S S S S S S S S S
13 G1815 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S R
14 G1816 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
15 G1901 S.agalactiae S S S S S S S S S S S S S S R
16 G1902 S.agalactiae S S S S I S S S S S S S S S S
17 G1904 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S R
18 G1905 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S R
19 G1906 S.agalactiae S S S S S S S S S S S S S S R
20 G1907 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
21 G1908 S.agalactiae S S S S R R S R S S S S S S S
22 G1909 S.agalactiae S S S S R R S S S S S S S S S
23 G1910 S.agalactiae S S S S S S S S S S S S S S R
24 G1912 S.agalactiae S S S S S S S S S S S S S S R
25 G1913 S.agalactiae S S S S S S S S S S S S S S R
26 G1916 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
27 G1918 S.agalactiae S S S S S S S S S S S S S S S
28 G1919 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
29 G2001 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
Gestantes (G); Vancomicina (VAN); Clindamicina (CLI); Levofloxacino (LEV); Penicilina (PEN); Tetraciclina (TET); Azitromicina (AZI); Cloranfenicol (CLO); Eritromicina (ERI);
Ceftriaxona (CEF); Linezolida (LNZ); Norfloxacina (NOR); Ciprofloxacino (CIP); Ofloxacino (OFX) e Pefloxacino (PEF); Cotrimoxizol (COT).
Fonte: A autora, 2023
45
Tabela 6 - Identificação das amostras de S. agalactiae isoladas de neonatos por sorologia e MALDI-TOF MS com score ≥ 2,0 e perfil de
susceptibilidade aos antimicrobianos
1 N1801 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S R
2 N1901 S.agalactiae S S S S I S S S S S S S S S S
3 N1902 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
4 N1903 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
5 N1905 S.agalactiae S S R S R S R S S S S S R S S
6 N1906 S.agalactiae S S R S R S R S S S S S R S S
7 N1907 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
8 N1910 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
9 N1911 S.agalactiae S S S S S S S S S S S S S S S
10 N1912 S.agalactiae S S S S I S S S S S S S S S S
11 N1913 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
12 N1915 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S R
13 N1916 S.agalactiae S S S S I S S S S S S S S S R
14 N1917 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S R
15 N1918 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S I
16 N1919 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S R
17 N1920 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
18 N1921 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S S
19 N1922 S.agalactiae S S S S R S S S S S S S S S R
Neonatos (N); Vancomicina (VAN); Clindamicina (CLI); Levofloxacino (LEV); Penicilina (PEN); Tetraciclina (TET); Azitromicina (AZI); Cloranfenicol (CLO); Eritromicina
(ERI); Ceftriaxona (CEFTRI); Linezolida (LNZ); Norfloxacina (NOR); Ciprofloxacino (CIP); Ofloxacino (OFX) e Pefloxacino (PEF); Cotrimoxizol (COT).
Fonte: A autora, 2023
46
2% 2%
31%
42%
Ia
II
III
V
VI
VII
13%
10%
21%
Ia
14% II
III
V
55%
10%
5% 21%
5%
Ia
11%
II
III
V
VI
47% VII
11%
Gráfico 7 - Correlação entre o tipo capsular e comorbidades em gestantes com 34-37 semanas
de gestação
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Diabetes mellitus Sífilis Hipertensão Hipotireoidismo Infecção urinária Alto risco Eclâmpsia
gestacional gestacional (Adolescente)
Ia II III V
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Ia V
100% 100%
95,8%
91,6%
89,5%
Porcentagem de amplificação (%)
72,9%
70,8%
66,6%
2,1%
Figura 3 – Correlação entre a amplificação dos genes lmb, fbsA, hvgA, pili-1, pili-2a, pili-2b, hylB e
iag e os tipos capsulares Ia (A), II (B), III (C) e V (D) de amostras de S. agalactiae isoladas de
gestantes.
GESTANTES
GESTANTES
Tipo I Tipo II
A B
24,2%
20,7% 20,7% 20,7% 20,7% 20,7%
10,3% 10,3% 10,3% 10,3% 10,3% 10,3% 10,3%
17,3% 17,3%
3,4% 3,4%
3,5%
Genes
Genes
6,9%
3,4%
0% 3,4%
Genes Genes
Figura 4 – Correlação entre a amplificação dos genes lmb, fbsA, hvgA, pili-1, pili-2a, pili-2b, hylB e
iag e os tipos capsulares Ia (A), II (B), III (C) e V (D) provenientes de amostras de S. agalactiae
isoladas de neonatos
NEONATOS
A B
Porcentagem de amplificação (%)
5,2%
10,5% 10,5%
0%
0% 0% 0%
Genes Genes
C D
Porcentagem de amplificação (%)
Porcentagem de amplificação (%)
0% 0% 0% 0% 0%
Genes Genes
5,3% 5,3% 5,3% 5,3% 5,3% 5,3% 5,3% 5,3% 5,3% 5,3% 5,3% 5,3% 5,3%
0% 0% 0% 0% 0%
Genes Genes
54
Tabela 7 - Complexos clonais (CC) e sequências tipo (ST) das amostras de S. agalactiae
sequenciadas através do MLST
Amostra CC ST
1 G1801 23 23
2 G1803 452 24
3 G1805 17 1249
4 G1807 23 144
5 G1809 452 24
6 G1810 23 23
7 G1812 1 1
8 G1901 23 144
9 G1902 23 23
10 G1905 17 865
11 G1909 17 1249
12 G1919 17 17
13 N1801 23 23
14 N1901 23 163
15 N1902 23 144
16 N1903 23 162
17 N1905 19 19
18 N1906 23 162
19 N1912 23 144
20 N1913 17 865
21 N1915 19 28
22 N1916 452 24
23 N1917 19 28
24 N1919 17 1249
25 N1920 1 1
26 N1921 452 24
G: gestantes; N: neonatos
Fonte: A autora, 2023
CC23 (n=5; 41,6%), CC452 (n=2; 16,6%) (Figura 5A). Além disso, sete sequências tipo
distintas foram identificadas: ST-1 (1; 8,3%), ST-17 (1; 8,3%), ST-23 (3; 25%), ST-24 (2;
16,6%), ST-144 (2; 16,6%), ST-865 (1; 8,3%) e ST-1249 (2; 16,6%) (Figura 5B).
GESTANTES
41,6% A
33,3%
Porcentagem(%)
16,6%
8,3%
1 17 23 452
Complexo clonal
25%
B
NEONATOS A
42,8%
Porcentagem (%)
21,4%
14,2% 14,2%
7,1%
1 17 19 23 452
Complexo Clonal
B
14,2% 14,2% 14,2% 14,2%
Porcentagem (%)
testadas exibiram maior perfil de aderência em 2 h de incubação, sendo a amostra G1810 com
maior capacidade adesiva (1,5x106 UFC/mL), apesar de não ser estatisticamente significativo.
Com relação à invasão celular, as amostras G1803 (CC não determinado) e G1810 (CC23)
apresentaram maior perfil invasivo em 1 h de incubação, sendo significativo somente para a
amostra G1803 (p<0,03).
A Figura 9 apresenta os resultados dos ensaios de interação de amostras de S.
agalactiae isoladas de neonatos com células A549. Todas as amostras testadas exibiram maior
aderência em 1 h de incubação (p<0,04). Contudo, a amostra N1903 (CC162) apresentou
elevada capacidade de aderência (~1,7x106 UFC/mL; p<0,01) quando comparada com as
amostras N1801 (CC23) e N1906 (CC162). O perfil de invasão das amostras N1801 e N1903
nos tempos de 1 h e 2 h de interação não foi estatisticamente significante. Em contrapartida, a
amostra N1906 apresentou capacidade invasiva elevada após 1 h (~2x104 UFC/mL; p<0,03) e
2 h de interação (~1,6x104 UFC/mL; p<0,05).
59
Figura 9 – Ensaios de aderência e invasão com amostras neonatais e células epiteliais (A549)
2,50E+06 A
ADERÊNCIA
2,00E+06
*
*
1,50E+06
1,00E+06
5,00E+05
0,00E+00
1 N1801 N1903 N1906 2
2,50E+04 B
INVASÃO
*
2,00E+04
*
1,50E+04
1,00E+04
5,00E+03
0,00E+00
1 N1801 N1903 N1906 2
61
4 DISCUSSÃO
nossos dados foram muito próximos dos dados publicados pelas clínicas pré-natais da
Londres North West University Healthcare NHS (39,5% em mulheres negras), cujo país
apresenta diferenças climáticas e culturais em relação ao Brasil, os quais são fatores já
estabelecidos por influenciar de forma significativa na colonização pelo S. agalactiae. Estes
resultados demonstram a prevalência aumentada do S. agalactiae em mulheres negras, o que
provavelmente reflete variações ligadas à etnia e diferenças da microbiota vaginal que pode
explicar o aumento da suscetibilidade de neonatos negros às infecções invasivas pelo
microrganismo.
A maioria dos casos de infecções por S. agalactiae em adultos ou idosos está
associada a condições médicas subjacentes, como diabetes mellitus, obesidade, cirrose
hepática, acidente vascular cerebral, câncer e doenças cardiovasculares (NAVARRO-TORNÉ
et al., 2021). No presente trabalho, as comorbidades identificadas nas gestantes que
apresentaram maior taxa de intercorrências no parto foram hipertensão gestacional (35%),
diabetes gestacional (25%), infecção do trato urinário (25%), sífilis (5%), hipotireoidismo
(5%) e adolescência (5%) considerada gestação de alto risco. Nas gestantes colonizadas,
houve um risco aumentado de diabetes e hipertensão gestacional. Nenhuma associação foi
observada com tabagismo, aborto anterior, história anterior de morte fetal, vaginite ou
infecção do trato urinário. Com relação a idade das gestantes, houve a prevalência de
gestantes com idade média entre 29-36 anos, bem como 3 gestantes adolescentes com idade
entre 15-19 anos. Apenas dois artigos foram encontrados na literatura com gestantes
adolescentes colonizadas pelo S. agalactiae; contudo, nenhum dado brasileiro foi publicado
até a presente data. Desta forma, este é o primeiro trabalho que aborda a colonização por S.
agalactiae em adolescentes grávidas no país. Ressaltamos o risco gestacional em adolescentes
colonizadas pelo S. agalactiae que possuem riscos maiores de complicações obstétricas e pré-
eclâmpsia, bem como risco de parto prematuro e má-formação pulmonar (OLIVEIRA-
CAMPOS et al., 2013).
As complicações obstétricas em gestantes da Jordânia incluíram hipertensão
gestacional (9,5%), diabetes gestacional (6,0%) e infecções do trato urinário (53,5%), das
quais 84,5% relataram tratamento (CLOUSE et al., 2019). Pesquisa realizada por QADI e
colaboradores (2021), as gestantes colonizadas por S. agalactiae também apresentaram risco
elevado de diabetes gestacional. Nenhuma associação foi observada com tabagismo, aborto
anterior, história de morte fetal ou vaginite. Pesquisa com placentas de gestantes com diabetes
mellitus gestacional, demonstrou que a hiperglicemia severa promoveu a produção de
citocinas inflamatórias e reduziu a síntese de defensinas. Os tratamentos com insulina e
64
tetraciclina foi de 85% (FIGUEIREDO SANCHES et al., 2021). Outro estudo realizado no
Rio de Janeiro relatou 14% de resistência à eritromicina e 5% resistência à clindamicina. Para
a tetraciclina, foi encontrada resistência em 83% dos isolados (NAKAMURA et al., 2011).
Botelho e colaboradores (2018), no Rio de Janeiro, mostraram que 592 amostras de S.
agalactiae foram resistentes a diferentes antibióticos. As porcentagens de resistência
observadas entre os isolados foram 5% para cloranfenicol, 2% para clindamicina, 14% para
eritromicina, 5% para levofloxacina e 86% para tetraciclina (BOTELHO et al., 2018). Além
disso, no Paraná, de 544 gestantes, 136 (25%) apresentaram níveis de resistência para
eritromicina (8,1%), clindamicina (2,2%) e tetraciclina (82,3%) (DE MELO et al., 2016).
Nosso trabalho confirma esses relatos onde foram identificadas amostras resistentes à
tetraciclina, cotrimoxazol, levofloxacina, ofloxacina, azitromicina, eritromicina e
cloranfenicol. Somente as amostras de S. agalactiae isoladas de orelha externa (N1905) e
umbigo (N1906) neonatal apresentaram resistência à levofloxacina, tetraciclina, cloranfenicol
e ofloxacina, sendo classificadas como MDR. Apesar de ter sido descrito na Tailândia a
predominância dos tipos Ib/ST1 VI/ST1 apresentando resistência aos macrolídeos
(TULYAPRAWAT et al., 2021), nossos resultados demonstraram a resistência aos
macrolídeos das amostras G1909 e G1908, pertencentes ao CC-17 (dado do MLST da G1908
não incluído). Felizmente, até o momento, com base nos estudos realizados no Brasil, todos
os isolados apresentaram sensibilidade à penicilina. A profilaxia antibiótica intraparto e o
tratamento com antibióticos são usados com sucesso para prevenir e tratar infecções por S.
agalactiae. No entanto, a necessidade de uma vacina universal contra o patógeno é uma
importante ferramenta para proteção dos bebês, gestantes e idosos com comorbidades
subjacentes.
A tipagem capsular do S. agalactiae é uma ferramenta importante para determinar a
patogenicidade das amostras bacterianas e para fins epidemiológicos. A distribuição do tipo
capsular depende de fatores como região geográfica, etnia ou outras características da
população estudada. Na Jordânia, os tipos III (48%), Ia (24%), II (20%) e V (8%) foram
prevalentes em gestantes (CLOUSE et al., 2019). Na Austrália, a tipagem capsular de
amostras de S. agalactiae isoladas de gestantes identificou os tipos Ia e III como
predominantes (FURFARO et al., 2019). Dados brasileiros também mostraram a prevalência
do tipo Ia em gestantes (NASCIMENTO et al., 2019; FIGUEIREDO SANCHES et al., 2021).
Esses dados corroboram com o nosso trabalho, no qual o tipo capsular Ia foi prevalente em
gestantes, seguido dos tipos V, II e III; em neonatos, houve a prevalência dos tipos capsulares
V e Ia. Diferentemente, estudo realizado por SCHINDLER e colaboradores (2020) com 1.074
67
gestantes assintomáticas durante o ano de 2017, o tipo capsular dominante foi o VI com
40,8%, seguido pelos tipos III, V e IV com 17,5%, 12,5% e 11,7 %, respectivamente. O tipo
predominante nos casos de morte fetal intrauterina foi o VI com 76,9%. Contudo, o tipo III
(84,2%), principalmente associado à ST-17 (73,7%) foi o mais identificado nos casos de
doença de início precoce. Infelizmente, no presente trabalho não houve casos pares. A
pesquisa não foi capaz de acompanhar as gestantes e seus bebês, pois as mesmas não
apareceram mais ao HMCD e, nem mesmo atendiam às inúmeras ligações telefônicas
realizadas para o número de contato fornecido. Embora os resultados deste estudo sejam
semelhantes aos de outros estudos publicados previamente e, comparáveis a outros países, a
maioria das mulheres foi colonizada por tipos capsulares comumente associados a desfechos
maternos adversos e isso representa um risco tanto para a mãe quanto para o bebê.
A prevenção da infecção por S. agalactiae na gravidez é complexa e provavelmente
influenciada por vários fatores, incluindo patogenicidade, fatores do hospedeiro, microbioma
vaginal, triagem de falso-negativo e/ou alterações na resistência a antibióticos (JIN et al.,
2022). O S. agalactiae codifica uma série de fatores de virulência que permitem que ele
persista no inóspito ambiente vaginal. Muitos desses fatores estão envolvidos na adesão e
invasão de células epiteliais do hospedeiro que permitem a colonização persistente. Aderência
e a invasão parece ser mediada por interações do S. agalactiae com a matriz extracelular do
hospedeiro; essas interações também podem promover a resistência do patógeno a danos
mecânicos, depuração, prevenção de vigilância imune e transmigração paracelular. Os genes
lmb, iag, fbsB, fbsA, pili-1, pili-2a, pili-2b, hylb e hvgA estão envolvidos com o aumento da
virulência do S. agalactiae (VORNHAGEN et al., 2017).
Nossos resultados demonstraram que os genes para lmb e iag foram amplificados em
todas as amostras, seguido dos genes fbsB, fbsA, pili-1, pili-2b, hylB, pili-2a e hvgA, sendo os
tipos capsulares Ia e V, os que apresentaram maior amplificação desses fatores de virulência.
BOBADILLA e colaboradores (2021) detectaram os genes fbsA e fbsB em todas as amostras
de S. agalactiae testadas, e os genes cylB, lmb e bca em 95%, 94% e 87%, respectivamente.
No México, os genes de virulência identificados foram lmb, fbsA, fbsB, pili-1, pili-2a, pili-2b
e hvgA (PALACIOS-SAUCEDO et al., 2022). Na África, perfis distintos de genes de
virulência foram identificados, sendo os mais comuns hly, scpB e bca em 37,2% das amostras.
O gene hylB foi detectado em 97,8%, scpB em 90,1% e bca em 86,0% das amostras
analisadas (MUDZANA et al., 2021). Podemos observar que as diferentes amostras
bacterianas apresentam um perfil heterogênio de fatores de virulência. Sabemos que a
proteína de ligação à laminina (Lmb) medeia a ligação do S. agalactiae à laminina, sendo
68
crucial para a colonização e invasão bacteriana (BURCHAM et al., 2020). O gene iag está
envolvido na penetração da barreira hemato-encefálica do S. agalactiae e desenvolvimento da
meningite bacteriana neonatal (DORAN et al., 2005). As proteínas FbsA, FbsB e FbsC são
membros da família de proteínas de ligação ao fibrinogênio codificadas pelo S. agalactiae,
possuindo capacidade adesiva às células epiteliais humanas para promover a penetração
vaginal (BUSCETTA et al., 2014). Além da cápsula, o pilus também foi identificado como
um fator essencial na patogenicidade, sendo importantes para colonização e formação de
biofilmes (ARMISTEAD et al., 2019). HylB denominada hialuronidase ou hialuronato liase,
uma enzima exolítica liberada pelo S. agalactiae pode clivar o polímero glicosaminoglicano
de alto peso molecular de ácido hialurônico, que serve como componente da matriz
extracelular epitelial, quebrando a barreira materno-fetal e permitindo a passagem do S.
agalactiae da vagina para o feto, causando infecção e danos fatais (VORNHAGEN et al.,
2016). A adesina GBS hipervirulenta (HvgA), proteína ancorada na superfície específica do
ST-17, pode aumentar a invasão bacteriana através das barreiras intestinal e hematoencefálica.
A bactéria, mediada por HvgA, pode se espalhar para a corrente sanguínea e sistema nervoso
central, levando ao desenvolvimento de meningite (AWWAD et al., 2022).
Torna-se claro que o S. agalactiae desenvolveu um conjunto de fatores de virulência,
incluindo adesinas e pigmentos hemolíticos, para promover sua capacidade de colonizar e
invadir hospedeiros humanos. Embora tenha havido uma grande quantidade de pesquisas nos
últimos anos para melhorar nossa compreensão do mecanismo de patogenicidade deste
microrganismo, uma exploração mais aprofundada ainda é necessária na estrutura de alguns
dos fatores de virulência, bem como na capacidade de sobrevivência do S. agalactiae como
um simbionte da microbiota humana e como um patógeno oportunista, dependendo da saúde
do hospedeiro. Preencher essa lacuna de conhecimento pode ser crucial para o
desenvolvimento de futuras opções de tratamento. Apenas uma compreensão completa dos
mecanismos patogênicos deste importante patógeno, muitas vezes menosprezado pela classe
médica e governamental, poderá levar à prevenção mais eficaz de doenças invasivas com
elevada taxa de morbidade e mortalidade materna e neonatal.
Atualmente, a presença de numerosos genomas bacterianos disponíveis em bancos
de dados e de novas ferramentas baseadas em sequenciamento de nucleotídeos, tem
transformado a epidemiologia tradicional em epidemiologia molecular. Em 2003, a tipagem
de seqüência multilocus de sete genes (MLST) foi introduzida para a classificar o S.
agalactiae em complexos clonais (CC) e sequencias tipo (ST). Os primeiros estudos
empregando o MLST revelaram que o tipo capsular não está restrito a uma determinada ST,
69
ou seja, amostras bacterianas podem pertencer a uma mesma ST, mesmo sendo de tipos
capsulares diferentes (JONES et al., 2003). No presente trabalho, 26 amostras de gestantes e
de neonatos foram submetidas às análises por MLST, onde amostras de S. agalactiae isoladas
de gestantes foram classificadas em quatro complexos clonais CC1, CC17, CC23 e CC452, e
em sete sequências tipo distintas ST-1, ST-17, ST-23, ST-24, ST-144, ST-865 e ST-1249. As
amostras de S. agalactiae isoladas de neonatos apresentaram cinco complexos clonais CC23,
CC19, CC17, CC452 e CC1 e dez sequências tipo ST-1, ST-19, ST-23, ST-24, ST-28, ST-
144, ST-162, ST-163, ST-865 e ST-1249. Estudo realizado em um hospital de Pequim (2015-
2016), amostras de S. agalactiae obtidas de gestantes e recém-nascidos foram classificadas
em 5 CC e 18 ST. As ST19/III, ST10/Ib e ST23/Ia foram prevalentes, sendo o CC19 o tipo
mais comum (LI et al., 2023). Nossos resultados demonstraram que o CC23/Ia foi
predominante tanto em amostras de S. agalactiae isoladas de gestantes como em amostras de
neonatos, sendo a ST23 (Ia/V) predominante em gestantes, e em neonatos as ST24 (Ia/V),
ST28 (Ia/V), ST144 (Ia/V) e ST162 (V) foram as mais prevalentes.
Com a disponibilidade dos dados do MLST, ficou claro que amostras de S.
agalactiae de certos CCs possuem um maior potencial para causar doença invasiva, enquanto
outras abrigam principalmente cepas colonizadoras. MLST para uma coleção global de S.
agalactiae identificou que os STs 1 e 19 estão associados à colonização assintomática e o ST-
23 com doenças invasivas pelo patógeno (JONES et al., 2003; MANNING et al., 2008).
Consistentemente, TEATERO e colaboradores (2017) encontraram as STs 1 e 19 como mais
frequentes em gestantes colonizadas. Em geral, a predominância de amostras pertencentes aos
CCs 1, 19 e 23 entre gestantes assintomáticas foi consistentemente relatado (LUAN et al.,
2005; SPRINGMAN et al., 2014), indicando que CCs são predominantes como comensais da
mucosa vaginal e gastrointestinal humana. Adicionalmente, um clone responsável por uma
grande proporção de infecções invasivas neonatais, pertencentes ao tipo III e CC17, ganhou
interesse especial devido à sua forte associação com meningite neonatal. Amostras
pertencentes ao CC17 são relatados como hipervirulentas, representando mais de 80% das
infecções neonatais de início tardio por S. agalactiae e frequentemente, mas não
exclusivamente, associados à meningite (TAZI et al., 2010; BELLAIS et al., 2012;
FLORINDO et al., 2014).
A incidência da doença neonatal por S. agalactiae continua a ser uma causa
significativa de preocupação em todo o mundo. Amostras bacterianas pertencentes ao CC17
são frequentemente responsáveis por infecções invasivas. Nosso trabalho identificou que
70
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
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3. Nome da mãe:
Dados da Internação
Dados do Neonato
Quais?_____________________________________________________________
18. Outros alimentos que recebeu durante a internação (Permite mais de 1 opção)
1. Água
2. Soro glicosado/ Glicose via oral (chuca com açúcar)
3. Leite humano ordenhado
4. Leite artificial
5. Nutrição Parenteral (NPT)
Quais? ________________________________________________________
Observações:___________________________________________________________
_____________________________________________________________________
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