Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Tese
AVALIAÇÃO DO ESTRESSE
OXIDATIVO E DEFESAS
ANTIOXIDANTES NA
INFECÇÃO PELO VÍRUS
OROPOUCHE EM MODELO
ANIMAL.
2023
MARÍLIA BUENO DA SILVA MENEGATTO
Ouro Preto
2023
SISBIN - SISTEMA DE BIBLIOTECAS E INFORMAÇÃO
CDU 577.2
FOLHA DE APROVAÇÃO
Avaliação do estresse oxidativo e defesas antioxidantes na infecção pelo vírus Oropouche em modelo animal
Membros da banca
Dra Cintia Lopes de Brito Magalhães - Orientador(a) (Universidade Federal de Ouro Preto)
Dra Jaqueline Maria Siqueira Ferreira (Universidade Federal de São João Del Rey)
Dra Etel Rocha Vieira (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri)
Dr André Talvani Pedrosa da Silva (Universidade Federal de Ouro Preto)
Dr Frank Silva Bezerra (Universidade Federal de Ouro Preto)
Cintia Lopes de Brito Magalhães, orientador do trabalho, aprovou a versão final e autorizou seu depósito no Repositório Institucional da UFOP
em 25/05/2023
Documento assinado eletronicamente por Cintia Lopes de Brito Magalhaes, PROFESSOR DE MAGISTERIO SUPERIOR, em
25/05/2023, às 15:11, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de
outubro de 2015.
Referência: Caso responda este documento, indicar expressamente o Processo nº 23109.006953/2023-73 SEI nº 0531758
Gostaria de agradecer primeiramente meus pais, Guerino e Ana Rita, que tornaram a
minha pós graduação possível, sempre me incentivaram, apoiaram e não mediram esforços para
me darem colo, saúde mental, conforto e presença, mesmo a mais de 500 quilômetros de
distância. Aos meus irmãos e avós que acreditaram e confiaram em mim, cada um à sua maneira.
Aos meus filhos de 4 patas... Brahminha que me acompanha desde o processo seletivo
do mestrado, fiel companheira de escrita na cozinha de casa. Puffinha! Ah, Puffinha... Hoje é a
estrela mais brilhante no céu, minha estrela guia. A vida em Ouro Preto mudou depois que
montamos a nossa casinha! E agora enviou para mim meu mais novo pinguinho, Dirceu. Afinal,
não existe Marília sem Dirceu, não é mesmo? Chegou nesse último ano mais pesado para trazer
leveza, alegria, bagunça e para me fazer companhia. Com toda certeza, sem vocês não teria
chegado até aqui tão realizada.
Ao Rhaian, meu namorado, presente de pandemia. Nunca foi só por causa da pandemia,
sabemos disso. E eu, que sempre tive muito forte na cabeça que só a minha própria companhia
me bastava, aprendi que dividir a vida com alguém é muito gostoso também! Agradeço por
esses quase 3 anos compartilhando momentos e memórias juntos. E claro, a república Casaca,
palco de tantos momentos bons e companhias boas nessa minha caminhada.
À minha dupla de vida, Isabelinha Morato, comigo desde a graduação, nunca soltou da
minha mão e sempre me fez sentir “casa”, minha família em Ouro Preto desde então. Com você
veio nosso triozinho inseparável e maravilhoso, com o Gabriel! Ah, que saudade da gente juntos!
Não me lembro de um momento ruim sequer com a gente, porque tudo virava risada e motivo
pra gente reunir e tomar uma juntos. Nossa mesa cativa no nosso bar preferido, nossos garçons
preferidos, nossa banda preferida e o fechamento do bar de sempre! Obrigada por tanto, vocês
foram FUNDAMENTAIS!
Agradeço também à Cintia, minha orientadora, pela oportunidade de trabalhar com ela
e realizar este trabalho. Tão querida, elegante e acessível, que cumpre seu papel de orientar tão
bem e de forma tão leve, natural e humana. Um exemplo (cada vez mais raro) a ser seguido de
profissional e de mulher. Entende meu jeito e me aconselha a ser mais forte e durona desde o
dia que fui perguntar se gostaria de me orientar.
Agradeço às “alunas da Cintia”, Leticia Trindade pela ajuda e pontapé inicial com o
OROV, e inclusive Rafa e Ariane por todos os ensinamentos, ajuda, parceria e companheirismo
diário, seja em todas as temporadas no biotério, ou com os experimentos que deram certo de
primeira e também aqueles que não deram certo até hoje. Mas gostaria de deixar aqui meu
agradecimento especial à Ariane, minha dupla de pesquisa, que desde o primeiro dia no
doutorado me ensinou praticamente tudo que sei hoje do zero, com muita boa vontade,
paciência e dedicação. Trabalhar ao seu lado sempre foi um privilégio. Agradeço por cada troca
e discussão científica que tivemos, pela companhia de bancada mas também pela companhia
de passeio com os dogs e ombro amigo que já ouviu muita coisa. Eu acho que hoje em dia eu
sou boa no que faço, já você é excelente... mas juntas, acho que somos imbatíveis!
Fazer ciência não é nem um pouco fácil, no governo anterior foi pior ainda, época do
retrocesso científico, da desvalorização da ciência. Mas estar com a Cíntia e as meninas me
fizeram acreditar que seria possível e que dias melhores sempre virão. Obrigada por essa
experiência que só me enriqueceu e me deu vontade de continuar em frente!
Agradeço à todos os amigos que fiz nessa jornada e que de uma forma ou outra
tornaram a caminhada prazerosa. Também ao crossfit que me deu força, autoconhecimento,
me fez enxergar pequenas e grandes superações e conquistas pessoais, lugar onde aliviei muito
o estresse e a ansiedade de resultados que não deram tão certo quanto eu esperava. Mas tudo
é aprendizado, é bagagem!
Agradeço ao Laboratório de Biologia e Tecnologia de Microrganismos pelo espaço e
fornecimentos de insumos que tornaram este trabalho possível. Ao Limp, LBM e Laboratório de
Morfopatologia pela ajuda e parceria.
À Universidade Federal de Ouro Preto, ao NUPEB e ao Programa de Pós Graduação em
Ciências Biológicas pela oportunidade e infraestrutura.
À Capes, CNPq e Fapemig pelo apoio financeiro.
Deixo aqui o meu abraço apertado e o muito obrigada!
Menegatto, M.B.S
RESUMO
iv
Menegatto, M.B.S
ABSTRACT
Oropouche orthobunyavirus (OROV) is the arbovirus that causes Oropouche fever, the
symptoms of which are common to most arboviruses such as high fever, headache, myalgia,
arthralgia, photophobia, dizziness, nausea and vomiting. More than half a million people have
been infected with OROV since its isolation in 1955. Although Oropouche fever is classified as a
neglected and emerging disease, to date, there are no antiviral drugs or vaccines available
against the infection and little is known about its pathogenicity. Thus, studies that seek to
understand the mechanisms involved in the pathogenesis of OROV are extremely important. In
this sense, literature data have shown that oxidative stress may be involved in the pathogenesis
of several viral agents, such as Dengue, Zika, Chikungunya and Mayaro. Oxidative stress is the
condition established when there is an imbalance between oxidants, such as “Reactive Oxygen
Species” (ROS), and antioxidants, such as Superoxide Dismutase (SOD) and Catalase (CAT)
enzymes, in favor of oxidants. Therefore, this study aims to investigate, using an animal model,
the redox homeostasis in target organs of the infection. First, 21-day-old BALB/c mice were
subcutaneously infected with 6x106 Plaque Forming Units (PFU) of OROV and monitored for 21
days for disease development and survival. The animals were susceptible to infection however
they developed acute self-limiting disease. Infected animals stopped gaining weight from days
2 to 5 post infection (dpi). From then on, 4 dpi was defined as the day of euthanasia for the
following experiments. At the end of 4dpi, the infected animals showed a significant
enlargement of the spleen, leukopenia, anemia and thrombocytopenia. They developed anti-
OROV neutralizing antibodies, increased liver transaminases and increased serum levels of the
pro-inflammatory cytokines Tumor Necrosis Factor alpha (TNF-α) and Interferon-γ (IFN-γ). Viral
genome and infectious viral particles were detected in liver and spleen of the animals.
Histopathology revealed liver inflammation and increased number of total area and number of
lymphoid nodules in the spleen. With regard to redox homeostasis, OROV infection led to
increased levels of ROS and the oxidative stress biomarkers malondialdehyde (MDA) and protein
carbonyl in the liver and spleen. Also, in these same organs, OROV infection led to a decrease in
the activities of SOD and CAT enzymes. Together, these results show that OROV infection
culminates in an imbalance in redox homeostasis and consequent oxidative stress in target
organs of the infection, helping to elucidate some important aspects that may contribute to the
pathogenesis of Oropouche Fever.
v
Menegatto, M.B.S
LISTA DE FIGURAS
vi
Menegatto, M.B.S
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 9
1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................................................... 11
1.1 – Arboviroses emergentes ................................................................................................ 11
1.2 – Família Peribunyaviridae, gênero Orthobunyavirus ....................................................... 12
1.3 – O vírus Oropouche ......................................................................................................... 14
1.3.1 – Estrutura e genoma do OROV ................................................................................. 14
1.3.2 – Ciclo de multiplicação.............................................................................................. 16
1.3.3 – Ciclos de transmissão .............................................................................................. 18
1.3.4 – Distribuição geográfica ............................................................................................ 20
1.3.5 – A Febre Oropouche ................................................................................................. 24
1.3.6 – Patogênese da Febre Oropouche ............................................................................ 26
1.4 – Espécies reativas, antioxidantes e o estresse oxidativo................................................. 28
1.5 – Estresse oxidativo na patogênese de infecções virais.................................................... 32
2. JUSTIFICATIVA ......................................................................................................................... 34
3. OBJETIVOS ............................................................................................................................... 35
3.1 – Objetivo geral ................................................................................................................. 35
3.2 – Objetivos específicos ...................................................................................................... 35
3.2.1 - Em camundongos BALB/c adultos (3 semanas) infectados ou não com OROV,
avaliar durante 21 dias: ....................................................................................................... 35
3.2.1 - Em camundongos BALB/c adultos (3 semanas) infectados ou não com OROV,
avaliar no 4º dpi: ................................................................................................................. 35
4. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................................... 36
4.1 – Cultivo celular e estoque viral ........................................................................................ 36
4.1.1 – Cultivo celular .......................................................................................................... 36
4.1.2 – Origem do vírus e estoque viral .............................................................................. 36
4.1.3 – Titulação viral .......................................................................................................... 37
4.2 – Animais e Delineamento experimental .......................................................................... 37
4.2.1 – Origem dos animais ................................................................................................. 37
4.2.2 – Delineamento experimental.................................................................................... 38
4.3 – Avaliação massa corpórea .............................................................................................. 39
4.4 – Avaliação de hepatomegalia e esplenomegalia ............................................................. 39
4.5 – Parâmetros Hematológicos ............................................................................................ 39
4.6 – Anticorpos neutralizantes anti-OROV ............................................................................ 39
4.7 – Dosagens das transaminases hepáticas ......................................................................... 40
vii
Menegatto, M.B.S
viii
Menegatto, M.B.S
INTRODUÇÃO
9
Menegatto, M.B.S
multiplicação nesse órgão, o vírus atinge a corrente sanguínea e pode alcançar o SNC e causar
danos neurológicos (RODRIGUES et al., 2011; SANTOS et al., 2012, 2014).
Apesar de toda sua importância, até o momento, não há medicamentos antivirais ou
vacinas disponíveis contra a infecção pelo OROV e ainda, pouco se sabe sobre os mecanismos
envolvidos em sua patogênese, incluindo aqueles relacionados a resposta do hospedeiro que
contribuem para os danos teciduais. Nesse sentido, este trabalho busca elucidar possíveis
fatores que participam da patogênese do OROV.
Nesse contexto, é crescente o número de trabalhos da literatura demonstrando que o
estresse oxidativo contribui para a patogênese de vários agentes virais, como os vírus das
Hepatites C e B, Influenza, Encefalite Japonesa, Dengue, Imunodeficiência humana (HIV), vírus
Respiratório Sincicial, Chikungunya, Mayaro, ZIKV e Coronavirus 2 da síndrome respiratória
aguda grave (SARS-CoV2) (ALMEIDA et al., 2020; BOLUKBAS et al., 2005; CAMINI et al., 2017;
CECCHINI et al., 2020; HOSAKOTE et al., 2009; JOUBERT et al., 2012; LIU et al., 2017; PACE et al.,
1995; RAUNG et al., 2001; SOUNDRAVALLY et al., 2008; TARDIF et al., 2005). O estresse oxidativo
é a condição que se estabelece quando há um desbalanço do controle e sinalização redox
(JONES, 2006) . Esse desequilíbrio é decorrente de um aumento da produção dos oxidantes,
como as “Espécies Reativas de Oxigênio” (ERO), ou uma depleção dos antioxidantes, como as
enzimas Superoxido dismutase (SOD), catalase (CAT) e Glutationa Peroxidase (GPx). Quando
em excesso, essas espécies reativas podem causar danos ao DNA, lipídeos e proteínas,
com consequente perda da integridade e funcionalidade celular e danos aos órgãose e
tecidos (HALLIWELL et al., 1994; SIES et al., 2017). No contexto das infecções virais, baixas
concentrações de ERO induzem a proliferação celular e a maioria dos vírus multiplica melhor em
células que estão proliferando. No entanto, com o progresso da infecção, mais ERO são
formadas a fim de conter o vírus e um aumento na produção dessas espécies culmina no
estresse oxidativo e seus efeitos tóxicos para o hospedeiro. Além disso, alterações no
status redox nas células hospedeiras podem selecionar populações virais mutantes, bem
como ativar fatores de transcrição, como o fator nuclear kappa B (NF-kB), os quais favorecem a
multiplicação viral. Uma vez que o NF-kB é liberado, ele transloca para o núcleo e se liga ao DNA
celular, induzindo consequentemente a transcrição de genes celulares e/ou virais (CAMINI et
al., 2017; SCHWARZ, 1996).
Assim, desde que o estresse oxidativo está relacionado à patogênese de um grande
número de doenças virais e ainda muitos aspectos da infecção pelo OROV precisam ser
elucidados, este estudo teve como objetivo investigar se a infecção pelo OROV em modelo
murino culmina na desregulação da homeostase redox e o estresse oxidativo. Entender melhor
10
Menegatto, M.B.S
estes mecanismos são de primordial importância, visto ser essa doença um problema de saúde
pública e caráter emergente.
1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Os arbovírus são vírus zoonóticos de genoma RNA e agentes causadores de doenças em animais
e humanos, que provocam grande prejuízo econômico e social e estão distribuídos em todo o
mundo (PAPA, 2019). São assim chamados pois se multiplicam em vetores artrópodes
(“arthopod-born viruses”), como mosquitos e carrapatos, e em vertebrados. Uma vez infectados,
os vetores transmitem o vírus ao se alimentarem de sangue animal, por exemplo de pássaros e
mamíferos. O ciclo de manutenção desses arbovírus na natureza é mantido no momento em
que novos vetores se alimentam desses animais infectados e/ou no processo de transmissão
vertical (transovariana), quando o vetor artrópode passa o vírus para sua progênie (FIGUEIREDO,
2007; SHOPE et al., 1997).
A emergência de arbovírus acontece por diversos fatores. Geralmente é iniciada por um
evento de infecção por transbordamento, ou seja, o patógeno que anteriormente era
transmitido por mosquitos que picavam animais selvagens (ciclo silvestre) passa a ser
transmitido por vetores que infectam humanos (ciclo urbano), rompendo a barreira entre
espécies (LAMBRECHTS, 2023; SCIANCALEPORE et al., 2022), como aconteceu com os vírus da
Febre Amarela, Dengue, Chikungunya e Zika (LAMBRECHTS, 2023; SCIANCALEPORE et al., 2022).
Além disso, a (re)emergência é um fenômeno natural relacionado à evolução e
adaptação viral. Quando o vírus infecta vários organismos, o hospedeiro pode vir a produzir
cepas mais virulentas ou adaptadas. Uma importante causa de mutação de vírus com genoma
RNA é a recombinação do genoma em uma infecção simultânea de um hospedeiro por mais de
um vírus da mesma família ou gênero (PAPA, 2019; FIGUEIREDO, 2007; WEAVER et al., 2010).
Neste caso, como consequência da alta taxa da mutação do genoma, uma mudança de
aminoácidos no material genético pode resultar em uma nova competência vetorial, como
aconteceu com o CHIKV. Uma única mudança de aminoácido no genoma viral tornou o Ae.
Albopictus susceptível à infecção e disseminação do CHIKV, causando uma epidemia em 2005 e
2006 na Ilha da Reunião, na França (TSETSARKIN et al., 2007).
Outros fatores que contribuem para o surgimento das infecções virais são as mudanças
climáticas, o crescimento populacional urbano desordenado e o aquecimento global. As
mudanças no ecossistema geradas pelo homem perturbam o sistema natural dos arbovírus,
11
Menegatto, M.B.S
12
Menegatto, M.B.S
13
Menegatto, M.B.S
O OROV foi isolado pela primeira vez em 1955 (cepa TRVL 9760), no sangue de um trabalhador
florestal residente na Vila Vega de Oropouche, em Trinidad e Tobago, que apresentou febre, dor
nas costas e tosse (HENRY et al., 2018). Na época nenhum outro caso febril foi relatado,
entretanto foram encontrados anticorpos neutralizantes anti-OROV no sangue de 3 das 46
pessoas que passaram por testes sorológicos (TILSTONLUNEL, 2017). Cinco anos depois, em
1960, uma outra cepa de OROV (TRVL 35111) foi isolada também de um pool de 177 mosquitos
Coquillettidia venezuelensis coletados na floresta Bosh Bosh, no mesmo país. Ambas as cepas
foram relacionadas antigenicamente por testes de fixação de complemento e de neutralização
(DA ROSA et al., 2017).
Aqui no Brasil, o OROV teve seu primeiro isolamento em 1960, do sangue de uma
preguiça (Bradypus trydactilus) capturada em uma área de floresta, durante a construção da
rodovia que interligava Belém a Brasília. Ainda, foi detectado o vírus em um pool de mosquitos
Ochlerotatus serratus coletados na mesma região (DA ROSA et al., 2017). No ano seguinte já
acontecia a primeira epidemia da Febre Oropouche, na cidade de Belém, com mais de 11.000
infectados. Desde então, o OROV demonstrou seu potencial epidêmico e mais de meio milhão
de pessoas já foram infectadas em mais de 30 epidemias (SAKKAS et al., 2018). Atualmente o
OROV se distribui geograficamente na América, em países como Brasil, Peru, Panamá, Argentina
(TILSTONLUNEL, 2017), Guiana Francesa (GAILLET et al., 2021) e Haiti (ELBADRY et al., 2021).
Assim como a maioria dos vírus pertencentes ao gênero Orthobunyavirus, a partícula viral do
OROV é esférica, de 80 e 120nm de diâmetro, envolvida em um envelope lipídico com
glicoproteínas de superfície aderidas (Gc e Gn). Internamente, apresenta três segmentos de
genoma RNA fita simples, senso negativo, denominados S (small), M (medium) e L (large)
conforme o número relativo de nucleotídeos de cada segmento: pequeno (1 kilobase de
tamanho), médio (4.5 kb) e grande (6.9 kb), respectivamente. Os fragmentos de genoma são
circundados pelo nucleocapsídeo helicoidal com a proteína N e conectados individualmente com
a proteína L (RNA polimerase dependente de RNA viral, RdRp), formando assim os 3 complexos
chamados de ribonucleoproteínas (RNP), como mostrado na Figura 1 (PEREIRA et al., 2021;
ROMERO-ALVAREZ et al., 2018; SAKKAS et al., 2018; DA ROSA et al., 2017).
14
Menegatto, M.B.S
O genoma do protótipo brasileiro (cepa OROV BeAN 19991) foi sequenciado e mostrou
que o segmento S possui 958 nucleotídeos, o M 4.385 nucleotídeos, enquanto o L apresenta
6.852 nucleotídeos. As sequências de codificação dos 3 segmentos são flanqueadas por duas
regiões não codificantes terminais, 5’ e 3’, que embora possuam números diferentes de
nucleotídeos, onze são altamente conservados entre si. O fragmento S possui duas regiões
codificantes (ORF – “open reading frame”) sobrepostas que serão traduzidas na proteína
estrutural N, do nucleocapsídeo (26,26 kDa de tamanho), cuja função é de proteção do genoma
quando encapsidado, e também na proteína NSs não estrutural (10,65 kDa). Já o RNA M possui
uma única ORF que codifica uma poliproteína posteriormente clivada em 3 proteínas, duas
glicoproteínas de superfície Gn (28,3 kDa) e Gc (107,14 kDa), que vão permitir a aderência e
penetração do OROV na célula hospedeira, e uma não estrutural, NSm (26,65 kDa). Por fim, o
maior fragmento de genoma contém uma ORF que codifica a proteína L, a RdRp (261,25 kDa),
responsável pela transcrição e replicação do genoma (FILES et al., 2022; TILSTONLUNEL, 2017;
DA ROSA et al., 2017). A Figura 2 ilustra os 3 fragmentos de genoma e suas respectivas proteínas
virais traduzidas.
Em relação às proteínas não estruturais, TilstonLunel e colaboradores (2016) realizaram
estudos utilizando genética reversa com a ausência dessas proteínas e demonstraram que a
NSm é dispensável para a replicação do OROV em células de mamíferos e mosquitos, enquanto
a NSs é um importante gene de virulência atuando contra o sistema imunológico inato das
células hospedeiras, uma vez que a proteína atua como antagonista do interferon tipo I,
permitindo assim que o vírus se replique eficientemente na célula (TILSTONLUNEL et al., 2016;
DA ROSA et al., 2017)
15
Menegatto, M.B.S
O ciclo de multiplicação do OROV pode ser representado pelo ciclo geral dos Orthobunyavirus,
mostrado na Figura 3. A adsorção do vírus envolve a interação entre as glicoproteínas Gn e/ou
Gc (adesinas) e os receptores na superfície da célula do hospedeiro (passo 1). Em seguida, a
penetração da partícula viral é dada por endocitose mediada por clatrina (passo 2), e o
endossomo acidificado libera o genoma no citoplasma (desnudamento) (passo 3). Após o
desnudamento, ocorre a transcrição primária catalisada pela RdRp (passo 4), momento em que
é sintetizado o mRNA viral (antigenoma) que posteriormente é traduzido nas proteínas virais
(passo 5), onde Gn e Gc dimerizam no retículo endoplasmático (RE) e complexo de Golgi. Em
16
Menegatto, M.B.S
seguida, os 3 fragmentos de genoma viral senso negativo (RNA genômico – gRNA) são transcritos
em antigenomas (agRNA), fita molde (template) para a replicação na fábrica viral (passo 6). A
mudança da transcrição para a replicação não é muito clara, porém é necessário um número de
proteínas N suficientes para encapsular os antigenomas e genomas na replicação. Apenas as
proteínas RdRp e do nucleocapsídeo (N) são necessárias nos processos de transcrição e
replicação. A fita do antigenoma produzido na replicação é sempre encapsulada pela proteína
N na célula hospedeira, de modo a evitar interações com a fita molde na transcrição e também
minimizar a formação de fitas duplas de RNA (dsRNA) evitando sua detecção pela resposta
imune do hospedeiro. No próximo passo, as ribonucleoproteínas (genoma encapsidado) são
transportadas para as membranas do complexo de Golgi modificadas por Gn e Gc, e assim as
novas partículas virais são montadas e brotam nas vesículas derivadas da membrana do
complexo de Golgi (passo 7). Em seguida, essas vesículas contendo as partículas virais são
transportadas até a superfície celular via exocitose (passo 8), ocorrendo a fusão das membranas
da vesícula com a plasmática, facilitada pelos filamentos de actina (passo 9), e finalmente as
novas partículas virais infecciosas são liberadas da célula hospedeira (passo 10) (ELLIOTT, 2014).
17
Menegatto, M.B.S
O OROV é mantido na natureza por meio de dois ciclos, silvestre e urbano. Embora dados
existentes na literatura a respeito da detecção de OROV em hospedeiros reservatórios sejam
limitados, já foram detectados anticorpos anti-OROV no sangue de hospedeiros vertebrados
como preguiças (Bradypus tridactylus), primatas não humanos como macacos-prego (Sarajus
spp.), macacos bugios pretos e dourados (Alouatta caraya), saguis de tufos pretos (Callithrix
penicillata), roedores (Proechimys spp.) e pássaros selvagens (Fringillidae, Thaurapidae,
Columbidae). Em relação aos vetores artrópodes, que são infectados e transmitem o vírus para
novos hospedeiros, o OROV já foi isolado de mosquitos silvestres como Aedes (Ochlerotatus)
serratus, Coquilletidia venezuelensis, Culex quinquefasciatus e Culicoides paraensis
(MENDONÇA et al., 2021; PEREIRA et al., 2021; SAKKAS et al., 2018; DA ROSA et al., 2017).
Em relação ao ciclo urbano, o OROV ainda não tem um ciclo permanente bem
estabelecido. O homem é o único hospedeiro vertebrado envolvido (PEREIRA et al., 2021), uma
vez que estudos demonstraram que animais domésticos, como cães, gatos e galinhas não estão
18
Menegatto, M.B.S
implicados nesse ciclo de transmissão. Ainda, o homem é o elo que liga o ciclo silvestre ao ciclo
urbano, pois pode se infectar ao invadir áreas de florestas e em seguida retorna às áreas urbanas
durante o período de viremia (PEREIRA et al., 2021; ROMERO-ALVAREZ et al., 2018; DA ROSA et
al., 2017). Até o presente momento a transmissão urbana do OROV por mosquitos antropofílicos
não é conhecida, como ocorre em outras arboviroses como dengue, zika e chikungunya. No
entanto, várias evidências sugerem que esse arbovírus tem o potencial de estabelecer ciclos
urbanos permanentes (MENDONÇA et al., 2021).
Em relação aos vetores do ciclo urbano, o OROV já foi isolado de Culicoides paraensis,
cujo nome popular é “maruim” ou “borrachudo”, e de Culex quinquefasciatus durante períodos
epidêmicos (MENDONÇA et al., 2021; DA ROSA et al., 2017). O Culicoides paraensis é tratado
como vetor principal (PEREIRA et al., 2021), implicado em epidemias envolvendo até 100.000
infectados e, fortes evidências demonstram eficiência do artrópode em transmitir a doença,
mesmo se alimentando experimentalmente de sangue com baixos títulos virais (PEREIRA et al.,
2021; WIRTH et al., 1989). Além disso, estudos demonstraram que os C. paraensis tem potencial
de transmissão do OROV a hamsters após 5 ou mais dias se alimentando do sangue de pacientes
infectados. Esse importante vetor possui hábitos diurnos e é amplamente distribuído em áreas
tropicais e subtropicais dos países da América, incluindo o Brasil, e ainda é encontrado em alta
densidade em períodos epidêmicos (FILES et al., 2022; SAKKAS et al., 2018; DA ROSA et al.,
2017).
Estudos realizados por Hoch e colaboradores (1987), mais recentemente Mendonça e
colaboradores (2021) e também McGregor e colaboradores (2021) mostraram baixa ou
nenhuma eficiência de transmissão do OROV por mosquitos Cx. quinquefasciatus (HOCH et al.,
1987; MCGREGOR et al., 2021; MENDONÇA et al., 2021). No entanto, Cardoso e colaboradores
(2015) detectaram o fragmento S do genoma do OROV nessa espécie de vetor sugerindo a
provável participação do Cx. quinquefasciatus no ciclo urbano do OROV (CARDOSO et al., 2015).
Nesse sentido, Mendonça e colaboradores (2021) testaram a infecção do OROV em Cx.
quinquefasciatus, Ae. aegypti e Ae. albopictus contornando a barreira do intestino médio dos
mosquitos e infectando o OROV sistematicamente no corpo dos artrópodes. Dessa forma, foi
observado altas taxas de infecção nas três espécies testadas, mostrando que o vírus é capaz de
infectar e multiplicar em tecidos da cabeça, tórax e abdômen. Ou seja, Cx. quinquefasciatus, Ae.
aegypti e Ae. albopictus possuem receptores necessários para que o OROV tenha aderência às
suas células e sejam internalizados de forma eficiente (MENDONÇA et al., 2021).
Em posse dessas informações, O OROV tem potencial não só de estabelecer ciclos
urbanos permanentes no Brasil e em países das Américas, mas também de expandir para novas
regiões e continentes. Embora seja difícil prever uma mutação adaptativa do OROV que resulte
19
Menegatto, M.B.S
em uma competência vetorial eficiente de novos vetores, uma vez que isso aconteça, torna-se
possível a re-emergência da febre Oropouche transmitida por importantes vetores de centros
urbanos/periurbanos, como o Aedes aegypti (MENDONÇA et al., 2021). A Figura 4 abaixo
esquematiza os ciclos de transmissão do OROV bem como os vetores e hospedeiros
reservatórios envolvidos.
Desde seu primeiro isolamento em 1955, o OROV causou grandes epidemias e espalhou-se
principalmente pela região Amazônica do Brasil e por países como Panamá, Peru, Venezuela e
Argentina. A Figura 5 esquematiza uma linha do tempo ilustrando os principais fatos e surtos da
Febre Oropouche no Brasil. De 1960 a 1978, as epidemias causadas pelo OROV aparentemente
estavam restritas ao estado do Pará, na região norte do país. Foi em 1961 o primeiro surto
registrado, com mais de 11.000 casos de infecção humana. Desde então, ocorreram mais 7
surtos em pequenos e grandes centros urbanos do estado, com registros de cerca de 30.000
infectados. A literatura aponta que durante esses surtos, nos grandes centros urbanos o OROV
se limitava a alguns bairros, já em regiões de aldeias, se espalhava por toda parte sendo o C.
20
Menegatto, M.B.S
paraensis e Cx. quinquefasciatus os vetores mais comuns nas áreas endêmicas. Entre os anos de
1980 e 1981 tem-se registro do OROV causando as duas maiores epidemias, em Belém (PA) e
em Manaus (AM), abrangendo a área de circulação do vírus, totalizando mais de 100.000
infecções humanas (SAKKAS et al., 2018; SCIANCALEPORE et al., 2022; DA ROSA et al., 2017). A
partir de então, na região Amazônica, foram relatados apenas casos esporádicos ou surtos
autolimitados, o que indica uma provável circulação silenciosa do OROV. Nesse período a
doença também se espalhou para outros estados da região norte, nordeste e centro-oeste do
Brasil, incluindo Amapá, Acre, Rondônia, Tocantins, Maranhão (SAKKAS et al., 2018) e Goiás
(ROMERO-ALVAREZ et al., 2018).
No ano de 2000, foi a primeira vez que o OROV foi isolado de uma espécie de macaco
(Callithrix sp) em Arinos, cidade do estado de Minas Gerais, na região sudeste do país (NUNES
et al., 2005). Este foi o primeiro isolamento do vírus fora da área epidemiológica conhecida,
demonstrando o potencial desse arbovírus de se espalhar para novas áreas e novos hospedeiros.
Além disso, o isolamento do OROV na região sudeste indica risco de maiores epidemias, uma
vez que é a região mais populosa do Brasil, incluindo capitais como Rio de Janeiro, São Paulo e
Belo Horizonte. Tais centros urbanos são caracterizados pela intensa migração de pessoas,
transporte que permite a disseminação de zoonoses, bem como turismo que atrai visitantes de
todos os lugares do mundo, que pode contribuir para a disseminação do OROV para fora do país
e até da América (SAKKAS et al., 2018). Em 2010 houve um segundo isolamento do OROV em
Callithrix sp na mesma região (DA ROSA et al., 2017).
De 2003-2004, no estado do Pará, foram relatados 2 pequenos surtos da Febre
Oropouche, em Parauapebas e Porto de Moz. Dois anos depois, em 2006, aconteceu mais uma
grande epidemia no estado, com mais de 18.000 infectados, demonstrando a re-emergência da
Febre Oropouche após 26 anos sem nenhum outro caso esporádico relatado. Essa lacuna
epidemiológica pode ser explicada pelo acúmulo de pessoas que ainda não haviam sido expostas
ao vírus, como os jovens e imigrantes. Nos anos seguintes, 2007 e 2008 foram notificados surtos
em Manaus (AM) e em 2011 a 2012 vários municípios do estado de Mato Grosso também
registraram surtos de infecção pelo OROV (SAKKAS et al., 2018). No ano de 2016 aconteceu o
primeiro caso de infecção humana pela Febre Oropouche fora da região Amazônica, dois
pacientes febris na cidade de Ribeirão Preto (SP) após viagem a áreas de floresta, Rondônia e
Porto Seguro (BA) (LUNA et al., 2017).
21
Menegatto, M.B.S
Figura 5: Histórico do vírus Oropouche no Brasil. Linha do tempo traçada com os principais fatos
e surtos da Febre Oropouche desde que OROV foi isolado, baseado nas revisões de Romero-
Alvarez et al (2018), Sakkas et al (2018) e Da Rosa et al (2017).
22
Menegatto, M.B.S
23
Menegatto, M.B.S
A patologia causada pela infecção do OROV é denominada Febre Oropouche, uma doença febril
aguda autolimitada cujos sintomas se assemelham aos de outras arboviroses, incluindo febre
(~39°C), calafrios, dor de cabeça, mialgia, artralgia, tontura, mal-estar, náuseas, dor epigástrica,
vômitos, fotofobia e dor nos olhos. Também foram relatados, em raras ocasiões, erupção
cutânea no tronco e nos braços, sangramento espontâneo, manchas vermelhas pelo corpo,
sangramento nasal e gengival e também sinais clínicos relacionados ao sistema nervoso central
24
Menegatto, M.B.S
25
Menegatto, M.B.S
OROV, entretanto devido à existência dos rearranjos (MDDV, IQTV e PERDV) entre as espécies
do sorogrupo Simbu, esforços devem ser feitos no desenvolvimento de técnicas baseadas na
detecção do segmento M que é único e específico do OROV. Atualmente não existe diagnóstico
comercial ou testes rápidos para detecção do Oropouche disponíveis no mercado (ROMERO-
ALVAREZ et al., 2018; DA ROSA et al., 2017).
O tratamento disponível para a doença é voltado apenas ao alívio dos sintomas, não
interferindo na multiplicação do OROV. Além disso, poucos estudos foram conduzidos em busca
de tratamento potencial ou opções de prevenção da Febre Oropouche. Atualmente não existem
vacinas contra a infecção do OROV em humanos (SAKKAS et al., 2018).
A forma como o OROV persiste e estabelece a doença no corpo humano ainda não está muito
bem elucidada. Até o presente momento não foi relatada morte decorrente da infecção pelo
OROV, e sabe-se que os infectados apresentam sintomas sistêmicos com viremia nos 2 a 4 dias
após o início dos primeiros sintomas. Já foram descritos casos de infecção humana com
alterações nas transaminases hepáticas, sugerindo danos ao fígado (SAKKAS et al., 2018;
VERNAL et al., 2019). Ainda, o vírus pode atingir progressivamente as vias neurais e já foi isolado
do líquido cefalorraquidiano de pacientes, porém a forma como o OROV invade o SNC ainda é
desconhecida (SAKKAS et al., 2018; DA ROSA et al., 2017). Nesse sentido, pesquisas vêm sendo
desenvolvidas utilizando modelo animal a fim de compreender e elucidar importantes aspectos
da patogênese desse arbovírus. A maioria dos estudos in vivo buscaram compreender este
mecanismo de invasão do OROV no sistema nervoso central.
Araújo e colaboradores (1978) foram os pioneiros na busca pelo estabelecimento de um
modelo animal de infecção pelo OROV. Dessa forma, hamsters de 3 a 4 semanas de idade foram
inoculados com o vírus via intracerebral (cepa BeAn 19991), sendo o modelo testado susceptível
à infecção. Foi possível observar hepatite grave fatal nos animais infectados e detecção do vírus
nas lesões hepáticas, com necrose dos hepatócitos e hipertrofia das células de Kupffer, o que
sugere uma transmissão hematogênica do OROV do cérebro para o fígado (ARAUJO et al., 1978).
Rodrigues e colaboradores (2011) utilizaram o mesmo modelo animal (hamsters golden),
entretanto avaliaram a via subcutânea de infecção (4x105.6 TCID50), uma vez que essa via
mimetiza a via de infecção natural do OROV. Os animais desenvolveram infecção sistêmica, com
manifestações neurológicas graves, incluindo paralisia, e ainda foram detectados altos títulos
virais no fígado (106.2 TCID50/g) e cérebro (105.9 TCID50/g), sugerindo que estes órgãos são sítios
de replicação viral e também corroborando com a provável disseminação hematogênica do vírus
26
Menegatto, M.B.S
(RODRIGUES et al., 2011). Sendo assim, o OROV parece penetrar a barreira hematoencefálica
(BBB) por um mecanismo ainda desconhecido, observado pelas manifestações clínicas da
doença. Aparentemente o vírus é transportado pela corrente sanguínea, e escapa da BBB por
estar dentro de um fagócito, evitando uma resposta imune. Embora utilizada diferentes vias de
inoculação, ambos estudos demonstraram o tropismo do OROV pelos hepatócitos (RODRIGUES
et al., 2011; SAKKAS et al., 2018).
Entretanto, este modelo animal esbarra na dificuldade de ser heterogênico, ou seja,
apresenta um genoma altamente heterozigótico e, consequentemente, há uma grande
diversidade genética na população de uma mesma colônia (ANDRADE et al., 2002). Por esse
motivo, o uso dos hamsters como modelo animal torna-se inadequado na condução de estudos
imunológicos detalhados sobre as interações vírus-hospedeiro. Na busca por um modelo murino
isogênico, Santos e colaboradores (2012) utilizaram camundongos BALB/c neonatos (1 dia de
idade) infectados via subcutânea com 106.25 TCID50 do OROV. Os animais sucumbiram à doença
5 dias pós infecção (dpi) apresentando sinais clínicos graves como letargia e paralisia, e 85%
morreram em até 10 dpi. O vírus foi recuperado no cérebro dos animais doentes e a hibridização
in situ e a imunohistoquímica comprovaram o neurotropismo do OROV, embora a histopatologia
tenha sido leve no cérebro com pouca inflamação. Ainda, os animais desenvolveram hiperplasia
no baço, porém não houve recuperação viral ou detecção do antígeno neste órgão (SANTOS et
al., 2012, 2014). Mais tarde, outro estudo dos mesmos autores buscou uma investigação mais
detalhada da progressão e propagação do OROV no SNC, dessa vez foram infectados (via
subcutânea) camundongos BALB/c de 21 dias de idade. Os achados sugerem que o OROV utiliza
a rota neural durante a fase inicial de infecção, atingindo a medula espinhal e o cérebro em até
3dpi. Com o decorrer da doença, na fase mais tardia, o vírus invade de alguma forma a BBB,
disseminando-se para o parênquima cerebral, apresentando manifestações mais graves de
encefalite (SANTOS et al., 2014; DA ROSA et al., 2017).
Outro estudo utilizando camundongos C57BL/6 imunocomprometidos demonstrou que
a ativação da proteína de sinalização antiviral mitocondrial (MAVS), a produção do Interferon
do tipo I (IFN-I), bem como os fatores reguladores do interferon (IRF 3 e 7) são essenciais para
o controle da infecção pelo OROV. Estes fatores desempenham papel importante na resposta
imune inata, controlando a replicação viral, o dano hepático e também a morte dos animais
(PROENCA-MODENA et al., 2015). Ainda, o fator regulador de interferon 5 (IRF-5) é importante
na modulação da resposta antiviral do hospedeiro nos órgãos periféricos, que controlam a
disseminação do OROV no SNC. O IRF-5 possui efeito inibitório na manifestação da doença neuro
invasiva e também na replicação do vírus no fígado, baço e no sangue dos animais durante o
estágio inicial da doença (PROENCA-MODENA et al., 2016; SAKKAS et al., 2018).
27
Menegatto, M.B.S
Espécies reativas (ER) incluem os radicais livres, definidos como uma espécie capaz de existir de
forma independente (“livre”) e contendo um ou mais elétrons desemparelhados na sua última
camada eletrônica. Devido ao número ímpar de elétrons do radical livre, ele é muito instável, de
vida curta e bastante reativo, podendo receber ou doar elétrons facilmente de/para outras
moléculas a fim de atingir sua estabilidade (PHANIENDRA et al., 2015). As ER incluem também
moléculas que, apesar de não serem radicais, apresentam alta reatividade nos sistemas
biológicos (HALLIWELL, 1992; LI et al., 2016), como o peróxido de hidrogênio (H2O2). As ER são
formadas naturalmente durante as reações metabólicas de um sistema vivo, como na respiração
celular, ou por mecanismos enzimáticos e não enzimáticos associados a processos patológicos.
Elas contribuem com o sistema de defesa contra patógenos e participam da sinalização celular,
regulação de citocinas, fatores de crescimento, fatores de transcrição, imunomodulação e
apoptose (CAMINI et al., 2016; OKTYABRSKY et al., 2007; PISOSCHI et al., 2015).
As ER podem ser classificadas em diferentes classes dependendo do seu átomo central,
como por exemplo espécies reativas de oxigênio (ERO), nitrogênio (ERN) ou cloro (ERC)(LI et
al.,2016). As Espécies Reativas de Oxigênio (ERO) são derivadas da redução do oxigênio
molecular (O2) e incluem moléculas radicalares, como ânion superóxido (O2•-) e o radical hidroxil
(OH•), e também não radicalares, como peróxido de hidrogênio (H2O2) (HALLIWELL et al., 1994;
28
Menegatto, M.B.S
NONELL et al., 2016; LI et al., 2016; PISOSCHI et al., 2015). O O2•- pode ser formado de várias
formas, como resultado da redução por um elétron do O2 por várias oxidases (por exemplo
NADPH oxidase, xantina oxidase e ciclo-oxigenase) ou decorrente da atividade das cadeias
transportadoras de elétrons na mitocôndria e no retículo endoplasmático. Podem ser
produzidos também por células fagocíticas como monócitos, neutrófilos, eosinófilos e
macrófagos durante a fase de ativação de um processo inflamatório para eliminar patógenos
(HALLIWELL, 1992; PISOSCHI et al., 2015; VASCONCELOS et al., 2007). O radical hidroxil (OH•) é
produzido a partir das reações do tipo Fenton (1) e Haber Weiss (2), como mostrado abaixo, e é
considerado a espécie mais prejudicial e tóxica dentre as ERO. Possui tempo de meia-vida curta
e interage com as biomoléculas imediatamente após sua geração. Além disso, uma vez formado,
o organismo humano não dispõe de mecanismo de defesa (GOETZ et al., 2008; PISOSCHI et al.,
2015; VASCONCELOS et al., 2007).
Por fim, o peróxido de hidrogênio (H2O2), que é gerado pela dismutação do O2•- por oxidases ou
pela β-oxidação de ácidos graxos, é capaz de produzir radicais livres quando interage com íons
metálicos, aumentando seu caráter oxidativo (BARREIROS et al., 2006; PISOSCHI et al., 2015).
Mesmo importantes em várias funções celulares, uma produção exacerbada de ERO
culmina em inúmeros danos celulares. As ERO podem atacar componentes vitais como os ácidos
graxos poli-insaturados, proteínas e ácidos nucléicos. Essas reações podem alterar propriedades
intrínsecas da membrana plasmática, como a fluidez, o transporte de íons, perda de atividade
enzimática, inibição da síntese de proteínas e também causar danos ao DNA, resultando em
perda da integridade e funcionalidade celular. Alguns dos efeitos deletérios provenientes da
geração de radicais livres incluem a oxidação de proteínas, peroxidação lipídica e mutação do
DNA. A peroxidação lipídica é o processo biológico contínuo e prejudicial no qual os ácidos
graxos poli-insaturados da membrana são atacados pelas ERO (BANDYOPADHYAY et al., 1999;
HALLIWELL et al., 1994; SURESH et al., 2016). Sendo assim, as ERO precisam estar em níveis
metabólicos ajustados suficientes para responder à demanda celular e aos mecanismos de
defesa do sistema imune, por exemplo eliminando células mitóticas indesejadas ou
mitocôndrias, uma vez que o excesso tem influência negativa também sobre o envelhecimento,
envolvendo comprometimento das funções fisiológicas, promovendo incidência de doenças e
29
Menegatto, M.B.S
30
Menegatto, M.B.S
31
Menegatto, M.B.S
A primeira evidência de que o estresse oxidativo está envolvido em infecção viral devido ao
aumento de ERO foi demonstrada em 1979, por Peterhans, ao avaliar a infecção do vírus Sendai
em esplenócitos de camundongos BALB/c (PETERHANS, 1979). Mais tarde, estudos mostraram
que muitos retrovírus podem causar morte celular ao gerar o estresse oxidativo em células
infectadas. As ERO podem facilitar ou até promover a multiplicação viral, dependendo do tipo
celular e do patógeno envolvido, e seu efeito nas funções celulares depende da quantidade de
ERO produzidas e do tempo em que a célula foi exposta. Dependendo do vírus, a produção de
ERO varia, entretanto muitos vírus compartilham uma via patogênica em comum caracterizada
pelo aumento da produção de ERO e a depleção de antioxidantes endógenos (CAMINI et al.,
2016; RESHI et al., 2014; SCHWARZ, 1996).
Em uma possível infecção, o corpo detecta a presença do vírus que em seguida é
englobado e fagocitado por células do sistema imune, incluindo macrófagos, neutrófilos e
células dendríticas. A partir de então o patógeno ativa nessas células a expressão dos complexos
NADPH oxidase e óxido nítrico sintase, que serão responsáveis por uma maior produção de ER.
Além disso, os fagócitos ativados pela presença do vírus podem liberar citocinas pró-oxidantes,
como o fator de necrose tumoral (TNF) e interleucina-1 (IL-1). Essas citocinas promovem a
captação de ferro pelo retículo endotelial, e o acúmulo de ferro pode gerar radical hidroxil por
meio das reações de Fenton e Haber Weiss. Uma outra consequência da liberação de citocinas
é que o TNF pode inibir a respiração mitocondrial além de liberar o fator de transcrição nuclear
NF-ƙB, que por sua vez pode favorecer o aumento da multiplicação viral. Quando há liberação
de NF-kB ele é translocado para o núcleo da célula e se liga ao DNA, podendo induzir a
transcrição de genes celulares e/ou virais (CAMINI et al., 2016; LIU et al., 2017; SCHWARZ, 1996).
A infecção viral induz oxidantes como óxido nítrico (NO), O2•-, OH• e H2O2 que podem
contribuir na modulação de respostas celulares, regulação da multiplicação viral, nas defesas do
hospedeiro e consequentemente na patogênese do vírus (ZHANG et al., 2014). Uma vez que ER
estão relacionadas diretamente as funções celulares, uma mudança em diferentes vias de
sinalização pode interferir na modulação da expressão gênica, adesão, metabolismo, ciclo
celular, seleção de populações virais mutantes e apoptose. No primeiro momento as ER
combatem a infecção e funcionam como um mecanismo de proteção da célula hospedeira,
contribuindo por exemplo na indução da apoptose (JACOBSON, 1996). Entretanto, à medida que
a multiplicação viral avança mais ER são formadas, levando a um desequilíbrio na homeostase
redox. Sabendo disso, o estresse oxidativo induzido por vírus pode contribuir em vários aspectos
32
Menegatto, M.B.S
da sua patogênese, incluindo as respostas inflamatórias e morte celular (CAMINI et al., 2016;
LIU et al., 2017; RESHI et al., 2014).
No que diz respeito aos produtos das ER e da peroxidação lipídica, eles podem afetar a
multiplicação do vírus modulando o estado de ativação das células, regulando a resposta
inflamatória e imune do hospedeiro e causando dano oxidativo aos tecidos e componentes virais
(PETERHANS, 1997; SCHWARZ, 1996). Porém, a extensão em que o dano oxidativo desempenha
um papel benéfico para o hospedeiro, controlando a multiplicação viral, ainda não é muito
elucidada. Outro fator importante é que, além de favorecer a produção de oxidantes, os vírus
podem inibir também a síntese das enzimas antioxidantes (VALYI-NAGY et al., 2005). Diante do
exposto pode-se dizer que o estresse oxidativo está relacionado a vários aspectos da patogênese
de vários agentes virais.
Estudos já comprovaram o envolvimento do estresse oxidativo na infecção de
importantes vírus como papiloma vírus humano (HPV), hepatite C (HCV), hepatite B (HCB), vírus
da encefalite japonesa (JEV), Influenza (H1N1), vírus respiratório sincicial (RSV), da
imunodeficiência humana (HIV), Chikungunya (CHIKV), Dengue (DENV) (CAMINI et al., 2016),
Rift Valley (RFV) (NARAYANAN et al., 2014) e mais recentemente também na infecção pelo SARS-
CoV2 (CECCHINI et al., 2020). Além disso, o nosso grupo de pesquisa demonstrou também
envolvimento do estresse oxidativo na patogênese do ZIKV (ALMEIDA et al., 2020) e MAYV (DA
SILVA CAETANO et al., 2019; FERRAZ et al., 2021).
Assim, diante das evidências que o estresse oxidativo desempenha papel importante na
patogênese de diversos agentes etiológicos virais, dentre eles alguns arbovírus, o presente
trabalho teve como objetivo avaliar alterações na homeostase oxidativa relacionadas com a
infecção pelo OROV em modelo murino.
33
Menegatto, M.B.S
2. JUSTIFICATIVA
34
Menegatto, M.B.S
3. OBJETIVOS
3.2.1 - Em camundongos BALB/c adultos (3 semanas) infectados ou não com OROV, avaliar
durante 21 dias:
3.2.1 - Em camundongos BALB/c adultos (3 semanas) infectados ou não com OROV, avaliar
no 4º dpi:
35
Menegatto, M.B.S
4. MATERIAL E MÉTODOS
Para o desenvolvimento dos ensaios in vitro deste trabalho, incluindo a produção do estoque
viral e titulação, foram utilizadas as células de linhagem contínua Vero, que são fibroblastos
oriundos de rim de macaco verde africano (Cercopithecus aethiops). A linhagem de células Vero,
obtida da American Type Culture Collection (ATCC; EUA), foi cultivada e mantida em garrafas
médias de cultivo celular (75 cm2) utilizando meio Mínimo Essencial de Eagle Modificado por
Dulbecco, com alta concentração de glicose (DMEM HG; Sigma-Aldrich, EUA), suplementado
com 5% de soro fetal bovino (SFB; Gibco, EUA), e os antimicrobianos: estreptomicina
(100µg/mL; Sigma-Aldrich, EUA), penicilina potássica (100U/mL; Sigma-Aldrich, EUA) e
anfotericina B (2,5µg/mL; SigmaAldrich, EUA). As culturas celulares foram mantidas em estufa
a 5% de CO2 a 37°C, com atmosfera umidificada, e os repiques realizados a cada 2 – 3 dias,
quando a monocamada de células atingia 90-100% de confluência.
O OROV, protótipo brasileiro cepa BeAn 19991 [GenBank número KP052850 (segmento L),
KP052851 (segmento M) e KP052852 (segmento S)], foi isolado originalmente de um hospedeiro
vertebrado (Bradypus tridactylus) no Estado do Pará (Brasil) em 1960 (SAEED et al., 2000). A
amostra utilizada nos ensaios foi gentilmente cedida pelo professor Eurico de Arruda Neto, do
Instituto de Pesquisa em Virologia da Universidade Federal de São Paulo (USP) em Ribeirão
Preto.
O estoque viral foi produzido em garrafa média de cultura de células Vero confluentes,
infectadas com uma multiplicidade de infecção (moi) de 0,1 e adicionado volume mínimo de
meio DMEM HG sem adição de SFB para a etapa de adsorção. Após 1h de incubação na estufa
de CO2 a 37°C (agitadas a cada 10 minutos para favorecer a adsorção viral), o meio de cultura
foi completado e suplementado com 2% de SFB. Em seguida, a cultura infectada foi novamente
incubada em estufa de CO2 a 37°C por 48h até que fosse possível a visualização do efeito
citopático (morte celular – células completamente soltas da monocamada) comparado com a
cultura controle. Para a clarificação do sobrenadante, o cultivo foi então disposto em tubo de
15mL e centrifugado a 5000 rpm e 4°C a fim de remover os debris celulares. A partir do
36
Menegatto, M.B.S
Os animais utilizados neste trabalho para os experimentos in vivo foram fornecidos pelo Centro
de Ciência Animal (CCA) da Universidade Federal de Ouro Preto. Os procedimentos
experimentais foram aprovados pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA/UFOP), sob
protocolo de número 3850250619 (Anexo I). Foram utilizados camundongos machos e fêmeas
37
Menegatto, M.B.S
da linhagem BALB/c selvagens com 21 dias de idade, mantidos em caixas de polipropileno com
sistema de microisolador contendo maravalha, em ambiente arejado, com controle de
temperatura, luminosidade (ciclo claro/escuro) e ventilação. Durante todo o experimento, a
dieta e a água foram oferecidas ad libitum.
38
Menegatto, M.B.S
Os animais controles e infectados com o OROV foram avaliados quanto ao percentual de ganho
de massa corporal. Para isso, no dia 0 (antes da infecção) e durante os 21 dias os camundongos
foram pesados em balança semi-analítica (Marte, AD3300). A massa inicial foi considerada
igual a 100% e a massa corpórea dos demais dias calculada a partir desde dado.
A análise do perfil hematológico dos animais dos grupos controle e infectado foi feita em
parceria com o Laboratório de Imunopatologia da UFOP (LIMP), com auxílio do Dr. Rory
Cristiane Fortes de Brito. Utilizando o equipamento automatizado Auto Hematology Analyzer
(Mindray BC-2800 Vet, Hamburgo, Alemanha), foram feitas análises globais de leucócitos,
eritrócitos, hemoglobina e plaquetas .
Para avaliar a produção de anticorpos anti-OROV no soro dos animais infectados foi realizado o
teste de neutralização de redução de placa (PRNT). Primeiramente, para inativação do
complemento, as amostras foram mantidas a 56°C por 30 minutos. Em seguida, preparadas as
diluições seriadas do soro (1:20 a 1:80), essas foram então incubadas com 200 UFP do OROV por
1h a 37°C, incluindo os controles de célula e viral. Em placas de 12 poços, as células Vero
(previamente implantadas, 5x105 células/poço) foram infectadas com 150 µL dos controles e de
cada uma das soluções contendo o soro mais OROV. Após adsorção viral em estufa de CO2 a
37°C, o inóculo foi retirado e adicionado em cada poço 1mL de meio 199 semi-sólido acrescido
de carboximetilcelulose (CMC) 1,25% e 1,5% SFB. Por fim, as placas foram novamente incubadas
por 72h e reveladas após fixação da monocamada com formol (10%) seguida de coloração com
39
Menegatto, M.B.S
cristal violeta (1%) a fim de visualizar as UFP. As amostras de soro foram consideradas positivas
quando o número médio de placas correspondia a uma redução de 50% na contagem de placas
comparado com o controle viral. O título de anticorpo neutralizante foi calculado dividindo 1mL
pelo volume da solução (soro mais OROV) inoculado no poço (150 µL), e multiplicando pelo
inverso do valor da última diluição positiva do soro (GEESSIEN KROON et al., 2016). O título foi
expresso em unidades neutralizantes (UN) por mL de soro.
As dosagens foram realizadas por meio de um kit da Labtest (Minas Gerais, Brasil, Ref. 52 e 53),
conforme recomendações do fabricante. O piruvato e o oxalacetato gerado a partir das reações
acima foi mensurado por meio da formação de hidrazona, um composto com cor amarela
intensa em meio alcalino. Em seguida, mediu-se a absorbância em espectrofotômetro Victor X3
Multilabel (Perkin Elmer) com comprimento de onda de 490 nm. A concentração das
transaminases foi calculada a partir da curva padrão para ambas enzimas.
Os níveis séricos de citocinas pró-inflamatórias foram medidos nas amostras de soro dos animais
dos grupos controle e infectado utilizando o kit Mouse Inflammation Cytometric Bead Array
(CBA) (BD, EUA) conforme as instruções do fabricante.
40
Menegatto, M.B.S
Para acompanhar a disseminação do OROV foi realizada a titulação das amostras de soro, fígado
e baço dos animais do grupo infectado, pelo ensaio de formação de placas utilizando placa de
12 poços com células Vero confluentes. Sendo assim, 40 mg dos tecidos (fígado e baço) foram
homogeneizados em 400µL de PBS com posterior centrifugação a 10000 rpm e 4°C por 5
minutos. Para a infecção das células foi utilizado 150µL do sobrenadante das amostras de tecido.
Já para as amostras de soro, tomou-se 50µL de cada amostra, que foi diluída 3x em meio de
cultura, sendo o volume do inóculo de 150 µL. Os procedimentos seguintes foram realizados
conforme descrito no item 4.1.3. Os animais foram considerados positivos para a presença do
OROV quando identificada a formação de placa de lise. O número de partículas virais infecciosas
foi expresso como UFP/g de órgão (fígado ou baço). Além disso, foi realizada também a detecção
41
Menegatto, M.B.S
e quantificação do genoma viral OROV no sangue, fígado e baço dos animais infectados por meio
da qPCR.
Para quantificar o genoma do OROV nas amostras de sangue, fígado e baço, o RNA total foi
extraído utilizando o reagente Brazol, conforme instruções do fabricante (LCG – Biotecnologia)
Ao final do processo, o RNA extraído foi eluído em água nuclease-free, quantificado em
espectrofotômetro Nanodrop (Thermo Scientific, EUA) e armazenado em freezer -80°C até o
momento de uso.
Na reação em cadeia da polimerase (PCR) de um vírus cujo genoma é RNA, faz-se necessária a
realização de uma etapa de reação de Transcrição Reversa (RT) para síntese de um DNA
complementar (cDNA), construído a partir da ação da enzima transcriptase reversa, que servirá
de molde na qPCR. A síntese do cDNA foi iniciada a partir de 2µg do RNA total molde, a enzima
transcriptase reversa MultiScribeTM (50U/µL) e oligonucleotídeos iniciadores randômicos
(GeneAmpR RNA PCR, Applied Biosystems, EUA), em concentrações indicadas pelo fabricante.
Em seguida, foram adicionados também ao microtubo contendo a reação, o mix de nucleotídeos
100mM (dNTPs), tampão 10x da enzima e água (q.s.p.), com volume final da reação de 20µL. A
RT foi realizada utilizando o termociclador Veriti Thermal Cycle (Applied Biosystems, EUA),
com ciclo de 25°C por 10 minutos, 37°C por 120 minutos e 85°C por 5 minutos. As amostras
foram estocadas a -20°C até o momento do uso.
4.11.3 – qPCR
42
Menegatto, M.B.S
O malondialdeído (MDA) é uma substância oriunda da peroxidação lipídica das células, que por
sua vez reage com o ácido tiobarbitúrico (TBARS) formando um complexo colorido cuja
concentração pode ser medida espectrofotometricamente a 535nm. Dessa forma, quantificar o
43
Menegatto, M.B.S
nível de MDA é um parâmetro muito importante no que se pode inferir sobre o status redox em
uma célula ou um tecido.
As dosagens de MDA, proteína carbonilada, SOD e CAT foram iniciadas a partir do
mesmo homogenato dos tecidos. Para isso, 50mg de tecido foram homogeneizados em 500µL
(mantendo essa proporção) de tampão fosfato (para 1000mL: NaH2PO4 1,42g; KH2PO4 1,36g; KCl
0,1g; NaCl 4g; EDTA anidro 0,0372g, pH 7,8) com auxílio de um homogeneizador. Em seguida, as
amostras foram incubadas em banho de gelo por 10 minutos, centrifugadas a 4°C e 13000 rpm
por mais 10 minutos, e sobrenadante coletado foi armazenado a -20°C até o momento do uso.
Para quantificar o MDA, 200µL de ácido tricloroacético (TCA) 10% (m/v) gelado foi
adicionado a 100µL do sobrenadante, seguido de incubação por 5 minutos em banho de gelo.
As amostras foram centrifugadas a 14000 rpm e 4°C por 5 minutos, 200µL do sobrenadante foi
passado para um novo tubo e adicionado 200µL do TBA 1% (m/v). A curva padrão de MDA foi
construída conforme Tabela 1, e em 200µL de cada ponto foi adicionado 200µL de TBA. Em
seguida, as amostras, incluindo os pontos da curva e o branco, foram passadas em vórtex e
incubadas em banho maria a 100°C por 60 minutos. Finalmente, após os tubos esfriarem à
temperatura ambiente, 100µL (em duplicata) de todas as amostras foi transferido para os poços
de microplacas para posterior leitura no espectrofotômetro a 535nm (Adaptado de Buege; Aust,
1978).
44
Menegatto, M.B.S
45
Menegatto, M.B.S
A enzima SOD catalisa a dismutação do ânion superóxido (O2•-) em oxigênio (O2) e peróxido de
hidrogênio (H2O2). Para quantificar a atividade enzimática de SOD, foi utilizado o método de
inibição da auto-oxidação do pirogalol (Marklund, 1974 – adaptado). Por meio do método é
possível mensurar a capacidade da SOD pois ela inibe a auto-oxidação do pirogalol quando
catalisa a dismutação desse ânion. O pirogalol realiza auto-oxidação com a variação de pH, uma
vez em meio básico, essa reação de auto-oxidação gera o O2•-. Os ânions superóxidos, por sua
vez, são responsáveis por reduzirem o MTT (metil tiazoltetrazólio) à cristais de formazan. Dessa
forma, como a SOD compete com o O2•- formado na auto-oxidação do pirogalol, foi definido que
uma unidade da enzima SOD (U SOD) é a quantidade de enzima que reduz a taxa de auto-
oxidação do pirogalol em 50%.
Sendo assim, 30μL das amostras de fígado e baço homogeneizadas anteriormente em
tampão fosfato, foram pipetadas em duplicata em microplaca de 96 poços, seguido de 99μL do
tampão fosfato, 6μL de MTT e 15μL de pirogalol em cada um dos poços contendo as amostras.
Nos poços destinados ao branco, foi pipetado 144μL do tampão e 6μL de MTT (solubilizado em
tampão fosfato). Já para o padrão de SOD, 129μL de tampão, 6μL de MTT e 15μL do pirogalol
(solubilizado em tampão fosfato). Em seguida, a placa foi incubada por 5 minutos em estufa a
37°C e a reação foi encerrada adicionando 100μL de DMSO em todos os poços. A leitura da
absorbância foi realizada a 595nm no leitor de microplaca Victor X3 Multilabel (Perkin Elmer).
Novamente, a proteína total de cada amostra também foi dosada pelo método de Bradford e a
concentração de SOD foi calculado como mostrado na equação 4, e o resultado expresso em U
SOD/mg proteína total.
DOamostra
DObranco
[𝐒𝐎𝐃] = (4)
[proteína total]x V
A catalase é a enzima responsável pela decomposição do H2O2 em H2O e O2. Para dosar a
atividade de CAT foi utilizado o método cinético adaptado de Aebi (1984). O ensaio iniciou-se
46
Menegatto, M.B.S
com 30μL de cada amostra (homogenato dos tecidos em tampão fosfato) ressuspendida em
970μL do mix contendo tampão PBS modificado e 30% de H2O2, com leitura imediata em
espectrofotômetro UV-vis a 240nm em uma cubeta de quartzo. Foi anotado a absorbância inicial
(t0) e após 60 segundos (tf). O branco continha apenas o tampão PBS. É sabido que a medida da
atividade da CAT ocorre por meio da velocidade com que o H2O2 é reduzido pela ação enzimática
da CAT, resultando em consequente diminuição no valor da absorbância em 240nm. Então, a
diferença na leitura das absorbâncias, no intervalo de 60 segundos, permite estabelecer a
velocidade de redução do H2O2, sendo proporcional à velocidade da reação enzimática
catalisada pela CAT (AEBI, 1984). Uma unidade da enzima catalase (U CAT) decompõe 1 µmol
de H2O2 por mg de proteína em 60 segundos (MAEHLY et al., 1954). Sendo assim, após
quantificação de proteína total das amostras, o cálculo da atividade enzimática de CAT foi feito
utilizando a equação 5. Os resultados foram expressos como U CAT/mg proteína total
Como citado nos ensaios dos biomarcadores de estresse oxidativo e defesas antioxidantes, foi
necessário dosar proteína total e o método utilizado para essa quantificação foi o descrito
por Bradford (1976). Este ensaio baseia-se na interação do corante Coomassie Blue com as
proteínas por meio dos aminoácidos de cadeias laterais básicos ou aromáticos. Para isso, 10µL
de cada amostra foi adicionada (em triplicata) nos poços de microplacas de 96 poços,
juntamente com 190µL do corante Bio-Rad Protein Assay (1:4). A placa foi incubada a
temperatura ambiente por 30 minutos e em seguida realizada a leitura da absorbância a 595nm
no leitor Victor X3 Multilabel (Perkin Elmer). Em paralelo, foi construída também uma curva
padrão com albumina de soro bovino (BSA), sendo sete pontos de 2 a 0,03mg/mL, pipetados na
placa da mesma forma que as amostras. A partir da curva padrão foi calculada a concentração
de proteínas totais pela equação da reta gerada. O resultado final foi expresso em mg/mL.
47
Menegatto, M.B.S
Todos os dados obtidos no trabalho foram expressos em Média ± Desvio Padrão e analisados
pelo programa GraphPad Prism, versão 5.01. Após confirmada a normalidade dos dados pelo
teste de Kolmogorov- Smirnov, as diferenças entre os grupos controle e infectado foram
consideradas significantes utilizando o teste t-Student não pareado, com valor de p menor ou
igual a 0,05. Nos gráficos, os símbolos *, **,*** representam diferenças significativas entre os
grupos com p≤0.05, p≤0.01 e p≤0,001, respectivamente.
48
Menegatto, M.B.S
5. RESULTADOS
49
Menegatto, M.B.S
Figura 8: Susceptibilidade de camundongos BALB/c à infecção pelo OROV. (A) O peso corporal
dos camundongos foi registrado diariamente. As porcentagens do peso médio em relação ao
seu peso inicial foram plotadas de 1 a 21dpi. (B) Cavidade abdominal exposta de animais
indicando aumento do tamanho do baço (seta). (C e D) O baço e o fígado foram pesados e os
dados obtidos plotados como a razão entre o peso do órgão e o peso corporal. Os dados são
expressos como média ± DP (n=10), plotados e analisados usando o teste t-Student, onde * p≤
0,05 e *** p≤0,001 em comparação com o grupo controle.
A B
Controle OROV
180 Control
peso
de gain
OROV
160
weight
de ganho
140 *
% body
120
% of
100
80
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 101112131415161718192021
Dayspós
Dias post-infection
infecção
C D
0.010 0.08
corporal
***
baço/peso corporal
weight
liver/body weight
0.008 0.07
Ratio spleen/body
Ratiofígado/peso
0.006 0.06
0.004 0.05
Razão
0.002 0.04
Razão
0.000 0.03
Control
Controle OROV Controle
Control OROV
50
Menegatto, M.B.S
A Leucócitos B Plaquetas
400
3
*** **
300
(x10 9/L)
2
(x10 9/L)
200
1
100
0
0 Controle OROV
Controle OROV
C Hemácias D Hemoglobina
10 15
***
***
8
10
(x10 12/L)
6
(g/dL)
4
5
2
0 0
Controle OROV Controle OROV
E Anticorpos neutralizantes
100
(vs Controle de vírus)
% Redução de UFP
80
60
40
20
0
1:20 1:40 1:80
Diluições do soro
51
Menegatto, M.B.S
5.2 – A infecção pelo OROV resulta em danos ao fígado e baço em camundongos BALB/c
Para caracterizar eficientemente os efeitos hepáticos da infecção por OROV nos animais, foram
determinados os níveis séricos de ALT e AST. Estas transaminases estão presentes nos
hepatócitos e na presença de uma lesão hepática, são extravasadas no sangue, podendo ser
mensuradas por ensaios colorimétricos. Os níveis médios de AST e ALT aumentaram
significativamente nos animais infectados (Figura 10A e B), evidenciando um grau significativo
de injúria hepática após infecção por OROV. Além disso, na análise histopatológica das amostras
de fígado, os resultados revelaram aumento de infiltrado inflamatório no parênquima hepático
dos animais infectados (Figura 11C e D), em relação aos animais controles (Figura 11A e B). Uma
maior contagem de células inflamatórias no fígado dos animais infectados foi também
observada pela morfometria (Figura 11E).
O baço é um órgão linfóide e possui dois componentes principais, a polpa vermelha e
polpa branca. A polpa branca é composta pelos nódulos linfóides, constituídos de linfócitos B e
uma artéria central, localizada no centro do nódulo. A polpa vermelha é a região entre os
nódulos, constituída pelo tecido sanguíneo. Corroborando com o quadro de esplenomegalia
anteriormente observado, o corte histológico da Figura 12 representa o maior número de
nódulos (circulados pela linha tracejada) no grupo infectado (Figura 12B) comparado com o
grupo controle (Figura 12A). Esse aumento do número e da área total dos nódulos linfóides pode
ser confirmado também na Figura 12 (C e D). Assim, junto com o aumento da massa do órgão,
estes achados histopatológicos sugerem maior atividade do baço no combate à infecção pelo
OROV.
Figura 10: Aumento dos níveis séricos de AST/ALT em camundongos infectados com OROV.
Os níveis de (A) alanina aminotransferase (ALT) e (B) aspartato aminotransferase (AST) foram
medidos no soro por ensaio colorimétrico. Os dados são expressos como média ± DP (n=10),
analisados usando o teste t-Student, onde ** p ≤ 0,01 em comparação ao grupo controle.
A B
** **
500 500
Atividade ALT (U/mL)
400 400
300 300
200 200
100 100
0 0
Controle OROV Controle OROV
52
Menegatto, M.B.S
53
Menegatto, M.B.S
Figura 12: Análise histopatológica do baço de camundongos controle e infectados com OROV.
Fotomicrografias dos cortes histológicos do baço corados com Hematoxilina-Eosina. Em (A) está
representado o grupo controle e (B) o grupo infectado por OROV. Os nódulos linfóides são
circulados pela linha tracejada. Há maior número de nódulos linfóides (polpa branca) nos
animais infectados. Barras pretas indicam 200 μm (A/B) de magnitude. (C) Número de nódulos
e (D) área total dos nódulos linfóides. Os dados são expressos como média ± DP (n=7), analisados
com o teste t- Student, onde * p ≤ 0,05 e *** p ≤ 0,01 em comparação com o grupo controle.
A B
Amostras de sangue total, fígado e baço foram utilizadas para detectar a carga viral por qRT-PCR
nos camundongos infectados. O genoma OROV foi detectado nos órgãos, fígado e baço, mas
não no sangue total (Figura 13A). Como pode ser visto, foi detectada uma maior amplificação
do segmento S do genoma do OROV no baço quando comparado com as amostras de fígado.
Em seguida, os títulos de partículas virais infecciosas foram determinados a partir do soro e dos
homogenatos de fígado e baço. Aproximadamente 63% e 100% das amostras de fígado e baço
testadas (n=8), respectivamente, foram positivas para vírus através do ensaio de formação de
placa, sem vírus viável detectado no soro (Figura 13 B). Os títulos no fígado e no baço variaram
de 6,6x101 a 1,3x102 PFU/g e 6,6x101 a 3,3x102 PFU/g, respectivamente, sem diferença
54
Menegatto, M.B.S
Figura 13: Carga viral do OROV no fígado e baço dos animais infectados. (A) O RNA total foi
extraído de amostras de fígado e baço. A carga viral foi determinada por RT-qPCR usando
primers específicos que amplificam uma porção do segmento S do RNA do OROV. A carga viral
relativa foi determinada como a proporção do genoma viral para o gene constitutivo GAPDH.
(B) Carga viral nos tecidos medida pelo ensaio de formação de placas. Os dados são expressos
como média ± DP (n = 8), analisados usando o teste t-Student, onde *** p ≤ 0,001 comparando
os valores do fígado e do baço.
B
2.8
Título OROV
2.4
2.2
2.0
1.8
1.6
Fígado Baço
5.4 – A infecção pelo OROV induz aumento de ERO e altera a homeostase redox no fígado e
baço dos animais
Uma vez detectada carga viral no fígado e no baço dos camundongos, confirmando que esses
órgãos são susceptíveis à multiplicação do OROV, o próximo passo foi investigar se haveria uma
maior produção de ERO induzida pela infecção. Sendo assim, os níveis de ERO foram
mensurados utilizando o marcador fluorogênico, CM-H2DCFDA, que no momento em que é
clivado por esterases intracelulares gera DCFH como subproduto. O DCFH reage então com as
ERO e o produto final emite fluorescência verde. Conforme mostrado na Figura 14A, houve
aumento significativo da fluorescência no fígado e no baço dos animais infectados, indicando
aumento da produção de ERO em ambos os órgãos quando comparado ao grupo controle.
Com o aumento da formação de ERO induzida pela infecção, o próximo passo foi
investigar se esse aumento de ERO culminaria com danos oxidativos aos lipídeos e proteína
celulares. Dessa forma, os níveis de dois biomarcadores de estresse oxidativo (MDA e proteína
carbonilada) foram medidos nos animais do grupo controle e infectado. A infecção pelo OROV
resultou no aumento significativo dos níveis de MDA no fígado, porém não houve alteração nos
níveis de MDA no baço dos animais infectados (Figura 14B). Por outro lado, os níveis de proteína
55
Menegatto, M.B.S
56
Menegatto, M.B.S
Figura 14: A infecção pelo OROV induz aumento da produção de ERO, estresse oxidativo e
diminuição da atividade das enzimas antioxidantes SOD e CAT em camundongos BALB/c.
Homogenatos de fígado e baço foram utilizados para avaliar: (i) a produção de espécies reativas
de oxigênio (ERO) (A), cujo gráfico representa as unidades médias de fluorescência calculadas
pela diferença entre a última e a primeira leitura do ensaio DCFH-DA; (ii) biomarcadores de
estresse oxidativo MDA (B) e proteína carbonilada (C); (iii) as atividades de SOD total (D) e CAT
(E). Os dados são expressos como média ± DP (n=9), analisados usando o teste t-Student, onde
* p ≤ 0,05 ** p ≤ 0,01 *** p ≤ 0,001 em comparação com o grupo controle.
57
Menegatto, M.B.S
A literatura mostra que o estresse oxidativo presente na patogênese viral está associado ao
aumento da produção de ERO, que por sua vez desencadeia a produção de citocinas pró-
inflamatórias (CAMINI et al., 2017; PILLAI et al., 2019). Sendo assim, foi avaliado o perfil de
citocinas pró-inflamatórias em amostras de soro. A infecção pelo OROV mostrou um aumento
significativo nos níveis séricos de fator de necrose tumoral (TNF-α) (Figura 15A) e interferon-γ
(IFN-γ) (Figura 15B).
Figura 15: A infecção pelo OROV aumento os níveis séricos de citocinas pró-inflamatórias.
Foram utilizadas amostras de soro para dosagem das citocinas TNF-α (A) e IFN-γ (B) por
citometria de fluxo. Os dados são expressos como média ± DP (n=9), analisados usando o teste
t-Student, onde * p ≤ 0,05 e ** p ≤ 0,01 em comparação ao grupo controle.
A B
8 ** 8
**
TNF-alpha (pg/mL)
IFN-gama (pg/mL)
6 6
4 4
2 2
ND
0 0
Controle OROV Controle OROV
6. DISCUSSÃO
Apesar do OROV ser um vírus descoberto há mais de 65 anos, com risco significativo de
emergência nas Américas, os estudos relacionados à sua patogênese e fisiopatologia ainda são
limitados. Portanto, o uso de modelos animais para elucidar os mecanismos que contribuem
para esta doença pode fornecer uma melhor compreensão da Febre Oropouche. Neste trabalho
foi demonstrado que camundongos BALB/c com três semanas de idade são suscetíveis à
infecção subcutânea, que é a rota que melhor mimetiza a via de infecção natural, com formação
de anticorpos neutralizantes anti-OROV. Os animais desenvolveram doença aguda autolimitada,
sem mortalidade, até 21 dpi, e apresentaram redução no percentual de ganho de peso em
relação ao grupo controle. Além disso, foi observado que a infecção por OROV gerou aumento
do baço caracterizado pelo aumento do volume e peso do órgão. Esses achados também foram
descritos anteriormente por Santos e colaboradores (2012), em que camundongos BALB/c de
um dia de idade infectados com o OROV apresentaram uma parada no crescimento corporal e
hiperplasia do baço. Também demonstramos que a infecção por OROV causou alterações nos
58
Menegatto, M.B.S
59
Menegatto, M.B.S
60
Menegatto, M.B.S
61
Menegatto, M.B.S
7. CONCLUSÕES
Os resultados obtidos neste estudo mostraram que camundongos BALB/c com três semanas de
idade são suscetíveis à infecção subcutânea por OROV e desenvolvem uma doença aguda auto-
limitada. A doença é caracterizada pela diminuição da porcentagem de ganho de peso corporal,
diminuição dos parâmetros hematológicos e danos ao fígado (aumento de AST e ALT e presença
de infiltrado inflamatório encontrado na histopatologia) e baço (aumento da massa e número e
área total de órgãos de nódulos na polpa branca) dos animais. Além disso, a infecção também
leva a um desequilíbrio no sistema oxidante-antioxidante, caracterizado por aumento dos níveis
de ERO, MDA e proteína carbonilada, e diminuição da atividade das enzimas antioxidantes SOD
e CAT. O estresse oxidativo induzido também está relacionado ao aumento de citocinas pró-
inflamatórias, TNF-α e IFN-γ, no soro de animais infectados. Assim, uma vez que o ambiente
redox celular é influenciado pela produção e remoção de ERO, hipotetizamos que a
superprodução de ERO e a depleção da defesa enzimática antioxidante foram responsáveis pelo
estresse oxidativo em resposta à infecção por OROV. Este estudo é o primeiro a relatar o
envolvimento do estresse oxidativo na infecção por OROV. Mecanismos adicionais pelos quais
OROV induz e modula o estresse oxidativo e o quanto o estresse oxidativo influencia na
patogênese viral ainda precisam ser elucidados e requerem mais estudos. Uma vez comprovado
que o estresse oxidativo é um evento conspícuo na patogênese do vírus OROV, estudos com
substâncias capazes de modular ou reverter os danos oxidativos, como antioxidantes naturais,
poderão ser conduzidos a fim de encontrar possíveis formas de tratamento para a Febre
Oropouche, uma doença importante, negligenciada e com potencial para re(emergir) no Brasil
e no mundo.
62
Menegatto, M.B.S
REFERÊNCIAS
ACRANI, G. O. et al. Apoptosis induced by Oropouche virus infection in HeLa cells is dependent
on virus protein expression. Virus Research, v. 149, p. 56–63, 2010.
AEBI, Hugo. Catalase in vitro. In: Methods in enzymology. Academic press, 1984. p. 121-126.
ALMEIDA, Letícia Trindade et al. Zika virus induces oxidative stress and decreases antioxidant
enzyme activities in vitro and in vivo. Virus research, v. 286, p. 198084, 2020.
ANDRADE, Antenor; PINTO, Sergio Correia; OLIVEIRA, Rosilene Santos de. Animais de
laboratório: criação e experimentação. Editora Fiocruz, 2006.
AYERS, Victoria B. et al. Infection and transmission of Cache Valley virus by Aedes albopictus and
Aedes aegypti mosquitoes. Parasites & vectors, v. 12, n. 1, p. 1-6, 2019.
BANDYOPADHYAY, U.; DAS, D.; BANERJEE, R. K. Reactive oxygen species: oxidative damage and
pathogenesis. Current Science, v. 77, n. 5, p. 658–666, 1999.
BARBOSA, Natalia S. et al. Oropouche virus glycoprotein topology and cellular requirements for
glycoprotein secretion. Journal of virology, v. 97, n. 1, p. e01331-22, 2023.
BARREIROS, André LBS; DAVID, Jorge M.; DAVID, Juceni P. Estresse oxidativo: relação entre
geração de espécies reativas e defesa do organismo. Química nova, v. 29, p. 113-123, 2006.
BIRBEN, Esra et al. Oxidative stress and antioxidant defense. World allergy organization journal,
v. 5, p. 9-19, 2012.
BOLUKBAS, Cengiz et al. Increased oxidative stress associated with the severity of the liver
disease in various forms of hepatitis B virus infection. BMC infectious diseases, v. 5, p. 1-7, 2005.
BRADFORD, Marion M. A rapid and sensitive method for the quantitation of microgram
quantities of protein utilizing the principle of protein-dye binding. Analytical biochemistry, v.
72, n. 1-2, p. 248-254, 1976.
BUEGE, J. A.; SD, Aust. Microsomal lipid peroxidation methods,. Enzymol., 1978, 52, 302–310.
CAMINI, Fernanda Caetano et al. Caraparu virus induces damage and alterations in antioxidant
defenses in the liver of BALB/c mice after subcutaneous infection. Archives of virology, v. 159,
p. 2621-2632, 2014.
CAMINI, Fernanda Caetano et al. Implications of oxidative stress on viral pathogenesis. Archives
of virology, v. 162, p. 907-917, 2017.
63
Menegatto, M.B.S
CESTA, M. F. Normal Structure, Function, and Histology of the Spleen. Toxicologic Pathology, v.
34, n. 5, p. 455–465, 2006.
CHATTERJEE, Shampa. Oxidative stress, inflammation, and disease. In: Oxidative stress and
biomaterials. Academic Press, 2016. p. 35-58.
CIUODERIS, Karl A. et al. Oropouche virus as an emerging cause of acute febrile illness in
Colombia. Emerging Microbes & Infections, v. 11, n. 1, p. 2645-2657, 2022.
CLETON, N. et al. Come fly with me : Review of clinically important arboviruses for global
travelers. Journal of Clinical Virology, v. 55, n. 3, p. 191–203, 2012.
DA ROSA, Jorge Fernando Travassos et al. Oropouche virus: clinical, epidemiological, and
molecular aspects of a neglected Orthobunyavirus. The American journal of tropical medicine
and hygiene, v. 96, n. 5, p. 1019, 2017.
DA SILVA CAETANO, C. C. et al. Mayaro Virus Induction of Oxidative Stress is Associated With
Liver Pathology in a Non-Lethal Mouse Model. Scientific Reports, v. 9, n. 1, 1 dez. 2019.
DALLE-DONNE, Isabella et al. Protein carbonyl groups as biomarkers of oxidative stress. Clinica
chimica acta, v. 329, n. 1-2, p. 23-38, 2003.
ELBADRY, M. A. et al. Orthobunyaviruses in the caribbean: Melao and oropouche virus infections
in school children in haiti in 2014. PLoS Neglected Tropical Diseases, v. 15, n. 6, 1 jun. 2021.
ELLIOTT, Richard M. Orthobunyaviruses: recent genetic and structural insights. Nature Reviews
Microbiology, v. 12, n. 10, p. 673-685, 2014.
EVANS, Alyssa B.; PETERSON, Karin E. Throw out the map: neuropathogenesis of the globally
expanding California serogroup of orthobunyaviruses. Viruses, v. 11, n. 9, p. 794, 2019.
64
Menegatto, M.B.S
FILES, Megan A. et al. Baseline mapping of Oropouche virology, epidemiology, therapeutics, and
vaccine research and development. npj Vaccines, v. 7, n. 1, p. 38, 2022.
GAILLET, M. et al. Outbreak of oropouche virus in french guiana. Emerging Infectious Diseases,
v. 27, n. 10, p. 2711–2714, 1 out. 2021.
GEDDES, Victor Emmanuel Viana et al. Common Dysregulation of Innate Immunity Pathways in
Human Primary Astrocytes Infected With Chikungunya, Mayaro, Oropouche, and Zika
Viruses. Frontiers in Cellular and Infection Microbiology, v. 11, p. 641261, 2021.
GEESSIEN KROON, Erna et al. Natural vaccinia virus infection: diagnosis, isolation, and
characterization. Current Protocols in Microbiology, v. 42, n. 1, p. 14A. 5.1-14A. 5.43, 2016.
GIL, L. et al. Oxidative stress in adult dengue patients. American Journal of Tropical Medicine
and Hygiene, v. 71, n. 5, p. 652–657, 2004.
GOETZ, M. E.; LUCH, A. Reactive species : A cell damaging rout assisting to chemical carcinogens.
Cancer Letters, v. 266, p. 73–83, 2008.
HALLIWELL, B. Reactive Oxygen Species and the Central Nervous System. Journal of
Neurochemistry, v. 59, n. 5, p. 1609–1623, 1992.
HALLIWELL, Barry; CROSS, Carroll E. Oxygen-derived species: their relation to human disease and
environmental stress. Environmental health perspectives, v. 102, n. suppl 10, p. 5-12, 1994.
HOSAKOTE, Yashoda M. et al. Respiratory syncytial virus induces oxidative stress by modulating
antioxidant enzymes. American journal of respiratory cell and molecular biology, v. 41, n. 3, p.
348-357, 2009.
HOTEZ, Peter J.; MURRAY, Kristy O. Dengue, West Nile virus, chikungunya, Zika—and now
Mayaro?. PLoS neglected tropical diseases, v. 11, n. 8, p. e0005462, 2017.
JACOBSON, M. D. Reactive oxygen species and programmed cell death. Trends in biochemical
sciences, v. 21, n. 3, p. 83–86, 1996.
65
Menegatto, M.B.S
JONES, Dean P. Redefining oxidative stress. Antioxidants & redox signaling, v. 8, n. 9-10, p.
1865-1879, 2006.
LEVINE, Rodney L. et al. [37] Carbonyl assays for determination of oxidatively modified proteins.
In: Methods in enzymology. Academic press, 1994. p. 346-357.
LI, Y. R.; JIA, Z.; TRUSH, M. A. Defining ROS in Biology and Medicine. Reactive oxygen species
(Apex, NC), v. 1, n. 1, p. 9–21, 2016.
LIU, Miaomiao et al. The role of oxidative stress in influenza virus infection. Microbes and
infection, v. 19, n. 12, p. 580-586, 2017.
LUNA, L. K. DE S. et al. Oropouche virus is detected in peripheral blood leukocytes from patients.
Journal of Medical Virology, v. 89, n. 6, p. 1108–1111, 2017.
LUSHCHAK, V. I. Free radicals , reactive oxygen species , oxidative stress and its classification.
Chemico-Biological Interactions, v. 224, p. 164–175, 2014.
MADEWELL, Zachary J. Arboviruses and their vectors. Southern Medical Journal, v. 113, n. 10,
p. 520, 2020.
MAEHLY, A.; CHANCE, Britton. Catalases and peroxidases. Methods Biochem Anal, v. 1, p. 357-
424, 1954.
MARKLUND, Stefan; MARKLUND, Gudrun. Involvement of the superoxide anion radical in the
autoxidation of pyrogallol and a convenient assay for superoxide dismutase. European journal
of biochemistry, v. 47, n. 3, p. 469-474, 1974.
MUKHERJEE, Piyali et al. Activation of the innate signaling molecule MAVS by bunyavirus
infection upregulates the adaptor protein SARM1, leading to neuronal death. Immunity, v. 38,
n. 4, p. 705-716, 2013.
66
Menegatto, M.B.S
NARAYANAN, A. et al. Reactive oxygen species activate NF κ B ( p65 ) and p53 and induce
apoptosis in RVFV infected liver cells. Virology, v. 449, p. 270–286, 2014.
NAVECA, F. G. et al. Multiplexed reverse transcription real-time polymerase chain reaction for
simultaneous detection of Mayaro, Oropouche, and oropouche-like viruses. Memorias do
Instituto Oswaldo Cruz, v. 112, n. 7, p. 510–513, 2017.
NONELL, Santi; FLORS, Cristina (Ed.). Singlet Oxygen: Applications in Biosciences and
Nanosciences, Volume 1. Royal Society of Chemistry, 2016.
PACE, Gary W.; LEAF, Cynthia D. The role of oxidative stress in HIV disease. Free radical biology
and medicine, v. 19, n. 4, p. 523-528, 1995.
PEREIRA, Thiago Nunes et al. Emergent arboviruses: a review about Mayaro virus and
Oropouche orthobunyavirus. Frontiers in Tropical Diseases, p. 34, 2021.
PETERHANS, E. Oxidants and Antioxidants in Viral Diseases : Disease Mechanisms and VIRAL
INFECTION. The journal of nutrition, v. 127, n. 5, p. 962–965, 1997.
PHANIENDRA, A.; JESTADI, D. B.; PERIYASAMY, L. Free Radicals: Properties, Sources, Targets, and
Their Implication in Various Diseases. Indian Journal of Clinical Biochemistry, v. 30, n. 1, p. 11–
26, 2015.
PILLAI, Agieshkumar Balakrishna et al. Oxidative stress response in the pathogenesis of dengue
virus virulence, disease prognosis and therapeutics: an update. Archives of Virology, v. 164, p.
2895-2908, 2019.
PISOSCHI, A. M.; POP, A. The role of antioxidants in the chemistry of oxidative stress: A review.
European Journal of Medicinal Chemistry, v. 97, p. 55–74, 2015.
PROENCA-MODENA, Jose Luiz et al. Oropouche virus infection and pathogenesis are restricted
by MAVS, IRF-3, IRF-7, and type I interferon signaling pathways in nonmyeloid cells. Journal of
virology, v. 89, n. 9, p. 4720-4737, 2015.
67
Menegatto, M.B.S
RAUNG, Shue-Ling et al. Role of reactive oxygen intermediates in Japanese encephalitis virus
infection in murine neuroblastoma cells. Neuroscience letters, v. 315, n. 1-2, p. 9-12, 2001.
RESHI, M. L.; SU, Y.; HONG, J. RNA Viruses : ROS-Mediated Cell Death. International Journal of
Cell Biology, v. 2014, 2014.
RODRIGUES, Alcir Humberto et al. Oropouche virus experimental infection in the golden
hamster (Mesocrisetus auratus). Virus research, v. 155, n. 1, p. 35-41, 2011.
ROMERO-ALVAREZ, Daniel; ESCOBAR, Luis E. Oropouche fever, an emergent disease from the
Americas. Microbes and Infection, v. 20, n. 3, p. 135-146, 2018.
RUEDEN, Curtis T.; ELICEIRI, Kevin W. ImageJ for the next generation of scientific image
data. Microscopy and microanalysis, v. 25, n. S2, p. 142-143, 2019.
SAEED, M. F. et al. Nucleotide sequences and phylogeny of the nucleocapsid gene of Oropouche
virus. Journal of General Virology, v. 81, n. 3, p. 743–748, 2000.
SAKKAS, Hercules et al. Oropouche fever: a review. Viruses, v. 10, n. 4, p. 175, 2018.
SANTOS, Rodrigo I. et al. Spread of Oropouche virus into the central nervous system in
mouse. Viruses, v. 6, n. 10, p. 3827-3836, 2014.
SCHWARZ, Kathleen B. Oxidative stress during viral infection: a review. Free Radical Biology and
Medicine, v. 21, n. 5, p. 641-649, 1996.
SCIANCALEPORE, Sofia et al. Presence and multi-species spatial distribution of oropouche virus
in Brazil within the one health framework. Tropical Medicine and Infectious Disease, v. 7, n. 6,
p. 111, 2022.
SHOPE, Robert E.; MEEGAN, James M. Arboviruses. In: Viral Infections of Humans. Springer,
Boston, MA, 1997. p. 151-183.
SIES, Helmut; BERNDT, Carsten; JONES, Dean P. Oxidative stress. Annual review of
biochemistry, v. 86, p. 715-748, 2017.
STUBBS, S. H. et al. Vesicular Stomatitis Virus Chimeras Expressing the Oropouche Virus
Glycoproteins Elicit Protective Immune Responses in Mice. mBio, v. 12, n. 4, 1 ago. 2021.
68
Menegatto, M.B.S
SURESH, P. K.; SAH, A. K. Free radicals : Generation , defenses and implications in various
diseases. Research Journal of Pharmaceutical, Biological and Chemical Sciences, v. 4, n. 2, p.
247–269, 2016.
TARDIF, Keith D.; WARIS, Gulam; SIDDIQUI, Aleem. Hepatitis C virus, ER stress, and oxidative
stress. Trends in microbiology, v. 13, n. 4, p. 159-163, 2005.
TILSTONLUNEL, Natasha Louise. Oropouche virus: poised for headlines?. The Biochemist, v. 39,
n. 3, p. 12-17, 2017.
TSETSARKIN, K. A. et al. A single mutation in Chikungunya virus affects vector specificity and
epidemic potential. PLoS Pathogens, v. 3, n. 12, p. 1895–1906, 2007.
VALYI-NAGY, T.; DERMODY, T. S. Role of oxidative damage in the pathogenesis. Histology and
Histopathology, v. 20, p. 957–967, 2005.
WANG, Gang et al. The initiation of oxidative stress and therapeutic strategies in wound
healing. Biomedicine & Pharmacotherapy, v. 157, p. 114004, 2023.
WEAVER, Scott C. et al. Zika, chikungunya, and other emerging vector-borne viral
diseases. Annual review of medicine, v. 69, p. 395-408, 2018.
WEAVER, S. C.; REISEN, W. K. Present and future arboviral threats. Antiviral Research, v. 85, n.
2, p. 328–345, 2010.
WEBSTER, Duncan et al. California serogroup virus infection associated with encephalitis and
cognitive decline, Canada, 2015. Emerging infectious diseases, v. 23, n. 8, p. 1423, 2017.
XIONG, Qian et al. Acute effects of microcystins exposure on the transcription of antioxidant
enzyme genes in three organs (liver, kidney, and testis) of male Wistar rats. Journal of
Biochemical and Molecular Toxicology, v. 24, n. 6, p. 361-367, 2010.
69
Menegatto, M.B.S
ZHANG, Y. et al. antioxidants: potential antiviral agents for Japanese encephalitis virus infection.
International Journal of Infectious Diseases, v. 24, p. 30–36, 2014.
ZHAO, Lu et al. Pathogenesis and immune response of Ebinur Lake virus: a newly identified
orthobunyavirus that exhibited strong virulence in mice. Frontiers in Microbiology, v. 11, p.
625661, 2021.
ZOROV, D. B.; JUHASZOVA, M.; SOLLOTT, S. J. Mitochondrial reactive oxygen species (ros) and
ros-induced ros release. American Physiological Society, v. 94, p. 909–950, 2014.
70
Menegatto, M.B.S
ANEXOS
71
Menegatto, M.B.S
72
Menegatto, M.B.S
73
Menegatto, M.B.S
74
Menegatto, M.B.S
75
Menegatto, M.B.S
69
Menegatto, M.B.S
70
Menegatto, M.B.S
71
Menegatto, M.B.S
c) Encontro dos Saberes – VI Mostra de Pós Graduação – Universidade Federal de Ouro Preto – Ouro
Preto (MG) – 29 de novembro a 3 de dezembro de 2021
72
Menegatto, M.B.S
d) IX Simpósio de Microbiologia da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte (MG)
– 27 a 29 de setembro de 2022
73
Menegatto, M.B.S
74
Menegatto, M.B.S
75
Menegatto, M.B.S
f) VII Mostra de Pós Graduação – Encontro dos Saberes – UFOP – Ouro Preto, MG - 12 a 16 de dezembro
de 2022
76