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Universidade de São Paulo

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto


Disciplina de Medicina Preventiva

Arboviroses humanas: epidemiologia e controle


Fernando Bellissimo Rodrigues
Teste pré-aula

Se o Aedes aegypti é endêmico no sul dos EUA por quê


esse país não enfrenta epidemias de arboviroses?
Introdução

• Arboviroses são viroses transmitidas predominantemente por


artrópodes (Arthropod Borne Viruses)
• Os arbovírus são encontrados em ciclos silvestres em todo o
mundo, ainda que sejam mais numerosos nos trópicos
• Atualmente, são conhecidos 538 espécies, das quais 139
podem causar doença humana
• Principais vetores: mosquitos e carrapatos hematófagos
• Mais relevantes em saúde pública: dengue (tipos 1 - 4), febre
amarela, Zika vírus, Chikungunya
• Outros: Oropouche, Mayaro, Rocio, Ilhéus, vírus da encefalite
de St. Louis, vírus do Oeste do Nilo...
Ciclo silvestre x ciclo urbano

Febre amarela, análogo para


todos os arbovírus

Dengue, febre amarela, Zika,


Chikungunya
Vetores

Aedes aegypti
Vetores

• Aedes aegypti:
 antropofilia
 hábitos diurnos
 urbano, doméstico
 vetor mais importante

• Aedes albopictus e Aedes spp.:


 hábitos rurais, silvestres
 transmissão trans-ovariana
 manutenção da endemia

Gluber DJ, Current Topics in Vector Research New York, 1987


Vetores

• Infectam-se com os arbovírus, sugando indivíduos virêmicos ou


de forma transovariana (dengue)
• Não são simples vetores mecânicos dos vírus!
• Somente as fêmeas são hematófagas
• Vivem cerca de 6 a 8 semanas
• Voando, atingem raio de 200m (até 1Km para desovar)
• Mas também costumam pegar carona em carros, navios e
aviões
• Os ovos do A. aegypti são viáveis fora da água por até 450 dias

Gluber DJ, Current Topics in Vector Research New York, 1987


Distribuição mundial dos vetores
Distribuição mundial dos vetores
Distribuição mundial dos vetores

The Lancet, vol 394: 1991. Nov 30, 2019


Determinantes sociais da expansão das
arboviroses

Coleta insuficiente e destino inadequado dado ao lixo urbano


Determinantes sociais da expansão das
arboviroses

Coleta insuficiente e destino inadequado dado ao lixo urbano

Ministério da Saúde. Plano de Contingência Nacional para Epidemias de Dengue, 2015


Determinantes sociais da expansão das
arboviroses

Lixo se acumula em uma das ruas laterais do shopping Iguatemi, de Ribeirão Preto.
Folha de São Paulo, 08.10.2013

Coleta insuficiente e destino inadequado dado ao lixo urbano


Determinantes sociais da expansão das
arboviroses

Coleta insuficiente e destino inadequado dado ao lixo urbano


Determinantes sociais da expansão das
arboviroses

Coleta insuficiente e destino inadequado dado ao lixo urbano


Determinantes sociais da expansão das
arboviroses

Coleta insuficiente e destino inadequado dado ao lixo urbano


Determinantes sociais da expansão das
arboviroses
Determinantes sociais da expansão das
arboviroses
Abastecimento ausente ou irregular de água encanada
Determinantes sociais da expansão das
arboviroses
Abastecimento ausente ou irregular de água encanada
Determinantes sociais da expansão das
arboviroses

Aedes aegypti - criadouros predominantes


Determinantes sociais da expansão das
arboviroses
Aumento no transporte de pessoas e cargas
Determinantes sociais da expansão das
arboviroses

Aumento no transporte de pessoas e cargas


Determinantes sociais da expansão das
arboviroses
Aquecimento global

N Engl J Med 2019; 380:263-73.


Determinantes sociais da expansão das
arboviroses

Aquecimento global

Fonte: NASA 2016


Dengue no mundo

Hoje: 100-400 milhões


de infecções por ano
Dengue no Brasil
Dengue no Brasil em 2020
Dengue: espectro clínico

Am J Epidemiol 2000; 152:793–799.


Dengue: quadro clínico
Dengue: quadro clínico
Dengue: quadro clínico
Dengue: sorotipos circulantes no Brasil
A trajetória do vírus Zika

PESQUISA FAPESP nº 239, 2016


Infecção pelo vírus Zika no mundo
Infecção pelo vírus Zika no Brasil
Infecção pelo vírus Zika: complicações

Síndrome Congênita associada ao Zika vírus (2289 casos confirmados até dezembro de 2016)
Infecção pelo vírus Zika: complicações
Infecção pelo vírus Zika: complicações

Science vol 351(11), issue 6278, 2016


Infecção pelo vírus Zika: complicações
Infecção pelo vírus Zika: complicações

Síndrome de Guillain-Barré
Febre Amarela
Febre amarela: ciclos biológicos
Febre amarela: vetores

Sabethes sp.

Foto: James Gathany/CDC


Febre amarela: reservatórios naturais

Cebus sp
Foto: Rodrigo del Valle (macaco prego)

Alouatta sp Callithrix sp
(bugio) (soim)

Hospedeiros Amplificadores Disseminadores


Febre amarela: epizootias

Epizootia de febre amarela em primatas no RS em


2008-2009: 18 casos e 7 óbitos (letalidade 39%)

MS, 2009; Oliveira SV etal, 2009


Febre amarela: epizootias
Febre amarela urbana e silvestre no mundo
Febre amarela: série histórica no Brasil
Febre amarela: epizootias e casos humanos
Febre amarela silvestre em Ribeirão Preto
Febre amarela: quadro clínico
Febre amarela: evolução clínica

Monath T, 2001; Vasconcelos PF, 2003


Febre do Chikungunya
Febre do Chikungunya: quadro clínico

Febre do Chikungunya: manejo clínico


Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, 2015
Febre do Chikungunya: espectro clínico

Febre do Chikungunya. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, 2015.


Okeoma CM. Chicungunya Virus. 1ª edição, 2016.
Arboviroses: prevenção e controle
Arboviroses: prevenção e controle
Arboviroses: prevenção e controle
Arboviroses: prevenção e controle

Proteção individual na
Proteção coletiva: Proteção individual e
gestação: evitar a
combate ao vetor coletiva: vacinação
picada do vetor
Proteção coletiva: controle do vetor

35 milhões de pessoas no Brasil

Abastecimento contínuo de água encanada

World Health Organization 2016


Proteção coletiva: controle do vetor

Diretrizes para a Prevenção e Controle da Dengue. Ministério da Saúde 2009.


Proteção coletiva: controle do vetor

Dar destino adequado ao lixo: reciclagem

World Health Organization 2016


Proteção coletiva: controle do vetor

Dar destino adequado ao lixo: reciclagem


Diretrizes para a Prevenção e Controle da Dengue. Ministério da Saúde 2009.
Proteção coletiva: controle do vetor

Uso pontual de inseticidas nebulizados em bairros com alta incidência de


arboviroses
Diretrizes para a Prevenção e Controle da Dengue. Ministério da Saúde 2009.
Proteção coletiva: controle do vetor

Uso pontual de inseticidas nebulizados em bairros com alta incidência de arboviroses


Ministério da Saúde. Plano de Contingência Nacional para Epidemias de Dengue, 2015
WHO. Dengue: Guidelines for Diagnosis, Treatment, Prevention and Control, 2009
Proteção coletiva: controle do vetor

Uso pontual de larvicidas químicos e inseticidas de ação residual em


bairros com alta incidência de arboviroses
Diretrizes para a Prevenção e Controle da Dengue. Ministério da Saúde 2009.
Proteção individual: evitar a picada
Proteção individual: evitar a picada

Uso de roupas claras que


cubram a maior parte do
corpo possível, especialmente
as pernas

World Health Organization 2016


Proteção individual: evitar a picada

Uso de telas anti-mosquito preferencialmente impregnadas ou


com inseticida piretróides (deltametrina ou permetrina)
World Health Organization 2016
Proteção individual: evitar a picada

Uso diário de repelentes à base de Dietil-toluamida (DEET) 20%, Icaridina 20% ou IR 3535

World Health Organization 2016


Proteção individual: evitar a transmissão sexual

Uso de preservativos em todas as relações sexuais durante a gestação

World Health Organization 2016


Proteção individual e coletiva: vacinação
Proteção individual e coletiva:
vacina contra a Febre Amarela

Evolução temporal das áreas de recomendação de


vacinação contra a Febre Amarela
Proteção individual e coletiva:
vacina contra a Febre Amarela
Proteção individual e coletiva:
vacina contra a Febre Amarela
Proteção individual e coletiva:
vacina contra a Febre Amarela
Proteção individual e coletiva:
efetividade da vacina contra a Dengue

DOI: 10.1056/NEJMoa1800820
"Antes de sair para mudar o mundo,
dê uma olhada na sua própria casa"
(Provérbio popular chinês)

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