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Lucca de Lima Siqueira Oliveira, Bacharel. Graduado em
Biomedicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
Atualmente é mestrando no programa de Biologia Celular e
Molecular do IOC (FIOCRUZ, Rio de Janeiro) desenvolve seu
projeto no Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus.
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PREFÁCIO
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Índice de figuras – Capítulo 1
Figura 1.1. Exemplos de equipamentos de uso individual (EPIs) e de uso coletivo (EPCs)
utilizados comumente utilizados em laboratórios de pesquisa. ............................................... 13
Figura 1.2. Estrutura dos nucleotídeos. .................................................................................... 25
Figura 1.3. Estrutura da molécula de DNA.............................................................................. 26
Figura 1.4. Classificação de Baltimore. ................................................................................... 27
Figura 1.5. Ação dos detergentes sobre a membrana plasmática. ........................................... 28
Figura 1.6. Isolamento de ácidos nucleicos com fenol e clorofórmio. .................................... 30
Figura 1.7. Isolamento de RNA utilizando TRIzol. ................................................................. 31
Figura 1.8. Extração de ácidos nucleicos por colunas. ............................................................ 32
Figura 1.9. Dogma central da biologia molecular.................................................................... 33
Figura 1.10. Regiões de anelamento dos diferentes tipos de iniciadores................................. 35
Figura 1.11. Retrotranscrição in vitro. ..................................................................................... 36
Figura 1.12. Passos finais de uma reação de PCR. .................................................................. 37
Figura 1.13. Representação esquemática dos componentes da reação de PCR. ...................... 40
Figura 1.14. Esquema das etapas do ciclo de PCR. ................................................................. 42
Figura 1.15. Gráfico representativo do aumento do número de moléculas de DNA durante os
cinco ciclos iniciais da reação de PCR. ................................................................................... 43
Figura 1.16. Esquema da metodología de eletroforese. ........................................................... 44
Figura 1.17. Esquema da composição de inicadores em uma PCR múltiple que contém 4 alvos
de amplificação. ....................................................................................................................... 45
Figura 1.18. Esquema da PCR nested. ..................................................................................... 46
Figura 1.19. Esquema representativo da OneStep PCR........................................................... 47
Figura 1.20. Comparação no fluxo de trabalho do sistema SYBR green e TaqMan. .............. 49
Figura 1.21. Dispersão do SARS-CoV-2 rastreadocom base na informação genômica obtida
através de sequenciamento. ...................................................................................................... 52
Figura 1.22. Representação esquemática da metodologia de sequenciamento de DNA por
Sanger. ..................................................................................................................................... 55
Figura 1.23. Esquema da metodologia de sequenciamento de Sanger......................................56
Figura 1.24. Esquema da reação de pirosequenciamento. ....................................................... 58
Figura 1.25. Etapas do sequenciamento por síntese (Illumina). .............................................. 59
Figura 1.26. Metodologias de sequenciamento de terceira geração. ....................................... 61
Figura 1.27. Polos de sequenciamento da Rede Genômica Fiocruz. ....................................... 65
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Índice de quadros – Capítulo 1
Quadro 1.1. Tipos de risco e possíveis consequências. ........................................................... 11
Quadro 1.2. Classificação das situações capazes de afetar a saúde no trabalho. ..................... 12
Quadro 1.3. Classificação, descrição e exemplo de laboratórios a partir de seu nível de
biossegurança. .......................................................................................................................... 14
Quadro 1.4. Variáveis relacionadas ao preparo de amostras biológicas para realização de
examens laboratoriais............................................................................................................... 17
Quadro 1.5. Vantagens e desvantagens dos métodos de purificação. ..................................... 32
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SUMÁRIO CAPÍTULO 1
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CAPÍTULO 1 - DECIFRANDO O GENOMA VIRAL
Mas afinal, em que consiste um vírus? O vírus é uma partícula infecciosa com
característica de parasita intracelular obrigatório. Ele é formado por proteínas estruturais que
moldam um capsídeo, dentro do qual é comportado um genoma que pode variar na composição
de ácido nucleico, ácido desoxirribonucleico (DNA – do inglês: do inglês: Deoxyribonucleic
acid) ou ácido ribonucleico (RNA – do inglês: ribonucleic acid), e no tipo (fita simples, fita
dupla, segmentado etc.). Alguns vírus podem possuir, além do capsídeo, um envelope viral
composto da membrana fosfolipídica derivada da célula hospedeira e proteínas de envelope
virais. Os vírus não são parasitas exclusivos de humanos: existem vírus que infectam animais
terrestres, animais aquáticos, plantas e até mesmo células procariotas. Inclusive, existem vírus
que infectam outros vírus.
Uma forma de estudar os vírus é através da análise do genoma viral. Desde a obtenção
da amostra até a obtenção do genoma viral é necessária a realização de diversas técnicas
moleculares, entre as quais encontramos a extração de ácidos nucleicos, retrotranscrição (RT),
reação em cadeia da polimerase (PCR - do inglês: Polymerase Chain Reaction) e
sequenciamento genômico. Nas próximas sessões deste capítulo discutiremos estas técnicas,
assim como outras que são comumente utilizadas para o estudo dos vírus, como a PCR em
tempo real (qPCR – do inglês: quantitative Polymerase Chain Reaction). Porém, antes de
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apresentar as diversas técnicas moleculares, vamos aprender alguns conceitos básicos e
necessários sobre biossegurança em laboratórios de pesquisa e ensino, assim como sobre a
correta manipulação de amostras biológicas para o estudo dos vírus.
Exemplos:
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Riscos biológicos: vírus, bactérias, fungos, parasitas…
Além disso, muitos são as possíveis consequências das situações de risco citadas, como
exemplificado no quadro abaixo (Quadro 1.1.).
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Quadro 1.2. Classificação das situações capazes de afetar a saúde no trabalho.
Exemplos:
Respingo de suspensão viral
Gota de suspensão viral
escapa do eppendorf, em
Manipular patógeno sem entra em contato com os
Microrganismos quantidade irrisória e sem
equipamento de proteção olhos, resultando em
atingir o profissional em
infecção
questão
Para evitar ao máximo esse tipo de situação, é necessário todo tipo de cautela e
precaução. Nesse contexto, se insere o conceito de contenção. A contenção é a proteção
individual e do ambiente de trabalho contra a exposição a agentes infecciosos, que pode ser
proporcionada pelo uso de equipamentos de segurança adequados.
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Figura 1.1. Exemplos de equipamentos de uso individual (EPIs) e de uso coletivo (EPCs)
utilizados comumente utilizados em laboratórios de pesquisa.
Os vírus, que são o foco principal do presente curso, são classificados pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) como agentes de risco biológico. Essa nomenclatura envolve
também outros microrganismos e segue diversos critérios para ser estabelecida (ex: Modo,
meio e via de transmissão, índice de letalidade, patogenicidade, endemicidade, disponibilidade
de medidas de prevenção e profilaxia, etc). A classificação ocorre de acordo com a respectiva
classe de risco (classes 1, 2, 3 e 4) referentes aos perigos causados pelos microrganismos
infecciosos, sendo esses números também adotados para designar seus respectivos laboratórios
de manuseio (Quadro 1.3.).
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Quadro 1.3. Classificação, descrição e exemplo de laboratórios a partir de seu nível de
biossegurança.
Exemplos de
Nível de biossegurança Descrição
laboratório
NÍVEL BÁSICO I
Microrganismos pouco suscetíveis de provocar
Risco fraco na escala Ensino básico
doenças no homem ou animais sadios
individual e coletiva
NÍVEL BÁSICO II Germes patogênicos capazes de provocar
Posto de saúde de
doenças em seres humanos ou animais, mas que
primeira linha; Hospital
geralmente não apresentam um perigo sério
Risco individual moderado e de nível primário; Ensino;
para quem os manipula em condições de
limitado para a comunidade Diagnóstico e saúde
contenção, para a comunidade ou para o
pública
ambiente
CONTENÇÃO NÍVEL III Patógenos que geralmente causam doenças
graves ao homem e aos animais, podendo
Risco elevado na escala representar um risco sério para quem os Laboratório de
individual e limitado na escala manipula e se disseminado na sociedade, diagnostico especializado
coletiva embora existam medidas de prevenção e
tratamento
CONTENÇÃO MÁXIMA
Agente patogênico que provoca, geralmente,
NÍVEL IV
uma doença humana ou animal, grave e que se
Unidade de germens
transmite facilmente de um individuo a outro,
Elevado risco individual e para patogênicos perigosos
direta ou indiretamente. Normalmente, não
a comunidade
existem medidas de prevenção e tratamento
A seguir, estão listados alguns exemplos de agentes de risco biológico das diferentes
classes:
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Em cada um dos níveis de biossegurança laboratorial, configura-se como necessária a
utilização de equipamentos de segurança específicos para a situação:
Nível de Biossegurança 3 (NB-3): Jaleco descartável, dois pares de luvas, propé, touca
e máscara.
Considerando que cerca de 70% das decisões e diagnósticos médicos possuem os testes
de laboratório como base, os resultados dos exames laboratoriais são essenciais para o
tratamento de diversas enfermidades. Qualquer erro nas fases mencionadas pode resultar na
obtenção de um resultado incorreto, levando a orientações inadequadas por parte do médico, o
que muitas vezes pode ter como consequência o agravamento da doença. Dessa forma, erros e
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variações nesse processo podem resultar em danos gravíssimos à saúde pública e à
credibilidade das instituições relacionadas.
Fase pré-analítica
Para gerar resultados laboratoriais confiáveis, além da boa execução das técnicas, é
necessário garantir a boa qualidade da amostra biológica. Entende-se como boa amostra aquela
obtida em quantidade suficiente, em recipiente adequado, bem identificado, armazenado e
transportado da forma correta. Existem diversas variáveis comumente observadas no preparo
e manuseio da amostra biológica a partir da qual será realizado o exame laboratorial para
diagnóstico virológico (Quadro 1.4.).
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Quadro 1.4. Variáveis relacionadas ao preparo de amostras biológicas para realização de
examens laboratoriais.
Variáveis
Hemólise
Centrifugação
Tempo de processamento
Evaporação
Aliquotagem
Condições de transporte
Preservativos inadequados
No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) todas as amostras coletadas devem ser
cadastradas em um sistema de registro abrangente e interconectado entre os estados. No Brasil,
o principal sistema de cadastro de amostras é o Gerenciador Ambiental de Laboratórios (GAL),
que foi desenvolvido para os laboratórios de Saúde Pública que realizam exames de notificação
compulsória, de média e alta complexidade das amostras de origem humana, animal e
ambiental. Este sistema possui como objetivos e funções:
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− Gerenciamento do processo de trabalho desenvolvido pelos Laboratório Central de
Saúde Pública (LACENs) e sua rede de Laboratórios conveniados;
− Rastreamento do paciente/exame desde o cadastro até a liberação dos resultados dos
exames solicitados;
− Cadastro de pacientes e exames realizado pelos usuários (Municípios), proporcionando
assim melhores informações sobre o paciente;
− Liberação dos resultados on-line pelos analistas responsáveis;
− Impressão de Resultados diretamente no município solicitante, diminuindo o tempo de
entrega dos laudos;
− Realização de relatórios epidemiológicos em tempo real;
− Acompanhamento de pacientes/exames pelas Vigilâncias Epidemiológicas municipal,
estadual e nacional;
− Agilizar a tomada de decisões em surtos e epidemias.
Dentro do processo pré-analítico, uma das etapas mais importantes é a coleta da amostra
biológica, que deverá ser realizada por um profissional de saúde qualificado. É preciso ter em
mente que infecções virais diferentes podem requerer amostras biológicas diferentes. Por outro
lado, além de ter em conta o tipo de amostras biológica dependendo do vírus que se suspeita
por causa da clínica e/ou de associação epidemiológica, o tempo de coleta da amostra também
é um fator determinante. Portanto, a fase da doença na qual o paciente se encontra
(considerando o dia do aparecimento de sintomas) junto à suspeita clínica irão determinar qual
amostra será coletada e qual exame será solicitado. Coletar a amostra biológica durante a fase
aguda da doença e no local onde está ocorrendo a replicação do vírus aumenta o êxito do
diagnóstico laboratorial.
Fase Analítica
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Fase pós-analítica
É responsável pela verificação das análises feitas ao longo da fase pré-analítica, assim
como a liberação dos resultados para o paciente e ao médico, possibilitando assim a
interpretação dos resultados pelo solicitante. Os dados, após serem aprovados e liberados pelo
laboratório, serão utilizados para o laudo do paciente.
No que se refere a liberação dos laudos, isto está relacionada aos laboratórios públicos
de referência, e aos laboratórios de análises clínicas privados. No caso dos laboratórios que
atuam só na área da pesquisa, as amostras biológicas utilizadas têm outro fim.
A ética em pesquisa exige que a prática da ciência seja realizada de acordo com
princípios éticos e com este intuito, foram criados os comitês de ética. Estes, como instâncias
de controle social e de caráter regulatório, são responsáveis por avaliar os projetos de pesquisa
que envolvem seres humanos e animais, antes das etapas de execução, visando garantir o
respeito e a prevenção de danos, minimizando os efeitos decorrentes do desenho experimental,
além de dedicar a atenção necessária àqueles que promovam intervenção no meio ambiente.
Desta forma, os comitês de ética são compostos por um colegiado multiprofissional que
desempenham um papel fundamental, contribuindo para que a pesquisa científica seja realizada
conforme a normativa vigente e com absoluto respeito aos princípios, compromissos e
exigências bioéticas e de biossegurança em geral.
A Fiocruz conta com um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP Fiocruz) que analisa e
avalia projetos de pesquisa que envolvem seres humanos. O objetivo é garantir que as pesquisas
atendam aos fundamentos éticos, científicos e ao cumprimento das Resoluções do Conselho
Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Além do CEP Fiocruz, algumas unidades da
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Fundação contam com comitês de ética próprios, com as mesmas responsabilidades e
prerrogativas. As atribuições do CEP consistem em:
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− Criar ambiente de discussão e ampliação do ensino da bioética na Fiocruz.
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Projetos que não necessitam de apreciação ética
Define-se pesquisa envolvendo seres humanos (Resolução 466/12, item II.14), como
“pesquisa que, individual ou coletivamente, tenha como participante o ser humano, em sua
totalidade ou partes dele, e o envolva de forma direta ou indireta, incluindo o manejo de seus
dados, informações ou materiais biológicos”. Deste modo, os projetos de pesquisa que não se
encaixam nas definições expostas acima, ou que já foram executados, não necessitam de
aprovação do CEP da Fiocruz.
OBS: Caso a proposta envolva mais de uma instituição, ela deverá ser aprovada por
ambas as CEUAs, quando devidamente regulamentadas. Não deve ser permitida a pesquisa
com o uso de animais em instituições que não apresentam a CEUA.
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EXTRAÇÃO DE ÁCIDOS NUCLEICOS E RETROTRANSCRIÇÃO
Conceitos básicos
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Figura 1.2. Estrutura dos nucleotídeos. Adaptado do website
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Base_nitrogenada>, acesso em 16 de junho de 2022.
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Figura 1.3. Estrutura da molécula de DNA. Adaptado de Leslie A. Pray, Ph.D. 2008 Nature
Education.
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Figura 1.4. Classificação de Baltimore. Adaptado do website
<https://www.gratispng.com/png-nplhdc/>, acesso em 20 de abril 2022.
A partir de amostras biológicas, a extração de DNA ou RNA pode ser realizada em uma
sequência de três etapas, constituída por (1) lise celular, (2) purificação e (3) eluição das
moléculas obtidas. As técnicas comumente usadas em cada etapa citada constam a seguir.
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1) Lise celular:
O método químico pode ser baseado no uso de detergentes como o dodecil sulfato de
sódio (SDS), surfactante aniônico que possui uma porção apolar, capaz de interagir com
lipídeos, e uma porção polar, que interage com a água. Ao entrar em contato com os
fosfolipídios presentes na membrana plasmática, esse composto promove a formação de esferas
de moléculas anfipáticas denominadas micelas, resultando na desestruturação da bicamada
lipídica (Figura 1.5.).
Figura 1.5. Ação dos detergentes sobre a membrana plasmática. Adaptado do website
<https://biologia.ifsc.usp.br/biomolcel1/roteiros/extracaoDNA.pdf>, acesso em 16 de junho de
2022.
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Os sais caotrópicos são agentes desnaturantes, em solução aquosa rompem a rede de
ligações de hidrogênio entre as moléculas de água, aumentando a solubilidade de substâncias
apolares na água. O tiocianato de guanidina e a ureia são exemplos de agentes caotrópicos que
podem ser utilizados ainda na etapa de lise, promovendo a inibição de nucleases e o isolamento
inicial do ácido nucleico para uma extração de alto rendimento.
2) Purificação:
2.1) Fenol/clorofórmio:
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Figura 1.6. Isolamento de ácidos nucleicos com fenol e clorofórmio.
2.2) TRIzol:
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Figura 1.7. Isolamento de RNA utilizando TRIzol. Adaptado do website
<https://www.zymoresearch.com/pages/what-is-trizol>, acesso em 16 de junho de 2022.
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Figura 1.8. Extração de ácidos nucleicos por colunas.
32
3) Eluição:
Retrotranscrição (RT)
Figura 1.9. Dogma central da biologia molecular. O esquema atualizado inclui a transcrição
reversa. Adaptado do website <https://www.blogs.unicamp.br>, acesso em 16 de junho de
2022.
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A utilização biotecnológica da transcriptase reversa se tornou possível com a obtenção
da sua versão termoestável, capaz de atuar em reações sob condições variáveis de temperatura.
No estudo dos vírus de RNA, a transcrição reversa é fundamental para diversas técnicas
moleculares que demandam a presença de DNA molde, como a PCR e a clonagem.
Reação de pareamento:
● RNA molde;
De acordo com o cDNA de interesse a ser obtido, podem ser usados os seguintes
iniciadores (Figura 1.10.):
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Figura 1.10. Regiões de pareamento dos diferentes tipos de iniciadores. Disponível em
https://toptipbio.com/cdna-synthesis-primers/, acesso em 16 de junho de 2022.
● Transcriptase reversa.
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Figura 1.11. Retrotranscrição in vitro. Adaptado de website
<https://slideplayer.com.br/slide/9962176/>, acesso em 16 de junho de 2022.
Breve histórico
A técnica de PCR foi criada em 1987 por Kary Mullis. Desde sua concepção, esta
tecnologia causou uma verdadeira revolução na biologia, tanto na pesquisa visando o
entendimento de processos biológicos fundamentais, como nas áreas aplicadas, envolvendo
diagnósticos e melhoramento genético de plantas e animais domésticos.
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aquaticus. Esta enzima se mantém estável em temperaturas de até 117ºC, com temperatura
ótima de 72ºC. Estes dois passos tornaram a técnica muito mais fácil de se realizar.
Fundamentos
Figura 1.12. Passos finais de uma reação de PCR. A figura mostra as duas fitas-mães,
pareadas com as suas fitas-filha complementares, sintetizadas a partir da adição dos
desoxinucleotídeos pela DNA polimerase. Disponível em <https://www.imt.usp.br/wp-
content/uploads/proto/protocolos/aula1.pdf/>, acesso em 14 de junho 2022.
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Reagentes necessários para a reação
A DNA polimerase escolhida deve sempre operar sob as condições de reação instituídas
e mantidas pelos tampões específicos, além de ser ativada pela presença de um íon metálico
específico, e, obrigatoriamente, deve ser termoestável. A mais utilizada ainda é a Taq DNA
polimerase, porém, em alguns protocolos seu uso é contraindicado.
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Além disso, um reagente de importância crítica, o MgCl2, obrigatoriamente, deve estar
presente. Este íon é um doador muito estável de íons Mg2+, que são cofatores indispensáveis
para atividade da enzima, a desnaturação do DNA, o pareamento dos iniciadores, altera o
rendimento da reação, e a redução do número de erros inseridos no produto sintetizado pela
enzima. Também ajuda na estabilidade da ligação entre o DNA molde, o iniciador e a enzima.
Vale ressaltar que algumas enzimas utilizam outros íons metálicos como cofatores.
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4) Água deionizada livre de nucleases (DNase e RNase free)
5) Ácido Nucleico
Ácido nucleico pode ser o DNA ou cDNA ou RNA extraído da amostra biológica,
diluído em água ultrapura (DNase e RNase free) ou em tampões de eluição em casos de kits
comerciais. O excesso de DNA pode inibir a reação de PCR, enquanto a escassez pode
ocasionar um resultado falso positivo.
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Etapas da reação
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Figura 1.14. Esquema das etapas do ciclo de PCR. Essa imagem ilustra os processos pelos
quais o DNA molde passa em cada etapa de um ciclo na reação de PCR. A amostra sofre
desnaturação térmica devido à alta temperatura na primeira etapa, seguindo-se a redução da
temperatura permitindo que ocorra a renaturação da fita de DNA, e a ligação desta com os
iniciadores na região alvo. Por último, ocorre a extensão do fragmento, em uma temperatura
maior que a do pareamento e menor que a da desnaturação. Adaptado de Bruces, ALBERTS,
JOHSON, Alexander, LEWIS, Julian, ROBERTS, Keith, WALTER, Peter, and RAFF, Martin.
Biologia Molecular da Célula, 5ª edição. ArtMed, 2011. pág 545.
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Figura 1.15. Gráfico representativo do aumento do número de moléculas de DNA durante
os cinco ciclos iniciais da reação de PCR. Este gráfico representa o aumento exponencial do
número das moléculas de DNA em cada ciclo da reação PCR, em uma reação com 100 % de
eficiência. Adaptado de Apostila Curso de Verão Fiocruz, HIV: Aspectos virológicos e
genética do hospedeiro. Edição 2014.
Diversos fatores podem inibir a reação de PCR, impedindo que seja executada com
sucesso. Dentre eles, podemos citar: o excesso/escassez de DNA; excesso/escassez de algum
dos componentes da reação (enzima, primer, etc.); a presença de proteínas na reação, como
resíduos resultantes do método empregado para purificar o DNA; dentre outros. Por estas
razões, a necessidade de padronização dos componentes da reação é altamente recomendada e
deve ser aplicada na rotina laboratorial.
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amostra amplificada (produto da reação de PCR) em gel de agarose ou poliacrilamida
submetidos a uma corrente elétrica, processo denominado de eletroforese (Figura 1.16.A).
Para visualização das bandas referentes aos fragmentos de DNA, as mesmas precisam
ser marcadas com intercalantes de DNA (exemplos: gelred, brometo de etidio), e serão
reveladas por meio da incidência de luz UV emitida por um equipamento denominado
transiluminador.
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versatilidade. A PCR multiplex permite a detecção simultânea de várias sequências alvo pela
incorporação de vários conjuntos de iniciadores (Figura 1.17.).
Figura 1.17. Esquema da composição de iniciadores em uma PCR multiplex que contém
4 alvos de amplificação. Neste caso, o objetivo é a amplificação de quatro variantes virais.
Adaptado de <https://old.abmgood.com/>, acesso em 28 de junho de 2022.
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Figura 1.18. Esquema da PCR nested. Adaptado de <https://old.abmgood.com/>, acesso em
28 de junho de 2022.
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Figura 1.19. Esquema representativo da OneStep PCR. Adaptado de
<https://www.genaxxon.com/>, acesso em 28 de junho de 2022.
Com o número crescente de genomas virais disponíveis nos bancos de dados, diversos
genes virais podem servir como alvos de amplificação fundamentais para o desenho de testes
de diagnóstico virológicos. Como resultado, na última década, o número de ensaios de PCR
desenvolvidos comercialmente e em laboratórios de pesquisa teve um crescimento
exponencial. Além de ser uma ferramenta que permite a detecção de vírus, essa detecção pode
ser de um vírus em particular ou de diversos vírus em uma mesma reação (PCR multiplex). A
PCR também é uma ferramenta amplamente utilizada para genotipagem de vírus e detecção de
variantes virais. Existem diversas outras variações da técnica de PCR que podem ser aplicadas
no estudo dos vírus como: PCR digital, PCR Touch Down, entre outras. Nós não iremos discutir
todas as técnicas nesta apostila.
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REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE EM TEMPO REAL
O sistema SYBR green utiliza um fluoróforo que se liga covalentemente entre a fita
dupla de DNA e, com a excitação da luz emitida pelo sistema óptico do termociclador, emite
uma fluorescência verde. As vantagens da utilização desse sistema incluem: baixo custo,
facilidade no uso e sensibilidade. A desvantagem é que a ligação em todo DNA fita dupla que
surge durante a reação, incluindo dímeros dos iniciadores e outros produtos inespecíficos,
podem superestimar a concentração do fragmento alvo. O SYBR green não ligado ao DNA
exibe uma fluorescência muito pequena, que é realçada logo quando a ligação ao DNA
acontece.
Durante a PCR em tempo real, a sonda TaqMan hibriza com a sequência de fita simples
de DNA complementar alvo para amplificação. No processo de amplificação, a sonda Taqman
é degradada devido a atividade exonuclease da Taq DNA polimerase, separando o quencher da
molécula fluorescente durante a extensão. A separação do quencher resulta em um aumento da
intensidade da fluorescência. Assim, durante o processo de amplificação, a emissão de luz é
aumentada de forma exponencial. Esse aumento da fluorescência só ocorre quando a sonda
hibridiza e a amplificação da sequência alvo é estabelecida. Baseada nessa característica, esse
sistema tem como sua principal vantagem a sensibilidade e especificidade, no entanto, é mais
caro. Abaixo segue o fluxograma dos sistemas SYBR green e TaqMan (Figura 1.20.):
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Figura 1.20. Comparação no fluxo de trabalho do sistema SYBR green e TaqMan.
Adaptada de <https://www.smobio.com/faq-real-time-pcr>, acesso em 14 de junho de 2022.
Ensaios de quantificação
Para calcular os resultados dos seus ensaios de quantificação, podem ser usadas duas
metodologias: a quantificação absoluta e a relativa.
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amostra controle não tratada). Nesse caso, genes de referência são utilizados para calibração
da reação, como GAPDH, β-actina e EF1-α.
No que se refere aos ensaios de diagnóstico rápido dos vírus, a RT-qPCR possui
vantagens e desvantagens. Uma das grandes vantagens é a possibilidade de tornar esse método
em uma metodologia altamente específica ao se utilizar sondas de hidrólise ou hibridização
que sejam específicas para uma sequência alvo. Além disso, esse é um ensaio que produz
resultados quantitativos ao longo de algumas horas. Uma outra vantagem é a capacidade de
analisar diversas amostras simultaneamente, dado que a técnica normalmente funciona em um
formato de ensaio que comporta uma placa de 96 poços. Assim, é altamente viável a realização
de testes simultâneos, o que configura um alto rendimento da técnica, principalmente em
situações em que testes de alto volume são vitais, como por exemplo, durante períodos
epidêmicos ou pandêmicos. No entanto, embora a técnica ofereça resultados relativamente
rápidos, existe uma preparação prévia da amostra que demanda tempo e possui um custo
adicional. Ademais, é necessário um equipamento próprio para a reação de RT-qPCR, o que
configura desvantagem do método. Nos últimos dois anos, durante a pandemia de SARS-CoV-
2, vimos a importância de um método de diagnóstico específico e ágil. Isso porque, no caso de
doenças com alto potencial de disseminação, quanto mais precoce for o diagnóstico, melhor é
o prognóstico do paciente e mais rapidamente são adotadas as medidas de controle de
disseminação da doença na comunidade.
Na pesquisa científica, a adoção do método quantitativo de PCR pode ser uma boa
alternativa para determinar a carga viral em experimentos que envolvem a infecção
experimental in vitro e in vivo.
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A aplicação em diagnósticos como a detecção de patógenos ou doenças torna-se
interessante, uma vez que esta técnica permite a quantificação e rapidez no resultado, pois não
mais requer a detecção em gel de eletroforese, necessário na análise do PCR convencional.
SEQUENCIAMENTO GENÔMICO
Por outro lado, conhecer o genoma viral também nos permite entender as vias e rotas
de transmissão viral, estes dados são de suma importância na hora de realizar a vigilância
epidemiológica das viroses, e principalmente na prevenção e controle de surtos e epidemias
(Figura 1.21.).
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Figura 1.21. Dispersão do SARS-CoV-2 rastreado com base na informação genômica
obtida através de sequenciamento. Retirado do website <nextstrain.org>, acesso em 26 de
maio 2022.
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Em 1962, Sanger foi convidado para atuar no Laboratório de Biologia Molecular da
Universidade de Cambridge, onde ele viria a desenvolver o método de sequenciamento de DNA
em 1977. Este método se baseia na estrutura do DNA que discutimos na subseção anterior,
onde o DNA é formado pelas ligações entre as bases nitrogenadas, mas que seu arcabouço é
formado por ligações entre o grupamento hidroxila de uma desoxirribose com o grupamento
fosfato do nucleotídeo seguinte. Portanto, a presença da hidroxila na posição 3’ da
desoxirribose é que permite a adição, por meio de ligações fosfodiéster, de novos nucleotídeos
à fita de DNA. Este trabalho gerou um segundo Prêmio Nobel para Sanger em 1980.
A inovação apresentada por Sanger consiste na adição de um nucleotídeo marcado
radioativamente, e modificado para interromper a adição de novos nucleotídeos, ou seja, a
elongação da fita de DNA. A modificação corresponde à retirada do grupamento hidroxila da
desoxirribose, formando um di-desoxirribonucleotídeo trifosfatado (ddNTP). A utilização de
um determinado ddNTP em uma reação de polimerização de DNA, implicaria na geração de
fitas filhas de todos os tamanhos possíveis. Através da técnica de eletroforese em gel, seria
possível inferir a ordem correta das bases nitrogenadas presentes na fita de DNA.
53
Originalmente, o sequenciamento de Sanger era realizado em quatro etapas (Figura
1.22.):
2. Elongação: o ssDNA era adicionado à quatro tubos diferentes (um para cada base, a, C,
G, T), contendo primers, DNA polimerase, dNTPs de todas as bases e ddNTP
radiomarcado de uma determinada base.
54
Figura 1.22. Representação esquemática da metodologia de sequenciamento de DNA
por Sanger. Adaptado de Menck, 2017.
55
Além disso, a eletroforese para análise dos fragmentos é realizada em capilares, uma
melhoria introduzida por Jorgensen, ainda na década de 1980. Esse método consiste na
utilização de um detector de laser posicionado ao final do capilar, permitindo captar sinais
fluorescentes emitidos pelos ddNTPs conjugados à fluoróforos. O capilar é construído com
sílica de alta pureza, o que reduz o calor produzido a níveis insignificantes, permitindo uma
maior velocidade de separação, além do processo ser completamente automatizado (Figura
1.23.).
56
Sequenciamento de nova geração (NGS)
A metodologia apresentada pela 454 Life Sciences foi adquirida pela Roche e se baseia
na medida da síntese de pirofosfato, o subproduto da reação de ligação entre um nucleotídeo e
o outro. Portanto, quando o grupamento fosfato se liga à hidroxila do desoxirribonucleotídeo
seguinte, há liberação de um pirofosfato, sendo sua detecção diretamente proporcional à síntese
da fita de DNA. Esta metodologia consiste em uma PCR em emulsão de moléculas únicas dos
fragmentos de DNA, seguida da reação de pirosequenciamento (Figura 1.24.). A reação
emprega a ATP sulfurilase, para converter o pirofosfato resultante da elongação da fita de DNA
em ATP. A molécula de ATP é utilizada como substrato para a enzima quimioluminescente
luciferase, que emite luz proporcionalmente, portanto, à síntese de pirofosfato. A determinação
da sequência é feita ao adicionar um dNTP por vez na reação, com lavagens entre cada reação.
57
Figura 1.24. Esquema da reação de pirosequenciamento. Neste esquema, as moléculas de
DNA estão sendo amplificadas de forma clonal no PCR de emulsão. A ligação aos adaptadores
nas microesferas, que possuem primers específicos, seguida da PCR produz uma biblioteca de
DNA. Essa é a base conceitual do sequenciamento NGS apresentado pelas plataformas 454 e
Ion Torrent. Adaptado de Heather & Chain. Genomics, 2016.
58
Figura 1.25. Etapas do sequenciamento por síntese (Illumina). Os fragmentos de DNA são
ligados aos adaptadores complementares aos que estão imobilizados na superfície sólida da
célula de sequenciamento. O DNA é, então, amplificado formando agrupamentos (clusters),
em seguida, a reação de sequenciamento ocorre. A cada adição de nucleotídeo, um fluoróforo
emite luz que é registrada por um detector, gerando as sequências curtas (reads), que serão
alinhadas, formando sequências maiores (contigs), que serão utilizados para a montagem da
sequência de interesse. Confeccionado no site BioRender <https://app.biorender.com/>.
59
Apesar da amplificação de DNA ter revolucionado as metodologias de sequenciamento
até então, em algumas circunstâncias, ela pode introduzir erros de nucleotídeos, favorecer
algumas sequências em detrimento de outras, ou ainda, gerar um viés quantitativo, alterando a
relação de frequência e abundância de fragmentos de DNA existentes antes da amplificação e
após a amplificação.
60
Figura 1.26. Metodologias de sequenciamento de terceira geração. (A) Pacific Biosciences.
(B) Oxford Nanopore Technologies. Adaptado de Logsdon, e colaboradores (2020).
61
As metodologias de sequenciamento NGS de DNA estão sendo cada vez mais
empregadas, revolucionando a pesquisa biológica em áreas como a genética, genômica,
biotecnologia e medicina. Existe, portanto, um aumento na qualidade dos dados gerados, assim
como no tamanho de sequências (reads), contando ainda com uma diminuição na quantidade
inicial de amostra necessária. As mudanças que ocorrem neste campo são rápidas e inovadoras,
resultando em técnicas de sequenciamento mais robustas e acuradas, além de gerar uma grande
quantidade de dados com uma alta velocidade.
63
acesso rápido à informação de sequências virais. Desta forma, a rota de transmissão do vírus
pode ser rapidamente elucidada, o que permite à adoção de medidas de controle e prevenção
eficazes.
Neste sentido, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tem realizado um esforço nacional
de pesquisa a partir da criação da Rede Genômica Fiocruz em março de 2020
(http://www.genomahcov.fiocruz.br/), contribuindo de maneira significativa para codificar o
genoma do SARS-CoV-2 e acompanhar suas linhagens e mutações genéticas. Especialistas de
todas as unidades da Fiocruz no país e de institutos parceiros se empenham diariamente em
gerar dados mais robustos sobre a evolução do vírus e contribuir para um melhor preparo do
país no enfrentamento da pandemia em termos de diagnóstico mais precisos e vacinas eficazes.
A rede inclui o Laboratório de Referência Nacional em vírus respiratórios junto ao Ministério
da Saúde e de referência para a Organização Mundial da Saúde em Covid-19 nas Américas,
atuando ativamente na vigilância genômica do SARS-CoV-2 (Figura 27). Além disso, a Rede
participa da iniciativa internacional de acesso aberto às informações sobre genomas de vírus
influenza e coronavírus, o GISAID (https://www.gisaid.org/), sendo um dos grupos curadores
da iniciativa na América do Sul.
64
Figura 1.27. Polos de sequenciamento da Rede Genômica Fiocruz. Disponível em
http://www.genomahcov.fiocruz.br/a-rede/, acesso em 20 de junho 2022.
Apesar de sua utilidade, a vigilância genômica apresenta desafios para muitas agências
de saúde pública no mundo. A montagem e análise de dados genômicos requer uma
infraestrutura computacional avançada e analistas treinados em disciplinas que, historicamente,
não fazem parte da saúde pública, incluindo bioinformática, biologia computacional e ciência
de dados. Isso significa que a capacidade dos órgãos de saúde pública de analisar e interpretar
dados genômicos dentro de um contexto epidemiológico, muitas vezes, fica além da capacidade
laboratorial de realização do sequenciamento. É importante que países como o Brasil, onde
diversas epidemias de vírus emergentes e reemergentes têm acontecido nas últimas décadas, o
investimento na saúde pública considere a melhora no sistema de vigilância nacional de
patógenos, assim como a capacidade de diagnóstico.
65
maioria dos vírus emergentes são zoonóticos, isto significa que podem ser transmitidos para os
humanos a partir de outros animais. Os animais selvagens, como mamíferos, aves, gado e
animais domésticos, são hospedeiros de muitos patógenos, e atuam como reservatórios de
vírus, que podem se propagar sem causar doenças. Entretanto, ocasionalmente, esses vírus
podem infectar outras espécies, incluindo o homem. Quando ocorre um salto de espécie, por
exemplo, quando o vírus é transmitido passa do animal selvagem para humano, acontece o que
chamamos de transmissão zoonótica. Este tipo de transmissão pode acarretar sérios impactos
econômicos e na saúde humana, como fomos testemunhas recentemente da pandemia de
SARS-CoV-2. Portanto, mais uma vez, a importância da vigilância epidemiológica de vírus se
torna uma ferramenta essencial na prevenção e combate da transmissão viral zoonótica.
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69
70
Índice de figuras – capítulo 2
Figura 2.1. Desenho esquemático de uma bactéria com seu DNA cromossômico e plasmídeos
que se replicam de maneira independente. .............................................................................. 76
Figura 2.2. Plasmídeo pBR322. ............................................................................................... 78
Figura 2.3. Esquema da clonagem molecular. ......................................................................... 80
71
Índice de quadros – capítulo 2
Quadro 2.1. Tipos de enzimas de restrição. ............................................................................. 82
Quadro 2.2. Referências da expressão de proteínas heterólogas entre E e NS1 de diversos
patógenos. .............................................................................................................................. 109
72
SUMÁRIO CAPÍTULO 2
73
CAPÍTULO 2 - MANIPULANDO O GENOMA VIRAL
Ao final desse capítulo, será possível compreender, com maior clareza, como a
manipulação do genoma viral pode contribuir para o entendimento da replicação viral, de
fatores genéticos que possam estar relacionados à patogênese ou infectividade dos vírus, à
resposta imune e evolução viral. Além disso, teremos discutido diferentes abordagens de
desenvolvimento de vacinas a partir da obtenção de vírus sintéticos atenuados, ou a partir da
clonagem e expressão de genes imunogênicos em sistemas bacterianos.
74
- A infraestrutura laboratorial exigida para os trabalhos com OGM.
Importante ressaltar que o pesquisador principal deve comunicar à CIBio sempre que
for necessário alterar qualquer componente do seu projeto quando essas alterações modificarem
as condições aprovadas na emissão do CQB. Por sua vez, a CIBio deverá requerer a extensão
do CQB junto à CTNBio. Exemplo de modificações vinculadas ao projeto que devem ser
comunicadas:
75
CLONAGEM EM VETORES PLASMIDIAIS
Nesse bloco iremos abordar uma técnica que ficou muito conhecida na biologia
molecular e tem um princípio muito parecido com a PCR, no entanto, aqui utilizamos uma
célula para aumentar a quantidade de um fragmento alvo de DNA. Conhecida como
"Tecnologia do DNA recombinante" e popularmente por "Engenharia genética" e "Clonagem".
Entende-se por DNA recombinante, todo o DNA composto por segmentos de diferente origem
e ligados entre si, podendo esta origem ser de duas espécies diferentes (DNA natural) ou a
combinação de uma espécie (DNA natural) com DNA sintético.
Um dos principais objetivos nos trabalhos com DNA recombinante é obter muitas
cópias de um determinado gene de interesse. Para isso produzem-se bactérias ou leveduras
transgênicas que contêm o gene desejado, deixando-as depois multiplicarem-se, o que nos
permite obter grandes quantidades dos genes pretendidos (Figura 2.1.). Uma célula ou
organismo transgênico contém DNA estrangeiro, isto é, DNA sintético ou de outro organismo,
integrado no seu próprio material genético.
Figura 2.1. Desenho esquemático de uma bactéria com seu DNA cromossômico e
plasmídeos que se replicam de maneira independente. Adaptado de Apostila Engenharia
Genética - Clonagem de DNAs em Bactérias (Módulo I), ACÇÃO FOCO – 1999, Universidade
de Évora.
76
Para clonar um fragmento de DNA (ex. um gene, ou domínio de uma proteína), o
mesmo é inserido num elemento genético auto-replicante o que conhecemos como vetor de
clonagem. Estes vetores apresentam algumas características gerais, como:
Existem seis tipos de vetor de clonagem: plasmídeos, fagos, cosmídeos, PAC (do
inglês: P1 Artificial Chromossome), YAC (do inglês: Yeast Artificial Chromossome) e BAC
(do inglês: Bacterial Artificial Chromossome). Nesta apostila iremos focar nos vetores
plasmidiais que são os utilizados na rotina de trabalho e pesquisa do Laboratório de Biologia
Molecular de Flavivírus.
Vetores plasmidiais
Os plasmídeos são pequenos segmentos de DNA circular dupla fita com replicação
independente, presentes em bactérias. As mesmas possuem além do DNA plasmidial, o
cromossômico (bacteriano). Sua replicação é feita pela maquinaria que realiza a replicação do
DNA cromossômico, à mesma velocidade ou a uma velocidade superior (o que provoca um
número elevado de cópias do plasmídeo na bactéria).
1. Uma origem de replicação (designada “ori” nas bactérias): essencial para a sua
replicação e transmissão para a descendência;
2. Uma marca genética de seleção: características únicas que permitam que sejam
selecionados por uma característica específica (genes de resistência a antibióticos);
3. Um sítio de clonagem múltipla (MCS – do inglês: Multiple Cloning Site): trata-se de
sítio que contém as sequências reconhecidas pelas enzimas de restrição.
Normalmente um sítio para cada enzima, para que esta possa “cortar e abrir” o
plasmídeo e neste espaço possa ser colocado o “inserto”.
4. Promotor: Controla o primeiro estágio de expressão génica à ligação da RNA-
polimerase ao DNA.
Figura 2.2. Plasmídeo pBR322. pBR322 apresentando sua origem de replicação e genes de
resistência para ampicilina e tetraciclina. Além disso, as enzimas de restrição foram destacadas
78
em azul. Disponível no website >https://en.wikipedia.org/wiki/PBR322/>, acesso em 14 de
junho de 2022.
Antes da realização desse “corte e cola”, o gene de interesse deve ser obtido. Para isso
enzimas de restrição ou PCR são utilizados; após a digestão tanto do plasmídeo, quanto do
gene alvo com as enzimas de restrição escolhidas, a DNA ligase une os fragmentos através de
ligações fosfodiéster, gerando um plasmídeo recombinante contendo o gene;
d) Triagem dos clones. Uma forma inicial de triagem se dá pela presença do antibiótico
na placa de petri onde as bactérias foram cultivadas. Somente crescerão aquelas que possuírem
o plasmídeo, pois o mesmo possui o gene de resistência para o antibiótico em questão. No
entanto, nem toda as colônias irão necessariamente conter o plasmídeo completo. Isso acontece
porque, durante uma ligação, fragmentos de DNA nem sempre ficam "colados" exatamente da
79
maneira que queremos. Dessa maneira, os clones que crescerem nas placas podem ser triados
por digestão com enzimas de restrição, enzimas estas que estarão presentes no plasmídeo, ou
por PCR, através da amplificação de um fragmento do gene inserido.
e) Aumento de massa plasmidial. Uma vez que encontramos uma colônia de bactérias
com o plasmídeo certo, podemos cultivar uma grande cultura de bactérias portadoras do
plasmídeo para aumentar a massa plasmidial.
Abaixo está um desenho esquemático das etapas da clonagem molecular (Figura 2.3.):
80
ENZIMAS DE RESTRIÇÃO E LIGAÇÃO IN VITRO
81
2.4.). São classificadas em três tipos, tendo como um dos principais critérios o sítio de clivagem
(Quadro 2.1.). As endonucleases do tipo II são frequentemente utilizadas na engenharia
genética, já que promovem a hidrólise dentro da região de reconhecimento e não necessitam
de ATP, apenas do cofator enzimático (Mg2+).
*Os exemplos apresentam o nome da enzima de restrição e seu respectivo local de clivagem.
*nts – Nucleotídeos.
82
É possível caracterizar as endonucleases em ambíguas ou não-ambíguas de acordo com
os sítios de reconhecimento no DNA. As enzimas de restrição ambíguas reconhecem apenas
uma sequência de nucleotídeos, enquanto as não-ambíguas reconhecem sequências variáveis.
Exemplos:
Ambígua: HinfI – Reconhece sequências de cinco pares de bases com início GA e final
TC (GANTC, sendo N variável);
Outra caracterização dessas enzimas é feita através do tipo de clivagem, podendo ser
abrupta, quando ocorre no eixo de simetria do sítio de restrição e gera extremidades
abruptas/cegas, ou coesiva, onde a hidrólise é realizada ao redor do eixo de simetria da
sequência e gera extremidades coesivas/pegajosas (Figura 2.5.).
83
genes-alvo e vetor a partir de hidrólises realizadas com uma mesma enzima (Figura 2.6.). Na
virologia, o DNA recombinante é amplamente utilizado, como para estudos de genes virais e
desenvolvimento de vacinas.
• DNA molde;
• Água livre de nucleases;
• Tampão da enzima (contendo o cofator);
• Enzima de restrição.
• Vetor;
• Inserto;
• Água livre de nuclease;
• Tampão da enzima;
• T4 DNA ligase.
85
Exemplo:
Depois das clonagens e ligação in vitro, somos capazes de gerar um cDNA viral que é
o molde para a geração de vírus sintéticos, no entanto, flavivírus, que são alvos dos estudos
desenvolvidos no Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus, possuem como material
genético RNA, sendo assim, para obtenção dos mesmos, deve-se transformar o cDNA em
RNA, essa etapa é denominada transcrição in vitro.
A transcrição é uma reação catalisada pelas polimerases tendo como molde uma fita de
DNA. O processo é iniciado quando a RNA polimerase liga-se a uma sequência especial de
DNA denominada promotor. Nessa sequência de bases, existe uma região específica chamada
sítio de iniciação, que contém a primeira base do DNA a ser transcrita em RNA (chamada de
+1). A partir desse ponto, a polimerase move-se ao longo do molde, sintetizando RNA, até
alcançar em uma sequência de terminação da transcrição.
86
De maneira geral, para a obtenção de um RNA em quantidades ideais para trabalho, são
necessários alguns ingredientes:
1) DNA molde. DNA plasmidial linearizado e produtos PCR que contêm um sítio
promotor para uma polimerase de RNA. Além disso, de maneira geral, qualquer DNA com um
sítio promotor, que é puro o suficiente para ser facilmente digerido com enzimas de restrição,
pode ser usado para transcrição in vitro;
4) RNA polimerase.
Para regeneração de vírus sintéticos, esse RNA gerado é então introduzido nas células,
que serão suscetíveis aos vírus, permitindo sua replicação. O RNA viral é introduzido nas
células através de uma metodologia denominada transfecção. A mesma pode ser realizada de
algumas maneiras, no entanto, iremos focar nas duas principais:
87
Após a transfecção, as células devem ser observadas por alguns dias, até a confirmação
da presença viral. Em células Vero, que são células de rim de macaco, comumente utilizadas
no estudo de diversos vírus, é possível observar um efeito causado pela infecção, denominado
efeito citopático (CPE – do inglês: Cytopathic effect). Esse efeito é caracterizado por uma
grande quantidade de células mortas, levando a espaços na monocamada e formação de ninhos
de infecção (Figura 2.8.).
Figura 2.8. Microscopia óptica evidenciando efeito citopático em células Vero. As setas
brancas marcam onde se observou CPE após infecção pelo vírus Zika RioU1 e o vírus sintético
IC. RioU1. Adaptado de de Mello, IS e colaboradores (2021).
88
VACINAS VIRAIS
89
Figura 2.10. Componentes das vacinas. Adaptado do website <https://www.who.int/>,
acesso em 16 de junho de 2022.
No século XVIII, o médico franco-inglês Edward Jenner observou que indivíduos que
ordenhavam vacas eram imunes à varíola humana, doença que na época era responsável por
um grande número de óbitos na Inglaterra. Com o intuito de testar sua hipótese, Jenner
promoveu a transferência do pus de varíola bovina de Sarah Nelmes para um indivíduo
saudável chamado James Phipps. Posteriormente, James foi infectado com as partículas de
varíola humana e contraiu levemente a doença. Esse processo de imunização ficou conhecido
como ‘’variolação’’. Em 1885, o cientista francês Louis Pasteur desenvolveu a vacina
antirrábica e introduziu o termo ‘’vacinação’’ em homenagem à Jenner. A varíola humana foi
erradicada em 1980 após uma campanha de vacinação global estabelecida pela Organização
Mundial da Saúde (OMS), onde a fonte da vacina utilizada foi o vírus Vaccinia, relacionado
ao vírus da varíola bovina.
90
Tipos de vacinas virais
1. Vírus inativado
Dentre os processos físicos, podem ser citados os tratamentos com raios gama (γ) ou
ultravioleta (UV). A radiação UV é dividida em três categorias, sendo (i) UV-A (320 a 400
nm), (ii) UV-B (280 a 320 nm) e (iii) UV-C (200 a 280 nm). Para a inativação de vírus, é
utilizada a radiação UV-C no comprimento de onda de 254 nm, que permite a formação de
dímeros entre as pirimidinas (citosina, timina ou uracila) adjacentes do genoma viral (Figura
2.11.). Esse fenômeno afeta a estrutura do ácido nucleico, inibindo a capacidade replicativa e
transcricional do vírus.
91
Figura 2.11. Formação de dímeros de pirimidina (amarelo) sob radiação UV. Disponível
no website <http://romeo.if.usp.br/~browngon/04/fotorreativacao.html>, acesso em 16 de
junho de 2022.
Após o cultivo do vírus e a sua inativação, os vírions (partículas virais completas fora
da célula) são purificados para que sejam utilizados como imunizantes na composição vacinal.
92
A purificação pode envolver técnicas como a filtração, diálise, precipitação, ultracentrifugação
e cromatografia. Exemplos de vacinas de vírus inativados oferecidas gratuitamente no Brasil
pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são contra o vírus Influenza, a poliomielite (SALK) e a
hepatite A.
2. Vírus atenuado
Figura 2.12. Atenuação de vírus humanos em células não-humanas. Adaptado de Flint, J.,
et al., Principles of Virology, 4th edition.
93
Em 1951, o microbiologista sul-africano Max Theiler recebeu o prêmio Nobel de
Medicina ou Fisiologia pelo desenvolvimento da vacina atenuada contra a febre amarela.
Theiler usou o agente etiológico isolado do paciente Asibi para empregar a estratégia de
propagação viral em culturas celulares distintas. Após fazer passagens do vírus em tecidos
embrionários de camundongo e galinhas com e sem nervo, o pesquisador foi capaz de isolar e
purificar mutantes com perda de viscerotropismo, neurotropismo e capacidade replicativa em
mosquitos. A vacina contra a febre amarela apresenta alto desempenho imunogênico e segue
sendo fabricada e disponibilizada à população (Figura 2.13.).
94
Figura 2.13. Representação do processo de produção da vacina contra o vírus da febre
amarela. Disponível em <https://www.bio.fiocruz.br/images/infografico-producao-vacina-
febre-amarela.pdf>, acesso em 16 de junho de 2022.
A atenuação viral por deleção ou mutação gênica foi empregada pela primeira vez em
1992 por Lien e colaboradores, onde genes relacionados à replicação do vírus herpes simplex
tipo 1 (HSV-1) foram deletados. Essa técnica ficou marcada como a primeira geração de vírus
atenuados de forma não-empírica, sendo menos imprevisível e mais reprodutível. A deleção ou
mutação é feita em genes essenciais para o processo de replicação viral, gerando vírus
modificados não replicantes ou com capacidade replicativa limitada. Por outro lado, a
expressão gênica é mantida e as proteínas virais são produzidas.
95
feita de forma sinônima e não altera a composição de aminoácidos das proteínas a serem
expressas.
3. Subunidade
96
As vacinas de subunidade caracterizam a 2° geração de tecnologias vacinais. Outras
abordagens que empregam o uso de fragmentos do patógeno como imunizantes podem ser
considerados subtipos desse método. Se tornou vantajosa por ter produção econômica e de
larga escala, além de apresentar efeitos colaterais minimizados. Porém, tende a promover baixa
indução da resposta imunológica, sendo necessário o uso de adjuvantes.
4. Virus-like particle
A produção da vacina para HPV é realizada através da clonagem do gene viral L1, que
é expresso em proteínas formadoras de capsídeo (capsômeros). São necessários em torno de 72
capsômeros L1 para a montagem das VLPs, processo feito em leveduras para posterior
extração, purificação e aplicação vacinal (Figura 2.15.).
97
Figura 2.15. Esquema de produção da vacina para HPV. Adaptado do website
<https://www.jci.org/articles/view/22674/figure/3>, acesso em 17 de junho de 2022.
5. Vacinas de DNA
98
Figura 2.16. Estratégia da vacina de DNA. *Genegun é um método de transferência direta
do ácido nucleico para as células. Disponível em <http://angloresolve.plurall.net/
press/question/3379664>, acesso em 17 de junho de 2022.
Após aplicação no indivíduo a ser imunizado, o construto não é capaz de ser replicado
e o promotor é reconhecido pelas células hospedeiras, permitindo a transcrição do gene viral.
Com o processo traducional, os antígenos são expressos e desencadeiam a resposta imune. As
vacinas de DNA podem ser utilizadas para vírus de genoma RNA a partir de genes sintéticos
ou pela geração de cDNA. Normalmente, a eficácia dessa tecnologia vacinal é influenciada
pela via de administração, sendo maior quando injetada de forma intracutânea do que
intramuscular.
99
6. Vacinas de vetores virais
No contexto vacinal, os vetores virais são um tipo de vacina de subunidade, tendo como
premissa a utilização de vírus não patogênicos para a entrega do antígeno, obtido de um vírus
capaz de causar doença. A abordagem também é frequentemente utilizada em estudos de
terapia gênica, visando o tratamento de doenças genéticas pela substituição de genes ausentes
ou defeituosos (Figura 2.17.). No desenvolvimento de vacinas, o vírus vetor deve passar por
estratégias de atenuação para que a sua virulência seja comprometida. O gene heterólogo,
codificando o antígeno de interesse, é inserido no genoma do vírus atenuado, que servirá de
molde para a expressão de proteínas na célula hospedeira.
100
Recentemente, diversas propostas vacinais foram desenvolvidas com o intuito de conter
a pandemia da doença causada pelo novo coronavírus (COVID-19). Dentre as autorizadas para
uso preventivo, estão as vacinas de vetores adenovirais AZD1222 (Oxford/AstraZeneca) e
Ad26.COV2.S (Janssen) (Figura 2.18.). Ambas foram baseadas na deleção do gene E1 de
adenovírus (de chimpanzé e humano, respectivamente) para a inserção do gene S (Spike,
proteína de superfície) do SARS-CoV-2, causador da doença.
a) Seleção da proteína heteróloga a ser expressa, que deve apresentar elevado potencial
imunogênico;
b) Escolha do vírus vetor não-patogênico, com deficiência ou atenuação da replicação;
101
c) Estratégia de inserção da sequência exógena ao genoma do vetor, visando a
estabilidade genética viral.
A tecnologia vacinal de vetores virais apresenta vantagens por induzir ação eficiente de
anticorpos e linfócitos TCD8. Esse fenômeno é motivado pela entrada dos vírus modificados
nas células e consequente expressão do antígeno, que pode ser liberado no meio ou direcionado
às vias de processamento intracelular. Porém, a resposta a esses vírus híbridos pode ser
imprevisível, principalmente em indivíduos mais vulneráveis.
7. RNA mensageiro
102
Figura 2.19. Processo de fusão entre nanopartículas lipídicas e endossoma. Adaptado de
Ramachandran e colaboradores (2022).
103
Figura 2.20. Moléculas de uridina e N1-metilpseudouridina. Adaptado de Nance e
colaboradores (2021).
Além das LNPs, outras formas de entrega do mRNA às células são estudadas, como a
injeção do mRNA nu, nanoemulsão catiônica (CNE – do inglês: Cationic nanoemulsions),
carregamento ex vivo de células dendríticas (DCs – do inglês: Dendritic Cells) e peptídeos
catiônicos. O método de injeção do mRNA nu consiste na entrega da molécula sem
transportadores, sendo questionável pela exposição do mRNA às RNases e sua retenção pela
membrana celular. As CNEs são emulsões de óleo em água, como exemplo os adjuvantes
MF59 e AS03. Já o carregamento ex vivo de DCs emprega a introdução do mRNA nesse tipo
de células apresentadoras de antígenos, que seriam transfectadas aos indivíduos por técnicas
como a eletroporação leve. Por fim, os peptídeos catiônicos são carregados positivamente por
possuírem muitos resíduos de aminoácidos como lisina e arginina, tornando possível sua
complexação ao mRNA de carga negativa.
104
CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO DE UMA PLATAFORMA VACINAL
O clone infeccioso do vírus vacinal da febre amarela (YFV), cepa 17D, foi obtido pela
primeira vez em 1989, por Ricardo Galler e Charles Rice, e desde então tem sido utilizado para
diferentes propósitos. A síntese de YFV 17D ocorreu em cinco etapas:
105
Montagem do cDNA genômico: A montagem do genoma ocorreu em duas etapas.
Primeiramente, os fragmentos que continham as extremidades do genoma foram fusionados
em um mesmo plasmídeo, e os fragmentos com a parte central do genoma, em outro plasmídeo,
através de clonagem como descrito no item anterior. Assim, foi estabelecido um sistema de
apenas dois plasmídeos que expressam o genoma de maneira estável. A segunda etapa consistiu
na montagem final do cDNA genômico completo e de maneira sequencial, através de digestão
com enzimas de restrição e ligação in vitro, novamente. Entretanto, o plasmídeo resultante não
é novamente amplificado em bactérias, e sim, linearizado por tratamento de restrição, expondo
o promotor de transcrição.
Transcrição in vitro: O cDNA precisa ser transcrito em RNA, para que esteja na
configuração do genoma natural do YFV 17D, possibilitando a formação de partículas virais
viáveis. Para isso, o cDNA foi submetido à transcrição in vitro, utilizando a RNA polimerase
que reconhece o promotor de transcrição, adicionado à extremidade 5’ do genoma viral.
A obtenção do clone infeccioso do YFV 17D, abriu portas para inovações em vacinas,
tanto no sentido de otimizar a produção da vacina da febre amarela, quanto para o
desenvolvimento de vacinas recombinantes, carreando epítopos heterólogos.
106
da proteína do capsídeo (C) ainda é amplamente explorada para produção de vírus
recombinantes. Assim como a posição 200 da proteína de envelope (E), 236 da proteína não
estrutural 1 (NS1) e a região não traduzida 3’. As regiões intergênicas, que possuem peptídeos
sinal para clivagem proteolítica, também são interessantes para expressão de fragmentos
maiores, mantendo o correto processamento da poliproteína viral, reduzindo a perturbação no
ciclo replicativo. Duas regiões de interesse foram mapeadas entre os genes E e NS1, e entre
NS2B e NS3.
Figura 2.21. Regiões de inserção de epítopos heterológos. (A) Estrutura genômica do YFV:
o genoma é composto por uma fita simples de RNA, que possui um único quadro aberto de
leitura, codificando uma poliproteína que é processada co- e pós-traducionalmente por
proteases virais e do hospedeiro. As setas vermelhas indicam as regiões exploradas para
inserção de epítopos heterólogos. (B) Regiões de clivagem proteolítica da poliproteína viral:
as setas brancas indicam regiões clivadas pela protease viral, as setas pretas, pela signal
peptidase do hospedeiro, e o triângulo azul, pela furina, também do hospedeiro. (C) Topologia
107
da poliproteína viral na membrana do retículo endoplasmático (RE). Durante a tradução, a
poliproteína viral se organiza na membrana do RE como demonstrado nesta figura. Vale
ressaltar que a protease viral atua nas regiões de clivagem que estão na face citoplasmática da
membrana, e as proteases do hospedeiro, na face interna do RE. As setas brancas, pretas e o
triângulo representam os sítios de clivagem proteolítica, como na figura (B), e as setas
vermelhas representam os sítios de inserção heteróloga na poliproteína viral. Adaptado de
Bonado e colaboradores (2014).
A expressão entre NS2B e NS3 não se mostrou estável, o que significa que após ciclos
de infecção em células, o inserto heterólogo foi eliminado, não sendo sustentável a replicação
viral concomitante com um inserto longo. Por outro lado, a inserção de um gene codificante da
proteína auto fluorescente verde (EGFP) entre E e NS1 foi possível e estável mesmo depois de
20 ciclos de infecção em células. A partir desta descoberta, foram experimentadas diferentes
expressões heterólogas para patógenos virais e até protozoários (Quadro 2.2.).
108
Quadro 2.2. Referências da expressão de proteínas heterólogas entre E e NS1 de
diversos patógenos.
Gag 44-84
Gag 76-123
SIV
Gag 142-186
(vírus da
prime com rYF e boost
imunodeficiência Gag 250-415
com rAdenovírus 5 Martins et al., 2013
símia) Vif 1-110
(macacos Rhesus)
Vif 102-214
Nef 45-210
45–210
Trypanosoma ASP-2
2 doses (camundongos) Nogueira et al., 2013
cruzi 261-380
HIV
(vírus da
p24 2 doses (camundongos) Franco et al., 2010
imunodeficiência
humana)
1 dose (porquinho-da-
GPC Bredenbeek et al., 2006
índia)
2 doses (camundongos e
Lassa Vírus GP1 Jiang et al., 2011
porquinho-da-índia)
2 doses (camundongos e
GP2 Jiang et al., 2011
porquinho-da-índia)
Adaptado de Bonaldo e colaboradores (2014).
109
A validação do YFV 17D como plataforma vacinal foi realizada, inicialmente, com a
proteína repórter EGFP, como mencionado acima. A expressão de uma proteína inteira com
alta estabilidade foi a primeira etapa da prova de conceito. Entretanto, expressar um gene
heterólogo não consiste em ter um protótipo vacinal funcional. É fundamental que esse
constructo viral seja imunogênico e promova proteção diante da infecção pelo patógeno de
interesse. Portanto, os vírus recombinantes precisam ser inoculados em modelos animais, no
caso do YFV recombinante, em camundongos, em um primeiro momento, e a resposta
imunológica seria avaliada a partir de amostras coletadas desses animais.
O uso do YFV 17D como plataforma vacinal ainda é amplamente utilizado, inclusive
para desenvolvimento de vacinas humanas, como a vacina da Dengue (Dengvaxia, Sanofi-
Pasteur), que é um vírus da mesma família do YFV. A estratégia de expressão de gene
heterólogo de outros patógenos não pertencentes ao gênero Flavivirus também tem sido
considerada, por exemplo, constitui uma estratégia vacinal contra o SARS-CoV-2, causador da
110
COVID-19. Entretanto, apesar dos resultados promissores, algumas validações ainda precisam
ser realizadas.
REFERÊNCIAS CAPÍTULO 2
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