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Ciências Biológicas
Licenciatura em
4. Fisiologia Vegetal
Volume 7
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
LICENCIATURA EM
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
2015
REITORIA PROJETO EDITORIAL
Orlando Afonso Valle do Amaral Equipe de Publicação CIAR
Bibliografia
ISBN: 978-85-68359-42-6
PARASITOLOGIA GERAL 11
Apresentação 11
1. Introdução à Parasitologia 12
2. Classificação dos Parasitos de Importância Médica 12
Reino Protista - Sub-Reino Protozoa 12
Reino Animalia - Sub-Reino Metazoa 13
Reino Insecta – Filo Arthropoda 14
3. Reino Protista – Sub-Reino Protozoa 15
Protozoários 15
Amebas parasitas do homem 16
Amebas de vida livre eventualmente patogênicas 19
Flagelados do sistema digestivo e geniturinário 22
Flagelados do sangue e dos tecidos 29
Esporozoários de importância médica 39
Ciliados de importância médica 54
4. Reino Animalia - Sub-Reino Metazoa 55
Helmintos 56
Platelmintos parasitos do homem 56
Nematelmintos parasitos do homem 70
5. Reino Insecta 91
Filo Arthropoda 91
Referências 110
Apresentação
Caros acadêmicos, sejam bem vindos ao capítulo de Parasitologia Geral. Aqui serão
abordados os parasitos humanos de importância médica no Brasil, nos quais daremos
enfoque à importância biológica de protozoários, helmintos e artrópodes parasitos
do homem. Estudaremos a classificação, os ciclos evolutivos, os mecanismos de
transmissão das doenças parasitárias e as principais medidas profiláticas utilizadas no
controle destas parasitoses.
Sucesso a todos.
PARASITOLOGIA GERAL
11
1. Introdução à Parasitologia
amplitude do assunto.
O reino Protista é constituído por sete filos, dos quais quatro apresentam importância
médica (Tabela 1).
12
Tabela 1: Classificação dos protozoários de importância médica.
Trypanosoma T. cruzi
Kinetosplatida Trypanosomatidae
L. chagasi
Leishmania
L. brasiliensis
P. vivax
Protozoa Haemosporidida Plasmodiidae Plasmodium P. falciparum
P. malariae
Apicomplexa
Cyclospora C. cayetanensis
Eimeriidae
Isospora I. belli
Sarcocystis S. hominis
Coccidicida Sarcocystidae
Toxoplasma T. gondii
13
Tabela 2: Classificação dos helmintos de importância médica.
S. mansoni
Trematoda S. haematobium
Platyhelminthes
Taenia T. solium
Taeniidae T. saginata
Echinococcus E. granulosus
Cestoda
H. nana
Hymenolepididae Hymenolepis
H. diminuta
A. duodenale
Ancylostoma
A. braziliense
Nemathelminthes Nematoda
Ancylostomidae
Necator N. americanus
Wuchereria W. bancrofti
14
Tabela 3: Classificação dos artrópodes de importância médica.
Psychodidae
Nematocera
Diptera Culicidae
Ceratopogonidae
Simuliidae
Tabanomorphaa Tabanidae
Calliphoridae
Sarcophagidae
Muscomorpha
Insecta Muscidae
Oestridae
Reduviidae
Hemiptera Heteroptera
Cimicidae
Tungidae
Arthropoda Pulicidae
Siphonaptera
Rhopalopsyllidae
Pediculidae
Anoplura
Pthiridae
Argasidae
Ixodides
Ixodidae
Sarcoptiformes Sarcoptidae
Arachnida Acari
Pyroglyphidae
Trombidiformes
Demodecidae
Trombiculidae
Scorpiones
Araneida
Protozoários
15
excreção e locomoção. Possuem as mais variadas formas e diversos modos de alimenta-
ção, locomoção e reprodução. O sistema locomotor é especializado, alguns protozoá-
rios são revestidos de cílios, outros possuem flagelos, membranas ondulantes ou pseu-
dópodes e existem aqueles que não possuem nenhuma organela locomotora. Podem
apresentar grandes variações morfológicas dentro de seu ciclo de vida, que vai variar de
acordo sua fase evolutiva, do meio em que se encontram e de sua atividade fisiológica.
Algumas espécies de protozoários possuem fases bem definidas como: trofozoíta,
cisto e oocisto. Denomina-se trofozoíta a forma ativa, na qual ele se alimenta e se
reproduz. Alguns protozoários podem produzir uma parede resistente e se transfor-
mar em cisto ou oocisto que o protegerá quando estiver em meio impróprio ou em
fase de latência, no tecido do hospedeiro. O cisto é a forma de resistência do parasito
quando eliminados nas fezes e a forma de latência quando encontrados no tecido do
hospedeiro. O oocisto também é uma forma de resistência do parasito quando elimi-
nado nas fezes do hospedeiro, no entanto, é assim denominado, pois é proveniente de
reprodução sexuada.
16
3.1.2 Espécie patogênica
Saiba mais
Saiba mais
17
Cistos maduros
contaminando 1
água e alimentos
Cistos maduros
no meio ambiente
2
8
C A
B
5
4 3
Cistos 6
ou trofozoítas
nas fezes
Figura 3. Ciclo da E. histolytica. 1. Infecção através da água e alimentos contaminados com cistos maduros
2. cistos passam pelo estômago 3. e 4. ocorre o desencistamento no intestino delgado, 5. trofozoítas
no intestino grosso, 6. formação de cistos no intestino grosso, 7. eliminação de cistos e trofozoítas nas
fezes, 8. cistos maduros no meio ambiente. Ciclo Patogênico. A e B - Invasão da mucosa por trofozoíta,
C- trofozoítas no sistema porta invadindo outros órgãos.
Patologia
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
18
Diagnóstico
Epidemiologia
Profilaxia
Saiba mais
Introdução
PARASITOLOGIA GERAL
As amebas de vida livre são encontradas nos mais variados ambientes e em todos
os continentes, e estão muito bem adaptadas às adversidades do meio. Não são parasi-
tas, mas podem causar diversas patologias quando entram em contato com o homem.
Acredita-se que estas amebas estejam em transição da vida livre para a vida parasitária.
19
Etiologia
Morfologia
As Acanthamoebas são encontradas sob duas formas: trofozoítas, que são as formas
vegetativas, e cistos, que representam as formas de resistência. Os trofozoítas possuem
pseudópodes filiformes, um núcleo e cariossomo grande. Os cistos apresentam for-
mato esférico e um opérculo por onde a ameba sai ao desencistar.
A N. fowleri apresenta três formas em seu ciclo de vida: trofozoíta amebóide, forma
flagelada e cisto. O trofozoíta amebóide possui pseudópode lobopode, é uninucleado
com um cariossomo volumoso. A forma flagelada apresenta dois flagelos. Os cistos
são esféricos e lisos, apresentam duas paredes e poros.
1 Cisto 1
5 4
Cistos
3 2
2 Trofozoíta
Trofozoíta ameboide
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
ameboide
i
i
4
3
20
Quando os cistos entram em ambiente úmido ocorre o desencistamento, com a liberação de trofozoitas
amebóides. 3. Os trofozoitas se multiplicam por divisão binária simples 4. A N. fowleri, comum em lagos
e brejos, apresenta, em certos períodos de seu ciclo de vida livre, formas flageladas, 5. que movem-se
ativamente na água e ao entrarem em contato com a mucosa nasal transformam-se em trofozoítas ativos
e, via epitélio neuro olfativo atingem o cérebro, onde causam a meningoencefatite amebiana primária.
6. Os cistos e trofozoítas da Acanthamoeba podem infectar o homem através do trato respiratório e causar
a encefalite amebiana granulomatosa em indivíduos imunossuprimidos ou os trofozoítas em contato com
o globo ocular pode causar a ceratite amebiana em indivíduos imunocompetentes.
Patologia
Diagnóstico
21
diagnósticos são feitos pós-morte. Nos casos de EAG, provocados por Acanthamoeba
spp a evolução é mais lenta, as manifestações neurológicas são variadas e dependem
da localização das lesões. Os casos de CA ocorrem sempre pelo uso incorreto de
lentes de contato ou devido à lesões na córnea por traumatismos externos.
Para a realização do diagnóstico laboratorial nos casos de MAP e EAG deve-se
coletar o liquor cefalorraquiano e fazer raspado da mucosa nasal e da faringe. Na CA,
o diagnóstico é feito do material proveniente de raspados de córnea. Os testes soroló-
gicos ainda não estão padronizados, nem se mostram úteis, porque nos casos de EAG,
dificilmente se suspeita da etiologia antes da morte e, nos casos de MAP, os pacientes
morrem antes de produzir anticorpos.
Profilaxia
Como medidas profiláticas podemos citar: educação sanitária junto aos banhistas,
evitar a poluição das águas com matéria orgânica, limpeza sistemática de piscinas, prin-
cipalmente filtros, pré-cloração e manutenção de níveis de cloro ativo, não permitir
contato de animais com águas destinadas ao uso humano, recomendação de cuidados
no manuseio, limpeza e esterilização de lentes de contato, proibição do uso de lentes
durante o banho de piscina ou na vigência de qualquer sinal de irritação da córnea.
Atividade complementar 1
Tanto a Entamoeba histolytica quando as amebas de vida livre podem causar patologias
graves ao homem, no entanto, a biologia e os mecanismos de transmissão destas es-
pécies são distintos. Discorra sobre esta afirmativa.
22
Protozoários flagelados parasitos do sistema digestivo e geniturinário
do homem.
Patogenicidade/ Trofozoítas
Espécies Habitat
Número de
Formato Tamanho
flagelos
Patogenicidade/ Cisto
Espécies Habitat
Número de
Formato Tamanho
Núcleos
oval/
G. lamblia Patogênico/Intestino 8 a 12 μm dois a quatro
elipsoide
3.3.1 Tricomoníase
PARASITOLOGIA GERAL
Introdução
23
Morfologia
Saiba mais
Segundo a OMS ocorrem, a cada ano, mais de 170 milhões de casos novos de trico-
moníase no mundo.
Trichomonas
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
vaginalis
Trofozoíta
1 Trofozoíta 2 3 Trofozoíta
Divisão binária
Figura 5. Ciclo do T. vaginalis. A transmissão ocorre principalmente por relação sexual. 1. Os trofozoítas
se instalam na mucosa vaginal ou na uretra peniana, onde 2. se multiplicam por divisão binária 3. formando
colônias na vagina e uretra peniana.
24
O T. vaginalis é um parasito anaeróbico facultativo da mucosa vaginal da mulher,
podendo ser encontrado em outros locais do trato geniturinário. No homem, pode
ser encontrado no prepúcio, uretra e próstata. Não forma cistos (Fig. 5).
Mecanismo de transmissão
Patogenia
Sintomatologia
Diagnóstico
PARASITOLOGIA GERAL
O quadro clínico, embora muitas vezes sugestivo, não é constante nem específico,
podendo ser confundido com outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs),
sendo essencial a demonstração do parasito através do diagnóstico parasitológico.
O diagnóstico laboratorial é realizado através da demonstração do parasito na secre-
ção vaginal da mulher e em secreção, sedimento urinário e sêmen do homem.
25
Epidemiologia
Profilaxia
As medidas profiláticas que devem ser adotadas são: uso de preservativos, medi-
das higiênicas, diagnóstico precoce e tratamento dos doentes.
3.3.2 Giardíase
Introdução
Morfologia
26
(retração citoplasmática) (Fig. 7). No seu
interior observamos de 2 a 4 núcleos, pre-
sença de fibrilas (axonemas de flagelos) e
corpos escuros com forma de meia-lua,
geralmente confundidos com os corpos
parabasais.
Figura 7. Cisto de G. lamblia. Aumento de 1000X.
(Documentação do DMIPP/IPTSP/UFG).
Habitat e ciclo biológico
Cistos maduros
2 i
i ESTÁGIO INFECCIOSO
d ESTÁGIO DIAGNÓSTICO
Trofozoita
Cisto
i
d 1
d
PARASITOLOGIA GERAL
27
maduros (tetracucleados). 3. O desencistamento tem inicio no estomago e se completa no intestino
delgado na região do duodeno e jejuno, onde vai ocorrer à colonização pelos trofozoítas. 4. Os trofozoítas
multiplicam-se por divisão binária e aderidos ao epitélio intestinal através do ducto suctorial, atapetam o
intestino delgado. 5. Em determinado momento por estímulos desconhecidos, alguns trofozoítas se des-
prenderem do intestino, secretam uma membrana cística e formam os cistos que são eliminados nas fezes.
Mecanismos de transmissão
Sintomatologia e patogenia
Diagnóstico
Apesar dos sintomas serem bem característicos é fundamental a realização de exame labo-
ratorial para a confirmação da infecção. O exame parasitológico de fezes é a melhor maneira
para se diagnosticar a giardíase. Em fezes sólidas ou pastosas são encontrados cistos e em fezes
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
diarreicas trofozoítas. A eliminação de cistos nas fezes não é contínua e pode levar a resultados
falso-negativos, por isso é aconselhável à coleta de três amostras de fezes em dias alternados.
Saiba mais
A giardíase é considerada uma zoonose pela OMS, pois, acomete tanto o homem
quanto diversas espécies animais.
28
Epidemiologia
Profilaxia
Introdução
Saiba mais
29
A doença de Chagas é no Brasil e em diversos países da América Latina, um pro-
blema de saúde pública grave, que leva a lesões cardíacas e é uma das principais causas
de morte súbita na fase produtiva do cidadão.
Morfologia
Saiba mais
30
1
Triatomíneo defeca 2
próximo à picada Tripomastigota
CICLO NO
8 i HOMEM
Tripomastigotas Metacíclicos
CICLO NO
TRIATOMÍNEO
7
Multiplicam-se 3
Amastigotas
no tecido
d
6
Epimastigota 4
Tripomastigota
no sangue
5
Infecção no
i ESTÁGIO INFECCIOSO repasto sanguíneo
d ESTÁGIO DIAGNÓSTICO
Figura 11. Ciclo do T. cruzi. 1. Repasto sanguíneo, triatomíneo ao se alimentar defeca próximo à
picada. 2. As formas tripomastigotas presentes nas fezes penetram no local da picada e 3. são
fagocitadas por células do sistema fagocítico mononuclear (SFM) da pele onde se diferenciam rapi-
damente em amastigotas. As formas amastigotas se multiplicam por divisão binária e quando a célula
esta saturada de parasitos inicia-se a transformação de amastigotas em tripomastigotas. 4. Quando
ocorre a ruptura da célula, as formas tripomastigotas caem na corrente sanguínea ou invadem as
células vizinhas. 5. Triatomíneo no momento do repasto sanguíneo ingere formas tripomastigotas
presentes no sangue. 6. No estomago do inseto, as formas tripomastigotas se transformam em
epimastigotas. 7. As formas epimastigotas migram para o final do intestino, onde se transformam
em formas tripomastigotas metacíclicos (formas infectantes do parasito), 8. que são eliminadas com
fezes do triatomíneo.
Mecanismo de transmissão
PARASITOLOGIA GERAL
31
Transmissão congênita - Ocorre quando mães chagásicas passam o parasito
para seus filhos durante a gravidez ou no momento do parto.
Transmissão através de acidentes de laboratório - Ocorre quando a pele
lesada ou mucosa oral ou ocular entra em contato com material contaminado ou por
autoinoculação, durante a manipulação em laboratório.
Transmissão oral - Ocorre através da ingestão de alimentos contaminados com
fezes de triatomíneos infectados ou quando o triatomíneo infectado é esmagado com
o alimento.
Transmissão através do coito - Este mecanismo de transmissão não está com-
provado na espécie humana, mas acredita-se que possa ocorrer, pois o parasito já foi
encontrado no sangue menstrual de mulheres infectadas.
Transmissão através de transplante - Ocorre quando o indivíduo após receber
um órgão infectado, desencadeia a infecção.
32
Forma digestiva - No Brasil, as formas digestivas atingem aproximada-
mente 10% dos indivíduos chagásicos. As manifestações digestivas podem
acometer todo o trato gastrointestinal, sendo mais frequentes no esôfago e no
cólon, caracterizadas por alterações morfológicas e de mobilidade presentes no
megacólon e megaesôfago.
Forma nervosa - Admitida por Carlos Chagas, esta forma de doença é ainda
discutida. Ainda não suficientemente documentadas. Manifestações neurológicas:
alterações psicológicas, alterações comportamentais e perda de memória.
Diagnóstico
Epidemiologia
homem, mas comum nos animais silvestres. Entretanto, com as atuais modifi-
cações na ecologia desta região, é possível que a doença de Chagas venha a se
tornar um problema.
As medidas profiláticas adotadas são controle do vetor, melhoria das habitações,
controle dos bancos de sangue e controle da transmissão congênita.
33
3.4.2 Leishmanioses
Introdução
Morfologia
Ciclo biológico
34
Promastigotas se 1 Infecção humana
multiplicam e migram durante o repasto Promastigostas
para a probóscide do sanguíneo 2 são fagocitadas
flebotomíneo. i por macrófagos
CICLO NO
HOMEM
7
3
Promastigotas
CICLO NO
FLEBOTOMÍNEO Promastigostas d
se transformam em
6 amastigotas e se
multiplicam
Macrófagos
liberam amastigotas
4
d
Macrófagos se
rompem liberando
amastigotas
5
Flebotomíneo infecta i ESTÁGIO INFECCIOSO
Figura 14. Ciclo da Leishmaniose. 1. Formas promastigotas são inoculadas no hospedeiro vertebrado
por fêmeas de flebotomíneos, durante o repasto sanguíneo. 2. As formas promastigotas são fagoci-
tadas por macrófagos. 3. Formas promastigotas se transformam em formas amastigotas no interior de
macrófagos onde se multiplicam por divisão binária. 4. Os macrófagos não suportam a quantidade de
parasito e se rompem, liberando as formas amastigotas que serão novamente fagocitadas. 5. A infecção
do flebotomíneo ocorre quando a fêmea pica o vertebrado para exercer o repasto sanguíneo e com o
sangue ingere macrófagos parasitados por formas amastigotas. 6. No estômago do flebotomíneo, os
macrófagos se rompem liberando as amastigotas. 7. As amastigotas se transformam rapidamente em
promastigotas, 8. que migram através do estômago em direção à faringe do inseto e são inoculados no
momento do repasto sanguíneo.
PARASITOLOGIA GERAL
35
Agente etiológico
Saiba mais
Biologia
Mecanismo de transmissão
Manifestações clínicas
36
Leishmaniose cutânea difusa (LCD) - Se caracteriza pela formação de
lesões difusas papulares ou nodulares não ulceradas por toda a pele. Esta forma
clínica é provocada pela L. amazonensis no Brasil e está associada a uma deficiência
imunológica.
Diagnóstico
Epidemiologia
Profilaxia
37
Saiba mais
Agente etiológico
Biologia
Mecanismo de transmissão
Manifestações clínicas
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
38
Diagnóstico
O diagnóstico clínico é feito com base nos sintomas apresentados pelos pacientes,
associados à história de residência em área endêmica. O diagnóstico parasitológico é
realizado através da pesquisa de formas amastigotas no material obtido de aspirado
de medula óssea, baço, fígado e linfonodo e o diagnóstico imunológico, através de
métodos sorológicos, os mais utilizados são a Reação de Imunofluorescência Indireta
(RIFI) e Ensaio Imunoenzimático (ELISA).
Epidemiologia
Nas Américas, a leishmaniose visceral é uma zoonose que tem as raposas como
reservatórios silvestres e cães como reservatórios domésticos. Em todos os focos de
doença humana são encontrados cães infectados, sendo considerados como principal
elo na cadeia de transmissão do calazar.
Muitos focos do vetor são mantidos próximos, no peridomicílio, tornando os ani-
mais domésticos alvos fáceis de repastos sanguíneos, mantendo aí o ciclo biológico do
inseto. O homem e o cão são os alvos preferidos dos flebotomíneos peridomiciliares,
que são picados especialmente no início da noite, dentro ou fora das casas.
Profilaxia
Atividade complementar 2
39
mosporidiiida temos o parasito da malária e na ordem Coccidiida temos o Toxoplasma
gondii e diversos coccídios intestinais de importância médica.
3.5.1 Malária
Introdução
A malária é uma doença grave, que tem como agente causal protozoários de
gênero Plasmodium e como transmissores mosquitos do gênero Anopheles. Também
conhecida como paludismo, é considerada um problema de saúde em mais de 90 pa-
íses, onde cerca de 40% da população mundial, convivem com os riscos de contágio.
No Brasil a malária registra cerca de 500 mil novos casos por ano, ocorrendo o maior
percentual na região amazônica.
Saiba mais
O termo malária teve origem no século XIX na Itália, onde acreditavam que
a doença era causada por vapores nocivos exalados dos pântanos tiberianos,
designando-a “malaria", cujo sentido literal é "mau ar".
Agente etiológico
Mecanismo de transmissão
40
Ruptura
12 do oocisto
ESTÁGIOS NO
Célula FÍGADO HUMANO Células do fígado
do fígado infectadas
Infecção do hospedeiro 2
Liberação de durante o repasto A
esporozoítas sanguíneo CICLO
1 PRÉ-ERITROCÍTICO
Esquizonte
ESTÁGIOS
Ruptura do
NO MOSQUITO
i esquizonte e liberação
de merozoitas 3
i 4
11
Oocisto
C
CICLO
ESPOROGÔNICO
ESTÁGIOS NO
Mosquito se SANGUE HUMANO Trofozoíta
infecta no jovem
10
repasto 5 d
Oocineto sanguíneo
B
CICLO
Macrogametócito ERITROCÍTICO
6
Trofozoíta
8 maduro
9 d
P. falciparum d Esquizonte
Microgameta
fecundando o Ruptura do
Microgametócito
macrogameta esquizonte
exflagelado 7 e liberação
de merozoitas
Gametócitos d
7
i ESTÁGIO INFECCIOSO
P. vivax
Gametócitos
d ESTÁGIO DIAGNÓSTICO P. ovale
P. malariae
Figura 15. Ciclo do Plasmodium sp. 1. O homem se infecta, quando fêmeas do mosquito realizam o repasto
sanguíneo e inoculam esporozoítas 2. que vão, por via circulatória chegar ao fígado onde irão invadir os he-
patócitos 3. e se multiplicar por reprodução assexuada (esquizogonia), dando origem a esquizontes teciduais
4. e posteriormente a milhares de merozoítas que invadirão os eritrócitos. 5. Merozoítas tissulares invadem os
eritrócitos, dando origem a esquizontes sanguíneos 6. que ao se romperem, liberaram merozoítas que invadem
novos eritrócitos. 7. Depois de alguns ciclos eritrocíticos, parte dos merozoítas irão se diferenciar em estágios se-
xuados, os gametócitos masculinos e femininos. 8. As fêmeas de Anopheles se infectam no momento do repasto
sanguíneo ao ingerir os gametócitos. 9. No intestino médio do mosquito, os gametócitos dão origem a gametas
femininos e masculinos 10. que após fecundação formarão o ovo ou zigoto móvel, denominado oocineto, que
migra através do estomago do mosquito 11. e se encista na parede do intestino médio passando a ser chamado
oocisto. 12. Os oocistos darão origem a esporozoítas, que após a ruptura do oocisto serão disseminados por
todo o corpo do inseto através da hemolinfa até atingir as células das glândulas salivares, e juntamente com a
saliva serão injetados no hospedeiro vertebrado, durante o repasto sanguíneo infectante.
PARASITOLOGIA GERAL
Manifestações clínicas
41
acompanhado de febre que pode atingir 41 ºC ou mais. Depois de duas a seis horas
a febre diminui e o indivíduo apresenta sudorese e fraqueza intensa. Após algumas
horas, os sintomas desaparecem.
Diagnóstico
Profilaxia
3.5.2 Toxoplasmose
Introdução
Morfologia
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
42
Saiba mais
i ESTÁGIO INFECCIOSO
Infecção
8 congênita Bradizoitas
liberados no
intestino
Líquidos 10
d 6 orgânicos
11
i 9 Felinos
5 Merozoíta
a
Homem
i i Oocisto b
FASE
COCCIDIANA
Cisto 2
Animais Aves e
domésticos animais
silvestres
3
d
4
PARASITOLOGIA GERAL
12
1 Oocisto
Oocisto imaturo
Água, frutas Caixa de areia
maduros
uras
e verduras
Figura 16. Ciclo biológico do T. gondii. 1. Oocistos maduros encontrados no solo podem infectar 2.
aves, animais silvestres, 3. animais domésticos e o homem e contaminar 4. água, frutas, verduras. 5.
43
O homem também pode se contaminar ao ingerir cistos com bradizoítas presentes na carne crua ou
mal cozida ou 6. taquizoítas presentes em líquidos orgânicos. 7. Durante a fase aguda são encontradas
taquizoítas dentro dos macrófagos, nas circulações linfática ou sanguínea e na fase crônica, cistos com
bradizoítas nos tecidos. 8. Gestantes poderão transmitir taquizoítas ao feto, através da circulação
placentária. 9. Os gatos e outros felinos são os hospedeiros definitivos da toxoplasmose e podem se
infectar ao ingerir um animal albergando cistos, oocistos presentes maduros no solo ou taquizoítas,
iniciando a fase coccidiana do ciclo que se processa nas células epiteliais do intestino delgado. 10.
Inicialmente ocorre a liberação das formas infectantes bradizoítas, esporozoítas ou taquizoítas que
penetram nas células epiteliais, onde se inicia a fase assexuada do ciclo, denominada merogonia, com a
formação dos merozoítas e a sua liberação para a luz intestinal. 11. Os merozoítas liberados penetram
em novas células epiteliais e iniciam a fase sexuada do processo denominada gametogonia, onde
haverá a formação de macrogametócitos e microgametócitos que darão origem a macrogametas (ga-
metas femininos) e microgametas flagelados (gametas masculinos). 12. Os microgametas fecundarão
os macrogametas e darão origem aos oocistos que serão liberados pelas fezes dos gatos. No solo,
os oocistos, por um processo de esporogonia originarão os esporozoítas, tornando-se infectante aos
hospedeiros suscetíveis.
Mecanismo de Transmissão
Patogenia
Diagnóstico
44
Epidemiologia
Profilaxia
As medidas profiláticas mais recomendadas são: não comer carne crua ou mal co-
zida; controlar a população de gatos e alimenta-los apenas com ração ou carne cozida;
proteger as caixas de areias para que os gatos não defequem neste local; realização de
exame pré-natal em todas as gestantes e tratamento das doentes; lavar bem as mãos
após o manuseio de carne e utilização de normas de biossegurança nos laboratórios.
Atividade complementar 3
3.5.3.1 Sarcocistose
Introdução
Morfologia
45
Bradizoítas - Forma infectante ao homem, presente no interior dos cistos.
Merontes (esquizontes) - Presentes nas células endoteliais dos vasos sanguí-
neos do hospedeiro intermediário.
Oocisto - Fo rma eliminada pelas fezes do homem e infectante para o hospedeiro
intermediário.
Ciclo Biológico
MACROGAMETA MICROGAMETA
1 Sarcocisto 1
5
INTESTINO Oocisto
Esporozoítos
ESPORULAÇÃO
Esporocisto
Esporocisto
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Fezes
6
Figura 17. Ciclo do Sarcocystis sp. 1. Os suínos e bovinos se infectam ao ingerir oocistos esporulados ou
esporocistos que são eliminados com as fezes do homem. 2. Os esporozoítas são liberados no intestino
delgado, atravessam a parede intestinal e vão formar merontes primários nas veias do fígado e depois
merontes secundários nas veias de outros órgãos. Os merozoítas liberados pelos merontes secundários
penetram em células musculares para formar a terceira geração de merontes ou sarcocistos. 3. O homem
se infecta ao ingerir sarcocistos maduros contendo bradizoítas. 4. Estes, no intestino delgado, dão origem
46
diretamente a gametas. 5. Há fecundação do macrogameta pelo microgameta formando-se oocisto que
esporulado na parede intestinal. 6. Os oocistos esporulados ou esporocistos são eliminados nas fezes.
Mecanismo de transmissão
Patogenia
Diagnóstico
Profilaxia
Como medidas profiláticas é recomendado não ingerir carne suína e bovina crua
ou mal cozida e saneamento básico para se evitar a contaminação do meio ambiente
por fezes humanas.
3.5.3.2 Cystoisosporíase
Introdução
Morfologia
47
Ciclo biológico
d ESTÁGIO DIAGNÓSTICO
Oocisto maduro
com esporocisto
Oocisto imaturo
com esporocisto
Oocisto imaturo
com esporoblasto d
Esporozoítas
i
3
merozoítas
Oocistos maduros CICLO ASSEXUADO microgametócito
microgameta
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
6 Fecundação 5 4
CICLO SEXUADO
macrogametócito
Figura 18. Ciclo da C. belli. 1. O homem se infecta através da ingestão de oocistos esporulados com a água e
alimentos. 2. Os esporozoítas liberados dos oocistos invadem o intestino delgado, onde se inicia a fase assexuada
do ciclo, denominada merogonia, 3. com a formação dos merozoítas e a sua liberação para a luz intestinal. 4. Os
merozoítas liberados penetram em novas células epiteliais e iniciam a fase sexuada do processo denominada
48
gametogonia, onde haverá a formação de macrogametócitos e microgametócitos que darão origem a ma-
crogametas (gametas femininos) e microgametas (gametas masculinos). 5. Os microgametas fecundarão os
macrogametas e darão origem aos 6. oocistos que serão liberados pelas fezes. No meio ambiente, os oocistos,
por um processo de esporogonia originarão os esporozoítas, tornando-se infectante aos hospedeiros suscetíveis.
Mecanismo de transmissão
Patogenia
A infecção provoca diarreia aguda, sem sangue, com dor abdominal tipo cólica,
que pode durar semanas e resultar em má absorção e perda de peso. Em pacientes
imunodeprimidos, e em lactentes e crianças, a diarreia pode ser grave.
Diagnóstico
Profilaxia
As medidas profiláticas recomendadas são: ingerir somente água tratada com clo-
ro ou fervura; uso de fossas sanitárias para evitar a contaminação do meio ambiente;
higiene de frutas e verduras e higiene pessoal.
3.5.1.3 Criptosporidiose
Introdução
Morfologia
PARASITOLOGIA GERAL
49
Ciclo biológico
2 Contaminação da água
e alimentos por oocistos
1 Eliminação do oocisto
esporulado pelas fezes do hospedeiro
b c
Oocisto de a Esporozoíta Meronte tipo I
parede espessa
Oocisto
j
i CICLO ASSEXUADO
Auto infecção
Oocisto de Merozoíta
parede delgada
Meronte tipo II
e
f Gameta
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Microgametócito
h Zigoto Merozoítas
g Macrogametócito
CICLO SEXUADO
Figura 19. Ciclo do C. parvum. 1. Oocistos esporulados são eliminados pelas fezes do hospedeiro infectado.
2. A contaminação do meio ambiente com fezes humanas ou de animais infectados pode atingir alimentos
e fontes de água usadas para consumo. 3. Infecção humana por ingestão de oocistos. a. Após a ingestão, o
oocisto esporulado se rompe no intestino e libera b. esporozoítas que invadem as células epiteliais do trato
50
gastrointestinal. c. No fim do crescimento do esporozoíta o núcleo começa a se dividir várias vezes, de forma as-
sexuada (merogonia), o que resulta em uma forma multinucleada, o meronte tipo I. d. Os merontes se rompem
e liberam merozoítas que vão invadir novas células do epitélio intestinal e dar origem a merontes tipo I, recome-
çando outro ciclo assexuado e e. merontes tipo II, iniciando o ciclo sexuado (esporogonia). Os merozoítas do
tipo II se diferenciam em gametócitos no interior das células epiteliais e produzirão f. microgametócitos (gametas
masculinos) e g. macrogametócitos (gametas femininos). h. Os microgametócitos liberam microgametas que
invade o macrogametócito onde está o macrogameta formando o zigoto, ou oocisto. Dois tipos de oocistos são
formados: i. um de parede delgada, que se rompe no intestino delgado e acredita-se ser responsável pelos casos
de autoinfecção, e j. um de parede espessa, que é excretado para o meio externo com as fezes.
Saiba mais
Mecanismo de transmissão
Patogenia
Diagnóstico
Epidemiologia
É conhecida em todos os continentes, sendo mais comum nos países menos desen-
volvidos. Os indivíduos imunossuprimidos são os mais suscetíveis à doença sintomática.
A principal via de transmissão é através de água contaminada com oocistos de Cryptosporidium.
51
Profilaxia
Como medidas profiláticas deve se ter cuidado com a higiene pessoal em ambientes
com aglomeração de pessoas como creches e hospitais, tratamento da água, tratamento dos
indivíduos infectados e saneamento básico para evitar a contaminação do meio ambiente.
3.5.3.3 Cyclosporose
Introdução
Biologia
1
i
Ingestão de água
e alimentos contaminados
Esporulação de oocistos
no meio ambiente
Contaminação
ambiental
7 Oocistos nao
esporulados nas fezes
d
i ESTÁGIO INFECCIOSO
d ESTÁGIO DIAGNÓSTICO
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
6 Desencistamento
Figura 20. Ciclo da C. caytanensis. 1. Oocisto esporulado é ingerido pelo indivíduo, através da contami-
nação da água e de alimentos. 2. Ao chegar ao intestino delgado ocorre o desencistamento e liberação
de esporozoítas, 3. estes penetram na célula epitelial da região do jejuno e realizam pelo menos 4. dois
52
ciclo assexuado com a formação de merontes e um 5. ciclo sexuado com a formação de microgametas
e macrogameta; estes se unem, formam o zigoto e posteriormente o 6. oocisto imaturo que vão para a
luz intestinal e 7. são liberados para o meio exterior com as fezes. 8. No meio ambiente sofrem divisões
sucessivas pelo processo de esporogonia e formamos oocistos maduros contendo quatro esporozoitas.
Morfologia
Mecanismo de transmissão
A infecção tem sido associada à transmissão fecal-oral via água e alimentos conta-
minados por oocistos.
Patogenia
Diagnóstico
Epidemiologia
O primeiro caso de infecção humana por Cyclospora foi descrito em 1979. Este proto-
zoário tem ampla distribuição mundial, no entanto, sua prevalência exata não é conhecida.
PARASITOLOGIA GERAL
Profilaxia
Evitar ingerir água ou alimentos que possam estar contaminados com fezes.
A Cyclospora é resistente à cloração sendo importante a filtração adequada da água
dos sistemas públicos.
53
3.6 Ciliados de importância médica
3.6.1 Balantidíase
Introdução
A balantidíase é uma zoonose que tem como agente causal o Balantidium coli,
protozoário ciliado parasito de suínos que pode ocasionalmente parasitar o homem.
Morfologia
Cisto
1
Ingestão de água
Trofozoíta e alimentos contaminados
6
3
Cistos contaminando
água e alimentos
7 Trofozoítas invadem
a parede do colon 2
4
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
5
i d 5 Cisto
i ESTÁGIO INFECCIOSO
d ESTÁGIO DIAGNÓSTICO
Figura 21. Ciclo do B. coli. 1. O homem se infecta ao ingerir água e alimentos contaminados com cistos
do B. coli. 2. Ao chegar no intestino grosso ocorre o desencistamento com a liberação de 3. trofozoítas
4. que se multiplicam por divisão binária (reprodução assexuada) e por conjugação (reprodução sexuada)
54
e, posteriormente, formam 5. cistos que são eliminados nas fezes, 6. e poderão contaminar a água e os
alimentos. 7. Alguns trofozoítas podem invadir a parede do colón e se multiplicarem causando patologia.
O B. coli vive no intestino grosso de suínos que são seus hospedeiros habituais.
É um parasito monoxênico que apresenta em seu ciclo dois tipos de reprodução,
sexuada e assexuada (Fig. 21).
Mecanismo de transmissão
Patogenia
O B. coli não invade a mucosa intestinal intacta, é necessário que a mucosa esteja
lesada para que ocorra a invasão. O parasito pode aumentar a lesão inicial, provocando
necroses localizadas e úlceras semelhantes as que ocorrem na amebíase. Os principais
sintomas são diarreia, meteorismo, dor abdominal, anorexia, fraqueza e febre.
Diagnóstico
Epidemiologia
Profilaxia
55
Helmintos
4.1.1.1 Esquistossomose
Introdução
A esquistossomose também conhecida como barriga d’água, xistose e doença dos cara-
mujos, tem como agente causal nas Américas o Schistosoma mansoni, parasito cujas formas
adultas habitam os vasos mesentéricos do hospedeiro definitivo. É uma doença inicialmente
assintomática, mas que pode evoluir para a forma grave, levando o individuo a óbito.
Morfologia
lo e cercária.
Figura 22. Ovo de S. mansoni.
Aumento de 400X. (Documentação
do DMIPP/IPTSP/UFG).
Saiba mais
56
Habitat e ciclo biológico
Cercárias
penetram na pele
6
8
3 Miracídios penetram
no caramujo Circulação
Maturação sexual
no sistema porta
hepático 9
2 Ovos eclodem e 10
liberam miracídios
1 i 11
Os ovos passam da submucosa
para a luz intestinal e são
Ovos de S. mansoni eliminados nas feses
nas fezes Macho e fêmea nas
veias mesentéricas
i ESTÁGIO INFECCIOSO
d ESTÁGIO DIAGNÓSTICO
Figura 23. Ciclo do S. mansoni. 1. Os ovos são eliminados com fezes. 2. , os ovos ao alcançarem a água,
eclodem e liberam o miracídio, 3. que nadam e penetram no caramujo (Biomphalaria), hospedeiro
PARASITOLOGIA GERAL
57
Mecanismo de transmissão
Patogenia
Diagnóstico
Epidemiologia
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Profilaxia
58
Atividade complementar 4
4.1.1.2 Fasciolose
Introdução
A fasciolose tem como agente causal a Fasciola hepatica, parasito de canais biliares
de ovinos, bovinos, caprinos, suínos e vários mamíferos silvestres. Este parasito pode
acidentalmente parasitar o homem e é encontrado em áreas alagadiças, úmidas ou
sujeita a inundações periódicas em quase todos os países do mundo. No Brasil já
foram registrados numerosos casos.
Morfologia
A F. hepática apresenta as seguintes formas evolutivas: verme adulto, ovo (Fig. 24),
miracídio, cercária e metacercária.
59
4a 4b 4c
Esporocisto Rédias Cercárias
6 Metacercária na vegetação
Cercária 7
i
4 livre na água 7 Infecção através
da ingestão de
metacercária
Molusco 8
(Lymnaea)
Metacercárias
desencistam no
intestino delgado
3
8
Miracídio na água é
atraído pelo molusco
9
Ovos embrionados
1 d
Figura 25. Ciclo do F. hepatica. 1. Ovos não embrionados são eliminados com as fezes do hospedeiro
definitivo 2. e em condições favoráveis de temperatura e umidade tornam-se embrionados dando
origem a um miracídio. 3. O ovo ao entrar em contato com a água libera o miracídio que é atraído por
molusco do gênero Lymnaea. 4. Penetrando no molusco o miracídio forma um 4a. esporocisto que dá
origem a várias 4b. rédias, que podem dar origem a rédias ou 4c. cercárias. 5. As cercárias saem do
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
caramujo e nadam por alguns minutos e depois perdem a cauda e 6. encista formando as metacercárias,
que aderem na vegetação aquática, ficam na superfície ou vão para o fundo d'água. 7. O homem (ou
animal) infecta-se ao beber água ou comer verdura com metacercárias. 8. As metacercárias desen-
cistam no intestino delgado, perfuram a parede do mesmo, caem na cavidade peritoneal, perfuram a
cápsula hepática (ou cápsula de Glisson), 9. migram pelo parênquima hepático até as via biliares onde
alcançam a forma adulta. Os adultos põem ovos que, com a bile, passam para o intestino, de onde são
eliminados com as fezes.
Mecanismo de transmissão
60
Patogenia
Diagnóstico
Epidemiologia
Profilaxia
61
Introdução
Saiba mais
A OMS estima que ocorram 50.000 mortes a cada ano, devido à neurocisticercose, e
que exista um número ainda maior de indivíduos, que sobrevivem, todavia, incapaci-
tados, devido aos ataques convulsivos ou outros danos neurológicos.
Morfologia
em seu interior escólex com quatro ventosas. O cisticerco da T. solium apresenta rostro.
T. solium e a T. saginata são parasitos heteroxênicos que tem o homem com hospe-
deiro definitivo obrigatório e respectivamente os suínos e bovinos como hospedeiros
intermediários.
Na fase adulta tanto a T. solium como a T. saginata vivem no intestino delgado hu-
mano. O cisticerco da T. solium é encontrado nos tecidos de suínos e acidentalmente
62
em humanos e cães. O cisticerco da T. saginata é encontrado nos tecidos dos bovinos
(Fig. 26).
Pessoa ingere carne malcozida
contaminada por cisticercos
Lava Oncosfera
4 Hospedeiro
6 definitivo
(Espécie humana)
Cisticercos 5
na musculatura
Cisticerco everte-se e
3
inicia a formação
de uma tênia
Bovinos (T.saginata) e
suínos (T.sollium) se infectam
ao ingerir alimentos
contaminados com ovos de tênia
1
Proglótide grávida
liberada com as fezes
2
Tênia adulta
Ovo liberado
no intestino
pela proglótide
Figura 26. Ciclo da Taenia sp. 1. O homem parasitado elimina as proglotes grávidas cheias de ovos nas
fezes. 2. As proglotes se rompem no meio externo liberando milhares de ovos no solo. 3. O hospedeiro
intermediário (suíno para T. solium e bovino para T. saginata) ingere os ovos, 4. No intestino, as oncosfe-
ras liberam-se do embrióforo e penetram na vilosidade, com auxílio dos acúleos. Através da acorrente
circulatória, são transportadas para todos os órgão e tecidos do organismo, travessam a parede do vaso,
instalando-se nos tecidos circunvizinhos. 5. As oncosferas desenvolvem-se para cisticercos em qualquer
tecido mole (pele, músculos esqueléticos e cardíacos, olhos, cérebro etc.). No interior dos tecidos, perdem
os acúleos e cada oncosfera transforma-se em um pequeno cisticerco. 6. A infecção humana ocorre pela
ingestão de carne crua ou malcozida de porco ou de boi infectado. 7. O cisticerco ingerido, evagina-se
e fixa-se, através do escólex, na mucosa do intestino delgado, 8. transformando-se em uma tênia adulta.
Mecanismo de transmissão
PARASITOLOGIA GERAL
63
Autoinfecção interna - Durante os movimentos retroperistálticos do intestino
ou vômitos, as proglotes podem ir até o estômago e depois voltar ao intestino delgado,
liberando as oncosferas.
Heteroinfeção - Ingestão de água e alimentos contaminados com os ovos da T. solium.
Patogenia
Diagnóstico
Epidemiologia
64
No Brasil, de acordo com os dados da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA),
a cisticercose é uma parasitose endêmica.
Profilaxia
Atividade complementar 5
4.1.2.2 Hidatidose
Introdução
Morfologia
interior a oncosfera ou embrião hexacanto, onde estão presentes seis ganchos ou acúleos.
Forma larval - Cisto hidático ou hidátide, presente nas vísceras dos hospedeiros
intermediários, principalmente ovinos e bovinos. O cisto hidático é formado pela
membrana adventícia, membrana anista ou hialina, membrana germinativa ou pro-
lífera e vesículas prolígeras.
65
Habitat e ciclo biológico
6 Adulto no1 4
intestino
Adulto nodelgado
6 4
intestino delgado
O escolex se
fixa no intestino
O escolex se
fixa no intestino i
Ingestão de cisto 2i
5
Ingestão de cisto 2
protoescolex
5 Hospedeiro Ovos nas fezes
do cisto
protoescolex definitivo
Hospedeiro Ovos nas fezes
do cisto definitivo
Hospedeiro 4
intermediário
Hospedeiro 44
intermediário 44
4 4
3
4
3
Ingestão de fezes 4
Ingestão de fezes 4
d
d
3
4
3
Oncosfera liberada
4
Cisto hidático atravessa
Oncosferaaliberada
parede intestinal
(em
Cistodiferentes
hidático órgãos) eatravessa
se dissemina pelaintestinal
a parede circulação
(em
i diferentes órgãos)
ESTÁGIO INFECCIOSO e se dissemina pela circulação
di ESTÁGIO
ESTÁGIO INFECCIOSO
DIAGNÓSTICO
d ESTÁGIO DIAGNÓSTICO
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Figura 27. Ciclo do E. granulosus. 1. Verme adulto no intestino do hospedeiro definitivo (canídeos) 2.
Proglotes grávidos liberam os ovos que são passados nas fezes dos cães e contaminam o ambiente,
como os pastos. 3. O hospedeiro intermediário (ovinos, caprinos) ingere esses ovos junto com ali-
mento. Nos animais, assim como no homem, há dissolução do embrióforo e liberação da oncosfera no
duodeno. Com auxilio dos acúleos atravessa a parede intestinal, caindo na circulação e chegando ao
fígado, pulmões e mais raramente outros órgãos. 4. A oncosfera (embrião hexacanto) se transforma
em cisto hidático (hidátide ou larva) e se aloja nos tecidos. 5. e 6. Quando os cães se alimentam
das vísceras desses animais, ingerem o cisto com escólexes, que no duodeno desenvaginam-se e
se transformam em vermes adultos. 2b. Os humanos são infectados pela ingestão de ovos, com
consequente 4b. libertação de oncosferas no intestino e 4b.,4c.,4d.4e., 4g. no desenvolvimento de
cistos em vários órgãos.
66
Mecanismo de transmissão
Patogenia
Diagnóstico
Epidemiologia
Profilaxia
PARASITOLOGIA GERAL
As medidas profiláticas que devem ser adotadas são: tratar os cães parasitados,
impedir o acesso de cães em hortas e reservatórios de água, ter cuidados com higiene
pessoal, lavar frutas e verduras com água corrente, lavar as mãos antes de ingerir ali-
mentos e depois de contato com cães, evitar contato com cães não tratados e realizar o
controle de insetos, principalmente moscas e baratas, que podem carrear ovos.
67
4.1.2.3 Himenolepíase
Introdução
5 6
O homem e roedores Larva cisticercóide
se infectam com a nas vilosidades intestinais
ingestão de insetos
4 7
Larva cisticercóide Auto-infecção
10 pode ocorrer se o
no inseto i
ovo permanecer
no intestino. Scolex
3
Ovos ingeridos
por humanos i
2
Ovos ingeridos Adulto na porção
por inseto 1 ilíaca do intestino
8
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
d i 9
Ovos eliminados nas fezes
d ESTÁGIO DIAGNÓSTICO
Figura 28. Ciclo do H. nana. 1. Os ovos embrionados são eliminados juntamente com as fezes e 2. ingeri-
dos por larvas de insetos ou 3. ingeridos por humanos através da água ou alimentos contaminados. 4. Ao
chegarem ao intestino do inseto (hospedeiros intermediário), o ovo libera a oncosfera, que se transforma
em larva cisticercóide. 5. O homem e roedores se infectam ao ingerir acidentalmente o inseto contendo
68
larva cisticercóide. 6. A larva cirticercóide se desenvolve nas vilosidades intestinais 7. a larva madura, sai
da vilosidade, se desenvagina e se fixa na mucosa intestinal através do escólex e 8. se transforma em
verme adulto na porção ilíaca do intestino. 9. Os ovos podem permanecer nas proglotes grávidas ou
serem liberados para as fezes do hospedeiro. 10. A auto-infecção pode ocorrer se o ovos permanecerem
no intestino, e as oncosferas penetrarem e se desenvolvem nas vilosidades.
Morfologia
Mecanismo de transmissão
Patogenia
Diagnóstico
69
Epidemiologia
Profilaxia
Hymenolepis diminuta
A H. diminuta, conhecida como tênia do rato, é outra espécie que pode infectar o
homem, mas que não apresenta importância médica.
O verme adulto mede entre 30 a 60 cm, possui escólex com quatro ventosas,
sem rostro. Os ovos são arredondados, medem de 60 a 80 mm e é revestido por uma
membrana espessa externa e uma membrana interna.
Eles habitam os ratos e raramente os humanos. Seu ciclo é heteroxênico e o ho-
mem se infecta a partir da ingestão de insetos com a larva cisticercoide.
No parasitismo humano não são identificadas alterações orgânicas. A eliminação
do verme ocorre dois meses após a infecção, o diagnóstico e tratamento são seme-
lhantes aos dos outros Cestoda.
4.2.1.1 Ascaridíase
70
Introdução
8
i
2 7
d
1
3
6
11
5 9 Fezes
10
d Ovo infértil
i ESTÁGIO INFECCIOSO
Ovo fértil d ESTÁGIO DIAGNÓSTICO
Figura 30. Ciclo do A. lumbricoides. 1. Ovos contendo larva L3 contaminam água e/ou alimentos.
PARASITOLOGIA GERAL
2. Ingestão dos alimentos contaminados com os ovos larvados. 3. Passagem do ovo pelo estômago e
liberação da larva L3 no intestino delgado. 4. Penetração das larvas na parede intestinal. 5. Larvas carreadas
pelo sistema porta até os pulmões. 6. Larvas sofrem muda para L4, sendo que posteriormente rompem os
capilares e caem nos alvéolos, sofrendo nova muda (L5). 7. Migração das larvas para a faringe. Expulsão
das larvas pela expectoração ou deglutição das mesmas. 8. Larvas atingem novamente o duodeno
transformando-se em adultos. Fêmeas, após a cópula, iniciam a oviposição. 9. Eliminação dos ovos pelas
fezes e contaminação do ambiente; 10. a 12. Evolução dos ovos férteis até se tornarem larvados com L3.
71
Morfologia
Mecanismo de transmissão
Patogenia
Saiba mais
Cada fêmea de Ascaris fecundada é capaz de colocar, por dia, cerca de 200.000 ovos.
72
Diagnóstico
Epidemiologia
A ascaridíase é a parasitose mais frequente nos países pobres, atingindo cerca de 1,5
milhões de pessoas. O contato entre crianças suscetíveis e crianças portadoras no perido-
micílio e na escola, associado a brincadeiras com a terra e o hábito de levarem às mãos sujas
a boca, levam as crianças com faixa etária de 1 a 12 anos serem as mais prevalentes.
Profilaxia
4.2.1.2 Ancilostomíase
Introdução
Morfologia
Saiba mais
73
Ancylostoma duodenale
Saiba mais
Necator americanus
de formato globoso.
74
i
Larva filarióides
penetra na pele
Larva filarióides
Larvas rabditoides
2 eclodem
Adultos no intestino delgado
d
1 i ESTÁGIO INFECCIOSO
d ESTÁGIO DIAGNÓSTICO
Ovos nas fezes
Figura 33. Ciclo dos Ancilostomídeos. 1. ovos são eliminados nas fezes, e em condições
favoráveis (umidade, calor, sombra) as larvas eclodem em 1 a 2 dias. 2. As larvas rabdtóides
liberadas crescem nas fezes e/ ou no solo 3. e após 5 a 10 dias ( e duas mudas) as larvas se tornam
filarióides infectantes (terceiro estágio(L 3)). 4. Ao contato com o hospedeiro humano, as larvas
penetram na pele e são levadas pelas veias ao coração e depois para os pulmões. Elas penetram
nos alvéolos pulmonares, ascendem pela arvore bronquial para a faringe e são deglutidos. 5. As
larvas atingem o intestino delgado, onde elas residem e maturam em adultos. Vermes adultos
vivem no lúmen do intestino delgado, onde elas se ligam à parede intestinal com perda de
sangue do hospedeiro.
Mecanismo de transmissão
PARASITOLOGIA GERAL
A infecção por A. duodenale ocorre quando as L3 penetram tanto por via oral como
cutânea. Já o N. americanus a infectividade é maior quando larvas L3 penetram por
via cutânea. No entanto, está comprovado que larvas L3 de N. americanus ao serem
ingeridas, penetram na mucosa da boca ou no epitélio da faringe e caem na corrente
sanguínea completando o ciclo, via pulmonar.
75
Patogenia
A patogenia das formas larvárias está relacionada com passagem pelo tegumen-
to cutâneo gerando prurido e infecções secundárias e pela passagem pelos pulmões
que geram lesões, hemorragia e irritabilidade. Os adultos causam ação espoliadora
no intestino delgado com destruição do tecido intestinal provocando hemorragias,
ação tóxica pelas excreções e secreções dos helmintos.
Diagnóstico
Epidemiologia
Profilaxia
Larva migrans
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Introdução
76
Larva migrans cutânea
Infecção do homem
Patogenia
Diagnóstico
4.2.1.3 Toxocaríase
envolvidas nesta síndrome são o Toxocara canis e Toxocara cati, parasitos do intestino
delgado de cães e gatos. As fêmeas destes parasitos podem eliminar milhares de ovos
por dia nas fezes dos hospedeiros normais. No solo, em condições favoráveis a larva
torna-se infectante (L3), dentro do ovo.
77
Aves, roedores, ruminantes, suínos podem ser hospedeiros paratênicos. Após in-
gestão dos ovos contendo larvas L3, eclodem no intestino delgado desses hospedeiros,
e migram atingindo vários tecidos onde permanecem viáveis por meses, tornando-se
fonte de infecção.
Infecção do homem
Manifestações clínicas
Diagnóstico
e nos casos de LMO, é realizado exame oftalmológico. Podem ser realizados teste
imunológicos como ELISA, imunofluorescência indireta e Western blot.
Epidemiologia
78
Profilaxia
Impedir que cães e gatos tenham acesso a areias das praias, parques infantis e,
creches e praças públicas.
4.2.1.4 Estrogiloidíase
Introdução
Morfologia
79
2 A larva filarióide é carregada pelo
i ESTÁGIO INFECCIOSO
sistema circulatório até os pulmões.
d ESTÁGIO DIAGNÓSTICO Ocorre migração da larva para a
faringe. As larvas deglutidas
chegam ao intestino transformando-se
em fêmeas partenogenéticas.
1 Penetração de larva
filarióides pela pele.
i
i
3 Fêmeas adultas
10 Larva filarióide no intestino
infectante
Larva rabdtóide
9
10 Transformação da larva
fecção
rabdtóide em filarióide
infectante Autoinfecção interna onde
Autoin larvas rabditoides se
transformam em filarióides que
5 invadem a mucosa intestinal
8 4
Ovos Os ovos são depositados
na mucosa intestinal
d
7
Desenvolvimento
6 Larvas rabdtóides são
de adultos de vida livre
eliminadas pelas fezes
Larva rabditiforme
Figura 34. Ciclo do S. stercoralis. 1. Larvas filarióides infectantes (L3) penetram usualmente
através da pele, ou, ocasionalmente, através das mucosas, principalmente da boca e do esôfago. 2.
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
atingem a circulação venosa e linfática e através destes vasos seguem para o coração e pulmões.
Chegam aos capilares pulmonares, onde se transformam em L4 e, através de migração pela árvore
brônquica, chegam à faringe. Ao serem deglutidas, atingem o intestino delgado, onde se transfor-
mam em fêmeas partenogenéticas. 3. As fêmeas adultas no intestino. 4. Os ovos são depositados
na mucosa intestinal e as larvas alcançam a luz intestinal. 5. No processo de auto-infecção interna
as larvas rabditóides, ainda na luz intestinal, transformam-se em larvas filarióides, que penetram
na mucosa intestinal (íleo ou cólon) ou na região perianal e realizam o ciclo parasitário normal.
6. Larvas rabdtóides são eliminadas nas fezes e podem transformar-se em larva filarióides in-
fectante (3n) ou 7. transformarem-se em fêmeas e machos de vida livre. 8. Produção e ovos por
fêmeas de vida livre, 9. desenvolvimento de larvas rabdtóides a partir de ovos embrionados e 10.
transformam-se em larva filarióides infectante.
80
Mecanismo de transmissão
Patogenia
Saiba mais
Diagnóstico
Epidemiologia
Profilaxia
81
4.2.1.5 Enterobiose
Introdução
Saiba mais
Morfologia
Mecanismo de transmissão
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
82
Habitat e ciclo biológico
1
Larvas no
intestino delgado
d Os ovos são
eliminados embrionados
4
Adultos no ceco
5 Fêmeas grávidas
i ESTÁGIO INFECCIOSO
migram para a
d ESTÁGIO DIAGNÓSTICO região perianal
Figura 36. Ciclo do E. vermicularis. 1. Os ovos são eliminados já embrionados 2. e são ingeridos pelo
hospedeiro. 3. No intestino delgado, as larvas rabditóides eclodem e sofrem duas mudas no trajeto intes-
tinal até o ceco, 4. onde transformam-se em vermes adultos. 5. Um a dois meses depois as fêmeas são
encontradas na região perianal. Não havendo reinfecção, o parasitismo termina.
Patogenia
PARASITOLOGIA GERAL
O paciente percebe que alberga o "oxiúros" quando sente prurido anal ou quando
o vê o parasito nas fezes (lagartinha). Em infecções maiores, o parasito atua na região
cecal, ocasionando enterite catarral por ação mecânica e irritativa. O ceco apresenta-se
inflamado, podendo também atingir o apêndice.
83
Diagnóstico
Epidemiologia
Profilaxia
Como profilaxia deve-se tratar dos portadores, higiene pessoal evitando a auto e
heteroinfestação, cuidado com alimentos contaminados e tratamento de esgotos e águas.
4.2.1.6 Tricuríase
Introdução
A tricuríase é uma infecção causada pelo nematódeo Trichuris trichiura. É uma do-
ença tropical encontrada nas duas Américas, principalmente na América do Sul e está
concentrada em famílias e grupos com hábitos sanitários precários.
Morfologia
84
4 Ovos embrionados são ingeridos
Clivagem avançada
Larvas eclodem
no intestino delgado
Estágio de
2 células
1 d
i ESTÁGIO INFECCIOSO
d ESTÁGIO DIAGNÓSTICO
Figura 38. Ciclo do T. trichiura. 1. Os ovos não embrionados são eliminados nas fezes. 2. No solo, os ovos se
desenvolvem em um estágio de duas células. 3. Um estágio avançado de clivagem e depois 4. eles se em-
brionam e se tornam infectivos em 15 a 30 dias. Após a ingestão através de mãos e alimentos contaminados,
5. os eclodem no intestino delgado e liberam larvas que amadurecem e 6. se estabelecem como adultos no
cólon. Os vermes vivem no ceco e cólon ascendente. O período de vida do adulto é de um ano.
Mecanismo de transmissão
Patogenia
85
Diagnóstico
Epidemiologia
Profilaxia
Medidas como lavar as frutas e verduras antes de ingerir, lavar as mãos após ir ao
banheiro, saneamento básico e tratamento dos doentes, podem reduzir significativa-
mente o número de casos.
Introdução
A filariose linfática humana pode ser causada por três espécies de nematódeos
Wuchereria bancrofti, Brugia malayi e Brugia timori. Essa helmintose é endêmica e afeta,
cerca de 112 milhões de pessoas, em cerca de 83 países dos diferentes continentes,
sendo sério problema de saúde pública em países como Indonésia, China, Índia e par-
tes leste, central e oeste da África. No continente americano é causada exclusivamente
pela, W. bancrofti, também conhecida como elefantíase.
Saiba mais
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Morfologia
86
Vermes adultos - São delgados e brancos, os machos medem de 3,5 a 4 cm de
comprimento e 0,1 mm de diametro, possuem extremidade anterior afilada e poste-
rior enrolada. As fêmeas medem de 7 a 10 cm de comprimento e 0,3 mm de diametro.
Microfilárias - Medem de 250-300 µm de comprimento, e apresentam uma
bainha cuticular que as diferenciam dos outros filarídeos do sangue.
Larvas - São encontradas no inseto. As larvas infectantes (L3) medem entre 1,5 e
2,0 µm de comprimento.
Os vermes adultos vivem nos vasos e gânglios linfáticos e são encontrados com
maior frequência no escroto e pernas, mamas e braço. As microfilárias saem dos duc-
tos linfáticos e ganham a circulação sanguínea (Fig. 39).
Estágio Wuchereria bancrofti
no mosquito Penetração de larva L3
1 Estágio
pela pele durante a hematofagia
no homem
Larva migra 8
para a prosbócida
do mosquito
i
7 2
Larva L3
Adultos nos
vasos linfáticos
Culex infecta-se
6 com microlilárias
Larva L1 3 Adultos produzem microfilárias
durante a
que migram para os canais
hematofagia 4
linfáticos e sanguíneos
5 Microlilárias d
migram para
os músculos
toráxicos do i ESTÁGIO INFECCIOSO
Figura 39. Ciclo do W. bancrofti. 1. Durante o repasto sanguíneo, o mosquito infectado introduz larvas de filá-
ria de terceiro estágio (L3) no homem. 2. Elas se desenvolvem em adultos que residem comumente nos vasos
linfáticos. 3. Adultos produzem microfilárias que migram para os vasos linfáticos e sanguíneos movendo-se
PARASITOLOGIA GERAL
ativamente através da linfa e têm periodicidade noturna. 4. A fêmea do mosquito Culex quinquefasciatus,
ao exercer o hematofagismo em pessoas parasitadas, ingere microfilárias. 5. Após a ingestão, e algumas
microfilárias encontram seus caminhos através das paredes do estômago do inseto, coem na cavidade
geral e migram para o tórax onde atingem os músculos torácicos. 6. Aí as microfilárias se desenvolvem em
larvas de primeiro estágio larval (L1) e 7. subsequentemente em larvas infectivas de terceiro estágio (L3). 8.
A larva de terceiro estágio infectivo migra através do hemocele até a probóscida do mosquito e 1. pode
infectar outro humano quando o mosquito faz repasto sanguíneo.
87
Mecanismo de transmissão
Patogenia
Diagnóstico
Epidemiologia
A filariose linfática é uma endemia que ocorre de modo focal, em geral em popula-
ções com baixas condições socioeconômicas. Dos 112 milhões de pessoas infectadas
por W. bancrofti em todo o mundo, aproximadamente um terço dos indivíduos
infectados residem na África, outro terço na Índia e o restante predominantemente na
região ocidental do Pacífico e sudeste da Ásia.
Nas Américas encontramos 0,3% da prevalência global e os focos de transmissão
encontram-se no Haiti, Republica Dominicana, Guianas e Brasil. Atualmente em
nosso país, esta parasitose apresenta distribuição urbana e nitidamente focal, sendo
detectada transmissão ativa somente em Recife e cidades de sua região metropolitana,
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Paulista. Belém do Pará (Região Norte) e Maceió
(Região Nordeste) até recentemente também eram focos ativos no Brasil, no entanto,
dados recentes, mostram a interrupção da transmissão desta parasitose nestas regiões.
Profilaxia
88
4.2.1.8 Oncocercose
Introdução
Tecido subcutâneo
2
9 i
Larva migra para
a probóscida do inseto
8 Larva L3
ESTÁGIO NO MOSQUITO
Larva L1
3
7 Adultos nos
nódulos subcutâneos
6
Microfilárias vão
5
para os músculos
Simulídeos infectam-se
toráxicos do inseto
durante o repasto sanguíneo
d
4
PARASITOLOGIA GERAL
Figura 40. Ciclo do O. volvulus. 1. Durante o repasto sanguíneo uma mosca-negra (gênero Simulium)
introduz larvas de terceiro estágio (L 3) na pele do hospedeiro humano. 2. No tecido subcutâneo se
89
desenvolvem em filaria adultas 3. que comumente residem em nódulos em tecidos conjuntivos sub-
cutâneos. 4. Nos nódulos as fêmeas são capazes de produzem microfilárias, que são ocasionalmente
encontradas no sangue periférico, urina e escarro, mas são tipicamente encontradas na pele e nos
vasos linfáticos dos tecidos conjuntivos. 5. A mosca-negra ingere as microfilárias durante o repasto
sanguíneo. 6. Após a ingestão, as microfilárias migram para o tecido médio da mosca, pela hemocele
para os músculos torácicos. 7. Ai as microfilárias se desenvolvem em larva de primeiro estagio (L1) e
8. subsequentemente em larvas de terceiro estágio (L 3) infectivas. 9. As larvas de terceiro estagio in-
fectivas migram para a probóscide da mosca-negra e 1. podem infectar outro humano quando a mosca
fizer outro repasto sanguíneo.
Morfologia
Mecanismo de transmissão
Patogenia
Lesões oculares - Consiste nas alterações mais graves. São lesões irreversí-
veis que resultam em sério comprometimento da visão podendo levar a cegueira
completa.
Diagnóstico
90
Epidemiologia
Profilaxia
5. Reino Insecta
Introdução
91
Diferenciação entre hemípteros
Tipo de rostro
A B C
Figura 41. Esquema comparativo de aparelho bucal (rostro) em hemípteros fitófagos A, predador B e
hematófago C.
A B
A B
Panstrongylus Tríatoma Rhodnius
92
Morfologia
Antena
Cabeça
Olho
Pronoto Pescoço
Pata
Escutelo Cório
Abdome
Fêmur
Conexivo
Tíbia
Membrana
Biologia
Os triatomíneos (Fig. 43) são vulgarmente chamados de barbeiros por geralmente pi-
carem a face, área mais propensa a ficar descoberta à noite. São popularmente chamados
de chupões ou procotós no sertão da Paraíba, vum-vum na Bahia e chupança no Mato
Grosso. Tanto os machos como as fêmeas destes triatomíneos são capazes de se desen-
volver e procriar somente após realizar a hematofagia. Estes insetos possuem hábitos
noturnos, durante o dia se escondem nos seus abrigos e à noite, enquanto o hospedeiro
dorme, exercem o hematofagismo. Em geral, medem entre 2,0 a 4,5 cm, possuem cabeça
longa, olhos salientes, antenas implantadas nas laterais da cabeça e o rostro dobrado sob
a mesma, sendo curto e reto, não ultrapassando o primeiro par de pernas.
Os triatomíneos têm desenvolvimento hemimetabólico, isto é, as formas jovens
são semelhantes às adultas. Estes insetos em geral são lentos, pouco agressivos e de
pouca mobilidade. Podem viver tanto em ambiente silvestre como em domicílios e
peridomicílios (áreas circundantes), algumas espécies são exclusivamente silvestres.
Os triatomíneos vivem em média dois anos, e sua distribuição está condicionada a
sua fonte de alimentação, se a fonte alimentar desaparece, eles migram em busca de
novo hospedeiro.
PARASITOLOGIA GERAL
Ciclo biológico
A fêmea do triatomíneo coloca de 100 a 300 ovos o que ocorre logo após a ali-
mentação sanguínea. Após a eclosão do ovo, o inseto passa por cinco fases imaturas
93
(ninfas de primeiro a quinto estágio) antes de atingir o estágio adulto (Fig. 44). Entre
uma fase e outra o triatomíneo precisa se alimentar de sangue, perde o exoesqueleto
(exúvia), e sofrendo a muda, o que possibilita que o inseto aumente de tamanho.
Adulto
Ovo
Ninfa 5
Ninfa 1
Ninfa 4
Ninfa 2
Ninfa 3
Saiba mais
94
Triatoma infestans
Triatoma brasiliensis
Triatoma pseudomaculata
Figura 48. T.
pseudomaculata.
95
Triatoma sordida
Rhodnius neglectus
Medidas de controle
Atividade complementar 6
Lassance/MG. Hoje, essa doença está controlada no Brasil. Discorra sobre as medi-
das adotadas pelo Ministério da Saúde para o controle desta infecção no País.
96
raros. Atualmente está ocorrendo casos de percevejo em inúmeras cidades brasileiras,
devido, aumento da densidade populacional na periferia das cidades e baixas condi-
ções sociais. Não transmite nenhuma doença e sua importância médica está relacio-
nada com a espoliação sanguínea e a interrupção do repouso noturno de humanos.
Morfologia
As formas adultas são ápteras, possui apenas dois rudimentos de asas em forma de
escama. As espécies que são ectoparasitos humanos são:
Cimex lectularius - Percevejos pequenos com aproximadamente 5 mm de com-
primento, com cor cinza-amarronzada. É encontrado em todo o mundo.
C. hemipterus – Percevejos com aproximadamente 6,5 mm de comprimento.
Cor cinza-amarronzada. Diferem da espécie anterior pela morfologia do protórax e
das cerdas nele presentes.
Biologia
São hematófagos e uma fêmea é capaz de por 540 ovos em seu período sua vida. São
paurometábolos, e em seu ciclo de vida passam pelas seguintes fases: ovo, ninfa 1, ninfa 2,
ninfa 3, ninfa 4, ninfa 5 e adulto. O período de ninfa 1 até adulto demora cerca de três meses.
Epidemiologia
Controle
A higiene doméstica é eficaz para impedir a colonização desses insetos nas camas.
A aplicação de inseticida só é necessária quando há percevejo nas casas ou galinheiros.
Introdução
Estão incluídos nesta ordem insetos que possuem um par de asas e um par de al-
teres ou balancins (asas vestigiais). São holometábolos, e em seu ciclo de vida passam
pelas seguintes fases: ovo, larva, pipa e adulto.
97
5.1.2.1 Família Psychodidae
Morfologia
Adulto
Ovo
Larva
Biologia
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
98
são hematófagos, apenas as fêmeas se alimentam de sangue, necessários ao
desenvolvimento dos ovos.
Importância e prevenção
No Brasil o mosquito palha tem importância com inseto espoliador e como vetor
das leishmanioses. A espoliação humana pode ser evitada com o uso de repelentes
ou mosquiteiros. A frequência do mosquito pode ser minimizada pela construção
das moradias humanas a 400-500 m da borda de áreas de florestas. Nos casos de
infestação em áreas com espécies mais adaptadas ao ambiente humano, o controle
do mosquito pode ser feito pela aplicação de inseticidas e pela destinação adequada
do lixo orgânico.
Saiba mais
Introdução
Caracteres gerais
e pernas, tórax, asas e abdome revestidos por escamas. Escamas de tonalidades unifor-
mes ou diferentes, formando manchas.
Biologia
99
Ciclo biológico
Os mosquitos em seu ciclo biológico passam pelas fases de ovo, larva (quatro
estágios: L1, L2, L3 e L4), pupa e adulto. As larvas são aquáticas. A postura é realizada
após o repasto sanguíneo e o número de ovos varia de acordo com a espécie, de 100 a
300 ovos por postura. Os ovos são depositados de maneiras diferentes de acordo com
o gênero: Anopheles sp., deposita seus ovos isolados sobre a água; Aedes aegypti isolados
e fora d’água, na parede do recipiente e Culex quinquefasciatus deposita os ovos unidos,
formando “jangada” sobre a água.
Após dois a quatro dias, os ovos eclodem libertando as larvas que se alimentam de
detrito ou plâncton, após 10 a 20 dias o quarto estágio larval se transforma em pupa.
Esta não se alimenta mais se movimenta ativamente, permanecendo nesta fase por um
período de um a três dias, dando então liberdade ao adulto. A primeira alimentação
dos machos e fêmeas são açúcares ou néctar de plantas. As fêmeas podem copular
algumas horas após a eclosão. Após a cópula, a fêmea alimenta-se de sangue uma ou
mais vezes e vai realizar a postura.
100
cilíndricos maiores que a probóscida e as fêmeas,
palpos menores que a probóscida. Pousam paralelo
a superfície e os ovos são colocados agrupados
(Culex) ou isolados (Aedes). As Larvas apresentam
sifão respiratório e posição oblíqua em relação à
superfície da água (Fig. 55).
As principais espécies de importância médica Figura 52. C. quinquefasciatus.
são: Aedes aegypti, Aedes albopctus, Culex quinquefas-
ciatus e Haemagogus sp.
C. quinquefasciatus - É o maior perturba-
dor do repouso noturno humano em nosso país e
o principal transmissor da filariose bancroftiana
(Fig. 52).
A. aegypti - É o principal transmissor da febre Figura 53. A. aegypti.
amarela urbana e da dengue em todo o mundo
(Fig. 53).
A. albopictus - Populações de A. albopictus
existentes no Brasil demonstraram ser suscetíveis e
capazes de transmitir o vírus da dengue.
Haemagogus capricornii - Espécie muito
importante na transmissão da febre amarela silves-
tre (Fig. 54). Figura 54. Haemagogus sp.
Ovo
Anopheles Aedes Culex
Probóscida
Palpos
Antena Sifão
Palpos
Probóscida Pupa
PARASITOLOGIA GERAL
Antena
101
Controle
O combate aos culicídeos pode ser feito nas fases de larva e adulto, porém esse
combate difere muito se o mosquito apresenta criadouros e hábitos urbanos ou sil-
vestres. O controle das larvas de culicídeos pode ser feito através de: controle físico,
químico, biológico e integrado, já o controle de mosquitos adultos consiste em medi-
das como base na proteção pessoal ou por meio de inseticidas.
Saiba mais
Atividade complementar 7
• O que é dengue?
• Como a doença é transmitida?
• Como identificar o mosquito transmissor?
• Quais os sintomas da doença?
• O que é dengue hemorrágica?
• Por que a dengue mata?
Subordem Cyclorrapha
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Introdução
102
A B
Figura 56. Subordem Cyclorrapha. A adulto, B antena.
As fêmeas são larvíporas e podem depositar larvas em feridas necrosadas. São mos-
cas de médio a grande porte (6 a 10 mm), apresentam cor acinzentada, mesotórax com
três faixas negras longitudinais e abdome axadrezado (Fig. 59). Preferem depositar as
103
larvas em cadáveres, matéria orgânica vegetal em decom-
posição, mas podem fazê-lo em feridas necrosadas.
As larvas invadem os tecidos e alimentam-se voraz-
mente. Dependendo da temperatura, em aproximadamen-
te dez dias já estão maduras, caem no chão e enterram-se
na terra para puparem. Os adultos no verão saem das pupas
cerca de 10 a 15 dias depois.
Figura 59. Sarcophagidae.
5.1.2.6 Família Cuterebridae
30 dias e então abandona o pupário. Após vinte e quatro horas ocorre a cópula, e três
dias após a primeira cópula, inicia a oviposição.
Saiba mais
104
5.1.3 Ordem Siphonaptera
Introdução
Importância médica
Morfologia
PARASITOLOGIA GERAL
105
Saiba mais
Biologia
Ciclo biológico
As fases evolutivas das pulgas são: ovo, larva I, larva II, larva III, pupa e adulto
(Fig. 61).
Ovo
L1
Adulto
Larva
Metamorfose Completa
L2
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Pupa
L3
106
Espécies de importância médica
Pulex irritans
Ctenocephalides felis e
Ctenocephalides canis
Xenopsylla cheopis
Tunga penetrans
107
Controle
Introdução
Saiba mais
Pessoas com cabelos crespos tem menor possibilidade de pegar piolhos, pois, eles
fixa-se melhor nos cabelos lisos. No entanto, na África as espécies existentes estão
adaptadas a fixarem-se em cabelos crespos.
Importância
Morfologia
108
(Fig. 66). Os ovos (lêndeas) são operculados de coloração branco-amarelada e me-
dem 0,8 mm/0,3 mm.
Biologia
Ciclo biológico
O ciclo completo passa pelas seguintes fases: ovo, ninfa I, II, III e adulto. O período
de incubação do ovo (lêndea) é de aproximadamente nove dias e de ninfa I até adulto,
cerca de 20 dias.
Mecanismo de transmissão
109
Referências
110
FÍSICA PARA CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Esp. Rosane de Andrade Neves
Apresentação
Bons Estudos!
Professora Rosane.
111
1. Grandezas físicas
O ato de medir faz parte do nosso dia a dia. Por comparação com padrões estabe-
lecidos, medimos, por exemplo, quanto um objeto é comprido, quente, veloz etc.
Denominamos grandeza tudo aquilo que podemos comparar com um padrão,
efetuando uma medida.
As grandezas são sempre acompanhadas de unidades. Medir uma grandeza físi-
ca é compará-la com outra grandeza da mesma espécie, que é a unidade de medida.
Verifica-se, então, quantas vezes a unidade está contida na grandeza que está sendo
medida e, portanto, grandeza física é tudo aquilo que pode ser medido e associado a
um valor numérico e a uma unidade.
Quanto à natureza, as grandezas físicas são classificadas em escalares e vetoriais.
Para definir uma grandeza escalar, é necessário um valor numérico associado a uma
unidade de medida. Por exemplo: tempo (5 horas).
As grandezas vetoriais são caracterizadas por exigir, além de um valor numérico e sua
unidade, uma direção e um sentido. Por exemplo: velocidade, força, espaço etc.
A seguir, apresentamos uma tabela com algumas grandezas físicas importantes,
classificadas como escalares e vetoriais.
112
1.3 Notação científica
A medida de uma grandeza física pode ser medida a partir de um número muito gran-
de ou muito pequeno. Para manipular estes números que têm grande quantidade de
algarismos, os cientistas utilizam a notação cientifica, fazendo uso da potência de dez.
Uma regra prática: para os números maiores que 1, deslocamos a vírgula do
último zero para a esquerda até o primeiro algarismo do número. Assim, o número
de casas que a vírgula foi deslocada será o expoente positivo da base de 10.
Para os números menores que 1, deslocamos a vírgula para a direita até o primeiro
algarismo diferente de zero. Dessa forma, o número de casas que a vírgula foi desloca-
da será o expoente negativo da base de 10.
Exemplos:
• 20 000 000 = 2.107
• 700 000 000 000 000 = 7.1014
• 8 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 = 8.1033
• 0,0003 = 3.10-4
• 0,00000008 = 8.10-8
• 0,0000000000000006 = 6.10-16
• 0,0000000000000000000000000000000000000000000000004 = 4.10-49
Duvidoso: 0,05
Observações:
a) Os algarismos significativos independem da posição da vírgula;
b) É comum, ao trabalharmos com algarismos significativos, termos de recorrer ao
arredondamento. Ele é efetuado da seguinte forma: se o último algarismo for menor
que cinco, ele é simplesmente desprezado; se for maior ou igual a cinco, o algarismo
precedente é acrescido de uma unidade.
113
Exemplos: 1, 432 = 1,43
2,475 =2,48
2. Cinemática e dinâmica
P3 P4 P5
P2 P6
P1 P7
Figura 1. A bola ocupa as posições P1, P2, P3. A linha que as une é a trajetória.
Onde:
114
Vm = Velocidade média
= Intervalo do deslocamento [posição final – posição inicial (S final - S inicial)]
Vmm = ∆ ss
∆ tt = Intervalo de tempo [tempo final – tempo inicial (t final - t inicial)]
∆s Então:
Vm =
∆t
300 km
Vm =
5h
Vm = 60 km/h
km/h m/s
115
2.2 Estudo dos movimentos
Isolando o ∆ s , teremos:
∆s = V . ∆t
Mas sabemos que:
∆ s = S final - S inicial
Então:
S final - S inicial + V . ∆ t
Resolução: em
a) O movimento é uniforme, então, a função horária é de primeiro grau “t”:
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
s = so + vt
so = 30 km
v = - 5 km/h
b) Basta substituir t = 2h na equação s = 30 – 5t:
s = 30 – 5.2
s = 30 – 10
s = 20 km
c) Substitua s = 5 km em s= 30 – 5t:
8 = 30 – 5t
116
5t = 30 - 5
5t = 25
t=5h
d) O móvel passa pela origem dos espaços quando o seu espaço s é nulo, isto s = 0
s = 30 – 5t
0 = 30 – 5t
t=6h
3. Ondas e sons
O exemplo mais utilizado para conceituarmos onda é de duas pessoas segurando as ex-
tremidades de uma corda. Se uma delas realizar um movimento vertical para cima e
117
depois para baixo, causará uma “perturbação” na corda, originando uma sinuosidade
que se deslocará ao longo desta, aproximando-se da outra pessoa, enquanto a extremi-
dade que recebeu o impulso retorna à posição inicial por ser a corda um meio elástico.
Nesse caso, a perturbação denomina-se “pulso”, o movimento do pulso de onda.
A mão da pessoa que faz o movimento vertical é a fonte, e a corda na qual se propaga
a onda é o meio.
vácuo, como por exemplo, os elétrons que oscilam na antena de uma estação de
rádio. São exemplos de ondas eletromagnéticas também as ondas de rádio, as de
micro-ondas, os raios X e a luz.
A propagação das ondas pode ser transversal (Figura 4A) ou longitudinal (Figura
4B). No primeiro caso, a direção da propagação da onda é perpendicular à direção de
perturbação. Um exemplo são as ondas eletromagnéticas.
118
Na propagação longitudinal, a direção da propagação da onda coincide com a da
perturbação. As ondas sonoras e as de uma mola são exemplos.
A direção de propagação
direção de
vibração V
v
B
crista crista
FÍSICA PARA CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
a λ - comprimento de onda
a - amplitude de onda
a
vale vale
119
Nas ondas que se propagam ao longo da corda, por exemplo, os pontos mais altos
são denominados de cristas, e os pontos mais baixos de vale.
A distância entre duas cristas e entre dois vales constitui o comprimento de onda
das ondas que se propagam, e é representado pela letra grega ʎ (lambda). A amplitude
de uma onda corresponde à metade da distância entre um vale e uma crista. O tempo
necessário para que duas cristas passem pelo mesmo ponto é denominado de “perí-
odo” (T), e “frequência” (f) é o número de cristas consecutivas que passam por um
mesmo ponto em cada unidade de tempo.
Entre T e f vale a relação: f = 1
T
Existem alguns fenômenos físicos que são comuns a todos os tipos de ondas, quais-
quer que seja, mecânica ou eletromagnética, transversal ou longitudinal. Dentre estes,
podemos citar: a reflexão, refração e a difração.
3.6.1 Reflexão
Sempre que uma onda atinge um obstáculo ou uma fronteira de separação entre
dois meios, ela pode total ou parcialmente retornar ao meio no qual estava se propa-
gando, e este fenômeno é denominado de reflexão. Como a onda emitida e a onda
refletida se encontram no mesmo meio, ambas terão a a mesma velocidade, freqüência
e comprimento de onda. A fonte que produziu a onda permanece inalterada e, conse-
quentemente, a frequência e o comprimento de onda permanecem inalterados.
A N B
raio de onda raio de onda
120
3.6.2 Refração
Ocorre quando ondas passam de um meio para outro. Durante a difração, a ve-
locidade e o comprimento da onda podem mudar em função da diferença entre os
meios envolvidos.
NORMAL
Linhas 1
de onda
iniciante
Fronteira
i
MEIO 1 de separação
MEIO 2 r 2
Linhas de
onda refratada
A refração de ondas pode ser observada na arrebentação (figura 7). Este fenôme-
no ocorre porque a velocidade de propagação da onda se altera devido à variação de
profundidade da água.
3.6.3 Difração
A B C
121
É esse fenômeno o responsável por escutarmos uma pessoa que está atrás de um
obstáculo, onde nas bordas desse obstáculo, o som difrata e alcança o ouvinte. Para
a percepção da difração, obstáculo e ondas devem ter comprimentos compatíveis na
mesma ordem de grandeza.
4. Ótica e visão
Os raios de luz são utilizados para representar a propagação da luz, linhas orienta-
das que representam a direção e o sentido de propagação da luz. O conjunto de raios é
denominado de “feixe de luz”, que pode ser convergente, divergente ou paralelo.
122
LENTE
Os meios através dos quais os objetos podem ser vistos nitidamente são cha-
mados “transparentes”. O ar atmosférico existente numa sala e a água em camadas
pouco espessas são exemplos de meios transparentes. Os meios através dos quais
os objetos não podem ser vistos nitidamente são chamados “translúcidos”. O papel
vegetal e o vidro fosco são exemplos de meios translúcidos. Os meios opacos são
os que não permitem que a luz os atravesse, por exemplo, uma parede de concreto.
Considerando um feixe de raios paralelos, propagado num meio (1), como exemplo,
o ar, que incide sobre a superfície, separada por um meio (2), que pode ser água e
papel, desprezando a natureza do meio 2, ocorrem em maior ou menor intensidade os
fenômenos de reflexão, refração e absorção da luz.
Na “reflexão”, o feixe de luz que se propaga no meio (1) incide na superfície e
retorna ao meio (1); é o que acontece numa superfície plana e polida.
Figura 1 . eflexão.
ar
água
123
Um exemplo prático é quando colocamos um lápis num copo e, ao olharmos,
nos dá a impressão de que o lápis está quebrado. Esse desvio se deve a uma mudança
na velocidade da luz ao passar de um meio transparente para outro.
Saiba mais
Na “absorção”, o feixe de raios se propaga no meio (1), incide sobre a superfície e não
retorna ao meio (1), nem se propaga no meio (2), ou seja, acontece a absorção de luz.
S raios incidentes paralelos
MEIO 2 MEIO 1
4.2 Lentes
124
O critério utilizado para nomear as lentes são as faces voltadas para o exterior,
considerando primeiramente a face de maior raio de curvatura, sendo denominadas
côncavas, convexas ou vice-versa.
Há seis tipos de lentes conforme a espessura de suas bordas. São três de bordas
delgadas (1, 2, 3) e três de bordas espessas (4, 5, 6).
o
A F’ A’ N’
N F O
i
M’
P P’
FÍSICA PARA CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
125
F1
Ao Fo O A1
r
P
F1 A1 B1
Ao B Fo o
Imagem real Ar
3) No objeto situado (i) entre o foco principal (F) e o centro óptico (O), a ima-
gem formada “é virtual, direita e maior” do que o objeto. Um exemplo deste tipo de
imagem são as lupas (lentes de aumento).
o F’
F O
Visão do
observador
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
5. Radioatividade
126
Como o Sistema Solar, o átomo possui grandes espaços vazios que podem ser
atravessados por partículas menores do que ele. O núcleo do átomo é formado,
basicamente, por partículas de carga positiva, chamadas prótons, e de partículas de
mesmo tamanho, mas sem carga, denominadas nêutrons.
O número de prótons (ou número atômico) identifica um elemento químico,
comandando seu comportamento em relação aos outros elementos. (CNEN )
Desde a década de 1960, os cientistas sabem que em todos os fenômenos
físicos estão envolvidos apenas quatro tipos de interações fundamentais, repre-
sentadas por quatro forças: a gravitacional, a eletromagnética, a força nuclear forte
e a força nuclear fraca. Vamos enfatizar neste momento a força nuclear fraca e a
força nuclear forte.
A força nuclear forte é a que mantém a coesão do núcleo atômico, garantindo a união
dos quarks para formarem os prótons e os nêutrons, assim como a ligação dos prótons
entre si, apesar destes possuírem carga elétrica de mesmo sinal. A força nuclear forte
é a mais intensa das quatro forças fundamentais, entretanto, ela só se manifesta em
distâncias menores que 10 -15 m, ou seja, dimensões inferiores às do núcleo atômico.
Entre os leptons (grupo de partículas das quais faz parte o elétron) e os hadrons, atu-
ando em escala nuclear, desenvolve-se a denominada força nuclear fraca. Sua intensi-
dade é 1025 vezes maior que a força gravitacional, mas é 1035 menor que a força nuclear
forte. Ela é responsável pela emissão dos elétrons por parte dos núcleos de algumas
substâncias radioativas, num fenômeno denominado decaimento beta.
1 2 3
127
1) Dois prótons e dois nêutrons que se comportam como uma partícula única.
2) Os prótons e nêutrons se unem para formar uma partícula alfa.
3) A partícula alfa é emitida pelo núcleo.
128
Referências
PAUL, Tipler. Física. Vol.1. Cidade: Editora Guanabara. 4. ed. Cidade: edi-
tora, 2000.
129
EMBRIOLOGIA E
MECANISMOS DE REPRODUÇÃO
Drª Luciana Casaletti
Apresentação
Prezado(a) Aluno(a),
131
1. Embriologia e mecanismos de reprodução
Sempre ficamos encantados com a notícia que algum parente ou amiga está esperando
um filho. Mais ainda quando ocorre o nascimento da criança. Se gêmeos, a felicidade é
maior ainda. É um evento que marca e muda a vida de uma família para sempre. Mas não
precisamos ir longe, um filhote de um animal de estimação também nos trás muita alegria.
Muita organização, agilidade, precisão são necessários com aquele novo ser,
para que cresça e se desenvolva com saúde e segurança. O tempo passa e aquele ser
se transforma aos nossos olhos de maneira saudável e feliz. Mas, muitas vezes, nos
esquecemos que é mesmo antes do nascimento que este ser passa por uma série de
etapas que o levarão ao seu desenvolvimento ainda dentro do ventre da fêmea. Etapas
estas que são acompanhadas por nós somente através do crescimento dia após dia da
barriga da mulher, da cachorrinha, da gatinha, e através de ultrassom e exames rotinei-
ros de laboratório. Mas, estas etapas são incrivelmente rápidas, precisas, organizadas,
sincronizadas e complexas fazendo com que exista uma área da ciência que se dedica
ao estudo deste período de desenvolvimento, que é a Embriologia.
Portanto, a Embriologia é a ciência que estuda o desenvolvimento do embrião,
abrangendo as etapas da vida que começa desde o ovo fecundado e vai até o nasci-
mento ou eclosão. Depois da fecundação, que é o encontro do gameta masculino
(espermatozóide) com o feminino (óvulo), há a formação do zigoto ou célula ovo e
em seguida o desenvolvimento do embrião. Durante este desenvolvimento, o embrião
se desenvolve por multiplicação das células, eventos de mitose sucessivas, o que leva
ao crescimento e aumento de volume do mesmo. Também, bastante importante é a
diferenciação e especialização celular que leva à formação dos diferentes tipos celula-
res com funções biológicas específicas e tecidos especializados que irão proporcionar
uma característica única para cada indivíduo.
Durante séculos, vários estudos têm mostrado que uma nova vida origina-se a
partir de uma vida pré-existente, através de um processo conhecido como biogênese
ou reprodução.
A reprodução é uma característica comum a todos os organismos vivos. Reproduzindo-
se, um organismo gera descendentes e uma população aumenta de tamanho e garante
a manutenção da espécie. Um fato importante é a transmissão dos caracteres genéticos
através de uma complexa molécula informacional, o DNA (ácido desoxirribonucléico).
Baseado na organização celular, existem dois tipos básicos de organismos: os pro-
cariotos, mais simples que não apresentam um núcleo organizado, e os eucariotos,
132
bem mais complexos, uni ou pluricelulares, apresentando seu material genético orga-
nizado em um núcleo envolto por membrana.
Nos organismos procariotos, que incluem as bactérias e algas azuis, o material gené-
tico está isolado do restante do conteúdo citoplasmático, mas não envolvido por uma
membrana, assim não há um núcleo. O material genético geralmente é circular e, após sua
duplicação, as células se dividem e as moléculas de DNA são separadas igualmente entre as
células mãe e filha. Já nos eucariotos, que incluem as algas, fungos, plantas e animais, o DNA
é organizado na forma de cromossomos, que são compartimentalizados no núcleo celular.
O mecanismo de reprodução nos seres vivos é muito variado. Tanto os seres
unicelulares como os pluricelulares reproduzem-se e multiplicam-se transmitindo aos
seus descendentes suas características genéticas que estão contidas na molécula de
DNA. O processo de multiplicação nos seres vivos pode ser dividido em dois grandes
grupos de reprodução: assexuada e sexuada.
por fissão é o que ocorre com as bactérias e protozoários (amebas), (Figura 1).
Célula mãe
133
Brotamento: a reprodução assexuada por brotamento ocorre quando há des-
prendimento de fragmentos (partes) ou brotos do indivíduo, originando outros novos
descendentes. O material genético é duplicado e a cópia herdada pelo novo indivíduo.
Entre os exemplos de organismos que se reproduzem por este mecanismo, estão fun-
gos, esponjas e celenterados, entre outros, (Figura 2).
Esponja Broto Nova esponja
134
ovos não fertilizados, sendo haplóides. Já as fêmeas desenvolvem-se a partir de ovos
fertilizados e são diplóides. Outros exemplos de partenogênese podem ser encontra-
dos em algumas espécies de moluscos, crustáceos e alguns peixes, répteis e anfíbios,
além de insetos sociais, abelhas e formigas, (Figura 4).
Rainha - Fêmea fértil Zangão - Macho fértil
(Diplóide - 2n) (Haplóide - n)
Zigoto (2n)
Zangão Rainha
(Haplóide - n) (Diplóide - 2n)
EMBRIOLOGIA E MECANISMO DE REPRODUÇÃO
Operária
Fêmea estéril
(Diplóide - 2n)
135
Esporos
136
1.2.2.1 Tipos de reprodução sexuada
Para melhor fixar o conteúdo deste capítulo, faça um desenho de cada tipo de repro-
dução assexuada.
Faça um resumo em forma de tabela das principais diferenças entre as reproduções
EMBRIOLOGIA E MECANISMO DE REPRODUÇÃO
sexuada e assexuada.
2. Gametogênese
2.1 Introdução
137
células germinativas altamente especializadas que apresentam o número de cro-
mossomos reduzido pela metade através de um tipo especial de divisão celular,
chamada de meiose. A gametogênese pode ser dividida em ovogênese, quando
o processo ocorre em organismo feminino e que dá origem aos ovócitos, e esper-
matogênese, quando ocorre em organismo do sexo masculino e dá origem aos
espermatozóides.
Células
Células
somáticas
linhagem
germinativa
Fecundação
Meiose
Fecundação
Meiose
Mitose
Mitose
138
Para a formação dos gametas, a gametogênese utiliza-se de um processo um
pouco mais complexo, a meiose1, onde as células resultantes apresentam o número de
cromossomos reduzido à metade, (Figura 7).
Cromossomo de Cromossomo de
Cromossomo cromátide única cromátide dupla
Centrômero
Fase S
A B (síntese de DNA) C D
Fuso meiótico
E F G
K
EMBRIOLOGIA E MECANISMO DE REPRODUÇÃO
Figura . Etapas de meiose. A-D, fases da prófase da meiose E- são respectivamente as fases da metáfase,
anáfase e telófase , representa a distribuição dos pares cromossomos dos pais - , segunda divisão meiótica.
139
Antes da primeira divisão meiótica ocorre uma fase de intensa síntese de DNA
(chamada fase S ou de síntese), quando ocorre a duplicação do material genético
celular. Cada cromossomo que normalmente apresenta uma cromátide, agora apre-
senta duas cromátides, chamadas de cromátides-irmãs. A primeira etapa da meiose é
chamada de primeira divisão ou fase reducional, composta das seguintes etapas:
prófase I, metáfase I, anáfase I e telófase I2. A célula original diplóide divide-se em duas
e, ao final do processo, cada nova célula formada é haplóide, ou seja, o número de
cromossomos foi reduzido. Mas vale a pela salientar que cada cromossomo ainda está
com o DNA duplicado, portanto, apresentando duas cromátides.
A segunda divisão meiótica ocorre imediatamente após a conclusão da primeira fase
e simultaneamente nas duas células formadas. Esta fase é chamada de segunda divisão
meiótica, e da mesma forma é dividida nas etapas prófase II, metáfase II, anáfase II e teló-
fase II. Durante esta fase ocorre separação das cromátides-irmãs. A célula divide-se e cada
cromátide é direcionada para duas novas células. O resultado final de todo o processo
meiótico é o aparecimento de quatro células haplóides a partir de uma célula diplóide.
O processo de gametogênese difere significativamente entre indivíduos mascu-
linos e femininos, mas em ambos os casos há redução do número de cromossomos.
2.3 Ovogênese
TE
TI
2
AF
1
140
Em seres humanos, este processo inicia-se já durante o período fetal e é com-
pletado apenas durante a puberdade. Em cada etapa, os seguintes tipos celulares
são encontrados, (Figura 8).
Ovócitos primordiais (ou folículos primordiais): essas células diplóides já estão
presentes na fase fetal, porém são bloqueadas na prófase I da 1ª divisão meiótica até
a adolescência. São células esféricas, com grande núcleo também esférico, nucléolo
bastante evidente e com organelas que se localizam próximo ao núcleo. Os ovócitos
primordiais são rodeados por uma camada de células foliculares achatadas e por cé-
lulas do estroma ovariano. Os ovócitos primordiais proliferam por divisão mitótica e
crescem para formar os ovócitos primários.
Ovócitos primários (ou folículo primário): a partir da adolescência, ocorre
um processo de diferenciação celular que engloba o ovócito, células foliculares e dos
fibroblastos do estroma. As células foliculares se proliferam por mitose, originando
uma camada de células cubóides, chamada de camada granulosa. Adjacente a esta
camada existe um material amorfo rico em glicoproteínas que envolve todo o ovócito,
chamada de zona pelúcida. Antes do início da ovulação, o ovócito primário completa
a divisão meiótica da maneira como já vimos.
Ovócito secundário ou folículo secundário: devido ao aumento de tamanho
e grande número de células da granulosa, o ovócito penetra mais no ovário. Uma
quantidade de líquido (componentes do plasma e produto da secreção das células
foliculares) começa a se acumular entre as células da granulosa, que se organizam
formando uma grande cavidade denominada de antro folicular. Algumas células
da granulosa se posicionam de tal forma que servem de apoio para o ovócito, este
pequeno espassamento é chamado de cumulus oophorus. Outras células da granulosa
envolvem todo o ovócito, constituindo a corona radiata. Paralelamente, as células do
estroma se diferenciam em tecas foliculares (interna e externa) e circundam todo o
ovócito. Como já foi mencionado, durante a divisão meiótica, o ovócito secundário
recebe quase todo o citoplasma e o primeiro corpo polar (ou corpúsculo polar)
recebe muito pouco, o que causa a sua degeneração logo em seguida.
Ovócito maduro, pré-ovulatório ou de folículo de Graaf: o ovócito maduro é o
EMBRIOLOGIA E MECANISMO DE REPRODUÇÃO
141
metáfase. A segunda divisão meiótica só será completa quando o ovócito secundário
for fertilizado por um espermatozóide. Quando este evento acontecer, um segundo
corpúsculo polar será formado recebendo pouco citoplasma, e será degenerado em
seguida, e o ovócito, agora chamado de ovócito fertilizado, receberá quase todo o cito-
plasma. Há aproximadamente dois milhões de ovócitos primários nos ovários de uma
menina recém-nascida, chegando à adolescência com cerca de 40 mil, e destes, apenas
400 tormam-se maduros e são liberados durante a ovulação. No próximo capítulo,
teremos uma descrição mais detalhada dos ovócitos.
142
Ovaríolos
Vagina
2.4 Espermatogênese
143
Uretra membranosa Bexiga
Uretra Próstata
Pênis Ampola
Corpo cavernoso do pênis Vesícula seminal
Corpo cavernoso da uretra Ducto ejaculatório
a) Células Sertoli: são células colunares altas, tendo sua base apoiada na lâmi-
na basal e seu ápice voltado para a luz do túbulo seminífero. Na base da célula está o
núcleo, que é irregular, e há grande quantidade de retículo endoplasmático rugoso,
além de glicogênio, mitocôndrias e complexo de Golgi. São células muito ativas
metabolicamente, com participação ativa na gametogênese. Podemos citar algumas
de suas funções:
Nutrição e sustentação: as células de Sertoli estão em uma íntima relação com
os espermatócitos na fase de diferenciação. São consideradas como fonte de nutrien-
tes, além de apoiarem os espermatócitos durante o processo de diferenciação.
Coordenação da espermatogênese: como as células da linhagem gaméti-
cas estão presentes no mesmo microambiente das células de Sertoli, acredita-se
que estas tenham um papel relevante no controle da diferenciação das células da
linhagem gaméticas.
Movimentação: devido à presença de filamentos de actina, dinâmicos compo-
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLOGICAS
144
células de Sertoli, de Leydig e no endotélio de capilares. Dessa forma, estimula a
proliferação dessas células somáticas e também o aumento da vascularização.
Apresenta receptores: uma importante função das células de Sertoli é que elas
apresentam receptores para os hormônios folículo estimulantes e a testosterona, que
são os principais hormônios estimuladores da espermatogênese.
Produção de líquidos: a produção de fluidos é realizada por estas células e,
posteriormente, excretada para os túbulos seminíferos.
b) Células de Leydig ou células intersticiais: são células arredondadas, com
núcleos também arredondados ou ovais, no citoplasma retículo endoplasmático liso
bem desenvolvido. A principal função dessas células é a produção de testosterona
(hormônio sexual masculino), que atua no organismo em geral no desenvolvimento
dos caracteres secundários masculinos, e participa da gametogênese estimulando a
diferenciação das células germinativas.
c) Células gaméticas ou germinativas: são posicionadas entre as células Sertoli.
As espermatogônias, as mais basais, passam por uma série de eventos que culminam
com a formação do espermatozóide maduro. Em humanos, este processo inicia-se na
puberdade. Da lâmina basal para a luz do túbulo seminífero encontramos os seguintes
tipos celulares:
Espermatogônias ou espermatozóides primordiais: são células de formato
arredondado e apoiam-se na lâmina basal. Antes da maturação, as espermatogônias
permanecem quiescentes nos túbulos seminíferos desde o período fetal até a pu-
berdade, quando começam a aumentar em número através de divisões mitóticas
estimuladas pelo Fator de Crescimento dos Túbulos Seminíferos. As espermato-
gônias passam, então, pela primeira divisão meiótica quando se transformam em
espermatócito primário.
Espermatócitos primários: ou espermatócito de primeira ordem, são as maio-
res células germinativas nos túbulos seminíferos. Cada espermatócito primário
completa a divisão reducional (a primeira divisão meiótica) para formar dois esper-
matócitos secundários haplóides, mas ainda com o material genético duplicado.
Espermatócitos secundários: ou espermatócitos de segunda ordem, origina-
EMBRIOLOGIA E MECANISMO DE REPRODUÇÃO
145
Mitocôndrias Núcleo Complexo Grão acrossômico
de Golgi
A B
C D
Bateria mitocondrial
E F Restos citoplasmáticos
146
Espermiogênese avançada Pontes citoplasmáticas
Meiose Espermatócitos
secundários
Lâmina basal
Espermatócico primário
Fibroblasto Espermatogônia
Células intersticiais
Figura 1 . Esquema ilustrando o túbulo seminífero. No epitélio seminífero exitem duas populaç es celula-
res as células da linhagem espermatogênica e as células de ertoli. Ao redor do túbulo há uma camada de
células mióides, além de tecido conjuntivo, vasos sanguíneos e células intersticiais.
147
Hipotálamo
Hipófise
Hormônios gonadotróficos
FSH LH
Dias: 1 5 14 27 28
Fase Fase Fase Fase Fase
menstrual proliferativa lútea isquêmica menstrual
148
O FSH atua sobre as espermatogônias e células de Sertoli, localizadas no epitélio dos
túbulos seminíferos, dando início à espermatogênese, através da síntese e a secreção
da proteína ligante de andrógeno. O LH irá ativar as células de Leydig, estimulando
a produção de testosterona necessária para o desenvolvimento normal de células
da linhagem espermatogênica. A testosterona também atua tanto no hipotálamo
quanto na hipófise modulando a produção de LH, (Figura 14).
Hipotálamo
GnRH - Hormônio liberador de gonadotrofina
LH - Hormônio luteinizante
GnRH FSH - Hormônio folículo estimulante
T - Testosterona
ABP - Proteína de ligação de andrógenos
LCSF - Fator estimulante das células de Leydig
Adeno-hipófise
Testículo
Células de Células de
LCSF
Leydig Sertoli
T ABP
Espermatogênese
A meiose é o processo de divisão celular que permite que ocorra a redução do nú-
mero de cromossomos nos gametas. Pesquise o que aconteceria com a fecundação
se este processo tão especializado de divisão não existisse ou não acontecesse?
149
3. Mecanismos de reprodução e fecundação
3.1 Introdução
150
entra em contato com o ovócito, o conteúdo da vesícula é liberado por exocitose na
chamada reação acrossomal. Em alguns espermatozóides, esta reação também expõe
ou libera proteínas específicas que ajudam na fixação do espermatozóide, de maneira
firme, ao ovócito.
Já a cauda é basicamente composta por um forte flagelo, que impulsiona o esper-
matazóide através do meio aquoso e o ajuda na sua entrada pelo invólucro do ovócito.
Porém, a cauda é livre da maioria das organelas citoplasmáticas, tais como ribossomos,
retículo endoplasmático ou complexo de Golgi, os quais são desnecessários para a
transferência do DNA ao ovócito. Entretanto, a cauda é rica em mitocôndrias, que
fornece energia para os movimentos flagelares. A cauda é subdividida em quatro
porções, (Figura 15).
Núcleo Acrossomo
Bateria Pescoço ou colo
mitocondrial
Peça
Peça terminal Peça principal Cabeça
intermediária
Figura 1 . Esquema do espermatozóide humano. abeça formada pelo acrossoma e núcleo, cauda forma-
da pelo colo, peça intermediária, peça principal e peça terminal.
porção do colo, estão associados ao complexo do flagelo, o axonema, que ocupa uma
posição central. O axonema está envolvido por uma bainha de fibrilas.
Peça terminal: é a porção terminal do espermatozóide onde há o desapareci-
mento dos componentes da peça principal.
151
iniciar o processo de recombinação dos cromossomos visando a formação do zigo-
to, célula inicial que irá sofrer múltiplas divisões mitóticas até o desenvolvimento
do indivíduo.
Ovócito
Folículo Células do estroma
primordial ovariano
Célula folicular
Célula folicular
Folículo
primário Lâmina basal
unilaminar Zona pelúcida
em formação
Zona pelúcida
Folículo
primário Células da granulosa
multilaminar
Teca interna
Antro
Teca interna
Folículo
antral Teca externa
Células da granulosa
Teca externa
Teca interna
Folículo
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLOGICAS
Antro
Células da granulosa
Figura 1 . ipos de folículos ovarianos. Estão representados o folículo primordial, primário unilaminar,
primário multilaminar, folículo antral e maduro ( raaf).
152
Nos cordados3, como os seres humanos, o ovócito é envolvido externamente
por um grupo de células foliculares, que compõem a corona radiata. Estas células
se aderem ao ovócito através de pequenas áreas com grande formação de micro-
vilosidades, em que o contato é feito através de especializações de membrana do
tipo de desmossomos. Entre a membrana do ovócito e as células foliculares há uma
substância amorfa, densa e rica em glicoproteínas, conhecida como zona pelúcida
(nos mamíferos), (Figura 16). O contato entre o ovócito e as células foliculares é
mantido através de microvilos.
Existem grandes diferenças morfológicas entre os gametas masculinos e femini-
nos. O ovócito é uma célula grande com vasta quantidade de citoplasma e organelas,
enquanto que o espermatozóide é uma célula que apresenta bastante mobilidade,
pouquíssimo citoplasma e organelas, mas muitas mitocôndrias. Estas diferença
podem ser melhor observadas na Figura 17.
Peça terminal
3.2.3.1 Espermatozóides
EMBRIOLOGIA E MECANISMO DE REPRODUÇÃO
Como a função principal dos espermatozóides é ser uma célula reprodutiva com
alta mobilidade, em outras espécies o padrão morfológico é muito semelhante ao de
humanos. Observar-se as duas porções principais: a cabeça e a cauda, mas pode haver
algumas adaptações necessárias que auxiliam nas diferentes condições de fertilização
entre as espécies. A Figura 18 mostra algumas diferenças estruturais de gametas
masculinos de diferentes espécies.
3. Filo Cordados, do latim Chordata, compreende um grande grupo de animais que, em algu-
ma fase da vida, compartilham características morfológicas, como a notocorda.
153
Procambarus Ascaris Anfíbio
(camarão de água doce) (Lombriga)
da fibra axial. No lado oposto da fibra axial, há outra fibra densa e longa, que corre
paralela a essa, mas de calibre menor. O plasmalema circunda estas duas fibras forman-
do a membrana ondulante (bainha mitocondrial helicoidal). Esta membrana possui a
mesma função do flagelo, que é a movimentação do espermatozóide.
Nos insetos, embora os espermatozóides variem de comprimento e detalhes,
algumas características são comuns. Análise ultraestrutural revela um axonema típico
com nove túbulos acessórios. No lugar da bainha mitocondrial helicoidal, como a
encontrada nos anfíbios, o flagelo dos insetos apresentam uma ou duas mitocôndrias
modificadas que correm paralelamente ao longo de cada lado do axonema.
154
3.2.3.2 Ovócitos
3.3 Fecundação
Fímbrias Fímbrias
da tuba
Ovulação Ligamento
largo do útero
Embrião Ovário
(blastocisto)
Vagina
155
Normalmente, na mulher, a fecundação ocorre na ampola da tuba uterina. O lí-
quido folicular, proveniente dos folículos de Graaf, atrai os espermatozóides por qui-
miotactismo. Se o ovócito não for fecundado, ele passa lentamente pela tuba em di-
reção à cavidade do útero, onde se degenera, (Figura 19). A fecundação é dividida nas
seguintes fases:
Núcleo do
Membrana
espermatozóide
plasmática
com cromossomos
do ovócito
Acrossoma
com enzimas
156
3.3.2 Penetração da zona pelúcida
Nesta etapa, o ovócito realiza sua segunda divisão meiótica, formando o ovócito
maduro e segundo corpo polar. O núcleo do ovócito maduro torna-se o pronúcleo
feminino (apresentando 23 cromossomos nos seres humanos).
157
A fecundação, portanto, leva à finalização da segunda divisão meiótica, produ-
zindo o segundo corpo polar, restaurando o número diplóide normal dos cromosso-
mos no zigoto. Como consequência da fecundação, ocorre a recombinação genética
através da mistura de cromossomos paternos e maternos. O sexo é determinado
nesta etapa. Se o indivíduo receber um cromossomo Y do pai, será do sexo mas-
culino, mas se receber um cromossomo X, será do sexo feminino5. Em resumo, os
resultados da fecundação são:
• Estímulo do ovócito secundário a completar a segunda divisão meiótica.
• Restauração do número diplóide normal de cromossomos (46) no zigoto.
• Variação da espécie pela mistura de cromossomos paternos e maternos.
• Determinação do sexo cromossômico do embrião.
• A ativação metabólica do ovócito e inicia a clivagem do zigoto (embriogênese).
158
O ouriço-do-mar é um animal modelo nos estudos de fecundação externa. Nesses
animais, o encontro de gametas se dá por quimiotactismo. A camada gelatinosa do
ovócito é formada por vários componentes. Entre eles está uma peptídio com função
hormonal chamada de resact, que também é liberado no ambiente aquoso formando
um gradiente de concentração que atrai os espermatozóides. Esta molécula é específi-
ca para ouriços-do-mar da espécie Arbacia punctata, não atraindo espermatozóide de
outras espécies, (Figura 21).
159
uma proteína presente na membrana subjacente à membrana acrossômica chamada
actina. Filamentos de actina promovem uma invaginação na membrana posterior
do acrossoma em forma de dedo de luva. Para que haja o reconhecimento entre os
gametas de mesma espécie, no caso do ouriço-do-mar, (Figura 22) o lado interno
da membrana da vesícula acrossômica possui uma proteína chamada bindina (ou do
inglês Bindin). No processo de invaginação, essa proteína é exposta e é reconhecida por
receptores na camada vitelínica do ovócito, o que promove o fusionamento entre as
membranas do espermatozóide e do ovócito e entrada do núcleo do gameta masculino.
A poliespermia é um grande problema e deve ser evitada, pois gera indivíduos
com vários conjuntos de cromossomos, vários pares de centríolos ao invés de um,
e cromátides distribuídas de maneira multipolar. No ouriço-do-mar existem duas
maneiras de evitar a poliespermia:
Bindina
Actina
despolimerizada
C D
netre no ovo, a membrana plasmática deve estar polarizada. Assim, após a penetra-
ção do primeiro espermatozóide, ocorre uma rápida despolarização da membrana
plasmática do ovo, evitando, assim, a penetração de mais de um espermatozóide.
A despolarização dura cerca de um minuto, e como forma de reforçar a não pene-
tração de outros espermatozóides após este tempo, um segundo bloqueio acontece.
Reação cortical - bloqueio vagaroso, mas permanente: este bloqueio consiste
na fusão e exocitose do conteúdo dos grânulos corticais entre a membrana plasmá-
tica e a vitelínica, que agora é chamada de membrana de fecundação. Estes grânulos
apresentam no seu interior proteases que são capazes de lisar a membrana vitelínica
160
no ponto onde ela se prende às proteínas da membrana plasmática, desprendendo,
assim, outros espermatozóides aderidos. Outras enzimas, como a peroxidase, tam-
bém participam deste processo estabelecendo ligações cruzadas entre as proteínas,
tornando a membrana de fecundação mais rígida.
Os espermatozóides de ouriços-do-mar entram perpendicularmente no ovóci-
to. Após a penetração, ocorre um giro de 180°C que faz com que o centríolo fique
virado para o pró-núcleo feminino. Os centríolos organizam os microtúbulos que
aproximam os pró-núcleos.
Nos mamíferos não há membrana vitelínica, mas a zona pelúcida, que apre-
senta uma matriz fibrilar formada por glicoproteínas sintetizadas e secretadas pelo
ovócito em crescimento. Sua função, entre outras, é ligar-se ao espermatozóide
e iniciar a reação acrossômica. Como nos mamíferos, a fecundação é interna, o
problema de especificidade é menor ou ausente.
4.1 Introdução
EMBRIOLOGIA E MECANISMO DE REPRODUÇÃO
O ovócito, neste capítulo tratado simplesmente como ovo, é uma célula que apresenta
organelas idênticas a quaisquer outras células somáticas em sua constituição.
É, no entanto, bastante especializada, pois possui um papel importantíssimo na
manutenção do embrião, pelo menos nas primeiras fases do desenvolvimento.
Como característica principal do ovo, temos uma distribuição espacial bem definida
das organelas e das inclusões citoplasmáticas como o vitelo, por exemplo.
O ovo apresenta duas regiões ou polos bem definidos: o animal e vegetativo,
que possuem funções bem distintas. No polo animal localiza-se o núcleo, onde
ocorre a segunda divisão meiótica e onde os corpúsculos polares são formados.
161
Já o polo vegetativo desempenha um papel estritamente nutricional, pois é onde
a maior parte do vitelo está concentrada. É o polo vegetativo que irá nutrir o
embrião nos primeiros momentos de seu desenvolvimento.
Durante o seu crescimento, o ovo sofre grandes mudanças, não somente no citoplasma,
mas também na formação e distribuição das inclusões citoplasmáticas que, como já
vimos, serão necessárias para o perfeito desenvolvimento do embrião.
Uma dessas principais inclusões, o vitelo, não é uma substância uniforme, sendo
ricamente composto por proteínas, fosfolipídeos e, principalmente, gorduras na
forma de triacilgliceróis, que serão a fonte de energia principal durante os primeiros
momentos de desenvolvimento do embrião. Apesar de constante entre as espécies,
7. Queratina: proteína fibrosa que confere características especiais como resistência, elastici-
dade e impermeabilidade à água.
162
a composição bioquímica do vitelo pode variar grandemente. Os diferentes tipos
de ovos de diferentes organismos são classificados de acordo com o conteúdo e
distribuição do vitelo.
Também conhecidos como mesolécitos: são ovos com uma quantidade moderada
de vitelo. O polo animal e o vegetativo são bastante distintos, sendo que o vitelo encontra-
-se concentrado no polo vegetativo. Há grânulos no formato oval, de natureza proteica,
que conferem densidade ao citoplasma. Os ovos dos anfíbios são representantes típicos
deste tipo do ovo, mas também são encontrados em anelídeos e moluscos. Além dos
grânulos proteicos, apresentam grande quantidade de lipídeos, e glicogênio8.
São ovos com grande quantidade de vitelo. Existe uma separação entre o vitelo e
o citoplasma que fica restrito a uma fina camada sobre a superfície com um pequeno
espessamento no lado superior, região onde se encontra o núcleo. Ovos dos peixes
ósseos, répteis, ornitorrinco, equidna9 e principalmente de aves são classificados
com telolécitos. EMBRIOLOGIA E MECANISMO DE REPRODUÇÃO
São ovos que apresentam vitelo localizado em seu interior e citoplasma distri-
buído na superfície periférica. Uma pequena porção do citoplasma fica localizada no
centro do ovo, onde fica o núcleo. Desta forma, fica difícil a determinação dos polos,
o que leva à designação de ovos com polaridade antero-posterior. Este tipo de ovo
está presente nos artrópodes, especialmente nos insetos. O ovo de Drosophila, por
8. Glicogênio: polissacarídeo de reserva.
9. Equidna: animal com o corpo coberto de espinhos e pelagem crespa. Pertencem a
Tachyglossidae, são conhecidos popularmente como équidnas ou zaglossos.
163
exemplo, possui um lado convexo e outro côncavo e uma extremidade mais arre-
dondada do que a outra. Desta forma, observa-se que a porção menos arredondada
originará a porção anterior do embrião e a outra, a porção posterior, já a côncava dará
origem ao lado dorsal e a convexa ao lado ventral.
cipal do ovo. Essa primeira divisão é chamada de meridional, ou seja, fazendo uma
analogia, é como se fosse a linha do meridiano cortando o globo de um polo a outro.
Segunda divisão: o plano da segunda divisão também é vertical, mas per-
pendicular ao primeiro. Como resultado das duas divisões há formação de quatro
blastômeros, todos num mesmo plano.
Terceira divisão: o plano da terceira divisão corta em ângulo reto os quatro
blastômeros. Este corte é horizontal e paralelo ao equador do ovo, resultando em
oito blastômeros, quatro no hemisfério animal e quatro no hemisfério vegetativo.
164
4.3.1.1 Tipos de clivagem holoblástica
Blastocele
165
A terceira clivagem, também chamada de supraequatorial, corta horizontalmente todo
o ovo, mas o sulco de clivagem surge onde há menos resistência do vitelo, ou seja, no
polo animal. As divisões subsequentes no polo animal são mais rápidas, resultando em
blastômeros menores e em maior número. Já no polo vegetativo, as divisões são mais
lentas, resultando em blastômeros maiores e em menor número.
Clivagem espiral: na clivagem holoblástica espiral os planos de clivagem
ocorrem obliquamente em relação ao eixo principal do ovo. Nesta clivagem, os blas-
tômeros do polo animal não ficam exatamente sobrepostos aos blastômeros do polo
vegetativo, como no caso da clivagem radial, mas ficam descolados, não havendo uma
sobreposição ajustada entre os dois colares de blastômeros sobrepostos. Isto é, os blas-
tômeros do colar do polo animal não se localizam sobre os blastômeros vegetativos
correspondentes, mas sobre a junção entre cada dois blastômeros do polo vegetativo.
A primeira clivagem é meridional, com a formação de dois grandes blastômeros
(AB e CD). Na segunda clivagem, também meridional, é perpendicular à primeira e
produz quatro blastômeros que vão formar os quatro quadrantes do embrião (A, B,
C, e D). Da terceira clivagem resultam quatro blastômeros pequenos no polo animal
(1a, 1b, 1c e 1d), que não são sobrepostos, mas sim intercalados aos blastômeros
maiores do polo vegetativo (1A, 1B, 1C, e 1D), que os originaram, (Figura 24).
1B
1a 1b
1A 1C
1d 1c
1D
166
os blastômeros unem-se frouxamente, mas logo após, se unem, aumentando muito o
contato ente si por meio de junções que se formam entre as células superficiais. Este
fenômeno é chamado de compactação e resulta em uma esfera com o interior vedado.
As células internas se unem e se comunicam por junções do tipo gap.
Quando o número de células atinge dezesseis, inicia-se a produção de fluido que
vai se acumulando no interior da esfera, gerando um espaço interno chamado de blas-
tocele. Com a formação da blastocele, ocorre o deslocamento dos blastômeros para
a periferia. Algumas células permanecem na superfície interna sendo envolvidas pelas
células externas, que juntas vão formar o trofoblasto, responsável pela implantação
e formação do futuro córion. Já as células internas vão formar uma massa celular
interna que originará o embrião propriamente dito. O trofoblasto e a massa celular
interna, juntos, formam o blastocisto, que é característico dos mamíferos.
Cicatrícula Blastômeros
EMBRIOLOGIA E MECANISMO DE REPRODUÇÃO
Vitelo Blastômeros
Cavidade
subgerminal
Figura . livagem meroblástica discoidal de aves. omente o citoplasma superficial se divide. uando
os blastômeros começam a se separar do vitelo, a cavidade subgerminal é formada.
167
todos os planos de clivagem são meridionais, e os blastômeros posicionam-se em um
mesmo plano. Os sulcos de clivagem separam os recém-formados blastômeros uns dos
outros, mas não do vitelo, que se posiciona abaixo. Os blastômeros centrais, portanto, são
contínuos com o vitelo pelas suas bases e os blastômeros dispostos ao redor dos centrais
são contínuos com o citoplasma ainda não clivado periférico.
As células centrais mais tarde sofrem clivagens equatoriais, de modo que as supe-
riores tornam-se separadas de suas vizinhas, enquanto que as mais inferiores mantêm
contato com a massa vitelínica. Forma-se, assim, um tecido com três camadas de
células. As células contínuas com o vitelo acabam adquirindo também sua individuali-
dade, estabelecendo um espaço entre o disco celular e o vitelo, chamado de cavidade
subgerminal, (Figura 25).
Superficial: A clivagem meroblástica superficial é encontrada nos ovos dos
insetos e de muitos artrópodes. Estes ovos apresentam grande quantidade de vitelo
localizado na porção central e citoplasma distribuído na periferia, já o núcleo está
envolvido por citoplasma no interior do ovo. O núcleo se divide, mas o citoplasma
ao seu redor não. Os núcleos recém-formados permanecem no centro do ovo en-
volvidos por um pequena porção do citoplasma. Em seguida, os núcleos migram
para a periferia atravessando todo o vitelo, e são envolvidos pelo citoplasma perifé-
rico. Como nesta etapa não há limites celulares, um sincício periférico é formado.,
(Figura 26). Com a formação dos sulcos de clivagem, as células são individualizadas,
mas estes sulcos não penetram no vitelo. O vitelo vai sendo gradualmente consumi-
do por estas células para o desenvolvimento embrionário. Alguns núcleos migram
para o polo posterior do ovo e formarão as células polares do embrião, dando origem
às células germinativas do adulto.
Sincício Células
individualizadas
Vitelo
Células
polares
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLOGICAS
168
A B C
D
E
F
Figura . Formação da mórula e da blástula. ucessiva multiplicação dos blastômeros, até atingir em (D)
a fase de morúla e em (F) a blástula.
fluido impede que estes se dividam para o interior da blastocele. À medida que a clivagem
progride, a adesão entre os blastômeros aumenta originando uma forma de epitelioide.
Portanto, a blastocele fica envolvida por uma camada de tecido epitélio simples, de ma-
neira que o embrião torna-se uma esfera oca. Estas células possuem papel fundamental,
pois originaram o trofoblasto. Uma pequena porção de células, denominada de nó
embrionário ou embrioblasto ou massa celular interna, posiciona-se em um dos
polos e são estas células que, como vimos, vão constituir o embrião.
O número de células onde a mórula passa a ser blástula depende do embrião a
ser considerado. No ouriço-do-mar e nos anfíbios, por exemplo, o estágio de blástula
inicia-se e torna-se evidente com 128 células.
169
Atividade para fixação do conteúdo
170
de embriões em laboratório. Nesse caso, envolve a maturação de oócitos imaturos
aspirados dos ovários, capacitação espermática, a fecundação dos oócitos e o cultivo
de embriões até o estágio de blastocisto, quando estão prontos para serem transferidos
para as fêmeas receptoras.
Ovários de abatedouro, apesar de serem uma importante fonte de oócitos para
utilização na pesquisa, são geralmente provenientes de animais sem valor econômico.
Entretanto, o desenvolvimento de outros métodos de aspiração folicular tem permitido
a recuperação de oócitos de animais vivos, abrindo novos caminhos para multiplicação
de animais de interesse econômico, superando os índices da TE clássica, no que diz
respeito à produção de bezerros/vaca/ano.
O método de aspiração in vivo, associado à FIV, é ainda de fundamental impor-
tância para produzir embriões de vacas prenhes, de vacas que não respondem à su-
perovulação, de animais portadores de patologias reprodutivas adquiridas, de animais
senis e pró-púberes. Esses podem ser coletados semanalmente, sem causar transtornos
para o ciclo estral ou para a prenhez. Essa técnica é feita pela punção folicular, com uma
agulha introduzida pela vagina, em que os folículos a serem puncionados são visualiza-
dos na tela do ultrassom. Para bezerras, pela limitação de tamanho, até agora tem sido
utilizada a laparotomia, ou laparoscopia, para aspiração dos folículos. Esses métodos
permitem acesso limitado dos ovários e envolvem traumas consideráveis, impedindo
coletas frequentes. Entretanto, já foi desenvolvida uma sonda que permite a aspiração
transvaginal em bezerras a partir de seis semanas de idade.
A média de oócitos viáveis obtidos por coleta in vivo de vacas é de cinco oócitos vi-
áveis por punção, o que pode ser duplicado se os animais receberem uma estimulação
hormonal. As taxas de blastocisto, após a FIV, estão em torno de 30%, com 40 a 50%
de prenhez. Entretanto, existe uma grande variação na produção de blastocisto, que
pode ser devido não só à doadora, mas também ao sêmen utilizado. Tendo como base
as taxas médias relatadas na literatura, pode-se considerar a obtenção de dez oócitos
viáveis por semana (duas punções), com 30 % de blastocisto, o que resultaria em três
embriões transferíveis por semana. Em um período de três meses, a aspiração folicular-
EMBRIOLOGIA E MECANISMO DE REPRODUÇÃO
-FIV renderia em torno de 36 embriões, o que é três vezes maior do que número de
embriões obtidos por transferência clássica, no mesmo espaço de tempo.
Apesar dos avanços obtidos, a produção in vitro de embriões ainda apresenta
algumas limitações, tais como os baixos índices de blastocisto, a dificuldade na
criopreservação dos embriões produzidos por essa técnica, a menor viabilidade dos
oócitos obtidos de bezerras em relação aos de vacas e novilhas, e o custo do embrião,
que é em torno de 2 a 3 vezes mais alto do que um embrião de TE. Portanto, mais
pesquisas são necessárias no sentido de aumentar os índices de produção e, dessa
forma, reduzir os custos, assim como o desenvolvimento de métodos mais adequados
171
para o congelamento de embriões de FIV. Além disso, os fatores que influenciam a
competência dos oócitos oriundos de animais muito jovens precisam ser elucidados,
para que possam ser utilizados, com sucesso, em programas de aspiração.
Concluindo, o uso de novas tecnologias, especialmente aquelas relacionadas
com o melhoramento animal, torna-se de fundamental importância para o desenvol-
vimento da pecuária. A IA e TE têm sido utilizadas para reproduzir aspectos genéticos
desejados. Entretanto, novas opções para seleção e produção animal são proporcio-
nadas pela produção in vitro de embriões, que surge como mais uma ferramenta,
pois otimiza a utilização das fêmeas, por aumentar a sua produção. O uso comercial
dessa técnica ainda está limitado ao custo, e vai depender do balanço entre o tipo de
produto (embrião) e o custo de sua produção. Apesar disso, a aspiração associada à
FIV está sendo gradualmente integrada aos esquemas de seleção e melhoramento
genético, como uma complementação da IA e TE.
5.1 Introdução
Nós vimos no capítulo anterior que, após a fecundação, o ovo começa a sofrer
clivagens sucessivas que irão determinar o início do desenvolvimento embrionário.
Inicialmente, há a formação de um aglomerado de células denominado mórula, e
quando o número de células chega a aproximadamente 128, dizemos que o estágio
de blástula foi atingido. Durante a formação da blástula, os blastômeros se posicionam
de tal forma a originar a blastocele, uma cavidade repleta de fluidos. A blastocele fica
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLOGICAS
envolvida por uma camada de tecido epitelial simples e uma pequena porção de
células, a Massa Celular Interna (MCI), posiciona-se em um dos polos. A gastrulação
que veremos a seguir, em uma descrição em seres humanos, é o processo onde as
células da MCI se reorganizam e formam três camadas blastodérmicas: ectoderma,
endoderma e mesoderma. Esta reorganização de células implica em indução ou
influência de um tecido sobre o outro, o que modifica a expressão gênica do tecido
alvo e lhe permite adquirir novas características morfofisiológicas, ou seja, diferenciar-
se. O movimento e a posição das células são importantes para a determinação de suas
características e também estabelece a simetria dos eixos do embrião.
172
5.2 Formação do disco didérmico
Hipoblasto Citotrofoblasto
173
Inicialmente, o mesoderma extraembrionário é compacto, porém vai se tornando
cada vez menos denso e termina por formar um tecido frouxo denominado magma
reticular, que substitui quase que por completamente o mesoderma extraembrionário.
O magma reticular fica cada vez mais frouxo e rompe-se em vários pontos, que se unem
formando uma grande cavidade que envolve as duas vesículas, que as separa do trofo-
blasto. No local onde o mesoderma extraembrionário se manteve não ocorre a ruptura.
A cavidade gerada em torno das vesículas é denominada celoma extraembrio-
nário ou cavidade coriônica, que forma um delicado revestimento em volta das
vesículas amniótica e vitelínica e por dentro do trofoblasto. O embrião fica conectado
com a parede da vesícula pela parte do mesoderma que não degenerou, constituindo
uma ponte de ligação entre as duas vesículas e o trofoblasto, chamada de pedículo
do embrião ou de fixação, que futuramente será o cordão umbilical. A camada que
reveste externamente o celoma e que é constituído pelo trofoblasto e mesoderma
passa a ser denominada de córion.
Células do trofoblasto também sofrem alterações, proliferando-se rapidamente. As
células superficiais em contato direto com o endométrio perdem seus limites, tornan-
do-se sinciciais. Nesta etapa, podem ser diferenciados tipos celulares no trofoblasto:
Citotrofoblasto, localizado na camada mais interna, área onde os limites celulares
são nítidos e definidos.
Sinciciotrofoblasto, localizado acima do embrioblasto, é formado por células mul-
tinucleadas, sem delimitações celulares claras e com prolongamentos em forma de
dedos, cuja função é penetrar o endométrio humano.
174
folhetos (ectoderme, mesoderma e endoderme) e é denominado disco trilamilar
ou tridérmico. O mesoderma migra por toda a extensão do disco, com exceção de
duas regiões que permanecem didérmicas. Uma região mais anterior, situada na extre-
midade cefálica do embrião e constitui a membrana buco-faríngea, e outra região
mais caudal do disco e constitui a membrana cloacal. Nessas duas regiões, perma-
necem em contato direto somente o ectoderma e o endoderma. Após o fechamento
do corpo do embrião e formação do intestino primitivo, essas duas regiões formarão
futuramente as aberturas da boca e do ânus.
A B
Mesoderma
Hipoblasto Endoderma intraembrionário Endoderma
Figura . nteriorização pela linha primitiva. Em A, interiozação de células epiblásticas. estas células se
posicionam entre o epiblasto e endoderma formando o mesoderma intraembrionário.
Linha
Membrana oral
primitiva
Pedúnculo
Nó e fosseta primitiva
embrionário
EMBRIOLOGIA E MECANISMO DE REPRODUÇÃO
Figura . ovimentos celulares durante o processo da gastrulação. As setas indicam a orientação dos
movimentos celulares.
175
folhetos. A fibronectina, além de outras funções, determina a direção em que as células
originárias da linha primitiva irão migrar. Esse movimento celular origina um sulco
medial ao longo da linha primitiva, a fosseta primitiva (também chamado de
sulco primitivo ou blastósporo), localizado na região central. Na região mais cefálica
surge um acúmulo de células que constituem o nó primitivo (ou nó de Hensen).
As células do nó primitivo se proliferam formando uma estrutura cordonal (um cordão
sólido de células) denominado processo notocordal. Aos poucos, o processo noto-
cordal vai se transformando num tubo notocórdio, cuja parede ventral vai fundir-se
com o endoderma subjacente gerando o canal neuroentérico que comunica tem-
porariamente as vesículas amniótica e a vitelínica. Posteriormente, esta comunicação é
interrompida pela separação do processo notocordal do endoderma e a transformação
deste na notocorda. Portanto, a notocorda é formada por células oriundas da fosseta pri-
mitiva do nó de Hensen na forma de uma estrutura cordonal sólida que se forma entre o
ectoderma e endoderma em direção à região cefálica, (Figura 31).
Cavidade Notocorda abaixo Nó e fosseta Linha primitiva
amniótica do ectoderma primitiva
Membrana Pedúnculo
oral embrionário
Membrana cloacal
Figura 1. nício da gastrulação. A linha primitiva e o nó de ensen de são aparentes. A notocorda pode
ser observada abaixo do ectoderma.
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLOGICAS
À medida que a notocorda progride, a fosseta primitiva se expande para o seu in-
terior promovendo a formação de um lúmem. A notocorda, agora, transforma-se em
um tubo cilíndrico de células colunares, que se estende da fosseta primitiva até a placa
pré-cordal. A porção ventral da notocorda se adere ao endoderme e, em seguida, sofre
degeneração e estabelece comunicação entre o saco vitelino e o amniótico através da
fosseta primitiva. Esta comunicação é temporária, visto que a notocorda se apresenta
na forma de uma calha (telha) invertida e começa a se dobrar, assumindo novamente
a forma de uma estrutura maciça. Após a formação do mesoderma intraembrionário e
da notocorda, a linha primitiva não tem mais função, e inicia um processo de regressão.
176
A notocorda cresce cefalicamente até alcançar a placa pré-cordal, onde não con-
segue ultrapassá-la visto que a placa pré-cordal está firmemente aderida ao ectoderma
sobrejacente. Posteriormente, estas camadas originarão a membrana bucofaríngea
(cavidade oral). A notocorda se apresenta na linha média da placa embrionária, entre
o ectoderma e o endoderma, e estabelece o eixo de simetria inicial do embrião, além
de servir de base para o esqueleto axial.
No próximo capítulo, veremos como esses folhetos embrionários irão dar origem
aos diferentes órgãos dos seres humanos.
Pesquise:
O que são células-tronco embrionárias (stem cells)?
Pense na utilização deste tipo celular em tratamentos de saúde e discuta com
seus colegas.
6.1 Introdução
177
6.2.1 Ectoderma Superficial
Esta porção do ectoderma dará origem à epiderme e seus anexos, como unhas, pelos
e glândulas sebáceas subcutâneas, as glândulas mamárias, a porção anterior da hipófise, o
esmalte dos dentes, orelha interna e o cristalino do olho.
6.2.2 Neuroectoderma
Esta porção é subdivida em duas outras porções: o tubo neural, que contribuirá
para a formação dos seguintes sistemas e tecidos: sistema nervoso central (composto
pelo encéfalo e medula, exceto as meninges e microglia); retina; corpo pineal e parte
superior da hipófise. Já a outra porção do neuroectoderma, denominada de crista neu-
ral, dará origem aos nervos e gânglios sensoriais e cranianos, à medula da suprarrenal,
às células pigmentares da pele, às cartilagens dos arcos faríngeos, ao mesênquima e ao
tecido conjuntivo da cabeça.
178
• Glândulas tireóide e paratireóides;
• Timo.
Embrioblasto
Epiblasto
Baço
179
Neste capítulo pudemos ver que diferentes tecidos e órgãos dos seres humanos
são originados de diferentes folhetos embrionários. No próximo capítulo, iremos
estudar como é esse processo em outros animais.
Como já falamos, nem todos os organismos se desenvolvem a partir dos três folhetos
germinativos. Os cnidários (anêmonas-do-mar, medusas e corais), Filo Cnidaria,
por exemplo, são animais que se desenvolvem a partir de dois folhetos: ectoderma e
endoderme, (Figura 33). Portanto, são chamados de animais diblásticos.
Ectoderma
Ectoderma
Blastoderme Gástrula Mesoderma
jovem Endoderma
Gástrula de
animal triblástico
Figura . Esquema dos dois folhetos, ectoderme e endoderme, nos animais diblásticos. Figura adaptada
(http embriologiabio. ebnode.com folhetos-embrionarios).
180
As duas camadas de tecidos são separadas por uma terceira camada de meso-
gleia não viva, que lembra uma gelatina e pode apresentar espessura variável. Dessa
forma, o corpo destes animais é formado a partir de duas camadas de células, a
epiderme mais externa e a gastroderme interna.
A fecundação destes animais pode ocorrer na cavidade gastrovascular ou externa-
mente na água do mar, como é o caso das anêmonas-do-mar que podem possuir estes
dois tipos de fecundação. Após a fecundação, há formação de uma blástula sólida, segui-
da de uma típica larva plânula11, e antes de sua fixação, a plânula desenvolve a cavidade
gastrovascular e septos. Em seguida, a anêmona-do-mar gera os tentáculos, cresce e se
torna um organismo adulto. A reprodução também pode ser assexuada, onde ocorre a
fissão longitudinal.
a) Ovos:
Nos anfíbios, as fêmeas produzem grande quantidade de ovos, que são heterolé-
citos. Em rãs, é possível visualizar a polaridade do ovo devido à grande quantidade de
pigmentos depositados, sendo o polo animal mais pigmentado do que o polo vegetal.
11. Plânula é o nome dado a uma larva que nada livremente. Faz parte do processo de repro-
dução dos cnidários (anêmona-do-mar, medusas e corais).
181
Os ovos dos anfíbios apresentam três estruturas membranosas: cório, casca e ganga
(substância gelatinosa que caracteriza a postura e na presença de água aumenta de vo-
lume). O polo vegetal apresenta maior concentração de plaquetas de vitelo, havendo
um decréscimo em direção ao polo animal.
Com a fecundação, a pigmentação desloca-se para a zona intermédia entre os dois
polos, indicando o que será a parte dorsal do animal – crescente cinzento – localizada
exatamente no lado oposto ao ponto de entrada do espermatozóide. Ao eixo polo
animal-polo vegetativo irá corresponder o eixo antero-posterior do animal, sendo o
polo animal a cabeça. Após a penetração da cabeça do espermatozóide no citoplasmo
do ovo, sua cauda é perdida. O pró-núcleo masculino aguarda a finalização da segunda
divisão meiótica, do pró-núcleo feminino, e logo em seguida se unem.
b) Clivagem:
A segmentação nos anfíbios é total e desigual. A primeira clivagem é uma prega no
polo animal que vai se aprofundando até atravessar o polo vegetal. A segunda clivagem é
meridional à primeira e tem início também no polo animal, havendo, portanto, a formação
de quatro blastômeros. O terceiro plano de segmentação ocorre perpendicular às outras
duas primeiras clivagens, e devido à concentração do vitelo, esta terceira clivagem gera
quatro pequenos blastômeros e quatro blastômeros maiores e inferiores. A quarta clivagem,
meridiana, conduz a um estágio de dezesseis blastômeros. As subsequentes clivagens são
assincrônicas, com velocidade maior no polo animal em relação ao polo vegetal.
c) Blástula:
A blástula resultante apresenta mais de uma camada de células rodeando uma blas-
tocele em posição excêntrica (mais próximo do polo animal). A formação da blastocele
inicia-se num estágio de oito blastômeros. É considerada uma blástula em estágio final
quando é formada de 5 a 6 mil células e a blastocele preenchida por líquido.
d) Gastrulação:
Este processo leva à reorganização da estrutura do embrião. As células do polo ve-
getal invaginam-se pelo blastóporo penetrando no germe, já as células do polo animal
escorregam por todo o embrião recobrindo sua porção externa.
Com a gastrulação inicia-se a formação de uma estrutura chamada de lábio dorsal
do blastóporo, no lado dorsal. Esta marca progride e caminha em direção ao polo ve-
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLOGICAS
getativo, e lembra uma ferradura ou uma meia lua, formando assim os lábios laterais
do blastóporo, os quais se unem formando o lábio ventral do blastópero. Posterior
a esta fase, há a formação de um círculo que constituirá rolha ou tampão vitelínico.
O tampão vitelínico invagina-se até desaparecer completamente, permanecendo a
fenda blastoporal que futuramente originará a região anal, (Figura 34).
No final da gastrulação, os embriões de anfíbios apresentam os seguintes folhetos:
• Ectoderme: dará origem à camada de revestimento externo e ao sistema nervoso.
• Mesoderme: dará origem aos músculos, à derme e sistemas cardiovascular e
urogenital.
182
• Endoderme: dará origem ao revestimento interno do tubo digestivo e suas glân-
dulas anexas e ao sistema respiratório.
A B C D E
Tampão
vitelino
Blastóporo
e) Neurulação:
Nesta fase, cerca de 50 horas após a fecundação, o evento mais marcante é o
desenvolvimento do sistema nervoso. Por indução da notocorda, a ectoderme supra-
jacente se espessa e forma um estrutura denominada de placa neural. Logo após,
há surgimento de pregas neurais que se fundem na porção superior do embrião e
formam o tubo neural. A porção anterior (mais alargada) futuramente dará origem
ao cérebro e a porção mais estreita, à medula. Ocorre um aprofundamento da placa
neural fazendo com que o tubo neural fique internalizado e recoberto pelas células
do ectoderma de revestimento.
a) Ovos:
Os ovos nas aves são os representantes mais significativos dos ovos tipo telolécitos, ou
seja, ovos com grande quantidade de vitelo. Este vitelo (conhecido como gema, o ovo da
galinha) servirá de nutriente durante todo o desenvolvimento do embrião, enquanto ele
estiver dentro do ovo, (Figura 35).
Uma ave que iniciou a postura de ovos apresenta ovócitos em várias fases do
desenvolvimento, ou seja, fase de maturação. A fase de maturação inicia-se dentro do
EMBRIOLOGIA E MECANISMO DE REPRODUÇÃO
183
primórdio da látebra. Somente no final do desenvolvimento é que a gema amarela
é depositada. A cor do vitelo é determinada pela sua constituição química. Se a
alimentação da ave for rica de proteínas e água e menos gordura, o vitelo depositado
será branco, quando a alimentação for rica em gorduras, carotenóides, o vitelo será
amarelo. O núcleo sempre está rodeado por vitelo branco. Na ovulação, o primeiro
corpúsculo polar é formado, a divisão meiótica avança até a metáfase II, onde fica
bloqueada até a fecundação.
Durante a postura, o ovo é composto das seguintes partes: casca, membranas
da casca, albúmen (clara) e vitelo (gema). Na gema encontra-se um pequeno ponto
esbranquiçado denominado de cicatrícula, que corresponde à parte viva ou ativa do
ovo. A clara, as membranas da casca e a casca correspondem às membranas secun-
dárias e que foram adquiridas durante a passagem pelo oviduto. A gema fica presa no
seu lugar devido a uma membrana transparente denominada membrana vitelínica e
que foi adquirida no ovário. A clara apresenta uma porção mais fluida que é corres-
pondente albúmen líquido e que está localizada em volta da gema e sob a membrana
da casca. O albúmen semissólido adquire o aspecto de cordas espiraladas, que são
formadas durante a passagem do ovo pelo oviduto devido ao fato do ovo girar sobre
o seu próprio eixo.
b) Clivagem:
A clivagem dos ovos das aves é meroblástica e discoidal. A primeira clivagem
ocorre mais ou menos 3 horas após a fecundação. Antes do primeiro sulco atingir o
periblasto, inicia-se a segunda clivagem, que se cruza em um ângulo reto à primeira
clivagem. A terceira clivagem forma dois planos, verticais e paralelos, o primeiro é
perpendicular ao segundo. A quarta clivagem obedece aos planos verticais, isolam-se
oito blastômeros no centro do germe e oito periféricos. A partir da terceira clivagem, as
clivagens são irregulares, mas são sempre radiais e perpendiculares às primeiras.
184
Quando a blastoderma atinge o estágio de 32 a 64 células, as clivagens só são cito-
plasmáticas, estabelecendo assim um limite inferior para o germe. Ocorre, em seguida,
a separação das células (blastômeros) do vitelo formando a cavidade subgerminal.
A formação desta cavidade é também um processo decorrente da absorção de água do
albúmen e secreção pelas células da blastoderme., (Figura 36). Na blastoderme distin-
gue-se duas áreas: área ou zona pelúcida, pois não se está em contato com o vitelo, o
que a torna translúcida, e é a região que originará grande parte do embrião. Já as células
mais superficiais continuam aderidas ao vitelo e, consequentemente, apresentam um
aspecto mais denso, sendo chamada de área ou zona opaca, estas células migram
para a periferia e causam um aumento do disco embrionário.
A B C D
E F G
Área pelúcida
Blastoderma Área opaca
Figura . Esquema representativo da formação da blástula nas aves. A-E, lástulos jovens. Estágios de
a blastômeros. F- , lóstula ardias.
EMBRIOLOGIA E MECANISMO DE REPRODUÇÃO
c) Gastrulação:
Durante o processo de gastrulação, o embrião será formado por três folhetos
embrionários: endoderma, mesoderma e ectoderma. Inicialmente, as células da zona
pelúcida que estão localizadas na superfície formam o epiblasto, já as células que se
destacaram da zona pelúcida e migraram para a cavidade subgerminal formam o hipo-
blasto primário (que se localiza sobre o vitelo). Posteriormente, ocorre a substituição
das células do hipoblasto primário tornando-o em hipoblasto secundário. O epiblasto
e endoplasto são formados e o espaço entre eles é chamado de blastocele. O germe
é agora um disco bilaminar. Em seguida, ocorre a migração de células através da linha
primitiva e da fosseta do nó de Hensen, formando o terceiro folheto, o mesoderma.
185
Quando o mesoderma é formado, a migração celular oriunda da linha primitiva
se encerra e esta começa a regredir. Paralelamente, a notocorda começa a avançar no
sentido caudal do embrião, (Figura 37).
Ectoderma
Placa neural
Nó de Hensen
Linha primitiva
Região do pró-âmnio
Endoderma
Notocorda
Mesoderma
Limite do intestino
Pregas neurais
anterior
186
d) Neurulação:
Quando a linha primitiva começa a regredir, ao mesmo tempo ocorre o espes-
samento da região anterior do disco que originará a placa neural. A formação da
placa neural é também induzida pela notocorda, que está localizada adjacentemente.
As regiões laterais formam as pregas neurais que se iniciam na região que correspon-
derá o cérebro médio. A fusão destas pregas progride rápida, cefálica e caudalmente.
As regiões do tubo ainda não fechadas são denominadas de neurósporos, (Figura 38).
Durante a neurulação, importantes eventos acontecem com o mesoderma.
O mesoderma paraxial, que se localiza ao lado da notocorda, transforma-se em somi-
tos. A mesoderme intermediária e lateral inicia sua delaminação formando a cavidade
celomática. A camada da ectoderme juntamente com a mesoderme constitui a soma-
topleura, enquanto que endoderme e o mesoderme constitui a esplancnopleura.
a) Ovos e Clivagem:
O desenvolvimento em peixes é muito rápido, cerca de 24 horas após a fecunda-
ção o embrião já formou a maior parte dos primórdios dos órgãos e apresenta a forma
de girino, (Figura 39).
Blastocito Vitelo Camada
sincicial vitelina
1 2 3 4
5 6 7 8
Somito
Figura . Desenvolvimento do peixe (Danio rerio paulistinha). Observar de nos estágios de1 a 1 o
desenvolvimento desde as primeiras clivagens até a formação do embrião (girino).
187
Existem características semelhantes no desenvolvimento de peixes se comparado
com o desenvolvimento dos anfíbios e das aves. Em alguns peixes, os ovos são hetero-
lécitos, como o dos anfíbios, já em outros, é telolécitos, como o das aves.
No caso de peixes heterolécitos, o vitelo atrasa o sulco de clivagem, mas as cliva-
gens são totais, como nos anfíbios. Devido ao fato de no polo animal a quantidade de
vitelo ser menor, as clivagens ocorrem mais fáceis e rapidamente, formando-se nesta
área blastômeros menores e em maior número, os micrômeros. Já no polo vegetal, os
blastômeros são maiores e em menor número, formando os macrômeros.
Já no caso dos peixes ósseos, as clivagens não dividem o ovo completamente,
assim, encontramos dois tipos de clivagens: holoblástica desigual (encontrada nos
anfíbios) e meroblástica discoidal (nas aves).
b) Blástula e gastrulação:
A blástula nos peixes é formada por três camadas de células, a blastoderma,
constituída por uma camada de células externas supra-adjacentes, a camada en-
volvente externa e por uma massa de células denominada camada sincicial de
vitelo, Figura 40).
Núcleos Microtúbulos
sinciciais
vitelinos Vitelo
como resultado mais da extensão das células da blastoderme do que da sua multiplica-
ção, pois uma vez que a divisão celular esteja bloqueada, não há bloqueio da epibolia.
As células da blastoderme vão adquirindo processos digitiformes e continuam a se
mover para baixo e a forma do embrião começa a se estruturar em uma porção cha-
mada de escudo embrionário.
Após a blastoderme ter se estendido até a metade da massa de vitelo, há formação
de um espessamento circundando os bordos da blastoderme, chamado de anel-
germinativo. O anel germinativo é formado por uma camada externa de células, o
epiblasto, e uma camada de células internas, o hipoblasto.
188
As três camadas germinativas são formadas pela blastoderma. A camada endo-
mesodérmica está localizada ao longo dos bordos do blastodisco, onde continua
com a camada superficial.
c) Neurulação:
O processo de neurulação dos peixes é diferente dos anfíbios. Os peixes também
formam a placa neural, mas as dobras neurais estão levemente indicadas. A placa neural
não se dobra em um tubo, ocorrendo um processo onde há um estreitamento lento, ao
mesmo tempo onde ocorre um aprofundamento dentro dos tecidos profundos, sepa-
rando-se, assim, da epiderme. Durante este processo, não há formação de uma cavidade,
em que o cérebro e o canal central da medula serão formados mais tarde. Durante a
neurulação, o estabelecimento do eixo dorsoventral é dado pelo escudo embrionário, e
a estabilização do eixo anteposterior é especificado durante a ovogênese e estabelecido
durante a gastrulação por sinais provenientes da região anterior e posterior.
Pegue um ovo de galinha e com muito cuidado quebre a casca, evitando furar a gema,
coloque o conteúdo do ovo em um prato e tente identificar as estruturas indicadas na
Figura 40.
189
de fluidos da cavidade uterina criando pequenos espaços dentro desta massa de células.
Futuramente, estes espaços se arranjarão e formarão uma cavidade no interior da mórula,
a blastocele, que será rodeada por um conjunto de células que darão origem ao trofo-
blasto. Nesta fase, o embrião é chamado de blastocisto, que é formado pelo trofoblasto
(futura formação da placenta), embrioblasto (massa celular interna, que formará o em-
brião) e de uma cavidade repleta de líquido, a blastocele.
Quando o blastocisto entra em contato com o epitélio endometrial (na cavidade
uterina), as células do trofoblasto começam a passar por modificações e dão origem ao
citotrofoblasto e o sinciciotrofoblasto, (Figura 41). Logo no início da implantação, o
endométrio sofre a reação decidual que consiste em um grande aumento das células
do tecido conjuntivo do estroma endometrial, devido ao preenchimento por glicogê-
nio e lipídeos. Esta reação inicia-se no blastocisto e com o passar do tempo atinge todo
o endométrio, que passa ser chamado de decídua ou caduca. O objetivo da reação
decidual é de reter a função invasora do sinciciotrofoblasto. Durante a implantação, o
citotrofoblasto possui grande atividade mitótica e o sinciciotrofoblasto vai crescendo
e circundando todo o blastocisto. Uma implantação superficial ocorre no final da
primeira semana do desenvolvimento. E é também no final da primeira semana que
o embrioblasto apresenta-se constituído por duas camadas (lâminas) celulares com
uma membrana basal localizada entre elas:
Epiblasto ou ectoderme primária: formado por uma camada de células coluna-
res que estão voltadas para o trofoblasto.
Hipoblasto ou endoderme primária: camada de células cubóides voltadas para
a cavidade do blastocisto. Estas duas camadas de células formam o disco germinativo
(ou bidérmico) do embrião.
Durante a segunda semana do desenvolvimento, as células do epiblasto caminham
em direção ao polo embrionário e se diferenciam em uma fina membrana denominada
membrana amniótica, separando uma nova cavidade formada do citotrofoblasto. Esta
nova cavidade chama-se cavidade amniótica e será a futura bolsa d’água. A cavidade
amniótica tem, portanto, no teto, os amnioblastos e no assoalho, o epiblasto.
As células do hipoblasto também migram sobre as células do citotrofoblasto
formando uma camada simples de células pavimentosas, a camada endoderme ex-
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLOGICAS
190
Zona pelúcida
Germe Disco Cavidade
bidérmico vitelina
A B
Cavidade
amniótica
C D
Citotrofoblasto
Membrana
de Houser
Hipoblasto
Epiblasto
E F
Pendúnculo
de fixação
G H
EMBRIOLOGIA E MECANISMO DE REPRODUÇÃO
191
expande, e o crescimento e a migração da mesoderma extraembrionário separa o
âmnio do citotrofoblasto. Praticamente no final da segunda semana há formação do
disco bidérmico envolvido por um saco amniótico dorsal e um saco vitelínico ventral-
mente. Além disso, durante este período são formados:
• Vilosidades coriônicas primárias, através do crescimento do citotrofoblasto,
produzindo eixos de células dentro do sinciciotrofoblasto.
• Somatopleura, lâmina da mesoderme extraembrionária, que reveste o trofoblas-
to e recobre o âmnio.
• Esplancnopleura, lâmina da mesoderme extraembrionária que reveste a
vesícula vitelínica.
Lacunas são formadas no interior do sinciciotrofoblasto através da união das pro-
jeções do próprio sinciciotrofoblasto, e estes espaços são preenchidos por secreção
das glândulas endometriais e dos capilares que depositam seus conteúdos no interior
deste espaço. A primeira circulação é estabelecida quando ramos arteriais e venosos se
comunicam, levando aos primórdios da circulação placentária.
O saco vitelínico primário é transformado em saco vitelínico secundário ou
definitivo através do revestimento de células cubóides oriundas do hipoblasto que
formam uma nova cavidade. O restante das células do saco vitelínico primário são
eliminadas e formam os cistos exocelômicos.
No final da segunda semana, o embrião está completamente implantado na
parede uterina, é constituído por um disco celular bilaminar (ou bidérmico) e está
rodeado por um conjunto de células que apresentam características especiais e que
originaram porções importantes para o desenvolvimento do embrião.
192
de sustentação do animal adulto. No embrião humano, as funções da notocorda estão
relacionadas com a formação da coluna vertebral, com formação dos ossos do crânio
e formação dos ossos das costelas e do esterno. A notocorda não originará estas estru-
turas, mas será o agente indutor para que elas se formem.
Outra importante função da notocorda está relacionada com a indução da
ectoderme suprajacente, formando a placa neural, com a futura formação do sis-
tema nervoso central (encéfalo e medula). A porção mais dilatada e cefálica da placa
neural formará o encéfalo, enquanto que o restante dará origem à medula. A placa
neural se aprofunda originando um sulco neural ao longo de seu eixo maior com
pregas neurais em cada lado. Estas pregas se destacam na extremidade cefálica e
constituem os primeiros sinais do desenvolvimento do encéfalo. As bordas destas
pregas se fundem formando um canal cilíndrico, o tubo neural, (Figura 42).
Cavidade Placa neural Nó e fosseta Linha primitiva
amniótica primitiva
Pedúnculo
Membrana embrionário
oral
Membrana cloacal
Mesoderma Disco embrionário bidérmico
extraembrionário Cavidade vitelina (ectoderma e endoderma)
Sulco neural
Celoma Mesoderma
intermediário
Notocorda Somito
193
irregular de células denominada crista neural. A crista neural separa-se em duas
porções, a direita e esquerda, que migram em várias direções. As células da crista
neural dão origem aos gânglios do sistema nervoso autônomo, células ganglionares,
bainha dos nervos periféricos, meninges, e vários componentes esqueléticos e mus-
culares da cabeça, (Figura 43).
A B
C D
Pregas neurais Ectoderma da superfície
aproximando-se
uma da outra
Crista Sulco
neural neural
Sulco
neural
E F
Epiderme em
desenvolvimento
Crista neural
Figura 4 . Formação do sulco neural, tubo neural e crista neural. F secç es transversais de embri es
durante a terceira e quarta semanas do desenvolvimento.
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLOGICAS
194
tubo neural em desenvolvimento. No final da quinta semana do desenvolvimento,
o embrião apresenta de 42 a 44 pares de somitos. Os somitos vão dar origem ao
esqueleto axial (ossos da cabeça e a coluna vertebral) e aos músculos associados,
além da derme, (Figura 44).
Âmnio
Celoma Esplancnopleura
intra-embrionário
195
Pequenos espaços surgem no mesoderma lateral e são chamados de celoma, estes
se unem formando uma cavidade única em forma de ferradura, o celoma intraem-
brionário, que divide o mesoderma lateral em duas porções: camada lateral e camada
visceral. A camada lateral (somática) é contínua com o mesoderma extraembrionário
e recobre todo o âmnio, já a camada visceral (esplâncnica) é contínua com o mesoder-
ma extraembrionário, que recobre todo o saco vitelínico. O mesoderma somático e o
ectoderma formam a somatopleura (parede do corpo do embrião), enquanto que
o mesoderma esplâncnico e o endoderma do embrião formam a esplancnopleura
(parede do intestino).
Resumindo, o terceiro folheto embrionário teve origem a partir de células do
epiblasto, formando um disco de três folhetos germinativos (ectoderma, mesoderma
e endoderma). Estes tecidos primordiais são os responsáveis pela origem de todos
os tecidos e órgãos do organismo. As células de cada folheto dividem-se, migram,
agregam e se diferenciam em padrões bastante precisos formando os tecidos e órgãos.
196
Referências
197
FISIOLOGIA VEGETAL
Ms. Lorrayne Veloso de Almeida
Drª Moemy Gomes de Moraes
Apresentação
199
Para compreender a fisiologia vegetal é necessário relembrar a estrutura da célula
vegetal e de alguns tecidos que são importantes para determinadas funções, como os
tecidos condutores de seiva e os estômatos. Utilizaremos também alguns conceitos de
biofísica e bioquímica.
Transpiração
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Precipitação
Evaporação
200
As plantas absorvem e perdem água continuamente. A absorção de água do solo
ocorre pelas raízes. A água é transportada pelo xilema, um tecido condutor, até chegar à
parte aérea. Nas folhas ocorre a perda de água na forma de vapor para a atmosfera, pro-
cesso conhecido como transpiração, formando um continuum solo-planta-atmosfera.
Observe na Figura 1 que a água acumulada no solo pela precipitação é absorvida pelas
raízes dos vegetais. Em seguida é transportada até as folhas, onde ocorre a transpiração,
que libera o vapor d´água para a atmosfera.
Nessa unidade, vamos analisar como ocorre o movimento da água nesse continuum
e os fatores que influenciam nesse processo.
201
A B
Carga negativa
A atração da
- -
δ-
ligação dos O O
elétrons ao
ÁGUA
O H H H H
oxigênio cria
-
cargas locais + + + +
H H parciais positiva O
10 5 0
δ+ δ+ e negativa
H H
Carga positiva
+ +
Figura 2. Estrutura da molécula de água A. Interação entre moléculas de água devido às cargas em cada
polo da molécula B.
Quando adicionamos o açúcar (sacarose) ou sal (cloreto de sódio), que são solu-
tos na água (solvente), verificamos o desaparecimento dos cristais, entretanto a água
passará ter gosto doce ou salgado. Os solutos passaram a constituir uma solução.
As moléculas de água são pequenas e polares. Devido a essas características
têm capacidade de interagir com os grupos polares das moléculas, especialmente os
grupos –OH e -NH2 , desse modo a água é considerada um ótimo solvente.
202
Consulte na Wikipedia com as palavras “calor específico” os valores de calor específi-
co de várias substâncias e compare.
Como explicado nos tópicos anteriores, as moléculas de água são polares e for-
mam pontes de hidrogênio. Assim, essa interação resulta na atração entre as próprias
moléculas de água, processo conhecido por coesão. Portanto, as moléculas de água
têm forte coesão. Essa atração gera uma força capaz de sustentar uma coluna de água
sem quebrar, facilitando o transporte de água em um tubo capilar.
Devido à coesão, a água também apresenta considerável tensão superficial, que
se refere à quantidade de energia requerida para expandir a superfície de água na
interface ar-água. Como resultado, a água apresenta dificuldades de se espalhar e
penetrar nos espaços de uma superfície. Um exemplo é a formação de gotículas
sobre a superfície das folhas.
Além de se atraírem, as moléculas de água também podem ser fortemente atraídas
por superfícies sólidas, como as paredes dos elementos condutores do xilema. Essa
propriedade é a adesão. Essas forças atuando em conjunto podem explicar a capi-
laridade, que é o movimento ascendente de água em tubos de diâmetro pequeno,
como o xilema.
Vimos que a água possui diferentes propriedades que a tornam um ótimo solvente
para diferentes substâncias. Nos vegetais essas propriedades interagem, resultando no
movimento da água com as substâncias dissolvidas no interior de células tubulares
com o diâmetro muito pequeno. Para observar a capilaridade, utilize um pouco de
FISIOLOGIA VEGETAL
água com anilina dissolvida em um copo transparente. Coloque vários tubos com
diâmetros diferentes e observe. Em quais tubos a água alcança a maior altura?
203
1.2 Processos de transporte de água
A maior parte das espécies vegetais absorve a água do solo pelas raízes. Depois que
entra na raiz, a água move-se por vários meios e mecanismos. Para a compreensão das
relações hídricas na planta é necessário compreender o que governa o movimento
da água. No caso dos vegetais os principais processos são: difusão, fluxo de massa
e osmose.
A difusão é o movimento aleatório de partículas individuais, causado pela
própria energia cinética. Ocorre sem o gasto de energia. Na difusão, o movimento
líquido de moléculas é gerado pela diferença de concentração de uma região para
outra adjacente, em que a substância está em menor concentração.
Você pode perceber a difusão ao abrir um frasco de perfume em um ambiente
fechado, como a sala de aula. Os alunos que estão mais próximos a você perceberão
mais rapidamente e mais intensamente o perfume do que os que estão mais distan-
tes. Isso ocorre porque a concentração das moléculas é maior no ponto de dispersão,
logo, o cheiro é mais forte perto do frasco. Com o passar do tempo, as moléculas vão
se espalhando pela sala, sua concentração no ponto inicial vai diminuindo. A difu-
são é mais eficiente quanto menor for a distância a ser percorrida. Outro exemplo
prático e fácil de ser observado é a adição de corante em um tanque com água.
Nos vegetais a difusão é essencial na transpiração, no movimento dos nutrientes
e da água no solo até as raízes. Em plantas que não possuem tecidos condutores
(exemplo: briófitas), todo movimento da água no corpo vegetal ocorre por difusão.
Quando forças como a pressão ou a própria gravidade são aplicadas, os grupos
de moléculas tendem a mover-se na mesma direção. Assim, o fluxo de massa
é o movimento do conjunto de partículas em resposta ao gradiente de pressão.
Exemplos comuns do fluxo de massa são: o deslocamento da água pela mangueira,
o fluxo de um rio e a chuva.
Esse movimento depende da viscosidade da substância e do diâmetro do capilar.
Quanto menor o diâmetro, maior a pressão que direcionará o movimento. Diferente
da difusão, o fluxo de massa é independente do gradiente de concentração. É o
processo predominante para a ascensão da seiva bruta no xilema e o movimento da
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
água no solo.
Se considerarmos o transporte entre as células nos organismos vivos, o processo
apresenta características especiais devido à presença da membrana plasmática.
A membrana das células vivas é semipermeável, isto é, permite que pequenas subs-
tâncias sem carga, como a água, a atravessem. Entretanto, constitui uma barreira a
entrada de partículas grandes e de moléculas carregadas.
Nas células vegetais, o movimento de água envolve tanto a difusão, na região
das paredes celulares, quanto o fluxo de massa. Esse ocorre por meio de proteínas
204
integrais de membrana, que constituem canais seletivos de água, as aquaporinas
(Figura 3).
Desta forma, o movimento de água pela membrana plasmática envolve tanto
o gradiente eletroquímico quanto a pressão. Assim, a osmose é um tipo especial
de difusão, que ocorre através da membrana plasmática, em que o movimento da
substância é resultado da interação do gradiente eletroquímico e da pressão.
EXTERIOR DA CÉLULA
Moléculas de água
Bicamada de
Membrana
CITOPLASMA
Figura 3. A água pode atravessar as membranas vegetais por difusão de moléculas individuais através da
bicamada lipídica, como mostrado esquerda, e por fluxo de massa microscópico das moléculas de água
por um poro seletivo de água formado por proteínas integrais de membrana, como as aquaporinas.
como potencial hídrico (ψw). Três fatores contribuem para o potencial hídrico das
células: concentração, pressão e gravidade. A relação entre esses fatores é expressa
pela equação:
205
ψw = ψs + ψp + ψg
ψs – Potencial de soluto ou potencial osmótico: representa o efeito da
concentração, ou seja, da quantidade de soluto dissolvido. Os solutos reduzem a
energia livre da água, aumentando a desordem do sistema. O potencial osmótico
é inversamente proporcional à concentração de solutos na solução, ou seja, quanto
maior a concentração, menor é o potencial osmótico. A presença de solutos diminui o
potencial hídrico que assume valores negativos.
Nos vacúolos das células vegetais os valores do ψs geralmente apresentam valores
na faixa de – 0,1 a – 0,3 MPa.
ψp – Potencial de pressão: é medido como desvio da pressão ambiente.
A pressão hidrostática no interior das células é conhecida como pressão de turgor.
Nesse caso, a água presente no protoplasto, exerce uma força positiva contra a parede
celular que resiste à expansão. Em plantas herbáceas, a turgescência é importante para
a manutenção do porte ereto e quando ocorre a perda de pressão a planta murcha.
No exterior das células, a pressão hidrostática é negativa, onde uma tensão (ou
pressão negativa) pode se desenvolver. A tensão é importante para o movimento de
água no xilema.
ψg – Potencial gravitacional: é a pressão exercida pela gravidade, entretanto é
insignificante nas raízes e folhas. Tem certa relevância em árvores altas, nas quais a
soma da pressão hidrostática e do potencial osmótico deve ser maior que a pressão da
gravidade para sustentar a coluna de água. Depende da altura da coluna, da densidade
da água e da aceleração da gravidade.
mesma da atmosfera (ψp = 0 MPa). Como na água pura não há solutos, o potencial
osmótico também é zero (ψs = 0 MPa). Assim o potencial hídrico dessa solução é
zero (ψw = 0 MPa). Uma célula possui em seu vacúolo, solutos dissolvidos consti-
tuindo o suco celular, assim ela possui um componente osmótico, que é negativo (ψs
= - x MPa), determinando também o potencial hídrico negativo ( ψw = - x MPa). A
magnitude desses potenciais depende da concentração intracelular. Quando a célula
é imersa na água pura, a água se movimentará para o interior da célula até a diferença
de potencial hídrico entre o interior da célula e a solução ser igual a zero (equilíbrio).
Nessa condição, a célula atingirá o turgor total.
206
2. Numa solução de sacarose a 0,1 M, o potencial osmótico é negativo (ψs = - 0,244
MPa), pois a sacarose dissolvida na água reduz sua energia livre. Consequentemente,
o potencial hídrico dessa solução também será negativo. Quando uma célula murcha
(ψw = - 0,752 MPa) for imersa nessa solução, ocorrerá também absorção de água até
o equilíbrio (diferença de ψw = 0), pois o potencial hídrico da solução é maior que
o da célula. Um pequeno aumento no volume celular provoca aumento na pressão
hidrostática da célula devido à pressão que a água exerce contra a parede celular.
À medida que a água entra, a pressão hidrostática aumenta e, consequentemente, o ψw
também aumenta até atingir o equilíbrio.
A Água pura B Solução de sacarose 0,1 m
Solução de
Água pura sacarose 0,1 M
Ψ p = 0 MPa Ψ p = 0 MPa
Ψ s = 0 MPa Ψ s = - 0, 244 MPa
Ψ w = Ψp + Ψs Ψ w = Ψp + Ψs
= 0 MPa = 0 - 0, 244 MPa
= - 0, 244 MPa
Cécula Túrgida
Célula flácida
Ψp = 0, 488 MPa
Ψ p = 0 MPa Ψ s = - 0, 732 MPa
Ψ s = - 0, 732 MPa Ψ w = - 0, 244 MPa
Ψ w = - 0, 732 MPa
Solução de
Célula após o equilíbrio sacarose 0, 3 M
Ψ w = - 0, 244 MPa Ψp = 0 MPa
Ψ s = - 0, 732 MPa Ψ s = - 0, 732 MPa
Ψ p = Ψw - Ψ s = 0, 488 MPa Ψ w = - 0, 732 MPa
Célula após o equilíbrio
Ψ w = - 0, 732 MPa
Ψ s = - 0, 732 MPa
Ψ p = Ψw - Ψ S = 0 MPa
E Pressão aplicada à célula
Ψ w = - 0, 244 MPa
Ψ s = - 0, 732 MPa Ψ w = - 0, 244 MPa
Ψ p = Ψw - Ψ s = 0, 488 MPa Ψ s = - 1, 464 MPa
Ψ p = Ψw - Ψ s = 1, 22 MPa
207
3. Numa solução de sacarose 0,3 M o potencial osmótico é - 0,752 MPa. Se uma
célula com potencial hídrico – 0,244 MPa for imersa nessa solução, a água sairá da
célula em resposta ao gradiente de potencial hídrico. À medida que o volume da célula
decresce o potencial hídrico diminui até o equilíbrio.
As plantas absorvem água do solo através das raízes. A principal região de absor-
ção de água é a zona pilífera com pelos radiculares, que aumentam substancialmente a
superfície da epiderme e possibilita o contato com partículas de diferentes regiões do
solo. A água absorvida movimenta-se pela planta, da raiz até as folhas, onde é perdida
para a atmosfera através dos estômatos sob a forma de vapor de água. Esse movimento
obedece a um gradiente decrescente de potencial hídrico.
Portanto, para que a planta absorva água, é necessário que o potencial hídrico dela
seja sempre menor que o potencial hídrico do solo.
O tipo e a estrutura do solo são determinantes do conteúdo de água e de sua taxa
de movimento. O solo é constituído de matéria mineral e orgânica (fase sólida), solu-
ção líquida diluída (fase líquida) e gases em equilíbrio com a atmosfera (fase gasosa).
A estrutura do solo afeta a porosidade, que influencia na retenção de água e na aeração
dos solos.
Os solos arenosos são constituídos por partículas de solo maiores com espaços
ou canais relativamente grandes, por isso têm uma área de superfície por grama de
solo pequena. A estrutura dos solos argilosos é constituída por partículas menores que
aumentam a área de superfície, resultando em poros capilares pequenos que retém
grande quantidade de água, porém pouco espaço para os gases.
A capacidade de retenção de água no solo, depois de ser bastante irrigado e drena-
do livremente o excesso, é conhecida como Capacidade de Campo (CC). Os solos
argilosos retêm mais água e, por isso, possuem uma maior capacidade de campo que
os solos arenosos, mas não é bem aerado. O ideal para as plantas é um balanceamento
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
208
espaços entre as partículas do solo, o que resulta em meniscos microscópicos com
superfícies muito pequenas e curvas. Consequentemente, ocorre um aumento na
força de adesão a partículas e na tensão superficial, gerando pressão negativa.
A B C
ÁGUA GRAVITACIONAL ÁGUA CAPILAR ÁGUA HIGROSCÓPICA
Capacidade de Campo
Figura 5. Interação da água com as partículas de solo. Ao irrigar o solo, a água penetra nos poros e o
excesso é drenado para as camadas inferiores A. Após a drenagem livre, uma parte da água é retida nos
poros do solo e permanece disponível para absorção pelas raízes B. Após a absorção e evaporação, a água
fica fortemente aderida s partículas de solo, dificultando sua movimentação C.
Quando a água é absorvida pela raiz o potencial hídrico do solo próximo a ela diminui,
facilitando o movimento de água em direção as raízes. Esse movimento de água no
solo ocorre por fluxo de massa. A taxa desse movimento depende da diferença de
potencial hídrico e da facilidade com que a água move-se pelo solo.
Em certas ocasiões, como no auge da época seca nos ambientes sazonais, o
conteúdo de água no solo pode diminuir tão drasticamente que, mesmo utilizando
mecanismos para impedir a perda de água, a planta não consegue recuperar a pressão
de turgor. Esse nível de redução do potencial hídrico do solo é conhecido como pon-
to de murcha permanente (PMP).
A disponibilidade de água no solo para as plantas está compreendida entre a capa-
cidade de campo e o ponto de murcha permanente. Quanto mais próxima do PMP a
água estará mais fortemente aderida às partículas do solo e menos disponível à planta.
FISIOLOGIA VEGETAL
A absorção de água ocorre pela diferença de potencial hídrico entre o meio em que as
raízes se encontram e o seu cilindro vascular. Para que os pelos radiculares continuem
209
absorvendo água é necessário que o potencial hídrico no xilema seja menor que o
potencial hídrico do solo.
A absorção de íons da solução diluída do solo e seu armazenamento no cilindro
vascular resultam em decréscimo do potencial osmótico e, consequentemente, do po-
tencial hídrico. Essa redução no potencial hídrico é a força propulsora para a entrada
de água na raiz.
Depois de ser absorvida pelas células epidérmicas da raiz, a água movimenta-se ra-
dialmente até alcançar os elementos de vaso do xilema que estão no cilindro vascular.
Os principais caminhos para esse movimento são:
Via apoplasto – por meio de um caminho contínuo pelas paredes celulares e
espaços intercelulares, sem atravessar as membranas de nenhuma célula.
Via simplasto – a água atravessa as membranas através dos plasmodesmas (mi-
croporos), de uma célula para o apoplasto da célula subjacente.
Esses caminhos não são totalmente excludentes, o movimento pode começar
em uma via e terminar em outra. Mas todas as vias fluirão da superfície para o centro
das raízes.
Se você se recordar da estrutura das raízes (Figura 6), lembrará que circundando o
cilindro vascular encontra-se uma camada de células denominada endoderme.
Raiz
Pelo radicular As estrias de Caspary impedem
a passagem da água entre as
células da endoderme para
Corte transversal da raiz o estelo
Epiderme
Estelo
Periciclo
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Endoderme
Epiderme
210
A parede das células da endoderme apresenta um espessamento denominado
estrias de Caspary, formado por deposições radiais de suberina, substância de
natureza lipídica e hidrofóbica. A endoderme atua como barreira física efetiva ao
movimento de água pelo apoplasto e aumenta a seletividade do que será transpor-
tado no xilema. Nesse ponto, a água e as substâncias, mesmo que sejam conduzidas
via apoplasto, para entrarem no cilindro vascular têm que atravessar a membrana
plasmática. Após ingressarem no cilindro, seguem quaisquer das vias até chegar aos
elementos condutores do xilema.
211
Figura 7. Gutação em folhas de morangueiro. A liberação das gotículas de água ocorre devido à pressão
positiva da raiz. Fonte http://es.wikipedia.org/wiki/Archivo:Guttation_ne.jpg
regiões da planta induz o movimento da água no interior dos vasos pelo corpo da
planta até chegar às folhas.
Do xilema a água move-se para as células do mesofilo até chegar à câmara subes-
tomática. A água nos espaços intercelulares também forma interfaces ar-água devido à
tensão superficial, gerando a pressão negativa (processo semelhante ao que ocorre na
água do solo). Conforme a água evapora, a interface ar-água retrai para os interstícios
da parede celular, desenvolvendo meniscos cada vez menores, e uma pressão progres-
sivamente mais negativa que é transmitida à raiz. Assim, a força motriz para a ascensão
é gerada na interface ar-água pela transpiração.
212
A ENERGIA VEM DO SOL
A evaporação da água
das folhas cria um potencial
H2 O de pressão negativo.
H2 O
COESÃO NO XILEMA
H2 O ar
ABSORÇÃO DA ÁGUA DO SOLO
Desafios gerados pela tensão – Apesar de ser o mecanismo mais aceito para
explicar o movimento da água pelo xilema, algumas questões são levantadas a respeito
da forte tensão gerada. No aspecto da estrutura, as células do xilema têm que possuir
paredes espessas e lignificadas para não se deformarem devido à forte pressão negativa.
Outro problema ocorre quando a tensão da água aumenta a ponto de ocorrer
a entrada de gases nas células condutoras ou quando os gases diluídos na seiva do
xilema, sob forte tensão, se separam da solução. A formação de bolhas pode expandir
e ocupar os elementos condutores do xilema. O processo de formação de bolhas é
conhecido como cavitação ou embolia. Ocorre quebra na coluna de água, inter-
rompendo o transporte de água.
Algumas células condutoras do xilema possuem pontuações com uma delgada
FISIOLOGIA VEGETAL
membrana, que permite a passagem de água, mas não de gases. Assim, a bolha não
paralisa completamente o fluxo de água, uma vez que esta pode desviar-se do ponto
obstruído. De noite, quando a transpiração é baixa e o potencial de pressão aumenta,
o vapor d'água e os gases podem dissolver-se na solução do xilema.
213
1.8 Transpiração
Parênquima paliçádico
Epiderme adaxial
Células do mesofilo
Alto conteúdo Baixo
de vapor CO2
d’água
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Epiderme abaixal
Cutícula
Resistência da Resistência dos Célula guarda
camada limítrofe Estômatos CO2 Poro estomático
Alto
Baixo conteúdo CO2
Vapor d’água de vapor d’água Camada limítrofe de ar
Figura 9. Visão transversal de uma folha evidenciando as resistências associadas à transpiração. À esquerda,
as resistências associadas à saída de vapor d’água e, à direita, as resistências associadas à entrada de CO2.
214
A água é puxada do xilema para a câmara subestomática e move-se até o poro
estomático por difusão, direcionada pela diferença de concentração de vapor de água
entre as diferentes regiões. Quanto maior for a diferença de concentração de vapor de
água, mais rápido ocorrerá o processo de difusão da água do poro estomático para a
atmosfera. Ou seja, em dias quentes e secos, a transpiração será maior devido ao gra-
diente de concentração mais acentuado. Assim, a transpiração depende diretamente
da umidade relativa do ar e da temperatura.
O processo de difusão do vapor d’água para atmosfera está sujeito a resistências
a esse trajeto. A primeira está relacionada à abertura do poro estomático. A segunda
resistência é a camada limítrofe do ar (ar parado junto à superfície foliar). Quando
há aumentos na velocidade do vento, a camada limítrofe é reduzida, acentuando o
gradiente de concentração de vapor d'água entre o interior e a superfície foliar, aumen-
tando a velocidade da transpiração.
Para reduzir a transpiração, algumas plantas apresentam adaptações anatômicas
ou morfológicas. Por exemplo: os tricomas agem como uma barreira ao vento para
manter a camada limítrofe na superfície foliar; alguns estômatos são encontrados em
cavidades estomáticas, que são abrigos ao poro estomático.
O poro estomático é responsável tanto pela perda de água por transpiração quanto
pela absorção de CO2, que será utilizado na fotossíntese. Este processo é vital para o
vegetal, constituindo no mecanismo capaz de fixar o carbono atmosférico e produzir
moléculas orgânicas. Desta forma, diminuir a abertura do poro estomático reduz não
só a perda de água, mas também a absorção de carbono. A planta precisa, no entanto,
limitar a perda de água ao mesmo tempo em que permite a absorção de CO2. Esse
balanço é conhecido como eficiência no uso da água.
Uma alternativa para esse balanço é o controle de abertura do poro estomático,
fechando-o à noite (quando a maioria das plantas não realiza fotossíntese) e, assim,
evitar perda excessiva de água. Durante o dia, mesmo que a planta perca água, é im-
portante a abertura do poro para a entrada do CO2. Contudo, quando a transpiração
é muito intensa (alta temperatura e baixa umidade relativa do ar), a desidratação pode
ser letal.
A abertura do poro estomático (ostíolo) é regulada pela entrada e saída de água das
células-guarda. Por exemplo, a saída de água diminui a pressão de turgor nas células-
-guarda causando o relaxamento das suas paredes celulares, resultando na redução ou,
até mesmo, no fechamento do poro estomático. De outro modo, a entrada de água
215
nas células-guarda aumenta a pressão de turgor fazendo com que o poro estomático
se abra.
O movimento da água nas células-guarda é controlado por ajuste osmótico, devi-
do ao movimento de íons potássio (K+) e cloreto (Cl-) nas células-guarda. O acúmulo
destes íons no vacúolo reduz o potencial osmótico e, consequentemente, diminui o
potencial hídrico e a água move-se para o interior das células-guarda aumentando seu
turgor, resultando na abertura do ostíolo.
O fechamento do ostíolo ocorre por evento inverso ao de abertura. O hormônio
vegetal ácido abscísico (ABA) estimula a absorção de cálcio pelas células-guarda.
Isso resulta em despolarização da membrana iniciando uma cadeia de eventos que
inclui a saída de ânions, e abertura dos canais de potássio. A redução dos íons provoca
aumento no potencial hídrico e, assim, a saída de água. As células-guarda perdem o
turgor e o ostíolo se fecha.
A escassez de água no solo é percebida pelas raízes, que enviam o ABA para as
folhas para induzir o fechamento dos estômatos, visto que a desidratação pode ser letal
a planta. Esse controle é rápido e eficaz, o que permite a planta regular a abertura do
ostíolo ao longo do dia, de acordo com as variações na intensidade luminosa, tempera-
tura e umidade relativa do ar. Assim, o controle da abertura dos estômatos é essencial
para promover a maior eficiência no uso da água.
Questões
216
6. Explique como a planta consegue absorver a água do solo.
7. A transpiração é benéfica ou prejudicial à planta? Justifique.
8. Explique os mecanismos de abertura e fechamento estomático.
9. A ascensão da água no xilema ocorre contra a força da gravidade. Que forças sus-
tentam a coluna de água no xilema?
A absorção de íons inorgânicos ocorre nas regiões jovens das raízes. A epiderme
da raiz é bastante seletiva com relação às necessidades fisiológicas da planta. A
permeabilidade da membrana ao movimento de substâncias depende tanto da
composição da membrana como da natureza química do soluto.
Os íons são absorvidos pelas células epidérmicas por difusão, a favor do gradiente
de concentração. Como são dissolvidos na água, os íons podem percorrer os mesmos
caminhos que a água até a endoderme.
FISIOLOGIA VEGETAL
Retorne à unidade anterior e recorde na Figura 6 o movimento radial da água nas raízes.
217
Na endoderme as estrias de Caspary impedem o transporte via apoplasto, direcio-
nando a passagem dos íons pela membrana celular e, assim, aumenta a seletividade da
absorção iônica.
Muitas vezes a concentração dos íons no cilindro vascular da raiz é maior que a do
meio externo. Quando isso ocorre, tanto a entrada da substância quanto sua perma-
nência requer gasto de energia metabólica.
Depois que a solução inorgânica chega ao xilema ela alcança a folha pela corrente
transpiratória, conforme visto na aula anterior. Nas células da folha, os íons são trans-
portados pelo apoplasto e depois entram nas células via membrana plasmática para
participar do metabolismo e serem incorporados nas moléculas orgânicas.
irá difundir-se mais rápido para fora da célula. Essa diferença na permeabilidade da
membrana gera um potencial eletroquímico e um potencial de difusão que tende
ao equilíbrio. Da mesma forma que o K+ tende a sair da célula o Cl- tende a entrar.
O resultado é que, independente da concentração química, o gradiente elétrico
tende à neutralidade.
Nas membranas biológicas, o potencial elétrico interno da membrana é negati-
vo. O pH do citoplasma é estável, apesar do pH do apoplasto e o do vacúolo serem
diferentes. Essa diferença de potencial e pH pode ser mantida devido às funções de
transporte da membrana que é controlado de modo eficaz.
218
2.2.1 Transporte pela membrana plasmática
Molécula
Transportadora Proteína canal Proteína Bomba
carreadora
Alto
Membrana
plasmática
Energia
Baixo
Difusão simples
Transporte ativo primário (contra Gradiente
Transporte passivo (a favor a direção do gradiente
eletroquímico)
de potencial
do gradiente eletroquímico) eletroquímico
Figura 10. Classes de proteínas de membrana de transporte: canais, carreadoras e bombas. Canais e carre-
adoras mediam o transporte passivo de solutos pela membrana a favor do gradiente de concentração (por
difusão simples ou difusão facilitada). As bombas são responsáveis por transporte ativo contra o gradiente
de concentração e usam energia liberada pela hidrólise do A .
219
Canais: São proteínas integrais que funcionam como poros para difusão passiva
de íons e moléculas. A seletividade do poro é determinada por sua dimensão e a densi-
dade de cargas de superfície no seu revestimento. Nem sempre o soluto precisa se ligar
à proteína. Desta forma, desde que o poro esteja aberto, o processo de difusão é rápido.
A regulação da abertura e fechamento do poro inclui mudanças de voltagem, ligação
hormonal ou luz, que funcionam como sinais.
Carreadoras: Nesse tipo de transporte o soluto transportado precisa se ligar
a um sítio específico na proteína carregadora, por isso é altamente seletivo. Esse
transporte é mais comum para metabólitos orgânicos. A ligação gera uma mudança
na conformação da proteína, a qual expõe a substância ao outro lado da membrana.
O transporte termina quando o soluto dissocia-se da proteína. Esse transporte pode
ser ativo ou ocorrer por difusão facilitada. A difusão facilitada é um tipo de trans-
porte ativo secundário que acopla dois tipos de transporte: o de um soluto contra
seu gradiente concentração e o transporte de outro soluto a favor do seu gradiente
de concentração.
Existem dois tipos de transporte ativo secundário: o transporte simporte e o an-
tiporte. Transporte simporte ocorre quando duas substâncias movem-se na mesma
direção através da membrana. De outro modo, no transporte antiporte o movimento
acoplado a favor do gradiente de prótons impulsiona o transporte ativo de um soluto
na direção oposta. A força motriz para esse tipo de transporte é o gradiente de prótons.
Na maioria dos casos, a força motriz é mantida pelo gradiente eletroquímico de H+.
EXTERIOR DA CÉLULA
H+ A H+ B
Baixo Alto
Alto Baixo
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Gradiente de Gradiente de
potencial H+ A H+ B potencial
eletroquímico eletroquímico
do substrato A CITOPLASMA do substrato B
A- Simporte B- Antiporte
Figura 11. Exemplos de transporte ativo secundário acoplado ao gradiente primário de prótons. (A) No
simporte, a energia é dissipada por um próton que retorna ao interior da célula é acoplada absorção de
uma molécula de substrato (açúcar) para o interior da célula. ( ) No antiporte, a energia dissipada pelo
próton que retorna ao interior da célula é acoplada ao transporte ativo de um substrato (o íon sódio) para
fora da célula. Em ambos os casos, o substrato está movimentando contra o gradiente eletroquímico.
220
2.3 A Translocação dos solutos orgânicos
221
as partes da planta incapazes de suprir suas necessidades nutricionais, portanto, são
importadores de assimilados. O transporte entre essas duas regiões é priorizado pela
proximidade entre fonte e dreno, estágio de desenvolvimento e pela ocorrência de
conexões vasculares.
O transporte entre fonte e dreno ocorre com gasto de energia. Nas fontes, o trans-
porte é ativo para alocar os fotoassimilados para o interior dos elementos crivados,
processo conhecido como carregamento do floema, é realizado pelas células com-
panheiras. Nos drenos, o transporte ativo ocorre para o movimento dos fotoassimila-
dos dos elementos crivados para as células dreno (descarregamento do floema).
CO2
Células
Carregamento ativo Companheiras
Açúcar
Célula do mesófilo
Célula do parênquima do floema
Figura 1 . Os açúcares são produzidos pela fotossíntese e movimentam-se célula a célula pelo mesofilo,
passando pelos plasmodesmas até chegar s células de parênquima do floema, que são adjacentes aos
elementos crivados (condutores). Nesse local, a movimentação dos açúcares pode ocorrer via apoplasto
ou continuar pelo simplasto até chegar aos elementos condutores. Nesse local, a concentração de açú-
cares é maior, portanto, o potencial osmótico é menor e há transporte ativo do açúcar para o interior do
elemento crivado.
222
ELEMENTOS DE VASO DO XILEMA ELEMENTOS CRIVADOS DO FLOEMA
H2O Célula companheira
Célula fonte
O carregamento ativo
Ψ w = -0.8 MPa Ψ w = -1.1 MPa
dos elementos crivados
Ψ p = -0.7 MPa do floema decrescem o Ψ p = 0.6 MPa
Ψ s = -0.1 MPa potencial osmótico, a Ψ s = -1,7 MPa
água entra e aumenta
a pressão de turgor.
Sacarose
O fluxo de massa
da água e solutos
direcionado pela
pressão da fonte
ao dreno.
H2O
Corrente transpiratória
Célula dreno
H2O
Sacarose
Figura 1 . odelo do fluxo de pressão. Ao entrar no elemento crivado, o açúcar é responsável pela queda no
potencial osmótico, acentuando o gradiente de potencial hídrico existente entre o xilema e o floema. A água
move-se do xilema em direção ao floema, que ao receber a água, há o aumento no potencial de pressão. A
pressão positiva resulta no movimento da água com os açúcares e subst ncias dissolvidas pelo floema, da fonte
em direção ao dreno. Nas células dreno há a saída dos açúcares e da água dos elementos condutores do floema.
Questões
FISIOLOGIA VEGETAL
223
2. Qual a função das estrias de Caspary na endoderme e qual sua composição?
3. Qual a principal diferença entre transporte ativo e transporte passivo?
4. O que é gradiente eletroquímico?
5. Quais os tipos de transportadores de membrana?
6. Qual a diferença entre transporte simporte e transporte antiporte?
7. O que são células companheiras? Qual sua função?
8. Como ocorre o transporte no floema?
3. Nutrição mineral
Nutrição mineral é uma área da ciência que estuda como as plantas adquirem e utilizam os
nutrientes minerais. Nutrientes minerais são elementos obtidos principalmente na forma
inorgânica, e estão continuamente sendo reciclados entre os organismos e o ambiente.
Uma das principais fontes de elementos minerais para as plantas é o solo. O in-
temperismo das rochas fornece os elementos que a planta necessita, além da atuação
importante dos fungos e bactérias na decomposição da matéria orgânica que mantém
o ciclo dos componentes químicos no ambiente.
Estes elementos minerais são essenciais ao metabolismo vital da célula e ao
crescimento vegetal. Como as plantas são um dos principais grupos de organismos
capazes de usar a luz solar para fixar o carbono e o oxigênio em moléculas orgânicas,
elas são à base de toda a cadeia alimentar. Além do carbono, elas também são fontes de
aminoácidos e vitaminas, pois fixam os nutrientes minerais em moléculas orgânicas.
Você sabia?
Além das plantas as algas e as cianobactérias são organismos capazes de fixar o CO2
atmosférico e convertê-lo em compostos orgânicos.
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
224
3.1 Essencialidade dos nutrientes na planta
225
Zona de deificiência Zona adequada Zona tóxica
Crescimento ou rendimento
100
(porcentagem máxima)
50
0
Concentração crítica
Figura 14. Relação entre a produção (ou crescimento) e o conteúdo de nutrientes do tecido vegetal. A
produtividade pode ser expressa em termos de massa seca da parte aérea ou altura. rês regi es são
indicadas no gráfico deficiência, adequada e tóxica. Os dados foram obtidos em cultivo com diferentes
concentrações de um nutriente essencial, enquanto os outros foram supridos em quantidades adequadas.
A concentração crítica para o nutriente é a concentração abaixo do ponto em que a produtividade ou o
crescimento é reduzido.
Os elementos absorvidos pelas raízes são transportados à parte aérea através do xile-
ma. Nos elementos traqueais os íons podem ser transportados pela via metabólica
ou iônica.
Na via metabólica os íons são rapidamente incorporados em moléculas orgâni-
cas. Por exemplo, o Fe só é transportado quando incorporado em ácidos orgânicos;
o N nas formas de nitrato, amônio, amida e outros aminoácidos e o Cu ligado a
diversos aminoácidos.
Os elementos podem ser transportados quando há remobilização, ou seja, os
elementos já estão alocados em algum órgão vegetal, entretanto, devido a algum sinal
fisiológico, são transportados para outros órgãos junto com os fotoassimilados pelo
floema. Por exemplo, quando ocorre a deficiência de um nutriente nos ápices, através
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
226
outras. Como exemplo, o enxofre tem mobilidade variável nas diferentes espécies. Já o
Boro é móvel em todas as espécies que produzem o sorbitol, ou seja, sua mobilidade é
condicionada à produção do sorbitol.
a) Nitrogênio
O nitrogênio é o elemento requerido em maiores concentrações pelos vegetais.
Dos gases que compõem a atmosfera, 78% é Nitrogênio, contudo, a maioria dos seres
vivos não consegue utilizar diretamente o nitrogênio gasoso (N2). Para ser absorvido
Nitrogênio atmosférico
Compostos
nitrogenados
na chuva
Mineralização
Imobilização por bactérias (amonificação)
Nitrato e fungos
FISIOLOGIA VEGETAL
Amônio
Perda por lixiviação Nitrito
Figura 15. Ciclo do nitrogênio pela atmosfera. Este elemento muda da forma gasosa para íons reduzidos
antes de serem incorporados em compostos orgânicos nos organismos.
227
pelas plantas, o nitrogênio deve estar nas formas iônicas NO3- (nitrato) ou NH4+
(amônio) presentes no solo. Por isso, apesar da abundância de nitrogênio na atmos-
fera, muitas plantas sofrem com a escassez desse elemento. Ele tem alta mobilidade e
pode ser transportado tanto por via metabólica quanto iônica.
O ciclo biogeoquímico do nitrogênio envolve três processos: amonificação, nitri-
ficação e assimilação.
Amonificação: Nessa etapa, a matéria orgânica é depositada no solo e decom-
posta por bactérias saprófitas e vários fungos, liberando nitrogênio que é incorporado
em aminoácidos, ácido nucleicos. O excesso de nitrogênio é liberado sob a forma
de íons amônio (NH4+) pelo processo de amonificação. Nessa forma, as plantas
podem absorver o nitrogênio e incorporá-lo às moléculas orgânicas.
Nitrificação: É o processo de oxidação da amônia realizado por bactérias que
utilizam da energia liberada nesse processo para reduzir o dióxido de carbono.
A redução do carbono por esse processo é semelhante ao das plantas que utilizam da
luz solar. As bactérias que oxidam a amônia são conhecidas como quimiossinteti-
zantes e nitrificantes, pois oxidam o amônio a íons nitrato:
2 NO2- + O2 2 NO3-
O nitrato é outra forma iônica facilmente absorvida pelas plantas. Ele é móvel no
xilema e pode ser armazenado nos vacúolos das células das raízes e parte aérea. Antes
de ser assimilado o nitrato deve ser reduzido a amônio.
Desnitrificação: Alguns microrganismos são capazes de converter o nitrato a
formas voláteis de nitrogênio através de processos anaeróbicos, assim, esse elemento
retorna à atmosfera. A desnitrificação resulta em perda do nitrogênio disponível às
plantas. Fatores causados pelo homem como o desmatamento, erosão, queimadas e
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
228
Vocês devem estar se perguntando nesse momento: As plantas são capazes
de fixar o nitrogênio? A resposta é não. As plantas não possuem a enzima nitrogenase.
Outra dúvida que pode surgir é: Mas as plantas precisam de grandes quantidades
desse elemento, pois ele é um macronutriente, como elas adquirem esses elementos?
As plantas absorvem o amônio e o nitrato do solo. Esses íons são liberados pela
ação das bactérias de vida livre que ocorrem no solo. Outra maneira de ocorrer essa
aquisição desses elementos é com a associação simbiótica com microrganismos.
Essa associação pode ocorrer de maneira simples, sem ocorrer nodulação, quando as
bactérias (Azospirillum e Azotobacter) vivem na superfície das raízes; com bactérias
de vida livre (Azotobacter, Klebsiella, Rhodospirillum, etc.) que vivem na porção de solo
adjacente à raiz (rizosfera).
Outra maneira de associação que tem grande importância econômica é das
leguminosas com bactérias dos gêneros Rhizobium e Bradyrhizobium, comumente
denominadas de rizóbio. Nessa interação biológica, as bactérias suprem as plantas
com formas de nitrogênio que podem ser absorvidas, enquanto as plantas suprem
as bactérias com energia e com moléculas de carbono necessárias à produção de
compostos nitrogenados.
A associação leguminosas-rizóbio é altamente específica. A interação entre ambos
envolve uma troca específica de sinais moleculares que regulam a expressão de genes
essenciais para a infecção e o desenvolvimento dos nódulos nas raízes das plantas.
A B
Pêlo radicular
Rizóbios
Crescimento e enrolamento
C Vesícula de Golgi D
Canal de Infecção
Complexo de Golgi
Membrana do canal de infecção
fusiona-se com a membrana celular
E F
FISIOLOGIA VEGETAL
229
Essa interação envolve a excreção de compostos fenólicos pelas raízes das plantas, os
flavonoides, capazes de ativar a expressão de genes bacterianos, genes nod, responsá-
veis pelo processo de formação do nódulo. Como resposta, as bactérias produzem
proteínas denominadas lectinas, que são responsáveis por sua aderência à superfície
das células das raízes. O rizóbio se liga aos pelos radiculares em crescimento, que
se encurvam e aprisionam os rizóbios. Depois é formado o canal de infecção, que
é uma extensão tubular da membrana plasmática, formada pela fusão das vesículas
derivadas do complexo de Golgi. O canal de infecção propaga-se para a região corti-
cal da raiz, onde as células iniciam o processo de divisão para a formação do nódulo.
Os rizóbios são envolvidos por um envoltório derivado da membrana plasmática.
Quando aumentam de tamanho, perdem a parede celular, dividem-se e começam a
fixar o nitrogênio, são então chamados bacterioides.
As alterações morfológicas ocorridas criam um microambiente para o bom
funcionamento da nitrogenase, que somente é ativa em ambientes com baixas con-
centrações de O2. Por outro lado, a enzima utiliza grandes quantidades de ATP como
fonte de energia. O nódulo possui uma proteína denominada leg-hemoglobina
que é capaz de transportar o oxigênio necessário de maneira eficiente para as células
com alta atividade respiratória. Essa proteína é análoga à hemoglobina dos animais e
confere a coloração avermelhada ao nódulo.
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Figura 1 . Aspectos dos nódulos das raízes de leguminosas A macroscópico, - interior do nódulo ativo
com coloração avermelhada.
230
é esse processo que ocorre nos cloroplastos das folhas e está intimamente relacionado
à fotossíntese. Pode ocorrer também nos plastídios das raízes.
A via inicia-se com a incorporação do íon amônio ao glutamato pela ação da
enzima glutamina sintetase formando glutamina. Após essa reação, a enzima glutama-
to sintase transfere o grupo amida da glutamina para o α-cetoglutarato formando 2
moléculas de glutamato. A partir da formação de glutamina ou de glutamato, ocorrem
reações de transferência dos grupos amina, formando outros aminoácidos.
GLUTAMINA SINTASE
Fdx
ATP ADP + Pi (reduzida)
Glutamato
sintase
Fdx
(oxidada)
2 Glutamato
A partir do glutamato
outros aa podem ser
formados
Figura 1 . ota resumida da incorporação do nitrogênio em compostos org nicos com consumo de A
e ferrodoxina reduzida (fdx), pela ação da glutamina sintase-glutamato sintase
b) Enxofre
FISIOLOGIA VEGETAL
231
Como o enxofre é componente de aminoácidos, consequentemente é constituinte
de proteínas.
Alguns dos sintomas de deficiência do enxofre são similares ao do nitrogênio,
como a clorose e redução do crescimento. Níveis baixos de enxofre causam o acú-
mulo de antocianinas, pigmentos hidrossolúveis presentes no vacúolo. O enxofre
não é remobilizado com facilidade das folhas velhas, por isso, a clorose pode iniciar
em folhas jovens ou maduras, ou ocorrer simultaneamente em todas as folhas.
a) Fósforo
O fósforo sob a forma de fosfato (PO43-) é constituinte de compostos im-
portantes, como os fosfolipídios de membranas, nucleotídeos energéticos como
o ATP, no DNA e RNA e os açúcares fosfato (intermediários da respiração e
fotossíntese). Quando há deficiência de fósforo no solo as plantas jovens têm cres-
cimento reduzido, as folhas adquirem coloração verde escuras, manchas necróticas e
são malformadas.
b) Boro
A função do boro ainda está sendo investigada, mas existem fortes evidências
que ele está envolvido no alongamento celular, síntese de ácidos nucleicos, respostas
hormonais e funcionamento de membranas. O sintoma mais comum de deficiência
é a necrose preta de folhas jovens e gemas terminais; caules rígidos e quebradiços; e
desintegração de tecidos internos em frutos, raízes carnosas e tubérculos.
a ) Potássio
O potássio é um elemento com alta mobilidade no vegetal e não é incorporado
às moléculas orgânicas. É importante na regulação osmótica, no balanço de cargas
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
elétricas nas células, nas relações hídricas, abertura e fechamento dos estômatos, no
alongamento celular, na ativação enzimática e no transporte de açúcares no floema.
Quando não há quantidade suficiente de potássio para as plantas, ocorrem clo-
roses em manchas nas margens das folhas, que evoluem para necrose primeiramente
em folhas mais velhas. Os caules se tornam fracos devido à perda de turgor. Devido à
redução do crescimento celular, as regiões dos entrenós apresentam-se curtas. Outra
consequência da deficiência de potássio é que em plantas de milho ficam mais susce-
tíveis a doenças como os fungos que causam podridão.
232
b ) Cálcio
O cálcio é absorvido por transporte passivo principalmente na forma bivalente
(Ca2+). Esse elemento participa ativamente da síntese de novas paredes celulares, em
particular na lamela média, a camada responsável pela adesão de células adjacentes.
Outra importante função do cálcio é como mensageiro secundário, contribuindo
para o bom funcionamento das membranas.
Na deficiência do cálcio, as plantas apresentam necrose dos ápices e de outras re-
giões meristemáticas (jovens). Podem aparecer folhas deformadas e sistema radicular
curto e altamente ramificado.
c ) Magnésio
O magnésio é absorvido na forma iônica (Mg2+). É bastante móvel tanto no
floema quanto no xilema na forma iônica. Porém, sua absorção pode ser inibida por
outros cátions presentes no solo como o potássio, o nitrato, o cálcio e o manganês.
O magnésio é um elemento estrutural importante da molécula de clorofila, além
de atuar na ativação de enzimas da fotossíntese, respiração e síntese de ácidos nucleicos.
A deficiência em magnésio é percebida pela clorose entre as nervuras foliares,
primeiramente das folhas mais velhas, ocorrendo abscisão foliar prematura.
d ) Cloro
É absorvido como íon cloreto (Cl- ), sendo bastante móvel no interior do vegetal.
O cloro é um micronutriente, cuja demanda geralmente é menor que sua disponibili-
dade no solo. Geralmente, a maioria das plantas absorve cloro em maior quantidade
do que o necessário ao desenvolvimento normal e o armazena no vacúolo das células.
É um elemento essencial à fotólise da água durante a fotossíntese. Além disso,
participa na regulação osmótica das células e na compensação de cargas para o trans-
porte de cátions pela membrana.
Por ser importante na regulação osmótica, sua deficiência acarreta a murcha dos
ápices foliares, seguida por clorose e necrose; crescimento reduzido, raízes curtas e
grossas por diminuição na divisão celular.
e) Manganês
É absorvido na forma iônica (Mn2+). Esse elemento pode ser rapidamente
oxidado para Mn3+, Mn4+ e Mn6+, por isso, é um forte oxirredutor. Essa característica
possibilita sua atuação no processo de fotólise de água que ocorre na fotossíntese
para a formação de O2. Outra importante função do manganês é a ativação de várias
FISIOLOGIA VEGETAL
233
3.3.4 Elementos envolvidos em reações de oxirredução
a ) Ferro
O ferro é necessário para a síntese dos complexos clorofila-proteína dos cloro-
plastos. Esses complexos são componentes importantes das enzimas envolvidas na
transferência de elétrons, sendo reversivelmente oxidado de Fe2+ a Fe3+. Veremos
exemplo da atuação do ferro na aula sobre fotossíntese.
Os principais sintomas de sua deficiência são: clorose entre as nervuras das
folhas jovens.
b ) Zinco
É absorvido na forma catiônica (Zn2+). Muitas enzimas requerem íons zinco
para suas atividades, como as enzimas da via de síntese da clorofila. O zinco está
relacionado à biossíntese do fitormônio o ácido indol acético (AIA), que atua no
alongamento celular.
Os sintomas da deficiência do zinco são: redução no crescimento dos entrenós,
folhas cloróticas, pequenas e retorcidas com as margens enrugadas.
c ) Cobre
É um elemento de transição semelhante ao ferro, pois participa de importantes
processos de oxirredução. Sua deficiência causa nas plantas produção de folhas verde-
-escuro com manhas necróticas nas folhas jovens. Ocorrem também folhas retorcidas
ou malformadas.
d ) Níquel
É absorvido principalmente na forma Ni2+, mas pode ocorrer nos organismos
vegetais nas formas Ni+ e Ni3+. Forma um complexo estável com aminoácidos e ácidos
orgânicos. A urease é a única enzima conhecida atualmente que contém níquel em sua
estrutura, por isso, plantas deficientes neste nutriente apresentam acúmulo de ureia
em suas folhas com consequente necrose nos ápices foliares.
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
e ) Molibdênio
A exigência do molibdênio pelas plantas é muito pequena quando comparado
com os outros micronutrientes. Ele é um elemento de transição, ocorre na forma
ânion molibdato, em geral no estado mais elevado de oxidação (Mo6+), mas pode
ocorrer também nas formas Mo5+ e Mo4+. É um elemento componente de várias
enzimas, como a redutase do nitrato e a nitrogenase, importantes na assimilação
do nitrogênio.
Os sintomas da deficiência em Mo envolvem clorose e necrose nas folhas mais ve-
lhas. Em alguns casos, há má formação das flores ou abscisão destas prematuramente.
234
Como o Mo está envolvido na fixação do nitrogênio, plantas deficientes em Mo
apresentam deficiência em nitrogênio.
Anteriormente, nessa unidade, verificamos que a associação das raízes das plantas
com microrganismos é comum, como o caso das bactérias simbiontes para fixação no
nitrogênio. Essas associações são importantes para melhorar a absorção dos nutrientes
pelas plantas. A maioria das plantas estabelecidas em solos possui raízes associadas a
FISIOLOGIA VEGETAL
235
que são imóveis no solo. O nutriente move-se das hifas paras as raízes através de difu-
são simples na maioria dos casos.
Epiderme
Rede de harting
Xilema
Floema
Bainha fúngica
Cortéx
Clamidósporo
reprodutivo
Epiderme
Arbúsculo
Endoderme
Vesícula
Pêlo radicular
Raiz
As micorrizas ectotróficas são aquelas em que o micélio forma uma rede externa-
mente às células da raiz e algumas hifas penetram na região cortical e crescem ao redor
das células, formando a rede de Hartig, sem penetrar em seu interior. Já nas micorrizas
vesículo arbusculares o micélio cresce na superfície da raiz, entretanto sem formar
236
uma rede densa. As hifas penetram nas células epidérmicas e também nas corticais. No
interior dessas células, formam estruturas globulares, as vesículas, ou então estruturas
ramificadas, denominadas arbúsculos, locais tidos como os sítios de transferência de
nutrientes entre planta e fungo.
3.6 Resumo
Questões
237
Além disso, durante o processo fotossintético as plantas absorvem CO2 e liberam
O2, importante para a respiração celular dos organismos aeróbicos para obtenção
de energia.
A fotossíntese inicia-se com a absorção da energia luminosa e sua conversão em
energia química. Sem esse fluxo de energia solar, canalizado pelas membranas do
cloroplasto, o ritmo da vida na Terra seria drasticamente reduzido. Esse primeiro
processo é conhecido como fase clara, fase dependente de luz, fase fotoquímica ou
reações de transdução de energia, no qual a energia solar é transformada em energia
química, ocorre quebra da molécula de água, liberação de oxigênio e formação de
moléculas energéticas que sustentarão a outra fase. A fase de fixação do carbono, ou
fase de oxirredução, consiste na fixação do dióxido de carbono em moléculas orgâ-
nicas com a liberação de trioses-fosfato, que serão utilizadas para formar glicose e
outras moléculas.
O que é a luz?
A luz que aos nossos olhos é branca, na verdade é um conjunto de cores, que
varia entre o violeta e o verde. Isso pode ser demonstrado ao se incidir um feixe de luz
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
branca contra um prisma. Ou então quando observamos o arco íris durante a chuva.
O resultado é a refração da luz, separando em várias cores.
O sol é a principal fonte de ondas eletromagnéticas que incidem na Terra, dentre
elas a luz, que tem simultaneamente propriedade de ondas e partículas. Por isso é
importante que vocês conheçam as características das ondas. Elas são compostas
pelo comprimento de onda (λ), que é definido como a distância entre as cristas
sucessivas. A frequência de uma onda (v) é o número de cristas que passam em um
determinado ponto por um tempo definido.
238
λ - lambda
Comprimento de onda
crista
amplitude
vale
Cor
VERMELHO ~ 652 - 740de
Comprimento nmonda
VERMELHO
LARANJA 652 - 625
~ 590 740 nm
LARANJA
AMARELO ~
~ 590
565 -- 625
590 nm
nm
AMARELO
VERDE 565 - 565
~ 500 590 nm
VERDE
CIANO ~
~ 500
485 -- 565
500 nm
nm
CIANO
AZUL ~ 440
~ 485 -- 485
500 nm
nm
AZUL
VIOLETA ~
~ 440
380 -- 485
440 nm
nm
Figura
400 21. Região do visível do espectro
500 eletromagnético. 600 700
A velocidade de uma onda, neste caso a velocidade da luz (c), está relacionada ao
comprimento e à frequência pela seguinte equação:
c= λ v
FISIOLOGIA VEGETAL
A luz também tem propriedade de partícula, denominada fóton. Cada fóton tem
uma quantidade definida de energia denominada quantum. A energia de um fóton
(E) depende da frequência (v) da luz, numa relação estabelecida pela Lei de Planck:
239
E=hv
h corresponde à constante de Planck (6,626 × 10–34 J s)
2. Perder calor: ao retornar ao estado basal perde calor, entretanto sem a emissão
de fóton.
3. Transferir energia por ressonância: ocorre quando a energia, e não o elétron, é
transferida da molécula de clorofila excitada para uma molécula vizinha. A molécula
que transfere energia volta ao seu estado basal (normal de excitação).
4. Participar de reações fotoquímicas: ao invés de retornar ao estado basal, o
elétron que está muito energizado pode ser transferido para uma molécula receptora
que faz parte de uma cadeia de transporte de elétrons.
240
A B
500
Comprimento de onda λ
PERDA DE CALOR
Absorção de luz azul
600
Energia Estado de excitação mais baixa
Vermelho
700
Fluorescência
luz vermelha
Absorção de
Fluorescência
(perda de energia pela 800
emissão de luz de Absorção
λ mais longos)
900
Estado basal (Estado baixo de energia)
Figura . Absorção e emissão da luz pela clorofila. (A) Diagrama do nível energético. A absorção e a emissão
da luz são indicadas pelas linhas verticais que conectam o estado basal aos estados excitados do elétron. A
absorção nas regi es do azul e vermelho pela clorofila corresponde s setas verticais direcionadas para cima,
significando que a energia absorvida pela luz resulta na mudança da molécula de clorofila do estado basal
para o excitado. A seta direcionada para baixo indica a fluorescência, na qual a molécula retorna do estado
menos excitado para o estado basal enquanto reemite a energia como um fóton. ( ) Espectro de absorção
e fluorescência. A banda de absorção do maior comprimento de onda (vermelho) da clorofila corresponde
luz que tem a energia necessária para causar a transição do estado basal ao menor nível de excitação. A
banda de absorção do menor comprimento de onda (azul) corresponde transição ao estado mais excitado.
Pigmentos fotossintetizantes
Além da clorofila, vários outros pigmentos presentes nas membranas dos cloro-
plastos participam do processo da fotossíntese. As clorofilas são os pigmentos típicos
dos organismos fotossintetizantes. Existem variados tipos que diferem entre si por sua
estrutura molecular e propriedades específicas de absorção. As clorofilas a e b ocorrem
em todas as plantas verdes e cianobactérias, as clorofilas c e d, ocorrem em protistas,
cianobactérias e algas pardas.
Todas elas possuem uma complexa estrutura em anel e uma longa cauda de hidro-
carbonetos. A cauda liga a clorofila à porção hidrofóbica da membrana dos plastídios
enquanto a porção em anel é a parte envolvida na transição de elétrons e nas reações
da fotossíntese.
A clorofila a é a responsável pela transferência de elétrons a uma molécula recep-
tora para as reações fotoquímicas, ela também é essencial para a quebra da molécula
FISIOLOGIA VEGETAL
241
Outros pigmentos estão envolvidos nessa captura de energia luminosa: os caro-
tenoides. Eles são pigmentos acessórios com a mesma função da clorofila b: ampliar
a faixa de absorção de energia e transferir essa energia às moléculas de clorofila a.
São moléculas lineares que absorvem luz no comprimento de onda de 400 a 500
nm e refletem a coloração alaranjada. São encontrados em todos os organismos
fotossintetizantes.
H CH2
C H CH3 CHO
C 2H 5
H3 C A B C2 H 5 B
N N
H Mg H
H3 C N N
CH3 Clorofila b
D C
H
H E
CH 2 H
O
CH 2 COOCH 3
O C
CH2
CH
C CH3
(C H)3
HC CH3
(C2 H)3
HC CH3
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
(C2 H)3
CH
Figura . Estrutura da molécula de clorofila. Observe a cauda, que é o local de inserção da molécula na
membrana interna do cloroplasto. O anel possui um átomo de agnésio no centro, além de Nitrogênio.
Observe que a diferença entre clorofila a e b é apenas o grupamento do anel que está em destaque.
242
Os pigmentos atuam em conjunto para a captação da energia luminosa
Centro
de reação
e- Doador
Complexo antena
Figura 24. Conceito básico de transferência de energia durante a fotossíntese. Muitos pigmentos juntos
servem como uma antena, coletando a luz e transferindo sua energia ao centro de reação, onde as reações
químicas armazenam alguma energia pela transferência de elétrons do pigmento de clorofila a uma mo-
lécula aceptora. m doador de elétrons então reduz novamente a clorofila. A transferência de energia na
antena é puramente um fenômeno físico e não envolve mudanças químicas.
Essa etapa ocorre nas membranas dos tilacoides. A energia luminosa é utilizada para
FISIOLOGIA VEGETAL
243
Oxidação: remoção de elétrons ou de átomos de hidrogênio (próton + elétron)
ou, ainda, a adição de oxigênio.
-2.0
P700
A0
A1
-1.5 FeS x
FeS
A
FeS
B
-1.0 Fd
FNR
P680
-0.5 +
Feo Complexo citocromo b6 f NADP
QA
0 Cit b
NADPH
H2O Q
B
Q Cit b
Luz
FeSR Cit f
0.5
Complexo de PC
formação de P700
1.0 oxigênio
YZ Luz
+
O2 + H P680
1.5
Fotossistema II Fotossistema I
Figura . Esquema das reaç es de oxirredução que ocorrem nas membranas dos tilacóides no cloro-
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
plasto. As subst ncias estão organizadas de acordo com o potencial de oxirredução e incluem os dois
fotossistemas e . Ao final, os elétrons são recebidos pelo NAD , formando NAD .
244
A energia luminosa incide sobre o FSII, que transfere a energia até o par de
clorofilas no centro de reação. Quando uma das clorofilas é excitada, ela transfere o
elétron em alto nível energético para uma molécula receptora. A clorofila fica com um
elétron a menos, em um estado denominado oxidado. Para retornar ao seu estado de
equilíbrio, é necessária a extração de elétrons da molécula de água, com a consequente
liberação do oxigênio.
2H2O → 4e- + 4 H+ + O2
Assim, para cada O2 liberado o centro de reação do FSII precisa ser excitado quatro
vezes. A fotólise da água ou também denominada fotoxidação da água é catalisada
pelo complexo de evolução do oxigênio (CEO). Localizado nas membranas do tila-
coides, voltados para o lúmen onde os prótons são liberados. Desta forma, a fotólise
da água gera um gradiente de prótons que será a força motriz para a formação do ATP
pelo processo conhecido como fosforilação.
+
Estroma (baixo H )
ADP + P1
ATP
+ + +
NADP + H H
LUZ LUZ NADPH
+ Baixo
H
FNR ATP
Fd Sintase
P700
P680 Citocromo
b6f PSI
PSII PQ
PQH2
e- e- e-
Plastoquinona PC +
H Alto
+ +
H 2O O2 + H H Plastocianina
Gradiente
Oxidação da água de potencial
eletroquímico
+
Lume (alto H )
Figura . Detalhes da transferência de elétrons que ocorrem nas membranas dos tilacóides. Além da redu-
ção do NAD , o gradiente de potencial eletroquímico estabelecido entre o interior do tilacóide e o estroma
é a força motriz para a ação da A sintase que resulta na formação de A (fotofosforilação cíclica).
recebe os elétrons e os transferem para o citocromo b6f, quando isso acontece a plas-
toquinona libera 2 prótons (H+) para o lúmen do tilacoide. A plastocianina recebe
os elétrons do Cit b6 e os transfere ao FSI, que transfere para a ferrodoxina, que os
transfere ao NADP+ reduzindo-o a NADPH2.
245
Os prótons liberados no lúmen, tanto da fotólise da água quanto pela plastoquino-
na, alteram o pH e o gradiente de prótons através da membrana. Como as membranas
são pouco permeáveis ao H+, os prótons precisam fluir através da ATP sintase. O fluxo
de H+ através da ATP sintase ocorre a favor do gradiente de concentração e resultam
em mudanças na conformação da proteína carregadora necessária à síntese do ATP.
Este fluxo unidirecional dos elétrons da água para o NADP+, acoplado à formação
de ATP, é chamado fluxo acíclico de elétrons, e a produção de ATP denominada
fosforilação acíclica.
Conforme visto na Figura 26, os fotossistemas não estão unidos fisicamente e
transportam os elétrons de maneira independente. Entre eles há diferentes carre-
adores de elétrons. Quando um fóton incide no FSII, seus elétrons são transferidos
à ferrodoxina, que retorna os elétrons a plastoquinona através do complexo Cit b6f.
Quando ocorre esse processo há formação de ATP como consequência da oxidação
da plastoquinona que libera os elétrons e H+. Contudo, a ausência da fotólise da água
resulta em redução da produção de ATP. Esse fluxo de elétrons é conhecido como
cíclico, e a produção de ATP como fotofosforilação cíclica.
A fotofosforilação cíclica e a fotofosforilação acíclica podem ocorrer de modo
cooperativo para manter o equilíbrio do sistema fotoquímico, principalmente quando
há excesso de energia radiante. A fotofosforilação cíclica é menos energética, pois gera
menor quantidade de ATP, constituindo um mecanismo de dissipação de energia.
Pode ser importante também quando há redução no nível de CO2 e alta radiação solar,
características de ambientes com baixa disponibilidade de água.
O carbono disponível para as plantas está na atmosfera na forma de CO2. Ele entra
nas folhas através do ostíolo dos estômatos durante a transpiração. O CO2 entra
nos cloroplastos das células dos tecidos fotossintetizantes (parênquima paliçádico e
lacunoso) por difusão simples. Entretanto, para que esse carbono seja convertido em
compostos orgânicos é necessária a utilização do ATP e do NADPH2 formados na
fase fotoquímica. Essa fase também é denominada fase de carboxilação.
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
246
Ribulose 1,5
bisfosfato Início do ciclo
ADP CO2 + H2O
CARBOXILAÇÃO
REGENERAÇÃO 3 - fosfoglicerato
ATP
+
ATP REDUÇÃO
NADPH
Gliceraldeído - 3
fosfato
ADP + Pi NADP+
sacarose, amido
Figura . O ciclo de alvin ocorre em três estágios (1) carboxilação quando o O2 é covalentemente
ligado ao carbono de esqueleto ( ) redução, quando os carboidratos são formados utilizando o A e o
NAD gerados pela primeira fase ( ) regeneração quando o aceptor de O2 é formado novamente.
4.2.1 Carboxilação
CARBOXILAÇÃO HIDRÓLISE
1
CH2OPO3 2-
1
CH2OPO3 2- *CO2 1
CH2OPO3 2-
H2 O Superior
H 2
C *CO2 -
2
C O HO 2
C *CO2 -
OH
3 3
H C OH C O +
CO2-
3
H
4
C OH 4 Inferior
H C OH
4
H C OH
5 5
CH2OPO3 2- CH2OPO3 2-
5
CH2OPO3 2-
Figura eaç es de carboxilação e formação de um composto instável que se hidrolisa e gera duas
moléculas de 3-fosfoglicerato.
247
A enzima responsável pela carboxilação, ou seja, a incorporação do CO2 a uma
molécula orgânica, é a ribulose bifosfato caboxilase e oxigenase, também conhecida
como RUBISCO. Essa enzima tem atividade tanto carboxilase (incorpora o CO2 à
molécula orgânica), quanto oxigenase (incorpora O2 à molécula orgânica). Por isso,
o O2 compete pelo sítio ativo com o CO2. A RUBISCO incorpora o CO2 ao carbono
2 da ribulose-1,5-bifosfato (uma molécula com 5 carbonos). O resultado dessa incor-
poração é um composto com 6 carbonos, porém instável, que depois é hidrolisado até
formar duas moléculas de 3-fosfoglicerato (3-PG) que vai para a outra etapa do ciclo,
a da redução.
4.2.2 Redução
O OP + +
6 ATP 6 ADP
+
C 6H 6 Pl
H C OH Triose fosfato
Fosfoglicerato quinase Gliceraldeído
CH2OP 3 - fosfato
desidrogenase
1,3 - bisfosfoglicerato
O H
C
H C OH
CH2OP
Gliceraldeído
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
3 - fosfato
Figura 29. Fase da redução com a formação de trioses fosfato, que são substrato para a formação de
outros carboidratos.
4.2.3 Regeneração
248
que duas moléculas de gliceraldeído-3-fosfato sejam utilizadas para a regeneração
da RUBP.
Cada vez que uma molécula de CO2 é incorporada no ciclo, apenas um carbono
é fixado. Para que haja um saldo positivo de uma molécula de triose-fosfato (3 carbo-
nos) é necessário que 3 moléculas de CO2 sejam incorporadas no ciclo.
Agora podemos destacar os principais resultados do ciclo C3
Para 3 moléculas de CO2 que entram no ciclo:
6 Gliceraldeído-3-fosfato (18 carbonos) formados
3 aceptores (15 carbonos) regenerados
1 Triose-fosfato é liberada para a síntese de açúcares.
CITOPLASMA
CO 2 Cloroplasto
triose - P C3 C6 C 12
Glicose 1 - P UDPG
FISIOLOGIA VEGETAL
UTP PP i Pirofosfato
Figura 30. Formação de carboidratos a partir das trioses fosfato geradas no cloroplasto.
249
A sacarose é um dissacarídeo que é a forma mais adequada para o transporte de
carbono para os tecidos da planta que consomem carboidratos. Nesses tecidos, ela
poderá ser hidrolisada para liberar a energia contida em suas ligações ou passar por
processos metabólicos que envolverão síntese de outras moléculas orgânicas.
A fase bioquímica ocorre durante todo o tempo?
O ciclo Cavin-Benson só ocorre na presença de luz, pois no escuro a RUBISCO está
em um estado inativo. No início do período de iluminação, as trioses-fosfato formadas
continuam no ciclo para possibilitar a concentração ideal de carboidratos. Depois que a
fotossíntese atinge seu ponto de equilíbrio e os redutores formados na fase fotoquímica
são suficientes para manter o ciclo, as trioses começam a ser exportadas. Esse período de
indução é importante para ativação das enzimas e produção dos intermediários do ciclo.
4.2.4 Ciclo C2
específicas, as catalases, que degradam os peróxidos, e assim as células não sofrem os efeitos
tóxicos dessa molécula. O glioxilato recebe um grupo amino, provavelmente do aminoá-
cido glutamato (reação de transaminação) e o produto dessa reação é o aminoácido glicina.
A glicina deixa o peroxissomo e entra na mitocôndria, onde duas moléculas de
glicina são convertidas à serina, NH4+, CO2 e NADH. A serina deixa a mitocôndria e
entra no peroxissomo, onde é convertida em hidroxipiruvato e depois em glicerato,
que finalmente retorna ao cloroplasto, é fosforilado e pode ser inserido no ciclo C3.
Desta forma, a cada duas moléculas de 2-fosfoglicolato que entram no ciclo C2, um
3-fosfoglicerato e um CO2 são liberados.
250
CLOROPLASTO
Fd
3 PGA Ciclo de 2 RuBP ATP
ATP Calvin
C6
C2
2 O2
GA glicolato 2 fosfato NH 2
C2
C6
2 glicolato amino ácido
NH2C6
2H2O
2 O2 O2
2H2O2
glicerato C2
PEROXISSOMA NH 2
serina
CO2
NH2C2
MITOCÔNDRIA
251
O balanço entre o Ciclo C3 e o C2 é determinado pela concentração de CO2, O2 e
pela temperatura. Embora a RUBISCO tenha mais afinidade pelo dióxido de carbono
do que pelo oxigênio (3:1), em condições de alta temperatura, a concentração de
dióxido de carbono decresce mais rapidamente do que a de oxigênio. O que resulta
em aumento na fotorrespiração em relação à fotossíntese.
Diante das desvantagens observadas, por que a fotorrespiração persistiu no me-
tabolismo vegetal? Muitas opiniões foram levantadas, mas ainda geram discussões
e polêmicas. A atmosfera inicial era rica em dióxido de carbono e pobre em oxigênio.
Ao longo dos milhares de anos com a ocorrência da fotossíntese, a concentração de oxi-
gênio aumentou. Mesmo assim, a fotorrespiração persiste nos vegetais. A fotorrespiração
consegue recuperar parte do carbono perdido pela função oxigenase da RUBISCO e,
além disso, a operação combinada dos dois ciclos aumenta o consumo energético.
Essa alta demanda energética é importante em situações em que há alta inci-
dência luminosa e déficit hídrico. Nestas circunstâncias, os estômatos estão com o
ostíolo mais fechado para impedir a perda de água por transpiração, e a concentra-
ção interna de CO2 diminui o que reduz a carboxilação (ciclo C3). Nestas circuns-
tâncias, a etapa fotoquímica não para formando continuamente ATP e NADPH 2 ,
cujo excesso pode ser prejudicial à planta. Por ter uma demanda energética maior e
ser favorecida pela redução da concentração de carbono interno, a fotorrespiração é
um importante mecanismo para dissipar o excesso de energia.
Nas plantas C3, a fotossíntese só é iniciada depois do período de indução pela luz, até atingir
um equilíbrio e uma taxa fotossintética ótima. Em alguns casos, entretanto, as plantas po-
dem estar expostas à incidência luminosa acima do ponto de equilíbrio para a fixação de
carbono. A alta luminosidade é característica de ambientes abertos como o cerrado, as regi-
ões desérticas e também as regiões de elevada altitude, nesses casos ocorre a Fotoinibição.
Para compreender a fotoinibição basta lembrar que a cadeia transportadora de
elétrons que forma o ATP e o NADPH ocorre nas membranas do cloroplasto. O
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fóton de luz que incide no centro de reação excita a clorofila que perde elétrons para
moléculas receptoras. Os produtos dessa etapa são as moléculas altamente energéti-
cas, que sustentam o metabolismo de fixação do carbono.
A fotossíntese aumenta de acordo com a intensidade luminosa até atingir o
equilíbrio, mesmo porque chega um momento do dia que a difusão de CO2 na folha
não aumenta mais. Nesse ponto, a fase de fixação do carbono é limitada, mas a etapa
fotoquímica não, muito pelo contrário, ela continua aumentando em resposta ao
aumento da incidência luminosa. Entretanto, os excessos de ATP e NADPH podem
252
contribuir para formação de compostos tóxicos, como superóxido (O*) e peróxido
de hidrogênio (H2O2), que danificam as membranas biológicas. Se a demanda por
ATP e NADPH não aumenta, não tem como reciclar esses redutores para voltar a
receber os elétrons que saem da clorofila. Isso resulta em desnaturação proteica do
complexo antena, que fica desativado, ou seja, fotoinibido. Estresse por temperatura
também pode causar desnaturação proteica das membranas.
Se o dano for reparado, a planta pode realizar a fotossíntese com a mesma efici-
ência. É comum ocorrer fotoinibição próximo ao meio dia por causa da intensidade
luminosa elevada. Mas, em alguns casos, ela pode ser crônica. Por exemplo, em situ-
ações de seca em que a planta reduz a abertura estomática e, consequentemente, a
concentração de CO2 interno.
As próprias plantas possuem mecanismos de proteção contra a fotoinibição, que
incluem os carotenoides, presentes nos complexos antena, e a fotorrespiração que
dissipa o excesso de redutores.
• Fotossíntese C4
• Metabolismo ácido das crassuláceas
253
Figura 32. Folha de Pectis brevifolia evidenciando a anatomia ranz. Ep epiderme, p bainha perivascu-
lar, e esofilo em disposição radiada. Foto
4.3.2 Ciclo C4
A enzima PEPcarboxilase, está presente nas células do mesofilo. Ela utiliza o carbo-
no na forma de bicarbonato, pois o dióxido de carbono quando está dissolvido forma
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
254
Na bainha vascular os ácidos C4 são descarboxilados gerando CO2 + piruvato +
NADPH. O CO2 é então reduzido pelo ciclo de Calvin, visto que a RUBISCO está
presente nas células da bainha, resultando na produção de trioses fosfato.
Desse modo, a concentração de CO2 nas células da bainha pode ser dez vezes
maior do que a concentração de CO2 atmosférico. O piruvato gerado pela descarboxi-
lação volta ao mesofilo e participa da regeneração do PEP, o aceptor de CO2. Observe
que nas plantas com esse metabolismo fotossintético, os ciclos C3 e C4 ocorrem de
forma coordenada. A separação é anatômica e a regulação ocorre por enzimas chaves
que também são ativadas pela luz.
As plantas C4 necessitam de altas temperaturas e alta incidência luminosa para
geração de ATP e NADPH, pois o custo energético da concentração de carbono
interno é elevado. Além disso, a alta afinidade da PEPcarboxilase pelo bicarbonato fa-
vorece que os estômatos fiquem abertos por pouco tempo, assim a planta pode utilizar
a água de maneira mais eficiente. Outra vantagem é que a concentração de dióxido
de carbono nas células da bainha suprime a fotorrespiração, e assim, o desperdício de
carbono. Estas características permitem que as plantas C4 sejam mais eficientes em
altas temperaturas e ambientes secos.
Piruvato C3 Piruvato C3
ATP
Ciclo
PGA de Calvin
PEP C 3
CO 2 CO2 RuBP
PEP
carboxilase
OAA C4
Apesar do nome, o metabolismo ácido das crassuláceas (MAC) não está restrito às
espécies da família Crassulaceae. Os cactos e muitas espécies denominadas suculentas
255
são plantas MAC, como o abacaxi, baunilha e agave. Esse mecanismo surgiu em res-
posta à aridez de ambientes terrestres e à limitação de CO2.
O metabolismo MAC é muito semelhante ao metabolismo C4. Nas plantas
C4 ocorre uma separação espacial entre a carboxilação dos ácidos C4 no mesofilo e
atuação do ciclo de Calvin-Benson na bainha vascular, enquanto nas plantas MAC a
separação é temporal. Os estômatos dessas plantas abrem-se apenas a noite, permitin-
do a redução da transpiração.
O processo inicia-se a noite, quando os estômatos estão abertos e o CO2 é incor-
porado ao PEP no citosol, pela enzima PEP carboxilase, formando malato que, então,
é armazenado no vacúolo. Durante o dia, o malato é transportado para o cloroplasto
e descarboxilado liberando CO2, que será incorporado à RUBP pela RUBISCO no
ciclo Calvin-Benson, resultando na formação das trioses fosfato.
Escuro: estômatos abertos Luz: estômatos fechados
- Pi
HCO3
+
PEP-carboxilase NADP
enzima málica
Oxaloacetato CO2 Malato Ácido málico
Fosfoenolpiruvato
+
NADH NAD malato Piruvato
Ciclo
NAD+ Desidrogenase
de Calvin
Triose Vacúolo
fosfato Malato Amido
Figura 34. Esquema do metabolismo ácido das crassuláceas, mostrando a separação temporal das vias
metabólicas. noite os estômatos estão abertos e corre a captação do O2 e armazenamento de ácido
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málico no vacúolo. Durante o dia, o ácido málico deixa o vacúolo e em direção aos cloroplastos é descar-
boxilado e fornece O2 para o ciclo de Calvin.
256
Devido ao acúmulo noturno dos ácidos C4, as plantas com metabolismo MAC,
seus vacúolos tornam-se ácidos à noite. Essa acidez é reduzida com a descarboxilação
do ácido durante o dia.
A vantagem dessa separação temporal no metabolismo MAC é que os estômatos
ficam abertos durante a noite e absorvem o CO2 atmosférico, fechando durante o dia,
quando a transpiração seria maior devido aos aumentos da temperatura, redução da
umidade relativa do ar e incidência solar. O fechamento dos estômatos durante o dia
reduz a perda de água. Contudo, esse ajuste temporal entre a absorção noturna e a
fixação diurna pode limitar o crescimento do vegetal.
4.4.1 Respiração
A respiração é vital para todos os organismos vivos. Através dela a célula que-
bra as moléculas de carbono e produz energia para sua manutenção. Enquanto na
257
fotossíntese há formação de carboidratos pela incorporação do CO2 , na respiração
há o consumo desses carboidratos para a obtenção de energia (ATP) com a libera-
ção de CO2. Portanto, respiração e fotossíntese são processos complementares.
FOTOSSÍNTESE RESPIRAÇÃO
Sacarose Amido
Hexose
Glicose fosfato
ATP NADH
Ciclo de CTE Cadeia de transporte
Krebs de elétrons
FADH2
Lipídeos AcCoA
CO2 ATP
Figura . Esquema resumindo a respiração em plantas. O processo é constituído (1) pela glicólise, que ocorre
no citossol e degrada os produtos originados pela fotossíntese, como as trioses fosfato; (2) pelo ciclo de krebs
que também ocorre no citossol e gera ácidos orgânicos e substratos para a (3) cadeia de transporte de elétrons,
que ocorre na mitocôndria. As plantas também podem oxidar esses produtos pela via das pentoses fosfato.
258
No esquema acima, recorde todo o processo de respiração que você deve ter
aprendido na disciplina de bioquímica.
Ao todo, o processo chega a gerar 38 moléculas de ATP.
Questões
259
6. Quais as fases do ciclo Calvin-Benson e seus principais produtos?
7. Quais organelas estão envolvidas no processo de fotorrespiração?
8. Por que a fotorrespiração acontece? Qual é a importância desse processo?
9. Quais são as vantagens do metabolismo C4? Qual a importância da bainha vascular
para a concentração de CO2?
10. O que é fotoinibição? Como a planta pode se proteger desse dano? Pesquise
outras formas pelas quais as plantas podem dissipar o excesso de energia.
11. Relacione os mecanismos de fixação de carbono (C3, C4 e MAC) com o sucesso
de cada tipo fotossintético em situações ambientais adversas.
Recursos
O ciclo de vida dos vegetais, assim como nos outros organismos, possui várias etapas.
A Figura 37 apresenta um esquema das diferentes fases do ciclo de uma angiosperma, ou
seja, as plantas que produzem flores e sementes. Nesse grupo de plantas, iniciamos nossa
análise do ciclo pela. Assim que isso ocorre, o embrião do vegetal, que está no interior
da semente, utiliza as reservas da semente e retoma seu desenvolvimento para o esta-
belecimento em um local determinado. Em seguida há formação de uma plântula que,
ao crescer e se desenvolver, torna-se autotrófica, capaz de realizar a fotossíntese. Inicia-se
a fase de crescimento vegetativo, ou seja, a formação e incremento de tamanho dos
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
órgãos vegetativos (raiz, caule e folhas). Isso acontece com a utilização dos compostos
formados pela fotossíntese e metabolizados pela respiração. Há o aumento de massa do
vegetal. Quando a planta atinge um tamanho e um nível determinado de crescimento, ela
torna-se competente para o desenvolvimento reprodutivo, caracterizado nas angios-
permas pela formação das flores. Com as flores formadas e expostas, há o processo
de polinização, no qual o grão de pólen produzido é conduzido ao estigma da flor para
o desenvolvimento do tubo polínico até alcançar a oosfera, localizada no saco embrio-
nário. Logo em seguida ocorre a fecundação, que formará o zigoto. O desenvolvimento
do zigoto é um processo ordenado, com diferentes fases que resultam na formação do
260
embrião ou embriogênese, que ocorre concomitantemente à formação da semente,
localizada no interior dos frutos. O embrião é o novo vegetal, formado por reprodução
sexuada. Assim, a semente que contém um novo indivíduo pode ser dispersa para um
local diferente, possibilitando, sob condições adequadas, a formação de uma nova planta.
Plântula
Germinação Crescimento
vegetativo
Senescência
Planta
Semente adulta
Fecundação e Crescimento
embriogênese reprodutivo
Planta adulta
com flores
Figura 37. Esquema com as fases do desenvolvimento das plantas com sementes. Algumas espécies
(monocárpicas) entram em senescência após a dispersão das sementes (seta pontilhada), outras espécies
podem florescer diversas vezes (policárpicas).
A interligação entre essas fases é influenciada tanto por fatores inerentes ao vegetal,
quanto aos ambientais, bem como pela interação desses dois fatores.
O crescimento vegetal é o incremento em tamanho do indivíduo, resultado da
divisão e do alongamento das células. Você se lembra dos meristemas? Esses tecidos
são o principal local do crescimento das plantas. Por outro lado, além do aumento no
tamanho, nesse ciclo, as plantas aumentam sua complexidade, sofrendo modificações
para desempenharem suas funções. Isso é a diferenciação. A interação entre o cres-
cimento e a diferenciação é denominada desenvolvimento vegetal, tópico que será
abordado a partir de agora.
para conseguir responder aos diferentes estímulos. Nos vegetais superiores a regulação
do metabolismo, a morfogênese e o crescimento dependem de sinais químicos, que são
levados de uma parte à outra no corpo vegetal. Esses sinais químicos são os mensageiros
que fazem a intermediação para uma comunicação intercelular eficiente.
261
O grupo mais representativo desses sinais químicos são os fitormônios, substân-
cias sintetizadas em uma parte do corpo e enviadas aos sítios-alvo específicos em outra
parte. Em pequenas quantidades são capazes de produzir alguma resposta. Eles inte-
ragem com proteínas específicas denominadas receptores. Os fitormônios podem ter
composição proteica, derivada de pequenos peptídeos, derivados de aminoácidos ou
de esteroides. As principais classes de hormônios vegetais são: auxinas, giberelinas,
citocininas, etileno e ácido abscísico. Várias outras moléculas são sinalizadoras
atuam na defesa contra herbívoros e resistência ao ataque de patógenos, como o ácido
jasmônico, o ácido salicílico e peptídeo sistemina.
5.2 Auxinas
Plântulas de aveia
com 4 dias de idade
Coleóptile Luz
Sementes
Raízes
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Figura . l ntula de aveia ( oaceae) mostrando suas partes constituintes. Dar in usou coleóptiles de
gramíneas para seus experimentos com a iluminação unilateral (seta azul).
262
Curiosidade
Muitas substâncias sintéticas quando aplicadas nos vegetais produzem repostas se-
melhantes aos hormônios, que são substâncias endógenas. As substâncias exógenas
são denominadas de reguladores de crescimento e são amplamente utilizadas para
modular as respostas de desenvolvimento em plantas cultivadas.
H CH 2 COOH
H O - CH 2 COOH
CH COOH
2
FISIOLOGIA VEGETAL
263
COOH
N NH 2
H
Triptofano (Trp)
Triptofano transaminase
COOH
O
N
H
AIP
descarboxilase
O
N
H
IAId
desidrogenase
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
COOH
N
H
Ácido indol - 3 - acético (AIA)
Figura 40. Via de biossíntese do ácido indol acético (AIA) a partir do triptofano.
264
A análise da estrutura dessas substâncias mostrou que elas possuem a distância
de 0,5nm entre a carga positiva do anel aromático e a carga negativa do grupo carbo-
xila. Observe a estrutura de algumas auxinas naturais e sintéticas.
A biossíntese do AIA está associada a locais com divisão celular rápida, prin-
cipalmente os meristemas caulinares, folhas jovens, frutos em desenvolvimento e
sementes. Existem diferentes vias para a biossíntese de AIA, entretanto acredita-se
que as vias que dependem do aminoácido triptofano sejam as principais para a
manutenção dos níveis de AIA. A via mais comum envolve o ácido indo-pirúvico.
O AIA, após sintetizado, pode permanecer na forma livre ou pode ser conjugado a
outras moléculas como a glicose, o inositol e o aspartato. Na forma conjugada, o AIA não
tem atividade biológica e pode ser armazenado, entretanto está protegido dos processos
de degradação.
Os principais fatores que causam a degradação do AIA são luz visível, ácidos,
raios ultravioleta e radiação ionizante. Outra via catabólica é a descarboxilação
oxidativa pelas enzimas peroxidases. As auxinas sintéticas e as formas conjugadas
do AIA não são desativadas desse modo.
5.2.1 Transporte
265
AIA- Membrana plasmática
Cotransporte
+
de H - permease
+
H
AIA- H
+
Ápice AIAH
Parede celular
+
2H
AIAH
pH 5
Citosol
+ ATP ATP +
H H
AIA-
ATP
pH 7 +
H
Vacúolo
ATP
+
H
AIA-
Base AIA-
+ AIAH
H
ATP
266
Dominância apical: O crescimento favorável à gema apical é conhecido como
dominância apical. Isso se deve às auxinas, que inibem do crescimento lateral. Se o ápice
caulinar for removido, há indução do desenvolvimento das gemas axilares. A dominân-
cia pode ser forte, moderada ou fraca. A quebra de dominância ocorre por aplicação
direta de citocina na gema axilar ou por decapitação do ápice caulinar. Esse processo de
dominância pode ser revertido por aplicação de auxina no ápice decapitado.
Enraizamento de estacas: Quando ocorre propagação de plantas por estaquia, o
acúmulo de AIA na porção superior ao corte induz uma maior atividade mitótica das
células, que formam uma região de células indiferenciadas, que originam o primórdio
de raiz. Além disso, a aplicação de auxinas sintéticas pode promover o enraizamento
de estacas para a formação de clones.
Abscisão foliar: Na porção basal das folhas há uma camada, de células anatomi-
camente distintas, chamada zona de abscisão. Quando começa a senescência ocorre
dissolução da lamela média na zona de abscisão, conhecida como plano de fratura que
determina a queda do órgão. Nessa situação, a auxina está em baixa concentração, o
que estimula a síntese de etileno.
5.3 Citocininas
267
caso do ápice caulinar. Assim como as auxinas, elas também podem ser conjugadas a
açúcares para controle do nível endógeno e proteção contra degradação.
NH CH 2
N O
N N
Cinetina
H
268
Nutrientes minerais: As citocininas são responsáveis pela ativação da enzima
redutase do nitrato. A diminuição no nível de citocinina induz a redução da concen-
tração interna de nitrogênio e, assim, ocorre clorose nas folhas. As citocininas podem
ser consideradas um sinal de longa distância da disponibilidade de nitrogênio, trans-
mitido da raiz para o caule.
5.4 Giberelinas
Essa classe de fitormônios é constituída por mais de 125 compostos com uma
estrutura comum, a do ent-caureno (Figura 43), entretanto nem todas possuem
atividade biológica.
O principal efeito das giberelinas no desenvolvimento é a promoção do alonga-
mento celular. Isso já era percebido por agricultores japoneses mesmo antes do isola-
mento da primeira giberelina. Nos cultivos de arroz infectados pelo fungo Gibberella
fujikuroi, as plantas cresciam além do desejável e tombavam antes do ponto de colheita.
O fungo produz uma giberelina que estimula o alongamento das células. Algum tem-
po depois as giberelinas foram isoladas dos tecidos vegetais, sendo comprovadamente
fitormônios. A principal giberelina atuando nos vegetais é o ácido giberélico, também
conhecido pela sigla GA3.
Ent-caureno
CH 2
O OH
CO H CH 2
HO
FISIOLOGIA VEGETAL
COOH
CH3
269
As partes da planta que possuem os maiores níveis de giberelinas são os frutos e
as sementes em desenvolvimento. A biossíntese pode ser iniciada em um tecido e os
passos seguintes na via podem ocorrer em outros locais.
Assim como as auxinas e as citocininas, as giberelinas podem se conjugar com
açúcares, e assim, são temporariamente inativas.
270
da dormência, age em sinergismo com a citocinina (que promove a germinação) e antago-
nismo com ácido abscísico (ABA), que é o responsável pela manutenção da dormência.
Esse hormônio vegetal está envolvido nas respostas ambientais a estresses diversos,
como: baixa disponibilidade de água, temperatura reduzida e alta salinidade. Suas
respostas envolvem: indução da dormência, regulação do grau de abertura dos estômatos,
acúmulo de proteínas e lipídeos de reserva em sementes e tolerância à dessecação. Além
disso, atuam na abscisão de frutos e flores jovens e dormência de gemas.
CH3 CH3
H3C
5 3
6’ 1’ 4
5’ 2
OH
2’ 1
3’ COOH
O 4’ CH3
5.5.2 Transporte
271
não está estressada ocorre a compartimentalização (aprisionamento de ABA no
interior das células). Em situações de estresse, a alcalinização do apoplasto favorece
seu acúmulo fora da célula, e mais moléculas atingem as células-guarda através da
corrente transpiratória.
na membrana plasmática.
O ABA exerce seu efeito regulador através da indução do influxo de Ca2+ presente
no citosol. O Ca2+ atua como um mensageiro secundário na transdução de sinal
químico. Quando a concentração de cálcio aumenta, os canais de efluxo de potássio
são ativados, promovendo aumento do potencial osmótico, consequentemente, do
potencial hídrico. Como o potencial hídrico no interior da célula fica mais elevado
do que o do apoplasto, a água move-se para fora da célula. A perda de água resulta em
perda de turgescência celular e fechamento estomático.
272
O mecanismo descrito depende do ABA, mas existem respostas a estresse hídrico que
provocam o fechamento estomático sem a atuação do ABA, por processo muito semelhante
ao explicado aqui.
Estágios específicos
Estímulos ambientais
do desenvolvimento
Percepção do sinal
pela célula
Fluxo de íons
Expressão de genes
Balanço hídrico
FISIOLOGIA VEGETAL
Desenvolvimento
Fechamento
das sementes
estomático
Tolerância à dessecação
273
5.6 Etileno
Desde o final do século XIX, sabe-se que os gases provenientes das lâmpadas que
iluminavam as cidades causavam desfoliação de árvores e a maturação de frutos.
Posteriormente, um estudante de graduação, Dimitry Neljubov, verificou que nas
plântulas de ervilha crescendo no escuro, o caule tinha o alongamento comprometido,
enquanto ficava mais espesso e tendia a crescer horizontalmente. Ele verificou que
o que causava essas alterações no crescimento era a presença do gás etileno, um
hidrocarboneto simples.
Os sintomas observados por Neljubov compõe a resposta tripla, característica
de plantas que crescem em presença de etileno. Mas o etileno é reconhecido como
o hormônio do amadurecimento, devido à sua ação promovendo a maturação de
frutos climatéricos. Devido à facilidade em sua obtenção e aplicação, foi o primeiro
fitormônio a ter seu efeito reconhecido e empregado na agricultura.
Você sabia?
Frutos climatéricos são os frutos que têm aumento na taxa de respiração no início do
processo de maturação. Exemplos desses frutos são: banana, abacate, tomate e maçã.
Laranja, os citros, morango e uva são frutos não climatéricos, pois não apresentam
essa característica.
O etileno pode ser produzido por vários microrganismos e por todos vegetais.
As bactérias que o produzem podem causar a senescência em plantas, facilitando
a infecção por outros microrganismos. Nos vegetais, sua produção pode ocorrer
em todos os órgãos, principalmente em tecidos meristemáticos e regiões nodais,
entretanto, sua concentração pode ser aumentada em caso de estresse por fatores
abióticos e também pela infecção. Em altas concentrações pode promover abscisão
de folhas, senescência de flores e amadurecimento de frutos.
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
274
Você já percebeu que, ao se colocar um fruto climatérico maduro, como, por exemplo,
a banana, o tomate ou o abacate, próximos a frutos imaturos há aceleração do proces-
so de maturação dos frutos verdes? Isso ocorre devido à liberação de gás etileno pelo
fruto maduro, que se difunde facilmente e induz à maturação dos frutos verdes.
275
Raízes: O etileno é capaz de induzir à formação de raízes adventícias em folhas,
caules, pedúnculo floral e mesmo em outras raízes. Também induz à formação dos
pelos radiculares para maior absorção de água.
Questões
276
6. Desenvolvimento vegetal e os fatores abióticos
6.1 Tropismos
Na aula anterior, vimos que para a descoberta das auxinas, os pesquisadores se depararam
com o crescimento estimulado pela iluminação unilateral. Você já deve ter observado
FISIOLOGIA VEGETAL
que, ao crescer dentro de casa próxima a uma janela, uma planta cresce em direção à
janela. Essa resposta de crescimento modulada e direcionada por um fator do ambiente
é conhecida como tropismo, e pode ser positiva, caso haja estímulo do crescimento ou
277
negativa, caso haja inibição. Veja no quadro a seguir os principais fatores que podem
induzir os tropismos:
Na aula anterior, vimos que as plântulas de alpiste cresciam em direção à luz e que
a auxina é o fitormônio responsável pela transmissão desse estímulo às outras regiões
da planta. As auxinas aumentam a taxa de crescimento por expansão celular e estão en-
volvidas nas respostas trópicas. Assim, ocorre acúmulo de auxina no lado sombreado,
com maior crescimento nessa região, o que acarreta na curvatura do caule. Nos caules,
as auxinas promovem o alongamento celular. A auxina migra para o lado sombreado
induzida por sinais químicos emitidos por fotorreceptores (moléculas que percebem
a luz ou sua ausência, assim como a quantidade e a qualidade da luz).
Lado sombreado
do coleóptilo
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Luz
Lado iluminado
do coleóptilo
Figura 46. Crescimento diferencial modulado pela iluminação unilateral. Perceba o maior tamanho das
células no lado que não foi iluminado.
278
Enquanto o crescimento do caule apresenta resposta fototrópica positiva, crescendo
em direção à luz, as raízes crescem na direção oposta, penetrando no solo. O crescimento
das raízes responde positivamente à força da gravidade (gravitropismo positivo) enquan-
to o caule cresce em direção oposta ao estímulo da gravidade (gravitropismo negativo).
Geralmente o eixo principal apresenta crescimento ortogravitrópico, enquanto
estolões, rizomas e galhos laterais crescem perpendicularmente à direção da gravidade
(diagravitropismo). Os órgãos como as raízes secundárias, que crescem em ângulos
diferentes de 0º e 90º, são chamados plagiogravitrópicos.
Acredita-se que nas raízes a percepção da gravidade ocorra em um conjunto de
células centrais da coifa que armazenam grãos de amido em amiloplastos. Estes, por
gravidade, sedimentam-se junto às membranas no lado inferior das células, atuando
como estatólitos. O sinal é transmitido às células superiores. Se a raiz estiver orientada
verticalmente, há distribuição uniforme de auxinas nas células superiores, causando
crescimento homogêneo. Entretanto, se a raiz estiver orientada horizontalmente, há
distribuição irregular de auxinas. O lado que recebe menos auxinas cresce mais, visto
que as auxinas podem inibir o alongamento de células de raízes.
plagiogravitrópico
ramos
diagravitrópico
rizoma = diagravitrópico
ápice da raiz
(ortogravitrópico positivo)
279
Epinastismo: Movimento de curvatura do órgão da planta para baixo. É causado
por maior crescimento no lado superior do órgão. São resultados da distribuição desi-
gual da auxina ou resultado da maior concentração do etileno em situações de estresse.
Hiponastismo: Resposta que difere do epinastismo apenas pela direção do cres-
cimento. O órgão cresce para cima, pelo maior crescimento do lado inferior. Ocorre
com menos frequência e pode ser induzido por giberelinas.
Termonastismo: Movimento em respostas as alterações de temperatura. Um
exemplo é a resposta de fechamento e abertura de algumas flores, como, por exem-
plo, nas ninfeias. Quando ocorre redução da temperatura, ocorre um crescimento
diferencial das pétalas, com um maior crescimento da face inferior, resultando no
fechamento da flor. Quando ocorre aumento da temperatura a face superior volta a
crescer e a flor abre.
Hidronastismo: Resposta vegetal à disponibilidade de água. Por exemplo, a
curvatura ou enrolamento da folha em resposta a escassez de água. Esse processo é
bastante conhecido em gramíneas, em que o enrolamento tem a função de reduzir a
perda de vapor de água na transpiração e reduzir o excesso de incidência luminosa que
pode danificar os cloroplastos. Nessas plantas as folhas possuem conjuntos de células
buliformes que são bem maiores que a da epiderme, possui paredes finas e podem
perder água por transpiração mais rapidamente que qualquer outra célula. Com a
redução do turgor, a célula murcha provoca o enrolamento da folha.
Nictinastimos: Movimento provocado pela luz, durante o dia as folhas estão
abertas, mas a noite elas fecham. O significado adaptativo deste movimento ainda
não está claro. Existem nas bases foliares de algumas espécies os pulvinos, que são es-
truturas cilíndricas com grande quantidade de parênquima. Suas variações de turgor
ocorrem como os ajustes osmóticos explicados para as células-guarda, e permitem
o dobramento foliar. O movimento nisctisnástico envolve fotorreceptores capazes de
perceber a radiação no comprimento de onda do vermelho extremo e azul, esse estímulo
induz a ativação das bombas para entrada de prótons nas células, aumentando o turgor.
Tigmonastismo: Movimento em resposta a estímulos mecânicos, mas indepen-
dente da orientação do estímulo. O exemplo mais comum é da planta dormideira
(Mimosa pudica). Em resposta ao toque, agitação, estímulos elétricos ou extremos de
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6.2 Fotoperiodismo
280
perceberam como em algumas épocas do ano observamos as plantas florescendo
simultaneamente, como o caso dos Ipês amarelos em agosto e dos flamboyants em
novembro? Essa sincronização no desenvolvimento é importante a manutenção das
populações vegetais.
Esses eventos são o resultado da somatória dos ritmos diários, ou ritmos circadianos.
Um exemplo disso é que a maioria das plantas abre seus estômatos no início da manhã
e os fecha no início da noite. Elas conseguem sincronizar seus processos metabólicos ao
ciclo claro-escuro pela repetição diária. Períodos de claro-escuro e ciclos de temperatura
são os principais fatores que interferem nessa sincronização e ressincronização.
A. Orientação vertical B. Orientação horizontal
AIA
AIA
AIA
Inibição do
AIA AIA Coifa
crescimento
281
6.3 Como as plantas percebem as variações na qualidade e
quantidade de luz?
Essa percepção das variações na luz ocorre devido à presença de moléculas especiais,
denominadas fotorreceptores, ou seja, são capazes de ser ativados ou inativados
dependendo das características da luz incidente. Existem diferentes fotorreceptores
nos vegetais, com destaque para os fitocromos que são proteínas envolvidas na
floração e na germinação das sementes.
Os fitocromos ocorrem em duas diferentes formas:
• Fv, que absorve a luz vermelha.
• Fve, que absorve o vermelho-longo.
Vermelho (660 nm)
Forma
inativa
Forma ativa FVE
FV
Resposta fisiológica
Vermelho extremo
(730 nm)
282
Planta de dias curtos Planta de dias longos
24 h 24 h
Figura 50. Efeito de diferentes fotoperíodos em plantas de dias curtos e plantas de dias longos.
Nas plantas de dias curtos, a alta concentração do fitocromo Fve inibe a flora-
ção. Essas plantas só florescem se as noites forem longas, de forma que quase todo
fitocromo Fve fosse convertido em fitocromo Fv, para a ocorrência da floração. Já nas
plantas de dias longos, o fitocromo Fve é um indutor da floração. Essas plantas só
florescem se o tempo de escuridão não for prolongado, não havendo conversão total
do fitocromo Fve em fitocromo Fv.
Questões
7. Germinação
FISIOLOGIA VEGETAL
283
formação do embrião, há o desenvolvimento do fruto e da semente. Essa estrutura
representa o início do desenvolvimento de um novo organismo, que ao se dispersar,
ocupará um local diferente e se estabelecerá. Nessa aula trataremos da germinação
da semente, ou seja, da retomada do crescimento do embrião para a formação de
uma plântula.
tegumento Epicótilo
Hipocótilo
Radícula
Cotilédones
tegumento
Endosperma
Cotilédones
Epicótilo
Hipocótilo
Radícula
Endosperma
Coleóptile
Epicótilo
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Coleorriza Hipocótilo
Radícula
Figura 50. Estrutura de sementes: feijão , uma eudicotiledônea com cotilédones espessos (a), mamona, uma
eudicotiledônea com cotilédones finos (b) e milho, uma monocotiledônea com endosperma abundante.
A semente é uma estrutura originada pelo óvulo fertilizado. Sua estrutura contém
o embrião, que é o novo indivíduo em seu primórdio de formação, o endosperma, um
284
tecido nutritivo e pelo tegumento, formado pelo revestimento do óvulo. Observe na
figura a estrutura de diferentes sementes.
Durante a formação da semente, podem ser percebidas três fases distintas:
6) Histodiferenciação: período com intensa divisão e diferenciação das células.
7) Maturação: fase com alongamento das células formadas na fase de histodife-
renciação. Além disso, ocorre a alocação de substâncias que serão armazenadas na
semente, como as proteínas e os carboidratos. Nessa fase ocorre um aumento proemi-
nente da matéria constituinte da semente. Há uma preparação das estruturas para que
a semente tolere a fase seguinte.
285
• Dormência química: quando a semente possui substâncias inibidoras de cresci-
mento que a impedem de germinar.
• Dormência fisiológica: ocorre quando o embrião não está maduro ou algu-
ma condição metabólica da semente não foi alcançada, entretanto a semente já
está formada.
embrião. Outro fato importante é a dissolução das giberelinas (GA), que participará
da indução da atividade metabólica.
A atividade metabólica da semente, que é muito baixa no momento da dispersão,
aumenta após a embebição. A atividade de degradação de reservas e síntese de ATP
e de precursores de moléculas é crucial nessa etapa. As giberelinas dissolvidas são
transportadas até uma região da semente conhecida por camada de aleurona. Nessas
células, o GA altera a expressão gênica, ativando os genes para a retomada do metabo-
lismo, principalmente para a hidrólise do amido, ocorrendo a transcrição e a tradução
das amilases. Essas enzimas são secretadas dessas células para o endosperma, onde
286
iniciam a hidrólise do amido, liberando glicose que será metabolizada em seguida pela
via glicolítica, ciclo de Krebs e cadeia respiratória na mitocôndria.
Esse modelo de metabolismo de germinação é o descrito para as sementes de ce-
reais, entretanto outras sementes podem ter outros requerimentos para a ativação do
metabolismo. Um exemplo disso são as sementes fotoblásticas, que requerem luz
(positivas) ou escuro (negativas) para germinarem. Sementes de alface da cultivar
“Grand rapids” são fotoblásticas positivas. Assim, para germinarem, é necessário que
sejam expostas à luz quando embebidas.
tegumento
ise Amido
ól
Cotilédone dr
Hi
Endosperma
Açúcares α amilase
Células de aleurona
Epicótilo
ão
(Proteína de armazenamento)
cr i ç
ns
Tra
RNA
Hidrólise
ção
Crescimento
du
Tra
Radícula Aminoácidos
GA 3 DNA
Fotorreversibilidade do fitocromo
H2 O 660 nm
Embebição FVE FV
Fotoativação
730 nm
Escuro
fitocromo à forma Fve. Essa é a forma ativa do fitocromo, que será a responsável pela
alteração da expressão gênica nessas sementes para a ativação metabólica que levará
a germinação. Se, por outro lado, houver a incidência de luz no comprimento do
vermelho extremo, as sementes não germinarão.
287
Os efeitos atribuídos ao fitocromo podem ser revertidos com o uso de GA. Esse
fitormônio é reconhecido promotor da germinação e atua de maneira antagônica ao
ABA. Assim, uma semente que ao se dispersar mantém um nível endógeno de ABA
para assegurar que a germinação não ocorrerá em condição inadequada, pode ter sua
germinação estimulada pela aplicação de GA.
A ativação do metabolismo tem como consequência a reativação do crescimento
do embrião, principalmente da radícula que geralmente é a primeira parte do embrião
a sair da semente. O crescimento da radícula pode ocorrer possivelmente por:
• Absorção de água e alongamento pela redução do potencial osmótico ocasiona-
da pelo acúmulo de solutos originados da hidrólise dos polímeros.
• Alongamento induzido pelo rompimento de ligações das hemiceluloses e celu-
lose, possibilitando às pareces celulares com maior capacidade de extensão.
• Enfraquecimento dos tecidos que recobrem o ápice da radícula pela ação de
enzimas.
288
mesmo estando embebidas. Esse processo é conhecido como estratificação. Outras
não germinam em baixas temperaturas. Essas especificidades na exigência por tempe-
ratura ajudam a determinar o limite da distribuição das espécies no globo.
Considerações finais
Questões
Objetivos:
1. Analisar o conteúdo de fisiologia vegetal em livros didáticos do ensino básico.
2. Desenvolver metodologias para o ensino de fisiologia vegetal no ensino funda-
FISIOLOGIA VEGETAL
mental e médio.
3. Nessa semana vocês farão revisões no conteúdo abordado na disciplina e vão
preparar uma análise:
289
•Procurar em um livro didático do ensino básico algum conteúdo de fisiologia vegetal.
•Descrever brevemente como é abordado esse conteúdo, indicando a série em
que é abordado e em qual unidade de conteúdos.
•Preparar um planejamento de aula para a abordagem desse tópico, corrigindo
eventuais falhas dos livros didáticos ou propondo melhorias na abordagem desse
conteúdo. Nessa proposta, vocês são encorajados a utilizarem a interdisciplinaridade,
trabalhos com projetos ou até mesmo os temas transversais. Lembrem-se: caprichem
nos conceitos de fisiologia vegetal!
•A discussão e a troca de ideias são encorajadas, mas cada discente deverá apresen-
tar seu próprio planejamento original.
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
290
Referências
TAIZ, L. & ZEIGER, E. Plant Physiology. 5th ed. Sunderland: Sinauer, 2010.
RAVEN, P.H., EVERT, R.F. & EICHHORN, S.E. Biologia Vegetal. 7. ed.
Tradução Kraus, J.E. (Coord.). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.
FISIOLOGIA VEGETAL
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Projeto Editorial: Centro Integrado de Aprendizagem em Rede • CIAR / UFG
Dimensão: 16 x 22 cm